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40 “A meta é incluir todos os alunos, ou seja, garantir um ensino de qualidade para absolu- tamente todos: deficientes, pobres, negros, marginais, ninguém deve ser excluído.” Refletindo nas palavras acima da professora Marilene Ribeiro do Santos, Secretária de Edu- cação Especial do Ministério da Educação e Cultura - MEC, referindo-se à educação inclu- siva 1 , verifiquei que o termo inclusão toma uma conotação e denotação bem mais ampla do que a simples inserção de deficientes físi- cos e mentais na rede regular de ensino. A frase supracitada abriu um leque de novas possibilidades e ofereceu suporte de inova- ções no que toca a aplicabilidade da educação inclusiva. De outra forma, ou seja, sem um olhar mais amplo do que realmente venha a ser educação inclusiva, torna-se inexeqüível qualquer tentativa de inocular novas perspec- tivas e aplicações do termo que tratamos. Desta forma, venho propor esta nova panorâ- mica da educação inclusiva: educação nas co- munidades indígenas. Isto, acreditando que de forma alguma estou desfocado, pois percebo O trabalho intitulado “Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena ”, propõe uma ampliação da compreensão da educação inclusiva.Educação inclusiva refe- re-se a iserção de alunos com deficiência na rede regular de ensino. O Trabalho porém, expande esta perspectiva e insere a educação indígena como ponto de reflexão central. Para isso, muda-se todo o entendimento anterior de educação inclusiva e apresenta-se um novo plano de educação, ou seja, a inclusão da educação diferenciada para povos indígenas. Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2000, 20 (1), 40-49 Gerson Alves da Silva Júnior Estudante do 2 o ano do curso de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFA).

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“A meta é incluir todos os alunos, ou seja,garantir um ensino de qualidade para absolu-tamente todos: deficientes, pobres, negros,marginais, ninguém deve ser excluído.”

Refletindo nas palavras acima da professoraMarilene Ribeiro do Santos, Secretária de Edu-cação Especial do Ministério da Educação eCultura - MEC, referindo-se à educação inclu-siva1, verifiquei que o termo inclusão tomauma conotação e denotação bem mais amplado que a simples inserção de deficientes físi-cos e mentais na rede regular de ensino.

A frase supracitada abriu um leque de novaspossibilidades e ofereceu suporte de inova-ções no que toca a aplicabilidade da educaçãoinclusiva. De outra forma, ou seja, sem umolhar mais amplo do que realmente venha aser educação inclusiva, torna-se inexeqüívelqualquer tentativa de inocular novas perspec-tivas e aplicações do termo que tratamos.

Desta forma, venho propor esta nova panorâ-mica da educação inclusiva: educação nas co-munidades indígenas. Isto, acreditando que deforma alguma estou desfocado, pois percebo

O trabalho intitulado “Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena ”, propõeuma ampliação da compreensão da educação inclusiva.Educação inclusiva refe-re-se a iserção de alunos com deficiência na rede regular de ensino. O Trabalhoporém, expande esta perspectiva e insere a educação indígena como ponto dereflexão central. Para isso, muda-se todo o entendimento anterior de educaçãoinclusiva e apresenta-se um novo plano de educação, ou seja, a inclusão daeducação diferenciada para povos indígenas.

Educação Inclusiva eDiferenciada Indígena

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2000, 20 (1), 40-49

Gerson Alves daSilva Júnior

Estudante do2o ano do curso de

Psicologia do Institutode Psicologia da

UniversidadeFederal de

Alagoas (UFA).

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que o registro atual do que seja educação in-clusiva não exclui ninguém, muito pelo con-trário funciona de infra-estrutura.

As razões que me conduziram a este assuntosão tão amplas e diversas que esgotaria os li-mites desta monografia tentando expô-las.Aqui cabe apenas dizer que meu contato comos problemas desses povos levaram-me a crerque a educação é base fundamental para oprocesso de reconquista da dignidade dosmesmos. Esta é a principal razão da constru-ção do trabalho que se segue.

Ponho em foco a Psicologia enquanto com-promisso social referente a educação inclusi-va, coadunando-se com a educação nas co-munidades indígenas, na pretensão de anali-sar e estudar um pouco mais de perto seusproblemas “educacionais”, sem, no entanto,descartar o intuito de propagar a todos os pro-blemas subjacentes a estes, na esperança quesirvam ao menos de motivo de reflexões.

Meu objetivo geral é verificar a aplicabilidadee principalmente a necessidade da contribui-ção da Psicologia na educação das comunida-des indígenas. É cabível lembrar que a educa-ção nesses povos não deixa, em momentoalgum, de se enquadrar dentro dos parâmetrosda educação inclusiva. A este fato, isto é, oslimites devidos a definições do termo educa-ção inclusiva, além de outros aspectos corre-lacionados, desprenderei um capítulo destamonografia; capítulo este que servirá de ali-cerce oferecendo os subsídios necessários parao restante do trabalho, pois será a base deapoio e o suporte de relação e discussão en-tre a educação indígena (que é o assunto quepretendo evidenciar dentro do tema) e o temaproposto (Psicologia e Compromisso Social -Educação Inclusiva: desafios, limites e pers-pectivas).

