educaÇÃo e informÁtica edno gonÇalves siqueira; simone rezende manhÃes

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  UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO R IO DE JANEIRO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCHS Pedagogia Para Os Anos Iniciais Do Ensino Fundamental PAIEF/UNIRIO/CEDERJ Pólo São Francisco de Itabapoana EDUCAÇÃO E INFORMÁTICA. SIMONE REZENDE MANHÃES SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA 2008 1

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Trabalho monográfico acerca do tema.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO R IO DE JANEIRO

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCHSPedagogia Para Os Anos Iniciais Do Ensino Fundamental

PAIEF/UNIRIO/CEDERJPólo São Francisco de Itabapoana

EDUCAÇÃO E INFORMÁTICA.

SIMONE REZENDE MANHÃES

SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA

2008

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SIMONE REZENDE MANHÃES

EDUCAÇÃO E INFORMÁTICA.

Trabalho apresentado ao curso de Pedagogia Para Os Anos Iniciais Do Ensino Fundamental

PAIEF/UNIRIO/CEDERJ, Projeto Monográfico em Educação Inclusiva sob a orientação

do Prof. Ms. Edno Gonçalves Siqueira.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

 programa de Graduação em Pedagogia Para Os Anos

Iniciais Do Ensino Fundamental - PAIEF/CEDERJ - da

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO,como requisito parcial para obtenção do Grau de

Licenciado, na área de concentração em Educação e

Tecnologia.

Orientador: Prof. Ms. Edno Gonçalves Siqueira.

SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA

2008

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SIMONE REZENDE MANHÃES

EDUCAÇÃO E INFORMÁTICA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em PedagogiaPara os Anos Iniciais Do Ensino Fundamental –PAIEF/CEDERJ – da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro – UNIRIO, como requisito parcial para obtenção do Grau deLicenciado, na área de concentração em Educação e Tecnologia.

Aprovado em ____ de ___________ de 2008.

COMISSÃO EXAMINADORA

 ______________________________________________ 

 ______________________________________________ 

 ______________________________________________ 

Prof. Ms. Edno Gonçalves Gonçalves Siqueira.Orientador 

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“O respeito à autonomia e à dignidade de cadaum é um imperativo ético e não um favor quepodemos ou não conceder uns aos outros. (...) Énesse sentido também que a dialogicidadeverdadeira, em que os sujeitos dialógicosaprendem e crescem na diferença, sobretudo,no respeito a ela, é a forma de estar sendocoerentemente exigida por seres que,inacabados, assumindo-se como tais, se tornam

radicalmente éticos”.

(Paulo freire)

 

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AGRADECIMENTOS:

Agradeço a Deus que me deu a vida, iluminou meupensamento, me deu forças para buscar

conhecimentos e acreditar que seria capaz dealcançar este objetivo.

Ao meu Orientador Edno Siqueira, que não mediuesforços para me orientar, esteve sempre àdisposição nos momentos de dúvidas, procurandosempre nos orientar da melhor maneira possível.

Ao meu esposo Fábio dos Santos, agradeço pelocarinho, compreensão e incentivo ao longo destacaminhada.

A minha mãe e meu Irmão agradeço pelo incentivo econfiança que tiveram no decorrer deste trabalho.

A todas as colegas da faculdade, em especial: Ariane,Kétilla, Rosemere e Rita. Também a duas amigas: Rosaneda Conceição e a tutora Tatiana Lima, obrigada peloapoio amizade e incentivo.

Aos professores, do CEDERJ/UNIRIO e a todos quedireta ou indiretamente contribuíram para arealização deste curso nos motivando, respeitando e

nos orientando.

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Mensagem aos colegas:

“O importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,é também criar laços deamizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar nela.”(Paulo freire)

Mensagem a todos aqueles que amamos: esposo, mãe e irmão.“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com queacontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas

incomparáveis."(Fernando Pessoa)

Mensagem aos nossos professores, do CEDERJ/UNIRIO, aonosso Orientador Edno Siqueira e a todos que direta ou indiretamente contribuíram

para o nosso desenvolvimento e conhecimento pessoal:

“Se agora falamos em educar as pessoas como o mundo precisa, devemos compreender queesse processo, necessariamente, não será uma educação para o conformismo, mas á

liberdade e autonomia, pois somente baseado em indivíduos verdadeiros poderá existir umverdadeiro ‘mundo.”( Cláudio Naranjo)

Muito obrigada por todo incentivo, respeito e carinho no decorrer deste curso...

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RESUMO

Mais do que nunca se faz necessário introduzir as novas tecnologias na educação, mas

 para isso é preciso está integrando acompanhamento pedagógico as novas tecnologias na

educação, com o propósito de desenvolver um dialogo entre o homem e a máquina, permitindo a sua integração no processo de ensino-aprendizagem. Pois hoje o computador,

 já se tornou um objeto de uso pessoal, daí percebemos a importância dele está inserido no

cotidiano das escolas, como auxilio no processo de ensino.

Também já podemos considerar a informática como um instrumento para a conquista

da cidadania, mas para que ocorra de fato a cidadania é preciso que todos tenham

consciência do que representa seu papel na sociedade e como a informática e a

comunicação contribuem para que seja realmente inserida de modo democrático no meio

social.

Segundo (Arruda, 2004, p.127) “A grande decisão não é falar se o computador entra

ou não na escola, mais sim como ele entra, como se ensina e como o professor trabalha com

ele”.

Hoje já não é mais suficiente ao falar de inclusão digital, pensar nos telecentros, pois o

computador deve estar inserido no cotidiano escolar das comunidades, seja elas de baixa ou

de renda alta. Tornando os alunos realmente incluídos no uso das novas tecnologias com

  propósito de melhor desenvolvimento no aprendizado tornando-se autônomos e

construtores de seu próprio conhecimento.

Com este trabalho temos a oportunidade de observar que não adianta colocarmos a

máquina na frente dos alunos, antes é necessário que haja um preparo do professor para

enfrentar o desafio de utilizar o computador com um cuidado especial no planejamento

global do curso, na escolha do material didático, e nas propostas de objetivos a serem

alcançados. Com isso podemos pensar em uma nova forma de propor os conteúdos aos

nossos alunos, tendo oportunidade de estarmos a cada dia avaliando-os, deixando de ladoos dias e horas marcadas das avaliações, tornando o ensino mais agradável e proveitoso.

Palavras-chave: tecnologia, computador, cidadania, papel do professor.

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SUMÁRIO

CAPITULO1O conceito de Sociedade Tecnológica e suas implicações históricas. 09 1.1. Tecnologia, Sociedade e História. 09 1.2. O conceito de Cibercultura e a sociedade tecnológica. 13 1.3. O Conceito de Sociedade Tecnológica. 15 1.4. Os impactos da sociedade tecnológica na educação. 19 

CAPITULO 2Possibilidades da Aprendizagem a partir de uma Prática Docente mediada pelasNovas Tecnologias. 24 

CAPITULO 3As NTICs na Educação: um novo paradigma para a construção do conhecimento. 30

CONCLUSÃO 36 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38

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Capítulo 1O conceito de Sociedade Tecnológica e suas implicações históricas.

1.1. Tecnologia, Sociedade e História.

Para Paul Virilio, a era da informática representa algo perigoso, uma vez que nos

remete à perda da noção da realidade, quebrando distâncias e territorialidades e ainda

 proporcionando uma quantidade imensa de informações de um modo nunca presenciado

antes na história humana1. Através desta perspectiva, somos levados a refletir sobre os

aspectos negativos das conseqüências da inserção dos meios de comunicação de massa deforma tão determinante na vida comum. Ressaltamos sua crítica quando relaciona a internet 

com a história e a cultura norte-americana, caracterizada por uma imposição ao mundo, um

controle hegemônico, bem representado pela metáfora do “big brother”, da obra 1984 de

George Orwell:

 Nele é retratada uma sociedade onde o Estado é onipresente, com a capacidadede alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma

guerra sem fim, com o objetivo de manter a sua estrutura inabalada. De fato,Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma  metáfora sobre o poder e associedades modernas. George Orwell escreveu-o animado de um sentido deurgência, para avisar os seus contemporâneos e as gerações futuras do perigoque corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose -

 para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais daesquerda que percebeu para onde o stalinismo caminhava e é aí que ele vai

 buscar a inspiração - lendo Mil Novecentos e Oitenta e Quatro percebe-se queo Grande Irmão  é baseado na visão de Orwell sobre os totalitarismos devária índole que dominavam a Europa e Ásia na época. Stalin, também Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram Orwell a escrever oromance. O estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outrosmeios, pela manipulação da língua. Os especialistas do Ministério da Verdadecriaram a  Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quandoestivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opiniãocontrária ao regime. Uma das mais curiosas palavras da Novilíngua é a palavraduplipensar que corresponde a um conceito segundo no qual é possível oindividuo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmenteopostas e aceitar a ambas. Outra palavra da Novilíngua era Teletela, nomedado a um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A

1 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Virilio; acesso em 04/05/08.

