efeito antioxidante do Óleo essencial de rosa …

17
EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA DAMASCENA: UMA REVISÃO DE LITERATURA¹ Beatriz Perotti² Carolayne de Borba³ Aline Emer 4 Resumo: O OE de Rosa damascena tem sido foco de estudos, devido à sua capacidade de neutralizar os radicais livres produzidos no organismo. A presença de compostos fenólicos no OE de Rosa damascena foi mostrada por alguns autores como possuindo atividade antioxidante. Este estudo caracteriza-se como uma revisão narrativa de literatura. As buscas foram realizadas em bases de dados bibliográficas como Pubmed, Scielo, Periódicos Capes e Google Acadêmico. A busca nas bases de dados foi realizada utilizando os descritores “antioxidante” e “óleo essencial de Rosa damascena”, onde após a leitura de todos os títulos, foram selecionados 5 artigos para este trabalho de revisão. Os constituintes majoritários do OE de rosa foram apontados como citronelol, geraniol, nerol, álcool fenil etílico e nonadecano. O OE de Rosa damascena pode ser utilizado com segurança na área estética, sendo um antioxidante natural que neutraliza os radicais livres formados no organismo, podendo retardar o processo de envelhecimento. No entanto, sugere-se a realização de novos estudos clínicos que avaliem a atividade antioxidante do OE de Rosa damascena, com o fim de evidenciar um efeito antioxidante mais preciso para o uso na estética. Palavras-chave: Antioxidante. Óleo essencial de Rosa damascena. Aromaterapia. _____________________ ¹ Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Tecnólogo em Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Orientador: Prof. Aline Emer, Dra. ² Acadêmica do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: [email protected] ³ Acadêmica do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: [email protected] 4 Docente do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E- mail: [email protected]

Upload: others

Post on 26-Jun-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA DAMASCENA:

UMA REVISÃO DE LITERATURA¹

Beatriz Perotti²

Carolayne de Borba³

Aline Emer4

Resumo: O OE de Rosa damascena tem sido foco de estudos, devido à sua

capacidade de neutralizar os radicais livres produzidos no organismo. A presença de

compostos fenólicos no OE de Rosa damascena foi mostrada por alguns autores

como possuindo atividade antioxidante. Este estudo caracteriza-se como uma revisão

narrativa de literatura. As buscas foram realizadas em bases de dados bibliográficas

como Pubmed, Scielo, Periódicos Capes e Google Acadêmico. A busca nas bases de

dados foi realizada utilizando os descritores “antioxidante” e “óleo essencial de Rosa

damascena”, onde após a leitura de todos os títulos, foram selecionados 5 artigos para

este trabalho de revisão. Os constituintes majoritários do OE de rosa foram apontados

como citronelol, geraniol, nerol, álcool fenil etílico e nonadecano. O OE de Rosa

damascena pode ser utilizado com segurança na área estética, sendo um antioxidante

natural que neutraliza os radicais livres formados no organismo, podendo retardar o

processo de envelhecimento. No entanto, sugere-se a realização de novos estudos

clínicos que avaliem a atividade antioxidante do OE de Rosa damascena, com o fim

de evidenciar um efeito antioxidante mais preciso para o uso na estética.

Palavras-chave: Antioxidante. Óleo essencial de Rosa damascena. Aromaterapia.

_____________________

¹ Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Tecnólogo em Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Orientador: Prof. Aline Emer, Dra.

² Acadêmica do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: [email protected]

³ Acadêmica do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: [email protected]

4 Docente do curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail: [email protected]

Page 2: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

THE ANTIOXIDANT EFFECT OF THE DAMASCENA ROSE ESSENTIAL OIL:

A LITERATURE REVIEW

Abstract: The essential oil of Rosa damascena has been focus of studies due to its

ability to neutralize the free radicals produced in the body. The presence of phenolic

compounds in the essential oil of Rosa damascena was shown by some authors as

having antioxidant activity. This study is being shown as a narrative literature review.

The searches were made having the basis bibliographic data as Pubmed, Scielo,

Periódicos Capes and the Google Acadêmico. The search in the basis of the data was

done using the descriptors “antioxidant” and “essential oil of Damascena Rose”, in

which, after reading all the titles, 5 articles were selected for this review work. The

essential oil of Rosa Damascena can be used safely in the aesthetic área, being itself

a natural antioxidant that neutralizes the free radicals formed in the body, being able

to delay the process of ageing. The major constituents of the essential oils of the rose

were pointed out as citronellol, geraniol, nerol, phenyl ethyl alcohol and nonadecane.

