educação física escolar na ditadura militar 1964-1985 - iniciação cientifica

297
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU A EDUCAÇÃO FÍSICA NO REGIME MILITAR PEDRO LUCAS DOS SANTOS PÊGO RELATÓRIO FINAL

Upload: pedro-lucas

Post on 02-Aug-2015

742 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO REGIME MILITAR

PEDRO LUCAS DOS SANTOS PÊGO

RELATÓRIO FINAL

BAURU

Page 2: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

2011

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO REGIME MILITAR

PEDRO LUCAS DOS SANTOS PÊGO

Orientadora: Prof.ª Dr.ª DAGMAR A. CYNTHIA FRANÇA HUNGER

Relatório Final apresentado à Comissão Permanente de Pesquisa da Faculdade de Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru (UNESP/CNPq/PIBIC/2010-2011).

Page 3: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

BAURU

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................4

OBJETIVO..................................................................................................................................7

METODOLOGIA.......................................................................................................................8

1. O Contexto Histórico da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)......................................14

1.1 João Goulart e o Golpe de 1964...........................................................................................14

1.2 O Regime Militar..................................................................................................................15

1.3 O Governo Costa e Silva e o “Golpe dentro do Golpe” ....................................................16

1.4 Os Anos de Chumbo e o Milagre Econômico.....................................................................16

1.5 Abertura Gradual, Lenta e Segura.....................................................................................18

1.6 Redemocratização e as “Diretas Já” ..................................................................................19

1.7 Reencontro com a Democracia............................................................................................20

2. Breve Histórico da Educação Física nos anos do Regime Militar

(1964-1985) no Brasil..................................................................................................................20

2.1 Educação Física Escolar.......................................................................................................20

2.2 Esportes para Todos.............................................................................................................25

2.3 O Esporte sob a Égide da Ditadura Militar........................................................................28

2.4 A Formação do Professor de Educação Física...................................................................31

RESULTADOS E DISCUSSÃO ...............................................................................................35

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................72

REFERÊNCIAS..........................................................................................................................75

APÊNDICE A - Roteiro base de questões para entrevista......................................................78

APÊNDICE B - Entrevistas.......................................................................................................80

Page 4: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

IINTRODUÇÃO_____________________________________________________NTRODUÇÃO_____________________________________________________

Como estudante do ensino fundamental, especialmente, a partir dos estudos da

disciplina de História Contemporânea, na parte dedicada à História do Brasil, em que

estudamos a Ditadura Militar, despertou-me as primeiras indagações com referência a esse

período, tão marcante na sociedade brasileira. Os depoimentos de pessoas torturadas e

censuradas, que líamos nas apostilas e livros didáticos, reforçaram ainda mais nosso choque

ao saber que há pouco mais de trinta anos o nosso país abrigava um regime manipulador,

controlador e que afetou vidas, os costumes, a cultura e o cotidiano de uma parcela

significativa da população. Foi quando ouvimos a música “Apesar de Você” e “Cálice”, de

Chico Buarque de Hollanda, que tivemos uma compreensão melhor de até onde chegou o

totalitarismo do governo naqueles anos.

No primeiro semestre do curso de Licenciatura em Educação Física, na disciplina de

História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, novamente foram retomadas questões

pertinentes a esse período, especificamente, no que diz respeito à Educação Física. As aulas

proporcionaram estudos mais aprofundados. Realizamos leituras da literatura específica do

assunto, no entanto, a indagação de como a ditadura teria influenciado no cotidiano do ensino

da educação física escolar não ficou devidamente esclarecida.

Assim, justifica-se a pesquisa ora apresentada sobre a Educação Física Escolar,

especialmente, nos anos da ditadura militar, buscando por intermédio de depoimentos orais de

professores que atuaram no período, ampliar o entendimento que temos presente na

bibliografia estudada, a qual pontua que tal governo influenciou na prática esportiva das aulas

de educação física e que isso se reflete até os dias atuais, bem como o desenvolvimento

daquelas aulas.

Page 5: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

A literatura estudada relata que o governo nos anos do regime de exceção usou a

Educação Física Escolar aliada ao esporte como fonte de alienação da população, a fim de

obter-se um controle do povo e dos alunos por intermédio da prática esportiva. Ou seja, a

Educação Física neste período representou uma estratégia para o governo, que calcado no

militarismo, fazia da sua gestão um governo com poder centralizado pelas Forças Armadas,

que tinham o controle da economia, da política, dos meios de comunicação, da educação e da

cultura.

O esporte foi usado como uma razão, neste caso alienador do povo brasileiro, em que as

pessoas ao praticarem esportes, não teriam tempo ou motivo para se envolver em questões de

natureza “subversiva” como a contestação da forma de gestão do país pelos seus

governadores, especialmente no âmbito político, dentro das universidades.

A Educação Física era obrigatória nos três ramos de ensino no país, primeiro e segundo

graus e ensino superior, tal era o desejo do governo de através do esporte escolar controlar os

estudantes segundo a literatura onde mais a frente dialogarei, fazendo umas das características

da educação física como sendo tecnicista pautada no rendimento. Também o esporte escolar

foi visto como um meio para se chegar ao esporte de alto rendimento, pois as conquistas que o

país conseguisse a nível internacional com o esporte seriam usadas como propaganda do

governo. Assim, foram feitos investimentos na infraestrutura escolar para a prática esportiva e

nos recursos humanos formadores em educação física a fim de conter a alta demanda por

professores.

As empresas também utilizavam a educação física, por influência do governo, para

cuidar da força de trabalho, onde se mantinham espaços para a prática desportiva que se

praticadas, melhorariam as qualidades físicas de funcionários e por consequência a melhoria

da produção dentro das indústrias.

O Programa “Esporte para Todos” foi outro meio de incentivar a prática de esportes pela

massa. Esta estratégia visava convencer o povo de que o milagre econômico tinha seu lado

‘social’, e que este como forma de lazer traria a sensação de melhoria na qualidade de vida da

população, juntamente com o desenvolvimento econômico em alta no início da década de

1970.

Dentro das escolas públicas, no estado de São Paulo, foram criadas as ‘turmas de

treinamento’ para o primeiro e segundo graus e o “Clube Escolar” a fim de priorizar as

competições com ênfase nas modalidades olímpicas em que os alunos eram matriculados para

participarem destas.

Page 6: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Dentre as doutrinas para a condução política da Educação Física Escolar que iriam

nortear as aulas, a doutrina do pragmatismo foi escolhida, sendo que o individuo era formado

para a competição esportiva.

Neste sentido, objetivou-se por meio de relatos orais, ampliar a compreensão da

Educação Física enquanto disciplina escolar no período citado, da esportivização nas aulas, do

que pensam hoje os professores a respeito da relação entre a Educação Física e o Governo

Militar e até que ponto a ideologia do Estado atingiu e influenciou os processos de ensino

desta disciplina escolar.

OOBJETIVO__________________________________________________________BJETIVO__________________________________________________________

Geral:

Preservar a memória histórica, sociocultural e pedagógica do processo educacional da

Educação Física Escolar nos anos da Ditadura Militar no Brasil.

Específico:

Analisar os conteúdos e o processo de ensino-aprendizagem da Educação Física Escolar

no período de 1964-1985, sob a óptica de professores que atuaram neste período na rede

pública de ensino da cidade de Bauru/SP, ou ainda, os métodos e estratégias de ensino, os

conteúdos abordados, as condições materiais e físicas disponíveis e, especialmente, a

influência do governo militar no âmbito do ensino da educação física escolar.

Page 7: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

MMetodologia_________________________________________________________etodologia_________________________________________________________

NATUREZA DA PESQUISA

Na presente investigação1 objetivou-se analisar no período do Regime Militar

Brasileiro, que perdurou de 1964 a 1985, bem como os métodos, processos e técnicas de

ensino-aprendizagem desta disciplina, as instalações físicas, as condições materiais, a

percepção dos professores que, atuaram naquele período sobre o modo de governo daquela

gestão e especialmente, a influência ou não do governo militar no cotidiano e no

desenvolvimento desta disciplina no interior da escola.

Para tanto, discutiu-se os depoimentos coletados a luz da revisão da literatura,

caracterizando-se como uma pesquisa de cunho qualitativo, que segundo Haguette (1985),

“fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da

maior relevância do aspecto subjetivo da ação social face a configuração das estruturas

1 Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências – UNESP/Bauru, processo n. 6201/46/01/11.

Page 8: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

societais, seja a incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e dos

fenômenos únicos. (...) Os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno

em termos de suas origens e de sua razão de ser.” (p. 51). Ainda sobre a pesquisa qualitativa

podemos afirmar de acordo com André (1995, p. 17), baseia-se em princípios como a

valorização da “maneira própria de entendimento da realidade pelo indivíduo”, não

aceitando que a realidade seja algo externo ao sujeito. No estudo de caráter qualitativo,

enfatiza a autora, é essencial a visão holística dos fenômenos considerando as interações e as

influências existentes entre todos os componentes de uma situação.

Sampieri (2006, et al) ainda enfatiza que os dados da pesquisa qualitativa

consistem:

“(...) na descrição profunda e completa de eventos, situações, imagens mentais, interações, percepções, experiências, atitudes, crenças, emoções, pensamentos e comportamentos particulares das pessoas, seja de forma individual ou coletiva. Coleta-se com a finalidade de analisá-los para compreendê-los e assim responder a questões de pesquisa ou gerar conhecimento. Essa categoria de dados é muito útil para compreender os motivos subjacentes, os significados e as razões internas do comportamento humano. Assim, não são reduzidas a número para serem analisadas estatisticamente (mesmo que em alguns casos, sim, há interesse da parte do pesquisador em fazê-lo” (p. 377).

Ou seja, esses dados são coletados com o intuito de desmistificar a hipótese

histórica, no caso em especifico a educação física escolar num passado recente, e então gerar

um conhecimento sobre o tema, além do que já foi produzido.Cabe salientar ainda que no

decorrer das falas dos entrevistados, pode-se constatar, descobrir e averiguar outras questões

além das enunciadas no objetivo deste pesquisa, o que enriqueceu ainda mais o trabalho,

fazendo com que os limites da investigação fossem além do esperado pelo pesquisador.

MÉTODO DE ABORDAGEM

Utilizou-se do método história do tempo presente, que em sua unidade irá

analisar o cotidiano e sua memória por meio de temas que vinculam sua situação quanto à

duração, sua inserção no tempo, sua proximidade em relação a nós, pois um grave erro

corrente é o de que “todos imaginam capazes de fazer a história [...] porque é a história que

vivemos: faz parte de nossas lembranças e de nossa experiência”. Contudo tem-se a

necessidade de rever os conceitos quanto a sua duração, ou seja, delimitar o campo que

constitui o seu próprio objeto do tempo presente e atentar-se as mudanças, acolhendo novos

temas e dar provas de imaginação. Para tanto o historiador do tempo presente deverá então

Page 9: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

representar a história através da memória de que as fizeram parte e assim contribuir para sua

construção. O historiador por confrontar seu estudo com a atualidade, possui uma

sensibilidade mais aguçada quanto aos detalhes, distingue as importantes tendências entre os

séculos e ainda concentra seus interesses nos fenômenos estáveis e constantes, visto que o

conteúdo da história visa a contingência e o fato, assim sendo contribui para resguardar do

passado relatos de uma racionalidade que não podia estar lá. Os autores ainda enfatizam a

fidedignidade que o historiador deve ter ao se trabalhar com depoimentos, utilizando-se de

alguns critérios bem rigorosos tais como: “enfatizar a disciplina; a higiene intelectual; as

exigências de probidade; resolver os debates; utilizar da arbitrariedade nas controvérsias que

dividem a consciência pública e confundem as opiniões; que façam a verdade; se preocupar

com a conseqüência dos nossos atos” (FERREIRA e AMADO, 2001, p. 206-9).

Todas essas precauções são importantes para que o historiador ao trabalhar

com a expressão das memórias contemporâneas dos determinados períodos históricos,

identifique não somente meros discursos, mas sim formas múltiplas e possivelmente

conflitantes de rememoração e utilização do passado. Por conseguinte a história do tempo

presente preserva a “articulação entre a parte voluntária e consciente da ação dos homens e os

fatores ignorados que a circunscrevem e a limitam” (...) “a história do tempo presente em seus

momentos culminantes, propicia uma reflexão essencial sobre as modalidades e os

mecanismos de incorporação do social pelos indivíduos que tem uma mesma formação ou

configuração social” (...) e ainda “manifesta com peculiar pertinência a aspiração à verdade

que é inerente a todo trabalho histórico” (FERREIRA e AMADO, 2001, p. 216-7).

Para tanto consideramos os apontamentos de Ferreira e Amado (2001), como

pressupostos norteadores do tempo presente de modo que:

“...podemos reconhecer a história do tempo presente pela própria natureza de suas preocupações, permite reconhecer a historicidade fundamental das condições de produção e de validação do saber histórico, atrelando nosso ofício à exigência de conhecimento verdadeiro que o fundamente” (p.218).

... “o historiador deve manter um distanciamento crítico em relação ao seu objetivo de estudo e proceder com discernimento e rigor, nem por isso ele consegue ser neutro. É mais que uma esquiva: uma renúncia. Pois nele existe apenas uma consciência de homem. E segundo as palavras de Rebelais, que nunca é demais repetir em virtude de seu alcance permanente e universal, “ciência sem consciência é somente ruína da alma”. (p.227)

Já a memória, apesar de seu conceito crucial, nos remete a uma propriedade de

Page 10: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

conservar certas informações, ou seja, representa funções psíquicas, capazes de atualizar

impressões ou informações passadas, ou que ela representa como passadas. Porém, essa

memória, pode abarcar patologias neurofuncionais, e assim colocar em questão informações

conflitantes a realidade (LE GOFF, 1996, p. 423).

As sociedades que eram privadas da escrita utilizavam a memória, a partir de

conceitos da idade coletiva do grupo e mitos de origem, da influência de famílias com

prestígios sociais e de saberes técnicos. Porém, a escrita proporciona através de suas falas ou

ditos, possibilidades de se comemorar e/ou celebrar acontecimentos memoráveis, porém esses

documentos possuem um caráter de monumento, não existindo ali fontes memoráveis

coletivas brutas. Contudo, tem-se incutido nessas fontes epigráficas “informações que

permitem comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de

marcação, memorização e registro” e ainda “assegura a passagem da esfera auditiva à visual”,

e permite “reexaminar, reordenar, retificar frases e até palavras isoladas” (LE GOFF, 1996, p.

433).

Com a evolução da memória, inicia-se uma instituição que ajudará a

compreender e reconstruir o passado, e é denominado como mnemon, ou seja, é uma pessoa

que guarda a lembrança do passado em vista de uma decisão de justiça, e ainda pode estar

limitada a uma operação ocasional. Vistos como memórias vivas, recebem funções de

arquivistas. Assim sendo, desenvolvida a partir dos gregos, a mnemê (conserva o passado), e

a mamnesi (evoca voluntariamente o passado), que por sua vez inclui nessa memória o tempo

que permanece (LE GOFF, 1996, p. 437-42).

Outro apontamento pertinente, e que fez com que ao reunirmos essas fontes

memoriais possamos restabelecer sua fidedignidade e seu caráter sociocultural, Le Goff

(1996) a apresenta de maneira que:

“Uma explicação histórica eficaz deve reconhecer a existência do simbólico no interior de toda a realidade histórica (incluída a econômica), mas também confrontar as representações históricas com as realidades que elas representam e que o historiador apreende mediante outros documentos e métodos. (p. 12)”O referido autor afirma, ainda, que a tendência de análise histórica não tem como

preocupação principal reconstruir um passado único, mas sim pesquisar em novas direções,

utilizando-se de novas fontes e novas metodologias. Conceitua Henri Atlan (1972) citado por

Le Goff (1992) que:

“A utilização de uma linguagem falada, depois escrita, é de fato uma extensão fundamental das possibilidades de armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair dos limites físicos do nosso corpo para estar interposta quer nos outros, quer nas bibliotecas. Isto

Page 11: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

significa que, antes de ser falada ou escrita, existe uma certa linguagem sob forma de armazenamento de informações na nossa memória”. (p.44)

Ainda sobre a explicação histórica segundo Edward Palmer Thompson (1981)

podemos destacar:

“A explicação histórica não pode tratar de absolutos e não pode apresentar causas suficientes, o que irrita muito algumas almas simples e impacientes. Elas supõem que, como a explicação histórica não pode ser Tudo, é portanto Nada, apenas uma narração fenomenológica consecutiva. É um engano tolo. A explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado, mas porque se processou dessa maneira, e não de outra; que o processo não é arbitrário, mas tem sua própria regularidade e racionalidade; que certos tipos de acontecimentos (políticos, econômicos, culturais) relacionaram-se, não de qualquer maneira que nos fosse agradável, mas de maneira particulares e dentro de determinados campos de possibilidades; que certas formações sociais não obedecem a uma “lei”, nem são os “efeitos” de um teorema estrutural estático, mas se caracterizam por determinadas relações e por uma lógica particular de processo”. ( p. 61, grifo nosso).

Verificou-se então a importância de como o historiador/pesquisador deve-se

portar durante seu plano de pesquisa, e que cada fato e cada informação mal averiguada

podem mudar o rumo e a memória de uma história.

TÉCNICAS DE PESQUISA

A presente pesquisa se utilizou de três técnicas: revisão de literatura, análise

bibliográfica e documental, entrevista semi-estruturada (depoimentos orais).

A revisão da literatura segundo Sampieri (2006, p. 54), consistiu em identificar,

obter e consultar a bibliografia e outros materiais que sejam úteis para os objetivos do estudo,

do qual se deve extrair e recompilar a informação relevante e necessária sobre o nosso

problema de pesquisa.

A pesquisa bibliográfica e documental objetivou-se em analisar a literatura e

documentos produzidos referentes ao tema problematizado. A entrevista semi-estruturada se

constitui como uma técnica alternativa para se coletar dados não documentados,

caracterizando-se como um instrumento por excelência da investigação social e de análise

qualitativa, no sentido de possibilitar uma melhor compreensão da construção da estratégia de

ação e das representações de grupos ou indivíduos em uma dada sociedade (FERREIRA e

AMADO, 2002).

A pesquisa bibliográfica tem o intuito de colocar o pesquisador em contato com a

produção da literatura referente à temática em questão, como ressalta Lakatos e Marconi

Page 12: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

(2001). De acordo com Manzo (1971, p. 32) citado pelas autoras, a bibliografia pertinente

“oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também

explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. Dessa forma, a

pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto,

mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões

inovadoras. Segundo Severino (2002) a técnica bibliográfica tem por finalidade informar o

leitor a respeitos das fontes que serviram de referência para a realização da pesquisa que

resultou no trabalho escrito.

Objetivou-se analisar o processo de constituição histórica, a partir da lacuna que

há sobre o tema. Assim sendo, Ferreira e Amado (2000) discursa que a história pode

contribuir para criar a lacuna que cada geração nova, cada ser humano deve descobrir e

preservar mediante um trabalho assíduo.

A pesquisa bibliográfica fundou-se em analisar produções (através de livros,

artigos textos ou dissertações) acerca do tema, ou seja, verificar quais os trabalhos que

relacionaram como base, a história da educação, educação física e educação física escolar. A

partir dessa análise, levantar temas e pressupostos que possam conter lacunas a serem

preenchidas à luz dos conhecimentos propostos a partir das entrevistas, que foram assim

formuladas a partir dos conhecimentos já existentes e dos que possam complementá-los.

A coleta de dados foi feita por meio da técnica de entrevista semi-estruturada, que

se focou em depoimentos, de professores que atuaram e vivenciaram o desenvolvimento desta

disciplina no interior da escola, no seu dia-a-dia, alguns antes de 1964 em diante, outros após

1964.

O nome dos professores2 entrevistados foi mantido em sigilo, aqui serão

substituído por outros nomes por questões éticas e metodológicas. Dos entrevistados podemos

citar nomes como:Walter, que até a data da entrevista era professor ativo da rede pública

estadual de São Paulo; Professor Simão, já aposentado que atuou por dezoito anos como

professor na educação básica; Professor Elton que se encontra aposentado também, que

lecionou em escolas particulares e municipais de Bauru e no ensino superior; Professor

Gilberto que atuou por trinta e três anos como professor de ensino médio, técnico e superior

de educação física e como preparador físico em time de futebol profissional; Professora Neusa

que lecionou durante 20 anos na rede estadual de ensino de São Paulo e dez anos como

diretora de escola; Professor Luiz que lecionou da década de 50 até os anos 2000 como

2 Os professores autorizaram a coleta de seus depoimentos em gravação, bem como, as análises e publicação.

Page 13: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

professor da educação básica na rede estadual, e como docente em cursos superiores de

educação física; Professor Samuel, que dedicou 50 anos de docência divididos em ensino

básico, superior e profissional; Professor Paulo que atuou por 32 anos na rede pública

estadual; Professora Lílian que atuou também na rede estadual de ensino por vinte e seis anos;

Professora Maria Aparecida que lecionou por vinte e sete anos na rede pública do estado de

São Paulo e o Professor Benedito que lecionou por 41 anos divididos em escolas pública e

particular. Cabe salientar ainda que tais professores e professoras, com algumas exceções

exerceram outras profissões concomitantemente com a docência em educação física,

demonstrando sua ambivalência enquanto profissionais.

PROCEDIMENTO PARA A COLETA DE DADOS

Inicialmente foi feita uma visita a Escola Estadual Torquato Minhoto no mês de

novembro de 2010 onde foi realizada entrevista piloto com o Professor Walter.

Posteriormente, foi realizada outra visita a Diretoria de Ensino em Bauru, com objetivo de

obter contatos com mais professores para realizar as entrevistas, após isso, foi feito contato

com a Associação de Professores Aposentados do Estado de São Paulo, na sede de Bauru e na

APEOESP onde surgiu o contato com o professor Samuel, e a partir deste a indicação de

vários professores, sendo que a maioria destes foram por mim entrevistados. As entrevistas

foram realizadas na residência dos próprios professores, onde, realizei duas visitas: A

primeira com objetivo de explicar os motivos da pesquisa, informar como surgiu tal interesse,

também de ler e tirar dúvidas com relação ao roteiro de entrevistas, e a segunda visita para

realizar a entrevista propriamente dita. Cabe salientar aqui que todos professores que fiz

contato anterior a entrevista, citavam a necessidade de ler o roteiro e de um tempo para poder

fazer a entrevista, já que segundo eles, eram memórias e lembranças de mais de 40 anos e

para tal, teriam que fazer um “exercício de memória”. O intervalo entre a primeira conversa e

a entrevista em si não passou de uma semana.

Duas entrevistas foram realizadas em outros locais, como o SESC de Bauru e o

Bosque da UNESP de Bauru. Para as entrevistas foi feita uma gravação de áudio através de

um aparelho MP4. Os tempos de gravação de cada entrevista variam de 20 minutos a 2 horas

de áudio.

Foi feita a transferência dos áudios para o computador, e a partir daí foram transcritas

com a fidedignidade das falas dos entrevistados.

Page 14: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

ANÁLISE DOCUMENTAL

A análise documental aqui abordada seria a princípio com documentos oriundos de

arquivos pessoais dos próprios professores por mim entrevistados, porém muitos deles,

relatavam que tais documentos haviam se perdido, ou jogados fora por serem velhos e

antigos. Outros professores informaram que estes ficaram perdidos nas escolas, ou locais em

que atuavam como professores, nas salas reservadas a eles e que nunca mais voltaram a tal

lugar para recuperar estes documentos. Os únicos documentos que foram a mim emprestados

foram: Histórico Escolar original da graduação pela Professora Neusa; Fotos da atuação

enquanto professor universitário e um livro do Professor Luiz, fotos da escola, súmulas de

campeonatos, cartaz sobre a final dos jogos estaduais estudantis e recortes de jornais do

Professor Paulo a fim de enriquecer mais a pesquisa. Os professores que não puderam

oferecer tais documentos devido a tê-los perdidos, citaram a importância de preservá-los e que

se imaginassem como isso seria útil nos dias de hoje os teriam arquivados.

Page 15: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

1. Contexto Histórico da Ditadura Militar no Brasil (1964- 1985)

Na presente pesquisa optou-se para uma melhor visualização sobre a revisão da literatura,

dividi-las em subcategorias ou capítulos para que assim ficasse mais fácil a compreensão

deste período histórico relacionado à História do Brasil e a História da Educação Física no

Brasil, para tanto o pesquisador procurou fazer esta divisão de acordo com o modo mais

“convencional” para a parte dedica sobre o regime militar em si, dividindo pelas fases mais

importantes ao longo dos vinte e um anos de governo, bem como pela trajetória histórica da

educação física em tal período, só que no último, a divisão foi feita de forma mais livre pelo

próprio pesquisador.

1.1 João Goulart e o Golpe de 1964

Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo após sete meses de

governo, e segundo a Constituição o substituto imediato era o Vice presidente, João Goulart.

Visto como de esquerda tornara-se uma ameaça, pelos setores mais conservadores, tendo

assim sua posse barrada pelas pressões políticas comandadas pelo grande partido de oposição

da época, a UDN.

Em meados de setembro foi aprovada a Emenda Constitucional que votado o

plebiscito com a vitória de João Goulart com mais de 10 milhões de votos (SILVA, 1990)

então presidente tomou posse em Brasília no dia 7 de setembro, a partir daí o Brasil viveu sob

o sistema parlamentarista. Adotado como uma medida conciliatória pela crise provocada pela

renúncia do ex- presidente Jânio Quadros. Neste modelo adotado cabia ao presidente a

indicação do primeiro ministro e a formação do Gabinete, assumido então por Castello

Branco.

O governo de João Goulart foi marcado por tentativas de reformas como o Plano

Trienal, porém sem efetivo êxito. Em comício realizado na central do Brasil em 13 março

pelas reformas de base (urbana, agrária, educacional, bancária, entre outros), com a presença

de 150 mil pessoas e televisionado para o país, defende estas reformas enfaticamente,

anunciando ainda a encampação das refinarias particulares de petróleo e assina também

decreto que fortalece a Superintendência da Reforma Agrária(COUTO, 1999), este

Page 16: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pronunciamento foi recebido pelos adversários como uma demonstração de esquerdismo

dentro do governo, que acusaram o presidente de estar preparando um golpe comunista, sendo

o presidente responsabilizado pela crise econômica que gerou inflação de 79,9% no ano

anterior, recessão e problemas de abastecimento(COUTO, 1999).

1.2 O Regime Militar

O regime militar no Brasil foi um período iniciado em abril de 1964, após um golpe

militar articulado pelas Forças Armadas em 31 de março do mesmo ano, contra o governo do

presidente João Goulart, praticamente sem resistência.

O presidente tentou em vão organizar uma reação, porém os militares interferiram no

sistema de telecomunicações que dificultou a união de forças governamentais (CALDEIRA,

1997). Foi decretada uma greve geral para o dia seguinte, 1º de abril, porém esta atitude se

mostrou errada, pois a maioria das pessoas que apoiavam o governo permaneceram em casa

no dia do golpe (CALDEIRA, 1997).

O próprio Congresso rasgava a constituição de 1946 que, pretensiosamente, defendia

contra o reformismo do governo, ao declarar o afastamento de Goulart, abrindo um período de

mais de 20 anos de arbitrariedade (SILVA, 1990).

O regime buscava legitimar-se pelo desempenho administrativo e econômico

(COUTO, 1999). Deposto o presidente João Goulart assume o deputado Ranieri Mazzilli,

presidente da Câmara. Mas, o poder era mesmo dos militares que pressionaram o Congresso

para obter-se a legislação “anti-subversiva” (COUTO, 1999), e no dia 11 de abril o Congresso

elege presidente da República o marechal Castello Branco.

Em seu governo Castello Branco estabelece as eleições indiretas para presidente,

também dissolve partidos políticos, cassa mandatos de parlamentares, tanto federais como

estaduais, este conhecido como o Ato Institucional 2 (AI-2). Instituiu o bipartidarismo no

governo no qual o ARENA era o partido do governo e o MDB era o partido oposição com um

certo controle.Seu governo faz reformas para controlar e suavizar a inflação, o Programa de

Ação Econômica do Governo (PAEG) tem objetivo de crescimento econômico, redução da

Page 17: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

inflação e a atenuação dos desníveis regionais e setoriais de renda(COUTO, 1998). O Decreto

Lei nº 4.131 cria o Serviço Nacional de Informações (SNI) para a coleta e analise de

informações sobre a segurança nacional. Na sucessão presidencial o General Costa e Silva se

candidata para o cargo, como sendo o único, é eleito pelo Congresso em 3 de outubro de

1966. Em 1967 é editado o AI-4 que atribui poderes constitucionais ao congresso e logo

depois é promulgada a Constituição de 1967 que revoga a Constituição de 1946.

1.3 Governo Costa e Silva e o “Golpe dentro do Golpe”

O Governo do General Costa e Silva é marcado por manifestações sociais e protestos,

cresce a oposição ao regime no país, como exemplo a Passeata dos Cem Mil no Rio de

Janeiro. Neste período começam a surgir focos de guerrilha urbana, assaltos a bancos,

seqüestro de diplomatas para obterem fundos para um movimento de oposição armada. Porém

, o ato mais radical do governo acontece no final de 1968, o Ato Institucional 5 (AI-5)

chamado como “golpe dentro do golpe”, pois nas palavras de Ronaldo Costa Couto (1999,

p.33):

“... o presidente da Republica pode tudo: estipular unilateralmente medidas estaduais

e câmaras municipais; intervir nos estados e municípios. Pode censurar a imprensa,

suspender direitos e garantias dos magistrados, cancelar habeas corpus, cassar mandatos e

direitos políticos, limitar garantias individuais, dispensar e aposentar servidores públicos.”

Em Agosto de 1968 o presidente Costa e Silva sofre um acidente vascular cerebral que

o impede de permanecer no cargo, porém os militares não permitem a posse do vice-

presidente Pedro Aleixo, e assume temporariamente a Junta Militar, com um militar do

Exercito, outro da Marinha e outro da Aeronáutica, onde o regime é ainda mais enrijecido

com a Lei de Segurança Nacional que decretava o exílio ou pena de morte em casos de crimes

contra a segurança nacional e a ordem pública e social, repetem-se os sequestros de

diplomatas, mas a guerrilha vai sendo enfraquecida até meados de 1971, com militantes

presos, expulsos do país e até mesmo mortos.

Page 18: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Em meados de 1969 os militares decidem fazer consultas entre si para definirem um

sucessor, onde o escolhido é o General Emilio Garrastazu Médici.

1.4 Os Anos de Chumbo e o Milagre Econômico

O presidente Médici teve seu governo considerado como o mais duro e repressivo,

conhecido como “os anos de chumbo”, a repressão às lutas armadas crescem, e uma política

de censura a livros, jornais, músicas, filmes, teatro é executada. Professores, artistas, políticos,

são investigados, presos, torturados e exilados do país, o Destacamento de Operações e

Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) atua como centro de

investigação e repressão do governo militar.

No seu governo, Médici criou o Decreto-Lei 69.534 chamado de “Decreto-Lei

Secreto” (VIEIRA, 2000) (que) abria-lhe a possibilidade de fazer decretos lei secretos, sem

divulgação oficial consentido a prisão de pessoas que não podiam conhecer o conteúdo deles.

O plano nacional de desenvolvimento (PND I) definiu como prioridade o crescimento

e desenvolvimento da economia, onde se atingiu altos índices econômicos, com uma ideia

falsa de um “surto de progresso” que o governo impunha à população quer pela mídia quer

pela censura.

A economia do país crescia rapidamente, o período de 1969 a 1973 ficou conhecido

como Milagre econômico, o PIB brasileiro estava em alta, a inflação estava moderada para

padrões brasileiros, gerando empregos e obras de grande porte como a Ponte Rio-Niteroi. A

figura do presidente é deliberadamente associada aos sucessos econômicos, esportivos,

principalmente futebolísticos como a conquista do tri-campeonato mundial de futebol em

1970 e em musicais (COUTO, 1999).

A propaganda política na época de Médici realçava a idéia de grande potência, de

“Brasil Grande” aproveitando o crescimento industrial de 1968 a 1973(VIEIRA, 2000).

Para acelerar o crescimento, foram criadas e ampliadas as empresas estatais. A maioria

dos investimentos concentrou-se nos setores de energia, siderurgia e telecomunicações

(CALDEIRA et al,1997) como a Eletrobrás, Telebrás, Vale do Rio Doce e Companhia

Siderúrgica Nacional. Porém as classes “média e rica eram as mais favorecidas pelo rápido

crescimento, inflação baixa e empregos, a teoria dominante era de crescer o “bolo” antes de

distribuí-lo melhor."

Os investimentos atingiram as indústrias que entrou em um ritmo rápido de

crescimento no setor de consumo de bens duráveis, junto a indústria automobilística cresceu a

Page 19: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

uma taxa de 20% ao ano (CALDEIRA et al., 1997) no período e tornou-se um símbolo de um

país moderno.Tal crescimento tornou-se propaganda para o governo.

Mas esse período chegou ao fim em meados de 1973 com a crise do Petróleo, quando

os maiores produtores de Petróleo se organizaram a fim de impor maiores preços a este

combustível, e os países importadores precisavam encontrar uma saída para economizar. No

Brasil a medida foi pagar conta, o valor das importações subiu drasticamente entre 1973 e

1974 e provocou um desequilíbrio na balança comercial. Num momento em que todos

tentavam frear as atividades econômicas, o Brasil investia como se nada tivesse ocorrido

(CALDEIRA et al.,1997). Nas eleições municipais de 1972 a Arena esmaga a oposição que

obtém apenas 12% do total de prefeituras (COUTO, 1999). Porém o MDB aos poucos vai

ampliando sua estrutura, principalmente nos maiores municípios.

Em meados de 1972 começa a movimentação em torno da sucessão presidencial de

Médici, e o nome cogitado é do General de Exército Ernesto Geisel. Nas eleições em janeiro

de 1974 o candidato da Arena, Geisel, vence o candidato do MDB Ulysses Guimarães que em

sua candidatura mostrou a farsa da eleição, a separação entre o discurso oficial e a realidade

nacional, acima de tudo, a campanha da oposição que expunha a necessidade de aniquilar o

medo coletivo, com o lema: “Navegar é preciso;Viver não é preciso”.

1.5 Abertura lenta, gradual e segura

Em 1974, assume a Presidência Ernesto Geisel, rumo a um processo lento de transição

a democracia. O início de seu governo coincide com o fim do “Milagre Econômico” assim

com alta insatisfação popular. Em 1976 o presidente fez acordos para compra de Usinas

Nucleares para a produção de energia, porém o que era para ser um sonho se tornou um

pesadelo, pois a compra de uma Usina Nuclear, na verdade era de um projeto de Usina da

Alemanha (CALDEIRA, 1997). Geisel montou também o Plano Nacional de

desenvolvimento (PND II) onde construiria mineradoras de cobre, indústria pesada, ferrovias,

rodovias, hidrelétricas (CALDEIRA, 1997). O governo tentava convencer os investimentos

em seus projetos através de subsídios, com empréstimos a juros baixos, fazendo assim dos

investidores privados mera extensão da vontade nacional de crescer, cujo único representante

era o governo (CALDEIRA, 1997).

Nas Eleições de governadores de 1974 o governo cedeu a uma flexibilidade no

controle político, com regras mais leves e acesso dos partidos a televisão. Os resultados foram

Page 20: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

positivos para o oposição que ganhou dezesseis novos senadores, setenta e oito deputados e

em seis estados a oposição faz maioria nas assembléias legislativas (COUTO, 1999).

Em 1975 acontece a morte do jornalista Vladmir Herzog, um suposto suicídio e no ano

seguinte a morte do operário Manoel Fiel Filho, em suas homenagens foi realizada um culto

ecumênico em frente à catedral da Sé, numa manifestação em massa da sociedade que não

acontecia desde 1968. O comandante do II Exercito foi exonerado, começava aí a diminuição

da dureza do regime. Em Abril de 1977 Geisel fecha o congresso temporariamente e lança o

Pacote Abril que determinava que a constituição pudesse ser modificada com 50% mais um,

dos votos dos congressistas, garantindo o poder da Arena e a criação do “Senador Biônico”

que seria eleito indiretamente pelo colégio que elegera o governador (COUTO, 1999).

Nessa época ressurge o movimento estudantil, com prisões em massas de estudantes,

alguns enquadrados na Lei de Segurança Nacional, e greves. Estas são consideradas as

precursoras das greves operárias em 1978 em São Bernardo do Campo (COUTO, 1999) com

grande repercussão nacional, onde foram paralisadas as principais montadoras de automóveis

e posteriormente no ano seguinte a paralisação de 3 milhões de operários, com surgimento de

um novo modelo de sindicalismo como a Central Única dos Trabalhadores(CUT),

Confederação Geral do Trabalhadores (CGT) (CALDEIRA, 1997).

Em 1978 é decretado o fim do Ato Institucional 5 (AI-5) através por meio da Emenda

Constitucional nº 11 que ficou conhecida como Pacote das Reformas, pois revogava todos os

Atos Institucionais até então impostos (COUTO, 1999).Também em 1978 o Presidente Geisel

modifica a Lei de Segurança Nacional abolindo pena de morte e prisão perpétua e

abrandamento de outras penas (COUTO, 1999).

Com Forte apoio do Presidente da Republica, sendo promovido na carreira militar

antecipadamente, Geisel “impôs” o nome do General João Baptista Figueiredo que com o

civil Aureliano Chaves do partido Arena vencem as eleições em 1978 (CALDEIRA, 1997).

1.6 A Redemocratização e as “Diretas Já”

No primeiro ano de seu governo o General Figueiredo cria a Lei nº 6.683, a lei da

anistia, com algumas limitações, porém funcionários públicos civis, professores universitários

podem reassumir sua funções desde que haja aprovação por comissão de inquérito (COUTO,

1999), políticos, artistas, exilados e condenados por crimes políticos podem retornar ao Brasil.

Em 1979 é criada a Lei Orgânica 6.767(COUTO, 1999) dos Partidos Políticos, que libera a

criação de partidos políticos. A Arena, torna-se PDS e o MDB torna-se PMDB, outros

Page 21: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

partidos são criados como Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Democrático Trabalhista

(PDT) entre outros. Em 1980 é aprovada a Emenda Constitucional nº15 restabelecendo

eleições diretas para governadores e também para o Senado (COUTO, 1999). Verifica-se no

início da década de 1980 um alto número de atentados clandestinos, sendo o principal deles

no centro de convenções do Rio Centro onde havia uma grande aglomeração de pessoas num

evento musical.

Nos últimos anos de governo o Brasil apresentava alta inflação e recessão, com PIB

em baixa, juros da dívida externa chegaram a 9,5 bilhões de dólares ampliando a debilidade

do país (CALDEIRA, 1997). Diante de todo esse panorama crítico a resposta popular à crise

veio em forma de esperança. No início de 1984 foi realizado um grande comício em São

Paulo com mais de 300 mil pessoas para pedir eleições diretas para presidente, através da

Emenda Constitucional PEC 5/83 do Deputado Dante de Oliveira (COUTO, 1999) que

tornava a eleição do presidente da República direta, era a Campanha das Diretas Já. Houve

várias manifestações, discursos e apelos da sociedade em prol dessa campanha. Apesar de

todas as pressões políticas, comícios e o desejo do povo, a Emenda não foi aprovada pela

câmara dos Deputados.

1.7 Reencontro com a Democracia

Em meados de 1984 o Governador de Minas Gerais, Tancredo Neves renuncia ao

cargo e anuncia sua candidatura a presidência do Brasil para as eleições de 1985, com o

Senador José Sarney como vice-presidente. Tancredo realizou comícios levando o povo a rua,

atraindo governistas para o seu lado (CALDEIRA et al.,1997); Tancredo foi conseguindo

cada vez mais apoio e consolidando seu favoritismo. Em outubro de 1984 o PMDB e a Frente

Liberal se unem para apoiar Tancredo na candidatura, do outro lado Paulo Maluf candidato

pelo PDS, porém com uma crise enfrentada pelo partido, devido a própria candidatura dele,

piora a situação do candidato frente a concorrência com Tancredo Neves.

Em janeiro de 1985 Tancredo Neves elege-se Presidente da República contra o

candidato do PDS Paulo Maluf por uma margem de 300 votos de diferença (COUTO, 1999) e

o Brasil tem o primeiro Presidente da República civil, finalizando o período da Ditadura

Militar no país, finalmente.

Page 22: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

2. Breve Histórico da Educação Física nos anos do Regime Militar (1964-

1985) no Brasil

2.1Educação Física Escolar

Este período mostrou um crescimento do esporte em função do Estado e também a

inclusão do binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo (BETTI,

2009).Verificou-se grandes mudanças na política educacional, na Educação Física Escolar

que se curvou ao sistema esportivo e o aumento dos recursos humanos na formação para a

Educação Física/Esporte.

O novo regime a partir de 1968 procurou adequar o sistema educacional ao modelo

econômico (ROMANELLI, 1986 apud BETTI, 2009). Na metade da década de 1960 uma

parte da população começou a pressionar a Universidade em busca de mais vagas, para obter-

se um diploma de nível superior buscando ascensão social, o que gerou a crise universitária.

Com isso o governo brasileiro buscou convênio com a Agency for International Development

(DIP) que reorganizou o sistema educacional brasileiro, estes acordos chamados de “Acordos

MEC-Usaid” e deste foi fruto a lei de reforma universitária Lei 5.540/68.

Esta reforma universitária, de conotação política, despertou o descontentamento

estudantil e isso se transformara em possíveis atividades políticas fazendo com que o Governo

julgasse como uma ameaça a segurança do País. O Decreto Lei 477 previa o desligamento de

estudantes professores e funcionários em atividades políticas, medida essa para se ter um

determinado controle no contexto estudantil. Junto a esta também, o Decreto-Lei 896 de 1969

criou a Educação Moral e Cívica em todos os níveis de ensino, com culto a nacionalidade e

obediência as leis.

A literatura estudada relata que o governo nos anos do regime de exceção usou a

Educação Física aliada ao esporte como fonte de alienação da população, a fim de obter-se

um controle do povo e dos alunos sejam de escolas ou de universidades por intermédio da

prática esportiva. Ou seja, a Educação Física neste período representou uma estratégia para o

governo, que calcado no militarismo, fazia da sua gestão um governo com poder centralizado

Page 23: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pelas Forças Armadas, que tinham o controle da economia, da política, dos meios de

comunicação, da educação e da cultura (COUTO, 1999).

O esporte foi usado como uma razão, neste caso alienador do povo brasileiro, em que

as pessoas ao praticarem esportes, não teriam tempo ou motivo para se envolver em questões

de natureza “subversiva” como contestação de forma de gestão do país pelos seus

governadores, especialmente no âmbito político, dentro das universidades.

A Educação Física passou a ser obrigatória no ensino superior do Decreto-Lei 705, de

1969, além do primeiro e segundo grau, tal era o desejo do governo de através do

esporte/educação física controlar os estudantes, sejam eles universitários ou não,

caracterizando a educação física como sendo tecnicista pautada no rendimento. Para Rosa

(2006) isso não significa que sua existência na organização escolar tivesse sofrido

transformações, durante o regime militar, somente a partir dessa data. Também o

esporte/educação física no âmbito educacional foi visto como um meio para se chegar ao

esporte de alto rendimento, pois as conquistas que o país conseguisse a nível internacional

com o esporte seriam usadas como propaganda positiva para o governo. A secretaria de

Educação Física e Desportos criou o “Clube Escolar” em que todos os alunos matriculados se

filiavam, sendo que nas competições escolares as modalidades olímpicas receberam

tratamento prioritário e no Estado de São Paulo foram criadas e regulamentadas as “turmas de

treinamento” nas escolas públicas de primeiro e segundo graus a fim de priorizar as

competições esportivas dentro das escolas evidenciando o direcionamento para a prática de

esportes, caracterizado como competitivo, dentro do ambiente escolar. Diante disto foram

feitos investimentos, nos recursos humanos formadores em educação física a fim de conter a

alta demanda por professores para a educação básica e superior no Brasil.(BETTI, 2009)

Segundo Costa (2004) atos reflexos foram utilizados para que os objetivos militares fossem

delineados, destacando-se o uso de uniformes, padronização das cores, para designar o

potencial de igualdade entre todos ou ferir a individualidade dos indivíduos; o planejamento

das aulas, com objetivo do cumprimento das ordens, onde os alunos permaneciam perfilados,

e os professores munidos de voz de comando; a ginástica do tipo calistênica - sessão de

exercícios formais, ginástica, corridas, flexionamento e alongamento, enfim, um misto de

aquecimento e preparação física, uma forma talvez se analisar o autoritarismo da época; o

ensino dos fundamentos oriundo de um modelo base, o qual ignorava a individualidade

(qualidades físicas, biotipo, personalidade); as regras dos desportos eram ensinadas, a fim de

que compreendendo e aceitando regras, os indivíduos aceitassem também as regras

Page 24: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

socialmente impostas (estabelecer ordem social coibindo assim atos indesejáveis); o

resultados das avaliações tinham como meio controlar os alunos e induzi-los a ter o

comportamento padronizado pelos professores, além de estabelecer uma competição

compulsória, da qual os alunos eram obrigados a participar, sob ameaça de serem reprovados,

o que criava uma articulação entre o que era importante para o professor (obter a obediência),

e para os alunos (ser aprovados, sem se importar se entendessem ou não o conteúdo).

A presença tecnicista se consolidou na Lei 5.692/71 que reforçou o caráter instrumental para a

preparação, recuperação, e manutenção da força de trabalho para a mão de obra fisicamente

adestrada e capacitada (CASTELLANI FILHO, 1988), o Decreto-Lei 69.450/71 se refere a

Educação Física como sendo uma atividade e não uma disciplina, reforçada pelo Parecer

nº853 de 1971 que conota a mesma um fazer prático não significativo de uma reflexão teórica

(CASTELLANI FILHO, 1988). O mesmo autor ainda pontua sobre as características da

Educação Física posterior a Lei 69.450/71 sendo:

A compreensão da educação Física incorporada enquanto matéria curricular sob forma de atividade – ação não expressiva de uma reflexão teórica, caracterizando-se, dessa forma, no ‘fazer pelo fazer’ – explica e acaba por justificar sua presença na instituição escolar, não como um campo do conhecimento dotado de um saber que lhe é próprio, específico – cuja apreensão por parte dos alunos refletiria parte essencial da formação integral dos mesmos, sem a qual, esta não se daria – mas sim enquanto uma mera experiência limitada em si mesma, destituída de exercício da sistematização e compreensão do conhecimento, existente apenas empiricamente (p. 108, grifos no original).

Segundo Saviani (1984, p.15) naqueles anos o planejamento tem devida importância,

menos o aluno e professor que não. Sob este tipo de orientação ocorreram reducionismos do

movimento corporal nas aulas por uma necessidade de operacionalizar os objetivos, levando a

surgir uma tendência a substituição do lúdico em favor das tarefas mecânicas (BRACHT,

1992).

Há que se ressaltar segundo Castellani Filho (1988) que enquanto a educação ganhava espaço,

eram censuradas matérias que tivessem como base a reflexão e o desenvolvimento da

compreensão e análise (exemplo a Filosofia), enquanto outras matérias que visavam agregar

valores de patriotismo e a relação de obedecer a ordens (exemplo a Moral e Cívica) foram

implantadas. O Estado, de forma autoritária, reformulou a Educação Física escolar,

tecnizando o ensino da mesma (p.123-124)

Uma outra obra relevante sobre da educação física na escola, que passa por este tema,

o Coletivo de Autores(1992) fala acerca da educação física no interior da escola como:

Page 25: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“A perspectiva da educação física escolar, que tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do homem, tem contribuído historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a estrutura da sociedade capitalista. Apoia-se nos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e, enfaticamente, nos biológicos para educar o homem forte, ágil, apto, empreendedor, que disputa uma situação social privilegiada na sociedade competitiva de livre concorrência: a capitalista. Procura, através da educação, adaptar o homem à sociedade, alienando-o da sua condição de sujeito histórico, capaz de interferir na transformação da mesma. Recorre à filosofia liberal para a formação do caráter do indivíduo, valorizando a obediência, o respeito às normas e à hierarquia. Apoia-se na pedagogia tradicional influenciada pela tendência biologicista para adestrá-lo. Essas concepções e fundamentos informam um dado tratamento do conhecimento. Nessa linha de raciocínio pode-se constatar que o objetivo é desenvolver a aptidão física. aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe permitam atingir o máximo rendimento de sua capacidade física. Os conteúdos são selecionados de acordo com a perspectiva do conhecimento que a escola elege para apresentar ao aluno.” ( p. 36)

Paulo Ghiraldelli Junior (1988) em sua obra, também discorre sobre a educação física,

pautada no desporto de rendimento como uso do Estado no seguinte trecho:

É preciso também notar que, se por um lado a educação física Competitivista era incentivada pela ditadura pós-64, pois tal concepção ia no sentido da proposta de um “Brasil-Grande”, capaz de mostrar sua pujança através da conquista internacional, por outro lado, obviamente, esse não era o único interesse governamental ao endossar tal concepção. Na verdade, o “desporto de alto nível”, divulgado pela mídia, tinha o objetivo claro de atuar como analgésico no movimento social. A preocupação com a possibilidade do aumento das horas de folga do trabalhador, que mesmo um sindicalismo amordaçado poderia conseguir, incentivava o governo a procurar no desporto a fórmula mágica de entretenimento da população. ( p. 31-2)

Esta afirmação é semelhante à afirmação de Betti (2009) sobre a esportivização da

educação física que:

O conteúdo esportivo deu então uma nova coloração aos programas de educação física no Brasil, centrados na velha ginástica sueca e francesa. O esporte pareceu também ir ao encontro da ideologia propagada pelos condutores da Revolução de 1964: aptidão física como sustentáculo do desenvolvimento, espírito de competição, coesão nacional e social, promoção externa do país, senso moral e cívico, senso de ordem e disciplina. (p.161)

Page 26: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Faria Júnior (1992) diz ainda que no final dos anos 60 e início dos anos 70 o governo militar

estimulou o desporto de competição como forma de exaltar o regime, de promover suas ações

e de desviar a atenção de críticas e acusações contra violações de direitos humanos. A figura

do técnico desportivo prevalecia sobre a do professor de Educação Física. Naqueles anos o

poder público investiu massivamente nos laboratórios de fisiologia do exercício e estimulou o

desenvolvimento das pesquisas em biomecânica e antropometria (p. 234). Já Nozaki (1996)

afirma ainda que as políticas adotadas pelo regime militar, a partir da necessidade de

encontrar um equivalente do desenvolvimento econômico no campo cultural, elegeu o esporte

como forma de ideologização, principalmente por meio de dois caminhos: a massificação

esportiva e a política de incentivo ao esporte de rendimento como forma de divulgação

vigente.

Em oposição a grande maioria da literatura que versa sobre o período, Taborda De

Oliveira(2001) aborda um diálogo crítico com a historiografia referente ao período em seu

artigo, onde diz que para se ter uma real compreensão da educação física escolar nos anos da

Ditadura Militar, a influência do Regime ou não, é necessário saber dos agentes sociais, como

era ou se dava o cotidiano da escola, para não ser equivocar tal qual aponta o autor acerca da

produção relativa a este tema, como se a autonomia destes agentes sociais, diga-se,

professores, não existisse, e que estes ainda não tiveram uma certa resistência, não só política,

mas em sua própria consciência para com as suas aulas contra o que diziam os decretos, leis e

decretos-leis vindos “ de cima para baixo”. Para explicitar ainda pode-se destacar tal trecho no

texto do autor:

“Segundo os professores por mim entrevistados o esporte apareceu como uma alternativa ao descaso e à improvisação que então grassavam nas aulas de educação física. Para a grande maioria desses professores o esporte era uma atividade educativa por excelência. Assim sendo, ele era muito mais uma alternativa positiva do que um rebaixamento do valor formativo da educação física escolar. Ou seja, representava, mesmo, uma “nova coloração” para a educação física escolar. Quanto aos usos ideológicos que se podem fazer do esporte não podemos falar o mesmo de qualquer outra prática cultural? E os professores partilhavam dessa compreensão ou haveria compreensões diferentes em torno daquele uso?” (p. 59, grifo nosso.)

Page 27: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

2.2 Esporte para Todos no Brasil

No inicio dos anos 1970 começou a crescer o movimento “Esporte para Todos”, o

conhecido EPT. Em Artigo do periódico Corpo e Movimento de abril de 1985

(CASTELLANI FILHO, p.13) fala:

“... Braço direito do Desporto de massa apresentado como uma proposta de esporte não formal... encontrou o EPT, campo fértil para a sua propagação em nosso país, a partir da necessidade sentida pela classe governante, de convencer aos segmentos menos favorecidos da sociedade brasileira, de que, o desenvolvimento econômico propalado na fase do ‘milagre’, tinha seu correspondente, no campo social. Essa idéia foi apreendida nos sinais tidos como significativos de melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro... O EPT, assim seria a comprovação de que, ao desenvolvimento econômico alcançado no inicio da década de 70, correspondia o desenvolvimento social da sociedade brasileira, expresso dentre outras formas – no acesso as atividades físicas de lazer pela camada da população, até então, dela alijada...”

O mesmo autor ainda discorre sobre o EPT no Brasil como:“Falácia do pressuposto básico do EPT(melhoria da qualidade de vida) transformou-se em alvo de críticas por parte de estudiosos do assunto que se traduziram , na certeza, do desvelamento intenção intrínseca ao discurso e prática do EPT, de mascarar classística da estrutura social brasileira.(1988, p.116-117.)

Outra autora, sobre o movimento do EPT, faz críticas à forma de organização do esporte não formal como ferramenta ideológica de uso governamental, onde Cavalcanti(1984) nos diz:

“Análise do discurso sobre o Esporte para Todos, através de documentos internacionais e nacionais, procuram revelar, em sua essência, uma construção ideológica, na medida em que procura dissimular as desigualdades sociais, representar uma nova religião, ser expressão da consciência tecnocrática, procurando atuar como fator de dependência sócio-cultural a serviço da despolitização da massa (...) é um produto específico da sociedade industrial, estando marcada por ambiguidades inerentes ao processo de industrialização (...) é instrumento ideólogico de domínio do tempo livre, que mantém em sua essência, todos os elementos estruturais do esporte formal” (p.107)

Page 28: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

A autora vai dizer ainda que a proposta de democratização do esporte não formal como meio

de ocupar o tempo livre é uma proposta de antilazer(1984).

Sérgio Teixeira, em seu artigo intitulado O Esporte para Todos: “Popularização” do Lazer e

da Recreação (2009) aponta um decálogo contido no documento básico da campanha do EPT

onde se pode destacar 3 itens evidenciando o EPT como possível instrumento ideológico,

sendo:

“5. CIVISMOReforçar o sentimento de povo, de nacionalidade e de

integração social. (...)8. ADESÃO À PRÁTICA ESPORTIVA

Criar oportunidades e atividades esportivas improvisadas, de modo a ampliar o número de praticantes, diversificar esportes a serem praticados e aumentar o uso das instalações e áreas já existentes.

9. ADESÃO AO ESPORTE ORGANIZADOMotivar, através do contágio de emoções da prática com

grande número de pessoas, o apoio e a participação nas atividades da Educação Física estudantil e do esporte em clubes e outras entidades.” (DOCUMENTO BÁSICO DA CAMPANHA, 1977, p. 14-15, citado por TEIXEIRA 2009, grifo nosso.).

Para este autor, o objetivo principal do EPT era melhorar, a rede de fiscalização do regime

militar, potencializando- a através de afirmações sobre a sua penetração nas comunidades,

promovendo um espírito de solidariedade, de participação familiar e de nacionalismo( 2009).

Contrapondo esta visão Taborda De Oliveira (2002) diz em seu artigo que:

“Segundo o professor Julio Lubachevski, verbi gratia, as atividades que viriam a ser denominadas de EPT já eram desenvolvidas em Curitiba desde meados dos anos 1950, portanto, num período de exercício e vigência da frágil democracia brasileira, no qual o país não estava sob a égide dos militares. Assim, talvez seja exagero considerar a tese que afirma que o interesse primeiro da divulgação das atividades esportivas pelo governo fosse de “analgésico social”. (p. 63)

Por outro lado temos autores que não criticam a proposta do EPT no Brasil como

DaCosta(1992) e Valente (1993; 1996), como exemplo podemos ver, nas palavras de

Lamartine Pereira da Costa (et al., 1992, p.20):

“... No inicio da década de 70, acrescendo ao fato de que dirigentes e profissionais desconheciam o processo de evolução em que estavam envolvidos... Excetuaram-se os clubes esportivos então revelados como exemplos de solidariedade social... como se observou na introdução do ‘Esporte para Todos’ no Brasil...”

Page 29: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Pode-se destacar ainda no trecho de DaCosta (et al, 1992, p.42) que diz:

“No Brasil a idéia do EPT prosperou no final dos anos 70 com base na tradição de atividades não formais organizadas por iniciativas locais e espontâneas, sucedendo-se eventos de ordem cultural e ofertas de esporte alternativo. Esse propunha evitar a seletividade inerente as atividades formais e criar possibilidades mais acessíveis e comunitárias de lazer”.

Edison Francisco Valente (1993; 1996) informa que o EPT no país foi um marco

histórico para a evolução metodológica e pedagógica para a Educação Física no Brasil, pois

nesse período que se iniciaram discussões em torno destes problemas metodológicos e

pedagógicos, especialmente para os profissionais que estavam adentrando ao mercado de

trabalho. O autor ainda destaca (1996) o fato de que neste período, na formação profissional

dos professores foi introduzida a disciplina de “Treinamento Desportivo”, bem como a

criação de cursos de pós graduação, laboratórios de fisiologia e a criação do Colégio

Brasileiro de Ciências do Esporte, por conta desta evolução pedagógica e metodológica

segundo o autor. Para Valente (1996) o EPT:

“Surgiu como estimulador, tanto para a Educação Física quanto para o Esporte desenvolverem práticas mais popularizadas nas comunidades e, também, pelas comunidades” (p. 138).

O movimento EPT, conviveu, nos anos 70 com a crise, entre os governos de Geisel e

Figueiredo, 1974 – 1985 dentro do período final do “Milagre Econômico” sendo que no início

da crise principiou-se uma distensão no governo militar da época. A crise se agravava

conforme os anos passavam, e a população reivindicava ainda mais seus direitos básicos, o

trecho de Valente(1993) pode explicitar melhor este significado:

O direito a alimentação, à saúde, à educação, à moradia, ao lazer, ao emprego, enfim, o direito à vida, fatores necessários e básicos para a subsistência do homem dentro do seu contexto sócio-cultural, compunham o rol de reivindicações da grande maioria da população brasileira no processo de abertura política.( p.22)

Nesse contexto, a década de 70 foi significativa para a Educação Física no Brasil. A

implantação de novos cursos na área, a ampliação de atividades de pesquisa, a fundação de

entidades científicas e de representações estudantis são alguns exemplos disso. (VALENTE,

1993). O desporto escolar e o desporto classista eram desenvolvidos nos moldes da

competição olímpica e normalmente era baseado na seleção dos mais hábeis e “dos bem

dotados”.

Page 30: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

O autor registra ainda que segundo dados do Diagnóstico de Educação Física publicado

em 1971 foi o crescimento das indústrias de material, construção e instalação de Educação

Física/Desportos/Recreação que apresentou um percentual de crescimento a partir de 1964 de

aproximadamente 135% comprovando o interesse destas indústrias em relação ao mercado

consumidor em desenvolvimento, resultado de um despertar de interesse do povo brasileiro

pela prática de atividades físicas (Diagnóstico de Educação Física, 1971, citado por

VALENTE 1993).

As empresas também utilizavam a educação física, por influência do governo, segundo

alguns autores, para cuidar da força de trabalho, onde se mantinham espaços para a prática

desportiva que praticadas, melhorariam as qualidades físicas de funcionários e por

consequência a melhoria da produção, da mão de obra, dentro das indústrias, denotando, mais

uma vez, segundo a literatura ( BETTI, 2009; CASTELLANI FILHO 1988.) que a Educação

Física, seja através de esportes formais ou não, dentro ou fora das escolas, neste caso, dentro

das indústrias, era usada como ferramenta para atingir outros fins

.

2.3. O Esporte sob a égide da Ditadura Militar

Nos anos do regime, o esporte era considerado um dos possíveis responsáveis para o

reconhecimento do Brasil no cenário mundial. Os espaços para as práticas esportivas foram

construídos maciçamente como parte de um plano que seria “um projeto de esportivização” da

sociedade brasileira, onde também se pode destacar o patrocínio público a clubes e equipes

privadas em que o futebol é o exemplo de maior deste caso. Ainda podemos explicitar o

modelo da Loteria Esportiva que se tornou uma marca no Brasil.

Isso se devia ao fato de o Brasil estar longe de ser uma potência esportiva naqueles anos,

sendo que este mesmo esporte já era símbolo de poder econômico e político para uma nação.

Não por acaso as duas maiores potências esportivas do mundo, que dividam uma hegemonia

Page 31: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

olímpica, eram também as duas que dividiam o poder econômico e político do globo. A

Ditadura Militar tratou o esporte como uma “questão” de Estado, sendo que o esporte,

pensavam alguns, seria capaz de amainar os ânimos, arrefecer os impulsos contestatórios,

canalizar a energia juvenil que pretendesse questionar a ordem vigente para Taborda de

Oliveira ( 2009). Além disso, o esporte seria também uma escola de disciplina para o trabalho,

visto que nos anos do ‘Milagre Econômico’ todos os esforços estavam voltados para incluir o

Brasil entre os países desenvolvidos do planeta, com o esporte não era diferente, motivo pelo

qual este se tornou um ‘setor’ de planejamento na esfera governamental.

Havia naqueles anos uma espécie de linha direta, para que os professores, atletas,

alunos, dirigentes, fossem incentivados a relatar ao Departamento de Educação Física e

Desporto vinculado ao MEC, para se fazer um mapeamento da situação do esporte no Brasil,

como as iniciativas, lacunas, precariedades e conquistas da sua região no âmbito esportivo,

(TABORDA DE OLIVEIRA, 2009). Existiam periódicos patrocinados pelo governo,

publicações como, Podium, Dedinho, EPT, entre outros, como um elo entre o governo e a

comunidade. (ROSA, 2009; TABORDA DE OLIVEIRA, 2009).

Ainda em 1969 a Divisão de Educação Física (DEF) foi substituída pelo

Departamento de Educação Física e Desportos (DED), que passou a atuar como órgão central

de direção, subordinado ao MEC, onde o DED elaborou o Plano Nacional de Educação Física

e Desporto (PED) para o quadriênio seguinte (PINTO, 2004), sendo que para este plano ficou

reservada a missão de modernizar a administração esportiva elevando o nível do Desporto no

país e, um destes programas era o Programa de Intercambio e Divisão Cultural (PIDIC) onde

o mesmo investiu em recursos gráficos, como Revistas em Quadrinhos, Revistas Científicas

entre outros. (PINTO, 2004).

