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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROJETOS DESENVOLVIDOS NA

ESCOLA PIO XII, VILA KOSMOS – RIO DE JANEIRO

Marcio Antonio Guimarães Aguiar¹

Marcelo Eduardo Dantas²

Resumo: O trabalho foi realizado através da observação e análise da

importância da educação ambiental nos diferentes ambientes escolares e da necessidade de mudança de comportamento e de atitudes por parte de nossos educandos. As atividades práticas proporcionaram-nos conhecimentos sobre degradação ambiental, discussões e debates sobre diferentes problemas ambientais e a conscientização de que nossa conduta interfere no ambiente local e poderá refletir em escala global. Foram realizados os seguintes projetos de educação ambiental envolvendo professores de diversas formações, alunos e supervisão escolar: o Projeto Pet: água-fonte de vida; o Projeto lixo nosso de cada dia; a visita à Comunidade Terra Livre; e o Seminário sobre OGMs. Assim sendo, tais experiências promoveram a reflexão, compreensão e até uma mudança de postura de nossos educandos.

Abstract: The work was carried out through the comment and analysis of the

importance of the Environmental Education in different pertaining to school environments and of the necessity of change behavior and attitudes on the part of our students. The practical activities had provided us knowledge on ambient degradation, quarrels and debates on different ambient problems, and the awareness of that our behavior intervenes with the local environment will be able to reflect in the global scale. The following projects of ambient education had been carried out, involving teachers of diverse formations, pupils and pertaining to school supervision; the Pet project, water source of life; the project garbage ours of each day; the visit to the Free Community Land; and the Seminary on GMOs. Thus being, such carried out experiences had promoted the reflection, understanding and until a change of position of our pupils.

Palavras-chave: educação ambiental, interdisciplinaridade, projetos didáticos. Keywords: environmental education, interdisciplinary, school projects.

_________________ ¹ Professor de Geografia da SME, SEE e da rede privada do município do Rio de

Janeiro. Discente do curso de Pós-graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM. ²MSc. em Geografia. Professor do curso de Pós-graduação Espaço e Meio Ambiente

da UNISUAM.

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1. INTRODUÇÃO Educação ambiental é o processo que possibilitará a aquisição de

conhecimentos, habilidades e a formação de atitudes que transformem as práticas de cidadania e promovam a sustentabilidade da sociedade. Todo ser humano incorpora aquilo que acredita, portanto o papel do educador é o de motivar nossos educandos a agirem de maneira desejável no ambiente em que vivem.

A educação ambiental deve ser trabalhada nas escolas de maneira a conduzir a comunidade à melhoria da qualidade de vida, ao equilíbrio do ecossistema existente em seu ambiente e a um componente constante do processo educacional e de formação plena de cidadania: mudanças de valores e comportamentos, aquisição de novas percepções e a gestão ambiental.

Nossos educadores necessitam de uma preparação adequada para que reconheçam as causas e conseqüências dos problemas ambientais, desenvolvam uma visão crítica acerca da realidade que estão inseridos e percebam as inter-relações dos fatores naturais, socioeconômicos, políticos e culturais em níveis local e global.

A humanidade precisa desenvolver um projeto de vida que estabeleça a ética com base na promoção da vida e conduza a uma relação homem-natureza crítica e reflexiva sobre a importância da vida em comunidade e não apenas a sua sobrevivência, mas, sim, de todas as espécies.

Os impactos ambientais ocorrem em escalas global e regional, podendo atingir uma grande parte da humanidade ou uma comunidade específica que habite uma região ou área do planeta.

Portanto, o Projeto Educação Ambiental desenvolvido na Escola Pio XII, situada no Bairro de Vila Kosmos - subúrbio da Zona da Leopoldina, na cidade do Rio de Janeiro, favoreceu ao corpo docente e discente a prática e reflexão da importância da conservação e dos cuidados com o meio ambiente e possibilitou a diminuição e o descaso com o ambiente escolar e a tomada de consciência local e, quem sabe, global de toda a comunidade envolvida.

