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Educação, Movimentos Populares e Transformação

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Educação, Movimentos Popularese Transformação

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História dos Movimentos Sociais

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Profª. Ms. Wanderli Cunha de Lima

Revisão Textual:Profª. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni

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• Movimentos Sociais e Associações Civis

• Movimentos Identitários e Culturais

• Movimentos e Lutas Sociais no Brasil nos séculos XIX

Esta unidade tem como tema principal os Movimentos Sociais no Brasil. O texto foi organizado em fases históricas. Essa cronologia – baseada nos estudos de Gohn (2012) – contribui para a percepção das ações coletivas, do ponto de vista não só da ordem de sucessão dos acontecimentos, mas também das razões que levaram um acontecimento a outro.

A organização desta unidade apresenta o retorno a alguns assuntos já discutidos na unidade anterior. Iniciamos situando as questões relativas à historicidade das divisões em classes sociais. Também abordamos os movimentos identitários e culturais e, em seguida, pontuamos os movimentos e as lutas sociais (como já citado) de acordo com a cronologia.

Fique atento a essa correlação de acontecimentos e observe a participação sociopolítica da sociedade civil.

Para realizarmos aprofundamento da discussão acerca do tema, faremos uma atividade reflexiva, com a escrita de um texto argumentativo. Participe dessa atividade, colocando em prática o que foi estudado na unidade.

Como você já sabe, é muito importante aproveitar as indicações feitas no material teórico e no material complementar. Elas favorecem a compreensão e completam o conteúdo estudado, auxiliando-o no momento da realização das atividades tanto de sistematização do conhecimento como de aprofundamento do tema.

Nesta unidade, vamos, a partir de um breve mapeamento, conhecer as lutas e movimentos sociais que fazem parte da construção da cidadania de classes sociais no Brasil e observar a participação da educação nesse processo.

História dos Movimentos Sociais

• Movimentos, Lutas Sociais no Brasil no Século XX

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

Contextualização

“Como pode o educador assumir o papel dirigente na sociedade se na sua formação o todo social resume-se a uns poucos conhecimentos de métodos e técnicas pedagógicas ou a uma história da educação que se perdeu no passado e nunca chega aos nossos dias? Como pode uma nação esperar que as novas gerações sejam educadas para o progresso, o desenvolvimento econômico e social, para a construção do bem-estar para todos, sem uma sólida formação política?” (GADOTTI, 2010, p. 89).

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http://www.youtube.com/watch?v=406ujmrth_w

Assista ao vídeo: “A História dos Movimentos Sociais”. Observe as várias manifestações populares em diferentes tempos e lugares, autoquestionando-se sobre:

• Por que é importante conhecer essas lutas e movimentos?

• Como esse conhecimento irá contribuir para a minha formação enquanto pessoa?

• E, na minha formação e atuação profissional, o que implicam esses conhecimentos?

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1. Movimentos Sociais e Associações Civis

A conquista da cidadania, em nosso país, não se deu de modo linear e tranquilo, mas, ao contrário, dependeu de várias lutas sociais.

Entretanto, apesar de ter sido uma grande conquista, ainda não se pode dizer que vivemos em uma sociedade justa e igualitária. A esse respeito Cortella (2011) afirma:

“[...] a vida social é, também, uma vida política, isto é, configura-se como espaço de conquista e manutenção de poder sobre os bens e pessoas, não havendo, ainda, sociedades complexas de composição igualitárias.” (CORTELLA, 2011, p. 41).

É fato que as divisões de classe datam de muito tempo. Já no período clássico grego (V e IV a.C.), pode-se observar a revelação de bases fundadoras da divisão de classes. Isso aparece com maior evidência no Período Arcaico1, com a ocorrência de inúmeros conflitos sociais.

Seja em qual tempo for, as lutas e os movimentos sociais sempre são vistos como disfunções da ordem social em vigor.

Segundo Gohn (2012), na história do nosso país, essas lutas pela conquista dos direitos ou ações contra as injustiças que foram realizadas por diferentes classes e categorias aparecem nos registros e estudos históricos como acontecimentos marginais. A respeito dessas manifestações, a autora ainda ressalta que “várias transformaram-se em movimentos, lutas prolongadas ou até guerras. Outras se institucionalizaram e foram incorporadas ou absorvidas pela sociedade civil e política brasileira.” (GOHN, 2012, P. 7).

Na formação de classes sociais o poder econômico, ideológico e político é elemento constituinte fundamental. E os “indivíduos dos grupos” são determinados pelo lugar que ocupam nessa luta – dominados ou dominadores; subordinados ou mandantes; burgueses ou trabalhadores. Portanto ser pertencente a uma classe implica a existência de problemas ou interesses comuns.

