educaÇÃo ambiental no ensino de quÍmica na educaÇÃo …
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: AS ABORDAGENS DESTE TEMA
TRANSVERSAL NOS LIVROS DIDÁTICOS UTILIZADOS PELA
ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PEDRO CANÁRIO
FERNANDA PEIXOTO FERNANDES
Monografia de Conclusão de Curso
São Mateus-ES
2017
FERNANDA PEIXOTO FERNANDES
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA NO NÍVEL
MÉDIO: AS ABORDAGENS DESTE TEMA TRANSVERSAL NOS
LIVROS DIDÁTICOS UTILIZADOS PELA ESCOLA PÚBLICA DO
MUNICÍPIO DE PEDRO CANÁRIO
Monografia apresentada ao
Departamento de Ciências
Naturais – DCN - CEUNES,
Universidade Federal do Espírito
Santo, como parte dos requisitos
para obtenção do título de
Licenciado em Química.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Nery
Furlan Mendes.
São Mateus-ES
2017
FERNANDA PEIXOTO FERNANDES
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA NO NÍVEL
MÉDIO: AS ABORDAGENS DESTE TEMA TRANSVERSAL NOS
LIVROS DIDÁTICOS UTILIZADOS PELA ESCOLA PÚBLICA DO
MUNICÍPIO DE PEDRO CANÁRIO
Monografia apresentada ao
Departamento de Ciências Naturais
– DCN - CEUNES, Universidade
Federal do Espírito Santo, como
parte dos requisitos para obtenção
do título de Licenciado em
Química.
São Mateus, 12 de dezembro de
2017.
BANCA EXAMINADORA
____________________________
Prof (a). Dr (a). Ana Nery Furlan Mendes (Orientadora)
____________________________
Prof (a). Dr (a). Gilmene Bianco
____________________________
Prof (a). MSc. Débora Lázara Rosa
São Mateus-ES
2017
Dedico esta monografia à minha mãe (in
memoriam), que sempre me incentivou e
certamente se alegraria com esta conquista. A
minha tia e ao meu pai pelo apoio, aos
professores e aos bons amigos que muito
contribuíram durante a minha estadia na
universidade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, criador do universo e detentor de todo conhecimento.
À minha orientadora Ana Nery Furlan por estar sempre disposta a ajudar e por aceitar o
desafio de me orientar.
À minha família, em especial minha tia Derli Peixoto, certamente seria difícil sem sua
ajuda.
Agradeço aos meus colegas pelas palavras amigas nas horas difíceis, pelo auxílio nos
trabalhos e dificuldades; e principalmente por estarem comigo nesta caminhada
tornando-a mais fácil e agradável.
Aos colaboradores da escola pública de Pedro Canário que sempre estiveram à
disposição para ajudar.
A todos que contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento deste trabalho, pelo
tempo e pela dedicação concedidos.
A todos que compartilharam comigo os meus ideais, incentivando-me a prosseguir
fossem quais fossem os obstáculos.
Jamais considere seus estudos como uma
obrigação, mas como uma oportunidade
invejável para aprender a conhecer a influência
libertadora da beleza do reino do espírito, para
seu próprio prazer pessoal e para proveito da
comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer
(Albert Einsten).
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------- 14
2. OBJETIVOS------------------------------------------------------------------------------ 15
2.1. Objetivo Geral------------------------------------------------------------------------ 15
2.2. Objetivos Específicos--------------------------------------------------------------- 15
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA-------------------------------------------------------- 16
3.1. Breve Histórico Quanto à Educação Ambiental em Nível Global------------ 16
3.2. Programa Nacional do Livro Didático no Ensino Médio---------------------- 19
3.3. Educação Ambiental como Tema Transversal---------------------------------- 20
3.4. Química Ambiental----------------------------------------------------------------- 22
3.5. Educação Ambiental e sua Relação com o Livro Didático de Química----- 23
4. METODOLOGIA----------------------------------------------------------------------- 24
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO------------------------------------------------------ 25
5.1. Análise dos Livros------------------------------------------------------------------ 25
5.1.1. Categorização do Volume 1, com os temas respectivos das cinco
unidades----------------------------------------------------------------------------
27
5.1.2. Categorização do Volume 2, com os temas respectivos das cinco
unidades----------------------------------------------------------------------------
31
5.1.3. Categorização do Volume 3, com os temas respectivos das cinco
unidades----------------------------------------------------------------------------
36
6. CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------- 42
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA------------------------------------------------- 44
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Capa do livro Química da autora Martha Reis, Volumes 1, 2 e 3------ 26
Figura 2: Imagem de apresentação da Unidade 4, Volume 1----------------------- 27
Figura 3: Radônio na construção civil------------------------------------------------- 30
Figura 4: Imagem de apresentação da Unidade 4 sobre corais--------------------- 33
Figura 5: Reações químicas relacionadas ao Meio Ambiente---------------------- 35
Figura 6: Apresentação da Unidade 1 do Volume 3, com o assunto petróleo
------------------------------------------------------------------------------------------------
37
Figura 7: Texto e imagem relacionados ao assunto petróleo------------------------ 38
Figura 8: Materiais poliméricos sustentáveis----------------------------------------- 41
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Unidade 1 do livro da primeira série do ensino médio com o tema:
mudanças climáticas--------------------------------------------------------------------------28
Quadro 2: Unidade 2 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: oxigênio
e ozônio-----------------------------------------------------------------------------------------29
Quadro 3: Unidade 3 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Poluição
eletromagnética--------------------------------------------------------------------------------29
Quadro 4: Unidade 4 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Poluição
de interiores------------------------------------------------------------------------------------29
Quadro 5: Unidade 5 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Chuva
ácida---------------------------------------------------------------------------------------------30
Quadro 6: Unidade 1 do livro da segunda série do ensino médio com o tema:
meteorologia e as variáveis do clima-------------------------------------------------------34
Quadro 7: Unidade 2 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Poluição
da água------------------------------------------------------------------------------------------34
Quadro 8: Unidade 3 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Poluição
térmica------------------------------------------------------------------------------------------34
Quadro 9: Unidade 4 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Corais
---------------------------------------------------------------------------------------------------35
Quadro 10: Unidade 5 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Lixo
eletrônico---------------------------------------------------------------------------------------36
Quadro 11: Unidade 1 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Petróleo
---------------------------------------------------------------------------------------------------39
Quadro 12: Unidade 2 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Drogas
lícitas e ilícitas---------------------------------------------------------------------------------40
Quadro 13: Unidade 3 do livro da terceira série do ensino médio com o tema:
Consumismo-----------------------------------------------------------------------------------40
Quadro 14: Unidade 4 do livro da terceira série do ensino médio com o tema:
Alimentos e aditivos--------------------------------------------------------------------------40
Quadro 15: Unidade 5 do livro da terceira série do ensino médio com o tema:
Atividade Nuclear-----------------------------------------------------------------------------41
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático
PNLEM – Programa Nacional do Livro Didático no Ensino Médio
CFC – Clorofluorcarnoboneto
RESUMO
Atualmente a Educação Ambiental tem sido um grande desafio a ser aplicado nas
escolas brasileiras, seja pela falta de materiais e/ou falta de formação adequada dos
professores. Uma vez que o livro didático tem sido, historicamente no Brasil, a principal
ferramenta utilizada por professores das diversas áreas em suas aulas, ele torna-se alvo
de pesquisas para que ocorra a melhoria do ensino de química e o reconhecimento da
forte influência que exerce. Neste trabalho buscou-se analisar como o tema transversal
Educação Ambiental está apresentado no livro didático utilizado na disciplina de
Química da escola pública do município de Pedro Canário/ES, e de que forma este tema
está apresentado no livro adotado pela escola. Foi feita uma análise nos três volumes do
livro didático adotado pela instituição e os mesmos apresentam um número significativo
de temas ambientais, verificou-se de que forma estes conteúdos são apresentados nestas
literaturas e como são abordadas. Apuraram-se como estas abordagens são feitas e se
estão conectadas ao conteúdo de química trabalhado no decorrer dos capítulos
apresentados na literatura empregada, bem como se possuem um viés interdisciplinar, a
partir daí tornou-se possível identificar se ocorrem falhas. Sabe-se que há um longo
caminho a ser percorrido para que haja uma devida contextualização e emprego
adequado da transversalidade do tema Educação Ambiental ao conteúdo de química,
visto que são assuntos totalmente convergentes. O ensino continua em constante
mutação e transição e tais mudanças e aperfeiçoamentos permitirão um avanço
necessário na estrutura do processo.