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Teletela era como que um televisor   bidirecional, isto é, que permitia tantover quanto ser visto. No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundoele, o objectivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. Oobjetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso àeducação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve

 para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que

eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos.2

Outro aspecto a levar em consideração é seu alerta quanto ao empobrecimento

gerado pela concentração de dinheiro nas mãos de poucos e a automação que substitui o

homem em quase todas as áreas. Para nossa pesquisa é de suma importância refletir sobre a

tese central desenvolvida no livro Os Motores da História, onde Paul Virilio defende que:

(...) as inovações tecnológicas transformam, modificam, alteram o espaçogeográfico em todas as escalas (local, nacional e global). Ao escrever sobre osmotores da história, nos mostra como as inovações técnicas transformam asrelações entre os indivíduos com a natureza em todas as escalas. Os motores avapor, a explosão, o elétrico, o foguete e o da informática, contribuíram parauma “tecnicização do território”, tornando assim o espaço geográfico cada vezmais mecanizado com profundas alterações no modo de produzir, nas formasde circulação e de consumo do espaço. Podemos frisar que Paul Virilio dizque “O Homem sempre seguiu a lei do menor esforço”, sendo nítida esta tesede acordo com a evolução dos tempos, tal como facilitação da vida humana

através da adaptação dos meios comunicativos.3

Para este autor, a técnica, a tecnologia e a máquina representam um meio diferente

de perceber, conceber e de se relacionar com o mundo, modificando totalmente a relação

com o real, na medida em duplica a realidade através de uma outra realidade, que é uma

realidade imediata, funcionando em tempo real, sendo, porém, uma realidade virtual,

simulacro. Virilio ataca o que considera a maior deformação produzida pelas inovações

tecnológicas: a relação com o virtual, com o falso, o não real.

Para outro autor, Pierre Lévy, a internet é vista como algo universal e não totalitário,

 já que não impõe aos usuários o que acessar. Foi uma tecnologia que se impôs em 10 anos,

2 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/1984_%28livro%29; acesso em 04/05/2008.3 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Virilio; acesso em 04/05/2008.

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comparando-se com a escrita que se consolidou em 1000 anos. Ele ainda afirma que quem

não tem acesso a internet está de certa forma excluído do mundo, assim como quem não

sabe escrever.

Outro autor considerado otimista em relação novas mídias é  Nicholas Negroponte,

caracterizado por pensar sempre adiante do que vivemos e fala na possibilidade de

reproduzir máquinas com a mesma capacidade de aprendizado do homem, algo

extremamente futurista. Ele acredita que todo ser humano deve ter acesso à internet, já que

a mesma é uma fonte muito rica em pesquisas.

O autor parece não perceber que há uma profunda relação de continuidade entre o

domínio do fogo, a invenção da lâmpada e o advento da televisão e do computador. Desdeos primórdios o homem sempre procurou se libertar das limitações impostas pela natureza.

Apartar-se da natureza é um movimento que acompanha a própria construção da

humanidade e um índice das formas de sociabilidade. Foi criando um falso-dia através de

fogueiras noturnas e afastando-se da luz do dia no fundo de uma caverna que nossos

ancestrais se tornaram humanos. O falso-dia eletrônico, apontado por P. Virilio, é, portanto,

uma continuação do desenvolvimento da tecnologia e também, uma forma de manifestação

de humanidade. Desde que dominou o fogo o homem mudou profundamente sua relaçãocom a natureza. Todas as inovações técnicas subseqüentes, como a metalurgia, a construção

de motores, de geradores de energia elétrica, a invenção da TV e do computador dependem

necessariamente do primeiro grande salto em direção à civilização. Se não tivesse

dominado o fogo na aurora dos tempos, o homem não fundiria e moldaria os materiais

resistentes que possibilitaram as outras inovações tecnológicas. Pode-se objetar que o

contato homem/máquina é diferente do que existe entre homem/homem. Contudo, podemos

considerar que o contato homem/máquina é apenas uma outra forma de representar o

contato homem/homem que construiu, programou e comunicou através da máquina.

A estruturação do “humano” parece estar em relação de íntima dependência com as

modificações de sua relação com o tempo e o espaço, sobremodo através da técnica e, mais

especificamente, da tecnologia de nossos dias, na dita era digital. Contudo, além de

defender que a era digital instaura um novo tipo de unidade perceptiva, Virilio acredita que

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ela distancia o sensível do inteligível: "Uma vez que uma tal profusão de dados só pode ser 

analisada pela informática, a separação entre o sensível e o inteligível aumenta cada vez

mais." Uma das principais objeções de Virilio a era digital é que ela reduz o espaço

humano à tela do computador e, por conseqüência, redimensiona a mobilidade das pessoas.

  Não se trata do modo de movimentação, senão um alerta sobre o modo como

representamos nosso próprio corpo, dada a nova forma de sensibilidade que a tecnologia

instaura4.

Para Paul a televisão e a tela do computador substituíram, respectivamente, as

 janelas e as portas das casas. Afinal, as informações entram através da TV e o indivíduo sai

de casa  surfando na rede. A tecnologia parece então ser capaz de redimensionar o modo

como nos relacionamos com o mundo físico, dando ao homem a possibilidade de libertá-lo

de certas limitações. Há milhares de anos estamos habituados à escrita e aos efeitos virtuaisque ela produz. Já nos acostumamos tanto a ela que a consideramos "natural". Embora ela

seja uma construção humana; não natural, mas, cultural. A era digital começou há algumas

décadas. É "natural" que provoque algum estranhamento. Mas ele logo passará assim como

ocorreu no passado quando da invenção de outras técnicas que revolucionaram as

comunicações, como nos informa P. Lévy:

Os primeiros computadores (calculadoras programáveis capazes de armazenar os programas) surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945. Por muito tempo reservado aos militares para cálculos científicos, seu uso civildisseminou-se durante os anos 60. Já nessa época era previsível que odesempenho do hardware aumentaria constantemente. Mais que haveria ummovimento geral que da virtualização da informação e da comunicação,afetando profundamente os dados elementares da vida social, ninguém, comexceção de alguns visionários, poderia prever naquele momento. Oscomputadores ainda eram grandes máquinas de calcular, frágeis, isoladas emsalas refrigeradas, que cientistas em uniformes brancos alimentavam comcartões perfurados e que de tempos em tempos cuspiam linguagens ilegíveis.A informática servia aos cálculos científicos, as estatísticas dos estados e dasgrandes empresas ou as tarefas pesadas de gerenciamento (folhas de

  pagamento etc.). A virada fundamental data, talvez, dos anos 70. Odesenvolvimento e a comercialização do microprocessador (unidade decalculo aritmético e lógico localizado em um pequeno chip eletrônico)dispararam diversos processos econômicos e sociais de grande amplitude.Eles abriram uma nova fase na automação da produção industrial: robótica,linhas de produção flexíveis, maquinas industriais com controles digitais etc.

 presenciaram também o principio da automação de alguns setores do terciário(bancos, seguradoras). Desde então,a busca sistemática de ganhos de