Mas a consciência de ser pertencente a uma determinada classe social não significa estar satisfeito com essa condição; por isso muitas lutas foram desbravadas contra a dominação. Para Gadotti (2010):

“Consciência de classe não significa apenas uma tomada de consciência da realidade, acima de qualquer ato de transformação da sociedade. [...]. A libertação não se opera no interior da consciência dos homens, mas na história que eles fazem.” (GADOTTI, 2010, p. 190).

Daí a manifestação se dá por essa consciência de classe dentro de um determinado contexto, passando a ser denominada como luta de classes.

Para conhecer um pouco mais sobre lutas de classes, leia o texto escrito por Carlos Gomes sobre os antecedentes do capitalismo no site: http://www.eumed.net/libros-gratis/2008a/372/LUTA%20DE%20CLASSES.htm

1 - Período após o período homérico, marcado pela consolidação de Cidades-Estado, principalmente as de Esparta, Tebas, Corinto e Atenas.

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

2. Movimentos Identitários e Culturais

Os movimentos sociais apresentam diferentes correntes teóricas. Entre elas a histórico-estrutural e a culturalista-identitária. Esta tem como base o idealismo kantiano, o romantismo rousseauniano, as teorias utópicas e libertárias do século XIX, e aquela, baseada nas abordagens de Marx, Gramsci, Lefevre, Rosa de Luxemburgo, Trotsky, Lênin, Mao Tse Tung. (GOHN, 2008).

O movimento histórico-estrutural constituiu-se de eventos ocorridos ao longo dos tempos, os quais favoreceram ou fortaleceram outros já existentes, possuindo um caráter de movimento de classe. Entretanto esse caráter de movimento de classe pode não ocorrer nos “novos movimentos sociais”.

Gohn (2006) entende o culturalista-identitário como integrante dos “novos movimentos sociais organizados”, que envolvem sujeitos de diferentes classes sociais, unidos por algum traço identitário ou alguma causa e não pela classe social pertencente. Ainda a autora reforça que esses novos movimentos sociais colocam como horizonte a construção de uma sociedade democrática, lutam pela inclusão, atuam pelo reconhecimento da diversidade cultural e fazem parcerias com outras entidades da sociedade civil e política.

[…] é sempre expressão de uma ação coletiva e decorrente de uma luta sociopolítica, econômica ou cultural. Usualmente ele tem os seguintes elementos constituintes: demandas que configuram sua identidade; adversários e aliados; bases, lideranças e assessorias – que se organizam em articuladores e articulações e formam redes de mobilizações; práticas comunicativas diversas que vão da oralidade direta aos modernos recursos tecnológicos; projetos ou visões de mundo que dão suporte a suas demandas; e culturas próprias nas formas como sustentam e encaminham suas reivindicações (GOHN, 2008, p. 14).

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Leia o artigo de Joziane M. Fialho, no qual ela faz breves considerações sobre os Movimentos Sociais no Brasil. Acesse: www.cptl.ufms.br/revista-geo/joziane.doc

Esses novos movimentos podem ter sua identidade configurada pelo gênero, pela etnia, ou pela geração (geração: em defesa dos idosos, jovens, etc.).

Os novos movimentos sociais foram fortalecidos e impulsionados pela promulgação, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Constituindo ponto de referência na luta contra a discriminação e a favor do reconhecimento dos direitos.

John Leach - Flickr.com

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3. Movimentos e Lutas Sociais no Brasil nos séculos XIX

Na história do Brasil, nos períodos do Império e Colônia, os conflitos existentes eram similares em diferentes regiões, apesar da vasta extensão territorial e da falta de comunicação existente em nosso país. Segundo Gohn (2012), no século XIX, as lutas tinham como herança as lutas sociais do século XVIII, por isso vamos relembrar algumas delas.

No século XVIII, a luta social era movida pelo desejo de libertação da Metrópole; seus líderes eram “liberais radicais” inspirados nos modelos da Revolução Francesa e Revolução Norte-americana (GOHN, 2012).

Começaremos pela Inconfidência Mineira (1789). Participaram desse movimento as elites intelectuais, mineradores ricos ou proprietários rurais, clérigos e militares. Este foi o primeiro movimento a determinar claramente as intenções de separação da Metrópole. Ele se deu a partir de três dimensões: a dimensão econômica, pois havia uma insatisfação com a cobrança abusiva de impostos; dimensão política, que surgia de uma ordem interna, devido às inúmeras arbitrariedades do, então, governador da Capitania de Minas Gerais; e a dimensão ideológica, pois o liberalismo inglês e os filósofos da época, com suas ideias e produções, influenciaram os inconfidentes. O desenrolar desse movimento foi conhecido por todos. Com a delação de um dos participantes, Tiradentes – principal líder do movimento – foi enforcado e esquartejado e os demais participantes sofreram a pena do degredo.