Palavras-chave: Tema Transversal. Educação Ambiental. Livro Didático. Ensino de
Química.
ABSTRACT
Currently, Environmental Education has been a great challenge to be applied in
Brazilian schools, either due to lack of materials and / or lack of adequate teacher
training. Since the textbook has been, historically in Brazil, the main tool used by
teachers of the different areas in its classes, it becomes the target of researches so that
the improvement of the teaching of chemistry occurs and the recognition of the strong
influence that exerts . In this work we have tried to analyze how the cross-sectional
theme Environmental Education is presented in the textbook used in the discipline of
Chemistry of the public school of the municipality of Pedro Canário / ES, and how this
theme is presented in the book adopted by the school. An analysis was made in the three
volumes of the textbook adopted by the institution and they present a significant number
of environmental themes. It was verified how these contents are presented in these
literatures and how they are approached. It was determined how these approaches are
made and if they are connected to the chemistry content worked during the chapters
presented in the literature used, as well as if they have an interdisciplinary bias, from
that it was possible to identify if there are failures. It is known that there is a long way
to go so that there is a proper contextualization and appropriate use of the transversality
of the subject Environmental Education to the content of chemistry, since these are
totally convergent subjects. Education continues to be constantly changing and
changing, and such changes and improvements will allow for a necessary advance in the
structure of the process.
Keywords: Environmental Education. Textbook. Chemistry teaching.
14
1. INTRODUÇÃO
Boa parte dos problemas ambientais estão relacionados à “necessidade” de
desenvolvimento e muitas vezes para que este desenvolvimento ocorra acaba
promovendo um mau uso dos recursos naturais, que talvez sejam o bem mais precioso
que a humanidade tenha. Mesmo que não seja visto com a importância que de fato tem,
é necessário ter conhecimento quanto às formas de preservação e cuidados com o meio
ambiente. Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento humano têm contribuído cada
vez amis para o aumento na produção de resíduos, promovendo um desequilíbrio
ambiental, afetando biomas e o ciclo dos seres vivos.
A partir do desenvolvimento tecnológico promovido pela revolução industrial
vieram em conjunto problemas relacionados ao meio ambiente devido ao desequilíbrio
humano quanto à produção versus consumo. Este fato ficou perceptível principalmente
após a II Guerra Mundial e intensificou-se pela migração da população rural para os
centros urbanos (SOARES, 2007). Com isto, ações políticas e conferências mundiais,
como a Conferência de Belgrado, Declaração de Estocolmo e etc., foram realizadas e
nessas conferências documentos foram criados, marcando historicamente a preocupação
com a conscientização educacional com relação a questões ambientais. A Educação
passa então a ser vista como um dos instrumentos que podem contribuir para as
possíveis soluções da “crise ambiental”, acarretando na consolidação de uma nova área
de práticas e pesquisas denominada Educação Ambiental (EA). Entre as metas e
objetivos para EA conforme as Diretrizes Curriculares de 2012 está: ser contemplada
transversalmente nas diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino. Assim,
consequentemente, a EA passa a ser incentivada nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), através de um trabalho com os conteúdos disciplinares de forma contextualizada
e integrada (UHMANN, 2013; DIAS, 2012).
Porém, a EA para muitos professores é um desafio, por não possuem, em muitos
casos, uma formação adequada e seguem somente a sequência do conteúdo do livro
didático em suas aulas, ocasionando a diminuição da interação professor/aluno,
impedindo a abordagem de assuntos atuais, locais ou globais, importantes para a
abordagem significativa de EA (OTESBELGUE et. al., 2013). Logo, o livro didático
não é suficiente para garantir as discussões relativas a questões ambientais, sendo
empregado ao professor a função de trabalhar de maneira adequada esse instrumento e
15
se comprometer com questões didático-pedagógicas, para trazer à tona questões
relevantes, constando ou não no livro (SÁ, 2006). Porém é importante deixar claro que
um dos problemas da EA, está na falta de materiais didático e pedagógicos que
consigam apresentar uma dinâmica ambiental da sociedade atual (DIAS, 2012).
Durante a História da educação em Química, os livros didáticos tiveram períodos
entre a inovação/redundância e/ou homogeneidade/heterogeneidades dos conteúdos.
Com a implantação do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
(PNLEM) em 2004, decorrente do PCN, abriu espaço para inovação e o surgimento de
um novo período de heterogeneidade dos conteúdos (MORTINER e SANTOS, 2007). É
o que Dias (2012, p. 13) destaca ao mencionar que “a preocupação com as questões
ambientais nos livros de Química é relativamente recente e tem origem, principalmente,
nas propostas oficiais para o currículo”. O livro é somente uma ferramenta e ele sozinho
não é suficiente para garantir as discussões relativas a questões ambientais, mas se
explorado pelo professor pode ser um ótimo material para abordagem da EA.
Com base no exposto, percebemos a necessidade e a importância de avaliar os
temas ambientais apresentados nos livros didáticos tendo como objetivo responder a
seguinte questão: “como os livros didáticos adotados nas três séries do ensino médio, na
disciplina de Química de uma escola pública do município de Pedro Canário, abordam o
tema Educação Ambiental?”.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Averiguar se os livros didáticos adotados na disciplina de Química das três séries
do ensino médio, utilizados em uma escola pública do município de Pedro Canário
durante o ano corrente de 2017, abordam o tema transversal Educação Ambiental e de
que forma este tema está apresentado e associado ao ensino de Química.
2.2. Objetivos Específicos
Obter e analisar os livros didáticos adotados pela escola Manoel Duarte da
Cunha, nas três séries correspondentes ao ensino médio, do município de Pedro
Canário.
Revisar a bibliografia quanto à abordagem sobre a Educação Ambiental.
16
Relacionar a importância do conhecimento da Química Ambiental aplicada no
ensino de Educação Ambiental.
Categorizar os resultados obtidos na análise dos livros didáticos pelo método da
Análise de Conteúdo desenvolvida por Bardin (1979).
