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    Palavras-chave:Educador Social, Reconhecimento Profis-

    sional, Identidade Profissional.

    Resumo

    Com este artigo pretende-se reflectir algumas das questesque se prendem com a identidade e reconhecimento daEducao Social.Conscientes da importncia da interveno que o Edu-cador Social tem em contextos de educao no formal,quisemos contribuir com algumas anlises que podero

    esclarecer e dar a conhecer o seu papel profissional. Este um exerccio que necessita ser continuado, tal a neces-sidade de se divulgar o seu perfil e as suas competnciasprofissionais.Os desafios que se lhe colocam, para se afirmarem no ter-reno e junto de outros profissionais com formaes afinsso muitos, o que significa a importncia do esforo quetodos (Instituies, Formadores, Utentes, Polticos, Edu-cadores Sociais) teremos de fazer para a dignificao ereconhecimento do seu trabalho a favor de uma sociedadedo bem estar.

    La actividad profesional en educacin social supone una funcin pblicareconocida y acreditada con la titulacin pertinente, que a partir del uso demetodologas y tcnicas apropriadas intenta cumplir con la normativalaboral vigente (Petrus,1997)

    Ser Educador Social , hoje, um desafio que importa reco-nhecer e valorizar pelos enormes benefcios da sua aconuma sociedade de bem estar. O relativo desconhecimentodo potencial interventivo/educativo deste profissional,leva-nos a pensar com o leitor nalguns desafios queeste profissional ter de enfrentar para se dar a conhecer econquistar o seu espao de interveno.Vejamos alguns desses desafios:

    1)Reconhecimento do estatuto

    profissional do Educador SocialA profisso de Educador Social, por ser recente, aindano conseguiu uma divulgao e uma imagem suficien-temente conhecida pela sociedade em geral e pelos espa-os de trabalho em particular. A esta dificuldade acresce,ainda, o facto da existncia de outros profissionais dombito do trabalho social, nomeadamente os Assisten-tes Sociais e os Animadores Scio-Culturais com apa-rente semelhana entre ttulos, o que justifica o esforoque necessrio desenvolver no sentido de clarificarfunes, em prol da sua identidade profissional, sem

    descurar a importncia das atitudes de colaborao e detrabalho multidisciplinar entre todos estes profissio-nais. A ampla diversidade dos contextos e das popula-es com quem interage dificulta, tambm, a definioprofissional do Educador Social, o tipo de tarefas quepoder desempenhar e a delimitao do seu campo deinterveno.Trabalhando isolado ou em rede, o Educador Socialcaracteriza-se pela enorme capacidade de percepcionara realidade, reflectir, adaptar-se s dificuldades e encon-trar sadas possveis para os mltiplos problemas de

    mbito social. Por isso, a sua formao profissionaldever ser rigorosa articulando o conhecimento, a for-mao pedaggica reflectida com uma cultura actual ecrtica, fundamental leitura e compreenso do mundo, capacidade de orientao e deciso que, a cadamomento, ter de tomar. O seu perfil, estruturado pelossaberes ser, estar e fazer, confere-lhe um conjunto decompetncias que o tornam capaz de agir tcnica epedagogicamente, com sensibilidade social e tica. Sub-jacente aos seus modelos de interveno est a culturapedaggica destes profissionais que, com arte, criativi-dade, oportunidade, entusiasmo, responsabilidade edinamismo so capazes de, sabendo interpretar a reali-dade social, proporcionar caminhos de realizao, inte-

    Alguns desafios que se colocam Educao Social

    Ana Maria A. Serapicos de Borda CardosoEscola Superior de Educao de Paula Frassinetti

    [email protected]

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    grao e desenvolvimento pessoal. Face a outros saberes

    profissionais mais especializados, e eventualmenteredutveis a uma linguagem tcnica, o saber pedaggicooferece (ao Educador Social) instrumentos conceptuaisde carcter abrangente, de acordo com as exigncias daactividade educativa, valorizada simultaneamente comoarte, como cincia, como tcnica e como filosofia (Car-

    valho, Adalberto Dias de; Baptista, Isabel, 2004: 83)A sua formao cientfico cultural requer uma fortepreparao para a caracterizao das realidades sociais,para a concepo e desenvolvimento de projectos scio educativos, para a articulao entre equipamentos sociais,instituies e servios, para ser interface com pessoas e