However, it is suggested the realization of new clinical studies that evaluate the

antioxidant activity of the essential oil of Damascena Rose in order to substantiatea

more precise antioxidant effect to the aesthetic use.

Keywords: Antioxidant. Essential oil of Rosa damascena. Aromatherapy.

Page 3: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

3

1 INTRODUÇÃO

Antioxidantes são substâncias que retardam a velocidade da oxidação,

por meio de um ou mais mecanismos, como inibição de radicais livres. Os radicais

livres são átomos ou moléculas com elétrons desemparelhados que roubam os

elétrons de outras moléculas, danificando-as. São “superoxidantes”, ou seja, não

apenas causam uma oxidação como produzem um novo radical livre neste processo,

ocasionando uma reação em cadeia, diferentemente da oxidação normal (GERSON

et al., 2011).

Pesquisas científicas apontam que produtos naturais com base em plantas

medicinais e óleos essenciais produzem potente ação antioxidante (BAKKALI et al.,

2008). A busca pela beleza abre um amplo mercado de produtos cosméticos, incluindo

a fitocosmética, que tem como finalidade formular cosméticos com princípios ativos

extraídos dos vegetais, beneficiando a estética, por ter ação como outros cosméticos

de correção e manutenção de um estado normal e sadio da pele (ROCHA; COSTA,

2012).

A aromaterapia é considerada uma medicina natural, integrativa,

complementar, preventiva e também curativa. Os óleos essenciais são substâncias

orgânicas voláteis e extraídas de diversas partes das plantas (ANDREI; DEL

COMUNE, 2005). Possuem ação antioxidante, desempenhada pelos terpenos e

terpenoides, apresentam capacidade de intervir na eliminação de radicais livres, o que

justifica também as suas ações antimutagênica e anticarcinogênica (ABURJAI;

NATSHEH, 2003; BAKKALI et al., 2008).

A aromaterapia é uma forma natural de cuidados com a pele, trabalha a

autoestima, melhora o humor, diminui ansiedade, depressão e alivia o estresse,

promovendo saúde e bem-estar. É utilizada na estética em diferentes procedimentos,

destacando o potencial relaxante, anti-inflamatório, bactericida e antioxidante dos

óleos essenciais (CORAZZA, 2014).

Alguns óleos essenciais destacam-se por seu efeito antioxidante, dentre

eles a Rosa damascena, que tem sido foco de estudos durante as últimas décadas.

Popularmente chamada de Rosa, a Rosa damascena pertence à família botânica

Rosaceae, caracteriza-se como uma planta com flor aromática, de cor rosa claro, que

floresce na primavera. Atualmente, a Rosa damascena é a principal espécie cultivada

não só na Bulgária, mas também no Irã e na Índia (NUNES, 2016).

Page 4: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

4

Estudos farmacológicos mostraram os diferentes efeitos da Rosa

damascena, que podem ser principalmente atribuídos à sua grande quantidade de

componentes polifenólicos. Uma ampla gama de fitoquímicos incluindo flavonóides,

glicosídeos, terpenos e antocianinas foram isolados de diferentes partes da planta

(NAYEBI et al., 2017).

Seu efeito antioxidante é destacado devido à capacidade de neutralizar os

radicais livres, suprimindo os seus efeitos destrutivos nas células humanas. A

presença de compostos fenólicos no OE de Rosa damascena foi mostrada por alguns

autores como possuindo potente atividade antioxidante (YASSA et al., 2009).

Produtos produzidos a partir do OE de rosa são economicamente

importantes para a produção de perfumes, cosméticos e na indústria farmacêutica

(MILEVA et al., 2014). Sendo considerado o mais delicado de todos os adstringentes,

os produtos à base de rosas são frequentemente utilizados como tônico para pele, em

sabonetes ou como produtos antienvelhecimento em cremes faciais (MAHBOUBI,

2015).

Um estudo analisou a atividade antioxidante de um grande número de óleos

essenciais, incluindo o de Rosa damascena, e verificou que possui atividade

antioxidante por ser capaz de captar o radical livre 2,2-difenil-1-picrilhidrazil (DPPH)

(SALEH et al., 2010). Outro estudo semelhante analisou a atividade antioxidante do

OE de rosa por três ensaios diferentes: DPPH, aldeído/ácido carboxílico e

malondialdeído, verificando que o citronelol, um dos constituintes majoritários do OE

de rosa, possui atividade antioxidante (WEI; SHIBAMOTO, 2007).