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Problemas ambientais vêm sendo um dos grandes desafios para a humanidade,
pois o modo de vida capitalista sedutor e apelativo para o consumo gera poluição e
agressão à natureza, que, por consequência, ameaça até mesmo à sobrevivência da
humanidade. Esse quadro pode ser ainda revertido, desde que todos os setores da
sociedade comecem efetivamente a lutar pela preservação do nosso planeta. Os
professores de modo geral podem fazer parte dessa corrente com ações, dentro de cada
realidade, através de uma Educação Ambiental ativa e transformadora. A Química
geralmente é apontada como causadora de grandes impactos ambientais, mas quando
direcionada adequadamente, através da Química Ambiental, pode-se fornecer aos
alunos a compreensão do envolvimento de conceitos químicos com os problemas atuais,
para proporcionar um posicionamento crítico sobre as implicações ambientais geradas
(RESSETTI, 2015).
3.1. BREVE HISTÓRICO QUANTO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM
NÍVEL GLOBAL
Atualmente, o meio ambiente tem sido motivo de muita preocupação por parte dos
cientistas, assim também como dos governantes em todo o mundo. Como demonstração
de tamanha preocupação, muitos encontros mundiais têm sido realizados. A seguir serão
apresentadas algumas conferências realizadas e as contribuições para a Educação
Ambiental.
CONFERÊNCIA DE KEELE
Na Conferência de Keele, ocorrida na Grã-Bretanha, os países participantes
concordavam que a dimensão ambiental deveria ser abordada na escola e deveria ser
17
parte da educação de todos os cidadãos. Em 1969 foi fundada a Sociedade de Educação
Ambiental no mesmo país. Iniciava-se o movimento em torno da Ecologia (DIAS,
1991).
CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO
A Conferência de Estocolmo (1972), idealizada pela Organização das Nações
Unidas (ONU), alertou os países para a degradação ambiental e os riscos desta para o
planeta. Nesta conferência, que teve a participação de 113 nações e 250 organizações
não governamentais, o meio ambiente foi amplamente discutido, e como resultado foi
estabelecida a “Declaração sobre o Meio Ambiente Humano”, estabelecendo o Plano de
Ação Mundial com o objetivo de educar o cidadão comum para a compreensão dos
mecanismos de sustentação quanto a vida na terra (DIAS, 1991).
CARTA DE BELGRADO
Um marco histórico no processo da educação ambiental mundial foi a “Carta de
Belgrado”, documento elaborado a partir do Seminário Internacional de Educação
Ambiental, realizado na cidade de Belgrado, entre os dias 13 e 22 de Outubro de 1975. De
acordo com a Carta, a educação ambiental deve fazer parte da educação formal, em
todos os níveis de escolarização, e também da educação não formal em todos os
segmentos da sociedade, como famílias e grupos de trabalhadores, pois apenas desta
forma poderão ser alcançados os objetivos da educação ambiental (DIAS, 1991).
CONFERÊNCIA DE TBILISI
Outro encontro de suma importância aconteceu na Geórgia em 1977, a
Conferência de Tbilisi. Esta conferência contribuiu para definir os objetivos da
Educação Ambiental, definindo suas características, recomendações e estratégias
pertinentes no plano nacional e internacional. Ou seja, tudo o que se precisava saber
para o início do desenvolvimento da Educação Ambiental (DIAS, 1991):
18
A Educação Ambiental deveria ser o resultado de uma reorientação e
articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitem a
visão integrada do meio ambiente; que os indivíduos e a coletividade possam,
através da Educação Ambiental, compreender a natureza complexa do meio
ambiente, e adquirir os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as
habilidades práticas para participar eficazmente na prevenção e solução dos
problemas ambientais [...] (DIAS, 1991).
RIO 92
Em 1992, as nações foram convocadas a participarem do grande encontro sobre
questões ambientais, realizado na Cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das nações
unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento (CNUMAD), evento que ficou
conhecido como Eco-92, ou mesmo, Rio-92, que contou com a participação de 172
países. Neste encontro, o principal objetivo era traçar metas de uma economia e
desenvolvimento sustentáveis, tendo em vista um modelo menos consumista e
preocupado com a preservação do planeta (FARIA, 2015). Alguns documentos de suma
importância foram elaborados durante o encontro, dentre os quais podemos citar a
“Agenda 21” que sistematiza um plano de ação, com o fim de atingir o desenvolvimento
sustentável. Este documento é composto de quarenta capítulos, cujos principais temas
são: combate à pobreza, cooperação entre as nações para chegar ao desenvolvimento
sustentável, sustentabilidade e crescimento demográfico, proteção da atmosfera,
planejamento e ordenação no uso dos recursos da terra, combate ao desmatamento de
matas e florestas no mundo, combate à desertificação e seca, preservação dos diversos
ecossistemas do planeta com atenção especial aos ecossistemas frágeis,
desenvolvimento rural com sustentabilidade, preservação dos recursos hídricos,
principalmente das fontes de água doce do planeta, conservação da biodiversidade no
planeta, tratamento e destinação responsável dos diversos tipos de resíduos (sólidos,
orgânicos, hospitalares, tóxicos, radioativos), fortalecimento das ONGs na busca do
desenvolvimento sustentável, e educação como forma de conscientização para as
questões de proteção ao meio ambiente (FARIA, 2015). Os outros documentos
elaborados foram: Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente; Princípio para a
Administração Sustentável das Florestas; Convenção da Biodiversidade, e a Convenção
da Mudança Climática.
19
PROTOCOLO DE QUIOTO
Documento criado na conferência (Conferência das Partes (COP 3)) realizada em
1997, na cidade de Quioto no Japão, estabelece um compromisso mais rígido para a
redução da emissão dos gases que provocam um aumento do efeito estufa que acarretando
o aquecimento global, definindo que os países ditos industrializados reduziriam em pelo
menos 5,2% suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em relação aos níveis
de 1990 (FARIA, 2015).
RIO +20
Vinte anos após o primeiro encontro no Rio de Janeiro, essa mesma cidade
presenciou a Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio
+20), em junho de 2012, que contou com a presença de 188 países, com mais de
quarenta e cinco mil participantes, entre autoridades governamentais e sociedade civil.
O encontro proporcionou o documento “O Futuro que Queremos”. O texto reforça a
preservação ambiental por meio de um desenvolvimento sustentável, deixa claro que a
pobreza precisa ser combatida entre as nações e evidencia que este é o maior desafio
(FARIA, 2015). Além do documento, os países comprometeram-se a investir mais de
quinhentos bilhões de dólares em ações de preservação ambiental nos próximos dez
anos, como transporte e energia limpa (FARIA, 2015).
Todas as conferências, reuniões e determinações estabelecidas pelos países
participantes foram de fundamental importância para o processo evolutivo da Educação
Ambiental no mundo, com altas perspectivas de resolução da crise relacionada ao meio
ambiente.
3.2. PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO MÉDIO
Conforme a Resolução nº 38 do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação), foi criado o Programa Nacional do Livro Didático no Ensino Médio
(PNLEM), pelo Ministério da Educação em 25 de outubro de 2003 e implantado em
2004 com a finalidade de atender de forma progressiva, aos alunos das três séries do
ensino médio das escolas públicas de todo Brasil (BRASIL, 2003).
20
A operacionalização deste programa está fundamentada nos seguintes
argumentos:
1) Atender os preceitos legais previstos na Constituição de 1988 e na Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) quanto à distribuição de
materiais didáticos;
2) Contribuir com o processo de universalização do processo e da melhoria da
qualidade da educação básica;
3) Oportunizar a participação de professores na escolha das obras didáticas,
tendo em vista o conhecimento que os docentes possuem quanto ao processo
educativo.