Para realização desta monografia, utilizei-mede pesquisa bibliográfica (livros, revistas, jor-nais, artigos) e entrevistas com profissionaisda área (educadores indígenas, missionários2

etc.). Por conta desta situação podemos afir-mar que a presente monografia encontra-sedentro dos padrões de um fundamento de umapesquisa exploratória.

Os objetivos específicos deste trabalho sãoos seguintes: refletir sobre o termo educação

inclusiva, atentando para possibilidades denovas perspectivas a respeito do mesmo,correlacionando e oferecendo espaço para oassunto que se deseja tratar mais diretamente(educação nas comunidades indígenas). Ten-tar, com base em bibliografia específica, fazeruma breve recapitulação do processo de edu-cação dos povos indígenas na história. Em se-guida, verificar em que pode contribuir a psi-cologia na educação dentro e fora das comu-nidades indígenas. E por fim, concluir fazen-do uma ligeira análise de tudo o que foi deba-tido.

Desta forma, o trabalho subdivide-se em cin-co capítulos: educação inclusiva: definições epossibilidades; história da educação nas comu-nidades indígenas; contribuição da Psicologiadentro das comunidades indígenas; contribui-ção da Psicologia fora das comunidades indí-genas; e conclusão.

Educação Inclusiva: Definições ePossibilidades

No MEC existe hoje um comitê nacional deeducação indígena no qual sua coordenadoraIvete Campos põe em prática o desejo antigode uma educação diferenciada, onde possa-sevalorizar as diferenças culturais de maneira autilizá-las em prol do desenvolvimento dospovos indígenas.

Existe também no MEC uma política de edu-cação especial, onde há um direcionamentode atenção aos portadores de deficiência. To-davia, este direcionamento não implica numdogmatismo no que diz respeito à educaçãoinclusiva, pois, na verdade, na década de 70,quando o MEC assumiu que a clientela daeducação especial é a que “requer cuidadosespeciais no lar, na escola e na sociedade”,não definiu aí o que seria educação inclusiva.As sementes da educação inclusiva só estari-am realmente lançadas quando o Brasil, final-mente, segundo Ana Jover (1999), participouda Conferência Mundial Sobre Educação paraTodos, na cidade de Jomtiem, na Tailândia,em 1990.

O objetivo da Conferência foi despertar anecessidade da educação de qualidade paratodos. Isto é, como disse a secretária de edu-cação especial do MEC: “incluir todos os alu-

1- Marilene Ribeiro apud:JOVER, Ana. Inclusão: quali-dade para todos. in: RevistaNova Escola, Ano XIV, n° 123junho 1999.

2-O Conselho Indigenista Mis-sionário - CIMI/ NE , por meiode Jorge Vieira, contribuiuenormemente nesta obra.

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nos (...), absolutamente todos: deficientes,pobres, negros, marginais (...)”. No entanto,é sabido por todos que o termo educação in-clusiva vem sendo aplicado nos dias hodiernosno sentido único de introdução de alunos comnecessidades especiais na rede regular deensino.

Discorramos um pouco sobre o termo emevidência: Inclusiva (inclusão), que inclui,abrange; palavra derivada do verbo incluir, quepor sua vez está etimologicamente ligado aotermo latino incluire. Originariamente signifi-caria inserir, introduzir, acrescentar, podendosignificar também, abranger, compreender,envolver, implicar. Segundo Roquette (1928),seria equivalente ao verbo incluir a frase “co-locar também”. Ora o termo inclusão, poisentão, significaria em última instância, no con-texto em que nos encontramos, introduzir3

alguém ou alguma coisa em algo ou algum lu-gar. Não nos restam dúvidas de que este algoou algum lugar, seja a educação ou a escola; oproblema é - que educação? E que escola?

Que educação? A resposta provavelmente jáé conhecida por todos: educação de qualida-de. Educação de qualidade seria aquela capazde oferecer ao indivíduo, os subsídios básicose necessários a um(a) convívio/sobrevivênciasocial harmônico(a) e progressista. É válido res-saltar que quando falamos aqui de educação,em certo sentido, nos referimos a ensino.

Que escola? A escola é o lugar por excelênciade ensino, de educação. Portanto, a escolaque aludimos neste estudo deve ser a escolaque ofereça um ensino de qualidade, ou seja,uma educação de qualidade. Daí a impossibi-lidade de separar aqui educação de escola evice-versa. Sendo pois então, educação dequalidade aquela que é capaz de inserir o in-divíduo (educando) no convívio social de seugrupo4, podemos concluir que escola aquiimplica necessariamente numa instituição ofi-cial que confira ao sujeito os ensinamentos es-senciais para uma vivência tranqüila e desenvol-vimentista na sociedade que este se configura.