2. METODOLOGIA O Projeto Educação Ambiental foi apresentado aos educadores durante uma

reunião no início do ano letivo de 2004, onde foram propostas diversas atividades e trabalhos que se realizaram em diferentes séries e segmentos da Escola Pio XII.

A educação ambiental desdobrou-se em pequenos projetos que envolveram vários professores, que puderam explorar diversos aspectos conceituais do seu campo de estudo. O projeto foi realizado através de:

- Campanhas de coleta seletiva de materiais recicláveis. - Pesquisas no bairro e adjacências, com temas relacionados ao meio ambiente. - Saídas monitoradas a parques e reservas ambientais na cidade do Rio de Janeiro. - Visita ao assentamento rural Comunidade Terra Livre. - Participação da comunidade escolar na Ecofeira. - Visita ao aterro sanitário de Gericinó (Comlurb). - Exposições e apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos à

comunidade escolar. As atividades e projetos realizados foram desenvolvidos em cinco etapas. No

primeiro momento, a situação ou problema foi apresentado aos alunos, que discutiram

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sobre o assunto. Em um segundo momento, foram realizadas pesquisas para que os alunos obtivessem mais conhecimentos e informações sobre o tema. No terceiro momento, foi realizado um trabalho de campo, quando os alunos vivenciaram a situação-problema. O quarto momento foi realizado em um espaço da escola, onde as turmas envolvidas apresentaram e expuseram seus trabalhos havendo uma discussão acerca do assunto. O último momento foi o da avaliação coletiva do projeto com os alunos envolvidos.

3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS Segundo Travassos (2004), um dos projetos de educação ambiental nas escolas

é a Jornada do Meio Ambiente desenvolvida através de palestras sobre diferentes temas relacionados ao assunto. Não havendo uma continuidade, torna-se apenas um momento de conscientização dos educandos.

Os trabalhos de campo apresentam vários objetivos, dentre eles: a contribuição para a formação de cidadãos conscientes; a busca da transformação de valores e conceitos vinculados à realidade; a percepção e valorização da diversidade cultural; a observação e análise crítica de fatos e situações existentes no ambiente; e a compreensão de que os problemas ambientais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto localmente quanto globalmente (Teixeira, 2001).

O objetivo da conscientização da educação ambiental holística perde o sentido e deixa de existir quando o trabalho for para cumprir apenas o cronograma pedagógico, caindo depois no esquecimento e ficando na ilusão de estar praticando a educação para o meio ambiente.

Segundo Dias (2000), a Universidade Católica de Brasília (UCB) desenvolveu um projeto de educação ambiental através de atividades que tinham a intenção de informar e sensibilizar as pessoas a respeito da complexa temática ambiental. O projeto visou incorporar a dimensão ambiental em todas as atividades realizadas na instituição, difundiu práticas compatíveis com as premissas do desenvolvimento sustentável e preparou-se para a implantação de um sistema de gestão ambiental.

A educação ambiental extrapolou os ambientes acadêmicos para assumir lugares estratégicos nas mesas de negociação social, política e econômica. Assim, justifica-se o desenvolvimento dessa iniciativa na UCB através de dois pontos: o desenvolvimento sustentável foi apresentado como modelo de desenvolvimento, capaz de compatibilizar as atividades socioeconômicas com a necessidade de preservação ambiental, assegurando a sustentabilidade das gerações futuras e a implantação do curso Educação Ambiental como obrigatório no currículo novo das licenciaturas da UCB (Física, Química, Matemática, Biologia e Ciências), que desenvolveu no meio dos estudantes a percepção sobre as questões ambientais.

