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1 Efeito da Geografia Sobre o Financiamento de Produção Musical via Crowdfunding no Brasil Autoria: Wesley Mendes-da-Silva, Bruno Sanches Conte, Cristiane Chaves Gattaz, Eduardo de Rezende Francisco, Luciano Rossoni Resumo Com base em 1.835 operações de investimento em 10 projetos de produção musical hospedados na maior plataforma de crowdfunding do Brasil, o website Catarse, este artigo verifica a existência de associações entre a distância investidor-empreendedor e a propensão dos investidores em apoiar projetos. Em linha com o pensamento de que a rede de contatos mais próximos pode exercer papel central no funding, e simultaneamente contrariando a ideia de que o crowdfunding reduz o efeito inibidor da distância geográfica investidor- empreendedor, os resultados obtidos apontam para um efeito negativo e significante da distância sobre o valor dos aportes de capital nos projetos. 1. Introdução O Brasil é um dos principais pólos consumidores e produtores de música no mundo. Por extensão, é frequente a demanda dos artistas no Brasil, por financiamento de suas atividades (Lucas, 2000). Em adição a esse fenômeno, a respeito da recorrência a determinadas fontes de financiamento, mediante a fase na qual se encontra o negócio, um relevante problema inerente aos empresários no início de sua iniciativa empreendedora é a baixa habilidade para atrair capitais externos ao negócio (Berger e Udell, 1998; Cosh et al., 2009). Isto constitui um aspecto limitador das possibilidades de sobrevivência e de crescimento da firma, especialmente dado à falta de garantias reais e de fluxos de caixa vistos como suficientes, no julgamento de potenciais investidores. Além disso, merece destaque a presença de informações assimétricas por parte dos investidores. Conforme Cosh et al. (2009), diferentemente de outros estágios do negócio, nos quais se pode recorrer a Fundos de Venture Capital, Private Equity ou bancos, o empreendedor que necessita de quantias menores de capital tende a apoiar-se majoritariamente: i) em suas próprias economias; ii) em sua família; iii) ou mesmo em seu círculo de amizade mais próximo para financiar-se (Parker, 2009; Sheng e Mendes-Da-Silva, 2014). No entanto, com a disseminação e o crescimento do uso da internet ao redor do mundo, o crowdfunding apresenta-se como uma proposta inovadora de encurtar a rota entre investidores e demandantes de capital, especialmente quando esses últimos são protagonistas de uma iniciativa artística, cultural, social, dentre outras possibilidades (Shiller, 2013). Assim, a partir de somas relativamente pequenas, advindas de um número considerável de pessoas, sem que haja a necessidade da atuação de intermediários financeiros, comuns nesse estágio de financiamento, negócios têm sido viabilizados de maneira mais flexível e menos custosa, até mesmo quando investidores e empreendedores estão fisicamente distantes uns dos outros. Esse fenômeno fez surgir ao redor do mundo um número expressivo de plataformas orientadas à captação de recursos por meio de crowdfunding. Um exemplo – a maior plataforma do mundo atualmente, o Kickstarter <https://www.kickstarter.com/ >, site norte- americano que hospeda projetos como: filmes, games, música, design, tecnologia, entre outros. Desde seu lançamento em 2009, já captou mais de R$ 1,5 bilhão oriundos de ˜5,1 milhões de pessoas, realizando o financiamento de mais de 50 mil projetos criativos (Qiu, 2013). Contudo, segundo indicadores de consultorias especializadas, em que pese o recente crescimento dessa modalidade de financiamento, o nível de maturidade desta indústria ainda não é homogêneo ao redor do globo – a América do Norte e a Europa representaram, respectivamente, 59% e 35% do montante total movimentado em 2012. A América do Sul, em contrapartida, representou apenas 0,03%, superando apenas o continente africano, que por

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Efeito da Geografia Sobre o Financiamento de Produção Musical via Crowdfunding no Brasil

Autoria: Wesley Mendes-da-Silva, Bruno Sanches Conte, Cristiane Chaves Gattaz, Eduardo de Rezende Francisco, Luciano Rossoni

Resumo Com base em 1.835 operações de investimento em 10 projetos de produção musical hospedados na maior plataforma de crowdfunding do Brasil, o website Catarse, este artigo verifica a existência de associações entre a distância investidor-empreendedor e a propensão dos investidores em apoiar projetos. Em linha com o pensamento de que a rede de contatos mais próximos pode exercer papel central no funding, e simultaneamente contrariando a ideia de que o crowdfunding reduz o efeito inibidor da distância geográfica investidor-empreendedor, os resultados obtidos apontam para um efeito negativo e significante da distância sobre o valor dos aportes de capital nos projetos. 1. Introdução O Brasil é um dos principais pólos consumidores e produtores de música no mundo. Por extensão, é frequente a demanda dos artistas no Brasil, por financiamento de suas atividades (Lucas, 2000). Em adição a esse fenômeno, a respeito da recorrência a determinadas fontes de financiamento, mediante a fase na qual se encontra o negócio, um relevante problema inerente aos empresários no início de sua iniciativa empreendedora é a baixa habilidade para atrair capitais externos ao negócio (Berger e Udell, 1998; Cosh et al., 2009). Isto constitui um aspecto limitador das possibilidades de sobrevivência e de crescimento da firma, especialmente dado à falta de garantias reais e de fluxos de caixa vistos como suficientes, no julgamento de potenciais investidores. Além disso, merece destaque a presença de informações assimétricas por parte dos investidores. Conforme Cosh et al. (2009), diferentemente de outros estágios do negócio, nos quais se pode recorrer a Fundos de Venture Capital, Private Equity ou bancos, o empreendedor que necessita de quantias menores de capital tende a apoiar-se majoritariamente: i) em suas próprias economias; ii) em sua família; iii) ou mesmo em seu círculo de amizade mais próximo para financiar-se (Parker, 2009; Sheng e Mendes-Da-Silva, 2014).

