efeito da densidade e do teor de umidade na velocidade ultra

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Minerva, 2(1): 25-31 EFEITO DA DENSIDADE E DO TEOR DE UMIDADE NA VELOCIDADE ULTRA-SÔNICA DA MADEIRA Fabiana Goia Rosa de Oliveira LaMEM, EESC-USP Almir Sales DECiv, UFSCar Resumo Este trabalho apresenta um estudo sobre o efeito do teor de umidade e da densidade da madeira na velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas na direção longitudinal. As espécies utilizadas foram: pinus caribea (Pinus caribea var. caribea), pinus elliottii (Pinus elliottii var. elliottii), eucalipto citriodora (Eucalyptus citriodora), eucalipto grandis (Eucalyptus grandis), cupiúba (Goupia glabra) e jatobá (Hymenaea sp.). Os resultados demonstraram que a velocidade ultra-sônica tende a aumentar com a diminuição do teor de umidade e o efeito do teor de umidade abaixo do ponto de saturação das fibras é mais significativo do que acima do ponto de saturação. Para as espécies utilizadas nesta pesquisa, a velocidade ultra-sônica diminuiu com o aumento da densidade aparente. As correlações entre a velocidade ultra- sônica, teor de umidade e densidade aparente foram representadas por modelos de regressão linear. Conclui-se que os resultados obtidos por meio da técnica de ultra-som devem ser ajustados antes da estimativa de propriedades físicas e mecânicas da madeira quando o teor de umidade estiver acima de 12%. Palavras-chave: velocidade ultra-sônica, teor de umidade, densidade aparente, madeira. Introdução O uso de geossintéticos em obras geotécnicas de proteção ambiental tem crescido muito nos últimos anos. Em especial, as geomembranas, que compõem uma classe de geossintéticos de reduzida permeabilidade, prestam- se a compor sistemas de impermeabilização da base de aterros de resíduos e de lagoas de efluentes, bem como sistemas de impermeabilização de cobertura de aterros. Estes sistemas de impermeabilização combinam, além das geomembranas, diferentes materiais, como solos argilosos compactados, solos granulares e outros materiais sintéticos, como geotêxteis e geocompostos bentoníticos, formando as barreiras compostas. Há forte relação entre velocidade de propagação de ondas e a umidade. A umidade afeta a velocidade de propagação de dois modos: no efeito intrínseco da rigidez e na densidade da madeira. A água livre aumenta a atenuação, resultando numa diminuição da velocidade nas direções longitudinal, radial e tangencial. De acordo com Bucur (1995), em um baixo valor de umidade (menor que 18%), quando a água existente na madeira está ligada às moléculas de celulose da parede celular, o pulso ultra-sônico é espalhado pelos elementos anatômicos e pelos contornos destes elementos. Nestes contornos, analogamente ao que ocorre nos contornos de grãos de um sólido policristalino, há descontinuidade do módulo de elasticidade e, conseqüentemente, da impedância acústica. A pressão que atua nas partículas das moléculas de celulose, resultante da passagem da onda ultra-sônica, reorienta a posição da hidroxila (OH) ou outro radical pertencente àquelas moléculas. Neste caso, o mecanismo de atenuação relacionado às caracte- rísticas das paredes celulares constitui, provavelmente, o fator mais importante. Em teores de umidade mais elevados, mas ainda abaixo do ponto de saturação, o espalhamento nos limites das células pode ser considerado o mais importante mecanismo de perdas. Após o ponto de saturação das fibras, quando a água está presente nas cavidades celulares, a porosidade do material intervém como fator predominante na dispersão ultra-sônica. A velocidade de propagação diminui drasticamente com o aumento da umidade até o ponto de saturação das fibras, sendo que, a partir deste ponto, a variação da velocidade torna-se pequena. A atenuação é praticamente constante em baixos valores de umidade, mas aumenta a partir de um ponto crítico no qual as paredes das células começam a reter água livre.

