educação na pré história

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33 Maiêutica - Ano 1| Número 1| Janeiro 2013 ARTES VISUAIS PRÉ-HISTÓRIA: EDUCAÇÃO PARA SOBREVIVÊNCIA Augusto Pereira da Rosa¹ Ester Miriane Zingano² RESUMO A educação durante a Pré-História tem como objetivo a sobrevivência do grupo. Embora sem ter consciência de que estavam educando e misturando arte com magia, os mais velhos transmitiam aos jovens os conhecimentos e habilidades necessários à sobrevivência do grupo. De fato, educação, arte e magia – na Pré-História – estavam intimamente relacionadas. Podemos citar o exemplo das pinturas rupestres, que tinham significado mágico (reproduzir na vida real o que estava desenhado), serviam para mostrar aos mais jovens as táticas de uma caçada sem deixar de ser a primeira forma de manifestação artística humana. Palavras-chave: Sobrevivência. Magia. Educação. 1 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta um breve relato da educação durante a Pré-História. Inicialmente é realizada uma breve descrição geral da Pré-História. Seus períodos (Paleolítico, Neolítico e Idade dos Metais) e suas principais realizações: construção de instrumentos de ossos, pedras etc.; domínio do fogo; domínio da agricultura, até a invenção da escrita. Também é relatada a importância dos rituais de magia, uma vez que o conhecimento científico ainda era pouco desenvolvido. Fica nítido que, durante a Pré-História, o primeiro objetivo era a sobrevivência do grupo. Assim é possível, a partir deste relato, compreender como a arte ajudou na 2 PRÉ-HISTÓRIA 2.1 DEFINIÇÃO DA PRÉ-HISTÓRIA Por muito tempo a Pré-História foi definida como o período que vai desde o aparecimento do homem (mais ou menos três milhões de anos a.C.) até a invenção da escrita (mais ou menos quatro mil anos a.C.). Atualmente, os historiadores discutem este conceito, pois, ainda que uma civilização não tenha desenvolvido a escrita, não significa que ela não tenha sua própria história. Mesmo na ausência de documentos escritos, é possível reconstruir o passado através de estudos de fósseis, artefatos, pinturas rupestres etc. A Pré-História é convencionalmente dividida em três períodos significativos: Paleolítico (Idade da Pedra 1- Acadêmico do Curso de Artes – Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Turma ART 0053 – Porto Alegre-RS – Polo IERGS. 2- Professora-Tutora Externa do Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Turma ART 0053 - Porto Alegre-RS – Polo IERGS.

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  • 33Maiutica - Ano 1| Nmero 1| Janeiro 2013 ARTES VISUAIS

    PR-HISTRIA: EDUCAO PARA SOBREVIVNCIAAugusto Pereira da RosaEster Miriane Zingano

    RESUMO

    A educao durante a Pr-Histria tem como objetivo a sobrevivncia do grupo. Embora sem ter conscincia de que estavam educando e misturando arte com magia, os mais velhos transmitiam aos jovens os conhecimentos e habilidades necessrios sobrevivncia do grupo. De fato, educao, arte e magia na Pr-Histria estavam intimamente relacionadas. Podemos citar o exemplo das pinturas rupestres, que tinham significado mgico (reproduzir na vida real o que estava desenhado), serviam para mostrar aos mais jovens as tticas de uma caada sem deixar de ser a primeira forma de manifestao artstica humana.

    Palavras-chave: Sobrevivncia. Magia. Educao.

    1 INTRODUO

    Este artigo apresenta um breve relato da educao durante a Pr-Histria. Inicialmente realizada uma breve descrio geral da Pr-Histria. Seus perodos (Paleoltico, Neoltico e Idade dos Metais) e suas principais realizaes: construo de instrumentos de ossos, pedras etc.; domnio do fogo; domnio da agricultura, at a inveno da escrita.

    Tambm relatada a importncia dos rituais de magia, uma vez que o conhecimento cientfico ainda era pouco desenvolvido.