4 Disponível em (http://br.geocities.com/revista criação2001/o_espaço_critico_virilio.htm)

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 produtividade por meio de varias formas de uso de aparelhos eletrônicos,computadores e redes de comunicação de dados aos poucos foi tomando contado conjunto das atividades econômicas. Essa tendência continua em nossosdias. Por outro lado um verdadeiro movimento social nascido na Califórnia naefervescência da “contracultura” apossou-se das novas possibilidades técnicase inventou o computador pessoal. Desde então, o computador iria escapar 

  progressivamente dos serviços de processamento de dados das grandesempresas e dos programadores profissionais para tornar-se um instrumento decriação de: (textos, imagens musicas), de organização (bancos de dados,

  planilhas), de simulação (planilhas, ferramentas de apoio á decisão, programas para pesquisa) e de diversão (jogos) nas mãos de uma proporçãocrescente da população dos paises desenvolvidos. Os anos 80 viram o

 pronuncio do horizonte contemporâneo da multimídia. A informática perdeu, pouco a pouco, seu status de técnica e de setor industrial particular par começar a fundir-se comas telecomunicações, a editoração, o cinema, e atelevisão. Novas formas de mensagens interativas apareceram; a invasão dovideogame, o triunfo da informática “amigável” e o surgimento dohiperdocumento (hipertextos, CD-ROM). No final dos anos 80 e inicio dosanos 90, um novo movimento sócio-cultural originado pelos jovens

  profissionais das grandes metrópoles e dos campi americanos tornourapidamente uma dimensão mundial. As tecnologias digitais surgiram, então,como a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, desociabilidade, de organização e de transação, mais também novo mercado dainformação e do conhecimento. Como vimos às primeiras telas nos anos 60,exibiam apenas caracteres (letras e números). Atualmente já dispomos de telas

  planas a cores em cristal liquido, e estão sendo feitos estudos para acomercialização de sistemas de exibição estereoscópica de imagens. (LÉVY,1999, pp. 31, 32, 37).

1.2. O conceito de Cibercultura e a sociedade tecnológica.

A velocidade de transformação é em si mesma uma constante _ paradoxal _ da

cibercultura. Ela explica parcialmente a sensação de impacto, da exterioridade, de

estranheza que nos toma sempre que tentamos apreender o movimento contemporâneo

das técnicas:

O próprio termo Cibercultura tem vários sentidos. Mas se pode entender 

 por  Cibercultura a forma sociocultural que advém de uma relação detrocas entre a sociedade , a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônicas surgidas na década de 70, graças à convergência dastelecomunicações com a informática. A cibercultura é um termo utilizadona definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaçoeletrônico virtual. Estas comunidades estão ampliando e popularizando autilização da  Internet e outras tecnologias de comunicação,

  possibilitando assim maior aproximação entre as pessoas de todo omundo. Este termo se relaciona diretamente com à dinâmica Política, Antropo-social, Econômica e Filosófica dos indivíduos conectados em

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rede, bem como a tentativa de englobar os desdobramentos que estecomportamento requisita. A Cibercultura não deve ser entendida comouma cultura pilotada pela tecnologia. Na verdade, o que há na era dacibercultura é o estabelecimento de uma relação íntima entre as novasformas sociais surgidas na década de 60 (a sociedade pós-moderna)e asnovas tecnologias digitais. Ou seja, a Cibercultura é a culturacontemporânea fortemente marcada pelas tecnologias digitais. Ela é o quese vive hoje.  Home banking , cartões inteligentes, voto eletrônico,  pages,

 palms, imposto de renda via rede, inscrições via internet, etc. provam quea Cibercultura está presente na vida cotidiana de cada indivíduo. ACibercultura surgiu da relação entre a tecnologia e a modernidade, sendoque esta última se caracterizou pela dominação da natureza e do ser-humano. Na Cibercultura também há uma busca pela dominação, mas setrata de dominar no sentido de manipular para conhecer e transformar. Oque se deseja transformar é o mundo: em dados binários para futuramanipulação humana. Provas disso são: a interatividade (internet, celular)cada dia mais acessível para grande número de indivíduos, simulaçõesdiversas, genoma humano, engenharia genética, etc. Foi a partir da décadade 60 que o desenvolvimento tecnológico tomou os rumos que o trouxe

  para a Cibercultura, devido ao surgimento de novas formas desociabilidade. Dessa forma, foram criadas relações inusitadas entre astecnologias de informação e comunicação e o homem. No que se refere àComunicação o papel das tecnologias foi de liberar os indivíduos daslimitações de espaço e tempo. Afinal, apenas com um clique se podenavegar e conhecer lugares, assuntos e etc. que não poderiam ser vistos ouconhecidos por inúmeras pessoas se não estivessem disponíveis viainstrumentos da Cibercultura, como o computador, internet, celulares eetc. Dessa forma, pode-se dizer que a Cibercultura se caracteriza também,e fundamentalmente, pela apropriação social-midiática (micro-informática, internet e as atuais práticas sociais) da técnica. André Lemos,

 professor da Universidade Federal da Bahia e um dos principais teóricosdo tema no Brasil, afirma que a cibercultura nasce nos anos 50, com ainformática e a cibernética, tornando-se popular através dos

microcomputadores na década de 70, consolidando-se completamente nosanos 80 através da informática de massa e nos 90 com o surgimento dastecnologias digitais e a popularização da Internet.5

Para o indivíduo cujos métodos de trabalho foram subitamente alterados, para

determinada profissão tocada bruscamente por uma revolução tecnológica que torna

absoletos seus conhecimentos savoir-faire tradicionais (tipógrafo, bancário, piloto de

avião) e mesmo a existência de sua profissão. Para as classes sociais ou regiões domundo que não participam da efervescência da criação, produção e apropriação lúdica

dos novos instrumentos digitais, para todos esses, a evolução técnica parece ser a

manifestação de um “outro” ameaçador. Para dizer a verdade, cada um de nós se

encontra em maior ou menor grau nesse estado de desapossamento. A aceleração é tão

5 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cibercultura; acesso em 24/05/2008.

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forte é tão generalizada que até mesmo os mais “ligados” encontram-se, em graus

diversos, ultrapassados pelas mudanças, já que ninguém pode participar ativamente da

criação das transformações do conjunto de especialidades técnicas, nem mesmo seguir 

essas transformações de perto.

Aquilo que identificamos, de forma grosseira, como “novas tecnologias” recobre

na verdade a atividade multiforme de grupos humanos, um devir coletivo complexo que

se cristaliza, sobretudo em volta de objetos materiais, de programas de computador e de

dispositivos de comunicação.

Resumindo, quanto mais rápida é a alteração técnica, mais nos parece vir do

exterior. Além disso, o sentimento de estranheza cresce com separação das atividades e

opacidades dos processos sociais. É aqui que intervém o papel principal da inteligência

coletiva, que é um dos principais motores da cibercultura. De fato, o estabelecimento de

uma  sinergia entre competências, recursos e projetos a constituição e manutenção

dinâmicas de memórias em comum, a ativação de modos de cooperação flexíveis e

transversais, a distribuição coordenada dos centros de decisão, opõem-se à separação

estanque entre as atividades, as compartimentalizações, a opacidade de organização

social. Quanto mais os processos de inteligência coletiva se desenvolvem, melhor é a

apropriação, por indivíduos e por grupos, das alterações técnicas, e menores são osefeitos de exclusão ou de destruição humanas resultantes da aceleração do movimento

técnico-social, ao menos no entender de Pierre Lévy (LÉVY, 1999, pp. 27-29). O

ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunicativo, apresenta-se

 justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligência coletiva. 

1.3. O Conceito de Sociedade Tecnológica.

Surge cada vez com mais força, no contexto das organizações da sociedade civil, a

idéia de levar a tecnologia digital ao alcance da sociedade. Geralmente desenvolvidas

através de cursos para pessoas de baixa renda, essas iniciativas se fizeram conhecidas pelo

nome inclusão digital, sendo pensadas e implementadas diante da constatação de uma

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desigualdade social e econômica que será agravada se não contemplar uma parcela

significativa da sociedade no contexto das novas tecnologias de informação e comunicação.

O que esses projetos possibilitam, portanto, na medida de suas possibilidades, é a

diminuição das disparidades sociais entre aqueles que têm acesso a essa tecnologia e

aqueles que passam a ter acesso não só a informática como também à Internet .6 

 Nos textos que anunciam colóquios, nos resumos dos estudos oficiais ou nos artigos

da imprensa sobre o desenvolvimento da multimídia, fala-se muitas vezes no “impacto” das

novas tecnologias da informação sobre a sociedade ou a cultura. A tecnologia seria algo

comparável a um projétil (“pedra, míssil” e a cultura ou a sociedade a um alvo vivo). Esta

metáfora bélica é criticável em vários sentidos. A questão não é tanto avaliar a pertinência

estilística de uma figura de retórica, mas sim esclarecer o esquema de leitura dosfenômenos – a nosso ver, inadequado – que a metáfora do impacto nos revela.