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Minerva, 2(1): 25-31

EFEITO DA DENSIDADE E DO TEOR DE UMIDADE NA VELOCIDADE ULTRA-SÔNICA DA MADEIRA 25

EFEITO DA DENSIDADE E DO TEOR DEUMIDADE NA VELOCIDADE

ULTRA-SÔNICA DA MADEIRA

Fabiana Goia Rosa de OliveiraLaMEM, EESC-USP

Almir SalesDECiv, UFSCar

ResumoEste trabalho apresenta um estudo sobre o efeito do teor de umidade e da densidade da madeira na velocidade depropagação de ondas ultra-sônicas na direção longitudinal. As espécies utilizadas foram: pinus caribea (Pinus caribeavar. caribea), pinus elliottii (Pinus elliottii var. elliottii), eucalipto citriodora (Eucalyptus citriodora), eucalipto grandis(Eucalyptus grandis), cupiúba (Goupia glabra) e jatobá (Hymenaea sp.). Os resultados demonstraram que a velocidadeultra-sônica tende a aumentar com a diminuição do teor de umidade e o efeito do teor de umidade abaixo do ponto desaturação das fibras é mais significativo do que acima do ponto de saturação. Para as espécies utilizadas nesta pesquisa,a velocidade ultra-sônica diminuiu com o aumento da densidade aparente. As correlações entre a velocidade ultra-sônica, teor de umidade e densidade aparente foram representadas por modelos de regressão linear. Conclui-se que osresultados obtidos por meio da técnica de ultra-som devem ser ajustados antes da estimativa de propriedades físicas emecânicas da madeira quando o teor de umidade estiver acima de 12%.

Palavras-chave: velocidade ultra-sônica, teor de umidade, densidade aparente, madeira.

IntroduçãoO uso de geossintéticos em obras geotécnicas de

proteção ambiental tem crescido muito nos últimos anos.Em especial, as geomembranas, que compõem uma classede geossintéticos de reduzida permeabilidade, prestam-se a compor sistemas de impermeabilização da base deaterros de resíduos e de lagoas de efluentes, bem comosistemas de impermeabilização de cobertura de aterros.

Estes sistemas de impermeabilização combinam, alémdas geomembranas, diferentes materiais, como solos argilososcompactados, solos granulares e outros materiais sintéticos,como geotêxteis e geocompostos bentoníticos, formandoas barreiras compostas.

Há forte relação entre velocidade de propagaçãode ondas e a umidade. A umidade afeta a velocidade depropagação de dois modos: no efeito intrínseco da rigideze na densidade da madeira. A água livre aumenta a atenuação,resultando numa diminuição da velocidade nas direçõeslongitudinal, radial e tangencial.

De acordo com Bucur (1995), em um baixo valor deumidade (menor que 18%), quando a água existente na madeiraestá ligada às moléculas de celulose da parede celular, opulso ultra-sônico é espalhado pelos elementos anatômicose pelos contornos destes elementos. Nestes contornos,

analogamente ao que ocorre nos contornos de grãos de umsólido policristalino, há descontinuidade do módulo deelasticidade e, conseqüentemente, da impedância acústica.A pressão que atua nas partículas das moléculas de celulose,resultante da passagem da onda ultra-sônica, reorienta a posiçãoda hidroxila (OH) ou outro radical pertencente àquelas moléculas.Neste caso, o mecanismo de atenuação relacionado às caracte-rísticas das paredes celulares constitui, provavelmente, ofator mais importante.

Em teores de umidade mais elevados, mas aindaabaixo do ponto de saturação, o espalhamento nos limitesdas células pode ser considerado o mais importantemecanismo de perdas. Após o ponto de saturação dasfibras, quando a água está presente nas cavidades celulares,a porosidade do material intervém como fator predominantena dispersão ultra-sônica.

A velocidade de propagação diminui drasticamentecom o aumento da umidade até o ponto de saturação dasfibras, sendo que, a partir deste ponto, a variação davelocidade torna-se pequena. A atenuação é praticamenteconstante em baixos valores de umidade, mas aumenta apartir de um ponto crítico no qual as paredes das célulascomeçam a reter água livre.