O DED adotou três aspectos para o Sistema Educação Física/Esporte, sendo eles:

sistema educacional com ênfase no ensino fundamental; melhoria na aptidão física da

população urbana e organização desportiva comunitária com clubes, federações, etc,

constituindo o empreendimento da livre iniciativa. (BRASIL, M.P.C.G., MEC, 1971, apud

BETTI, 2009).

Um desses investimentos para a publicidade e a concretização do esporte nas escolas

foi a criação da revista em quadrinhos do Dedinho, uma analogia ao Departamento de

Educação Física e Desportos (DED). Nela foram criadas algumas histórias que contavam um

pouco sobre uma determinada modalidade esportiva, sua utilização era restrita ao trabalho do

professor de educação física nas aulas.

Page 32: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Na estreia da revista o personagem Dedinho se apresenta como:

“Meu nome é Dedinho. Já nasci grande, pois o setor onde atuo precisava que eu nascesse atuando; e posso mesmo dizer que antes de nascido já estava trabalhando” (PINTO, 2004, p.6).

Mostrando a personificação que dedicou o corpo técnico do DED, responsável pelo

trabalho. Dedinho era acompanhado por um grupo de amigos, sendo uma menina gulosa por

isso representada como “gordinha”, um garoto negro, o único da turma, um garoto alto e loiro,

uma garota que não largava sua inseparável boneca e um garoto branco e baixo, e sendo que

Dedinho era o maior de todos eles.Suas histórias se passavam por brincadeiras cotidianas que

inspiravam as modalidades esportivas, em algumas destas havia um sentido discriminatório

contra a mulher na prática de alguma atividade, fazendo uma comparação da sociedade na

época. Também eram mostradas as regras universais dos esportes para a maior fixação dos

alunos. A personagem principal de Dedinho que tudo ensinava tudo resolvia tudo

compreendia podia ser comparado a um governo forte, centralizador comandando o Esporte e

a Educação Física no país. (PINTO, 2004). Quanto ao movimento de escolarização do

esporte, ele ainda pode ser encontrado nas indicações de Dedinho para a preparação e

realização de competições esportivas na escola, com ajuda do professor de Educação Física.

Havia também a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, do MEC, que era

a voz oficial da Educação Física no Brasil, onde inaugurava no Brasil um debate acadêmico

sobre os benefícios da educação física (TABORDA DE OLIVEIRA, 2002).

Em 1975 foi aprovada a Lei 6.251 que definiu a Política Nacional de Educação Física

e Desportos, sob responsabilidade do MEC de elaborar o Plano Nacional de Educação Física e

Desportos (PNED) com os objetivos de:

1. – Aprimoramento da aptidão física da população;

2. – Elevação do nível dos desportos em todas as áreas;

3. – Implantação e intensificação da prática dos desportos de

massa;

4. – Difusão dos desportos como forma de utilização do tempo

de lazer;

5. – Elevação do nível técnico-esportivo das representações

nacionais (BRASIL, Congresso Nacional, 1976, apud BETTI,

2009).

Page 33: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Esta política esportiva considerou três possibilidades para o gerenciamento do sistema

Educação Física/Esporte, foram eles: dirigismo absoluto no qual a intervenção estatal se dá

nas etapas da prática de atividades física e tornar-se-ão instrumentos políticos pelo apoio dado

ao esporte competição de alto nível para projeção nacional e internacional em competições. O

Liberalismo absoluto em que os indivíduos fazem a opção pelas atividades físicas no meio

educacional e de lazer sendo que a ação do estado somente se dará em investimento para

infraestrutura. E por fim o sistema misto que fará a fusão das ações estatais e iniciativa

privada preservando a característica de cada uma. A opção foi feita pelo sistema misto.

Também foram feitas considerações de possíveis doutrinas para serem usadas na

condução política da educação física (BETTI, 2009) como o pragmatismo que conota o

indivíduo para o resultado e competição e o dogmatismo que orienta a prática da Educação

Física e dos Esportes para educação, sendo o pragmatismo escolhido.

O PNED previa ações na área da Educação Física e esporte estudantil, esporte de

massa e esporte de alto nível. Tinha como objetivos gerais dentre outros o de maximizar e

difundir a prática da educação física e do desporto estudantil (BRASIL, MEC, 1976b, apud

BETTI, 2009).

No esporte estudantil e na educação física inúmeras ações e projetos foram previstos

relacionados a infra estrutura das escolas, treinamento de professores, implantação das

educação física no primeiro ciclo do ensino de 1º grau, porém o principal efeito desta política

foi esportivizar definitivamente a Educação Física Escolar (BETTI, 2009).

2.4. A Formação do Professor de Educação Física

Page 34: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

A bibliografia pertinente à temática relata ainda que a formação de professores de

educação física foi enfática na habilitação do “técnico desportivo”. Assim, o título aos

graduados seria de Licenciado em Educação Física e Técnico de Desportos, onde haveria

matérias “básicas” da área biológica e profissionais, sendo estas duas com a mesma

quantidade de disciplinas, além das matérias de cunho pedagógico, porém, teriam que cursar,

uma ou duas modalidades esportivas a fim de se especializarem, além do currículo

obrigatório. Assim, o sistema esportivo garantiu seus interesses na formação de professores da

área e a educação física confundida com esporte. É diante deste contexto que a pesquisa vai se

basear, na expansão dos cursos de educação física e como se dava a graduação naqueles anos.

A formação de recursos humanos nas universidades fundou-se sobre dois aspectos na

opinião de Beltrami (1992): privilegiou uma formação tecnicista eliminando conteúdos de

caráter crítico e introduziu ostensivamente, mecanismos de controle ideológico através dos

quais se difundiria a ordem (segurança) do Regime Militar e o progresso (desenvolvimento

econômico) das classes dominantes. Os organismos autônomos de organização estudantil

foram substituídos por similares atrelados às instâncias superiores das universidades. Foram

incluídos em todos os currículos dos cursos superiores por força do Decreto-Lei, as

disciplinas de Educação Física e Desportos(Decreto-Lei nº705 de 25/07/1969) e Estudos de

Problemas Brasileiros (Decreto-Lei 869 de 12/09/1969). A educação física vai se

institucionalizar nesse período de duas formas na universidade: como um novo campo de

saber científico e como instrumento para organização controlada do corpo discente.

No final da década de 1960 previa-se um aumento no número de estabelecimentos de

ensino superior de Educação Física e a demanda de professores no nível médio de ensino

também crescia, pelo fato de a Educação Física através Decreto-Lei nº705/69 alterar o artigo

22 da LDB estender a obrigatoriedade da Educação Física a todos os níveis de ensino. A

formação de professores de Educação Física foi regulamentada pelo parecer 894/69 (BETTI,

2009) que fixou um currículo mínimo dos cursos desta área.

Assim, a Educação Física na Universidade, se apresenta, de um lado, como prática

obrigatória para todos os discentes, e de outro, enquanto um novo campo de pesquisa para

gerar novos conhecimentos e novos docentes qualificados para atender o mercado de trabalho.

Este se amplia na própria universidade tanto para a prática desportiva dos alunos que são

obrigados a prática-lá, como para os novos cursos de Educação Física que irão se criar e

também para o ensino médio do sistema escolar.

Page 35: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

A Lei nº5.540/68 recebeu normas complementares através do Decreto-Lei nº464 de 11

de fevereiro de 1969 onde o Presidente, no uso do poder atribuído a si próprio pelo temido

AI-5, no artigo 40, item c da referida Lei apresenta:

“c) estimularão as atividades de educação física e dos

desportos, mantendo, para cumprimento desta norma, orientação

adequada e instalações especiais”. (Decreto-Lei nº464 de 11 de

fevereiro de 1969).

O estímulo às atividades físicas calcadas nesta norma, era de caráter explicitamente

ideológico, minimizando a atuação do movimento estudantil e implicitamente ideológico

também reafirmando a eugenia da raça visando a Educação Física como propósito de seleção

de corpos sadios através da aptidão física da população universitária, aludindo-se aí a

participação em competições desportivas universitárias por meio da CBDU, Confederação

Brasileira de Desportos Universitários, e para evidenciar tal afirmação, utilizo o depoimento

da Professora Maria Lenk, extraído do Livro de Castellani Filho A História da Educação

Física no Brasil: A História que não se conta (1988) onde:

“Ela, a CBDU, contou, naquela época, com substancial apoio militar. Foram realizados grandes JUB’s – Jogos Universitários Brasileiros – bem organizados porque os militares deram uma mãozinha aos estudantes na organização dos Jogos, dando a eles aquele cunho patriótico, com desfiles, etc, dentro dos moldes olímpicos. Mas muitas vezes as Universidades, inclusive, a Escola de Educação Física, eram obrigadas, por questões políticas, a fecharem os centros Acadêmicos, mas não a fechar a seção esportiva, essa continuava...” (p. 173)

Este trecho indica o quanto o esporte, dentro da universidade era usado como um

instrumento para distanciar as questões políticas dos estudantes na época.

A criação de novos cursos de Educação Física se apressou, devido ao fato que a Lei

5.540/68 estabelecia:

“A formação de professores para o ensino de segundo grau, de

disciplinas gerais ou técnicas, bem como o preparo de especialistas

destinados ao trabalho, planejamento, supervisão, administração,

inspeção e orientação no âmbito escolar e sistemas escolares far-se-á

em nível superior” (Lei nº 5.540 , de 28 de novembro de 1968).

Em 1966 o Ministério de Educação e Cultura (MEC) e United States Agency for International

Development (Usaid) firmavam acordos tendo por objetivo a efetivação da reforma

universitária no Brasil, aproximando tal sistema universitário ao modelo de universidade dos

Page 36: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

EUA, com ênfase na privatização do ensino (Faria Junior, 1987). Assim sendo, a lei n.

5.540/68, fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação

com a escola média e dá outras providências, conduzindo o ensino à massificação com a

proliferação de cursos de nível superior e aumento de escolas estaduais de 1º e 2º graus, atual

ensino fundamental e médio. O curso de educação física, por exemplo, somente no estado de

São Paulo, de apenas um funcionando no início da década de 1950, passou para perto de

trinta até o início da década de 1970 (TOJAL, 1989).

Para o ensino superior ser conduzido à massificação, “a solução encontrada foi um conjunto

de medidas cujo resultado deveria ser a diminuição do custo da matrícula adicional”

(CUNHA, 1979). Para Tojal (1989 apud AZEVEDO & MALINA, 2004) passou a se encarar

a educação baseada no modelo administrativo das grandes empresas. O início do

empreendimento da reforma no curso de educação física foi marcado pela constituição de um

grupo de trabalho pelo diretor do Departamento de Educação Física do Ministério de

Educação e Cultura (DEF-MEC), em julho de 1968, presidido pela professora Maria Lenk,

então diretora da ENEFD. Esse grupo de trabalho foi criado para colaborar com o CFE em sua

revisão de currículo das Escolas de educação física e Desportos do Brasil (Brasil, 1968).

Segundo o depoimento da professora Maria Lenk, ocorreu uma reunião com os diretores de

escolas de educação física do Brasil para discutir a implantação do novo currículo, e o

professor Faria Junior foi seu convidado por ser ex-aluno da escola e por ser uma pessoa

estudiosa nessa área. Além da professora Maria Lenk, dos professores Alfredo Faria Junior e

Fernanda B. Beltrão, outros dois entrevistados que vivenciaram as questões aqui retratadas

são unânimes em afirmar que o currículo era discutido basicamente em termos de organização

de disciplinas a serem incluídas e excluídas, não havendo nenhuma teoria curricular ou

autores sendo consultados. A professora Maria Lenk ainda salienta que a discussão mais

importante era sobre a obrigatoriedade da educação física no ensino. Já o professor Faria

Junior diz que “basicamente foi uma só reunião que envolveu a vinda de professores de São

Paulo [...]” e que evidentemente “existia uma matriz curricular [...] por trás, como ideias

ideológicas etc. Entretanto, o que era discutido era apenas a inclusão e exclusão de

disciplinas, quais seriam incluídas no currículo mínimo e como é que seria a parte

diversificada do currículo pra completar o currículo pleno [...]”. E a professora Fernanda B.

Beltrão ainda acrescenta: “A preocupação central era com a prática que se ia exercer na

escola, [...] A concepção curricular era discutida, [...] mas como uma técnica, como organizar

o currículo, quais são os programas – era mais estrutura curricular – não tinha a teoria, [...]”.

Page 37: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

O professor Alfredo Faria Junior afirma também, confirmado pela professora Fernanda B.

Beltrão, que deve ser considerado a influência e o prestígio de alguns professores na seleção

das disciplinas que vieram a compor o currículo mínimo. Cabe considerar, portanto, que os

interesses eram atendidos diante de uma ordem política de caráter pessoal e/ou coletivo de

grupo.

Desta forma, os profissionais que saíam formados por esse modelo de curso continuavam

essencialmente técnicos, com uma fundamentação teórica de atendimento ao exercício da

técnica profissional exercida, ainda desprovida de um corpo filosófico-sociológico

consistente, apesar das disciplinas pedagógicas. (AZEVEDO E MALINA, 2004, p. 6-8).

Em 1964 o número de professores de educação física em exercício no ensino médio

era de 1.792 (BELTRAMI, 1992), o que nos leva a concluir que era muito baixo o número de

professores com diploma para exercer a profissão nas escolas, cabendo o restante aos

professores leigos e especialistas sem formação superior para ministrar tais aulas.

Diante deste contexto, que através de uma Lei, a educação física se estendeu para

todos os níveis de escolarização, especialmente no ensino universitário para, segundo os

autores estudados, difundir sua ideologia, controlar e vigiar os alunos, afastar manifestações e

organizações políticas que pudessem ameaçar “a segurança e a ordem nacional” que resultou

em uma expansão de cursos e escolas da educação física, onde ainda os mesmos autores

pontuam, que esta graduação, foi influenciada, esportivizada, ou seja, voltada para o esporte,

justifica-se esta pesquisa afim de se saber, por meio de relatos orais, dos agentes e sujeitos

sociais, que presenciaram aquele momento, diga-se, graduaram-se em educação física

naqueles anos, como era esta formação, suas disciplinas, sua relação com os docentes, suas

avaliações, seus estágios curriculares, se haviam ou não projetos de extensão universitária e

como era o mercado de trabalho e suas expectativas para a atuação após a formação inicial.

Page 38: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

3. Educação Física como instrumento ideológico: O que nos dizem os velhos professores?

3.1 A percepção sobre o Regime Militar (1964-1985)

Um dos objetivos desta pesquisa foi, de por meio dos depoimentos, saber dos professores qual

era sua percepção e o que achavam do modo de governo da época, o que concordavam ou não

e o saber destes como analisavam o governo do regime militar naqueles anos.

Segundo a literatura, o governo militar, era repressivo e autoritário, e utilizou de torturas,

censuras nos meio político, cultural, midiático para manter seu poder, e que ainda, buscava se

legitimar através do desempenho administrativo e econômico (COUTO, 1998).

Podemos destacar entre os depoimentos as percepções acerca do período, como:

“Regime autoritário, né, e apesar de ser autoritário, tinha a parte de disciplinar né, mas era intransigente, de certa forma tornava a vida social, política, cultural difícil pra o país, né, realmente nesse sentido era muito difícil a convivência com a ditadura, era um período que você vivia, saía e não sabia se voltava, não interessava se você fosse bom, se fosse ruim, o negócio era meio... era pesado...”(Professor Walter)

Este trecho indica a clara percepção do depoente, quanto a face do

regime autoritário e que o modo de vida político, social e cultural do

país era difícil, nas palavras do próprio professor. Já outros

professores, visualizam esse período em dois aspectos, o bom e o

ruim como indica o trecho:

Page 39: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

(...) é como sempre eu falo, tem a parte boa e a parte boa e parte ruim, o governo militar tinha uma intenção de dividir o Brasil, setorial o Brasil em partes de zona pecuária, de agrícola, de extrativista de minérios(...) a parte ruim é que perseguição, política, mordaça, isso ai era desagradável. Na escola não podia se manifestar muito contra o governo militar tinha às vezes, saia aquele boato que tinha gente a paisana sondando investigando o pessoal que era contra né, mas o pessoal que era contra, era radical, as esquerdas, como o governo militar foi radical de direita, aquele pessoal que era contra era muito radical de esquerda, eram bem comunistas(...)(Professor Paulo)

Este depoimento nos mostra como havia uma dualidade acerca da percepção sobre o regime, a

parte ruim, notadamente direcionada a questão política do regime e a parte boa no que

concerne a questão econômica do país. A fala do professor indica como já foi citado pela

bibliografia, que o governo militar, buscava se legitimar pelo desempenho econômico.

(COUTO, 1998).

Há ainda depoimentos que falam não sentir nenhum lado, nem outro sobre o governo, por

simplesmente não terem notícias sobre o que se passava pelo país como:

“Então na época eu era adolescente, em 64 eu tinha 14 anos, então a gente não se interessava muito por isso não (...) então lá a gente tinha pouca notícia, não tinha televisão na época, a gente não se interessava por rádio né e estudava no colégio de freiras, era interno, no colégio das irmãs, então a gente tinha pouca noticia, eu lembro assim ó, na época teve quando houve o golpe militar, houve uma eleição pro pessoal decidir entre duas tendências políticas, dois partidos políticos, ARENA e MDB, hoje PMDB, ARENA separou(...)quando entrei na faculdade, não senti muita diferença a não ser no impacto causado pela inflação, chegou a 80 por cento no ano, brincadeira né, os constantes aumentos nos preços de combustível(...)” (Professora Maria Aparecida)

“(...) e nos éramos muito alienados, e o sistema era muito eficaz, ele o tornava alienado politicamente mesmo, então a vida pra mim transcorria normalmente, independentemente de regime militar, eu tinha meu emprego, eu tinha minha ocupação, eu tinha meu lazer, eu tinha uma vida normal, e não queria nem saber se era Pedro, se era Paulo, aí depois de algum tempo, depois que eu entrei na universidade, depois que eu passei estudar, tal, ai que eu fiquei sabendo das mazelas da ditadura, do tempo da ditadura (...)” (Professor Elton)

“É, não posso, porque acho que por absoluta ignorância mesmo, eu nunca me envolvi, não tive conhecimento, não analisei, ouvi meu pai falar alguma coisa de comentar sempre com outra pessoa, claro que

Page 40: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

ele não conversava isso comigo, mas eu não me envolvi não, não posso avaliar uma coisa que eu não participei, não observei, que eu não me liguei nisso.” (Professora Neusa)

Estas falas, em geral, nos mostram como a percepção a respeito do regime eram diversas,

variando desde o lado negativo, expresso nas questões sociais e políticas entre outros, como o

lado positivo, com a forma de gestão do governo pelo país, bem como os professores que

nada sentiam, ou sentem sobre aquele período, justamente por não terem notícias ou

informações que chegassem até eles e ainda por não estarem totalmente atentos com a forma

de gestão do país.

3.2 Porque Educação Física?

Este tópico é reservado, por meio do roteiro de questões, para saber qual a principal

motivação dos professores entrevistados em cursar a graduação em Educação Física, quais

motivos os levaram a fazer esta escolha e por que. Notaremos a seguir como se deu a opção

da Educação Física para tais professores.

Podemos ver nos seguintes depoimentos os motivos dos professores pela escolha da Educação

Física:

“Primeiro era eu gostar mesmo, já era um objetivo e a prática de esportes natural, normal que a gente tinha.” (Professor Walter)

“Por ter facilidade de lidar com crianças, já trabalhava na formação de equipes menores de bola ao cesto e voleibol.” (Professor Simão)

“Olha não surgiu de nenhuma motivação especial, foram circunstâncias, intimidade da faculdade, convite de amigos, tal e um pequeno vinculo com a área de saúde e tal e sempre fui muito preocupado com movimento, mas foi mais circunstancial. (Professor Elton)

“Futebol, eu sempre fui, gostei demais e sempre, pratiquei, jogava desde criança e quando chegou, se bem que eu fiz o curso de educação física já como jogador de futebol profissional e eu encerrei a carreira e o que eu mais gostava de fazer era jogar futebol e lidar com esporte de modo geral e aí eu fiz o curso de educação física,

Page 41: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

licenciatura em educação física, 67 a 69, eu fiquei, eu era profissional e aí eu já comecei como preparador físico(...)” (Professor Gilberto)

“Bom em primeiro lugar foi a forte influência que eu tive do meu pai, ele era fanático por futebol e foi exímio jogador, exímio futebolista na época dele, na juventude dele e eu acompanhava, mas pra assistir porque jogar mesmo(...) é depois veio a tendência do momento, havia pouquíssimos professores de educação física na época e aí escola de Bauru havia sido aberta recentemente, havia uma forte disposição da minha parte para a prática de atividades físicas, acho que foi uma opção adequada(...)” (Professora Maria Aparecida)

Os relatos do Professor Gilberto e da Professora Maria Aparecida são interessantes de notar

que, o futebol, a paixão nacional, já naqueles anos era presente no nosso país, observando-se o

fato de que, naqueles anos não havia o profissionalismo que mais tarde atingiu o futebol e os

seus atores, mas que já demonstra que mesmo nessa época, antes da década de 60, pela fala

dos professores, o futebol já era um forte candidato, a esporte nacional.

“Ah a principal motivação foi principalmente porque eu já praticava esportes, sempre gostei né (...) justamente a época que reabriu a faculdade de educação física na ITE e nós aproveitamos e fomos fazer educação física porque gostava de praticar esportes. (Professora Neusa)

“Dois únicos motivos: Amor e crença.” (Professor Luiz)

“(...) porque eu sempre gostei de esporte e na época em bauru não tinha nem curso superior, eu saí do ginásio (...) foi fundada a escola de educação física de bauru e eu me formei em 1953 no ginásio e já ingressei então na escola de educação física, era um curso superior, porque senão nós tínhamos que fazer ou normal ou contador na época né (...)” (Professor Samuel)

“Ah eu gostava de esportes, eu gostava de nadar no rio, de andar a cavalo, e sempre gostei de atividade física e esportes, moto, desde os 14 anos que eu tenho moto.” (Professor Paulo)

“Eu sempre gostei de esportes, eu tive uma professora, de educação física em São Joaquim da Barra, a Judite, e a Ju, era assim muito,

Page 42: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

incentivava muito a gente, olhar a educação física de uma forma diferente.” (Professora Lílian)

“(...) sujeito me convidou pra fazer halterofilismo e eu era magro pra chuchu, magro (...) aí me entusiasmei(...)eu gostava de boxe, capoeira e halterofilismo (...) eu gostava de caçar e pescar então a gente começou assim a acampar aqui, no ribeirão da penha(...)depois a gente começou a ir pras fazendas daqui, começou a caçar com espingarda, caçar e pescar e aí foi, foi, foi aí nossa, tomei um gosto foi o que o acampamento, o passeio campestre, o contato com a natureza(...) (Professor Benedito)

É interessante notar que, quase todos os professores, com exceção de dois, justificam seu

interesse pela Educação Física, ou melhor, cursar a graduação em Educação Física graças ao

esporte, ou relacionado direta ou indiretamente a este. Uns por praticarem esportes, outros por

terem influência dentro de casa, outros por apenas gostarem e outros ainda por já trabalharem

com esporte. Apenas dois professores não justificam sua opção pela Educação Física pelo

esporte. Isto pode ser um claro indício da transformação mundial a qual passava a Educação

Física, em que o Esporte inaugurava uma nova tendência na Educação Física, e este, o

esporte, inaugurando um certo cientificismo na área.(TABORDA DE OLIVEIRA, 2001),

deixando de lado os velhos métodos de ginástica(BETTI, 2009). Há ainda nos relatos, que

mostram uma estreita relação com o meio campestre, ou com a natureza, que mostra outra

direção para a opção pela graduação em Educação Física.

Isso nos permite avaliar até aqui que o grupo de professores por mim entrevistados em sua

maioria, antes mesmo de serem ou se formarem professores de educação física, já tinham

consigo um direcionamento ou gosto pela prática de esportes, ou como vimos nos

depoimentos acima citados.

3.3 Além da graduação em Educação Física

Outro ponto explorado nesta pesquisa, a partir da entrevista semi-estruturada, foi saber dos

depoentes, quais cursos, além da graduação em si, foram realizados, com o objetivo ou não de

complementarem sua formação em Educação Física, sejam cursos de pós graduação,

profissionalizantes, técnicos etc.

Há os professores que tiveram uma segunda graduação além da Educação Física, alguns em

pedagogia por já estarem inseridos no ambiente escolar e outros em outras áreas de

conhecimento como podemos ver:

Page 43: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Geografia, nada a ver né?” (Professor Walter)

“Sim, eu fiz pós graduação e sou bacharel em Direito.” (Professor Luiz)

“Eu fiz pedagogia só, pedagogia.” (Professora Neusa)

“Eu fiz pedagogia, quando eu me formei em 70(...) aí em 71 comecei a fazer pedagogia (...) terminei a faculdade, depois eu fiz, mas pra frente eu fiz uma especialização que seria orientação, administração escolar pra ser diretora, pra prestar um concurso pra diretora, pra direção de escola(...)” (Professora Maria Aparecida)

Outros que fizeram cursos técnicos na área da Educação Física:

“Participei de curso técnico desportivo de bola ao cesto, voleibol, natação, futebol, atletismo, recreação na escola de São Carlos.” (Professor Simão)

“(...) fiz cursos de pós graduação na época, que hoje é diferente, de técnico desportivo de futebol e atletismo na USP em São Paulo e depois eu conclui lá em 62(...), eu conclui o curso de educação física em bauru em 55 e fiz o curso em 62 lá em são Paulo, tecnico desportivo de futebol e atletismo que na época era que fazia né, era mais que se fazia...” (Professor Samuel)

Estes cursos técnicos eram parte da graduação no período após a reforma educacional CFE

69/69, onde o licenciado em Educação Física poderia exercer a profissão de “técnico

desportivo” prevista pelo Decreto-Lei 1.212 de 1939, logo os professores de educação física

teriam que cursar, uma ou duas modalidades esportivas a fim de se especializarem, além do

currículo obrigatório. Assim o título aos graduados seria de Licenciado em Educação Física e

Técnico de Desportos (BRASIL, CFE, 1985); (BETTI, 2009).

Há ainda os professores que além de atuarem na educação básica, foram docentes de cursos

superiores em Educação Física e assim cursaram Mestrado e Doutorado como vemos a seguir:

“Eu fiz agora, quando foi incorporado a Universidade de Bauru pela UNESP o titulo era mínimo era de mestre, então eu fui obrigado,

Page 44: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

depois de trinta e tantos anos fora de sala de aula, só lecionando, a voltar, eu fiz o mestrado (...)” (Professor Gilberto)

“Sim, sim, tenho esse estagio em reabilitação cardíaca no Incor, foi feito em 1982, trabalhei com reabilitação, depois eu havia feito também duas especializações em educação e depois fiz mestrado e doutorado em educação por força de circunstância também (...)” (Professor Elton)

E também há os professores que fizeram cursos que não eram de formação

superior, de nível médio e técnico como segue:

“Eu fiz magistério, fiz contabilidade e um pouco de eletrônica.” (Professor Paulo)

“Não, não fiz não, eu fiz outras coisas depois que eu me aposentei aí sim ai fui fazer curso de massagem, massagem aiurvédica, curso de teatro, partir pra outros ramos, mas eu acho que tudo ta ligado a primeira coisa, a primeira raiz que foi a educação física (...)” (Professora Lílian)

Estes depoimentos permitem avaliar que tais professores dentro de suas possibilidades

procuraram melhorar sua formação a partir de cursos extras relacionados à docência em

Educação Física, bem como uma formação voltada para outras áreas que não eram a

Educação Física em si.

3.4 A Educação Física Escolar Pós – 64

Procurou-se investigar se a Educação Física Escolar sofreu alguma mudança após o golpe

encetado pelas forças armadas em abril de 1964(COUTO, 1998). Segundo a historiografia da

educação e da Educação Física, o regime procurou a partir de 1968 adequar o sistema

educacional ao modelo econômico vigente (ROMANELLI, 1986).Tal período, segundo a

literatura, mostrou o crescimento do esporte em função do Estado, onde houve a inclusão do

binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo (BETTI, 2009).

“Antes e depois a educação física sempre foi relegada a uma condição inferior, sempre esquecida, não dando valor ao que ela merece.” (Professor Simão)

(...)foi essa reforma, 71, aí a coisa aí degringolou, começou ..aí chegou num ponto que não tinha mais nota, era conceito e aí a coisa balançou(...), a coisa bagunçou, chegou esse período a coisa ficou

Page 45: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

tão ruim, que na reunião de professores, era cinco, a diretora que era substituta, não tinha aquela autoridade, “a delegacia regional de ensino mandou fazer assim” (...) (Professor Benedito)

Nota-se na passagem destes dois trechos, que segundo os professores, a Educação Física

Escolar, após 1964 não teve a devida valorização ou melhoria nas suas condições e na gestão

desta disciplina dentro da escola, o que confirma a recorrente historiografia da educação e da

educação física escolar, que nos revela que o modo como o governo militar gestou a educação

causou um retrocesso para a educação, uma falência do ensino no Brasil seja na esfera pública

ou privada, e até mesmo a inobservância e o desrespeito norma legal, direcionada para a

educação (CUNHA & GOES, 1984; GERMANO, 1993) e uma redução da educação física

escolar (CASTELLANI FILHO, 1988.)

“Não, não, eu não trabalhava nessa época com educação física, nem sabia que existia educação física (...) Nunca tive aula de educação física na escola, nem sei o que era.” (Professor Elton)

“Bom se eu entrei na faculdade em 67 nessa época, eu tava mais ou menos entrando no ensino médio, nem educação física eu conhecia.” (Professora Neusa)

Nestes dois depoimentos pode-se ver que tais professores, quando alunos, não tiveram aulas

de educação física na escola, demonstrando que nem sempre esta disciplina tem sido

realmente aplicada. O primeiro depoimento do Professor Elton, é mais claro, pois este se

formou no ensino médio no período compreendido entre 1969 e 1971, e a professora Neusa

que se formou no ensino médio entre 1964 e 1966, o que deixa claro que mesmo após 1964, a

educação física escolar não era realmente aplicada na escola como deveria ser, segundo estes

professores.

“A quando era aluno (...) Ah, a minha cidade era pequenininha, educação física era ministrada não por professor formado no inicio sabe, depois no ultimo ano, penúltimo ano ai já tinha, professor especializado, mas era praticamente jogo de futebol, e no final e no meio do ano fazia lá uma prova de eficiência física, mas era mais jogo de futebol.” (Professor Paulo)

Os depoimentos acima mostram outro lado da Educação Física pós 64, visto que são de

quando os professores eram alunos do ensino médio. Podemos enxergar uma forma de

enaltecer o nacionalismo através do Professor de Educação Física e já nessa época o futebol

aparece como um conteúdo unânime segundo o Professor Paulo, o que pode sugerir que partir

Page 46: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

destes anos (final de 1964) o esporte já começa a surgir no cenário da escola, confirmando a

teoria da historiografia (BETTI 2009; CASTELLANI FILHO, 1988; FARIA JUNIOR, 1992)

que versa sobre o predomínio do esporte nas aulas de Educação Física na escola nesse

período.

“Depois do golpe de 64, a única coisa que eu falei pra você foi só a questão da turma de treinamento, antigamente não tinha(...) O modo de ensino era o mesmo (...) não mudou nada, ainda, ainda, nessa fase ainda, é porque ainda era militar e educação física até 1970 né que foi lá, que seguia com treinamento, uma cartilha que eles tinham lá(...) mas na nossa também recebíamos uma cartilha, mas aí a cartilha quem desenvolvia era a gente mesmo(...)” (Professor Samuel)

Neste depoimento do Professor Samuel, faz clara citação as turmas de treinamento como fator

de mudança dentro da Educação Física escolar, na opinião positiva deste, o que confirma a

tese de Betti(2009) que afirma que o governo do Estado de São Paulo criou turmas de

treinamento dentro da escola a fim de priorizar a prática das modalidades esportivas.

“A educação física escolar após o golpe de 64 assim como as outras ciências dinâmicas sofreu altos e baixos rendimentos.” (Professor Luiz)

“Então foi o que eu falei pra você, é eu não senti, eu continuei fazendo, desempenhando minhas atividades, da minha maneira, da melhor maneira possível, mas, sempre sentindo que o governo, sempre tirou proveito, até hoje, esse regime de 64 a 85 que o militar tomou conta, é, eu não sentia diferença depois também de 85 pra cá, quer dizer, continua a mesma coisa, eles continuaram usufruindo do esporte pra fazer a carreira deles[Governo](...) (Professor Gilberto)

Já o depoimento do professor Luiz demonstra que a Educação Física sofreu altos e baixos

assim como as outras ciências, o que nos leva a pensar que não foram mudanças significativas

no seu curso após 1964. O segundo depoimento revela o professor Gilberto, que o governo

tirou proveito do esporte, mas que isso não é uma exclusividade do governo daquela época, já

que segundo o mesmo, isso continua a acontecer.

3.5 O COTIDIANO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 47: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Um dos principais objetivos desta pesquisa foi saber dos professores, agentes sociais, sujeitos

históricos, que vivenciaram diretamente a Educação Física Escolar naqueles anos, como eram

as aulas e se o Governo Militar influenciou no seu desenvolvimento dentro da escola. Esta

questão é marcante, pois a maioria dos livros, textos e artigos relacionados a este período,

pontua que a Educação Física, especialmente escolar, serviu de ‘ferramenta’ de alienação e

controle do governo, a fim de afastar os professores e alunos de questões subversivas. E que a

educação Física foi reduzida a esporte, por influência governamental com outros fins além de

somente a prática esportiva. Segundo Castellani Filho (1988) o Decreto-Lei 69.450/71,

reforçada pelo parecer nº853 de 1971, conota a Educação Física um fazer prático, ausente de

uma reflexão teórica, simplesmente nas palavras do autor como um “fazer pelo fazer” (p.15)

o trecho a seguir demonstra:

A compreensão da educação Física incorporada enquanto matéria curricular sob forma de atividade – ação não expressiva de uma reflexão teórica (...) explica e acaba por justificar sua presença na instituição escolar, não como um campo do conhecimento dotado de um saber que lhe é próprio, específico – cuja apreensão por parte dos alunos refletiria parte essencial da formação integral dos mesmos, sem a qual, esta não se daria – mas sim enquanto uma mera experiência limitada em si mesma, destituída de exercício da sistematização e compreensão do conhecimento, existente apenas empiricamente.(1998, p.15).

Para Mariz de Oliveira, a Educação Física é considerada no interior da escola como sem

função educativa (1988), bem como para o mesmo autor, citado por Taborda de Oliveira

(2001), há uma condição ingênua, ou alienada por parte do professor. Para Perez (1977) a

Educação Física:

Com exceção de iniciativas isoladas em algumas escolas brasileiras, a Educação Física não tem cumprido sua parte na preparação integral de nossos jovens, pois parece uma atividade isolada desintegrada do processo educacional (...) Aparece mais como um passatempo, uma recompensa ou uma pausa reparadora da retomada do verdadeiro esforço (p. 84)

Para Ghiraldelli Jr (1988) a Educação Física não tem função política e ainda fala do uso da

Educação Física utilizada pelos militares como:

É preciso também notar que, se por um lado a Educação Física Competitivista era incentivada pela ditadura pós-64, pois tal concepção ia no sentido da proposta de um “Brasil- Grande”, capaz de mostrar sua pujança através da conquista internacional, por outro

Page 48: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

lado, obviamente, esse não era o único interesse governamental ao endossar tal concepção. (p.31-32).

Já para Betti (2009) o estabelecimento da aptidão física como referência dos programas de

Educação Física restringiu as possibilidades pedagógicas para o alcance de tão amplos

objetivos (p. 122). Para o autor ainda a Educação Física passou a ser tratada ao nível de outro

sistema, e porque gerou um, interesse do Estado, sob o prisma da “aptidão física” e da

projeção nacional pelo esporte de alto rendimento, incorporando definitivamente o conteúdo

esportivo no primeiro e segundo graus. (p. 123).

Para Bracht (1992) houve também uma redução de possibilidades educativas na escola:

Essa orientação parece, mais uma vez, adequar-se bem à orientação tecnicista que, principalmente nas décadas de 60 e 70 predominam no sistema educacional brasileiro, sob a égide da ditadura militar, do projeto “Brasil-Grande”. É a época dos objetivos operacionais, do primado do planejamento, da tecnologia de ensino. Menos o professor e o aluno têm importância no processo de ensino, e mais o planejamento (...). Sob esta orientação ocorreram reducionismos, ou uma segunda redução do movimento corporal nas aulas (a primeira redução já havia ocorrido através da assimilação dos códigos do esporte), pela necessidade de operacionalizar os objetivos, o que levou, pelo menos na tendência, à substituição do lúdico em favor de tarefas mecânicas (p. 23-4)

Diante destas afirmações veremos nos depoimentos dos professores como eram suas aulas de educação física naqueles anos:

“Não tinha, tinha, era natural, as aulas, nos temos que lembrar que o seguinte, a aula de educação física nesse período ate 68 era um período muito duro na educação física precisamos lembrar que tínhamos três aulas de educação física, e fora do período de aula, período inverso ai o que nos fazíamos, quer dizer, nos fazíamos já da época nossa, que éramos alunos, professor quase todos eles, eles tinham um método assim, uma aula era exclusiva pra aula de ginástica, entrava, chamada, aquecimento, ou correr, ou a ginástica calistênica que era o forte da época (...)” (Professor Walter)

“Eram usados métodos Francês, Desportivo Generalizado e Calistênico, normalmente usava a iniciação da pratica esportiva, pois acho que através dos desportos, conseguíamos a Educação Integral. “(Professor Simão)

“(...) tinha até modalidade esportiva, futebol tinha ate futebol eram três aulas por semana, uma delas, duas delas que eram duplas nós

Page 49: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

fazíamos um joguinho de futebol e eu inclusive era escolhido como jogador era um dos últimos, porque sempre joguei muito mal, mas ele aprendiam tudo sobre o jogo como formar uma equipe mais ou menos homogênea não só os bons do lado e ruins do outro tal, tal isso no futebol e era como meio, o futebol era visto como meio, não como fim , era um processo, no meu caso era um processo (...)isso em 82 sem saber de nada eu era virgem era cru eu me formei em 81, (...) agora o desempenho dele ai não cobro nada isso(...)o meu problema era o resultado educacional e social, não era numérico, tava pouco me lixando tanto que eu nunca ganhei medalha nenhuma a prateleira deve ter ficado praticamente vazia se entrou outro depois e encheu aquilo de medalha não é problema meu.” (Professor Elton)

“È, eu na escola SENAI, eu tinha uma programação, um planejamento, e eu me lembro que eu começava com atletismo porque atletismo é iniciação é corrida, saltos e arremessos, então dentro do espaço que eu tinha no SENAI (...) eram cinco meses o semestre, primeiro mês desenvolvia esse atletismo e a ginástica de solo, no segundo mês eu iniciava com handebol, era uma iniciação pro basquete, terceiro mês eu fazia basquetebol, quinto mês eu futebol de salão e era metódico, eu já sabia as aulas todas eu tinha programado e planejado, isso fazia parte, eu tinha programa e tinha o planejamento e executava religiosamente e no SENAI depois de uma certa temporada, sábado e domingo a gente fazia recreações e competições esportivas, mas era em cima mais de pratica esportiva, fazia um pouco, fazia o aquecimento, e o que motivava mais, era a iniciação esportiva, era a pratica esportiva, então passava esse inicio já no handebol, basquete, voleibol, futebol de salão(...)” (Professor Gilberto)

(...) “Eu procurava ser uma boa professora, eu fui, diversificava o máximo possível as minhas aulas, eu fazia, cheguei a fazer até festivais com as minhas alunas na cidade de Garça, foi muito bom (...) Ah, a minha didática foi totalmente dirigida pelo que eu aprendi na faculdade, era, porque eu não tinha mesmo, o que eu sabia era, o que sabia e sei foi o que eu aprendi na faculdade.” (Professora Neusa)

“As aulas de educação física eram ministradas de acordo com:

a) Antigo método Francês regulamento número sete;

b) Pelo sistema Calistênico;

c) Pelo sistema Sueco de ginástica e o;

d) Sistema desportivo generalizado.” (Professor Luiz)

Page 50: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“A aula a gente tinha bastante, no governo militar, a gente tinha bastante liberdade pra trabalhar, eu particularmente ministrava assim mais aulas com método Frances, Sueco que tava em moda e depois no final dava um joguinho lá uma semana cada modalidade era por aí no inicio do ano fazia aulas teóricas higiene e saúde, alimentação, (...) então as aulas no inicio eu fazia bastante aula teórica ate que se realizassem os exames médicos, porque demorava e sem exame medico eu não fazia aula prática, eu tinha medo de provocar algum acidente, algum aluno com cardiopatia, problema renal e a gente era responsável, sem exame medico a responsabilidade recai ainda sobre o professor até hoje (...)é, enquanto não fazia o exame medico eu dava aula teórica sobre essas coisas(...)Também tinha na época o desportivo generalizado.” (Professor Paulo)

“Então a gente aprendia os métodos da educação física né na faculdade, mas a gente fazia uma “misturebinha” né, método que você ta falando é o calisténico (...) eu nunca usei método Calistênico, (...)eu gostava mais do método sueco, que era uma coisa mais balanceada e tal (...) Dentro da escola que eu dei aula em escola do estado, a gente tinha que dar de tudo um pouco então eu dava voleibol, então você usava o que você podia na parte de aquecimento, na parte de preparo físico, então eu dava mais métodos mais balanceados, (...) é cirquinho, eu tinha uma equipe de cirquinho muito linda, e a gente não podia chamar ginástica olímpica, primeiro porque não tinha aparelhagem adequada(...)fazíamos o nosso cirquinho e deu muito bem, dei muita parte de dança, recreação essa parte eu dei muito, usei muito, muito,a parte recreativa, de recreação eu usei muito, atletismo, a gente deu tudo, tudo o que eu aprendi na faculdade eu dei pros alunos nas escolas.” (Professora Lílian)

“(...) aquela época já começou a quinta séria, no gramado ali, então eu dava recreação, não tinha muito o que se fazer num pedaço de grama, chover fica em casa, às vezes as crianças, ‘a professora vamos brincar de alguma coisa, vamos pra sala de aula’, dava um joguinho lá dentro da sala, dava alguma aula teórica, mas pra quinta série, criança de 10, 11 anos não atrai muito, eu gostava de dar atletismo, então salto, iniciação ao salto em altura, tesoura simples, porque de costa jamais, já não tinha nem caixa de salto, imagina, salto em extensão, arremesso de pelota na bolinha de tênis, corrida de velocidade, revezamento, eles gostavam bastante, então era restrito por causa disso, meu espaço para dar aula era ali, aí depois foi melhorando, mas os métodos que nós aprendemos na faculdade que a gente sempre trabalhou até hoje eu acho que ainda é válido, aquele que pega sete famílias, andar, correr, saltar, carregar, levantar, transportar(...) Acho que é o Francês, acho que ele não sai da moda não (...)falei com a diretora, e ela consentiu de

Page 51: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

fazer um campeonato, um atletismo ali na frente, corrida, tracei 50 metros, pai chegava pra entregar filha via lá riscando com cal, uma raia ali me ajudava, eu fiz o campeonato ali, na frente da escola debaixo das arvores (...)” (Professora Maria Aparecida)

Pode-se avaliar que na maioria das aulas, os conteúdos esportivos predominavam aliados aos

métodos ginásticos da época como Francês, Sueco, Calistênico e Desportivo Generalizado, o

que em tese confirma a versão da literatura que os conteúdos esportivos eram predominantes

nas aulas. (BETTI, 2009; BRACHT 1992, CASTELLANI FILHO, 1988, GHIRALDELLI JR,

1988.)

“Então era, era sessão de atividade física generalizadas, do Listelô, então começava com uma chamada, a ordem unida e depois dava um exercício de ordem e ritmo também sabe, isso era excelente, tive até equipe de ritmo que fazia exibição, desfile, a gente fazia exibição sabe, você marchando, quatro passos, depois faz meia volta, depois faz meio volta, depois vai pra direita, vai pra esquerda, marcha, com pelotão de ritmo, então o ritmo era, e depois ai vinha, a ginástica olímpica, aí eu fazia, nós chegamos a competir, nós pegamos no primeiro campeonato no Pacaembu, nós pegamos terceiro lugar(...)”(Professor Benedito)

“(...)a nossa formação era mais prática, era sair dali pra dar aula mesmo, a teoria tinha claro que tinha pedagogia, anatomia, todas as matérias que nos temos hoje, nos tínhamos lá, mas é com maior, menor ênfase, a mais ênfase era a parte esportiva que saia dali pra dar aula, naquela época não tinha tanto assim pesquisa, era aula mesmo, saia dalí pra dar aula mesmo(...)nos dávamos aula, os métodos que a gente usava, todos métodos assim, desportivo generalizado, era calistenico, que era meio parado, militar, mas aí era dividido, é claro que nas escolas, a gente tinha que dividir as etapas de anos, um semestre faz basquete, um semestre faz vôlei, mas aí que eu falo sempre conversando, que isso aí, não é que não funcionava, não tínhamos quem cobrasse, e até hoje, isso até hoje ninguém cobra, se você faz um plano pra você dar uma aula num colégio, ou em qualquer outro lugar, isso ninguém vai lá falar pra você se você ta dando aquilo, chega lá e dá o que você quiser(...) (Professor Samuel)

Há na fala de alguns professores outros conteúdos privilegiados também em suas aulas como,

recreação, dança, circo, ginástica, bem como relatos que a competição não era um fim em

suas aulas, o que evidencia que o esporte não era totalmente ou unicamente e exclusivamente

o conteúdo aplicado nas aulas, o que nos faz ter uma outra visão de como se processou a

história desta disciplina escolar no período. Taborda de Oliveira (2002) que em seu trabalho

Page 52: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

de Doutorado, utilizou de fontes orais para compreender a educação física escolar nos anos do

Regime Militar na cidade de Curitiba nos faz apontamentos em seu artigo (2002):

“Segundo os professores por mim entrevistados o esporte apareceu como uma alternativa ao descaso e à improvisação que então grassavam nas aulas de educação física. Para a grande maioria desses professores o esporte era uma atividade educativa por excelência. Assim sendo, ele era muito mais uma alternativa positiva do que um rebaixamento do valor formativo da educação física escolar. Ou seja, representava, mesmo, uma “nova coloração” para a educação física escolar. Quanto aos usos ideológicos que se podem fazer do esporte não podemos falar o mesmo de qualquer outra prática cultural? E os professores partilhavam dessa compreensão ou haveria compreensões diferentes em torno daquele uso?” (p. 64)

Para este autor os professores não podem ser considerados como sujeitos capazes de por si só

transformar sua realidade mediante sua prática pedagógica e sim que estes foram sujeitos que

agiram dentro de suas condições históricas, concretas, e que certamente não tinham

disponibilidade acadêmica para teorizar sobre o fim ou início dos tempos (2001, p. 59).

3.6 A INFLUÊNCIA DO GOVERNO MILITAR SEGUNDO OS PROFESSORES

Um dos principais objetivos desta pesquisa foi saber, na opinião dos professores entrevistados

se o regime militar, que por vinte e um anos governo o Brasil, influenciou de maneira direta

no cotidiano, ou no desenvolvimento das aulas de educação física, e se isso realmente

aconteceu, de que forma, quais as maneiras utilizadas para chegar a tal meta, e se isso não

aconteceu, como e porque os professores justificam isso. A seguir os depoimentos nos

contarão um pouco sobre isso.

“Não, eu não vejo assim, na realidade eu acho que não foi, a educação física não, mas...se você for avaliar nesse sentido aí, tinham matérias que poderiam ser usadas, OSPB né, organização social e política do Brasil, nos tínhamos na faculdade, então essa matéria poderia ser usada, mas não educação física, (...) mas falar assim “não a educação física era usada, pra alienar alunos, pra alienar pessoas, alienar professores” eu não entendo assim, eu entendo que não teve isso não, a não ser assim também(...) eu não senti isso não,nem no Paraná, nem aqui no estado de são Paulo, (...)mas assim...é você transportar métodos militares pra educação física, ela já era rígida, então não militarizou, não descaracterizou a educação física não(...) quem trabalhava nessa época, tinha métodos e sistemas bem puxados(...)” (Professor Walter)

Page 53: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Para os alunos a educação física sempre é aceita, podendo o professor, tirar proveito disso, desde que haja condição física e materiais esportivos(...)Jamais teve influência, o professor é o mestre de tudo, dependendo da sua aceitação” (Professor Simão)

“Não sei, eu pelo pouco que eu to te falando que eu tive como experiência de aluna não pude...perceber isso e como professora também não me senti de forma nenhuma, alguém tentando me alienar pra trabalhar com meus alunos não.” (Professora Neusa)

“Tanto alunos como professores de educação física tiveram fortes vínculos com a parte social da educação em geral(...)Como alto caráter social a educação física sofreu muito no seu caráter escolar(...)Indiscutivelmente mudou para muito melhor” (Professor Luiz)

Nestes depoimentos ficam expressas as opiniões dos professores, quanto ao uso da Educação

Física como instrumento alienante por parte do governo. Pode-se verificar que a maioria dos

depoentes não sentiram influências por parte do Regime, exceto por alguns que citam a o

Nacionalismos, como cantar o Hino Nacional e o depoimento da Professora Lílian, que

mesmo falando que havia medo e se deixaram levar por esse medo e que também houve uma

mudança após 68, especialmente para formar atletas, a professora no seu depoimento mostra

por outro lado que a Ditadura não conseguiu passar o que eles queriam em sua opinião, pela

ousadia, segundo a professora, dos mestres.

“Não, eu acho que não, eu acho que nesse particular não(...)A mesma coisa, não teve influencia nenhuma revolução de 63, 64, eu fui professor e fui tecnico, por isso que eu to falando pra você na parte de escola não em problema, já na parte tecnico de profissão, profissional, fui tecnico de atletismo, fui tecnico da comissão de 1963 do pan americano, primeiro pan americano no Brasil(...) então a gente nessa parte dá uma ênfase, pegava aqueles atletas, dava uma bolsa, tinha a bolsa atleta só aquela parte, outra coisa também voltando lá nas aulas, por exemplo, então, eu como acho que tive o privilégio(...)” (Professor Samuel)

“Tinha, muita autonomia, eu nunca senti essa alienação (...) Não, não sofreu mudança não, a escola sim, alguma mudança porque aí cantava-se o hino nacional uma vez por semana e o diretor, alguma professor, algum aluno fazia, falava, comentava sobre uma pessoa

Page 54: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

ilustre, sobre um brasileiro ilustre, Rui Barbosa, Barão do Rio Branco(...)” (Professor Paulo)

“(...)Não, eu acho que não, não senti nada disso, nunca senti nada a respeito, mesmo porque, é enquanto aluna da escola de educação física os professores tinham um planejamento a seguir, tá, então a gente tinha aquela, aquele respeito pra ser passado pelo professor, eles tinham respeito com a gente(...) mas nunca, foi esse respeito de qualquer tipo de interferência no comportamento da pessoa, dos alunos.” (Professora Maria Aparecida)

“Ae é foi, quer dizer, o pessoal, a educação ficou ruim em todos os sentidos né, a educação física a gente agüentou como pode né, até eu desistir né, ai quando surgiu o anglo, já o Jarbas Passarinho começou com a escola particular (...)Não, não dá pra perceber, acho que é a influencia militar, era a situação de cantar o hino nacional, hastear a bandeira, essa exigência né” (Professor Benedito)

“Depois do golpe teve mudança sim, porque você tinha que formar alunos pra ser atletas e atletas assim, perfeitos, vamos dizer, (...) Senti isso, 64 não, mas acho que um pouco mais, mais em 68 foi depois do Ato Institucional número cinco, depois do AI-5, que coisa ficou mais rígida e na escola, por exemplo, os professores que davam educação física na época nas escolas, nossa, sofreram muito, porque não podiam abrir a boca, você tinha que seguir aquela orientação dada pelo MEC(...) Acho que eu já falei um pouquinho isso, isso houve sim, houve sim, houve uma tentativa de através da educação física fazer alienação dos alunos (...) mas não foram todos os professores que se atemorizaram, teve muito professor corajoso, que eu acho que ousou, e ousando foi que não a Ditadura Militar não conseguiu passar o que eles queriam, foi pela ousadia de muitos mestres, muitos mestres, esses eu considero mestre, muitos são professores, mais alguns são mestres, esses eram mestres.” (Professora Lílian)

Taborda de Oliveira (2004) em conclusão ao seu estudo, também pautado em fontes orais, se

diz certo de que a interpretação historiográfica exagerou quanto à dimensão estratégica do

governo para a consolidação do regime militar, que a lei, ao que parece segundo o autor foi

uma tentativa de organizar demandas do que propriamente de determinar a organização da

educação física brasileira (p. 16). Segundo o autor, a tese de transplante cultural, recorrente da

literatura, onde ocorreu a transferência desse processo para uma possível relação vertical entre

países capitalistas desenvolvidos e os países periféricos é precipitada, visto que na opinião do

autor, a influência estrangeira sobre a educação física vinha dos mais diversos países, dentre

os quais, os países do socialistas do leste europeu (p. 16).Taborda reforça ainda a tese da

necessidade de olharmos para cada contexto particular, na sua interação necessária com a

Page 55: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

configuração social e a ambiência cultural, para que possamos afirmar se a escola é capaz de

produzir ou apenas absorve conhecimentos das ciências de origem(p.17), como se pode

constatar no trecho de Palafox (1990):

“Podemos constatar a tendência inicial, da linha de pensamento científico de origem positivista proveniente dos Estados Unidos, com o que o CBCE se fundara no inicio de suas atividades, uma vez que seus fundadores estabeleceram como metodologia de trabalho (veja por exemplo suas normas de publicações científica), as especificações de uma entidade de cunho eminentemente racionalista, e denominado American College os Sports Medicine (p. 44-5)”.

Esta visão de Taborda de Oliveira, juntamente com os depoimentos acima citados, vão em

oposição ao que relata a historiografia pertinente ao professor de educação física naqueles

anos. Podemos ver nesse trecho de Oliveira (1994):

“(...) O papel do professor, como intelectual orgânico que opta pelos desfavorecidos, é abrir o amplo leque de percepção daqueles que o cercam para as contradições do capitalismo, dando-lhes opções. A pedagogia do conflito é um trabalho de persuasão, no sentido gramsciano, para a superação do conhecimento do senso comum, ou seja, a filosofia das classes subalternas. Não se pode esperar que, espontaneamente, as massas despertem para as necessidades da verdadeira transformação social. Esse foi um dos maiores ensinamentos de Lenin. O trabalho pedagógico revolucionário implica obstaculizar a veiculação de valores burgueses, assim como preparar os trabalhadores para serem dirigentes em uma outra sociedade..” (p. 185).

Neste trecho, o professor, parece ser vitimizado, como incapaz de gerir sua vida, precisando

assim ser iluminado por superiores, talvez intelectuais para atingir tal ideal para os da

educação. Temos outro trecho do autor onde afirma: “O docente de Educação Física, como

outros profissionais nesta sociedade de classes, tem sido também vítima das mais diferentes

formas de violência ideológica do sistema capitalista vigente” (p. 101). Tais citações

evidenciam a necessidade de ser analisar a experiência de agentes que estiveram presentes e

vivenciaram tal período, pois seria injusto excluí-los de todo o processo de transformação da

educação física brasileira, como se tais sujeitos não tivessem autonomia para gerir suas

próprias atitudes e experiências.

3.7 SUPORTE PARA AS AULAS

Page 56: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Procurou-se investigar nesta pesquisa a existência de alguma cartilha, livro didático,

orientação pedagógica governamental, para nortear, ou ser utilizado como suporte nas aulas

de Educação Física ou até mesmo com o fim de influenciar o professor na prática cotidiana da

sua aula.

A literatura relata algumas iniciativas governamentais sobre revistas especializadas a fim de

orientar a prática do professor, tais como Podium, Revista de Educação Física e Desportos do

MEC, Revista Dedinho do departamento de Educação Física e Desportos, entre outros.

(TABORDA DE OLIVEIRA, 2001; Pinto, 2004) como já citado anteriormente nesta

pesquisa.

Pinto(2004) destaca no seu texto a passagem sobre a Revista Dedinho:

“Eu sou o DED”. Dedinho se apresenta da seguinte maneira: “Meu nome é Dedinho. Já nasci grande, pois o setor onde atuo precisava que eu nascesse atuando; e posso mesmo dizer que antes de nascido já estava trabalhando” (p. 6).

Dedinho era acompanhado por um grupo de amigos, sendo uma menina gulosa por isso

representada como “gordinha”, um garoto negro, o único da turma, um garoto alto e loiro,

uma garota que não largava sua inseparável boneca e um garoto branco e baixo, e sendo que

Dedinho era o maior de todos eles. Para tanto, o pesquisador procurou através do roteiro de

questões saber dos professores, se tiveram contato com alguma cartilha ou revista para nortear

suas aulas.

“Num certo tempo houve um projeto daquilo, que poderia se dar durante o ano e no final avaliação, mas por falta de pessoas habilitadas, ficava a cargo do próprio professor tirando por conclusão que ficava na mesma situação precária de sempre.” (Professor Simão)

“Eu tinha meu programa, meu planejamento, e seguia, quando eu fiz escola de educação física, tinha as apostilas na época, é aprendia-se os métodos de educação física naquele tempo, é... é esquema padrão, então a gente tinha apostilas, seguia-se na escola de educação física,mas aquele tempo 70 por cento era mais prática, eu costumo falar que nós criávamos nossa teoria em cima da nossa experiência pratica(...) (Professor Gilberto)

“Não, não exista não, quer dizer, eu tinha alguns livros que eu fui comprando durante o curso de educação física, na medida do possível, a própria apostila da faculdade, mas era, apostila de matéria normal, não nada pra me direcionar nas minhas aulas (...)” (Professora Neusa)

Page 57: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Não, não tinha cartilha nenhuma, a gente fazia o próprio currículo, o projeto anual e depois de feito o projeto aí a gente tinha que segui-lo, mas construção do projeto mesmo era por conta do professor e quando tinha um coordenador pedagógico ele ficava junto pra trocar idéia e a gente tinha que submeter ao parecer dele (...)” (Professor Paulo)

Nota-se nos relatos dos Professores Paulo, Neusa, Gilberto e Simão que eles mesmos eram

que faziam seus planejamentos de aulas, alguns de acordo com o que aprenderam na

graduação, outro em livros, outro com o coordenador pedagógico da escola, o que pode

evidenciar que a falta de uma cartilha para suporte, fazia com os mesmo tivessem que por

conta própria planejar, organizar e separar seus conteúdos para ministrá-los conforme seu

próprio cronograma.

“Sim, o regulamento numera sete do método francês” (Professor Luiz)

“Não, não era bem uma cartilha ou guia, era um livro, formado pelo MEC, construído por uma comissão, MEC(...)mas não era só pra educação física ali dentro tinha conteúdo, você tinha como trabalhar, você tinha como fazer planejamento anual, planejamento de aula, era o “verdão”, chamado verdão, era o livro que era base pra coisa, mas não era só pra educação física(...)Era separado por área (...) não que fosse uma cartilha que você tinha que rezar ela por causa do militarismo, ao não ser que essa fase tivesse sido numa fase universitária, porque pra nós que trabalhávamos com ensino fundamental 1º e 2º (...)olha em principio quando eu comecei aqui no Estado de São Paulo a gente usava muito, porque você tinha que pegar aquele parâmetros lá e fazer os planejamentos baseados naquilo lá...era baseado naquilo lá era tudo pronto, era um método..sistemático, sistêmico(...)” (Professor Walter)

“Olha até 86 como eu falei pra você que eu atuei, eu tinha, por exemplo, eu era orientado pelo SENAI, nós tínhamos uma cartilha que tínhamos um programa(...)Não, era pra todas as matérias, não era só pra educação física(...)Do SENAI, não tinha nada do estado, isso ai, do ginásio vinha uma orientação(...)Ah sim ,era geral, o governo mandava, acho que até hoje, não era específica da educação física, tinha pra educação física, tinha pra português, como eu falei pra você, a gente dividia em temporadas(...)isso aí era o professor que fazia, tava ali, se quisesse cumprir cumpria, se não quisesse não cumpria certo(...)”(Professor Samuel)

Page 58: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Existia sim, existia o tal do verdão, o tal do verdão, mas eu não me lembro bem mais, do conteúdo do verdão, mas você tinha que acompanhar aquele guia mesmo, era uma espécie de um guia (...) Não, abrangia todas as matérias (...)eu lembro que material de educação física era tão difícil, tão difícil de adquirir que nos comprávamos material, joguei tudo fora, comprava livro na argentina, vinha os livros em espanhol pra você ter algo, porque nós não tínhamos muito material aqui dentro não(...).” (Professora Lílian)

“Sim, sempre teve aí eu não me lembro qual que era não, a secretaria de educação mandava pras escolas e a gente tinha que seguir aquilo quer queira, quer não, tinha que seguir mesmo não concordando(...)Isso, o “Verdão” é(...)Não, tinha, a gente tinha que seguir, tinha os objetivos tudo(...)Isso eu lembro porque eu discuti, eu promovi uma discussão lá na época dos estudos né, mas sempre então, isso era feito, por uma equipe de professores de educação física lá em São Paulo, funcionários, professores que se reuniam estipulavam, colocavam no papel um planejamento, colocava em atividades desenvolvidas na primeira série, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta, sétima, oitava então depois, eu chamava os professores e faziam pratica na escola, isso nas escolas experimentais que tem em são Paulo né, depois viu que dava certo, no ano seguinte mandava distribuir pro estado todo(...)”(Professora Maria Aparecida)

As falas são tão diversas quanto à existência de cartilhas para guiar as aulas de Educação

Física. Porém há somente três depoimentos que revelam haver uma cartilha para nortear as

aulas dos professores, o “Verdão”. Dos três professores que tiveram contato e o utilizaram

como guia, apenas a Professora Cris relatou que o uso do mesmo era obrigatório, querendo ou

não e que tal orientação vinha de São Paulo. Mas um dado interessante, era que segundo o

depoimento acima, a cartilha era feita em uma reunião por um grupo de professores, até a

própria professora chegou a participar de uma discussão acerca desta cartilha, o que mostra

que este guia era feito pelos próprios professores. Nos depoimentos do professor Walter e da

Professora Lilían, o “Verdão” era uma cartilha utilizada, mas não era obrigatória nas aulas.