As técnicas viriam de outro planeta, do mundo das máquinas, frio, sem emoção,

estranho a toda significação e qualquer valor humano, como uma certa tradição de

 pensamento tende a sugerir? Parece-nos, pelo contrário, que não somente as técnicas são

imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu uso pelos homens, como também é o

 próprio uso intensivo de ferramentas que constitui a humanidade enquanto tal (junto com a

linguagem e as instituições sociais complexas). É o mesmo homem que fala, enterra seus

mortos e talha o sílex.

Seria a tecnologia um ator autônomo, separado da sociedade e da cultura, que seriam

apenas entidades passivas controladas por um agente exterior? Uma outra perspectiva, ao

contrário, seria considerar que a técnica é um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos

globais, um ponto de vista que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos,

e não uma entidade real, que existiria independente do resto, que teria efeitos distintos e

agiria por vontade própria. As atividades humanas abrangem, de maneira indissolúvel,

interações entre: (i) pessoas vivas e pensantes; (ii) entidades materiais naturais e artificiais e(iii) idéias e representações.

É impossível separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e

das imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida e ao mundo. Da mesma forma,

não podemos separar o mundo material – e menos ainda sua parte artificial – das idéias por 

6 Disponível em ; acesso em 23/0520/08.

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meio das quais os objetivos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os

inventam, produzem e utilizam.

Mesmo supondo que realmente existem três entidades – técnica, cultura e sociedade -,

ao invés de enfatizar o impacto das tecnologias, poderíamos igualmente pensar que as

tecnologias são produtos intrínsecos a um certo tipo de elaboração da sociedade como

elemento de sua cultura. Mas a distinção traçada entre cultura (a dinâmica das

representações), sociedade (as pessoas, seus laços, suas trocas, suas relações de força) e

técnica (artefatos eficazes, saberes e habilidades específicos) deve ser entendida como uma

divisão didática para servir a fins de conceitualização. Não há nenhum ator, nenhuma

“causa” realmente independente que corresponda a ela. Encaramos as tendências como

atores porque há grupos bastante reais que se organizam ao redor destes recortes verbais

(mistérios, disciplinas cientificas, departamento de universidades, laboratórios de pesquisa)ou então porque certas forças estão interessadas em nos fazer crer que determinado

 problema é “puramente técnico” ou “puramente cultural” ou ainda “puramente econômico”.

As verdadeiras relações, portanto, não são criadas entre “a” tecnologia (que seria de ordem

da causa) e “a” cultura (que sofreria os efeitos), mais sim entre um grande número de atores

humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas as técnicas.

(LÉVY, 1999, pp. 21-23).

A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral dacivilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se

condicionada por suas técnicas. Estar condicionada não implica ser meramente

determinada, e essa diferença é fundamental. Não há uma “causa” identificável para um

estado de fato social ou cultural, mais sim um conjunto infinitamente complexo e

 parcialmente indeterminado de processos de interação que se auto-sustentam ou se inibem.

Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que

algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença.

Mas muitas possibilidades são abertas, e nem todas serão aproveitadas. As mesmas técnicas

 podem integrar-se a conjuntos culturais bastante diferentes (ibidem, p. 25).

Segundo Ciro Marcondes Filho, os sistemas eletrônicos forjaram um novo espaço. Um

espaço que difere do real-físico palpável, de uma geografia. Diferente também do espaço

imaginário que construímos mentalmente quando lemos um livro ou fantasiamos um lugar,

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uma cena. O espaço cibernético das redes, da realidade virtual, das comunicações

eletrônicas é tão imaginário quanto o outro, o nosso, subjetivo; mas é coletivo e vivenciado

 por múltiplas pessoas ao mesmo tempo. Apesar de não existir materialmente, não ser 

 palpável, pisável, sensível, ele existe.

A era tecnológica forja uma estrutura unificadora própria, sua metafísica a partir da

 própria técnica. Uma vez, a filosofia desempenhou o mesmo papel social que o cristianismo

teve antes do modernismo. Hoje, esse papel cada vez mais parece caber à tecnologia. É

nesse sentido que a técnica é hoje a mais plena de todas as metafísicas e está atingindo o

  ponto mais extremo de suas possibilidades, segundo o citado autor. Porque as ações

técnicas do homem conjugam um modo desse homem operar seu mundo, trabalhá-lo, num

 processo que marginaliza a reflexão. E essa "filosofia" se realiza por meio da linguagem;

no sentido genérico pela comunicação. Mas não uma comunicação marcada, determinada e

ideologicamente cifrada, com intenções estas ou aquelas. É uma comunicação pura e

simples, o estar em contato, o comunicatio: estabelecer uma relação com outro. Este tipo de

abordagem, perspectiva que, convenhamos, além de se contrapor com abordagens mais

críticas, como a empreendida por P. Virilio, parece ser por demais otimista e mesmo

ingênua, dada a importância que a dimensão tecnológica assume socialmente, não podendo

 por isso, ser desvinculada dos aspectos políticos que envolvem esta reflexão 7.

Em uma perspectiva positiva sobre a inserção das NTICs nos vários âmbitos sociais,

 para Sampaio (SAMPAIO, 2003), carecemos de um conceito de inclusão digital mais

amplo, que proporcione uma dimensão social e política para o papel que a tecnologia

representa para a sociedade, visando:

“fomentar o exercício da cidadania, para dar voz às comunidades e setores quegeralmente não têm acesso à grande mídia e para apoiar a grande aorganização e o adensamento da malha de relações comunicativas entre osatores da sociedade civil que constituem a esfera pública”.7

7 Disponível em www.abordo.com.br/sat/res01_raquel.htm; acesso em 25/05/2008.7 Disponível em: ; acesso em 25/05/2008.

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Esse processo implicaria numa reorientação estratégica de posicionamento em

relação ao que costumeiramente constitui o propósito dos projetos de inclusão digital, pois,

ao invés de serem apresentados a um conhecimento já acabado sobre o que a tecnologia

digital, possibilita, a sociedade ela mesma deveria manifestar suas demandas em relação

aos benefícios que as tecnologias podem proporcionar, tornando-se assim, sujeitos do

 processo de inclusão digital, afirmando sua cultura e, por conseqüente, sua cidadania;

Segundo Sérgio Amadeu da Silveira, no seu preciso livro Exclusão digital: amiséria na era da informação, a infoinclusão é estratégica porque “é precisoinserir as pessoas no dilúvio informacional das redes e orienta-las sobre comoobter conhecimento”. Segundo ele, a pobreza será reduzida pela “construçãode coletivos sociais inteligentes, capazes de qualificar as pessoas para a novaeconomia e para as novas formas de sociabilidade, permitindo que se utilizemas ferramentas de compartilhamento de conhecimento para exigir direitos,alargar a cidadania e melhorar as condições de vida” (CABRAL, 2001, p.21).

 

Ainda sobre a discussão em torno dos processos de inclusão digital, Cabral (1999)

ressalta um aspecto bastante abrangente, que diz respeito à interface entre homem e

máquina. Não adianta apresentar um ambiente como determinante de um reordenamento

espaço-temporal, como otimizador de muitas tarefas e necessidades que serão cada vez

mais colocadas no cotidiano das pessoas, se as pessoas que efetivamente compõem uma das

 partes desse jogo interativo não se sentem animadas a participar. Uma série de fatores se

impõe como desafio por parte dos desenvolvedores de equipamentos, programas e serviços,e se restringem a três aspectos básicos (CABRAL, 1999, p.4) que são: a acessibilidade – 

um suporte, dentre outras tarefas, que suprima toda a distância que separa a inicialização do

sistema à apresentação de sua interface; a portabilidade – que facilite o transporte e respeite

a relação do usuário com seu ambiente, seja em casa, no trabalho ou no lazer – e a

amigabilidade – capacidade de realizar tarefas longas e repetitivas de maneira automática,

ou ainda facilitando a instalação e a utilização dos comandos. E, além disso, é

imprescindível introduzir a Internet à cultura das organizações, na produção de seusconteúdos, na divulgação de seus informativos e da sua publicidade, na otimização de suas

transações financeiras e do armazenamento de suas informações, bem como de sua

socialização junto aos diferentes públicos .