    grupos de outras especialidades, para o trabalho emequipa, para assumir a direco de instituies e a coorde-nao de projectos de interveno, para a interveno emcontextos variados, para a cooperao ao nvel do desen-

    volvimento e colaborao com instncias internacionaisO reconhecimento do seu estatuto profissional passa, ine-

    vitavelmente, pela definio clara dos papis que desempe-nha profissionalmente, evitando os riscos de impreciso ede ambiguidade, que perturbam a caracterizao das iden-tidades profissionais. Os avanos epistemolgicos so fun-damentais a essa clarificao, evitando modelos inspirados

    no senso comum ou no saber espontneo das sensibilida-des humanas e profissionais. que o Educador Social temum saber, prprio de quem sabe conciliar o conhecimentotcnico com o saber terico e pedaggico, informado porreferenciais humanistas que urge implementar, cada vezmais, nas nossas prticas profissionais

    2)Definio do papel profissional

    A Associao Internacional de Educadores Sociais

    (AEIJ), na Declarao de Barcelona de 2001, afirma:Partimos de uma imagem de profissional reflexivo, em

    permanente escuta, gerador de conhecimento, e recusa-

    mos a imagem do profissional esttico que s consumi-dor de conhecimento e que no favorece a criao derecursos de vida Agimos a partir da ideia de que a finali-dade da aco educativa capacitao dos sujeitos para a

    vida social. O nosso objectivo conseguir a promoo e aparticipao social activa das pessoas, dos grupos e dascomunidades com quem trabalhamos, para que com-preendam os seus direitos e assumam as suas responsabi-lidades.

    A definio do papel profissional do Educador Socialpassa pelo tipo de desempenho que dele se espera, doque ele sabe e capaz de fazer no quadro das competn-

    cias para que foi preparado e das respostas emergentesaos desafios laborais.O desenvolvimento de competncias instrumentais a par dascompetncias interpessoais e estratgicas, so fundamentais paracriao do esteretipo que caracteriza a sua profisso. Ascompetncias instrumentais preparam-no para o saber fazer,nomeadamente o saber utilizar metodologias, tcnicas eestratgias de interveno especficas, a capacidade paraproduzir conhecimento cientfico na rea da sua espe-cialidade, o ter conhecimento das funes dos equipa-mentos, instituies e servios sociais, o saber utilizar

    redes sociais de apoio, o possuir uma cultura geral vasta;nas competncias interpessoais, destaca-se a importncia dosaber ser neutro, aceitando e valorizando a diferena, osaber gerir conflitos, o favorecer a integrao grupal, opensar de uma forma crtica e reflexiva; ao nvel das com-

    petncias estratgicas, necessita de ser um profissional comelevado grau de criatividade, de autonomia, de segu-rana, de ateno s problemticas sociais e com capaci-dade de integrar saberes resultantes de uma atitudeatenta e aberta s aprendizagens. Partindo desta matrizterica e inspirados numa filosofia humanista, a estrutu-rao de currculos de formao do Educador Social

    dever ter em vista o desenvolvimento de capacidadespara ser capaz de:

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    ser um agente de adaptao e socializao

    saber intervir com metodologias e didcticas especficas desenvolver aces preventivas e de remediao aonvel de vrias problemticas sociais

    ser agente da educao extra-escolar ser um profissional reflexivo com capacidade de pro-duzir conhecimento cientfico

    O enfoque claramente sociolgico e pedaggico da suainterveno, inscreve-se em aces de ajuda e orientaopedaggico-social junto de crianas, jovens ou adultoscom fragilidades pessoais na relao com o mundo que orodeia. O Educador Social ter de ser, sempre, um

    mediador entre o indivduo, a famlia, as instituies e asociedade em geral; por isso, a sua aco tem sentido nos lares da terceira idade nos internatos nos ATL (s) nas escolas nas prises nos hospitais nas autarquias

    Na multiplicidade de papis que poder ter, e que difi-

    cultam a construo de uma identidade enquanto tc-nico especializado, a sua mais valia advm-lhe do seusaber pedaggico, tcnico e humano que o tornaminsubstituvel na orientao e resoluo de muitosproblemas sociais da nossa comtemporaneidade. Aoambicionar integrar o sujeito na sociedade afirmamoscom de Glria Serrano (2003:129) que os objectivos daEducao Social so: desenvolver a maturidade social;promover as relaes humanas e preparar o indivduopara a convivncia na comunidade.O seu papel educativo, difcil de avaliar pela morosidadedos resultados que se espera da aco educativa, e que so tempo se encarrega de revelar com a conseguidamudana de mentalidades, comportamentos e valores,

    ter de ser valorizado e reconhecido publicamente. S

    desta forma, este profissional poder responder comentusiasmo s polticas e ao trabalho que, por mais ali-ciantes que sejam, no produzem resultados positivossem se sentirem verdadeiramente motivados.

