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Educação a Distância GRUPO Caderno de Estudos FILOSOFIA Prof. Janes Fidélis Tomelin Prof. Norberto Siegel Editora Grupo UNIASSELVI 2011 NEAD

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Educação a Distância

GRUPO

Caderno de Estudos

FILOSOFIA

Prof. Janes Fidélis TomelinProf. Norberto Siegel

Editora Grupo UNIASSELVI2011

NEAD

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Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011

Elaboração:Prof. Janes Fidélis Tomelin

Prof. Norberto Siegel

Revisão, Diagramação e Produção:Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri Grupo UNIASSELVI – Indaial.

100T656f Tomelin, Janes Fidélis Filosofia / Janes Fidélis Tomelin e Norberto Siegel. Indaial : Uniasselvi, 2011. 201 p. : il.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-459-1

1. Filosofia I. Centro Universitário Leonardo da Vinci

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APRESENTAÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a)!

No afã de atualizar-se na sua missão de ensinar, a UNIASSELVI busca todas as possibilidades didáticas de forma criativa, incitando professores e acadêmicos a perseguirem o melhor preparo profissional.

Todo profissional contemporâneo, se procura a solidez de conhecimentos aliada à atualização constante, terá de apresentar um background cultural que vá colocá-lo a cavaleiro das dificuldades inerentes à acirrada competição.

O presente material, dividindo o conteúdo da Filosofia em três unidades, é exemplar em sua forma de apresentar a matéria, primando pela clareza dos objetivos, elegância na forma de apresentação e erudição na medida justa, evitando pernosticismos na apresentação dos autores clássicos. Além do mais, possibilita um tratamento diferenciado para os vários cursos, sem fugir, entretanto, da unidade fundamental da disciplina.

Os professores autores desse texto de Filosofia conseguiram, dessa forma, limpá-lo de exageros doutrinais e ideológicos, dando-lhe a firmeza dos bons princípios de tratamento científico, livrando os acadêmicos do mal-estar decorrente de opções político-partidárias forçadas pelo autoritarismo magisterial, forma perversa de subtrair a liberdade de consciência e de pensamento.

Prof. Sálvio Alexandre MüllerIn Memoriam

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UNI

Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. Desejo a você excelentes estudos!

UNI

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SUMÁRIO

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA .............................................................................. ix

UNIDADE 1: FILOSOFIA: UM CONVITE AO PENSAR ................................................... 1

TÓPICO 1: FILOSOFIA NOS TEMPOS MODERNOS ..................................................... 31 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 32 VIRTUALIDADE ............................................................................................................. 33 HIPERTEXTUALIDADE ................................................................................................. 44 AUTO-ORGANIZAÇÃO ................................................................................................. 55 APRENDIZAGEM COOPERATIVA ................................................................................ 6LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................ 7RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 10AUTOATIVIDADE ............................................................................................................ 11

TÓPICO 2: CONCEITO E REFLEXÃO SOBRE O QUE É A FILOSOFIA ..................... 131 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 132 SURGIMENTO DA FILOSOFIA ................................................................................... 133 O PAPEL DA FILOSOFIA ............................................................................................ 144 CARACTERíSTICA DA FILOSOFIA ............................................................................ 16LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 17RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 20AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 21

TÓPICO 3: CONSCIÊNCIA HUMANA E FILOSOFIA .................................................... 231 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 232 A CONSCIÊNCIA HUMANA ........................................................................................ 233 A CONSCIÊNCIA RACIONAL ..................................................................................... 274 A CONSCIÊNCIA CRíTICA .......................................................................................... 28RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 30AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 31

TÓPICO 4: O OLHAR DA FILOSOFIA SOBRE AS ROTINAS ORGANIZACIONAIS ... 331 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 332 FILOSOFIA ORGANIZATIVA ....................................................................................... 343 VISÃO E MISSÃO DAS ORGANIZAÇÕES ................................................................. 353.1 VISÃO ........................................................................................................................ 353.2 MISSÃO ..................................................................................................................... 37RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................. 42AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 43

TÓPICO 5: FILOSOFIA GREGA E AS ORGANIZAÇÕES ............................................. 451 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 452 SÓCRATES: O DIÁLOGO COMO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO ........................................................................................................ 452.1 O AUTOCONHECIMENTO ....................................................................................... 462.2 O MÉTODO SOCRÁTICO DE INVESTIGAÇÃO ....................................................... 462.2.1 A ironia .................................................................................................................... 47

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2.2.2 A maiêutica ............................................................................................................. 473 PLATÃO E A ORGANIZAÇÃO .................................................................................... 493.1 A TEORIA DAS IDEIAS ............................................................................................. 493.2 O MITO DA CAVERNA .............................................................................................. 514 ARISTÓTELES: UMA “MÁQUINA DE PENSAR” ....................................................... 564.1 FRASES E PENSAMENTOS DE ARISTÓTELES .................................................... 57RESUMO DO TÓPICO 5 ................................................................................................. 60AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 61

TÓPICO 6: TECNOLOGIA E SER HUMANO ................................................................. 631 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 632 ONDE ESTAMOS ......................................................................................................... 643 PARA ONDE VAMOS .................................................................................................. 644 INCLUSÃO DIGITAL REDUZ EXCLUSÃO SOCIAL? ................................................ 66LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 68RESUMO DO TÓPICO 6 ................................................................................................. 70AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 71AVALIAÇÃO .................................................................................................................... 72

UNIDADE 2: ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA ...................................................... 73

TÓPICO 1: TEORIA DO CONHECIMENTO ................................................................... 751 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 752 O QUE É O CONHECIMENTO? .................................................................................. 763 A TEORIA DO CONHECIMENTO ................................................................................ 774 AS FORMAS DE CONHECER O MUNDO .................................................................. 78LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 79RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 81AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 82

TÓPICO 2: LÓGICA ........................................................................................................ 831 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 832 TIPOS DE ARGUMENTAÇÃO ..................................................................................... 842.1 DEDUÇÃO ................................................................................................................. 842.2 INDUÇÃO .................................................................................................................. 842.3 ANALOGIA ................................................................................................................. 853 DISTORÇÕES DA ARGUMENTAÇÃO ........................................................................ 853.1 ARGUMENTOS DE CARICATURA ........................................................................... 863.2 ARGUMENTOS DE APELAÇÃO ............................................................................... 873.3 ARGUMENTOS DE GENERALIZAÇÃO ................................................................... 883.4 ARGUMENTOS COM EXCESSO DE TENDENCIOSIDADE ................................... 893.5 ARGUMENTOS DE CONCLUSÃO PRECIPITADA ................................................... 90RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 93AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 94

TÓPICO 3: ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL .............................................................. 951 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 952 CONCEPÇÕES DE ÉTICA QUE MARCARAM A HISTÓRIA DA FILOSOFIA NA

SOCIEDADE OCIDENTAL .......................................................................................... 96

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2.1 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO SOCRÁTICA ................................................................. 972.2 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA ............................................................. 972.3 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO CRISTÃ ......................................................................... 982.4 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO KANTIANA .................................................................... 992.5 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO MARXISTA .................................................................. 1002.6 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO RELATIVISTA .............................................................. 1013 A ÉTICA E A LEI ........................................................................................................ 1024 ÉTICA PROFISSIONAL ............................................................................................. 1035 VIRTUDES PROFISSIONAIS .................................................................................... 105RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 108AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 109

TÓPICO 4: ESTÉTICA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE A ARTE ................. 1111 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1112 O QUE É ESTÉTICA? ................................................................................................. 1123 OS DILEMAS DA ESTÉTICA: O BELO E O FEIO ..................................................... 1133.1 O DILEMA DA COMPREENSÃO DO BELO ............................................................ 1133.2 O QUE É O FEIO? ................................................................................................... 114RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................ 116AUTOATIVIDADE ............................................................................................................117AVALIAÇÃO ................................................................................................................... 118

UNIDADE 3: TEMAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA ..................................................... 119

TÓPICO 1: O SER HUMANO: UM SER SOCIAL OU ASSOCIAL? ............................ 1211 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1212 AS CONDIÇÕES DO SER HUMANO ........................................................................ 1213 O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL OU ASSOCIAL? ............................................... 124RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 128AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 129

TÓPICO 2: LIBERDADE: ESTÁ NO LIMITE OU NO VíNCULO? ............................... 1311 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1312 TIPOS DE LIBERDADE ............................................................................................. 1323 ONDE ESTÁ A LIBERDADE: NO LIMITE OU NO VíNCULO? ................................. 1333.1 LIBERDADE: A ESCOLHA NO LIMITE ................................................................... 1343.2 LIBERDADE: A ESCOLHA NO VÍNCULO ............................................................... 1344 CONCEITOS TRADICIONAIS PARA PRÁTICAS INOVADORAS –

“CADA UM NA SUA!” ............................................................................................... 1365 ESTUDO DE CASO ................................................................................................... 137LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 139RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 141AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 142

TÓPICO 3: IDEOLOGIA: COMO PODE O PODER DE POUCOS DETERMINAR A CONDIÇÃO DE MUITOS? ......................................................................... 143

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1432 AS IDEOLOGIAS DE DOMINAÇÃO ......................................................................... 1443 ALGUMAS CARACTERíSTICAS DA IDEOLOGIA ................................................... 145

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4 A FUNÇÃO DA IDEOLOGIA DOMINANTE ............................................................... 1465 A IDEOLOGIA DO CONSUMO .................................................................................. 147RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 152AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 153

TÓPICO 4: TRABALHO: ALIENAÇÃO OU HUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO? ... 1551 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1552 O TRABALHO ATRAVÉS DA HISTÓRIA .................................................................. 1563 POR QUE AS PESSOAS TRABALHAM? ................................................................ 1584 A ALIENAÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO .......................................................... 1585 A REALIZAÇÃO HUMANA NO MUNDO DO TRABALHO ....................................... 161LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 162RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 166AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 167

TÓPICO 5: AS FILOSOFIAS POLíTICAS .................................................................... 1691 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1692 O PODER POLíTICO NA SOCIEDADE .................................................................... 1703 AS FILOSOFIAS POLíTICAS .................................................................................... 1713.1 A POLÍTICA ENTRE OS GREGOS ......................................................................... 1713.2 MAQUIAVEL E O GOVERNO ................................................................................. 1733.3 HOBBES E O ESTADO ........................................................................................... 1743.4 MONTESQUIEU E OS PODERES .......................................................................... 1754 O ESTADO CAPITALISTA ......................................................................................... 1755 O ESTADO SOCIALISTA ........................................................................................... 1766 A SOCIEDADE DEMOCRÁTICA ............................................................................... 178LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 180RESUMO DO TÓPICO 5 ............................................................................................... 183AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 184

TÓPICO 6: CIDADANIA E SOCIEDADE ...................................................................... 1851 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1852 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CIDADANIA ...................................................... 1853 CIDADANIA: UM CONCEITO UNIVERSAL OU PARTICULAR ............................... 1864 DIMENSÕES DA CIDADANIA ................................................................................... 1884.1 CIDADANIA SOCIAL .............................................................................................. 1884.2 CIDADANIA POLÍTICA ............................................................................................ 1884.3 CIDADANIA CIVIL ................................................................................................... 189RESUMO DO TÓPICO 6 ............................................................................................... 190AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 191AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 196REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 197

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PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA

EMENTA

Noções básicas de filosofia: indagar e questionar a realidade. Consciência humana e a cultura do colonizado. A filosofia na sociedade contemporânea. Histórico do pensamento filosófico. Campos de estudo da Filosofia. Identificação dos principais problemas e postulados filosóficos. Arte e filosofia. Estética. Cidadania. Ética. Avanços tecnológicos. Inclusão e exclusão digital.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA

Esta disciplina tem por objetivos:

• filosofar de modo crítico e criativo sobre a realidade para ampliar sua concepção de mundo;

• entender que a Filosofia é a base de compreensão dos diferentes campos de conhecimento;

• apresentar os principais campos de investigação do pensamento filosófico;

• analisar os principais temas de estudo da Filosofia e relacioná-los com o exercício da vida profissional.

PROGRAMA DA DISCIPLINA

UNIDADE 1 – FILOSOFIA: UM CONVITE AO PENSARTÓPICO 1 – FILOSOFIA NOS TEMPOS MODERNOSTÓPICO 2 – CONCEITO E REFLEXÃO SOBRE O QUE É A FILOSOFIATÓPICO 3 – CONSCIÊNCIA HUMANA E FILOSOFIATÓPICO 4 – O OLHAR DA FILOSOFIA SOBRE AS ROTINAS ORGANIZACIONAISTÓPICO 5 – FILOSOFIA GREGA E AS ORGANIZAÇÕESTÓPICO 6 – TECNOLOGIA E SER HUMANO

UNIDADE 2 – ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIATÓPICO 1 – TEORIA DO CONHECIMENTOTÓPICO 2 – LÓGICATÓPICO 3 – ÉTICA GERAL E PROFISSIONALTÓPICO 4 – ESTÉTICA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE A ARTE

UNIDADE 3 – TEMAS DE ESTUDO DA FILOSOFIATÓPICO 1 – O SER HUMANO: UM SER SOCIAL OU ASSOCIAL?TÓPICO 2 – LIBERDADE: ESTÁ NO LIMITE OU NO VÍNCULO?TÓPICO 3 – IDEOLOGIA: COMO PODE O PODER DE POUCOS DETERMINAR A

CONDIÇÃO DE MUITOS?TÓPICO 4 – TRABALHO: ALIENAÇÃO OU HUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO?TÓPICO 5 – AS FILOSOFIAS POLÍTICASTÓPICO 6 – CIDADANIA E SOCIEDADE

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FILOSOFIA

UNIDADE 1

FILOSOFIA: UM CONVITE AO PENSAR

OBJETIVOS DE APRENDIzAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

perceber que a discussão e o debate são os pressupostos fundamentais do pensar filosófico;

compreender que a Filosofia é parte integrante da vida social e profissional;

desenvolver uma consciência de sujeito nas diferentes situações da vida social e profissional;

ter atitudes filosóficas perante as diversas circunstâncias da vida;

perceber a influência das novas tecnologias no processo produtivo e nas relações sociais;

refletir sobre a cultura dos povos colonizados na formação de sua consciência.

TÓPICO 1 – FILOSOFIA NOS TEMPOS MODERNOS

TÓPICO 2 – CONCEITO E REFLEXÃO SOBRE O QUE É A FILOSOFIA

TÓPICO 3 – CONSCIÊNCIA HUMANA E FILOSOFIA

TÓPICO 4 – O OLHAR DA FILOSOFIA SOBRE AS ROTINAS ORGANIZACIONAIS

TÓPICO 5 – FILOSOFIA GREGA E AS ORGANIZAÇÕES

TÓPICO 6 – TECNOLOGIA E SER HUMANO

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está dividida em seis tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiridos.

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FILOSOFIA

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FILOSOFIA

FILOSOFIA NOS TEMPOS MODERNOS

1 INTRODUÇÃO

2 VIRTUALIDADE

TÓPICO 1

UNIDADE 1

A Filosofia é tida como mãe da Ciência, por ser um conhecimento que antecedeu e proporcionou as muitas descobertas e esclarecimentos que hoje acumulamos. Ela surgiu na praça pública, com a interação de pessoas que discutiam questões do cotidiano e da existência humana. Em cada tempo, a Filosofia se reorganiza e amplia seu papel provocativo, questionador e reflexivo. Nos “tempos modernos”, ela se apresenta ainda mais necessária e acessível. Necessária para o entendimento dos dilemas modernos e acessível pelos recursos tecnológicos de informação.

Neste tópico, trataremos de quatro pressupostos modernos fundamentais para filosofar, sendo eles: virtualidade, hipertextualidade, auto-organização, aprendizagem cooperativa.

Em sua origem, a Filosofia nasce na ágora, praça pública, que era em sua época o espaço de interação entre as pessoas. Este lugar proporcionou à Filosofia uma experiência de reflexão radical e democrática sobre as questões do homem a respeito de si mesmo e do mundo. Hoje, os espaços de interação filosófica encontraram uma nova ágora, um novo espaço público e democrático para o exercício da razão sobre as questões humanas.

NOTA! �Segundo o Dicionário Houaiss, ágora significa praça principal das antigas cidades gregas, local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realização das assembleias do povo; formando um recinto decorado com pórticos, estátuas e um centro religioso.

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4 UNIDADE 1TÓPICO 1

FILOSOFIA

FONTE: Disponível em: <http://www.eb23-s-torcato.rcts.pt/Imagens/emprego.jpg>. Acesso em: 3 jul. 2008.

A ágora, como espaço virtual, simboliza para o nosso tempo um novo instrumento de encontro para o exercício da troca de ideias e ampliação da nossa capacidade racional de indagar e compreender o mundo em que vivemos. Por outro lado, a virtualidade exige cautela dos participantes, para não caírem numa mera relação instrucionista, técnica, fria e distante.

A virtualidade reserva grande potencial de dialogicidade, interação e aproximação que se efetiva num esforço contínuo de construção coletiva deste novo espaço.

3 HIPERTEXTUALIDADE

Dentre as muitas mudanças que a era digital promoveu nas áreas tecnológicas, ocorreu uma significativa transformação dos antigos modelos lineares que o mundo analógico permitiu conhecer. O novo modelo, denominado de hipertexto, permitiu-nos conhecer uma forma livre e criativa de interação com o mundo da informação. Nesta estrutura, o navegador pode tomar rumos diferentes para sua leitura, conforme necessidade, interesse ou circunstância.

O mundo da informação se entrelaça numa constante visita às muitas possibilidades de descoberta. Para Assmann (1998, p. 134), “[...] as interações formam, em seu conjunto, um sistema aprendente, cujos fluxos não podem ser reduzidos ao puramente informacional [...]”.

FIGURA 1 – VIRTUALIDADE

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5UNIDADE 1 TÓPICO 1

FILOSOFIA

4 AUTO-ORGANIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.estudar.org/pessoa/internet/ images/ hipertexto.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2008.

Os hipertextos apresentam conexões tanto entre si como também para outros sites de interesse localizados em áreas livres da rede mundial de computadores. “O hipertexto contém um convite à navegação e, mais do que isso, um convite a ser usado como plataforma para outras navegações. No bojo da técnica hipertextual brotou uma oferta de liberdade, que, aliás, está surgindo desde a própria contextura técnica de diversas tecnologias da informação e da comunicação”. (ASSMANN, 1998, p. 154). Desta forma, o hipertexto representa um rompimento com a sequencialidade linear de escrita e de leitura, permitindo ao estudante ser sujeito ativo no processo de aprendizagem. O hipertexto redescoberto na virtualidade se potencializa no desenvolvimento da auto-organização.

Como já apreciamos, a virtualidade em si mesma não passa de um recurso de informação que se transforma em conhecimento no processo de interação entre os sujeitos envolvidos, entre sujeito e hipertexto. Esta interação se vincula à auto-organização que empiricamente sugere a autonomia organizativa de cada pessoa envolvida. O conhecimento se torna fecundo quando a informação é organizada.

FIGURA 2 – HIPERTEXTO

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6 UNIDADE 1TÓPICO 1

FILOSOFIA

Passear e ver panoramicamente o mundo é uma forma de despertar nossa curiosidade investigativa. Porém, contentar-se apenas com esta atitude torna-nos meros turistas. Ser explorador, arqueólogo, garimpeiro do conhecimento permite descobrir, revelar e desvelar o mundo. A aventura é segura quando nos auto-organizamos, o que nos dá liberdade para fazer o caminho e aprender caminhando.

FONTE: Disponível em:<http://www.esd.org.uk/esdtoolkit/image/news/humantargetweb.JPG>. Acesso em: 2 jul. 2008.

Assmann (1998, p. 134) lembra que “[...] a auto-organização supõe uma certa plasticidade adaptativa e implica frequentemente escolhas estratégicas”. Pense nisto!

5 APRENDIZAGEM COOPERATIVA

As novas tecnologias de informação possibilitam o desenvolvimento de um espaço de ampla interação entre pessoas e, por sua vez, permitiram maior cooperação no processo de construção do conhecimento. Em decorrência deste novo espaço surgiu uma área de pesquisa denominada Aprendizagem Cooperativa. Dentre os estudos desta área podemos destacar o groupware, que é composto por softwares e hardwares que permitem a interação e produção de conhecimentos em grupo.

O conceito cooperação foi proposto por Piaget, que previa uma aprendizagem construtiva, fruto das relações compartilhadas. Trata-se de um modelo de desenvolvimento do conhecimento humano que é construído coletivamente em superação ao “cada um por si e

FIGURA 3 – AUTONOMIA

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7UNIDADE 1 TÓPICO 1

FILOSOFIA

Deus por todos”. Neste modelo, cada membro de um determinado grupo de interação exercita as seguintes responsabilidades:

•Respeito à diversidade de opiniões.•Compartilha questionamentos, pensamentos, soluções e insights.•Participa no debate e permite ter suas ideias questionadas.•Trabalha para atingir objetivos comuns.•Interagir nas atividades agendadas, contribuindo para a construção do conhecimento.

De acordo com Palloff e Pratt (2002 apud KOSLOSKY, 2004, p. 72):

[...] o uso da tecnologia abre novos horizontes para que os alunos construam novos conhecimentos, aprendam sobre si próprios, sobre seus estilos de aprendizagem e sobre como trabalhar em conjunto em equipes distribuídas ge-ograficamente. Todas essas habilidades são transferíveis ao mundo do trabalho e adquiridas da participação em comunidades de aprendizagem virtuais.

Neste sentido, pode-se dizer que este modelo de aprendizagem cooperativa caminha para o exercício de uma inteligência coletiva que permite uma ação conjunta entre pessoas que compartilham um mesmo objetivo. Referência esta que converge para o papel da Filosofia na construção de um pensar crítico, criativo e coletivo.

