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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS ALUNOS DO PIBID SOBRE A INCLUSÃO NA ESCOLA Raissa Forte Pires Cunha Universidade Federal do Ceará Marlúcia Chagas de Lima Universidade Federal do Ceará Adriana Limaverde Gomes Universidade Federal do Ceará RESUMO Este trabalho objetiva discutir sobre as concepções de estudantes dos cursos de licenciatura em Educação Física, Pedagogia, Letras, Geografia e Biologia da Universidade Federal do Ceará acerca da inclusão escolar de alunos que apresentam deficiência. Percebe-se na formação inicial dos licenciandos uma preocupação crescente quanto à oferta de disciplinas relacionadas à educação especial e educação inclusiva. Além da oferta destas disciplinas, verifica-se também significativa produção acadêmica na área da educação especial, que resulta de programas de extensão, projetos de pesquisa, e ainda do programa institucional de bolsa de iniciação a docência (PIBID). Este artigo fundamenta-se nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental do Sistema Público Municipal de Ensino de Fortaleza (2011), particularmente nos aspectos ligados à Educação Inclusiva. A coleta dos dados consistiu no uso da técnica de associação livre de palavras assim definidas: deficiência, escola e inclusão. Verificou-se que os alunos recém-ingressos no PIBID, apesar de demonstrarem conhecimentos sobre inclusão, ainda se ressentem de maior aprofundamento quanto aos conceitos relacionados à educação especial inclusiva. Conclui-se que é fundamental um maior investimento na formação continuada dos futuros professores que terão em suas salas de aulas alunos com deficiência em um contexto de inclusão. Palavras-Chave: inclusão, PIBID, estudantes. INTRODUÇÃO A Educação Inclusiva pressupõe a ruptura com os paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas e contesta os sistemas educacionais que insistem em organizar dois tipos de escolas: a especial e a comum. Ela concebe a escola como um espaço de todos, no qual os alunos constroem conhecimentos segundo suas capacidades, expressam suas ideias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças (RODRIGUES, 2006; FIQUEIREDO, 2010). O conceito de Inclusão no âmbito específico da Educação, implica, antes de mais, rejeitar, por princípio, a exclusão (presencial ou académica) de qualquer aluno da comunidade escolar” (RODRIGUES, 2006, p. 2). No Brasil, os cursos de licenciaturas oferecem em caráter obrigatório, a disciplina de libras. Além da obrigatoriedade da disciplina de Libras, o curso de Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02652

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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS

ALUNOS DO PIBID SOBRE A INCLUSÃO NA ESCOLA

Raissa Forte Pires Cunha – Universidade Federal do Ceará

Marlúcia Chagas de Lima – Universidade Federal do Ceará

Adriana Limaverde Gomes – Universidade Federal do Ceará

RESUMO

Este trabalho objetiva discutir sobre as concepções de estudantes dos cursos de

licenciatura em Educação Física, Pedagogia, Letras, Geografia e Biologia da

Universidade Federal do Ceará acerca da inclusão escolar de alunos que apresentam

deficiência. Percebe-se na formação inicial dos licenciandos uma preocupação crescente

quanto à oferta de disciplinas relacionadas à educação especial e educação inclusiva.

Além da oferta destas disciplinas, verifica-se também significativa produção acadêmica

na área da educação especial, que resulta de programas de extensão, projetos de

pesquisa, e ainda do programa institucional de bolsa de iniciação a docência (PIBID).

Este artigo fundamenta-se nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental do

Sistema Público Municipal de Ensino de Fortaleza (2011), particularmente nos aspectos

ligados à Educação Inclusiva. A coleta dos dados consistiu no uso da técnica de

associação livre de palavras assim definidas: deficiência, escola e inclusão. Verificou-se

que os alunos recém-ingressos no PIBID, apesar de demonstrarem conhecimentos sobre

inclusão, ainda se ressentem de maior aprofundamento quanto aos conceitos

relacionados à educação especial inclusiva. Conclui-se que é fundamental um maior

investimento na formação continuada dos futuros professores que terão em suas salas de aulas

alunos com deficiência em um contexto de inclusão.