1.4. Os impactos da sociedade tecnológica na educação. 

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A inclusão através da perspectiva tecnológica envolve apreender o discurso da

tecnologia, não apenas os comandos de determinados programas para a execução de

determinados fins, não apenas qualificar melhor as pessoas para o mundo do trabalho, maissim implica a capacidade de influir na decisão sobre a importância e as finalidades da

tecnologia digital, sobretudo quando se pensa em sua aplicação na educação. Esta então, é

uma postura que está diretamente relacionada a uma perspectiva de inclusão /alfabetização

digital, de políticas públicas e de construção da cidadania, não apenas de quem consome e

assimila um conhecimento já estruturado e direcionado para determinados fins.

A chamada sociedade da informação e do conhecimento traz consigo impactos

sociais capazes de levar a uma transformação jamais vista desde aquelas produzidas pela

máquina a vapor. Um mundo baseado cada vez mais na troca de valores simbólicos, do

dinheiro à informação, vai mudar o eixo da economia, acabar com o conceito atual de

trabalho, valorizar mais que tudo o conhecimento e a aprendizagem. Neste contexto, os

excluídos sê-lo-ão ainda mais, se não houver políticas e ações visando combater o

aprofundamento da clivagem social trazida pelas novas tecnologias.

Pensadores como Manuel Castells, um dos ícones nos estudos sociais a partir de novas

tecnologias, pondera que a sociedade está passando por uma revolução informacional que

  pode ser comparada às grandes guinadas da História. Na clássica trilogia "A Era da

Informação", o autor é enfático em mesclar economia, cultura e informação a partir de uma

inclusão digital de verdade. Mark Warschauer, professor na Universidade da Califórnia e

integrante do Centro de Estudos em TI e Organizações (CRITO, do inglês), descreve queem países como o Brasil, a inclusão digital precisa ser acentuada com mais prática e menos

teoria. O professor Adilson Cabral, doutorando em Comunicação Social e estudioso do

tema, considera até impreciso utilizar o termo inclusão digital atualmente, porque não

mostra à sociedade o contexto social envolvido na questão. "Preferimos a idéia de

apropriação social das tecnologias de informação e comunicação (TIC), cuja relação direta

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é a tomada de consciência e cidadania nas comunidades", explica. Ele critica a atuação de

muitos laboratórios públicos de informática, alguns chamados de "telecentros", porque

muitas vezes os próprios organizadores não têm noção de objetivos e propósitos na

hora de ensinar pessoas a usar o computador (grifo nosso); "Não adianta apenas oferecer 

acesso à internet e editor de textos. A gente precisa transformar a perspectiva de vida das

  pessoas, buscar soluções práticas que melhorem a vida desses novos usuários", sugere

Cabral.

Há uma série de iniciativas de inclusão digital que merecem destaque nos chamados

"países pobres", que ilustram como o acesso às tecnologias e uma pitada de boa vontade

  podem mudar um cenário de pobreza. Segundo Paulo Rebêlo, Inclusão Digital ou

infoinclusão é a democratização do acesso às tecnologias da Informação, de forma a

 permitir a inserção de todos na sociedade da informação. Entre as estratégias inclusivas

estão projetos e ações que facilitam o acesso de pessoas de baixa renda às Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC). A inclusão digital volta-se também para o

desenvolvimento de tecnologias que ampliem a acessibilidade para usuários com

deficiência8. 

Mark Warschauer é professor de Educação e de Informação & Ciência da

Computação na Universidade da Califórnia, além de fazer parte do Centro de Estudos em

Tecnologia da Informação e Organizações.Há anos estudando o impacto social das ações de

inclusão digital em países da América Latina, ele já esteve mais de uma vez no Brasil para

conhecer as atividades do CDI, dos Telecentros em São Paulo e de outros projetos

 paralelos. Autor do livro "Tecnologia e Inclusão Social: repensando a divisória digital", ele

também edita o periódico Aprendizado de Linguagem & Tecnologia e, ao comentar sobre

seu trabalho, nos coloca indagações relevantes:

Para elaborar o livro, viajei para o Brasil e conheci bastante o Sampa.org, oCDI, o Projeto Clicar e alguns telecentros do Governo de São Paulo. Fiquei

 particularmente impressionado com o trabalho do CDI, pois há muita coisa ali

8 Disponível em: http://inclusao.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=74&Itemid=25 acesso 07/06/2008.

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que realmente funciona e são bem atraentes. Primeiro, porque eles estãoconseguindo atingir locais e comunidades onde há, de fato, uma necessidadede inclusão digital. Segundo, conseguem recursos de várias fontes, induzindoà inclusão social de jovens pela digital. Os projetos de inclusão digital são deextremo valor para melhorar esses índices, desde que coordenados de formaapropriada, sem populismos e sem discursos vazios. Por outro lado, a idéiatipicamente governamental de empurrar computadores em todas as casas podeser um tiro no pé e gerar um efeito exatamente contrário à melhoria social. OBrasil não é a única nação do mundo a tentar fazer isso, então, deveriam olhar o que foi feito lá fora, em cenários semelhantes, para não cometerem osmesmos erros9. (Disponível em:http://inclusao.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=74&Itemid=25; acesso em 23/06/2008).

Sobre as relações entre economia, cidadania e tecnologia, este autor ainda pondera:

“Empurrar computadores nas casas apenas com incentivos governamentaisnão é produtivo, porque o dinheiro investido na idéia poderia ser utilizado em

 projetos de economia social e desenvolvimento, os quais podem envolver tecnologia ou não. Mas vender computador por vender, independente do

 preço, não melhora a qualidade de vida de ninguém. O acesso à ferramenta[computador] é importante, porém, com um sentido mais amplo e coletivo demelhoria social. O acesso às mídias digitais não é uma exclusividade da elite.Há vários caminhos de melhorar o cenário atual de exclusão, com relaçõescusto/benefício razoáveis. A instalação de computadores nas escolas, por exemplo, é uma das alternativas que se mostraram mundialmente eficientes

nos países em desenvolvimento – desde que seja levada a sério, cominstrutores, equipamentos funcionando e diretrizes claras. São essas asgrandes dificuldades. Em geral, o pessoal envia os computadores, discursa, saino jornal e pronto. Cada um que se vire. Com diretrizes sérias, o aluno nãoapenas aprende o que tem que aprender na sala de aula, mas também sai daescola com um ofício. A longo prazo, é notória a inclusão social que açõesassim podem gerar”.10 

De um lado, a ciência transforma a técnica em tecnologia; por outro, a tecnologia

 posta a serviço do homem precisa de uma educação que transcenda o casuísmo, o fatalismo,

9 Disponível em: http://tramanet.blogspot.com/2007/06/entrevista-mark-warschauer.html; acesso em10/06/2008.

10 Disponível em: http://inclusao.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=74&Itemid=25 acesso em 07/06/2008.

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 para conhecer melhor a complexidade da tecnologia como produto, como processo, como

conhecimento, como sentimento, como realidade, como identidade. 

Outra questão bem sutil, mas não menos determinante está diretamente relacionada

à eficiência das iniciativas de inclusão digital: as estratégias de capacitação. Nesse ponto,não podemos tratar apenas de pessoas não incluídas, mas também daqueles que irão

 proporcionar um envolvimento mais pleno com o ambiente informacional. Não somente

  professores, mas facilitadores também, pessoas que contarão com disposição para

compartilhar o desenvolvimento de estratégias de incremento do acesso por parte da

 população. Nesse sentido estamos assumindo um conceito mais qualificado de inclusão,

que envolve o aproveitamento de recursos e serviços disponíveis na rede por parte do

 público11. 

Capacitadores serão aqueles que, numa dimensão mais ampla, apresentam o ambiente

digital e virtual em suas potencialidades de aproveitamento, de modo diretamente

relacionado às realidades de cada cultura e de cada grupo, estabelecido de maneira

territorial ou minimamente com um componente de identidade que os distinga. Neste

contexto a inclusão digital significa, antes de tudo, melhorar as condições de vida de uma

determinada região ou comunidade com ajuda da tecnologia.

11Disponível em: ; acesso em 26/05/2008.

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CAPÍTULO 2

Possibilidades da Aprendizagem a partir de uma Prática Docente mediada pelas

Novas Tecnologias.

Sempre que se fala em inclusão digital pensamos nas classes C, D e E. Obviamente

este é o foco principal, mas para atingir tal objetivo é importante não esquecer que qualquer 

ação completa deve ser integradora e potencializar outros segmentos da sociedade, pois a

cidadania é alcançada digitalmente quando a rede é tecida incluindo excluídos e não-

excluídos.