Yassa et al. (2009) compararam ainda a atividade antioxidante do OE e do

extrato metanólico de rosas. Os resultados sugerem que ambos podem ser utilizados

com sucesso como antioxidantes. Assim, o OE de rosa pode ser utilizado em produtos

de perfumaria e cosméticos.

Deste modo, o objetivo deste estudo foi resumir as evidências atuais sobre

a eficácia do OE de Rosa damascena com uma visão geral sobre suas propriedades

antioxidantes.

Page 5: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

5

2 METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como uma revisão narrativa de literatura.

As buscas foram realizadas em bases de dados bibliográficas como Pubmed, Scielo,

Periódicos Capes e no Google Acadêmico. Foram selecionados artigos escritos em

português e inglês, publicados entre 2005 e 2019.

A busca nas bases de dados foi realizada utilizando os descritores

“antioxidante” e “óleo essencial de Rosa damascena”, assim como seus

correspondentes na língua inglesa [“antioxidant” and “essential oil of Rosa

Damascena”].

Foram excluídos editoriais, cartas, comentários e resumos expandidos de

trabalhos, além de estudos duplicados ou com diferente proposta temática.

Para seleção dos estudos, primeiramente foi realizada a avaliação dos

títulos e dos resumos identificados na busca inicial, obedecendo aos critérios de

inclusão e exclusão definidos.

3 RESULTADOS

Utilizando os descritores “óleo essencial de Rosa damascena” e

“antioxidante”, foram encontrados 9 artigos no Pubmed, 385 artigos no Periódicos

Capes e 5.571 artigos no Google Acadêmico, totalizando 5.965 artigos. Não foi

encontrado nenhum artigo na base de dados Scielo.

Destes artigos encontrados, alguns foram excluídos por se tratarem de

revisão bibliográfica, outros por serem referentes ao extrato de Rosa damascena ou

não abordarem o efeito antioxidante do OE de Rosa damascena. Após a leitura de

todos os títulos, foram selecionados somente 5 artigos para este trabalho de revisão.

Page 6: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

6

Quadro 1 – Características dos artigos incluídos na revisão

AUTOR, TÍTULO, ANO ÓLEO ESSENCIAL

COMPLETO OU COMPONENTES

CONSTITUINTES MAJORITÁRIOS DO ÓLEO ESSENCIAL

DOSES UTILIZADAS

METODOLOGIA UTILIZADA AMOSTRA RESULTADOS CONCLUSÃO

YASSA et al., 2009. Chemical

composition and antioxidant activity

of the extract and essential oil of

Rosa damascena from Iran,

population of Guilan.

Componentes do

extrato e O.E. de

Rosa damascena

Linalol (3,68%), nerol

(3,05%), geraniol (15,5%),

1-nonadecano (18,56%),

n-tricosano (16,68%),

n-pentacosano (5,11%),

n-hexatriacontano (24,6%)

10, 5, 1 μl/mL (i) Análise de GC/MS;

(ii) Inibição da peroxidação

lipídica;

(iii) Atividade sequestradora de

radicais livres (DPPH).

Estudo in vitro

Óleo essencial

Extrato

hidroalcoólico

Forte capacidade de eliminar

radicais livres;

Diminuiu a peroxidação lipídica.

Antioxidante

SENOL et al., 2013. A mechanistic

investigation on anticholinesterase

and antioxidant

effects of rose (Rosa damascena

Mill).

O.E. de Rosa

damascena

e componentes

do óleo essencial

isolados

(−)-β-citronelol,

(+)-β-citronelol,

geraniol, nerol, e

álcool feniletílico

Citronelol (30,6%);

geraniol (27,9);

nerol (12,3%) e álcool fenil

etílico (1,9%).

100, 200, 500

e 1000 μg/mL

(i) Análise de GC/MS;

(ii) Inibição da enzima

colinesterase;

(iii) Atividade de eliminação de

radicais DPPH;

(iv) Efeito quelante de metais;

(v) Efeito antioxidante de FRAP.

In vitro e in

silico

Componentes do O.E. de rosa

mostraram inibição da AChE e

BChE;

O.E. de rosa aumentou

atividade nos testes de

eliminação de radicais livres

DPPH e FRAP.