Outro dado interessante acerca de material para as aulas, está presente no fato da escassez de

material que era tamanha, segundo a professora Lílian, que a mesma adquiria livros para uso

nas aulas da Argentina. Nos depoimentos do trabalho de Taborda de Oliveira(2001), os

professores entrevistados fazem semelhante afirmação:

A nossa literatura vinha toda da Argentina. A Argentina, para a época era “a ponta” em termos de literatura do desporto. Eles tinham

Page 59: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

um “cara” – não lembro o nome – que era considerado uma autoridade em desporto. Porque eles também importavam muito pela facilidade de contato, principalmente com a Espanha. Tinham muitas traduções espanholas e a gente fazia essa ponte via Argentina. E aí nós produzíamos baseados nessa literatura, uma variedade grande de assuntos ligados, principalmente, à área do treinamento. A gente não tinha nada, aqui. Não se editava. O nosso conhecimento limitava-se a área do treinamento.(p. 260).

Este trecho ajuda-nos a compreender como era a falta de material pedagógico para o professor

utilizar nas suas aulas. Segundo a maioria dos relatos dos professores os quais entrevistei, o

planejamento, o currículo, a organização da aula eram feitos pelos mesmos, ou eram

utilizadas apostilas da época em que se graduaram, ou seja, apostilas utilizadas para as aulas

na graduação. Referindo-me ainda a Taborda de Oliveira (2001), o autor fala sobre a Revista

de Educação Física e Desportos do MEC como:

As pessoas que trabalhavam na elaboração da Revista não eram especialistas em comunicação ou, em alguns casos, nem mesmo em Educação Física. Aliás, é curiosa a referência à Educação Física como um lugar para onde eram enviados aqueles que não podiam incomodar! Se considero algumas dessas informações contidas no depoimento de DaCosta é porque elas nos fazem pensar se existia um projeto para a Educação Física brasileira, como indica a historiografia, ou se tratava antes, de contemplá-la por dentro das diretrizes de desenvolvimento dos governos autoritários. Nesse caso, a Educação Física não teria toda a importância atribuída pela historiografia na configuração e consolidação do regime autoritário. Talvez, contraditoriamente ao que tem sido escrito sobre o período, a Educação Física fosse apenas mais uma das esferas da cultura sobre a qual planejavam os tecnocratas. Isso infirmaria a tese de um investimento específico sobre a área, no interesse do fortalecimento do regime de exceção. A autonomia da comissão editorial da Revista na escolha dos autores e artigos, a dificuldade de encontrar trabalhos que pudessem ser veiculados na Revista, bem como a inexistência de veículos de circulação das idéias da Educação Física brasileira, aspectos apontados por DaCosta, podem servir como pistas no sentido de revermos uma possível superestimação por parte da historiografia, das influências do regime militar sobre a Educação Física naqueles anos(...)Do ponto de vista do seu conteúdo, como o próprio Professor DaCosta destacou,a Revista era eminentemente técnica e enfatizava a prática de esportes, além de manifestar um acentuado apelo científico para o desenvolvimento da Educação Física brasileira. Mas mesmo essa dimensão técnica não se manifestava sem conflitos e tensões. E esses conflitos manifestavam-se inclusive em torno da melhor forma de incluir o esporte entre as atividades de Educação Física. Esse debate era mundial e 76

Page 60: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

caracterizava-se como o enfrentamento de duas tendências distintas: a “pragmática” e a “dogmática”(...)”(p. 75-6)

Este trecho da obra de Taborda de Oliveira (2001) evidencia apoiado sobre o depoimento do

Professor Lamartine Pereira da Costa, membro do corpo editorial da Revista de Educação

Física e Desportos do MEC, que essa publicação, tinha como meta, colocar a Educação Física

brasileira no debate mundial que estava envolvida esta disciplina. E o autor ainda afirma que

pelas páginas da Revista de Educação Física e Desportos do MEC haviam publicações de

autores nacionais e internacionais, das mais diversas orientações teóricas, e diversas

nacionalidades.E que em tal período, especialmente, nos anos mais duros do Regime, havia

um significante número de publicações de autores de países socialistas do leste europeu (p.

75). O que aponta que tais publicações além de não atingir todo o contingente de professores,

ao menos no Estado de São Paulo, e ao menos pelo grupo por mim entrevistado, é que essas

revistas, cartilhas ou orientações não tinham como influenciar, ou mudar o caráter das aulas

de Educação Física de maneira significativa e proporcionalmente grande.

3.8 INFRA ESTRUTURA ESCOLAR EM PROL DA EDUCAÇÃO FÍSICA.

Nesta subcategoria, buscou-se saber através dos professores, como eram as condições físicas

em prol da educação física, como as quadras, os materiais esportivos entre outros. Betti

(2009) nos informa que o governo militar, efetivou investimentos nas escolas em face da

educação física, como uma forma de auxiliar esta disciplina e assim, esta se consolidaria

dentro da escola, como instrumento de uso ideológico, bem como fez investimentos em

formação continuada de tais professores, afim de melhorar sua formação. A seguir veremos o

que os professores nos dizem a respeito da estrutura escolar naqueles anos e como era a

formação continuada em seus contextos.

“(...) você vê Luiz Castanho, você vê CAIC, você Santa Edwiges, você vê Brisola, nenhuma dessas escolas tinha quadra, não tinha quadra, a estrutura física nossa era muito ruim tinha uma quadrinha, quando muito tinha uma quadrinha mesmo, aqui tinha uma quadrinha, era um cimentado riscado de quadra, então se você for analisar de empreendimento da época militar pra ver é lucro pra escola em termos de ter uma boa quadra, de ter um bom material, isso ta acontecendo agora recente (...) tinha escola que o professor tinha que levar uma bola debaixo do braço pra dar aula, aqui em Bauru e recente (...) não existia essa preocupação, então a aplicação

Page 61: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

da educação física se tivesse uma quadrinha coberta ou chão batido você tinha que dar aula, a primeira escola que fui dar aula a nossa quadra era saibro batido passado no rolete, aquela terra amarela ai passa o rolete em cima ai fica lisinho parecendo uma quadra (...)” (Professor Walter)

“Naquela época, dificilmente teríamos investimentos em relação a professor na estrutura física da escola, era um caos, muitos não tinham espaço físico para as aulas e a falta de material era gritante, o mestre teria que se adaptar melhor para executar sua tarefa.” (Professor Simão)

“(...) Não deveria ter, eu tive pouquíssima experiência no estado algumas aulas (...) eu chegava na escola e ia desencaixotar o banco sueco, o plinto, o trampolim, ia trabalhar com ginástica de solo, com ginástica sueca, fazia alguma coisa fora do bendito futebol de salão, a molecada ficava doida quantas vezes eu tive que tirar o aquele embalagem de papelão de banco sueco novinho depois falam que não tem nada na escola, ter tem, (...)” (Professor Elton)

“Então é o que eu acabei de falar pra você, a gente sentia, desprestigiado, é, o governo se preocupava mais com esporte de rendimento, não é, em competições (...)No SENAI, uma escola que eu gostava de demais, e gosto até hoje, todo ano eu fazia curso de atualização em São Paulo, parte técnica, parte pratica, nos tínhamos curso, ganhava-se diária, e hotel pago e fazia curso de atualização em atletismo, vôlei, basquete,(...) Sim, não resta menor dúvida, nunca faltou material, tinha estrutura física boa, é material de um modo geral, sempre tivemos o necessário, mas hoje, acabou no SENAI, acabou no curso superior, muito embora eu sempre fui contra a educação física de uma maneira obrigatória(...)” (Professor Gilberto)

“(...)o único lugar na minha vida que eu trabalhei numa quadra decente coberta, foi aqui em Bauru nos meus últimos anos antes de ser diretora (...) Não a direção da escola tinha que fazer ‘catança’, força, campanha pra material esportivo, porque se recebia, eu nunca vi material(...)Fazia se eu pudesse pagar(...)Não, não, investimento governamental não”. [sobre cursos de formação continuada] (Professora Neusa)

“Tanto na formação dos professores como na estrutura física como na geográfica, as escolas receberam grandes investimentos do governo municipais, estaduais e federais.” (Professor Luiz)

“Isso aí já veio bem antes, isso aí já não é da ditadura, ditadura continua também mas até um certo ponto, existia a todo mês de curso de férias, era em Santos, curso de férias, para os professores de educação física, então vinha professor de fora, professor russo,

Page 62: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

eram pros professores(...)e também terminou os cursos de férias que tinha na educação física, agora isso aí foi até 70, até um pouquinho pegando um pouco da ditadura existia esses cursos de férias, depois então, não teve mais esses cursos de férias pra atualizar os professores, não existe, professores que eu digo, digo, professores de ginásio(...)Até 69, 70, mais ou menos 69, acho que curso de férias acho que terminou 65(...) porque antes não fazia isso não, não tinha coberta, principalmente material (...) Nunca, o estado não dava nada, material era a coisa mais difícil que tinha, bola de material pra gente ministrar era uma coisa que louco,não tinha material, você tinha que trazer, o professor até comprava o material(...)” (Professor Samuel )

“Então eu não vi investimento de material esportivo nem quadra, era muito fraco na época, no Luis Martini mesmo eu fiz quadra assim, carpi pra fazer uma segunda quadra, os alunos mesmo carpiam, lá na Estiva eu cortei dois eucaliptos com os alunos pra fazer um esticar lá uma rede de vôlei num gramado (...) porque eles davam cursos gratuitos, bons cursos, de ferias pro professor, eu mesmo fiz um curso Frances, com um professor Frances em Santos tudo grátis(...)Não paguei nada, nem alojamento, tudo grátis, tinha bastante coisa, muitas palestras em campinas, com gente boa, com professores argentinos, o governo deu vários cursos bons, até com professores internacionais na época(...) (Professor Paulo)

“Foi terrível, não tinha nada disso, não tinha, eu não me lembro de me oferecem curso nenhum, depois que eu me formei eu fui fazer curso de especialização de voleibol em santo Andre com o professor Moreno que era um jogador de voleibol da seleção brasileira, eu tive que bancar o meu custo (...) Não,não tinha nenhuma quadra coberta, eram raríssimas as quadras cobertas,não tinha nada, as escolas estavam bem acabadinhas mesmo(...)eram raras as quadras cobertas, quadras cobertas eram em escola particular(...)” (Professora Lilian)

“Ah, a escola que comprava né, a secretária de educação mandava uma verba pra escola comprar, se tinha quatro professores, era uma bola pra cada um (...) Uma bola pra cada um sempre é pouco pra qualquer um né, mesmo porque estraga logo(...)Imagina, quadra descoberta, cimentação, se chovia, parava de raspar com rodo pra dar aula(...)Isso aí eu procurava fazer por conta, por minha conta, [cursos de formação profissional] a secretaria de educação fornecia sim esses elementos aí pra gente, mas era muito pouco (...) Não, se eu quisesse fazer, como eu fiz cursos técnicos, (...) tudo por conta, pra melhorar o, fazer um investimento em mim, pra melhorar meu currículo e a gente fazia e como.” (Professora Maria Aparecida)

“Nossa, isso foi daí foi tudo custa nossa, começamos uma campanha em 70, quando ganhamos o segundo título do atletismo a gente fez uma campanha, os alunos deram dinheiro, os professores, os pais dos alunos, as famílias, o povo e as entidades, nós ficamos dois anos

Page 63: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

construindo a praça de esportes do IESO [Escola Estadual do Município de Itapira, é a maior escola da cidade, com campo de futebol e pista de atletismo no interior da escola] (...) não, não, era a APEF que fazia associação dos professores” [sobre cursos de formação profissional]. (Professor Benedito).

Pode-se notar claramente na fala dos professores a escassez de material esportivo na suas

aulas.O professor Elton diz que quando foi substituir um colega em uma escola estadual se

deparou com materiais guardados em salas que estavam até embalados, mas a maioria das

falas dos professores deixa claro a falta de material para utilizar em suas aulas, ou quando

havia, eram poucos como diz a Professora Cris. Nos relatos dos entrevistados ainda, fica

evidente que as condições estruturais física eram precárias, sem quadras cobertas, quando

havia quadra ainda, como no relato do professor Paulo, que informou fazer uma quadra com

ajuda dos alunos. Quanto ao investimento na formação continuada de professores, fica

evidente a falta desta no cotidiano dos professores. Os mesmos pontuam que para fazer cursos

extras, tinham que custear do próprio bolso, exceto pelo trecho do professor Paulo que

informa ter feito cursos, mas não acredita que tais foram custeados pelo governo estadual e

sim federal. A fala do professor Samuel ainda nos revela um dado interessante, que antes do

governo militar tomar posse da gestão do país, havia sim cursos de formação continuada para

os professores, mas que alguns anos depois do governo militar estar no poder, esse cursos se

extinguiram. Todas as falas dos professores nos mostram uma visão, um pouco diferente da

literatura, que como já citado, pontua que foram realizados investimentos em materiais

esportivos, infra-estrutura escolar em prol da educação física e cursos para os professores.

3.9 TURMAS DE TREINAMENTO

Outro ponto abordado nesta pesquisa foi a existência ou não de turmas de treinamento no

interior da escola, bem como as competições esportivas entre as salas ou as escolas. Tal

questionamento também surgiu através da literatura, que vai pontuar que no Estado de São

Paulo, foram criadas turmas de treinamento e o clube escolar, para se priorizar as competições

esportivas, bem como as modalidades olímpicas, com o intuito de dar ênfase no esporte

escolar, ou esporte estudantil, com o objetivo de massificar e especializar a prática de esportes

na escola. (BETTI, 2009).

“Nas escolas com espaço físico sempre houve campeonato inteclasses, bola ao cesto, vôlei, eram os preferidos (...) Na maioria

Page 64: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

sempre tive turma de treinamento, até fora do horário normal da escola, continua bola ao cesto e vôlei como premiados.”(Professor Simão)

“Tinha, tinha, mas não comigo, tinha na rede estadual, são as famigeradas turmas de treinamento, o professor voltava e dava aula aí era produto (...) Eventualmente pode surgir algum talento na escola depende da oportunidade que você ofereça pra ele pode surgir, mas a partir do momento que surge esse talento, já não é mais da sua alçada, você chama os pais ou coisa parecida e remete esse aluno ao clube lá é lugar de desempenho, lá é lugar de técnico, lá é lugar de medalha, lá é lugar de competição, aqui na escola é lugar de aprendizagem, é lugar de professor e não técnico é uma coisa bem diferente (...)Ah, girava em torno de futebol, futebol vôlei e basquete(...)” (Professor Elton)

“(...) mas tempo de SENAI quando a gente entrava em competições com os SENAIS de outra cidade, a gente selecionava e arrumava horário pra treinamento e fazia sempre naquelas, nessas modalidades, que tinham mais condições de disputar, futebol de salão, basquete, vôlei, handebol(...)É só quando, não era regularmente, só quando em termos de competições que fazia esses treinamentos, porque não tinha horário, a escola SENAI, era um período teoria e outro período a pratica e vice-versa(...)” (Professor Gilberto)

“(...)acho que é campeonato colegial, então era entre município de uma determinada região e como se faz normalmente, na região de Bauru, região de Marília, depois quem ganha aqui compete com outra(...)Na minha experiência docente não existia,não”[sobre as turmas de treinamento] (Professora Neusa).

“Sim as modalidades são as mesmas, fora do horário letivo, alunos que gostavam de esporte costumavam treinar em clubes esportivos(...)Assim, treinavam atletismo voleibol, basquete, as que eu já citei fora do horário letivo, os que gostavam de esportes costumavam treinar em clubes esportivos da cidade.” (Professor Luiz)

“(...) interescolar, era do próprio estado que organizava, então o ginásio faziam cada modalidade fazia sua competição (...), era basquete, atletismo,acho que vôlei(...)até na época existia ainda os jogos colegiais do estado, mas essas modalidades eram mais, atletismo, basquete, vôlei, futebol,regionais, depois estadual, em São Paulo era a final, só pra você, nessa parte de atletismo eu fui vice campeão nessa modalidade,tive atletas campeão(...)” (Professor Samuel)

Page 65: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“È sempre eu fiz, alias, sempre fiz competições esportivas entre as salas, e geralmente eu gostava de ginástica de solo, então eu dava mais preferência, a gente dá preferência pro que a gente gosta mais né(...)o governo do estado que deu pra nos as turmas de treinamento(...)A partir de, comecei a dar aula no sábado, 66, acho que foi a partir de 69 ,70(...)” (Professor Paulo)

As falas dos professores acima deixam evidente, que naqueles anos, nas escolas, haviam

competições entre as escolas, competições esportivas, bem como turmas de treinamento, que

segundo a maiorias dos professores, se restringiam às modalidades clássicas. Estas respostas

confirmam o que a literatura, já citada, nos mostrou, que o governo criou turmas de

treinamento, bem como competições entre as escolas (BETTI, 2009) e que segundo os

professores, estas foram aplicadas pelos mesmos.

3.10 CONQUISTAS ESPORTIVAS COMO INSTRUMENTO IDEOLÓGICO

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil teriam, segundo a literatura, sido usadas, como

uma forma de enaltecer o regime militar, e fazer ainda uma propaganda positiva do governo,

ocultando os problemas sociais. (AGOSTINO, 2002; GIULIANOTTI, 2002). Um dos maiores

exemplos de tais conquistas foi a Copa do Mundo de Futebol, em 1970 no México, onde a

campanha pelo tri moveu o país. O Governo Militar no Brasl, liderado pelo General Medici,

utilizou a politica Pão e Circo no Brasil, ou seja, proporcionava uma grande exibição de

futebol com a Seleção que levava consigo nome da nação Brasil. Governo aproveitou-se

dessa situação para acalmar uma nação cheia das imposições ditadoriais, e revoltadas com as

ações injustas impostas pelo governo. A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana

por 4 a 1, na final, foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici em slogans do

tipo "Ninguém segura este país" ou "Brasil; ame-o ou deixe-o". (MANHÃES, 2002).

Portanto, perguntou-se aos professores se as conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no

cenário internacional eram utilizadas como propaganda para o governo.A seguir veremos

como os professores responderam a tal questionamento.

“Não usava sim, isso ai é natural de todo mundo né (...) Na Copa, conquistas individuais, João do pulo, natação, tênis, mais isso aí né, agora também tem outro lado da história, tem o fracasso, porque na época também tentou se fizer a massificação dos esportes, tentaram, já era uma idéia desde época (...)” (Professor Walter)

Page 66: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Em algum momento foi, em algum momento foi, principalmente na copa de 1970 o Médici explorou isso a exaustão, como se a vitoria numa modalidade, em nível mundial numa modalidade esportiva representasse um índice de desenvolvimento humano do país inteiro né (...)” (Professor Elton)

“Não resta menor duvida, sempre foi uma propaganda e vai continuar sendo o governo investe em verbas, gasta-se muito em preparação pra poucos pra representar seu país(...)” ( Professor Gilberto)

“Sim, como todos os países do mundo agiram também assim.” (Professor Luiz)

“Ah, sempre foi, principalmente copa do mundo, campeão em 70, eles usavam muito disso com fator de popularidade, nesse setor explorava bem, não sei, como eu falei pra você se eles davam muita condição, a condição não era tanto, mas depois de uma vitoria, era bem explorado” (Professor Samuel)

“Era sempre foi, é e acredito que sempre vai ser usado né porque é um gancho bom pro governo se promover né (...) Ah, 70 ta tão longe né, a tinha aquelas carreatas, aquelas coisas né, isso aí sempre, eu acho que o governo também dever ter aproveitado, todos aproveitam, ninguém perde essa oportunidade, pode ser no municipal, no estadual, federal, todo mundo aproveita, todo político aproveita, o político não perde” (Professor Paulo)

“(...)eu me lembro que na época a única coisa que era incentivada era o futebol (...) É era o futebol porque a parte mais das outras modalidades, tipo, basquete, vôlei era muito pouco, muito pouco incentivo que recebia, inclusive tinha uma briga grande aí do pessoal do vôlei, basquete, ginástica olímpica então nem se falava, que não tinha a menor importância(...)”(Professora Lílian)

“A o futebol sim, nossa, naquela ocasião, acho que 66, 70 é (...) mas o futebol era mais popular. (Professor Benedito).

Os relatos são bem claros quanto ao uso do esporte como propagando política. Os professores

em sua opinião acreditam sim que o esporte, mais especificamente, o futebol, foi utilizado, em

particular, a Copa do Mundo de 70 como propaganda positiva do governo militar da época.

Mas é interessante notar que isso, pela fala dos professores, se restringe ao futebol, e não se

estende a outras modalidades, ou atletas consagrados da época, como Nelson Prudêncio

medalhista olímpico do salto triplo na olimpíada do México, João Carlos de Oliveira “o João

do Pulo” entre outros. Isso confirma a tese da literatura (AGOSTINO, 2002; GIULIANOTTI,

2002) que considera que o governo utilizou o futebol, mais precisamente a Copa de 70 com

Page 67: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

fins políticos. Mas cabe ressaltar que alguns relatos dos professores acima, consideram que

qualquer governo, faria, ou faz uso do esporte a seu favor, com fim político, não sendo isso

exclusivo do governo naqueles anos.

3.11 A GRADUAÇÃO NAQUELES ANOS: COMO ERAM AS DISCIPLINAS?

Buscou-se nesta subcategoria, investigar como era a formação inicial dos professores

entrevistados, mais especificamente, como eram as disciplinas na graduação, qual a

predominância de matérias e suas naturezas (biológicas, pedagógicas, práticas, etc). Conforme

análise realizada por meio da literatura pertinente à formação de recursos humanos nas

universidades nos anos regime, constatou-se na opinião de Beltrami (1992) que privilegiou

uma formação tecnicista eliminando conteúdos de caráter crítico e introduziu ostensivamente,

mecanismos de controle ideológico através dos quais se difundiria a ordem (segurança) do

Regime Militar e o progresso (desenvolvimento econômico) das classes dominantes. Foram

Incluídos em todos os currículos dos cursos superiores por força do Decreto-Lei, as

disciplinas de Educação Física e Desportos (Decreto-Lei nº705 de 25/07/1969) e Estudos de

Problemas Brasileiros (Decreto-Lei 869 de 12/09/1969) (BELTRAMI, 1992; BRASIL, 1969).

Para tanto buscou-se saber dos professores como se dava o ensino em sua formação inicial e

como eram as disciplinas abordadas na universidade, bem como procurou-se saber dos

entrevistados, como se dava o ensino das disciplinas práticas e teóricas, e qual era a

predominância destas e por fim, se no ensino das disciplinas, chamadas práticas, haviam

conteúdos teóricos e quais eram seus conteúdos.

“(...) na área biológica era anatomia, socorros de urgência, fisiologia, cinesiologia, primeiros socorros (...) as matérias teóricas, psicologia, filosofia vou chegar ao enunciado... psicologia, filosofia (...)estrutura de ensino de primeiro e segundo grau,aí nos tínhamos OSPB que é Organização Social e Política do Brasil, primeiro que já era ministrado por um Coronel, Coronel Nei(...)Do exército, mas ele era um cara legal, ele era um cara assim, sabia separar bem as coisas, então ele sabia colocar a coisa(...)” (Professor Walter)

“(...) na graduação existia as teóricas e práticas, a gente fala teórica e pratica, dá impressão que teoria seria, socorros de urgência, socorros de urgência era só teórico, basquete era teórico e prático, voleibol era teórico e prático, consideradas práticas eram também teórica (...)” (Professora Neusa)

“A predominância a prática desportivas levavam vantagens sobre as demais (...) Normalmente a pratica das disciplinas esportivas sempre tá a frente das demais” (Professor Simão)

Page 68: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“a pratica esportiva era hegemônica, agora, podia ser alienante também, porque não tinha e nem era bem visto um professor que viesse falar alguma coisa da área pedagógica da área filosófica né, isso aí um discurso que pro aluno, pro perfil do aluno educação física não interessava muito (...) Pedagógica tinha só pratica de ensino no curso que eu fiz, tinha pratica de ensino (...) era por transmissão, era por transmissão(...) É eminentemente prática, as modalidades esportivas era pratica, era muito pouco de teoria, o que podia ter de teoria se tivesse um pouquinho de historia tudo bem, senão era historia e regras né(...)” (Professor Elton)

“a predominância era nas disciplinas técnicas mais em métodos de ensino da época, setenta por cento parte prática, trinta por cento, parte teórica (...)criava-se a sua teoria em cima do seu conhecimento pratico, tinha as disciplinas teóricas claro, parte de psicologia, didática(...)È mais através das aulas praticas dos métodos de educação física e pouca teoria(...)Eram mais a parte de treinamento, parte técnica, parte prática, parte tática, e menos, o que o que, pra que, essa parte teórica, saber o porquê das coisas” (Professor Gilberto)

“Principalmente os grandes jogos como futebol, basquete e vôlei tiveram esse desenvolvimento notando se um aumento progressivo do profissionalismo nessa parte começou aí nessa época(...)Abrangia um pouco de tudo viu Pedro, porque o caráter era mais ou menos, mais social, mas havia a influencia de tudo(...)Indiscutivelmente o cunho maior era parte pratica praticava-se muito, ensinava-se a disciplina assim começando desde das bases, os alicerces das modalidades e as aulas essencialmente praticas, tinha teoria, mas era muito pouco(...)o conteúdo básico era o conceito de bio-socio-psico-filosófico da educação física né porque antes começou-se apenas na parte pratica depois evolui para o bio-socio-psico-filosófico” (Professor Luiz)

“ (...)no ensino superior né, sim no ensino superior, era tudo prática, pratica, pratica, pratica(...)aí então, ainda predominava a parte mais, física do que teoria, mais física do que teórica, ainda predominava, isso foi ate as matérias mais ou menos igual ao que era antigo” (Professor Samuel)

“É na minha escola eu acho que prevaleceu mais a aula pratica (...) Pratica esportiva e depois a biológicas também era puxada e eu acho que essas duas, a pedagógica, depois em terceiro eu poderia por pedagógica, mas caracterizava mais por aula prática(...)Era bem mais conteúdo pratico, tinha um pouquinho só teoria pra fazer lá uma prova escrita, inclusive o peso maior era na pratica (...)A era mais pra fazer mesmo, mais pra fazer, tinha sim o conteúdo teórico, mas era mais a pratica, era o aprender fazendo” (Professor Paulo)

Page 69: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Tinhas as disciplinas práticas e teóricas, nas praticas eram desenvolvidas formas de trabalhar para desenvolver esportes coletivos ou individuais,(...) tínhamos aula teóricas dessas matérias também, as disciplinas teóricas, as disciplinas médicas, fisiologia, anatomia, socorros e urgência, cenesiologia, tivemos também psicologia e metodologia de ensino, houve predominância das disciplinas esportivas(...)Recebíamos uma apostila cujo conteúdo eram as aulas práticas, na prática aplicávamos a teoria (...)Execução, nossa, eu lembro que professor Loyl deu aula ‘ técnicas de salvamento’ na natação, então a gente tinha que nadar 700 metros(...)” (Professora Maria Aparecida)

“Era mais prática (...)eu tinha esportes terrestres, ataque e defesa, esportes de ataque e defesa, tinha boxe, judô e esgrima, a capoeira(...)bom tinha, cinesiologia, anatomia, tinha psicologia, fisiologia(...)” (Professor Benedito)

“(...)tinha claro, questão histórica era fundamental, todas as disciplinas você tinha que saber a historia da disciplina que você estava estudando(...)Tinha que executar, era passado pra nós toda a técnica e você tinha que executar e você tinham nota pela sua execução, quem não conseguia executar não tinha nota, pronto,não era hábil, não adiantava cair na piscina e não saber nadar, tinha que saber nadar e tinha saber nadar os estilos(...)” (Professora Lílian)

Os professores deixam explícita a conotação prática de sua formação inicial naqueles anos,

evidenciando que a graduação em Educação Física naquele período pautava-se

prioritariamente em ensinar conteúdos práticos, e ainda, a maior predominância também de

disciplinas de cunho biológico como anatomia, fisiologia, socorros de urgência, cinesiologia,

porém não se exclui as disciplinas pedagógicas desse processo, que claramente eram em

menor número, mas que também eram presentes na formação destes professores. É importante

notar na fala do Professor Samuel que se formou em 1955 e que depois viria a ser docente em

curso superior de educação física nos anos do regime militar que mesmo antes do período

militar, em sua formação na década de 50, a prática já predominava, o que demonstra que o

direcionamento prático na graduação não é exclusivo do período estudado nesta pesquisa, e

sim anterior a ele. Mas em linhas gerais as falas dos professores confirmam o que nos fala a

historiografia (BELTRAMI, 1992; BETTI, 2009) que informam que a formação do professor

era do técnico desportivo, de modo que os professores cursariam além do currículo

obrigatório matérias esportivas para se diplomar como licenciado e técnico

desportivo(BETTI, 2009, p. 132) e ainda que o modelo de curso era técnico desprovido de

um corpo filosófico-sociológico consistente apesar das disciplinas pedagógicas. (AZEVEDO

Page 70: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

E MALINA, 2004, p. 6-8). Outro fato notável era a necessidade da execução dos movimentos,

dos gestos, por parte do aluno, para compor sua nota na avaliação, que evidencia ainda mais a

necessidade da prática, da execução para aprender o conteúdo.

3.12 A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA GRADUAÇÃO: O QUE SE DISCUTIA

O objetivo nesta subcategoria foi de saber dos professores, o que se discutia, falava, debatia,

sobre a educação física na escola, já que os professores cursavam uma formação em

licenciatura, ou seja, para formação de professores, e que naqueles anos, o mercado de

trabalho era formado basicamente pelas escolas de ensino formal. Portanto, foi adicionado no

roteiro de questões, uma pergunta sobre tal temática a fim de saber qual era ou se havia algum

debate nas salas de aula, no decorrer das disciplinas voltado para a educação física escolar.

“(...) o que a gente discutia mesmo era o futuro(...)Campo de trabalho, e saber onde é que ia,o que a gente ia enfrentar,ia ter pela frente essa era a preocupação nossa com a educação física, mas em termos assim de achar que a “educação física evoluiu, não evoluiu, melhorou não melhorou” ainda na época, a gente não tinha essa, não tinha essa ,não ficava fazendo esse tipo de comparação sabe(...)” (Professor Walter)

“Na escola dificilmente discutia sobre educação física, ela sempre ocupou um espaço de relegação de plano inferior” (Professor Simão)

“Olha já naquela época, e ate pouco tempo atrás, a maioria dos alunos, que fazia o curso de educação física, o interesse da maioria, era voltada pra pratica esportiva, trabalhar em clubes, em academias, e eram a minoria que tinha interesse de dar educação física em escola, então discutia-se muito mais a parte de treinamento, de competições em clubes, do que a educação física escolar.” (Professor Gilberto)

“Não percebi nenhuma discussão a respeito assim, ou eu não participava, isso não quer dizer que não existia tá.” (Professora Neusa)

“Não, não tinha isso não, eu não tive isso não”(Professor Paulo)

“eu tinha colegas que já davam aula no terceiro ano, que eram três anos de faculdade, então, elas chegavam e comentavam “dou aula na rua,meu problema é esse” né olha, eu fiz estágio, dei aula pra uma turma da APAE(...)mas o que a gente comentava com os professores era mesmo a aplicação de tudo aquilo, o esporte do momento e seguia determinações da secretaria de educação né” (Professora Maria Aparecida)

Page 71: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“porque não tinha essa preocupação o único professor que tinha o vinculo com a licenciatura era o professor Nelson e quem ouvia, e quem assimilava e quem introjetava o que ele a mensagem que ele ia passar que ele queria passar ia pro um outro lado os outros iam sei lá pra que lado ,mas não era nada muito característico não, era coisa bem subliminar” (Professor Elton)

“Os mesmos problemas de sempre, dificuldade de material, dificuldade geográfica de quadras e essas discussões maiores eram nesse sentido, de construções (...)” (Professor Luiz)

“os nossos professores passavam isso pra gente, nossos professores nos conscientizavam, “olha a disciplina de educação física não é valorizada dentro da escola” (...) Falavam, nós tínhamos essa consciência,” ela não é valorizada, mas cabe a vocês mudar esse conceito” tanto que a gente batalhou, tanto, tanto, tanto, que hoje tem o CREF, naquela época não existia CREF, não existia nada né(...)” (Professora Lílian)

“quase não se discutia tanto porque eles já tinham a seqüência certa, era aquilo que tinha que ser dado, eles sabiam o que ia dar(...)questão que com vocês, entrava e eu falava ó “o negocio é o seguinte, o professor de educação física é o mais desacreditado que existe, você estão pensando que professor senta lá e da bola e fica por aí, mas vocês tem que mudar isso aí”(...) ” (Professor Samuel)

Pelas falas dos entrevistados verifica-se diversas características sobre o debate da educação

física escolar em suas respectivas graduações. Alguns professores informam que não havia

discussão alguma sobre a educação física escolar, outros apontam suas expectativas e

preocupações em torno do mercado de trabalho e do seu futuro quando inseridos no mesmo, a

dificuldade de material e estrutura física na escolas, a desvalorização desta profissão dentro

do ambiente escolar. Mais interessante é a fala do professor Samuel que menciona o fato

sobre o próprio professor de educação física deveria se portar, a preocupação de somente dar

bola aos alunos e que os futuros formados tinham a missão de mudar tal realidade, que

demonstra que já nessa época havia uma preocupação sobre a postura do professor perante

suas aulas.Diante de tais relatos, pode-se constatar que a discussão sobre os conteúdos da

educação física na escola, ou como se daria a atuação do professor não era uma exclusividade

das escolas de educação física, mas sim, de alguns docentes de curso superior, e que tais

discussões baseavam-se nos mais diversos motivos e preocupações.

3.13 A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NA FACULDADE

Page 72: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Nesta subcategoria procurou-se investigar como se dava a relação entre o professor e o aluno

na graduação, pois o período político era rígido e pela falas de alguns professores, a educação

física era mais rígida e regrada. Logo, surgiu a necessidade de averiguar como, na formação

dos professores, os docentes dos cursos superiores de educação física se portavam com seus

alunos, no seu dia a dia da faculdade, no ensino das disciplinas e conteúdos.

“o nível de professores e nível de alunos era muito próximos(...)eram muito perto da gente (...)mesmo da área médica, os professores(...)esses sempre tiveram muito próximos, agora os professores de educação física eles mesmos, eles eram muito mais amigo da gente, mais próximos, próximos mesmo, aconselhavam, de conselho particular mesmo assim sabe então era legal pra caramba(...)o único professor que a gente não entrosava com ele, não tinha como chegar nele era exatamente o professor de OSPB o professor de organização social e política do Brasil que era o Coronel Nei, um pouco pela patente dele, um pouco pelo jeito dele(..)é, esquema militar, mesmo, e o sistema que tava na época, então a gente não tinha muito como chegar nele entendeu(...)” (Professor Walter)

“Sempre tive relação entre aluno e professor, nunca houve atrito, a concordância levava ao sucesso.” (Professor Simão)

“Obviamente que era hierarquizada e obviamente a figura do professor era a figura central né era a figura central, era o todo poderoso, logicamente os alunos estavam subordinados ao docente não há duvida(...)” (Professor Elton)

“A disciplina prevalecia naquele tempo, o professor sempre tinha autonomia, era muito respeitado, e as vezes se impunha pelo conhecimento pela autoridade e os alunos obedeciam, horários rigorosos, participação nas aulas, uniforme,(...) o aluno realmente era subordinado.” (Professor Gilberto)

“Ah não, não era hierarquizada não, além do respeito normal que nós tínhamos pelos nossos professores(...), porque nós éramos uma família, os alunos os professores, existia um respeito fabuloso entre nós, a hierarquia era o respeito normal que a gente aprendeu a ter com os nossos professores, nada de assim vamos chamar, de ditatorialmente alguma coisa deles pra gente, ou da faculdade pra gente.” (Professora Neusa)

“Relativamente, eu diria que relativamente era hierarquizada sim, o professor era o chefe, havia um respeito muito grande por parte dos alunos, bastante até diria eu admiração” (Professor Luiz)

“Não era bem liberal viu, a minha escola era bem liberal, só tinha um professor que exigia muita hierarquia, mas um só, mas a gente não pode generalizar, tinha que estar com o cabelo bem cortadinho,

Page 73: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

não podia ter ‘pinguinho’ de barba, o tênis tinha que estar bem amarradinho, parecia mesmo coisa de exército (...)Educação física geral, ele era bem militar sabe,ele era até meio sabe, lá na época a gente não gostava dele, qualquer coisinha ele mandava a gente pra fora da aula(...)” (Professor Paulo)

“(...)essa hierarquização existiu sim, a gente tinha um respeito muito grande pelos professores, o respeito é diferente do sentido de respeito que tem hoje, nós tínhamos realmente respeito pelos mestres, uns eram só professores, mas outros eram mestres e esses mestres nós temos respeito por eles até hoje, eles ficaram no nosso coração até hoje o que eles nos passaram não foi só da parte teórica, da parte acadêmica, mas de ser humano(...)” (Professora Lílian)

“(...)havia uma relação hierarquizada comum, assim como uma escola(...)nossa maior preocupação era o aprendizado e a do mestre era ensinamento, tínhamos metas a cumprir, disciplina nos horários, uniforme, atitudes, e aprender, cabia ao professor conhecer seus alunos e se certificar de seu aproveitamento(...)” (Professora Maria Aparecida)

“(...)eu fui presidente do diretório acadêmico, falava com o professor, tinha até auxiliar de ensino(...)” (Professor Benedito)

“(...)a gente já era disciplinado pelo militar, pela rigidez do militar, é claro que a hierarquia sempre existiu, nunca teve nada, mas a parte intima assim do professor e o aluno era espetacular, como é hoje, porque, porque o professor é o único que trabalha mais tempo com aluno você entendeu, como você na faculdade, na minha época também(...)” (Professor Samuel)

Podemos notar pelos relatos dos professores que a sua maioria, considerava sim que havia

uma hierarquia entre o professor e o aluno, mas que essa hierarquia se pautava no respeito

para com o docente na sua ação. Apenas dois professores em suas falas nos informam que

havia uma hierarquização e que o professor às vezes se impunha pela sua autoridade, mas os

demais relatos dizem que o respeito e até mesmo a admiração pelos ‘mestres’ era elevada.

Um fato notável é que a educação física, pela falas dos professores, no ensino superior era

militarizada, onde os alunos tinham uniforme, barba, cabelo cortado no caso dos homens, mas

isso talvez se deva ao fato de a educação física ter toda uma bagagem histórica oriunda do

militarismo, em que desde a fundação das suas primeiras escolas no Brasil, até sua trajetória

estar relativamente ligada aos militares (SOARES, 2001).

3.14 A DITADURA MILITAR NA GRADUAÇÃO: HAVIA UM DEBATE?

Page 74: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Nos anos do regime militar, houve um forte acento do movimento estudantil na luta pelos

seus direitos. Mas será que os nossos professores, em suas respectivas graduações, discutiam

ou debatiam com os docentes ou até mesmo com os colegas sobre a situação político social

que o país passava, sobre as crises ou sucessos do regime, contestavam, ao menos nas

conversas as formas de gestão do país, ou concordavam com elas? Havia esse tipo de diálogo

na faculdade? Os depoimentos a seguir nos darão as respostas.

“Falava, falava, ôô se falava um pouco reservado, sim meio né(...)não, dentro das aulas a gente normalmente não falava não(..)Não discutia muito, fatos, nós tínhamos um monte de militar que estudava com nós(...)o coronel falava também, não pensa que ele se esquivava em falar determinado assunto, fala das coisas, o falava, falava da Amazônia, falava dos territórios abandonados do Brasil...ele se envolvia também falava(...)” (Professor Walter)

“Não havia qualquer comentário a respeito do governo.” (Professor Simão)

“Absolutamente não, não, nem se cogitava disso, não, não, nunca, nunca, nunca, e se quer saber mais meu querido de 68, 67 a 73 eu fui militar, eu fui da policia rodoviária, nunca, nunca em nenhum momento nesses cinco anos eu vi nada, não aconteceu nada de extraordinário nada(...)” (Professor Elton)

“Não, não se comentava, como até hoje(...)” (Professor Gilberto)

“É outra coisa que pode ter acontecido com outros colegas que tivessem mais envolvidos, mas eu mesmo nunca participei, nunca presenciei” (Professora Neusa)

“Entre amigos de confiança sim, ao público não, porque havia um certo temor em se discutir publicamente a Ditadura Militar.” (Professor Luiz)

“A gente discutia, mas era meio como eu falei pra você, tinha, medo porque era político, a gente discutia às vezes(...)dentro da parte política mesmo,quando a gente tinha era meio, perigoso falar, tanto é que nessa época, o militar botou todos os militar pra dar aula (...)mas a matéria para colocar militar dentro das universidades[OSPB] isso teve então a gente tinha que falar com medo, você não podia falar certas coisas, era isso aí era, complicado, eu por exemplo não fui rebelde, mas era contra a ditadura e os meios né(...)” (Professor Samuel)

“Com colega um pouco, com professor não, a gente tinha medo de ter algum delator, então entre os colegas a gente conversava” (Professor Paulo)

Page 75: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

“Nem pensar meu bem, nem pensar, não se podia nem conversar, nem falar e nem discutir abertamente, só se fosse escondidinho, era tudo bem escondido mesmo, o medo imperava, eles impuseram um terror sobre nós existia um terror, que se você falasse você ia ser preso, morto, exilado, sumido, desaparecido, então não se falava de Ditadura Militar tava preso, tava, preso, torturado, sumido, morto(...)” (Professora Lílian)

“Não, nunca conversamos” (Professora Maria Aparecida)

“Não,eu me preocupava com a educação, com a formação integral do pessoal” (Professor Benedito).

Pode-se notar claramente que discutir, falar, ou contestar o regime publicamente não era uma

atitude que os professores podiam ou queriam fazer. Muitos deles conversavam ou falavam

apenas com colegas de sala ou com amigos, pois o temor de haver algum aluno militar, ou

mesmo delator segundo o relato do professor Paulo era grande, e isso fazia que com a

discussão da situação sócio-política do país ficasse reservada apenas aos colegas de confiança.

O regime buscou por meio de torturas, mortes, prisões e pelos Atos Institucionais amordaçar,

sufocar e calar a opinião pública contra as chamadas ‘ subversões’ e contestações da gestão do

país pelo militares que ocupavam o poder. (COUTO, 1998; GASPARI, 2002; SILVA, 1990,

VIEIRA, 2000). E tais ações do governo, intimidavam quem fosse contra o regime, como o

relato da professora Lílian nos evidencia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, para atender os objetivos propostos em sua fase inicial, foi uma

imensa satisfação compartilhar e saber um pouco sobre a vida e trajetória docente de cada

professor. Professores esses que em cada fala, se entusiasmavam em contar suas histórias,

seus fatos e que o faziam com imenso prazer, sabendo que contribuíram para a constituição da

Educação Física Escolar no Brasil, e sabendo ainda que cada respectiva ação é e foi de

extrema importância para a área educacional.

A história do tempo presente exige muita cautela, pois como já foi dito na própria

metodologia, não podia me deixar contagiar com os sentimentos de nostalgia, alegria ou

frustração dos professores. No decorrer de toda a pesquisa, desde a transcrição, as análises das

entrevistas, da preparação de trabalhos para congressos pude julgar, ou avaliar, os pontos

Page 76: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

fortes e os pontos a serem melhorados e que poderão ser complementados com um futuro

trabalho relacionado à temática aqui abordada.

Inicialmente foram analisadas as percepções dos professores quanto ao regime vigente da

época (1964- 1985) e pelas suas falas, essas eram as mais diversas, sendo que em sua maioria,

viam como lado bom o regime o enaltecimento da educação física, porém a questão política e

social que o país passava foi um aspecto negativo para tais professores, mostrando que mesmo

concordando com alguns pontos do regime, estes sabiam da situação política e social do

regime e de suas mazelas. Para este mesmo grupo de professores, o Regime não influenciou

sua prática cotidiana, nem mesmo dentro da escola, exceto pela fala de alguns com relação a

disciplina de Educação Moral e Cívica e pelo patriotismo espelhado pelo canto do hino

nacional e pela divulgação de figuras históricas da nação. Ou seja, a influência, para tais

professores, não passou de nacionalismo, evidenciando que sua prática escolar ficara fora

deste âmbito.

Um ponto abordado na pesquisa foi saber o que levou os nossos velhos professores a cursar

educação física naqueles anos. Suas respostas foram unânimes em apontar o esporte como

fator responsável pela paixão pela área e pela motivação a graduação. Alguns professores

ainda acrescentaram o contato com a natureza, a questão da saúde, e o amor e a crença pela

área como fator que contribuíram para sua escolha.

Um dos aspectos mais importantes desta pesquisa era saber dos agentes sociais, neste caso, os

professores entrevistados, como eram o cotidiano das suas aulas de educação física naqueles

anos. Cabe aqui, fazer uma ressalva, que numa pesquisa qualitativa, temos que lidar com o

subjetivismo e os relativismos, neste caso, da história para podermos compreender como se

deu um processo. Logo, tal ponto pesquisado não foi totalmente para um lado ou para o outro.

Na fala dos professores, fica expressa que a educação física escolar se pautou basicamente no

esporte e nos métodos ginásticos da educação física como Calistênico, Francês, Sueco,

Austríaco, Desportivo Generalizado. Em menor conteúdo coube ainda a recreação e até aula

de circo. Mas sem dúvida, podemos concordar com a tese da historiografia da educação

física, especialmente, do final dos anos 80 e início dos anos 90 (BETTI, 2009, BRACHT,

1992; CASTELLANI FILHO, 1988; COLETIVO DE AUTORES, 1992; FARIA JUNIOR,

1987, 1992; GUIRALDHELLI JR, 1988) que pontuou que o esporte predominou nas aulas de

educação física daqueles anos, porém, esta mesma historiografia aponta que isso se deu pelo

fato do governo ter influenciado ou interferido diretamente nas aulas, que os professores

Page 77: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

teriam sidos vítimas de legislações que vinham “debaixo pra cima”, para isso, recorro a tese

de Taborda de Oliveira (2001) que nos aponta que o esporte veio como um tendência

mundial, como um novo conteúdo da educação física, para substituir e complementar os

velhos conteúdos ginásticos que já se encontravam nas aulas de educação física desde o

governo Vargas e que os professores tinham autonomia para decidir quais conteúdos ministrar

em suas aulas. Pelos trechos aqui citados pode-se notar também que as condições materiais e

físicas eram precárias para suas aulas, sendo que alguns professores chegavam a comprar seus

próprios materiais, dar aulas em quadras de terra e até mesmo improvisar quadras com ajuda

dos alunos. Os cursos de formação continuada não eram oferecidos pelo governo, apenas

alguns professores que trabalhavam em escolas técnicas como SENAI, tinham essa

possibilidade, mas de modo geral isso era uma exceção. Para a maioria do grupo entrevistado,

a educação física escolar mudou pouco após o golpe de 1º de março de 1964, e para alguns

mudou para melhor. Pode-se constatar ainda que existia uma cartilha para nortear as aulas,

chamada de “VERDÃO" mas que ela não era obrigatória segundo a fala de alguns

professores, e que também ela não chegou a todos os professores, sendo que estes utilizavam

apostilas da época da faculdade ou compradas ou mesmo o próprio planejamento, que indica

que se o governo tinha intenção de influenciar a prática da educação física na escola, não foi

por meio de publicações diretas ao professor que isto se concretizaria, nem ao menos por

investimentos em formação continuada, estrutura física em prol da educação física e material

escolar.

Alguns dos professores entrevistados tinham especializações como cursos técnicos na área de

educação física, graduações em outras áreas que pode mostrar um interesse em se especializar

em sua profissão, ou até mesmo um interesse em outras áreas além da educação física para

atuação. Outro ponto que os depoimentos confirmam a visão da literatura é que, as turmas de

treinamento eram realmente aplicadas e que as modalidades clássicas, como futebol, basquete,

atletismo, handebol, vôlei eram as mais treinadas, porém não houve nas falas dos professores

nenhum aspecto relacionando as turmas de treinamento e formação de talentos esportivos. O

mais próximo disso eram os campeonatos interclasses e interescolares de nível estadual, o que

nos leva a refletir até que ponto mesmo o governo tentou, ou conseguiu através das aulas de

educação física formar atletas de nível nacional e internacional. Os entrevistados ainda

informaram que apenas a Copa de 1970 no México foi usada como propaganda pelo governo,

sendo que outras conquistas de modalidades, ou atletas de renome não eram lembrados, nem

mesmo foram citados pelos professores.

Page 78: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Quanto a sua graduação, os professores informaram que as disciplinas práticas predominavam

nos conteúdos de sua formação inicial, que haviam conteúdos de matérias biológicas também

em menor número as disciplinas pedagógicas. Informaram que a única matéria que elucidava,

ou relacionava o governo era Organização Social e Política do Brasil, mostrando que os

conteúdos práticos eram a maioria no processo de formação de professores. Segundo os

professores ainda, discutia-se pouco sobre a educação física escolar na faculdade, ficando

restrito apenas a alguns comentários dos docentes e alguns alunos que já trabalhavam na área,

ou mesmo sobre a questão material e física, mas relacionado a conteúdos para atuação

profissional, isso os professores disseram que não havia na época. O que pode nos levar a

pensar que os professores, por terem uma formação na prática bem maior que a teoria sobre os

conteúdos esportivos basicamente e por estes serem predominantes, acabou por influenciar a

sua prática na escola posteriormente. A relação entre o professor e o aluno na graduação

segundo os entrevistados era uma relação próxima, harmoniosa, pacífica, exceto por alguns

professores mais reservados, sendo que o respeito pelo mestre, a disciplina para com as aulas

eram incontestes, que revela que a formação, ou que a apreensão dos conhecimentos não era

de maneira autoritária ou passiva. Os professores, segundo sua fala, tinham medo de discutir

sobre o governo da Ditadura Militar em público, por terem receio de haver algum delator

entre os alunos, que conota que a situação política do país, especialmente a liberdade de

expressão atingia os corredores universitários.

Por fim, vale salientar que algumas informações encontradas na literatura são diferentes das

visões que o grupo de professores por mim entrevistados informou, mas o que não significa

dizer que muitos outros pontos encontrados nas entrevistas confirmam a tese da historiografia

acerca da Educação Física Escolar. A história do tempo presente veio nesta pesquisa, para

complementar, mostrar outras informações e contribuir para a pesquisa. A história Oral de

vida de algumas pessoas faz com que vivamos na mesma época e assim possamos

compreender porque o presente é assim e porque se processou de tal maneira. Cabe a outros

pesquisadores, investigar mais sobre esse período que em termos históricos é recente, que teve

e tem ainda hoje extrema importância para a História do Brasil e da Educação Física,

especialmente a Escolar, que os agentes e sujeitos sociais, professores, alunos, diretores,

militares entre tantos outros possam ter a oportunidade de enriquecer as páginas de livros

sobre esse período, de irrigar nosso presente e o nosso futuro de histórias além da “ oficial” e

assim preservamos a memória desta disciplina que cada dia mais se expande por tantos ramos

de atuação profissional.

Page 79: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

RERERÊNCIAS

AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer. Futebol, geopolítica e identidade

nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

ANDRADE, M.M. Como Preparar Trabalhos para Cursos de Pós-Graduação. 6ª

Edição. São Paulo, SP; Editora Atlas, 2004.

ANDRADE, M.M. Introdução a Metodologia do Trabalho Científico. 7ª Edição.

São Paulo, SP; Editora Atlas, 2006.

ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995 .

AUTORES, C. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez,

1992. 117p.

AZEVEDO A.C.B , MALINA, A. Memória do Currículo de Formação

Profissional em Educação Física no Brasil. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 25, n.

2, p. 129-142, jan. 2004..

BETTI, M. Educação Física e Sociedade: A educação física na escola Brasileira.

São Paulo, Hucitec, 2ªed ampliada, 2009.

BELTRAMI, D, M. A Educação Física no âmbito da política educacional no Brasil

pós-64. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade, PUC/SP) São

Paulo: 1992,

BRACHT, V. Educação Física e Aprendizagem Social, Porto Alegre, 2ªed, 1992.

BRASIL. MEC. Portaria n. 22, 24 jul. 1968.

CASTELLANI FILHO, L. História da Educação Física no Brasil: A História que

não se conta. Campinas: Papirus 1988.

CAVALCANTI, K.B. Esporte Para Todos: um discurso ideológico. São Paulo-SP:

IBRASA, 1984.

CHARTIER, R. A visão do historiador modernista. In: AMADO, J.; FERREIRA, M.

M. (Orgs.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.

cap. 17, p. 215-218.

Page 80: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

COSTA, A.J.S. Evolução histórica do educador físico no Brasil. Revista virtual E F

artigos, Natal , v.1, n. 5.

COUTO, R. C. História Indiscreta da Ditadura e da Abertura – Brasil: 1964 -

1985. São Paulo: Record, 3ª ed 1999.

CUNHA, L. A. Educação e desenvolvimento social no Brasil. Rio de Janeiro:

Francisco Alves,1979.

DA COSTA, Lamartine Pereira. Educação Física e Esportes: Perspectivas para o

século XXI. In: Wagner Wey Moreira (Org). Campinas: Papirus, 10ªed, 2003.

FARIA JUNIOR, A. G. de. Professor de Educação Física, licenciado generalista.

In: OLIVEIRA, V. M. (Org.). Fundamentos pedagógicos/educação física. Rio de Janeiro: Ao

Livro Técnico, 1987, p. 34-40.

FARIA JUNIOR, A.G de. Perspectivas na Formação Profissional em Educação

Física. In: Wagner Wey Moreira (Org). Educação Física e Esportes: Perspectivas para o

século XXI. Campinas: Papirus, 1992.

LE GOFF, J. História e Memória. – tradução Bernardo Leitão... [et. Al.]. - - 4. ed. - -

Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996.

GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol. Dimensões históricas e

sociológicas do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002

GUIRALDELLI Jr., P. Educação física progressista. São Paulo: Loyola, 1988. 63p.

HAGUETTE, T.M.F; Metodologias qualitativas na sociologia. Universidade Federal

do Ceara. Departamento de Ciências Sociais e Filosofia. Fortaleza, 1985.

HOBSBAWN, E. J. A Era dos Impérios (1875-1914). 3ª edição. Rio de Janeiro: Ed.

Paz e Terra S/A, 1988.

NOZAKI, HT. Ciência do Esporte e Biomecânica no Pós 64: Uma Intenção de

Pesquisa. In: Coletânea do IV encontro Nacional De História do Esporte, Lazer e Educação

Física. UFMG – EEF / Belo Horizonte, 1996. Org. Marilita Aparecida, Arantes Rodrigues.

SAMPIERI, R.H [et Al] Metodologia de Pesquisa – tradução Fátima C. Murad [et

Al] -- 3ª Ed – São Paulo: McGraww-Hill, 2006.

SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984.

96p.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico – 21ª. Ed. Ver. E ampl. –

São Paulo, SP: Cortez, 2000.

Page 81: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Historia Geral do Brasil. In: Maria Yeda

Linhares (Org). São Paulo: Campus, 1990.

SILVA, J. D. S. da, SEBRENSKI R. M. B, CAPRARO A. M. Imagens Iconográficas

e a Educação Física Militarista em uma Escola de Curitiba. Revista Mackenzie de

Educação Física e Esporte – 2010, 9(1):47-53.

SOARES, C. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. 2ª Edição. Campinas, SP.

Editora Autores Associados, 2001.

TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. A Revista Brasileira de Educação Física e

Desportos (1968–1984) e a experiência cotidiana de professores da Rede Municipal de

Ensino de Curitiba: entre a adesão e a resistência. Tese (Doutorado em História e Filosofia

da Educação, PUC-SP). São Paulo, 2001.

TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. Educação Física escolar e ditadura militar no

Brasil (1968-1984): história e historiografia. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28, n.1, p.

51-75, jan./jun. 2002.

TEIXEIRA, S. O Esporte Para Todos: “Popularização” do Lazer e da Recreação.

Recorde: Revista de História do Esporte, v.2, n.2, dez. 2009.

TOJAL, J. B. Currículo de graduação em Educação Física – a busca de um

modelo. Campinas: Editora da Unicamp, 1989.

THOMPSON, E. P. A miséria da teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 231p.

VALENTE. E, F. Esporte Para Todos: A desescolarização da Educação Física e

do Esporte e o universalismo olímpico. Tese (Doutorado em Educação Física, Universidade

Estadual de Campinas), Campinas: 1996.

VALENTE. E,F Perspectivas Históricas do Movimento Esporte para Todos no

Brasil. Dissertação (Mestrado em Educação Física, Universidade Estadual de Campinas),

Campinas: 1993.

VIEIRA, Edvaldo. Viagem Incompleta - A experiência Brasileira (1500 – 2000): a

grande transação. In Carlos Guilherme Mota (Org). São Paulo: Senac, 2000.

Page 82: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

APÊNDICE A

Roteiro base de questões para entrevista

A. IDENTIFICAÇÃO

1. Nome, Idade e Gênero2. Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio3. Principal motivação para cursar Educação Física4. Outro (s) Curso (s) realizado (s)5. Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição6. Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

B. O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

1. Avalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)2. Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não3. Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou

prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas4. Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 19645. Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de

Educação Física6. Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência

governamental7. Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da

escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

8. As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, em sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Page 83: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

9. Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

10. Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

11. Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

C. A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

1. Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

2. Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

3. O que se discutia sobre a Educação Física na escola?4. A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se

sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?5. Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?6. Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?7. Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da

Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

APÊNDICE B

Entrevistas

Identificação

Page 84: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Nome, Idade e Gênero

Walter3, 65 anos.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Dos 21 aos 24 anos.

Principal motivação para cursar Educação Física

Primeiro era eu gostar mesmo, já era um objetivo e a prática de esportes natural, normal que a gente tinha.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Geografia, nada a ver né?

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

1973, na ITE.