O PNLEM, inicialmente atendia somente as disciplinas de matemática e
português e em 2007 foi ampliada à disciplina de química. É de extrema relevância a
participação dos professores da rede pública na escolha deste material, como foi
estabelecido pelo FNDE no inciso III do art. 5º. O governo juntamente com as
secretarias correspondentes faz a pré-seleção dos livros e posteriormente fica a encargo
dos professores escolherem o que de fato será utilizado como apoio para ministração
das aulas. No art.6º da resolução ficou determinado que a duração mínima destes livros
didáticos fosse de três anos e após este período serão feitas novas escolhas de material.
3.3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução
CNE/CEB nº 2/2012), a Educação Ambiental é um componente curricular obrigatório
também a ser trabalhado de forma transversal.
A nomenclatura “Educação Ambiental” surgiu na década de 70 através do
movimento ambientalista da época como forma de qualificar iniciativas em todos os
níveis de ensino e instituições (LEFF, 2000). Continuando com os preceitos de
incentivo o PCN ressalta que:
É necessário ainda ressaltar que, embora recomendada por todas as
conferências internacionais, exigida pela Constituição e declarada como
prioritária por todas as instâncias de poder, a Educação Ambiental está longe
de ser uma atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, porque ela
implica mobilização por melhorias profundas do ambiente, e nada inócuas.
Ao contrário, quando bem realizada, a Educação Ambiental leva a mudanças
de comportamento pessoal e a atitudes e valores de cidadania que podem ter
importantes consequências sociais (PCN, Meio Ambiente, p. 182).
21
Como se trata de um tema com ampla abordagem, de extrema necessidade,
permeando sobre todo conteúdo de diversas áreas do ensino, no que se refere a
formação de cidadãos conscientes e que enxergam a importância de saber os utilizar por
meio da transversalidade, e com objetivo de atingir todas as esferas educacionais,
transformando conceitos, explicitando valores e sempre atentando para dimensões
globais. Diante destas características do Tema Transversal Educação Ambiental, termo
utilizado para o ensino médio, na qual fica a critério do professor quando e como será
abordado o assunto dentro do conteúdo, uma vez que são classificados como
importantes e presentes no cotidiano humano. Conforme Cordão:
[...] a adoção de temas a serem tratados sob a perspectiva transversal exige da
comunidade educativa clareza quanto aos princípios e às finalidades da
educação, além de conhecimento da realidade contextual, em que as escolas,
representadas por todos os seus sujeitos e a sociedade, se acham inseridas.
Para isso, o planejamento das ações pedagógicas pactuadas de modo
sistemático e integrado é pré-requisito indispensável à organicidade,
sequencialidade e articulação do conjunto das aprendizagens perspectivadas,
o que requer a participação de todos (CORDÃO, 2011, p.48).
No artigo 6º das Diretrizes Curriculares Para a Educação Ambiental (BRASIL,
2012), destaca que a Educação Ambiental deve adotar uma abordagem que considere as
relações entre natureza, sociocultural, produção, trabalho, consumo, despolitizando o
tema e trazendo a veracidade à prática pedagógica quanto à temática. Esta abordagem
transversal está relacionada diretamente com a forma com que o conteúdo será
apresentado pelo docente.
Como Santos e colaboradores (2014) afirmam, as práticas de ensino quanto a
Educação Ambiental devem ser motivadas desde as séries iniciais da educação formal,
porque assim terão sido formados cidadãos capazes de responder aos problemas
ambientais e demais problemas complexos que o ser humano enfrenta no processo de
formação cidadã.
Para Marques e colaboradores (2013, p. 604), “os temas transversais podem
favorecer uma prática transformadora em detrimento de um processo educativo
puramente propedêutico e fragmentado, que contribui pouco para a constituição de
visões de mundo mais amplas”. Tommasiello (2015) ressalta que se os professores não
aderirem, se não houver recursos e sem a viabilidade para que seja colocado em prática,
22
fica difícil a assimilação dos PCNs e consequentemente os temas transversais nos
sistemas de ensino brasileiros.
Na visão da autora Portero (2010):
A inclusão da Educação Ambiental como Tema Transversal pelos PCNs
determina, portanto, uma tomada de postura diante de um problema
fundamental e urgente da vida social, o que requer uma reflexão sobre o
ensino e a aprendizagem de seus conteúdos: valores, procedimentos e
concepções a eles relacionados.
Sendo assim, não é só uma responsabilidade do governo, ou do professor, muito
menos da escola como atuante individual, todos devem atuar em conjunto para que de
fato se vigorize e sejam efetivadas as diretrizes preditas nos PCNs. Com o devido
preparo, materiais que sejam condizentes com a necessidade do professor e
principalmente investimentos quanto a formação inicial, continuada e também a
relacionada às políticas públicas, serão possíveis o desenvolvimento deste tema
transversal. Caso contrário, será impossível atingir as metas trabalhando-se de forma
individual.
3.4. QUÍMICA AMBIENTAL
Tem como objetivo tratar das reações, dos destinos, dos movimentos e das
fontes das substâncias químicas no ar, na água e no solo (BAIRD, 2011). Outro fator
que deve ter relevância no estudo da Educação Ambiental e da Química Ambiental é o
preconceito que é disseminado quanto à química ser nociva ao bioma. Esse tipo de
pensamento precisa ser reformulado para que haja entendimento quanto à importância
do saber científico e entender que o assunto está relacionado a tudo, desde um impulso
nervoso cerebral a um fenômeno da natureza.
Ao se pesquisar a abordagem da Educação Ambiental na disciplina de Química,
temos duas denominações recorrentes: a Química Ambiental e a Química Verde. A
Química Verde é um campo de pesquisa e um modo de atuação profissional que visa
estudos de processos que eliminem a produção de poluentes e resíduos tóxicos
(DREWS, 2011). Machado apud Drews (2011) aponta que se deve empregar o termo
“Química Verde” no sentido de Química para o meio ambiente e “Química Ambiental”
no sentido de Química no meio ambiente.
23
Segundo Machado e Mortimer (2007), a aula de química tem que ser o espaço de
construção do pensamento químico e de (re) elaborações de visões de mundo, para que
os alunos assumam perspectivas e posições. Nesse sentido, a Química Ambiental se
encaixa, pois ela ressalta a necessidade de se compreender a Química como uma ciência
construída histórica e socialmente, possuindo valores, aspectos políticos e econômicos,
onde suas teorias científicas podem ser compreendidas pelo aluno de acordo com sua
realidade sociocultural, na qual, os problemas ambientais não podem ser ignorados
(DREWS, 2011). Temos, portanto, que a Química se relaciona com Educação
Ambiental:
“[...] dentro de um contexto socioeconômico, no qual as análises de poluentes
e substâncias relacionadas à degradação ambiental se dão em um âmbito de
interesse políticos e sociais, mostrando a ciência como uma construção social
permeada por interesses” (CHASSOT, apud DIONYSIO e MESSEDER,
2012, p. 04).
O conhecimento de Química Ambiental e consequentemente do conhecimento
químico é importante para entender fenômenos, ocorrências naturais, desastres
ambientais, manejo adequado de produtos, entre outros fatores que todo indivíduo está
sujeito a vivenciar cotidianamente. É necessário também que haja uma expansão de
conhecimento quanto ao tipo de entendimento que esses assuntos promovem no
indivíduo como ser social.