No entanto, com a disseminação e o crescimento do uso da internet ao redor do mundo, o crowdfunding apresenta-se como uma proposta inovadora de encurtar a rota entre investidores e demandantes de capital, especialmente quando esses últimos são protagonistas de uma iniciativa artística, cultural, social, dentre outras possibilidades (Shiller, 2013). Assim, a partir de somas relativamente pequenas, advindas de um número considerável de pessoas, sem que haja a necessidade da atuação de intermediários financeiros, comuns nesse estágio de financiamento, negócios têm sido viabilizados de maneira mais flexível e menos custosa, até mesmo quando investidores e empreendedores estão fisicamente distantes uns dos outros. Esse fenômeno fez surgir ao redor do mundo um número expressivo de plataformas orientadas à captação de recursos por meio de crowdfunding. Um exemplo – a maior plataforma do mundo atualmente, o Kickstarter <https://www.kickstarter.com/>, site norte-americano que hospeda projetos como: filmes, games, música, design, tecnologia, entre outros. Desde seu lançamento em 2009, já captou mais de R$ 1,5 bilhão oriundos de ˜5,1 milhões de pessoas, realizando o financiamento de mais de 50 mil projetos criativos (Qiu, 2013).

Contudo, segundo indicadores de consultorias especializadas, em que pese o recente crescimento dessa modalidade de financiamento, o nível de maturidade desta indústria ainda não é homogêneo ao redor do globo – a América do Norte e a Europa representaram, respectivamente, 59% e 35% do montante total movimentado em 2012. A América do Sul, em contrapartida, representou apenas 0,03%, superando apenas o continente africano, que por

 

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sua vez representou somente 0,003% (Massolution, 2013). Em adição, a par do impacto social, do interesse da mídia financeira, e do recente interesse da comunidade acadêmica de negócios no tema do crowdfunding (Shiller, 2013; Mollick, 2014), alguns governos já têm reconhecido sua relevância e, diante disso, dedicado atenção à regulação dessa atividade (Agrawal et al., 2013). Nesse sentido, recentemente, o governo dos Estados Unidos aprovou uma legislação intitulada Jumpstart Our Business Startups Act (JOBS Act) - cujo objetivo principal é incentivar o acesso de empresas de crescimento emergente (Stemler, 2013).

Ainda no conjunto de medidas acerca do crowdfunding nos Estados Unidos, está prevista a captação de recursos por meio do Equity crowdfunding – plataformas que são destinadas exclusivamente a startups que buscam financiar-se a partir da venda de participação acionária em seu capital. Esta captação estará limitada, a priori, a um máximo de US$ 1 milhão por ano e US$ 5.000 por investidor cuja renda anual seja inferior a US$ 100.000. Os benefícios resultantes desta regulamentação, conforme Ahlers et al. (2012), baseiam-se na maior aproximação entre startups e pequenos investidores, os quais na maioria das vezes, não possuem a capacidade e o capital necessários para extensivamente pesquisar e avaliar potenciais investimentos.

Se assumido o conhecimento tradicional de finanças, negócios em estágio embrionário tendem a ser mais demandados em termos de informações, por parte dos investidores, tendo em vista o elevado grau de risco, quando se trata de negócios nascentes (Berger e Udell, 1998). Adicionalmente, e também motivados pela busca de menor assimetria informacional, os investidores em startups tendem a preferir negócios localizados a menores distâncias (Lee et al., 2008). Contudo, o crowdfunding permite acessar um ilimitado conjunto de pessoas que estão geograficamente dispersas, com a intenção de captar pequenas quantias de dinheiro, com a finalidade de financiar um projeto, ou um empreendimento. E ainda possibilita o acompanhamento do andamento das atividades do negócio, mesmo estando a distâncias maiores, reduzindo assimetrias informacionais.

Diante disso, este artigo verifica a existência de associações entre fatores geográficos e socioeconômicos e tecnológicos sobre o aporte de capital em projetos financiados por crowdfunding em uma economia emergente. Para tanto, são considerados dados relativos a 1.835 operações de aporte de capital em favor de 10 projetos de produção musical julgados bem-sucedidos, na principal plataforma brasileira de crowdfunding em 2013 - Catarse. Este trabalho está estruturado em 5 seções. A seção 2 apresenta a definição de crowdfunding, seus usos, bem como as hipóteses testadas no estudo. Em seguida, a Seção 3 detalha a metodologia adotada. A discussão dos resultados ocorre na Seção 4. Na seção 5 são apresentadas as considerações finais.

2. Bases teóricas e empíricas do crowdfunding A intitulada Crise do subprime, a pior crise financeira desde a Grande Depressão, conforme Shiller (2013), impulsionou a percepção de que essa foi decorrente de erros intrínsecos ao sistema financeiro, bem como às pessoas que o compõem. Em especial, a visão é de que os agentes financiadores seriam uma das principais causas da crise, ao trabalhar excessivamente em benefício próprio. Ainda segundo Shiller (2013), a indústria financeira enfrenta um momento de reconstrução de sua reputação perante a sociedade, e esse processo é caracterizado pelo surgimento de inovações financeiras, e.g. bonds de impacto social, crowdfunding, entre outras. Nesse sentido, o crowdfunding, não raro, tem sido apontado como uma das mais relevantes inovações financeiras modernas. Em torno dessa modalidade de financiamento, diferentes tipos de negócios têm sido viabilizados, tais como: agronegócios, projetos sociais, projetos de inovação tecnológica e especialmente produção cultural (Agrawal et al., 2013; Braet, et al., 2013; Lehner, 2013; Schwartz, 2013).

 

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Definição de crowdfunding O crowdfunding, modernamente, tem sido visto como uma ferramenta que possibilita a democratização de finanças (Kim e Hann, 2013), tratando-se de uma modalidade inovadora de financiamento, e ainda em estágio de amadurecimento e consolidação nos mercados (Shiller, 2013, p. 22). Em sua essência, crowdfunding significa acessar um ilimitado conjunto de pessoas geograficamente dispersas, apelidado como “the crowd”, com a intenção de captar pequenas quantias de dinheiro, com a finalidade de financiar um projeto, ou um empreendimento. Crowdfunding é normalmente viabilizado através da internet, i.e. pelo emprego da mídia para comunicação social (Lehner, 2013, p. 1).

Outra definição, adotada em recente trabalho de Mollick (2014), é proposta por Schwienbacher e Larrade (2010): para esses autores trata-se de um novo método para o financiamento de uma variedade de novos empreendimentos, permitindo o surgimento de negócios com fins lucrativos, projetos culturais, sociais ou para solicitar financiamento de muitas pessoas, muitas vezes em troca de resultados futuros, ou participação na sociedade da firma. Projetos de crowdfunding podem, assim, variar expressivamente, segundo seus objetivos e sua magnitude. Esses projetos podem compreender, desde pequenos projetos artísticos, até empresários que procuram centenas de milhares de dólares em seed money, como uma alternativa ao investimento de capital de risco tradicional.