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26 OLIVEIRA & SALES

As pesquisas de laboratório com a técnica de ultra-som para estimar as propriedades da madeira saturada têmatingido resultados promissores. Correlações confiáveis têmsido obtidas entre a avaliação não-destrutiva da madeirasaturada e seca, indicando que é possível selecionar a madeiraantes do processo de secagem, o que resulta em significativaeconomia para os produtores de madeira e derivados.

Os resultados de trabalhos internacionais têmdemonstrado o potencial do uso da velocidade ultra-sônicapara controlar o processo de secagem da madeira em estufa,principalmente para teores de umidade acima de 30%.

A velocidade ultra-sônica na madeira nas direçõeslongitudinal e radial tende a aumentar com a diminuiçãodo teor de umidade. A influência da umidade abaixo doponto de saturação das fibras é mais significativa do queacima deste ponto, mas as relações numéricas entre essasgrandezas variam muito entre as diferentes espécies, Jameset al. (1982), Sakai et al. (1990), Bucur & Sarem (1992),Mishiro (1995), Olivito (1996), Simpson (1998), Simpson& Wang (2001), Kang & Booker (2002), Wang et al. (2003)e Oliveira et al. (2005).

A densidade é um dos parâmetros mais utilizadospara a avaliação da madeira. Pesquisas realizadas sobrea relação entre a velocidade ultra-sônica e a densidadeda madeira obtiveram diferentes resultados, com a velocidadeaumentando ou diminuindo com o acréscimo da densidade.

O efeito da densidade nas ondas ultra-sônicas édependente da espécie analisada, da estrutura da madeirae da direção da medição. De modo geral, para um teor deumidade constante ao longo da amostra, o aumento dadensidade propicia maior velocidade de propagação emqualquer das três direções de propagação da madeira. Porém,mais importante que a própria densidade, é a estruturaanatômica da madeira, como por exemplo, o comprimentode traqueídes (3,0 mm) e fibras (1,0 mm a 1,5 mm), oque explica maiores velocidades em algumas coníferas,mesmo com menores valores de densidade.

De acordo com Carrasco & Azevedo Júnior (2003),não é propriamente o aumento da densidade que acarretao aumento na velocidade de propagação das ondas ultra-sônicas em madeiras. Ao contrário, o aumento da densidadedeveria provocar a diminuição da velocidade de propagação,visto que a velocidade é inversamente proporcional à raizquadrada da densidade. Entretanto, considerando-se umvalor de umidade constante ao longo da amostra, o aumentoda densidade decorre da maior deposição de celulose naface interna da parede celular. Esta deposição acarretaaumento mais significativo nos valores de rigidez do quenos valores da densidade da madeira. Dessa forma, mesmoque haja aumento da densidade, a velocidade não diminui,pois é compensada pelo aumento da rigidez. Portanto, asmaiores velocidades ultra-sônicas são geralmente alcançadasem espécies de madeira com maior densidade.

Mishiro (1996) avaliou o efeito da densidade navelocidade ultra-sônica em sete coníferas e doze

dicotiledôneas e concluiu que, embora a velocidadeapresentasse comportamento indiferente em relação àvariação da densidade para o conjunto das espécies, osresultados foram divididos em três grupos, com tendênciade aumento, diminuição ou de se manter constante com oacréscimo da densidade.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito doteor de umidade e da densidade na velocidade de propagaçãoultra-sônica da madeira durante o processo de secagem.

Materiais e MétodosAs espécies utilizadas no procedimento experimental

foram: pinus caribea (Pinus caribea var. caribea), pinus elliottii(Pinus elliottii var. elliottii), eucalipto citriodora (Eucalyptuscitriodora), eucalipto grandis (Eucalyptus grandis), cupiúba(Goupia glabra) e jatobá (Hymenaea sp.).

Foram utilizadas seis peças de cada espécie comcomprimento de 750 mm e seção transversal de 25 mm ×300 mm. As peças foram secas desde saturadas até um teorde umidade em torno de 6%. Foram feitas três medições:teor de umidade, densidade aparente e velocidade ultra-sônica.