Em 1794/1795, surgiu o movimento conhecido como “Conjuração do Rio de Janeiro”, em que congregados da Academia Científica do Rio de Janeiro – fundada, em 1771, por escritores – começaram a discutir questões científicas e políticas e a demonstrar simpatia pelas ideias republicanas. Houve delação e o grupo sofreu processo de devassa, mas foi absolvido por faltas de provas (GOHN, 2012).

No ano de 1797, houve a “Revolta de Mulatos e Negros” e, no ano seguinte (1798), a ”Conspiração dos Alfaiates”, também conhecida por “Conjuração dos Alfaiates”, ambas na Bahia. Esta composta por membros de duas categorias sociais: baianos brancos, pertencentes às elites; e baianos pobres, brancos e negros – artesãos, soldados, oficiais e escravos. Daí a segunda denominação, devido à participação predominante de alfaiates no grupo dos artesãos. E foi exatamente a diferenciação de classes que se tornou um complicador quando as ações cresceram, pois o desejo de liberdade dos escravos chocou-se com a posição dos senhores brancos da elite. Esta também foi delatada. A punição resumiu-se à morte ou degredo das lideranças populares – somente os pertencentes à classe popular foram punidos.

A primeira metade do século XIX (1800 a 1850) foi marcada por lutas, movimentos e rebeliões nativistas. Esses foram eventos importantes para a construção da cidadania em nosso país, apesar de muitos deles não terem tido força suficiente para alcançar o objetivo.

quadro A resposta de Tiradentes, de Leopoldino de Faria

Degredo: Pena de desterro imposta a criminosos.

Devassa: sindicância, inquérito.

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

Os movimentos tinham dificuldades de se estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacrados, nas várias regiões do país, pelas forças da legalidade colonial ou imperial. As alianças de classe existentes eram tênues e contraditórias. (GOHN, 2012, p. 23).

Isso acontecia porque, muitas vezes, era o calor da luta e a revolta que os motivava, faltando estruturação racional que fundamentasse as ações e “a falta de unidade criava espaço também para delações e traições.” (GOHN, 2012, p. 24).

Essa falta de unidade, neste período, facilitava, para as elites dominantes, a desarticulação das lutas, assinalando-as como ações de barbáries.

A seguir, apresentamos um quadro com todos os Movimentos e Lutas Sociais da primeira metade do século XIX, mapeados por Gohn (2012), em seus estudos, registrando o nome, o local e o ano em que aconteceu. Depois faremos uma breve pontuação sobre alguns deles.

Movimentos e Lutas Ano Local

Conspiração dos Suassunas 1801 Pernambuco

Luta Sete Povos das Missões 1801

Movimento dos Maçons 1801-17 Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro

Atos de Insubordinação de Clérigos 1806 Rio Grande do Norte

Revolta de Escravos 1807-1835 Bahia

Revolta de Escravos 1814 Alagoas

Ajuntamento de Pretos 1815 Pernambuco

Revolução Pernambucana 1817 Pernambuco

Movimento de Monte Rodeador 1817-20 Pernambuco

Atos de Adesões à Revolução no Porto 1820 Rio de Janeiro e São Paulo

Agitações políticas de rua em torno da partida de D. João VI 1821 Rio de Janeiro

Bernarda 1822 São Paulo e Rio de Janeiro

Movimentos de Goiana 1822 Recife

Proclamação da Independência do Brasil 1822

Rebeliões contra as Juntas Constitucionais e Infantarias Lusas 1822-23 Bahia, Pará, Piauí e Paraíba

Motins de Pedroso 1823 Recife, Pernambuco

Confederação de Equador 1824 Recife

A batalha dos farrapos, de Wasth Rodrigues

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Constituição de 1824 1824

Guerra Cisplatina 1825-31 Região do Rio da Prata

Revolta dos Roma 1827 Pernambuco

Revolta Popular em Afogados 1829 Recife, Pernambuco

Conflitos entre brasileiros e portugueses 1829-31

Atos de Protesto 1830 Minas Gerais

A Balaiada 1830-41 Maranhão

Setembrizada 1831 Pernambuco

A Novembrada 1831 Pernambuco

Revolta dos “Exaltados” 1832 Rio, Minas, São Paulo, etc.

Caramurus 1832 Rio de Janeiro

Os Chimagos 1831-35

Movimento Cabanada 1832 Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Piauí

A Abrilada 1832 Recife

Noite das Garrafadas 1831 Rio de Janeiro

As Carneiradas 1834-35 Pernambuco

Movimento Cabanagem 1835 Belém do Pará

A Revolta dos Malês 1835 Bahia

A Guerra dos Farrapos 1835-45 Rio Grande do Sul

Movimento Messiânico Sebastianista 1836-38 Bahia

A Sabinada 1837 Bahia

Revoltas Escravas 1838 Maranhão e Minas Gerais

Criação do Falenstério de Saí e do Palmital 1841 Santa Catarina

Rebelião Liberal 1842 São Paulo

Rebelião Liberal 1842-44 Minas Gerais

Revolução Praieira 1847-49 Pernambuco

Quadro 1 – Lutas e Movimentos Sociais na primeira metade do século XIX

Como podemos observar, foram várias as resistências e os combates nesse período. Alguns, inclusive, de caráter internacional, como a Luta Sete Povos das Missões e a Guerra Cisplatina. Esta, marcada por um conflito bélico entre Brasil e Argentina, resultando em muitas perdas, tanto de vidas humanas quanto materiais, culminando na “perda da região de Cisplatina pelo Brasil, dando origem à República do Uruguai.” (GOHN, 2012, p. 31.).