Notável

inibição da

colinesterase

e efeito

antioxidante

NIKOLOVA et al., 2016. Protective

effect of two essential oils isolated

from Rosa damascena Mill. and

Lavandula angustifolia Mill, and two

classic antioxidants against L-dopa

oxidative toxicity induced in healthy

mice.

O.E. de Rosa

damascena

Não consta 400mg/kg

(i.p.)

Os animais

foram pré-

tratados 1h

antes do

tratamento

com L-dopa

(i) Quantificação de proteína

carbonilada por espectrometria

DPPH;

(ii) Avaliação dos níveis de MDA;

(iii) Avaliação dos níveis de

peroxidação lipídica e TBARS;

(iv) EPR;

(v) Avaliação dos níveis de

radicais livres.

in vivo

(camundongos)

Análises de

sangue e

cérebro.

Os grupos de animais tratados

em combinação de L-dopa + O.E.

de rosa apresentaram:

- Redução de proteína

carbonilada no plasma e no

tecido cerebral*;

- Redução de níveis de MDA no

plasma e tecido cerebral*;

Efeito

antioxidante

contra a

toxicidade

oxidativa

aguda da

administraçã

o de L-dopa

Page 7: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

7

100mg/kg

(i.p.)

- Redução de níveis de radicais

livres no plasma e tecido

cerebral*.

* Resultados estatisticamente

significativos quando comparados

com grupo controle L-dopa.

em animais

saudáveis.

GEESI, M. H., 2018. The effect of

extraction apparatus on the

Chemical composition of essential

oil from the

Endemic damask rose (Rosa

damascena Mill) with an antioxidant

evaluation.

O.E. de Rosa

damascena

Isobutirato de citronelil

(22,44%) e citronelol

(38,57%)

2,5 à 200

μg/mL

- Análise por GC/MS

- Análise de eliminação de

radicais DPPH

.

In vitro Capacidade de eliminar DPPH Antioxidante

KAZEMI et al., 2018. Antioxidant and

Physio-chemical Activities of

Iranian Rosa damascena and Myrtus

communis

L. Essential Oils: A High

Effectiveness Against

Senescence.

O.E. de Rosa

damascena

Não consta 10, 15 e 20

mg/L-1

e

100, 150 e

200 mg/L-1

(i) Murchamento das pétalas;

(ii) Peso;

(iii) Teor de clorofila;

(iv) Níveis de proteínas MDA,

SOD, CAT e POD;

(v) Peroxidação lipídica.

Estudo in vitro

Pétalas de rosa

imersas em

óleo essencial

de rosa

Aumentou sobrevida das pétalas;

Preveniu a redução do peso das

pétalas;

Atrasou a degradação da

clorofila;

Diminuiu níveis de MDA;

Diminuiu a degradação da

proteína;

Aumentou a eliminação de EROs;

Diminuiu a peroxidação lipídica.

Antioxidante

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019. Legenda: GC/MS: Cromatografia gasosa por espectrometria de massa;

Page 8: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

8

DPPH: 2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl; FRAP: Ferric Reducing Antioxidant Power; O.E.: óleo essencial; MDA: malondialdeído; SOD: superóxido dismutase; CAT: catalase; POD: Guaiacol peroxidase; EROs: espécies reativas de oxigênio; TBARS: reatividade ao ácido tiobarbitúrico; EPR: Espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica; AChE: acetilcolinesterase; BChE: butirilcolinesterase; (i.p.): via intraperitoneal.

Page 9: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

9

4 DISCUSSÃO

4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA

O OE de Rosa damascena é rico em hidrocarbonetos não terpenoides,

compreendendo 73,38% do OE. Linalol (3,68%), nerol (3,05%), geraniol (15,5%), 1-

nonadecano (18,56%), n-tricosano (16,68%), n-pentacosano (5,11%), n-

hexatriacontano (24,6%) e monoterpeno oxigenado (22,87%) foram apontados como

os principais componentes do OE de rosa do Irã (YASSA et al., 2009).