Segundo entendimento de Griffin (2012), o financiamento colaborativo, da maneira como é visto e organizado atualmente, é um fenômeno bastante recente, que vem alcançando notoriedade nos últimos anos por meio do crescimento acelerado do número e da dimensão das plataformas online, bem como a quantidade de projetos exitosos. Entretanto, apesar do expressivo crescimento da atenção despendida por reguladores, investidores, empreendedores e comunidade acadêmica, os mecanismos e dinâmicas do crowdfunding, em geral, ainda não são bem compreendidos (Shiller, 2013; Mollick, 2014), sobretudo quando considerados mercados emergentes, tendo em vista a escassez de estudos a partir de economias menos desenvolvidas, o quê testemunha a favor da relevância deste trabalho.

De acordo com Mollick (2014), as variações mais básicas no crowdfunding dizem respeito aos objetivos perseguidos pelos empreendedores e pelos investidores. Por meio destas plataformas, o empreendedor pode buscar uma quantia pequena, inferior até aos milhares de Reais, para financiar um projeto particular, movido por algum sonho ou objetivo próprio – normalmente, estes projetos são majoritariamente financiados pela sua rede de contatos mais próxima. Isto é, sua rede de contatos pessoais, constituída por sua família e por seus amigos (Agrawal et al., 2011; Sheng e Mendes-Da-Silva, 2014). Além disso, conforme Ferrary e Granovetter (2009), tão somente o financiamento não substitui o suporte adicional que as startups costumam receber de investidores-anjo – como aconselhamento, governança e prestígio. E, a partir dessa visão, trabalhos recentes elencam esses aspectos como pertencentes a uma relevante agenda de pesquisa ao redor do tema do crowdfunding (Lehner, 2013). Usos do crowdfunding À medida que o crowdfunding tem evoluído, atingindo um público cada vez maior, deixa de exercer exclusivamente o papel de alternativa para empreendedores ou startups atraírem capital para financiar seus projetos. Nesse sentido, os crowdfunders podem desempenhar papeis acessórios. À guisa de ilustração, em certas circunstâncias, a utilização do crowdfunding pode ser motivada pelo simples objetivo de gerar conhecimento acerca de um novo produto, no contexto de uma campanha de marketing, na qual consumidores podem envolver-se diretamente. A empresa interessada, consequentemente, pode estimar se haverá, e qual será a demanda por determinado produto (Schwienbacher e Larralde, 2010).

Apesar de o crowdfunding poder seu usado com a intenção de participação no equity da firma, a presente pesquisa concentra-se em projetos que não têm essa característica, para os

 

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quais Agrawal et al. (2013) apontam sete características: i) o funding não é geograficamente concentrado (Agrawal et al. 2011); ii) os valores de funding apresentam-se altamente assimétricos (Agrawal et al., 2013); iii) a propensão a investir aumenta mediante o acúmulo de capital ao longo do período de fundrainsing do projeto, sob risco de comportamento de manada por parte dos investidores (Zhang e Liu, 2012); iv) Amigos e família desempenham papel-chave nos estágios inicias do processo de fundraising (Agrawal et al. 2011); v) o funding segue a aglomeração já existente (Agrawal et al., 2013); vi) empreendedores e investidores tendem a ser inicialmente super otimistas acerca dos resultados do projeto alvo de investimento (Mollick, 2014); vii) o capital atraído por meio de crowdfunding pode substituir fontes tradicionais de financiamento (Agrawal et al., 2013).

Além dessas especificidades, em decorrência dos objetivos perseguidos pelos empreendedores, as motivações dos investidores também podem variar conforme a natureza do projeto (Belleflamme et al., 2013). Existem essencialmente quatro modelos para o apoio de indivíduos a projetos. O primeiro modelo é o de doação, e está relacionado principalmente a projetos artísticos, humanitários e de caráter socioambiental – o apoio, em muitos destes casos, é quase filantrópico. Isto é, não há, por parte do investidor, a expectativa de um retorno pessoal direto pela doação. O segundo modelo é o de crédito, em que os fundos são disponibilizados ao empreendedor na forma de um empréstimo, sobre o qual é esperada uma taxa de retorno. Esta modalidade (ao menos ainda) não é praticada no Brasil, visto que esta atividade é, por lei, exclusiva às instituições financeiras.

O terceiro, e mais difundido modelo de crowdfunding até o presente momento, é o baseado em recompensas não-financeiras, no qual os investidores recebem algo em troca por suportar o projeto – normalmente, os indivíduos recebem o produto que foi objeto da mobilização, como livros, CD’s, DVD’s, ingressos de shows, dentre um amplo conjunto de outras coisas. Finalmente, existe a modalidade de Equity crowdfunding, na qual os apoiadores tornam-se efetivamente investidores e recebem uma parcela do equity da empresa financiada. Esta prática ainda é pouco encontrada ativamente ao redor do mundo, em virtude da dificuldade de regular-se o tema (Heminway e Hoffman, 2010; Ahlers et al., 2012), representando no ano de 2013 apenas 5% de todo o volume de recursos financeiros movimentado pelas plataformas de crowdfunding ao redor do mundo, conforme Massolution (2013).

Hipóteses acerca do papel da geografia no crowdfunding A dispersão geográfica provavelmente é uma das características mais presentes em operações de crowdfunding, em consequência das possibilidades oferecidas pela internet. No estudo de Agrawal et al. (2011), foi analisada a plataforma holandesa Sellaband< 

https://www.sellaband.com>, um site para músicos que desejam captar recursos financeiros para o lançamento de seu álbum, a fim de entender se o crowdfunding é sensível às distâncias geográficas investidor-empreendedor. A distância investidor-empreendedor média encontrada por Agrawal et al. (2011) foi de aproximadamente 4.828 km, maior que a distância entre os pontos mais ao Sul e ao Norte do Brasil (cerca de 4.300 km).