Os retornos que uma instituição aufere por adotar uma política ambiental centrada nos pressupostos do desenvolvimento sustentável são compensadores, uma vez que promova a qualidade ambiental, manifestadas na sua estrutura e dinâmica cotidianas, e certamente colhem o reconhecimento de vários setores da sociedade.

De acordo com Talamoni & Sampaio (2003), a educação ambiental vem se disseminando no ambiente escolar brasileiro, refletindo a demanda da sociedade e, reciprocamente, pressiona as escolas a desenvolverem ações que chamam de educação ambiental.

Segundo o autor, a ação educativa reconhecida como educação ambiental geralmente se apresenta fragilizada em sua prática pedagógica por considerar que a

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superação da crise ambiental passa pelo processo de profundas transformações socioambientais e que, para contribuir nesse processo, a educação ambiental precisa assumir o caráter crítico-transformador.

Os professores preocupam-se apenas com a degradação da natureza, e as práticas realizadas são, geralmente, pouco eficazes e incapazes de promover a transformação da realidade mais imediata com a qual estão trabalhando e, reciprocamente, com uma realidade mais ampla.

Estas reflexões têm a intenção de discutir alguns eixos formativos que são importantes na orientação dos trabalhos de formação de educadores ambientais, aptos a participar da construção de ambientes educativos dentro de uma perspectiva crítica.

4. EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ENSINO

MÉDIO: ESTUDO DE CASOS Na Escola Pio XII, situada no bairro de Vila Kosmos, na cidade do Rio de

Janeiro, realizamos um projeto de desenvolvimento em educação ambiental, onde comprometemo-nos com a construção de uma sociedade justa que não só não discrimine, mas crie e viabilize processos e estruturas de inclusão social. Uma sociedade em que haja respeito e valorização das múltiplas culturas a que devemos nossa constituição como povo.

Estamos comprometidos com uma sociedade que respeite e valorize a terra como a casa de todos, se oponha a todos os que agridem e exploram o meio ambiente e que possibilite a criação de mecanismos e práticas de desenvolvimento sustentável. A educação, como prática social, deve estar inserida essencialmente na cultura das nossas comunidades. Assim, assumimos uma prática educativa apoiada na ação-reflexão-ação que incentive a apropriação das competências e habilidades necessárias para uma participação social ativa, crítica e ética.

Acreditamos que o desenvolvimento da educação ambiental possa contribuir na realização do Projeto Político Pedagógico da Escola Pio XII, pois as atividades que são realizadas em relação ao meio ambiente podem contribuir para se atingir muitos de nossos objetivos.

Um dos desafios a serem enfrentados é o de preparar os professores que estão lecionando, realizando a inclusão da dimensão ambiental no currículo formal da Escola Pio XII. Para que se atinja esta dimensão, faz-se necessário trabalhar alguns princípios básicos da educação ambiental. Primeiro, desenvolver projetos que realizem uma abordagem global e interdisciplinar. Em um segundo momento, engajar o projeto no cotidiano, passando para uma ação concreta. Já no terceiro momento, faz-se necessário preparar novos educandos como consumidores, uma vez que vivemos em uma sociedade de consumo e economia de mercado. Desta maneira, poderemos alcançar mudanças significativas de atitudes, processos e valores ambientais que permitam a nossos educandos agir localmente e pensar globalmente (Santos, 2000).

5. PROJETOS DESENVOLVIDOS NA ESCOLA PIO XII DURANTE O

ANO LETIVO DE 2004 No primeiro semestre do ano letivo de 2004, desenvolvemos um projeto cujo tema

foi água, pois, o ano inteiro, trabalhamos o tema da Campanha da Fraternidade em nossa

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escola. Os professores desenvolveram atividades e incentivaram os alunos a pesquisar sobre o tema e relacionarem-no aos conteúdos desenvolvidos no referido semestre escolar.