A técnica de ultra-som utilizada consiste no métodode propagação de pulsos. A velocidade ultra-sônica foideterminada por meio da medição do comprimento docorpo-de-prova na direção longitudinal e pela leitura dotempo de propagação da onda ultra-sônica. O pulso ultra-sônico foi gerado pelo equipamento comercial Sylvatest,operando com freqüência de 22 kHz. Os ensaios para aavaliação do tempo de propagação da onda ultra-sônicaforam feitos na direção paralela às fibras, com ondas ultra-sônicas longitudinais.

A onda ultra-sônica é aplicada no corpo-de-provapor um transdutor e captada pelo outro transdutor, posicionadona face oposta, sendo o tempo de propagação registradopelo equipamento em microssegundos. Foram feitas trêsleituras do tempo de propagação: no centro da seçãotransversal e em pontos acima e abaixo deste. A velocidadeultra-sônica foi calculada com a média destas leituras dotempo e com o comprimento do corpo-de-prova.

As peças foram imersas em água até ficarem saturadas.Após a retirada das mesmas do tanque iniciou-se a etapade secagem ao ar, sendo o controle do teor de umidadefeito com o equipamento DL 2000 (marca Digisystem),acoplado em uma caixa de conexão DPC 8760 (Figura1) e também por meio da extração de pequenas amostrasde tábuas de referência secas em estufa a 103 ± 2oC.

O equipamento fornece leituras do teor de umidadena área imediatamente em contato com as agulhas do eletrodo,indicando o ponto com teor de umidade mais elevado naprofundidade percorrida, ou seja, trata-se de uma leituralocalizada. A faixa de medição está entre 6% e 60%, comresolução de 0,1%. Os valores da resistência elétrica sãoconvertidos em valores de teor de umidade com as seguintestolerâncias: 0,5% de tolerância para teores de umidadeentre 6% e 12%; 1,0% de tolerância para teores de umidade

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entre 12% e 20%; e 2,0% de tolerância para teores deumidade entre 20% e 30%.

O medidor de umidade foi calibrado para cada espéciee também em função da temperatura ambiente. A utilizaçãoda caixa de conexão visou minimizar variações decorrentesda perfuração necessária para diversas medições ao longodo processo de secagem.

A partir do teor de umidade em torno de 14%, ouseja, próximo do ponto de equilíbrio com o ar, as peçasforam colocadas na estufa para que atingissem em tornode 6% de umidade. Salienta-se que cada lote destinado aeste processo foi composto apenas por uma espécie, evitando-se interferências inerentes à velocidade de secagem.

Após a medição do teor de umidade para cada peça,foi feito o ensaio de ultra-som na direção longitudinal (Figura2), com um intervalo do teor de umidade em torno de 2%.

Para a determinação da densidade aparente foramutilizados doze corpos-de-prova e os procedimentos

adotados seguiram as recomendações da NBR 7190/97.O cálculo da densidade foi feito de acordo com a equação:

ρap,12%

= map,12%

/ Vap,12%

(1)em que:

ρap,12%

: densidade aparente a 12% de umidade (kg/m3);

map,12%

: massa do corpo-de-prova a 12% de umidade(kg);

Vap,12%

: volume do corpo-de-prova a 12% de umidade(m3).

Com os resultados dos ensaios, foi realizada umaanálise estatística que permitiu verificar a influência daumidade e da densidade na velocidade de propagação ultra-sônica, e também estabelecer relações para cada uma dasespécies em estudo. Para a análise estatística de todos osdados obtidos na experimentação foi utilizado o softwareMINITAB.

Figura 1 Medidor de umidade e caixa de conexão.

Figura 2 Ensaio de ultra-som variando-se o teor de umidade.

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Resultados e DiscussõesAs relações encontradas entre a velocidade ultra-

sônica em função da variação do teor de umidade estãoapresentadas na Figura 3.

Os resultados indicaram uma tendência de diminuiçãoda velocidade ultra-sônica com o aumento do teor de umidade,para todas as espécies estudadas.