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Nessa ou em todas? (todas), 31 anos, mais dois anos na diretoria de ensino.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Avalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Regime autoritário, né, e apesar de ser autoritário, tinha a parte de disciplinar né, mas era intransigente, de certa forma tornava a vida social política, cultural difícil pra o país, né, realmente nesse sentido era muito difícil a convivência com a ditadura, era um período que você vivia, saía e não sabia se voltava, não interessava se você fosse bom, se fosse ruim, o negócio era meio, era pesado, mas país vivia uma onda de organização das coisas, também né não era só o lado ruim (o lado da disciplina o senhor fala?) o lado da disciplina, todos os sentidos, então você tinha que ser meio metódico nas coisas, porque a coisa pegava. (O senhor tem mais alguma coisa pra falar?) Se você, por exemplo, criminalidade essas coisas assim, era restrito, era mais, era realmente mais a parte da guerrilha, a parte pesada da revolução, (De quem lutava contra a revolução, contra o governo militar?) é, ai não tinha jeito, ai a coisa pegava (A criminalidade em si, a urbana não era como é hoje?) não, não, nem mais, pra dizer, se for comparar, nem tinha.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Bom, o problema de concordar, a ditadura já falou um pouquinho lá atrás, a ditadura era o seguinte, todo regime ditatorial já é pesado, regime militar piorou, né e o Brasil não era acostumado com lei, com ditadura, se falar assim a era Vargas, mas a era Vargas era uma ditadura branda, e né comparada com a militar, ela era recessiva, ela era agressiva, ela matava, mesmo, pronto, não tava de acordo, que tinha aquelas exceções, então era por aí, era tortura, então nesse sentido não dá pra concordar, nem tem como concordar, mas assim no sentido de dizer assim, é tirou o Brasil, a gente

3 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 85: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

muitas vezes pensa ,viveu aquela época, e tem algumas certas duvidas ainda como, se era a revolução militar mesmo foi contra o que eles chamavam de terrorismo, que eles chamavam de comunismo ou se era mais político mesmo que os militares tratavam cheios com as coisas (O modo de questionamento?) então nesse sentido aí, a lei, era pesado, perdia a liberdade, de se expressar, de falar, isso você perdia a liberdade, mas por outro lado a gente ficava "pô" será que realmente tirou o Brasil do sufoco mesmo, então agora nesse sentido, de não ter essa liberdade de viver, foram 20 anos de sufoco mesmo, (Vinte anos?) depois ficou mais branca né, mas, de 68 a 72, 73, 78 ai a coisa era (A parte mais pesada?) a parte mais pesada (Tanto nas ruas como de modo geral?) era, era, era uma época que sindicato tava começando a querer aflorar, começando querer subir, participar, daí tomaram tudo, sindicato, principalmente nessa parte de sindicato, nessa parte de organização, e militar da época achavam que era comunista, era comunista (Não concordava, era comunista?) era bem por ai mesmo, ou 8 ou 80, mas a gente dava um jeito, saímos vivos ainda.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Não tinha, tinha, era natural, as aulas, nos temos que lembrar que o seguinte, a aula de educação física nesse período ate 68 era um período muito duro na educação física precisamos lembrar que tínhamos três aulas de educação física, e fora do período de aula, período inverso ai o que nos fazíamos, quer dizer, nos fazíamos já da época nossa, que éramos alunos, professor quase todos eles, eles tinham um método assim,uma aula era exclusiva pra aula de ginástica, entrava, chamada, aquecimento, ou correr,ou a ginástica calistênica que era o forte da época, a calistênia, que era pesada mesmo você tinha que trabalhar pesado ali, exercício, exercício, exercício, então quando veio o regime militar nos já tínhamos esse método de educação física entendeu, então não mudou nada ( Do golpe de 64 pra depois?)ela veio...a educação física permaneceu praticamente a mesma,o que tinha, tinha mais disciplina, era exigido mais disciplina, outra coisa quando você entrava, você iniciava a carreira ou tava iniciando a carreira ou mesmo professores antigos que tinham, nos tínhamos que fazer uma declaração né, era o DOPS, o DOPS tinha que expedir,é, professor de moral e cívica que existia na época, esses professores, professores de educação física, em alguns estados, como eu saí daqui fui pro Paraná pra trabalhar no Paraná, nos tínhamos que ter um atestado do DOPS, nosso nome, da nossa época praticamente de 74 pra cá que começou e mais o antigos, então tinha que fazer....( O que constava nesse atestado, o senhor lembra?)Não era, ...se colocava nome, data tal, nascimento, formatura, aqueles quadros todos de formação, quais empregos você tinha, aí o que tinha, que você não tinha tido problemas, com justiça, política, então ai eles liberavam você, mas na época eu tinha uma equipe de treinamento no 4ºBPMI lá na polícia ( Aqui em Bauru?) Isso, na época do tenente, tenente coronel Levi Lenote, né, ele era tenente e fazia faculdade junto com nos, apesar que ele terminou dois anos antes, ele que me Levou pra lá ele e o Coronel Domício (Então o senhor pode avaliar a Educação Física Escolar depois do Golpe?) não, o problema depois do golpe é assim, você... ela já vinha esse tipo de educação física então ela continuou, o que aconteceu agora de lá pra cá bem já também recente, é que educação física ficou mais cientifica, entendeu, ela ficou mais...mais... pura, o cara hoje tem que estudar mais, ...nos tínhamos cinesiologia por exemplo, mais a cinesiologia que nos tínhamos era o estudo do movimento e pronto acabou, hoje você pega uma educação física de um cara que trabalha numa academia por exemplo, to tirando um pouquinho da escolar, mas você

Page 86: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

vê o cara conhece e tem que saber fazer, né você aplica, aplica mesmo a coisa da educação física escolar, ela ficou mais cientifica tá, mas se você tirar a educação física que vinha sendo aplicada pra época militar, pra era militar, da ditadura, ela era rígida igual, ela foi uma continuidade, porque depois o fato que se deu, né a pressão política do militarismo, fazia com que a gente fosse mais rígido ainda, e era tratado com rigidez, nos tínhamos ordem unida, nos tínhamos marcha ,nos...na época nos tínhamos como... pra marcha, a batida forte com pé esquerdo, cobrir com braço esquerdo, formação por quatro bonitinho pé esquerdo, ordem unida, esquerda, direita (Como é no sistema Militar?) Como é no sistema militar, ai você tinha lá né formação...braço esquerdo cobrir pá, ordem unida ai quando você ia começar a marchar era esquerda, direita ,esquerda, direita, era o pé forte o esquerdo, na época militar nos tivemos que mudar, passamos a marchar com o pé direito (No Bumbo né?) “ôô” ( Bater com pé direito tem que bater no bumbo?) o pé forte era o pé direito (Cobrir era com mão direita também ?)Cobrir com a mão direita também, apesar que eu não sei qual era a..não eu falar pra vocês não lembro se ainda continua até hoje...mas então, mas é isso sabe, mas essa evolução que a gente fala, não, não teve, essa mudança assim brusca assim de uma hora pra outra nesses vintes anos do que era o regime militar não teve,(Então, em decorrência do golpe, não houve uma mudança? O senhor avalia que não houve mudança?) Não.. ela já vinha, era, ela era daquele jeito, eram 3 aulas, uma aula era seco, quase todos professores trabalhavam nesse sistema,uma aula né se dava bastante ginástica, bastante atividade física que fosse, que você selecionasse pra fazer, ai uma volta cá uma brincadeira que quase sempre era a mesma...as brincadeiras de sempre né, não mudou muitas coisa... e depois duas aulas de conteúdo pratico de atividade esportiva, de basquete, vôlei, handebol, atletismo, quando a gente tinha de condições de dar, tinha escola que tinha condições de dar, opa, tinha...nos tínhamos arremesso de peso, tinha tudo, tinha que escola que era bem aparelhada(Dentro da aula de Educação Física?)Dentro da aula de educação física, nem todas escolas tinham aparelhamento pra fazer isso, pra fazer no lugar certo, mas nos tínhamos.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Não, eu não vejo assim, na realidade eu acho que não foi, a educação física não, mas...se você for avaliar nesse sentido aí, tinham matérias que poderiam ser usadas, OSPB né, organização social e política do Brasil, nos tínhamos na faculdade, então essa matéria poderia ser usada, mas não educação física, poderia.. levar um pouquinho,era uma pendência, como nos falamos lá atrás, de ser rígida educação física entendeu , então você levar pra um campo militar, é ao contrario(militarizar o senhor fala?) é, ai sim, mas falar assim “não a educação física era usada, pra alienar alunos, pra alienar pessoas, alienar professores” eu não entendo assim, eu entendo que não teve isso não, a não ser assim também, você tem que fazer parâmetros de estados também as vezes, tá, aonde tinha mais agressão política, militar, contra guerrilha, contra as coisas, ai até você até pode tirar um contexto daí, eu não senti isso não,nem no Paraná, nem aqui no estado de são Paulo, e eu era de faixa de fronteira,(O senhor trabalhava na fronteira entre?)Fronteira do Paraguai, Paraná e Paraguai.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Page 87: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Olha, em sistemas de caracterizar a aula, vamos lá, se você ver o que foi feito no regime militar, o que era o regime militar e você transportar isso pra educação física e você falar que descaracterizou, pra regime militar, ate pode ser, como eu falei lá pra você, que alguns estados podem ate ter sido influenciados por causa da vigência que tinha ta, mas assim...é você transportar métodos militares pra educação física, ela já era rígida, então não militarizou, não descaracterizou a educação física não (A educação Física por si só já era rígida?) ela já era, quem trabalhava nessa época, tinha métodos e sistemas bem puxados,(Mas o senhor acha que o governo veio por reforçar esse tipo de aula?)Ai acho que sim, pode ser sim, já era uma tendência, já, porque já vinha daquele sistema, né, ai quando veio a revolução militarista tomou conta, uma coisa assim que você sentia dentro...era a sociedade, você cobrava e você era apoiado,entendeu? Não tinha esse negocio de hoje de você dar um grito com aluno na quadra, ele chega a casa dele e fala “Pai, o professor gritou comigo” e o pai vem aqui querer brigar com você, isso não tinha nesse sentido aí a coisa era... os caras respeitavam...ué, você era professor, você mandava, não tinha o negocio de vim bater boca com você, ai a coisa...assim funcionava,opa, assim funcionava, a coisa funcionava, a coisa era pegada mesmo, então nesse sentido ai sim, mas, você tinha esse apoio, você tinha esse respaldo(Mas o respaldo o senhor fala de quem, da escola, da própria sociedade em si?) Da própria sociedade, nesse incentivo de ajudar, tinha esse apoio.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Não, vamos fazer um parâmetro dos dois tempos, porque você vê bauru é uma cidade considerada normal e têm escolas bem antigas, você vê que a revolução... a nossa passagem do militarismo, pro governo democrático nos estamos caminhando, ainda estamos caminhando, hoje que você começa ver empreendimentos da área de educação física nas escolas, essa escola é uma das escolas mais velhas de bauru, de primeira a quarta serie, antes não era, nossa quadra terminou em julho desse ano, você vê Luiz Castanho, você vê CAIC, você Santa Edwiges, você vê Brisola, nenhuma dessas escolas tinha quadra, não tinha quadra, a estrutura física nossa era muito ruim tinha uma quadrinha, quando muito tinha uma quadrinha mesmo, aqui tinha uma quadrinha, era um cimentado riscado de quadra, então se você for analisar de empreendimento da época militar pra ver é lucro pra escola em termos de ter uma boa quadra, de ter um bom material, isso ta acontecendo agora recente e não, se você tirar São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul tem estrutura muito melhor, Paraná tem estrutura muito melhor do que Estado de São Paulo pra educação física( Mas desde aquela época já tinha?) desde daquela época, ( Mas havia então, no caso, na região sul investimento no espaço físico?) Opa, sempre teve, sempre teve, sempre teve, então se você for ver de empreendimento pra educação física, a educação física nesse sentido de estrutura de quadras cobertas, quadras bem montadas, de material que você tenha, nos sempre tivemos material pra trabalhar, mas sempre pouco, tinha escola que tinha um APM forte tinha uma cobrança muito forte, então tinha material pra trabalhar, tinha escola que o professor tinha que levar uma bola debaixo do braço pra dar aula, aqui em Bauru e recente, recente, um cara que você pode perguntar, você encontra com ele todas a tardes e todas a manhas você pode ir lá, o Professor Sidnei lá no SESC da Aureliano Cardia, ele é um dos professores que trabalhou nesse ritmo, pergunta pro Sidnei quantas vezes ele enfiava bola debaixo do

Page 88: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

braço pra dar aula, e eu fiz isso que sou bem mais novo do que ele o Paulo Zuicker fazia isso que era muito mais novo (Tudo isso na época?) tudo isso, recente, recente (Mas e na época?) Na época também não era grandes coisas não, não tinha material também então se você for ver, era uma material pra trabalhar e mais nada, quando que tinha a preocupação de se montar um quadra bem montada, de se dar uma quadra bem montada, pra escola pro aluno trabalhar, pro professor trabalhar é coisa recente principalmente no estado de São Paulo(Na época não havia essa preocupação?) também não existia essa preocupação, então a aplicação da educação física se tivesse uma quadrinha coberta ou chão batido você tinha que dar aula, a primeira escola que fui dar aula a nossa quadra era saibro batido passado no rolete, aquela terra amarela ai passa o rolete em cima ai fica lisinho parecendo uma quadra, aí que nos começamos( Mas bola, corda, essas coisas tinham já na escola?)tinham, tinham, essas coisas sempre teve, pouco, mas sempre teve,(E quanto a quadra coberta, o senhor chegou a trabalhar em alguma escola na época que tinha quadra coberta?) Só trabalhei numa quadra coberta aqui em Bauru, só trabalhei no Stela Machado com quadra coberta e nessa aqui que em agosto, de agosto pra cá (Mas nessa escola, Estela Machado já era na época?) Não, lá tem, são duas quadras, essa é antiga já foi junto com a escola, já foi junto com a construção , essa é antiga, já é construção antiga(Quanto a formação de professores, o governo financiava algum curso?)Não, não tinha ,eu por exemplo tive sorte de trabalhar no Paraná, e nós tínhamos lá, o que o Paraná tinha...aqui no estado de São Paulo parece que teve também, uma espécie de escola, tipo escola como vou dizer pra você de formação de professores, mais pra orientar, eram professores leigos ta então, os caras iam de período em período eles iam para Curitiba fazer uma reciclagem ou mesmo pra aprender mesmo, não era reciclagem eles iam pra aprender a trabalhar com aula de educação física chamava, CADS era um curso de formação de professores, eram todas as áreas tá não era só educação física não, eram todas as áreas, matemática ciências, história, geografia, então educação física tava no meio porque tinha carência de professores, entendeu, então era um tipo desses cursos que você faz online ou a distancia, essas coisas todas aí, mais ou menos era isso ai, só que era presencial,você tinha que ...não sei se era semestral ou bimestral, o cara tinha que ir lá na escola, era uma faculdade, uma universidade que ministrava esse cursos, entendeu então nessa carência o Paraná fazia um reciclagem de duas vezes por ano no mínimo pelo menos no período que eu fiquei lá, nos íamos na instituição... pro CETEPAR era o centro de treinamento do professores do estado do Paraná entendeu, então na nossa época tinha isso ai, então tinha investimento, lá...la no Paraná eu peguei esse período, quando eu vim pro estado de São Paulo, aqui nos tínhamos muito desse cursinho, de 30 horas, de 24 horas, 12 horas, 8 horas, era um, período assim, mais assim se você falar assim “pô tem um curso, pós graduação” vê quantos professores na nossa época que trabalhou vinte, vinte cinco ate quase aposentar quando é que ele foi fazer pós graduação você vai ver, muitos dos professores que hoje dão aula na UNESP que foram meus professores que eu trabalhei com eles, se você ver o tanto, quando eles davam aula para gente, não tinham formação nenhum, eram graduados só, muitas vezes tinham um curso..por exemplo, terminou a faculdade quando tava no último, nós fizemos técnico de basquete e vôlei, (E quantas horas eram?) mas era junto, foi um ano todo de fim de semana, (E esses cursos pequenos de 30 horas eram mais voltado pra quê?) Era curso de reciclagem, então esses tipos de cursos nos tivemos sim, toda trajetória nossa nos tivemos esses cursos sim, mas se você falar você pegar e falar assim “é de formação continuada” como hoje tem não tinha (Formação continuada na época então?)Nem se

Page 89: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

falava, ou você fazia pós graduação, mestrado que era muito difícil, muito raro você acabar conseguindo, senão você não tinha nada, mas pra falar verdade pra você não mudou muito da era militar com a atual não, nesse sentido não.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, em sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Não usava sim, isso ai é natural de todo mundo né, quando o Corinthians ganha o Lula não fala que foi ele que ganhou, mas então usava sim, (O senhor tem algum relato?) Na Copa, conquistas individuais, João do pulo, natação, tênis, mais isso aí né, agora também tem outro lado da história, tem o fracasso, porque na época também tentou se fizer a massificação dos esportes, tentaram, já era uma idéia desde época... desde...não vou precisar quando nos começamos trabalhar em cima disso aí mas, foi entre 80 e 90, começou a tentativa de massificação dos esportes, de atletismo, pra tentar a nossa máxima, da quantidade tirar a qualidade né, mas não funcionou todas essas coisas não né, mas também não teve todos aqueles investimentos que eram necessários ter né, não teve respaldo todo, queriam, mas não tinham,(E essa tentativa de massificação usaram a escola?)Usavam todos os meios, nesse sentido sim, eram cobrados, apesar que eram bem cobradas,as aulas de educação física teve um período bem...muito cobrado, que era muito cobrado(sobre rendimento esportivo na aula?) é tanto que você vê que nós tivemos um período, que com a desigualdade toda começou a formação de turmas de treinamento né aquelas turmas que vinham fora do horário treinar, vinha pra basquete, basquete, vinha pra vôlei, vôlei, vinha pra handebol,handebol, né e as competições, antigamente você tinha uma turma de basquete, você era obrigado a participar com a turma de basquete, hoje já ficou mais light aí a coisa, ‘nego’ tem todo um treinamento e não participa de campeonato, só pra treinar...

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia”para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?Não, não era bem uma cartilha ou guia, era um livro, formado pelo MEC, construído por uma comissão, MEC...mas não era só pra educação física ali dentro tinha conteúdo, você tinha como trabalhar, você tinha como fazer planejamento anual, planejamento de aula, era o “verdão”, chamado verdão, era o livro que era base pra coisa, mas não era só pra educação física(Mas era separado por disciplinas?) Era separado por área,( E na educação física quais eram os conteúdos principais?) era tudo normal, eram os mesmos, parte de ginástica, parte de recreativa, parte de higiene, tinha uma época, foi bom lembrar de higiene, que nós tínhamos uma época que nós trabalhávamos com a aula de ciência junto, programa de saúde, era mais ou menos baseados com as junto com as aulas de educação física sabe,daí a higiene, nos trabalhávamos muito em cima disso aí, um bom período nos trabalhamos em cima da higiene, tudo que era voltado pra prática esportiva junto com a higiene sabe, sai da aula, lavar, tomar banho, aí acaba caindo no comum, porque tem escola que não dava condição, são poucas escolas que você tem uma quadra que tem um vestiário e tem um chuveiro e hoje deveria ter todas as quadras porque a aula é exatamente no horário da aula e não tem, se você for andar por Bauru todo provavelmente você vai encontrar 3 ou 4 escolas tenham uma quadra coberta com chuveiro com vestiário, falei 3 ou 4 mais provável que nem isso, então isso aí do ter ou não ter eu nunca tive eu sei que nos tínhamos esse livro que servia de guia pra gente, como hoje ainda há pouco tempo nós tínhamos um também era a mesma coisa, só que esse foi criado voltado pra educação

Page 90: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

física infantil de 1ª a 4ª serie tá , era uma coletânea praticamente uma coletânea de jogos e brincadeiras né de recreativas, atividade recreativas pra você trabalhar com determinada faixa de idade, então era de 5 a 6, de 6 a 7 o que vale eu dizer de primeiro ano, segundo ano, terceiro ano e quarto ano, nós tínhamos isso aí ,até hoje, até pouco tempo ainda se ir na escola ainda tem esse livro, era uma cartilha de orientação, não que fosse uma cartilha que você tinha que rezar ela por causa do militarismo, ao não ser que essa fase tivesse sido numa fase universitária, porque pra nós que trabalhávamos com ensino fundamental 1 e 2 e médio era um livro praticamente um livro mesmo, nos chamávamos de “verdão”, ali dentro continha tudo, era um guia espetacular pra educação física (ele era bom?)bom, olha em principio quando eu comecei aqui no Estado de São Paulo a gente usava muito, porque você tinha que pegar aquele parâmetros lá e fazer os planejamentos baseados naquilo lá...era baseado naquilo lá era tudo pronto, era um método..sistemático,sistêmico, em cima do que eles queriam como objetivo, do que eles queriam como alvo, mas por outro lado ele padronizava, ele padronizava, então se você...se fosse aplicado direitinho, como tudo que é bonzinho tivesse seguido, teria sido ótimo,mas não, foi caindo em descaso, não durou, tantos anos, não, aí começa que nós fazíamos um outro curso por televisão também, aí acabou tudo em nada é assim, então mas esse livro existiu, mas não era uma cartilha que você tinha que religiosamente seguir e falar porque era exatamente militarismo, foi uma cartilha elaborada, foi um livro elaborado, vamos dizer foi um guia elaborado, pra unificar, os planejamentos, nesse sentido, agora não sei a nível universitário...

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Não Tinha, o problema era assim, como existia a aula de educação física nesse período, num certo período, ela era aula de educação física mista, era junto, então você trabalhava muito dividindo as coisas, você dava voleibol feminino, né, participava, trabalhava em cima do voleibol feminino e se trabalha muito, teve um período aí por num parênteses que, nós tínhamos não podíamos trabalhar na educação física o futebol viu, futebol de salão, a educação física virou, depois teve um período nem, luta,depois que começou a mudar, foi entrando o futsal foi entrando devagarzinho, era chamado ainda de futebol de salão né, nem futsal, é uma abreviação, né.. era futebol de salão,aí começou entrar, engrenou, e foi autorizado, podia até dar, mas aquela historia né tem que ser depois do planejamento,então nós dávamos, trabalhávamos muito com basquete, handebol (handebol?)ôo,trabalhávamos com handebol, basquete e o vôlei, tinha as equipes bem montadas aí quando começou, aí parece que de 80, não 90, 90 e pouco...90 não vou lembrar a data, por aí, 90 que começou o professor de educação física separar as aulas, pra começar a trabalhar, então você tinha a turma,5ªA, 5ªB, 5ªC, então você montava 5ªA e 5ªB uma turma masculina e uma turma feminina, 5ªC, 5ªD uma turma masculina uma feminina uma, você pegava menina de uma turma e juntava com as meninas de outra turma, então aí se começou a separar as turmas, aí você trabalhava atividades normais pra todo mundo(Mas na época do regime era misto mesmo ?)era misto, ô era mista,(depois no final do regime que foi mudar?) Não mudou depois, mudou depois(então até o fim do regime era misto?)era, era, misto sim, você trabalhava com turma mista, é como é hoje, voltou a ser porque a educação física voltou pro horário de aula, só que antigamente você tinha 3 aulas, agora você tem duas

Page 91: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

(então as modalidades são mais as comuns de hoje?) as mesmas, as mesmas, a mesma coisa(tinha alguma modalidade mais excêntrica que o senhor possa falar, além dos esportes coletivos?)Não, era normal, mesmo, era basquete vôlei, futsal, o handebol, o vôlei, praticava mais o feminino que era o voleibol aquelas histórias, menino não podia jogar basquete que machucava, as meninas não podiam jogar handebol porque machucava,(as meninas?) as meninas, então você tinha que trabalhar em cima do vôlei (então era mais o vôlei?) tinha mais uma coisa, você ainda naquela época você tinha o exame médico biomédico,(A é, como que era?) você trabalhava, o professor de educação física na própria caderneta atrás tinha, idade peso e medida e lá na frente tinha o laudo médico ai você levava, você media o aluno, pesava e levava pro posto de saúde pra fazer o exame médico,(o aluno ou só a cartilha?) o aluno, você levava as turmas, em cidade pequenas como eu trabalhei em Reginópolis, Iacanga, Arealva, essa cidades pequenas o médico ia na escola fazer, você combinava o período ela ia lá fazia duas, três turmas por dia, saía de lá correndo (risos) é, ai em 2000, 2000 mil nada, 91, 92, caiu o exame biomédico, aí o professor tinha que se virar então a gente tinha que aplicar aqueles testes de Cooper, aqueles testes de resistências, sabe? Aqueles 12 minutos, a gente dava pra molecada correr 12 minutos, depois ia tirar a pulsação, (Mas esses teste, essa avaliação que os senhores faziam era no começo do ano letivo?) Bom, você não pegou esse período então, assim nos tínhamos no começo do ano depois de feito esse exame aí, exame médico biomédico que a gente chamava nós tínhamos um exame que nós fazíamos marcávamos na caderneta, por exemplo, basicamente era o canguru, o apoio de solo, abdominais, saltos e corrida, e barra então você tinha um limite, por exemplo, barra você tinha 8 vezes, apoio de solo 10 vezes, abdominal 20 vezes ,todos alunos tinham que fazer(todos alunos tinham que fazer?)Todos alunos tinham que fazer (era obrigados a fazer?)Eram obrigados a fazer ,era prova(Prova?)Prova(Valia como nota?)Como nota e reprovava (Reprovava, se o aluno não passasse era reprovado?)Se chegasse no fim do ano...educação física era única matéria que reprovava sozinho por falta quando você tinha por exemplo história e geografia, você tinha que ter história, geografia e mais português ou matemática pra reprovar, educação física reprovava sozinho, era por isso que tinha valor, era valorizado, moçada tinha que correr atrás, nota vermelha, na época da segunda época, segurava muita gente, tinha que fazer todas matérias, era assim que funcionava (Então aluno não passou no teste?) Aí no teste você ia ter que segurar o cara, você ferrava o cara(Tinha bastante índice de reprova?)Tinha reprova, tinha reprova(Mas a reprova era mais por falta ou porque o aluno?...)mais por falta (O senhor via alguma dificuldade do aluno executar o exercício?) Não,tinha uma turminha que gostava de achar que não ia na aula mesmo, aí quando via a coisa preta, corria pra escola, aí tinha reposição de aula, você tinha que repor aula, muitos arrumavam atestado médico(Pra não participar?)Pra não participar, era desse sistema a coisa e isso não tinha a nada a ver com o militarismo, isso era praxe, acabou a era militar e a coisa continua do mesmo jeito, só melhorou nesse sentido de não ter mais essas coisas errada, exames falsos esse negocio, quando a educação física voltou pro horário de dentro da aula, aluno não faz a educação física não faz a prática de educação física, mas o professor dá um trabalho, aí o Estado o que que fez a, Secretária da Educação começou a enxergar muita coisa hoje colocou a aula teórica obrigatória, hoje você tem um caderninho,você tem apostila que você é obrigado a dar aula na sala de aula, aula teórica( e o senhor acha importante aula teórica?)Claro que é, (é?)Claro que é, sem teoria não tem base a educação física,a educação física é baseada na teoria e na evolução dela própria, (na época que o senhor ministrou no regime

Page 92: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

militar não tinha nada de aula teórica?)aula teórica sempre teve(sempre teve?)sempre teve, porque muitas vezes você não era calcado dentro de uma de aula pra dar essa aula, mas eu por exemplo tinha um sistema assim, todas as vezes que eu ia fazer uma aula diferente, eu sentava com os alunos, e faço até hoje isso com os pequenos aqui, eu sento com eles e falo, nossa aula hoje vai ser isso, a chamada isso, o que for, por exemplo o handebol sento com eles e falo assim “essa aqui é bola de handebol, começo por ai vocês estão vendo que ela é diferente de futebol de salão, essa não pula essa pinga,porque pinga, porque ela vai bater como a bola de basquete”,que é atrativo maior porque basquete eles conhecem, dificilmente você pega uma criança dessa que não sabe o que é basquete, como vai jogar mesma coisa que vocês jogam o basquete, só que vocês vão arremessar fazer gol....então é aula teórica,(naquela época o senhor já ministrava?)Já a mesma coisa, sempre trabalhei, aliás, não é só eu, todos nos professores maioria trabalhou dessa forma(Seus colegas também trabalhavam assim?)ah, trabalhava, maioria trabalhava assim,você não tinha você levava o aluno...muitas vezes tinha professor que sim, o problema era,você não ter sala,você não tinha ambiente pra fazer isso, pra colocar dentro de uma sala para dar aula teórica, com quadro na frente, pra fazer traçado essas coisas a gente fazia no caderno, a gente traçava e mostrava pra eles na prática(Então dizer que na época a aula de educação física era só pratica,tá errado?Não, nunca teve só prática, nunca teve só aula prática (ah não?) não em todo sentido, antes e depois, antes e depois é a tal história, se você for analisar por esse aspecto, tem professores e tem professores (Mas o professor tinha a autonomia dele?)tinha..tinha, coisas assim se você em algumas, se eu falar pra você, nossa escola era uma escola em que tudo que nos íamos fazer, nós tínhamos que fazer bem feito, porque nos tínhamos a educação física, nós tínhamos área social, a formação social, e direito, o direito era faculdade mais visada que tinha em Bauru, porque o campo de atuação era propício pra política, e a faculdade era conhecida no Brasil inteiro e era como é até hoje, muito mais hoje do que antes e nós tínhamos um problema, o filho do reitor era infiltrado no meio dos revolucionários então nossa faculdade todo mundo ficava de olho, era visado, então nesse sentido, você tinha que trabalhar os conteúdos, as coisas, os professores, no meio universitário, nós de baixo, do ensino fundamental 1, ensino fundamental 2, ensino médio nós nunca tivemos grande problemas em ter que fazer, pelo regime(então o senhor de nenhuma forma se sentiu obrigado a ter que dar uma aula por influência do regime?) Não,não,a aula é o que eu falei pra você, aula já era, já vinha do regime sério forte, pesado, pra aulas de educação física, como era, foi na minha época, foi quando comecei a dar aula, o professor dirigia, cobrava, e a gente correspondia, então nesse sentido ai não teve essa opressão, em cima do professor, de educação física, professor de sala de aula de história, de OSPB, de moral e cívica, esses sofriam essa conseqüências (A educação física era mais livre nesse aspecto?) era (até para ministrar as aulas?)até pra ministrar as aulas.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITARNa sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avaliam, hoje, certa

predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Isso aqui das aulas prático teóricas?(Não eu digo das disciplinas) ah, as disciplinas que nós tínhamos, não sei hoje apesar de não sei bem o currículo de vocês hoje, na área biológica era anatomia, socorros de urgência, fisiologia, cinesiologia, primeiros socorros, as matérias teóricas, psicologia, filosofia vou chegar ao enunciado...

Page 93: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

psicologia, filosofia, é...estrutura de ensino de primeiro e segundo grau,aí nos tínhamos OSPB que é Organização Social e Política do Brasil, primeiro que já era ministrado por um Coronel, Coronel Nei (Coronel do Exército ou da Polícia Militar?)Do exército, mas ele era um cara legal, ele era um cara assim, sabia separar bem as coisas, então ele sabia colocar a coisa, mas eu vejo assim da nossa época pra agora, o que aconteceu na realidade é assim, as aulas de educação física ficaram mais puxadas pro meio científico, o elas se especializou mais, ela não né, as aulas foram com essa tendências porque, com a evolução os estudos, então as aulas ficaram melhores, hoje por exemplo, você consegue traçar uma aula com todo planejamento, com predominância, mais voltado pro científico da aula, você pega uma turma que você quer trabalhar, você tem essa desigualdade dela, você consegue trabalhar, o que não acontecia você se lembra lá atrás que eu falei que o sistema era mais rígido, então não tinha de falar assim,” ele é mais fraco ele é menos fraco ele é difícil de acompanhar”, ele tinha que trabalhar tinha que ir lá atrás, ele tinha que correr isso não era científico, isso era método rigoroso sem embasamento científico e isso acontecia, hoje essa avaliação aqui, nessa parte biológica, você trabalha mais em cima disso aí, principalmente quando você fala,você tá trabalhando com uma criança de primeira série, você tá trabalhando de segunda série, você tem que ver que tem 5, 6 anos e você vem aqui no biológico (Mas na graduação o que predominava mais, era matéria esportiva, pedagógica, biológica?)Não era junto, andava junto,(Mais era equilibrado ou o senhor sentia que mais uma do que da outra?)Não era equilibrado, era equilibrado, era muito cobrado o teórico, porque nos fazíamos a parte teórica nós tínhamos oral e escrita, tinha oral e escrita e depois a prática, fazer um exemplo pra você, pra você fazer um salto em altura, era descrito na aula, você tinha que fazer ele na aula você tinha que escrever ele depois lá fora, você tinha um sarrafo e nós tínhamos que fazer lá no sarrafo, aí você falava, é um salto de passagem ventral aí você ia descrever o salto então nós fazíamos teórica e prática, natação era a mesma coisa, aí você ia pra sala chegava lá, hoje nos vamos ver o salto crawl, vamos desmembrar o salto crawl, agora vamos pra piscina saída do crawl, a virada do crawl, era assim era tudo na base do teórico prático, agora chegava na prática...(Mas então havia um equilíbrio entre essas disciplinas, não tinha uma mais do que a outra, se falar, se tinha mais disciplina esportiva do disciplina biológica?)Não, mais disciplina não(Então não havia predominância de uma sobre a outra?)Não, a nossa faculdade era uma faculdade conceituada uma excelente faculdade, nas matérias médicas, era tudo médico mesmo, tudo médico,biologia anatomia,cinesiologia(Não eram professores de educação física?)Não,tudo médico, tudo médico(E as disciplinas práticas?)Agora disciplinas práticas sim disciplinas práticas era tudo professor de educação física,só não era a professora...a não era também, eu ia falar que a Cleria era ginástica rítmica, por causa do piano, mas era sim a Sonia Berriel, era a Cléria que dava ginástica rítmica, todas as matérias, Loyl natação, Gualberto ginástica, “Tche” ginástica, Silvio Minhoto atletismo, Lara, tudo tudo, tudo, era recreação, só tínhamos professor de educação física nas matérias de educação física, nas matérias médicas, só médico, só médico, Dr. Márcio Tolentino, Toledo Toledino Dr. Ari, o Ruas, todos médicos, psicologia, era psicóloga, a Dona Leila, filosofia era o professor Nascimento cada um no seu, não tinha professor jogado lá dentro dando aula não, nosso período foi excelente, nossa turma só tinha 224 alunos, (bastante gente?) foi a segunda maior turma, só perdemos pra escola do exército (Lá do Rio de Janeiro?)perdemos pra escola do Exercito(tinha bastante gente da região?) Só tinha da região, só tinha da região, tinha alguns caras do Paraná, do Mato Grosso, um ou outro.

Page 94: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Não, as matérias tinham mais práticas sim, tinha mais práticas sim (então aprendia melhor na prática?) na prática foi o seguinte, dava o professor, dava pra gente na sala de aula os conteúdos que eram pra ser feitos, pronto voleibol, levantamento, levantamento, nós tínhamos uma apostila, todo curso apostilado tinha uma apostila pra todos, ginástica nós tínhamos uma apostila, voleibol, fundamentos de voleibol, então nos íamos pra sala de aula né e íamos estudávamos, falávamos escrevíamos o que tinha que escrever normal natural, nos íamos pra quadra, aí bola, professor José Roberto ficava lá na frente, ou José Guimarães, ficava lá na frente bola levantamento, mão, tal posição de mão, corrigia tudo só que de uma forma que você passar pros alunos não de você aprender, saber mostrar pros alunos (mas você tinha que executar o movimento?)tinha que executar o movimento,(natação por exemplo também?)Você tinha que saber nadar os quatros estilos(os quatro estilos?) os quatro estilos, aí nós tínhamos salvamento, trampolim, os dois trampolim, de um metro e meio e de três metros, tinha que fazer no mínimo três saltos, diferentes(Senão a nota abaixava?)Abaixava(Atletismo também?)Atletismo todas as modalidades(Lutas também?)Não, luta não, não, nós tínhamos ginástica de solo, nós tínhamos demonstração, nós tínhamos uma equipe de demonstração, mas não tinha luta não, tinha uma moçada que lutava judô pra caramba, não da nossa turma propriamente, no currículo não(Todos alunos executavam os movimentos?) executavam tinha que fazer, isso era, não tinha um negócio de não deu, não deu, nós tínhamos, sabíamos que fazer tempo,tinha que fazer tudo direitinho nós fazíamos competições internas, que cronometravam, opa, o Silvio Minhoto ficava com o cronômetro na mão ferrando a gente lá, salto em distância, salto em altura, triplo, fazia salto triplo, opa, fazia arremesso de peso, tínhamos que saber o tipo de arremesso de peso a pegada, a empunhadura, o estilo famoso na época, “pierre o’brien”, tinha que fazer tudo...nós tínhamos área de arremesso, tudo direitinho, se o cara, só de ele frequentar a aula já saía professor, tinha que fazer.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Bom, a gente conversava geralmente dentro da educação física, não tinha aquele parâmetro de dizer assim melhorou ou piorou não, o que a gente discutia mesmo era o futuro, a gente sentava muito, porque Bauru era uma cidade de escolas antigas, escolas velhas e todas as escolas de Bauru tinham professor de educação física efetivo, sem exceção, Stela Machado, Luis Castanho, Luis Zuiani, e vai aí afora, Moraes Pacheco tinha o todas as escolas antigas, Cristino Cabral, todas elas tinham professor efetivo, então a gente...fazer o que aqui em Bauru,fica pegando, na época eram 36 aulas de educação física professor hoje é 33, todos os professores, né mas mesmo assim então o que que sobrava, oito aulinhas aqui, duas aulinhas ali, três aulinhas lá, então as vezes o cara ia pega quatro ou cinco escolas como é hoje também, não mudou muito essas coisas não, mas o campo melhorou bastante porque as escolas aumentaram, mas nesse sentido, de saber como a gente ia enfrentar a escola como a gente ia chegar lá e pegar uma escola, como que era o problema, o ambiente da escola, se ia ter material, se não ia ter material, se ia ter quadra ,se não ia ter quadra, aonde é que a gente ia...essa era a preocupação grande que a gente tinha, realmente era um caráter mais pessoal (campo de trabalho?)Campo de trabalho, e saber onde é que ia,o que a gente ia enfrentar,ia ter

Page 95: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pela frente essa era a preocupação nossa com a educação física, mas em termos assim de achar que a “educação física evoliu, não evoluiu, melhorou não melhorou” ainda na época, a gente não tinha essa, não tinha essa ,não ficava fazendo esse tipo de comparação sabe, de ficar vendo, mesmo porque a educação física lá atrás nós já falamos sobre isso, era sistêmica, era tal, era ferrada mesmo né, rigorosa, então a gente já sabia disso, só que a gente tava saindo das escolas, tava vendo as escolas, então a preocupação maior nesse sentido com educação física mesmo era o futuro, saber onde que a gente ia parar, pra depois saber o que a gente ia fazer pra saber como é que ia trabalhar, então na realidade eu acredito que 90% dos professores que saíram pra trabalhar naquela época foi só se preocupar com educação física propriamente dito, na hora que tava dentro da escola (enquanto estudava na graduação?..) ah...com a evolução da educação física eu tenho impressão que poucos tinham essa preocupação, eu acho, era uma turma muito grande, tudo bem, era muito turma, voltada pra educação física, tinha muito cara esportista, tinha cara que jogava vôlei, tinha cara que jogava basquete, Zé Hamilton jogava basquete no luso, Caetano tinha acabado de se formar, era turma assim, muito, praticamente quase que 100% do pessoal praticava atividade esportiva, era muito, Ruído jogava vôlei, jogou pela seleção paulista,o Clírio, Cairon eram corredores de elite, então gozado, era uma faculdade pesada, então posso me enganar, mas acho que a preocupação assim com educação física, o futuro da educação física, o sair da escola, era mais pessoal, menos, mais no campo de trabalho e saber pra onde a gente ia saber como é que ia ter que escola que ia, então a vivência nossa era essa, a expectativa era de trabalhar, depois que a gente foi ganhando experiência e foi vendo a coisa...

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Não, aí, nessa verdade nossa, da nossa escola na educação física da Ite, o nível de professores e nível de alunos era muito próximos era, os professores, o Loyl você conhece, deve conhecer ou conhece o Silvio Minhoto, ou Gualberto esse nível de professor, que eles eram muito alunos, eram muito perto da gente, nós tínhamos um professor sim que... se distanciava, nós tínhamos a professora de psicologia, que era senhora mesmo, era ela sabe ...depois ela saiu, teve um problema, teve um tumor na cabeça coisa né, a Leila Berriel, então mas era uma excelente professora, mas era muito assim, então essa era um tipo, ela era agora os outros professores mesmo da área médica, os professores, o Márcio Tolentino professor Ruas, esses sempre tiveram muito próximos, agora os professores de educação física eles mesmos, eles eram muito mais amigo da gente, mais próximos, próximos mesmo, aconselhavam, de conselho particular mesmo assim sabe então era legal pra caramba, o único professor que a gente não entrosava com ele, não tinha como chegar nele era exatamente o professor de OSPB o professor de organização social e política do Brasil que era o Coronel Nei, um pouco pela patente dele, um pouco pelo jeito dele,(rígido?) é, esquema militar, mesmo, e o sistema que tava na época, então a gente não tinha muito como chegar nele entendeu, então era esse o único cara que era assim mais taxativo, mais de mandar mesmo, mais de manter a hierarquia dizer assim eu sou o professor vocês são os alunos e a Dona Leila né coitada, mas também ficou pouco tempo com nós se afastou, mas era assim no máximo dois, três professores que tinham...poucos, poucos,o resto era tudo bem humano mesmo, bem próximo da gente, era amigo assim de dar conselho assim, de conversar falar, só citar um caso particular, quando eu tava começando o 3º ano eu tinha uma firma de cobrança né eu abri uma firma de

Page 96: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

cobrança, trabalho e comecei a viajar, desisti da faculdade tinha parado primeiro bimestre não tinha ido na aula, tinha desistido, foram atrás de mim foram conversar comigo, tal né vieram..meu apelido era Dino, ”Pô Dino, pô Dino”, os colegas, alguns professores o Loyl o Zé Roberto, que era diretor, vieram conversaram, mostraram a situação, vamos ver o que a gente pode fazer com as faltas, você vem repõe você faz, não sei o que, vamos fazer, você faz a prova, sabe? Foram contornando a situação, eu consegui, fiquei com notas razoáveis no primeiro bimestre né, fizemos acerto com faltas tudo, eu voltei pra faculdade e me formei, senão tava viajando até hoje, então era desse tipo, eles eram bem humanos, nossa faculdade tinha uma equipe de professores muito espetacular.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Era os próprios mesmo, isso não muda nada, não mudou nada, era sempre mesmo, dentro das matérias, os conteúdos relativos às matérias mesmo, em termo disso ai, não mudou muito não, se trabalhava muito em cima dos conteúdos, da própria matéria, não tinha muito divergências por causa dessas coisas não, com exceção essa aqui, por exemplo, que nós já escutamos lá atrás, por ser ele o professor que era e pela matéria ser o que era né então não tinha sabe... e filosofia, filosofia o professor Nascimento era um espetáculo de professor pra nó, era muito bom, mas ele gostava também assim de transportar né como filosofia né então ele transportava muitas coisas pra vida social, vida comum, ele trabalhava nesse sentido fazia esse elo assim da filosofia com as coisas, era o professor Nascimento, na época era normal era sempre dentro dos conteúdos, sempre dentro das próprias matérias mesmo, enfim.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Falava, falava, ôô se falava um pouco reservado, sim meio né... (mas era dentro das aulas?) não, dentro das aulas a gente normalmente não falava não (não?) (Era fora do período?) Não discutia muito, fatos, nós tínhamos um monte de militar que estudava com nós, alunos, opa (E eles falavam? Falavam também nós tínhamos guarda rodoviário, sargento da guarda rodoviária, soldado da guarda rodoviária, nós tínhamos o tenente Levi Lenoti que morreu como coronel, nós tínhamos coronel...o coronel falava também, não pensa que ele se esquivava em falar determinado assunto, fala das coisas, o falava, falava da Amazônia, falava dos territórios abandonados do Brasil...ele se envolvia também falava, ele passava as coisas, não é que ele só pegava matéria dele ou só falava do governo militar, essas coisas não era, mas a gente também tinha concentração, a cabeça concentrada em outras coisas, e sabia que escola pelo motivos que tinha, não podia ficar realmente conversando muito né, por exemplo a ditadura se você for ver o atraso cultural dela foi muito grande, nos perdemos excelentes compositores do Brasil nós tivemos que exilar o Chico Buarque de Hollanda, tivemos que exilar o Geraldo Vandré que nunca mais voltou, o Gilberto Gil esse povo todo teve que ir embora, então nós perdemos com isso, perdemos espaço cultural de teatro, nós não pudemos fazer teatro mais, nós tínhamos uma equipe de teatro aqui em Bauru mas nós não pudemos trabalhar com teatro não dava, porque os caras iam, os cara ficavam, a gente não sabia quem era o cara, a gente...o cara entrava a gente não sabia quem que era, ficava vendo ensaio você não sabia quem que era então acabamos desmanchando a equipe acabamos, você ficar até meia noite, uma hora, duas horas da manhã fazendo ensaio com cara diferente ali, você não sabe quem que é, e acabamos com a equipe, chamava ‘equipe de teatro novo mundo’, acabou, por esse motivo, então

Page 97: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

essa coisa assim, nesse sentido aí, a famosa revolução militar aí, golpe militar, acabou com tudo, zerou tudo, a gente tinha preocupação de entrar na faculdade, a maioria dos caras eram tudo pacífico mesmo, tinha visão de futuro como...a educação física como futuro, mesmo né(Tinha algum movimento estudantil na faculdade, que se organizava de alguma forma?) Não tinha, nós tínhamos o grêmio nosso que era ativo, montamos equipe, disputamos a OUBA que era as olimpíadas universitárias de Bauru, direito participava, nos participávamos, antigamente, a USP era faculdade de filosofia, não era nem USP, depois já nos últimos tempos, começou a pegar, a FOB ali em cima, depois passou pra vocês a UNESP, o negócio era bom pra caramba, tudo, tinha alto índice de aproveitamento das modalidades, dava cada jogo cara, ôô, dava jogo coisa linda mesmo, coisa de profissional coisa mandada, era muito bonito, nos três anos que nos tivemos a OUBA, quem organizou a primeira OUBA né, quem começou a comandar a primeira OUBA aqui em Bauru foi o....(chamava OUBA?)Isso, Olimpíada universitária de Bauru, foi o Nuno Cobra Ribeiro, era o preparador físico do Ayrton Senna, (aé,?) Foi nosso professor, (Na graduação?) professor nosso, ele que começou a montar a OUBA, ele o Silvio Minhoto, pode perguntar pro Silvio Minhoto, ele que começaram, as primeiras... foi eles que..nós tínhamos uma demonstração de ginástica, coisa linda, pena naquela época não ter máquina de filmar, no último ano fazia estágio, então pegávamos crianças das escolas e montava uma equipe de ginástica com eles e depois juntava todas as escolas e ia lá no campo do Noroeste..tudo branquinho, tudo branco fazendo movimento (E chamava a população geral de Bauru?) opa,ia juntava mesmo,(demonstração de ginástica pra toda cidade?) toda cidade, muito bonito, era lindo, tenho foto, tenho foto adoidado, a “mulecadinha” tudo branquinho deitado( O senhor tem as fotos?)tenho, tenho foto até hoje, muitas fotos.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.Bom, a tendência da época já era ser rigoroso né, então isso permaneceu, ficou durante todo período da ditadura, a educação física era levada a sério e era bem rigorosa mesmo e a gente trabalhou nesse período todo em cima desse clima de disciplinar, a educação física era disciplinadora, era rígida mesmo e disciplinadora, e com tempo aí né não foi só, já nos últimos tempos do militarismo já tinha quebrado um pouco, já tava mais branco, mais light a coisa, ela foi um período de bastante intenso, a gente trabalhava bastante, a gente cobrava muito, era cobrado, mas a gente cobrava bastante, e tinha rendimento,tinha rendimento (esportivo?)Tudo, tudo, tudo, você não via falta na educação física, você não via aluno querer sentar na educação física, mesmo porque quando o aluno quando saía de casa ele já ia pra educação física, porque era fora do período, tendeu, então tinha tudo isso,então eles iam com prazer de fazer educação física, mesmo né e a gente aproveitava e puxava e o regime ajudava, então a gente...foi bom, foi bastante disciplinador foi um, período muito bom pra prática da educação física e pro conhecimento né só que aquilo que já falamos lá atrás, aquilo que eu falei pra você lá atrás, na parte de evolução do professor faltou, não teve esse incentivo, não teve, era um investimento, era pouco, era pouco, pouco(era valorizada profissão?)Era valorizada como profissional, tanto é que teve um período, pode perguntar pros professores mais antigos, professor de educação física era considerado professor de 1, 2, 1, 2, 3 porque achava que exercício era, 1, 2, 1, 2, 3 (tinha esse certo preconceito?) tinha, certo não, preconceito, errado mesmo, isso é verdade, era terrível, terrível, ‘nego’ achava que a faculdade de educação física só ensinava exercício(não sabia dos conteúdos teóricos?)não, conhecimento da educação física integral mesmo com os conteúdos de biologia, ciência, tudo que a gente aprendeu lá dentro cinesiologia, isso aí pouca gente, começou a ser conhecido

Page 98: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pouco tempo pra cá, na nossa época ‘nego’ achava que ia pra faculdade aprender a dar exercício pro aluno e isso aí continua sendo falha, viu, não era falha daquela época, continua sendo, mas podia ser bem melhor, né, melhorou bastante, mas pode melhorar muito mais, não sei se vou ter esse privilegio, hoje vocês tem facilidade para pós graduação, mestrado, coisa que na nossa época, dificilmente, dificilmente você encontra um professor com idade minha de magistério com pós graduação lá atrás, você vê pegar ele com pós graduação aqui na frente, mestrado, você ver a vida dele e pergunta com quanto tempo faz que ele fez pós graduação, eu só não fiz pós graduação porque quando pensei e em fazer, lá em Marília pós graduação, meu filho foi pra faculdade,eu ia fazer musculação em Marília, aí meu filho entrou pra faculdade aí não fiz mais, ele desistiu que ele ia fazer engenharia ambiental aí acabou fazendo educação física também, fez na FIB, fez bacharelado, e terminou na Anhangüera licenciatura, tá na academia também.

Identificação Nome, Idade e Gênero

Simão4, nascido em Barretos São Paulo, no dia 30 do nove de 33, atualmente com 77 anos e dois meses, professor aposentado.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

A idade de ultimo ano aproximadamente em 1950 na Ite de Bauru, São Paulo.

Principal motivação para cursar Educação Física

Por ter facilidade de lidar com crianças, já trabalhava na formação de equipes menores de bola ao cesto e voleibol.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Participei de curso técnico desportivo de bola ao cesto, voleibol, natação, futebol, atletismo, recreação na escola de São Carlos.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

1954 na ITE.

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

4 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 99: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Iniciei em 69 até fevereiro de 87 quando me aposentei.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Em diversos aspectos bem melhor do que hoje, muitas irregularidades que acabam virando pizza.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Opinião dificilmente poderia ser dada, notadamente contra o governo.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Eram usados métodos Francês, Desportivo Generalizado e Calistênico, normalmente usava a iniciação da pratica esportiva, pois acho que através dos desportos, conseguíamos a Educação Integral.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Antes e depois a educação física sempre foi relegada a uma condição inferior, sempre esquecida, não dando valor ao que ela merece.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Para os alunos a educação física sempre é aceita, podendo o professor, tirar proveito disso, desde que haja condição física e materiais esportivos.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Jamais teve influência, o professor é o mestre de tudo, dependendo da sua aceitação.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Naquela época, dificilmente teríamos investimentos em relação a professor na estrutura física da escola era um caos, muitos não tinham espaço físico para as aulas e a falta de material era gritante, o mestre teria que se adaptar melhor para executar sua tarefa.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como

Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

No meu modo de ver as possíveis conquistas no plano internacional jamais foram usadas para aparecer novos talentos.

Page 100: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Num certo tempo houve um projeto daquilo, que poderia se dar durante o ano e no final avaliação, mas por falta de pessoas habilitadas, ficava a cargo do próprio professor tirando por conclusão que ficava na mesma situação precária de sempre.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Nas escolas com espaço físico sempre houve campeonato inteclasses, bola ao cesto, vôlei, eram os preferidos.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Na maioria sempre tive turma de treinamento, até fora do horário normal da escola, continua bola ao cesto e vôlei como premiados.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITARNa sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa

predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

A predominância a prática desportivas levavam vantagens sobre as demais.

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Normalmente a pratica das disciplinas esportivas sempre tá a frente das demais.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Na escola dificilmente discutia sobre educação física, ela sempre ocupou um espaço de relegação de plano inferior.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Sempre tive relação entre aluno e professor, nunca houve atrito, a concordância levava ao sucesso.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

[Não soube responder]Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Não havia qualquer comentário a respeito do governo.

Page 101: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

De um modo geral a Educação Física na escola, vive de teimosa, e se não for pela atuação do eterno professor ela não sobrevive. Sou suspeito, mas sempre tive aceitação no meu modo de agir, quer na direção da escola e principalmente os alunos.

Identificação Nome, Idade e Gênero

Elton5, 64 pra 65 e gênero masculino.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio.

5 O nome do professor foi alterado por questões éticas

Page 102: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Eu me formei no ensino médio, eu fiz o ensino médio entre 1969 e 1971 um bocado de tempo.

Principal motivação para cursar Educação Física.

Olha não surgiu de nenhuma motivação especial, foram circunstâncias, intimidade da faculdade, convite de amigos, tal e um pequeno vinculo com a área de saúde e tal e sempre fui muito preocupado com movimento, mas foi mais circunstancial.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Sim, sim, tenho esse estagio em reabilitação cardíaca no Incor, foi feito em 1982, trabalhei com reabilitação, depois eu havia feito também duas especializações em educação e depois fiz mestrado e doutorado em educação por força de circunstância também, a cada nova disciplina que ia entrando no curso que o Gualberto montava, por alguma razão que eu desconheço até hoje ele atribuía a mim, então eu entrei aqui com fisiologia do exercício, em 85, 86, por ai depois, o outro semestre, foi isso ai o ano todo, depois no outro semestre 87 foi musculação, foi comigo, segundo semestre recreação era comigo, até que 88 entrou pratica de ensino ai era comigo também, só que tive que mudar de departamento, eu entrei nas ciências biológicas, depois educação física e depois fui pra educação por conta da pratica de ensino, porque o Gualberto achou que por conta da minha atuação fora ai na escola, ai nas escolas municipais e publica, eu tinha uma experiência pra contar, ele tinha muito mais que eu, muito, infinitamente superior a mim, mas ele me escolheu ai eu fui pra educação e tinha uma vaga quando encampou em 1988 o Quércia encampou ai então universidade de bauru aí eu passei pra o departamento de educação ai por força de circunstancia eu tive que fazer mestrado e doutorado na área de educação.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição.

Faculdade de educação Física de Barra Bonita, 1979 a 1981.

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Na municipal e numa particular de 82 a 88 foi só esse período.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Avalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Olha, eu não posso fazer uma avaliação muita clara disso porque eu estava fora da universidade nesse período, e nos éramos muito alienados, e o sistema era muito eficaz, ele o tornava alienado politicamente mesmo, então a vida pra mim transcorria normalmente, independentemente de regime militar, eu tinha meu emprego, eu tinha minha ocupação, eu tinha meu lazer, eu tinha uma vida normal, e não queria nem saber se era Pedro, se era Paulo, aí depois de algum tempo, depois que eu entrei na universidade, depois que eu passei estudar, tal, ai que eu fiquei sabendo das mazelas da ditadura, do tempo da ditadura, mas dizer que isso influenciou na minha vida profissional, na educação física de forma alguma não influenciou em nada, não

Page 103: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

influenciou em nada até porque o pessoal critico muito ácido da ditadura, mas no nosso caso ate onde eu sei a sociedade civil que estava no poder, era corrupta, era extremamente corrupta e o país estava uma bagunça, na minha opinião, ate onde eu sei o militares entraram e puseram ordem na casa, excesso, teve excesso, a dose foi um pouco excessiva, mas dizer que foi um retrocesso, dizer que militar era isso, militar aquilo, olha eu... eles fizeram grandes realizações, foi um período pra mim normal pra mim pessoalmente normal e eu sei agora que eles fizeram muita coisa pelo país e puseram a casa em ordem essa é a verdade, inclusive e principalmente Marechal Castelo Branco que foi o primeiro, foi o primeiro militar e ele era uma pessoa extremamente correta, era militar cometia excesso sei lá isso não sei, o que ele era corretíssimo, ele era, morreu numa acidente do avião, sabemos lá que circunstancia pro lado do recife que era a terra dele, mas eu particularmente, não teria nada, absolutamente nada contra a ditadura, não, eu não gosto de regime totalitários, não sou a favor, eu sou democrata, podia ate dizer que sou um social democrata hoje mas não tenho no caso do Brasil eu não tenho essa visão tão negativa, eu sei das ditaduras que tem por aí, dos absolutismos que são radicais, que são extremamente severos, mas no caso nosso, aqui no Brasil eu acho que não foi tão ruim quanto dizem não, e se você quiser que faço uma ponte do período totalitário, depois que eu trabalhei em plena ditadura, eu trabalhei na escola que isso tenha interferido, não não no trabalho não, tinha uma verticalização existia uma verticalização, como tem hoje, as coisas já vem mais ou menos pronta no estado e na prefeitura não posso falar que teve nada verticalizado, porque quem implementou a educação física escolar na rede municipal fui eu, a partir de 1982 foi o primeiro ano que teve a quinta serie ate então era de primeira a quarta quando chegou fim de 81 e comecinho de 82 começava a quinta serie eu que fiz, nas 3 escolas municipais no “reco reco”, na Santa Maria, e na casa do garoto, foi eu que comecei (Aqui em Bauru mesmo?) aqui em bauru e não teve ditadura nem o prefeito Sbegue, era Sbegue na época nada,tudo normal, eu fiz recém saído da faculdade da Barra eu me formei em 80 na barra e eu que fiz baseado no que eu aprendi lá e fiz aqui e foi um sucesso e tanto que foi um sucesso que tempos depois quando eu vim pra o Gualberto entendeu que eu devesse fazer pratica de ensino por conta desse sucesso que eu tive, agora eu tenho que falar cabotinamente não tem jeito, nas escolas tanto nas municipais,quanto no colégio São Francisco, hoje colégio São Francisco, era escola São Francisco, e uma escola profissional, que tem aqui das irmãs, que são extremamente rigorosas com tudo eu fiz um sucesso danado lá e to aqui.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Pois é, eu nem concordava nem discordava, porque eu não sentia diferença alguma pode ser que o Gualberto que já estivesse numa fase mais madura né esse mais antigos que eu, não que eu seja novo, mais ele são menos novos, tenham percebido muita coisa, mas eu francamente não percebi nada de extraordinário, passou desapercebido, foi uma fase normal, pode me acusar de alienado na época, vitima do sistema sei lá o que mas não via nada de muito extraordinário até porque não tinha essa exposição que tem hoje na mídia as coisas aconteciam e se aconteciam ficavam por lá mesmo e não vinham pro grande publico, não vinham, e tem outra pra você estabelecer um juízo de valor, você precisa ter a totalidade dos fatos pra fazer um julgamento e a gente não tem de longe aqui a gente só ouve, tem algumas informações esfarrapas e vai juntando

Page 104: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

um mosaico tal, tal pra você estabelecer um valor você tem que ter a totalidade dos fatos saber de tudo e a gente não sabe de tudo.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas.