Um estudo de revisão comparou a composição química do OE de Rosa

damascena em diferentes partes do mundo, afirmando que a composição química do

OE de rosa da Turquia e do Irã são semelhantes. Senol et al. (2013) afirmam que os

componentes majoritários do OE de Rosa damascena da Turquia são o citronelol

(30,6%), geraniol (27,9%), nerol (12,3%) e nonadecano (7,3%). Citronelol, geraniol,

nerol, álcool fenil etílico, nonadecano, eicosano, heneicosano, tricosano, a-guaiene,

acetato de geraniol e eugenol foram relatados como os principais componentes de

diferentes partes do mundo. O álcool fenil etílico (71%) foi relatado como componente

principal do OE de rosa do Paquistão. Citronelol, nonadecano e geraniol foram os

principais componentes do OE de rosa da região central do Irã, enquanto a

composição química do OE de rosa foi alterada para triacosano (24,6%), 1-

nonadecano (18,6%), n-tricosano (16,7%) e geraniol (15,5%) do norte do Irã.

Citronelol, geraniol, nonadecano e nerol foram relatados pelos autores búlgaros como

os principais componentes. Em um estudo foi relatado citronelol, geraniol e

nonadecano como os principais componentes do OE de rosa indiano. Citronelol

(35,2%), geraniol (22,2%), nonadecano (13,8%) e nerol (10,3%) foram relatados como

os principais componentes do OE de rosa da Turquia (MAHBOUBI, 2015).

De acordo com a Organização Internacional para Padronização, os

principais componentes do OE de Rosa damascena obtido por destilação a vapor são:

citronelol (20-34%), nerol (5-12%), geraniol (15-22%), parafinas C17 (1,0-2,5%),

parafinas C19 (8,0-15,0%) e parafinas C21 (3,0-5,5%) (NUNES; MIGUEL, 2017).

Os artigos descrevem informações semelhantes com relação à composição

química do OE de Rosa damascena. Existem diversos fatores que podem alterar esta

composição, como clima, região, práticas agronômicas, método de propagação, data

de cultivo e procedimentos de colheita, tempo e nível de poda, armazenamento de

Page 10: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

10

material vegetal e método de destilação (UCAR et al., 2017). Além disso, os tipos de

aparelhos e métodos de extração utilizados há algumas décadas e aqueles que são

utilizados atualmente também podem ter um papel importante nas diferenças

quantitativas encontradas pelos autores (NUNES; MIGUEL, 2017).

4.2 ESTUDO IN VIVO

Nesta pesquisa, em relação aos estudos encontrados in vivo, um estudo

avaliou o efeito protetor do OE de Rosa damascena e dois antioxidantes clássicos

contra a toxicidade oxidativa da L-dopa induzida em camundongos saudáveis

(NIKOLOVA et al., 2016).

A Levodopa ou L-dopa, um precursor da dopamina, é um agente de

substituição da dopamina eficaz e bem tolerado, utilizado no tratamento da doença de

Parkinson, geralmente associado a inibidores periféricos da enzima dopa-

descarboxilase (DDCI), como a carbidopa ou benserazida (SALAT; TOLOSA, 2013).

Neste estudo, a avaliação foi realizada através da medição dos níveis dos

três biomarcadores de substâncias reativas de oxigênio (EROs), malondialdeído

(MDA), proteína carbonilada e radicais óxido nítrico (NO) em homogenato de cérebro

e sangue. Os camundongos foram divididos em seis grupos, recebendo duas injeções

intraperitoneal (i.p.) de L-dopa (100mg/kg) e 45 minutos após uma injeção de

benzerazida (10 mg/kg). Além disso, foram pré-tratados após uma hora com doses de

400 mg/kg; i. p. de ácido ascórbico (vitamina C), Trolox (vitamina E) ou OE de Rosa

damascena (NIKOLOVA et al., 2016).

Os grupos de animais tratados em combinação de L-dopa e óleo essencial

de rosa apresentaram resultados estatisticamente significativos quando comparados

com o grupo controle. Houve redução de proteína carbonilada, níveis de MDA e

também de níveis de radicais livres no plasma e tecido cerebral (NIKOLOVA et al.,

2016). O OE de Rosa damascena manifestou propriedade antioxidante contra a

toxicidade oxidativa aguda da L-dopa em camundongos saudáveis, além da

eliminação de radicais livres. Podendo, então, proteger as células da toxicidade

oxidativa induzida pelo fármaco L-dopa e também desempenhar um papel

fundamental no desarmamento de EROs e espécies reativas de nitrogênio (ERNs)

(NIKOLOVA et al., 2016). Este foi o único estudo in vivo encontrado na literatura com

Page 11: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

11

os critérios de inclusão e descritores definidos. Sendo assim, não há outros estudos

para comparação dos resultados.

