educacao nas prisoes referencia

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO SEMINÁRIO EDUCAÇÃO NAS PRISÕES Brasília/DF - CNE - 23 de Abril de 2012 (Documento-Referência) A EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: QUESTÕES, AVANÇOS E PERSPECTIVAS Adeum Hilario Sauer 1 Elionaldo Fernandes Julião 2 A Câmara de Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE), em sua agenda dos últimos cinco anos, tem destacado como prioritária a atualização ou elaboração de novas diretrizes nacionais para os diferentes níveis e modalidades da educação básica no país. Esse esforço conjunto permitiu uma produção de diretrizes de ampla abrangência na educação básica (diretrizes gerais da educação básica; educação infantil; ensino fundamental; ensino médio; carreira do magistério; carreira de funcionários; educação de jovens e adultos; educação de jovens e adultos em situação de privação de liberdade; educação em situação de itinerância; direitos humanos). Encontram- se, ainda, em fase de conclusão, as diretrizes sobre educação profissional; educação quilombola; e educação indígena. Merece destaque, nesse esforço, a elaboração de novas diretrizes em áreas até então “invisíveis” para a sociedade, como é o caso da educação de jovens e adultos em situação de privação de liberdade no país. Após a aprovação do Parecer CNE/CEB n° 4/2010, de 09/03/2010, 1 Conselheiro, Vice-Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação - CNE/CEB; Professor-Adjunto na Universidade Estadual de Santa Cruz –UESC. 2 Professor-Adjunto na Universidade Federal Fluminense – UFF.

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Educação nos campos das prisões do nosso país.

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  • MINISTRIO DA EDUCAOCONSELHO NACIONAL DE EDUCAO

    SEMINRIO EDUCAO NAS PRISESBraslia/DF - CNE - 23 de Abril de 2012

    (Documento-Referncia)

    A EDUCAO PARA JOVENS E ADULTOS EM SITUAO DE RESTRIO E PRIVAO DE LIBERDADE NO BRASIL: QUESTES, AVANOS E PERSPECTIVAS

    Adeum Hilario Sauer 1

    Elionaldo Fernandes Julio2

    A Cmara de Educao Bsica (CEB), do Conselho Nacional de Educao (CNE), em sua agenda dos ltimos cinco anos, tem destacado como prioritria a atualizao ou elaborao de novas diretrizes nacionais para os diferentes nveis e modalidades da educao bsica no pas. Esse esforo conjunto permitiu uma produo de diretrizes de ampla abrangncia na educao bsica (diretrizes gerais da educao bsica; educao infantil; ensino fundamental; ensino mdio; carreira do magistrio; carreira de funcionrios; educao de jovens e adultos; educao de jovens e adultos em situao de privao de liberdade; educao em situao de itinerncia; direitos humanos). Encontram-se, ainda, em fase de concluso, as diretrizes sobre educao profissional; educao quilombola; e educao indgena. Merece destaque, nesse esforo, a elaborao de novas diretrizes em reas at ento invisveis para a sociedade, como o caso da educao de jovens e adultos em situao de privao de liberdade no pas. Aps a aprovao do Parecer CNE/CEB n 4/2010, de 09/03/2010, 1 Conselheiro, Vice-Presidente da Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao - CNE/CEB; Professor-Adjunto na Universidade Estadual de Santa Cruz UESC.2 Professor-Adjunto na Universidade Federal Fluminense UFF.

  • homologado pelo Ministro da Educao, e da publicao da Resoluo CNE/CEB n 2, de 19/05/2010, preciso conjugar esforos para implementao das orientaes contidas nestes documentos normativos. Neste sentido, o CNE promove o Seminrio Educao nas Prises, com a participao dos atores sociais, das diferentes esferas e poderes da federao, responsveis pela efetivao da educao nos estabelecimentos penais: representantes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal (Ministrio da Educao; Ministrio da Justia; Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Conselho Nacional de Justia; Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria; Conselho Nacional de Educao; Ministrio Pblico Federal, Ministrio Pblico dos Estados; Secretarias Estaduais de Educao; Secretarias Estaduais de Segurana Pblica; Conselhos Estaduais de Educao); representantes de entidades da sociedade civil, com atuao na rea, como a Ordem dos Advogados do Brasil e outras.

    O seminrio uma oportunidade para avaliar a situao e para firmar compromissos. Prope avanar da discusso sobre o direito educao no crcere para a prtica de polticas de oferta de educao no sistema penitencirio, conforme as normas aprovadas. Como estratgia, defende o conhecimento e a disseminao de boas experincias e prticas j existentes, em contextos de encarceramento, no Brasil e em outros pases da Amrica Latina, para estimular o processo de trocas e de formas de colaborao entre os que atuam na rea.

    Os Ministrios da Educao e da Justia, reconhecendo a importncia da educao para este pblico, iniciaram em 2005 uma proposta de articulao nacional para implementao do Programa Nacional de Educao para o Sistema Penitencirio, formulando as suas Diretrizes Nacionais. A referida proposta, apoiada pela UNESCO, culminou em 2006 com o I Seminrio Nacional de Educao para o Sistema Penitencirio e, em 2007, o II Seminrio Nacional.