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

Ainda é possível verificar que algumas lutas e movimentos colocavam-se contra o governo e outras a favor, como “Caramurus (1832)”, que objetivava a volta de D. Pedro I e a restauração do absolutismo; o “Movimento Cabanada (1832)” e “A Abrilada (1832)”, ambos de caráter conservador, que também aspiravam à volta de D. Pedro I.

Mas a maioria revelava-se contrária às arbitrariedades do governo e caminhava em busca de um governo Republicano. Com essa pretensão, encontramos a “Revolução Pernambucana”, em 1817, – também conhecida como Revolução dos Padres, por ser composta por comerciantes brasileiros e vários padres, destacando-se Frei Caneca – a qual chegou a tomar o poder em Recife, mas que também culminou na derrota.

Eles chegaram a tomar o poder em Recife e implantar um Governo Provisório, elaborando uma Lei Orgânica para orientar o novo regime até a promulgação de uma nova Constituição para o país, a qual deveria ser elaborada por uma Assembleia Constituinte. Assim como outros movimentos da época, a Revolução de 1817 foi esmagada e vários de seus líderes presos e mortos. (GOHN, 2012,p. 27).

Também com caráter liberal e constitucionalista, em 1820, a Revolução do Porto fermentou-se a partir das notícias da Revolução em Portugal.

A Proclamação da Independência, em 1822, também apareceu, no cenário histórico, como um movimento social, mas, segundo historiadores, seu ato, propriamente dito, deu-se a partir de um figurante, D. Pedro I.

A partir do crescimento do sentimento de “lusofobia” e do agravamento da crise nas relações com a corte, o príncipe D. Pedro I chefia um processo político do qual era figurante, aliás um figurante de oposição. O povo discutiu, segundo o registro de historiadores do período, nas ruas, os acontecimentos, sem ter participado diretamente do ato. (GOHN, 2012, p. 29).

Após a Independência, continuaram as lutas pela Constituição e pela inserção do povo na participação do governo (direito de representação). A “Confederação do Equador”, em 1824, – liderada por Frei Caneca e por Cipriano Barata – deu-se pela oposição ao processo Constituinte pós-Independência. Esse movimento buscava aglutinar as províncias da região norte do país, de forma federativa, com um governo representativo e republicano. Realizou ações como a formação de uma Assembleia Constituinte, o preparo de um projeto de Constituição, a suspensão do tráfico de escravos e a criação de uma nova bandeira, representando, assim, uma reação contrária ao absolutismo de D. Pedro I. Essa revolta contou com intensa participação popular – “população livre: mulatos, pretos, forros, e militares de baixa patente”, constituía as brigadas armadas, embora também houvesse as milícias, batalhões armados. Mas essa revolta também foi massacrada e dezenas de seus líderes mortos (GOHN, 2012, p. 30).

Nossa primeira Constituição (1824) consignava poder absoluto ao Imperador e altos poderes aos parlamentares. Os poderes políticos eram hierárquicos, e era excluída a nacionalidade dos escravos, não sendo estes, dessa forma, considerados brasileiros.

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Outras revoltas surgiram com sentido republicano e por reformas na Constituição. Podemos citar a “Revolta dos Roma” (1829) e a “Revolta Popular, em Afogados” (1829-31), com sentido republicano; e “Os Chimagos” (1831-35), com a perspectiva de reformas na Constituição, a fim de “reforçar os poderes locais de representação nos municípios e evitar o excessivo domínio do governo central” (GOHN, 2012, p.33). Essa revolta tinha em sua composição liberais moderados.

Queremos ainda ressaltar três movimentos que ocorreram no primeiro período de século XIX, devido à sua importância para a história dos movimentos sociais no Brasil. São eles: a “Guerra dos Farrapos” (1835-45), “A Sabinada” (1837) e a “Revolução Praieira” (1847-49).

A mais longa revolta armada da nossa história, no século XIX, foi a Guerra dos Farrapos, liderada pelos gaúchos que se organizavam em companhias de guerrilha, as quais “varreram as tropas imperiais da região dos pampas”, mas foram “obrigados a se render diante dos ataques das forças imperiais comandadas por Caxias e atacados ao sul pelos uruguaios” (Gohn, 2012, p. 35-36). Era composta por uma grande quantidade de homens livres, não proprietários e pobres. Eles foram subjugados, porém foram lhes concedidas várias condições nunca dadas, antes, a grupos revoltosos (GOHN, 2012).