A respeito dessa linha de pensamento, um conjunto de trabalhos, e.g. Sorenson e Stuart (2001); Powell et al. (2002); Zook (2002) e Mason (2007), assume o seguinte argumento: investidores em empreendimentos em estágios iniciais tendem a exigir mais informações, monitorar o progresso do negócio e ainda participar das decisões acerca da condução do negócio. Essas atividades ocasionam o surgimento de custos, os quais são sensíveis à distância investidor-empreendedor.

No entanto, argumentos similares ao defendido por Lee et al. (2008) advogam que, o surgimento da Web 2.0 simplificou o compartilhamento de informações no âmbito de grandes redes sociais, a custos reduzidos. Com isso contribui para o estabelecimento de mecanismos

 

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de governança do empreendimento. Dito de outra forma, o surgimento de plataformas online de crowdfunding proporcionou um ferramental que possibilita a aproximação entre o investidor e o empreendedor, compartilhando informações, com maior transparência no orçamento dos projetos e o devido detalhamento da destinação dos recursos captados. Adicionalmente, torna-se possível: i) o monitoramento de todo o processo (acesso a qualquer momento ao total de investidores do projeto); ii) percentual da meta de captação já atingido; e iii) prazo restante para o encerramento do período de fundraising. Assim, mediante tais argumentos, entende-se relevante testar a hipótese H1:

H1: Inexiste associação significante, entre a distância geográfica entre empreendedor e investidor, e o valor dos investimentos em crowdfunding.

Os argumentos de Agrawal et al. (2011), Zhang e Liu (2012) e de Kuppuswamy e Bayus (2014) assumem que o volume de recursos acumulados cresce à medida que o tempo acumulado de fundraising aumenta. Com isso, ainda segundo esses autores, a propensão de um potencial doador/investidor apoiar o projeto aumenta, o que poderia sugerir algum tipo de comportamento de manada por parte dos investidores. Essa linha de pensamento motivou testar a hipótese H2:

H2: Inexiste associação significante entre período acumulado de fundraising via crowdfunding e o valor de novos aportes de capital recebidos pelo empreendedor.

3. Metodologia Coleta de dados Em novembro de 2013, quando os dados considerados neste estudo foram coletados, o Brasil contava com 40 plataformas de crowdfunding, segundo constava em sites especializados, e.g. <http://mapadocrowdfunding.tumblr.com>. Entre as diversas modalidades de projetos apoiados, a maioria possui natureza criativa, predominando projetos culturais, encontrando-se, porém, outras finalidades mais específicas, e.g. apoio financeiro para clubes de futebol, <http://vascodividazero.com.br>. Entre essas 40 plataformas de crowdfunding, a mais proeminente é o Catarse, o qual foi alvo do presente estudo. Ao considerar apenas o website Catarse foram selecionados todos os projetos que atenderam aos dois seguintes critérios: i) os empreendedores eram músicos que estavam utilizando essa plataforma buscavam captar o recursos financeiros para financiar o primeiro álbum de sua carreira artística; ii) valor total a arrecadar compreendido entre R$ 10.000 e R$ 30.000.

A coleta de dados necessária à construção das variáveis consideradas ocorreu em duas fases principais. A primeira concentrou-se na plataforma Catarse <http://catarse.me>, onde foram obtidos dois tipos de dados: dados por meio de consulta direta a esse website e dados fornecidos pelo fundador da plataforma mediante a observância à política de privacidade da plataforma para com seus empreendedores e apoiadores. A segunda fase da coleta de dados considerou dados socioeconômicos dos municípios dos quais se originaram as 1.835 operações de investimento consideradas na pesquisa. Esses dados foram obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerando-se o Censo mais recentemente realizado no Brasil, em 2010. Para obter a distância geográfica entre empreendedores e investidores foram consideradas as cidades em que estão localizados, com uso do Google MapsAPIs <http://code.google.com/apis/maps/>, para recuperar as coordenadas de cada localização. Após isso, foi calculada a distância utilizando o procedimento adotado por Nichols (2003), mediante emprego da ferramenta ArcGIS ArcMap 10.0 (ESRI, 2010). A motivação para uso de ferramentas como essa encontra-se apoiada no argumento de que a distribuição espacial de dados oriundos de fenômenos ocorridos no território constitui, modernamente, um meio para

 

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elucidação de questões relevantes em diversos campos do conhecimento, destacando-se o uso ainda aparentemente embrionário destas técnicas no campo dos negócios (Goodchild, 2010), e especialmente em estudos de fenômenos colaborativos (Sui et al., 2014).

O website estudado: Catarse O website Catarse <http://catarse.me> surgiu em janeiro de 2011, sendo uma das primeiras plataformas de crowdfunding lançadas no Brasil. Atualmente é a maior comunidade de financiamento coletivo no país, já tendo captado mais de R$ 12 milhões por meio do financiamento de cerca de 800 projetos, desde o início de suas operações. O funcionamento segue uma mecânica relativamente simples e comum à maioria dos sites concorrentes: o empreendedor utiliza a plataforma como um meio de apresentar sua ideia ao público, indicando o valor necessário de captação e a data limite para a mesma ser ou não bem sucedida. Para poder se utilizar dessa plataforma para captar recursos financeiros, o empreendedor necessita cumprir os requisitos listados no Quadro 1.

Quadro 1: Lista de requisitos de projetos hospedados no website Catarse # Requisito 1 O projeto precisa ser finito e ter um objetivo claro, sob pena de não ser aceito na plataforma; 2 Deve apresentar uma meta financeira realista, que contabilize os custos e taxas envolvidos em uma

campanha na plataforma - todos os projetos precisam definir um orçamento que justifique a meta de arrecadação escolhida;

3 Junto com a meta, os projetos precisam definir um prazo (máximo de 60 diasa) em que o projeto estará aberto para captação;

4 O sistema de arrecadação é do tipo ‘tudo-ou-nada’.Ou seja, caso a meta estabelecida não seja atingida dentro do prazo estipulado, os apoiadores são ressarcidos na forma de crédito para apoiar outros projetos, ou se preferirem, recebem o dinheiro de volta, enquanto o realizador do projeto não recebe nada;

5 Todos os projetos precisam oferecer recompensas como contrapartida ao apoio dos investidores, por exemplo: cópias do trabalho, discos de música, experiências inovadoras, edições limitadas, benefícios exclusivos. Qualquer tipo de retorno financeiro é proibido.

6 Todos os projetos precisam se apresentar atendendo a algumas descrições obrigatórias: O que é? Quando será realizado? De que forma o dinheiro será gasto?

