educaÇÃo ambiental nas sÉries iniciais: um estudo de caso · crianças na construção de novos...

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MICHELE CANAL NUNES EULER EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS: um estudo de caso CANOAS, 2016.

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MICHELE CANAL NUNES EULER

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS: um estudo de caso

CANOAS, 2016.

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MICHELE CANAL NUNES EULER

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Química do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química.

Orientação – Prof.ª M.ª Paula Nunes

CANOAS, 2016.

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MICHELE CANAL NUNES EULER

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciada em Química pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle.

Aprovado pelo avaliador em 05 de julho de 2016.

Avaliador

__________________________________ Prof.ª M.ª Paula Nunes

__________________________________

Prof.ª Dra. Juliana Gomes

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Dedico este trabalho aos meus pais e ao

meu esposo que de muitas formas me

incentivaram ao longo desta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pela oportunidade, privilégio e conforto

nos momentos difíceis.

Agradeço aos meus pais pelo amor e apoio incondicional, não somente ao

longo de minha graduação mas que em todos os bons e maus momentos de minha

vida estiveram comigo.

Agradeço ao meu esposo por ter me apoiado nos momentos difíceis e

incentivado a não desistir de buscar meus sonhos.

Agradeço também a todos os professores que me auxiliaram durante esta

graduação, com atenção especial a minha orientadora Paula Nunes, cujos

ensinamentos jamais esquecerei.

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“Se a educação sozinha não muda a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda.”

(Paulo Freire)

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RESUMO

Este trabalho traz como tema a Educação Ambiental nas séries iniciais, onde se

objetivou sensibilizar crianças na faixa etária de 06 anos a respeito da importância

da separação correta do lixo através da coleta seletiva. O trabalho foi desenvolvido

por meio de uma pesquisa qualitativa, configurada como um estudo de caso,

buscando verificar se é possível que crianças nessa faixa etária construam

conhecimento e cuidado em relação às questões ambientais, através da prática de

coleta seletiva do lixo. Para tal objetivo aplicou-se diversas atividades pedagógicas

adequadas para essa faixa etária, em uma turma de primeiro ano do Ensino

Fundamental em uma escola particular no município de Esteio/RS.

Palavras-chaves: Educação ambiental. Educação infantil. Anos iniciais

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ABSTRACT

This work brings like subject the environmental education in the early classes, where

the goal was to create awareness in the children at the age 6 years about the

importance of the correct sorting of garbage through the selective collection. This

work has been developed through of a qualitative research, configured as a case

study, trying to verify if it is possible that children at this age group can develop

knowledge and care about the environment issues, through to practice of garbage

selective collection. For this objective, several educational activities adequate for this

age group were applied, in a class of first year of primary education in a private

school in the city of Esteio/ RS.

Keywords: Environmental education. Child education. Early years.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Cores para a coleta seletiva segundo Resolução Conama 275 de 2001 .. 15

Figura 2 - Atividade “Desenhe sobre o lixo” – Desenho 1 ......................................... 25

Figura 3 – Atividade “Desenhe sobre o lixo”- Desenho 2 .......................................... 26

Figura 4 - Problemas ambientais – Imagens desenho Turma da Mônica ................. 28

Figura 5 - Ideias para salvar o planeta – Desenho Turma da Mônica ....................... 29

Figura 6 – Atividade “Separe o lixo corretamente” .................................................... 33

Figura 7 – Crianças pintando as lixeiras ................................................................... 33

Figura 8 – Mural colocado no pátio da Escola........................................................... 34

Figura 9 – Crianças na apresentação ....................................................................... 35

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10

2 REFERENCIAL TEORICO......................................................................................13

3 METODOLOGIA.....................................................................................................21

3.1 Atividades desenvolvidas................................................................................. 21

4 ANÁLISE DAS ATIVIDADES................................................................................ 22

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 36

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 38

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1 INTRODUÇÃO

Diversos são os problemas ambientais que ocorrem hoje em função da

geração e disposição inadequada de resíduos. Como exemplo disso pode-se citar

contaminações de solo e água, condições insalubres para diversas pessoas que

residem perto de lixões e ainda há a questão das enchentes, em que muitas vezes o

excesso de lixo entupindo bueiros faz com que ruas e comunidades inteiras fiquem

alagadas.

Em nosso cotidiano - no ambiente familiar, de trabalho ou em sala de aula -

estamos rodeados por pessoas com desconhecimento e dúvidas de onde dispor

adequadamente o lixo que geram. Muitas vezes não possuem conhecimento daquilo

que pode ou não ser reaproveitado ou, os que têm conhecimento, muitas vezes não

sabem como praticá-lo.

Claro que os problemas ambientais não se resumem apenas à questão dos

resíduos mas, sem dúvida, é um tema que nos permite trabalhar e abranger diversas

questões sociais, tais como o consumismo exagerado, a questão social dos

catadores de lixos e alguns aspectos econômicos como o desperdício de recursos,

por exemplo. Desta forma trata-se de uma temática potente a ser trabalhada de

maneira interdisciplinar, permeando as diversas áreas do conhecimento através de

estudos dirigidos e adequados para a faixa etária na qual se deseja trabalhar.

Ao pensarmos em problemas ambientais como parte da nossa sociedade ou

comunidade, os quais precisam urgentemente de uma solução já que todos são

afetados, é que surge a importância da Educação Ambiental. Para que possamos

alcançar na sociedade uma efetiva mudança de hábitos e sensibilização das atitudes

é necessário que tenhamos em algum momento um processo de educação nesse

sentido.

De acordo com Souza e colaboradores (2012) é necessário que se busque

políticas e mecanismos para sanar essas questões ambientais, principalmente no

que se refere ao problema do lixo. Nas palavras dos autores:

Tais políticas e mecanismos devem perpassar, inequivocamente, pela busca da educação da população no sentido da conservação do meio ambiente, não só em benefício da presente como das futuras gerações, ou seja, perpassam pela educação ambiental. Educação ambiental essa que envolve não somente a mudança de pensamento, mas, sobretudo, a

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mudança de atitude tanto no que se refere à produção (quantidade) quanto à destinação final dada aos resíduos (qualidade). (SOUZA et al., 2012, p 84)

Nas escolas, a educação ambiental não faz parte do ensino formal, conforme

afirma Dacache (2004). De acordo com a autora, na teoria, a Educação Ambiental

não deveria se tornar mais uma disciplina do currículo da educação formal e sim, o

meio ambiente deveria, como tema transversal, permear todas as disciplinas em

busca de uma interdisciplinaridade.