A Sabinada foi uma revolta urbana na província da Bahia. Ela foi precedida de ampla campanha de opinião, através da imprensa da época – essa é a grande diferenciação deste movimento. Grupos maçons participavam dos movimentos. Chegaram a conseguir a adesão de tropas do governo e proclamar a república na província, mas, a exemplo da “Cabanagem” e dos “Farroupilhas”, também foi esmagada com grande brutalidade (GOHN, 2012).

A Revolta Praieira contou com participação marcante de elites intelectuais e políticas (a exemplo da maioria dos movimentos dessa época), porém teve uma grande participação popular – dois mil homens e armas. A marca dessa revolta foi a “perspectiva de mudança social diferente da do projeto das oligarquias rurais latifundiárias” (GOHN, 2012, p.38). Defendiam a Reforma Agrária e a abolição do latifúndio. Foi um movimento de defesa das camadas médias urbanas: brancos, mulatos e negros livres. Em 1849 resolveram deflagrar a Revolução, a qual durou dois meses, mas foram dominados pelas forças armadas legais e os seus líderes mortos ou deportados (GOHN, 2012).

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Para exercitar o seu pensamento crítico, assista ao vídeo, atentando para a letra da música e condu-zindo sua reflexão para o conteúdo desta unidade. https://www.youtube.com/watch?v=qbUo0wdEd4k Reflita: “É possível se fortalecer frente às derrotas?”

Por esse recorte, é possível observar a fragilidade dos movimentos da época na sua concepção, devido à falta de clareza nos projetos e de politização e à ambiguidade das alianças que foram fatores contribuintes para sua derrota. E devemos assinalar que esses fatores “fizeram com que as camadas populares fossem sempre as mais reprimidas.” (GOHN, 2012, p. 25).

subjugado: submetido pela força das armas, dominado, reprimido.

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

Segunda Metade do Século XIXNa segunda metade do século XIX, as lutas sociais, em grande parte, giraram em torno da

questão dos escravos e também de movimentos de auxílio mútuo e das lutas contra o fisco.

Esses movimentos “envolviam aspectos da luta pela cidadania, identidade, liberdade humana, assim como a luta por questões que interferiam no cotidiano dos meios coletivos urbanos, como o transporte.” (GOHN, 2012, p. 40).

Gohn (2012) aponta setenta movimentos sociais ocorridos na segunda metade do século, incluindo as guerras contra os países vizinhos ao sul, entretanto nossa atenção estará voltada para os movimentos que tiveram maior influência na vida política e social em nosso país.

Iniciaremos pelas lutas em torno da questão dos escravos. Gohn (2012) aponta que a luta contra o escravismo foi uma luta dos próprios escravos, com avanços e recuos devido à resistência dos fazendeiros à abolição. Mas eles – os escravos – tiveram o apoio, em vários momentos, de intelectuais e políticos. Foi uma luta longa e árdua.

Nos anos de 1850, foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz, que abolia o tráfico negreiro no Brasil. Vale ressaltar que houve pressões externas, mas a própria pressão interna dos escravos contribuiu, visto que as revoltas eram constantes, “vindo a se transformar nas décadas seguintes na principal questão social do país.” (GOHN, 2012, p. 42).

Entre os vários movimentos, podemos mencionar: a “Luta da Associação Tipográfica Fluminense” (1853), para libertar escravos; a “Primeira Greve de Escravos-Operários do Brasil” (1857); a “Lei do Ventre Livre” (1871), que foi mais uma concessão que as elites dominantes tiveram que fazer: tornar os filhos de escravos nascidos no Brasil livres (isso, devido ao movimento escravista); o “Movimento Antiescravista Caifazes” (1880), que apoiava a fuga de escravos; e a “Sociedade Abolicionista Ouropretana” (1881) e “Clube do Cupim” (1884), as quais organizavam e promoviam fugas de escravos.

“Nos anos de 1880 a Campanha Abolicionista difundiu-se por todo país e teve apoio popular. [...]. A abolição da escravatura surgiu, assim como as conquistas anteriores, via projeto legislativo, assinado pela princesa regente, D. Isabel, consagrada posteriormente pela mídia como a “libertadora dos escravos”. A lei que acabou com o cativeiro de negros africanos no Brasil teve o nome de Lei Áurea.” (GOHN, 2012, P. 51).

O Movimento Abolicionista durou dez anos (de 1878 a 1888), mas, como vimos, as lutas antiescravagistas que precederam esse movimento foram de fundamental importância.