 Num mundo em transformação, onde cada vez mais o computador é se integra como

tecnologia intelectual e essencial, sendo também um instrumento fundamental do trabalho,

não podemos preparar as novas gerações para um mundo de subalternidade, tanto do ponto

de vista individual quanto na perspectiva da nação. Assim, é necessário frisar que inclusão

digital não é apenas ensinar a utilização da tecnologia ou disponibilizar o acesso à rede: é

 preciso haver um trabalho de identificar as demandas informacionais. A produção de

conteúdos deve ser vista como uma estratégia importante no processo de Inclusão,somando-se aos demais esforços, como formação e capacitação de multiplicadores, criação

de redes locais e comunidades virtuais, bem como integração com políticas públicas e ações

de responsabilidade social12.

Em termos concretos, incluir digitalmente não é apenas "alfabetizar" a pessoa eminformática, mas deveria ser também, melhorar os quadros sociais a partir do manuseio dos

computadores. Como fazer isso? Não apenas ensinando o bê-á-bá do informatiquês, mas

mostrando como ela pode ganhar dinheiro e melhorar de vida com ajuda daquele

12 Disponível em: http://www.cidec.futuro.usp.br/artigos/artigo12.html; acesso em 09/06/08

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monstrengo de bits e bytes que de vez em quando trava. 

Mas não é assim que representam tal situação: o erro de interpretação é achar que

incluir digitalmente é colocar computadores na frente das pessoas e apenas ensiná-las a usar 

softwares e pacotes de escritório. A analogia errônea tende a irritar os especialistas e ajudaa propagar cenários surreais da chamada inclusão digital, como é o caso de comunidades ou

escolas que recebem computadores, mas que nunca são utilizados porque não há telefone

  para conectar à internet ou porque faltam professores qualificados para repassar o

conhecimento necessário, ou não há verba e pessoal para a manutenção13.

Necessário se faz alterar os processos de formação dos professores, o que implica

mudanças estruturais nos Cursos e na própria formação dos formadores. Não serão as leis

que garantirão as mudanças, mas uma efetiva mobilização dos interessados nesta questão.

Então, temos ainda que reconhecer o quanto é corpo estranho a questão das novas

tecnologias na formação dos professores. Isto significa dizer  o quanto é ausente a

discussão em torno dos processos de comunicação e sua interferência nos processos

pedagógicos.

A geração que hoje habita a escola praticamente já nasceu  grudada nestes dois

ambientes de aprendizagem: o da comunicação e o das tecnologias. A escola ainda não

admite isto. Não se trata apenas de ter estes equipamentos dentro de casa, mas de estar 

convivendo com uma cultura onde a tecnologia e a comunicação são pontos de referência

da organização civil.

A noção de esforço, dedicação, empenho, toma outra forma. Se a aceleração tem um

lugar privilegiado, chegar a um algum lugar é no mínimo discutível. Apesar deste novo

cenário, o professor ainda reduz sua ação pedagógica em grande parte a uma finalidade

13 Disponívelem:http://inclusao.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=74&Itemid=25 acesso em 07/06/2008.

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moralizante e disciplinadora. É urgente iniciar uma outra reflexão com os professores. E

não será suficiente garantir a condição de usuário da tecnologia, mas de incluir o campo da

comunicação como um dos campos da educação. Somente colocar um computador na mão

das pessoas ou vendê-lo a um preço menor não é, definitivamente, inclusão digital. É

 preciso ensiná-las a utilizá-lo em benefício próprio e coletivo. Induzir a inclusão social a

 partir da digital ainda é um cenário pouco estudado no Brasil, mas tem à frente os bons

resultados obtidos pelo CDI no País, cujas ações são reconhecidas e elogiadas

mundialmente14. Para Bastos: 

“a educação no mundo de hoje tende a ser tecnológico, o que, por sua vez, vaiexigir o entendimento e interpretação de tecnologias. Como as tecnologias sãocomplexas e práticas ao mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova formaçãodo homem que remeta a reflexão e compreensão do meio social em ele se

circunscreve.”15

 

A escola tem-se mostrado resistente a mudanças, mesmo quando tenta incorporar 

meios inovadores. Em muitos casos, a presença nas escolas de equipamentos de vídeo ou

informática obedece mais ao interesse dos pais ou aos interesses comerciais de alguma

empresa do que propriamente aos fins e meios educacionais e didáticos . Em projetos de

informática educativa, por exemplo, laboratórios de informática são instalados, mas o

trabalho com o aluno é desenvolvido de forma desarticulada do projeto pedagógico da

escola, sem o questionamento sobre sua contribuição de ordem pedagógica e sócio-cultural,

o que acaba resultando no fracasso do projeto.

É importante que a escola perceba que o valor instrumental não se encontra nos

 próprios meios, mas na maneira como se integram na atividade didática, em como eles se

inserem no desenvolvimento da ação. Assim, um projeto de inovação tecnológica na

educação deve gerar propostas comprometidas com as finalidades educativas, assumindo

como essencial o sentido transformador da prática pedagógica (CANDAU, 1991;

MAGGIO, 1997).Embora seja consensual que a utilização das tecnologias da informação e da

14 Disponívelem:http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/necom/rastros/rastros01/rastros0107.html; acesso em09/06/2008.

15 Disponível em: http://inclusao.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id= 74&Itemid=25; acesso em 07/06/2008

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comunicação na educação não vai substituir o professor, reconhece-se, hoje em dia, que o

trabalho docente pode ser apoiado por esses meios (SILVA & MARCHELLI, 1998). O

trabalho do professor é fundamental nos projetos de inovações tecnológicas até porque “a

qualidade educativa destes meios de ensino depende, mais do que de suas características

técnicas, do uso ou exploração didática que realiza o docente e do contexto em que se

desenvolve” (LIGUORI, 1997).

Para Valente (1993), o professor deixa de ser o repassador do conhecimento para ser 

o criador de ambientes de aprendizagem e facilitador do processo pelo qual o aluno adquire

conhecimento. Demo (1998), tentando redefinir o papel do professor (cuja função básica

não é mais dar aula, pois isso pode ser feito através da televisão ou do microcomputador),

apresenta-o como o orientador do processo reconstrutivo do aluno, através da avaliação

  permanente, do suporte em termos de materiais a serem trabalhados, da motivaçãoconstante e da organização sistemática do processo.

Moran (1998) considera que o no que se refere ao ensino e as novas mídias, devemos

questionar as relações convencionais entre professores e alunos. Para tanto, deve-se definir 

o perfil desse novo professor - ser aberto, humano, valorizar a busca, o estímulo, o apoio e

ser capaz de estabelecer formas democráticas de pesquisa e comunicação.

 Nas atividades pedagógicas realizadas através da Internet, Pacheco (1997) considera

que professor e aluno tornam-se participantes de um “novo” jogo discursivo que nãoreconhece a autoridade ou os privilégios de monopólio da fala presentes, com freqüência,

nas relações de ensino-aprendizagem tradicionais, inaugurando, assim, relações

comunicativas e interpessoais mais simétricas.

O facilitador pedagógico, primeiramente, deverá possuir uma concepção clara da

construção de conhecimento enquanto processo dinâmico e relacional advindo da reflexão

conjunta sobre o mundo real. Deverá possuir base teórica consistente, clara concepção do

objetivo da aprendizagem e da metodologia a ser utilizada, assim como do processo de

avaliação de acordo com a visão construtivista de conhecimento (STRUCHINER et al.,

1998).

Este trabalho defende o uso da tecnologia na educação quando guiado pelas

necessidades de alunos e professores e, principalmente, quando calcado em abordagens

teóricas sobre a natureza do conhecimento e do processo de ensino-aprendizagem.

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(JONASSEN, 1996)16.

 No processo educacional, o que se pretende alcançar é que o indivíduo seja capaz de

obter conhecimentos, construí-los através de uma atitude reflexiva e questionadora sobre os

mesmos. Junto a essas questões relacionadas ao conhecimento, o processo educacional

trabalha a dimensão dos sentimentos, da afetividade e da criatividade. O indivíduo não só

aprende com a educação, como também se posiciona frente aos fatos e a realidade que

existe dentro e fora da realidade dele. Essa atitude e esse pensamento críticos constituem o

que se pode denominar de uma atitude filosófica em relação a sua própria identidade e ás

situações que os circundam. Em termos de uma educação para viver a era tecnológica, há

que se pensar sobre valores subjacentes ao indivíduo, que pode criar, usar, transformar as

tecnologias, mas não pode se ausentar, nem desconhecer os perigos, desafios e desconfortos

que a própria tecnologia pode acarretar.