LEITURA COMPLEMENTAR

UMA ÁGORA VIRTUAL PARA O PLANETA

Celso Cândido

As redes de computadores, como internet, proporcionam ao ser humano uma recuperação das características primordiais da democracia.

Ágora era a praça pública onde os antigos gregos atenienses reuniam-se para debater e deliberar acerca de suas questões políticas. Era ali que tomava corpo a ecclesia, a assembleia dos cidadãos, para decidirem sobre os destinos de sua polis, da sua cidade. Este ensaio defende a ideia de que entramos em uma época na qual, a partir da emergência das novas tecnologias intelectuais, poderemos reviver o sentido político daquela ágora.

A democracia é uma forma de governo a respeito da qual se diz existirem três princípios fundamentais. Em primeiro lugar, a democracia é uma forma de governo em que o povo exerce, ele mesmo, o poder. A própria formação da palavra “democracia” indica a definição. Demos significa povo e cracia significa poder, logo, democracia é o poder do povo. A democracia busca o interesse da maioria e é governada pela maioria. Em segundo lugar, a democracia é um regime que se define conforme a liberdade, diferentemente da aristocracia e da oligarquia, as quais se definem respectivamente pelo mérito e pela riqueza. A democracia é um governo no qual

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8 UNIDADE 1TÓPICO 1

FILOSOFIA

governam as pessoas livres em maioria. A democracia tem, pois, como fundamento a liberdade. É preciso que os cidadãos mandem e obedeçam alternadamente. [...] A alternância no mando e na obediência é o primeiro atributo da liberdade. O segundo é viver como se quer. Em terceiro lugar, a democracia é um regime de igualdade de direitos, ou, como diz Aristóletes, o princípio segundo o qual “unanimemente se fundam” as democracias, “é o direito que fazem resultar da “igualdade numérica”. Sem este princípio da igualdade é impossível falar de democracia, pois o poder deve ser exercido por todos e cada um deve ter o mesmo peso na deliberação.

Entretanto, o fato de que a maioria participe das deliberações públicas não significa necessariamente que tais decisões sejam automaticamente as melhores. Duas, pelo menos, são condições indispensáveis para dar forma a uma cidadania capacitada a tomar boas decisões. Em primeiro lugar, é preciso que os cidadãos possuam tempo livre para debater e deliberar. Em segundo, é preciso que eles possam dedicar-se à sua paideia, à sua formação.

Assim, formação e tempo livre são condições indispensáveis na ecclesia, na assembleia deliberativa. A deliberação implica análise, reflexão, debate. Sem tempo livre, o cidadão é impedido de ouvir e argumentar, suas decisões são naturalmente precipitadas, instintivas. Da mesma forma, um cidadão pouco ou malformado tem maiores dificuldades de raciocínio e clareza; sem esclarecimento, a tendência é fazer deliberações imprudentes, erradas. [...]

Nossa atualidade anuncia uma época até então insondável para a civilização. Estamos entrando no marco de uma sociedade na qual o computador, como principal meio técnico do fazer e do pensar social, está transformando grande parte das relações sociais, políticas, culturais, econômicas, imemoriais.

As fronteiras não são mais facilmente delimitadas. As noções tradicionais de tempo e espaço estão se alterando. A memória e o conhecimento ganham uma dimensão cibernética universal. Podemos nos comunicar com o mundo todo de nossas casas. A antiga praça pública está se transformando em praça virtual planetária. Toda a questão, do ponto de vista político, será como organizar os debates e as tomadas de decisões a partir destes meios cibernéticos que são os computadores em rede, tais como a internet, por exemplo.

A médio prazo, o fluxo de informações pela internet será tão intenso e ela será provavelmente o principal lugar de comunicação e informação da cidadania. Com os novos meios técnicos digitais interativos de comunicação e informação, o antigo sujeito passivo da informação de massa passa a ser ativo neste novo ambiente eco intelectual - cada um é um emissor e receptor de informação. Trata-se da informação do conhecimento “interessado”.

O grande impacto acontecerá, pois, quando o computador for para cada um o que são hoje, ou foram, por exemplo, o rádio e a televisão.

Aqueles países, estados ou cidades que enfrentarem com lucidez tais questões não

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9UNIDADE 1 TÓPICO 1

FILOSOFIA

poderão deixar de tomar iniciativas imediatas no sentido de promover esta superestrada, condição tecno-intelectual do que estamos chamando a Ágora Virtual. Com efeito, esta praça pública digital oferecerá não só a possibilidade do exercício direto do poder público. [...] colocará à disposição de todos grandes riquezas culturais, tais como a “memória cibernética” e o “conhecimento acumulado” de todas as gerações, condições sem as quais a democracia mesma jamais poderá ser uma boa forma de governo.

FONTE: Cândido (1997, p. 6)

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10 UNIDADE 1TÓPICO 1

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você viu que:

Os pressupostos que norteiam o ensino a distância de Filosofia relacionam-se com a ágora grega e a nova ágora virtual.

Ágora grega é o espaço público em que se reuniam os pensadores da antiguidade para discutir as questões sociais, políticas, religiosas e humanas.

A ágora virtual é aqui apresentada como um ciberespaço, que apresenta a possibilidade de democratizar o acesso ao conhecimento.

Hipertextualidade caracteriza-se como a possibilidade de acesso a diferentes links de interesse no processo de estudo e investigação.

Auto-organização é o desafio que cada estudante enfrenta ao se deparar com a necessidade de organizar-se com as leituras, pesquisas e atividades individuais.

• A aprendizagem cooperativa baseia-se no exercício de uma inteligência coletiva que permite uma ação conjunta entre pessoas que compartilham um mesmo objetivo.

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11UNIDADE 1 TÓPICO 1

FILOSOFIA

Este assunto rende boas reflexões. Gostaríamos de partilhar algumas questões mais intrigantes para que você possa tirar suas conclusões ou discutir com algum interlocutor. Será que a “ágora virtual” permitirá maior participação política? Poderá um dia o espaço virtual se transformar num lugar para deliberação de necessidades públicas? Será que a internet só revolucionou as formas de comercialização?

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12 UNIDADE 1TÓPICO 1

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

CONCEITO E REFLEXÃOSOBRE O QUE É A FILOSOFIA

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 2

UNIDADE 1

Admirar-se com a realidade é estar em contínua contemplação e reflexão sobre o mundo que nos circunda. Tomar tudo como rotineiro, natural e comum é estagnar a mente e entrar numa atividade costumeira, onde nada causa espanto e pouco faz refletir. Como adverte Sócrates, uma vida sem reflexão não merece ser vivida. Ver o mundo como novidade desperta para a curiosidade e convida ao saber.

2 SURGIMENTO DA FILOSOFIA

A Filosofia surge no século VI a.C., quando alguns pensadores resolveram duvidar das explicações mitológicas e começaram a pensar na possibilidade de explicar a realidade a partir da razão, sem recorrer à fé.

A palavra Filosofia é de origem grega: philos = amigo e sophia = sabedoria. Filósofo é aquele que é amigo do saber. A origem do pensar filosófico se dá pelo espanto, admiração e perplexidade. Filosofar é questionar, refletir sobre a realidade humana e formar conceitos capazes de traduzir essa realidade para ser pensada, comunicada e repensada.

O conhecimento filosófico surgiu gradativamente em substituição aos mitos e às crenças religiosas, na tentativa de conhecer e compreender o mundo e os seres que nele habitam. A formação do pensamento filosófico se deu na passagem do Mito para a Razão. A principal característica está justamente na superação da visão cosmogônica para uma explicação cosmológica sobre a ordenação do universo. Da cosmogonia para a cosmologia – surge a Filosofia. As crenças cedem lugar à razão, que se utiliza dos elementos físicos presentes na natureza para compreender a existência.

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14 UNIDADE 1TÓPICO 2

FILOSOFIA

O Surgimento da Filosofia se dá na Jônia, cidade-estado da Magna Grécia, no século VI a.C., com os pré-socráticos. Os pré-socráticos procuravam a arché – o princípio primeiro de todas as coisas. Por isso, a Filosofia, na sua origem, caracteriza-se especialmente por tratar de questões cosmológicas, especulando a respeito da origem e da natureza do mundo físico. Movido pelo espanto e pela admiração, o homem abandona a crença cega para despertar uma consciência crítica sobre a realidade.

3 O PAPEL DA FILOSOFIA

Desenvolver a consciência é uma das características e potencialidades da Filosofia, o que não quer dizer que seja sua propriedade particular, mas define bem sua responsabilidade e compromisso. Desenvolver a consciência implica uma necessidade existencial, para tomarmos controle do movimento histórico, da ciência e da tecnologia, que há muito tempo vem sendo ditado pelo pensamento burguês. No pensamento de Leão (1991, p. 28):

Na era atômica, em que a técnica e a ciência desenvolvem um vigor planetário, a missão da Filosofia não é corrigir ou substituir-se à ciência. É apenas ser a catarsis de uma autoconsciência. Na reflexão sobre as condições de possibilidade da própria ciência, ela recorda que todo conceito humano é sempre configuração histórica da verdade do ser, em cujo dinamismo se articulam as manifestações existenciais das várias épocas da humanidade. Na terra dos homens, não há previdência nem providência escatológica. O homem nunca é o alto-falante do absoluto. De antemão não sabe aonde vai chegar, nem mesmo se vai chegar. É que não nos podemos despir de nossa finitude, como de um manto vergonhoso, para revestirmo-nos da clareza meridiana de um saber sem sombras. O homem não é um Deus mascarado que nas vicissitudes históricas da existência fosse desmascarado em sua divindade. A Filosofia permanecerá sempre a reflexão finita do mais finito dos entes, por ser o único cônscio de sua finitude. Assim, os filósofos serão sempre os aventureiros que se afastam da terra firme dos entes e se lançam nas peripécias da história em busca da verdade do homem. Os argonautas do ser.

Ao referenciar este pensamento, queremos ilustrar a ideia que vínhamos desenvolvendo, que tem por intenção desvendar a necessidade da Filosofia para emancipar o homo sapiens sapiens que somos, conscientes da própria finitude e sempre aventureiros no desbravamento contínuo de nossas realidades tão finitas e de mistérios tão infinitos. A Filosofia é hoje o instrumento racional para despertar a humanidade de seu sono profundo, das ilusões, das manipulações, da verdade ofuscada. A Filosofia comporta esta missão, de auxiliar as pessoas a saírem da caverna para pensar, questionar e refletir de forma infinita sobre aquilo que é aparentemente finito. A Filosofia resgata o desejo de saber que germina a partir da paixão pelo desconhecido e nos torna amantes eternos do saber infinito sobre uma realidade tão finita.

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15UNIDADE 1 TÓPICO 2

FILOSOFIA

Além da dúvida e da reflexão, a missão da Filosofia também se revela no processo de criação do conceito, pois é a partir de conceitos que pensamos. Em Filosofia, o conceito expressa o conjunto de ideias que formam um juízo acerca de algo. Na ciência, o conceito se resume em expressar (explicar) aquilo que é observado pela experiência. Desta forma, o conceito é um signo determinado para um objeto. O conceito passa a ser uma adequação da relação de significação entre o signo e o objeto. Diverso disto, o conceito em Filosofia manifesta a subjetividade da interpretação do sujeito que interage, em consciência crítica, com sua realidade.

Para Deleuze e Guattari (1997, p. 13), “a filosofia [...] é a disciplina que consiste em criar conceitos”. Os conceitos elaboram o conjunto mutável de entendimentos que se pode elaborar sobre uma dada realidade. Nele, o filósofo encontra o instrumento que lhe possibilita pensar sobre seu contexto em contínua transformação.

Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos, como corpos celestes. Não há céu para os conceitos. Eles devem ser inventados, fabricados ou antes criados, e não seriam nada sem a assinatura daqueles que os criam. Nietzsche determinou a tarefa da Filosofia quando escreveu: ‘os filósofos não devem mais se contentar em aceitar os conceitos que lhes são dados, para somente limpá-los e fazê-los reluzir, mas é necessário que eles comecem por fabricá-los, criá-los, afirmá-los, persuadindo os homens a utilizá-los. Até o presente momento, tudo somado, cada um tinha confiança em seus conceitos, como num dote miraculoso vindo de algum mundo igualmente miraculoso’, mas é necessário substituir a confiança pela desconfiança, e é dos conceitos que o filósofo deve desconfiar mais, desde que ele mesmo não os criou [...] (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p. 13-14).

FONTE: Disponível em: <http://nehistemf.com.sapo.pt/conceitos.jpg>. Acesso em: 02 jul. 2008.

FIGURA 4 – CONCEITOS

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16 UNIDADE 1TÓPICO 2

FILOSOFIA

DICAS!

4 CARACTERíSTICA DA FILOSOFIA

A Filosofia difere da religião e da ciência. A religião busca as causas e princípios primeiros nos dogmas, crenças e respostas dadas pela fé. Difere também da ciência por não depender apenas da experiência. Contudo, a Filosofia se relaciona com ambas, refletindo sobre seus princípios e métodos.

A grande característica da Filosofia, que a torna distinta das demais formas de conhecer o mundo, é o questionamento, a dúvida e a reflexão. O questionamento gera reflexão, que por sua vez gera novos questionamentos, impulsionando para um contínuo prosseguir. Existem pontos de partida que surgem do próprio contexto humano, mas não há um ponto de chegada como resposta absoluta para o que se busca. Para o filósofo, a pergunta é mais importante que a própria resposta. Como bem lembra Sautet (1997, p. 42), “[...] o filósofo não é aquele que detém a resposta para todas as perguntas. É aquele a quem as respostas já dadas, as respostas que predominam, ou as rivais delas, intrigam. É aquele que interroga, aquele que, stricto sensu, repõe em questão o que se faz passar por solução.”

A ciência e a religião, ao contrário, assumem por meta uma resposta final, absoluta e verdadeira. A dúvida é, para a Filosofia, uma possibilidade de reflexão. Quando nos encerramos em uma verdade absoluta, impedimos a possibilidade da dúvida e da reflexão.

Ao conceituar, pensamos a singularidade das coisas no seu convívio com a totalidade. Nem fragmentos, nem definições, nem verdades absolutas são suficientes para filosofar, somente nos conceitos o filósofo encontra as razões para seu pensar. O conceito é, para a Filosofia, um instrumento de dúvida, questionamento e reflexão.

Quando precisar saber mais sobre um determinado conceito, pesquise em dicionários de Filosofia. Um bom dicionário é o de Nicola Abbagnano.

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17UNIDADE 1 TÓPICO 2

FILOSOFIA

DICAS!

Assista a Giordano Bruno: baseado em uma história real, é considerado um dos mais extraordinários filmes que retrata a vida do astrônomo, matemático e filósofo italiano, frade dominicano, Giordano Bruno. Assista ao filme e procure relacioná-lo com este tópico. GIORDANO BRUNO. Direção de Giuliano Montaldo. Itália: 1973, 1 DVD (114 min): legenda, color.

Como vimos, a Filosofia desenvolveu-se a partir da religião (da passagem do mito para a razão), mas se tornou distinta quando os pensadores buscaram refletir sobre a realidade, independentemente das considerações mitológicas. Até o século XIX, o termo “Filosofia” incluía o que hoje conhecemos como “ciência”. Cada ciência passou a ter um objeto específico para investigação. A Filosofia permaneceu como mãe de todas as ciências e como tal faz uma investigação paralela, tendo sempre por ponto de partida o questionamento, a reflexão e a investigação, elementares para a construção do verdadeiro saber.

LEITURA COMPLEMENTAR

Leia atentamente o texto que segue, extraído do livro “Introdução à Filosofia”, de Batista Mondin (1980, p. 5-6). O autor apresenta o que vem a ser a filosofia.

AFINAL, O QUE É A FILOSOFIA?

Batista Mondin

O homem, diz-se, é naturalmente filósofo, “amigo da sabedoria”. E é verdade. Ávido de saber, não se contenta em viver o momento presente e aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência imediata, como fazem os animais. Seu olhar interrogativo quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da própria vida.

Mas enquanto o homem comum, o homem da rua, formula estas interrogações e enfrenta estes problemas de maneira descontínua, sem método e sem ordem, há pessoas

ESTUDOS FUTUROS! �No Tópico 1 da Unidade 2 abordaremos com mais profundidade a questão do tipo de conhecimento e suas características.

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18 UNIDADE 1TÓPICO 2

FILOSOFIA

que se dedicam a essas pesquisas todo o seu tempo e todas as suas energias, e propõem-se a obter uma solução concludente para todos os ingentes problemas que espicaçam a mente humana, através de uma análise aprofundada e sistemática. São estas as pessoas a que costumamos chamar “filósofos”.

Mas, então, o que é exatamente a filosofia?

É um conhecimento, uma forma de saber e, como tal, tem sua esfera particular de competência; sobre esta esfera busca adquirir informações válidas, precisas e ordenadas. Mas enquanto é fácil dizer qual é a esfera de competência das várias ciências experimentais, não é igualmente cômodo delimitar o campo de pesquisa próprio da filosofia. É sabido, por exemplo, que a botânica estuda as plantas, a geografia os lugares, a história os fatos, a medicina as doenças etc. Mas, a filosofia, que estuda ela? No entender dos filósofos, ela estuda tudo. Aristóteles, o primeiro a pesquisar rigorosamente e sistematicamente a natureza desta disciplina, diz que a filosofia estuda “as causas últimas de todas as coisas”. Cícero define a filosofia como sendo “o estudo das causas humanas e divinas das coisas”. Descartes afirma que a filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebe a filosofia como “saber absoluto”. Whitehead julga que seja tarefa da filosofia “fornecer uma explicação orgânica do universo”. Poderíamos citar muitos outros filósofos que definem a filosofia quer como estudo do valor do conhecimento, quer como pesquisa sobre o fim último do homem, quer como estudo da linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da política etc. Com efeito, coerentes com estas definições discrepantes, os filósofos estudaram todas as coisas. Devemos, pois, concluir que a filosofia estuda tudo? Sem dúvida. Isto por duas razões.

Em primeiro lugar, porque todas as coisas, além de poderem ser examinadas a nível científico, podem sê-lo também a nível filosófico.

Assim, os homens, os animais, as plantas, a matéria, já estudados por muitas ciências e sob diferentes pontos de vista, são suscetíveis também de uma pesquisa filosófica. Com efeito, os cientistas se interrogam sobre a constituição da matéria, perguntam-se o que é a vida, como estão estruturados os animais e o homem, mas não chegam a enfrentar certos problemas também referentes ao homem, aos animais, às plantas, à matéria: por exemplo, o que seja o existir. Especialmente com relação ao homem, do qual as ciências estudam múltiplos aspectos, são muitos os problemas que nenhuma delas enfrenta (enquanto os supõe já resolvidos), como o valor da vida e do conhecimento humano, a liberdade, a natureza do mal, a origem e o valor da lei moral. Somente a filosofia se ocupa destes problemas.

Em segundo lugar, porque, enquanto as ciências estudam esta ou aquela dimensão da realidade, a filosofia tem por objeto o todo, a totalidade, o universo tomado globalmente.

Eis, pois, a primeira característica que distingue a filosofia de qualquer outra forma de saber: ela estuda toda a realidade ou, de algum modo, procura apresentar uma explicação

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19UNIDADE 1 TÓPICO 2

FILOSOFIA

DICAS!

Outro filme interessante é O nome da rosa, adaptação do célebre romance de Umberto Eco, que retrata uma biblioteca medieval e a relação com o conhecimento naquele período.

NOTA! �Para aprofundar suas leituras sobre o que é a filosofia, indicamos o seguinte site: <http://www.dialogosfilosóficos.com.br>. Ali, você encontrará links de filosofia com comentários.

completa e exaustiva de um domínio particular da realidade.

Mas há também outras três qualidades que contribuem para dar ao saber filosófico um caráter próprio e específico: o instrumento de pesquisa, o método e o escopo.

O instrumento de trabalho, de pesquisa, de análise de que a filosofia se utiliza é a razão, a razão pura, o “raciocínio puro”, como diz Platão. Ela não dispõe de microscópios, telescópios, máquinas fotográficas, etc. Não pode estabelecer controles com instrumentos materiais nem apressar suas operações recorrendo a computadores. Mesmo os instrumentos cognitivos de que se utiliza todo homem e todo cientista, os sentidos e a imaginação, ao filósofo só servem na fase inicial, para conseguir alguns conhecimentos do real, para o qual depois volta o olhar penetrante da razão. O trabalho verdadeiro e próprio de pesquisa filosófica é realizado apenas pela razão; esta, para subtrair-se a todo tipo de distração, encerra-se em seu sagrado recinto, longe do barulho das máquinas, da sedução dos prazeres e da práxis, da confusão dos sentidos, em solitária companhia com o próprio objeto.

O método da filosofia é essencialmente raciocinativo, embora não exclua algum momento intuitivo (quer na fase inicial, quer na final). Mas os processos raciocinativos são múltiplos, e os mais importantes dentre eles são a indução e a dedução. A filosofia utiliza ambos: o primeiro, para ascender dos fatos aos princípios primeiros; o segundo, para descer de novo dos primeiros princípios e iluminar posteriormente os fatos, para compreendê-los melhor.

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20 UNIDADE 1TÓPICO 2

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

A Filosofia surgiu no século VI a. C.

O significado da palavra Filosofia tem origem grega – philos = amigo e sophia = sabedoria.

O papel da Filosofia está em desenvolver a consciência, a capacidade de questionar, de conceituar e de refletir sobre a realidade.

O conhecimento filosófico tem seu critério na razão, o conhecimento religioso depende da fé e o científico depende da experimentação.

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21UNIDADE 1 TÓPICO 2

FILOSOFIA

1 Como surgiu a Filosofia?

2 Ao pensar sobre o papel da Filosofia, Leão (1991) propôs a seguinte reflexão: “na era atômica, em que a técnica e a ciência desenvolvem um vigor planetário, a missão da Filosofia não é corrigir ou substituir-se à ciência. É apenas ser a catarsis de uma autoconsciência”. O que o pensador está sugerindo?