Portanto, de nossa conclusão do termo inclu-são - introduzir alguém ou alguma coisa emalgo ou algum lugar -, podemos avançar e afir-mar que inclusão significaria agora para nós

neste contexto: introduzir alguém numa esco-la que ofereça um ensino de qualidade. É bomobservar que refiro-me só a introduzir alguém,e suprimo o alguma coisa. Faço isto devido aconotação que a frase toma, pois, não pode-mos ensinar a coisas. Ensinamos a seres hu-manos e estes são sempre alguém, e não al-gumas coisas.

Partamos agora para analisar quem é ou quemsão estes seres humanos cuja educação inclu-siva pretende.

Se tomarmos por base os marcos que semea-ram o surgimento da educação inclusiva, comopor exemplo, a Conferência Mundial SobreEducação para Todos (1990), concluiremos quea educação inclusiva pretende a TODOS.

Se partirmos do princípio etimológico do ter-mo educação inclusiva, veremos que este emsi não define nem especifica ninguém. Mas,por si só, pretende incluir alguém na educa-ção, e sabendo-se que pela Constituição Fe-deral, Cap. III, seção I, art. 205, a educação é“(...) direito de todos e dever do Estado (...)”,podemos concluir que a educação inclusivapretende a TODOS.

Se avaliarmos porém o contexto atual no qualo termo educação inclusiva está inserido, istoé, referindo-se sempre à inserção de alunosespeciais na rede de ensino regular, conclui-remos que este possui um espaço de aplica-ção específico. Bem que poderíamos realmen-te chegar a esta conclusão e dar por encerra-do este assunto, mas lamento informar queisto não será possível. Pois, se formos avaliaro contexto atual para chegarmos ao real signi-ficado do termo6, temos que analisar os dis-cursos nos quais geralmente este termo éempregado. E nesta própria monografia já in-serimos alguns discursos, os quais dão mar-gem para uma inclusão de todos, por exem-plo o discurso da professora Marilene Ribeirodo Santos, Sec. de Educ. Especial do MEC:

“A meta é incluir todos os alunos, ou seja,garantir um ensino de qualidade para absolu-tamente todos: deficientes, pobres, negros,marginais, ninguém deve ser excluído.”

Outro fato interessante que podemos incluiraqui é o da Revista Nova Escola - junho 1999,

Gerson Alves da Silva Júnior

3 - Introduzir aqui poderia sersubstituído por equivalentescomo: colocar, inserir, acres-centar, etc.

4 - T ermo aplicado no sentidode grupo social, sociedade, enum sentido mais restrito,comunidade.

5 - Reconhecida pelo estado.

6 - São vários os teóricos querecomendam uma análise docontexto em que os termos estãoempregados para chegar-se aoseu significado, entre elespodemos citar Bakhtin.

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onde a matéria de capa é: “Inclusão: uma uto-pia possível”. Já na capa podemos encontraro seguinte escrito: “Entenda por que a convi-vência dos diferentes amplia os horizontesescolares e sociais de TODOS”7. E por fim, otema da matéria, que não é de surpreenderque seja: “Inclusão: qualidade para TODOS”8.

Disto tudo que vimos até agora podemos com-preender que, a menos que TODOS não sig-nifique TODOS, estaríamos errados em con-cluir que educação inclusiva pretende a TO-DOS.

Quero ressaltar que realmente a atual nomen-clatura pode possuir espaço e significado es-pecífico. Mas para isto seria necessário, alémde uma definição mais exata desta especi-ficidade, um ponderamento nos discursos pro-feridos. E caso houvesse, seria necessário umdirecionamento para essa especificidade e esteponderamento, quando o termo fosse aplica-do (em concursos, por exemplo).

Na verdade, o que quero expor aqui é que otermo educação inclusiva por si só, apenas nosdiz que TODOS devem ser incluídos numaeducação de qualidade (entenda-se aqui edu-cação de qualidade, nos parâmetros já expos-tos), nem que esta educação, para ser dequalidade deva ser diferenciada.

Simplificando tudo que foi dito até agora, que-ro colocar que não consiste em erro a atualaplicação do termo. Mas não podemos negarque este, num sentido geral é mais amplo,abarcando também novas possibilidades/pers-pectivas. Isto é, não se LIMITA a sua atualaplicação. Resta agora ao profissional da áreaaceitar, ou não, estes novos DESAFIOS.

Acreditando ter sido exposto suficientemen-te e redundantemente a significação do ter-mo educação inclusiva - que aqui significariaa inclusão de todos na educação, podendo seresta diferenciada ou tradicional. Necessáriose faz agora direcionar a atenção para estanova possibilidade: educação inclusiva e dife-renciada nas comunidades indígenas.