Em 5 de junho de 2004, foi realizada a culminância do projeto em que as turmas de diversas séries promoveram a exposição dos trabalhos desenvolvidos no primeiro semestre e em vários ambientes relacionados ao tema água. Esse momento contou com a participação da comunidade escolar: pais, alunos, professores, supervisão escolar e direção, além de profissionais que foram convidados a participar de mesas de palestras e debates. Na tarde daquele sábado, Dia Mundial do Meio Ambiente, um grupo de alunos da Escola Pio XII participou da III Ecofeira, realizada no bairro da Vila da Penha, onde apresentaram alguns trabalhos desenvolvidos nesse projeto.

Preocupados com a qualidade da água consumida em Vila Kosmos, onde se localiza a Escola Pio XII, alunos da 1ª série do ensino médio, orientados por professores, iniciaram uma pesquisa de campo sobre a água distribuída no bairro.

O objetivo do trabalho foi o de comparar a qualidade da água em diversos pontos, partindo de um rio próximo à escola, o rio Quitungo; da elevatória da Cedae e de uma nascente na Serra da Misericórdia. O trabalho foi realizado in loco pelos estudantes e professores, utilizando recipientes previamente esterilizados. No momento do recolhimento do material, observou-se somente a diferente coloração na água, que parecia demonstrar o nível de poluição.

As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Biologia Marinha da UFRJ, a fim de se analisar alguns fatores que podem indicar o nível de poluição, tais como: concentrações de ortofosfato, de amônia e de clorofila; quantidade de coliformes fecais e índice de turbidez.

Os resultados constataram altos índices de poluição na saída do ponto 1 “sujo”, pois é a saída de esgoto residencial. Na saída do ponto 1 “limpo” a água é proveniente da elevatória da Cedae, e é pouco misturada com a água oriunda da saída “suja”. A 200 metros da saída do ponto 1, a água tem nível de poluição menor por causa da mistura da saída de água “limpa” e água “suja”. A elevatória da Cedae, como esperado, apresentou o menor índice de poluição; e a nascente da Serra da Misericórdia apresentou níveis intermediários de poluição.

Alguns resultados foram inesperados: o baixo índice de coliformes fecais a 200 metros da saída do rio Quitungo e a turbidez alta encontrada na elevatória do Juramento.

Assim, os alunos concluíram que a poluição da água diminui a sua qualidade, tornando-a imprópria para o uso e consumo, podendo prejudicar as pessoas, por conta das elevadas concentrações de substâncias e microorganismos nocivos à saúde.

No decorrer do mês de junho do ano letivo de 2004, a turma 202 do ensino médio deu início a uma campanha de recolhimento de garrafas descartáveis, a fim de serem doadas à Comunidade do Morro do Sereno, situada na Praça do Carmo, bairro da Penha Circular, Município do Rio de Janeiro.

Os professores Pedro Paulo e Marcio Antonio concluíram que essa turma necessitava conhecer um pouco da dura realidade da referida comunidade. Os educandos propuseram uma ação concreta de recolhimento de garrafas descartáveis.

O Padre Nivaldo, da Paróquia Jesus Sacramentado, foi o responsável em fazer a conexão entre os educandos da Escola Pio XII e os agentes comunitários do Morro do Sereno. Então, no dia 9 de julho, foi realizada uma caminhada da Escola Pio XII até a Comunidade do Morro do Sereno, com o objetivo de os educandos conhecerem a obra de caridade realizada pela Igreja naquela comunidade carente.

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Os alunos subiram o Morro e conheceram a Creche Municipal Comunitária Mussum Trapalhão, que atende cerca de 140 crianças residentes na comunidade. Observaram toda sua estrutura de funcionamento e a participação dos moradores, principalmente jovens, que desenvolvem um projeto pela paz.

Ao final da manhã, os alunos foram recebidos pelo Padre Nivaldo no salão paroquial, que agradeceu o seu envolvimento e participação na campanha de solidariedade e benefício daquela comunidade.