Conforme afirmação de Medeiros e colaboradores (2011, p.2):

As questões ambientais estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade, contudo, a educação ambiental é essencial em todos os níveis dos processos educativos e em especial nos anos iniciais da escolarização, já que é mais fácil conscientizar as crianças sobre as questões ambientais

do que os adultos. (MEDEIROS et al., 2011, p. 2):

Nesse sentido, elegeu-se a temática Educação Ambiental na educação infantil,

entendendo-se que trabalhar com crianças pode fazer com que se tornem desde já

conscientes em relação ao ambiente e com atitudes responsáveis em relação ao

mesmo.

A importância desse trabalho está não somente na construção de novos

conhecimentos, mas também na ideia de fomentar a discussão a respeito de

problemas ambientais e qual a nossa incumbência quanto à eles, uma vez que o ser

humano também é parte deste ambiente e deve preservá-lo, cuidá-lo e mantê-lo

para que as próximas gerações também possam usufruí-lo, bem como todas as

outras espécies.

Dentre todas as questões que poderiam ser trabalhadas envolvendo educação

ambiental, foi pensada como sendo um bom começo no despertar dos cuidados

ambientais a coleta seletiva do lixo, uma prática que pode ser adotada tanto em

casa quanto no ambiente escolar das crianças. Outro aspecto relevante é o fato de

alguns impactos ocasionados pela disposição inadequada do lixo, como por exemplo

as enchentes, fazer parte do cotidiano dos estudantes. Trazer assuntos relacionados

com o cotidiano deles, faz com que a aprendizagem seja significativa e possibilite

com que façam assimilações e construam conhecimento nesse sentido.

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Este trabalho aborda o tema “Educação Ambiental nas séries iniciais” e tem

como principal objetivo sensibilizar as crianças sobre a importância de preservarmos

o ambiente, iniciando com a separação correta do lixo que produzem.

No desenvolvimento deste trabalho almeja-se responder a seguinte questão: É

possível que crianças, na faixa etária de 6 anos, construam conhecimento na área

de gestão de resíduos, desenvolvendo assim a preocupação e o cuidado com o

meio ambiente através de atitudes responsáveis?

No intuito de responder a esta pergunta, desenvolveu-se com estudantes do 1º

ano do Ensino Fundamental, algumas práticas pedagógicas adequadas para essa

faixa etária, buscando desenvolver noções de cuidado e preservação ambiental,

relacionar os impactos do lixo na natureza e incentivar a separação correta do

mesmo. Considerando então diversos conceitos estabelecidos, procurou-se elaborar

práticas pedagógicas que relacionam questões cotidianas auxiliando assim as

crianças na construção de novos conhecimentos e na sensibilização para a questão

em foco nesse estudo.

Este trabalho de conclusão de curso está dividido em quatro partes:

Referencial Teórico – onde se aborda os pensamentos de alguns teóricos sobre

educação ambiental e o que trazem os documentos legais sobre o tema. Dessa

maneira, busca-se justificar a importância dessa temática através da proposta de

implementação da separação de lixo no ambiente escolar, assim como discutir a

construção de conhecimento por crianças nessa faixa etária, considerada a fase da

vida em que se inicia a educação formal.

Metodologia – em que é registrado o tipo de pesquisa utilizada para o

desenvolvimento deste trabalho, o qual se trata de um estudo de caso, do mesmo

modo como a forma pela qual se deu seu desenvolvimento.

Análise das Atividades – no qual se apresentam as práticas implementadas e a

análise dos dados levantados neste estudo de caso, discutindo os resultados obtidos

através das práticas pedagógicas utilizadas.

Considerações Finais – onde são analisados os resultados obtidos no

desenvolvimento desta pesquisa, sinalizando aproximações e distanciamentos entre

o que aponta a teoria e o que foi alcançado com o desenvolvimento dos trabalhos

propostos e possíveis respostas à questão direcionadora deste estudo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A problemática envolvendo a questão da degradação ambiental tornou-se, nas

últimas décadas, foco de intensas discussões em âmbito mundial. Tais discussões

envolvem desde a análise dos fatores que tem propiciado esse processo de

degradação ambiental, passando pela consequência dessa degradação para a

sociedade humana e para o próprio meio ambiente, até os possíveis meios para sua

solução (Souza et al., 2012).

A sociedade encontra-se num momento em que cada vez mais se faz

necessário uso de recursos naturais, normalmente não renováveis, de forma a

atender a demanda sempre crescente da população. Segundo Souza e

colaboradores (2012), a poluição oriunda de indústrias e veículos, o crescimento

acelerado da sociedade de consumo que consequentemente produz e descarta

grandes quantidades de resíduos, quantidades essas que o meio ambiente não tem

dado conta de absorver, são os principais fatores responsáveis pelo nível de

degradação ambiental da atualidade.

A partir do momento em que grandes quantidades de lixos são geradas e

destinadas de maneira inadequada, constitui-se um grave problema ambiental, que

afeta o solo, lençóis freáticos além da proliferação de doenças e diversas condições

insalubres principalmente a quem reside ou tira seu sustento dos lixões. Há ainda a

questão das enchentes, em que muitas vezes o excesso de lixo que entope bueiros

faz com que ruas e comunidades inteiras fiquem alagadas.

Segundo a pesquisa Nacional de Saneamento Básico do ano de 2008, do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registra-se que em 50,8% dos

municípios brasileiros o destino dos resíduos sólidos é realizado em vazadouros a

céu aberto (lixões). A pesquisa ainda traz dados de que diariamente são produzidas

no Brasil aproximadamente 3070 toneladas de lixo, sendo que apenas 37

toneladas/dia são destinadas às unidades de triagem de resíduos recicláveis.

Ainda de acordo com o IBGE (2011) a reciclagem é uma alternativa para fazer

frente ao crescente volume de lixo produzido pela sociedade, contribuindo assim

para a preservação ambiental. No Brasil, embora centros de reciclagem estejam

presentes em grande número de municípios, ainda é um processo incipiente,

limitando-se a apenas alguns tipos de materiais. Além disso, a reciclagem é, em sua

maior parte, resultado da atividade de catadores e não consequência de um

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comprometimento mais profundo e generalizado da população e das autoridades

com o processo de separação e coleta seletiva do lixo.

A coleta seletiva é sem dúvida um fator importante para que o processo da

reciclagem seja efetivo.

Conforme afirmação de Dacache (2004):

[...] a questão do lixo envolve uma série de hábitos que não fazem parte da nossa cultura e teriam que ser adquiridos. Um exemplo é a prática da coleta seletiva, em que o lixo é separado, ainda na fonte, em materiais que serão posteriormente compostados, reciclados ou levados para aterros. (DACACHE, 2004, p. 42).