Pretendo inserir uma nova ideologia, todavia- e quero que isto fique bem claro -, esta nãoé uma ideologia de confronto com a atual de-finição de educação diferenciada do MEC para

os povos indígenas. Pois, na verdade, comoveremos no capítulo terceiro, minha discus-são encontra-se fora da proposta de currículoescolar para as comunidades indígenas. De-sejo somar e não subtrair ou dividir, isto é,anseio acrescentar novas idéias que possamcontribuir para o desenvolvimento destasetnias.

Portanto, meu desenvolvimento do termoeducação inclusiva pretendia, nada mais nadamenos, mostrar a importância real da inser-ção dos povos indígenas no “cardápio” daeducação, que neste caso, para ser de quali-dade, deve ser diferenciada.

Desta forma, finalizamos este capítulo, ondetentei alargar a compreensão do que seja edu-cação inclusiva para que, com isto, possa-seexpor o objetivo real do trabalho: verificar aaplicabilidade e principalmente a necessida-de da contribuição da Psicologia na educaçãodas comunidades indígenas. Espero que estecapítulo seja um alicerce firme para suportaro peso da estrutura que se segue.

História da Educação NasComunidades Indígenas

Sem entrar em pormenores a respeito das in-tenções portuguesas, passemos a analisar bre-vemente o processo educativo dos povos in-dígenas durante a história da colonização(1532 D.C.) até os dias atuais.

Segundo Gilberto Freire (1980), no Brasil daépoca da colonização não havia reis deCananor, sobas9 de Sofala, nem sedas, tape-

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7 - Os grifos são meus.

8 - Os grifos são meus.

9 - Nome dado aos reis ou chefesde tribos africanas.

Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena

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tes, pérolas ou rubis. Somente Matas virgense índios, dormindo em redes ou no chão ealimentando-se da caça ou da pesca.

Escola é coisa de “homem branco”. Educaçãoé patrimônio da humanidade. Todos os po-vos, em todas as épocas, sempre tiveram suasformas de transmissão do conhecimento, sejapor via oral (por meio de contos e fábulas); oupor outros meios e mecanismos. Com os ín-dios não era diferente, de maneira própria eindependente, também se transmitia o conhe-cimento.

Porém, no contato de duas culturas, onde umaé mais primitiva10 e outra mais avançada tec-nicamente, quase sempre a segunda procuradestruir ou aniquilar na primeira tudo o quese supõe ser contrário à moral ou aos interes-ses dos dominadores. Assim fizeram os jesuí-

tas educando o curumim à maneira dos euro-peus. (Gilberto Freire, 1980).

Os jesuítas, foram os primeiros educadores -digo educadores do padrão europeu - que oBrasil e a América conheceu. No entanto, seusmétodos educativos de nada valeram para osdetentores do conhecimento indígena (os ín-dios adultos). Assim, tentou-se sondar aquilode mais frágil, em termos de conhecimento,que um povo pode ter: suas crianças.

As crianças são como um campo fértil, tudoque lhes é cultivado surte resultado. Os jesu-ítas sabiam disto e utilizando-se de teatros,presentes e outros, conquistou para si as cri-anças indígenas (curumins). O curumim tor-nou-se, assim, cúmplice do invasor na obrade eliminar à cultura nativa os seus elemen-tos mais originais.

“Tornou-se inimigo dos pajés, da dança, dosmaracás sagrados, das sociedades secretas. Edeu-se, então, uma verdadeira inversão dosprincípios: o filho tomou o encargo de educaro pai”11.

Mais tarde, com as primeiras escolas jesuítas,os curumins eram educados em companhiados meninos europeus, como atesta Freire.Não havia segregações raciais. “O pátio doscolégios foi assim um ponto de encontro dasduas culturas”.

Formavam-se as missões (a primeira surgiu naépoca do governo de Mem de Sá), que ti-nham o encargo de catequizar e educar ossilvícolas. Neste período, tribos inteiras sedeixavam catequizar. Os gentios se tornavamcristãos, com conseqüente abandono de seusdeuses e tradições seculares. A partir destemomento muitas tribos nômades passaram aosedentarismo; muitos guerreiros passaram àpacatez, à passividade. Aprendeu-se a ler, es-crever, trabalhar regularmente, “rezar” e emalguns casos a comercializar. (Souza, 1992).

No entanto, não devemos nos escandalizarcom o trabalho dos jesuítas no Brasil e naAmérica espanhola. Pois, assim como nós, eleseram cheios de boas intenções, e não preten-diam (pelo menos a maioria), a destruição doíndio, e sim sua civilização. O problema é que,não foi detectado que, na imensa maioria doscasos, a introdução do silvícola na civilização

Gerson Alves da Silva Júnior

10 - A palavra é utilizada numsentido mais ligado a umasobrevivência por emprego demeios e técnicas mais naturaispossíveis.

11- FREIRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. 20°ed., Riode Janeiro: Brasil-América,1980.

12 - Digo o Estado, pois a Igrejanesta época também era sujeitaao Estado.

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era sinônimo de morte, que quando não erareal, era cultural.

Os jesuítas, na realidade, podem ser reconhe-cidos historicamente como os maiores defen-sores das causas indígenas. Fizeram de suavida sangue, sangue derramado pela liberda-de e valorização dos índios (exemplo disto foio episódio dos Sete Povos das Missões). Noque puderam - pois, eram sujeitos a um inte-resse maior: as pretensões do Estado 12- con-servaram a cultura indígena, inclusive a língua(o tupi). Além disto, destacaram-se vários pa-dres jesuítas na apologia indígena, entre elespodemos citar José de Anchieta e AntonioVieira. O maior erro da educação jesuíta tal-vez tenha sido o fato de fazer os silvícolasacreditarem que existiam “homens bons”, ede pacificarem os índios. Pois, na época dasbandeiras, os bandeirantes preferiam atacaros índios catequizados, porque estes, na mai-oria, já conheciam o português (língua) e erammais pacíficos.

Além disso, o problema se agravou ainda maiscom a expulsão dos jesuítas do Brasil (1760),por ordem de Sebastião José de Carvalho eMelo (Marquês de Pombal). Por conta da ex-pulsão, intensificaram-se a exploração, perse-guição e destruição destes povos e de suasculturas. Proibiu-se o ensino do tupi13, e a po-lítica de “integração” do índio a sociedade comsua conseqüente deculturação foi reforçada.

Foram incontáveis as perdas dessa época co-lonial: invasões, massacres, destribalizações,reduções, aldeamentos, deculturação, etno-cídio, escravismo, exclusão etc. A educaçãoaté aqui, com raríssimas exceções, serviu maisde máquina administrativa para espoliação dospovos do que força desenvolvimentista.

No Brasil Imperial, a coisa não foi diferente eos massacres continuaram, até a época doBrasil República. Em 1914, já no período re-publicano uma novidade: a criação do Servi-ço de Proteção ao Ìndio (SPI). Mas quem acharque este órgão tinha a finalidade de protegero índio, está tremendamente enganado, poisa proteção está só no nome. A finalidade doSPI era integrar os índios à sociedade brasilei-ra. Não há problema algum em integrar índiosà sociedade, o problema é que na definição,índio integrado não é mais índio. Para esta fina-

lidade (de integração), utilizou-se de vários mei-os, e principalmente da educação. A História,por exemplo, ainda hoje é contada de umaperspectiva unicamente portuguesa, mesmosabendo-se que o povo brasileiro não é sóconstituído de descendentes de portuguesespuros.

Como vimos na República, continua-se a mes-ma política, ou seja, integração com conse-qüente deculturação. Vale frisar que a educa-ção exerce importante papel nesta prática.

“Os índios continuavam sendo expulsos desuas terras e exterminados. Os que se inte-gravam (...), trabalhavam como vaqueiros,canoeiros, caçadores, guias e lavradores, naspequenas roças (...). Ficavam durante muitotempo longe de suas aldeias, de suas mulhe-res, de seus filhos (...), quando voltavam, nadamais encontravam”14.

Durante o governo militar surge a Funai - Fun-dação Nacional do Índio (1967). Era a entida-de encarregada de tutelar o índio, gerir o seupatrimônio, prestar-lhe assistência educacio-nal etc. A Funai existe até os dias de hoje equem acredita que ela presta um bom serviçoao índio precisa ver as denúncias feitas porPaulo Suess, em seu livro “Calice e Cuia”,onde este, relata verdadeiras omissões daFunai.

Ainda no livro de Suess, encontramos o relatode funcionários da Funai, que tentam por emprática sua real política: “integrar” o índio àsociedade. A Funai, segundo o mesmo autor,elenca três categorias de índios: isolados, aque-les que possuem poucos contatos exteriores;semi-integrados, que se reconhecem comoíndios, mas comunicam-se e muitas vezes vi-vem como “brancos”; e integrados, os queestão completamente inseridos na sociedade,de maneira que não são mais índios, nem sereconhecem como tal.

Atualmente a educação indígena saiu das mãosda Funai e passou a ser administrada pelo MEC.Este propõe aquilo que os índios reivindica-vam desde tempos “imemoriais”: uma edu-cação diferenciada. O problema é que depoisde tantas invasões, etnocídios, massacres,expropriações, destribalizações, “cate-

13 - O ensino foi proibido porforça de um decreto em 1758durante a perseguição doMarquês de Pombal aos jesuítas.

14 - SOUZA, Osvaldo Rodrigues.História do Brasil. Vol. 2, 19°ed., São Paulo: Ática, 1992.