Os professores envolvidos no projeto motivaram os alunos para esse trabalho, pois acreditam que essas atividades são importantes na construção do espírito cristão e fraterno, bem como contribuem para a conscientização dos educandos para inúmeras questões sociais e ambientais que tanto nos preocupam na atualidade.

O desdobramento do Projeto Pet foi a realização de um novo projeto – O lixo nosso de cada dia.

No final de setembro de 2004, as turmas da 2ª série do ensino médio desenvolveram um projeto multidisciplinar, que envolveu as disciplinas de Geografia, História, Sociologia, Química e Biologia sobre o tema levantado por eles: o destino do lixo.

No dia 29 de setembro, realizamos uma visita ao Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS), em Gericinó, bairro do Rio de Janeiro, onde foram observadas todas as etapas do tratamento dos resíduos que chegam diariamente nesse aterro sanitário misto.

No decorrer daquele bimestre, os alunos construíram painéis com textos e fotografias do CTRS e apresentaram para os professores envolvidos no projeto e para a comunidade escolar no dia 6 de novembro de 2004, durante o “Pio XII de Portas Abertas”, dia em que as atividades, projetos e oficinas realizadas no 2º semestre são apresentadas aos responsáveis dos educandos.

O projeto foi avaliado pelos professores como de excelente qualidade tanto na apresentação em textos como na apresentação oral, realizada através de debates e discussões sobre o destino do lixo que produzimos no meio em que habitamos. Portanto, podemos perceber que os projetos relacionados às questões ambientais que foram realizados têm sempre alguns desdobramentos, sejam através de novos projetos ou a realização de novas ações de caráter socioambiental.

No início do mês de novembro de 2004, foi realizado um trabalho de campo, visitando um assentamento rural, situado no município de Resende, sul do estado do Rio de Janeiro, a Comunidade Terra Livre. Os educandos da 3ª série do ensino médio foram recebidos por um grupo que lidera o movimento na antiga Fazenda da Ponte onde, inicialmente, expuseram toda a estrutura do MST e suas histórias de vida até sua adesão ao grupo, que se encontrava acampado na beira da estrada junto à Rodovia Presidente Dutra, naquele município.

Durante a visita à fazenda ocupada, os alunos observaram a estrutura e divisão da propriedade entre as famílias assentadas, o processo de produção de alimentos orgânicos e sua distribuição e venda nos municípios de Resende e de Itatiaia. Extremamente organizado, o grupo conta com vários setores ou frentes de trabalho responsáveis por garantir a sua estrutura.

Ao chegarmos à antiga Fazenda da Ponte, hoje uma área de assentamento rural ocupada por 33 famílias e cerca de 160 pessoas que buscam ter um pedaço de terra para produzir e garantir a sobrevivência de suas famílias, alguns assentados relataram suas trajetórias, como a do sr. Mário, nascido e criado no interior do município de Volta Redonda, cuja expansão do tecido urbano expulsou-o para a periferia e acabou residindo

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em uma favela no bairro do Retiro. O sr. Mário descreveu-nos que esta situação o incomodava, mas que não sabia explicar a sua origem.

Um tempo mais tarde, ele conheceu o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, quando se interessou e passou a participar do acampamento rural à beira da estrada junto com outras pessoas que tinham um passado semelhante ao seu: pessoas que saíram do campo e não conseguiram ser incluídas no meio urbano.

Esse grupo organizou-se sob o comando das lideranças do MST e passou a observar e realizar levantamentos sobre a situação das principais fazendas da região Sul Fluminense. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais indicou a Fazenda da Ponte por estar em situação irregular. O sr. Mário disse-nos que quando chegaram na fazenda e observaram a paisagem e o lugar, exclamou: “É aqui mesmo, um paraíso!”