    3)Divulgao do cdigo deontolgico

    A tica um dos eixos estruturantes de um perfil pro-fissional. O exerccio de uma profisso, supe a existn-cia de um conjunto de valores e princpios ticos que

    constituem uma referncia deontolgica no quadro dasrelaes e das tomadas de deciso de mbito profissio-nal. Construir um quadro de indicadores que uniformi-zem decises, ter uma sensibilidade orientada pelo bemcomum, possuir um pensamento filantrpico, saberaplicar em situaes especficas as linhas de orienta-o tico-legais, facilita a construo da imagem social ea autonomia profissional.Ser Educador Social ser teleolgico, isto , toda a suaaco carregada de sentido. Ora, a conscincia dessesentido d ao processo interventivo uma orientao

    axiolgica nos fins a alcanar e, pelo reconhecimentotico, legitimidade aos projectos de interveno socialpor ele desenvolvidos.Por no sermos neutros nas nossas decises, o cdigodeontolgico ao ser a expresso dos valores e princpiosque ajudam a regular comportamentos profissionais, umareferncia na busca de solues. A sua correcta aplicaodepende, como evidente, da formao tica do aplicadorque lhe permitir decidir, mesmo nas situaes pouco cla-ras, em conformidade com a moral profissional.Confrontado com vrias lgicas a lgica do utente, algica da Instituio, a lgica do grupo, a lgica dospares, a lgica das famlias, a lgica da sociedade oEducador Social ter de, com firmeza e determinao,

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    fazer prevalecer a lgica da moral e da tica que susten-

    tam a deontologia da sua profisso.Importa, num exerccio de reflexo, de questionamentoe anlise de comportamentos, tornar claro os pressupos-tos filosficos e axiolgicos que sustentam a sua prticaprofissional. As palavras solidariedade, disponibilidade,fraternidade, responsabilidade, amor so, entre muitasoutras, o rosto dos valores que reconfiguram o ideal deproximidade e alteridade dos nossos dias. Ora, o Educa-dor Social cultiva e pratica por formao estes valores,suportados por um profissionalismo onto pedaggicoque lhe confere um carisma nico no campo da inter-

    veno social.

    Na Declarao de Barcelona de 2001, a AssociaoInternacional dos Educadores Sociais (AEIJ), explicita:reconhecemos a tica como elemento central da prticaprofissional e manifestamos a necessidade de trabalharpara que a tica oriente as nossas aces quotidianas; nossa obrigao definir um quadro mnimo de valoresde referncia para a profisso a partir dos quais seja pos-svel interpretar a realidade e definir as caractersticas daprtica: em relao a que e perante quem somos respon-sveis; consideramos que imprescindvel um clarosentido autocrtico sobre o rigor tcnico das nossas

    actuaes, para l dos condicionalismos exteriores queas possam determinarEm Portugal, a Associao Profissional ConselhoNacional de Educao Social elaborou para a profissode Educador Social um cdigo deontolgico, aprovadoem 17 de Novembro de 2001 onde se prevem os direi-tos e os deveres do Educador Social em relao: a si mesmo e profisso aos utentes s instituies aos outros profissionais sociedade em geral

    4)Investigao produzida

    A Educao Social, sendo uma profisso relativamenterecente em Portugal, sofre de uma exgua produo detextos resultantes de um trabalho reflectido, debatido eavaliado. A verdade, que urge tornar visvel, pela escritafundamentada, a matriz terica que o orienta e os resulta-dos conseguidos na interveno.Tratando-se de um profissional do terreno cabe-lhe,numa atitude de constante anlise, fazer o confrontoentre a teoria e a prtica que, aliado observao, aocontacto com outros profissionais, ao debate, ao estudoe convico que a escrita favorece a consciencializao

    profissional, produzir conhecimento com saberes espe-cficos.