7 A realização de um vídeo de boa qualidade detalhando aspectos relevantes do projeto. Nota: aAté o dia 30/09/2013, a plataforma Catarse oferecia para os criadores de projetos julgados não exitosos – que atendessem a alguns pré-requisitos – a possibilidade de obter uma ‘Segunda Chance’ na plataforma, com a abertura de um novo prazo para captação a partir da reformulação do projeto e correção de eventuais erros, o que resultava em prazos de captação maiores que o limite de 60 dias. A partir de 01/10/2013 esta possibilidade foi suprimida.

Adiante, a Figura 1 apresenta uma típica imagem da página de um projeto na plataforma estudada. No canto direito da Figura 1 é possível encontrar: i) o número de apoiadores já atraídos pelo projeto; ii) o total de recursos coletados até o momento; iii) o total demandado; iv) o tempo restante para o fim do projeto; v) a descrição do projeto; vi) suas recompensas, dentre outras informações relevantes. A Tabela 1 apresenta, de forma sumarizada, o perfil dos dez projetos selecionados para este estudo. É possível verificar que foram arrecadados, por esses projetos, um valor próximo de R$200.522,00, a partir de 1.835 operações de investimento oriundas de 151 municípios diferentes. Na segunda coluna dessa tabela, observa-se que o projeto que recebeu o maior número de operações de investimento (377 operações) alcançou um total captado, por meio da plataforma Catarse, de R$29.400. O projeto #1 é originário da cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, Sul do Brasil.

 

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Figura 1: Visão esquemática do website Catarse

Fonte: Adaptado pelos autores a partir do website Catarse <http://catarse.me/pt/andreadosguimaraes>. Convém destacar, contudo, que o Projeto #1 obteve esse desempenho ao longo de 37 dias de fundraising. Ainda em relação ao projeto #1, a Figura 2 ilustra a dispersão geográfica encontrada para as 377 operações de investimento a ele direcionadas, por meio da plataforma Catarse, conforme Tabela 1.

Tabela 1: Perfil da captação de recursos pelos projetos participantes da pesquisa

Projeto(a) Total Captado

(em R$)(b) # de Investimentos

recebidos pelo Projeto(c) Cidade sede do projeto(d)

# de Dias de fundraising(e)

Projeto #1 29.400 377 Curitiba 37Projeto #2 26.060 112 São Paulo 60Projeto #3 24.185 189 Niterói 60Projeto #4 21.180 80 Itapema 56Projeto #5 20.710 266 São Paulo 51Projeto #6 20.280 129 São Paulo 60Projeto #7 15.615 190 Rio de Janeiro 101Projeto #8 15.452 113 São Paulo 39Projeto #9 15.070 278 Florianópolis 60Projeto #10 12.570 101 Curitiba 35

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados cedidos pela plataforma de crowdfundig estudada, i.e. Catarse <http://catarse.me>. Nota: Esta tabela apresenta informações acerca do perfil de cada projeto considerado nesta pesquisa. É possível constatar que o Projeto que atraiu o maior número de investidores alcançou um total de R$29.400 captados.(a)Nome omitido por questões de confidencialidade; (b)valor total, em R$, captado pelo projeto ao longo do período de fundraising; (c)quantidade de aportes de capital recebidos pelo projeto ao longo do período de fundraising; (d)cidade na qual está sediado o projeto candidato a receber aportes de capital; (e)numero de dias em que o projeto ficou exposto na plataforma, para receber aportes de capital (i.e. investimentos, doações).

 

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Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados obtidos junto à plataforma Catarse, com utilização da ferramenta ArcGIS ArcMap 10.0 (ESRI, 2010). Esta figura apresenta a dispersão geográfica dos investidores que aportaram capital no Projeto #1, o qual atraiu 396 aportes de capital, que somaram um total de R$29.400. O investidor mais distante do Projeto #1, localizado na cidade de Curitiba/PR, foi observado no Estado do Amazonas, cidade de Manaus à distância de ~2.825 km.

Variáveis e estratégia empírica As variáveis consideradas neste estudo, adiante descritas, foram selecionadas mediante consideração da literatura relativa ao emprego do crowdfunding como meio de financiamento de produção musical (Agrawal et al., 2011). O modelo empírico testado é o representado em (1). As 4 variáveis de controle (CV) destinam-se a verificar a persistência dos coeficientes estimados para as variáveis de interesse, as quais destinam-se a testar H1 e H2.

= Valor, em R$, da i-ésima operação de investimento. = Número de dias após o início do projeto em que ocorreu a i-ésima operação de

investimento. = Distância geográfica, em quilômetros, entre o empreededor-artista e o investidor.

= Variáveis de Controle adotadas no modelo empírico. PIB per capita do município originador do investimento (em R$) % de Alfabetizados do município originador do investimento IDH do município originador do investimento Área do município originador do investimento (em km²) = + + + + (1)

Figura 2: Visualização da dispersão geográfica dos investimentos recebidos pelo Projeto #1

 

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4. Resultados empíricos A Tabela 2 apresenta as características gerais do conjunto de projetos selecionados para este estudo. A amostra inicial total era composta por 1.954 apoios, i.e. investimentos (ou aportes de capital) aos dez projetos. Porém, esta contemplava 119 apoios anônimos, permitidos pela plataforma Catarse, portanto não oferecendo a informação do município de onde se originou a operação de investimento, e por isso foram desconsiderados, deixando a mesma com 1835 apoios, 94% do número original de operações de investimentos. Tabela 2: Estatísticas descritivas das variáveis consideradas na pesquisa Média Mediana Mín. Máx. Desv. Pad.

Painel A: Nível dos Empreendimentos (N = 10) # Apoios considerados recebidos 183,5 159 80 377 96,5 Total de recursos financeiros captados (R$) 19.180,7 18.940 10.810 28.450 5.538,8 # Dias de fundraising 56 58 35 101 18,9

Painel B: Nível dos Investimentos (N = 1.835) # de Investidores = 1.575 Valor do investimento (R$) 104,5 50 10 5.000 322,3 Distância geodésica (km) 236,7 0 0 3.297,7 456,4 PIB per Capita do Município investidor (R$) 31.298,0 30.400,5 5.441,7 115.319,9 10.920,0 Alfabetizados do Município investidor (%) 89,9 90,3 73,1 92,0 1,9 IDH do Município investidor 0,807 0,805 0,625 0,847 0,029 Área do Município investidor (km²) 1.100,8 675 30,8 34.096,4 1.420,0

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados. Nota: Neste estudo estão considerados 10 diferentes projetos de produção musical, os quais receberam 1.835 operações de investimento (distribuídos pelo território brasileiro). IDH = Índice de Desenvolvimento Humano.