A densidade e a estrutura anatômica também interferemna velocidade de secagem. As espécies com vasos ou traqueídesmais abertos e abundantes favorecem a circulação da umidadee propiciam secagem mais rápida (Galvão & Jankowsky,1985). As coníferas, em geral, secam mais rapidamenteque as dicotiledôneas, o que pode ser constatado, especialmentepara as espécies pinus elliottii e eucalipto grandis, com,respectivamente, o menor e o maior tempo de secagem.

O teor de umidade inicial também interfere navelocidade de secagem. Amostras com alto teor de umidadeinicial levam mais tempo para secar, conforme os resultadosobtidos com a espécie eucalipto grandis, que apresentouo maior teor de umidade inicial (em torno de 90%) e tambémo maior tempo de secagem (90 dias). A secagem maisrápida ocorreu com a espécie eucalipto citriodora, queapresentou teor de umidade inicial em torno de 60% e

tempo de secagem de 47 dias, para o mesmo programade secagem utilizado.

Os valores obtidos para densidade aparente evelocidade ultra-sônica para todas as espécies estãoapresentados na Tabela 1.

Os valores da velocidade na direção paralela às fibrasforam forte e continuamente afetados pela variação do teorde umidade. Os valores máximos de velocidade foram obtidosquando os corpos-de-prova estavam secos (cerca de 6%de teor de umidade). Os valores mínimos de velocidadeforam obtidos quando as peças estavam no estado saturado.

A partir dos gráficos apresentados na Figura 3, pôde-se observar um ponto de inflexão em torno do ponto desaturação das fibras para todas as espécies. Os resultadosdemonstraram que o efeito do teor de umidade abaixo doPSF é mais significativo do que acima deste ponto.

Na continuidade da avaliação dos resultados, foifeita uma análise visando à obtenção de modelos que melhorse ajustem aos valores experimentais obtidos (comcoeficientes de determinação significativos), a fim de proporrelações que permitam a correção de valores da velocidadeultra-sônica em diferentes teores de umidade, considerando-se todas as espécies.

Pinus caribea

2000

3000

4000

5000

6000

0 20 40 60 80 100

Teor de umidade (%)

Pinus elliottii

2000

4000

6000

8000

0 20 40 60 80

Teor de umidade (%)

Eucalipto grandis

3000

4000

5000

0 20 40 60 80 100

Teor de umidade (%)

Eucalipto citriodora

4000

5000

6000

0 10 20 30 40 50 60

Teor de umidade (%)

Cupiúba

3500

4500

5500

0 10 20 30 40 50 60

Teor de umidade (%)

Jatobá

3000

4000

5000

6000

0 10 20 30 40 50 60

Teor de umidade (%)

V(m

/s)

LL

V(m

/s)

LL

V(m

/s)

LL

V(m

/s)

LL

V(m

/s)

LL

V(m

/s)

LL

Figura 3 Velocidade ultra-sônica em função do teor de umidade.

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Foram avaliados os modelos: linear, logarítmico,polinomial, potência e exponencial, a fim de obter o maiorcoeficiente de determinação. A análise também foi feitadividindo-se os resultados acima e abaixo do ponto desaturação das fibras.

Os valores de R2 mais significativos foram obtidoscom o modelo de regressão linear e considerando-se apenasum trecho para a variação da velocidade, desde a madeirasaturada até seca.

Embora o gráfico da Figura 4 indique uma tendênciade decréscimo da velocidade com o aumento do teor deumidade para os valores acima do ponto de saturaçãodas fibras, é interessante observar que as propriedadesde resistência e rigidez da madeira não possuem talcomportamento, ou seja, a partir do PSF existe uma tendênciade os valores das propriedades mecânicas se tornarem

Velocidade ultra-sônica (m/s)

Acima PSF Abaixo PSF Densidade aparente (kg/m3) VMédio VMin VMax

CV (%) VMédio VMin VMax

CV (%)