    A reflexo epistemolgica indispensvel ao avano daqualidade nas formaes acadmicas e identidade daPedagogia Social enquanto cincia pedaggico-socialque orienta e fundamenta a praxis do Educador Social.

    A Pedagogia Social, tendo nascido da urgncia de respon-der em momentos histricos a problemas sociais, antece-deu a teoria o que fez nascer a necessidade de umareflexo epistemolgica que racionalizasse a prtica e sis-tematizasse o conhecimento.

    Em Educao Social todas las teorias son producto dealguna prctica; a su vez, toda actividad prctica recibeorientacin de alguna teoria(...) (Carr e Kemis,1988:125)e a Pedagogia Social surge en la interaccin recprocaentre teora y prctica, es decir: teoras, resultados de lainvestigacin de las ciencias humanas y sociales y de lasexperiencias obtenidas en la accin, verificadas y contras-tadas por la investigacin (Serrano, Glria Perez, 2003 ),o que valoriza, sem dvida, os momentos de confronto desaberes essenciais renovao do conhecimento.

    A investigao em Educao Social, por se tratar de umainvestigao scio-educativa, sabemos da sua complexidade(cruzamento de vrias fontes, de vrios olhares e de mlti-plas relaes); do seu lado utilitrio (educar no um acto

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    terico mas pragmtico, ao querer mudar de forma desej-

    vel quem se educa); do carisma prtico (porque a aco umdos seus pilares); do duplo papel investigador/actor (porqueimplicado na reflexo crtica e no confronto do terico como prtico); da sua vertente profilctica (por ajudar a encon-trar solues para problemas sociais); da dificuldade nadefinio de prioridades (pela dificuldade de consensos queo trabalho interdisciplinar e em equipa implica).

    A investigao-aco ao permitir a implicao activanum processo de anlise, reflexo e melhoria sobre aprpria prtica(Parcerisa,1999:63) oferece ao Educa-dor Social momentos de interrogao, de estudo e res-postas num constante processo inacabado.

    Apesar das complexidades, a investigao em PedagogiaSocial e a produo de textos so desafios que o Educa-dor Social no pode ignorar.

    5) Formao contnua e formaops-graduada

    A rpida obsolncia dos saberes exige a qualquer pro-fissional a actualizao e constante busca do novo

    conhecimento. As formaes contnua e ps-graduada,contribuindo para a no cristalizao dos referentestericos, tcnicos e pedaggico-profissionais, dooportunidade de evoluir na direco dos desafios que odesempenho profissional exige.O Educador Social necessita acompanhar a dinmica dotempo e do conhecimento. Para isso, exige-se-lhe umaatitude de abertura em relao s oportunidades deactualizao que vo surgindo, com frequncia, nos esta-belecimentos de Ensino Superior e nos Centros de For-mao. Ter , de crtica e criteriosamente, saber orientaras suas opes para o campo do conhecimento que sabefazer parte do seu projecto de auto-formao, num con-texto mais alargado como o daaprendizagem ao longo da vida.

    que, importa ao Educador Social zelar pela sua autono-

    mia no se deixando fragilizar pela insegurana que, tantasvezes, a inesgotvel oferta lhe poder trazer. A capacidadede saber seleccionar a formao que lhe interessa, traandoum caminho formativo adequado, permitir-lhe- a conso-lidao de um perfil com competncias que o poderoespecializar para o exerccio de funes inerentes suaprofisso.

    A sua aco ganha sentido nas respostas aos problemasque a Pessoa, o Grupo ou as Instituies lhe apresentam.Esses problemas, perfeitamente localizados no tempo,exigem uma interpretao sustentada por um conheci-mento actual fundamentado, evitando solues de saber

    emprico e de senso comum. As oficinas de formao e oscrculos de estudo constituem, em nosso entender, boasoportunidades para o confronto de opinies, para a trocade experincias e para a reconstruo do saber numaconstante atitude reflexiva e de pensamento dialctico.

    A formao, sendo cada vez mais uma auto-formao pelaimplicao do sujeito na construo do prprio saber, nopode ficar-se pela formao inicial mas ser um propsitosempre presente pela obteno de competncias que assituaes de aprendizagem, no terreno ou em espaos for-mais, lhe conferem.