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queses”, proletarizações, discriminações, pre-conceitos, exclusões etc. fica difícil saber quepovo ainda tem capacidade de administrar suasdiferenças, se é que estas ainda são reconhe-cidas. Fica complicado valorizar o que se tem,quando se parece não ter mais nada. Mas, setudo nos reduz ao nada, do nada devemospartir.

Contribuição da Psicologia Dentrodas Comunidades Indígenas

Reimão (1978), define a Psicologia enquantociência como:

“a procura de um conhecimento objetivo davida mental. Os acontecimentos psíquicos nãose encadeiam ao acaso. Trata-se de descobriras suas leis e os seus efeitos sobre os compor-tamentos humanos (...).”

Ora, sendo a Psicologia a ciência do compor-tamento, quem melhor do que o psicólogopoderia desenvolver a sensibilidade de inter-pretar a riqueza de cada ação humana, o valordas expressões, a importância e o perigo dasinter-relações. O sociólogo foca-se no sociale deixa de lado o individual. O antropólogo,estuda a cultura das diversas etnias, sempreprocurando enfocar o valor e a importânciadesta. Mas, o psicólogo, perpassando pela So-ciologia e pela Antropologia, procura desen-volver seu trabalho verificando não só o fenô-meno social, mas quanto este fenômeno in-fluencia o individual e quanto o individual atuano social; isto, sem deixar de lado a importân-cia da cultura de cada povo. Além do mais, opsicólogo é o profissional responsável por es-tudar os processos pelos quais se internalizamos conceitos, como se dá a formação destes,e a importância ou relevância dos mesmos.Ou seja, o estudo dos processos cognitivosno geral, são de encargo do psicólogo.

A educação nas comunidades indígenas, comovimos no capítulo anterior, sempre foi umaeducação que visava “integrar” o índio na so-ciedade brasileira. Mas, por falta de um olharprofissional (isto desconsiderando outros fato-res, como as intenções das classes dominan-tes), faltou uma definição mais precisa do queseria integração. Pois, esta não pode ser sinô-nimo de etnocídio.

Desta forma, coloquemos em prática o que apsicologia tem a oferecer, para resgatar oumanter, a identidade de um povo. Pois, todoshão de convir que a identidade cultural é ne-cessidade não só psicológica, mas filosófica,antropológica, sociológica, histórica...

Dentro das comunidades indígenas, há umanecessidade da atuação da Psicologia, princi-palmente, da Psicologia Social. À vista de que,é o psicólogo social que compreende melhorcomo as pessoas influenciam e são influenci-adas. Sem falar que a Psicologia Ambiental,também seria de máxima importância, noentanto, aqui incluirei o papel do psicólogoambiental dentro do psicólogo social, visto quea Psicologia Ambiental, toma como referencialteórico a Psicologia Social.

Primeiramente, a grande necessidade da con-tribuição da Psicologia dentro da educação dospovos indígenas, está no fato de avaliar aspossíveis conseqüências deste acontecimen-to novo, pois, educação institucionalizada namaioria dessas comunidades, é algo recente.Um exemplo paralelo do perigo da falta deuma avaliação anterior que podemos citar aqui,é a ação praticada pelos jesuítas no início dacolonização, onde estes persuadiram os índi-os Guarani15 que viviam em malocas 16 (nessastodos viviam juntos) a construírem casas 17se-paradas, onde passava-se a residir somente onúcleo familiar; este ocorrido, possibilitou aosíndios daquela época a construção de umaindividualidade tão sólida e repentina, quequase beirava a um egoísmo esnobe, poisquebrou-se, em parte, nesta sociedade, aqui-lo que ela possuía de mais significativo: afraternidade e o senso de igualdade, que eramestimulados constantemente pelo convívio(morada) comunitário real, visto que tudo eracompartilhado anteriormente, até mesmo acozinha.

Cito este exemplo acima, pois na atualidade,por mais absurdo que pareça, muitas comuni-dades enfrentam problemas semelhantes, sóque com a educação. Podemos evocar aqui oevento da inclusão dos índios do vale doXingú18 na educação. Lá o cargo mais disputa-do das tribos, não é mais o de cacique, mas ode professor19. Esta mudança pode acarretarvárias transformações no contexto social ecultural daquele povo. Pois, antes todos eramprofessores, e todos tinham o que ensinar;hoje o ensino é exclusividade de alguns.

Gerson Alves da Silva Júnior

15 - Tribos do sul do país

16 - Habitação índia na qualmora toda a tribo; trata-se deuma grande coberta, onde todospossuem seu lugar de armar arede e guardar seus adornos, osdemais ambientes são paratodos, inclusive a cozinha.

17 - Chamadas pelos índios deocas.

18 - No Estado do Tocantins.

19-Ferraz, Silvio. Os guardiõesdo verde. in: Revista Veja., ed.Abril, Ano XXXI, n°26, 30 junho1999. pg 152-160.