4.3 ESTUDOS IN VITRO

Com relação aos estudos in vitro encontrados na literatura, um destes

avaliou as atividades antioxidantes e físico-químicas do OE de Rosa damascena. O

efeito da exposição contínua e aplicação do OE de rosa em flores de rosa pós-colheita

foi avaliado. Para este propósito, dois experimentos foram conduzidos utilizando um

delineamento inteiramente casualizado com três repetições. As flores foram colocadas

em soluções contendo OE de Rosa damascena (100, 150 e 200 mg/L-1) por 24 horas

e, em seguida, transferidas para água destilada ou colocadas em exposição contínua

ao OE de rosa (10, 15 e 20 mg/L-1). A aplicação do OE de Rosa damascena aumentou

a estabilidade da membrana e diminuiu as propriedades de peroxidação lipídica. As

concentrações de 15 e 20 mg/L-1 (em exposição contínua) aumentaram a vida dos

vasos e atrasaram a degradação da clorofila em comparação às flores mantidas em

água destilada, além de indicar uma diminuição significativa na perda de peso e no

conteúdo de MDA, retardando a degradação das flores (KAZEMI et al., 2018). Assim,

o OE de rosa causou um aumento na atividade antioxidante quando comparado ao

grupo controle em todos os níveis. Além disso, inibiu a peroxidação lipídica e exibiu

um potente efeito de eliminação de EROs (KAZEMI et al., 2018).

Outro estudo realizado in vitro avaliou o efeito antioxidante do OE de Rosa

damascena utilizando a atividade sequestradora de radicais livres com os métodos de

captura do radical DPPH e peroxidação lipídica, na qual as doses utilizadas foram 10,

5, e 1 μl/mL (YASSA et al., 2009).

O processo de peroxidação lipídica pode ser definido como uma cascata de

eventos bioquímicos resultante da ação dos radicais livres sobre os lípides

insaturados das membranas celulares, levando à destruição de sua estrutura, falência

dos mecanismos de troca de metabólitos e, numa condição extrema, à lise celular

(BENZIE, 1996).

No processo de respiração celular, a redução tetravalente do oxigênio pode

gerar espécies reativas ao oxigênio (EROs). Em situações de equilíbrio as EROs são

neutralizadas pelos antioxidantes, porém, quando há um desequilíbrio entre formas

oxidantes e antioxidantes, está ocorrendo um estresse oxidativo (FERREIRA;

Page 12: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

12

MATSUBARA, 1997). O estresse oxidativo provoca danos permanentes no material

genético, podendo representar o primeiro passo em situações de mutagênese,

carcinogênese e envelhecimento precoce (VALKO et al., 2007).

De acordo com os resultados apresentados na pesquisa, o OE de Rosa

damascena possui um forte efeito antioxidante, podendo eliminar radicais livres e

diminuir a peroxidação lipídica (YASSA et al., 2009).

Senol et al. (2013) utilizaram o OE de Rosa damascena e componentes do

óleo essencial isolados (−)-β-citronelol, (+)-β-citronelol, geraniol, nerol, e álcool

feniletílico para o estudo. As doses utilizadas foram 100, 200, 500 e 1000 μg/mL. As

amostras foram testadas quanto à sua atividade inibitória contra acetilcolinesterase

(AChE) e butirilcolinesterase (BChE).

A AChE é a enzima responsável por hidrolisar o neurotransmissor

acetilcolina (ACh) nas sinapses colinérgicas. Nestas sinapses a ACh atua transmitindo

a mensagem de um neurônio a outro. As sinapses colinérgicas estão amplamente

distribuídas no sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP), sendo importantes

para a manutenção de inúmeras funções fisiológicas humanas (ARAÚJO et al., 2016).

A AChE encontra-se mais abundantemente no sistema nervoso central, nos

músculos esqueléticos e na membrana dos eritrócitos, enquanto a BChE encontra-se,

em sua maioria, no plasma sanguíneo, sendo por este motivo conhecida também

como colinesterase plasmática (ARAÚJO et al., 2016).

Uma vez que o dano oxidativo está associado à neurodegeneração, a

atividade antioxidante das amostras foi determinada por ensaios de varredura de

radical DPPH, quelação de metais e poder antioxidante de redução férrica (FRAP)

(SENOL et al., 2013).