3 Qual a principal diferença entre Filosofia, Ciência e Religião?

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22 UNIDADE 1TÓPICO 2

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

CONSCIÊNCIA HUMANA E FILOSOFIA

1 INTRODUÇÃO

2 A CONSCIÊNCIA HUMANA

TÓPICO 3

UNIDADE 1

Em nossa vida fazemos perguntas, afirmamos, negamos, repetimos frases, cumprimentamos, aceitamos, rejeitamos, enfim, tomamos várias atitudes e não nos damos conta de que, muitas vezes, agimos mecanicamente, sem tomar consciência dos nossos atos. Agimos como se as coisas já estivessem predeterminadas ou programadas em nossa mente, não nos dando conta de que somos seres que têm a capacidade de transformar e modificar as ações, dando a elas um sentido diferente.

Se observarmos as atitudes das pessoas na sociedade também vamos encontrar certas semelhanças com as nossas atitudes. Isto pode ser constatado nos locais de trabalho, nas filas dos bancos, nas praças e ruas de nossas cidades. As pessoas são impulsionadas a seguir um padrão de vida, como sendo o ideal ou o almejado pela sociedade. Com isto, acabam não levando em consideração que são seres históricos, capazes de modificar o seu espaço e não agirem apenas como máquinas programadas para executar uma determinada atividade.

Estas são atitudes imersas nos afazeres do cotidiano e são marcadas pela falta de consciência, tanto das ações individuais quanto das sociais. Estas atitudes estão relacionadas à consciência que se tem de mundo. Portanto, este tópico quer discutir a consciência humana como um dos elementos formadores do pensamento filosófico.

Um bom começo para iniciarmos nossa discussão é refletir sobre: o que significa ser Humano? O que significa ter consciência? A partir destas duas indagações é que vamos procurar compreender a Consciência Humana.

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24 UNIDADE 1TÓPICO 3

FILOSOFIA

Uma das primeiras respostas para a pergunta “o que significa ser Humano?” vem da expressão Homo sapiens (do latim homem sábio), parece ter surgido há mais de 150 mil anos, na região dos grandes lagos africanos.

Observe, na figura que segue, a evolução histórica do ser humano.

FONtE: Disponível em: <http://www.fizyka.umk.pl/~duch/Wyklady/img/01homo-ew.jpg>. Acesso em: 10 maio 2010.

Além do Homo sapiens sapiens, uma outra ideia que define o ser humano é a questão racional. Esta racionalidade significa a “[...] nossa capacidade de pensar sobre as coisas, de refletir sobre nossa própria existência e de modificar nossas ações à luz dessa reflexão, de planejar e organizar nossas vidas, de controlar nossas emoções e desejos – enfim, de sermos ‘racionais’.” (MATTHEWS, 2007, p. 9). A partir destes dois aspectos apresentados – homem sábio e homem racional – podemos iniciar nossa reflexão sobre o que é ser humano.

ESTUDOS FUTUROS! �Na Unidade 3 do nosso Caderno de Estudos você irá aprofundar os estudos sobre o ser humano.

A segunda questão de discussão é: o que significa ter consciência? De maneira geral, a palavra consciência é entendida como a capacidade humana de prever e planejar as próprias atividades, de refletir sobre elas no decorrer da ação, e de aferir os resultados, seja com os planos, seja com princípios e ideais teóricos ou práticos.

Diversas ciências procuraram dar uma resposta para a palavra consciência, mas foi

FIGURA 5 – HOMO SAPIENS

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25UNIDADE 1 TÓPICO 3

FILOSOFIA

principalmente com a psicologia, a sociologia e a filosofia que teve início uma reflexão mais sistemática sobre esta expressão denominada consciência.

tanto a psicologia quanto a sociologia têm uma compreensão diferenciada para a consciência. A psicologia procura compreender as atitudes do ser humano enquanto indivíduo. Nesta perspectiva, a consciência é entendida como o conjunto de fenômenos e dados psíquicos que a pessoa é capaz de verbalizar reflexamente. Já a sociologia procura estudar as relações sociais do ser humano em seu meio. Sob este prisma, a consciência está relacionada com o social, que é a “[...] conformidade de ideias, opiniões, sentimentos e ações que caracterizam os componentes de determinado grupo ou sociedade”. (OLIVEIRA, 2000, p. 236).

A filosofia procura investigar os fatos em sua profundidade e compreendê-los em sua totalidade, dando um sentido para o mundo. A consciência não pode ser compreendida unicamente como uma dimensão psicológica e nem como uma dimensão puramente social. Ela se manifesta a partir de ambas: a consciência abrange o psicológico e o social. Neste sentido, a consciência humana tem a capacidade de prever e planejar as próprias atividades, de refletir sobre elas no decorrer da ação, e de aferir os resultados, seja com os planos, seja com princípios e ideais teóricos ou práticos.

Para Cotrim (2002, p. 42), “[...] a consciência pode centrar-se sobre o próprio sujeito, sondando a interioridade, ou sobre os objetos exteriores, sondando a alteridade (do latim alter, ‘outro’)”. Podemos, então, identificar duas dimensões complementares no processo de conscientização do ser humano: a consciência de si e a consciência do outro. No entendimento de Cotrim, a consciência de si é a “concentração da consciência nos estados interiores do sujeito, exige reflexão”, enquanto que a consciência do outro é “a concentração da consciência nos objetos exteriores, exige atenção”. A reflexão e a atenção se manifestam pelo processo de inventar, raciocinar, apresentar, inovar, levado pela consciência de si ou pelo processo de absorver, reformular, ouvir, rever e reconstruir, levado pela consciência do outro.

A junção destas duas atitudes, consciência de si e consciência do outro, dá origem à consciência crítica, que é uma das funções primordiais da filosofia na sociedade atual. Assim, a filosofia desenvolve nas pessoas a capacidade de julgar os fatos e distinguir aqueles que melhor correspondem à sua consciência.

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26 UNIDADE 1TÓPICO 3

FILOSOFIA

Em suma, quando o homem tem consciência de si e do outro, ele tem uma consciência filosófica, atribuindo novos significados às coisas.

DICAS!

REMISSÃO A LEITURAS

Para aprofundar os seus conhecimentos ou adquirir novas informações sobre a consciência, leia o livro O Crepúsculo dos Ídolos, de Nietzsche, citado nas referências.Neste livro Friedrich Nietzsche (2006, p. 15-16), que viveu entre os anos 1844 a 1900, destaca quatro casos de consciência:

•Tu corres à frente? Tu fazes isto como pastor? Ou como exceção? Um terceiro caso seria o desertor... Primeiro caso de consciência.

•Tu és autêntico? Ou apenas um ator? Um representante? Ou o próprio representado? Por fim, talvez tu não passes da imitação de um ator... Segundo caso de consciência.

• Tu és alguém que observa? Ou que coloca as mãos à obra? - Ou que desvia o olhar e se põe de lado?... Terceiro caso de consciência.

•Tu queres acompanhar? Ou ir à frente? Ou ir por sua própria conta?... É preciso saber o que se quer. Quarto caso de consciência.

Até agora vimos o que é consciência e como ela pode ser compreendida pelo pensamento filosófico. A seguir, apresentamos um fragmento do texto Com Nietzsche, a Consciência da Fragilidade, escrito pelo professor de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro (2000, p. 9), no qual apresenta a ideia de Nietzsche sobre a questão da consciência e faz uma relação com a realidade atual. Após a leitura deste texto, responda às autoatividades propostas.

COM NIETZSCHE, A CONSCIÊNCIA DA FRAGILIDADEPara ele, o essencial é assumir por completo a insegurança de nossa condição

Que papel teve Nietzsche na cultura, estas décadas? [...] Nosso tempo é de crítica sistemática a tudo o que passava por aceito. As verdades antes acolhidas são postas em xeque e não porque sejam substituídas por novas verdades. É contestada a própria ideia de verdade, de valor.

Durante séculos, deu-se o valor à consistência do ser. Isto é: valores como o bem, o belo, a verdade, que justamente por se chamarem “valores” só funcionam enquanto valem para alguém (enquanto são afirmados por seres humanos), foram apresentados como se fossem seres, independentes de nós, ancorados em Deus ou na natureza. Ora, o que Nietzsche

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27UNIDADE 1 TÓPICO 3

FILOSOFIA

[...] mostra é que por trás dos valores há uma vontade humana, um projeto, muitas vezes inconfesso.

[...]

Assumir a filosofia nietzschiana, hoje, não é só uma escolha intelectual. Significa uma opção de vida. Mas o que pode aprender quem lê Nietzsche com atenção é a consciência de sua, de nossa fragilidade. E é mais difícil, embora mais rico, viver sabendo-se frágil do que quando se acredita na própria superioridade.

Renato Janine Ribeiro é professor deÉtica e Filosofia Política na USP

1 A consciência não pode ser compreendida unicamente como uma dimensão puramente psicológica e nem como uma dimensão puramente sociológica. Como a Filosofia explica esta situação?

2 Que tipo de consciência predomina na filosofia nietzschiana? Explique-a.

3 A CONSCIÊNCIA RACIONAL

Muitos são os sentidos dados à palavra razão em nosso cotidiano. Por exemplo, afirmamos que o mundo é racional, que o homem é um ser racional, que os meios que se utilizam são racionais. Quer significar que o mundo pode ser compreendido, que o homem é um ser inteligente e que os caminhos utilizados são válidos e eficazes, transmitindo uma certa segurança. Também a expressão racional aparece em afirmações mais particulares, como, por exemplo: ele não tem razão, eu estou com a razão, ele perdeu a razão. Quer significar que ele não está com a verdade, que eu estou com a verdade ou que ele agiu opondo-se à verdade.

Estes são alguns dos sentidos dados à racionalidade. A palavra racional vem de razão, que tem sua origem no latim ratio e no grego logos. Tanto a expressão ratio quanto a expressão logos significam juntar, calcular, separar, contar, reunir, medir. Querem expressar

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28 UNIDADE 1TÓPICO 3

FILOSOFIA

que conhecimento segue um método, uma ordem, que pode ser demonstrado, calculado e medido com certa clareza.

O que significa ter uma consciência racional? Segundo Chauí (1997, p. 59), significa ter “[...] a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente”, ou seja, expressar como as coisas se apresentam seguindo uma forma de pensar e de dizer as coisas como elas são. Isto não significa dizer que haja apenas uma forma de pensar racionalmente. Podemos identificar, de maneira mais abrangente, duas formas diferentes de manifestação da razão: a racionalidade científica e a racionalidade filosófica.

A racionalidade científica tem como base a universalidade e a demonstração dos fatos que se caracterizam por desenvolver métodos experimentais que partem da: observação dos fenômenos na realidade, formulação de hipóteses, experimentos ou aplicação das hipóteses e a formulação de uma lei ou teoria. Já a racionalidade filosófica tem como base a reflexão e a análise dos fatos na sua universalidade, sem se ater a uma aplicação prática, mas procura dar uma resposta às grandes questões que são colocadas ao ser humano.

NOTA! �Racionalidade: é a capacidade intelectual de expressar um conhecimento seguindo um método, uma ordem, que pode ser demonstrado, calculado e medido com uma certa clareza. Ciência: é uma forma de conhecimento que procura compreender como são as coisas através de enunciados, mais ou menos gerais e sistematicamente articulados entre si.

Ciência e filosofia seguem a razão. “Enquanto a ciência procura, principalmente, compreender o que são as coisas, ou seja, fornecer a chave de compreensão da realidade, a filosofia, através da razão crítica, é capaz de ‘estranhar’ essa realidade cotidianamente e, assim, proceder à análise em busca de seus fundamentos, percebendo o que ela é e propondo o que ela deveria ser”. (COTRIM, 2002, p. 46).

4 A CONSCIÊNCIA CRíTICA

A consciência crítica não é mais um tipo de consciência que podemos identificar em nossa sociedade, mas uma atitude perante a realidade social que se apresenta. Primeiramente, uma das características principais da atitude crítica é olhar o mundo de forma negativa, ou seja, dizer um não aos fatos, aos preconceitos, aos valores, ao que todo mundo diz. Uma segunda característica da consciência crítica é positiva, procura questionar, interrogar e

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29UNIDADE 1 TÓPICO 3

FILOSOFIA

buscar saber o porquê e o para quê das coisas. “Estas duas ações, a negativa e a positiva, constituem para o pensamento filosófico o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico”. (CHAUÍ, 1997, p. 12).

A consciência crítica nasce do confronto dos diferentes pontos de vista que se pode ter das coisas ou da nossa realidade. Consequentemente, a atitude crítica não se forma de uma hora para outra, ela depende de um processo histórico e de informações para que se desenvolva. Além disso, a consciência crítica se caracteriza por identificar as segundas intenções ou as verdadeiras intenções que se tem com as ações.

Neste contexto, a formação de uma consciência crítica passa diretamente pela filosofia, que se caracteriza por desenvolver nas pessoas um pensamento próprio e crítico sobre a realidade do cotidiano, de questionar os dogmas ou as doutrinas religiosas que se impõem, de superar a explicação mitológica da realidade, de discutir a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências.

DICAS!

Como atividade complementar deste tópico, sugerimos que você assista ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, que apresenta o processo de formação da consciência nas suas diferentes circunstâncias.

Sociedade dos Poetas Mortos leva as pessoas a pensar por si sós. Este é o objetivo do professor de literatura que apresenta uma nova metodologia de ensino dentro de um colégio conservador.

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Direção de Peter Weir. EUA: Touchstone Pictures: 1989, 1 DVD (129 min), color. Legendado.

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30 UNIDADE 1TÓPICO 3

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

● As pessoas são seres históricos capazes de modificar o seu espaço e não agirem apenas como máquinas programadas para executar uma determinada atividade.

● A Psicologia procura entender o ser humano a partir de sua individualidade (consciência de si), enquanto que a Sociologia procura entender o ser humano a partir do seu meio (consciência do outro). A junção destas duas atitudes dá origem à consciência crítica.

● A consciência mítica caracteriza-se pela falta de criticidade e o indivíduo não se reconhece

em si, mas como parte do grupo.

● A consciência religiosa tem como base a fé e a aceitação de uma doutrina.

● A consciência racional caracteriza-se pela capacidade intelectual de pensar que se manifesta na racionalidade científica e filosófica.

● Nietzsche criticou todo tipo de verdade e afirmou que devemos assumir por completo a insegurança de nossa condição.

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31UNIDADE 1 TÓPICO 3

FILOSOFIA

1 Quais os aspectos que caracterizam a consciência crítica?

2 Leia o texto que segue:

Em Os Condenados da Terra, Fanon escreve: “é o colonizador quem tem feito e continua a fazer o colonizado. O colonizador tira sua verdade, isto é, seus bens, do sistema colonial” (24). Este antagonismo é acentuado pelo racismo contra o colonizado, tido como preguiçoso, impulsivo e selvagem. O colonizado introjeta a dominação vivendo um complexo em que passa a negar-se como negro a fim de se pretender um “negro-branco”. Escreve Fanon:

“Todo povo colonizado, isto é, todo povo no seio do qual se instala um complexo de inferioridade por ter sido destruída a sua identidade cultural, fica em oposição à linguagem da nação civilizadora, ou seja, da cultura metropolitana. Quanto mais o colonizado se amoldar aos valores culturais da metrópole, tanto mais se afastará da sua própria cultura. Ele será tanto mais branco quanto mais tiver rejeitado sua negrura... [...] O professor Westermann, em The Africain Today, escreve que existe um sentimento de inferioridade dos negros - que experimentam, sobretudo, os evoluídos -, e que, sem cessar, eles se esforçam por dominar. A maneira empregada para tanto é, acrescenta, frequentemente ingênua: ‘Vestir os trajes europeus ou as roupas da última moda, adotar as coisas de que os europeus fazem uso, suas formas exteriores de civilidade, florir a linguagem com expressões europeias, usar frases pomposas em línguas europeias, falando ou escrevendo, tudo isso é feito para tentar atingir um sentimento de igualdade com o europeu e seu modo de existência’”.

FONtE: MANCE, Euclides André. As filosofias africanas e a temática de libertação. Disponível em: <http://www.solidarius.com.br/mance/biblioteca/africa.htm>. Acesso em: 25 maio 2010.

A partir dos estudos deste tópico e da leitura deste fragmento “Os Condenados da Terra”, que consciência prevalece entre a cultura do colonizado, principalmente entre os negros?

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32 UNIDADE 1TÓPICO 3

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

O OLHAR DA FILOSOFIA SOBRE ASROTINAS ORGANIZACIONAIS

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 4

UNIDADE 1

NOTA! �

Como vimos no primeiro tópico, a Filosofia é um conhecimento milenar e sua importância não se reduz a uma condição funcionalista. As informações que os filósofos organizaram no decorrer da história dizem respeito ao contexto social, político, econômico, religioso e moral do tempo em que viveram. O que caracteriza cada pensador são as questões que se fizeram ao olhar para o seu mundo com alguma estranheza. Neste sentido a Filosofia ajuda a indagar sobre o contexto das organizações de nosso tempo.

Filosofar é exercitar a estranheza e exercitar a estranheza é ver o mundo além de suas rotinas. O olhar comum, corriqueiro e rotineiro, pouco identifica as contradições ou necessidades que estão à sua volta. É um olhar treinado para ver e fazer conforme o protocolo, é adestrado para repetir e pouco pensar. O que fazer para descobrir e ter um olhar crítico e criativo? A resposta é: filosofar. E o que é filosofar? Filosofar é pensar. E se nos perguntarmos: de que adianta a filosofia nas diferentes organizações? A esta pergunta teremos o curso para demonstrar, mas de antemão poderemos verificar que é pela filosofia que ampliamos nossa visão de mundo e de ser humano.

Vários homens de negócios já diziam, na década de 1930, que os executivos de alto nível são pagos para serem filósofos, e que esses homens procuram descobrir a razão por que as instituições sobrevivem e prosperam, ou definham e declinam. Esses mesmos homens já me disseram inúmeras vezes, durante meus estudos, que o filósofo da instituição é o homem mais prático e também o mais necessário da organização. (MARSALL, 1967, p. 17).

É conhecido o adágio que diz: “diz-me com quem andas e eu direi quem tu és”. Parafraseando o ditado poderíamos também dizer: “diga-me qual é a sua visão de homem

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34 UNIDADE 1TÓPICO 4

FILOSOFIA

e de mundo que eu direi como você age”. Qual foi a visão de homem e de mundo que Hitler teve e que ação tomou? Que visão de homem e de mundo Jesus cultivou e que ação tomou? Qual a visão de Bush e que ação tomou? Qual a sua visão de homem e de mundo e quais são suas ações?

Da mesma forma, cada organização alimenta uma visão sobre o mundo, sobre a clientela, sobre seus produtos, sobre seus colaboradores, sobre a vida e o ecossistema. Ligado a esta visão ordena-se uma filosofia. É este o desafio deste tópico: pensar em ordem concreta sobre a Filosofia nas Organizações.

NOTA! �Para você aproveitar melhor o texto, vou lhe ajudar antecipando algumas palavras:Funcionalismo - termo empregado para definir ações e ideias que supervalorizam a função. Uma ideia ou algo só é verdadeiro e válido se funciona.Utilitarismo - visão pragmática sobre as coisas; considera-se válido o que é útil.Missão - enunciado que explicita a filosofia de uma empresa e define o que ela faz para realizar sua visão e assim chegar a uma meta futura.Visão - enunciado que faz parte da filosofia da empresa e explicita a meta de longo prazo. É o lugar onde se pretende estar, como referência para as ações cotidianas.Organização - entidade que serve à realização de ações de interesse social, político, administrativo etc.; instituição, órgão, organismo...

2 FILOSOFIA ORGANIZATIVA

A Filosofia se aplica na investigação de diferentes questionamentos, seja nas áreas da ciência, da política, da arte, da estética, da ética, do direito, da matemática, da administração etc. Nesta última a filosofia tem uma relação direta com a cultura da empresa. “A cultura de uma empresa implica seus padrões de comportamento, as ideias centrais transmitidas por suas ações, e o conjunto de seus valores primordiais”. (MATTAR NETO, 2004, p. 229). As preferências, escolhas e ações da empresa tornam-se referência de sua cultura e, portanto, das ideias que cultiva e dos valores que prima.

Robert Hayes e Steven Wheelwright fazem a seguinte referência ao que entendem por filosofia de uma empresa:

Definimos a filosofia de uma empresa como o conjunto de princípios e forças diretivos, e de atitudes que ajudam a comunicar as metas, os planos e as regras para todos os

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35UNIDADE 1 TÓPICO 4

FILOSOFIA

empregados, e que são reforçados através do comportamento, consciente e inconsciente, em todos os níveis da organização. (apud MATTAR NETO, 1997, p. 228).

Se o valor maior de uma empresa é a produção e o lucro, que espaço ocupa a pessoa que lá trabalha? Se em primeiro plano está a oferta de um produto de baixo custo, como fica a garantia da qualidade? Se o cliente é prioridade, como são lembradas e tratadas as pessoas que colaboram cotidianamente na empresa diante de um cliente oportunista? A resposta transparente a cada pergunta dará referências para pensar como a empresa se organiza no conjunto de seus princípios e forças diretivas, que metas possui, que regras estabelece aos funcionários e que relações se estabelecem no espaço da empresa.

Contudo, as organizações nem sempre explicitam sua filosofia, ela só é percebida através das atitudes que toma. Há também empresas que anunciam uma filosofia arrojada, humana, democrática, ecológica e, em contradição, as atitudes denunciam valores de lucratividade extrema, desrespeito às pessoas e ao planeta. Desta forma, podemos identificar que a filosofia de uma empresa passa a ser verdadeira e eficiente quando aparece na soma de uma ideia norteadora e uma prática inspiradora.