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“A história anda. Anda... Não dá saltos”

Não quero estancar um processo natural deevolução, quero na verdade é que este pro-cesso seja o mais harmônico possível. E aquivai outra tarefa para a psicologia. Isto é, todoum trabalho psicológico com estes novos edu-cadores. Já que continuamos a fazer o que osjesuítas faziam no início da colonização: edu-car os índios da mesma forma que educamosnossos filhos.

Quero ressaltar que quando coloco que con-tinuamos a educar da mesma forma que osjesuítas, não estou ignorando a propostacurricular do MEC de uma educação diferen-ciada. É que na verdade, o que desejoproblematizar, não é o fato do currículo esco-lar, e sim a própria estruturação do que seentende chamar por escola e por professor.Pois, já é sabido que escola não é coisa deíndio e professor muito menos.

Portanto, a meu ver, é o psicólogo20 que pos-sui a acuidade de filtrar, de adaptar e muitasvezes transformar as organizações necessári-as ao desenvolvimento humano, sem no en-tanto ferir ou destruir a cultura de cada povo,construída no decorrer de século (ou milêni-os).

De outra forma, ou seja, acreditando-se quenão existe uma maneira diferente de alavancaro processo de educação indigenista, alémdestes oferecidos até o momento (modeloescola-professor atual). Estamos admitindo, aimpossibilidade de criar, de viver inteligente-mente, de desenvolver-se e principalmentede raciocinar. Digo raciocinar, pois, estamosesquecendo a função primeira da escola e doprofessor que é educar. Visto que, escola eprofessor são conseqüências da necessidadede se educar; e não o contrário, ou seja, aeducação ser conseqüência da escola e doprofessor. Resumindo, quero expressar que aescola e o professor são apenas mecanismosutilizados para o processo educativo. Esperoque a impressão que se tenha ao ler este pa-rágrafo, não seja a de menosprezo ao profes-sor ou à escola; mas, anseio que este, possasim ser uma expressão da possibilidade deadaptação ou transformação dos professorese escolas, aos modelos culturais de cada povo.Acredito que os professores estão sensíveisao que desejo expor.

Com isto, podemos discernir que o trabalhodo psicólogo dentro das comunidades indíge-nas referente a educação pode ser divididoem duas categorias. Uma seria concernente aavaliação da estruturação das escolas e suasconseqüências; e a outra seria uma interven-ção, no sentido de se fazer nestas escolas eeducadores uma adequação do ambiente es-colar a cultura, além de trabalhar os professo-res (já existentes, caso não se mude todo oambiente) para uma preparação psicológicaadequada para o contexto em que estes seencontram.

Assim, finalizamos este capítulo que tentaexpor de forma compacta a necessidade daatuação do psicólogo dentro das comunida-des indígenas. Esperamos que no processo decompactação deste, não tenha se comprome-tido o objetivo do mesmo. Estou ciente, ain-da, que em muitos outros pontos poderia con-tribuir a Psicologia (em técnicas de ensino porexemplo), mas dado as limitações da ferra-menta que utilizei-me (a monografia), conten-to-me com o exposto.

Contribuição da Psicologia Fora dasComunidades Indígenas

Enquanto no capítulo anterior a Psicologia den-tro das comunidades indígenas pode contri-buir tanto avaliando como intervindo no pro-cesso de escolarização (inclusão dos povos naeducação), fora destas comunidades o traba-lho do psicólogo seria semelhante ao trabalhode um publicitário. Digo publicitário, pois, aatividade que este desempenharia seria umaatividade essencialmente de sensibilização(também pode ser dito, num certo sentido,educação dos povos não índios para o proces-so de educação indígena).

20 - Principalmente o psicólogoambiental, que verifica o quantoexiste reciprocidade entre ohomem e seu ambiente, ondeambos se constroem e setransformam mutuamente.

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Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena

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Novamente aqui o psicólogo social se enqua-draria melhor na realização desta tarefa.

Uma das formas possíveis de atuação do psi-cólogo seria, por exemplo, a tarefa de arran-car a hipocrisia que reveste diversos meiosquando procuram fazer suas contribuiçõeshumanitárias.

Sem se remeter ao cristianismo21, quero evi-denciar aqui uma peculiaridade do termo queempreguei - contribuição humanitária -, pois,este não deve visar receber ou ganhar lucrosem cima de trabalhos pseudo-filantrópicos.Mas, procurar, antes de tudo, a promoçãohumana do outro. Caso contrário, o termopassa a ser chamado de investimento humani-tário, pois a contribuição nada tem de desin-teressada (financeiramente).

Desta forma, venho colocar que é muito maisfácil contribuir e lutar por deficientes físicos ementais, que possuem, na maioria dos casos,pais que arcam com suas despesas, que abra-çar causas que quase não oferecem condiçõesde sobrevivência por meio do trabalho desem-penhado (por exemplo, o trabalho na educa-ção indígena).