O método de inibição de radicais DPPH baseia-se na transferência de

elétrons de um composto antioxidante para um radical livre, o DPPH, que ao reduzir

perde sua coloração púrpura (HUANG et al., 2005).

Um quelado é um composto químico formado por um íon metálico, unido

por várias ligações covalentes a uma estrutura heterocíclica de compostos orgânicos,

peptídeos ou polissacarídeos. Segundo Leeson e Summer (2001 apud PUJOL, 2011),

minerais quelados são uma mistura de elementos minerais ligados a algum tipo de

carreador, que pode ser um aminoácido ou um polissacarídeo.

O ensaio antioxidante de determinação do poder de redução do íon ferro,

FRAP (do inglês, Ferric Reducing Antioxidant Power), está baseado na produção do

Page 13: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

13

íon Fe2+ (forma ferrosa) a partir da redução do íon Fe3+ (forma férrica). Quando a

redução ocorre, há uma alteração na tonalidade da mistura de reação (ANTOLOVICH

et al., 2002). Quanto maior a absorbância ou intensidade da coloração, maior será o

potencial antioxidante.

Também foram examinados os efeitos anticolinesterásicos dos principais

componentes (citronelol, geraniol, nerol e álcool feniletílico). O OE de rosa mostrou

uma notável inibição da AChE (60,86 ± 1,99%) e BChE (51,08 ± 1,70%) a 1000 μg/mL

e aumentou a atividade nos testes de eliminação de radicais livres DPPH e FRAP,

concluindo, então, uma notável inibição da colinesterase e efeito antioxidante (SENOL

et al., 2013).

Um outro estudo avaliou a atividade antioxidante do OE de Rosa

damascena e este apresentou capacidade de eliminar os radicais DPPH, confirmando

seu efeito antioxidante (GEESI, 2018).

Através de diferentes formas de avaliação e metodologias, todos os estudos

utilizados nesta revisão bibliográfica apresentaram um efeito positivo com relação à

atividade antioxidante do OE de Rosa damascena e sua capacidade de neutralizar os

radicais livres.

Page 14: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

14

5 CONCLUSÃO

O OE de Rosa damascena é um importante produto que pode ser utilizado

com segurança na área estética em diversos procedimentos, sendo um antioxidante

natural que neutraliza os radicais livres formados no organismo, podendo retardar o

processo de envelhecimento.

Citronelol, geraniol, nerol, álcool fenil etílico e nonadecano foram apontados

como os constituintes majoritários do OE de Rosa damascena. Existem alguns fatores

que podem alterar sua composição química, como condições ecológicas, geográficas

e ambientais, composição do solo, condição de colheita e armazenamento, data da

colheita e métodos de destilação.

Embora muitos estudos sobre o OE de Rosa damascena demonstrem seu

efeito antioxidante in vitro e em modelos animais, sugere-se a realização de novos

estudos clínicos que avaliem esta atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos critérios de inclusão e descritores definidos, foram utilizados

somente 5 artigos nesta revisão. Destes artigos, alguns não possuíam uma

metodologia clara, dificultando o entendimento. Além disso, não foram encontrados

estudos clínicos e a maior parte dos estudos encontrados eram referentes aos

hidrolatos ou extrato de Rosa damascena, ou não abordavam o efeito antioxidante do

OE de Rosa damascena. Apesar destas limitações, as buscas foram realizadas em

importantes bases de dados como Pubmed, Scielo e Periódicos Capes.

Page 15: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

15

REFERÊNCIAS

ABURJAI, T.; NATSHEH, F. M. Plants used in cosmetics. Phytotherapy Research: An International Journal Devoted to Pharmacological and Toxicological Evaluation of Natural Product Derivatives, v. 17, n. 9, p. 987-1000, 2003. ANDREI, P.; DEL COMUNE, A. P. Aromaterapia e suas aplicações. Cadernos Centro Universitário S. Camilo, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 57-68, 2005.

ANTOLOVICH, M. et al. Methods for testing antioxidant activity. Analyst, v. 127, n. 1,

p. 183-198, 2002. ARAÚJO, C. R. M. et al. Acetilcolinesterase-AChE: uma enzima de interesse farmacológico. Revista Virtual de Química, v. 8, n. 6, p. 1818-1834, 2016.

BAKKALI, F. et al. Biological effects of essential oils: a review. Food and chemical toxicology, v. 46, n. 2, p. 446-475, 2008. BENZIE, I.F.F. Lipid peroxidation: a review of causes, consequences, measurements and dietary influences. International Journal of Food Sciences and Nutrition, v.