    A criatividade e a inovao so exigncias que a actualidadenos impe tal a implacvel fora da concorrncia, nummomento de elevado desemprego, numa sociedade onde

    vinga o diferente associado qualidade. Como defendeRoberto Carneiro (2000:76) nunca, como hoje, se ape-lou tanto capacidade de aprendizagem generativa aquela queassenta no pensamento diferente e na busca de soluesno convencionais evidente que tudo se cultiva mas, para que isso acontea, necessrio fora de vontade, determinao, apetnciapela descoberta do novo, ter capacidade integradora eexerccio relacional do saberes, do novo com o velho,mantendo estruturas de conhecimento slido e, simulta-neamente, actualizado.

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    Se o saber certificado, pela obteno de diplomas, funciona

    como porta de entrada para uma boa classificao na pir-mide social e, se, as estruturas ocupacionais so, ainda, des-tinadas s mais valorizadas formaes, o Educador Socialter de vencer pelo mrito (ser a nossa sociedade umasociedade meritocrtica?) mas tambm pelo combate ero-so do seu conhecimento e do seu nvel acadmico. Ps-gra-duaes especializadas, mestrados e doutoramentos soalguns dos caminhos que, numa atitude assumida de educaovitalcia1 o preparam para os desafios conjugados de ser capazde extrair conhecimento da informao; construir sabedo-ria a partir do conhecimento; compreender o esplendor da

    vida contido no viver; fruir o prazer de aprender na partilha

    e na comunicao (Carneiro, Roberto,2000:39)A dinmica da relao entre o saber, o conhecimento e aaquisio de competncias ter, tambm, de ser assegu-rada pelas instituies escolares enquanto unidades criativas de con-tedos educacionais que devero estar disponveis para aoferta e acompanhamento na formao contnua numaperspectiva de satisfao dos seus clientes e sujeitos daeducao. Os sistemas educativo e de formao euro-peus necessitam de ser adaptados no s s exigncias dasociedade do conhecimento como tambm necessi-dade de um maior nvel e qualidade do emprego. Tero

    de oferecer oportunidades de aprendizagem e de forma-o concebidas para grupos-alvo em diferentes fases dassuas vidas: jovens, adultos desempregados e as pessoasempregadas que correm o risco de ver as suas compe-tncias ultrapassadas pela rapidez da mudana2

    6) Valorizao da Educao no formal

    Quando falamos de formao, educao ou aprendiza-gem, temos de equacionar a forma como a Pessoa se

    relaciona com a vida, as imagens e significados que delatem, a capacidade de aprendizagem do ser humano em

    cada circunstncia e as diferentes formas de aprender

    em espaos de educaoformal, informal e no for mal.

    A Escola, pelos aspectos formais e metodolgicos que acaracterizam, nem sempre est preparada para respon-der a todas as necessidades educativas dos educandos es necessidades funcionais das famlias e das sociedades.Como afirma Antoni Petrus (2003:63) A raz do pro-blema que a escola no capaz, por si mesma, de solu-cionar os complexos problemas da populao infantil ejuvenil, como to pouco pode resolver as dificuldades dainstituio familiar. Assim teremos de considerar,paralelamente aos sistemas formais de ensino-aprendi-zagem, outros meios e espaos complementares de edu-

    cao a que comummente designamos de no formaise informais.

    A educao formal, tendo por objectivo a preparao edesenvolvimento global da pessoa, est ligada ao sistemaeducativo oficial, ideia de obrigatoriedade, continui-dade, regularidade, conferente de um determinado nvelacadmico, importante integrao social e para oacesso ao mundo do trabalho. Acontece que, por cir-cunstncias vrias estruturais, de espao, de tempo aeducao formal no esgota as possibilidades que o indi-

    vduo tem de aprender, se formar e educar. A estrutura

    escolar impe limites que convm reconhecer; temos,por isso, de valorizar a interaco dinmica entre os pro-cessos educativos que se do fora dela e que podemmelhorar e completar a sua aco.

    A educao informal, refere-se a todos os processos que, semum explcito carcter e organizao educativa, exercemsua influncia na vida das pessoas: famlia, amigos,publicidade, televiso, etc. (Contada, Rafaela Lamata,2003: 46)

    A educao no formal, assim designada por se afastar commaior ou menor radicalidade das formas cannicas ouconvencionais da escola, integra diferentes mbitos for-

    mativos como seja a educao de adultos, a educaopara o tempo livre e animao scio-cultural, formao

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    e reciclagem profissional, formao cvica, educao

    ambiental, educao social etc. difcil estabelecer fronteiras entre estes meios de edu-cao e formao j que assumem a transversalidade dealguns contedos e de alguns objectivos.