Quero frisar que mesmo sob tais circunstânci-as (dificuldades financeiras), muitas Organi-zações Não Governamentais (Ongs), desem-penham um belo papel. Para ilustrar podemoscitar o Centro de Cultura Luís Freire, que man-tém o Projeto Escola de Índio22.

Vale ressaltar que fora das comunidades indí-genas, o trabalho, talvez, seja bem mais ár-duo do que pareça. Todavia a aplicabilidadeda Psicologia é plenamente possível e inegá-vel como auxílio no processo de inclusão daeducação de qualidade e diferenciada verda-deiramente. Prova disto é a presente mono-grafia - elaborada por um acadêmico de Psi-cologia Social -, ela tenta sensibilizar de todasas formas, de maneira a chamar a atenção,para o desafio da inclusão da educação dife-renciada e institucionalizada dos povos índios.

Por fim, como vimos, “a colheita é grande,mas poucos os operários!23” Basta empenhar-se, trabalho não nos falta. Existe um leque depossibilidades de atuação fora das comunida-

des. Espero que o narrado, sirva como umaseta, que indica novas estradas, tendo sem-pre em mente que, necessário se faz manteros olhos desvendados para que se siga o ca-minho que melhor convir.

Conclusão

Como foi visto, o primeiro capítulo desta obratenta ampliar o conceito de educação inclusi-va para que, com isto, possa-se percorrer li-vremente numa nova concepção de educa-ção. Desta vez, aplicado à escolarização indí-gena.

Porém, não bastava apenas demonstrar estapossibilidade dentro do conceito de educa-ção inclusiva. Era necessário ainda, um rápidorememoramento, com um novo olhar, no pro-cesso histórico de educação. Este rememo-ramento foi executado no capítulo dois destamonografia. Neste capítulo, verificamos quea educação sempre foi utilizada como armadestruidora dos povos indígenas. É o que sepode concluir após a leitura do mesmo, e re-força ao abrirmos o Aurélio (dicionário) e pro-curarmos a definição da palavra Guarani: “In-divíduo dos guaranis, cujos descendentes es-tão integrados à sociedade nacional”.

Após uma nova construção da compreensãodo termo educação inclusiva (no primeiro ca-pítulo) e feita uma revisão no processo histó-rico de educação indigenista (capítulo dois),parti para o objetivo real do trabalho que erademonstrar não só a aplicação da psicologiana educação indígena, mas sua necessidadede atuação.

Neste trabalho, procurei ultrapassar os LIMI-TES impostos à definição de educação inclusi-va, promovendo uma ampliação do mesmode forma a obter-se uma nova PERSPECTIVA.Como conseqüência disto surgiu um novoDESAFIO: educação inclusiva e diferenciada.Para superação deste desafio, tentei recorrera Psicologia. Esta Psicologia foi abordada demaneira a oferecer seu conhecimento enquan-to ciência para um desenvolvimento de umaeducação verdadeiramente de qualidade. Istotudo foi colocado dentro de tais parâmetros,pois, acredito ser COMPROMISSO SOCIALda Psicologia favorecer o progresso humano.

Gerson Alves da Silva Júnior

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21- Digo isto, pois, é ocristianismo que mais forte-mente friza a necessidade dodoar desinteressadamente.

22- Maria Geisa de Andrade,da equipe do Centro de CulturaLuis Freire - PE, ofereceu im-portante contribuição arealização deste trabalho

23 - Mt. 9,37

24 - Grande Espírito da criação,estão bem convosco os homensverdadeiros.

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Referênciasbibliográficas

Gerson Alves da Silva JúniorConj. H, Equelman, Rua H, Qd. M, 128 - Tabuleiro

CEP.: 57084-030 - Maceió/ALTel.: (82) 334-1826

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De resto, lembro ainda que o narrado aquinão dê a impressão de uma atuação paternalistapara com os povos indígenas. Pois, acredito jáser subentendido pelos profissionais, os quaisme dirijo, a melhor maneira de lidar com situ-ações adversas sem recorrer-se a atitudesindevidas.

Assim, fico na expectativa de que este traba-lho tenha oferecido de forma objetiva, umanova abordagem da educação inclusiva. Alémde demonstrar um campo jovem de atuaçãoda Psicologia.

Reparar os erros do passado é sinal de sensa-tez, ignorá-los é prova de comodismo, vê-lose nada fazer é abominável.

Tupã oicó endê yabê aba êté 24

Finalizo este trabalho lançando o convite es-pecial (à classe na qual pretendo engajar-me),de juntos construírmos um mundo mais soli-dário e responsável, onde possa-se erguer oolhar ao horizonte e longe da hipocrisia sentiro peito cheio de esperança num mundo melhor.

Educação Inclusiva e Diferenciada Indígena