3.5. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO COM O LIVRO
DIDÁTICO DE QUÍMICA
O livro didático é adotado por todas as escolas públicas e muitas privadas de
ensino básico no nosso país. Segundo Ribeiro (2003), o livro didático é um grande
instrumento de valor educacional e está presente no contexto histórico do Brasil desde o
período colonial. Durante os anos 70 e 80, com o declínio da educação pública, os livros
didáticos foram amplamente introduzidos nas escolas, e com a falta de qualificação do
professor tornaram-se indispensáveis (MARTINS; SANTOS, 2011).
O ensino de Química deve relacionar os conteúdos da disciplina com o mundo
real em que vivemos, considerando que o conhecimento deve ser utilizado pelo homem
como forma de buscar o progresso não a qualquer custo, mas de maneira sustentável,
procurando zelar pela natureza que proporciona os recursos básicos para sobrevivência da
humanidade. Dessa forma, o livro didático poderia ser de grande importância,
24
auxiliando no direcionamento das aulas ministradas, e assim promover a
transversalidade no tratamento das questões ambientais.
Na realidade, essa questão nem sempre é verificada nos livros didáticos, nos
quais muitos dos temas apresentados não fazem a devida relação ao conteúdo, e não
problematizam as questões ambientais. Ainda sobre a distribuição dos temas ambientais
nos livros didáticos, Ribeiro (2006) ressalta que a distribuição dos conteúdos ao longo
das coleções de livros didáticos, se apresenta de forma descontínua e intermitente. A
questão interdisciplinar é pouco explorada nos livros didáticos, o que torna o trabalho
voltado para uma forma compartimentalizada do ensino. Segundo Grossi (2004) uma
das críticas ao livro didático refere-se à pequena associação interdisciplinar apresentada.
Visto que o livro didático tornou-se, historicamente no Brasil, a principal
ferramenta utilizada por professores em suas aulas e que os PCNs incentivam seu uso
durante a apresentação do conteúdo aos alunos, percebe-se a necessidade e importância
de avaliar os temas ambientais apresentados nos livros didáticos, e no caso particular
deste trabalho, nos livros de química utilizados na educação básica.
4. METODOLOGIA
A pesquisa desenvolvida foi classificada como qualitativa, na qual se buscou
analisar os temas ambientais propostos no livro didático adotado na disciplina de
Química, nas três séries do nível médio da escola pública do município de Pedro Canário-
ES. Na pesquisa qualitativa destacam-se a escolha apropriada de métodos e teorias e a
reflexão do pesquisador. Dias (2012, p. 48) definiu a pesquisa qualitativa como: “[...]
buscar, essencialmente, entender os significados dos dados, os motivos latentes, as
particularidades, o contexto, enfim, os processos que constituem os fenômenos
investigados”.
O livro didático analisado foi o da autora Martha Reis, livro este que foi
selecionado pela escola de Pedro Canário entre as opções de livros apresentadas pelo
estado. Está dividido em três volumes, e se enquadra no PNLEM de 2015 (triênio 2015–
2017). Os três volumes do livro foram obtidos por meio de empréstimo com a escola. A
análise dos livros didáticos teve sua investigação realizada pelo método de Análise de
Conteúdo, que se caracteriza como um dos procedimentos clássicos para interpretar
materiais textuais. Através da análise de conteúdo foi feita uma categorização, que
25
consiste em agrupar dados considerando a parte comum existente entre eles. Segundo
Bardin (1979) “o processo de categorização é parte integrante de uma análise de
conteúdo e as categorias criadas reúnem um grupo de elementos que apresentam
características comuns”. Após leitura e análise dos livros didáticos foram criadas as
seguintes categorias:
1) Abordagem o tema transversal;
2) Se de fato fazem relação do tema ao conteúdo de química;
3) Apresentaram textos coerentes ao tema;
4) Apresentaram figuras representativas.
Para a primeira categoria foi avaliado se o livro didático apresenta a temática
obrigatória que é a Educação Ambiental e se a mesma é tratada como tema transversal.
Na segunda categoria o objetivo é identificar se realmente o livro introduz o assunto ao
currículo de química. Na terceira categoria buscou-se identificar a presença de textos ou
reportagens, até mesmo tirinhas de jornais com notícias sobre a importância da
consciência ambiental ou quanto a desastres ou acidentes ambientais. Para a quarta e
última categoria buscou-se verificar se são apresentadas figuras e se elas fazem com que
quem as vê associe ao tema da unidade às questões ambientais.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decorrer deste capítulo serão apresentadas as análises observadas nos
volumes do livro didático utilizado no triênio de 2015-2017 escolhido pela escola de
ensino médio do município de Pedro Canário – ES, quanto ao tema transversal
Educação Ambiental e como são abordados especificamente no conteúdo de química.
5.1. ANÁLISE DOS LIVROS
Os livros adotados pela E.E.E.M. Manoel Duarte da Cunha, para as três séries do
ensino médio, conforme PNLEM 2015 são da autora FONSECA, M.R.M. Química. 1
26
ed. v. 1, 2 e 3. São Paulo: Ática, 2013, na qual as capas de cada volume estão
apresentadas na Figura 1.
Cada volume do livro apresenta cinco unidades e cada unidade inicia com um
assunto pertinente ao tema transversal Educação Ambiental. Além disso, cada unidade
possui capítulos que abordam os assuntos correspondentes ao currículo da disciplina de
Química, como por exemplo: ligações químicas, funções orgânicas e assim
sucessivamente.
Figura 1: Capa do livro Química da autora Martha Reis, Volumes 1, 2 e 3.
Fonte: Livro de química, da autora Martha Reis.
Os três volumes do livro apresentado na Figura 1 foram analisados conforme as
categorias:
1) Abordagem do tema transversal;
2) Se de fato fazem relação do tema ao conteúdo de química;
3) Apresentaram textos coerentes ao tema;
4) Apresentaram figuras representativas.
Iniciou-se a análise dos livros com a identificação da apresentação do tema
transversal, posteriormente se o tema faz uma associação ao conteúdo de química,
conforme proposta, se os textos informativos que estão contidos nos livros ajudam na
assimilação do conteúdo e por fim, se as imagens exibidas remetem coerentemente ao
tema transversal. A seguir são apresentados os resultados da categorização de cada
volume com as discussões pertinentes.
27
5.1.1. Categorização do Volume 1 do livro Química.
Durante análise do livro didático utilizado na primeira série do ensino médio, foi
possível constatar que no início de cada unidade é apresentado um tema relacionado ao
meio ambiente e normalmente inicia-se com alguma reportagem com o assunto
mencionado, como apresentado na Figura 2. Porém, em pouquíssimas vezes o assunto é
inserido ao conteúdo de química.
Figura 2: Imagem de apresentação da Unidade 4, Volume 1.
Fonte: Livro de química da autora Martha Reis
Neste volume, e nos demais volumes do livro “Química” foram realizados a
categorização das unidades de cada volume. Para o volume 1 o resultado das
categorizações das unidades contidas neste volume estão apresentadas nos Quadros 1 a
5. No Quadro 1, em que são apresentados os resultados da categorização da unidade 1
do livro, somente os capítulos 2 e 4 com os assuntos: “estados de agregação da matéria”
e “substâncias e misturas”, respectivamente, não fazem nenhuma relação ao meio
ambiente ou ao tema proposto para a unidade. Há inúmeros fatos que poderiam ser
explorados fazendo esta associação, como por exemplo, quanto à miscibilidade de
determinados compostos. Como menciona Choppin (2004):
Na maioria das línguas, o “livro didático” é designado de inúmeras maneiras,
e nem sempre é possível explicitar as características específicas que podem
estar relacionadas a cada uma das denominações, tanto mais que as palavras
quase sempre sobrevivem àquilo que elas designaram por um determinado
tempo.