47, p. 233-261, 1996. CORAZZA, S. Aromacologia: uma ciência de muitos cheiros. São Paulo: Ed. SENAC, v. 4, 2014. FERREIRA, A.L.A.; MATSUBARA, L.S. Radicais livres: conceitos, doenças relacionadas, sistema de defesa e estresse oxidativo. Rev. Assoc. Med. Bras., v.43, n.1, p.61-68, 1997. GEESI, M. H. The effect of extraction apparatus on the chemical composition of essential oil from the endemic damask rose (Rosa Damascena Mill) with an antioxidant evaluation. Indo American Journal of Pharmaceutical Sciences (IAJPS), v. 5, n. 8, p. 7442-7451, 2018.

GERSON, J. et al. Fundamentos de estética 3: ciência da pele. São Paulo:

Cengage Learning, 2011. HUANG, D. et al. The chemistry behind antioxidant capacity assays. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 53, n. 6, p. 1841-1856, 2005.

KAZEMI, M. et al. Antioxidant and Physio-chemical Activities of Iranian Rosa damascena and Myrtus communis L. Essential Oils: A High Effectiveness Against Senescence. Journal of Essential Oil Bearing Plants, v. 21, n. 2, p. 520-528,

2018. MAHBOUBI, M. Rosa damascena as holy ancient herb with novel applications. Journal of Traditional and Complementary Medicine, v. 6, p. 10-16, 2015.

Page 16: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

16

MILEVA, M. et al. Chemical compounds, in vitro antioxidant and antifungal activities of some plant essential oils belonging to rosaceae family. Comptes Rendus de l’Académie Bulgare des Sciences. v. 67, p. 1363-1368, 2014.

NAYEBI, N. et al. A systematic review of the efficacy and safety of Rosa damascena Mill. with an overview on its phytopharmacological properties. Complementary Therapies in Medicine, v. 34, p. 129-140, 2017.

NIKOLOVA, G. et al. Protective effect of two essential oils isolated from Rosa damascena Mill. and Lavandula angustifolia Mill, and two classic antioxidants against L-dopa oxidative toxicity induced in healthy mice. Regulatory Toxicology and Pharmacology, v. 81, p. 1-7, 2016. NUNES, H. Rosa X damascena Mill: propriedades biológicas. 2016. 82f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade do Algarve, Portugal, 2016. NUNES, H.; MIGUEL, M. G. Rosa damascena essential oils: a brief review about chemical composition and biological properties. Trends in Phytochemical Research, v. 1, n. 3, p. 111-128, 2017. PUJOL, A. P. Nutrição aplicada à estética. Rio de Janeiro: Rubio, 2011. ROCHA, F.; COSTA, M. C. D. D. Benefícios do Óleo de Rosa Mosqueta em tratamentos estéticos. CONGRESSO MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE, 6., 2012, Londrina. Anais Estética e Cosmética. Londrina: Ed. UNIFIL, 2012. p. 182-184. SALAT, D.; TOLOSA, E. Levodopa in treatment of parkinson’s diease: current status and new developments. Journal of Parkinson’s Disease, v. 3, p. 255-269, 2013.

SALEH, M. A. et al. Antioxidant and free radical scavenging activities of essential oils. Ethnicity and Disease, v. 20, S1, p. 78-82, 2010. SENOL, F. S. et al. A mechanistic investigation on anticholinesterase and antioxidant effects of rose (Rosa damascena Mill.). Food research international, v. 53, n. 1, p.

502-509, 2013. UCAR, Y. et al. Effects of different irrigation water and nitrogen levels on the water use, rose flower yield and oil yield of Rosa damascena. Agric. Water Manag. v. 182,

n.1, p. 94-102, 2017. VALKO, M. et al. Free radicals and antioxidants in normal physiological functions and human disease. The International Journal of Biochemistry & Cell Biology, v. 39,

n. 1, p. 44–84, 2007. WEI, A.; SHIBAMOTO, T. Antioxidant activities and volatile constituents of various essential oils. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 55, p. 1737-1742,

2007.

Page 17: EFEITO ANTIOXIDANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE ROSA …

17

YASSA, N. et al. Chemical composition and antioxidant activity of the extract and essential oil of Rosa damascena from Iran, Population of Guilan. DARU, v. 17, p. 175-180, 2009.