Como pode ser observado, na Tabela 2, os empreendedores receberam, em média, mais de 183 aportes de capital, durante o período de fundraising. Esse período durou, em média, 56 dias – um dos projetos foi submetido à ‘Segunda Chance’, atingindo a meta de captação em 101 dias após o início do projeto, enquanto outro projeto conseguiu atingir a meta em apenas 35 dias. Os projetos captaram, em média, R$ 19.180,70, com o valor total arrecadado entre R$ 10.000 e R$ 30.000, conforme critérios de inclusão adotados neste trabalho. A média do valor do apoio foi de R$ 104,5, variando em um intervalo entre R$ 10,00 e R$ 5.000,00. A mediana da distância foi de 0 km, visto que a ampla maioria dos apoios (1033 do total) teve origem no mesmo município do projeto. O apoio mais distante encontrado partiu de Bonfim, em Roraima, a um projeto sediado em São Paulo – uma distância de 3.297,7 km. De acordo com o estudo conduzido por Agrawal et al. (2011) no site Sellaband, a propensão de investir dos apoiadores aumentava conforme aumentava o valor captado pelo empreendedor.

Tabela 3: Evolução dos aportes de capital ao longo do período de fundraising

Dias após o início N Apoio Médio (R$)Total Investido

(R$) % do Total Investido

0-10 dias 396 81,77 32.380 16,9% 10-20 dias 243 104,86 25.480 13,3% 20-30 dias 264 74,72 19.727 10,3% 30-40 dias 274 75,99 20.822 10,9% 40-50 dias 300 84,95 25.484 13,3% 50-60 dias 297 177,16 52.617 27,4% >60 dias 61 250,77 15.297 8,0% Total 1.835 104,53 191.807 100%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados. Nota: Esta tabela apresenta o comportamento do valor médio dos aportes de capital conforme o avanço do período de fundrainsing, verifica-se que aparentemente que, conforme mais maduro o projeto hospedado torna-se, maiores entendem a ser os valores de cada aporte recebido por meio da plataforma.

 

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Conforme a Tabela 3, pode-se observar que a distribuição dos apoios é bastante homogênea durante o prazo típico do projeto (até 60 dias). Por outro lado, evidencia-se a correlação positiva entre a maturação do projeto e o valor do apoio realizado, principalmente na fase final de fundraising (50-60 dias), com um crescimento de quase 70% no apoio médio realizado em relação ao período de 10-20 dias (segundo período com maior apoio médio). Além disso, nos apoios superiores aos 60 dias, os projetos estão em “Segunda Chance”, ou seja, eles atingiram uma maturidade relevante e apresentam potencial para atingir a meta de captação caso lhes seja fornecida a oportunidade de reverem alguns problemas apresentados e efetuarem eventuais correções. Neste período, observa-se um aumento drástico no apoio médio realizado, que se apresenta superior a R$ 250,00, sugerindo novamente a importância da maturidade do projeto para a decisão do apoiador em relação ao valor a ser investido. Este comportamento apóia os resultados obtidos por Agrawal et al. (2011).

Dispersão geográfica da originação dos aportes de capital Conforme argumentos de Schwienbacher e Larralde (2010), a internet é requisito básico para o desenvolvimento do crowdfunding, tendo como consequência a dispersão geográfica dos agentes envolvidos. Nesse sentido, parece que, de fato, a Web possibilita que indivíduos conectados à rede possam combinar conhecimento e recursos, interagindo livremente com diferentes iniciativas empreendedoras. Nessa linha de pensamento, verifica-se, na presente pesquisa, que os dez projetos da amostra são baseados em seis cidades diferentes: quatro de São Paulo (SP), dois de Curitiba (PR), um de Florianópolis (SC), um de Itapema (SC), um de Niterói (RJ) e um do Rio de Janeiro (RJ). Foram encontrados apoios advindos de 151 municípios brasileiros e de duas cidades estrangeiras – Paris, na França, e Neuchatel, na Suíça, as quais não foram incluídas na análise. A distância média dos apoios foi de pouco mais de 236 km.

Conforme anteriormente argumentado, a teoria prevê que iniciativas empreendedoras tendam a ser financiadas por investidores locais, por uma série de razões, tais como: a diminuição nos custos de monitoramento, acesso a informações, participação nas decisões, entre outros. Por outro lado, no estudo conduzido por Agrawal et al. (2011), a maioria dos apoios realizados nos projetos estudados eram distantes – a distância média entre empreendedores e investidores era de 3.000 milhas, cerca de 4.828 quilômetros, e as doações tinham origem em mais de 80 diferentes países ao redor do mundo. A Figura 3 ilustra a dispersão geográfica de todos os apoios, sendo que as linhas representam cada elo apoiador-empreendedor (consultar o Apêndice para a distribuição dos apoios separada por projeto). A Tabela 4, em seguida, apresenta a distribuição geográfica destes investimentos.

Como pode ser observada na Figura 3, a maioria dos investimentos é local, isto é, está localizado dentro de um raio de 50 km do local em que o empreendedor está situado, destacando-se que a maioria está localizada a uma distância aproximada de 5 km. Os investimentos locais também são, em média, superiores aos distantes, sugerindo que quanto menor a distância em relação ao empreendedor, maior a propensão a investir maiores quantias, o que está de acordo com o coeficiente negativo encontrado para a variável distância na regressão realizada (vide Tabela 6, a seguir apresentada), que indica uma associação negativa com o Valor do Apoio. Apesar disso, vale notar o apoio médio elevado encontrado nos 10 apoios superiores aos 2.500 km de distância.

Estes dados sugerem que no Brasil, contrariando evidências encontradas no mercado europeu de crowdfunding (Agrawal et al., 2011), o financiamento que suporta projetos de artistas em início de carreira parece ser predominantemente oriunda de sua rede de contatos mais próximos. A própria plataforma Catarse, em sua página na internet, reafirma que pelo menos 50% dos recursos financeiros que suportam os projetos vem da própria rede de contatos do empreendedor.