    Fica ntido que, durante a Pr-Histria, o primeiro objetivo era a sobrevivncia do grupo. Assim possvel, a partir deste relato, compreender como a arte ajudou na

    2 PR-HISTRIA

    2.1 DEFINIO DA PR-HISTRIA

    Por muito tempo a Pr-Histria foi definida como o perodo que vai desde o aparecimento do homem (mais ou menos trs milhes de anos a.C.) at a inveno da escrita (mais ou menos quatro mil anos a.C.). Atualmente, os historiadores discutem este conceito, pois, ainda que uma civilizao no tenha desenvolvido a escrita, no significa que ela no tenha sua prpria histria.

    Mesmo na ausncia de documentos escritos, possvel reconstruir o passado atravs de estudos de

    fsseis, artefatos, pinturas rupestres etc.

    A Pr-Histria convencionalmente dividida em trs perodos significativos: Paleoltico (Idade da Pedra

    1- Acadmico do Curso de Artes Centro Universitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI Turma ART 0053 Porto Alegre-RS Polo IERGS. 2- Professora-Tutora Externa do Centro Universitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI Turma ART 0053 - Porto Alegre-RS Polo IERGS.

  • 34Maiutica - Ano 1| Nmero 1| Janeiro 2013ARTES VISUAIS

    Lascada), Neoltico (Idade da Pedra Polida) e Idade dos Metais.

    2.1.1 Paleoltico ou Idade da Pedra Lascada

    Neste momento da histria da humanidade, os grupos humanos viviam da caa, da pesca e da coleta de frutos e razes, viviam se deslocando em busca de alimento, portanto eram nmades. Neste mesmo perodo, comearam a fabricar alguns de seus instrumentos (machados, lanas, facas de pedra).

    Conheciam o fogo e reconheciam sua importncia, porm no tinham domnio sobre ele. At o final deste perodo acontecer a Revoluo do Fogo, isto , aprendero a domin-lo, fato que modificar significativamente suas vidas, pois os alimentos passaro a ser cozidos, podero se aquecer do frio, defender-se de animais, alm de iluminar a escurido da noite.

    No compreendiam os laos de parentesco biolgico, mas viviam em grupos de aproximadamente 15 ou 20 pessoas, onde se protegiam mutuamente, respeitavam-se, dividiam as tarefas e os alimentos. A liderana do grupo era eletiva e temporria. Isto quer dizer que o lder era uma escolha do grupo feita de acordo com a necessidade do momento. Por exemplo, o bom caador permanecia no comando at que a caada fosse concretizada, depois de saciada a fome do grupo, este membro voltava sua antiga condio, dando lugar a um novo lder. Essa eleio temporria no oportunizava privilgios dentro do grupo.

    2.1.2 Neoltico ou Idade da Pedra Polida

    Recebe este nome porque os instrumentos desta poca j eram feitos de pedra polida. neste perodo que acontece a Revoluo Verde, ou seja, os seres humanos descobrem a agricultura.

    Como a maioria dos coletores eram mulheres, provavelmente foram elas que observaram como as plantas germinavam e como as estaes do ano influenciavam em seu crescimento e poca de colheita. Podemos realmente chamar de Revoluo Verde, pois, com o domnio da agricultura, o ser humano muda radicalmente seu estilo de vida.

    Agora, produtor de seu prprio alimento, ele deixa de ser nmade para fixar-se terra; torna-se sedentrio. Sobre este assunto, Denis (2008) acrescenta:

    As primeiras aldeias so criadas prximas a rios, de modo a usufruir da terra frtil (onde eram colocadas sementes para plantio) e gua para homens e animais. Tambm neste perodo comea a domesticao de animais (cabra, boi, co etc.). O trabalho passa a ser dividido entre homens e mulheres, os homens cuidam da segurana, caa e pesca, enquanto as mulheres plantam, colhem e educam os filhos. A disponibilidade de alimento permite tambm s populaes um aumento do tempo de lazer e a necessidade de armazenar os alimentos e as sementes para cultivo, o que leva criao de peas de cermica, que vo gradualmente ganhando fins decorativos.