28
Quanto às categorias de “textos, recortes ou notícias” e “figuras”, está
relacionado a qualquer imagem ou notícia sobre a temática ambiental, os capítulos 1, 6 e
11 não apresentam nenhuma reportagem ou recorte que faça qualquer menção ao meio
ambiente, o que nos outros capítulos apresentam trechos de reportagens sobre os CFCs,
mencionam as descobertas feitas por Marie Curie e os problemas ocasionados pela
exposição a materiais radioativos e também sobre nanocompostos, que tem sido muito
utilizado, mas se apresentam nocivos quando dispersos na atmosfera. Para os capítulos
11 e 12 que abordam assuntos conceituais não há nenhum tipo de associação ao
conteúdo. Os capítulos 6 a 13, 16 e 17 não apresentam figuras que correlacionem ao
tema. O que é mais intrigante é que os temas iniciais das unidades tratam de oxigênio e
ozônio e poluição eletromagnética, o que permite uma abordagem extensa e que
possibilita adentrar no mundo da poluição atmosférica, tratar sobre a camada de ozônio,
que desempenha um papel fundamental para a estratosfera e de acordo com Baird
(2011), o “buraco” na camada sobre a Antártida vem apresentando uma queda gradual,
e consequentemente abordar que isso ocorre devido a um fenômeno natural envolvendo
forças meteorológicas, mecanismos químicos envolvendo a poluição do ar e que estas
falhas na “camada” de ozônio têm oscilações de acordo com a estação do ano.
Quadro 1: Unidade 1 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: mudanças
climáticas. Capítulos
1 2 3 4 5
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Grandezas
físicas
Estados de
agregação da
matéria
Propriedades
da metéria
Substâncias
e misturas
Separação
de misturas
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Ocorre Não ocorre Ocorre Não ocorre Ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Não apresenta Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
29
Quadro 2: Unidade 2 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: oxigênio e
ozônio. Capítulos
6 7 8 9
Categorias
CONTEÚDO
DE QUÍMICA
Reações
químicas
Átomos e
moléculas
Notações
químicas Alotropia
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Ocorre Não ocorre Ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES
OU NOTÍCIAS
Não
apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 3: Unidade 3 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Poluição
eletromagnética. Capítulos
10 11 12 13
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Eletricidade e
radioatividade
Evolução dos
modelos
atômicos
Modelo básico
do átomo
Tabela
periódica
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Não apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Não apresenta Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 4: Unidade 4 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Poluição de
interior. Capítulos
14 15 16
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Ligações
covalentes
Forças
intermoleculares
Compostos
orgânicos
ASSOCIAÇÃO COM
O CONTEÚDO Não ocorre Ocorre Não ocorre
TEXTOS, RECORTES
OU NOTÍCIAS Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Não apresenta
Fonte: autoria própria.
30
Quadro 5: Unidade 5 do livro da primeira série do ensino médio com o tema: Chuva ácida. Capítulos
17 18 19
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA Ligações iônicas
Compostos
inorgânicos
Metais e
oxirredução
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Ocorre Ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Não apresenta Apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
Na Figura 2 tem-se o exemplo de associação ao conteúdo no volume 1, com o
tema da unidade 4 Poluição de interiores em que o teor está relacionado a ligações
iônicas. Apresenta a cooptação ao elemento radônio e seus usos na construção civil,
presente no tijolo de argila, granito, arenito, entre outros materiais de origem natural.
Figura 3: Radônio na construção civil.
Fonte: Livro de Química da autora Martha Reis.
31
5.1.2. Categorização do Volume 2, com os respectivos temas das cinco unidades no
livro.
Segunda categorização, com análise no volume 2 correspondente a segunda série
do ensino médio, apresentando as mesmas categorias utilizadas no volume 1, com os
resultados apresentados nos Quadros: 6, 7, 8, 9 e 10 para cada unidade analisada no
livro didático.
Após a categorização do volume 2 do livro adotado pela escola pode ser
identificados assuntos bem pertinentes a transversalidade, mas no Quadro 6 da unidade
1, o assunto é Meteorologia e Clima e há associação ao conteúdo de química, que por
sua vez poderiam ser abordados assuntos como efeito estufa e aquecimento global, que
são muito bem conexos ao estudo de misturas gasosas, equação dos gases e as reações
que ocorrem nesses fenômenos seriam bem explanados através dos cálculos
estequiométricos. O aumento da temperatura global estão associados a fatores
antropogênicos, entre outros. Conforme Baird (2011):
[...] Essas décadas foram sucedidas, por sua vez, por um período de
aquecimento que tem sido mantido desde 1970 até o presente e que tem, até o
momento, alcançado um aumento de temperatura de cerca de 0,6ºC, isso é
atribuído quase que inteiramente às influências antropogênicas, [...] (BAIRD,
2011).
Também poderiam tratar da emissão de gases por erupções vulcânicas que
reagem na atmosfera e produzem outras substâncias que muitas vezes se apresentam
nocivas aos seres humanos. Ainda em análise à categorização, o Quadro 7 trata da
poluição da água e mesmo apresentando figuras e reportagens ao tema não houve
associação do conteúdo, o que é lamentável pois no conteúdo de química são abordados
concentrações em quantidade de matéria, mistura de soluções e as propriedades
coligativas. Como se trata de um assunto que assola a humanidade de forma intensiva,
que é a crise hídrica, as formas de trabalhar o assunto são infinitas. De acordo com
Baird (2011), “É importante entender os tipos de processos químicos que ocorrem em
águas naturais, e como a ciência e a aplicação da química podem ser empregadas para
purificar águas para consumo humano”. É função do professor buscar correlacionar este
assunto de grande importância com os conteúdos da disciplina, conforme exposto na
citação a seguir de Torralbo (2009):
32
“O tema água tem sido considerado importante no ensino da química, pois
permite ao professor problematizar situações importantes para que os alunos a
interpretem, de maneira que os conceitos químicos possam auxiliar no
entendimento de problemas, propiciando assim, a formação de um estudante
responsável” (TORRALBO, 2009, p. 5).
No Quadro 8 que trata da poluição térmica, também não há associação do
conteúdo de química que é: reações endotérmicas e exotérmicas, variação de entalpia e
cinética química um facilitador para integração seria tratar dos combustíveis fósseis,
como por exemplo a queima de carvão. Conforme Baird (2011):
A queima de carvão domesticamente, em fornos e fogões, produz uma grande
quantidade de fuligem e por isso seu uso tem diminuído em países
desenvolvidos. No entanto, o carvão ainda é utilizado em muitos países
desenvolvidos e em desenvolvimento para a produção de energia elétrica
(BAIRD, 2011).
O Quadro 9 da unidade 4 (ver Figura 3) traz como assunto os corais. Além de
não associar o tema como o conteúdo de química, no capítulo sobre Kps (constante de
produto de solubilidade) não tem nenhuma figura para associação. Como a abordagem
são os corais e o Brasil tem uma faixa litorânea extensa e inúmeros recifes de corais,
juntamente com o aquecimento das águas marinhas, que promovem a decomposição
desses corais fazendo com que o pH da água seja alterado e assim colocando em risco
algumas espécies de vida marinha, este tema poderia ser muito bem trabalhado dentro
da disciplina de química, associando uma causa ambiental a um acontecimento químico
que coloca em risco a existência de algumas espécies.