Em função da importância da separação do lixo, uma estratégia para uma

melhor e mais específica distinção dos diferentes tipos de resíduos pode facilitar o

processo de reciclagem. O CONAMA propõe a Resolução nº 275 de 2001,

estabelecendo o código de cores para diversos tipos de resíduos, adotados para a

identificação de coletores e transportadores. As cores estabelecidas na resolução

são as seguintes: verde - para vidros, amarelo - para metais, azul - para papel e

papelão, laranja - para resíduos perigosos, vermelho - para plástico, branco - para

resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde, marrom - para resíduos orgânicos,

roxo - para resíduos radioativos, preto - para madeira e cinza - para resíduo geral

não reciclável, misturado, ou contaminado não passível de separação, conforme

mostra Figura 1.

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Figura 1 - Cores para a coleta seletiva segundo Resolução Conama 275 de 2001

Fonte: lixo.com.br (2016).

Para que possamos praticar a coleta seletiva do lixo de maneira mais efetiva,

um fator importante é conhecermos as cores de cada lixeira relacionada ao tipo de

lixo que deve ser depositado em cada uma. Assim, optamos por apresentar isso

também aos estudantes.

Embora, segundo a pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008 do

IBGE, a existência de programas de coleta seletiva no País venha crescendo nos

últimos anos, de 451 programas em 2000 para 994 programas em 2008,

demonstrando grande avanço, ainda carecemos de investimento nesse setor. A

grande quantidade de resíduos ainda destinados de maneira inadequada indica,

sem dúvidas, a necessidade urgente de mudanças estruturais nesse campo

principalmente nas questões sociais, culturais e econômicas da sociedade.

Para muitos pesquisadores reestruturações na sociedade com novas

perspectivas de valores e mudanças de hábitos somente são possíveis através da

Educação Ambiental. Conforme afirmação de Dacache (2004, p. 12) “A educação

ambiental surge como alternativa para mudar o comportamento das pessoas em

relação ao meio ambiente”.

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Ainda sobre educação ambiental, Milaré (2004) acredita que a educação

ambiental, é um dos principais instrumentos para auxiliar na conscientização, ação e

consequentemente para a melhoria da qualidade de vida coletiva. Souza (2000)

enfatiza que a educação ambiental é uma atividade estratégica, por ser a opção

mais viável para o esclarecimento das novas gerações.

Souza e colaboradores (2012) acreditam que a educação da sociedade é de

fundamental importância para mudanças de atitudes, nas palavras dos autores:

A educação da sociedade sobre a importância da conservação ambiental é um passo importante para a conscientização e mudança de atitude tanto no que se refere à diminuição na produção de resíduos quanto na sua eficaz destinação, sobretudo no sentido de sua reutilização. (SOUZA et al., 2012, p. 82)

Segundo Medeiros e colaboradores (2011), a Educação Ambiental surgiu como

resposta às necessidades que não estavam mais sendo compreendidas pela

educação formal, ou seja, a educação ambiental deve contemplar valores,

conhecimentos, responsabilidades que permitam preparar os indivíduos para

exercerem sua cidadania. A expectativa é de que a inclusão da Educação Ambiental

nas escolas venha a trabalhar não somente com conceitos, informações e teorias,

mas com práticas, atitudes e formação de valores que possibilitem os estudantes a

praticar ações relacionadas à conservação ambiental.

Dos documentos legais para a educação ambiental elencamos os que

entendemos serem os mais significativos:

Em 1991, a Comissão Interministerial para a preparação da Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) considerou a

educação ambiental como um dos instrumentos da política ambiental brasileira.

Durante a Rio-92, com a participação do Ministério da Educação (MEC), também foi

produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental que, entre outras coisas,

reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos mais importantes para

viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e,

consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana (PRONEA, 2003).

Em 1994 foi criado, pela Presidência da República, o Programa Nacional de

Educação Ambiental (PRONEA), compartilhado dentre outros Ministérios, pelo

Ministério do Meio Ambiente e da Educação. No programa, MEC e IBAMA foram

responsáveis pelas ações voltadas ao sistema de ensino e à gestão ambiental.

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Em 1997, o Ministério da Educação elaborou uma nova proposta curricular,

denominada PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) que fortaleceu a importância

de se trabalhar educação ambiental como forma de transformação da consciência

dos estudantes. Os PCN trazem o meio ambiente como um tema transversal a ser

trabalhado nos currículos básicos do Ensino Fundamental, ou seja, é também uma

forma de integrar as diversas áreas do conhecimento.

Admitindo-se então a educação ambiental como potente ferramenta para

reestruturação da sociedade, tem-se nas escolas um fértil campo de trabalho.

Conforme afirmação de Medeiros e colaboradores (2011, p.2):

A Educação ambiental nas escolas contribui para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade. [...] É importante que, mais do que informações e conceitos, a escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a amar, respeitar e praticar ações voltadas à conservação ambiental. (MEDEIROS et al., 2011, p. 2)

Ou ainda de acordo com Souza e colaboradores (2012, p.2):

A escola é um importante instrumento de transformação social e de efetivação do processo ensino-aprendizado, por conseguinte, a mesma é um importante instrumento para a efetivação da mudança de pensamento e atitude no sentido do cuidado para com o meio ambiente, ou seja, para a promoção da educação ambiental. No entanto, não basta apenas falar sobre educação ambiental ou praticar ações nesse sentido dentro dos muros da escola, é preciso estendê-la para a prática social cotidiana, com a finalidade de desenvolver uma consciência ambiental. (SOUZA et al., 2012, p. 2)

Acreditando ser a escola uma formadora de opiniões, justifica-se a importância

de trabalhar temas ambientais como coleta seletiva e reciclagem, por exemplo,

nesse espaço. Sendo o ambiente escolar a fonte da conscientização da

comunidade, é neste ambiente que as ideias mobilizadoras ganham força (Pawlas e

Miguel, 2011).

A partir dessa realidade onde une-se a importância da educação ambiental

para a sociedade concomitante ao papel da escola como formadora de opinião e

instrumento de transformação social, torna-se interessante iniciar o processo de

aprendizagem já na Educação Infantil. Segundo Link e colaboradores (2012) para

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tais reestruturações é necessário iniciar o processo de educação ambiental nos anos

iniciais da vida escolar da criança. Nas palavras das autoras:

[...] para que isso (mudanças de comportamentos, valores e atitudes) possa acontecer, é necessário mudar a atitude da população e é importante iniciar essa mudança nos primeiros anos de vida escolar da criança. Assim sendo, a Educação Infantil proporciona nessa primeira etapa de sua vida um desenvolvimento do saber, a criança está sempre disposta a aprender tudo e, portanto, devemos aproveitar esse momento para desenvolver o respeito ao meio, que é fundamental para a aprendizagem e que será levada por toda a vida, pois, além de entender, aprendem a valorizar e amar o meio ambiente. (LINK et al., 2012, p. 1306).