Claro que um telecentro é um espaço de aprendizagem, mas a mesma dá-se de forma

diferenciada do ambiente escolar, da sala de aula. Ocorre na resolução de problemas

significativos, com apoio de monitores e com a participação dos demais usuários, numa

verdadeira rede local humana de aprendizagem cooperativa, focada nos contextos

significativos do uso das aplicações, sejam elas navegar na internet para fazer um boletim

eletrônico ou tirar uma segunda via de conta telefônica ou usar um processador de textos

  para redigir o currículo e enviá-lo por e-mail. Cada uma destas tarefas exige um

acompanhamento pedagógico individualizado que não pode ser feito na forma de curso,

embora este último atenda as expectativas imediatas de usuários e a distribuição de

certificados mostre mais rapidamente um resultado, porém muito mais próximo da

demagogia do que da real apropriação do conteúdo.

Reinventar a escola e o próprio processo de formação do professor considerando o

campo da comunicação é, no mínimo, uma necessidade emergencial. O tempo de

comunicação em rede nos desafia a criar novas categorias e ambientes de aprendizagem. E

os riscos destes novos procedimentos? No mínimo saber conviver com a velocidade,

16 Disponível em http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v2_n1/flavia.PDF ; acesso em 08/06/2008.

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compressão do tempo/espaço, interatividade, revisão constante dos conteúdos.

Esta tarefa não pode depender apenas da boa vontade de alguns.Trata-se efetivamente

da definição de políticas públicas para a educação, incluindo os processos de formação de

 professores, onde o campo da comunicação fosse reconhecido como legítimo e fundamentalno processos educacionais17.

17 Disponívelem:http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/necom/rastros/rastros01/rastros0107.html; acesso em09/06/2008.

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CAPÍTULO 3As NTICs na Educação: um novo paradigma para a construção do conhecimento.

  Na virada do século, não se trata mais de nos perguntarmos se devemos ou não

introduzir as novas tecnologias da informação e da comunicação no processo educativo. Já

na década de 80, educadores preocupados com a questão consideraram inevitável que a

informática invadisse a educação e a escola, assim como ela havia atingido toda a

sociedade (MONTEIRO & REZEBDE, 1993). Atualmente, professores de várias áreas

reagem de maneira mais radical, reconhecendo que, se a educação e a escola não abrirem

espaço para essas novas linguagens, elas poderão ter seus espaços definitivamente

comprometidos (KAWAMURA, 1998).

Sabemos, entretanto, que os meios, por si sós, não são capazes de trazer contribuições

 para a área educacional e que eles são ineficientes se usados como o ingrediente mais

importante do processo educativo, ou sem a reflexão humana. Mesmo aqueles que

defendem a tecnologia, proclamando apenas seus benefícios, deveriam considerar que a

tecnologia educacional deve adequar-se às necessidades de determinado projeto político-

 pedagógico, colocando-se a serviço de seus objetivos e nunca os determinando. Embora

seja verdade que a tecnologia educacional não irá resolver os problemas da educação, que

são de natureza social, política, ideológica, econômica e cultural, essa constatação não nos

  pode deixar sem ação frente à introdução das inovações tecnológicas no contexto

educacional. Ainda é preciso continuar pesquisando sobre o que as novas tecnologias têm a

oferecer à educação.

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Nesse processo, o mais importante é considerar essa oportunidade como fundamental

 para questionarmos o paradigma tradicional de ensino ainda hegemônico no contexto

educativo. O ideal é aproveitar este momento para incorporar novos referenciais teóricos à

elaboração de materiais didáticos ou à prática pedagógica até porque as novas tecnologias

  podem propiciar  novas concepções de ensino-aprendizagem. Esse deve ser o grande

desafio em qualquer projeto de inovação tecnológica na área educacional.

Sabemos que, se a tecnologia não recebe o tratamento educacional necessário, o

alcance do projeto tende a ser efêmero, não alterando o cotidiano de professores e alunos

nem trazendo contribuições ao processo de ensino-aprendizagem (CANDAU, 1991).

A introdução de novas tecnologias na educação não implica necessariamente novas

 práticas pedagógicas. Acreditar, entretanto, que novas práticas pedagógicas implicam o uso

de novas tecnologias, confiando à tecnologia educacional a renovação da educação, seriauma visão extremamente tecnicista do processo educativo. Para Dillon (1996), acreditar 

que qualquer nova tecnologia nos oferece os meios de resolver nossos problemas

educacionais é fazer parte da nova tecnocracia. Segundo ele, essa nova tecnocracia não é

muito diferente da velha tecnocracia das máquinas de ensinar de Skinner, mesmo que

admitamos avanços teóricos de lá para cá.

  Se as novas tecnologias não implicam novas práticas pedagógicas nem vice-versa,

aparentemente poderíamos dizer que não há relação entre essas duas instâncias. Entretanto,isso não é necessariamente verdade, se considerarmos que o uso das novas tecnologias

  pode contribuir para novas   práticas pedagógicas desde que seja baseado em novas

concepções de conhecimento, de aluno, de professor, transformando uma série de

elementos que compõem o processo de ensino-aprendizagem.

Essa separação entre a tecnologia e o contexto educativo apenas facilita a exposição

das idéias, mas a concepção de tecnologia educacional aceita atualmente é aquela que

considera como tecnologia tudo o que os professores fazem a cada dia para enfrentar o

  problema de ter de ensinar a um grupo de estudantes determinados conteúdos com

determinadas metas (SANCHO,1998), independentemente do uso de meios tecnológicos

 para esse fim.

O principal aspecto a ser questionado sobre a elaboração de materiais didáticos

mediatizados por novas tecnologias da informação e da comunicação é a sua contribuição

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 para novas concepções da aprendizagem. Essa questão é polêmica, visto que parece não

haver um ponto de vista único entre os especialistas da área. Carraher (1992), referindo-se à

informática, considera que sua contribuição é (apenas) de ordem tecnológica e não

conceitual, o que significa que ela não oferece subsídio para a elaboração de novas idéias

acerca dos processos de aprendizagem ou ensino. Desde que usadas como fundamento do

 processo de ensino-aprendizagem e não como mero instrumento, Pretto (1996) admite,

numa visão oposta, que as novas tecnologias podem representar uma nova forma de pensar 

e sentir ainda em construção, vislumbrando, assim, um papel importante para elas na

elaboração do pensamento. Vista dessa perspectiva, a concepção de materiais didáticos

que incorporem novas tecnologias, capazes de oferecer uma reestruturação do processo de

aprendizagem, depende do esforço de relacionar  novas abordagens teóricas sobre a

aprendizagem o seu desenho instrucional. Tomando, porém, como exemplo a pesquisa nocampo da informática educativa nos últimos dez anos, pode-se observar que a transferência

de descobertas nas ciências cognitivas e sociais para a prática do planejamento de materiais

didáticos raramente é um processo tão direto (DILLON, 1996), o que representa o grande

desafio para os projetos de inovações tecnológicas na escola.

O construtivismo tem sido ultimamente a abordagem teórica mais utilizada para

orientar o desenvolvimento de materiais didáticos informatizados, principalmente o de

ambientes multimídia de aprendizagem (BOYLE, 1997). Podemos considerá-lo como um guarda-chuva que tem dado origem a diferentes propostas educativas que incorporam

novas tecnologias, às vezes de forma implícita, às vezes de forma explícita.

O fato de a abordagem construtivista ser hoje predominante, não significa uma

tendência única refletida nos materiais didáticos, mesmo porque a idéia de construção do

conhecimento está presente na obra de vários autores, como: Piaget, Vygotsky, Wallon,

Paulo Freire, Freud, entre outros (GROSSI & BORDIN, 1993, citado por BASTOS, 1998)

e, dependendo de qual deles seja o referencial eleito, configura-se uma proposta pedagógica

um pouco diferenciada. Apesar das diferenças entre as concepções teóricas desses autores

sobre o construtivismo, há elementos comuns que são fundamentais. Talvez o mais

marcante seja a consideração do indivíduo como agente ativo de seu próprio conhecimento,

o que no contexto educativo desloca a preocupação com o processo de ensino (visão

tradicional) para o processo de aprendizagem. Na visão construtivista, o estudante constrói

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representações por meio de sua interação com a realidade, as quais irão constituir seu

conhecimento, processo insubstituível e incompatível com a idéia de que o conhecimento

 possa ser adquirido ou transmitido. Assumir esses pressupostos significa mudar alguns

aspectos centrais do processo de ensino-aprendizagem em relação à visão tradicional.