 

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Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados, com uso da ferramenta ArcGIS ArcMap 10.0 (ESRI, 2010). Nota: Esta Figura apresenta a dispersão geodésica dos 1.835 aportes de capital, nos 10 projetos, sediados em seis diferentes cidades brasileiras: Curitiba (2); Florianópolis (1); Itapema (1); Niterói (1); Rio de Janeiro (1); e São Paulo (4) .

Em decorrência dessa percepção, o administrador da plataforma tem orientado os gestores de projetos hospedados no sentido de que se busquem, em paralelo, a criação de uma página em uma rede social para o projeto, na expectativa de que o número de seguidores da página possa ajudar a melhor dimensionar o tamanho da rede de contato mais próxima, que a priori estaria mais disposta a apoiar financeiramente o projeto hospedado na plataforma. Por outro lado, é fundamental ressaltar que mais de 22% do total investido veio de distâncias superiores a 50 km, o que representa uma quantia representativa e sugere que os empreendedores mais preparados e com maior apelo na plataforma podem vir a beneficiar-se desta oferta de recursos oriundos mais distante, expandindo suas possibilidades de funding, tornando o atingimento da meta de captação mais factível.

Nesse sentido, com a intenção de testar a existência de associações entre aspectos geográficos, e.g. distância investidor-empreendedor, forma testadas as hipóteses H1 e H2. Para tanto, foram conduzidos testes com respeito ao modelo (1), cujos parâmetros estimados por meio de OLS encontram-se reportados na Tabela 5. O Modelo I apresenta os resultados obtidos para as duas variáveis de interesse: Dias após iniciado o período de fundraising e

Figura 3: Dispersão geográfica de todos os apoios (por projeto hospedado no website Catarse)

 

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Distância investidor-empreendedor. É possível verificar que, mediante o Modelo I, que foi rejeitada H2, já que Dias após iniciado o período de fundraising obteve parâmetro positivo e significante ( ≅ 1,193 ; − < 0,01 ), sugerindo que parece existir associação significante entre o valor dos aportes de capital nos projetos hospedados.

Tabela 4: Frequência dos investimentos por distância geográfica

Distância N Apoio Médio (R$) Total Investido (R$) % do Total Investido

0-5 km 1.033 109,09 112.694 58,8% 5-50 km 218 166,95 36.395 19,0% 50-500 km 246 63,81 15.698 8,2% 500-1500 km 294 79,54 23.385 12,2% 1500-2500 km 34 60,88 2.070 1,1% > 2.500 km 10 156,50 1.565 0,8% Total 1.835 104,53 191.807 100%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados.

Esse resultado suporta os argumentos e achados de Agrawal et al. (2011), Zhang e Liu (2012) e também Kuppuswamy e Bayus (2014), para os quais, conforme aumenta o tempo acumulado no período de fundraising do projeto hospedado, maior a propensão dos investidores em aportar maiores somas de capital. Isso seria decorrente da redução da incerteza ao redor do projeto. Ainda em se tratando dos parâmetros estimados no Modelo I, também foi rejeitada a hipótese H1, na medida em que Distância investidor-empreendedor obteve parâmetro negativo e significante ( ≅ −0,026; − < 0,05). Esse resultado sugere a existência de associações entre a distância investidor-empreendedor e o valor dos aportes de capital realizados em nome do projeto hospedado. Isto é, quanto mais distante encontra-se o investidor, menor sua disposição em investir maiores somas no projeto. Esse achado não suporta argumentos no sentido de que o crowdfunding possa, no contexto de um mercado emergente, constituir canal suficientemente desenvolvido a ponto de suplantar a assimetria informacional imposta pela distância física investidor-empreendedor, defendido por Lee et al. (2008), ao menos se considerados dados oriundos da principal plataforma de crowdfunding em funcionamento no Brasil. Um dos possíveis motivos para esse tipo de achado no ambiente brasileiro pode ser a falta de regulação dessa modalidade de financiamento, o que já ocorre em economias desenvolvidas (Stemler, 2013).

Tendo sido rejeitadas H1 e H2, no Modelo I, buscou-se ainda verificar o efeito de variáveis de controle, relativas ao perfil do município originador do investimento, nos Modelos II, III e IV. Assim, nota-se que, no Modelo II, que a riqueza produzida no município originador parece não guardar influência sobre a disposição dos investidores, i.e. o PIB per capita do município obteve parâmetro não-significante ( ≅ 0; − > 0,1). Contudo, um resultado contra-intuitivo, que aponta para menor sensibilização do público investidor detentor de maior nível educacional foi constatada no Modelo III. Isto é, quanto maior a parcela de habitantes que se reportam como alfabetizados, menores tendem a seus os aportes de capital ( ≅ −827,082; − < 0,1), destacando-se ainda que: no Modelo III, ao considerar a parcela de alfabetizados, o efeito marginal das variáveis de interesse mostrou-se ainda mais forte, se comparados aos constatados no Modelo I.

Finalmente, no Modelo IV, os resultados sugerem que os municípios maiores, em termos de território, parecem originar investimentos de maiores somas ( ≅ 0,009; − < 0,01). Por seu turno, o modelo empírico testado (1), em todas as simulações, aponta para a existência de associações entre a distância investidor-empreendedor e o valor de cada aporte de capital recebido pelos projetos de produção musical hospedados na plataforma de crowdfunding Catarse, a maior do Brasil atualmente.