Em função do modelo de sociedade, principalmente no que refere-se à inclusão

da mulher no mercado de trabalho, cada vez mais cedo as crianças estão inseridas

no ambiente escolar, avançando cada vez mais rápido na busca por informações e

conhecimento. Concomitante a isso, tem-se as atividades de conscientização e

humanização do indivíduo.

Neste contexto, a escola torna-se desde muito cedo um dos primeiros espaços

onde a criança convive com outras pessoas e passa a estabelecer suas primeiras

experiências de interação com a sociedade. Sobre as crianças e seu

desenvolvimento, Link e colaboradores (2012, p. 1306) afirmam “Sua natureza,

portanto, por si só, já é observatória e curiosa, e seu desenvolvimento se da através

de descobertas que envolvem a escola e seu meio em que vive, estabelecendo

relações de vivência com o mundo que a cerca”.

Ainda segundo Schunemann (2010), nessa fase da vida torna-se importante

trabalhar atividades relacionadas a questões ambientais, justamente por ser a etapa

onde a criança apresenta-se curiosa e observadora. Nas palavras da autora:

A criança é naturalmente curiosa e observadora, sendo que seu desenvolvimento ocorre através das descobertas que faz e das relações que estabelece com o mundo que a cerca. Dessa forma, torna-se muito importante desenvolver atividades que lhes possibilitem entrar em contato com temas referente às questões ambientais e todas as demais áreas do conhecimento permitindo desde cedo eles despertarem para temas importantes que dizem respeito a toda humanidade. (SCHÜNEMANN, 2010, p. 11)

Esse contexto sinaliza para a importância de trabalhar a temática de Educação

Ambiental já na Educação Infantil, com intuito de sensibilizar as crianças para as

questões de cuidado com o ambiente, a fim de que se tornem adultos conscientes

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sobre suas responsabilidades em relação ao mesmo. Conforme afirmam Medeiros e

colaboradores (2011, p. 16), “É conscientizando o indivíduo que o convívio entre as

pessoas e o ambiente pode melhorar.” Lembrando que, fazer com que as crianças

adquiram determinados hábitos é mais fácil do que em relação aos adultos, que já

possuem seus hábitos e costumes bem definidos e, portanto, mais difíceis de serem

modificados.

Ainda de acordo com a afirmação de Pawlas e Miguel (2011, p. 8) “As crianças

observam muito tudo o que veem a sua volta e, por isso, cobram das ‘pessoas

adultas’ ações mais positivas” ou ainda segundo Link e colaboradores (2012, p.

1306):

As crianças de hoje são o nosso futuro, pois através de comportamentos ambientalmente corretos vivenciados na escola podem adquirir formação adequada e, em consequência, responsabilidade pelo meio ambiente. Assim, desde a infância, estimuladas a tomar atitudes conscientes e compartilhar responsabilidades, no futuro; farão parte de uma sociedade mais justa, responsável e conscientizados de seus papéis como atores sociais. (LINK et al., 2012, p. 1306)

A Educação Infantil não é uma fase da vida onde as crianças devem

exclusivamente brincar e receber cuidados e sim uma fase onde é importante que

elas sejam estimuladas e instigadas sobre tudo o que ocorre no mundo, de modo

que possibilite tornarem-se adultos conscientes de seu papel na sociedade.

(SCHÜNEMANN, 2010).

Assim sendo, podemos ver que há, nas crianças, um campo fértil de trabalho

no que diz respeito à sensibilização para questões ambientais. Logo, é de elevada

importância estabelecer estratégias que relacionem situações cotidianas com ideias

de preservação ambiental a fim de tornar a aprendizagem significativa. “O educador

ao ligar o conteúdo das ciências às questões do cotidiano torna a aprendizagem

mais significativa.” (MEDEIROS et al. 2011, p. 2).

Lorenzetti (2002) acredita que cabe ao ensino de ciências promover a

formação integral do cidadão, como ser pensante e co-responsável pelos destinos

da sociedade, considerando de extrema importância que todos os indivíduos

recebam uma formação mínima em ciências para que aprendam assim a viver na

sociedade em que estão inseridos. Considera ainda, importante este ensino nas

séries iniciais.

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Conforme afirmação do autor:

(...) a alfabetização científica proposta para o ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais será compreendida como o processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquire significados, constituindo-se um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de conhecimento, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade. Estes conhecimentos adquiridos serão fundamentais para a sua ação na sociedade, auxiliando-o nas tomadas de decisões que envolvam o conhecimento científico. (LORENZETI, 2002, p. 86).

A partir do entendimento de que a alfabetização científica pode se dar desde as

séries iniciais, que quanto mais cedo for proporcionada uma compreensão dos

conceitos da ciência e do que ocorre no mundo ao seu redor mais zelo pelas

questões ambientais é possível desenvolver e, potencialmente, mais apto um

indivíduo será a influenciar positivamente a sociedade é que reafirma-se a

importância dessa pesquisa.

A fim de que os entendimentos de ciências que se desejava construir com as

crianças pudessem se converter em aprendizagem significativa procurou-se

estabelecer práticas pedagógicas efetivas que auxiliassem os estudantes a

estabelecer ligações entre situações do seu cotidiano e o ensino de ciências sempre

vinculadas às capacidades de aprendizagem das crianças. Para tanto, em algumas

atividades preocupou-se em pautar o início das discussões em acontecimentos do

cotidiano desses estudantes, pois como nos indica Lorenzeti:

As atividades desenvolvidas nas aulas de Ciências constituir-se-ão em atividades significativas, se planejadas adequadamente pelos professores, tendo-se clareza da sua importância e de como o professor deverá desenvolver as suas iniciativas, para que estas atividades sejam sistematizadas de forma a propiciar um ganho cognitivo. Ou seja, as atividades devem propiciar a construção de novos conhecimentos, tendo em vista os conhecimentos que os alunos já possuem, permitindo que eles entendam a ciência e apliquem estes conhecimentos em outros contextos e também em outras disciplinas. (LORENZETI, 2002, p. 87).

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3 METODOLOGIA

Esta pesquisa se constitui como um estudo de caso, com caráter exploratório

no qual se trabalhou com coleta de dados. Gomes (2008) considera que o estudo de

caso é frequentemente escolhido como alternativa para pesquisas envolvendo

fenômenos educativos.

Conforme Gil (2002):

Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torna-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. (GIL, 2002, p. 41)

O método utilizado para a coleta dos dados foi experimental, visto que foram

aplicadas diversas práticas pedagógicas em uma turma de crianças na faixa etária

de 6 anos em uma Escola de Ensino Fundamental, da rede particular, na cidade de

Esteio/RS. Tal turma era composta por 27 crianças do primeiro ano e a coleta de

dados foi realizada durante a disciplina de Estágio Supervisionado IV.