Bem por alguma razão também, muito própria minha eu não tinha vincula com modalidade esportiva alguma, a única modalidade física esportiva que eu tenho vinculo é o futebol mas não por conta da graduação nunca tive futebol na graduação tenho por gosto por conviver com o Gualberto que foi profissional, foi preparador físico do noroeste tal então futebol sim, mas não tem nada a ver com a universidade, não tem a nada a ver com as minhas aulas, porque nas minhas aulas tanto na prefeitura, quanto no São Francisco, tinha até modalidade esportiva, futebol tinha ate futebol eram três aulas por semana, uma delas, duas delas que eram duplas nos fazíamos um joguinho de futebol e eu inclusive era escolhido como jogador era um dos últimos, porque sempre joguei muito mal, mas ele aprendiam tudo sobre o jogo como formar uma equipe mais ou menos homogênea não só os bons do lado e ruins do outro tal, tal isso no futebol e era como meio, o futebol era visto como meio, não como fim , era um processo, no meu caso era um processo (Mas o senhor diz no caso como professor,como iniciativa como professor?) Como iniciativa minha ate porque quando eu cheguei... na prefeitura eu que implantei isso e na escola São Francisco Ana Luizinha um dia quando eu fui contratado já meio famoso ela me levou la em cima no lugarzinho que elas moravam e mostrou uma estante e falou “Ó professor tudo isso aqui são medalhas e troféus que o professor anterior conquistou pra escola mais ainda tem um espaçozinho” por mim esse espaço vai continuar vazio, isso em 82 sem saber de nada eu era virgem era cru eu me formei em 81, eu falei por mim vai continuar porque eu não vou colocar medalha ai não meus alunos não vão, eventualmente poderão ganhar, mas não to aqui pra isso eu quase disse a ela “eu não to aqui por causa do produto, eu to aqui por causa do processo” eu não trabalho por produto eu trabalho por processo, eles vão aprender e ir lá a frente a casa Sampaio pra pegar o ônibus pra disputar as varias etapas tinha dos campeonatos que tinha que o estado promovia né mas eles vão saber o que é divisão de raia, eles vão sabe contar porque que um sai aqui e outro sai a 7 metros e pouco na frente ele vai aprender, ele vai aprender sobre, agora o desempenho dele ai não cobro nada isso (Mas tinha algum método específico?) Eu sei lá, o método meu, que eu inventava, eu que inventei, ninguém me ensinou, eu que discutia isso com eles não dava trabalho pra escola nada, eu que eu achava que devia ser assim tudo meio que por achismo né, então marcava uns encontro na casa Sampaio todo mundo levava seu lanche, íamos até lençóis disputávamos lá a etapas,ganhava ou perdia (Atletismo?) Isso atletismo, tava pouco me lixando e ganhava ou perdia, alguns, tinha um tal de Mauricio, que hoje é pai de família, ele saltava bem ele saltava bem, mas ele saltava bem por mérito dele não por mérito meu,então circunstancialmente o Mauricio saltava bem mas por conta dele eu não tinha nada com isso não era mérito meu ano, saltava bem tinha lá as fibras rápidas que precisava ele saltava bem, andou ate ganhando, mas isso nunca me empolgou, o que empolgava era saber que eles sabiam o que era atletismo, sabiam o que era futebol de salão sabia como interagir em torno daquele vinculo que é a bola agora se ganhava ou se perdia isso não me interessava, uma ocasião viemos disputar handebol no Mercedes Paz Bueno e o Sérgio era o professor da época ele era técnico da cidade de handebol e eu vim pra mostrar

Page 105: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pros alunos o que era handebol e jogava, perdemos feio, mas eles já vieram preparados pra isso, vieram preparados pra jogar, independentemente de resultado numérico, o meu problema era o resultado educacional e social, não era numérico, tava pouco me lixando tanto que eu nunca ganhei medalha nenhuma a prateleira deve ter ficado praticamente vazia se entrou outro depois e encheu aquilo de medalha não é problema meu.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Não, não, eu não trabalhava nessa época com educação física, nem sabia que existia educação física (Mas o senhor estudava nessa época na escola?). Não eu comecei em 79 (Mas como aluno o senhor chegou a sentir alguma diferença na aula?) Nunca tive aula de educação física na escola, nem sei o que era.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

É da maneira como é feita, como era feita, não agora, não sei como é feita porque eu to desatualizado, mas como era feita, era uma maneira, era um instrumento de alienação porque você entrava sem saber nada, e saia sabendo menos ainda e eventualmente soubesse jogar futebol de salão, você não aprendia na escola, você aprendia no bairro, a unia diferença que lá você jogava no meio do mato, na terra e na escola você vinha de uniforme e você jogava na quadra e tinha um professor ali pra te dar a bola e servir de arbitro, ficar apitando, eu nunca usaram um apito, nunca usei apito, nunca, nunca, nunca, nem no Noroeste usei apito, tinha pavor de apito, era tudo no papo então era uma forma de alienação porque fazia exatamente como o sistema queria, ou seja, nada, nada era o ativismo inconseqüente, o que o professor Misael costumava falar “vem de lugar algum e vai pra lugar nenhum” era isso ai então era alienante, como não, agora não, agora a coisa ta muito, felizmente a coisa ta muito diferente e seu eu posso fazer uma sugestão esse termo essa luta da educação física já ta muito desgastada no meio social, não que eu concorde plenamente mas eu acho que a coisa tinha que ser voltada para o esporte, invés de falar educação física, falar esporte, não que eu goste de esporte, não é isso é que ele é o maior fenômeno social desses últimos tempos pra cá, o esporte, as olimpíadas o futebol e tal então a educação física teria muito o que ganhar se falasse mais em esporte a aí o esporte entenderia condicionamento físico, entenderia as questões de academia,seria tudo, seria tudo vinculado no nome, uma jogada política, uma jogada estratégica pra esporte porque com o nome educação física o que já se fez de ruim ou não se fez nada há décadas atrás em nome da educação física vai ser muito difícil de ser tirado essa impressão que o pessoal quer, que a sociedade tem de um modo geral sobre as aulas de educação física notadamente no ensino estadual pode ser que agora esteja mudando, eu to fora faz muito tempo que eu não tenho vinculo, tal pode ser que esteja mudando, pode ser que tenha algum conteúdo, alguma estratégia, algum objetivo, mas antes não tinha nada era, até turma de treinamento tinha, ou seja você ia na escola pra treinar sem...uma coisa sem sentido felizmente nunca tive uma turma de treinamento nenhum, nem na escola São Francisco, muito menos na prefeitura, nunca tive turma de treinamento, meu negocio era ensinar, já que é aula, aula pressupõe um ensino,uma aprendizagem se bem que o Paulo Freire diz que ninguém ensina ninguém, e o

Page 106: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Comeni diz ensinar tudo a todos, dizia, 450, 480 anos atrás, mas eu ainda prefiro trabalhar mais nessa questão pedagógica do que de produto.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

É hoje tem, naquela época, tempos atrás não deveria ter, muita essa preocupação, hoje deve ter, eu to desatualizado, não sei, que eu sei que dentro de um se você imaginar uma escola estadual, de primeiro e segundo grau você vai ter ali as professoras generalistas, que ganham que tem o que, correspondente do ensino médio acabou a década de educação em 2007 agora para serem contratadas tem que ter ensino superior, mas naquele tempo, tempos atrás não tinham, eram normalistas, correspondente ao ensino médio, eram professoras generalistas de 1ª a 4ª e ao lado tinha o todo poderoso, onisciente professor de educação física de ensino superior que ganhava muito mais que elas, era ensino superior, pra dar aula de educação física tinha que ter ensino superior né, faculdade então você ganhava mais, e pra dar aula de educação física você não dava na classe você tinha que ter um espaço caríssimo fora da sala de aula que é a quadra, preferencialmente coberta com apareci aqui eu mantinha um time de futebol la na casa do garoto, até o Gualberto participou, o Padre Pedro todos eles e isso e os professores da rede estadual também e ficaram me conhecendo e alguns como de praxe começavam no letivo e tiravam toda aquela infra-estrutura e pra fazer o que, muito menos que a generalista (Mas tinha algum investimento?) De quem? (Do estado, do governo) Não deveria ter, eu tive pouquíssima experiência no estado algumas aulas e te digo por que, quando eu atestado médico e licença porque tavam doente ou iam pescar no mato grosso né, e ai tinha que ter substituto e eu fui um deles só que eu fui um deles uma vez, nunca mais nenhum colega meu me convidou pra ir substituir porque eu chegava na escola e ia desencaixotar o banco sueco o plinto, o trampolim, ia trabalhar com ginástica de solo, com ginástica sueca, fazia alguma coisa fora do bendito futebol de salão, a molecada ficava doida quantas vezes eu tive que tirar o aquele embalagem de papelão de banco sueco novinho depois falam que não tem nada na escola, ter tem, tá lá enfiado no Guia Lopes tem um quarto cheio de bola de basquete nunca foi usada no Carolina lá em cima tinha um porção de colchões, nunca foi usado, tava apodrecendo no teto numa outro ali que eu não lembro perto ali do campo do Noroeste tinha plinto tinha banco sueco, tinha trampolim que o cara nunca usou eu falo isso e falava isso pros meus colegas os quais eu substituía porque era muitos amigos e não to, na época da ausência deles eu to falando porque falava pra eles, mas nunca mais me convidaram, porque quando eles retornavam os alunos queriam aquilo que eu fazia, e eles não faziam porque era muito mais fácil soltar a bolsa na quadra e cantar a secretaria e ir tomar um café na cozinha e acabou isso era educação física, agora o estado de alguma forma fazia a parte dele eu desconfio que se você fosse um professor de ponta chegasse na diretora e falasse “eu vou trabalhar e preciso disso, disso e disso” ela ia dar um jeito de arrumar, eu fiz isso no São José, quando eu cheguei lá com a fama que eu tinha no São Francisco me emprestaram pro São José ai eu cheguei lá e falei pra irmã” preciso disso , disso, disso “ e em uma semana a Kombi trouxe tudo o que eu pedi de São Paulo, o que não coube na Kombi que era o banco sueco inclusive que media quatro metros,

Page 107: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Oliva que trabalhou aqui na UNESP, na época trabalhava no SENAI, fui lá com a Irmã compramos madeira lá no boa floresta, fadiga e Oliva fez dois pares de banco sueco e ficou tudo lá no São José a Irma falou “faça uma lista de tudo o que você precisa pra trabalhar como você trabalhava no São Francisco” eu fui lá e fiz e foi ó, um sucesso danado, e isso, eu tive sorte porque ninguém fazia nada, além de futebol e da queima eu apareci fazendo alguma coisa, eu não, aí eu to exagerando,tinha professor bom mas da antiga, Loyl principalmente, trabalhou em Piratininga muitos anos e ele sempre dizia que trabalhou parece que lá trinta e cinco anos e nunca atrasou um minuto, um minuto ,não é falta uma aula não, ele nunca atrasou um minuto, mas é um outro tipo de docente de professor né que ‘pela amor de deus’ o Loyl, Cadualon, esses cara aí, esses são da antiga e esses faziam a coisa acontecer é isso.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Em algum momento foi, em algum momento foi, principalmente na copa de 1970 o Médici explorou isso a exaustão, como se a vitoria numa modalidade, em nível mundial numa modalidade esportiva representasse um índice de desenvolvimento humano do país inteiro né, não tem nada a ver né, eu não sei se o Japão é um grande medalhista olímpico parece que não é só que é outro índice de desenvolvimento humano, então não tem nada a ver, querer vincular uma coisa com a outra isso é ideologia barata mais o Médici fez muito disso. (Depois dele teve algum outro presidente ou governador?) Não me lembro, porque eu não dava muita importância a isso, deve ter sido usado sim, deve ter sido usado, o que é uma estupidez, porque não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Olha tinha, sabe, eu não posso falar muito, porque eu tenho pouquíssima experiência no estado, eu tenho acho que 156 horas no estado e na prefeitura eu que implementei e eu fui lá ITE conversei com o Professor Mauro Toledo e falei olha sou professor da rede municipal e to implantando lá e eu soube que o senhor ta doando material da extinta faculdade de educação física e ele era de poucas palavras e chamou lá um funcionário que eu lembro bem quem é e falou abre a porta do porão e deixa o Maitino levar o que ele precisar, eu falei “quer algum documento?” Aí ele falou” Se você trouxer algum documento da prefeitura aí eu não te dou nada, pode levar”, então levei muita coisa, agora se o Estado dava, eu sou otimista com relação a isso eu acho que dava e agora deve dar muito mais, agora, o professor precisa dizer a que veio, o professor provoca, o professor precisa dizer o que ta faltando, porque recurso de uma forma ou de outra deve ter, deve ter, ele se vira, se ele quiser trabalhar, ele vai numa secretaria, ele vai numa diretoria, ele vai com deputado, ele apresenta projetinho por simples que seja alguém, você querendo fazer alguma coisa você consegue, agora se você fiar coçando o saco aqui esperando que alguém venha te oferecer aí já um pouco mais difícil pra não dizer impossível, então você querendo fazer acontecer, meios você acha, agora eu não tenho condição de dizer se o estado, não tenho condição porque não sei como tá o estado, desconfio que tenha que tenha tido investimento nessa área, por pouco que seja, tenha tido investimento nessa área, agora tinha uma escola aqui

Page 108: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

que vinha verba pra comprar material escolar e como não tinha um professor ou um conjunto de professores porque a escola muito grande que atuasse bem na área, a diretora gastava tudo na fanfarra canalizava tudo pra fanfarra, pra fanfarra lá, não vou dizer o nome, mas os mais antigos sabe quem é né, e ela falava, e a diretora, ela a diretora me parece que era professora de educação física me parece, e ela falava, “ó vou comprar o que, bola pra jogar futebol de salão?” Então vai tudo pra fanfarra, então se você disser que vem por falta por de recurso, acho que você não vai ficar sem fazer (Mas o senhor chegou a ver alguma cartilha, chegou a acompanhar?). Olha, tinha, tinha publicações, não do estado, tinha uns cadernos do ministério da educação e cultura tinha da sempre e se eu posso fazer uma avaliação um pouco pessoal eu diria que eram sempre é livros e cartilhas, o raio que seja, excelentes eu só não sei se o professor comum lia e se lia absorvia, consumia né, ele não, ele é um pesquisador nato embora ele não saiba que ele não faça pesquisa vá lá, mas ele teria que ter condições no mínimo de consumir pesquisa de quem faz pesquisa, então tinha, agora, tinha, tinha agora se chegava até ele, se ele lia e se ele digeria aquilo eu não sei, mas tinha sim, se você conversar com o Gualberto, você vai ver que tinha tanto da Sempe quanto tinha um caderno, um periódico do Ministério da educação e cultura que até tempos atrás eu tinha volumes deles era simplesmente fantásticos, agora precisa ler e precisa absorver a pesquisa daquele que interessa né.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Não, não, na prefeitura eu nunca, não me lembro de ter feito disputa entre sala não, o que nós fazíamos era entre as escolas podíamos eventualmente fazer alguma coisa entre o Santa Maria e a Casa do Garoto o “Reco Reco” tal, mas não necessariamente em futebol eu me lembro que uma ocasião eu levei as três escolas lá no horto na Rodrigues Alves pra fazer um “cross cromenedi”, “cross countri” já nem lembro mais tinha esses nomes aí e foram cada um , cada escola com seu uniforme e tal e fizemos um tempão lá e é o que eu digo, levaram lanche, os pais foram então isso meche isso aí é importante, mas essa coisa seca de disputar entre classe, campeonato, isso aí eu nunca fui, nunca me passou pela cabeça e felizmente nunca ninguém me cobrou isso também.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Tinha, tinha, mas não comigo, tinha na rede estadual, são as famigeradas turmas de treinamento, o professor voltava e dava aula aí era produto, pra mim que fique bem claro o seguinte. Eventualmente pode surgir algum talento na escola depende da oportunidade que você ofereça pra ele pode surgir, mas a partir do momento que surge esse talento, já não é mais da sua alçada, você chama os pais ou coisa parecida e remete esse aluno ao clube lá é lugar de desempenho, lá é lugar de técnico, lá é lugar de medalha, lá é lugar de competição, aqui na escola é lugar de aprendizagem, é lugar de professor e não técnico é uma coisa bem diferente, então eu não diria que numa turma de treinamento que tinha no estado se aparecesse um talento e você fosse desestimulado, mas você ia encaminhá-lo pra outra estância e não dispensá-lo das aulas da escola porque se são coisas diferentes né, no clube ele vai fazer uma coisa, lá na escola ele ia fazer outra coisa que é a sua aula normal que não tava visando competição nada, esse negocio de pedir dispensa porque ele é federado, não faz aula

Page 109: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

de educação física a não tem nada de uma coisa com a outra, lá uma situação aqui é outra, lá é produto, aqui é processo, entendeu, então tinha sim, tinha turma de treinamento, não comigo, isso nunca aconteceu comigo felizmente nunca, nunca tive, ma sabia que no estado tinha turma de treinamento (O senhor sabe dizer as modalidades que eram mais disputadas?) Ah, girava em torno de futebol, futebol vôlei e basquete, (As mais comuns?) As mais comuns e nada contra essas modalidades, né eu tenho alguma coisa contra, contra essa perspectiva de produto isso é que não admito na escola, isso eu nunca gostei, mas tinha sim.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Isso foi de 79 a 81, como é que eu vou me lembrar disso, é muito difícil, o que eu sei é quer era modalidade esportiva era hegemônica, era até a educação física nossa quando começou o Caetano tinha uma quantidade exorbitante de créditos pra basquete tempos atrás quando eu ainda tava aqui, eu fiquei sabendo que era opcional o basquete, era uma daquelas disciplinas opcionais eu já não estava no departamento de educação física então eu não acompanhei, mas eu fiquei muito feliz em saber disso, triste pelo Caetano ter perdido as aulas deles, mas feliz pela concepção né então com algumas modalidades esportivas na nossa graduação aqui passaram a ser opcionais, agora de modo geral nos cursos de graduação, eu não conheci muitos, mas a pratica esportiva era hegemônica, agora, podia ser alienante também, porque não tinha e nem era bem visto um professor que viesse falar alguma coisa da área pedagógica da área filosófica né, isso aí um discurso que pro aluno, pro perfil do aluno educação física não interessava muito não, não, não mesmo,a gente pode dar uma disfarçadinha, mas não mesmo, é falar de política, falar de filosofia, falar de história isso aí os caras tinham verdadeiro pavor a essas coisas, o negocio deles era bola né, ate curiosamente aqui na sala 1 todo começo de ano tinha apresentação dos docentes,dos alunos que entravam e as vezes eu vinha porque era vice chefe do departamento tal eu freqüentava e umas das vezes que eu vim tinha 30 alunos que estavam entrando e cada um falou a que veio, porque veio e eu fiquei prestando atenção em todos eu que era do departamento de educação, na minha concepção eu mandaria 28 embora, vocês estão no lugar errado, não é aqui ,dois eu aceitaria como aluno de licenciatura da educação física mas todos podiam ir embora, porque era outro discurso, queriam outra coisa, porque o mais correto era eles irem na escola de esporte lá da USP né, lá tem o que eles tavam querendo, aqui na licenciatura, licenciatura é pra professor e professor não é técnico de vôlei, não é técnico de basquete, é professor, então é tinha, era hegemônico o esporte, agora essas outras disciplinas de cunho mais das humanas, (Pedagógicas também?) Pedagógica tinha só pratica de ensino no curso que eu fiz, tinha pratica de ensino e felizmente era um professor extraordinário, Professor David e ele tinha uma outra visão mas era uma exceção né, a maioria, dos outros cursos eu não conhecia, mas era qualquer um que passava ali e era amigo do diretor,dava aula e tal e ta bom com raras exceções como essa do David, então, mas eu só conheço, eu fiz curso noturno de três anos,quando eu saí da faculdade e vi que aquilo não servia pra quase nada que aí eu fui fazer outras coisas, fui fazer estágio no Incor, não passei, porque na primeira vez eu levei pau, porque curiosamente um aluno da USP já saía com dois pontos o das outras faculdades com meio, quando devia ser o contrario, se ele é aluno da USP ele não

Page 110: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

devia entrar com ponto nenhum porque ele já é privilegiado né, de ter feito a USP lá e era da USP o curso, mas passei e tal aí eu fui fazer outras coisas e eu fui atrás do conhecimento , o conhecimento existe, você tem que correr atrás.

Quanto às disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

È, e aula sempre foram aulas magistrais, sempre foi aquele processo diretivo, do eu, era o professor de um lado e o aluno na época que eu fiz, na época do Gualberto e do Caetano e dos outros mais ainda, aquela aula como diria o Danilo da casa, “O eu majestático” sou eu de um lado e vocês do outro e o que que era a pergunta,(E como que se dava o ensino dessas disciplinas?) É era nessas circunstâncias era por transmissão, era por transmissão, hoje se discute se é por transmissão ou se é por construção,não se construía absolutamente nada, se pegava tudo pronto, era tudo modelo, (E o aluno tinha que executar muito o exercício?) É eminentemente prática, as modalidades esportivas era pratica, era muito pouco de teoria, o que podia ter de teoria se tivesse um pouquinho de historia tudo bem, senão era historia e regras né e aí jogo propriamente dito e aí era jogo , jogo, jogo, era o treinamento com jogo, era basicamente isso na escola que eu freqüentei, (Então a prática predominava?) Ah predominava sobre a teoria não há duvida, isso,tudo isso por conta dos próprios professores, do perfil deles .

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Se eu bem me lembro, além do David tinha o Nelson Pajiaro que era o único docente que tinha forte vinculo com a Licenciatura, com a escola, e eu peguei muito dele isso né nada nele conduzia ao resultado né, ao produto, era sempre ao processo e os outros professores não tinham essas preocupações pra falar se era pra escola, se era pra licenciatura, não existia, na escola que eu fiz, na época que eu fiz isso era não era cogitado, agora o professor Nelson não, ele vinculava tudo a escola inclusive nos intervalos quando a gente, a gente não, os alunos faziam racha e talz ele já ia lá no meio já interrompia e falava, “quando vocês estiverem formados na escola vocês vão fazer isso , na escola que vocês vão trabalhar, vão agir dessa forma, porque aí era aquela, batida do gogó pra cima né, era aquela selvageria né, “ Vocês vão reproduzir isso pros seus alunos, é isso que você vão fazer na escola,ta tudo errado né” Então ele não deixava a gente, os caras, eu nem jogava porque naquela época eu nem jogava futebol, passei a jogar futebol depois de velho, tempos atrás,pra mim também, nada, nada excepcional jogava por meu lazer, então, não adianta ensebando porque não tinha essa preocupação o único professor que tinha o vinculo com a licenciatura era o professor Nelson e quem ouvia, e quem assimilava e quem introjetava o que ele a mensagem que ele ia passar que ele queria passar ia pro um outro lado os outros iam sei lá pra que lado ,mas não era nada muito característico não, era coisa bem subliminar.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Obviamente que era hierarquizada e obviamente a figura do professor era a figura central né era a figura central, era o todo poderoso, logicamente os alunos estavam subordinados ao docente não há duvida, agora não sei agora, mas aquela época que eu fiz era, mas isso também devia ter grandes constrangimentos o maior prejuízo eu

Page 111: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

entendo que tenha sido a fala de foco com relação ao processo, a coisa era mais a voltada para o desempenho, o produto, esse era o grande problema, e se era também diretiva também, esqueci até o nome que de dá pra essa aula né que o professor é o centro, nem isso teria grande importância né, mesmo que fosse por transmissão, eu, eu estudei muito isso fiz muita palestra sobre conhecimento, sobre transmissão e construção, fui até Porto Alegre na casa do Fernando Becker que é Piagetiano da cabeça aos pés, tive três horas na casa dele discutindo isso andei me interessando por isso e o que resta o que der pra você fazer, construção, se tiver tempo, condições, tudo bem, mas você tem que tem conhecimento no bolso do colete, você não pode fazer uma construção e achar que você vai aprender junto com o aluno, não, você tem que saber fingir que não sabe, aí é outra historia, vai ensinar freqüência cardíaca pra eles você não vai construir junto com ele isso, você tem tudo na cabeça, você pode fingir que não sabe e começar “ó coloca os três dedos médios aqui entre o rádio e cúbito, você sente alguma coisa?” Você tem que saber tudo isso, finja que não sabe e vai mexendo com os alunos né, mas se tiver tempo pra isso, mas se você não tiver meu filho quem tem tempo faz a coisa pertinho ali , vai direto pro negócio, tem que ser por transmissão, mesmo que fosse essencialmente por transmissão aquela época, se você quisesse pegar o fio da meada ali, você pegaria é que os cara iam mais lá pra jogar futebol e pra paquerar as meninas e ir pro barzinho pra ficar tomando cerveja, churrasco, pizza, e talz não iam necessariamente pra aprender, então eu acho que o erro maior ta na concepção que o aluno fazia da escola né, que, o que ele queria da escola né, eu tinha um colega que viajava comigo, que um dia ele falou “Maitino sabe de uma coisa eu vou ter que ir nessa escola de fato pra aprender porque não ta sobrando menina nenhuma pra mim” é amigo meu ate hoje, ele lembra disso, então ele ia lá pra paquerar, então não adianta a gente ficar querendo culpabilizar tanto o sistema né porque democracia tem regras, nós não obedecemos regras, nós não queremos nada com nada é não podemos por culpa na escola, temos que olhar nosso rabo antes de começar a falar mal dos outros, então eu sei que o governo tem uma serie de mazelas ai tal tal tal, mas eu sempre entendi que se você quiser aprender, quiser fazer e quiser que aconteça você é capaz, basta você levar a coisa a sério, ter movimento emocional com aquilo que você vai fazer agora, se você sai daqui, esquece tudo, não se interessa em ampliar o que você ouviu na aula e vai fica a noite inteira no barzinho enchendo a cara, caramba a escola não tem culpa disso né, eu to lendo um livro ai da família de savóia lá da Itália que eu morei lá durante oito meses demora um dia pra ler uma pagina, porque a cada pagina que eu leio, tem nomes, tem lugares, tem tudo e eu vou atrás de saber que nomes são esses, que lugares são esses quem foi o Rei Humberto I, quem foi Vitória Emanuelle e vai, agora se eu leio e entra por aqui e saí por ali não absorvo nada, então é perda de tempo, é culpa do sistema, é culpa de quem escreveu o livro, não é acabei do Norberto Bóbio, esse dia que eu encontrei com você na biblioteca, poxa, tem um caderno cheio de anotações que eu tinha que devolver pra biblioteca que agora eu vou começar a estudar tudo de novo, os lugares que ele falou, as conferencias que ele falou os manuscritos que ele escreveu, eu vou atrás disso, então se você, o conhecimento ta aí, então se você for atrás, esquece verticalização da escola, esquece diretor, esquece professor, esquece tudo, o professor só serve para dar o pontapé inicial o resto é com você,senão meu filho o sistema quer o primeiro, o primeiro tem emprego garantido, o sistema vem e te pega, o segundo já tem que lutar bastante pra conseguir alguma coisa então se você quer alguma coisa, então se você quer ser o primeiro, precisa se envolver emocionalmente com a coisa caso contrário é melhor ficar vendo sessão da tarde em casa.

Page 112: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Bom, não sei, rapaz, conteúdo, como é que eu vou lembrar de conteúdo, tinha anatomia, tinha um pouquinho de fisiologia , tinha,tinha algumas coisas lá, não eram coisas,eram coisas muito incipiente, muito básica, muito, não posso falar, porque eu tive uma outra realidade aqui, aqui era totalmente diferente, mesmo no começo era uma coisa totalmente diferente, era uma coisa totalmente organizada muito melhor e tal,agora uma faculdade de interior numa cidade pequena, curso noturno de três anos, o que que você vai querer né, o cara era também estudante, durante o dia ele vendia carvão a noite ele ia ter aula, então né, tinha dinheiro pra poder pagar a mensalidade só isso, vinha de longe eu não me lembro.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Absolutamente não, não, nem se cogitava disso, não, não, nunca, nunca, nunca, e se quer saber mais meu querido de 68, 67 a 73 eu fui militar, eu fui da policia rodoviária, nunca, nunca em nenhum momento nesses cinco anos eu vi nada, não aconteceu nada de extraordinário nada, que chegasse até nós, e eu trabalhei na Anchieta hein, aquele tempo não tinha essa estrada grandona que desce lá, a Imigrantes, era só pela Anchieta, o mundo passava por ali, e trabalhei ali, ou éramos alienados demais ou não enxergávamos um palmo na frente do nariz ou o sistema era muito eficiente que não chegava até nós ou não é esse monstro que a turma fala, não era esse monstro que turma fala, então francamente , durante a graduação nem pensar, nem pensar, nem se cogitava essas coisas, pode ser que o Loyl, o Gualberto tenham tido uma outra experiência, a minha foi essa eu vim a ter conhecimento de todas essas coisas aqui no departamento de educação através do Misael, do Clodoaldo, tal ai comecei a estudar Djalma esse pessoal da antiga que aí sim eu fui saber o que é, na pós graduação em Marília estudamos isso bastante, mas isso é pós fato né durante eu não percebi absolutamente nada.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Tinha um perfil mas não por causa da Ditadura, isso eu não consigo fazer o vinculo, tinha um perfil tinha um perfil, a educação física mas o que isso tem de ranço da ditadura a não ser o fato dela ser alienante, por conta inclusive de professores da maioria que não queria fazer nada, porque se quisessem fazer poderiam transformar alguma coisa através do trabalho deles, mas não queriam, eles não queriam e o sistema agradecia, pra não fazer mesmo, quer dizer não quem não fazia nada, fazia o jogo do sistema, agora, quem que é o pecado aí né quem que é que ta errado não sei, não vou julgar isso dai, então seja, pode dizer que o que for, por conta do fato de estarmos num período de absolutismo não se deixou de fazer as coisas, se deixou de fazer as coisas por falta de iniciativa do docente, porque se você começasse a trabalhar nenhum militar iria se incomodar com você não,eu duvido, eu duvido.

Page 113: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

IdentificaçãoNome, Idade e Gênero

Page 114: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Gilberto6, 71 anos, bem vividos, com muita saúde e muita disposição e ainda produzindo alguma coisa.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Ensino Médio eu fiz de 61 a 63 vinte a vinte e três anos.

Principal motivação para cursar Educação Física

Futebol, eu sempre fui, gostei demais e sempre, pratiquei, jogava desde criança e quando chegou, se bem que eu fiz o curso de educação física já como jogador de futebol profissional e eu encerrei a carreira e o que eu mais gostava de fazer era jogar futebol e lidar com esporte de modo geral e aí eu fiz o curso de educação física, licenciatura em educação física, 67 a 69, eu fiquei, eu era profissional e aí eu já comecei como preparador físico, fiquei como preparador físico varias vezes como técnico aqui no esporte clube Noroeste. (O Ano que o senhor concluiu foi em 69 né, qual foi a Instituição?)Instituição Toledo de Ensino, aqui de Bauru.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Eu fiz agora, quando foi incorporado a Universidade de Bauru pela UNESP o titulo era mínimo era de mestre, então eu fui obrigado, depois de trinta e tantos anos fora de sala de aula, só lecionando, a voltar eu fiz o mestrado e, Filosofia da educação, na área de Filosofia da educação, no termino do curso, é que entrou a educação motora então eu fiz o mestrado na educação motora e comecei a preparar o doutorado mas não cheguei a concluir, eu tava fazendo um estudo comparativo entre a influencia da situação sócio econômica dos alunos quanto o aspecto físico, tecnico no desenvolvimento de uma criança de 8 a 12 anos, eu trabalhava em escolinhas eu tinha um projeto na UNESP de extensão a comunidade, eu tinha uma escolinha de futebol na UNESP, eu tinha uma escolinha de futebol no Bauru tênis clube, uma clientela classe média alta, tinha média baixa e tinha num Instituto social São Cristóvão numa igreja um trabalho com uma garotada de rua, então eu tava fazendo uma comparação de rendimento físico e técnico dessas três fases distintas de nível social entre a baixa, a média e alta, mais não cheguei a concluir, ficou só no papel.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Instituição Toledo de Ensino, aqui de Bauru.

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Na escola eu trabalhei de 70, a 2003, é, mais voltado no ensino médio, secundário, na escola SENAI, clientela na faixa etária de 15 a 19 anos e depois na Fundação Educacional de Bauru, nível universitário e também aqui na odontologia fiquei um semestre, aqui na USP em Bauru, mas trabalhei muito tempo também com escolinha de futebol não deixei de trabalhar na faixa etária de 6 a 14 anos praticamente nas escolinhas de futebol.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

6 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 115: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

È um período que no futebol profissional é nesse ano de 64 a 70 eu ainda estava no regime como atleta profissional, realmente o governo até hoje tira proveito do esporte como propaganda política e se fizer uma pesquisa, se fizer uma pesquisa, com senadores, dos deputados na câmara federal é, a maioria passou por time de futebol, fizeram carreira através de futebol né, na sua cidade sendo dirigente de futebol amador e de time profissional, fizeram carreira, então os políticos sempre utilizaram o esporte de modo geral pra aparecerem, e garantir suas eleições e então a gente percebia, eu, a minha dissertação de mestrado foi em cima do viver de ontem e de hoje do jogador de futebol profissional o caso da cidade de bauru, eu cito na minha dissertação que futebol no nosso país é segurança nacional, a hora que parar o futebol, que não tiver um Corinthians, um Palmeiras, São Paulo, Internacional, Cruzeiro, Flamengo, aí o governo vai, ficar meio, vai ficar com medo, a hora que o povo, não tiver mais é...essa válvula de escape, essa diversão , pão e circo aí pode sobrar pra eles, mas a gente percebe, o presidente da confederação brasileira de futebol ta sempre de comum acordo o presidente da republica e os políticos arrumavam verba e falam “não me deixa esse país sem futebol” então você vê torneio estadual, torneio nacional, é sul americano, é libertadores, é mundial, é copa do mundo, então, é competição o ano todo, não se tem tempo às vezes pras férias e às vezes até nas ferias, os prefeitos, os políticos,arrumam jogadores pra promover e fazer ainda sua propaganda em jogos beneficentes, uma propaganda política, então futebol no Brasil é segurança nacional.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Bem, eu, olha eu vou ser sincero pra você, eu sempre fui muito idealista, eu sempre levei com muita responsabilidade, mesmo como jogador, como professor, como preparador físico, como técnico, então eu não deixava, ser influenciado por idéias políticas, eu sempre fiz o que eu achava o que deveria ser feito, eu tinha minha programação, planejamento, nessa parte eu sempre exerci com liberdade total, claro que sentia que eu estava pondo em parte azeitona na empada dos políticos, mas eu tocava o barco.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

È, eu na escola SENAI, eu tinha uma programação, um planejamento, e eu me lembro que eu começava com atletismo porque atletismo é iniciação é corrida, saltos e arremessos, então dentro do espaço que eu tinha no SENAI eu iniciava meu semestre, fazia uma programação em cima do atletismo e ginástica de solo pra agilidade e destreza e eu tinha esse planejamento, eram três aulas semanais aquele tempo, três aulas semanais, desenvolvia,eram cinco meses o semestre, primeiro mês desenvolvia esse atletismo e a ginástica de solo, no segundo mês eu iniciava com handebol, era uma iniciação pro basquete, terceiro mês eu fazia basquetebol, quinto mês eu futebol de salão e era metódico, eu já sabia as aulas todas eu tinha programado e planejado, isso fazia parte, eu tinha programa e tinha o planejamento e executava religiosamente e no SENAI depois de uma certa temporada, sábado e domingo a gente fazia recreações e competições esportivas, mas era em cima mais de pratica esportiva, fazia um pouco, fazia o aquecimento, e o que motivava mais, era a iniciação esportiva, era a pratica esportiva, então passava esse inicio já no handebol, basquete, voleibol, futebol de salão, com, já entrava praticamente nas praticas esportivas, e fim de semana fazia as competições e sempre atingíamos o máximo dos objetivos, visando à motivação, o

Page 116: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

despertando o gosto pra prática esportiva, enfim a gente sentia que atingia-se o objetivo na formação, na melhor do aspecto físico e eles se realizavam, e tinha pouco tempo de pensar em política, sim, preenchia, agradava essa pratica esportiva, e na faculdade o que os alunos queriam, era também praticar esporte, praticar esporte, então iniciava-se, tinha a turma, a programação a gente oferecia pro aluno, o aluno escolhia se ele queria um condicionamento físico ou a prática esportiva, se ele queria jogar futebol de salão, basquete, vôlei, é handebol, enfim, eles escolhiam e eles praticavam e quem não queria a prática esportiva, fazia o condicionamento físico né, eram pouco, mas tinham aqueles que não gostavam de atividade esportiva e fazia ginástica, mas voltada sempre pra pratica esportiva.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Então foi o que eu falei pra você, é eu não senti, eu continuei fazendo, desempenhando minhas atividades, da minha maneira, da melhor maneira possível, mas, sempre sentindo que o governo, sempre tirou proveito, até hoje, esse regime de 64 a 85 que o militar tomou conta, é, eu não sentia diferença depois também de 85 pra cá, quer dizer, continua a mesma coisa, eles continuaram usufruindo do esporte pra fazer a carreira deles (O governo o senhora fala?). O governo, até hoje, ainda a gente percebe-se em diretorias de times de futebol aqueles dirigente carreiristas, entra na diretoria pra se lançar candidato a vereador, prefeito, deputado, e por aí afora, uma boa parte ainda, utiliza esse meio.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

É de um modo geral também é uma alienação, né, porque enquanto, o povo ta aí voltado pra pratica esportiva, competições, competições, a gente vê num, a gente vê até, por exemplo, em bauru, campeonato amador, campeonato amador, campeonato verzeano, é e não só de futebol, futebol de salão e outras modalidades esportivas, eles incentivam, é uma maneira de você prender, oferecer um lazer, mas ao mesmo tempo tirar a possibilidade desse povo estar se unindo pra reivindicar outras coisas.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

O governo sempre estimulou a prática esportiva, essa, o que eu sempre senti é que na escola, a educação física na escola de um modo geral, nunca foi valorizada, nunca teve um apoio dos nossos governantes em valorizar, principalmente no inicio, do meu tempo, no ensino fundamental, da 1ª a 8ª série, a gente sentia que não havia investimento, no profissional da área e no numero de aulas por semana em estrutura física, ficava sempre relegado ao segundo plano.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Então é o que eu acabei de falar pra você, a gente sentia, desprestigiado, é o governo, se preocupava mais com esporte de rendimento, não é, em competições, mais em segundo grau e em nível universitário, mas o básico nunca foi valorizada como até

Page 117: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

hoje, se você ver a educação física hoje na escola tá falida, falida, deveria ter, aquelas três aulas semanais, a criança até os 5, 6 anos, de repente entra na escola, não tem uma hora de lazer, de uma atividade recreativa, de uns joguinhos, se você ver o alcance, que criança que não gosta de brincar, aí é que entra o profissional da área, pra dar continuidade, através de uma programação que ia de encontro à necessidade e o gosto da criança, ia dominar seu corpo de uma maneira melhor através de jogos recreativo, do lúdico, e já entrando depois na iniciação esportiva, prática esportiva e depois competição, seria uma seqüência lógica e natural, parece que os nossos dirigentes, os nossos, não enxergam o valor e o alcance da atividade física, desde do inicio da formação dessa criança, da formação no seu aspecto físico, no seu aspecto emocional, no seu aspecto cognitivo, no seu aspecto social, que outra disciplina consegue atingir essa totalidade na formação de aluno, fora desse lúdico, dessa recreação, dessa brincadeira, os outros professores, instruem e formam mais o intelecto, mas e o corpo e lado afetivo e lado social, a vivencia em grupo, a pratica esportiva, é eu acho importantíssimo que pega esse todo do aluno, se você vê um aluno de sete anos, oito anos, num joguinho, jogando futebol, o aluno tem oportunidade de através da movimentação, dos deslocamentos, de melhorar sua resistência, sua agilidade, das destreza, dele pensar a sua que a bola chega, se ele vai parar, se ele vai chutar, se ele quer driblar, as operações mentais que ele faz, quando ele é bem sucedido a alegria que ele sente, em ser bem sucedido, o companheiro dar um abraço, quando faz um gol, vibra, essa vivencia em equipe, aprender a viver em comum acordo, com o grupo, essa pratica esportiva na escola é importantíssimo, é fundamental, é, nos outros países, o valor que se dão na educação física é fora de série, esse nosso país, é lamentável, é lamentável, a maneira como é relegado a um segundo plano a nossa educação física, (O governo de alguma forma ele deu, ou chegou a dar algum curso para os professores na época?) No SENAI, uma escola que eu gostava de demais, e gosto até hoje, todo ano eu fazia curso de atualização em São Paulo, parte técnica, parte pratica, nos tínhamos curso, ganhava-se diária, e hotel pago e fazia curso de atualização em atletismo, vôlei, basquete, o SENAI, coisa que a escola, o que a escola faz hoje, mas lamentavelmente, não existe educação física no SENAI, aqueles alunos, a maioria, é da periferia, que era ensino profissionalizante, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, de 15 a 19 anos, a maioria não era associado de clube nenhum, no SENAI, nós conseguimos aos sábados abrir a escola e funcionava como clube pra esses alunos, então era uma maravilha, lamentavelmente hoje não existe mais, educação física no SENAI, eu passei há pouco tempo construíram um prédio aonde era a quadra do SENAI, então eu costumo falar, na Europa de um modo geral, enquanto abre-se escolas e praças de esporte, fecha-se presídios, aqui no Brasil fecha-se as poucas escolas e praças de esporte e abre penitenciária FEBEM, centro de detenção provisório, é lamentável (Eles chegavam a fazer investimento em material esportivo e na estrutura física pra ter a aula de educação física?). Sim, não resta menor dúvida, nunca faltou material, tinha estrutura física boa, é material de um modo geral, sempre tivemos o necessário, mas hoje, acabou no SENAI, acabou no curso superior, muito embora eu sempre fui contra a educação física de uma maneira obrigatória, no ensino universitário superior, eu sou favorável à obrigatoriedade da educação física no ensino fundamental, nem no médio, mas se a educação física prestigiada fosse apoiada, pelos nossos dirigentes, pelas autoridades constituídas, não só do governo, como delegacia de ensino tivesse profissionais que enxergasse ao alcance da educação física como meio de formação de caráter, lapidação de personalidade de enfim, o alcance da educação física na formação integral do ser humano, então, depois dessa fase o alunos

Page 118: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

não iriam deixar mais de procurar a pratica esportiva, no segundo grau, no ensino superior, como é lá fora, aqui os clubes substituem a escola, os clubes nas escolinhas, as escolas pegam as equipes dos clubes pra representá-las em competições esportivas, é o inverso lá fora, em qualquer outro país, os clubes pegam os alunos, as escolas pra formar suas equipes, é uma inversão de valores.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Não resta menor duvida, sempre foi uma propaganda e vai continuar sendo o governo investe em verbas, gasta-se muito em preparação pra poucos pra representar seu país, se gastasse menos no ensino fundamental, se gastasse bem menos, ia ter mais valores defendendo o país nas universidades e nos clubes, então pega alunos aí em escolinhas de 14, 15,16 anos e fazer estagio fora, treinamento, gasta-se muito e o retorno é pequeno (O senhor pode citar algum exemplo que na época o governo chegou a utilizar como propagando, como conquista esportiva?). A gente vê atletas, quantos vão aí pros Estados Unidos, fazer estágio de natação, ginástica artística, e até às vezes em basquete, vôlei, é, faz-se estágio lá fora pra depois vim defender o Brasil em olimpíadas e em competições internacionais, então em muitas modalidades, gasta-se mais pra formar equipes competitivas, mas esquece de trabalhar na base, então se investisse mais na base, a verdade é que aqui no Brasil, ninguém quer fazer um projeto a médio e longo prazo, o negócio é a curto prazo, pra esse mandato, se nesse mandato eu tiver destaque me garanto na próxima eleição e como ninguém quer plantar cama, arrumar cama pro outro desfrutar depois, eles querem no seu mandato, é investir em alguma coisa e já ter um retorno imediato.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

È como eu falei pra você, eu tive quando eu comecei a lecionar utilizar a educação física como processo educativo eu, eu tinha meu programa, meu planejamento, e seguia, quando eu fiz escola de educação física, tinha as apostilas na época, é aprendia-se os métodos de educação física naquele tempo, é... você, não sei se vocês ouviram falar em Calistenia, Método Desportivo Generalizado, Natural Austríaco, é esquema padrão, então a gente tinha apostilas, seguia-se na escola de educação física,mas aquela tempo 70 por cento era mais prática, eu costumo falar que nós criávamos nossa teoria em cima da nossa experiência pratica, a gente fazia, tinha pouco, não tanto quanto agora, precisava haver um equilíbrio, entre o agora e o ontem, a pratica de ontem e a teoria de hoje, precisava pegar esse e fazer um equilíbrio, acredito que seria ideal.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Nós tivemos oportunidade na fundação educacional de bauru, essa fundação educacional de bauru que eu comecei em 74, essa fundação, ela passou a UB universidade de Bauru em 86 quando foi criado a escola de educação física que foi incorporado pela UNESP em 88, nessa pratica esportiva, no curso superior, nós

Page 119: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

tivemos oportunidade quando era Fundação, a gente fazia um INTERFEB entra as unidades, a faculdade de ciências, faculdade de tecnologia e faculdade de engenharia, fazíamos as competições internas, em quase todas as modalidades desde atletismo, desde handebol, voleibol, todos os esporte de quadra, de campo, futebol de campo, futebol de salão, natação, xadrez, tênis de campo, tênis e mesa, era uma maravilha,os alunos participavam,era uma disputa saudável, mas em vez de melhorar, regrediu, chegou a um ponto que nem sei se existe mais, é todo ano, havia essa competições internas (E na escola do SENAI, chegava a ter essas competições professor?). Também, no SENAI principalmente no SENAI, fazia o coroamento de toda aquela programação que eu falei primeiro mês atletismo, segundo mês handebol, terceiro mês basquete, voleibol futebol de salão, no encerramento do mês fazia-se uma competição interna da modalidade, e no final, a gente até formava seleções e competia com Sinais de outras cidades, havia um intercambio disso, a gente tirava proveito disso e hoje?É eu, me aposentei na UNESP em 2003 e aí comecei um trabalho voluntário, a convite de uma igreja, na pastoral da saúde, trabalhar com terceira idade, um projeto, atividade física pra uma terceira idade mais saudável e fazendo uma avaliação e um acompanhamento até com posto de saúde do bairro pra ver ate que ponto a atividade física ia interferir na saúde e dessa atividade, dessa paróquia, aí surgiu um segundo convite de uma igreja, um terceiro convite, um quarto, hoje, hoje, eu estou dando aula em cinco igrejas, fazem sete anos que eu parei de trabalhar de lecionar na escola de educação física e estou me dedicando a esse trabalho com manutenção da saúde através da atividade física e eu to fazendo isso pra ver que ponto que nos chegamos à semana passada m casal mais de 80 anos, eles não foram na aula, e na aula seguinte esse senhor veio pedir desculpa de não ter participado da aula passada porque estava doente, justamente naquele dia infelizmente, através de um noticiário da televisão eu tomei conhecimento da morte de um professor, por um aluno e lamentavelmente um aluno de curso de educação física então eu fiz comparativo com a minha turma, comentei muito em reuniões de grupo a nossa fase educacional se ta havendo progresso, ou se esta progredindo, quando um senhor de 8º e poucos anos faltou numa aula ele veio me pedir desculpa e aí você toma conhecimento hoje de um jovem matando um professor, é lamentável, o nosso, o nosso, não ta evoluindo, ta envolvendo, você esta regredindo, é um assunto muito serio tem que ser repensando, ter que se repensado, voltando à educação física na área escolar, começar desde seis anos, sete anos, profissionais competentes de sentir o seu alcance, como meio de formação do ser humano, como meio de formação de sua totalidade, o governo investir maciçamente no profissional, os profissionais tomarem conta, a gente vê um conselho de educação física fiscalizando, precisava fiscalizar mais, os profissionais tem que assumirem a pratica esportiva como meio de formação, de desenvolvimento, os esportes competitivos tem que tirar da mão dos leigos, que ser profissional da área, o Brasil se melhora, se organiza, se faz um planejamento melhor pra atingir os objetivos.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

É como eu já mencionei, já foi ventilado esse assunto, mas tempo de SENAI quando a gente entrava em competições com os SENAIS de outra cidade, a gente selecionava e arrumava horário pra treinamento e fazia sempre naquelas, nessas modalidades, que tinham mais condições de disputar, futebol de salão, basquete, vôlei, handebol e na fundação educacional de bauru, universidade de bauru e depois até UNESP, tinha-se

Page 120: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

as competições internas e tinha as competições também entre outras, de outras cidades e a gente sempre arrumava um período pra treinamento, pra preparação das equipes, mas a gente sempre mencionava, “nos vamos em competições universitárias, nós vamos pra competir, se for pra fazer gandaia, fazer farra, não precisa ir em outra cidade, vamos ficar na nossa cidade e vamos fazer aqui”, então a gente saía no inicio, eu tive oportunidade de participar como fundação educacional de bauru, deve estar com diretoria, com os diretores da engenharia, deve ter uma sala lá e deve ter mais de uns duzentos troféus, e nos tivemos oportunidade de participar coma turma da engenharia, INTERENG em Lins, ENGMED em Barretos, entre Engenharia e Medicina, entre INTERENG Engenharia só em Lins, a gente ia claro que a noite sempre tinha os bailinhos, as festas né, mas o objetivo, 80, 90 por cento, era competitivo, saia com objetivo de participar, representar bem a instituição, a escola e quando voltava, aí fazia uma festa, uma festa geral, aí adquiria verba, ai era só pra beber e comemorar (E no SENAI quando havia esse treinamento, era regular ou só quando havia alguma competição com outro SENAI?). É só quando, não era regularmente, só quando em termos de competições que fazia esses treinamentos, porque não tinha horário, a escola SENAI, era um período teoria e outro período a pratica e vice-versa, quem fazia teoria, fazia pratica tarde, quem fazia a pratica cedo, fazia teoria tarde, então era um período integral, as aulas de educação física, entre os horários da atividade deles, fazia-se educação física, 50 minutos, era 10 minutos pra já ir pra uma outra atividade, pra uma outra aula não prejudicava o horário de ninguém, se soubesse se viesse reclamação que a educação física estaria atrapalhando, a gente até falava pros alunos que chegassem atrasado não participava da parte esportiva, participava da ginástica né, então era bem organizado, bem preenchido, treinamento somente em época de competições com outra cidades.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Eu já comentei isso antes também, a predominância era nas disciplinas técnicas mais em métodos de ensino da época, setenta por cento, parte pratica trinta por cento, parte teórica e a gente naquele tempo praticava-se, praticava-se, quase que, criava-se a sua teoria em cima do seu conhecimento pratico, tinha as disciplinas teóricas claro, parte de psicologia, didática, a eu lembrar a seqüência agora é meio coisa de 40 anos atrás, já comemoramos os 40 anos de formatura o ano passado, mas era mais voltado pra parte pratica setenta por cento pra parte pratica e trinta por cento pra parte teórica.

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

È mais através das aulas praticas dos métodos de educação física e pouca teoria.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Olha já naquela época, e ate pouco tempo atrás, a maioria dos alunos, que fazia o curso de educação física, o interesse da maioria, era voltada pra pratica esportiva, trabalhar em clubes, em academias, e eram a minoria que tinha interesse de dar

Page 121: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

educação física em escola, então discutia-se muito mais a parte de treinamento, de competições em clubes, do que a educação física escolar.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

A disciplina prevalecia naquele tempo, o professor sempre tinha autonomia, era muito respeitado, e asa vezes se impunha pelo conhecimento pela autoridade e os alunos obedeciam, horários rigorosos, participação nas aulas, uniforme, e então o professor matinha uma auto-readapte, o aluno realmente era subordinado.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Eram mais a parte de treinamento, parte técnica, parte prática, parte tática, e menos, o que o que, pra que, essa parte teorica, saber o porquê das coisas, eram digamos rendimento, treinamento visando um aperfeiçoamento do movimento, da parte técnica e tática em todas as modalidades.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Não, não se comentava, como até hoje ela é lamentável, o ser humano, o cidadão brasileiro, são poucos os que tomam partido e que se discute a situação em que nos vivemos, se governo ta agindo por uma maioria ou se continua agindo em beneficio do seu partido e em beneficio do individualismo, é quando “pros amigos tudo e pros inimigos a lei” continua fazendo isso e nos estamos ai falando amém, é lamentável, já num tomava partido aquele tempo como não toma hoje.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

É aquele tempo a educação física escolar já, nunca foi dada uma atenção como merecia, tanto naquela época como hoje, então a educação física ta mais voltado, é pra parte se bem que os níveis superiores tem mais, secundário, SENAI não tem mais, superior não tem mais escolar precisa ser ressuscitado não é e discutia-se pouco como continua se discutindo ainda hoje.

Page 122: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Identificação Nome, Idade e Gênero

Neusa7, minha idade é 64 anos, gênero feminino.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

No ensino médio eu tinha feito até as contas, devia ter...dá um pause aí, o ensino médio foi de 64 a 66, alias, é, e a faculdade de 67 a 69.

Principal motivação para cursar Educação Física

Ah a principal motivação foi principalmente porque eu já praticava esportes, sempre gostei né e quando chegou na época da faculdade como eu não podia mesmo sair de Bauru pra tentar fazer qualquer coisa que minha família não ia permitir e foi justamente a época que reabriu a faculdade de educação física na ITE e nós aproveitamos e fomo fazer educação física porque gostava de praticar esportes.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Eu fiz pedagogia só, pedagogia.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

É 69 Instituição Toledo de Ensino, Bauru

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Como professora? (Isso.) 68 a 97,só que os últimos dez anos já não foi mais, já não foi mais como professora de educação física, eu me aposentei como diretora de escola(Então a senhora atuou de 68 a 87 como professora e os outros dez anos como diretora né?) Isso, como diretora.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

É não posso (Não?) não, porque acho que por absoluta ignorância mesmo, eu nunca me envolvi, não tive conhecimento, não analisei, ouvi meu pai falar alguma coisa de comentar sempre com outra pessoa, claro que ele não conversava isso comigo, mas eu não me envolvi não, não posso avaliar uma coisa que eu não participei, não observei que eu não me liguei nisso.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

7 O nome da professora foi alterado por questões éticas.

Page 123: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

É não tem como né, porque como que eu vou opinar sobre uma coisa que eu não tenho parâmetro pra, pra, eu não era nem um pouco politizada.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Eu enquanto aluna né? (Aluna e professora também.) A tá enquanto aluna no fundamental médio é...deve ter sido muito interessante, porque eu não me lembro de nada,(risos) você sabe que eu não me lembro de um nome de um professor de educação física, não me lembro, passou, não deve ter sido muito interessante né, agora, como, aí depois que eu cursei educação física que eu já gostava, me apaixonei ainda mais eu me dediquei de corpo e alma as minhas aulas, eu procurava ser uma boa professora, eu fui, diversificava o máximo possível as minhas aulas, eu fazia, cheguei a fazer até festivais com as minhas alunas na cidade de garça, foi muito bom(Tinha alguma método mais específico que a senhora utilizava pra guiar suas aulas?)Ah, a minha didática foi totalmente dirigida pelo que eu aprendi na faculdade, era, porque eu não tinha mesmo, o que eu sabia era , o que sabia e sei foi o que eu aprendi na faculdade.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Bom se eu entrei na faculdade em 67 nessa época, eu tava mais ou menos entrando no ensino médio, nem educação física eu conhecia.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Como forma alienação?(Se era usada como ferramenta pra alienar) Não sei, eu pelo pouco que eu to te falando que eu tive como experiência de aluna não pude...perceber isso e como professora também não me senti de forma nenhuma, alguém tentando me alienar pra trabalhar com meus alunos não.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Olha...não sei, não dizer.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Olha, enquanto aluna eu acabei estudando numa escola particular aqui em Bauru, não no fundamental, no médio né, então tinha, uma...pra você ver, numa escola particular aquela aula que não faz lembrar nenhum nome de um professor , era ministrada no pátio, não havia quadra..é..eu sabia que varias escolas estaduais em Bauru tinham quadra, não coberta, é, tanto é que eu..quando eu, eu te disse que praticava esportes, fazia atletismo, fazia basquete, mas nunca dentro da escola que eu estudava eu buscava,da onde tinha eu ia, mas era totalmente fora da escola, então uma das escolas que a gente praticava era o Ernesto Monte aqui em Bauru, tinha até duas

Page 124: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

quadras,cobertas, mas tinhas, não sei se hoje estão cobertas, enquanto professora, eu passei mais ou menos por um seis ou oito municípios né, cada ano a gente pegava aula num lugar teve ano, de ter três municípios num ano só então variava muito, tinha quadra, o único lugar na minha vida que eu trabalhei numa quadra decente coberta, foi aqui em Bauru nos meus últimos anos antes de ser diretora(O governo ele chegava a melhorar a investir?)Não a direção da escola tinha que fazer ‘catança’, força, campanha pra material esportivo, porque se recebia, eu nunca vi material(E material, bola, todo material que a senhora utilizava nas aulas)É, a campanha que a gente fazia junto com a direção(Então nada vinha do governo?)Se viesse alguma coisa, eu não sei a quantidade porque a direção, não se preocupava estar informando pra gente se havia sido ganha né, uma coisa que eu tenho certeza que era o governo que mandava era aqueles banco sueco que chamava aquilo, porque tinha, nessa escola, ultima escola que eu trabalhei antes de ser diretora era até que bem equipada, tinha plinto, tinha banco sueco, as bolas a gente tinha que comprar mesmo, fazer campanha, me lembro bem, agora esse materiais era muito antigos, se o governo deu, deve ter dado em algum momento em antes de mim que eu não sei dizer pra você quando foi(E o governo investia na formação de professor com cursos extras, formação continuada, algum curso?) Eu aço que não, na minha época não(A senhora não chegou a fazer nenhum curso?)Fazia se eu pudesse pagar(Mas não por investimento do governo?) Não, não, investimento governamental não.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Olha, eu vou te responder, mas primeiro vou te perguntar também, quantos anos você tem?(Vinte e um.) Então eu tenho idade para ser sua mãe, é...sabe quando que eu comecei a perceber o movimento de campeonato de mundial de futebol por exemplo ? 1970...nunca tinha me envolvido, também é aquelas histórias, na casa da gente tinha male má um rádio, uma televisão, aquelas coisas, a gente já não tem uma família de pais semi-analfabetos, quer dizer, a gente fica, a gente vai tentando acordar, vai acordar lá depois dos vinte, vinte cinco, entendeu(Então a senhora acredita que o governo chegou a usar?)Se ele chegou a usar não sei dizer.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia”para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Nas minhas aulas enquanto professora?(Sim) Não, não exista não, quer dizer, eu tinha alguns livros que eu fui comprando durante o curso de educação física, na medida do possível, a própria apostila da faculdade, mas era, apostila de matéria normal, não nada pra me direcionar nas minhas aulas(Mas o governo não oferecia nenhuma cartilha pra guiar as aulas?)Ah não, não eu nuca vi isso.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Não, não, nunca vi, entre escolas não, existia, eventualmente, aqueles, como é que se chamava...acho que é campeonato colegial, então era entre município de uma

Page 125: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

determinada região e como se faz normalmente, na região de Bauru, região de Marília, depois quem ganha aqui compete com outras, tem as outras, atividades que eu não vou me lembrar, jogos abertos, mas a escola e eu como professora, nunca participei não, essas, as pessoas que participavam desses eventos geralmente eram pessoas que, pela secretaria de esporte da prefeitura(Não pela escola?) Não pela escola.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Na minha experiência docente não existia,não.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Essa pergunta, isso aqui ó, é o meu currículo da faculdade, é bem longo,mas eu não entendi como se avaliar hoje a predominância de disciplina esportiva, não entendi bem essa pergunta(A senhora pode dizer qual era a predominância na graduação, se era as disciplinas esportivas, pedagógicas..)Ah tá, não,na graduação existia as teóricas e práticas, a gente fala teórica e pratica, dá impressão que teoria seria, socorros de urgência, socorros de urgência era só teórico, basquete era teórico e prático, voleibol era teórico e prático, consideradas práticas eram também teóricas (Mas o que predominava mais, as matérias esportivas, das modalidades, ou as pedagógicas ) As esportivas.

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Ah eu não vou saber te dizer a carga horária de cabeça assim, a não ser que eu tenha aí no...(Mas na avaliação da senhora, o que havia mais da disciplina, era conteúdo pratico ou teórico?) Ah, a predominância era pratica sim(E como que se dava o ensino dessas disciplinas esportivas?) Olha eu fui sempre uma aluna, de dez na pratica e quatro e meio, cinco na teórica, então você tem um idéia (risos) é, a vamos dizer, a carga horária maior era pratica, mas, a teórica também existia, agora como que ele se dava, por exemplo existia as provas teóricas, da parte que ele dava em sala de aula e a parte pratica.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Você fala na faculdade(Isso na própria graduação,sobre educação física na escola)Não percebi nenhuma discussão a respeito assim, ou eu não participava, isso não quer dizer que não existia tá.

A relação aluno-professor no seu entendimento, era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Page 126: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Ah não, não era hierarquizada não, além do respeito normal que nós tínhamos pelos nossos professores, porque a época de faculdade foi a época do tanto que eu posso dizer que era feliz e não sabia, porque nós éramos uma família, os alunos os professores, existia um respeito fabuloso entre nós, a hierarquia era o respeito normal que a gente aprendeu a ter com os nossos professores, nada de assim vamos chamar, de ditatorialmente alguma coisa deles pra gente, ou da faculdade pra gente.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Ah, cada uma na sua especialidade né,(De um modo geral, o professor tinha alguma especificidade pras disciplinas, para os conteúdos que ele passava na sala de aula?) Não, as normais, especificas, cada um com a sua matéria, só.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

È outra coisa que pode ter acontecido com outros colegas que tivessem mais envolvidos, mas eu mesmo nunca participei, nunca presenciei.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Ah que eu te falei, a minha fase, a minha fase foi essa, em que eu não tinha ligação com política, fiz a faculdade comecei a trabalhar, não tive ligação política e como muito pouco tenho até hoje, então, não...aquela história, pra eu avaliar por exemplo é...se o currículo da minha faculdade era bom, eu teria que conhecer o currículo de outras faculdades, eu não conhecia então, o meu primeiro contato foi esse, primeiro e ultimo e não tenho parâmetro.

Page 127: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Identificação Nome, Idade e Gênero

Luiz8, 82 anos, Masculino.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Ensino Médio antigo ginasial e colegial ano 1945 com idade de 17 anos.

Principal motivação para cursar Educação Física

Dois únicos motivos: Amor e crença.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Sim, eu fiz pós graduação e sou bacharel em Direito.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Ano de 1948 na USP

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Agora você me pegou, sabe por que Pedro, porque foi intercalado, bom começou em 1952, depois eu não lembro porque sou ruim de data, aí parou na época depois continua bom deu um período de mais de 30 anos.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

8 O nome do professor fio alterado por questões éticas

Page 128: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Perfeitamente, a Ditadura Militar deu amplo amparo a educação física.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Como grande apreciador da disciplina concordo plenamente com o modo de governar dos militares.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

As aulas de educação física eram ministradas de acordo com:e) Antigo método Francês regulamento nº sete;

f) Pelo sistema calistênico;

g) Pelo sistema Sueco de ginástica e o;

h) Sistema desportivo generalizado.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

A educação física escolar após o golpe de 64 assim como as outras ciências dinâmicas sofreu altos e baixos rendimentos.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Tanto alunos como professores de educação física tiveram fortes vínculos com a parte social da educação em geral.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Como alto caráter social a educação física sofreu muito no seu caráter escolar, (O senhor pode relatar alguma dessas mudanças, o senhor chegou a ver?) Sim, sim, muitos mais intimidade visando à parte social (O senhor chegou a ver o senhor acredita que o governo militar chegou a influenciar, de alguma forma o ensino da educação física, a mudar esse ensino?). Indiscutivelmente mudou para muito melhor.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Tanto na formação dos professores como na estrutura física como na geográfica, as escolas receberam grandes investimentos do governo municipais, estaduais e federais.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Sim como todos os países do mundo agiram também assim.

Page 129: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Sim, o regulamento numera sete do método francês.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Positivo, atletismo, voleibol, l basquetebol e o popular futebol.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Sim as modalidades são as mesmas, fora do horário letivo, alunos que gostavam de esporte costumavam treinar em clubes esportivos. Todos os sistemas se originaram no regulamento número sete do método francês e aí eu diria que o regulamento de numero sete do método francês é uma verdadeira cartilha pra educação física de todos os tempos (Mas o governo distribuía essa cartilha?). Não, não, negativo, nos devíamos procurar, existia o livro, havia o sistema impresso pelo governo, mas não era distribuído, era comprado e é raro difícil de achar e eu mesmo no momento eu não tenho, eu tive, (Mas o governa não chegou a distribuir nenhuma cartilha?) Não, não, negativo, (O senhor estava falando na pergunta 17, quais as modalidades que eram mais treinadas) Assim, treinavam atletismo voleibol, basquete, as que eu já citei fora do horário letivo, os que gostavam de esportes costumavam treinar em clubes esportivos da cidade.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Principalmente os grandes jogos como futebol, basquete e vôlei tiveram esse desenvolvimento notando se um aumento progressivo do profissionalismo nessa parte começo aí nessa época, porque era tudo amador, eu comprava meu tênis pra jogar vôlei pra seleção universitária, de voleibol eu comprava meu tênis não ganhava nada, aí começou o profissionalismo que hoje é absurdo, futebol, o jogador de futebol que tem um milhão de salário por mês, um milhão de reais de salário, o “Ronaldinho Gaúcho” pediu um milhão pro “Palmeiras” um milhão por mês filho.Abrangia um pouco de tudo viu Pedro, porque o caráter era mais ou menos, mais social, mas havia a influencia de tudo, principalmente como eu disse pra você anteriormente, havia um cunho de profissionalismo se iniciando neste sentido. Quando nós fundamos a Escola de Educação Física da Ite eram três professores, eu, o professor Nor já falecido e a professora Clélia Lourenço nos fundamos a escola a pedido do reitor, Dr. Antonio Frasio de Toledo aí como nos tínhamos só licenciatura ele nos convidou a fazer um curso no MEC no rio de janeiro, que era um curso de férias, então durante as férias nos fazíamos o curso procurando modalidades que nós tínhamos aptidão, eu escolhi recreação, musculação e natação então eu fiz pós graduação e tive o privilégio e a felicidade de como bom aluno que fui modéstia a parte eu consegui aprovação nas três disciplinas, então eu tinha o registro no MEC como professor universitário de recreação, musculação e natação.

Page 130: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Quanto às disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Indiscutivelmente o cunho maior era parte pratica praticava-se muito, ensinava-se a disciplina assim começando desde das bases, os alicerces das modalidades e as aulas essencialmente praticas, tinha teoria, mas era muito pouco. (E depois quando o senhor ministrou aula na Ite como que era o ensino dessas disciplinas?) Por exemplo na recreação eu dava uma aula teórica de recreação na aula subseqüente eu fazia a parte aplicada dessa aula, então o aluno recebia a parte teórica e aplicava na pratica entre eles mesmos, eu dando aula pra eles mesmo como se eles fossem alunos do curso de ginásio, ginasial, e não saiam então da faculdade naquela época com aptidão perfeita para dar aula, eles eram aptos, realmente capacitados para dar essas aulas, porque a pratica é indispensável assim como a teoria também é em menor escala.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Os mesmos problemas de sempre, dificuldade de material, dificuldade geográfica de quadras e essas discussões maiores eram nesse sentido, de construções, mais apoio do governo, tinha um apoio relativo então à luta nossa era principalmente de material como bolas, como material de atletismo, arremesso de peso, dardo, disco, esses materiais todos eram difíceis não eram fáceis. (Depois quando o senhor deu aula na Ite entre os professores, os senhores discutiam alguma sobre educação física na escola?) era assim, havia uma reunião mensal obrigatória, todos nós nos reuníamos e cada um discutia, discutia entre aspas, os seus problemas relativos à sua disciplina, em natação por exemplo eu não tinha problema nenhuma porque a ITE fez piscina própria, nós tínhamos a piscina semi-olímpica eu dava aulas pra eles na piscina com todas, todo aparelhamento necessário ,os outros por exemplo discutiam,pediam mais material e tal, a Instituição Toledo de Ensino era uma instituição rica então eles forneciam material a vontade, por exemplo o aluno iria pra fora, pra periferia, serviço de extensão pra comunidade, estranhava a quantidade, numa de voleibol por exemplo tinha vinte ou trinta bolas e estavam acostumados a ver uma só, então havia uma fartura muito grande nesse sentido, a ITE sempre nos proporcionou uma condição excelente de trabalho.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Relativamente, eu diria que relativamente era hierarquizada sim, o professor era o chefe, havia um respeito muito grande por parte dos alunos, bastante até diria eu admiração porque ate hoje eu encontro alunos que se formaram ha mais de quarenta, cinqüenta anos atrás que se encontram comigo e a gente vê o estado emotivo aquele estado de satisfação em nos ver, portanto eu acredito que nós atingimos um objetivo muito grande nesse sentido e são grandes amigos ate hoje, os ex-alunos, portanto eu acho que nos vencemos.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Bem o conteúdo era o seguinte, o conteúdo básico era o conceito de bio-socio-psico-filosófico da educação física né porque antes começou-se apenas na parte pratica

Page 131: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

depois evolui para o bio-socio-psico-filosófico então educação física tomou base muito, maiores bases cientificas, biologia, sociologia, psicologia e a própria filosofia.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Entre amigos de confiança sim, ao público não, porque havia um certo temor em se discutir publicamente a Ditadura Militar.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Eu diria houve um progresso constante, sempre, sempre, porque como eu disse anteriormente a Ditadura Militar nesse sentido nos auxiliou e favoreceu muito nosso trabalho.

IdentificaçãoNome, Idade e Gênero

Samuel9, nascido em Bauru no dia 16/02/1936 e me formei na escola de educação física de Bauru, na ITE, em 1955, a principal motivação para que eu fizesse educação física era porque eu sempre gostei de esporte e na época em bauru não tinha nem curso superior, eu saí do ginásio, porque você sabe que na época pra fazer escola de educação física era só o ginásio, não havia necessidade de curso médio e em bauru em 1952, começou, foi fundada a escola de educação física de bauru e eu me formei em 1953 no ginásio e já ingressei então na escola de educação física, era um curso superior, porque senão nós tínhamos que fazer ou normal ou contador na época né, então eu me formei em 55 e fiz cursos de pós graduação na época, que hoje é diferente, de técnico desportivo de futebol e atletismo na USP em São Paulo e depois eu conclui lá em 62, eu conclui o curso de educação física em bauru em 55 e fiz o curso em 62 lá em são Paulo, tecnico desportivo de futebol e atletismo que na época era que fazia né, era mais que se fazia...