No dia 6 de março de 1999, foram reunidas as famílias do Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Pinheiral e Volta Redonda, que ocuparam a Fazenda da Ponte de propriedade do sr. João Luiz, que mantinha aquele latifúndio improdutivo com os impostos atrasados, apresentando dívidas trabalhistas e sob suspeita de manter alguns trabalhadores em condições de escravidão. Estes fatos justificaram a preferência por esta propriedade de 100 alqueires, ou seja, 480 hectares. O movimento de ocupação baseou-se em quatro questões básicas da Constituição Federal de 1988: toda propriedade rural deve ser produtiva, geradora de empregos, respeitar o meio ambiente produzindo de maneira sustentável e estar em dia com os impostos e obrigações junto ao governo para que garanta sua função social. A propriedade encontrava-se totalmente irregular e, portanto, foi escolhida pelo movimento para a ocupação de acordo com os parâmetros da lei.

No início, o grupo assentado percebia que representava uma ameaça para os fazendeiros da região e sentia a rejeição dos moradores de bairros vizinhos de Resende e Itatiaia. O movimento passou a reivindicar uma escola para as crianças das famílias e passou a desenvolver uma agricultura familiar produzindo alimentos orgânicos sem o uso de defensivos agrícolas. Assim, conquistaram e passaram a ter uma relação melhor com as comunidades dos bairros da região, que passaram a consumir os alimentos naturais, principalmente mandioca, milho, tomate, jiló, alface, abóbora, aipim, cana-de-açúcar, entre outros produzidos pela comunidade.

A Comunidade Terra Livre ainda é um acampamento, pois o Governo Federal não desapropriou e regularizou o assentamento. Portanto, os assentados não têm acesso a fomentos, créditos ou financiamentos que venham a viabilizar e aumentar a produção agrícola. Mas com recursos próprios, o trabalho conta com o auxílio de um agrônomo na orientação e desenvolvimento de técnicas agrícolas. A área foi dividida em lotes separados por cordas de acordo com o módulo rural regional, que estabelece 15 hectares por família para produzir, com espaço para moradia e outro para produção, que pode ser individual ou coletivo. A comercialização da produção é realizada de casa em casa nos municípios de Resende e Itatiaia, evitando comercializar com os mercados regionais. Existe uma cooperação entre os assentados para evitar os atravessadores e garantir um preço melhor, conquistando assim a credibilidade e respeito dos moradores dos bairros vizinhos através do contato direto.

A comunidade possui um regimento interno que regula a conduta dos assentados, o modo de produção, e o cercamento para proteger a produção. Há um grupo que exerce uma liderança que fica à frente das questões relativas ao assentamento, porém as decisões são tomadas após uma assembléia em que todos os assentados participam democraticamente.

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Na comunidade existem espaços comuns, como o da Escola Municipal Chico Mendes, que funciona em uma das casas da fazenda, com uma estrutura física dividida em seis cômodos: duas salas de aula, uma secretaria, um banheiro, uma biblioteca que funciona também como espaço de reprodução de material e uma cozinha, além de um refeitório que se encontra nos fundos do prédio. O trabalho pedagógico é realizado por uma professora da rede municipal de Resende que se desloca diariamente para a escola e trabalha com turmas mistas da pré-escola à 4ª série, e uma merendeira que é uma das mulheres assentadas, responsável pela alimentação dos alunos durante o período letivo. A comunidade deseja desenvolver o projeto Educação do Campo, que tem como base as oficinas, técnicas agrícolas, meio ambiente entre outros.

Um outro espaço comum é o galpão que se encontra na entrada da fazenda e divide-se em três partes: um salão onde se realizam reuniões e encontros, uma área onde se encontram objetos de uso comum e a estufa onde desenvolvem mudas, principalmente de hortaliças e verduras. O processo de irrigação é bastante simples e criativo, feito com varas de bambu com várias pontas produzidas com tubos de caneta, prego, arame e durepox, que realizam a aspersão da água. As mudas desenvolvidas são plantadas nos canteiros dos loteamentos e tratadas com adubo foliar orgânico, que é produzido em três tanques, onde são colocados água, esterco de bovinos, urina de bovinos, leite ou soro de leite, melaço, cinza de fogão e farinha de ossos.