As práticas foram realizadas após uma revisão bibliográfica sobre o tema a fim

de conhecer a temática na visão de alguns teóricos.

3.1 Atividades desenvolvidas

Durante a disciplina de Estágio Supervisionado IV, desenvolveu-se um projeto

pedagógico, onde diversas práticas foram planejadas e aplicadas com crianças do

primeiro ano. O projeto teve duração de um mês, onde foram realizadas seis etapas

de trabalho.

Projeto é um caminho em construção onde inúmeras etapas são seguidas para

posteriormente alcançar o resultado que se almeja. Tratando-se de educação,

projeto pode ser o alicerce do conhecimento, onde os aprendizes, através de cada

etapa desenvolvida, formam um esqueleto do objeto desejado e a partir deste,

passam a trocar ideias e experiências alcançando assim o resultado almejado que

neste caso é a aprendizagem. (Monteiro, Oliveira, Rondon, 2013).

Segundo Monteiro, Oliveira, Rondon (2013) ainda:

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[...] a prática educativa com projetos tem muito a colaborar no processo de ensino/aprendizagem, principalmente na primeira etapa da educação básica (educação infantil), que por sua vez, acolhe os futuros cidadãos de uma sociedade tão exigente. Esta ferramenta é um importantíssimo ingrediente para o amadurecimento das habilidades e potencialidades dos pequenos aprendizes, pois é durante as etapas do projeto que as crianças participarão ativamente do seu próprio conhecimento, tornando-se protagonistas das suas próprias descobertas. (MONTEIRO, OLIVEIRA, RONDON, 2013, p.42)

Com base nesse contexto, inicialmente buscou-se contextualizar o tema

“geração de lixo” e seus impactos no meio ambiente, averiguando e aproveitando o

conhecimento das crianças sobre o assunto para relacionar o assunto com situações

cotidianas vividas por elas. Após, foi introduzido o tema “separação de lixo” através

de diversas atividades, inclusive de memorização para tipos de resíduos e cores das

lixeiras. Passamos então para a construção de lixeiras para separação do lixo em

sala de aula e no pátio da escola.

As atividades desenvolvidas em cada uma das etapas são descritas a seguir:

ETAPA 1 - Abordagem do tema através de conversação em sala de aula.

Levantamento do conhecimento prévio das crianças a respeito e breve abordagem

sobre Aterro sanitário e lixão. Após fizeram um desenho livre com o título: “Desenhe

sobre o lixo”.

ETAPA 2 - Vídeo da turma da Mônica “Um plano para salvar o planeta”. Após o

vídeo um pequeno debate sobre os assuntos levantados no material audiovisual

construindo relações com o cotidiano das crianças.

ETAPA 3 - Atividade de identificação e construção do conhecimento referente

a diferenciação de lixo seco e lixo orgânico.

ETAPA 4 - Construção de um mural para ser colocado no pátio da escola a fim

de sensibilizar os demais estudantes sobre a separação do lixo.

ETAPA 5 - Pintura de lixeiras que foram disponibilizadas na sala de aula e

pátio da escola a fim de que iniciasse a separação do lixo.

ETAPA 6 - Apresentação aos demais estudantes da escola com uma música

da Turma da Mônica “É preciso Reciclar”.

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4. ANÁLISE DAS ATIVIDADES

Com intuito de dimensionar o prévio conhecimento das crianças a respeito do

lixo e instigar o raciocínio a respeito dos problemas ocasionados pela geração do

mesmo realizou-se uma conversação em sala de aula. Nesta, também foram

apresentadas algumas imagens/ gravuras com exemplos de cidades limpas, sujas e

bueiros cheios de lixo, entre outras.

As primeiras imagens apresentadas foram de uma cidade limpa e uma cidade

suja. Perguntei qual eles preferiam, ou qual achavam mais bonita. A resposta foi

unânime em dizer que preferiam a cidade limpa. Em seguida, mostrei uma imagem

de uma praia cheia de lixo no chão. Perguntei se gostariam de ir à uma praia

daquele jeito e todos responderam que não. Questionei porque a praia estava tão

suja e algumas crianças responderam “Está suja porque as pessoas jogaram lixo no

chão”.

Tendo em vista as frequentes enchentes ocorridas no bairro da escola e

também em bairros próximos onde a maioria das crianças mora, mostrei, então,

imagens de ruas com lixos nos bueiros. Perguntei se sabiam o que acontecia

quando os bueiros ficavam cheios de lixo e as respostas sinalizaram que eles já

sabiam que através disso era propícia a ocorrência das enchentes. Alguns alunos

relataram que suas casas ficaram alagadas por causa das chuvas e dos bueiros

cheios de lixo que as pessoas jogavam na rua. Mostrei então uma imagem de

enchente e perguntei se era isso que tinha acontecido. A resposta foi positiva.

Segundo Rodrigues (2007, p.8) “Considerar uma educação ambiental que

compreende princípios de uma educação democrática significa trabalhar com

conteúdos significativos para o aluno, conteúdos que estejam relacionados com a

comunidade na qual ele está inserido.” Discutir a enchente num momento em que

ela recém tinha acontecido e que impactou profundamente a vida dessas crianças,

tinha a intenção de mobilizá-las a uma maior reflexão do tema, relacionando a

problemática do lixo com algo relacionado ao cotidiano das crianças.

Segundo Martins (2009, p. 10):

A escola tem importância na formação de uma consciência crítica do indivíduo, de uma consciência ambiental, portanto deve trabalhar de forma que desenvolva o cognitivo e o afetivo juntos, para que provoque na criança um sentimento em relação ao meio, para que ele sinta-se tocado. Devem-se considerar as experiências de cada um, a realidade das crianças, para que

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consigam discutir e entender as questões ambientais. (MARTINS, 2009, p. 10)

Através dessa conversa inicial pude então perceber que a maioria deles trazia

uma ideia prévia referente aos problemas ocasionados pela disposição dos lixos em

locais inadequados.

Depois disso, perguntei se eles sabiam onde era o lugar certo de colocarem o

lixo e expliquei o caminho que o lixo fazia depois de eles colocarem na lixeira e o

lixeiro levar embora no caminhão de lixo. Expliquei brevemente que havia duas

hipóteses para o destino do lixo: lixão e aterro sanitário. As crianças estavam

atentas ouvindo as explicações. No intuito de fazer com que eles assimilassem que

existe um caminho a ser percorrido pelo lixo até seu destino final, comentei que em

alguns lugares existiam também algumas centrais de triagem, onde algumas

pessoas separavam aquilo que podia ser reaproveitado – foram apresentadas

imagens de lixão, aterro sanitário e um centro de triagem. Depois questionei de que

forma eles acham que poderíamos ajudar a fazer com que menos lixo fosse parar no

aterro ou lixão e como poderíamos ajudar a separá-los?