Para Masayuki Nakagawa (1993, p. 24-25):

embora seja diferente de uma empresa para outra, e até mesmo na própria empresa, em função do tempo ou da evolução dos ideais, crenças e valores de seus principais executivos ou proprietários, sua filosofia deveria ser explicitada claramente, em termos de missão e finalidades ou propósitos básicos.

Para melhor clareza desta ideia estudaremos os conceitos de visão e missão das empresas.

3 VISÃO E MISSÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Os conceitos de visão e missão variam de acordo com a concepção de cada autor. Assim, procuraremos assentar um conceito de referência que permita uma reflexão fundamentada sobre o tema. Alguns autores associam os dois termos e entendem que ambos dizem a mesma coisa. Outros autores diferenciam visão de missão, por verificarem funções distintas a cada meta.

3.1 VISÃO

A visão está relacionada com a forma de entendimento, com um ponto de vista, com a meta de longo prazo. A visão é a imagem que uma organização faz e projeta ter em seu futuro. Para Karl Albrecht (apud MATTAR NETO, 1997, p. 229):

Deve ser algo que você possa descrever e que as pessoas possam imaginar. É um

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36 UNIDADE 1TÓPICO 4

FILOSOFIA

A visão de uma organização pode ser apresentada na forma de um enunciado que deve ser claro, conciso, objetivo, simples, acessível a todos, fácil de memorizar e que possa ser descrito e que todas as pessoas envolvidas possam imaginar. A melhor visão é aquela que envolve ou toca os funcionários, clientes e sociedade e que se torna parte do imaginário coletivo, tanto na instância local quanto global, dependendo, é claro, de cada organização.

Toda visão remete-se ao futuro da empresa e, segundo João Augusto Mattar Neto (1997, p. 230), algumas perguntas são fundamentais na elaboração da visão:

• O que a empresa deseja tornar-se?

• O que a empresa quer que as pessoas falem como resultado do trabalho?

• De que modo a visão representa os interesses dos clientes e os valores que a empresa deve preservar?

• Qual o papel de cada pessoa na visão do futuro?

• Nos exemplos que seguem poderemos verificar como cada empresa enfatiza e caracteriza sua visão de empreendimento:

Visão da Ericsson:

Acreditamos em um mundo “todo comunicado”. Voz, dados, imagens e vídeo convenientemente integrados a qualquer hora e lugar do mundo, aumentando a qualidade de vida, produtividade e tornando possível um mundo que aproveite melhor seus recursos. Somos uma das grandes forças progressivas, trabalhando em todo o mundo, direcionados para que esta comunicação avançada aconteça. Somos vistos como modelo de uma rede organizada, trabalhando com inovadores e empreendedores em times globais. (ERICSSON, 2008).

No enunciado que explicita a visão da Ericsson verificamos que se enfatiza o futuro tecnológico, como empresa multinacional que se pretende modelo de uma rede organizada, trabalhando com inovadores e empreendedores em times globais.

Visão da Goodyear

Ser a empresa referência no âmbito da responsabilidade social. (GOODYEAR, 2007).

quadro mental da empresa, funcionando num ambiente, desempenhando de acordo com algum critério de excelência e sendo apreciado pelas contribuições que oferece.

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FILOSOFIA

Verifique que o enunciado faz uma referência genérica à responsabilidade social e pouco clarifica sobre como seu negócio pretende manter o compromisso social. Sabemos que muitas empresas fazem uso da responsabilidade social como uma forma oportunista de fazer marketing. Será este o caso da Goodyear?

Visão da Bob’s

Ser reconhecido como a melhor escolha entre os restaurantes de fast food no Brasil, com os produtos mais gostosos e com um serviço diferenciado. (BOB’S, 2007).

Explicita em que quer ser reconhecido e qual a forma como quer que se lembre de seus produtos e serviços. Nesta visão há um propósito claro da necessidade de envolvimento dos fornecedores e funcionários.

Vale lembrar o provérbio que diz: “Não há ventos favoráveis para quem não sabe onde quer chegar”. A visão é o lugar onde se quer estar.

3.2 MISSÃO

Enquanto a visão faz referência ao futuro, a missão aponta para o presente. Na visão a empresa projeta a imagem de seu futuro, é um objetivo de longo prazo, mas que só será possível se a missão estiver orientada para o mesmo alvo. É uma relação direta entre o querer e o fazer. A visão manifesta o querer, enquanto que na missão concretiza-se o fazer.

Adrew Campbell (apud MATTAR NETO, 1997, p. 232) propõe uma definição de missão que englobe quatro elementos:

• Finalidade: os motivos de existência da empresa

• Estratégia: a diferença competitiva

• Valores: em que a empresa acredita

• Padrões e comportamentos: competência distinta.

A missão indica o compromisso e a atitude cotidiana no mundo dos negócios. Mais do que saber onde se quer chegar (visão), é preciso saber como e o que fazer para chegar lá (missão). Ao que ampliamos o provérbio supracitado: “Não há vento suficientemente favorável para quem não sabe velejar”.

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FILOSOFIA

Pode constar da missão a atitude para com fornecedores, clientes, funcionários, intermediários, sociedade, que a empresa pretende ter.

Para Lee Krajewski e Larry Rizman (apud MATTAR NETO, 1997, p. 233), determinar a missão de uma organização requer responder às seguintes questões:

• Em que negócio estamos? Onde devemos estar daqui a 10 anos?

• Quem são nossos clientes?

• Quais são nossos conceitos e crenças básicos?

• Quais são os objetivos-chave de performance, como crescimento ou lucro, pelos quais nós medimos nosso sucesso?

Na missão define-se qual o negócio da empresa, a quem deve dirigir seu produto, que necessidades irá suprir, as crenças fundamentais e seus critérios para avaliar o sucesso de seus procedimentos. A missão é o caminho e a caminhada, ao que logo se lembra que “o caminho se faz caminhando”. Pela missão orientamos cada passo na direção da visão.

Vejamos alguns exemplos que nos permitam fazer uma verificação mais concreta dos enunciados que pretendem dar conta da missão de diferentes empresas:

Missão da Ericsson:

Entender as necessidades e oportunidades de nossos clientes e oferecer soluções de comunicação mais rápidas e melhores do que qualquer outro competidor. Conduzir os negócios de forma rentável para sustentar nosso crescimento contínuo e gerar lucro para os nossos acionistas. Buscar a satisfação dos nossos colaboradores e contribuir para o bem-estar da comunidade. (ERICSSON, 2008).

A missão evidencia sobre a qualidade dos serviços, crescimento, lucratividade e satisfação dos colaboradores. Ao falar em colaboradores pretende-se, provavelmente, dar conta do envolvimento dos fornecedores, funcionários e clientes, mas em singular sublinha-se a necessidade de gerar lucro para os acionistas. Talvez uma forma transparente de dizer como as coisas funcionam no mundo dos negócios. Seria sinônimo dizer: “vamos trabalhar para engordar os tubarões”?

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39UNIDADE 1 TÓPICO 4

FILOSOFIA

Nossa missão é reunir esforços e trabalhar como um time, visando atingir os objetivos propostos, de forma ética, proporcionando um ambiente de trabalho saudável, superando as expectativas da empresa, funcionários e comunidade.

Veja como a Goodyear acentua a importância do trabalho quando fala em “trabalhar como um time”, trabalhar “de forma ética” e “ambiente de trabalho saudável”. O enunciado provoca a participação dos funcionários apresentando um grande respeito aos mesmos. Utopia ou realidade?

Missão da Bob’s:

Satisfazer nossos clientes, com os produtos mais gostosos do mercado, com qualidade, em uma atmosfera agradável, sempre servidos por uma equipe motivada, atendendo às expectativas dos nossos investidores. (BOB’S, 2007).

Clientes, funcionários e investidores foram contemplados nesta missão, bem como a qualidade do produto e do ambiente.

ESTUDO DE CASO

Primeiro caso: visão e missão do Instituto Souza Cruz

Visão

Uma organização e duas transformações

O Instituto Souza Cruz quer ser uma organização conhecida e reconhecida por sua ação social transformadora levada à frente pela educação:

1. No âmbito da realidade social brasileira, pela promoção e desenvolvimento de programas e ações que façam diferença, gerem impacto e agreguem valor à sociedade.

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40 UNIDADE 1TÓPICO 4

FILOSOFIA

2. No âmbito interno de sua mantenedora, pelo empenho permanente na ampliação dos compromissos da Souza Cruz no campo da responsabilidade social corporativa.

Missão institucional

Contribuir significativamente para o desenvolvimento sustentável do Brasil, atuando nos campos da Educação para Valores, Educação para o Meio Ambiente, Educação para o Empreendedorismo e Educação para o turismo, tendo como marco referencial de sua ação a experiência acumulada da Souza Cruz no campo da responsabilidade social corporativa e o Paradigma do Desenvolvimento Humano.

FONTE: Disponível em: <http://www.institutosouzacruz.org.br>. Acesso em: 16 jul. 2005.

Segundo caso: visão e missão da Avon

Visão de Recursos Humanos

Avon quer ser a empresa escolhida por seus funcionários, clientes, revendedoras, fornecedores e acionistas.

Missão de Recursos Humanos

A nossa missão está baseada em três pilares estratégicos:

ATRAIR - Identificar e recrutar tanto internamente como no mercado, os profissionais mais capacitados para as diversas funções existentes na empresa.

DESENVOLVER - Oferecer programas de treinamento e desenvolvimento para que as pessoas atinjam seus objetivos pessoais, bem como os objetivos de negócio da empresa.

RETER - Através dos nossos processos de:

* Remuneração e Benefícios* Conduta e Ética nas Relações de Trabalho* Qualidade de Vida* Responsabilidade Social

FONTE: Disponível em: <http://pr.avon.com.br/PRSuite/info/jobs.jsp>. Acesso em: 16 jul. 2005.

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41UNIDADE 1 TÓPICO 4

FILOSOFIA

DICAS!

CATEGORIAS PARA ANÁLISE

A partir da visão e da missão do Instituto Souza Cruz e da Avon, aplique as seguintes categorias de análise:

Quanto à visão da empresa, ela:

• Meta - estabelece um ponto de referência para seu futuro?

• Simplicidade - a visão permite imaginar o futuro?

• Participação - define o papel de cada pessoa na visão do futuro?

Quanto à missão da empresa, ela contempla os critérios de:

• Negócio - define o negócio de forma clara sem cair na estreita descrição de seu produto?

• Simplicidade - a missão é simples, concisa, fácil de lembrar e é motivadora?

• Legitimidade - corresponde aos valores da empresa e à visão que possui?

Para aprofundar-se, use o site de procura <www.google.com.br> e pesquise mais sobre a visão e missão de outras empresas.

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42 UNIDADE 1TÓPICO 4

FILOSOFIA

Neste tópico você pôde verificar que:

• A Filosofia também é importante ao empreendedor que, ao administrar, exercita sua capacidade de ver o mundo além de suas rotinas.

• Visão e missão das empresas são conceitos da Filosofia administrativa.

• Visão – ponto de vista, meta de longo prazo.

• Missão – concretiza-se no fazer que garante a realização do idealizado na visão.

RESUMO DO TÓPICO 4

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43UNIDADE 1 TÓPICO 4

FILOSOFIA

Que tal fazer uma simulação? Imagine que você começou um novo negócio e que precisa definir qual a Visão e qual a Missão da sua empresa. Escolha uma área de sua afinidade e procure pensar a filosofia da sua empresa a partir dos critérios apresentados neste tópico.

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44 UNIDADE 1TÓPICO 4

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

FILOSOFIA GREGA E AS ORGANIZAÇÕES

1 INTRODUÇÃO

2 SÓCRATES: O DIÁLOGO COMO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

TÓPICO 5

UNIDADE 1

Uma das principais finalidades da Filosofia no Ensino Superior é a de ampliar os conhecimentos das diferentes disciplinas e apontar semelhanças e diferenças entre elas. Além de ampliar o conhecimento sobre todas as diferentes áreas de estudos, a Filosofia é a ciência-mãe das outras disciplinas, ou seja, foi a partir da filosofia que surgiu a história, geografia, biologia, matemática, contabilidade, administração, direito e outras. Diante disto, a filosofia é a base e o fundamento dos vários campos do conhecimento, e serve como crítica aos saberes isolados e dogmatizados.

O estudo da filosofia, juntamente com a influência dos inúmeros filósofos, ajuda-nos a compreender e a questionar os modelos e os padrões que são utilizados nas organizações, bem como formular outras visões que possam ser condizentes com o seu ambiente.

Este tópico tem como finalidade apresentar as principais ideias dos filósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles e relacioná-las com a área das organizações. Fazer filosofia é estar sempre a caminho e não acreditar que os saberes estejam prontos e acabados, cabendo-nos apenas ter o seu domínio, mas é ir à busca do saber e não de sua posse.

Apesar de não deixar nada por escrito, Sócrates (469-399 a.C.) é considerado uma das figuras mais importantes para a história do pensamento ocidental. Suas ideias estão presentes nas diferentes situações de nossa vida. Neste sentido, apresentamos duas de suas ideias que são importantíssimas para o nosso trabalho, que são: o autoconhecimento e o método socrático de investigação.

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46 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

2.1 O AUTOCONHECIMENTO

2.2 O MÉTODO SOCRÁTICO DE INVESTIGAÇÃO

Contrariando as ideias dos sofistas, Sócrates desenvolveu uma filosofia baseada no autoconhecimento, que consistia na investigação e no questionamento de sua própria vida. “Conhece-te a ti mesmo” é uma de suas expressões que melhor representa o seu pensamento e está diretamente relacionada com os seus ensinamentos. Segundo Sócrates, ao invés de questionar o mundo, deveríamos questionar as nossas atitudes, adotando a expressão “Conhece-te a ti mesmo”.

NOTA! �Sofistas eram filósofos que defendiam a arte da argumentação como forma de comprovar a verdade dos fatos. Segundo Chauí (1997, p. 37), “os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária, não-A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão”.

FONTE: Disponível em: <http://www.ccmn.ufrj.br/extensao/material/SEE_portugues_EM_ v2_1_168.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008.

Sócrates desenvolve um método prático de investigação baseado no diálogo, na conversa, na dialética, que tem por finalidade desenvolver nas pessoas um conhecimento mais seguro sobre as coisas e não apenas das aparências, como defendiam os sofistas. Este método se dá a partir de dois pontos principais: a ironia e a maiêutica.

FIGURA 6 – MAFALDA

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47UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

2.2.1 A ironia

2.2.2 A maiêutica

A primeira etapa do método socrático consistia em reconhecer a sua própria ignorância. Ou seja, ter consciência de que não sabemos tudo, reconhecer os limites e as contradições de nossos pensamentos através da interrogação e do questionamento. Do grego, ironia, significa interrogação. De fato, Sócrates interrogava as pessoas sobre aquilo que elas pensavam saber.

Somente quando reconhecemos a ignorância é que estamos preparados para reconstruir as nossas ideias. Neste sentido, Sócrates propunha a maiêutica, que, em grego, significa “parto das ideias”. A finalidade da maiêutica é levar as pessoas a desenvolverem as suas próprias ideias. A origem da expressão maiêutica está relacionada à sua mãe, que, sendo parteira, ajudava as mulheres a darem à luz a seus filhos. Neste sentido, Sócrates coloca-se como parteiro, que tem a finalidade de dar à luz a novas ideias aos seus discípulos através do diálogo e do questionamento. (COTRIM, 2002).

Portanto, em vez de seguir a prática habitual de ensino em que o aluno pergunta e o professor responde, Sócrates fazia o contrário; era ele quem lhe perguntava. Isto os levava ao questionamento e a terem suas próprias ideias.

Assim como Sócrates, que utilizou a ironia e a maiêutica como métodos para desmascarar os sofistas e os que se diziam possuidores da verdade, acreditamos que este mesmo método possa ser utilizado nas organizações para questionar o dogmatismo das ciências, a autoridade dos que se dizem especialistas em suas áreas de conhecimento e que levam em consideração apenas os aspectos tecnológicos, excluindo o lado humano e ético. Sócrates, em seu tempo, foi capaz de “trazer a racionalidade às questões humanas, rompendo definitivamente com explicações mitológicas e/ou metafísicas”. (COLTRO, 1999, p. 67).

CONVERSANDO!

VAMOS CONVERSAR?

Se você tiver qualquer dificuldade ou dúvida com relação a este ou outros tópicos, entre em contato nos dias agendados ou envie sua mensagem por e-mail.

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48 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

Leia atentamente o texto que segue:

AS TRÊS PENEIRAS

“Augustus procurou Sócrates e disse-lhe”:

- Sócrates, preciso contar-lhe sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de...

Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:

- Espere um pouco, Augustus. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?

- Peneiras? Que peneiras?

- Sim. A primeira, Augustus, é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?

- Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!

- Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?

- Não, Sócrates! Absolutamente, não!

- Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira. Vamos agora para a terceira peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?

- Não, Sócrates... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar.

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49UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

E Sócrates conclui:

- Se passar pelas peneiras, conte! tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser a estação de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras, porque:

“Pessoas sábias falam sobre ideias; Pessoas comuns falam sobre coisas; Pessoas medíocres falam sobre pessoas”. (Autor desconhecido)

FONTE: Disponível em: <http://juniormadrigal.multiply.com/journal/item/3>. Acesso em: 27 maio 2007.

Este texto é um exemplo de desenvolvimento da maiêutica socrática. Seguindo o exemplo do texto, relacione cada um dos conceitos – Verdade, Bondade e Necessidade – com sua vida ou organização em que você trabalha ou estuda.

3 PLATÃO E A ORGANIZAÇÃO

3.1 A TEORIA DAS IDEIAS

Um dos grandes filósofos gregos que tem contribuído com a compreensão da realidade foi Platão. Considerado um dos grandes expoentes do conhecimento, Platão é lembrado pelas suas ideias e por seus feitos por mais de dois mil e trezentos anos.

O objetivo desta seção é apresentar a teoria e as ideias que marcaram seu pensamento e relacioná-las com a organização. Portanto, vamos explorar dois pontos que consideramos relevantes: a teoria dos dois mundos e o mito da caverna.

Platão desenvolveu uma teoria que procura explicar nossa realidade. Esta teoria ficou conhecida como a teoria dos dois mundos. Ou seja, o mundo das ideias e este mundo.

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50 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

O mundo das ideias é o mundo ideal, onde as coisas são perfeitas, eternas, imutáveis, verdadeiras, únicas e que só existem no mundo das ideias. O segundo mundo pensado por Platão é este mundo, onde as coisas são imperfeitas, mortais, mutáveis, marcadas pelas falsas impressões e por sua multiplicidade. Este mundo não passa de uma cópia do mundo das ideias.

Para facilitar a sua compreensão sobre a teoria dos dois mundos de Platão, apresentamos o seguinte esquema.

Esta representação quer explicar a forma como as pessoas e as coisas são. Imaginamos uma pessoa perfeita (existe apenas no mundo das ideias), mas encontramos, neste mundo, uma multiplicidade de pessoas que não passam de uma cópia do verdadeiro homem.

ATENÇÃO!

Provavelmente você já ouviu a expressão “Amor Platônico”. Filosoficamente, esta expressão quer significar que “há, na doutrina platônica sobre a alma, um outro elemento importante: Eros, o amor. Platão ensinava que Eros é uma força que instiga a alma para atingir o bem; ele não cessa de mover a alma enquanto essa não for satisfeita. O bem almejado é determinado pela parte da alma que prevalecer sobre as outras. Se fosse a sensual, por exemplo, a alma não buscaria um bem verdadeiro, pois procuraria a satisfação dos desejos que Platão julgava os mais baixos, como o apetite e a ganância. Segundo o filósofo, o melhor é que a alma seja conduzida por sua parte racional e que utilize a energia inesgotável do amor para se dirigir ao bem verdadeiro – que compreende a justiça, a honra, a felicidade; em suma, as virtudes supremas”. (CHALITA, 2005, p. 56). Portanto, o amor platônico apresenta-se como perfeito, verdadeiro e eterno.

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51UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

3.2 O MITO DA CAVERNA

Para melhor elucidar a relação entre o mundo das ideias e este mundo, Platão utiliza o mito como uma das formas de explicação de seu pensamento. Acompanhe, a seguir, um dos mitos platônicos mais conhecidos, o “Mito da Caverna”. Este mito é extraído e adaptado do livro “A República”, livro 7 de Platão (1996, p. 317-321).

Imagine um grupo de pessoas vivendo como prisioneiros dentro de uma caverna, desde a infância, acorrentados pelos pés e pelo pescoço. Deste modo é impossível que movam suas cabeças para os lados e para trás, eles podem direcionar o olhar somente para frente. A única imagem de luz é a que vem de uma fogueira que fica do lado de fora da caverna e é projetada atrás dos prisioneiros. Entre a fogueira e os prisioneiros há um longo caminho, no qual se construiu um pequeno muro.

Imagine também que, através desse muro, existam pessoas que transportam objetos sobre a cabeça, tais como estatuetas de homens e animais feitas de pedra ou de madeira. Neste caso, os prisioneiros seriam capazes de ver apenas as sombras dos objetos projetados na parede, em frente às suas cabeças e acreditariam que o mundo fosse baseado somente naquelas imagens.

Agora pense o que aconteceria se um desses prisioneiros fosse libertado das correntes e obrigado a sair da caverna. No primeiro impacto, lhe doeriam os olhos em virtude da claridade e, provavelmente, ele cobriria os olhos com as mãos, impedindo assim que pudesse ver o mundo ao seu redor. Ao retirar as mãos dos olhos ele conseguiria ver melhor as sombras, depois as imagens de humanos e da natureza refletidas na água e finalmente conseguiria olhar para a imagem concreta dos seres que habitam o mundo. Mais tarde ele conseguiria olhar o que há no céu durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da lua com mais facilidade do que se fosse olhar o brilho do sol durante o dia.