    2.1.3 Idade dos Metais

    Este perodo que antecede a inveno da escrita. Agora os instrumentos de pedra foram substitudos pelos de metal.

    A princpio o cobre, por ser muito malevel, era moldado a frio [...]. Tempos depois os metais passaram a ser aquecidos [...].Entre os metais, o ferro foi o mais difcil de manusear [...]. Em razo de sua durabilidade e flexibilidade, ele foi capaz de substituir os outros metais na confeco de numerosos artigos. (BRAICK; MOTA, 2010, p. 25).

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    2.2 EDUCAO NA PR-HISTRIA

    Desde que a linguagem surgiu, a educao ajuda o homem a garantir a sobrevivncia. Ela permite que as habilidades e os conhecimentos adquiridos com a experincia sejam repassados para as geraes seguintes. Mas, por muitos sculos, no existiam professores, e todos os adultos transmitiam informaes aos jovens. Isso acontecia de forma oral e espontnea. (LOMBARDO, 2008).

    Na Pr-Histria a educao estava diretamente ligada sobrevivncia do grupo. Como no sabiam distinguir o que era cincia e o que era magia, as pessoas agiam por instinto, transmitindo para os mais jovens aquilo que achavam ser necessrio para garantir a sobrevivncia.

    A educao dos jovens, nesta fase, torna-se o instrumento central para a sobrevivncia do grupo e a atividade fundamental para realizar a transmisso e o desenvolvimento da cultura. [...] o homem primitivo, que atravs da imitao, ensina ou aprende o uso das armas, a caa e a colheita, o uso da linguagem, o culto dos mortos, as tcnicas de transformao e domnio do meio ambiente. (VIRTUOUS, 2008).

    Com a revoluo verde, que ocorre na poca do Neoltico, inicia-se o surgimento da propriedade privada, a diferenciao entre os sexos e a diviso social. [...]cria-se uma diviso do trabalho cada vez mais ntida entre homem e mulher e um domnio sobre a mulher por parte do homem [...]. (VIRTUOUS, 2008).

    A revoluo neoltica tambm uma revoluo educativa: fixa uma diviso educativa paralela diviso do trabalho (entre homem e mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e grupos de produtores); fixa o papel-chave da famlia na reproduo das infraestruturas culturais: papel sexual, papis sociais, competncias elementares, introjeo da autoridade; produz o incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento especficos (nas diversas oficinas artesanais ou algo semelhante; nos campos; no adestramento; nos rituais; na arte) [...]. (VIRTUOUS, 2008).

    Embora no estivessem claros os diversos aspectos da educao primitiva, podemos observar alguns aspectos importantes. Assim, Krauss (2010) faz a seguinte observao:

    A diviso da educao nas civilizaes primitivasA educao nas civilizaes primitivas dividida em dois gneros: educao para a sobrevivncia: conhecimentos reais teis garantia da sobrevivncia humana: preparo do alimento, tcnicas de caa, confeco do vesturio, construo de abrigo e armas. Educao para o mistrio (magia): fenmenos naturais de origem desconhecida - como no tinha respostas para os fenmenos da natureza que ocorriam ao seu redor, o homem se lana s atividades de F. Desenvolveu uma coleo de teorias mgicas e religiosas para explicar tais mistrios.

    interessante observar que na educao para o mistrio havia as cerimnias de iniciao (rituais sagrados para os jovens): nestes rituais a autoridade do ancio deveria ser respeitada. Caso isto no ocorresse, poderia haver uma punio com expulso ou at mesmo morte.

    2.3 EDUCAO E ARTE NA PR-HISTRIA

    Como j foi dito, na Pr-Histria o conhecimento no est compartimentado. Educao e sobrevivncia se confundem assim como a arte pr-histrica tambm se mistura com a magia e as utilidades.