Em condições normais de emissão de CO2, algumas espécies marinhas conseguem
realizar a calcificação, como é o caso dos corais, porém, com os altos índices de
emissão de CO2 recorrentes em parâmetros globais, essa calcificação não ocorre e na
verdade o que ocorre é a formação de H2CO3, acidificando ou diminuindo o pH da água.
Isto mostra que há muito a ser explorado, desde que o professor não fique preso ao
conteúdo rotineiro e não apresente o assunto de forma descontextualizada, fazendo com
que o aluno realmente entenda o mundo em que está inserido e as influências que ele
exerce como cidadão.
33
Figura 4: Imagem de apresentação da Unidade 4 sobre corais.
Fonte: Livro de Química da autora Martha Reis
No Quadro 10 que trata do lixo eletrônico houveram bastantes figuras
relacionadas com a poluição proveniente do uso de pilhas, baterias entre outros,
atribuídos ao uso de materiais eletrônicos, largamente utilizados pela sociedade
moderna. Quando tratou de eletrodos inertes e eletrodos ativos não houveram menções a
galvanoplastia nem a eletrólise promovida por estes compostos.
A fabricação de computadores, outros equipamentos eletrônicos e chips envolve
alta tecnologia, alto custo, alta habilidade e alta demanda por empregos. Um fato pouco
conhecido para quem não trabalha no ramo é que este tipo de fabricação gera mais lixo
que qualquer outro processo, gerando mais lixo até que as empresas automobilísticas
(BAIRD, 2011). O mundo é consumista, capitalista e extremamente inconsequente, mas
o mais importante é: até quando haverá matérias primas para produção desses insumos?
Principalmente com o tipo de lixo produzido, desastres com materiais tóxicos que
contaminam água, ar e solo. Como foi citado anteriormente o estudo dos temas
transversais inseridos no ensino, visa elevar a consciência do cidadão e o papel exercido
na sociedade através de tópicos contemporâneos. Durante a análise do volume 2, assim
como no volume 1, os textos que iniciam a unidade do volume são de fato interessantes
e relevantes, porém o livro deixa somente por conta dessas informações vagas e sem
fundamentações sobre a associação com o conteúdo em que está inserido.
34
Quadro 6: Unidade 1 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: meteorologia e as
variáveis do clima. Capítulos
1 2 3 4
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Teoria cinética
dos gases
Equação geral
dos gases Mistura gasosas
Cálculo
estequiométrico
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Não apresenta Não apresenta Não apresenta Não apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 7: Unidade 2 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Poluição da água. Capítulos
5 6 7 8
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Expressões físicas
de concentração
Concentração em
quantidade de
matéria
Misturas e
soluções
Propriedades
coligativas
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Não apresenta Não apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 8: Unidade 3 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Poluição térmica.
Fonte: Autoria própria.
Capítulos
999
101010
111
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
REAÇÕES
ENDOTÉRMICAS E
EXOTÉRMICAS
CÁLCULOS DE
VARIAÇÃO DE
ENTALPIA
CINÉTICA
QUÍMICA
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
NÃO OCORRE
NÃO OCORRE
NÃO OCORRE
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
APRESENTA
APRESENTA
APRESENTA
FIGURAS
APRESENTA
APRESENTA
APRESENTA
35
Na Figura 5 presente no volume 2, unidade 4 que tem como Tema Transversal
Corais, capítulo 14 que relaciona o conteúdo de deslocamento de equilíbrios, tem-se a
representação de reações químicas tratando da reação de formação e de decomposição
do ozônio que ocorre na estratosfera.
Figura 5: Reações químicas relacionadas com o Meio Ambiente.
Fonte: Livro de Química da autora Martha Reis
Quadro 9: Unidade 4 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Corais. Capítulos
12 13 14 15
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Equilíbrio
dinâmico
Deslocamento de
equilíbrio
Equilíbrio
iônico
Produto iônico
da água e kps
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta Não apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Apresenta Não apresenta
Fonte: autoria própria.
36
Quadro 10: Unidade 5 do livro da segunda série do ensino médio com o tema: Lixo eletrônico. Capítulos
16 17 18
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA Pilhas e baterias
Eletrólise de eletrodos
inertes
Eletrólise com
eletrodos ativos
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Não apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Não apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
5.1.3. Categorização do Volume 3, com respectivos temas das cinco unidades no
livro.
Para a terceira e última categorização, referente as unidades do volume 3, com o
conteúdo da terceira série do ensino médio, os resultados são apresentados nos Quadros
11 a 15. Assim como nas unidades anteriores dos volumes 1 e 2, o volume 3 da autora
Martha Reis traz temas muito associáveis a abordagem do meio ambiente. Porém,
também apresenta abordagem de outros temas transversais, como é o caso das unidades
2 e 3 que abordam temas como drogas e consumismo. Estes dois temas que também são
apresentados no início das unidades não fazem associação direta ao conteúdo de
química em ambas as unidades. A intenção com essa pesquisa não é restringir o tema
transversal no livro didático única e exclusivamente ao meio ambiente, mas averiguar se
há esta abordagem e como é feita a abordagem. Obviamente existem outros temas de
igual relevância que serão tratados.
Na unidade 1 (Ver Figura 4), os capítulos 1 e 2 não fazem associação ao
conteúdo de química, são tratados assuntos conceituais de introdução a química
orgânica e com isso nem sempre é possível fazer tal associação.
37
Figura 6: Apresentação da Unidade 1 do Volume 3, com o assunto petróleo.
Fonte: Livro de Química, Martha Reis.
Os assuntos das unidades 3, 4 e 5 são mais acessíveis ao assunto tratado no
ensino de química, pois falam sobre hidrocarbonetos, petróleo e haletos orgânicos que
ao longo dos capítulos são apresentados textos, notícias e reportagens sobre
derramamento de petróleo em águas marinhas e como esse tipo de contaminação das
águas afeta os diversos biomas, trazendo imagens de pássaros e vegetações, além de
animais marinhos, que ficam limitados devido à contaminação. Somente os capítulos 1
e 5 não apresentam nenhum tipo de imagem que remete a isso. Na Figura 5 tem-se um
exemplo de reportagem sobre um derramamento de petróleo ocorrido em 2010 no Golfo
do México, apresentando uma imagem relacionada ao acidente.
38
Figura 7: Texto e imagem relacionados ao assunto petróleo.
Fonte: Livro de Química da autora Martha Reis
Durante a unidade 3 com o tema consumismo, nos capítulos 11 e 12 em química
são abordados reações orgânicas e polímeros sintéticos que são únicos capítulos que
fazem assimilação entre o conteúdo de química e a proposta ambiental. Apresentam
figuras com degradação de material orgânico exposto e sem o devido descarte, figura
sobre queimadas e consequentes causadores de poluentes no ar. O capítulo 12 trata de
materiais poliméricos, reciclagem de materiais, traz uma reportagem sobre o descarte de
materiais poliméricos, estruturas de polímeros, poluição das águas com polímeros, o
que também afeta a vida marinha. Mas também apresenta os benefícios dos produtos
poliméricos desenvolvidos que permitem o planejamento do que se fabrica para efetivar
o desenvolvimento sustentável.