9 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 132: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Principal motivação para cursar Educação Física

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Na escola em geral, em todos os segmentos, em 50 anos ininterruptos e sempre dando aula, comecei a dar aula em 56 na escola profissional da Noroeste e passando por pelo ginásio do estado, passando por faculdade da ITE e depois aqui na UNESP, onde me expulsaram (risos) em 2006 pela compulsória de 70 anos.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Eu vou pra você ver o seguinte, em 64 e 65 no... a escola de educação física até 1968, existiam nove escolas de educação física no Brasil, seria três aqui em São Paulo, que seria Bauru, São Carlos, e a USP em São Paulo e a nacional do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Espírito Santo, Recife e Belo Horizonte, então seriam nove, até, porque nos fizemos, na época, acho que foram os últimos jogos, de escolas de educação física do Brasil, na cidade de Bauru em 1968 e já era essa nove escolas. A partir de 70.. 1968 e 1969 só existia essas nove escolas no Brasil, a partir de 1970 então no caso seja na época da Ditadura, o ministro Jarbas Passarinho abriu as escolas pro Brasil inteiro, as escolas superiores, eles achavam que o negócio era quantidade e não qualidade, então abriu pra todas as escolas, então a partir de 70 que tivemos as escolas aqui no estado de São Paulo e hoje estamos existem mais de 70 escolas no estado de São Paulo,então essa época da Ditadura só existia esses estados que eu falei pra você, todos os outros estados, eram leigos que davam aula, aula de educação física e a nossa instituição, nossa escola tem um ministério da educação nos fomos convocados para ministrar aulas pra esses leigos nesses estados, então nos fomos duas vezes ministrar aulas para os leigos no Mato Grosso, nos tivemos em 69 em Cuiabá e em 1970 em Campo Grande,então aí começou tá, que até então existia os professores eram leigos, então nos íamos lá questão de uma mês, duas três semanas a gente dava, cada um dava sua matéria pra eles desenvolverem aí que surgiu essa abertura pra todos os estados do Brasil inteiro, que começou em torno das escolas de educação física, de todas as faculdades, então isso eu acho que é um ponto positivo do governo, porque alem de verificar que existia só leigos nos outros estados, na maioria, e depois também

Page 133: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

é abrindo as portas pra ter as escolas de educação física e oportunidade pro Brasil inteiro, na parte, nesta parte de esporte também deram muita cobertura, só pra você citar em bauru nos fizemos ginásios, pelo ministério, ginásio da Ite que é coberto tudo, naquela época, então eles davam muito, pra aqueles que tinham ainda, já as escolas, já as outras nos dávamos professores pra que iniciassem os leigos a ministrar a as aulas.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Aí, se for entrar na parte política é meio complicado, eu sempre achei que ditadura não era o governo que nos queríamos, mas voltando, nessa outra parte, agora certas com se diz, meio que eles utilizavam, na parte da educação, isso ai eu acho que eles foram bem, ministraram, deram bastante oportunidade para, todos né, alunos, mas na parte política (Qual é aspecto que o senhor achava negativo, ou discordava?). Não, sempre foi a como se diz, a linha dura, você não tinha liberdade pra certas coisas, falar, ou mesmo, você precisava se expressar nas aulas precisava, a gente tinha que ter cuidado com alguma coisa que eles podiam ver e aqui em Bauru, teve a caça, caça aos comunistas, caça... então você tinha que ter muito cuidado, como na palavra, como na atitude, comecei AA ver que muitos colegas começaram a ser chamados na policia “Por que você perguntou isso, por que você falou isso” Então aí nesse ponto, foi meio negativo, mas na parte assim de evolução por exemplo, foi ótimo, mas nessa parte você tinha que ter cuidado pra se expressar, às vezes se expressava de um modo lá que os caras não gostavam, que vai que tem um dedo duro na sala de aula você tava, nesse ponto era, foi difícil.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Deixa só eu chegar em você, você ta perguntando a parte no decorrer da Ditadura, eu vou começar antes, então porque antes, por exemplo, na escola a educação física sempre foi militarizada, no Brasil, método Frances, tudo, então no meu tempo nos éramos militarizados, a escola era militarizada, tanto é que a escola de educação física, 70, ou 80 por cento era só parte prática, e uns 20 por cento de teoria, então a gente, a nossa formação era mais prática, era sair dali pra dar aula mesmo, a teoria tinha claro que tinha pedagogia, anatomia, todas as matérias que nos temos hoje, nos tínhamos lá, mas é com maior, menor ênfase, a mais ênfase era a parte esportiva que saia dali pra dar aula, naquela época não tinha tanto assim pesquisa, era aula mesmo, saia dalí pra dar aula mesmo, então aí foi evolução e no caso por exemplo depois que eu me formei, que também posso falar então, nessa época a gente também dava aula nos ginásios, normalmente fazendo uma programação que a gente tinha toda militarizada, com rigidez e hoje em dia já não é tanto assim, mas depois quando, a partir de 64, já em 64, eu ainda não lecionava na Ite,assim que comecei a lecionar nas faculdades, aí nos vimos à diferença que tinha, mas mesmo assim,ainda em 65, 66, até 69 por aí, ainda era 70, 80 por cento de prática e 20 de teoria, tanto é que os alunos pisavam ali, na época os alunos saiam da escola de educação física primeira coisa que eles queriam era fazer um concurso pro estado, hoje já não, têm academias essas coisas, mas lá não, se formava em educação física e ia pro estado, e os alunos que entravam naquela época já ate 1970, de 60 pra cá já não era tanto, mas antes só fazia educação física quem era esportista, o atleta, o jogador de basquete, vôlei, era sempre assim, a partir 70 que abriu as escolas, mas a partir também, na época da ditadura, nos dávamos aula, os métodos que a gente usava, todos métodos assim, desportivo generalizado, era

Page 134: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

calistenico, que era meio parado, militar, mas aí era dividido, é claro que nas escolas, a gente tinha que dividir as etapas de anos, um semestre faz basquete, um semestre faz vôlei, mas aí que eu falo sempre conversando, que isso aí, não é que não funcionava, não tínhamos quem cobrasse, e até hoje, isso até hoje ninguém cobra, se você faz um plano pra você dar uma aula num colégio, ou em qualquer outro lugar, isso ninguém vai lá falar pra você se você ta dando aquilo, chega lá e dá o que você quiser, faz o que você quiser então ninguém cobra, num tempo passado, não era todas as escolas, mesmo as escolas estaduais, eu tive uma escola que era orientação do SENAI que era cobrado, e até hoje, mas hoje não é dado porque até o SENAI já eliminou educação física, e vem eliminando, tinha em curso superior, em engenharia, cortaram, então até o SENAI que era assim acabou, mas aí eles davam o plano, você seguia e via de repente você dando aula, vinha e assistia sua aula e não acontece mais nada disso, na época, mas também nessa época, houve abertura que você sabe que começou aula de educação física três aulas, pra duas e assim até hoje nas escolas, mas nessa época nos tínhamos,foi uma abertura, das turmas treinamentos, então tínhamos as turmas de treinamento, então cada professor dava seu treinamento, no meu caso dava atletismo, tinha turma de atletismo, tinha turma de futebol, então cada um dava seu time, e aí o numero de alunos era menos, 25 alunos, então aí teve uma abertura que, que falar pra você foi pra bem e foi pra mal, porque uma especialidade que você ia fazer os alunos aprofundar naquela matéria e outra com a abertura que a maioria e hoje eles tiveram é pra aumentar o numero de aulas, então cara inventava turmas que reduzia o numero de aulas e eles ganhavam por aquelas turmas, porque tinha professor que às vezes não tinha, numero suficiente de aulas, 36 aulas, então pegava turma de treinamento, então o que eu falei uma que sempre foi ótima porque teve aproveitamento de especificar, já o outro foi que o professor usava, não todos claro, mas usava isso ai pra aumentar o numero de aulas e ficar com carga dele bem elevada, eu não sei se entro aqui ou um pouco mais na frente, porque na época, da ditadura, isso foi antes, foi bem antes, os jogos, os jogos que tinham no estado e depois seguiu até um certo ponto, depois terminou que eram os jogos colegiais, jogos colegiais, que começaram nos municípios, por exemplo, você perguntou se nos fazíamos jogos na escola, intercalasse não, jogos intermunicipais, tanto das escolas publicas como as outras, mas mais eram as escolas publicas e aí tiravam os campeões do seu município e aí ia pra uma regional, os campeões iam fazer uma regional e depois disso tudo se reunia em São Paulo dia 7 de setembro, sempre na semana da pátria, aí fazíamos demonstrações de ginástica rítmica e terminava ali com todos os jogos, basquete, vôlei, atletismo, todas as modalidades se encerrava ali, isso aí começou antes da ditadura, mas seguiu até também não sei que ano que podia ter sido mais, 70, não sei se até 80 teve, mas não tem mais hoje em dia, tem se os jogos que você sabe brasileiros, esse jogos eram só estado de São Paulo não era nada, só estado de São Paulo que fazia isso aí e no final fazia-se as competições com demonstrações de ginástica e tudo lá, hoje já existe os jogos colegiais brasileiros, que é mais ou menos da mesma forma que faz, mais aí é mais, seria nossa colegiais, seria por estado, eles fazem, seleção, não é mais a própria escola, vai tudo lá e depois eles pegam os melhores, e faz seleção paulista de basquete, seleção paulista de vôlei... então é a seleção do estado que vai competir, sempre, pelo menos sempre ta saindo gente boa, pelo menos no norte lá, ta saindo bastante atleta que tem ido nesses campeonatos colegiais, jogos colegiais brasileiros e foi uma parte aqui....

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Page 135: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Depois do golpe de 64, a única coisa que eu falei pra você foi só a questão da turma de treinamento, antigamente não tinha, então aí que foi bem (O modo de ensino?). O modo de ensino era o mesmo (Não mudou nada?) não mudou nada, ainda, ainda, nessa fase ainda, é porque ainda era militar e educação física até 1970 né que foi lá, que seguia com treinamento, uma cartilha que eles tinham lá, é que depois hoje, por exemplo, depois fala só a partir de 86, de 86, que eu me aposentei no estado, aí não sei como que é ele andam hoje, mas conversando com uns colegas, dizem que recebem uma orientação, uma cartilha, mas na nossa também recebíamos uma cartilha, mas aí a cartilha quem desenvolvia era a gente mesmo, agora, a partir de 86 pra cá eu já não sei direito porque eu conversando eles dizem que tem um caderno, uma cartilha, mas eu não sei também se isso aí é cobrado, então não adianta nada ter a cartilha ali e falar “você tem que fazer isso no primeiro semestre, fazer no segundo” e se ele não é cobrado, então até 86 foi da mesma maneira, porque até dessa parte dos campeonatos colegiais, e aí depois também a parte que eu já falei pra você, porque antes lá em 70 já começou a surgir às escolas de educação física de todos os estados então aí passou a ser, apesar de que ainda nessa época, ainda era militar, 70 por cento de pratica e 20 por cento de teoria, minha experiência, não sei se vai valer a pena falar aqui agora, então foi nessa época, eu fiquei até 76, 77, 78, na Ite, aí paramos, aí quando abriu a aqui UNESP, em 1986 então, professores Gualberto que era o chefe daqui também, nos convidou, em 1986 que começou a escola de educação física na UNESP aqui em Bauru, aí eu, por exemplo, que já vinha daquela linha do militarismo fazia minha programação como todos nós nessa época em 86, fazíamos aquela programação militar, tanto é que quando abriu a escola de educação física aqui, ainda era aquele tempo, eram três aulas de educação física, três aulas de atletismo, três aulas de basquete, três aulas... aí assim, mas depois já de 86, foi assim segunda turma, até terceira turma, mas depois de 90 por aí, aí já começou a mudar, então queria, começou a ter mais teoria do que prática, então, por exemplo, todas, modalidades práticas, nós começamos a ter um semestre na matéria que a gente lecionava, no meu caso atletismo, não tem condição, então o que eu falo, eu penso, não sei se estou errado, ou to certo, que essa turma, geração de lá ele saem da escola sem saber dar aula, eu acho que não sabe dar aula, porque não teve a prática, agora, na parte de pesquisa, parte, eles são nota 10, não tem problema nenhum, mas se você sair dali se formou se for pra dar uma aula, eles não sabem , tem a parte de pedagogia, tem a parte que vocês têm de dar aula mesmo, didática, ele sem ainda até hoje, deve ser bem mais desenvolvida, mas falta àquela prática, você vai dar aula, vai dar atletismo, você não lembra mais o que você tem você vai dar basquete em um semestre, trinta aulas, como é que você pode dar então os alunos, não culpo não, não tem culpa, não tem jeito, a não ser que o aluno já joga basquete, ai ele vai desenvolver na matéria, em minha opinião, que ta formando lá, mas na parte de teoria é nota 10, parte de pesquisa então, essa turma que ta saindo agora, porque na turma militar era pra dar aula, mas falando não sei pode aqui, hoje em dia é completamente diferente, na nossa época era rígido, era ali militar, apesar de que a ditadura também era militar, mas abriu nessa parte, acho que até antes da ditadura a coisa era mais rígida, como eu falei pra você, vai ter uniforme, hoje ninguém precisa de uniforme, faz chamada, faz chamada, informa direitinho, uniforme tem que ser direitinho porque, hoje não tem, começou pela disciplina, tem que ter uniforme, tanto é que tem exageros, tinha professor na USP que catava barbado e não deixava entrar, se não tivesse feito a barba não entrava, pra mim era muita rigidez, mas não pode estar com uniforme e tal a gente vai, era desse jeito, no meu caso, por exemplo, quando eu dei aula pra ginásio, o aluno era desse jeito que aprendia sim, por

Page 136: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

exemplo, chega seis horas da manha e pegava lá aí tem os malandros e tem os coitados, aí não tava com a camiseta em dia, não tava com o calçado, não, não tem problema, você vai fazer assim mesmo, porque ué, ou é malandro, ou não é, se é malandro vai fazer, não é porque você não ta com uniforme eu botar falta por causa disso, você vai fazer, você entendeu, então aí questão de você levar, então, essa parte, de 64, até eu achei que continuava do mesmo jeito, nessa parte de estar, botar a turma em forma, no ginásio e na faculdade (No ginásio o senhor colocava os alunos em forma também, dava ordem unida?). Ordem unida tudo isso aí, eu tinha que dar na universidade pra eles darem pros alunos, não adianta nada, na escola normal, ordem unida (O senhor chegava a dividir a aula, assim “hoje vou dar recreação, hoje vou dar esporte hoje vou dar esporte.”) Então a gente tinha uma, orientação de como é que você dava essa aula, então no meu caso botava a turma em forma, fazia chamada com a turma em forma, dava 5, 10 minutos de aquecimento, e todos os movimentos, correndo em volta da quadra e tal, daí que partia ou fazia um vôlei, ou se fazia uma recreação, ou se fazia um futebol, ou se fazia um basquete, aí sim, aí no final, terminava tudo outra vez, em forma, caminhava umas três voltas respirando, botava em forma, aí é como eu te falei, aí até hoje isso, eu comecei a fazer aqui, quando começou em 86, mas depois os caras começaram a pensar” esse professor é meio louco” botava em forma, a gente dizia assim, “Escola fora de forma, marche!” e todo mundo gritava” Brasil!” quer dizer isso aí já veio, já veio desde lá, desde, da ditadura do Getulio Vargas, isso não é de agora não, é porque já tinha lá e eu peguei também na ditadura do Getulio Vargas como aluno e era muito, nos acreditávamos, cantávamos, toda hora, entrada, saída o hino nacional, de pé, cantado e era doutrina do Getulio, como o Hitler fez lá, ele fazia aqui, a mesma coisa, tanto é que a gente, você vai ver, por exemplo, a gente era tão doutrinado, por exemplo, meu pai era de outro partido que não era do Getulio, e a gente era do Getulio, tanto é que em 1950 ele voltou e a gente já era do Getulio, era ali, (Qual método que o senhor utilizava nas aulas?) Eu utilizava o método desportivo generalizado, (Tinha algum livro que o senhor acompanhava?) O desportivo generalizado, o Francês que teve aqui no Brasil, difundiu esse, método, não sei se vocês estudaram, não sei só por cima, nós estudamos na época, estudávamos e praticávamos, calistenia, sueco, é método francês, desportivo generalizado que veio por ultimo, o desportivo generalizado foi mais light, que seria, é o que eu to dizendo pra você, tem a prática, dava aula, aquecimento, entrava na desportiva, a modalidade que você ia desenvolver e depois à volta a calma, aí, nesse aí a gente seguia mais ou menos o plano que a gente fazia esse método, tal, mas o método era desportivo generalizado, mas é claro que a vezes, as vezes você podia, a calistênia, no começo eu dava muito calistênia, calistênia não sei se você viu, seria, é o método que é estático, é parado, todo exercício que é parado, braço, perna, tudo parado, ficava em forma, 30 minutos, quarenta minutos não saía dali, o abdômen, braço, perna, tudo ali, tudo parado, isso aí é pra, não é castigar, ele falavam que saiu dali acabou, não tinha recreação, não tinha nada, e a gente tinha que fazer, era militar mas tinha que começar a fazer o desenvolvimento da prática, então aí nesse ponto foi só a ginástica desportiva generalizada, é claro que uma vez ou outra você podia dar uma recreação, por exemplo, é não sei se vocês entram lá, a gente fala por exemplo no atletismo, ah e depois também de acordo com a série que o aluno está, na primeira série você ia dar só joguinhos, joguinhos de atletismo, corrida, você entendeu, você vinha com mais simples, basquete, ou coisinha só de jogar, jogar de rodar os pinos, você joga com a bola e faz esse movimento, de lado isso, basquete fazer o jump você joga, cada modalidade, basquete vôlei, então seguia, depois com o passar a gente ia

Page 137: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

aumentando a carga por exemplo, saída, a gente não dava, tanto é que eu dava pros alunos meus, se a gente falasse saída, a saída de cinco apoios, fica agachado, põe no chão, precisava fazer uma série de exercícios porque o que eu dava, explico, na faculdade dava oportunidade pro alunos desenvolvessem, na escola também, com os alunos, dava assim pra eles, no começo eu dava aula para turma de atletismo quase que a mesma coisa que eu dava na faculdade, na faculdade eu dava pra que eles dessem, então eu dava aquilo pros alunos, então quando ele saía ele ia dar a mesma coisa s, mas um serie de corridas segurando a cintura, sair segura, rápido, quem tem rapidez, da ordem pra sair correndo pra ver quem é mais rápido, o que segura ou não, quer dizer reação, quem tem mais reação, melhor que a outra, então isso aí vai fazendo a partir de escolar e dava também na universidade.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Não, eu acho que não, eu acho que nesse particular não, o que deve ter influído, não do governo nessa época, os próprios alunos, alunos que eu digo na educação física no geral, que teve uma época, não é bem aqui, mas cabe aqui, a maioria queria fazer educação física, e principalmente mulher, por quê? As mulheres queriam fazer educação física porque achavam que ia m ser modelo, teve uma época que nas escolas de educação física, (O senhor diz modelo próprio?) Isso, não modelo, da própria pessoa, o vestibular um terço era mulher, o resto era homem, caso era um febre, “vou fazer educação física “então foi mais voltado para isso, também no outro setor que foi importante e aí não sei se valer alguma coisa é com essa abertura das escolas e os funcionários públicos principalmente eles tinham que ter um curso superior, numa empresa qualquer ganha um pouco mais, então a educação física também nesta, não pelo governo, parte dos alunos eles iam fazer pra ter um curso superior pra ganhar mais então eles escolhiam, talvez achassem que era mais fácil educação física, eles achavam né, e aí surgiu aquilo que eu falei pra você, muita gente não tem nada a ver com educação física, não sabe nada nem coordenação motora não tinha e ia fazer educação física e hoje é meio diferente, e outra coisa pra entrar na escola você tinha que fazer vestibular e vestibular tinha pratica hoje já não tem mais e a prática era difícil, tem que fazer oitava na barra, se o cara não fizesse não entrava até aí, não é tanto assim porque pode a pessoa não ter muita lá, mas coordenação, mas durante o curso de adaptar, (Então na opinião do senhor o governo não usou a educação física como instrumento pra alienar?) Deve ter usado assim na parte profissional, (Como?) Atletas profissionais, futebol e outras modalidades, mas na parte assim da escola mesmo não, pra mim, na parte profissional (O senhor, por exemplo, acredita que teve alguma influencia do governo militar, ou até mesmo da situação que o Brasil vivia, daquela cultura militarista, da posição do governo, sentiu alguma influencia na sua aula?). A mesma coisa, não teve influencia nenhuma revolução de 63, 64, eu fui professor e fui tecnico, por isso que eu to falando pra você na parte de escola não em problema, já na parte tecnico de profissão, profissional, fui tecnico de atletismo, fui tecnico da comissão de 1963 do pan americano, primeiro pan americano no Brasil, fiz parte da comissão técnica de atletismo, então a gente nessa parte dá uma ênfase, pegava aqueles atletas, dava uma bolsa, tinha a bolsa atleta só aquela parte, outra coisa também voltando lá nas aulas, por exemplo, então, eu como acho que tive o privilégio, eu mais o Caetano, Gualberto, nós tivemos o privilégio de ser professor e ser técnico, é duas coisas completamente diferente então como professor você tem que agir de um jeito, como técnico é outro então aqui tinha frase que dizíamos como técnico de

Page 138: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

atletismo do Brasil, de São Paulo e do Brasil, que dizia o seguinte “Como técnico, você não perca tempo com atleta que tem qualidade e não tem vontade” o cara que cara que aparece lá alguns dias antes da competição ele é bom mesmo, é melhor que os outros, você não perca tempo com ele deixa ele lá e não perca tempo com aquele atleta que não tem qualidade, mas tem vontade, então não adianta nada você ficar em cima daquele atleta perdendo seu tempo, você sabe que ele não vai fazer nada, então é aí, na escola é completamente diferente, é oposto, então isso você vai ver, vai dar aula tem os grupinhos, tem o cara que já jogam basquete, no clube não sei o que, então a maioria dos professores vai falar pra você, eles fazem isso aí é como eu vou falar pra você, nos estamos desacreditados, professor de educação física, acho que até hoje dá a bola lá e cai fora, da à bola e não faz nada disso, por isso, que eu falo, porque nunca foi cobrado, tem que cobrar, dos caras que tá lá, (Na época não havia cobrança então?) Até hoje acho que não tá, nem hoje acho que não tá, não tem cobrança, então, você tinha que fazer o certo ali então, a coisa que fica meio, meio, fora...

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Não, não acho que não, eu acho que só foi a parte profissional, mas a parte de educação, seguiu mesmo (Mas tinha alguma, por exemplo, direcionamento pra que desse esse alto nível, esse rendimento na escola?). Isso aí era, praticamente, da pessoa, do professor, não tinha, não tinha, um padrão, tinha que fazer isso, é o que eu estou falando pra você, teve né, teve, mas ficou dos aquele dois lados que era a turma de treinamento, aí teve, algumas, o governo, os estados, não sei se isso aí, no nosso estado teve, não sei se no Brasil inteiro teve, no nosso estado teve, que foi uma faca de dois gumes, o cara que fazia aquilo pra pegar sala e outro que fazia pra ter rendimento, agora não sei se no Brasil inteiro, mas acho que não tinha, acho que era só no estado de São Paulo que eu acho, não lembro de outros estados.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Não, as coisas que dava na escola, isso aí deixa eu só falar pra você, isso aí já veio bem antes, isso aí já não é da ditadura, ditadura continua também mas até um certo ponto, existia a todo mês de curso de férias, era em Santos, curso de férias, para os professores de educação física, então vinha professor de fora, professor russo, eram pros professores,(Mas o governo que custeava este curso?) O estado, tudo aqui eu falo do estado, nunca falo de federal porque o nosso era do estado, depois continua, da mesma maneira, continua campeonato colegial que depois terminou e também terminou os cursos de férias que tinha na educação física, agora isso aí foi até 70, até um pouquinho pegando um pouco da ditadura existia esses cursos de férias, depois então, não teve mais esses cursos de férias pra atualizar os professores, não existe, professores que eu digo, digo, professores de ginásio,(Até mas ou menos que ano, o senhor sabe dizer?) Até 69, 70, mais ou menos 69, acho que curso de férias acho que terminou 65, 60 e pouco, pegou pouquinho da coisa, depois não teve mais,não (Não era do governo militar?) Não, não era, dizer que era influencia, o próprio governo estadual que teve, (Mas depois disso, em 65, o governo ou estado, custeava, algum

Page 139: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

curso de formação profissional pros professores?) Não, não dava, mas só que teve anteriormente que eu falei, que era leigo então foi nos professores de escolas, que só existia até 69 então pegou aí até 70, a gente abriu , nós fomos dar curso, pra Campo Grande, Mato Grosso, então isso foi influencia do governo federal (Mas o senhor em si não recebeu curso, eu digo proposta pra fazer curso, não para dar curso?) Não, não tivemos nenhum, tinha muitos cursos que vinham professores vindos de fora, aí nós professores nós íamos pra lá, principalmente professores de universidade, era aberto pra professores de escola, mas os professores universitários que participavam , teve até me 1972, um evento espetacular no rio de janeiro curso de férias, veio o Cooper veio os caras do,... foi um curso, isso aí foi pelo governo do estado, parreira, Coutinho que era do Cooper, aí só esses cursos, mas assim de nos teve mais, nem, por exemplo, para professores pra fazer, tinha, por exemplo, era questão de uma semana, se reunia os professores de educação física, não era pra aprender, era pra discutir alguma coisa, sempre do estado, agora esse que falei pra você que nós íamos dar aula, esse é federal, faz parte do plano do governo federal que nós íamos dar aula pra leigos nos estados que não tinha escola superior, não tinha escola de educação física, dentro dessa faixa aí sim, agora outra coisa também que acho um tanto que já sabe, melhor que eu ta falando se teve muita relação forte do governo, teve copa de 70 né, a copa de 70, o técnico era Saldanha comunista, achou que não podia jogar Pelé junto lá aí o era Geisel, o Costa e Silva, Médici, acho que não sei se era o Médici, (Era ele sim.) Que falou assim que queria que botasse certos jogadores e esse técnico comunista declarado, João Saldanha falou “O governo se mete com o governo, do futebol eu conheço eu faço o que eu quero você faz com seu governo” aí tiraram ele na hora, e botaram o Zagallo, tiraram na hora, se for pensar nesse aspecto, teve mesmo e aí tinha mesmo, se precisar, mudar, tirar, faziam mesmo e aí mais drástico que todo mundo sabe é isso e tem outras coisinhas a mais, mas esse é a característica que o governo impôs, ele que impôs, mudou né, você manda lá, eu mando aqui, e o governo entrou. (Voltando só um pouquinho, o senhor que tinha investimento na estrutura física, como quadra, material esportivo?) Não, então, to falando em termos de faculdade, depois vou falar de escolar, na faculdade é como eu to falando pra você, no regime do governo em bauru nos tivemos piscina, foi construído piscina, lá na Ite, que era escola de educação física, a gente usava a piscina, o ginásio coberto e acho que nas escolas, nas outras escolas não sei, mas escola de educação física e deve ter ajudado também quando começou a abrir as escolas de educação física deve ter ajudado as outras escolas, isso teve na parte, em relação aos professores que davam aula em ginásio aí não foi (Tinha investimento?) Mais parte tudo estadual, principalmente repeti mente, porque até então nem estadual, agora você pode ver que todas as escolas têm quadras cobertas, antigamente não, (Mesmo o governo estadual investia nessa estrutura?) Não, não, nessa época não,isso é questão de pouco tempo pra cá,(De quantos anos pra cá?) Dez anos, porque antes não fazia isso não, não tinha coberta, principalmente material, (Tinha fartura?) Nunca, o estado não dava nada, material era a coisa mais difícil que tinha, bola de material pra gente ministrar era uma coisa que louco,não tinha material, você tinha que trazer, o professor até comprava o material pra faz era alguma coisa, não sei se você, se outros professores falaram sobre isso, não tinha mesmo, material não tinha de jeito nenhum, to falando até 86, por isso que eu to falando você deve ter entrevistado gente que se formou de 86 pra cá, ou então, o governo, todas estão cobertas, todas as quadras, eu acho que material eles estão mandando bastante, mas no nosso lá, até 86 não tinha quase nada, era material difícil de ter, estrutura não, isso no estado, em termos federais, é porque aí não sei se é questão sua, a gente fala do estado,

Page 140: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

a gente esquece do federal, porque o federal não tinha nada com o estado, em termos sim, porque ele indicava governados, então você podia dizer que teve influencia né, mas depois que já teve a parte que votou pra governador aí já não tinha influencia do federal.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Ah, sempre foi, principalmente copa do mundo, campeão em 70, eles usavam muito disso com fator de popularidade, nesse setor explorava bem, não sei, como eu falei pra você se eles davam muita condição, a condição não era tanto, mas depois de uma vitoria, era bem explorado. (O senhor sabe de algum outro caso alem do futebol, ou no atletismo, vôlei, ou um caso mais geral como olimpíadas?) Não, as olimpíadas por exemplo, “João do pulo”, vou começar antes do Adhemar Ferreira da Silva, que foi em 52 56, Ademar Ferreira da Silva quando foi campeão poderia ser profissional, foi campeão em 52 e 56 no salto triplo, o primeiro brasileiro a conquistas duas medalhas, o primeiro a conquistar duas medalhas de ouro foi em 1924, mas então aí só pra você ver, quando ele voltou ele era de São Paulo, o estado de São Paulo se organizou pra dar uma casa pra ele, e não pode aceitar, porque se ele aceitasse a casa ele ia ser considerado profissional, agora já recentemente, já em 68, que foi no México, 72 que foi em Munique, 76 que foi em Montreal, em 68 que já foi o João do Pulo, e o Prudêncio, aí já teve que foi o João do Pulo que na época também ganhou, nunca ganhou as olimpíadas, foi recordista do mundo, aí é claro que o governo também utilizou do João do Pulo, Prudêncio e até às vezes dando algum monetário, porque já tinha acabado aquele serie de amadorismo do nosso Pierre de Coubertain, e aí acabou tanto é que em 1970, aí já foi depois, foi a primeira vez que os profissionais entraram , que foi os Estados Unidos ganhou o basquete nas Olimpíadas, foi em 80, não 80 foi Moscou, foi 84, foi Los Angeles, 88, foi Seul, que o grand time, (O Dream Team, foi em 92) Isso 92 Barcelona, aí começou a abrir pro profissional que disputou, porque antes era amador, depois ficou amadorzinho marrom e depois escancarou hoje então, revolução tem que ser essa mesmo, os jogos olímpicos não tem mais, o cara bate um recorde ganha tudo que e de ouro, antigamente, não ganhava nada.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Olha até 86 como eu falei pra você que eu atuei, eu tinha, por exemplo, eu era orientado pelo SENAI, nós tínhamos uma cartilha que tínhamos um programa e que era todos os cara iam,(Tinham algum nome essa cartilha?) Não, era pra todas as matérias, não era só pra educação física, (Ela era específica, ou geral?) Não pra cada matéria, português eles davam o professor de português tinha que dar, geografia eles mandava, (Mas era a cartilha do SENAI?) Do SENAI, não tinha nada do estado, isso ai, do ginásio vinha uma orientação,(Mas era específica ou geral?) Ah sim ,era geral, o governo mandava, acho que até hoje não era específica da educação física, tinha pra educação física, tinha pra português, como eu falei pra você, a gente dividia em temporadas, (Mas essa cartilha, orientação era dada todo ano, tinha algum nome também?) Não, era orientação deles lá (E o senhor era obrigado a seguir essa cartilha pra guiar as aulas?) Aí é que vem o caso, não é que é obrigado, vai botar no papel como eu falo pra você, todo mundo bota no papel, não era obrigado por aqui aí o

Page 141: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

inspetor via se você tava bonitinho, e até hoje né, só papel você fez papel, você botou papel bonitinho vai dizer que tá, mas na pratica não confere nunca, isso aí até hoje é assim (Mas o senhor tinha autonomia pra poder utilizar ou não essa orientação?) Não, isso aí era o professor que fazia, tava ali, se quisesse cumprir cumpria se não quisesse não cumpria, certo, é aí é que vem aquilo que eu falei pra você, já não sei como é que ta, professor da uma bolinha, né, mas não é pessoal, o professor Loyl eu pedi a orientação dele, o professor já fazia diferente, eu chegava em todos lugares que foram lá conversar, os professores não entravam em sala de aula com outros professores e ficava ali atrás, porque tinha medo de entrar lá e alguém dizer algo e já que você tinha fama de não fazer nada então não entrava lá, e aí então eu fui fazer diferente, eu entrava lá e discutia com eles, então às vezes é por causa da pessoa, a, porque, eu cutucava eles eu dizia, ”porque vocês tal falando isso do professor, você sabem que o professor de educação física no colégio”, eu falava isso pra eles,”no colégio é o professor mais vigiado que existe, vigiado, ele ta lá fora, todo mundo olhando, se ta sentado ou não, agora vocês fecha a porta, matemática, da às continhas pros caras fazerem, façam a descrição de não sei o que, façam uma carta não sei o que, ninguém ta vendo o que vocês estão fazendo”, quer dizer, também dava, mas pra defender,como que você vai dizer um negócio desses, então não é assim, o professor não é vigiado, você em que ir lá, discutir, porque até então, a maioria dos professores não discute com e outra coisa que eu vou falar pra você, professor não sabe, professor de educação física é o professor mais, é o que mais sabe dentro de uma escola, professor de educação física é o que mais sabe dentro da escola, tudo que se passa, desde a família, desde a família fora de casa, o pai e a mãe, eles contam pra gente, porque só se abre com professor de educação física e não se abre com o professor de português, de matemática, sabe tudo das matérias que tem eles vem contar pra gente então professor que ta com tudo na mão e não sabe aproveitar isso, não saber aproveitar isso, to fugindo aqui, mas é pra você ver o professor, não sei que hoje em dia se você puder, eu falei pra você de um rapazinho que é muito bom, se formou aqui e ele já tem outro pensamento, porque ele já pegou tudo, que é o, que ele, ele, o ele da aula naquele colégio La em cima, esses aí até então, não sei, ate então, não sei se você entrevistou, você só entrevistou gente velha, eu o Loyl, o Gualberto que também é pouquinho mais, você pegou o Edson, então já foi uma geração que ta lá, deve ter as idéias dele talvez não batessem muito com a gente, não bate, e pegar alguém que já se formou, primeira turma em 89 então que já se formou aqui e começou a trabalhar fora, isso é interessante você pegar, esse é um dos rapazes que até então você ta pegando os alunos que de quem você também entrevistou,vê se você pega alguém vou ver se consigo lembrar de alguém pra você pegar dessa fase, porque dentro dessa fase que se formou em 89, eles podem ,eles tem toda, daqui pra frente, dentro da escola,to falando pra você já que depois de 86, só universitário, tanto é que de 86 pra cá, 89, reunia-se todo ano os diretores, e alguns professores, das escolas de educação física do estado de São Paulo, se reunia em casa cidade, todas cidades, só os diretores das escolas de educação física do estado de São Paulo, e aí na parte escolar que era, aí tem duas coisas, mas você ta pegando o pessoal mais antigo, eu precisava arrumar pra você o nome,esse eu vou te dar pra você, tem o Luizinho, é do basquete,eu to sempre com ele, ele da aula aqui na vila..ta formado e ta trabalhando hoje em dia, o coisa, já aposentou, (O Wilson, ele esta no ultimo ano de trabalho) Mas ele já ta cansando, mas pegar essa turma que formou na UNESP que ta dando aula aí.

Page 142: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Então, entre sala de aula não tinha,interescolar, era do próprio estado que organizava, então o ginásio faziam cada modalidade fazia sua competição, (Eram todas as modalidades?) Não, era basquete, atletismo,acho que vôlei, não sei se tinha natação, não posso afirmar, era poucas, não tinha tudo, (Futebol tinha?) Futebol tinha, mas já bem pra cá,tinha futebol, falando, nos fomos vice campeões do estado com Instituto de educação Ernesto Monte, em 70, nos fomos lá, então era futebol,basquete, vôlei, atletismo e acho que natação, eu não sei se depois, com foi evoluindo não sei ate chegou a ter handebol, não sei, se chegou ter handebol, até na época existia ainda os jogos colegiais do estado, mas essas modalidades eram mais, atletismo, basquete, vôlei, futebol,regionais, depois estadual, em São Paulo era a final, só pra você, nessa parte de atletismo eu fui vice campeão nessa modalidade,tive atletas campeão, o Silvinho,corria 100 metros, 4X100, segundo lugar na competição geral e depois eu fui técnico em Lençóis, de Lençóis eu levei uma equipe também, nós fomos campeões do estado, de lençóis no feminino, tem equipe lá, tem até hoje que eu falei, que foi campeão sul americano, então isso começou , aí já começou nessa fase de colegial, que aí surgiram muitos atletas pra depois chegarem a mais profissional, mais elite, começou daí, então nessa parte, houve um governo, mas governo do estado, São Paulo, isso aí é desde antes né e foi seguindo, seguindo até terminando (Terminou quando?) Ultima acho que foi,agora você me apertou, eu ainda participei, no campeonato em São Paulo em 69, 70, acho que ultima vez que eu fui foi 71, a ultima vez depois eu não fui mais mas acho que a partir daí, 73 acho que já não teve mais, acho que até 71 acho que teve, eu lembro que eu levei umas equipes pra lá, depois não teve mais.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Então isso aí é como eu falei pra você, o governo do estado que deu pra nos as turmas de treinamento,(Desde que ano, o senhor sabe me dizer?) A partir de, comecei a dar aula no sábado, 66, acho que foi a partir de 69 ,70 (E foi durante todo período do governo militar?) Olha eu não sei quando é que terminou, eu por exemplo,(O senhor foi até 86, e até 86 tinha?) Tinha até 86, deixa ver se no ultimo ano eu tinha turma de treinamento, 76 eu sei que eu tinha turma de treinamento, depois 80, depois não sei até quando a data certa não sei, essa turma que tá na ativa que deve ta sabendo, quase todo período, até deixa ver, é porque começou turma de treinamento 70, 69 já era o período, e depois até não sei que ano que foi, pode ser que tenha até hoje, tinha três aulas, depois passou duas e professor pra turma de treinamento e era dentro do horário (Era o horário letivo, ou fora, o inverso?) Não, dentro do horário, quando você fazia seu horário você,tinha turma de treinamento, então na própria escola e tal às vezes podia levar um outro aluno pra algum lugar lá, que eu já falei pra você eu tinha um professor que botou tantas aulas pra mim e depois botou aula dele de ginástica no SESI só pra constar de sábado e domingo, quer dizer, então burlava tudo isso aí, eu acho que por aí deve ter acabado porque os caras, essa turma que tá mais na ativa vai lembrar mais disso ai (Qual modalidade ?) Eu dava atletismo, (Mas o senhor sabe de outras modalidades?) Ah sim, tinha, basquete, vôlei, futebol de salão (Natação tinha?) Natação dificilmente não tinha nem piscina, (Ginástica tinha?) Ginástica que eu falei pra você, ginástica artística não tem lugar, era só no SESI então botava lá sábado e

Page 143: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

domingo pra dar aula aí era meio, mas a turma mesmo, basquete, vôlei, atletismo, futebol de salão, futebol de campo quem tinha por exemplo, porque também não podia botar turma de treinamento se não tinha nada, aí os cara pegava mais ainda, então a pessoas tinha um campo de futebol então dava futebol , não era todos que professores que davam aula que tinham um campo do lado, mas eu nunca dei futebol, eu treinava futebol de salão, nunca dei futebol de campo.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Então aí, acho que na época que eu entrei pouquinho nessa área antes lá, falando que , aqui você quis dizer (Qual destas predominava?) Durante o período, na minha graduação, eu formei em 55, então era completamente militar, então tudo aí não teve, predominava só a parte pratica, por exemplo na escola de educação física as matérias, estudei, atletismo, natação, vôlei,basquete, judô e ginástica acrobática, esgrima que era o Coronel Domínio, essas eram as matérias que tinham nas escolas de educação física pra você graduar na parte prática, parte pratica, ali seria, era um tempo seguinte, antes de isso tudo na nomenclatura do MEC esportes terrestres coletivos, esportes terrestres individuais e esporte aquáticos, aquáticos quer dizer, natação, pólo aquático, nas terrestres então entrava todas essa coletivas, basquete vôlei, futebol, futebol só, não teve futebol de salão, judô, boxe, era dividido judô e boxe, era arte marciais, artes marciais era divido em três, judô, aula de esgrima e aula de boxe, então era essa divisão, os esportes terrestres, basquete, vôlei, não tinha handebol não tinha nada, na parte de teoria nos tínhamos então, no meu tempo, deixa saber, no meu tempo, depois quando eu dei aula na faculdade, quando eu me graduei, só tinha anatomia, fisioterapia, psicologia, pedagogia, filosofia, (Sociologia, didática tinha?) Não, didática também não, só tinha quando eu dei aula, tanto é que você vê que era mais parte, ah, historia da educação física isso eu tinha, aí é que entra, acho que vocês tem historia né (Temos sim) aí você vê, tinha historia aí vem cada um, os métodos, aquela parte, então vem da historia, então se eu achasse eu dava pra você, a evolução de cada país, a evolução da educação física isso em 1890, quando começou na Finlândia como é que era a estrutura, como é que se fazia, naquele tempo né que é história e na parte de então, tinha como você vai ver era a parte de pratica e tal, porque nessas partes práticas, nessas partes de teoria, era duas aulas, maximo três aulas, num ano, num semestre não, num ano, numa no tinha fisioterapia, num tinha anatomia, no outro não tinha, ficava dividido, e você ver que nos tínhamos na prática três aulas de basquete, três aulas de vôlei, durante três anos, então se formava gente pra dar aula, como por exemplo eu fiz o normal e no normal quando normalista que se fazia depois tinha os alunos que iam dar aula pra um grupo lá, a gente fazia a mesma coisa, tinha que dar aula pra uma turma, então saía sabendo dar aula, sabia, o que hoje não tem, na pratica não tem, tem a didática teoria, teoria, e aí mudou, tem muito mais teoria hoje que a prática, a gente tinha muito mais prática (E depois quando o senhor deu aula?) Depois então, quando começou 69 que abriu, não, 67 reabriu a escola de educação física estão já tava no período do militarismo, aí então, ainda predominava a parte mais, física do que teoria, mais física do que teórica, ainda predominava, isso foi ate as matérias mais ou menos igual ao que era antigo, aí porque no meu caso, foi até 77 quando fechou a escola da Ite, então aí era quase a mesma programação, a parte,(Predominava o que?)

Page 144: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

A prática ainda, até 77, nós tínhamos todas as aulas, três aulas por semana, tudo certinho, (E quanto às educacionais?) A mesma coisa, didática, pedagogia, psicologia,fisiologia, ah socorros de urgência, essa são meterias que tinham naquela época, aí eu parei, quando entramos aqui em 86 aí é que houve a, até os dois primeiros anos da escola aqui, a gente ainda tava mais ou menos naquela mesma programação aí já segundo terceiro ano, já começou a expandir a parte mais, parte é teórica, por exemplo anatomia a gente, só falava anatomia, não tivemos nada, professor dava a batata, pra gente dar injeção na batata por exemplo assim, não tinha cadáver não tinha nada, aqui, quando abriu aqui a escola já tinha, anatomia era, dissecar, fazer tudo aquilo lá, então já era diferente, você tinha por exemplo anatomia, nas outras modalidades começou também a expandir, psicologia, tinha um departamento só de psicologia, então o professor do departamento de psicologia que vinha dar aula no nosso departamento, mas essa altura, ele tinham um campo que os alunos podiam até pesquisar e até hoje e os professores dá o trabalho pra você desenvolver naquela área, psicologia, mas teve professor de química uma vez que foi um aluno, que pesquisou de alimentação do organismo, negócio de química então cada departamento tem, você poderia fazer,então criou o que, aumentou o numero de parte teórica e diminuiu parte pratica, digo outra vez, 70 por cento vamos dizer assim de teoria e o resto pratica, então a pratica ficou nessa parte aqui que eu falo pra você, que os alunos saem não é culpa do alunos, porque os alunos vão dar uma aula é difícil.

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

È então, a isso aqui, disciplina esportiva (O conteúdo era mais prático ou teórico?) não tudo, nos ta mos falando agora, no ensino superior né, sim no ensino superior, era tudo prática, pratica, pratica, pratica, (E como se dava esse ensino?) O por exemplo, é no caso de cada modalidade, cada modalidade a gente dava, antes voltando um pouquinho, nós tínhamos educação física infantil, e tinha (Na sua graduação ou quando o senhor deu aula?) Na minha graduação, educa cação física e educação física infantil, e a educação física hoje, só pra lembrar ta divida, hoje é educação física escolar, um, dois,três no meu era só educação física se desenvolvia, o professor às vezes dava até entrar um pouco em acrobacia, dava um pouco dessa parte, então por exemplo, educação física no caso os professores davam, professor de educação física,ele dava os métodos, método francês, no ensino superior, porque no ensino de ginásio, você aplicava, você não dava, você aprendia o método, você aprende o método, em historia você deve ter visto o método francês, que é à base da educação física, correr, andar,saltar, trepar, pular, atacar e defende, bom, o que seria então, o professor, ele dava método calistênico, método Frances, métodos sueco, então dava todos esses métodos, dava direitinho, tinha livro, tinha tudo, tinha ate um livro, do Frances, por exemplo no caso atletismo, no atletismo eu dava desde a iniciação, desde a iniciação, aqueles joguinhos, (isso no ensino superior?) Que eu aprendi, ou que dava?(O que o senhor dava?) Certo, no ensino superior, desde,e depois ia seguindo , por etapas, por exemplo quando eu era professor eu dava todos, no atletismo, todas as modalidades do atletismo, dava nos dois anos, primeiro e segundo ano eu dava todas as modalidades e fazia praticar, corrida, salto, arremesso, fazia salto, dava todos os estilos de saltos, eu fazia arremesso, fazia estilo de arremesso, fazia praticar, nesse dois anos, no ultimo ano como já sabia e as regras, regras eram sempre dadas, regras como esses dois anos eles já sabiam todas as modalidades, então, quando chegava no ultimo ano, terceiro ano, também tinhas três aulas, eu dividia, a maioria dos

Page 145: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

professores fazia isso cada modalidade, mas no meu caso eu dividia em dois períodos, primeiro semestre eu fazia eles darem aula, primeiro fazia competição, então dividia os grupos dos alunos, seis, seis, seis, sorteava, e “seu grupo vai organizar a competição de salto em altura” e equipe vermelha contra equipe ...eram duas ,três equipes, vermelha, preta e branca, pode colocar o que, três em casa equipe, pode soltar três em cada prova, então tava sempre nove atletas, então cada equipe se inscrevia lá e essa turma fazia pra competição, uma competição, tanto é que o juiz do campeonato,troféu Brasil, campeonato de jogos abertos, nossos alunos é que faziam isso aí,porque eles já sabiam fazer, aí faziam e organizavam e no dia do juiz, no dia o juiz tal falava, incrementava que eles quisessem para a nota, aí terminada a competição fazia primeiro, segundo, tinha a sumula, dava tudo às sumulas direitinho pra preencher e aí salto em altura por exemplo, fulano de tal, ah fulano de tal não veio, mas pode substituir , já vinham prontinho, fazia a competição e depois da competição fazia um relatório, com tudo direitinho, quem competiu, tudo certinho e aí cada uma fazia um negocio, tirava fotografia, dava medalha pra quem ganhou , isso aí era parte deles lá, isso aí fazia em competição, cada equipe fazia, como no dia lá fazia salto, corrida, distância, peso, disco não porque não tinha local, então esse tipo de competição, no segundo semestre eu fazia eles darem aula, segundo semestre era aula, como eu tinha três aulas por semana você vê, tinha que calcular, três aulas por semana, mas num semestres, daria 12 aulas por mês, daria 48 aulas por ano, eu tinha não tinha 40 alunos, tinha 30 e pouco, então sorteava,” hoje você vai dar uma aula de arremesso de peso” aí eles já tinham, porque eu já dei aula pra eles de arremesso de peso, eles tinham que fazer sua, seu programa, pra dar ele, então ele dava pra mim, ele suavam aula pros próprios colegas, muito mais fácil né, os colegas já sabiam como é que era, tudo bem , mais aí ano tem nada, mas seguia, eles seguiam direitinho a programação então dava pra dar aula, que ele dava, então por isso que eu digo pra você que ate hoje, que os alunos daquela época, se pegar eles sabem dar aula por causa que tinha isso aqui, hoje em dia tem dificuldade porque não tem essa parte, tem a parte sim que eu falei pra você, de pratica, teoria isso é sempre tem, informática, isso aí vocês sabem bem, na época não tinha.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Aí é que entra, no ginásio o professor não, da própria escola não se discutia nada,(Na faculdade não?) Ah você ta falando de faculdade?(Sim) ah, então, nas escolas a gente debatia, discutia, entre a gente, porque a gente, era fácil, porque a gente dava aula também na escola, então discutia, entre a gente o que a gente fazia na escola, agora se quer saber, (O que se discutia na faculdade, o senhor como professor, falando com os alunos) Ah sim, isso que batia, quase não se discutia tanto porque eles já tinham a seqüência certa, era aquilo que tinha que ser dado, eles sabiam o que ia dar,eu deixo bem entendido, aquele que quer trabalhar e aquele que não quer, aquele que senta mesmo, que senta lá na escada, mas a seqüência era essa, escuta conversava também né, (Com os alunos o senhor discutia isso?) Com os alunos debatíamos tudo isso, isso que eu falei pra você, primeiro dia de aula eu já falava ó e até hoje eu falava, questão que com vocês, entrava e eu falava ó “o negocio é o seguinte, o professor de educação física é o mais desacreditado que existe, você estão pensando que professor senta lá e da bola e fica por aí, mas vocês tem que mudar isso aí, vocês tem que, vê se muda esse conceito que você tem” e batia sempre nisso aí, sempre batendo nisso aí, fazer a aula, discussão, orientada para esse tipo, para que eles saíssem de lá, sair de lá pra saber dar aula e fazer, não dar não querer fazer nada, mas sempre foi verificado isso aí, entre nos

Page 146: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

professores conversava “ vamos fazer isso aqui, isso aqui” pros alunos sair daqui e ter, primeira coisa, tirar essa imagem nossa, porque até hoje, mas acho que dá tempo, não sei, você que tá mais aí, mas ainda tem essa imagem do professor de educação física, é não tem jeito, como tem mal profissional em todas as áreas.

A relação aluno-professor no seu entendimento, era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

È, deixa eu só, duas fases, no meu tempo lá, é claro, como aluno da faculdade, é claro que sempre existiu, a gente já era disciplinado pelo militar, pela rigidez do militar, é claro que a hierarquia sempre existiu, nunca teve nada, mas a parte intima assim do professor e o aluno era espetacular, como é hoje, porque, porque o professor é o único que trabalha mais tempo com aluno você entendeu, como você na faculdade, na minha época também, e depois quando eu dei aula, eu como aluno por exemplo é claro que hierarquia tinha, você tinha que pedir licença,mas por exemplo professor Loyl tinha facilidade, como professor chegava, mas aí vai do que, vai do caráter e do jeito do professor, tinha professor que você nem chegava nele, no meu tempo, teve professor que eu nem conversava com ele porque não nem sabíamos, e outra porque isso aí é mais da pessoa, da intimidade, agora como, quando eu fui professor, era a mesma coisa, eles achavam que era o Caxias e tal, mas eu sempre dei diálogo, sempre conversei e todos (Mas o senhor entendia, a sua relação com os alunos, como hierarquizada?) Eu não, eu achava que não, eles achavam, então, do jeito que eu era, então eles pensavam que eu era, mas eu dava liberdade pra falar, você entendeu, e era amigo e era amigo dos alunos como depois daqui também a mesma coisa, tiver que sair eu saio junto, tiver que fazer isso fazia, não tinha problema nenhum, por isso que eu to falando, sempre com, eu ia com, quando eu, aqui na UNESP, fui diversas vezes fim com seus colegas, fim de ano fazer festinha na casa...eu já era casado, mas quando eu era solteiro como se fosse nada, eles também tratavam a gente com respeito, e uma coisa não tinha, essa parte aí sempre foi liberal, e educação física é isso mesmo, professor de educação física, o aluno, de educação física é como estudante de medicina, é a mesma coisa, você tem contato todo dia, tem contato todo dia, então entre vocês ainda é uma coisa espetacular, a amizade se cria e fica por ser, medicina é a mesma coisa, ao contrario de outras, direito, não sei o que, que faz aqui, outro vai pra lá, ta todo junto, todo dia fazendo a mesma coisa, durante três anos, durante quatro anos, então cria-se mais, e o professor também tá ali fica mais, tanto é que no, agora , porque no nosso caso, no outro tempo lá nos três anos lá, conhecia todos alunos, eu conhecia, hoje pra você ver que eu falei pra você, a turma de quarenta anos de formado esse ano, fez quarenta anos a outra turma, quarenta anos eu conheço um por um, agora, porque, nesse tempo, e eu não lembro mais dos alunos que eu tive aqui um ou outro porque, ficava um semestre, depois, às vezes chegava no primeiro ano via eles depois não via mais, sai de lá não via, do jeito que é aqui, cada departamento, você vai ter aula naquele lugar, então você não tinha quase atividade, o respeito também não tem, eu já vi completamente diferente do respeito que a gente tinha antigamente com agora, eu falei pra você, hoje você chega e senta lá faz uma rodinha vamos sentar, você é mais liberal, deixando mais liberalidade veio às conseqüências, com rigidez não tem, então com liberalidade pode falar umas coisas, então aí que fica a parte....

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Page 147: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

É eu havia dito pra você, como aluno as modalidades praticas né, as modalidades práticas que tinha atletismo, basquete, vôlei, judô, artes marciais, esgrima, natação e ginástica, educação física, (Mas que tipo de conteúdo que era abordado pelo professor na aula?) Cada modalidade, cada modalidade por exemplo, como tinha que fazer atletismo, então mesma coisa, meu professor sempre alguma coisa, na faculdade, na faculdade mesma coisa ,matéria, tudo direitinho, os métodos, fazia o salto, dava seqüência e tal no basquete o professor lá dava seqüência não sei o que, cada fazia aquele sua seqüência, boxe por exemplo, no boxe e outras, judô, era muito porque era restrito como é hoje, o que nos temos de dar aula pra fazer atletismo, era do judô, então era pequeninho, não tinha nada, de boxe, também dava direto, não sei o que, soltava lá e quebrava o pau ai mas nas outras não, seguia direitinho a seqüência da, ginástica por exemplo, como eu falei educação física abrangia, ginástica dava acrobacia, dava na parte de ginástica, duplas, exercício duplos fazia plano, dentro da aula, agora hoje não sei, hoje a educação física definiu escolar I e escolar II, eu não sei qual o conteúdo, qual o conteúdo?(I é infantil, II fundamental e III médio.) Nós tínhamos uma matéria de educação física infantil, mas era um ano só, essa matéria que era educação física infantil era um ano só, certo, é ali na educação física, hoje ta mais detalhado, acho que dividido, porque educação física pegava tudo, não tinha ginástica olímpica, na época era olímpica hoje é artística,não tínhamos aparelhagem, os professores davam alguma coisinha, salto mortal pra frente pra trás, dava essas coisas, então hoje em dia por exemplo a educação física já ta desmembrada, educação física I dá só isso, educação física II só dá aquilo, no caso de educação física desde o inicio, desde o inicio, infantil que era separado, era a única coisa que era separado, o resto era tudo dentro da seqüência mesmo ....

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

A gente discutia, mas era meio como eu falei pra você, tinha, medo porque era político, a gente discutia às vezes a parte pratica que não tinha nada com, competição não sei o que, judô, dentro da parte política mesmo,quando a gente tinha era meio, perigoso falar, tanto é que nessa época, o militar botou todos os militar pra dar aula, (Na Ite havia algum militar?) Tinha, dava aula pra gente, era um professor que era até bacana, mas era tudo militar, tanto é que o Coronel Domicio que dava esgrima mas isso aí não foi por causa disso aí, isso era antes lá, mas na época da ditadura colocaram aquele, aquela matéria que tivemos também no ginásio (OSPB?) Isso, organização social e política do Brasil, isso, isso aí foi criado pra que, isso a vem o negocio da ditadura, essa matéria foi criada pra botar gente dentro dás universidades, e dentro do colégio desde pequeno, mas era mais educação física um negocio mais assim, mas lá isso foi criado, você me deu um negocio que eu não lembrava disso aqui, mas a matéria para colocar militar dentro das universidades isso teve então a gente tinha que falar com medo, você não podia falar certas coisas, era isso aí era, complicado, eu por exemplo não fui rebelde, mas era contra a ditadura e os meios né,igual aquela menina que chegou na escola e eles pegaram,mas tava dentro do contexto, eles tavam na deles e a gente na nossa, qualquer coisinha eles pegavam e faziam então ficou meio restrito na nossa fase e isso aí eu gostei de lembrar, não sei se alguém lembrou, lembrou alguém? que tinham criado essa disciplina para que vigiassem as universidades, eu também nem tinha lembrado disso, a gente na época “poxa não pode falar nada porque o cara aqui” mas foi criado pra isso mesmo.

Page 148: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Nas escolas assim, eu acho que teve um prosseguimento que já estava, seria os jogos, na parte de desenvolvimento de competições sempre teve, continuou do mesmo jeito, e também acabamos de falar que seria, que houve a matéria de OSPB que no ginásio era Educação Moral e Cívica, também tinha gente lá que não sei você, no seu tempo você pegou essa matéria?(Não senhor.) então já definiu, porque foi na época,também era sempre ou não era militar, ou era militar que tinha diploma de professor porque não ia botar ginásio sem ser professor, na própria escola não ia botar um com diploma, ou era normalista, tinha que te um grau, mas no desenvolvimento foi em competições seguia a mesma ordem (O senhor acredita em alguma influencia do governo dentro da educação física no ensino das aulas no ginásio?) Não, se você for pensar nisso que eu já falei pra você, você tem que dar mérito ao governo, da revolução porque eles fizeram com que os leigos na maioria leigos, e professor, nós que éramos professores fomos dar aula pra eles professor dos estados que não tinha, pra depois eles puderam dar aula, então nesse ponto eu acho que foi bem aceito, e boa prosseguidade, apesar que isso aí durou uns 4, 5 anos porque, de 70 abriu as escolas pro Brasil inteiro, todas, não só educação física que foi aberta pra todas, as escolas superiores foram abertas, que é aquilo que falei pra você Jarbas Passarinho em 1970 foi ministro então ele abriu a porta, era como a gente falava na época, importante, é quantidade não qualidade (Da quantidade tirar a qualidade?) É, quantidade, o que era quantidade, antes quantidade, depois qualidade, então depois abriu pra tudo, abriu escolar superiores, você pode ver que as escolas de educação física e foram todas as profissões tanto é que até hoje mudamos, no tempo que hoje tem as escolas que tentam fechar, lá na época eles também não deixavam depois procuram, agora que ta voltando.respondi direito? Só aqui em Bauru educação física tem três aquela época tinha três no estado e agora tem varias.

Page 149: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Identificação Nome, Idade e Gênero

Paulo10, 66 anos, masculino.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

64 a 67

Principal motivação para cursar Educação Física

Ah eu gostava de esportes, eu gostava de nadar no rio, de andar a cavalo, e sempre gostei de atividade física e esportes, moto, desde dos 14 anos que eu tenho moto

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Eu fiz magistério, fiz contabilidade e um pouco de eletrônica

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Em 70 na escola de educação física de São Carlos

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

32 anos.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

10 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 150: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Só na escola ou de modo geral? (de modo geral) é, é como sempre eu falo, tem a parte boa e a parte boa e parte ruim, o governo militar tinha uma intenção de dividir o Brasil, setorial o Brasil em partes de zona pecuária, de agrícola, de extrativista de minérios e quem investisse dentro dessas áreas tinha um financiamento mais barato então era um plano muito bonito e por exemplo a zona do Goiás, Tocantins Mato Grosso do Sul seria pecuária e eles iam fazer frigoríficos, bacia hidrográfica, usar navegação dos rios madeira, pra descer com carne pra ir pra Europa, mais tudo isso acabou um projeto bonito mas muito caro,o Brasil era fazenda muito grande com fazendeiro pobre então eles não conseguiram tirar isso do papel e acabaram até afundando muitas indústrias nacionais que acreditaram naquele milagre brasileiro da época e investiram dividas em cuidar e depois quando tavam começando a produzir cada um seus bens né o pais já não consumia mais nada, o Guaçu mesmo que quebrou cerâmica por causa do milagre brasileiro então eles tinham boa intenção eu acho, mas o negocio deles era mais pra quartel e não pra finanças aí, que não deu certo a parte boa é que, a parte ruim é que perseguição, política, mordaça, isso ai era desagradável (O senhor chegou a sentir algum modo de perseguição?) Na escola não podia se manifestar muito contra o governo militar tinha às vezes, saia aquele boato que tinha gente a paisana sondando investigando o pessoal que era contra né,mas o pessoal que era contra era radical as esquerdas, como o governo militar foi radical de direita, aquele pessoal que era contra era muito radical de esquerda,eram bem comunistas, então o ideal é que tem hoje, quase uma social democracia né eu acho bom o que ta hoje aí.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

È achava bonito, bom e concordava com esse ideal de patriotismo de querer investir, querer fazer um Brasil grande, setorial como eu acabei de falar, mas eu não concordava com a mordaça, com as perseguições que houveram, inclusive a nossa presidente foi perseguida, mas ela era radical, ela era bem radical.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

A aula a gente tinha bastante, no governo militar, a gente tinha bastante liberdade pra trabalhar, eu particularmente ministrava assim mais aulas com método Frances, sueco que tava em moda e depois no final dava um joguinho lá uma semana cada modalidade era por aí no inicio do ano fazia aulas teóricas higiene e saúde, alimentação, porque isso é muito importante, antigamente a rapaziada, criançada não tinha muita noção dessas coisas e isso ajudava bastante, então as aulas no inicio eu fazia bastante aula teórica ate que se realizassem os exames médicos, porque demorava e sem exame medico eu não fazia aula pratica, eu tinha medo de provocar algum acidente, algum aluno com cardiopatia, problema renal e a gente era responsável, sem exame medico a responsabilidade recai ainda sobre o professor até hoje, (Então o senhor aguardava o exame pra depois começar as aulas praticas?)é, enquanto não fazia o exame medico eu dava aula teórica sobre essas coisas, (Métodos mais utilizados era, Francês e o Sueco então?) Também tinha na época o desportivo generalizado.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Page 151: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Então, durante, ou depois do golpe (Depois mesmo) então antes do governo militar, eu não sei por que eu não trabalhei, eu só trabalhei durante e depois, eu não vi vencei antes (Mas o senhor foi aluno nessa época?) A quando era aluno, ( o senhor chegou a sentir diferença no caráter da aula?) Ah, a minha cidade era pequenininha, educação física era ministrada não por professor formado no inicio sabe, depois no ultimo ano, penúltimo ano ai já tinha, professor especializado, mas era praticamente jogo de futebol, e no final e no meio do ano fazia lá uma prova de eficiência física, mas era mais jogo de futebol.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Essa não entendi bem (Se neste caso o governo usava a educação física como uma ferramenta pra alienar, os alunos de educação física ou até os professores através da aula de educação física) Não, era muito liberal, bem liberado, (O professor tinha sua autonomia?) Tinha, muita autonomia, eu nunca senti essa alienação.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Não, não sofreu mudança não, a escola sim, alguma mudança porque aí cantava-se o hino nacional uma vez por semana e o diretor, alguma professor, algum aluno fazia, falava, comentava sobre uma pessoa ilustre, sobre um brasileiro ilustre, Rui Barbosa, Barão do Rio Branco, entendeu, então eu achava bonito isso, estimulava mais, formava mais o patriotismo nos alunos, hoje eu acho que isso aí, nos últimos anos que eu trabalhei, não tinha mais isso, esqueceu, o patriotismo, no governo militar, tava sempre em evidencia isso aí, eu achava bom, pelo menos onde eu trabalhava tinha isso.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Então eu não vi investimento de material esportivo nem quadra, era muito fraco na época, no Luis Martini mesmo eu fiz quadra assim, carpi pra fazer uma segunda quadra, os alunos mesmo carpiam lá na Estiva eu corte dois eucaliptos com os alunos pra fazer um esticar lá uma rede de vôlei num gramado, então não tinha investimento não, mas no professor eu acho que existia mais, porque eles davam cursos gratuitos, bons cursos, de ferias pro professor, eu mesmo fiz um curso Frances, com um professor Frances em Santos tudo grátis (Do que era o curso?). Ginástica de solo tinha outras modalidades também, eu fiz o solo (Não pagava nada?). Não paguei nada, nem alojamento, tudo grátis, tinha bastante coisa, muitas palestras em campinas, com gente boa, com professores argentinos, o governo deu vários cursos bons, até com professores internacionais na época (Quanto aos materiais esportivos?). Isso aí não, investimento na escola não, não tinha material não (Era mais na formação do professor?) Do professor, mas sabe, eu acho que o investimento na escola era função do estado e esses cursos eu acho talvez que era o governo federal (O governo federal?) Eu acredito que era o federal, (Não era o estado que investia?) Eu acho que não, (Por mais que o senhor fosse funcionário do estado, era o governo federal que financiava?)