 

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Tabela 5: Parâmetros estimados para a regressão (Variável dependente Valor dos aportes de capital) Modelos simulados

Variáveis independentes Modelo I

Modelo II

Modelo III Modelo IV

Constante 73,057 *** 64,953 ** 657,359 * 531,138 (11,348) (26,685) (352,548) (339,560) 1. Dias após iniciado o período de fundraising 1,193 *** 1,203 *** 1,218 *** 1,185 *** (0,442) (0,453) (0,454) (0,453) 2. Distância Investidor-Empreendedor (em km) -0,026 ** -0,025 ** -0,039 ** -0,047 *** (0,011) (0,011) (0,016) (0,017) 3. PIB per capita do município originador do investimento (em R$) 0,000 0,000 0,000 (0,001) (0,001) (0,001) 4. % de Alfabetizados do município originador do investimento -827,082 * -608,169 (502,368) (490,347) 5. IDH do município originador do investimento 196,436 111,506 (267,697) (272,065) 6. Área do município originador do investimento (em km²) 0,009 *** (0,003) F 5,369 *** 3,747 ** 2,323 ** 3,130 *** Critério de Akaike 26393,80 26395,67 26398,01 26397,81 R-quadrado ajustado 0,007 0,006 0,006 0,007

Fonte: Cálculos dos autores com base em dados coletados no site http://cartase.me, e no IBGE. Nota: Esta tabela apresenta os parâmetros estimados para o modelo empírico adotado neste estudo. Mediante observação dos parâmetros obtidos, é possível verificar, nos quatro modelos, que a distância entre investidores e empreendedores-artistas e o período de maturação do projeto possuem efeito marginal significante sobre o valor dos investimentos realizados em cada i-ésimo apoio. Isto pode ser visto como uma indicação de que quanto mais próximos dos investidores, maior a propensão em atrair investidores. N = 1.835 operações de investimento, i.e. aportes de capital em favor de algum dos 10 projetos de produção musical considerados neste estudo. As regressões foram conduzidas com erro-padrão robusto (HC1). ***p-value< 0,01; **p-value< 0,05; *p-value< 0,1. Entre parênteses está o erro-padrão dos coeficientes estimados. (a) Variável construída com dados coletados no website Catarse; (b) Variáveis coletadas no Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

 

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Além disso, foram encontrados indícios significantes da existência de efeitos do tempo de fundraising sobre o valor dos aportes de capital, mesmo considerado o perfil dos municípios de onde se originam os investimentos.

5. Considerações Finais O Crowdfunding é um método em evolução, para captação recursos financeiros, sem o emprego do convencional ambiente de negociação de títulos. Trata-se de uma inovação financeira que tem possibilitado fontes de financiamento para projetos de uma gama diversa de finalidades, incluindo projetos de produção cultural, projetos sociais, e novas tecnologias (Shiller, 2013; Mollick, 2014). Por ser suportado pela internet, o crowdfunding tem o potencial de viabilizar investimentos sem que os investidores encontrem-se próximos aos empreendedores. Mesmo em se tratando de pequenos e médios investimentos de empresas não listadas em bolsa ou startups, bastando que o empreendedor tenha condições de oferecer informações relevantes ao investidor, reduzindo a assimetria de informações. E portanto, o risco do projeto. Isto aumentaria a propensão dos investidores a aportar capital no projeto. No entanto, evidências ao redor do mundo têm apontado para a dependência do projeto em relação à sua rede de contatos pessoais, incluindo-se amigos e família (Parker, 2009; Agrawal et al., 2011; Sheng e Mendes-Da-Silva, 2014). Em outras palavras, mesmo que o crowdfunding tenha o potencial de viabilizar atrair capitais originários de investidores que se encontram a distâncias maiores do empreendedor, o estágio de maturidade da indústria do crowdfunding, em determinados contextos e ambientes institucionais, pode ainda não oferecer condições para tal.

Assim, tendo em vista que o Brasil é uma relevante economia emergente, acerca da qual não se tem notícia da existência de estudos que abordem o funcionamento do crowdfunding, como fonte de financiamento para pequenos e médios empreendimentos, este artigo teve como objetivo verificar a existência de associações entre a distância investidor-empreendedor e a propensão dos investidores em apoiar projetos de produção musical. Em linha com o pensamento de que a rede de contatos mais próximos pode exercer papel central no funding, e simultaneamente contrariando a ideia de que o crowdfunding reduz o efeito inibidor da distância geográfica investidor-empreendedor, os resultados obtidos apontam para um efeito negativo e significante da distância sobre o valor dos aportes de capital, rejeitando a hipótese H1, de inexistência de associações entre distância empreendedor-investidor e o valor dos aportes de capital em projetos de produção musical financiados por meio de crowdfunding.

Esse resultado está em linha com os argumentos de Sorenson e Stuart (2001), Zook (2002) e Mason (2007). Ao mesmo tempo contraria aquilo que advogam Lee et al. (2008), para quem a internet desempenha um papel suficientemente expressivo a ponto de tornar não significante o efeito inibidor da distância entre empreendedor e investidor sobre a habilidade dos empreendedores para receber aportes de capital em seus projetos. Adicionalmente, os resultados sugerem que conforme aumenta o período de funraising, maior tendem a ser os valores aportados nos projetos, rejeitando a hipótese H2, de que não haveria associação entre o tempo acumulado pelo projeto na plataforma e o valor de cada investimento recebido pelo empreendedor. Esse resultado apóia os argumentos apresentados por Zhang e Liu (2012) e por Kuppuswamy e Bayus (2014), para os quais os investidores tendem a assumir um comportamento de maior propensão a investir em projetos que se encontram hospedados por maiores períodos de tempo na plataforma de crowdfunding.

O desenho desta pesquisa impõe limitações ao trabalho, as quais podem restringir a generalização dos resultados obtidos, pode-se apontar um conjunto de aspectos merecedores de registro: i) o trabalho considera apenas projetos de produção

 

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musical; ii) o estudo restringere-se ao ambiente brasileiro; iii) o momento em que os dados foram coletados pode ocasionar comportamentos particulares das variáveis estudadas. As questões abordadas no presente trabalho juntam-se à agenda de pesquisa contemporânea de crowdfunding, apontada por Lehner (2013), o que parece constituir um promissor campo de pesquisa em negócios. Além disso, os resultados desse estudo nos leva a perceber que o crowdfunding requer novos aspectos que possam contribuir com a problemática da habilidade para atrair capitais externos, flexibilidade e custos no financiamento, e assimetria informacional por parte dos investidores. Assim, sugere-se investir esforços de investigação em tópicos ao redor do desenvolvimento da indústria do crowdfunding, e.g.: i) modelos de negócio e governança corporativa; ii) relações com investidores; iii) redes e o papel desempenhado pelas plataformas de crowdfunding; iv) discurso e legitimidade e legitimidade do crowdfunding; v) métricas financeiras; vi) barreiras legais e regulatórias; vii) reconhecimento de oportunidades. Referências Agrawal, A.;Catalini, C.;Goldfarb, A. (2011). The geography of crowdfunding. NBER

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