Os Movimentos de Auxílio Mútuo configuraram-se numa forma peculiar de associação das classes populares. Esses Movimentos visavam ao cuidado tanto das necessidades econômicas, quanto dos aspectos culturais, como bibliotecas, festas, jogos, etc. Também representavam um forte componente social, partindo da solidariedade para com os doentes, os idosos, as viúvas, os inválidos, etc., e dedicando-se, ainda, à construção de casas, creches, abrigos, hospitais e orfanatos. Para a camada assalariada, o Movimento Mutualista, no Brasil, desempenhou o papel de uma Previdência Social (GOHN, 2012).

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Alguns desses movimentos foram: “Sociedade Artística Beneficente” (1859); “Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos” (1879); “Sociedade Suíça de Beneficência Helvétia” (1880); “Sociedade Protetora dos Portugueses Desvalidos” (1885); “Associação Beneficente dos Funcionários Públicos” (1888); “Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio” (1888); “Associação de Socorros Mútuos Artes e Ofícios” (1889); “Sociedade Beneficente dos Alfaiates de São Paulo” (1891); entre outros.

Também foi na segunda metade do século XIX que aconteceram a Revolta de Canudos (1874 -1897) e o Movimento Republicano (1880 -1889).

A Revolta de Canudos tinha um cunho religioso; figurava-se, no início, como uma revolta contra a cobrança de impostos. Após alguns anos, Canudos tornou-se um espaço geopolítico totalmente distinto do território nacional, sendo procurado por milhares de pessoas. Foi caracterizado pelos historiadores tradicionais como um movimento de fanatismo religioso e pelos historiadores contemporâneos como um movimento de resistência e de caráter social-libertário. (GOHN, 2012).

Canudos tornou-se questão de política nacional, por lhe ter sido atribuído um caráter antirrepublicano, o novo regime político brasileiro; a República decretada em 1889, necessitava de “vítimas” para perseguir, quanto às supostas conspirações monarquistas. [...]. Em 1887, após quatro expedições militares, onze meses de luta sangrenta, com a morte de mais de oito mil pessoas, Canudos foi esmagado pelas forças militares (GOHN, 2012, p. 49).

O Movimento Republicano representava a luta pela queda da Monarquia e a implantação da República. Esta luta constituía-se em um fato político extremamente ligado à luta abolicionista e à questão militar. Essa questão do escravismo deu à causa um caráter muito mais social do que político. Foi um movimento predominantemente militar, apesar de contar com apoio popular.

O Movimento Republicano foi precedido de outro movimento chamado de “Questão Militar”.

“A chamada Questão Militar foi um dos fatos que levaram à proclamação da República em 1889. Entretanto suas origens datam de 1866, quando o Duque de Caxias assumiu o comando total das operações na guerra contra o Paraguai.” (GOHN, 2012, p.45).

Em 1891 foi promulgada a Nova Constituição, inspirada no modelo americano e com pouca participação do povo em sua elaboração. Ao contrário da Constituição de 1842, que trazia a obrigatoriedade da escolarização, a Nova foi omissa quanto às questões da educação e do ensino. Além disso, vetou o direito de voto aos analfabetos. Não assegurou o direito de greve, mas garantiu o direito de reuniões, liberdade de pensamento e expressão (imprensa sem censura).

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Unidade: História dos Movimentos Sociais

4. Movimentos, Lutas Sociais no Brasil no Século XX

A partir do século XX, as lutas sociais passaram a ter caráter urbano, com o que surgem novas categorias de lutas. Essas categorias são diversas e vão desde lutas da classe operária até lutas cívicas e movimentos por questões ambientais.

De acordo com a conjuntura sociopolítica do país, cada uma dessas lutas teve maior ou menor importância, fazendo parte da História do Brasil.

Durante Primeira República (1900-1930), devido ao avanço da urbanização em razão da economia do café na região centro-sul do país, as lutas centraram-se na questão do trabalhador imigrante, que reivindicavam melhores salários, rebaixamento do preço dos gêneros alimentícios, redução da jornada de trabalho e congelamento dos aluguéis, formando organizações anarco-sindicalistas. Foram criados vários sindicatos de categorias e, a partir desses, fizeram-se inúmeras greves. Os anarco-sindicalistas combatiam toda forma de organização burocratizada e rígida – Estado, Igreja –; eles “deram grande ênfase à cultura, à educação das massas e à igualdade entre os sexos.” (GOHN, 2012, p. 62).

A questão social nessa época era tratada como “caso” de polícia. Na área da Previdência, as políticas eram tímidas e pontuais, configurando-se como política nacional somente nos anos de 1930, continuando, assim, a cargo das Associações de Mútuo Auxílio realizar esse papel.

Foi uma fase marcada, de um lado, pela pobreza, agravada pelas epidemias: febre amarela, varíola, peste bubônica, surtos de gripe; e, de outro lado, pelas elites dominantes, priorizando construções de estradas voltadas aos interesses dos donos de cafezais.