    Uma srie de atividades vem sendo desenvolvidas no sentido de estruturar tal poltica, destacando-se, dentre outras, a deciso dos dois Ministrios de investir, por meio de convnios com Estados, na construo de polticas estaduais de educao para os jovens e adultos em situao de privao de liberdade e do repasse de recursos financeiros visando melhoria das condies de atendimento em nvel local.

    Dentre as principais conquistas, destacam-se a aprovao das Diretrizes Nacionais para a oferta de educao nos estabelecimentos penais pelo Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria (Resoluo n 3 de 11/03/2009 do CNPCP) e das Diretrizes Nacionais para a oferta de educao para jovens e adultos em situao de privao de liberdade nos estabelecimentos penais pelo Conselho Nacional de Educao (Parecer CNE/CEB n 4/2010 e Resoluo CNE/CEB n 2 de

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  • 19/05/2010); e, por conseguinte, a alterao na Lei de Execuo Penal que permite s pessoas presas diminurem a sua pena com base nas horas de estudo.

    O governo federal, atravs do Ministrio da Justia, tem tambm apresentado uma srie de aes e propostas que se destinam preveno, controle e represso da criminalidade, atuando em suas razes socioculturais e articulando aes de segurana pblica com polticas sociais por meio da integrao entre Unio, estados e municpios, vislumbrando a consolidao das diretrizes do Sistema nico de Segurana Pblica. Os investimentos so voltados para o desenvolvimento de polticas para a melhoria do sistema prisional que contemplem a valorizao dos profissionais e o apoio implementao de projetos educativos e profissionalizantes para as pessoas com penas restritivas de liberdade e aos egressos do sistema penitencirio. Apontando alternativas para as metodologias utilizadas atualmente, vem tratando a segurana pblica como uma poltica descentralizada e articulada com os estados e municpios, estimulando o reconhecimento dos programas de segurana como partes integrantes das polticas de incluso social de habitao, educao, trabalho, lazer, assistncia e gerao de emprego e renda.

    Vale tambm ressaltar que as discusses sobre a educao de jovens e adultos em espaos de privao de liberdade vm alcanando, nos ltimos anos, contornos internacionais. No transcurso do desenvolvimento do Projeto EUROsociAL, alguns pases Latinos Americanos, dentre eles o Brasil, membros fundadores do Consrcio Educacional, introduziram a temtica da educao no contexto de encarceramento como uma das questes substantivas do Projeto Eurosocial/Educao, criando, em 2006, a Rede Latino-americana de Educao em Contexto de Encarceramento - REDLECE.

    A VI Conferncia Internacional de Educao de Adultos (VI CONFINTEA), realizada no Brasil em 2009, concretamente foi mais um importante e estratgico espao para a consolidao das discusses, principalmente referendando importantes recomendaes em mbito internacional.

    indiscutvel que a educao de jovens e adultos no pas vem alcanando nos ltimos anos enormes avanos no campo normativo e poltico. A educao em espaos diferenciados, principalmente para jovens e adultos privados de liberdade, vem conseguindo, em um ritmo particular, porm intenso, obter algumas conquistas, deixando de ser um tema invisvel, tornando-se ponto de pauta de governos, eventos nacionais e internacionais. Enfim, conseguido visibilidade at pouco tempo atrs inimaginvel.

    Ciente da importncia dos ltimos passos dados pelo Ministrio da Educao em parceria com o Ministrio da Justia no campo poltico para que se consiga efetivamente implementar uma poltica nacional de educao que tambm atenda os jovens e adultos em situao de privao de liberdade no

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  • pas, este evento mais um importante passo no processo de institucionalizao da discusso em mbito nacional, mobilizando estudiosos, gestores e o poder pblico em geral a pensar sobre o tema.

    Embora consigamos destacar alguns avanos concretos, por outro lado, percebemos que precisamos muito ainda avanar no campo normativo. Necessitamos principalmente investir na consolidao das diretrizes nacionais para a poltica de educao em espao de privao de liberdade. No mais concebvel que estados ainda no possuam uma poltica regulamentada para estas aes no crcere, evidenciando-se, em vrias unidades, projetos isolados, sem fundamentao terico-metodolgica, sem qualquer continuidade administrativa, beirando o total improviso de espao, gesto, material didtico e atendimento profissional.

    Somente atravs da institucionalizao nacional de uma poltica de educao para o sistema penitencirio, principalmente privilegiando as aes educacionais em uma proposta poltico-pedaggica de execuo penal como programa de reinsero social, se conseguir efetivamente mudar a atual cultura da priso.

    O Brasil j ultrapassou a etapa que discute o direito educao dentro do crcere. Est agora no estgio em que deve analisar as suas prticas e experincias, procurando instituir programas, consolidar e avaliar propostas e polticas. Precisamos buscar possveis e novos caminhos para o plano institucional que abriga homens e mulheres em situao de privao de liberdade em prol da implementao de polticas pblicas voltadas para oferta educacional de qualidade no Sistema Penitencirio.

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