Palavras-Chave: inclusão, PIBID, estudantes.

INTRODUÇÃO

A Educação Inclusiva pressupõe a ruptura com os paradigmas que sustentam o

conservadorismo das escolas e contesta os sistemas educacionais que insistem em

organizar dois tipos de escolas: a especial e a comum. Ela concebe a escola como um

espaço de todos, no qual os alunos constroem conhecimentos segundo suas capacidades,

expressam suas ideias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se

desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças (RODRIGUES, 2006; FIQUEIREDO,

2010). “O conceito de Inclusão no âmbito específico da Educação, implica, antes de

mais, rejeitar, por princípio, a exclusão (presencial ou académica) de qualquer aluno da

comunidade escolar” (RODRIGUES, 2006, p. 2).

No Brasil, os cursos de licenciaturas oferecem em caráter obrigatório, a

disciplina de libras. Além da obrigatoriedade da disciplina de Libras, o curso de

Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

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Pedagogia da Universidade Federal do Ceará também oferta a disciplina de educação

especial.

Neste trabalho elegeu-se o PIBID para investigar as concepções dos estudantes

participantes do subprojeto de Educação Inclusiva acerca da inclusão escolar de alunos

que apresentam deficiência. O PIBID é um programa que incentiva e valoriza o

magistério e também busca o aprimoramento do processo de formação de docentes para

a educação básica. O PIBID possibilita que os futuros docentes se insiram na escola, e

aprendam seu futuro ofício a partir de experiências práticas nas salas de aula. No

desenvolvimento das ações nas escolas, os bolsistas são orientados por coordenadores

de área – docentes das licenciaturas – e por supervisores – docentes das escolas públicas

parceiras do programa.

No ano de 2012, a Universidade Federal do Ceará iniciou as ações do subprojeto

de Educação Inclusiva em três escolas do município de Fortaleza. O desenvolvimento

desse subprojeto favorece a compreensão dos licenciandos quanto ao trabalho docente

na perspectiva inclusiva. Nesse contexto eles têm a oportunidade compreenderem que as

pessoas com deficiência devem sair dos espaços institucionalizados em que foram

historicamente confinados para ocupar lócus sociais comuns (BLACON, 1995).

A convivência diária com os estudantes com deficiência oportuniza aos

graduandos o enfrentamento do desafio de incluir todos os alunos, e refletirem sobre as

práticas pedagógicas. Essa reflexão desafia os licenciandos em parceria com os

professores identificar potencialidades e limites dos alunos na busca de uma

aprendizagem significativa.

METODOLOGIA

A pesquisa desenvolveu-se em uma escola pública do município de Fortaleza,

que oferece escolarização da Educação Infantil ao 9º ano. Atualmente a escola conta

com seis estudantes bolsistas dos cursos de licenciaturas em: Educação Física,

Pedagogia, Letras, Geografia e Biologia. Esses estudantes participam de atividades

pedagógicas nas salas de aula onde há alunos incluídos. A escola conta com 710

estudantes distribuídos nos turnos manhã e tarde da Educação Infantil ao 9º ano. Destes

710 estudantes matriculados, 21 são público alvo da educação especial: 01 com paralisia

cerebral; 12 com deficiência intelectual; 02 com Síndrome de Down; 03 com Transtorno

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Espectro Autista; 01 com surdez; 01 com deficiência múltipla; 01 com deficiência

física.