    A educao no formal procura abranger pedagogica-mente a diversidade e riqueza dos contextos sociais pelaaplicao de experincias educativas inovadoras centra-das em aprendizagens reais. Os contedos e objectivos aalcanar so diversos quanto os territrios e os grupospara quem se dirige, com necessidades especficas e ime-diatas, a quem agrada as abordagens funcionais e decarcter menos abstracto, com razes na cultura de ori-

    gem e na vida. Pela particularidade dos contedos e dosgrupos, h uma grande flexibilidade de horrios, deespaos e as metodologias a utilizar so, em regra, acti-

    vas, construtivas e intuitivas.

    Das mudanas significativas a que assistimos desde ofinal do sculo xx nos planos poltico, tecnolgico, cul-tural, social e econmico, emergem transformaes nomundo que exigem perfis profissionais, absolutamenteimpensveis h alguns anos atrs.

    A globalizao, as novas tecnologias, a sociedade em rede,

    criaram a pretensa aspirao a um mundo nico. A ver-dade, que a realidade social no nica; existem muitase diferentes sociedades onde, nem por sombras, a digni-dade da pessoa e as oportunidades so as mesmas. Sabe-seque em frica e na sia, mais de 50% dos nascimentos noso assistidos; que um quinto da populao Europeia temmais de 60 anos; que a solido um dos problemas da ter-ceira idade; que nas cidades vive mais de 80% da popula-o mundial; que nas famlias no h disponibilidade nemtempo para acompanhar os jovens e os idosos; que as rela-es de vizinhana praticamente no existem; que a guerracriou muitos rfos e um fluxo enorme de migraes; queuma elevada percentagem de pessoas vive em condiesde pobreza abaixo do limiar mnimo...

    O chamado conflito de culturas, o conflito de gera-

    es, o conflito das identidades, o conflito das norma-lidades/marginalidades/excluses so alguns dosclimas sociais inibidores dos efeitos da aco educativa.Estes problemas no so, o mais das vezes, cobertos pelasfamlias e pela escola. evidente que tem havido esfor-os, por parte do Estado, para minimizar a actual ten-dncia da desigualdade e da polarizao social, o quesabemos ser de extrema dificuldade.

    Numa ptica de formao, orientao e de ajuda, o Edu-cador Social surge como profissional inspirado pelos valo-res humanos, verstil, polivalente, preparado para a

    resposta a necessidades sociais, situadas ao nvel da relaoda pessoa consigo prpria e com os outros, com os lugares,com as famlias. Vocacionado para novos espaos de refle-xo e de trabalho, pode ajudar a construir o pilar da edu-cao do sculo xxi aprender a viver juntos numasociedade do bem estar. Ora, sem solues milagrosas3mas com uma grande sensibilidade e saber pedaggico emcontextos de educao no formal, o Educador Social temcompetncias para ajudar a formar pessoas capazes deevoluir, de se adaptarem a um mundo em rpida transfor-mao e de dominar a mudana (Delors,1996:78)

    Concluso

    O reconhecimento social decisivo para a valorizaode uma profisso.O reconhecimento do Educador Social poder dependerdas dinmicas da sociedade em geral, da sua postura ticaenquanto profissional, da qualidade da sua formao acad-mica, do rigor da sua anlise sobre os problemas e da efic-cia da sua interveno.

    Estudos sociolgicos apontam que as profisses mais espe-cializadas e que exigem um alto nvel de conhecimento