Algumas respostas: “minha mãe separa o lixo dos restos de comida lá na

minha casa”, “podemos transformar algumas coisas em outras coisas que podemos

usar de novo”.

Novamente foi possível perceber que algumas crianças já tem o conhecimento

a respeito da separação do lixo e que de alguma forma isso contribui de maneira

positiva para a preservação do meio ambiente. Quando a criança diz “minha mãe

separa o lixo dos restos de comida” parece haver uma confusão onde os restos de

comida, nesse caso, não seriam lixo, contudo é possível interpretar que tal

estudante esteja se referindo à separação entre lixo seco e lixo orgânico. É

importante que a criança construa assimilações, onde o “conteúdo” abordado em

sala de aula está sendo relacionado com comportamentos ou atitudes praticadas em

casa. Conforme afirmação de Souza (2000), para desenvolver uma consciência

ambiental é necessário que as ações nesse sentido ocorram além dos muros da

escola.

Na frase “podemos transformar coisas em outras coisas que podemos usar de

novo” podemos perceber que mesmo a criança não sabendo especificar que ela

está falando sobre reciclagem, a ideia do reaproveitamento se faz presente no

raciocínio e na construção do conhecimento dela.

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Mostrei para eles uma imagem de lixeiras de coleta seletiva questionando se

eles já haviam visto alguma vez, alguns disseram que sim, outros disseram que

nunca. Então expliquei para que servia a diferenciação das cores e que tipo de lixo

colocávamos em cada uma delas.

Quando terminei de mostrar as imagens, distribui uma folha para que eles

fizessem um desenho livre sobre o lixo. Meu intuito foi de tentar perceber se havia

acontecido algum processo de construção de conhecimento através dessa conversa

inicial, já que o desenho está diretamente relacionado ao processo de aquisição de

novas aprendizagens. Conforme Andrade e colaboradores (2004, p.4) “Desenhar é

um ato inteligente de representação que põe forma e sentido ao pensamento e ao

conteúdo que foi assimilado”.

Dentre os desenhos elaborados pelas crianças, foram eleitos dois para

discussão, por acreditar serem os mais ricos nas identificações da construção do

conhecimento.

Figura 2 - Atividade “Desenhe sobre o lixo” – Desenho 1

1

1 De acordo com a Lei 12.305/2010, reutilizar é definido como um processo de aproveitamento dos

resíduos sem sua transformação biológica, física, ou físico-química como, por exemplo, utilizar os dois lados do papel. Já o termo reciclagem, pela mesma Lei, é definido como processo de transformação dos resíduos que envolve a alteração das propriedades físico-químicas, físicas ou biológicas. Embora entendamos que são conceitos diferentes utilizaremos os termos reciclagem e reuso indiferentemente, já que esse é o entendimento das crianças.

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No desenho da figura 2 podemos visualizar que a criança preocupou-se com as

cores e a representação do ambiente que é limpo e com bastante verde, árvore e

flores. Talvez possa significar que, para ela, o meio ambiente seja apenas esse

contexto de lugar ao ar livre, arborizado, já que é bastante comum a identificação de

meio ambiente apenas com o que é natural e não com o construído ou modificado

pela humanidade, e/ou que ela tenha tentado reproduzir ou ao menos “inspirar-se”

na representação acima da folha, onde o Cascão (personagem da Turma da

Mônica) está colocando um saco dentro da lixeira, também num ambiente externo e

“verde”.

Figura 3 – Atividade “Desenhe sobre o lixo”- Desenho 2

Na ilustração da figura 3 percebemos a representação de quatro lixeiras, no

objetivo de representar a coleta seletiva do lixo, tema abordado na conversa em sala

de aula. Observa-se também que no desenho não há cores, porém conforme

afirmação de Portugal (2016, p.7) referente a desenhos desenvolvidos nessa faixa

etária “Quanto à utilização de cores, pode-se usá-las, mas não há relação ainda com

a realidade, dependendo do interesse emocional”. Observa-se também que a

criança representou-se sozinha no desenho, o que poderia indicar um entendimento

de que sozinha resolveria o problema do lixo, sem conceber que essa deveria ser

uma atitude coletiva. Porém, devido as mais diversas interpretações possíveis dos

desenhos nessa faixa etária, a que seria mais adequada na tentativa de aprofundar

o significado dessa representação seria conversar com a criança, uma vez que,

segundo Pereira (2016, p. 5), “(...) a interpretação do desenho da criança depende

do olhar do intérprete e nesse contexto emerge a importância de se considerar o

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primeiro desses intérpretes, a própria criança, para que se possa compreender o seu

significado”, com tudo, em função do tempo disponível para a aplicação do projeto

isso não foi possível.

Embora diversas interpretações sejam possíveis para os desenhos infantis,

podemos identificar que as crianças atentaram-se para a questão do “lugar de lixo é

no lixo” e também na questão da separação de lixo, representando a coleta seletiva

em diferentes lixeiras, mostrando assim uma sensibilização e construção do

conhecimento referente ao tema abordado.

Uma vez concluída essa etapa inicial, as crianças assistiram o vídeo da turma

da Mônica: “Um plano para salvar o Planeta”, disponível em

https://www.youtube.com/watch?v=zjqcwkEX-ao.

A proposta do vídeo foi utilizar uma ferramenta atrativa para as crianças sendo

queos recursos audiovisuais atendem bem essa necessidade. Segundo afirmação

de Pontes (2013, p. 19):

A utilização dos recursos audiovisuais na escola e na sala de aula estimula a abertura de espaços ao mundo e ao contexto social em que convivemos [...] Os recursos audiovisuais e os conhecimentos agregam para que o sujeito possa causar novos conhecimentos, que consistam compreender as problemáticas atuais e ampliar projetos em busca de alternativas para a alteração do cotidiano e a construção da cidadania. Atualmente a utilização dos recursos audiovisuais vem em ritmo acelerado, tomando os lugares dos livros em sala de aula, além de serem bastante usadas pelos professores para tornar os conteúdos didáticos mais interessantes, descontraídos e menos exaustivos. (PONTES, 2013, p.19)

A proposta do vídeo foi muito interessante, pois o mesmo traz várias

problematizações de maneira lúdica e consequentemente de fácil entendimento para

as crianças. A figura 4 traz algumas ilustrações dos problemas levantados pelo

desenho.

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Figura 4 - Problemas ambientais – Imagens desenho Turma da Mônica

Poluição nas ruas, lixos jogados no chão

Óleo de cozinha sendo jogado na pia

Óleo de cozinha contaminando rios e

causando morte dos peixes.