    Sem dvida, j na Pr-Histria encontramos os primeiros artistas da humanidade. E suas primeiras manifestaes foram as pinturas rupestres, nas quais podemos observar claramente o carter mgico e a funo educativa.

    Representar o sucesso de uma caada fazia-os crer que o grupo de caadores teria sucesso, ao mesmo tempo que mostrava para os mais jovens o que acontecia em uma caada.

  • 36Maiutica - Ano 1| Nmero 1| Janeiro 2013ARTES VISUAIS

    Muito importante nesta poca era a garantia de que novas vidas viessem a perpetuar o grupo. No de se admirar a frequncia com que encontramos representaes da figura feminina na Pr-Histria. Nestas representaes fica claro o padro de beleza relacionado sobrevivncia: [...] a Vnus das cavernas representava basicamente a me, a fertilidade. Ela tem seios fartos, ndegas grandes e traos faciais imprecisos. (FEIST, 2003, p. 27).

    Tambm de acordo com Schlichta (2009, p. 105), [...] esta temtica mulheres e animais est duplamente ligada sobrevivncia da espcie. Os animais garantiriam a subsistncia e as mulheres representariam a continuidade da vida.

    Na arte pr-histrica do Brasil tambm podemos observar a cermica ricamente adornada e o seu carter utilitrio e mstico utilizada para armazenar gua ou alimento, ou ainda ser utilizada como urna fnebre.

    Convm salientar que o adorno da cermica, alm de ser um trabalho artstico, tambm tem um carter educativo, pois seus desenhos, alm de enfeitar, trazem relatos para quem os observa.

    3 CONSIDERAES FINAIS

    Atravs deste trabalho observei que o processo educativo da Pr-Histria baseado na confiana e no respeito. Confiana e respeito que os jovens deviam ter pelos mais velhos.

    Cincia e magia confundem-se. Utilizam-se recursos de cincia e magia sem saber distingui-los , para transmitir conhecimentos e habilidades necessrios sobrevivncia do grupo.

    A arte tambm aparece como uma manifestao mgica e pedaggica. Mgica porque ela reproduz apenas o sucesso: caadores produtivos e madonas saudveis, aptas a dar continuidade espcie. Pedaggica porque atravs de uma pintura rupestre possvel demonstrar todas as tticas para que uma caada fosse bem-sucedida.

    REFERNCIAS

    AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Histria. So Paulo: tica, 2005. (volume nico).

    BERTELLO, Maria Augusta. Palavra em ao: minimanual de pesquisa de arte. Uberlndia : Claranto, 2003.

    BRAICK, Patrcia Ramos; MOTA, Myriam Becho. Histria das cavernas ao terceiro milnio. 2. ed. So Paulo: Moderna, 2010.

    DENIS, Lon. Educao primitiva. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 29 maio 2011.

    FEIST, Hildegard. Pequena viagem pelo mundo da arte. 2. ed. So Paulo: Moderna, 2003.

    FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro Multimdia, 2009.

    KRAUSS, Heleneida. Um pouco de mim: educao na Pr-Histria. Rio de Janeiro: 2010. Disponvel em: . Acesso em: 26 mar. 2011.

    LOMBARDO, Lvia. Como fazamos sem educao. 2008. Disponvel em:

  • 37Maiutica - Ano 1| Nmero 1| Janeiro 2013 ARTES VISUAIS

    com.br/aprendizagem/educacao-pre-historia-396338.shtml>. Acesso em: 29 maio 2011.

    SCHLICHTA, Consuelo. Arte e educao: h um lugar para a arte no ensino mdio? Curitiba: Aymar, 2009.

    TIRAPELI, Percival. Arte brasileira: arte indgena do pr-colonial contemporaneidade. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

    VIRTUOUS, Grupo. Histria da educao perodo primitivo. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 26 mar. 2011.