Por isso deram-se várias revoltas, algumas voltadas para as questões da saúde, como a “Revolta contra a Desinfecção Sanitária” (1900) e “Revolta das Vacinas” (1904); outras de cunho político, como o “Movimento Político Contra o Regime Republicano (1902); a “Revolta da Escola Militar” (1904), que visava à derrubada do presidente e à instauração de uma “nova República” e que abrangeu a jovem oficialidade, sendo esmagada pelo poder central; “Liga Republicana” (1906); “Campanha Civilista” (1910), que visava ao lançamento de uma candidatura civil para a Presidência da República, movimento que foi derrotado nas urnas com a eleição do militar Hermes da Fonseca; “Movimento de Criação do Partido Comunista do Brasil”(1922); a “Revolução em São Paulo” (1924), que articulou a Coluna Prestes; a “Coluna Prestes” (1925-27), que trazia, em sua plataforma, entre outras coisas, a reivindicação do direito ao voto secreto, ao voto das mulheres, à liberdade de imprensa, entre outros; além dos movimentos grevistas e ainda a criação de outras associações mútuas.

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Para saber, mais leia o capítulo 1, páginas 61-81, de: GOHN, Maria da Glória. História dos mo-vimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. – 7. ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2012.

A “Revolução Política” (1930) que levou Getúlio Vargas ao poder dá início a uma nova fase na história brasileira.

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Trata-se da vitória de um projeto liberal industrializante, que em oposição às elites conservadoras rurais, delineará com muita vagarosidade um novo cenário para a nação: o urbano passa gradativamente a ser objeto de atenção das políticas públicas, visando-se criar condições para o adensamento da mão de obra, as indústrias crescem paulatinamente na região sul do país, as correntes de imigração estrangeiras são definitivamente substituídas pelas migrações nacionais, criam-se legislações e ordenamentos jurídicos novos, o Estado passa a organizar e a interferir na economia e na sociedade com mais vigor. Ainda que as elites conservadoras tenham mantido suas influências junto ao poder público, dada a redefinição das alianças políticas que estabelecem no cenário do país, o caráter da luta social adquire novos contornos. (GOHN, 2012, p. 82)

É nessa fase que vemos as camadas populares emergirem como atores históricos dentro de um novo prisma, deixando de ser caso de polícia para transformarem-se em cidadãos com alguns direitos, como os trabalhistas. Nessa fase (1930 -1945), houve várias lutas e movimentos, entre eles, a “Marcha da Fome” (1931); o “Movimento dos Pioneiros da Educação” (1931), a “Revolução Constitucionalista” (1932); a “Nova Constituição” (1934) e os “Movimentos de Associações de Bairros”.

Os anos de 1945 a 1964 marcaram um período conhecido como populista ou nacional-desenvolvimentista, devido às formas de participação social, pois, a partir do processo de redemocratização, houve a retomada das disputas político-partidárias no país. Nessa fase os movimentos reivindicaram várias questões. Esse período também corresponde à fase de grande intervenção do Estado na economia, com o objetivo de criar condições básicas para a nova etapa de acumulação do capital. Iniciou-se a intervenção do Estado na sociedade por meio de políticas públicas de cunho clientelístico. Também se pode dizer que foi uma fase muito fértil culturalmente (GOHN, 2012).

Agora adentramos um período de grande repressão na sociedade brasileira, a ditatura militar (1964- 1974), um período de grande efervescência do movimento de esquerda no país. Ocorreram várias lutas de resistência e protestos, resultando em prisões, torturas e perseguições. Corresponde também à fase do milagre econômico, no qual as massas populares, em geral, sofreram com o arrocho salarial, mas mantiveram-se caladas devido à necessidade do emprego (GOHN, 2012).

As lutas pela redemocratização correspondem ao período de resistência e enfrentamento ao regime militar, ocorrido nos anos de 1975 a 1982, sendo este um dos mais ricos “da História do Brasil, no que diz respeito às lutas, movimentos e, sobretudo, projetos para o país.” (GOHN, 2012).

Ele corresponde a uma fase de resistência e de enfrentamento ao regime militar, que já perdera sua base de legitimidade junto à sociedade devido à crise econômica que se esboçava desde 1973 com a chamada crise do petróleo, a retomada vagarosa da inflação, o desmonte das facilidades do paraíso do consumo das classes médias. As eleições de 1974 significaram um vigoroso “não” da população ao regime político vigente, fazendo do partido de oposição, o MDB, o vitorioso das urnas (GOHN, 2012, p.114).

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Foi uma fase de crença na volta pela democracia em nosso país e na possibilidade de mudanças históricas, não conseguidas no passado, a partir da força do povo, das camadas populares organizadas. Gohn (2012) fala dessa esperança, apontando o desejo “dos excluídos” da sociedade de serem os novos atores históricos:

Os moradores das periferias, das favelas, cortiços e outros submundos saem da penumbra e das páginas policiais para se tornarem os depositários das esperanças de serem novos atores históricos, sujeitos de processos de libertação e de transformação social (GOHN, 2012, p.114).