Page 152: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Eu acredito que sim, não tenho certeza,porque investir tanto num professor, investir bastante no professor e não na escola né.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Era sempre foi, é e acredito que sempre vai ser usado né porque é um gancho bom pro governo se promover né (Tem alguma conquista que o senhor se lembre, que foi mais usado?) Ah todas né,(Olimpíadas?) Ah, todas, toda conquista, do país o governo aproveita e vai ser sempre assim (Ele dava ênfase?) Ele dava e o atual também dá, o Lula deu, não chamou lá a equipe, abraçou todo mundo, ele gosta de sair no cantinho (Sobre a copa de 70 o senhor se lembra?) Ah, 70 ta tão longe né, a tinha aquelas carreatas, aquelas coisas né, isso aí sempre, eu acho que o governo também dever ter aproveitado, todos aproveitam, ninguém perde essa oportunidade, pode ser no municipal, no estadual, federal, todo mundo aproveita, todo político aproveita, o político não perde.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Não, não tinha cartilha nenhuma, a gente fazia o próprio currículo, o projeto anual e depois de feito o projeto aí a gente tinha que segui-lo, mas construção do projeto mesmo era por conta do professor e quando tinha um coordenador pedagógico ele ficava junto pra trocar idéia e a gente tinha que submeter ao parecer dele (Mas o governo não fornecia nenhuma apostila, nenhum livro, pro professor utilizar nas aulas?). Quando a escola tinha coordenador pedagógico, como o caso da escola agrícola aí tinha uma orientação, mas assim bem vaga, sabe, a gente tinha um leque de opções, eu nunca senti problema nenhum pra fazer currículo por pressão de alguma apostila, (E nesse caso da Escola Agrícola, esse guia que o senhor mencionou era muito específico pra educação física ou de modo geral?) Era mais específico pras outras disciplinas, pra educação física assim era uma coisa muito irrisória, superficial, muito superficial.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

È sempre eu fiz, alias, sempre fiz competições esportivas entre as salas, e geralmente eu gostava de ginástica de solo, então eu dava mais preferência, a gente dá preferência pro que a gente gosta mais né, como é o caso do professor Barreto que é o atletismo, eu gostava de solo, mais tinha o vôlei o basquete, o salão, o salão porque os alunos gostavam de futebol e tinha o interclasses e às vezes com essa gincana que eu já tinha até comentado com você de arrecadação de víveres pra distribuir pra instituições de caridade por que a gente tava fazendo um trabalho social, o aluno, a classe vencedora, levava esse bem arrecadado, pro asilo, eles levavam, eles faziam a entrega pra que eles sentissem que a necessidade, existe a velhice, o desamparado, pra formar, uma formação integral pro aluno, mas não era toda escola que eu conseguia fazer isso, tinha diretores que bloqueavam você, por que o aluno tinha que sair pra rua pedir as

Page 153: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

coisas, problema de transito, a cidade era pequena, mais, existia esse problema de transito e tinha diretor que tinha medo então ficava só dentro da escola mesmo (Mas com a competição mesmo o diretor chegava a criar algum empecilho?). Não, não, eu nunca tive empecilho de diretor nenhum, sempre me estimularam a fazer, sempre, (O senhor comentou que atuou em escolas publicas e particulares, havia alguma diferença nas modalidades de uma escola pra outra?) Então na escola particular, a gente não depende de delegacia de ensino, de supervisor, eles tem que seguir alguns, talvez a cartilha lá deles, na escola particular a gente conversava com o diretor e fazia então era mais fácil porque, o chefe tava perto, agora quando a delegacia de ensino ela tem que pedir lá pro superior então demora muito, como na escola agrícola uma vez, foi plantar e não tinha bateria pro trator e até fazer papelada pra pedir bateria e esse negocio começar a andar, São Paulo sei lá, a secretaria e voltar quando voltou a autorização pra comprar a bateria, já tava na época da colheita, não época do plantio, então essa coisas, na escola particular a coisa é pratica, é fácil, é muito mais, o diretor aprovou você apresenta pra ele o projeto e boa, muito mais fácil.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Então geralmente nas escolas que eu trabalhei, eu criava uma turma de treinamento, duas ou três, dependendo do número de aulas, você era liberado pra uma, duas ou três turmas de treinamento, e eu usava mais vôlei e basquete porque era mais divulgado, e a gente tinha quadra pra isso e também teve uma época aí no governo do Carlos Nelson, quando prefeito,eu fiz um acordo com o departamento de esportes e eu mandava um aluno que se destacava em vôlei, outro em basquete pra aulas de basquete, aulas de vôlei da prefeitura com professores especializados e outros professores fizeram isso e esse alunos então eles iriam ser os futuros atletas do município e deu resultado como havia comentado com você o Luis Martini foi campeão de basquete em 83 e vice de vôlei também em 83, campeão paulista, duas modalidades no mesmo ano, uma escola de uma cidadezinha do tamanho do guaçu naquela época contra as escolas de Suzano, (O senhor aproveitava o horário da aula do senhor ou o senhor criava um horário diferente) Então, eram três aulas, duas aulas eles faziam comigo, aula normal e uma aula eles iam responder chamada lá na prefeitura com o professor especifico da área deles, então aí no final do ano, do mês, o professor mandava as faltas deles pra mim, eu computava na minha caderneta, ou seja, eu emprestava o aluno durante uma aula por semana pro departamento da prefeitura trabalhar com ele na modalidade que ele gostava e que ele tinha aptidão, porque aí você juntando um de cada escola, dois de cada escola, você vai ter uma elite pro vôlei, uma elite pra basquete, enfim qualquer modalidade e isso aí é muito bom devia continuar, eu acho que isso muito bom pra cidade e por país também por que o aluno vai trabalhar numa área que ele gosta e que ele tem aptidão, não adianta você ter um cara bom de basquete e jogando bola com futebol, é bom deveria continuar.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Page 154: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

É na minha escola eu acho que prevaleceu mais a aula pratica, (Mais era a pratica esportiva o senhor fala?) Pratica esportiva e depois a biológicas também era puxada e eu acho que essas duas, a pedagógica, depois em terceiro eu poderia por pedagógica, mas caracterizava mais por aula prática, então eu acho que hoje você tem muito mais conhecimento assim de biologia, fisiologia, anatomia que nós na época, eu acredito que sim, que eu vejo o que vocês estudam hoje é muito mais aprofundado nessa parte do que a nossa,tem bem mais que tive, muito mais (Mas na época era muita prática?/ Bastante (Mas nas modalidades esportivas?) É.

Quanto às disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Era bem mais conteúdo pratico, tinha um pouquinho só teoria pra fazer lá uma prova escrita, inclusive o peso maior era na pratica e eu acho que isso não era certo, eu acho que você ter o conhecimento tecnico da disciplina é melhor do que ter a pratica (E como o professor ensinava?) A ele levava na sala de aula, tinha temporada de aula teórica e de praticas,mas a temporada de pratica era bem maior, eu acho que devia ter mais temporada de teórica, não, na época, hoje eu acho que deve ter meio, ou ate um pouco mais de teórica, mas antes bem mais a pratica (E na pratica tinha que executar o movimento?) Tinha, tinha, (E quanto à avaliação tinha a necessidade da execução do movimento?) Agora quando um aluno era um expoente em atletismo, que é antagônico a natação então ai professor mandava pegar uma moedinha no fundo da piscina e boa já mandava ele tirar nota pra passar, como é o caso daquele corredor, o Jaques do arremesso de peso, dardo, o Nelson Prudêncio, eles não conseguiam nadar, porque totalmente, musculatura dele totalmente...o atletismo é antagônico a natação né, (O senhor fez graduação com o professor Nelson Prudêncio?) Não na mesma classe, mas na mesma época,tinha o Jose Carlos Jaques do arremesso de peso, eles não nadavam nada, não têm como nadar bem, se nadar bem não arremessa nada né mas eles tinham essa abertura, pegavam a moeda e boa.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Não entendi (Se as disciplinas, discutiam a relação da educação física na escola, se aulas de algum modo exemplificavam sobre a educação física dentro da escola, havia esse tipo de discussão?)Não, não tinha isso não, eu não tive isso não(A matéria era voltada pro ensino de um modo geral mesmo?)É, é,(Por mais que fosse pra formar professores não havia essa ênfase?)Parte pedagógica, da escola, é tinha a parte de pedagogia do adolescente, da infância, mais assim bem superficial, parte teórica era muito superficial, era mais no geral.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Não era bem liberal viu, a minha escola era bem liberal, só tinha um professor que exigia muita hierarquia, mas um só, mas a gente não pode generalizar, tinha que estar com o cabelo bem cortadinho, não podia ter pinguinho de barba, o tênis tinha que estar bem amarradinho, parecia mesmo coisa de exercito (Qual era esta matéria este professor ministrava?) Educação física geral, ele era bem militar sabe,ele era até meio

Page 155: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

sabe, lá na época a gente não gostava dele, qualquer coisinha ele mandava a gente pra fora da aula, mas depois ,durante o trabalho, já dando aula na escola, ele assim me influenciou muito, eu acho que foi bom ele fazer o que ele fazia, eu passei um pouco disso pros alunos que eu acho que isso aí ajuda a dar um andamento melhor na aula, funcionar mais (Mas era só ele então?) Só ele, o resto era bem liberal, mas muita liberalidade pra criança eu não sei se é bom não, um pouquinho de rédea curta pra criança vai bem,(Mas e na faculdade, o que o senhor acha?) Ah na faculdade não por isso que a gente rebelava, porque na faculdade você já esta formado né, agora com criança eu acho que se liberar muito ela não tem muita noção de responsabilidade do que é certo e errado então eu acho que precisa um pouquinho de corda curta sim, de rédea curta, sei lá eu penso assim , mas tem gente que já pensa ao contrario, eu tive uma diretora que pensava ao contrario, tem que respeitar a opinião dela né, ela podia ate estar certa né, não sei.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

A era mais pra fazer mesmo, mais pra fazer, tinha sim o conteúdo teórico, mas era mais a pratica, era o aprender fazendo, assim tinha também a parte teórica, mas vamos dizer, era trinta por cento aprender fazendo e trinta, quarenta por cento teórico.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Com colega um pouco, com professor não, a gente tinha medo de ter algum delator, então entre os colegas a gente conversava, mas com professor, na hierarquia com superiores assim não, porque a gente tinha medo existia uma mordaça.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Então tinha parte boa e parte ruim né, a parte boa é que o professor tinha mais força na época, ele impunha mais, tinha mais regra né e agente conseguia assim um trabalho mais, um empenho mais dos alunos, a parte ruim era que não podia comentar sobre o governo, você não podia opinar, você não podia aparecer, o que achava dos procedimentos do governo, que hoje a gente tem total liberdade pra falar, fazer uma caricatura, antes não podia né então, hoje na escola os alunos fazem caricatura do professor, do governo e tem liberdade pra isso antes não tinha, se um aluno fizesse isso, a coisa ficava feia pro lado dele (Um período negro o senhor diria?). Não, um período diferente, porque eu acho que em qualquer sistema de governo é bom desde que o homem esteja imbuído de boas intenções e nenhum sistema de governo vai ser bom se o homem não tiver boa intenção, o reinado é bom, o ditador é bom, a democracia é boa, desde que a pessoa que ta lá em cima tenha boa intenção e todos os demais, o povo tenha boa intenção, qualquer regime vai bem desde que o povo e o governo seja bem intencionados, qualquer regime é bom, o contrario também é valido.

Page 156: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Identificação Nome, Idade e Gênero

Lílian11, 63 anos, feminino

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Então eu estudei terminei o ensino médio em 1967, eu fiz magistério em São Joaquim da Barra, aí eu fui pra Bauru pra fazer Educação Física.

Principal motivação para cursar Educação Física

Eu sempre gostei de esportes, eu tive uma professora, de educação física em São Joaquim da Barra, a Judite, e a Ju era assim muito, incentivava muito a gente, olhar a educação física de uma forma diferente, e tive excelentes professores em São Joaquim da Barra e eu acho que eles que motivaram muito a gente dar continuidade aquilo que a gente sentia no coração então gente não ia fazer curso na época porque dava dinheiro, curso que dava dinheiro era Medicina, Odontologia então todo mundo queria ser médico e doutor, nós não, a nossa turma de São Joaquim, nós éramos mais idealistas então eu fui fazer educação física porque a educação física me batia no coração eu tinha certeza que através da educação física eu ia poder contribuir muito pra sociedade então muito incentivada pela Ju, pela Judite foi que eu fui pra Bauru fazer o curso e não me arrependi.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Não, não fiz não, eu fiz outras coisas depois que eu me aposentei aí sim ai fui fazer curso de massagem, massagem aiurvédica, curso de teatro, partir pra outros ramos, mas eu acho que tudo ta ligado a primeira coisa, a primeira raiz que foi a educação física porque eu não mexeria com o corpo humano se eu não tivesse a base que eu tive, acho que é tudo uma continuidade na vida da gente.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Eu estudei em Bauru na Instituição Toledo de Ensino na Ite, terminamos em 1970

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Vinte seis anos.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLARAvalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Posso avaliar o regime militar pra educação, no meu ponto de vista, significou o maior atrasado que nós tivemos na historia deste país, nunca na historia deste país nos tivemos um atraso maior em termo de educação quanto na época do regime militar (Um retrocesso?). Foi, estagnou mesmo houve uma estagnação, então todo aquele

11 O nome da professora foi alterado por questões éticas.

Page 157: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

entusiasmo de quando eu fui pra faculdade motivada, quando chegou na faculdade que já estava na época da Ditadura Militar eu comecei a perceber que não era bem assim do jeito que eu sonhava, porque, porque os professores não podiam passar aquilo que eles pensavam na época a maior inimiga da Ditadura Militar, eram as idéias, ai idéia era muito mais perigosa do que uma arma, e até hoje é a idéia é muito perigosa e se a gente pensasse diferente éramos podados, nos éramos presos, quem sabe mortos, então é época da Ditadura Militar pra mim representou a estagnação da educação, mesmo assim, mesmo assim e com nosso coração brasileiro a gente conseguiu vencer todas as nossas dificuldades, os nossos professores da faculdade na época eram maravilhosos, maravilhosos, então o que eles passaram, não puderam passar em termos ideológicos, eles passaram em termos técnicos que pra nós foi muito importante aprender a parte mais técnica, mesmo assim, mesmo assim, nas entrelinhas, passava-se a ideologia sim, segundo ano de faculdade, por exemplo, eu me lembro à faculdade Toledo de Ensino, era uma faculdade Pioneira no Brasil, era uma das melhores faculdades na época era a ITE e no segundo ano eles fizeram o seguinte, fundaram escolinhas infantis dentro da faculdade então as crianças de bauru, da periferia, as crianças que não tinham condição de pagar uma academia, um clube iam pra faculdade e lá eles tinham aula de natação, atletismo, vôlei, basquete, dentro da faculdade e recreação e ginástica olímpica que a gente chamava de cirquinho, eles tinham essas aulas, quem ministrava aula pra criança éramos nós os alunos em troca da gente ministrar aulas pra crianças, nos tínhamos metade da bolsa (Era uma espécie de projeto de extensão na faculdade?) Exatamente, naquela época, era pioneiro, aquela época não tinha nada, então eu acho que a Instituição Toledo de Ensino foi muito importante pra nos nesse sentido quando ofereceu pra nos essa oportunidade de aprender trabalhar com os pequenininhos, eu trabalhei nesse projeto, trabalhei, eu dei aula de natação, na época do verão, dei atletismo na época do inverno, pros pequenininhos, foi muito, muito bom, ai eu ganhei meia bolsa de estudos, então por isso eu acho que em termo de educação, pra época e mesmo dentro do regime militar a ITE foi um desafio, acho que ela desafiou muito o regime militar ali, quando ela começou a passar suas idéias de social idade, sociabilidade, de socialização do conhecimento das coisas, mesmo a Instituição, foi bem bacana, porque as pessoas não percebiam , são poucas as pessoas que percebiam a intenção da instituição e como nada podia ser dito claro então é lógico que as pessoas que perceberam foram poucas.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Modo de governar o país?(De modo geral), pois é né eu discordava totalmente daquele modo de governar da época e discordo até hoje eu acho que qualquer ditadura massacra qualquer tipo de ditadura não é valida, ela massacra, então ela massifica ela atrasa o ensino, ela atrasa a suade ela atrasa o país inteiro então eu não concordo com o modo de governar do regime militar.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Será que eu vou lembrar (A senhora pode falar como a senhora dava aula, se utilizava algum método especifico) Então a gente aprendia os métodos da educação física né na faculdade, mas a gente fazia uma “misturebinha” né, método que você ta falando é o calisténico(Também) eu nunca usei método calistênico, achei horroroso aquilo é muito militar, é muito duro, é muito alemão, então eu não gostava daquilo não, eu gostava

Page 158: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

mais do método sueco, que era uma coisa mais balanceada e tal ( E a senhora utilizava na escola?)Utilizava (Tinha mais alguma pratica, o que a senhora dava?) Dentro da escola que eu dei aula em escola do estado, a gente tinha que dar de tudo um pouco então eu dava voleibol, então você usava o que você podia na parte de aquecimento, na parte de preparo físico, então eu dava mais métodos mais balanceados, eu até que gostei eu dei muito vôlei, basquete, handebol, é cirquinho, eu tinha uma equipe de cirquinho muito linda, e a gente não podia chamar ginástica olímpica, primeiro porque não tinha aparelhagem adequada, eram aqueles colchões verdes, que tinham de algodão, pesado, que tinham uns buracos, duro, colchão horroroso ,mas é aquele mesmo que a gente tinha e tínhamos muito pouco material, então como você ia falar que ia por uma equipe de ginástica olímpica, mas era dentro da ginástica olímpica, fazíamos o nosso cirquinho e deu muito bem, dei muita parte de dança, recreação essa parte eu dei muito, usei muito, muito,a parte recreativa, de recreação eu usei muito, atletismo, a gente deu tudo, tudo o que eu aprendi na faculdade eu dei pros alunos nas escolas.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

A educação física na época da ditadura, o regime militar tentou usar a educação física como forma de massificar, de alienar, então você vai pro esporte que você fica alienado, usou muito o esporte, pra desviar a atenção do povo pra questão política, então quando ofereceu o futebol fascínio sabe então vamo lá ser campeão, né, isso tudo era pra desviar atenção da questão política que tava acontecendo, do golpe na época, então quando incentivou, eu lembro que na época incentivou muito foi o futebol, (Na época do golpe de 64?) do golpe, do regime, logo após, durante o regime o que foi incentivado não foi o futebol, (Dentro da escola?) De todas as escolas, é, foi a instrução que você recebia, a ordem que você recebia era pra puxar, o tanto que você pudesse dos alunos pro esporte, no sentido de eles não pensarem em outra coisa, ledo engano, eles se enganaram muito, porque era através do esporte que você sociabilizava que você mostrava o outro lado da vida, porque o esporte te mostra tudo, através do jogo você aprende tudo, relacionamento, você tem que aprender relacionamento, disciplina, nunca fomos contra a disciplina, muito pelo contrario, a disciplina foi muito importante pro seu humano, não aquela disciplina rígida sem nenhum joguinho de cintura, não é essa que eu to falando, eu to falando da disciplina no sentido de você se conscientizar dos seus deveres né, dos seus valores, dos seus deveres, é nesse sentido, a educação física é a que mais contribui pra isso então eles se enganaram eu acho, se tentaram fazer que através do esporte a população pudesse ficar do lado quem nem fez i Hitler, aí eles se enganaram, porque não foi bem assim que aconteceu não. (Mas a senhora viu alguma mudança depois do golpe na educação física escolar?) Teve mudança, teve, (Que tipo de mudança, a senhora sabe dizer?) Depois do golpe teve mudança sim, porque você tinha que formar alunos pra ser atletas e atletas assim, perfeitos, vamos dizer, (A senhora enquanto aluna, na época de 64 sentiu isso?) Senti isso, 64 não, mas acho que um pouco mais, mais em 68 foi depois do Ato Institucional número cinco, depois do AI-5, que coisa ficou mais rígida e na escola, por exemplo, os professores que davam educação física na época nas escolas, nossa, sofreram muito, porque não podiam abrir a boca, você tinha que seguir aquela orientação dada pelo MEC.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Page 159: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Acho que eu já falei um pouquinho isso, isso houve sim, houve sim, houve uma tentativa de através da educação física fazer alienação dos alunos (E quanto aos professores?) dos professores assim, o que eu vejo na época a maioria da nossa população teve muito medo, muito medo e não foi pouco medo não, e eles se deixaram, muitos professores, a maioria deles, se deixaram dominar por esse medo, então contribuíram sim pra alienação, porque alienação é acontecesse, mas não foram todos os professores que se atemorizaram, teve muito professor corajoso, que eu acho que ousou, e ousando foi que não a Ditadura Militar não conseguiu passar o que eles queriam, foi pela ousadia de muitos mestres, muitos mestres, esses eu considero mestre, muitos são professores, mais alguns são mestres, esses eram mestres.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Sim, eu acredito que sim, sofreu mudanças, houveram muitas mudanças, acho que aconteceram atrasos muitos grande, muito grande, na própria educação física (A senhora pode citar algum exemplo?) olha na época do regime militar, você tem noção que as escolas não recebiam material pra você trabalhar, (ah não?) Não, pra você ter um jogo de camisas você tinha que fazer uma vaquinha entre os alunos pra comprar seu jogo de camisa, pra você ter uma bola, você tinha que fazer vaquinha pra ter a bola, então nós professores da época, éramos chamados de pedintes “Ó vem o professor de educação física pedinte de novo” porque a gente não tínhamos recursos, nós não tínhamos como fazer, a gente não tinha bola, to te falando de colchão, pra educação física, material de ginástica olímpica magina, não tinha, tinha umas coisas velhas lá, uns trecos tudo acabado lá, plinto, caixote tudo quebrando, é trampolim tudo quebrado e eles não mandavam, nós não recebíamos material, (Nem do estado nem do governo federal?) Não, não, eu dei aula no estado de São Paulo, não recebíamos material, tanto que na escola eu trabalhava muito com sucata, bola de meia, ainda bem que eu aprendi, eu tive uma escola muito boa, a minha faculdade foi muito boa, me ensinou tudo essa parte de material reciclável nos aprendemos naquela época, por isso que eu digo que ITE foi uma pioneira nesse país ela tinha visão alem do que as outras tinham e a gente aprendeu muito a utilizar material de sucata é bola de meia, peteca, a gente fabricava peteca, nos fazíamos petequinha, então eu usei muito, eu usei muito material com garrafa pet essas coisas, até que meu apelido uma vez na escola quando eu dava aula era ‘Rainha da Sucata’ aí que tristeza, porque passava rainha da sucata me botaram o apelido, porque nós não recebíamos materiais, não recebíamos, (O governo influenciava de alguma outra forma?) Influenciava, era a metodologia de ensino né você não podia, por exemplo, conversar nada sobre a política do país o que tava se passando no país, não podia comentar com os alunos, professor de boca fechada, ele tinha que passar só conhecimento técnico, a parte mais histórica foram poucos os que ousaram, e ousamos viu meu filho, ousamos, a gente era ousadíssimo por isso, e foi bom porque a gente ousou só por isso eu acho que o país deu esse avanço que deu e nos estamos vivendo essa época que nos estamos vivendo agora de abertura política porque muitos ousaram.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Page 160: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Na época da Ditadura você ta falando? Foi terrível, não tinha nada disso, não tinha, eu não me lembro de me oferecem curso nenhum, depois que eu me formei eu fui fazer curso de especialização de voleibol em santo Andre com o professor Moreno que era um jogador de voleibol da seleção brasileira, eu tive que bancar o meu custo, magina, eles não ofereceram nada, nos não tivemos nenhum tipo, eu não me lembro de ter tido (E quanto às quadras? eles cobriram as quadras?) Não,não tinha nenhuma quadra coberta, eram raríssimas as quadras cobertas,não tinha nada, as escolas estavam bem acabadinhas mesmo,mais acabadinhas ainda, eram raras as quadras cobertas, quadras cobertas eram em escola particular é quando a gente fazia jogos interescolares a gente tinha, por exemplo , eu tava em São Paulo na época, a gente tinha que ir lá pro Ibirapuera, tinha que ir pro quadra do água branca parece, pra lá que a gente ia levar os alunos, porque escola do estado,escola estadual, nenhuma tinha quadra coberta, raras. Não houve investimento na educação, não houve investimento em coisa nenhuma, material esportivo nada.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

Ò não me lembro disso também não, eu me lembro que na época a única coisa que era incentivada era o futebol, (E a Copa de 70, a senhora lembra?) É era o futebol porque a parte mais das outras modalidades, tipo, basquete, vôlei era muito pouco, muito pouco incentivo que recebia, inclusive tinha uma briga grande aí do pessoal do vôlei, basquete, ginástica olímpica então nem se falava, que não tinha a menor importância então houve uma briga mesmo entre os jogadores né, brasileiros e eles que eu acho que enfrentaram muito essa briga sabe, nessa briga do governo dar incentivo e pra vôlei e basquete também, eu to dizendo vôlei e basquete, veja bem que as outras modalidades nem tão entrando, (Handebol, Atletismo?) Não, nem tão entrando, atletismo, sempre teve um pouco de incentivo porque não se gastava muito dinheiro com atletismo, as fitas eram aquelas aproveitadas né em torno do campo de futebol, por isso que tem a pista em torno do campo de futebol, é porque incentivava o futebol então atletismo aproveitava esse espaço, aproveitava espaço (A senhora acredita se o governo chegou a usar isso pra propaganda própria?) Ah sim, o governo brasileiro usou muito o futebol pra aparecer em campo mundial, em nível mundial como o bom governo, mas nós sabíamos que não era bem assim (A senhora se lembra de mais algum exemplo além da copa?) Não me lembro muito não mais.teve outra coisa? (O João do Pulo) O João do pulo, João do pulo, foi o incentivo do atletismo. ( Teve também o Nelson Prudêncio)è mais, sabe não era uma coisa tão assim, é porque eles atletas mesmo, sabe, eu acredito que foi isso mesmo, eles eram, eles que...foi esforço próprio,não foi tanto, não receberam nem uma ajudinha financeira de governo, se receberam foi muito pouco, foi esforço deles mesmo, eram atletas exemplares.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia” para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Existia sim, existia o tal do verdão, o tal do verdão, mas eu não me lembro bem mais, do conteúdo do verdão, mas você tinha que acompanhar aquele guia mesmo, era uma espécie de um guia, (Ele era especifico só pra educação física ou pra outras disciplinas também?) Não, abrangia todas as matérias (Mas tinha uma pra cada e tinha um pra casa disciplina ou era um texto pra todas?) Não tinha pra cada disciplina, tinha sim, é

Page 161: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

que olha,até pouco tempo eu tinha o verdão mas joguei ele fora, se tivesse era um material e tanto pra você, eu o guardava como uma coisa histórica (Mas então existia essa cartilha?) existia, (Tinha mais alguma?) Eu não me lembro mais, eu lembro que material de educação física era tão difícil, tão difícil de adquirir que nos comprávamos material,joguei tudo fora, comprava livro na argentina, vinha os livros em espanhol pra você ter algo, porque nós não tínhamos muito material aqui dentro não,(E pra traduzir o livro?) A gente tinha um pouquinho de conhecimento de espanhol, na época que eu estudei ginásio e magistério, nos tínhamos aula de espanhol e inglês e,Frances, e latim, então nós tínhamos aula na escola obrigatória, então a gente sabia um pouquinho , então foi onde ajudou.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Então eu sempre fiz torneio interclasse, sempre fiz, eu que organizava, aliás, eu parava a escola né, época do torneio parava a escola e todo mundo ia assistir jogo, ficavam lá assistindo jogo e também eu parava a escola numa outra ocasião que não era só assim vôlei, basquete, handebol eu parava a escola porque eu fazia festival da dança uma vez por ano, eu aproveitava o mês de abril que é o dia do índio dia 19 e fazia festival da dança indígena, todos tinham que fazer uma dança indígena, que dança indígena era essa, não interessa, era aquilo que a criança tinha, ou que a o adolescente tinha que dele imaginava que fosse uma dança indígena, então aproveitávamos musicas e fazíamos o festival da dança indígena e eu tenho fotos dos meninos ainda aí na dança indígena, então parava a escola e era assim, e era assim disputava classe contra classe na dança, e a classe campeã ganhava um dia no clube, passávamos um dia no clube que tinha piscina, era o premio, não é legal?(Mas competições esportivas fazia-se também?) Fazia, fazia basquete, vôlei, handebol, futebol também, mas como eu não dava aula pros meninos de futebol, era, era dividido, era turma feminina, turma masculina, depois que misturou turma mista, mais aí eu dava aula pras meninas e tinha o professor que dava aula pros meninos, foi só depois que teve turma mista, no começo era separado, então o professor cuidava do torneio de futebol sim, a gente fazia torneio de futebol, futebol de salão (Então eram as modalidades mais clássicas, vôlei, basquete... atletismo chegava a ter?) Difícil, porque dentro das escolas estaduais você não tinha como fazer por exemplo uma caixa de areia, não tinha, não fazíamos caixa de areia, não tinha como dar salto em altura, não tinha, não tinha material, não tinha incentivo, a escola não tinha dinheiro pra fazer, o governo não mandava nada, então a parte de atletismo ficou muito prejudicada nessa época, hoje eu não sei como que é mas ficou muito prejudicado, eu gostava muito de salto em altura, mas não tinha como fazer, não tinha, porque pra cair em cima daqueles colchões verdes se arrebentava o aluno, você levava um ali facinho,então dava muito medo, então a gente acabava não incentivando, fazia mais o apostar corrida, é o apostar corrida, a gente fazia, “vamos apostar corrida?” Mas como forma recreativa, agora pegar, o atletismo e fazer uma coisa certa, nós não tínhamos muito recurso.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Tinha, tinha, eu inclusive pegava muito turma de treinamento, eu fazia, é eu tinha turma de treinamento de voleibol, mas tinha vôlei, basquete, e futebol de salão, eram essas três modalidades, na época, eu mesmo peguei no fim eu peguei até turma de

Page 162: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

futebol porque é, sei lá, os meninos gostavam muito de mim e pediam “pega nossa turma de futebol” gente eu não sei nada de futebol, que nós não sabíamos na época da faculdade nós não aprendemos futebol, não era passado pra turma feminina conhecimento de futebol, então nos ficamos defasados nisso, eu fui aprender um pouquinho de regra de futebol, um pouquinho de treinamento com os alunos, o que foi ótimo, muito bom, é foi muito bom aí eu cheguei a ter uma turma de treinamento de futebol de salão, mas era mais, vôlei e basquete mesmo.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Então tinha tudo isso, a parte pratica é as aulas eram mais intensas, tinham mais aulas, pratica de esporte, que nem vôlei basquete, ginástica olímpica, balé né, nós tínhamos aula de dança e balé, tinha natação e o atletismo, essas modalidades era e a esgrima, nossa to esquecendo, que mais que tinha, esgrima né era isso, (Lutas tinha?) Não, pras meninas não e a parte teórica, que a gente chamava de parte teórica, a parte de biologia foi bem puxada, a parte de biologia foi puxado, e era assim considerado até o primeiro nível da medicina, de tão avançado que era ali você tinha que aprender mesmo, então tinha cinesiologia, tinha fisioterapia, aula de massagem, nos tínhamos massagem, tinha bastante coisa e outra parte tinha também psicologia, é.. sociologia, e se não me engano sociologia também, ixxi, eu não lembro mais, ( E a parte pedagógica, tinha também?) Tinha também, tinha de pedagogia, tinha parte de pedagogia, que era bem puxada também(Mas o que predominava entre essas matérias?) Mais a parte de biológicas,(Mas do que as práticas então?)Não a prática predominava, eu entendi que fosse dentre as matérias teóricas, a mais , que a gente mais aprofundou foi na parte biológica, e psicológica também viu, psicologia bem puxadinho, estudamos muito o Freud, e não ficou só no Freud não, avançamos um pouco mais, fomos até o Jung, na época, o Jung era avançadíssimo, então a gente, nos tivemos, a nossa parte acadêmica foi bem boa mesmo, é acho que é isso, não lembro mais muito também.

Quanto às disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Existia a parte pratica e teórica (Mas o que era maior?) Era mais a pratica, mais a prática (E como era o ensino da disciplina?) Ah...(Tinha que executar?) Tinha que executar, era passado pra nós toda a técnica e você tinha que executar e você tinham nota pela sua execução, quem não conseguia executar não tinha nota, pronto,não era hábil, não adiantava cair na piscina e não saber nadar, tinha que saber nadar e tinha saber nadar os estilos, o professor Loyl foi um excelente professor de natação, por exemplo, o atletismo você tinha que saber fazer a corrida de barreira, se você caísse, se você se ‘estrumbicasse’, problema seu, mais você tinha que fazer, tinha, vôlei você tinha saber todos os fundamentos, basquete você tinha que saber todos os fundamentos e a ginástica olímpica você tinha que executar, ainda bem que eu tinha facilidade não me arrebentei tanto, eu até gostei muito , eu gostava muito de ginástica olímpica.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Page 163: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

O que e discutia assim como? (Com os professores, com os alunos..)A importância da educação física ?(Isso, de como ela podia ser dada na escola..) Sim, claro, tinha sim,tinha, discutíamos assim, não só discutíamos, nós tínhamos que dar aula me escolas, sob a supervisão do professor, que nós tínhamos os estágios lá dar aula, a importância da educação física na escola eu sempre soube desde que eu nasci quem não sabia muito eram pessoas que tinham idéias errôneas sobre a educação física, até hoje tem, um preconceito com a educação física que eu nunca vi, e se você perceber que a educação física ela é uma disciplina eu para mim, das mais importantes dentro de uma escola, hoje, por exemplo, eu vejo que se dá mais importância que naquela época, aquela época não se dava muita importância e os nossos professores passavam isso pra gente, nossos professores nos conscientizavam, “olha a disciplina de educação física não é valorizada dentro da escola” (Eles já falavam?) Falavam, nós tínhamos essa consciência,” ela não é valorizada mas cabe a vocês mudar esse conceito” tanto que a gente batalhou, tanto, tanto, tanto, que hoje tem o CREF, naquela época não existia CREF, não existia nada né, educação física era uma matéria de segunda categoria, eu me lembro quando eu dava aula, quando eu comecei a dar aula, teve pai de aluno que veio perguntar pra mim” Escuta professora você ganha a mesma coisa que a professora de português e matemática?” Eu falava: “Como assim, lógico que eu ganho”“ Mas é só educação física” achando um absurdo que a gente ganhasse o mesmo que um professor de matemática ou português, tamanho era o preconceito, então a gente enfrentou muito isso né, nós tínhamos que ser muito bom profissionais pra mostrar o que significa a educação física (Então na faculdade já tinha essa noção?) A faculdade já tinha essa consciência, já passou essa consciência pra nós, que a nossa luta ia ser árdua, conforme foi mesmo .

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Olha, na nossa faculdade é o que eu te disse, era uma faculdade bem avançada, mas essa hierarquização existiu sim, a gente tinha um respeito muito grande pelos professores, o respeito é diferente do sentido de respeito que tem hoje, nós tínhamos realmente respeito pelos mestres, uns eram só professores, mas outros eram mestres e esses mestres nós temos respeito por eles até hoje, eles ficaram no nosso coração até hoje o que eles nos passaram não foi só da parte teórica, da parte acadêmica, mas de ser humano, tivemos um professor chamado Guimarães, o Guima, na faculdade que ele era professor de vôlei e basquete e ele tinha uma clinica de fisioterapia, alunos machucados ele levava pra clinica dele e tratava lá, de graça, de graça isso é um ser humano né e outros professores também, a maioria dos nossos professores eram muito assim então essa hierarquização a gente respeitava essa hierarquia como uma forma até de gratidão por tudo que eles eram pra nós, que representaram pra nós, foi muito amor filho, era muito amor que teve ali, muito amor, pra começar pelo reitor da faculdade, era um senhor muito amoroso, hoje o filho dele é o Reitor na Instituição Toledo de Ensino, uma pessoa muito digna, de uma dignidade assim, essa dignidade eles passaram pra nós, são valores, são valores que passaram pra nós que hoje eu não vejo acontecer nas escolas, trabalhar os valores, então essa hierarquia não era uma hierarquia assim, eles estão lá em cima e nós aqui somos sós, não não era isso, nesse sentido, era hierarquia mas de respeito, né,entendeu?

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Page 164: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Meu Deus do céu, eu não lembro não,... conteúdo abordado nas disciplinas...(É de um modo geral)dentro do que assim? (Nas disciplinas praticas, teóricas, como o professor, quais os conteúdos que ele abordava, o método, a técnica..?) Ah eu acho que era tudo né, método, técnica, tudo né (Tinha a questão histórica?) tinha claro, questão histórica era fundamental, todas as disciplinas você tinha que saber a historia da disciplina que você estava estudando, por exemplo você ia estudar o voleibol, você tinha que saber o histórico do voleibol, onde ele nasceu, onde ele cresceu e onde tava, o futebol todas as disciplinas teve seu histórico, a historia do atletismo é lindíssima, então, a gente estudou tudo isso mesmo, tivemos que abordar tudo isso, e aí métodos de cada coisa, de cada, por exemplo no atletismo, de cada salto, os métodos, as técnicas eram de forma global e olha que a nossa faculdade foi feita em três anos tive que ralar de estudar mesmo meu filho...

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Nem pensar meu bem, nem pensar, não se podia nem conversar, nem falar e nem discutir abertamente, só se fosse escondidinho, era tudo bem escondido mesmo, o medo imperava, eles impuseram um terror sobre nós existia um terror, que se você falasse você ia ser preso, morto, exilado, sumido, desaparecido, então não se falava de Ditadura Militar tava preso, tava, preso, torturado, sumido, morto... você não podia descordar de nada, aparentemente não, mas que no fundo todo mundo discordava...

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Acho que eu já fui falando, fazendo essa avaliação durante a fala, mas eu avalio assim que na época da Ditadura Militar, apesar da ditadura e graças aos mestres que nos tivemos, aprendemos muito, aprendemos muito, então meu bem, desesperar jamais, aprendemos muito e por isso demos continuidade, aquilo, aqueles valores, aqueles conceitos, a todo conteúdo que aqueles mestres nos passaram aí demos continuidade a isso é por isso que a Educação Física chega no patamar que chega e eu fico muito feliz de ver a abrangência da educação física no país, como um todo, muito bom de ver esse monte de atleta despontando, essa molecada toda interessada, e é um entusiasmo muito grande ver tudo isso, pra nós que vivemos a época da ditadura isso pra mim significa vitoria, essa é a vitoria, a ditadura não venceu, não, ela ainda dói, mas ela não venceu.

Identificação Nome, Idade e Gênero

Maria Aparecida12, 60, feminino

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

Ensino médio nos anos 60, colégio Instituto Noviciado do Sagrado Coração em Agudos, regime de internato, formatura foi em 67, curso de formação de professores, o normal, o ginásio que na época, havia a distinção de ginásio, era primeira a quarta série de ginásio eu terminei em Macatuba um ano meio fiz em Macatuba, o inicio foi

12 O nome da professora foi alterado por questões éticas.

Page 165: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

no colégio de freiras também, eu fiz a primeira, a segunda e metade da terceira no colégio interna, depois foi criado o ginásio em Macatuba e o diretor foi pedir pra minha mãe me colocar, me matricular, pra dar número pra formar uma turma de terceira serie, no ginásio, hoje seria a sétima, então na metade de 63 eu voltei pra Macatuba, terminei, fiz meio ano mais a quarta série do ginásio me formei lá, aí eu fui da primeira turma do ginásio de Macatuba, aí eu voltei pra Agudos em 66, 65 pra fazer o magistério, curso normal equivalente ao segundo grau.

Principal motivação para cursar Educação Física

Bom em primeiro lugar foi a forte influencia que eu tive do meu pai, ele era fanático por futebol e foi exímio jogador, exímio futebolista na época dele, na juventude dele e eu acompanhava, mas pra assistir porque jogar mesmo, eu nunca me interessei a jogar futebol, é depois veio a tendência do momento, havia pouquíssimos professores de educação física na época e aí escola de Bauru havia sido aberta recentemente, havia uma forte disposição da minha parte para a prática de atividades físicas, acho que foi uma opção adequada, justa, sem outras alternativas, eu quis fazer educação física e não me interessei por mais nada, hoje eu posso falar pra você, certamente eu tive uma realização pessoal e profissional, ainda continuo dando aula, eu dou aula de alongamento numa igreja aqui, um trabalho que eu faço, voluntário há dez anos, eu tenho doze senhoras que vão lá de segunda e quarta pra fazer alongamento e eu faço também.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Eu fiz pedagogia, quando eu me formei em 70 aí eu fui trabalhar em Avaré, fiz inscrição em várias cidades mas me interessei mais por Avaré aí em 71 comecei a fazer pedagogia, não precisei fazer vestibular, eu já tinha vestibular e faculdade lá não tinha tanta concorrência, então fiz três anos de pedagogia e naquele tempo contava ponto no meu currículo pra atribuição de aula, aumentar, mas quando chegou na metade do curso caiu isso aí, mas como eu tava na metade continuei, terminei a faculdade, depois eu fiz, mas pra frente eu fiz uma especialização que seria orientação, administração escolar pra ser diretora, pra prestar um concurso pra diretora, pra direção de escola, daí eu chegava na escola olhava minha diretora se descabelando, daí olhava pra minha quadra, aí falei “não, a pessoa certa no lugar certo, eu vou me aposentar na quadra” e me aposentei na quadra, eu fiz pedagogia (E a pós né?) Não, não tenho pós, (A senhora não chegou a fazer a pós? Ou a senhora pensou em fazer e nunca chegou a fazer?) Não, nunca pensei em fazer porque não dava tempo, aqui em bauru, (Mas a senhora não falou em administração escolar?) Ah sim, seria uma pós, seria uma especialização, só que me dava direito a ser diretoria de escola, entendeu, pra prestar o concurso de diretor além do curso de pedagogia, você tem que ter essa especialização em administração escolar, (Entendi, era quanto tempo?) Um ano, eu fiz de sexta à noite e sábado de manhã, fiz aqui na USC.

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Eu terminei em 1970 na Ite – Instituição Toledo de Ensino, Bauru e o curso de educação física ele funcionou até 76 senão me engano (76?). É, porque foi assim, quando eu comecei na escola a gente soube pelo outros colegas, pessoal que a gente conversava que no Estado de São Paulo tinha três escolas de educação física, em 70, quando eu me formei tinha 33, entao foi aquele ‘boom’ houve aquela explosão, todo

Page 166: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

lugar tinha escola de educação física né, mas naquela época só Bauru, São Carlos e São Paulo tinham, é pouquíssimas.

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Foram 27 anos de quadra, eu comecei em 71 e me aposentei em 97, janeiro de 97, é, (Uma vida toda né?) Com certeza.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Avalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Então na época eu era adolescente, em 64 eu tinha 14 anos, então a gente não se interessava muito por isso não e eu morava em Macatuba que era um ovo, é um ovo ainda um pouco maior, então lá a gente tinha pouca noticia, não tinha televisão na época, a gente não se interessava por rádio né e estudava no colégio de freiras, era interno, no colégio das irmãs, então a gente tinha pouca noticia, eu lembro assim ó, na época teve quando houve o golpe militar, houve uma eleição pro pessoal decidir entre duas tendências políticas, dois partidos políticos, ARENA e MDB, hoje PMDB, ARENA separou, misturou, eu lembro que eu tava no colégio das irmãs e usava uma mochila jeans pra carregar os livros né, então eu escrevi MDB e desenhei uma pistola do 007 que era na época o sucesso e fazia sucesso, e nós fizemos uma eleição entre nós lá, sem as irmã saberem é claro e deu MDB, mas na realidade quem venceu foi a ARENA né, mas era a única forma, que eu me lembre que a gente participava né, quando entrei na faculdade, não senti muita diferença a não ser no impacto causado pela inflação, chegou a 80 por cento no ano, brincadeira né, os constantes aumentos nos preços de combustível, em 76, noticiaram que cobrariam um compulsório pra comprar gasolina, por exemplo, pra encher o tanque, você tinha que pagar 50 reais mais o valor do tanque cheio, daí você ia ter esse retorno desses 50 reais, não sei quando, eu não tive dúvidas, falei “vou comprar uma bicicleta” minha mãe “Eu vou com você” então tinha uma loja de bicicleta aqui na esquina da 1º de agosto com Araujo Leite, a taiano, era tradicional, acho que era única na época” Mas vou lá na taiano” eu tinha uma brasília branca, parei um pouco antes na frente do super moto que ainda tem hoje, ali no super moto, ali na Araújo Leite, parei o carro lá, fiquei olhando na vitrina as motos, tava saindo era lançamento da 125 cilindradas, “O Cris você não vai ver bicicleta, bicicleta é lá, aí é moto, não ta pensando em comprar moto né” e eu “aí mãe vamos saber o preço só” eu saí de lá com a moto, uma 75 cilindrada, porque a 125 tinha uma lista de espera de 3 meses e como já tinha lá pra pronta entrega, eu falei, “é essa mesmo” e no fim não virou nada de negócio de compulsório, da gasolina, fora outras coisas pra reduzir o consumo do combustível, você tinha que andar a 80 KM/h nas estradas, é, em qualquer estrada 80Km/h, terrível, economizava-se o combustível, reduziu também o numero de acidentes né, mas eu acho que não foi aquela coisa que eles esperavam não, os postos de gasolina no final de semana eu me lembro, eles fechavam nas cidades, somente a doze quilômetros da cidade na estrada que tinha posto de gasolina aberto, sim, então, é a velocidade já falei, foi o que mais marcou pra mim o período da Ditadura, as perseguições também, cantores e compositores eles acharam uma forma de intimidar os processos que faziam a través da música, foi onde surgiram grandes sucessos hoje clássicos da MPB, na época de ouro, isso aí marcou bastante e isso aí influenciou principalmente dos universitários né (Até hoje.). Até hoje, né,” caminhando e cantando e seguindo a canção” foi aí que

Page 167: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

nasceu essa música, quem compôs você sabe? (Geraldo Vandré.) É isso aí, legal, não sei respondeu, é que eu lembrei.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

É eu não concordei com as perseguições a políticos, artistas, jornalistas, ao homem comum, que eles perseguiam mesmo, tanto que eu tive experiência dentro da faculdade, com a Leila tudo, ela deve ter relatado tudo, é nunca concordei com qualquer forma de intimidação através da violência, tanto moral como física, pressão, intimidação, então é isso.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas

Então como estudante, eu não tive muita experiência não, do ginásio, comecei mesmo foi no curso normal, de segundo grau de formação de professores, pelo ginásio, quando eu estudava no colégio das irmãs em 61 até metade 63 a professora era leiga, a gente só tinha queimada, ginástica ou outra, jogava um basquetinho era fragmento, uma coisa sem técnica nenhuma, sem didática, daí em 66 eu fui estudar em Macatuba na metade 66 com 13 anos, fui fazer metade da terceira série lá, aí estudava a noite e não tinha educação física, na quarta série do ginásio também não, então daí em 65 eu voltei pra agudos no colégio das freiras, aí comecei com vôlei, tava surgindo o voleibol, tava surgindo voleibol, implantando, professora leiga também porque depois eu cruzei com ela na faculdade, eu tava no primeiro ano e ela tava no segundo, entendeu, é da turma da Naida, então mas também, ela não tinha muita experiência, porque ela já tava no primeiro e dava aula pra gente então não tinha experiência técnica, tática, didática pra dar aula não tinha, e no momento era voleibol que a gente praticava no colégio, tanto que a gente foi ia participar em campeonatos fora, tinha campeonato inter colégio católico, em promissão, Lins, tinha colégio católico,da região lá, então a gente sacava por baixo, cortava de mão fechada, recebi por aqui, não existia manchete, então a gente viu, ia jogar contra promissão que tava fazendo aquecimento na quadra do lado, e via elas fazendo movimento, “que será aquilo” então a gente começou a imitá-las aí nós aprendemos a dar manchete, olha só, vendo o adversário aquecer, praticar manchete na quadra do lado, aprendemos, participamos do campeonato e fomos campeãs, ganhamos troféu maravilhoso, ficamos em lugar de destaque lá, aprendemos a manchete, conhecemos a manchete, no aquecimento, isso foi em 65, isso porque colégio a gente não tinha televisão, a gente não tinha acesso, mas foi legal (E quando a senhora era professora, depois que a senhora fez a graduação em educação física, a senhora tinha algum método, alguma pratica específica pra dar aula?) Sim, sim, eu comecei a dar aula em Avaré em 71, quadra descoberta, então eu dava aula em duas escolas, numa escola eu ficava, lá tinha duas quadras, uma aqui, outra aqui, o meu lugar era um gramado, meu local de trabalho era um gramado que ficava entre as duas quadras, e eu dava aula só pra quinta série na época, aquela época já começou a quinta séria, no gramado ali, então eu dava recreação, não tinha muito o que se fazer num pedaço de grama, chover fica em casa, às vezes as crianças, “a professora vamo brincar de alguma coisa, vamos pra sala de aula, dava um joguinho lá dentro da sala, dava alguma aula teórica, mas pra quinta série, criança de 10, 11 anos não atrai muito, eu gostava de dar atletismo, então salto, iniciação ao salto em altura, tesoura simples, porque de costa jamais, já não tinha nem caixa de salto, imagina, salto em extensão, arremesso de pelota na bolinha de tênis,

Page 168: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

corrida de velocidade, revezamento, eles gostavam bastante, então era restrito por causa disso, meu espaço para dar aula era ali, aí depois foi melhorando, mas os métodos que nós aprendemos na faculdade que a gente sempre trabalhou até hoje eu acho que ainda é válido, aquele que pega sete famílias, andar, correr, saltar, carregar, levantar, transportar, (Que método é esse?) Acho que é o Francês, acho que ele não sai da modo não, (Não?) Não, porque se aplica isso em qualquer época, andar, correr, saltar, arremessar, trepar, atacar e defender, as sete famílias, trabalha com as crianças que tem aula no primário, pega isso aí desenvolve um trabalho maravilhoso, (E tinha algum outro método além do Francês, a senhora se recorda?) Eu lembro que eu dava aula em São Paulo, que teve uma época em 78 eu fui dar aula em são Paulo, lá no colégio são Paulo, no parque Dom Pedro no coração de São Paulo, metro Pedro II ali do lado, vinte e cinco de março do outro, palácio das indústrias que é a prefeitura ali vizinho e tinha um ginásio de esportes coberto maravilhoso, uma quadra, tinha ginásio, tinha teatro, material de esgrima, tinha material de ginástica olímpica, bom era um dos tradicionais da cidade,ele o Caetano de Campos e outros ali, eram daquela época, então eu chegava pra professora, lá era só segundo grau, começou de repente o governo, vai ter primeiro, então tinha muita gente que morava nos prédios, parecia pombal, um monte de apartamento, e eu fazia, lá, falei com a diretora, e ela consentiu de fazer um campeonato, um atletismo ali na frente, corrida, tracei 50 metros, pai chegava pra entregar filha via lá riscando com cal, uma raia ali me ajudava, eu fiz o campeonato ali, na frente da escola debaixo das arvores do parque dom Pedro carro passando ali, do outro lado o metro, foi uma sensação, sabe uma realização gostosa que você sente, e a criançadinha que nunca tinha visto aquilo nossa, foi muito bom, daí consegui uma caixa pra fazer salto em extensão, arremesso de pelota, criançada do primário nem educação física tinha na época, acho que foi anos 80, começo dos anos 80, praticava atletismo ali num espaço minúsculo, muito gostoso, e aí eu tinha que sair correndo da escola, pegar o metro, três aulas na outra, aquela loucura, acho que por isso que falam que o professor de educação física é meio alienada né (rs).