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    so,normalmente, as que alcanam um reconhecimento

    social mais elevado. Ao estudo das profisses importa iden-tificar as caractersticas que evidenciem o trao de cadauma delas, distingindo-as das demais ocupaes (confr.Husen Y Postlethwaite, 1992)O trao marcante do Educador Social , sem dvida, acapacidade para saber encontrar e ajudar a percorrercaminhos que vo no sentido do bem estar da pessoa e dasociedade. O que o distingue de outros profissionais aformao polivalente que lhe permite apropriar-se desituaes de carncia, saber intervir educativamente eencaminhar para outros profissionais os casos que neces-sitam de interveno especializada. O Educador Social

    um mediador entre sujeitos e as respostas profilcticas outeraputicas aplicveis.Os novos padres de conjugalidade, o aumento dosdivrcios, a incluso das mulheres no mundo do traba-lho, etc., podero ter alterado as relaes de ajuda e osentido das responsabilidades familiares, o que condu-ziu procura de servios e de apoio a tarefas tradicio-nalmente desempenhadas pela mulher.O Estado ao assumir-se como responsvel pela criao decondies de bem estar populao mais fragilizada, criouum conjunto de servios e equipamentos diversificados

    com o objectivo de dar resposta a diferentes necessidadese a diferentes nveis de carncias. Surge, ento, umnmero significativo de instituies especializadas estataise tambm de iniciativa privada que, sendo resposta, sotambm origem de grandes transformaes nas relaesde acompanhamento e nas formas de solidariedade.

    A famlia v-se, assim, substituda por estruturas de apoioque funcionam com uma lgica prpria. O EducadorSocial, sendo parte dessas estruturas, ao ser um mediador,procura ser algum que, acima de tudo, sabe respeitar,defender e garantir a praxiologia dos direitos humanos.Para o conhecimento e reconhecimento desta profissoimporta ainda adefinio de uma carreira profissional para aestabilidade no trabalho, para as oportunidades de

    emprego, para as justas remuneraes, para o acesso a

    patamares hierrquicos no desempenho e reconheci-mento profissional; acriao de espaos de debate e reflexo-per-mitindo o saudvel hbito de intercmbio e confrontode perspectivas; aforma o e pertena a Associaes Profissionais fundamentais para o questionamento das grandes linhasde orientao profissional, para a criao de espaos deinvestigao, no apoio profissional, na divulgao de ini-ciativas, na luta pelo reconhecimento profissional e aca-dmico, na regulao de estatutos e carreiras profissionais;a divulgao do perfil profissional; a aposta em polticas sociais4que criem condies para que os grupos fragilizadostenham um acompanhamento e apoio por parte de pes-

    soas qualificadas com preparao adequada s necessi-dades de interveno.Saliente-se, finalmente, a aceitao que a EducaoSocial tem conseguido junto das Instituies emprega-doras conquistando, j, um espao de interveno e decumplicidade com outros profissionais da rea social.

    Referncias BibliogrficasBABTISTA, Isabel (2001): Espao(s) de Construo de Identidade Profissional, PortoUniversidade Portucalense.CARR, w.; Kemmis,S. (1988): Teora crtica de la enseanza, Barcelona, Martnez

    RocaCOOMBS,P.H.(1985): La crisis mundial de la Educacin. Perspectivas actuales .Madrid. Santillana.COTANDA, Rafaela Lamata(2003): La construccin de processos formati-

    vos en educacin no formal, Madrid NARCEA, S. A. DE EDICIONESDELORS, J.(et al.) (1996), Educao: um tesouro a descobrir-relatrio paraa Unesco da Comisso Internacional sobre Educao para o sculo xxi, 1ed., Rio Tinto, Edies Asa.HERRERAS, Jos ngel (coord) (1996): El Educador Social: lneas de formaciny de actuacin, Madrid, Guillermo Mirecki EditorHUSN, T.y Postlethwaite, J. N.(1992): Enciclopedia Internacional de Educacin,Barcelona, Vicens VivesPARCERISA, Artur (1999): Didctica en la educacin social Ensear y aprender

    fuera de la escuela, Barcelona, Editorial GraPETRUS, Antonio (org.) (1997): Pedagogia Social, Barcelona, ArielSERRANO, Glria Prez(2003):Pedagogia Social, Educacin Social construccincientfica e intervencin prctica

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    1 | O termo utilizado por Roberto Carneiro na obra O FUTURO DA EDUCAOEM PORTUGAL RENDNCIAS E OPORTUNIDADES, Ministrio da Educa-o, Lisboa, Julho de 2000

    2 | Cimeira Europeia de Lisboa, Maro de 20003 |A expresso de Isabel Baptista, in Espao(s) de Construo de Identidade Profissional

    (2001:58)4 | Herreras(1996:18) afirma a prtica profissional do educador social depende, em

    grande parte, das polticas sociais(...).

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