A Nova República e a Restauração Democrática são apontadas por Gohn (2012) como uma fase marcada pela negociação: a era dos direitos (1982-1995). Essa compreende a sexta fase do mapeamento feito pela autora. Ela afirma que, apesar de ser o período mais curto, ele é repleto de movimentos e lutas.

É um período de intensa movimentação social devido à característica da conjuntura política e à dimensão dos problemas sociais, resultantes do aumento da população no país e também da facilidade de divulgação e reprodução das ações coletivas através dos meios de comunicação de massas. (GOHN, 2012).

Após quase duas décadas de indicações de governadores dos estados brasileiros pelo regime militar, o povo conquista o poder do voto e de eleger seus representantes ao governo do estado por meio de eleições diretas.

A década de 1980 foi marcada por muitas experiências político-sociais, como a “luta pelas diretas já”, trazendo a implantação de um calendário político que trouxesse de volta as eleições presidenciais e a redução do mandato do presidente. Houve, também, o surgimento das Centrais Sindicais e a criação de entidades organizativas e de inúmeros movimentos sociais (GOHN, 2012).

Contudo, junto com a volta do jogo democrático, veio a crise econômica, com altos índices de inflação e o altíssimo número desemprego. Muitas greves foram deflagradas e houve tumulto das massas, chegando ao extremo de saquearem mercados, fazerem linchamentos populares na ânsia de fazer justiça com as próprias mãos, revelando um desespero social.

“Os anos de 1980 são fundamentais para a compreensão da construção da cidadania dos pobres no Brasil, em novos parâmetros.” (GOHN, 2012, p. 126). Apesar das perdas em termos econômicos, foi uma década muito positiva em termos políticos e culturais. Todavia foi uma década que findou com a desmobilização e a descrença em massa (GOHN, 2012).

Nos ano de 1990, uma pequena luz de esperança voltou a fazer parte da história social do Brasil, com o “Movimento pela Ética na Política”, culminando no impeachment do ex-presidente Collor. Assim, as lutas sociais foram redefinidas, os movimentos sociais alteraram-se substancialmente, chegando até, em alguns casos, a entrar em crise. “Surgem novos movimentos sociais, centrados mais em questões éticas ou de revalorização da vida humana.” (GOHN, 2012, p. 127).

Dessa forma deslocou-se o eixo das reivindicações das questões econômicas para as questões de moral, e retomou-se a questão dos direitos sociais tradicionais.

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Nesse cenário cresceu o número de “Organizações Não-Governamentais” (ONGs) e de políticas de parcerias implementadas pelo poder público.

Trata-se das novas orientações voltadas para a desregulamentação do papel do Estado na economia e na sociedade como um todo, transferindo as responsabilidades do Estado para as “comunidades” organizadas, com a intermediação das ONGs, em trabalhos de parceria entre o público estatal e o público não estatal e, às vezes, com a iniciativa privada também. (GOHN, 2012, p. 128-129).

Com a volta das eleições gerais, em 1994, alterou-se o cenário sociopolítico.

“Um novo plano econômico, uma nova moeda e um novo candidato, surgido de um pacto político entre as elites, possibilitaram a ascensão de novos quadros ao poder central.” (GOHN, 2012, p. 129).

Procuramos delinear, em poucas linhas, um pouco da história das lutas e dos movimentos sociais ocorridos no Brasil nos séculos XIX e XX. Mas, nas próximas unidades, retomaremos alguns pontos desses estudos.

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Material Complementar

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Para conhecer um pouco mais sobre os Movimentos Sociais, acesse o site abaixo e leia a resenha do livro: Novas Teorias dos Movimentos Sociais, de Maria da Glória Marcondes Gohn. São Paulo: Edições Loyla, 2008.http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/715/71512786019.pdf

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Para complementar seus estudos, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=mheTr2Ee98E

E assista a uma entrevista com o filósofo Mario Sérgio Cortella falando sobre politizar-se. Entrevista concedida ao programa “Mais Você”, da Rede Globo.

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O artigo “Movimentos identitários e a formação de professores” é fruto de uma pesquisa, realizada por Vera Maria Nigro de Souza Placco et.al., que buscou compreender como os movimentos identi-tários ocorrem durante a formação continuada de professores.

Veja acessando o site: http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosComple-tos/comunicacoesRelatos/0536.pdf

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Referências

CORTELLA, Mario Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 14. ed. – São Paulo: Cortez, 2011.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. 5. ed. – São Paulo: Cortez, 2010.

GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. – 7. ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2012.

______. Teorias dos movimentos sociais. 5.ed. São Paulo: Loyola, 2006.

______. Novas teorias dos movimentos sociais. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

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Anotações

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