Iniciando a unidade 4 que tem como tema principal “alimentos e aditivos”, não
trata sobre meio ambiente no tema principal, mas apresenta reportagens como a do uso
de ALAR ou daminozida (substância química utilizada para manter as frutas por mais
tempo na árvore e ajuda a maturação de frutas mais firmes e perfeitas) em lavouras de
39
maçãs e como esse uso tem afetado o meio ambiente, além de ser um metabólito
carcinogênico. O capítulo 14 traz uma reportagem sobre o biodiesel, relatando que a
produção é efetivada a partir de matéria prima renovável e índices de poluição muito
mais baixos, que é o que visa a Química Verde. Baird (2011) afirma que quase todo o
aumento de emissões de CO2 surgiu a partir do aumento no uso de energia derivada de
combustíveis fósseis, como é o caso do petróleo e do carvão mineral.
A unidade 5 é menor e a última do volume 3, mas praticamente em toda ela o
tema meio ambiente está presente nos conteúdos de química que são: leis da
radioatividade e energia nuclear. Os textos inseridos mostram depósitos de sucatas
metálicas e uma reportagem no capítulo 17 sobre o acidente com césio-137 ocorrido na
cidade de Goiânia – GO em 1988, ocasionado por um material hospitalar que estava
abandonado quando se exigia um descarte especial. Ao entrarem em contato com esse
material as pessoas apresentaram quadros graves de saúde e por fim, algumas foram a
óbito. No capítulo 18, a unidade apresenta a energia nuclear, tem como reportagem o
Japão que é o país que mais faz uso desse tipo de energia no mundo. O principal foco do
país na atualidade é deixar de fazer uso dela devido aos vários estragos provocados por
acidentes nucleares e suas consequências que podem durar gerações. Esse é um assunto
muito coerente ao tema, onde é possível trabalhar a meia vida de um composto. De
acordo com Baird (2011), essa radiação é potencialmente perigosa caso seja absorvida
por seres vivos, uma vez que os componentes moleculares do corpo podem ser
ionizados ou, danificados.
Quadro 11: Unidade 1 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Petróleo. Capítulos
1 2 3 4 5
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Classificação
das cadeias
carbônicas
Nomenclatura Hidrocarbonetos
Petróleo,
ulha e
madeira
Haletos
orgânicos
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Ocorre Ocorre Ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Não apresenta Apresenta Apresenta Apresenta Não
apresenta
Fonte: autoria própria.
40
Quadro 12: Unidade 2 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Drogas lícitas e
ilícitas. Capítulos
6 7 8
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA Funções oxigenadas
Funções
nitrogenadas Isomeria constitucional
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Não apresenta Não apresenta Apresenta
FIGURAS Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 13: Unidade 3 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Consumismo.
Capítulos
9 10 11 12
Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Reações de
substituição
Reações de
adição
Outras reações
orgânicas
Polímeros
sintéticos
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Ocorre Não ocorre Ocorre Ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Apresenta Apresenta Não apresenta Apresenta
Fonte: autoria própria.
Quadro 14: Unidade 4 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Alimentos e
aditivos. Capítulos
13 14 15 16 Categorias
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
Introdução a
bioquímica Lipídios Carboidratos Proteínas
ASSOCIAÇÃO
COM O
CONTEÚDO
Não ocorre Não ocorre Não ocorre Não ocorre
TEXTOS,
RECORTES OU
NOTÍCIAS
Apresenta Apresenta Apresenta Apresenta
FIGURAS Não apresenta Não apresenta Não apresenta Não apresenta
Fonte: autoria própria.
41
Quadro 15: Unidade 5 do livro da terceira série do ensino médio com o tema: Atividade Nuclear.
CAPÍTULOS
17
18
CATEGORIAS
CONTEÚDO DE
QUÍMICA
LEIS DA
RADIOATIVIDADE
ENERGIA NUCLEAR
ASSOCIAÇÃO COM
O CONTEÚDO
OCORRE
OCORRE
TEXTOS, RECORTES
OU NOTÍCIAS
APRESENTA
APRESENTA
FIGURAS
APRESENTA
NÃO APRESENTA
Na Figura 8 encontrada no volume 3, na unidade 3 com tema Consumismo do
capítulo 12 que retrata polímeros sintéticos tem a associação de produtos que são
biodegradáveis e constituídos por materiais poliméricos.
Figura 8: Materiais poliméricos sustentáveis.
Fonte: Livro de Química da autora Martha Reis.
De modo geral, os 3 volumes apresentam o tema transversal Educação
Ambiental, porém não de forma didática e integrada ao conteúdo de química. É o que
Fonte: autoria própria.
42
DIAS (2012, p. 13) destaca ao mencionar que “a preocupação com as questões
ambientais nos livros de Química é relativamente recente e tem origem, principalmente,
nas propostas oficiais para o currículo”. O livro é somente uma ferramenta e ele sozinho
não é suficiente para garantir as discussões relativas a questões ambientais, mas se
utilizado corretamente pelo professor pode ser um ótimo material para abordagem da
Educação Ambiental.
Como funcionam como suporte, é necessário que o professor tenha um preparo
adequado, esteja antenado nos acontecimentos porque dependerá dele fazer esta relação
inserindo os argumentos necessários ao contexto das ocorrências, levar o aluno a um
entendimento sobre as causas, consequências e as medidas preventivas necessárias para
evitar o mau uso desenfreado dos recursos naturais.
6. CONCLUSÃO
Os assuntos relacionados ao meio ambiente envolvem diversas áreas do
conhecimento, e através de um trabalho interdisciplinar, o educando poderá perceber
que questões ambientais não se referem a disciplinas isoladas. Segundo Martins, Ribeiro
e Cunha (2013) é importante que os professores tratem os assuntos de forma
interdisciplinar e contextualizada com a finalidade de formar cidadãos conscientes.
Para a realização de um trabalho interdisciplinar envolvendo outras disciplinas, há
necessidade que os professores tenham a autonomia de modificar a forma de trabalho de
disciplina isolada imposta pelo método tradicional de ensino. São muitas as opções de
trabalho interdisciplinar a partir de temas ambientais. Porém, os professores, a partir das
suas realidades e dos seus conhecimentos, podem criar novas possibilidades,
enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem.
No caso específico da disciplina de Química, segundo Leite e Rodrigues (2011),
os professores desejam que os alunos relacionem a Química estudada na escola com o
cotidiano, e os temas ambientais são excelentes para estabelecer esta relação.
Portanto, existem diversos fatores que permitem o desenvolvimento da
Educação Ambiental, principalmente no Brasil. Um investimento adequado para uma
educação continuada aos profissionais do ensino para que estejam preparados para
fornecer informações de forma científica adequada, manuseando bem o conhecimento
de Química Ambiental e assim, favorecer as explicações relacionadas as ocorrências dos
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fenômenos ambientais, recursos para que sejam ministradas atividades promovendo o
despertar social do aluno e nesses recursos está incluído um material didático que
favoreça, estimule e desperte o interesse pelo assunto. A partir da análise do livro
didático “Química” da autora Martha Reis, observou-se que os três volumes apresentam
maior número de temas ambientais, porém algumas vezes as abordagens são superficiais
e não estão conectadas ao conteúdo de química trabalhado no capítulo, nem possuem
um viés interdisciplinar. Infelizmente o recurso que é utilizado atualmente não oferece
as ferramentas necessárias para que o professor tenha o devido suporte no preparo das
aulas expositivas, há muitas falhas e o tema não é contextualizado ou tratado de forma
interdisciplinar. Não é só instituir uma lei que os problemas serão resolvidos, são várias
etapas para serem alcançadas e a jornada é longa. São anos tentando chegar ao ideal de
ensino e ainda há muito por fazer.
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7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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