Após toda essa experiência do prisioneiro liberto, pense o que aconteceria se ele voltasse junto aos outros prisioneiros que ficaram na caverna escura. Se ele sentasse ao lado deles, provavelmente não conseguiria enxergar como antes e os demais prisioneiros ririam dele. Na tentativa de convencer os demais de que o mundo real estaria fora da caverna, lhes diriam que a ida dele ao mundo lá fora lhe estragara a visão, por isso não era válida a tentativa de sair de lá.

Nesta narrativa mitológica, o mundo das ideias corresponde o lado externo da caverna, enquanto que o interior da caverna seriam as impressões e as aparências que temos deste mundo. Segundo Platão, a verdadeira realidade está no mundo das ideias e não neste

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52 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

mundo.Relacionando com a organização, podemos afirmar que a caverna é uma empresa

que tem uma visão limitada da realidade e que enxerga apenas as sombras da verdadeira realidade. Não percebe que as modernizações, as inovações tecnológicas e as novas ideias podem contribuir para o desenvolvimento da organização. Sair da caverna é libertar-se da visão ultrapassada (sombras, visão ofuscada da realidade) e ir à busca de novos conhecimentos e de novas ideias sobre a organização (a luz do sol).

Leia a história em quadrinhos de Maurício de Sousa:

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53UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

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54 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

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55UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

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56 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

A partir da leitura desta seção, procure relacionar a história em quadrinhos escrita por Maurício de Sousa, inspirada na história do Mito da Caverna de Platão, com a nossa realidade pessoal ou profissional.

1 Quem é o personagem Piteco na história em quadrinhos?

2 Como é a vida dentro da caverna?

3 Como é a vida fora da caverna?

4 Que relação se pode fazer entre a história em quadrinhos e a realidade?

5 Que outros aspectos você descobriu?

4 ARISTÓTELES: UMA “MÁQUINA DE PENSAR”

Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu na cidade de Estagira, na Macedônia. Há informações de que teria escrito mais de 100 obras, sobre os mais variados temas: (biologia, anatomia,

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57UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

4.1 FRASES E PENSAMENTOS DE ARISTÓTELES

lógica, política, moral etc.).

Após a morte de Platão, Aristóteles fundou sua própria escola, chamada de Liceu. Esta escola ficou conhecida por desenvolver um método próprio de ensino, o peripatético, que surgiu devido ao hábito de caminhar em volta do Liceu. Ou seja, peripatético é aquele que ensina caminhando.

Uma das curiosidades do pensamento aristotélico é a classificação hierárquica das coisas. Aristóteles dividiu as coisas da natureza em reino animal, vegetal e mineral. O reino animal é superior ao vegetal, o vegetal é superior ao mineral. Dentro de cada um destes reinos as coisas também eram subdivididas em tipos e espécies. Esta forma de raciocínio foi aplicada na organização social, ao estabelecer uma hierarquia entre os subordinados.

ESTUDOS FUTUROS! �Outras contribuições importantes de Aristóteles estão nas áreas da política, ética, lógica, que serão abordadas nas Unidades 2 e 3.

Considerado um dos grandes pensadores gregos, Aristóteles influenciará o mundo com suas ideias na sua forma de pensar e agir. Na sequência são apresentados alguns dos pensamentos de Aristóteles que marcaram a história da humanidade e servem de reflexão em nossa vida. (FRASES famosas, 2008).

•O homem é, por natureza, um animal social e político.

•O Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo, pois o todo deve forçosamente ser colocado antes das partes.

•Aquele que não pode viver em sociedade, ou que de nada precisa para bastar-se a si próprio, não faz parte do Estado; ou é um bruto ou um deus.

•O hábito de mudar facilmente as leis é um mal. O cidadão ganhará menos com a mudança do que perderá, adquirindo o hábito da insubordinação.

•As virtudes formam-se com a prática dos atos.

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58 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

•A virtude é o meio-termo, sendo que os vícios acontecem na falta ou no excesso.

•Somos potencialmente bons e maus e temos a faculdade de escolher racionalmente o que desejamos ser.

•O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser.

• toda arte e toda indagação, bem como toda ação e toda escolha, visam a um bem qualquer.

•As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã.

•A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque garante todas as outras.

•Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.

•Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade.

•Os inferiores rebelam-se para serem iguais, e os iguais rebelam-se para serem superiores. Esse é o estado de espírito que gera as revoluções.

•Sendo assim, as revoluções não concernem a pequenas questões, mas nascem de pequenas questões e põem em jogo grandes questões.

•A felicidade não se encontra nos bens exteriores.

•Em todas as coisas da natureza existe algo de maravilhoso.

•É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

•Realizando coisas justas, tornamo-nos justos, realizando coisas moderadas, tornamo-nos moderados, fazendo coisas corajosas, tornamo-nos corajosos.

•Devemos comportar-nos com os nossos amigos do mesmo modo que gostaríamos que eles se comportassem conosco.

•O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.

•A base da sociedade é a justiça; o julgamento constitui a ordem da sociedade: ora, o julgamento é a aplicação da justiça.

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59UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

•A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.

•O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.

•O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.

•A dúvida é o princípio da sabedoria.

•O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz.

•Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência.

Poucos filósofos receberam tantos elogios e críticas quanto Aristóteles. As frases expressam a abrangência e a diversidade de pensamento. Ainda hoje suas ideias continuam vivas em meio aos dizeres ou expressões que são ditas pelas pessoas e na forma como as ciências estão divididas.

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60 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

Neste tópico você pôde verificar que:

•A filosofia serve como elo entre os vários campos do conhecimento.

•Para Sócrates, o autoconhecimento (conhece-te a ti mesmo) é uma das atitudes mais importantes antes de fazermos qualquer julgamento.

•O método socrático consistia em fazer as pessoas reconhecerem a sua ignorância e as contradições do seu pensamento através da ironia e da maiêutica.

•O crivo das três peneiras é constituído pela: verdade, bondade e necessidade.

•Para Platão existem dois mundos: o Mundo das Ideias, onde as coisas são perfeitas, eternas, imutáveis, verdadeiras, únicas, e este mundo, onde as coisas são imperfeitas, mortais, mutáveis, marcadas pelas falsas impressões e por sua multiplicidade.

•Platão elabora a alegoria do mito da caverna, que é uma explicação melhor da relação entre o mundo das ideias e este mundo.

•Aristóteles é considerado uma máquina de pensar, por ter escrito mais de 100 obras, sobre os mais variados temas (biologia, anatomia, lógica, política, moral, etc.).

RESUMO DO TÓPICO 5

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61UNIDADE 1 TÓPICO 5

FILOSOFIA

1 A expressão “conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates, está relacionada a: a) ( ) Conhecer os próprios limites, ou seja, o autoconhecimento. b) ( ) Reconhecer o amor platônico do mundo das ideias. c) ( ) Conhecer o interior e o exterior das coisas através da meditação e da

reflexão. d) ( ) “Penso, logo existo”, que é a única certeza de nossa vida.

2 Analise as seguintes afirmações: I – O método socrático está baseado no diálogo, na conversa, na dialética, que tem

por finalidade desenvolver nas pessoas um conhecimento mais seguro sobre as coisas e não apenas das aparências.

II – Ninguém melhor do que Platão racionalizou a teoria dos dois mundos. Para ele, as coisas que vemos e percebemos neste mundo não são a realidade. Tudo o que existe, neste mundo, não passa de aparência, reflexo, cópia, sombra da verdadeira realidade. É no mundo das ideias que encontramos as coisas verdadeiras: as ideias eternas, imóveis, verdadeiras, necessárias e absolutas.

III – Segundo Aristóteles, “O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser”.

Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmações I e II estão corretas. b) ( ) As afirmações I e III estão corretas. c) ( ) As afirmações II e III estão corretas. d) ( ) As afirmações I, II e III estão corretas.

3 Platão procurou mostrar com o mito da caverna que, assim como os prisioneiros não suspeitavam da existência das coisas que eram as causas das sombras que eles viam, nós também vivemos num mundo de coisas materiais sem suspeitar da existência de uma realidade além da natureza sensível, que só pode ser percebida pelo intelecto.

A doutrina platônica sobre a relação entre o mundo sensível e o inteligível é conhecida como:

a) ( ) Empirismo. b) ( ) Racionalismo. c) ( ) Teoria dos dois mundos. d) ( ) Teoria das quatro causas.

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62 UNIDADE 1TÓPICO 5

FILOSOFIA

4 Considerando a reflexão filosófica de Platão com relação ao mito da caverna, analise as afirmativas:

I- O conhecimento do filósofo assemelha-se ao de alguém no fundo da caverna. II- No fundo da caverna percebemos apenas as sombras e não as coisas como elas

são na realidade. III- O mito da caverna é uma explicação de como ocorre a relação entre o mundo

das ideias e este mundo. Agora, assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.

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FILOSOFIA

TECNOLOGIA E SER HUMANO

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 6

UNIDADE 1

O filme Matrix, entre outros, descreve de forma pessimista o futuro da humanidade na relação com as máquinas. Especula-se que a tecnologia pode se transformar numa arma contra a humanidade. São muitos os motivos que nos fazem pensar sobre os benefícios e malefícios das tecnologias para o ser humano. Perguntamo-nos: onde estamos e para onde vamos?

IMPORTANTE! �A nova revolução industrial é, pois, uma espada de dois gumes. Pode ser usada em benefício da humanidade, mas somente se a humanidade sobreviver o bastante para ingressar num período em que tal benefício seja possível. (WIENER, 1970, p. 159).

Muitos são os motivos que causam preocupação: poluição, esgotamento de fontes de energia, esgotamento de matéria-prima, esgotamento das fontes de combustíveis fósseis, escassez de água potável, catástrofes ambientais. Problemas que são visivelmente consequência do uso indevido da natureza e da obcecada intenção de progresso tecnológico. Numa visão pessimista, o que se visualiza para o futuro da humanidade são guerras, miséria, fome, epidemias, novas doenças incuráveis, atentados.

Por outro lado, não podemos negar nosso fascínio sobre as inovações tecnológicas. Há bem pouco tempo ninguém imaginaria um forno micro-ondas, telefone celular, computador, internet, etc. São tecnologias que se tornaram símbolo de desejo e, para muitos, uma necessidade profissional ou mesmo pessoal. Contudo, nos tornamos mais felizes? A tecnologia escraviza ou liberta o ser humano? Devemos produzir pessoas doentes a fim de termos uma economia sadia, ou podemos usar nossos recursos materiais, nossas invenções, nossos computadores para servir aos propósitos do homem?

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UNIDADE 1TÓPICO 664

FILOSOFIA

NOTA! �

NOTA! �

Tecnologia - refere-se à aplicação prática das descobertas da ciência; trata-se das artes em geral; conjunto de processos relativos à indústria ou arte.

Utopia - sistema ou plano que parece irrealizável; trata-se de um sonho idealizado sobre o futuro humano; pode ser visto ainda como uma ilusão ou fantasia.

2 ONDE ESTAMOS

3 PARA ONDE VAMOS

Mais fácil nos parece dizer onde não estamos. Não estamos na sociedade harmoniosa, pensada por Thomas More, em a “Ilha da Utopia”. Não alcançamos a desejada cura, anunciada pela revolução da medicina. Nem tudo compreendemos, como prometia a ciência. Reflexão parecida fez o filósofo Erich Fromm, quando afirma:

Não estamos a caminho da livre iniciativa, mas estamo-nos afastando dela rapidamente. Não estamos a caminho de maior individualismo, mas estamos nos tornando uma civilização das massas cada vez mais manipulada. Não estamos a caminho de lugares para onde nossos mapas ideológicos nos dizem que estamos indo. Estamos marchando numa direção totalmente diferente. (FROMM, 1975, p. 42).

Com a Revolução Industrial aprendemos a substituir a energia viva (animais e homens) pela energia mecânica (a vapor, petróleo, eletricidade...). O capitalismo marchou a passos largos e, em poucos anos, tomou velocidade que nos causa espanto. Para onde vamos?

Da forma como utilizamos as tecnologias, caminhamos para a libertação do ser humano ou para uma gradativa escravidão?

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UNIDADE 1 TÓPICO 6 65

FILOSOFIA

NOTA! �Só para ajudar: Distopia - visão pessimista sobre o futuro; anuncia de forma drástica o que está por vir; pode ser visto como fantasia, como pode ser entendido como uma visão realista.

Os otimistas afirmam, de forma utópica, que a máquina está e irá substituir gradativamente o homem nas atividades mais desumanas, liberando o ser humano para atividades dignas. Para Schaff (1993, p. 153), a tecnologia nos “conduzirá a uma sociedade em que haverá um bem-estar sem precedentes para o conjunto da população, como também alcançará um nível sem precedentes do conhecimento humano do mundo”. É uma visão que apresenta uma expectativa de maior liberdade ao ser humano no que diz respeito ao trabalho. Supõe-se que o ser humano terá mais tempo livre, o que o tornará mais predisposto à criatividade, ao lazer e ao estudo.

Domenico de Masi, ao escrever sobre a busca do ócio, afirma que:

Para nós, homens pós-industriais, há uma terceira alternativa. Sísifo vai construir um mecanismo eletrônico ao qual delegará a canseira do realizar o transporte inútil e banal e se sentará no alto do morro para contemplar o seu robô em função, saboreando enfim a felicidade do ócio prazeroso. (MASI, 1993, p. 49).

A ideia de que a tecnologia dará ao ser humano mais tempo livre já é explorada em comerciais de lava-louça, produtos de limpeza quase mágicos, equipamentos práticos e de pouca manutenção. É o mundo da tecnologia prometendo liberar o trabalhador das tarefas mais pesadas e rotineiras.

Por outro lado, os pessimistas anunciam uma verdadeira distopia. Alguns fenômenos já podem ser constatados e, dentre eles, podemos citar a invasão de privacidade, seja pelas filmadoras espalhadas pelas ruas e lojas, seja pela internet, em que você é controlado em suas preferências, pelo spam, pelos telefonemas de premiação enganosa, etc. Além disso, anuncia-se que o ser humano estará cada vez mais escravo da máquina. Nesta visão, salienta-se que estamos saindo de uma sociedade disciplinar e caminhamos para uma sociedade de controle.

Para Enguita, a tecnologia representa o uso interesseiro da ciência em uma sociedade orientada pela busca do lucro empresarial. “Seus efeitos, contudo, não são já positivos, mas negativos; ela destrói lugares de trabalho, condena os trabalhadores a empregos desqualificados, monótonos e rotineiros, induz ao consumismo, desumaniza as relações sociais e, enfim, nos conduz ao holocausto universal”. (ENGUITA apud MARIA; SOUZA, 1995, p. 235).

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UNIDADE 1TÓPICO 666

FILOSOFIA

De forma parecida, Erich Fromm (1975, p. 44) fez a seguinte previsão: “o ano 2000 poderá não ser o cumprimento e a culminação feliz de um período em que o homem lutou pela liberdade e pela felicidade, mas o começo de um período em que o homem deixa de ser humano e se transforma numa irrefletida e insensível máquina”.

4 INCLUSÃO DIGITAL REDUZ EXCLUSÃO SOCIAL?

Se olharmos de forma panorâmica para a história da humanidade, com atenção aos modelos de produção e de comunicação, perceberemos que a organização social gerou grupos incluídos e grupos excluídos. De forma geral, incluídos os que possuíam direitos políticos e decidiam conforme seus interesses e excluídos os que não tinham direito à participação. Hoje, fala-se em inclusão digital, mas questiona-se: será que ela reduzirá a exclusão social?

Há quem afirme que não existe cidadania sem garantir a inclusão das pessoas nas redes informacionais. Qual sua opinião sobre este assunto? Antes de prosseguir, registre sua opinião no espaço que segue:

Ótimo, vamos continuar nossa reflexão. A inclusão digital é uma forma de proporcionar um espaço de informação e participação. É um espaço fundamental para as atividades da economia e já tem demonstrado que é muito importante para a política e para a educação. Por isso, este processo tecno-social é uma ótima ferramenta para a manutenção e permanência da democracia. Neste sentido, vale lembrar o argumento Tarapanoff, Suaiden e Oliveira (2004) de que não existirá uma sociedade da informação sem uma cultura da informação e que o problema maior da inclusão digital é o analfabetismo digital e não prioritariamente a falta de acesso ou a falta de computadores. Desta forma, o desafio para a inclusão digital pode ser representado no esquema que segue:

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UNIDADE 1 TÓPICO 6 67

FILOSOFIA

FONTE: Os autores

Nesse contexto, os grupos sociais digitalmente analfabetos e que não possuem acesso a esta rede de comunicação ficam na periferia da democracia e têm sua cidadania prejudicada. O pressuposto é que a exclusão digital aumenta a exclusão social e que, por sua vez, a inclusão digital aumenta a inclusão social.

O direito à comunicação em rede é uma garantia para a liberdade de expressão. Além disso, o acesso às informações públicas é uma excelente arma contra a corrupção. Na figura que segue você observa o slogan da campanha que defende uma lei de acesso à informação pública.

FONTE: INESC, 2010. (INESC. Disponível em: < www.inesc.org.br>. Acesso em: 20 maio 2010.)

FIGURA 7 – INCLUSÃO DIGITAL

FIGURA 8 - CAMPANHA

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UNIDADE 1TÓPICO 668

FILOSOFIA

DICAS!

QUER ACOMPANHAR O TRABALHO DOS NOSSOS REPRESENTANTES? Acesse:<http://www2.camara.gov.br/www.senado.gov.br>.

LEITURA COMPLEMENTAR

O ÚLTIMO DISCURSODe “O grande ditador”

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, os gentios... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... Levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos

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UNIDADE 1 TÓPICO 6 69

FILOSOFIA

escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

FONTE: Chaplin (2007)

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UNIDADE 1TÓPICO 670

FILOSOFIA

Neste tópico você pôde verificar que:

•Refletimos sobre uma intrigante questão: onde estamos e para onde vamos?

•A velocidade do desenvolvimento tecnológico não confirmou o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e justa.

•Para os otimistas – caminhamos para uma sociedade que gradativamente substituirá o trabalho desumano pelas máquinas e promoverá maior bem-estar social.

•Para os pessimistas – perderemos a privacidade, o emprego, a saúde e a tranquilidade.

•Inclusão digital é: ter acesso às redes de informação, equipamentos e tecnologias ao alcance de todos e alfabetização digital.

RESUMO DO TÓPICO 6

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UNIDADE 1 TÓPICO 6 71

FILOSOFIA

Depois de estudar este tópico, organize sua opinião e registre-a nas linhas que seguem.

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UNIDADE 1TÓPICO 672

FILOSOFIA

Essa atividade

vale nota.

AVALIAÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da Unidade 1, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.

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FILOSOFIA

UNIDADE 2

ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA

OBJETIVOS DE APRENDIzAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

identificar as diferentes teorias do conhecimento e as formas de conhecer o mundo;

reconhecer a filosofia enquanto pensamento lógico, sistemático e racional;

distinguir raciocínio dedutivo e indutivo;

identificar as diferentes formas de argumentação falaciosas;

identificar as principais concepções de ética que se formaram ao longo da história do pensamento filosófico;

identificar as principais semelhanças e diferenças entre a ética e a lei;

conhecer os principais dilemas que compõem a filosofia da arte.

TÓPICO 1 – TEORIA DO CONHECIMENTO

TÓPICO 2 – LÓGICA

TÓPICO 3 – ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

TÓPICO 4 – ESTÉTICA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE A ARTE

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

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FILOSOFIA

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FILOSOFIA

TEORIA DO CONHECIMENTO

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 1

UNIDADE 2

O que é o conhecimento, como se dá e quando é verdadeiro são questões antigas tratadas pela Filosofia. Ao mesmo tempo, são questões atuais e que dizem respeito ao nosso cotidiano, seja pessoal ou profissional. Constantemente nos deparamos com informações que não sabemos ao certo se são verdadeiras ou enganosas. Ficamos incertos na provisoriedade do conhecimento e, por vezes, nos enganamos pelas evidências, fazemos confusões de causa, tomamos nossas opiniões por conhecimento, acreditamos em algumas certezas, suspeitamos de nossa fé, duvidamos de nossos sentidos, pensamos sobre o que pensamos. São dúvidas que nos desafiam a compreender o conhecimento.

NOTA! �Para muitos filósofos, a dúvida foi mencionada e utilizada como recurso e método de inquietação e investigação sobre o cotidiano.

A teoria do conhecimento é uma área da Filosofia que se aplica na investigação sobre a natureza e a origem do conhecimento. Este debate já iniciou entre os gregos antigos, que problematizaram o assunto sob vários aspectos, e que se desdobra em várias perspectivas no decorrer da história da humanidade. São questões que chegam ao nosso contexto e nos auxiliam a pensar sobre o conhecimento da ciência, da religião, da economia, da política, das teorias e práticas da administração, da própria filosofia.

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76 UNIDADE 2TÓPICO 1

FILOSOFIA

UNI

A atitude do filósofo em relação à totalidade dos objetos é uma atitude intelectual, uma atitude do pensamento. Cabe ao filósofo conhecer, saber. O filósofo é um conhecedor por natureza. (HESSEN, 1999, p. 5).

Quando se desenvolvem as teorias gerais sobre cada área, organizam-se informações que se relacionam com o estado da arte, com os modelos antigos e modernos, com as informações clássicas e novas. São teorias do conhecimento específicas que traduzem o movimento da consciência humana, na tentativa de solucionar problemas.

A dúvida, a inquietação, o desejo de conhecer e de transcender-se sempre foi, desde o mais primitivo dos seres humanos até o mais moderno Homo sapiens sapiens, a mola propulsora de desenvolvimento e transformação da humanidade. A curiosidade fez e faz do homem artífice de sua própria história e, às vezes, vítima de suas próprias descobertas.