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Então, só quanto aluna, é porque como profissional antes, então eu acho que nessa época houve uma valorização do sentimento de patriotismo, eu acho que sim, eu acho que respondi em outra questão, aí (tudo bem, pode falar se quiser) então eu acho que houve que eles tiveram uma preocupação muito grande em desenvolver o espírito, o sentimento do patriotismo nos brasileiros, então, cantar hino nacional, é data, comemorações cívicas reunir alunos, professores, falar a respeito da data, do herói Tiradentes, sei lá, independência, isso tinha sempre professor de educação física, em Avaré era difícil, mês de setembro era assim ó, sete de setembro era dia da pátria, 15 aniversário da cidade e 22 aniversário da escola, eu passava um mês marchando, (A senhora tinha que ensinar os alunos a marchar?) Sim, e ainda saía na cidade, fazia lá fora, saia na cidade fazer desfiles com as outras escolas, eu saia com todas as escolas, e acho que não tem mais, tem no sambódromo, mas vai quem quer, eu me aposentei aqui em Bauru, nunca saí pra desfilar, acho que saí uma vez só, no próprio sambódromo pra desfilar, eu acho que foi acabando o espírito, eles não pressionavam mais tanto, é a pressão né, (E esse marchar, é igual ao marchar militar? Direita, esquerda?) Esquerda, direita, foi que nós aprendemos na faculdade (O bumbo era no pé direito?) No esquerdo, engraçado que eu entrava em atrito com o instrutor da fanfarra, porque a fanfarra era direita, esquerda, “não, mas eu aprendi na faculdade que esquerda, direita”“ Mas não sei o que, não sei o que” mas é que militar não tem

Page 169: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

nada a ver comigo, comigo era esquerda, direita (Tinha o fora de forma também?) Opa, varias vozes de comando, isso aí sempre deu certo, vocês não tem nada disso?(Não, de forma alguma, eu conheço por ter trabalhado na Polícia Militar, mas na faculdade não.) Gente, eu me aposentei em 97, até o ultimo ano eu trabalhava com ordem unida, é, fazia coluna por três, maiores na frente, tomar distancia, no ombro da direita, escola descansar, afastava a perna esquerda, mão pra trás, fazia a chamada em pé, daí deixava o diário de classe ali porque nunca dei aula em quadra coberta, só o ano que eu trabalhei em São Paulo nos cinco anos que dei aula lá, nesse colégio que falei pra você, então deixava ali no banco que tinha ali do lado da quadra o diário de classe e dava aula, daí a pouco batia aquele vento, levava o diário de classe eu tinha que sair correndo, pisar né, então o diário de classe meu nunca, tava em limpo, (E desde quando a senhora era aluna, que a senhora tinha educação física na escola tinha ordem unida?) Sempre, sempre, é a forma de disciplina você que foi da polícia você sabe, disciplinar, e ainda eu fazia assim com os alunos, coluna por três, maiores na frente, esquerda volver, direita volver, sentados, e eu fazia chamada em pé, (E qual era o comando que a senhora utilizava pra começar a marchar?) Atenção em escola, em frente, marche! Depois que terminava você falava marche que começava, (Aí começava com o pé esquerdo?) Começava com o pé esquerdo, hoje na escola não tem mais isso, isso faz uma falta, falta de disciplinar a turma, enfim, caiu da moda né, (A senhora sentiu alguma diferença, nas suas aulas de educação física depois do golpe, no caráter, a senhora acha que mudou algo?) Não, nada, nada mesmo, de forma alguma, porque eles mandavam pra gente, os vídeos pra acompanhar tudo, a gente notava muita é, algumas coisas que não batiam com a realidade, por exemplo, antes dos 12 anos, não podia dar iniciação esportiva, mas tinha uma categoria pros jogos escolares que chamava pré mirim, que era de 10 a 12 anos, eu falei “escuta como que isso ta aqui e aqui vai contra? Então não entendo se não é pra dar pratica esportiva antes dos 12 anos porque que tem essa categoria nos jogos?” Aí não souberam me responder, nunca me responderam essa pergunta, então fiquei sem resposta, mas a categoria continuou (A senhora fala isso enquanto professora ou enquanto aluna?) Professora, (E lá no colégio, depois de 64, ficou a mesma coisa do golpe as aulas, mesmo sendo professor leigo?) Não daí eu soube que contrataram professor formado, se formou comigo, que trabalhou lá em Agudos, mas assim eu perdi contato né, eu sei até que a ultima vez que eu fui no colégio tava sem cobertura ainda a quadra.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

É, é uma forma não somente desses, dos problemas políticos, sócio culturais da época, mas também é uma forma de aproximação dos adolescentes, né das crianças, porque na educação física eles se sentem mais a vontade, mais independentes, eles estão livres numa quadra ao ar livre, não estão dentro de uma sala de aula, tendo que falar baixo pra não interferir no pensamento do colega ou na classe vizinha, então ele ta ali, livre leve e solto, ele, então ele se sente a vontade, ele se sente dono da quadra, dono do mundo, pode gritar, pode falar alto, pode correr saltar, fazer o que quiser, (A senhora acredita que a educação física chegou a ser usada como ferramenta mesmo pra distanciar os alunos e até os professores mesmo de educação física dessas questões políticas?) Não, eu acho que não, não senti nada disso, nunca senti nada a respeito, mesmo porque, é enquanto aluna da escola de educação física os professores tinham um planejamento a seguir, tá, então a gente tinha aquela, aquele respeito pra ser passado pelo professor, eles tinham respeito com a gente, e depois quando professora,

Page 170: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

a gente tava subordinado a diretora da escola, tava subordinado a delegacia de ensino, a secretária de educação e assim por diante, então a gente sempre tinha que prestar conta pra alguém, mas nunca, foi esse respeito de qualquer tipo de interferência no comportamento da pessoa, dos alunos.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Nesse período, a meu ver tudo era da mesma forma (A senhora não sentiu que o governo não influenciou em nada?)Não senti, nada, nada, nada.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

Então foi o que eu já comentei como eu estudava em escola particular internato e de freiras, o material era escasso, a professora era leiga, e a quadra de cimento a céu aberto, antes e pós ditadura, não, notei nenhum investimento tanto físico como para o lado do profissional, (Mesmo a senhora como professora, material esportivo, tinha escassez, tinha fartura, como era?) Ah, a escola que comprava né, a secretária de educação mandava uma verba pra escola comprar, se tinha quatro professores, era uma bola pra cada um, (Mas chegou alguma vez a faltar, alguma vez a sobrar?) Uma bola pra cada um sempre é pouco pra qualquer um né, mesmo porque estraga logo, mesmo porque naquela época o material era couro, costurado, era complicadíssimo, não era o material resistente de hoje não (As quadras eram cobertas?) Imagina, quadra descoberta, cimentação, se chovia, parava de raspar com rodo pra dar aula, (E o governo, seja estadual, seja federal, chegou a custear algum curso pro professores de educação física, curso de atualização, curso de formação continuada?) Isso aí eu procurava fazer por conta, por minha conta, a secretaria de educação fornecia sim esses elementos aí pra gente, mas era muito pouco, (Mas era pra educação física ?) Pra escola em geral, lembro que em 74 com a nova lei de diretrizes e bases da educação, 5692/74 eu não sei se esta em vigor ainda essa lei, houve um estudo profundo por todo os professores isso a nível estadual e acho que até nacional, lei de diretrizes e bases da educação, uma semana estudando a nova lei antes da pratica, ótima experiência que já deve estar ultrapassada, estudando item por item, falava muito da cidadania, já em 74 começou, então foi isso, a nível de todos os professores, professor de educação física, historia, geografia entendeu,(Mas algum plano, exemplo, algum curso de recreação o governo não custeava, não havia nenhum plano?) Não, se eu quisesse fazer, como eu fiz cursos técnicos, eu fiz um curso em Tatuí, foi em 73, 74 eu vinha pra ca bauru, de Avaré pra cá, 150 quilômetros, toda segunda feira pra fazer curso técnico de voleibol, fiz em Avaré de atletismo, então, tudo por conta, pra melhorar o, fazer um investimento em mim, pra melhorar meu currículo e a gente fazia e como.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

O futebol né, assim, sempre, (Tem algum exemplo?) Sim, eu lembro que teve um político que na copa de 70 ele deu um fusca pra cada, (Aé, pra cada jogador?) É, que trouxeram o tri, você não soube disso?(Não.) Que era um político, vai ficar sabendo,

Page 171: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

depois eu falo quando você desligar, (Não, pode falar se quiser.) O Maluf, (O Paulo Maluf?) É, aí ele teve que devolver o dinheiro, tostão, Pelé, Rivelino, parece que eles não aceitaram na época (O Maluf era o que na época?) Era governador de São Paulo, porque era o Médici, será que era o Médici presidente na época,(Sim era ele mesmo) Ele, foi , não foi eleito pelo povo, foi indicado, da ditadura, ele era da ARENA, então e quando eles voltaram, o Maluf, deu um fusca pra casa, depois houve um processo, teve que devolver, nem sei o que que deu isso, mas era só futebol, eles aproveitavam sim, mesmo porque o Brasil teve participação expressiva no basquete masculino, Hortência veio com a Paula, veio depois, anos 80, o voleibol ainda não tinha, foi depois dos anos 80, foi nessa época que o Brasil, o vôlei no Brasil tava sendo difundido, no atletismo a gente tinha atletas assim, mas nunca ninguém assim fez propaganda,só futebol mesmo, só futebol.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia”para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Sim, sempre teve aí eu não me lembro qual que era não, a secretaria de educação mandava pras escolas e a gente tinha que seguir aquilo quer queira, quer não, tinha que seguir mesmo não concordando, (Mas era específico pra cada disciplina?) Pra cada disciplina, (Era o “Verdão”) Isso, o “Verdão” é.. (A senhora tem alguma cópia dele ainda?) Não, tinha, a gente tinha que seguir, tinha os objetivos tudo, (Mas tinha que ‘rezar’ essa cartilha rigorosamente?) Tinha (Da onde vinha essa pressão?) Olha quem fazia isso era lá na água branca em São Paulo, eu falo isso pra você, porque eu já participei, veio uma vez um livro de GRD, pra gente dar GRD, iniciação né no primário, atividades com bolas, então eles, eu fui convidada, eu fui lá pra ajudar a fazer isso aí, atividade com bola pra criança, de sete anos de idade, quicar bola, eu falei, “criança de sete anos não consegue quicar bola ainda, não tem coordenação pra tanto, andar quicando bola, não adiantou nada, continuou lá, mandaram pro estado inteiro aquilo lá, criança de sete anos quicando bola, eu não sei que realidade que eles estavam pensando, eu acho que eles davam aula em colégio particular e a criança era mais desenvolvida, isso ai não ia resolver, não ia servir nunca pra uma escola do estado, numa escola do município, criança andar ou correr quicando bola, de sete anos (Isso vinha na cartilha?) Vinha, (E tinha mas alguma outra cartilha?) Isso eu lembro porque eu discuti, eu promovi uma discussão lá na época dos estudos né, mas sempre então, isso era feito, por uma equipe de professores de educação física lá em São Paulo, funcionários, professores que se reuniam estipulavam, colocavam no papel um planejamento, colocava em atividades desenvolvidas na primeira série, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta, sétima, oitava então depois, eu chamava os professores e faziam pratica na escola, isso nas escolas experimentais que tem em são Paulo né, depois viu que dava certo, no ano seguinte mandava distribuir pro estado todo, a í o” Verdão” saiu daí também, entendeu, é assim que funcionava, porque eu participei uma vez, até participei GRD que eu falei pra você como no segundo grau era o GRD, com laço, com fita, com bola, a mão livre, arco, é, isso também, depois também como arbitro mas eu não tinha nada a ver com GRD, meu GRD foi tão rudimentar na faculdade, é, nada a ver mas eu fui, odiei fazer isso aí, mas eu participei sim, isso quando eu morava em são Paulo, dava aula no colégio lá, que a diretora da minha escola era professora de educação física também e ele era daqui de Bauru, e eu a conheci lá em São Paulo, então ela era chamada pra fazer isso, então ela não podia ir porque tava na direção “O Cris você vai pra mim?” “Vou”, então eu ia, demonstração de sete de setembro também tinha todo ano demonstração de sete setembro no

Page 172: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Pacaembu, “Cris faz pra mim?”“ Eli eu to com equipe de vôlei, ta indo bem nos jogos, eu tenho que treinar”,” Não a escola sempre participou da demonstração do sete de setembro, você vai participar” então ia meu, acho que isso daí entrava também naquela questão que eu falei pra você da, o que modificou, eu acho que isso aí tava dentro da, não sei quando que começou essa demonstração de sete de setembro, mas deve fazer parte aí da Ditadura, começou na Ditadura,faz parte lá, então os árbitros da federação de voleibol, chegavam lá para apitar o jogo, o jogo começava as oito, eu dava treino às 7 horas, a demonstração de ginástica, e aquele frio danado, na quadra descoberta, eu tava lá treinando as meninas com demonstração de bola, e os árbitros chegando” É professora não escapou nem dessa esse ano hein” e eu “É não teve como” olha é terrível, eu acho que o professor fica alienado naquele outro sentido por causa disso, pra pau tudo quando é obra Pedro, o aluno se machucou lá na aula de geografia, porque virou o pé na sala de aula “Ah chama o professor de educação física, ela leva no pronto socorro” era desse jeito, eu dava aula de programa de informação profissional, uma matéria que teve no primeiro colegial, de 80 a 84, foi a minha salvação porque senão eu ia perder esse quatro anos de que eu não dei aula de educação física, lá em São Paulo, eu fui dar aula de “PIP” então, é uma aluna tava sentada na primeira carteira e isso que eu tinha pedagogia com orientação educacional, tá, ela se levantou e foi entregar o caderno pra outra que tava lá atrás virou o pé, tava faltando um taco, ela virou o pé, o pé dela ficou um pão assim na hora, tive que deixar a classe e levar e menina pro pronto socorro em são Paulo, não é fácil, não é fácil, daí eu dava aula lá em São Paulo, no Belenzinho numa escola “Verino Razi” então tinha orientador educacional naquela época, acho que era ultima que existia no estado de São Paulo, que era uma, um profissional que trabalhava dentro da sala aula pra orientar os professores né, orientador educacional, acho que era a última, que nenhuma escola tinha mais, então ela pegava e colhia todo bimestre os diários de classe pra dar nota, e os meus, educação física sempre bagunçava né, porque você dava aula ao ar livre, deixava tudo ali em cima, às vezes você punha meio tijolo em cima pra não voar, encapadinho né, mas se voava, abria dentro, soltava tudo que tinha dentro, escapava da capa, tudo aquilo, então e ela escrevia assim na folha dos professores, “Muito bem, parabéns” e no meu vinha “Visto” e assinatura dela, rubrica, nem assinatura, “visto” também tinha marca de tênis, ah era complicado né, ao ar livre, você corre esses riscos, mas era divertido.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Sim, sempre fez parte do meu planejamento anual competições entre classes, voleibol, atletismo, futebol de salão, dama, gostei muito de trabalhar com damas, é maravilhoso, você não faz idéia, além de estimular o intelecto, faz o aluno concentrar e também melhora a disciplina, então eu fazia lá, campeonato de dama interclasse, setenta crianças no pátio, cada duas numa carteira né, sentando uma de frente pra outra, você não via um mosquito, é maravilhoso, também eu comecei isso foi nos últimos cinco anos de carreira, porque eu já estava cansada, porque foi assim ó, eu sempre dei muito de mim na minha profissão, às vezes trabalhava mais com o corpo e deixava a alma às vezes mais com a alma deixava o corpo, então eu sempre me doei muito, então eu descobri o valor da dama, então eu participava de campeonato, fazia o campeonato dentro da classe, dentro da escola, os três melhores e as três melhores iam participar dos jogos escolares, porque tinha a modalidade de dama, mesmo pequenininho, é, e eu sempre ia pra final estadual, (A é.) Sim, (Dentro dos anos da ditadura mesmo?) Não

Page 173: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

agora no final, no final da minha carreira, to falando pra você por causa do caráter que tem de disciplinar, o intelecto é maravilhoso, então eu trazia, eu dava aula no esbrissia, ponta de bauru, periferia mesmo, perto da estrada de Marília lá, trazia os alunos aqui no Automóvel Clube pra ter uma oficina de dama, eles amavam, e as regras é diferente daquelas que as crianças gostam de jogar, então você pôs a mão em cima da pedra, você tem que mexer você não pode, não existe sopro, você tem que voltar pra comer entendeu, então é, então eles foram descobrindo isso e foi maravilhoso, mas sempre trabalhei com campeonatos, interclasses, então esse ano vai ser rios do Brasil, então cada equipe vai ter um nome, “Rio Negro, Tocantins, Ribeirão das Flores” então é muito bom, tanto masculino quanto feminino, fazia, eu dava aula lá no Brizola, lá o geisel, então eu pedia pra prefeitura, se permita atletismo, fazer competição de atletismo, no Sambódromo, era uma farra, maravilhoso, as crianças adoravam, era muito bom, então fazia corrida ali, arremesso de pelota, e criançadinha desde 5ª série a 8ª, era muito bom (Então havia essas competições entre as salas?) Sim, sim, sempre teve, isso aí é pra incentivar a prática do esporte, porque eles andavam a caça de atestado médico pra ser dispensado da educação física, mas porque isso eles não gostam de educação física, vamos fazer eles gostarem de educação física, era uma forma, e o geisel ta perto do zoológico, “semana que vem nos vamos pro zoológico” e ia a pé, era pertinho, fazer dava um quilômetro e meio, andava ali por dentro do geiseil saía ali na rodovia e ia pegava uma estradinha que tinha paralela que bem uma marginal na rodovia, chegava no zoológico, como era turma de estudante, não pagava pra entrar, pronto, fazia uma caminhada, passava uma manha divertida, então cada manhã levava uma turma, as outras não tinham, no outro dia era aquela turma, porque não dá pra você levar uma turma com sessenta, andando na rua com estrada com sessenta crianças, então era muito bom.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

Sempre trabalhei com turma de treinamento, a gente podia ter, aí eu não lembro quantas turmas de treinamento, cada turma de treinamento equivaleria a uma turma normal na época eram três aulas semanais né então, por exemplo, turma de treinamento de bola ao cesto, é, ela vinha no horário da turma de treinamento, ela não ia nas aulas de educação física da classe dela, então reunia vários alunos, 25, alunos numa turma pra praticar somente basquete, ou vôlei, ou atletismo, ou dama, era muito bom, isso incentivava o aluno, muitas vezes o aluno ia nessa aula, e ia na aula da classe dele também, isso sempre teve, atualmente eu não sei como que tá isso, e o professor que tivesse um treinamento ele era obrigado a participar dos jogos escolares da secretária de educação e esporte turismo do estado (E qual as modalidades que eram mais treinadas?) Sempre foi vôlei, basquete, futebol de salão, é, isso, atletismo não porque, quando eu dava aula no Esbrissia, por exemplo, era perto do Noroeste, então os alunos iam lá, treinar atletismo, eu dispensava da aula de educação física, e isso era coisa entre a professora e o aluno, diretor nem ficava sabendo, chegava, não tinha turma de treinamento de atletismo, porque não tinha local pra você praticar atletismo, era meio longe, tinha uma pista lá nova esperança, mas era meio longe e pra fazer uma turma de 25 alunos só pra ir no atletismo era complicado, então eu mandava eles pro Giocondo lá no Noroeste e eles treinavam lá, então eu lembro que tinha um aluno o Fábio, ele se sobressaiu nos 1500 metros, mas ele só fazia corrida de rua, ele tinha 16 anos, levei ele pra lençóis nos jogos, ele ganhou (Que jogos?) Jogos escolares, da secretaria da educação, ele se classificou em primeiro lugar, então vamos

Page 174: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

na final estadual, levei só ele, eu e ele, cem por cento, não teve outra, medalha de ouro cem por cento de aproveitamento, medalha de ouro, muito bacana, ele não acreditava, em lençóis aconteceu uma quase que eu mato o filha da mãe, ele tava do outro o que tava atrás deles tava cem metros de distância dele, mas tava muito quente, ele não teve dúvida, ele arrancou a camiseta e jogou do lado, queriam desclassificar o rapaz, porque não é permitido, mas veja bem, o segundo colocado tá trinta segundos atrás dele que chance que vai ter ele, aí reuniu os professores e árbitros ali, os apontadores, e decidiram desconsiderar a falta dele né, ele tava super chateado também e permanecer foi aí e ele ganhou primeiro lugar, depois, agora eu vou contar pra você, a professora que começou a comentar isso, antes tinha vindo pedir pra mim trazer o aluno dela pra tirar a carteira de RG aqui em Bauru porque não tinha conseguido, tinha aqui em Bauru pra consertar o RG dele, o documento mesmo RG, eu “Sem dúvida professora, ele vai comigo, aí eu deixo ele na rodoviária pra você” aí depois ela tava lá, indo contra mim nessa daí, ela queria tirar o meu pro dela se classificar, mas o dela não ia ter chance nunca, mas foi muito bacana, são as emoções, isso é gostar de viver perigosamente também.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

Tinhas as disciplinas práticas e teóricas, nas praticas eram desenvolvidas formas de trabalhar para desenvolver esportes coletivos ou individuais, basquete, voleibol, natação, atletismo, ginástica, tínhamos aula teóricas dessas matérias também, as disciplinas teóricas, as disciplinas médicas, fisiologia, anatomia, socorros e urgência, cenesiologia, tivemos também psicologia e metodologia de ensino, houve predominância das disciplinas esportivas, o que nos faltou na querida escola, dentro da disciplina de metodologia, ou então didática de ensino, foi como fazer um diário de classe, meu primeiro dia de aula foi um desastre, não sabia o que fazer com os diários, levei para casa e aprendi sozinha, (Então predominava mais qual?) As da parte a prática, mas sempre acompanhada de teórica, (Prática a senhora fala esportiva?) esportiva, é.

Quanto às disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Recebíamos uma apostila cujo conteúdo eram as aulas práticas, na prática aplicávamos a teoria, é, todo professor, então a gente tinha apostila de natação, esgrima, porque tinha uma matéria que chamava ataque e defesa, masculino na escola da faculdade, tinha judô, e o feminino tinha esgrima, não o masculino tinha esgrima também, nós que não tínhamos judô, mas tinha judô, a gente aprendia esgrima com o Coronel Domício, mas de 80 anos de idade, a idade do Loyl e ta praticando esgrima ainda no bosque da comunidade, seria interessante você conversar com ele, você quer que eu fale (Eu já ouvi falar muito dele, pretendo ve-lô sim) esse homem é um, é um arquivo completo pra você, aprendeu esgrima, acho que dava aula de esgrima no exercito (E quando tinha essa matéria prática, tinha necessidade de executar o movimento?) Sim, sim, eu tenho até hoje uma cicatriz de quando eu tava aprendendo a saltar a barreira na corrida de barreira, eu levei um tombo e aula de atletismo (E a avaliação era em cima da sua execução do movimento?) Execução, nossa, eu lembro que professor Loyl deu

Page 175: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

aula ‘ técnicas de salvamento’ na natação, então a gente tinha que nadar 700 metros, então eu tinha feito minha parte e vi a Leila, uma amiga minha, minha melhor amiga da faculdade, fazendo a parte dela lá, e a gente já tinha aprendido a pegada de como salvar, a tomada aqui, qualquer coisa dá um tapa, pra bobear, porque o cara afunda e leva você junto , então ela tava fazendo a parte dela lá e eu tomando solzinho, já tinha feito a minha né, e o Loyl na ponta da piscina e eu no meio, e a Leila perto de mim, e eu vi a Leila” Socorro ta me dando câimbra” e afundou, eu não sabia o que eu ia fazer, mas eu não tive dúvida, eu pulei, eu to entrando na água, eu ouço “Deixa comigo Macatuba” e eu deixei, eu fui salvar, eu não sabia o que eu ia fazer, porque na teoria é uma coisa, você pegar, você pode considerar na teoria, você ta pegando um amigo, ele não ta precisando de treinamento, é só pra você ver como pega tudo, agora a pratica que é duro, você não sabia fazer, daí a sorte minha foi que Loyl foi lá, “deixa comigo Macatuba” aí pegou, aí pegou a Leila, mas eu ia lá, sei lá o que eu ia pegar, mas fui lá pegar, então tudo tinha avaliação, aula de ginástica você tinha apostila de ginásticas com as danças folclóricas que a gente tinha, é ginástica de solo, as seqüência, as rotinas que você tinha, nos aparelhos na trave, nas paralelas, eu nunca gostei disso porque eu tinha medo de altura, e eu não posso nada com que vira, porque eu passo mal, então evitava fazer essas coisas, mas fazia, tinha, mas tudo tinha avaliação tanto prática como teórica.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Eu faço parte de uma época em que a educação física tinha um valor maior, nós nos preocupávamos com ordem unida, disciplina, alunos, métodos a serem usados, eram assunto de nossas discussões. (Mas havia uma discussão entre professores e os alunos, como “ Na escola acontece assim’, sobre a educação física de um modo geral na escola, como que ia lidar) Olha, eu tinha colegas que já davam aula no terceiro ano, que eram três anos de faculdade, então, elas chegavam e comentavam “dou aula na rua,meu problema é esse” né olha, eu fiz estágio, dei aula pra uma turma da APAE em Macatuba,então experiência antes de formar, com escola eu não tive não, mas o que a gente comentava com os professores era mesmo a aplicação de tudo aquilo, o esporte do momento e seguia determinações da secretaria de educação né.

A relação aluno-professor no seu entendimento era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Sim, havia uma relação hierarquizada comum, assim como uma escola, do aluno - professor, do professor - diretor, do pro diretor saindo da escola lá pros superiores dele, havia um respeito mútuo na relação professor - aluno, nossa maior preocupação era o aprendizado e a do mestre era ensinamento, tínhamos metas a cumprir, disciplina nos horários, uniforme, atitudes, e aprender, cabia ao professor conhecer seus alunos e se certificar de seu aproveitamento, e nós tínhamos que dar satisfação disso através das avaliações, recuperação, do diretor de escola é toda aquela burocracia, aquela rotina dentro de escola, a parte administrativa e a parte de teórica da educação física eu sempre odiei.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Mas você fala, na escola, enquanto eu aluna de educação física (Sim a senhora enquanto aluna de graduação) Nós tínhamos a matéria, disciplina, dança, balé,

Page 176: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

folclores, expressão corporal, ginástica geral, diferente métodos, francês, austríaco, ginástica olímpica, GRD, esgrima, aí seria ataque e defesa, os esportes coletivos, vôlei basquete, os moços tinham futebol, era masculino somente, até hoje eu sou contra futebol feminino, nunca dei, não concordo, que história é essa de mulher matar bola no peito, pô, faz mal gente, concorda comigo, contato direto, uma mulher é mais forte que a outra, chuta a canela da uma fratura pronto, então era isso. (Mas tinha algum método que o professor utilizava basicamente no conteúdo das disciplinas?) Olha o método valia, o que o professor preferia, aquele mais adaptava a sua classe, as vezes usava de uma forma numa turma, vinha a outra, usava de outra, aliás não sei como a bola de basquete, pra você ensinar basquete não tem que usar método nenhum, tem que usar paciência né, era artista no final.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Não, nunca conversamos, mas tem o caso da Leila, que quando ela foi presa, a gente colegas, a gente brigava pra assinar a lista de presença pra ela não perder o ano letivo, senão ela ia perder o ano, ia perder um ano, foi isso, mas eu lembro que ela me dava panfleto, que eu viajava de Macatuba pra cá, eu chegava em casa minha mãe” O que que isso Cris” e eu “Ah mãe é panfleto que a Leila me deu” eu nem lia, ela jogava, a Leila era tão minha amiga que fim de semana uma vez ela foi pra minha casa, e gostava muito dela nunca interferiu na nossa amizade, muito pelo contrario, acho que nós nos tornamos mais amigas por causa disso. Então quando professora, completando, na minha opinião, houve uma valorização do sentimento de patriotismo, quando professora, uma vez por semana tínhamos que hastear a bandeira nacional e cantar hino nacional era elaborada uma escola pelo professor de moral e cívica das classes e cada semana era uma que participava, havia na escola o cargo de orientador de moral e cívica que podia ser o professor de educação física, é, então era assim, primeiro lugar professor de história, se o professor de história não se interessasse pelo cargo é do professor de educação física, então um ano eu peguei isso em São Paulo na época da Ditadura (Moral e Cívica?) Orientadora de Moral e Cívica, segundo a lei, podia ser o professor de educação física segundo a lei, em 82 no colégio São Paulo onde eu dava aula, estive nessa função, reunia a classe mantinha a turma em forma, usava a ordem unida dava algumas vozes de comando, catávamos o hino e hasteávamos a bandeira, nas datas cívicas, atuávamos nos desfiles pela cidade, colaborávamos nas comemorações da escola.Então eu fui orientadora de Moral e Cívica, até isso eu fui, professora de PIP, Programa de Informação Profissional, matéria teórica, (Formação ou Informação?) Programa de Informação Profissional, eu trabalhava muito em cima do jornal, porque tinha pedagogia com orientação educacional, na especialização, então, quando eu fui pra São Paulo em 78, eu não peguei uma aula de educação física, e tava surgindo o PIP, a gente falava PIP, então peguei aula de programa de informação profissional, por ter pedagogia, a minha sorte, porque eu era celetista no estado e tinha carteira profissional quase que eu perdi o vinculo, quase que eu perdi a minha estabilidade por conta disso aí, porque não tinha educação física, eu peguei PIP a sorte, daí em 84, foi extinto PIP e como minha primeira opção era PIP e segunda educação física, eu peguei três aulas de educação física, então eu vim embora pra cá, morava numa casinha na Mooca, era um porão, mas um porão assim tinha quintal, em cima do porão tinha um sobrado, mas ele era do nível da rua, mas não era baixo, abaixo do nível jeitosinho, eu gostava daquele lugar, então eu entreguei a minha casa tudo vim embora pra cá, eu tinha feito um curso de massagem terapêutica em São Paulo, fui fazer massagem estética, no institui de beleza

Page 177: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

aqui em Bauru uma vez por mês eu ia pra são Paulo pra dar aula, pra não perder o vinculo, daí em 85, veio uma determinação do governo do estado, da secretaria de educação que quem tinha a matéria que tinha sido extinta que podia mudar daí eu fui pra educação física de novo, entre na escala lá pra atribuição de aula tudo, voltei pra São Paulo em 85, daí em 88 eu vim embora pra Bauru, encerrei minha carreira aqui em Bauru, vinte e sete anos de magistério.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Então quando professora, completando, na minha opinião, houve uma valorização do sentimento de patriotismo, quando professora, uma vez por semana tínhamos que hastear a bandeira nacional e cantar hino nacional era elaborada uma escola pelo professor de moral e cívica das classes e cada semana era uma que participava, havia na escola o cargo de orientador de moral e cívica que podia ser o professor de educação física, é, então era assim, primeiro lugar professor de história, se o professor de história não se interessasse pelo cargo é do professor de educação física, então um ano eu peguei isso em São Paulo na época da Ditadura (Moral e Cívica?) Orientadora de Moral e Cívica, segundo a lei, podia ser o professor de educação física segundo a lei, em 82 no colégio São Paulo onde eu dava aula, estive nessa função, reunia a classe mantinha a turma em forma, usava a ordem unida dava algumas vozes de comando, cantávamos o hino e hasteávamos a bandeira, nas datas cívicas, atuávamos nos desfiles pela cidade, colaborávamos nas comemorações da escola.Então eu fui orientadora de Moral e Cívica, até isso eu fui, professora de PIP, Programa de Informação Profissional, matéria teórica, (Formação ou Informação?) Programa de Informação Profissional, eu trabalhava muito em cima do jornal, porque tinha pedagogia com orientação educacional, na especialização, então, quando eu fui pra São Paulo em 78, eu não peguei uma aula de educação física, e tava surgindo o PIP, a gente falava PIP, então peguei aula de programa de informação profissional, por ter pedagogia, a minha sorte, porque eu era celetista no estado e tinha carteira profissional quase que eu perdi o vinculo, quase que eu perdi a minha estabilidade por conta disso aí, porque não tinha educação física, eu peguei PIP a sorte, daí em 84, foi extinto PIP e como minha primeira opção era PIP e segunda educação física, eu peguei três aulas de educação física, então eu vim embora pra cá, morava numa casinha na Mooca, era um porão, mas um porão assim tinha quintal, em cima do porão tinha um sobrado, mas ele era do nível da rua, mas não era baixo, abaixo do nível jeitosinho, eu gostava daquele lugar, então eu entreguei a minha casa tudo vim embora pra cá, eu tinha feito um curso de massagem terapêutica em São Paulo, fui fazer massagem estética, no institui de beleza aqui em Bauru uma vez por mês eu ia pra são Paulo pra dar aula, pra não perder o vinculo, daí em 85, veio uma determinação do governo do estado, da secretaria de educação que quem tinha a matéria que tinha sido extinta que podia mudar daí eu fui pra educação física de novo, entre na escala lá pra atribuição de aula tudo, voltei pra São Paulo em 85, daí em 88 eu vim embora pra Bauru, encerrei minha carreira aqui em Bauru, vinte e sete anos de magistério. Agora teve uns lances engraçados, teve um desfile em Avaré, foi aniversário da escola nós tínhamos, tava saindo aquele agasalho adidas com três listras brancas na lateral, tava na moda então nós compramos pra todos os alunos que participavam do campeonato colegial, os alunos fizeram um livro receita, os alunos venderam conseguirmos juntar dinheiro, mandamos fazer agasalho pra todas as turmas de treinamento, não era adidas, era o modelo que era adidas né

Page 178: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

então 22 setembro aniversário da escola do Coronel João Cruz lá em Avaré, então era assim ó, a escola era aqui, aqui era avenida, então pra não atrapalhar muito o transito, nós descemos aqui e viramos aqui, pegamos a rua paralela e ia lá na praça pra voltar aqui na praça pra passar até o palanque então passava aqui na praça e voltava pra escola e o instrutor da fanfarra era novo não conhecia direito, e eu com a outra professora lá cuidando da formação dos alunos e ele lá frente com a fanfarra então ele fez tudo isso, quando chegou aqui ele tinha que virar pra passar no palanque, ele virou uma quadra antes e o palanque cheio de autoridade, então as autoridades ficaram lá sem ver o uniforme, eu queria morrer, eu dei um pique, um pique, mas quando eu vi já tava descendo a outra rua não deu tempo, diretora queria matar a gente, mas nós não tivemos culpa, nos estávamos lá trás, cuidando dos alunos e ele lá na frente com a fanfarra, porque os alunos não falaram, não sei por que eles não avisaram, e era só nossa escola desfilando porque era aniversário da escola, era feriado só na escola, aí a imprensa no dia seguinte “Coronel João Cruz deixou as autoridades a verem navios”, nos tivemos culpa, foi o instrutor da fanfarra.

Identificação Nome, Idade e Gênero

Benedito13, 5 de outubro de 1935.

Período e Idade que estudou e se formou no Ensino Médio

De 1944 a 47 eu fiz o curso primário numa escola particular de Itapira, depois de 48 a 51 eu estudei no , fiz o curso ginasial...é, depois de do ginásio do Estado, depois de 52 a 54 eu fiz o magistério professor primário, na escola Normal Dona Elvira Santos de Oliveira de Itapira e de 56 a 58 eu ingressei na Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil hoje é a UFRJ né, então eu fiz o curso de 56 a 58, daí fiquei no Rio, aí 60,1960 eu fiz o curso, uma pós graduação em pratica desportiva que foi o inicio da Fisioterapia e depois a 61 a especialização técnica em Natação na USP, esses dois cursos eu fiz na USP, aí que fiquei conhecendo o professor Boaventura que foi fabuloso, foi meu modelo de professor sabe, ele realmente se preocupava em educar e então até os médicos, a medicina desportiva naquele tempo , o médico tava num pedestal, não era como é hoje né e ele enquadrava todo pessoal, questão de pontualidade de, era excelente, ele foi presidente da Federação Paulista de Natação, de Ginástica Olímpica, então naquele período eu atuava como juiz também dos campeonatos, ele ia fazer uma massificação da Ginástica Olímpica no meio estudantil e nós realizamos aqui em 62 o primeiro campeonato de Ginástica Olímpica do Interior, foi, é...bom 61, daí..é...aí eu prestei o concurso né e ingressei no magistério secundário e escolhi..como eu peguei o primeiro lugar no concurso então eu escolhi Itapira, já vim

13 O nome do professor foi alterado por questões éticas.

Page 179: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

pra minha cidade, então tem toda aquele ideal, então de trabalhar numa cidade do interior e eu justamente na minha cidade, quando eu já conhecia toda e vivenciei uma educação física né, de antigamente, aí...bom outros cursos eu fiz vários lá na, em no Rio, de recreação que a Universidade propiciava, curso de recreação...A História da Educação Física com Inezzil Pena Marinho ele deu um curso( O senhor fez curso com Innezil Penna Marinho?) Sim, ele foi meu professor, (A é, foi professor do senhor?) É...depois dois cursos de recreação, eu fiz dois cursos de recreação..é , fiz em São Paulo, quando eu vim pra São Paulo eu fiquei dois anos, 60 e 61, então eu fiz curso de Higiene Mental dos estudantes, no SESI de São Paulo, Psicologia do Adolescente, e aí fui e também, tinha associação de professores do Estado de São Paulo, a APEF, ela aproximou via cursos internacionais né, todo ano nas férias de julho ou em São Paulo, Santos né, então ela trazia os melhores professores, dois professores Russos, professores Claus pro exemplo, o meu filho tem o nome de Claus, um Dinamarquês que veio dar curso aqui, Cutrera recreação e quantos, quantos a gente...mas o principal foi o Listelô , que o Boaventura tinha muita ligação com a França e trouxe esse método, sessão de atividades física generalizadas e foi o que eu apliquei, sempre atividades variadas né e aula de educação física ela disciplina, respondia chamada, eu falei não, eu comentei com você né?(Não.) Eu colocava a turma em forma né, na posição descansar, então quando eu chamava pelo número, eles se colocavam em fundamental posição e respondiam pelo sobrenome, pelo sobrenome, daí eu fazia uns exercícios de marcha, de ordem né, e tinha de ritmo também, a gente fez muita demonstração de ginástica rítmica, nossa vida, professor Boaventura, ele que comandava uma demonstração de ginástica coletiva, eu não sei se cheguei a comentar com você(Não.) Iam 1500 estudantes do interior e da capital, davam 1500 e 1500 alunas e então na semana da pátria, na abertura da semana da pátria era no Pacaembu, então a gente desfilava e depois fazia demonstração de ginástica, uma coisa fabulosa sabe, 1500 alunos assim, aquela ginástica sueca, balanceada, num ritmo com música né, então é...e aí deixa me ver, bom...aqui Itapira comecei pra valer né, você ler o livro que tinha a educação, a minha preocupação de acordo Lourenço Filho era a educação integral, não é só mexer com o corpo não , era questão de formação mesmo, responsabilidade e talz, então , foi até que criamos aquele concurso desportista do ano né durante, de 65 à 73, então a gente estimulava os alunos de todo jeito, pra ser honesto, pra ser responsável e tal, então eu reservava 10 minutos da aula pra justamente comentar algum fato importante e fazer uma pregação em torno da cidadania, hoje fala-se cidadão, nossa então hoje eu tenho a satisfação de ver todo o pessoal aí, bem formado, responsável, e o programa bem dinâmico, a gente começou logo de inicio fazer competição com Mogi-Mirim, vinha colégio de São Paulo, meu companheiro lá vinha de São Paulo, trazia o colégio Saldanha Marinho, o outro lá Ademar Rocha Pires, Alexandre Von Rumbolt, Arujá, e aí a gente,ele realizou uma olimpíada colegial em Arujá então nos fomos lá, várias modalidades e aí isso era em 67, e em 67 fomos lá no primeiro semestre, no segundo semestre comecei a primeira olimpíada intercolegial e aí foi depois em 70 outra com vinte escolas .

Principal motivação para cursar Educação Física

Ah sim, bom eu tinha, tive aquela fase ruim, minha mãe, eu era filho caçula de cinco irmãos e então tinha todo carinho da minha mãe, atenção, aí minha mãe adoeceu, contraiu a lepra, aquele, tempo, hoje é hanseníase não tem problema, mas naquele tempo tinha uma lei de 1940, que não podia ficar convivendo, tinha que se isolar, então ela foi afastada, foi pra um hospital de Casa Branca, então isso daí me revoltou

Page 180: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

barbaridade, aí tinha um vizinho que tinha uma venda perto de casa, um vizinho mais velho que eu e eu comecei a conviver com ele e ele fumava e bebia, ele até morreu alcoolatra, teve internado aí no Bairral, ele morreu com cirrose hepática e tal, mas, então eu comecei a aprontar né, beber, fumar, tinha gangue, roubava as coisas(risos) aqui, ali, é garrafa no bar central, como de diz...fogos de artifícios no buraco da onça que vendia por aí, aprontava mesmo, aí o sujeito me convidou pra fazer halterofilismo e eu era magro pra chuchu, magro..e, bom tudo, até teve uma situação lá, aí ele, o sujeito tinha, um cidadão rico que tinha um conjunto de força de saúde de halteres, a barra tal e os halteres, então eu comecei a fazer com ele, aí a primeira namorada me levou pra religião, aí então eu parei de fumar e em três meses e vinte e sete dias eu aumentei 10 quilos no peso, aí me entusiasmei, aí e eu desde criança, vieram lutadores é, em Itapira, dois lutadores profissionais, Budu e Marquete, então a, puseram como a gente brigava como criança, puseram em mim o apelido de Budu e no meu companheiro de Marquete, eu reagia aí pego, então, ai eu sei que é...eu gostava de boxe, capoeira e halterofilismo e fundei no porão de casa a academia dos 10, era com essas três atividades e o clube da ventura, eu gostava de caçar e pescar então a gente começou assim a acampar aqui, no ribeirão da penha, fritava o peixe e depois a gente começou a ir pras fazendas daqui, começou a caçar com espingarda, caçar e pescar e aí foi, foi, foi aí nossa, tomei um gosto foi o que o acampamento, o passeio campestre, o contato com a natureza, todos os alunos, desde do primeiro ano, nunca eu deixei, passeio campestre, ia até uma fazenda, chácara, fazia uma série de atividades, nadava no rio, piscina, lago é luta de boxe, sempre eu mantive é dois pares de luvas de boxe, tenho até hoje, e aí, e acampamento, quando chegava na sétima série a gente acampava, três dias bem educativos mesmo(Então foi graças ao senhor gostar um pouco de esporte que o levou a fazer Educação Física?) É, foi educação física e daí nossa, e foi evoluindo, então quando eu comecei em 62 aqui, eu pertencia ao Lions Clube e tinha um José Serra, que também era presidente, quando, em 64, foi justamente na revolução, foi muito propício, porque a gente tinha idéia de nossa, generalizar a prática, mudar, porque Itapira era um pessimismo, era um grupo contra o outro sabe e tomar, um grupo tomava a iniciativa de fazer coisa, não o terreno esportivo, em qualquer situação, o outro grupo destruía sabe, era um negócio, era uma mentalidade, eles chegavam até falar que tinha enterrado uma caveira, aí, então, através do Lions Clube nós começamos, tinha uma quadra de, tinha quadra velha da escola que foi uma luta pra consegui iluminar pra conseguir olimpíada, foi uma luta tremenda, aí então em 64, nós começamos com tudo já.

Outro (s) Curso (s) realizado (s)

Ano de Conclusão do Curso de Graduação e Instituição

Tempo e Período de Atuação na (s) Escola (s)

Na escola pública vinte e cinco anos, de 62 a 86, depois 17 anos no Anglo (Aí o senhor se aposentou?) e Trabalhei no hospital psiquiátrico(Mas com aula o senhor, quase 40 anos então?) Quarenta anos, mas eu tinha o curso, isso aí é interessante, eu tinha o curso de educação física, formação integral, educação física infantil, formação integral, eu tinha turma de sete, oito anos, meninos, nove e dez onze e doze então eu mantinha na AABB, tinha piscina, campo de futebol, quadra de basquete, tinha tudo lá, então eu dava duas aulas semanais, e um evento mensal, duas aulas semanais na

Page 181: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

AABB, agora um evento mensal, passeio campestre, passeio de bicicleta, acampamento educativo, excursão, jogos amistosos com outras escolas e no final do ano uma olimpíada de uma semana envolvendo a família, então nessa categorias, a coisa tava...e aí ex alunos meus que colocavam os filhos, então teve um ano que terminou com 76 alunos e tinha 30 famílias esperando vaga, então foi mesmo...então o que passou, quem eu não peguei na escola pública, nem no Anglo, eu pegava como aluno particular, isso foi muito bom.

O PERÍODO DA DITADURA MILITAR EM QUESTÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Avalie o Governo da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

È, como eu disse no inicio, 64, 65, muito bom pra escola, educação física escolar, porque entrou o Major Padilha e ele entrou com o campeonato colegial de esportes, então isso era uma motivação muito boa pra, então aí que nós começamos com a Ginástica Olímpica, é, com o basquetebol a gente não era bom não, levava cada surra do Culto a ciência(colégio de campinas) tinha um professor, era um colégio autônomo, tinha doze professores de educação física e eles também jogavam em clubes, então levava cada sapecada, aí teve um ano que eu fiquei conhecendo o Paulo Vivan dos Santos, ele era do tecnico do Corinthians, do infantil e aí eu comecei a acompanhá-lo nas férias, fui lá no Corinthians e fiquei acompanhando os treinos e tal e aí ele me levou pra assistir as finais do campeonato infantil do estado de São Paulo, aí acompanhei todo, Corinthians foi campeão e aí eu vim e comecei a trabalhar com basquete tá, aí foi, nossa vida, chegamos, aí chegou uma decisão, ganhamos aqui na região e foi decidir com o culto a ciência lá, aí foi, nossa senhora, até foi, o Emil Rachedi, tava lá nessa ocasião, ganhamos de quarenta...foi diferença de três pontos, tem recorte de jornais, na ocasião, ta tudo no relatório, até o Emil Rachedi veio cumprimentar nós, ficamos impressionados, aí nesse, aí nós fomos ganhando e foi e o basquete foi melhorando, melhorando, quando chegou na equipe Submil a gente ganhou tranquilamente né, na região aí nos fomos decidir o regional, o regional, nós fomos decidir com Casa Branca, eram quatro equipes né, é, aí nós vencemos o primeiro jogo né, Casa Branca venceu, eu não sei que equipe que foi Pirassununga, eu sei que venceu as quatro horas da tarde, aí nos jogamos as oito horas mais ou menos e vencemos a outra equipe daí nos fomos decidir com Casa Branca e era pra ser no dia seguinte, foi em 1970 e no outro dia era o jogo da seleção brasileira de futebol(Na copa?) É, aí houve um, ‘vamos realizar esse jogo a noite mesmo’ aí perdemos, perdemos, pra Casa Branca, o pessoal tava casado, daí nos fomos jogar lá e ganhamos deles, mas tinha, e um ano também em handebol a gente tinha uma equipe de handebol e atletismo, mas muito boa mesmo, se classificavam em jogos regionais, estudantes que representavam aí fomos vencendo tranquilamente a fase regional, aí a final no...Ibirapuera em agosto treinamos mês de julho, quando chegou lá o Paulo Maluf pegou as verbas, porque era ano eleitoral, aliás em 79 a, em 79 foi o único ano, a educação chegou no fundo do poço com ele(Com o Paulo Maluf?) Paulo Maluf, nossa, o salário, a situação dos professores era péssima e fizemos uma greve e ele abafou o movimento, tivemos que repor aula, então isso foi horrível, e esse aspecto da revolução também, outra coisa também, eu me lembro de professores de sociologia, ele andou comentando sobre comunismo, a esquerda, falando da Rússia, veio coisa nele, foi chamado, deram uma prensa nele que, daí a escola sucateou, de 71 com a reforma do ensino, eles copiaram dos Estados Unidos mas não tinham estrutura pra nada, então ensino profissionalizante, não tinha nada, então foi uma enganação

Page 182: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

tremenda, daí pra frente, (E a escola, o senhor falar escola de ginásio, secundário, faculdade também?)Isso, é também começou, deixa eu ver, o Jarbas Passarinho era ministro da educação aí foi quando surgiu a escola particular, a filha dele tem uma escola fabulosa, aí a coisa degringolou mesmo.

Opine sobre o modo de Governar, relatando o que concordava ou não

Ah, tinha uma série de coisas, por exemplo, a obrigatoriedade de, hastear a bandeira e cantar o hino nacional,no fim ficou, ficou meio, e a própria educação (Foi pra bem ou foi pra mal?) Pra mal,foi, não sei se foi coincidência do Paulo Maluf que ele era da Ditadura, (Da Arena né?) É, ele foi nossa, e aí quando chegou numa situação, você veja, a ultima olimpíada que eu realizei, a vigésima quinta, a gente ficava um mês em torno daquilo, a família ficava de lado era, atividade de manhã, a tarde, daí a tarde emendava com a noite, os jogos noturnos né, então eu comia ali, no bar do gole, perto da escola, comia um sanduíche coisa e tal, saía onze horas da noite da escola, no outro dia cinco horas da manhã tava lá pra fazer, isso foi sempre assim, habituei a levantar quatro e trinta ad manha, cinco horas tava na sala de educação física me organizando, aí o, o ultimo ano, eu terminei as onze horas da noite no sábado, era seis de setembro, aí no dia, aí eu descansei no domingo ‘nossa vida, quanto trabalho’ era um negócio sério, ai descansei no domingo, aí segunda feira, dei aula seis horas da manha, até as oito, quando eu fui assinar o ponto tava, vermelho, porque eu no dia sete de setembro, no domingo eu não fui hastear a bandeira e cantar no hino nacional(risos) aí não teve dúvida, surgiu o Anglo, e os donos do Anglo foram meus alunos, foram meus alunos então, aí eu já recebia a proposta, nossa, tudo aquilo que eu fazia no fim de semana e tal, ele me pagavam, eles pagavam, tinha um acréscimo no salário porque eu fazia acampamento, passeio campestre, passeio de bicicleta, e aí foi, então foi uma compensação muito boa.

Relate como eram as aulas de Educação Física ministradas. Qual método, conteúdo e/ou prática aplicadas e/ou desenvolvidas e/ou ensinadas.

Então era, era sessão de atividade física generalizadas, do Listelô, então começava com uma chamada, a ordem unida e depois dava um exercício de ordem e ritmo também sabe, isso era excelente, tive até equipe de ritmo que fazia exibição, desfile, a gente fazia exibição sabe, você marchando, quatro passos, depois faz meia volta, depois faz meio volta, depois vai pra direita, vai pra esquerda, marcha, com pelotão de ritmo, então o ritmo era, e depois ai vinha, a ginástica olímpica, aí eu fazia, nós chegamos a competir, nós pegamos no primeiro campeonato no Pacaembu, nós pegamos terceiro lugar, os foi, o Mackenzie primeiro, e um colégio particular de Botucatu, colégio religioso de Botucatu e nós ficamos em terceiro, já recebemos medalha e o primeiro campeonato de ginástica olímpica do interior que foi em Itapira, que veio até o Boaventura,(Ah foi aqui?) Foi, é o Massucato, tem bastante fotografia, dos campeonatos de ginástica.

Avalie a Educação Física Escolar após o golpe de 1964

Aí a coisa defasou(Logo depois do golpe?) Foi, aí já houve uma, uma, Ester Figueiredo Ferrari, que tava na secretária de educação, aí fez um reforma do ensino, foi essa reforma, 71, aí a coisa aí degringolou, começou ..aí chegou num ponto que não tinha mais nota, era conceito e aí a coisa balançou, e ainda nós tivemos o azar aqui

Page 183: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

de o diretor efetivo, era parente da Carmen, O Uete Toninho Uete, da Usina, então ele se comissionou e ficou sabe, política, não tinha nada com a escola, então o que houve troca de diretor, teve um ano que teve cinco troca de diretor, bagunçou (Porque era um cargo mais político?) Não, não escolhia aqui, sei lá o que eu foi, sempre tinha os concursos de diretor, sei lá, a coisa bagunçou, chegou esse período a coisa ficou tão ruim, que na reunião de professores, era cinco, a diretora que era substituta, não tinha aquela autoridade, “a delegacia regional de ensino mandou fazer assim” controlava a reunião de professores, tá, tá, tá, escrevia tudo na lousa, isso em 79, a coisa ficou, quando eu falei que chegou no fundo do poço em 79, aí que tinha o doutor Hélio Amâncio, fabuloso, psiquiatra, ele que criou a comunidade terapêutica aqui, era uma sumidade, aí ele dava aula de biologia né, aí ele pegou o grupo mais interessado e falou “ olha nos estamos jogando pedra pra cima, ta caindo na nossa cabeça, vamos reagir independente de delegacia, de diretor, vamos reagir, vamos começar a exigir dos alunos e tal, tal” ah, não houve duvida, nós pegamos pra valer e justo nesse ano, nesse ano, eu ainda controlei mais a freqüência, é naquela época, o aluno que tivesse, eu acho que até comentei com você, o aluno que tivesse mais de vinte e cinco por cento de falta na educação física ele não fazia exame com os outros, não fazia em dezembro, fazia fevereiro se ficasse, então esse ano, justamente controlei bem a freqüência, teve aquele caso de uma família, no terceiro colegial ficou, eu deixei, veio um processo da, a família influente, tinha amizade lá com sujeito da secretaria de educação, veio um processo conselho estadual de educação, nós rebatemos.

Analise a Educação Física como forma de alienação dos alunos e/ou dos professores de Educação Física

Ae é foi, quer dizer, o pessoal, a educação ficou ruim em todos os sentidos né, a educação física a gente agüentou cômo pode né, até eu desistir né, ai quando surgiu o anglo, já o Jarbas Passarinho começou com a escola prticular(Mas o senhor acha que o governo começou a utilizar das aulas de educação física, como uma maneira de distrair os alunos pras questões políticas que aconteciam no país, pra não verem isso ou encobrir talves)Deixe me ver naquele período...as competições, 62, o Brasil ganhou o futebol, depois 66 né, eles usaram bastante, o esporte, o futebol principalmente.

Opine se a Educação Física sofreu alguma mudança no seu caráter escolar por influência governamental

Não, não dá pra perceber, acho que é a influencia militar, era a situação de cantar o hino nacional, hastear a bandeira, essa exigência né (Mas dentro do conteúdo das aulas o senhor sentiu alguma influência, alguma interferência?) Não, não, me lembro só desse professor, João Bonfá, que quando começou a falar assim, deram um chega pra lá, João Angelo Bonfá, o Janjão, já morreu.

Relate sobre investimentos, seja na formação dos professores, seja na estrutura física da escola em prol da Educação Física, tais como, quadras, materiais esportivos, cursos para professores etc.

É, eles travam começando a construir centros esportivos, aqui Pirassununga por exemplo, por influencia da Aeronáutica, construíram lá um centro esportivo, com tudo, ginásio de esportes, piscina.Nas escolas não, (A estrutura física era boa como a quadra, material esportivo?) Nossa, isso foi daí foi tudo custa nossa, começamos uma

Page 184: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

campanha em 70, quando ganhamos o segundo título do atletismo a gente fez uma campanha, os alunos deram dinheiro, os professores, os pais dos alunos, as famílias, o povo e as entidades, nós ficamos dois anos construindo a praça de esportes do IESO[ Escola Estadual do Município de Itapira, onde é a maior escola da cidade, com campo de futebol e pista de atletismo no interior da escola] ( E os cursos para professores, o Estado financiava) Não, não, era a APEF que fazia, associação dos professores(Mas a APEF, tinha uma relação com o governo?) Não, não, acho que não.(Material era escasso ou o Estado fornecia material pro senhor?) A gente ia buscar, tinha conhecimento, porque eu fiquei em São Paulo dois anos e tinha ligação com o pessoal lá trazia(Da secretaria de Educação?) Do DEF( Do DEF?) Era, ali que o Major Padilha atuava, departamento de educação física e esporte, ali na Água Branca(Então, o estado chegava a fornecer pro senhor dar aula?) Não eu ia buscar,(O senhor tinha que ir atrás?) Nem todos(Não havia política de distribuição?) Não, não, eles construíram esses centros esportivos em alguns lugares(Mas era vinculados a escola esses centros ou pra população?) Acho que mais pra população(E os cursos que o senhor fez, o senhor mesmo que custeou?)A é,( O senhor que pagava ou a APEF que dava?) Não, não, a gente que pagava( Ah a APEF fornecia o curso e senhor que pagava?) É, alojamento né(Não tinha nenhuma política do Estado pra investir na formação do professor?) Não, não, era era pra APEF(Se o professor quisesse alguma coisa ele tinha que ir trás?) Sim, aé.

As conquistas esportivas obtidas pelo Brasil no cenário internacional como Olimpíadas, Campeonatos Mundiais entre outros, na sua opinião, era usadas como forma de propaganda positiva pelo Governo?

A o futebol sim, nossa, naquela ocasião, acho que 66, 70 é..(E mais algum esporte além do futebol?) Não, mas o futebol era mais popular.

Existia alguma cartilha e/ou apostila como uma “guia”para nortear as aulas de educação física? Se sim, quais?

Não, não (Mas as aulas do senhor, o senhor mesmo montava, não havia nada para dar um apoio?) Não(Tudo era por conta própria, curso, material, conteúdo?) Sim, tinha que correr atrás, era idealismo mesmo, era aquela vontade de concretizar o ideal que a gente tinha.

Na (s) escola(s) que o senhor atuou havia competições esportivas entre as salas? Se sim, quais as modalidades eram disputadas?

Logo de inicio já realizava o campeonato de futebol(Na própria escola?) Na escola categoria infantil e categoria juvenil, e na entrega de medalha, a gente exibia filmes americanos, eu ia lá no consulado americano em São Paulo e trazia filmes de esporte e...era...depois, mas sempre a gente realizou, eu quando cheguei idealista, pra mim a desportividade, ganhar dinheiro com o futebol, o bicho que dava, dava um bicho,né isso pra mim era um negócio muito sério, então,outra também a questão de desportividade, isso daí eu me preocupava muito, saber ganhar, saber perder, o jogo honesto, limpo, então, eu me lembro que tinha os melhores jogadores da cidade tavam lá, time da...turma nossa, aí então tinha um professor de geografia que gostava de futebol aí nos resolvemos “bom vamos formar uma equipe pra servir de exemplo pras outras equipes, vamos dar exemplo de desportividade, jogo limpo e tudo” ai

Page 185: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

tá,convocamos trinta e um e perguntamos “ qual o técnico que vocês querem aqui da cidade?É o Ná” fui lá o Ná deu pulo “dessa altura” a nata tava tudo lá, ai fizemos, convocamos, já tava providenciando os uniformes e tal, a gente entusiasmado, aí no primeiro treino, trinta e um alunos convocados, os trinta e um travam lá(Qual era a escola?) Era o IESO, aí o segundo treino, aí esportiva começou a treinar, era o Rio Branco Esportiva, começou a treinar, dezoito, aí eu fui no treino lá peguei, dois pra ganhar, aí não deu pra continuar.(E na escola tinha mais competição além do futebol?)A tinha, campeonato de basquete, campeonato de handebol, a olimpíada, handebol nós tivemos equipe, em 82 a gente ia ser campeão do estado, ou pelo menos ta entre os três primeiros, com certeza, nossa o Carpi, era arremessador de peso, disco, grandalhão, goleiro, nossa, nossa equipe aqui, jogou contra o colégio particular, daqui de campinas, nossa, ganhava, a hora que o Carpi entrava e começava a bater bola, cada cacetada, o goleiro tremia e foi quando a gente treinou em julho, estávamos embalados, tanto no atletismo quanto no handebol, aí o que aconteceu o Maluf suspendeu a fase final do campeonato, mas a gente fazia, o handebol, o atletismo, o basquete, o voleibol,era sessão de atividades física generalizadas né, trabalhava com tudo, as olimpíadas aí a gente colocava várias modalidades, que a gente realizou.

Existia, também, alguma forma de treinamento esportivo na escola, seja fora do horário letivo ou não? Se sim, relate quais modalidades eram treinadas?

E teve isso também, foram fazendo educação física, como o Valdir Barbante, Paulo Roberto de Oliveira, Miguel Arruda, aí eles treinavam também, eles orientavam treinamento, o Valdir chegou lá, foi recordista brasileiro do Decatlo, foi a Universíade, (E esses treinos eram dentro da própria escola?Era o senhor que ministrava esses treinos?)Os treinos, depois os ex alunos né(Então era os ex alunos que vinham na escola pra dar treino?)É, é, em olimpíada por exemplo tinha ex aluno na USP, vinha os estudantes da USP fazer arbitragem dos jogos e tudo(E as olimpíadas eram só para os alunos dessa escola, IESO?) É, olimpíada, mas teve duas intercolegial, em 67 e em 70, em 70 foram vinte escolas, tá lá no livro, todas as classificações.(E dentro desses treinamentos que tinham na escola, quais eram as modalidades que eram as mais treinadas?) Mais era o atletismo, nós fomos seis vezes campeões do estado, juvenil, no infantil varias vezes também, quatro vezes no infantil e regional, não ia pro final e no mirim, o basquetebol, quando eu acompanhei com o Paulinho Vivan dos Santos lá no Corinthians, ai eu formei uma equipe muito boa, infantil, aí fui lá,[ pausa para apresentar o filho caçula que chegou em meio a entrevista]Então, aí eu formei a equipe, muito boa né, chegamos, foi essa vez que a gente classificou, venceu o Culto a Ciência, venceu todo e foi pra uma final, lá no Pacaembu, aí nós jogamos contra a equipe do Corinthians do Paulinho e vencemos a equipe, então a gente achou que...o primeiro jogo tinha o São José dos Campos que era o Bombardo que era o técnico, foi jogador da seleção brasileira e depois mais duas, Presidente Prudente que tinha uma boa equipe então nós jogamos, São Joaquim da Barra, jogamos, aí a gente entrou todo, achando que...ganhamos lá do Corinthians né, perdemos pra São Joaquim da Barra, perdermos pra São Joaquim da Barra e aí jogamos com Presidente Prudente que era uma equipe muito melhor e ganhamos, aí a gente caiu em si mas depois com São José dos Campos, aí não tinha jeito (Então tinha bastante essa questão do treino na escola, o senhor relatando, tinha bastante alunos) Tinha, quatrocentos e pouco alunos, (Tudo isso fazendo só o treinamento?) Não frequentando as aulas, agora, treinamento assim não, tinha menos, (Mas o senhor não chegava a dar tanto treino, era mais com os ex

Page 186: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

alunos que seguiram a carreira)Depois é, quando nós conquistamos a pista aqui, aí o Miguel e o Gildo, foi o melhor resultado técnico em 71, lá no Pacaembu, ele que acendeu a pira na abertura da semana da pátria.

A GRADUAÇÃO NO PERÍODO MILITAR

Na sua graduação, quais disciplinas foram desenvolvidas. Avalia, hoje, certa predominância das disciplinas esportivas, pedagógicas, técnicas, das áreas biológica, educacional e/ou profissionais?

(O senhor relatou que estou na Universidade do Brasil, uma das mais tradicionais, né, a Maria Lenk estudou lá, entre tantos outros) Eu te contei da Maria Lenk? (Não senhor)Ela dava aula em particular no Copacabana Palace e ela me deixava assistir, tive muita ligação com ela, tanto que quando ela veio aqui com noventa anos, ela veio competir no trigésimo sétimo campeonato brasileiro de natação máster, aqui no tênis clube de Campinas, na ocasião eu tinha uma fotografia com ela, eu, ela e uma aluna, aí minha esposa fez uma caixinha tudo, eu caprichei, dei para ela, conversei com ela, ela ficou feliz da vida, e ela fez seis provas nesse campeonato, nadava uma hora, duas horas ali na arrebentação(No mar?) É.Ali, deixa eu ver, eu tinha esportes terrestres, ataque e defesa, esportes de ataque e defesa, tinha boxe, judô e esgrima, a capoeira a gente aprendeu com um aluno baiano que veio e aí ele que ensinava, tinha o ginástica de aparelhos, tinha todos os aparelhos, argola, plinto, barra paralela, barra fixa, todos os aparelhos, isso o professor era muito bom, tinha o futebol, o basquete, foi o Renato, ele foi técnico da seleção brasileira depois, mas carioca, muito cheio de conversa(Disciplina educacional o senhor tinha, pedagógica?)Tinha, bom tinha, cinesiologia, anatomia, tinha psicologia, fisiologia(Socorros de urgência havia também?) Socorros de urgência, alias deixa eu contar uma passagem, é, socorros de urgência, o professor era muito bom e então ele pediu um trabalho pra dar nota sobre socorros de urgência, e aí eu peguei um livro de escotismo, peguei tal, fiz um trabalho caprichado né e aí no dia dá ele pegou mandou que, quem fizesse o trabalho colocasse na mesa e nós colocamos todos os trabalhos lá né e eu vi um carioca, mexendo lá, daí quando chegou na aula seguinte, ele falou “olha vocês que não entregaram o trabalho na próxima aula vão entregar hein” e aí, eu sei que quando eu cheguei, quando entregamos os trabalhos eu vi o carioca lá mexendo nos trabalhos, daí quando chegou na aula seguinte, ele cobrou meu trabalho falei, mas como se eu entreguei, e aí pá, veio um estalo, aí na outra aula, ele entregou igualzinho uma cópia, ah rapaz no vestiário, peguei o carioca, malandro, olha que sacanagem.(E dessa disciplinas professor, qual era a predominância maior, essa da áreas biológicas?)Cinesiologia foi muito fraca, (O senhor tinha matérias de humanas, como filosofia, sociologia?) Não...(Então predominava mais o que, as esportivas, as praticas?) As praticas não, tinha teoria sim, eu to querendo me lembrar, dança é só feminino, esgrima praticamos muito pouco, era mais boxe e judô(natação?) Natação boa....conseguimos uma piscina em 110 dias( É a famosa greve da Escola Nacional não é?) É, nossa aquele período, e tinha um professor, catedrático de esportes aquáticos era o La Torre (O Alberto Faria de La Torre) Ele era do ISEB, instituto superior de estudos brasileiros o ISEB preparava, era da esquerda, ele preparava o pessoal pra dialética, era um négocio sério, ele era preparado, então ele insuflou os alunos para tirar o diretor e a intenção era ele ocupar a direção da escola, então nós pusemos o diretor pra fora, o Peregrino Junior,(E ele era bom professor?) Era mais ou menos, mais muito, ele tinha uma capacidade...a gente tinha as aulas na instalações da

Page 187: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Associação dos funcionários públicos do Brasil, era uma potencia, e tinha o campo de futebol, tinha o ginásio e esporte, tinha a piscina, tava bem..aí surgiu a associação, fez o contrato, ia construir uma exposição, um negócio, uma exposição no campo de futebol, já tava estaqueado, começou a estaquear, aí nós reagimos, fizemos uma assembléia, trouxemos o diretor da associação dos servidores e o engenheiro da obra né, aí fez, 100 alunos assistindo a assembléia, rapaz...que capacidade de, pra dialética, ele fez, ele pegou a maquete, ele fez o engenheiro concordar com ele que era um ‘monstrinho’ não teve dúvida, aquilo foi construindo lá perto da praça São Cristóvão, foi construída a exposição foi pra lá, Alberto La Torre, como você sabe dele?(Eu li um autor chamado Victor Andrade de Melo que estudou na Unicamp e fez uma dissertação de mestrado sobre a história de vida do Professor La Torre, mas nos livros do Lino Castellani, ele, o Professor Fernando de Azevedo, Professor Inezil Penna Marinho são as referencias da educação física no Brasil, que iniciaram as pesquisas, por isso que eu lhe falei que a escola do senhor é tradicional, e esses professores também.

Quanto as disciplinas esportivas, haviam mais conteúdos práticos ou teóricos? Como se dava o ensino?

Era mais prática ( E como era o ensino, tinha que executar o movimento também?) tinha, (O professor fazia e os alunos repetiam?)Sim, (Havia conteúdo teórico ou era só prático?)deixa me ver, tinha, (Mas predominava o prático?)É (Na avaliação a nota era de acordo com o movimento?Se caso o senhor fazia bem, tinha nota boa?)É tinha execução, o Edson Bispo dos Santos, aquele do basquetebol, era um jogador de basquete, então na ginástica de aparelhos era um negócio, principalmente nas paralelas.E no boxe tinha exame, e tem até uma história interessante, naquele tempo o preconceito era um negócio muito sério e a prova de inicio do meio ano, tinha luta mesmo pra valer, e tinha um Aldemam Toledo Mariosa, cheguei a comentar isso?(Não)Ele era todo, jogava muito bem voleibol, mas sabe era meio ‘afrescalhado’ aí e a turma tinha sabe, era um preconceito rapaz, ai no exame da segunda série, tinha o Eduardo que era craque por boxe, mas muito bom mesmo e o auxilair de ensino e ele que foi fazer a prova do segundo ano, então a turma conversou com ele puseram justamente o Aldemam com esse Eduardo que era muito bom, ‘bate nele’ e foi, e começou a bater, o cara teve uma crise pegou balde, que você cospe água, e foi em cima dele com o balde, foi um escândalo.E você sabe que a capoeira, a codificação da capoeira, lá na Escola Nacional de Educação Física e Desportos, eu acompanhei o Mestre Pastinha começou daí o La Torre continuou com a situação acabou codificando, o movimentou começou lá, eu vivenciei o começo lá.

O que se discutia sobre a Educação Física na escola?

Na USP, (Na onde o senhor fez a pós graduação?) Fiz especialização técnica em massagem esportiva e fiz especialização técnica em natação, mas tinha um currículo, a massagem não era só massagem a ginástica que era o professor Boaventura(Mas na graduação os professores não falavam da educação física na escola, nas matérias, era só matéria daquilo, ou eles falavam de como aplicar na escola?)Não, não me lembro.

A relação aluno-professor no seu entendimento, era uma relação hierarquizada? Se sim, especifique como e quem estava subordinado a quem nesta relação?

Page 188: educação física escolar na Ditadura Militar 1964-1985 - Iniciação cientifica

Não, não principalmente no rio, em São Paulo sim que o Boaventura era assim mais, lá, nossa, eu fui presidente do diretório acadêmico, falava com o professor, tinha até auxiliar de ensino(Era uma relação mais aberta?) É.

Quais conteúdos eram abordados nas disciplinas?

Passava a teoria e pratica também(abordava os métodos, como Frances, sueco?) É, tinha isso.

Conversavam/Falavam/Discutiam sobre a Ditadura Militar?

Não,eu me preocupava com a educação, com a formação integral do pessoal.

Como aluno de graduação e professor na época, apresente uma avaliação geral da Educação Física Escolar no período da Ditadura Militar.

Esse período eu achei interessante a questão do esporte né, a gente tinha o campeonato colegial que foi nossa, o que surgiu de atleta né e nos outros esportes também, basquete, voleibol, tudo, esse período, isso foi bom, agora no lado de ensino lá a coisa não foi muito legal(A educação?) É começou a, quando começaram as escolas particulares a coisa ‘degringolou’(E havia muita repressão nesse período, o senhor chegou a ver algum caso?) De professor? (Sim) Foi aquele caso do João Augusto Bonfá