Lixos e sacos plásticos que vão para os rios

Animais marinhos pensando que o lixo é

comida

Queimadas

Enchentes devido aos lixos

Contaminação dos rios

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Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=zjqcwkEX-aoApós o relato de diversos danos ambientais ocasionados por atitudes humanas, a história propõe soluções como a

utilização dos 3R’s – Reduzir, Reciclar e Reutilizar, o processo de reciclagem e como fazer a coleta seletiva exemplificando as cores das lixeiras e o que deve ser colocado em cada uma delas. O desenho apresentado finaliza com a ideia de que

todos juntos, através de atitudes positivas podemos “salvar o planeta”. Outras imagens do desenho são apresentadas na figura 5. Figura 5 - Ideias para salvar o

planeta – Desenho Turma da Mônica

Os 3R’s sendo apresentados pela Turma da

Mônica

As lixeiras da coleta seletiva

Exemplo do papel na lixeira azul

Exemplo do lixo orgânico na lixeira marrom

Necessidade de um processo específico

para que aconteça a reciclagem dos

produtos

Exemplo da triagem dos resíduos

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Turma da Mônica construindo lixeiras para

sensibilizar as pessoas no descarte do lixo.

Todos juntos podem salvar o planeta!

. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=zjqcwkEX-ao

Após assistirmos o vídeo, perguntei o que elas tinham achado do desenho e

foram unânimes em dizer que gostaram e ainda perguntaram se em outras aulas

poderiam assistir mais desenhos. Alguns pediram para ver episódios da Mônica

sobre o “capitão feio” porque ele também falava sobre “sujar as coisas”.

Posteriormente buscamos analisar o vídeo ao qual as crianças faziam menção.

O desenho do “capitão feio” traz diversas tramas onde o personagem em questão, o

capitão feio, passa a sujar toda a cidade com seus “raios de sujeira” e faz ameaças

de poluir o mundo inteiro. O papel da Turma da Mônica é lutar para que isso não

aconteça, onde unidos estabelecem estratégias para que o capitão não consiga

atingir seus objetivos. Tendo em vista a trama trazida por tal desenho, identificamos

então a relação criada pelas crianças ao dizerem “vamos assistir o desenho do

capitão feio, ele também fala sobre sujar as coisas”. Essa relação estabelecida entre

os dois vídeos sinaliza que as crianças buscaram criar uma relação entre o que elas

estavam aprendendo naquele momento com algo que já sabiam. Tal movimento

pode ser compreendido através da teoria da aprendizagem significativa. Conforme

Moreira (1997) a aprendizagem é significativa quando uma nova informação adquire

significado através da estrutura de conhecimento já existente para o aprendiz. Na

aprendizagem significativa a estrutura cognitiva do indivíduo está em constante

reestruturação. “O processo é dinâmico, o conhecimento vai sendo construído”

(Moreira, 1997, p.5).

Nas palavras do autor:

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A aprendizagem é dita significativa quando uma nova informação (conceito, ideia, proposição) adquire significados para o aprendiz através de uma espécie de ancoragem em aspectos relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, isto é, em conceitos, ideias, proposições já existentes em sua estrutura de conhecimentos (ou de significados) com determinado grau de clareza, estabilidade e diferenciação. (MOREIRA, 1997, p. 5)

Questionei o que eles lembravam do desenho e obtive respostas como “jogar

lixo no chão faz dar enchente”, “os lixos vão para o rio e matam os peixes”, “coitados

dos golfinhos”, “não podemos cuspir chicletes no chão do carro”. Perguntei se eles

achavam que as enchentes ocorridas no bairro recentemente poderiam ter alguma

relação com o lixo. Mais de uma criança respondeu que sim. “As pessoas jogam até

sofá no arroio lá perto de casa”. Percebe-se nessas falas que as crianças, embora

tenham em um primeiro olhar compreendido a ideia do que “não podemos fazer”,

ainda não assimilam a ideia do que “vamos fazer”. A única fala onde nota-se uma

atitude sobre “o que eu posso fazer para mudar isso?” é a criança que diz “não

podemos cuspir chicletes no chão do carro”. Num primeiro olhar esta frase pode

parecer boba, mas demonstra que a criança preocupa-se com aquilo que cabe a ela

fazer para mudar suas atitudes.

Perguntei o que podíamos fazer para tentar mudar esses problemas.

Respostas como “não jogar lixo no chão”, “reciclar”, “usar dois lados das folhas”,

“não colocar coisas no arroio e nos rios” foram ouvidas. Também “colocar os lixos

nas lixeiras coloridas”. Aproveitei então para questionar quais lixos eles geravam na

sala de aula. Citaram exemplos como “resto de bolo”, “papel de salgadinho”, “papel

de bolacha”, “canudinho”, “copo de refri”, “lata de refri”, “caixa de suco” e “caixa de

todinho“.

Conforme iam falando eu escrevia no quadro, e na sequência eu questionei

sobre que tipo de lixo tratava-se cada item, se era papel, plástico, orgânico, etc. De

acordo com a resposta dos alunos eu indaguei qual era a cor da lixeira e escrevi no

quadro. Ex.: Resto de bolo – Orgânico – Marrom. Com essa atividade foi possível

iniciar uma identificação e memorização sobre os diferentes tipos de lixos e que

esses devem ser dispostos separadamente. A grande maioria das crianças referia-

se de forma correta aos que eram orgânicos, papel ou plástico, mas faziam confusão

na questão das cores, sendo necessário sempre corrigí-los e lembrá-los da cor

correta antes de escrever no quadro.

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Embora tenham sido apresentadas para as crianças todas as cores das lixeiras

da coleta seletiva, na sala de aula e no pátio o planejamento foi colocar apenas

lixeiras para separar o lixo seco do orgânico. Isto porque o espaço em sala de aula

não é amplo o que impossibilita distribuir vários recipientes de coleta. Além disso, o

custo tornar-se-ia muito oneroso nesse primeiro momento. Na etapa seguinte, então,

realizou-se uma atividade de recorte e colagem, no intuito de exercitar sobre que

tipos de lixo são descartados na lixeira de lixo orgânico (marrom) e quais são no lixo

seco (azul). Para essa atividade levei encartes de supermercado e revistas de casa.

Distribui para todas as crianças junto com folhas de ofício com uma divisão

indicando o lado esquerdo referente ao lixo orgânico e o lado direito ao lixo seco.