2 O QUE É O CONHECIMENTO?

O conhecimento pode ser definido como uma técnica para se chegar a uma verdade sobre um determinado objeto. A vontade, a dúvida e o questionamento sobre determinado objeto são os estímulos que conduzem o homem a buscar a verdade sobre ele.

NOTA! �Vejamos o que diz o Dicionário Houaiss sobre o conceito “conhecimento”:O ato ou a atividade de conhecer, realizado por meio da razão e/ou da experiência; ato ou efeito de apreender intelectualmente, de perceber um fato ou uma verdade; cognição, percepção, fato, estado ou condição de compreender; entendimento, domínio teórico ou prático de um assunto, uma arte, uma ciência, uma técnica etc.; competência, experiência, prática, intuição, pressentimento ou outra forma de cognição; reconhecimento, fato ou condição de estar ciente ou consciente de (algo); a coisa que se conhece, de que se sabe, de que se está informado, ciente ou consciente; procedimento compreensivo por meio do qual o pensamento captura representativamente um objeto qualquer, utilizando recursos investigativos dessemelhantes.

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77UNIDADE 2 TÓPICO 1

FILOSOFIA

As técnicas utilizadas para conhecer este objeto podem ser muitas. Elas dizem respeito às formas, aos modos de conhecer a realidade utilizada pelo sujeito conhecedor. A epistemologia é uma das áreas da Filosofia e sua atenção se concentra nos limites do conhecimento. É a teoria do conhecimento que levanta questionamentos em torno das formas, origem, valor e método do conhecimento.

O paradoxo está em pensar se o conhecimento deriva do sujeito que conhece ou se ele deriva do objeto que está sendo conhecido. Ou seja, a verdade sobre o objeto depende da abordagem epistemológica, do olhar do sujeito sobre a realidade, que determinará a forma como o objeto vai ser estudado. O texto a seguir ajuda a problematizar esta questão:

Um povo que não batizou o azul:

As florestas da Papua-Nova Guiné, na Oceania, são azuis. Pelo menos para os berimnos, povo primitivo que habita o país. Pesquisadores das universidades de Londres e Surrey, na Inglaterra, descobriram que os berimnos classificam suas cores de modo particular. O verde e o azul, por exemplo, são uma cor só. Eles dão nomes a apenas outras quatro cores, equivalentes ao vermelho, amarelo, branco e preto. Por muitos anos, psicólogos e antropólogos discutiram se a linguagem humana evoluiu para adequar-se à forma como vemos o mundo ou se a forma como vemos o mundo depende do modo como usamos a linguagem. A descoberta feita em Papua-Nova Guiné sugere que a classificação das cores pode variar segundo a cultura. Estudos com esquimós chegaram a resultado semelhante. Há vários nomes para o branco, equivalentes aos matizes que os esquimós enxergam na neve e no gelo. (REVISTA ÉPOCA, 1999).

NOTA! �Paradoxo: há muitos sentidos para esta palavra. Pode ser compreendida como aquilo que é contrário à maioria; aquilo que é contrário em si mesmo; verdade que é paralela a uma outra. Como na frase: “esta frase é falsa”. Se é verdadeira, é falsa, se é falsa, é verdadeira.

Na tentativa de explicar fenômenos e mistérios de sua existência, muitas vezes o homem se angustia e procura diversos meios para responder tais questões. Estes meios são definidos por Japiassu (1975, p. 15) por saber, ou seja, como “um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente organizados e susceptíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino”. Desta forma, divide-se o saber em: saberes “especulativos”, que não são considerados ciência, abrangendo o racional, que corresponde à Filosofia, e o crente ou religioso, como a teologia; e, as ciências, que não são saberes “especulativos”, abrangendo as matemáticas e as empíricas e positivas.

3 A TEORIA DO CONHECIMENTO

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78 UNIDADE 2TÓPICO 1

FILOSOFIA

4 AS FORMAS DE CONHECER O MUNDO

Há muitas formas de se conhecer o mundo, que dependem da postura do sujeito frente ao objeto conhecido: o mito, o senso popular, a ciência, a filosofia e a arte.

todos esses elementos são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, atribuindo-lhes um significado.

O conhecimento mítico ou religioso proporciona um saber que procura explicar os mistérios da existência humana. É considerado mágico, porque ainda vem permeado pelo desejo de atrair o bem e afastar o mal, dando segurança e conforto ao homem. Seu critério para a verdade está na fé.

O senso popular, ou conhecimento espontâneo, é a primeira compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. Pode ser subdividido em: senso comum, que é derivado da experiência espontânea do cotidiano, é fragmentado, superficial e assistemático; senso prático, deriva da experiência cotidiana, é um saber fazer para poder viver; bom senso, é comum na atitude coerente das relações sociais cotidianas; senso crítico, é a capacidade de julgar consciente daquele que avalia com crítica as ideologias que o dominam ou tentam dominá-lo.

O conhecimento científico procura desvelar o funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito, busca um conhecimento objetivo (isto é, fundado sobre as características do objeto, com interferência mínima do sujeito), lógico, através de métodos desenvolvidos para manter a coerência interna de suas afirmações. A aplicação da ciência resulta no conhecimento tecnológico. O critério para estabelecer a verdade está na experiência controlada.

Desta forma, existem vários saberes que possibilitam ao homem diferentes formas de conhecer e explicar a realidade. Dependendo do saber utilizado, a verdade sobre as coisas pode se apresentar de diferentes maneiras. Por exemplo, ao buscar a resposta para a pergunta: ‘Como o planeta Terra surgiu?’, podemos encontrar diversas respostas, dependendo do saber a que recorremos. Se recorrermos ao saber científico, a resposta será uma; se recorrermos ao saber religioso, a resposta será outra.

Diante disso, a epistemologia é “[...] o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais”. (JAPIASSU, 1975, p. 16). O termo epistemologia foi introduzido por J. F. Ferrier, em 1854, e é utilizado comumente diante de outros termos como Gnosiologia, Teoria do Conhecimento, significando o modo de tratar os problemas do conhecimento. Etimologicamente, “epistemologia” significa discurso, estudo (logos) sobre a ciência (episteme).

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79UNIDADE 2 TÓPICO 1

FILOSOFIA

Para saber mais acesse: <www.mundodosfilosofos.com.br> - um excelente site de Filosofia.

“Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir. [...] o caráter fundamental da filosofia positivista é tornar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor número possível constituem o objetivo de todos os nossos esforços, considerando como absolutamente inacessível e vazia de sentido para nós a investigação das chamadas causas, sejam primeiras, sejam finais.”

FONTE: COMTE, A. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 4-7.

LEITURA COMPLEMENTAR

DICAS!

O conhecimento filosófico, por sua vez, propõe-se a oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, numa abordagem que vislumbre a totalidade e a radicalidade (que vai à raiz das coisas). Sua finalidade não está em estabelecer uma verdade absoluta, mas em questionar e, continuamente, refletir sobre as coisas.

O conhecimento artístico não nos dá o conhecimento de um objeto, mas de um mundo, interpretado pela sensibilidade do artista e traduzido numa obra individual que, pelas suas qualidades estéticas, recupera o vivido e nos reaproxima do concreto. A verdade está na representação daquele que comunica sua forma de ver e de interpretar a realidade.

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80 UNIDADE 2TÓPICO 1

FILOSOFIA

NOTA! �Que tal uma sessão cineminha? Confira na sua locadora um dos filmes que seguem. Então, procure relacioná-lo com o tópico estudado.

Galileu Galilei: adaptação da peça Brecht; o duelo da ciência contra o obscurantismo.

2001, uma odisseia no espaço: relata a relação homem-máquina que chega ao ponto limite.

Óleo de Lorenzo: história de um casal cujo filho tem uma doença irreversível. O pai e a mãe se envolvem em pesquisas para alcançar a cura.

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81UNIDADE 2 TÓPICO 1

FILOSOFIA

Neste tópico você viu que:

Apresentamos informações sobre o que é o conhecimento, a teoria do conhecimento e as formas de conhecer o mundo.

O conhecimento foi definido como uma técnica para se chegar a uma verdade sobre um determinado objeto.

Em teoria do conhecimento, divide-se o saber em: saber especulativo (racional e religioso) e não especulativo (matemático e empírico).

Epistemologia é o “estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais” (JAPIASSU, 1975, p. 16).

Existem diferentes formas de conhecer o mundo, que podem ser classificadas em diferentes tipos: mito, senso popular, ciência, filosofia e arte.

RESUMO DO TÓPICO 1

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82 UNIDADE 2TÓPICO 1

FILOSOFIA

Para melhor compreender este tópico, responda às seguintes questões:

1 Analise o texto sobre “um povo que não batizou o azul”, identifique a questão investigada e as respostas que os cientistas elaboraram.

2 O que é epistemologia?

3 Quais são as principais formas de se conhecer o mundo?

4 Procure lembrar e anotar algumas questões que desafiam o conhecimento humano.

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FILOSOFIA

LÓGICA

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 2

UNIDADE 2

A lógica é uma área da Filosofia que se aproxima da Teoria do Conhecimento, mas reserva especificidades em sua aplicação. As duas áreas reservam em comum sua indagação sobre a validade do conhecimento. Contudo, a Teoria do Conhecimento investiga os problemas decorrentes da relação entre sujeito e objeto do conhecimento, enquanto que a Lógica é um instrumento do conhecimento para estabelecer formas corretas de pensar e argumentar.

NOTA! �O que eu entendo é que a Lógica é a parte da Filosofia que se aplica no estudo da coerência e veracidade dos argumentos, apresentando regras para identificar e corrigir raciocínios sofísticos.

Etimologicamente, a palavra lógica vem do grego logos e significa razão, palavra ou expressão. A lógica se dedica a estudar as estruturas de pensamento e estabelece regras para se organizar argumentos corretos. A aplicação clássica da lógica está na lógica formal, que foi criada por Aristóteles no século IV a.C. Na lógica formal, estudam-se os atos do pensamento, conceito, juízo e raciocínio do ponto de vista da sua estrutura ou forma lógica, sem se preocupar com o conteúdo ou matéria.

Em oposição à Lógica Formal está a Lógica Material, que se designa pelo estudo do raciocínio em relação ao seu conteúdo ou matéria. A lógica formal leva em conta a forma de um raciocínio para determinar se ele é correto ou incorreto (válido ou inválido). Já a lógica material preocupa-se com o conteúdo para definir se a conclusão é verdadeira ou falsa.

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84 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

LÓGICA

LÓGICA MATERIALLÓGICA FORMAL

RACIOCÍNIO VÁLIDOOU INVÁLIDO

RACIOCÍNIOVERDADEIRO OU

FALSO

2 TIPOS DE ARGUMENTAÇÃO

2.1 DEDUÇÃO

A dedução é uma forma de raciocínio que parte de uma afirmação universal para concluir sobre uma particular. Vai do geral ao específico. Este raciocínio é comum quando utilizamos conceitos e teorias aprendidas na sala de aula para resolver problemas específicos do ambiente de trabalho.

Como exemplo, considere o seguinte silogismo:

Todo homem é mortal.

Sócrates é homem.

Logo, Sócrates é mortal.

O raciocínio indutivo tem como ponto de partida a experiência, particular e contingente, a partir da qual se procura estabelecer uma conclusão de caráter geral. Este tipo de raciocínio

2.2 INDUÇÃO

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85UNIDADE 2 TÓPICO 2

FILOSOFIA

permite que a conclusão enuncie algo que supera a informação contida na premissa. O raciocínio indutivo possibilita ampliar nossos conhecimentos.

O exemplo a seguir ajuda a compreender o raciocínio indutivo:

O ouro, o cobre, o ferro, a prata, o zinco são condutores de eletricidade.Logo, todo metal é condutor de eletricidade.

2.3 ANALOGIA

3 DISTORÇÕES DA ARGUMENTAÇÃO

A analogia é um tipo de raciocínio que se elabora a partir de certas semelhanças e é capaz de inferir novas semelhanças. Neste sentido, a analogia é uma forma de inferência criativa e ilimitada.

Confira o exemplo:

Para Newton, a ideia de uma atração à distância entre os planetas (a gravidade) foi sugerida pelo fenômeno mais familiar da atração magnética.

As relações humanas estão permeadas pelas relações de ideologias, argumentações distorcidas e conclusões precipitadas. Com tantos modelos de falcatruas, corrupção e jogos de interesse que vemos todos os dias, é um desafio para o caráter formar-se como pessoa justa, sensata e ética. É um desafio, porque, sem sabermos, reproduzimos ações, pensamentos e sentimentos que não nos damos conta de suas razões. O rotineiro e costumeiro toma força e ganha impressão de “verdade”. Nossos julgamentos podem estar repletos de naturalizações, generalizações e eufemismos.

Como se desfazer destas armadilhas? Como identificar quando estamos ouvindo falácias? Quando utilizamos argumentos errôneos? Que critérios auxiliam a detectar nossos deslizes de raciocínio e argumentação? Responder a estas perguntas é o objetivo deste tópico.

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86 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

NOTA! �A palavra Falácia possui o seguinte significado: termo empregado para definir um “silogismo sofístico”. Trata-se de um argumento falso que se parece com a verdade.

Quando utilizamos argumentos errôneos, mal formulados e falaciosos, corremos o risco de nos convencer por “verdades aparentes”, sem nos darmos conta do equívoco que estamos cometendo. Para evitar que isto aconteça, uma das áreas da Filosofia, chamada de Lógica, dedica-se a estudar a validade dos raciocínios. A lógica nos ajuda a identificar as falácias presentes em muitos discursos políticos, conversas corriqueiras, debates em sala de aula, propagandas, enfim, onde há ideias em circulação pode haver argumentos falaciosos.

A falácia é uma forma de argumentar que tem a aparência de ser verdadeira, pode até convencer o desatento, mas se trata de um raciocínio incorreto. As chamadas falácias informais são as mais comuns em nosso cotidiano. Recebem esta denominação porque são construídas a partir de mecanismos emocionais, lacunas e apelações de que somos autores ou vítimas. Uma pessoa pode repetir, sem saber, uma falácia por acreditar que se trata de uma ideia válida, ilustre e correta. A partir da lógica, podemos estabelecer algumas categorias para identificar os argumentos errôneos mais comuns no dia a dia. Dentre as categorias de falácias mais comuns, destacamos os argumentos de caricatura, argumentos de apelação, argumentos de generalização, argumentos com excesso de tendenciosidade e argumentos de conclusão precipitada.

3.1 ARGUMENTOS DE CARICATURA

Muitas pessoas se utilizam dos argumentos de caricatura para fugir do enfrentamento direto de um debate com profundidade. É muito mais fácil ridicularizar do que contra-argumentar. Na falta de um argumento substancial, o interlocutor falacioso caricatura a pessoa na tentativa de invalidar a ideia em questão, ou caricatura a ideia para desviar a conversa.

Exemplos:

Na ciência: “O químico Lavoisier era também político e corrupto, não sabia o que fazia”.

Na política: “Uma pessoa que não tem o Ensino Médio não saberá governar um país”.

Numa intriga de trânsito: “Eu não perco tempo discutindo com mulheres”.

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87UNIDADE 2 TÓPICO 2

FILOSOFIA

Nesta categoria de argumentos, encontramos as falácias que relacionam a ideia defendida com um recurso de força que inibe o interlocutor. As alegações são sustentadas na apelação a uma autoridade, a uma advertência, à ignorância sobre o assunto ou apelo ao misterioso e espetacular.

a) Argumento que se utiliza de uma Autoridade – ocorre quando a autoridade de alguém é destacada para dar valor, falso fundamento a uma ideia que se quer sustentar. É como se disséssemos: “Se foi fulano que falou, então deve ser verdadeiro”.

Exemplo:

Na propaganda: Vemos Pelé dizendo “Tome Vitasay, a vitamina dos campeões de saúde”.

b) Argumento de Advertência – é um recurso de argumento que se sustenta na força, procura convencer pela ameaça. Sustenta a ideia de que é preciso fazer algo para servir de exemplo aos outros. É um argumento que apela ao temor para gerar obediência. “Mata para ensinar”. Não leva em conta a educação, a prevenção, a consciência...

Exemplos:

O gerente fala ao funcionário: “Se você não está satisfeito com o salário, tem quem quer a vaga”.

Comentário sobre o filme “Carandiru”: “A chacina dos 111 foi importante, pois reprime os bandidos que querem fazer rebelião”.

Na escola, um professor comentou ao outro: “Se dermos liberdade aos alunos, a escola vira uma bagunça”.

Na família: “É preciso castigar o mais velho, assim o mais novo já vai saber”.

Numa conversa sobre o sistema jurídico: “É preciso punir para remediar”.

Num debate sobre pena de morte: “Se a pena de morte fosse autorizada, haveria menos criminalidade”.

c) Argumento com Apelo à Ignorância – parte do pressuposto de que é verdadeiro o que não se provou ser falso.

3.2 ARGUMENTOS DE APELAÇÃO

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88 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

Exemplos:

Ao debater sobre os transgênicos: “Ninguém comprovou que os produtos transgênicos fazem mal à saúde, logo eles devem ser liberados”.

Ao se especular sobre vida extraterrestre: “Nós não conhecemos nem o sistema solar e queremos nos achar os únicos do universo? É claro que existe vida além da Terra”.

Sobre anjos: “Anjos existem. Alguém já provou que não?”

d) Alegação especial – enuncia-se o fantástico e o misterioso para convencer.

Exemplos:

Numa informação jornalística: “Foi comprovado cientificamente que o café faz bem à saúde”. Um mês depois: “Foi comprovado cientificamente que o café faz mal à saúde”.

Num debate: A pessoa não conseguia responder à questão que lhe foi feita e comentou: “o que eu estou falando é muito complexo e você não vai me entender”.

3.3 ARGUMENTOS DE GENERALIZAÇÃO

toma-se por referência um fato ou alguns poucos fatos particulares e apressadamente se conclui sobre o todo. É um juízo que condena o todo com base em poucas referências. Pode ocorrer quando se quer opinar sobre uma pessoa ou um livro a partir de informações extremadas, com seleção de observações ou sustentadas em estatísticas de números pequenos.

a) As generalizações que só analisam os extremos – não reconhecem outras alternativas, ou é isto ou é aquilo, sempre, nunca, jamais. Não pondera um meio-termo ou uma terceira alternativa.

Exemplos:

Ao falar sobre religião: “Todos os pastores e sacerdotes são avarentos”.

Ao falar sobre política: “Todos os políticos são ladrões, nenhum deles faz algo pelo povo”.

Comentário “patriótico”: “Ninguém mais ama o Brasil, não sabem nem cantar o Hino Nacional”.

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89UNIDADE 2 TÓPICO 2

FILOSOFIA

b) Generalização a partir da seleção das observações – conta os acertos e esquece os fracassos, ou conta só os fracassos e não considera as vitórias.

Exemplos:

Notícia de esporte: “Barrichelo nunca termina a prova, porque ele sempre quebra o carro”.

Conclusão de pesquisa: “Nas atividades lúdicas todos os alunos se envolvem e aprendem”.

c) Generalização sustentada em estatística dos números pequenos – analisa os fragmentos e conclui apressadamente:

Exemplos:

Conclusão de pesquisa: “O conservante consumido pelos cinco ratos durante dois meses não apresentou possibilidade cancerígena”.

Conclusão de pesquisa: “Pela entrevista com os três voluntários, pode-se identificar que os homens são mais racionais nas relações de trabalho”.

3.4 ARGUMENTOS COM EXCESSO DE tENDENCIOSIDADE

Nesta categoria agrupamos os tipos de falácias cujos argumentos revelam a tendência ideológica daquele(s) que conduz(em) o raciocínio. A ideia é conduzida para um centro de interesse predeterminado e pretende induzir o interlocutor a uma conclusão mais amena, moralizada, distorcida, lacunar. As formas mais comuns destes argumentos podem ser identificadas como eufemismo, juízo de valor, discurso imperativo, discurso alienado, discurso de naturalização e discurso etnocêntrico.

a) Eufemismo – argumento que usa palavras brandas para amenizar a situação. Procura atenuar o impacto da ideia, tornando-a menos polêmica e mais aceitável.

Exemplo:

Notícia de jornal: “Político X apropriou-se ilicitamente de dinheiro público”.

b) Juízo de valor – argumento assentado em valores pessoais. Parte da crença moral individual para alegar uma necessidade incondicional.

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90 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

Exemplos:

Um palestrante afirmou: “Quem não tem família não é feliz”.

Propaganda de livraria: Na forma de pintura insinuava que “Quem não lê é burro”.

c) Discurso imperativo – usa recursos moralistas para dizer o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve.

Exemplo:

A mãe para o filho: “Você deve acordar cedo, senão você não vai ser alguém na vida”.

d) Discurso de naturalização – é baseado em ideias conformistas e naturalizadoras. Entende a história, a rotina, como coisas comuns e próprias da condição de existência humana.

Exemplos:

Comentário de um eleitor sobre a corrupção: “Sempre foi assim e assim sempre será”.

Num debate sobre divisão de classes: “A diferença de classes é condição natural do homem”.

e) Discurso etnocêntrico – argumentos que defendem uma cultura em específico – dá privilégios e qualidade ao grupo a que pertence e desqualifica o grupo que entende como “estranho”.

Exemplo:

Comentário religioso: “Só a fé cristã guia para a verdadeira salvação”.

3.5 ARGUMENTOS DE CONCLUSÃO PRECIPITADA

São argumentos que não seguem um rigor de investigação e são resultados de uma conclusão precipitada. Conclusões precipitadas são resultados da confusão de causa.

a) Confusão de causa – ocorre quando se atribui uma relação entre causa e efeito, sem verificar a relação direta.

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91UNIDADE 2 TÓPICO 2

FILOSOFIA

NOTA! �

Exemplos:

Propaganda de remédio: “A gripe só se manifesta em organismos com falta de vitamina C”.