A agricultura é desenvolvida nas áreas mais planas da fazenda e próximas à margem direita do rio Paraíba do Sul. Já nas áreas onde predomina o relevo colinoso denominado “mar de morros”, a principal atividade é a criação de gado. O uso da água é por gravidade e, por isso, desenvolve-se um projeto de reflorestamento que visa recuperar as grotas (cabeceiras de drenagem), plantando espécies nativas de Mata Atlântica e nas partes mais altas (divisores), plantam-se eucaliptos com a finalidade de produzir madeira para as cercas ou lenha para uso doméstico. No pequeno lago existente nos fundos da escola, foram colocados 700 alevinos de tilápia com a finalidade de povoar o lago. Essas atitudes demonstram o esforço da comunidade em produzir sem agredir o meio ambiente, uma vez que todos os assentados têm uma visão clara do que precisam da terra.

Como se pode perceber, há um grande interesse do movimento em formar seres humanos. Cidadãos críticos, capazes de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Esse caminho nem sempre é fácil, sobretudo porque está longe de atender aos interesses da elite brasileira.

Os professores de História, Geografia e Sociologia, que acompanharam os alunos, avaliaram como foi produtivo e de enorme relevância a experiência que os estudantes vivenciaram. Uma vez que nossos educandos tiveram contato com trabalhadores rurais, que a eles passaram a percepção de que ainda existe no mundo espaço para valores como solidariedade, respeito e humildade.

5. CONCLUSÃO Dentre os resultados principais observados depois do desenvolvimento da

prática pedagógica aplicada à educação ambiental, destacam-se: - A relativa mudança de comportamento dos educandos na comunidade escolar. - O exercício da cidadania, solidariedade e cooperação entre os alunos,

professores, funcionários e direção escolar. O Projeto de Educação Ambiental realizado na Escola Pio XII desenvolveu-se de

maneira integrada, uma vez que a direção da escola acreditou na proposta inicial do trabalho

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apresentado e as experiências realizadas durante o ano letivo de 2004 permitiram diagnosticar que a questão ambiental é muito bem recebida pelos alunos, que já demonstram uma certa mudança de comportamento diante dessas questões, como também no hábito de consumo que leva à produção de resíduos dentro do ambiente escolar.

A maior parte demonstra uma visão crítica em relação às questões ambientais que tem como conseqüência uma reflexão séria e consciente sobre a questão da postura em relação a consumo, desperdício e aproveitamento do que é descartado pela sociedade.

As diversas disciplinas lecionadas nos diferentes segmentos dos ensino fundamental e médio desenvolveram temas relacionados à questão ambiental e comprovaram a importância deste projeto através de alguns fatos: a preocupação dos jovens com as questões ambientais; a interação e o envolvimento dos alunos em trabalhos realizados em campo; a melhoria na relação aluno-professor; a construção do conhecimento por parte das pessoas envolvidas no processo de aprendizagem e o desenvolvimento da capacidade de observação por parte dos educandos.

Acreditamos que o trabalho é de enorme importância pelo seu caráter conscientizador, mas temos a certeza que muita coisa ainda há que ser realizada no sentido de construirmos uma verdadeira sociedade sustentável.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, G. F. Educação ambiental – princípios e práticas. São Paulo: Ed. Gaia, 2000. PHILIPPI, A. J & PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental – desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo: Ed. Signus, 2002. SANTOS, M. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000. TALAMONI, J. L. B & SAMPAIO, A.C. Educação ambiental da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Ed. Escrituras, 2003. TEIXEIRA, E. C. O local e o global. São Paulo: Ed. Cortez, 2001. TRAVASSOS, E. G. A prática da educação ambiental nas escolas. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2004.