A epistemologia construtivista relaciona-se fundamentalmente com a idéia de

construção, o que no planejamento de materiais didáticos informatizados pode ser traduzido

na criação de ambientes de aprendizagem que permitam e dão suporte à construção de algo

ou ao envolvimento ativo do estudante na realização de uma tarefa, que pode ser individual

ou em grupo, e a contextualização dessa tarefa. Para isso, oferecem ferramentas e meios

 para criação e manipulação de artefatos ao invés de apresentarem conceitos prontos ao

estudante18. 

Para Morgan (1995), a oposição entre os papéis ativo e passivo do aluno frente à

aprendizagem é insuficiente. Com o conceito de abordagem profunda, a autora pretende dar 

ênfase à apropriação das estratégias metacognitivas pelo aluno na interação com materiais

didáticos informatizados. Essa perspectiva quer marcar a diferença em relação ao processo

tradicional de ensino, no qual o aluno interage com o conteúdo visando apenas à avaliação.

Para que o aluno desenvolva uma abordagem profunda à sua aprendizagem, é necessário

que ele adquira a consciência do que consiste aprender, etapa que será fundamental no

 processo.

Uma sala de aula tradicional, por exemplo, prioriza os bancos de informação e os

utensílios para processamento de símbolos. O professor tradicional, em geral, faz o papel de

gerenciador de tarefas. Em software educacionais do tipo tutoriais ou de exercício e prática,

o computador tem um forte papel de gerenciador de tarefas, uma vez que estabelece a

seqüência de tópicos a serem trabalhados e os objetivos a serem alcançados. Perkins (1992)

classifica como construtivista o ambiente de aprendizagem que ofereça ao aluno ferramentas

de construção e a possibilidade de interação com a realidade, muitas vezes simulada. O

computador é usado como ferramenta para gravar, analisar e comunicar. As principais características das novas tecnologias da informação e da comunicação

 presentes na elaboração de materiais didáticos e projetos fundamentados na abordagem

18 Disponível em http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v2_n1/flavia.PDF.; acesso em 08/06/2008.

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construtivista são: (1) a possibilidade de interatividade; (2) as possibilidades que o

computador tem de simular aspectos da realidade; (3) a possibilidade que as novas

tecnologias de comunicação, acopladas com a informática, oferecem de interação a

distância e (4) a possibilidade de armazenamento e organização de informações

representadas de várias formas, tais como textos, vídeos, gráficos, animações e áudios,

 possível nos bancos de dados eletrônicos e sistemas multimídia. Essas possibilidades têm

sido experimentadas em propostas educativas de utilização das novas tecnologias na

 perspectiva construtivista por professores, tecnólogos educacionais e elaboradores de

materiais, tendo sido recentemente relatadas na literatura19.

O campo da comunicação implica hoje a experiência com a conectividade,

interatividade e transversalidade. Nesse novo cenário a dimensão tempo e espaço tomaoutra forma. Afinal, em que lugar está o conhecimento? Qual a sua extensão? Quanto

tempo é necessário para adquirir o conhecimento? Qual é o tempo da mídia e da escola?

Que significados estes tempos têm para os sujeitos envolvidos? Como diz Assmann, não se

trata, de imitar a mídia dentro da escola, mas levar em consideração os impactos culturais

gerados pelas novas tecnologias.  No Brasil, a modernização neoliberal assim como as

anteriores não toca na estrutura piramidal da sociedade. Apenas amplia sua verticalidade,

que se nota pelo aumento do número de desempregados, de moradores de rua, de mendigos

etc. Em outras palavras, a pirâmide social se mantém e as desigualdades sociais crescem.

Para a educação, o discurso neoliberal parece propor um tecnicismo reformado. Os

  problemas sociais, econômicos, políticos e culturais da educação se convertem em

  problemas administrativos, técnicos, de reengenharia. A escola ideal deve ter gestão

eficiente para competir no mercado. O aluno se transforma em consumidor do ensino, e o

 professor em funcionário treinado e competente para preparar seus alunos para o mercado

de trabalho e para fazer pesquisas práticas e utilitárias a curto prazo20.

19 Disponível em http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v2_n1/flavia.PDF.; acesso em 08/06/2008.

20 Disponível em:http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/necom/rastros/rastros01/rastros0107.html; acesso em09/06/2008.

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Numa época em que a competição feroz fala mais alto que a solidariedade e a

cidadania, vale a pena lembrar, para despertar o nosso senso social adormecido, o que disse

Albert Einstein:

"Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual mas medescubro membro de urna grande comunidade humana. Ela me dirige, corpo ealma, desde o nascimento até a morte, Meu valor consiste em reconhecê-lo.Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos têmuma única finalidade: a comunidade e seu progresso. Minha atitude social,

 portanto, determinará o juízo que têm sobre mim, bom ou mau. Não bastaensinar ao homem uma especialidade. Porque ele se tornará assim umamáquina utilizável, mas não uma personalidade. Os excessos do sistema decompetição e especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia,assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam asuprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo emvista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico nainteligência do jovem." (...) "A compreensão de outrem somente progredirácom a partilha de alegrias e sofrimentos. A atividade moral implica aeducação destas impulsões profundas"21.

21 Disponível em http://www.cefetsp.br/edu/eso/neoeducacao1.html acesso em: 20/05/2008.

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CONCLUSÃO

Através da realização deste trabalho, pude observar que o uso do computador precisa

estar realmente fazendo parte do cotidiano escolar, tendo em vista sua importância no dia-a-

dia das pessoas.

A educação no mundo de hoje necessita das tecnologias, porém essas tecnologias, são

ao mesmo tempo práticas e complexas. Contudo, observamos que os educadores devem ser 

  preparados para promover a inserção do computador no processo de ensino e de

aprendizagem como uma ferramenta de auxílio no ensino, promovendo a interação do

aluno com a máquina nas atividades, de forma lúdica, descontraída e prazerosa, e não como

comumente podemos ver; o computador como “o bicho papão” que todos têm medo, uma

vez que não se têm afinidades com ele.

Os primeiros computadores tiveram origem  em 1945 na Inglaterra e nos EstadosUnidos, e foram por muito tempo reservados ao uso exclusivo dos militares para seus

cálculos científicos. Hoje em pleno século XXI, o computador já é uma máquina de uso

  pessoal, pois querendo ou não qualquer pessoa já faz uso de forma variada, desta

tecnologia, seja para receber dinheiro no caixa-eletrônico, ou para saber o preço de uma

mercadoria no supermercado. Então, por que nós educadores, compromissados com o

desenvolvimento educacional da sociedade civil, devemos continuar com essa “distância”

do computador? Por que ter “medo” de manuseá-lo? Devemos sim, ser preparados para

utilizá-lo de modo que leve nossos alunos a adquirir conhecimentos de forma autônoma e

dinâmica. Mas enquanto muito pouco ainda pelo educador neste sentido, principalmente no

interior, fazer a nossa parte implica buscar adquirir conhecimentos, avaliando nossa práica

a cada dia no uso das novas tecnologias, em especial o computador, observando se estamos

realmente usando essa nova tecnologia de modo que nossos alunos possam se oportunizar 

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desta ferramenta na elevação da qualidade da aprendizagem.

Enfim, o uso das novas tecnologias na educação é essencial, pois daí surge para o

 professor à necessidade de uma grande mudança na prática pedagógica, surge um novo

olhar  sobre o modo de planejar suas atividades, pois o professor deixa de ser um mero

repassador de conteúdos/conhecimentos para tornar-se um facilitador do seu próprio

 processo de ensino e como conseqüência, da aprendizagem. Neste contexto, torna-se de

fundamental importância à transdisciplinaridade, para que o educando seja realmente

incluído neste mundo digital, e a escola cumpra papéis sociais da melhor maneira possível

sem deixar também de ser agente promotor de condições para a transformação social.

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