Argumento de banqueiro: Ao ser perguntado pelo jornalista sobre a causa dos juros sobre os empréstimos, responde: “é preciso cobrar juros mais altos por se prever a inadimplência”.

Veja como o texto que segue nos ajuda a entender a importância de pensar sobre o processo de argumentação.

Um método útil de refutação é em primeiro lugar a prolixidade da argumentação, pois é difícil abarcar de uma só vez muitos temas ao mesmo tempo, e, para conseguir esta prolixidade, cumpre recorrer aos elementos já anteriormente indicados. Outro método é a celeridade do discurso, dado que os que se deixam atrasar veem com menos clareza o que lhes é posto diante. Também há a ira e a paixão da controvérsia, pois sempre que nos perturbamos, somos menos hábeis na defesa. As regras elementares para provocar a ira consistem em se dizer abertamente a vontade de proceder na injustiça e sem vergonha. Outro método consiste em propor as interrogações alterando a respectiva ordem, quer haja vários argumentos tendentes à mesma conclusão, quer haja argumentos para demonstrar simultaneamente que algo é assim e não é assim, pois daí resulta que o opositor tem de se defender simultaneamente de vários argumentos, ou, até, dos seus contrários. Todos os métodos anteriormente descritos são de um modo geral úteis para ocultar o pensamento, e também para os argumentos contrários, uma vez que se oculta o pensamento com vistas a evitar que o opositor veja aonde queremos chegar, e não queremos que assim veja, para o enganarmos.

FONTE: ARISTÓTELES. Organon VI: elementos sofísticos. São Paulo: 1999. p. 108-109.

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92 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

NOTA! �Encontrando Forrester. Um jovem adolescente que ganha uma bolsa de estudos em uma das escolas mais conceituadas de Manhattan. Willian Forrester, percebendo o talento do jovem, procura incentivá-lo, mas acaba recebendo boas lições de vida.

ENCONTRANDO FORRESTER. Direção de Gus van Sant. EUA: Columbia, 2000, 1 DVD (136 min), color.

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93UNIDADE 2 TÓPICO 2

FILOSOFIA

Neste tópico você viu que:

A palavra lógica vem do grego logos e significa razão, palavra ou expressão.

A argumentação pode ser dividida em: dedução (do geral ao específico), indução (do específico ao geral) e analógico (por comparação).

A argumentação pode sofrer distorções que podem ser identificadas a partir dos critérios agrupados em: argumentos de caricatura, argumentos de apelação, argumentos de generalização, argumentos com excesso de tendenciosidade e argumentos de conclusão precipitada.

RESUMO DO TÓPICO 2

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94 UNIDADE 2TÓPICO 2

FILOSOFIA

Resgate algum texto que você tenha desenvolvido no passado e procure identificar se há algum argumento distorcido, conforme critérios estudados neste tópico.

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FILOSOFIA

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 3

UNIDADE 2

Na história do pensamento humano, a ética foi entendida como parte integrante do pensamento filosófico, que, por sua vez, ficou conhecido como filosofia moral. Os filósofos, cada um em sua época, procuraram estabelecer princípios e pressupostos de compreensão da ética e da moral. Em cada época, o campo de compreensão foi se ampliando e adquirindo novos sentidos; isto fez com que as ações e as condutas das pessoas fossem compreendidas de maneira diferenciada.

IMPORTANTE! �De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, a desanimar-se da justiça e a ter vergonha de ser honesto! (RUY BARBOSA apud SENADO FEDERAL, 1914, p. 86).

As expressões de ética e de moral nos remetem à ideia de costumes. Em cada cultura, a articulação desses costumes foi se adaptando ao meio. A palavra ética surge do grego ethos, que significa hábitos, costumes, condutas, enquanto que a palavra moral surge do latim moralis, que também significa hábitos, costumes, condutas. Em outras palavras, a ética e a moral se definem como um conjunto de costumes de uma determinada sociedade e que são considerados valores e obrigações a serem seguidos pelos seus membros.

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96 UNIDADE 2TÓPICO 3

FILOSOFIA

De modo geral, é comum as pessoas usarem o conceito de ética e moral como sendo sinônimos ou, quando muito, a ética é definida como o conjunto de práticas morais. Mas existem alguns aspectos que precisam ser diferenciados, para uma melhor compreensão do que é ética e do que é moral.

A ética aponta para aspectos gerais, faz referência ao campo da teoria e da ciência que estabelecem os principais princípios que servem de referência para a análise do comportamento moral. Enquanto que a moral refere-se mais ao modo de comportar-se segundo os costumes de um grupo social a que pertence; diz respeito a um universo mais restrito e eminentemente prático. É indiscutível que há uma ligação entre ética e moral, porém não podemos simplesmente confundi-las ou inverter sua posição. Neste sentido, conhecer alguns pontos fundamentais sobre a ética não é apenas uma questão acadêmica ou restrita a alguns momentos em que a sociedade discute o tema mais acaloradamente, mas é também uma necessidade para a convivência social e a realização humana.

Ética envolve muita discussão e debate. Por isso, este tópico tem como objetivo entender o tema da ética e relacionar com a vida pessoal e profissional. Serão apresentadas, de forma sintética, as principais concepções de ética que se formaram ao longo da história do pensamento ocidental, as semelhanças e diferenças entre a ética e a lei e, por fim, será dado um destaque para a questão da ética profissional.

2 CONCEPÇÕES DE ÉTICA QUE MARCARAM A HISTÓRIA DA FILOSOFIA NA SOCIEDADE OCIDENTAL

Muitas foram as concepções de ética que se formaram ao longo da história da humanidade e que exercem grandes influências em nossos pensamentos sobre o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim.

Por isso, passamos a apresentar, de maneira resumida, algumas concepções de ética que marcaram a discussão ao longo do tempo. Estas concepções não devem ser entendidas como um conjunto fixo e irredutível de prescrições, mas dentro do seu contexto histórico. Ou seja,

ATENÇÃO!

Ao apresentarmos cada uma das concepções de ética, fazemos também uma crítica como forma de evidenciar o debate e instigar a discussão sobre o assunto. Leia com muita atenção cada uma das concepções de Ética.

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97UNIDADE 2 TÓPICO 3

FILOSOFIA

2.1 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO SOCRÁTICA

2.2 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA

Foi com os primeiros filósofos gregos, principalmente com Sócrates, que teve início a filosofia moral. Para Sócrates, a moral parte do princípio de que a felicidade humana é resultado de uma vida virtuosa, ou seja, de que a felicidade é a própria perfeição ética.

Para Sócrates, o bem consiste no proveito de todos. O homem, agindo pelo interesse comum, ganha também a própria felicidade, que reside precisamente na consciência do agir de acordo com a justiça, no domínio de si mesmo e dos próprios impulsos. Para Sócrates, é “virtuoso quem é sábio e pratica o bem; ao contrário, quem não conhece o bem e não o pratica é infeliz. Aqueles que praticam o mal fazem-no por ignorância. Portanto, a origem de todos os males está na ignorância”. (SCIACCA, 1995, p. 79, grifo nosso).

Sócrates indagava as pessoas com a ironia da maiêutica, isto é, ele indagava as pessoas acerca dos valores morais e éticos e os confrontava com depoimentos pessoais, baseados na conduta individual de cada um e analisava os valores, se eram condizentes com os valores de cada um ou não.

A crítica que se faz à concepção grega de ética, principalmente a visão socrática, diz respeito à dificuldade de encontrarmos o que é certo e o que é errado apenas pelo caminho do conhecimento. Será que a virtude é resultado da quantidade de conhecimento que as pessoas têm? As pessoas que não possuem determinado tipo de conhecimento podem ser consideradas pessoas antiéticas? Será que todos os males estão na ignorância?

Os gregos desenvolveram outras formas de compreender a ética. Para Aristóteles a Ética está vinculada à vida prática. Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles trata da Ética como a vida boa que todo ser humano deseja; a busca da felicidade.

Somos potencialmente bons e maus e temos a possibilidade de escolher racionalmente o que queremos seguir. Aqui entra em cena a teoria aristotélica do meio-termo, que expressa a ideia de equilíbrio entre dois opostos. Por exemplo: coragem é uma virtude, sendo os opostos a covardia (ausência de coragem) e a temeridade (excesso de coragem). A coragem, neste nosso exemplo, é o meio-termo entre a covardia e a temeridade. Conseguir esse equilíbrio (meio-termo) é que Aristóteles chama virtude, apresentada como um componente essencial da felicidade.

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FILOSOFIA

A virtude não é uma atividade adversa da felicidade, mas um hábito ou uma maneira habitual de ser. É neste sentido que, na Ética a Nicômaco, Aristóteles (2003, p. 40) afirma que:

toda virtude é gerada e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios, do mesmo modo como acontece com toda a arte: tocando a lira é que se formam os bons e os maus músicos. Isso se aplica rigorosamente aos arquitetos e a todos os demais; construindo bem, tornam-se bons arquitetos; construindo mal, maus.

Portanto, a virtude é resultado de nossa relação com as outras pessoas. Ou seja, nos tornamos justos ou injustos pela qualidade dos nossos atos.

Uma das críticas que se pode fazer à ética aristotélica é quanto aos critérios utilizados para a escolha do que é certo ou do que é errado. Cada um pode justificar a sua situação conforme lhe convém.

DICAS!

Caro(a) acadêmico(a), se você quiser aprofundar os estudos referentes à Ética Grega, sugerimos que leia o livro “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles, no qual são apresentadas as bases do pensamento humano a respeito da Ética.

2.3 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO CRISTÃ

Na Idade Média, o cristianismo exerceu um domínio muito forte sobre a vida das pessoas e, consequentemente, influenciou na maneira de se organizar e na maneira de se relacionar. O relacionamento, nesta época, não estava ligado diretamente à questão político-social, mas ao comportamento individual com Deus.

Duas concepções de ética na Idade Média diferenciavam o cristianismo da tradição antiga: a primeira diferença estava na ideia de que a virtude se define na nossa relação com Deus e não com a sociedade e nem com os outros. Portanto, a nossa relação com os outros depende da qualidade de nossa relação com Deus. Por esse motivo que a fé e a caridade eram as duas virtudes cristãs indispensáveis para um bom relacionamento com Deus. A segunda diferença é a de que somos dotados do livre-arbítrio e que o primeiro impulso de nossa liberdade é dirigirmo-nos para o mal e para o pecado. Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem e o mal. Para os filósofos antigos, o homem é capaz de dominar e controlar as vontades

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99UNIDADE 2 TÓPICO 3

FILOSOFIA

2.4 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO KANTIANA

para o mal, utilizando as faculdades racionais que nos tornam éticos, enquanto que para o cristianismo a própria vontade está pervertida pelo pecado, e precisamos do auxílio divino para termos uma atitude moral. (CHAUÍ, 1997).

O cristianismo considera que o ser humano é incapaz de realizar o bem e as virtudes. Como consequência desta concepção, introduz-se uma nova ideia na moral: a ideia do dever. O dever é o que faz um sentimento ser moral. Deus, com suas vontades e leis, promete a salvação em troca do dever do cumprimento moral ou o castigo diante da desobediência.

A crítica que se faz à concepção cristã de ética está no fato de que o ser humano não pode, por si só, encontrar o que é certo e o que é errado, necessita do auxílio divino para praticar o bem. A questão que se coloca é: os homens têm a capacidade de distinguir, por si sós, o verdadeiro do falso? Somos seres dotados de liberdade ou somos apenas fantoches comandados por um ser superior?

NOTA! �Para facilitar a compreensão deste tópico, pesquisamos algumas palavras-chave que aparecem ao longo do texto e o seu significado.

Virtude: do latim: virtus, qualidade que constitui o valor do homem moral e físico, mérito essencial, virtude. É a disposição habitual para fazer o bem, para realizar um ato moral.

Dever: é a obrigação de cumprir com um compromisso assumido ou de agir de acordo com os princípios preestabelecidos.

Livre-arbítrio: do latim: liberum arbitrium, poder de escolher.

Lei: acordos de caráter obrigatório, estabelecidos entre pessoas de um grupo, para garantir justiça mínima, ou direitos mínimos de ser.

Para a sociedade moderna, a ética adquire novos significados. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento de novas teorias sobre o universo, a ciência passa a influenciar mais diretamente a vida das pessoas, possibilitando uma compreensão diferenciada das coisas. Mas é com Imanuel Kant que a ética dos tempos modernos adquire uma característica mais individualista, influenciada pela razão humana e pelo espírito capitalista.

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FILOSOFIA

Desenvolve-se uma teoria ética inteiramente subordinada à razão, em que o homem é sujeito de seu processo cognitivo e de suas atitudes éticas. Contrariando a visão cristã sobre a questão ética, Kant diz que não existe bondade natural, mas somos por natureza egoístas, ambiciosos, cruéis, agressivos e que, devido a estas atitudes, somos capazes de matar, roubar, mentir. É justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.

A teoria do dever ético, defendida por Kant, propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais. Um exemplo seria o dever de cumprir com um compromisso assumido. Ao assumir um compromisso, devemos agir de acordo com os princípios universais preestabelecidos. O contrato é a lei entre as partes.

Kant propôs que os conceitos éticos sejam alcançados através da aplicação de alguns princípios ou regras, a saber: qualquer conduta aceita como padrão ético deve valer para todos os que se encontrem na mesma situação, sem exceções; só se deve exigir dos outros o que exigimos de nós mesmos; devemos agir de alguma forma que a causa que nos levou a agir possa ser transformada em lei universal. (CHAUÍ, 1997).

Estes princípios ou regras não estabelecem um conteúdo particular de uma ação, mas determinam uma forma geral de ações morais. Fica claro que o dever nasce da vontade de querer o bem e é sempre fundamentado em princípios ou leis que são universais.

A crítica que se pode fazer a esta concepção fundamenta-se na dificuldade de alcançar um consenso entre os indivíduos sobre o que é certo e o que é errado. Que princípios universais podem ser válidos para todos?

2.5 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO MARXISTA

Um dos maiores pensadores do mundo moderno, Karl Marx, autor do conceito de materialismo histórico, afirmou que as transformações sociais são produzidas pela luta de classes. Estudou profundamente economia e explicou o desenvolvimento da história da cultura através dos mecanismos materiais de produção e distribuição de mercadorias, tentando simultaneamente basear nesse conhecimento uma prática política que levasse à construção de uma sociedade sem classes.

Segundo ele, numa sociedade onde vivem exploradores e explorados, é a moral da classe dominante que predomina. Os valores, como liberdade, racionalidade e felicidade, são hipócritas, porque são irrealizáveis numa sociedade fundada na divisão do trabalho.

Desta forma, falar em moral universal, ou racionalismo humano, é completamente falso, é camuflar os interesses antagônicos das classes para manter a dominação de uma sobre a

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101UNIDADE 2 TÓPICO 3

FILOSOFIA

2.6 A ÉTICA NA CONCEPÇÃO RELATIVISTA

outra. Somente poderá existir uma moral verdadeira quando vivermos numa sociedade sem Estado e sem propriedade privada.

A crítica a essa concepção está na dificuldade de compreender como seria esta sociedade sem Estado e sem propriedade privada. Como a individualidade seria respeitada? A sociedade se autorregularia? Como as pessoas alcançariam a realização autêntica da ética? Se não existissem classes sociais, haveria uma ética ou uma moral verdadeira entre as pessoas?

Um dos grandes dilemas da sociedade moderna é: há ou não valores morais válidos para todos? O que é válido para mim pode ser válido para o outro? O que é certo e o que é errado numa sociedade onde impera uma multiplicidade de valores e normas morais? Diante destas indagações, alguns pensadores defendem uma concepção relativista de ética, afirmando que cada pessoa deve definir o que é certo e o que é errado, sobre o que é ético ou não, tendo como referências as suas próprias convicções.

Neste sentido, Cotrim (2002, p. 290) afirma que:

Para o relativista ético, a consciência moral dos homens é formada pelo con-junto de princípios e valores herdados de cada cultura. Assim, o conteúdo da consciência moral varia no tempo e no espaço. O que é virtude para um pacifista moderno pode não ter sido para um guerreiro huno. E mesmo dentro de um grupo cultural com certa homogeneidade – os cristãos, por exemplo –, a consciência muda de época para época. A Igreja medieval julgava moral-mente correto queimar um homem vivo na fogueira por ele ter cometido atos que hoje, obviamente, não mereceriam do cristianismo essa mesma brutal condenação.

Compreender a ética numa concepção relativista é admitir que ela é dinâmica e que sua validade depende da subjetividade de cada pessoa e do ambiente cultural em que ela se encontra. “A virtude estaria na ‘tolerância’, no respeito pelos diferentes sistemas morais que, entre si, admitam conviver pacificamente”. (COTRIM, 2002, p. 281). Ser imoral, nesta circunstância, é ser intolerante e não admitir a existência de outras formas de moralidade.

A principal crítica a esta concepção está na mudança das regras morais de certos grupos sociais. Assim, um grupo de criminosos que possuíssem uma moral própria teria as suas ações legitimadas do ponto de vista ético. Esta concepção poderia ser utilizada para legitimar uma situação que seria incompatível com o restante da sociedade. (MOREIRA, 1999. p. 23). Além disso, os conflitos básicos entre os valores não podem ser resolvidos racionalmente, visto que não se pode determinar algo que seja válido para todos.

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FILOSOFIA

Diante destas várias concepções de ética, que poderão ser objeto de debate, aprimoramento, alteração ou refutação por parte das pessoas, pode-se concluir que não há uma verdade absoluta em matéria de ética. Em cada período histórico e em cada espaço geográfico predominou uma forma de compreender o comportamento humano, com suas peculiaridades e com uma visão de mundo diferenciada.

Você pôde perceber que a ética teve diferentes compreensões ao longo da história do pensamento. Procure sintetizar cada uma das concepções de ética apresentando as principais ideias e qual a principal crítica que se pode fazer.

Concepção socrática. Concepção aristotélica.

Concepção cristã.

Concepção kantiana.

Concepção marxista.

Concepção relativista.

3 A ÉTICA E A LEI

Tanto a ética quanto a lei apresentam semelhanças e diferenças entre si. Como já foi mencionado no início deste tópico, a ética faz referências à conduta humana na sociedade, sob a ótica do bem e do mal, determinada pelo costume. Segundo Santos (1997, p. 12), a ética faz referência a um “conjunto de hábitos e costumes, efetivamente vivenciados por um grupo humano”, enquanto que a lei faz referências a “acordos de caráter obrigatório, estabelecidos entre pessoas de um grupo, para garantir justiça mínima, ou direitos mínimos de ser”. Assim, podemos identificar algumas semelhanças e algumas diferenças entre a ética e a lei.

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FILOSOFIA

4 ÉTICA PROFISSIONAL

As principais semelhanças entre a ética e a lei são: ambas apresentam-se como normas que devem ser seguidas por todos; ambas procuram propor uma melhor convivência entre os indivíduos; ambas resultam de um caráter histórico e social que se orienta por valores próprios de uma determinada sociedade. No entanto, as principais diferenças entre a ética e a lei são: a ética se caracteriza por ser mais informal, enquanto que a lei se apresenta como um instrumento formal, escrito e promulgado; a ética poderá assumir uma variação no âmbito de um mesmo grupo, enquanto que a lei apresenta-se como sendo única para um determinado grupo; o não cumprimento de uma norma ética poderá provocar uma rejeição do grupo ou um isolamento do transgressor, enquanto que o não cumprimento de uma lei ou a sua desobediência gera uma penalidade ao transgressor; o âmbito de abrangência da ética é maior, atingindo vários aspectos da vida humana, enquanto que a lei se restringe a questões específicas de condutas sociais; a ética se caracteriza mais pela liberdade dos indivíduos, enquanto que a lei é imposta para o cumprimento obrigatório de todos os indivíduos do grupo. (COTRIM, 2002).

Sintetizando as principais diferenças e semelhanças entre a ética e a lei, podemos afirmar que há comportamentos que podem ser considerados éticos e legais. Outros comportamentos podem ser considerados éticos, mas ilegais perante o direito. Outros são legais, mas antiéticos perante a sociedade. A ilustração a seguir quer representar um pouco esta situação.

Enfim, a ética quer significar “[...] tudo aquilo [...] que ajuda a tornar melhor o ambiente, para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda”. (BOFF, 1997, p. 90). Isto quer dizer que a ética faz referência a tudo aquilo que ajuda a tornar o ambiente mais agradável, o planeta sustentável e a sociedade mais humana.

Pode-se entender a ética profissional como o estudo dos valores pertencentes ao exercício de uma profissão e que emanam nas relações que se estabelecem entre o profissional e a sociedade.

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Segundo Camargo (1999, p. 31-32), a ética profissional é “a aplicação da ética geral no campo das atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos princípios ou valores do ser humano para vivê-los nas suas atividades de trabalho”. Isto revela que o profissional necessita ter consciência e responsabilidade no exercício de sua profissão.

Neste sentido vale refletir sobre as afirmações de Antônio Lopes de Sá (1996 apud CAMARGO, 1999, p. 32), que diz: “Cada conjunto de profissionais deve seguir uma ordem de conduta que permita a evolução harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza à regulação do individualismo perante o coletivo”.

Não estamos falando de uma ética geral, mas sim de uma deontologia, isto é, da ética profissional, que é uma série de virtudes e atitudes que os profissionais devem possuir no exercício de sua profissão. Além do mais, regula a relação entre o profissional e o cliente com base no bem-estar e na dignidade.

Em algumas das profissões, tais como médicos, advogados, contadores, engenheiros, entre outros, já possuem um código de ética que regulamenta o relacionamento entre o profissional e os clientes e entre a classe de profissionais.

Sobre os códigos de ética profissional, Marculino Camargo faz a seguinte reflexão e que vale a pena apresentar. (CAMARGO, 1999, p. 33-34):

Em primeiro lugar, pois eles estruturam e sistematizam as exigências éticas no tríplice plano de orientação, disciplina e fiscalização.