Pinus caribea 530 3886 3138 5000 14,0 4880 3846 5515 9,8

Pinus elliottii 554 3923 2913 5057 17,8 4940 3685 6185 14,3

Eucalipto grandis

890 3836 3296 4360 7,0 4441 3848 4934 6,4

Eucalipto citriodora

1001 4408 4048 4777 4,8 4890 4474 5357 4,3

Cupiúba 792 4162 3870 4515 4,7 4628 4282 4934 3,3

Jatobá 920 4377 3906 4719 5,8 4789 4213 5432 7,0

Tabela 1 Valores de velocidade ultra-sônica acima e abaixo do PSF e densidade aparente.

constantes. Neste sentido, para os casos em que a velocidade(VLL) seja utilizada para estimar o valor do módulo deelasticidade, torna-se importante a utilização de umaexpressão que permita adequar o valor de Ed acima doponto de saturação das fibras.

A partir das relações obtidas foi possível sugeriruma expressão geral, englobando todas as espécies estudadas,de modo a relacionar a velocidade longitudinal com oteor de umidade, apresentada a seguir:

VLL, U%

= – 20,82 U + 5072 (2)

em que:VLL, U%: velocidade longitudinal para peças com U% de

teor de umidade (m/s);U: teor de umidade da amostra (%).

V = –20,82U + 5072

R = 0,87LL, U%

2

3000

4000

5000

6000

0 20 40 60 80 100

Teor de umidade (%)

V(m

/s)

LL

,U

%

Figura 4 Representação gráfica do modelo de correção para a velocidade em função do teor de umidade.

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30 OLIVEIRA & SALES

Por meio dos dados experimentais obtidos na presentepesquisa, também foi possível estabelecer uma expressãogeral relacionando a velocidade longitudinal e a densidadeaparente a 12% para as mesmas peças estudadas, o quepermitiu a proposição do modelo representado graficamentena Figura 5. A equação deste modelo está apresentada aseguir:

VLL, 12%

= –1,01ρap,12%

+ 5722 (3)em que:

VLL, 12%: velocidade longitudinal para peças com teor deumidade de 12% (m/s);

r ap,12% : densidade aparente a 12% (kg/m3).

A partir da diferença entre as expressões (3) e (2)foi possível obter uma outra expressão que permite demodo simplificado a correção dos valores de velocidade

longitudinal obtidos em peças com teor de umidade acimade 12%, conhecendo-se a densidade aparente, conformedemonstrado a seguir:

VLL, 12%

– VLL, U%

= – 1,01ρap, 12%

+ 20,82 U + 5722 – 5072

VLL, 12%

= VLL, U%

– 1,01ρap, 12%

+ 20,82 U + 650

Ou:

VLL, 12%

= VLL, U%

– rap, 12%

+ 21 U + 650 (4)

Salienta-se que esta expressão foi obtida a partir dedados experimentais de um mesmo lote de peças de madeiradas espécies utilizadas neste estudo, considerando tambémque o intuito desta expressão é simplificar a correção davelocidade obtida em ensaios de ultra-som, de modo a facilitara inclusão de ensaios não-destrutivos na normalização brasileira.

V = –1,01 + 5722

R = 0,64LL, 12% ap, 12%�

2

4000

4500

5000

5500

6000

400 600 800 1000 1200

Densidade aparente (kg/m³)

V(m

/s)

LL,1

2%

Figura 5 Velocidade longitudinal em peças a 12% de umidade em função da densidade aparente.

ConclusõesOs resultados deste estudo demonstraram que a

velocidade ultra-sônica é sensível à variação do teor deumidade da madeira. Houve tendência de diminuição davelocidade com o aumento do teor de umidade para todasas espécies estudadas. A influência do teor de umidadeocorreu de modo diferente acima e abaixo do ponto desaturação das fibras, sendo mais significativa no segundocaso.

A expressão VLL, 12% = VLL, U% – ρap, 12% + 21 U +650 pode ser empregada como um subsídio à inclusãode ensaios não-destrutivos na normalização brasileirapara projeto de estruturas de madeira, pois permite acorreção dos valores da velocidade obtida em ensaiosde ultra-som, em função do teor de umidade e da densidadeda peça.

AgradecimentosOs autores agradecem à FAPESP, ao CNPq e ao

LaMEM.

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