Participaram deste estudo quatro estudantes (E1, Educação Física; E2, Letras;

E3, Biologia; E4, Pedagogia, do subprojeto de Educação Inclusiva, selecionados de

acordo com o critério de menor tempo de participação, pois o mesmo procedimento será

realizado após decorridos seis meses. Optou-se pela aplicação de modo individual do

teste de associação livre de palavras, com base em Nóbrega e Coutinho (2003), que

afirmam que o teste propõe captar informações com mais originalidade e, ao mesmo

tempo, de forma rápida. O procedimento consistiu em solicitar que os estudantes

associassem palavras, comentários ou expressões que lhes vinham à cabeça a partir de

três palavras indutoras: 1. Deficiência; 2. Escola; 3. Inclusão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados a partir das palavras indutoras: deficiência,

escola e inclusão.

Deficiência

Dentre os quatro estudantes participantes, três deles (E1, E2, E3) associaram a

palavra “Deficiência” a “dificuldade e fardo”. Apenas um deles (E4) nominou a palavra

“pessoa” como resposta. Nas associações dos três estudantes, verifica-se que as

dificuldades associadas podem ser compreendidas na medida em que o ensino é

organizado de modo homogeneizante. Entretanto ver a deficiência como “dificuldade”

não corrobora com a visão preconizada pela Educação Inclusiva. Ao longo da história

os alunos das escolas comuns são positivamente valorados, enquanto aqueles que

apresentam qualquer tipo de deficiência são os negativamente concebidos e

diferenciados (ROPOLI et al., 2010). A Educação Inclusiva rompe com essa visão e

afirma que todos os alunos são diferentes.

Escola

Quanto ao termo indutor “Escola”, 3 estudantes (E1, E2, E4) relacionaram a

palavra “aprendizado”, e um deles (E3) associou a “formação”. Para esses estudantes, a

escola é um espaço de aprendizado para todos. Defende-se que a escola é também lugar

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onde as trocas afetivas são realizadas, sentimentos como amizade e companheirismo são

necessários no convívio e no respeito pelo outro.

Para Figueiredo (2011), a escola que entendeu o princípio da inclusão, sabe que

precisa rever práticas pedagógicas, não porque agora tem a presença de um aluno com

deficiência na sala de aula, mas porque compreendeu que não pode ignorar a diferença de seus

alunos.

Inclusão

Em relação ao termo “Inclusão”, dois estudantes (E1, E2) associaram que

crianças com deficiência devem realizar a mesma atividade que as outras. A fala de E1

ilustra “É colocar crianças para desenvolver atividades com outras”. Tal pensamento

corrobora com o principio da inclusão que defende que os alunos devem aprender

juntos. Outro estudante (E3) citou que significa “não ressaltar as diferenças”. Para

Ropoli et al. (2010), a escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças

dos alunos e busca a participação e o progresso de todos e adota práticas pedagógicas

includentes.

Ainda em relação ao termo inclusão, um dos estudantes (E4) enfatizou que a

inclusão é uma “reparação social”. Ao longo da história, as pessoas com deficiência

conquistaram o direito de frequentar a escola comum. No entanto, a educação inclusiva

vai além do acesso ao ensino comum. Figueiredo e Silveira (2010) enfatizam que é

necessário que a escola “pense em diferentes formas de avaliação, de definição de

objetivos, criando e gerindo situações de aprendizagem, revendo costumes pedagógicos

e especialmente, encarando as dificuldades e limitações como desafios...”.

CONCLUSÃO

Conclui-se que os bolsistas do PIBID em processo de formação docente têm a

oportunidade de conviver com os desafios de escolarizar todos os alunos. Suas

concepções acerca das palavras indutoras utilizadas ainda se ressentem de maior

apropriação de conhecimentos. Diante disso, é importante programas dessa natureza que

oferecem aos licenciandos um espaço de aprendizagem em um contexto dinâmico.

Desta forma, um processo inclusivo implica em mudanças, tanto no sistema quanto na

escola. E, principalmente, requer uma nova visão das pessoas, uma mudança de

mentalidade, de forma que todos sejam respeitados, independentemente de suas

diferenças.

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Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

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