Algumas crianças apresentaram bastante dificuldade de trabalhar com a cola e

necessitaram de ajuda. Muitas questionaram onde colar cada coisa, ou perguntavam

apenas na confirmação “copo plástico é lixo seco né profe.”, mas a maioria

apresentou facilidade em identificar os resíduos. Uma dúvida que surgiu para muitas

crianças foi, por exemplo, ao encontrar uma figura de salgadinho, “Será que

colocamos no lixo seco porque é a embalagem do salgadinho ou no lixo orgânico

porque é o salgadinho?” demonstrando dessa forma que estavam realmente

fazendo uma reflexão e buscando novas informações. Segundo pensamento de

Piaget apud Schünemann (2010), a criança está sempre em busca de novos

conhecimentos. Nas palavras da autora:

[...] a criança está em constante processo de crescimento e desenvolvimento de suas capacidades, em busca de conhecimento. Cabe ao educados, para que o processo ocorra da melhor forma, aproveitar todos os momentos em todas as atividades desenvolvidas, provocando suas habilidades e ajudando-a a tornar-se um ser completo. (Piaget apud Schünemann, 2010, p.22)

Debatemos então, se ao olhar a imagem estávamos vendo o salgadinho ou a

embalagem. Acordamos que estávamos vendo a embalagem e então esta deveria

ser colocado no lixo seco.

Com essa atividade, identifiquei que estava clara, para a maioria das crianças,

a questão da separação do lixo. Na figura 6 é possível observar alguns trabalhos

depois de prontos.

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Figura 6 – Atividade “Separe o lixo corretamente”

No desenvolvimento da etapa seguinte as crianças participaram da construção

de um mural que foi disposto em uma parede próxima à cantina da escola. No mural

colocamos algumas imagens de lixeiras construídas em EVA, sendo uma azul para

o lixo seco e outra marrom para o lixo orgânico. Seguinte a isso, as crianças colaram

algumas figuras exemplificando os tipos de lixo para dispor em cada uma das

lixeiras.

Após a conclusão do mural iniciamos a pintura das lixeiras, como mostra a

figura 7. Para isso, cortei algumas bombonas plásticas para que ficassem em um

formato adequado. Essa atividade causou muita alegria nas crianças, sendo que

algumas estavam eufóricas para iniciar a pintura. Segundo afirmam Medeiros e

colaboradores (2011, p. 9), “As atividades que as crianças podem tocar, transformar

objetos e materiais trazem mais prazer ao desenvolver tais tarefas exigidas pela

educadora”.

Figura 7 – Crianças pintando as lixeiras

Fonte: Autoria própria, 2016.

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De maneira organizada todas as crianças participaram da pintura, onde

finalizamos duas lixeiras para a sala de aula e duas para o pátio, que foram

alocadas abaixo do mural construído pelas crianças, como apresentado na figura 8.

Figura 8 – Mural colocado no pátio da Escola

Fonte: Autoria própria, 2016.

A finalização das atividades deu-se pela apresentação das crianças para

demais estudantes da escola cantando uma música da Turma da Mônica chamada

“É preciso reciclar”, por se tratar de uma atividade prazerosa para as crianças, que

adoram música, adoram cantar e fazer apresentações. Segundo pensamento de

Stabile citado por Estevão (2002, p. 34), “a música e a dança permitem a expressão

do gesto e pelo movimento, que traz satisfação e alegria. A criança aprende e se

desenvolve através dela”.

As crianças reuniram-se então no pátio para formar a fila, rito antes de entrar

na sala de aula. Após a oração do dia, a professora titular da turma informou que os

alunos, juntamente comigo, fariam uma apresentação. No início todos encabulados,

mas ao começar a música cantaram bem alto e com bastante empolgação (Fig. 9).

Alguns pais ficaram no pátio da escola para assistir a apresentação. Após cantarem

a música, conduzi as crianças até próximo da cantina para mostrar as lixeiras que a

turma do primeiro ano havia construído. Perguntei se alguém poderia dizer quais

lixos deveriam ser colocados em cada lixeira, e uma das crianças explicou olhando

para o mural que colamos na parede, quais lixos devem ser colocados na lixeira azul

e quais na marrom. Concluindo essa atividade, observei a empolgação das crianças

em sentirem-se importantes e orgulhosas pelo trabalho que fizeram.

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Figura 9 – Crianças na apresentação

Fonte: Autoria própria, 2016.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento desta pesquisa, verificamos que temas

relacionados com problemáticas ambientais têm sido objeto de muitos estudos e

discussões, sendo em sua maior parte numa perspectiva de encontrar soluções que

minimizem danos causados ao meio ambiente. Nesse sentido, a Educação

Ambiental se apresenta como sendo uma potente ferramenta de trabalho no intuito

de almejar tal objetivo.

Ao longo desse estudo se pode observar também que o papel da escola

enquanto formadora de opinião é de grande importância no desenvolvimento de

ações relacionadas à Educação Ambiental.

Por meio das práticas aplicadas, pode-se considerar que trabalhar Educação

Ambiental nas séries iniciais, através da coleta seletiva do lixo pode sim tornar as

crianças grandes motivadoras de mudança de atitudes. Segundo relatos da

Supervisora da Escola, ao entregar minha avaliação no desempenho do estágio,

alguns pais questionaram a professora titular da turma sobre o que estava

trabalhando em sala de aula, pois o filho em casa queria separar o lixo e ensinar a

eles o que deveriam colocar em cada lixeira. Confirmando ideias de diversos autores

que afirmam serem as crianças ávidas na busca de conhecimentos e tudo que

aprendem tendem a levar para dentro de suas casas e repassando conhecimento a

toda família. Conforme afirmação de Souza e colaboradores (2012, p. 2):

A escola é um importante instrumento de transformação social e de efetivação do processo ensino-aprendizado, por conseguinte, a mesma é um importante instrumento para a efetivação da mudança de pensamento e atitude no sentido do cuidado para com o meio ambiente, ou seja, para a promoção da educação ambiental. No entanto, não basta apenas falar sobre educação ambiental ou praticar ações nesse sentido dentro dos muros da escola, é preciso estendê-la para a prática social cotidiana, com a finalidade de desenvolver uma consciência ambiental. (SOUZA et al., 2012, p. 2).

Em contato com professoras da Escola, soube que em determinado momento,

as lixeiras construídas para a sala de aula haviam sido destinadas a conter algumas

goteiras da sala de aula. A professora afirmou que de imediato as crianças

demonstraram-se “revoltadas” com tal situação, pois “onde iriam colocar o lixo

agora?”, “Tudo junto?”. Demonstrando que houve comprometimento e

responsabilidade por parte das crianças no que se refere à questão da separação do

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lixo e considerando assim, respondida a questão norte desse estudo “É possível que

crianças, na faixa etária de 6 anos, construam conhecimento na área de gestão de

resíduos, desenvolvendo assim a preocupação e o cuidado com o meio ambiente

através de atitudes responsáveis?”.

Encerro esta pesquisa acreditando que trabalhar a temática com crianças,

sendo elas “o futuro do país”, pode fazer com que mudanças estruturais na

sociedade ocorram através da formação de futuros adultos com atitudes e

responsabilidade em relação ao ambiente que vivem.

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REFERÊNCIAS

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