Em segundo lugar, estabelecem parâmetros variáveis e relativos que demarcam o piso e o teto dentro dos quais a conduta pode ou deve ser considerada regular sob o ângulo ético.

Dado que qualquer profissão visa interesses de outras pessoas ou clientes, os códigos visam também os interesses destes, amparando seu relacionamento com o profissional.

Os códigos, porém, não esgotam o conteúdo e as exigências de uma conduta ética de vida e nem sempre expressam a forma mais adequada de agir numa circunstância particular.

Os códigos sempre são definidos, revistos e promulgados a partir da realidade social de cada época e de cada país; suas linhas-mestras, porém, são deduzidas de princípios perenes e universais.

Os códigos referem-se a atos praticados no exercício da profissão, a não ser que outros atos também tenham um reflexo nesta; por ex.: se um administrador vem bêbado

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FILOSOFIA

para a empresa.

Finalmente, os códigos de ética, por si, não tornam melhores os profissionais, mas representam uma luz e uma pista para seu comportamento; mais do que ater-se àquilo que é prescrito literalmente, é necessário compreender e viver a razão básica das determinações. (grifo nosso).

Ao estabelecer um Código de ética para uma classe, cada indivíduo passa a ter que cumprir com seus direitos e deveres, sob pena de ser julgado pelos atos de infração que vier a cometer.

Em síntese, os principais tópicos que os códigos de ética abordam são os conflitos de interesse, conduta ilegal, honestidade nas comunicações dos negócios da empresa, denúncias, suborno, propriedade de informação, contratos governamentais, assédio profissional, assédio sexual, uso de drogas e álcool. (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2007).

Para finalizar esta seção apresentamos as virtudes profissionais que devem fazer parte de todo trabalhador, independente da classe profissional que ocupa.

5 VIRTUDES PROFISSIONAIS

Em artigo publicado na revista Exame, em 2000, o consultor dinamarquês Clauss Moller (apud RAMOS, 2004) faz uma apresentação das principais virtudes profissionais que devem fazer parte da sua formação e do seu trabalho. Leia com muita atenção este texto e, depois, realize a autoatividade proposta no final deste tópico.

a) ResponsabilidadeO senso de responsabilidade é o elemento fundamental da empregabilidade. Sem

responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade, nem espírito de iniciativa [...].

Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses da equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização.

As pessoas que optam por não assumir responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em suas vidas. Seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de outras pessoas – chefes e pares [...]. Pessoas desse tipo jamais serão boas integrantes de equipes.

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106 UNIDADE 2TÓPICO 3

FILOSOFIA

b) LealdadeA lealdade é o segundo dos três principais elementos que compõem a

empregabilidade.

Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu departamento é bem-sucedido, defende a organização, tomando medidas concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho de fazer parte da organização, fala positivamente sobre ela e a defende contra críticas.

Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade significa fazer sugestões, mudanças, mantendo-as dentro do âmbito da organização. Significa agir com a convicção de que seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização.

c) IniciativaTomar a iniciativa de fazer algo no interesse da organização significa, ao mesmo tempo,

demonstrar lealdade pela organização. Em um contexto de empregabilidade, tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um projeto no interesse da organização ou da equipe, mas, também, assumir responsabilidade por sua complementação e implementação.

d) HonestidadeA honestidade está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a

responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos.

A honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

e) SigiloO respeito aos segredos das pessoas, dos negócios, das empresas, deve ser

desenvolvido na formação de futuros profissionais, pois se trata de algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.

f) CompetênciaCompetência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício do conhecimento de forma

adequada e persistente a um trabalho ou profissão. Devemos buscá-la sempre. “A função de um citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem”. (ARISTÓTELES, 2003, p. 27).

É de extrema importância a busca da competência profissional em qualquer área de atuação. Recursos humanos devem ser incentivados a buscar sua competência e maestria através do aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos.

g) PrudênciaTodo trabalho, para ser executado, exige muita segurança. A prudência, fazendo com

que o profissional analise situações complexas e difíceis com mais facilidade e de forma mais

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107UNIDADE 2 TÓPICO 3

FILOSOFIA

profunda e minuciosa, contribui para a maior segurança, principalmente das decisões a serem tomadas. A prudência é indispensável nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis.

h) CoragemTodo profissional precisa ter coragem, pois “o homem que evita e teme a tudo, não

enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde”. (ARISTÓTELES, 2003, p. 42). A coragem nos ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos defender dignamente quando estamos cônscios de nosso dever. Ajuda-nos a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum.

i) PerseverançaQualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo trabalho está sujeito

a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas. É louvável a perseverança dos profissionais que precisam enfrentar os problemas do subdesenvolvimento.

j) CompreensãoQualidade que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito pelos que dele

dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no relacionamento profissional.

k) HumildadeRepresenta a autoanálise que todo profissional deve praticar em função de sua atividade

profissional, a fim de reconhecer melhor suas limitações, buscando a colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta necessidade; dispor-se a aprender coisas novas, numa busca constante de aperfeiçoamento.

l) ImparcialidadeÉ uma qualidade tão importante que assume as características do dever, pois se destina

a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos (em nossa época dinheiro, técnica, sexo...), a defender os verdadeiros valores sociais e éticos, assumindo principalmente uma posição justa nas situações que terá que enfrentar.

m) OtimismoEm face das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa e deve

ser otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder do desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia e bom humor.

As virtudes são parte central da ética profissional, porque elas são meios para conquistar um fim ético nas atividades profissionais, caracterizando um bom profissional. Em outras palavras, as virtudes são qualidades adquiridas pelas pessoas e necessárias em qualquer profissão.

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108 UNIDADE 2TÓPICO 3

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

•A palavra Ética surge do grego ethos, que significa hábitos, costumes, enquanto que a moral surge do latim moralis, que também significa hábitos, costumes, condutas.

•A ética aponta para os aspectos mais teóricos, enquanto a moral é mais prática.

•Para Sócrates, é virtuoso quem é sábio e pratica o bem, do contrário, quem não conhece o bem e não o pratica é infeliz. Aqueles que praticam o mal o fazem por ignorância.

•Para Aristóteles, ética refere-se à busca da felicidade e conseguir um equilíbrio (meio-termo) entre duas ideias opostas. A virtude é um componente essencial da felicidade.

•Para a concepção cristã, a nossa virtude se define na relação com Deus e não com a sociedade.

•Para a concepção kantiana, a ética se define a partir de princípios universais aplicáveis a todos, sem exceções.

•Para Marx, numa sociedade na qual vivem exploradores e explorados, é a moral da classe dominante que predomina. Somente poderá existir uma moral verdadeira quando vivermos numa sociedade sem classes.

•Para a concepção relativista, cada pessoa deve definir o que é certo e o que é errado, tendo como referências as suas próprias convicções.

•A Lei faz referências a acordos de caráter obrigatório, estabelecidos entre as pessoas.

•Os códigos de ética estruturam e sistematizam as exigências éticas no campo profissional, estabelecem parâmetros de relacionamento no exercício da profissão e representam uma luz e uma pista para seu comportamento.

•As principais virtudes profissionais são: responsabilidade, lealdade, iniciativa, honestidade, sigilo, competência, prudência, coragem, perseverança, compreensão, humildade, imparcialidade, otimismo.

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109UNIDADE 2 TÓPICO 3

FILOSOFIA

As questões que seguem são uma espécie de roteiro para que você possa identificar as principais ideias referentes à Ética e à Lei, bem como as principais virtudes profissionais. Ao respondê-las, você estará sintetizando e compreendendo as ideias apresentadas. Bons estudos!

1 Quais as principais semelhanças e diferenças entre a Ética e a Lei?

2 Apresente as principais finalidades do código de ética profissional.

3 De acordo com o texto Virtudes Profissionais, procure conceituar cada uma das palavras que caracterizam a ética na vida profissional.

a) Responsabilidadeb) Lealdadec) Iniciativad) Honestidadee) Sigilof) Competênciag) Prudênciah) Coragemi) Perseverançaj) Compreensãok) Humildadel) Imparcialidadem) Otimismo

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110 UNIDADE 2TÓPICO 3

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

ESTÉTICA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE A ARTE

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 4

UNIDADE 2

Quem já não ouviu alguma destas expressões: esta pessoa tem a arte de escrever; a vida é uma arte; ele tem a arte de pensar; a arte imita a vida etc.? A expressão ‘arte’ significa, neste caso, uma virtude ou uma habilidade para fazer ou produzir algo. Nota-se, nestas expressões, uma capacidade própria que envolve o indivíduo no seu fazer prático, nas suas ações com o mundo.

Se abrirmos um livro de história, vamos encontrar expressões que também nos remetem à questão da arte, como, por exemplo: a Arte Grega, a Arte Romana, a Arte Barroca, a Semana de Arte Moderna no Brasil etc. Estas expressões, presentes na história, definem um sentido de arte que predominou numa determinada época. A arte, neste caso, é entendida em seu sentido estético, que é a expressão do belo, do lindo, do maravilhoso.

Estes dois significados de arte não são totalmente independentes um do outro. Na primeira situação, a arte está mais ligada à ideia de fazer e de produzir algo, enquanto que na segunda situação, a arte expressa algo que pode ser apreciado ou admirado pela sua beleza ou pela sua forma, ou seja, há uma certa dependência entre o fazer e a expressão estética de algo numa determinada época ou momento histórico.

É a partir do segundo significado, do lindo, do belo e do maravilhoso, que a arte passa a ser objeto de estudo da filosofia, tornando-se conhecida como a filosofia da arte. Este tópico apresenta o conceito e os dilemas de compreensão da estética.

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112 UNIDADE 2TÓPICO 4

FILOSOFIA

IMPORTANTE! �Segundo Almeida (2003), a “estética começou por ser sobretudo uma TEORIA DO BELO, depois passou a ser entendida como TEORIA DO GOSTO e, nos nossos dias, é predominantemente identificada com a FILOSOFIA DA ARTE”.

2 O QUE É ESTÉTICA?

Iniciamos nossa discussão sobre estética apresentando a você um breve texto de Carlos Henrique Cypriano que retrata a manifestação humana sobre a compreensão do belo.

Desde a antiguidade nas cavernas que o ser humano se expressa com a arte, fazendo pinturas por toda a parte, cantando e dançando, estudando o avanço das artes modernas, apreciando o que é belo de se ver. Vemos que a arte é parte do ser que é racional e tem subjetividade. Enquanto existir humanidade o fenômeno estético não irá morrer. (apud GALLO, 1997, p. 92).

A partir desta citação é possível perceber que o homem, desde a antiguidade, expressa seus sentimentos de beleza utilizando diferentes formas de manifestação, como, por exemplo: pintando, cantando, dançando, estudando e apreciando o que é belo. Atualmente a palavra estética é cotidianamente utilizada como adjetivo nos salões de beleza, nas cirurgias plásticas, em expressões como: “salão de estética”, “estética facial” etc. Essas frases querem exprimir a beleza física, desde o cuidado com o cabelo até a forma física do corpo como um todo.

Mas, o que é estética?

A palavra estética tem sua origem do grego aisthesis, que significa a “faculdade de sentir”, a “compreensão pelos sentidos”. Foi utilizada pela primeira vez pelo alemão Baumgarten, por volta de 1750, e referia-se ao estudo do belo nas obras de arte enquanto criação da sensibilidade humana. Mais tarde passou a designar toda a busca filosófica que tenha por objeto a compreensão da arte em seus mais variados aspectos. Neste mesmo sentido, Aranha e Martins (2002, p. 216) definem a estética como “um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionalmente ligadas à arte, como o belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artísticas”.

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113UNIDADE 2 TÓPICO 4

FILOSOFIA

3 OS DILEMAS DA ESTÉTICA: O BELO E O FEIO

3.1 O DILEMA DA COMPREENSÃO DO BELO

“Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Esta expressão popular significa que não há uma única forma de analisar o que é o feio e o que é o bonito. Tratadas como objeto de estudo da filosofia, essas expressões, o feio e o bonito, proporcionaram a formulação de inúmeras ideias a seu respeito. A título de exemplo, Nielson Neto (1985, p. 280) apresenta a seguinte situação:

Para uns uma flor de plástico, pano, papel é uma beleza; é lindo de morrer, com o que não concorda muita gente. Muitos acham uma fofura uma tela bordada com fios de lã. Outros rirão dessa manifestação de uma sensibilidade particular. Seria, hoje, belo um casal trajado à Belle Époque? Ele de fraque, cartola, luvas, bengala e polaina e ela de vestido comprido, cheio de fitas, rendados, chapéu envolto em tule?

Para muitos, discutir o belo e o feio é uma tarefa inútil, pois cada um vê o mundo da sua maneira, influenciado pela cultura e educação, que é diferente de pessoa para pessoa. Mas, as questões que se colocam são: O belo está no objeto em si ou é uma representação do sujeito? O que é belo? O que é o feio?

Muitas discussões já se formaram sobre o que é o belo. A principal delas diz respeito ao seguinte dilema: o belo é uma manifestação do objeto “em si” ou uma representação subjetiva de quem o observa? A questão está em afirmar se o belo é uma manifestação objetiva, própria do objeto ou uma manifestação subjetiva, própria de cada indivíduo.

Num primeiro sentido, o belo, como manifestação do objeto, esteve muito presente no início da filosofia, principalmente com Platão e Aristóteles. O belo era entendido como algo que independe da vontade do sujeito. Diante disto, Tomelin e Tomelin (2004, p. 166) fazem a seguinte reflexão sobre o belo:

As qualidades do objeto é que o tornam belo, independente do significado dado pelo sujeito. O sujeito percebe o belo que o agrada. O prazer estético é dado pelo objeto e não pela representação do sujeito. A ideia de belo que temos é verdadeira na medida que representa adequadamente a ideia de belo no objeto.

Esta concepção de beleza expressa que há uma essência própria para o que é belo e que existe independentemente da minha vontade. Isto significa que o belo existe sempre em

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114 UNIDADE 2TÓPICO 4

FILOSOFIA

um determinado objeto e lhe é inseparável. É visto como uma propriedade do próprio objeto. Assim, somos obrigados a admitir que o belo existe em si, cabendo a nós nos aproximarmos desse ideal universal de belo.

Num segundo sentido, o belo, como manifestação subjetiva, representa uma concepção mais moderna que se expressa de forma diferente em cada indivíduo, tendo influência da cultura e da educação recebida. Tomelin e Tomelin (2004, p. 167) fazem a seguinte reflexão sobre a manifestação subjetiva do belo:

Para os empiristas, o critério de beleza está no gosto de cada um. Em cada tempo, para cada coisa, são criados padrões e critérios de verificação que vão definir o gosto das pessoas. Como exemplo disto temos o bronzeado da pele. Na Idade Média, pele branca era sinônimo de pessoa recatada, privilegiada por não ter que trabalhar e se expor ao sol. Com a industrialização, as pessoas ficam abrigadas nos grandes galpões de trabalho e pele clara passa a ser sinô-nimo de quem não tem tempo para se expor ao sol. Atualmente, ainda vigora o bronzeamento como critério de beleza. É possível que o aumento do buraco na camada de ozônio e a maior intensidade de raios ultravioleta tornem o câncer de pele uma epidemia, o que pode remodelar o critério de pele bonita.

Esta concepção de belo representa o pensamento contemporâneo. Está baseada numa ideia de valor, cuja beleza não é uma propriedade das coisas ou realidade em si mesma, mas algo que a sociedade ou o indivíduo determina como belo. Caracteriza-se como uma representação social ou como uma representação individual da beleza.

Entender o belo apenas como pura manifestação do objeto ou como pura representação do sujeito não é uma questão fácil de definir. Atualmente, procura-se integrar estas duas visões e analisar a beleza a partir de uma visão fenomenológica, onde o belo “é tudo aquilo que desperta no ser humano uma emoção”. (NIELSON NETO, 1985, p. 281). Isto significa que tanto os objetos quanto os sujeitos são os formadores do conceito de belo.

3.2 O QUE É O FEIO?

Na maioria das vezes, os pensadores acreditam que o Feio e o Bonito, apesar de serem opostos, não podem ser compreendidos separadamente, estão intimamente ligados. Numa compreensão dialética, o belo só é possível porque existe o feio. Não há nada que possa ser entendido sem o seu contrário. Neste caso, só podemos entender o feio se for comparado com o seu oposto e vice-versa.

Observamos que o belo e o feio ocupam os extremos e significam o oposto. O belo é visto como aquilo que satisfaz o nosso gosto, como aquilo que está adequado com a forma; enquanto o feio, como aquilo que causa insatisfação, aquilo que se manifesta como inadequado entre o conteúdo e a forma. Neste caso, “[...] só haverá obras feias se forem malfeitas, isto é,

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115UNIDADE 2 TÓPICO 4

FILOSOFIA

se não corresponderem plenamente à sua proposta”. (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 218).

Na sociedade, o feio é visto como um contravalor, algo que vai contra os princípios estabelecidos pela sociedade. Como exemplo, podemos explorar as relações cotidianas. Quando alguém faz alguma coisa ruim, costuma-se dizer: “Que feio!” Mas se alguém age de maneira honesta, ética, correta, costuma-se dizer: “Bonito”, “gostei”.

Em síntese, o belo pode ser entendido como aquilo que satisfaz a nossa sensibilidade, que está de “[...] acordo com a autenticidade da sua proposta e com sua capacidade de falar ao sentimento” (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 217), enquanto que o feio pode ser considerado algo malfeito, algo que nos desagrada.

NOTA! �Alguns dos significados das palavras-chave que aparecem neste tópico:

Arte: prática de criar formas, perceptíveis, expressivas do sentimento humano (LANGER,[1992 ?], p. 82).

Em si: aquilo que não depende do modo como as pessoas veem nem como sentem o mundo.

Empirismo: pensamento filosófico que afirma ser toda a verdade derivada da experiência.

Estética: é um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionalmente ligadas à arte, como o belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artísticas.

Filosofia da arte: reflexão filosófica sobre os diversos aspectos histórico-culturais presentes nas manifestações artísticas.

DICAS!

O filme O carteiro e o Poeta retrata o processo de educação estética entre o poeta chileno Pablo Neruda, numa ilha italiana, e o carteiro contratado para cuidar de suas correspondências. Assista ao filme e procure relacioná-lo à ideia de arte, estudada neste tópico.

O CARTEIRO E O POETA. Direção de Michael Radford. Itália: Miramax Films, 1994, 1 DVD (109 min), color.

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116 UNIDADE 2TÓPICO 4

FILOSOFIA

Neste tópico você viu que:

•A estética é um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionalmente ligadas à arte, como o belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artística.

•Os dilemas da estética: o belo como manifestação pura do objeto ou como representação subjetiva do sujeito.

•O belo pode ser entendido como aquilo que satisfaz a nossa sensibilidade, enquanto que o feio pode ser considerado algo mal feito, algo que nos desagrada.

•O trabalho do artista envolve a criação, a descoberta de uma combinação de elementos, enquanto que o artesão confecciona algo a partir do conhecimento técnico.

RESUMO DO TÓPICO 4

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117UNIDADE 2 TÓPICO 4

FILOSOFIA

A partir das leituras feitas sobre os dilemas da estética, procure interpretar esta obra de arte de Leonardo da Vinci, adotando estas duas concepções de compreensão do belo:a) O belo como manifestação pura do objeto.b) O belo como representação subjetiva do sujeito.

FONtE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6a/Mona_Lisa.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2005.

FIGURA 9 – MONALISA (entre 1503 a 1507) DE LEONARDO DA VINCI

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118 UNIDADE 2TÓPICO 4

FILOSOFIA

Essa atividade

vale nota.

AVALIAÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da Unidade 2, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.

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FILOSOFIA

UNIDADE 3

TEMAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA

OBJETIVOS DE APRENDIzAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

compreender o trabalho como ação prática na realidade social, na busca da realização humana;

entender as diferentes concepções de política, reconhecendo-as como parte integrante de nossa vida em sociedade;

identificar os paradigmas que orientam a ciência e a educação;

refletir sobre as possibilidades de se educar ao pensar a partir dos conhecimentos filosóficos.

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está dividida em seis tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – O SER HUMANO: UM SER SOCIAL OU ASSOCIAL?

TÓPICO 2 – LIBERDADE: ESTÁ NO LIMITE OU NO VíNCULO?

TÓPICO 3 – IDEOLOGIA: COMO PODE O PODER DE POUCOS DETERMINAR A CONDIÇÃO DE MUITOS?

TÓPICO 4 – TRABALHO: ALIENAÇÃO OU HUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO?

TÓPICO 5 – AS FILOSOFIAS POLíTICAS

TÓPICO 6 – CIDADANIA E SOCIEDADE

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FILOSOFIA

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FILOSOFIA

UNI

O SER HUMANO: UM SERSOCIAL OU ASSOCIAL?

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 1

UNIDADE 3

Neste tópico apresenta-se um dos principais temas de estudo da Filosofia que refletem sobre o ser humano. São temas pertinentes às discussões sobre as relações humanas em suas mais variadas condições e que já foram objeto de estudo de pesquisadores de várias áreas profissionais.

“O homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente, em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor... o homem será, antes de mais nada, o que tiver projetado ser”. (SARTRE, 1978, p. 6).

Tratar sobre ser humano é primeiramente questionar-se: afinal, o que é o homem? Esta é uma das questões originárias da Filosofia e que impulsiona os filósofos a buscar sua definição. Na tentativa de responder a esta pergunta, a primeira coisa que nos vem à mente é a de que o homem é um ser racional. Mas, além de pensar, que outras dimensões possui o humano? Qual a sua condição de existência?

Existem definições de ser humano que se assentam em uma definição estática ou em uma essência imutável. Neste tópico apresentaremos o ser humano em suas condições existenciais, sem restringi-lo a uma única característica.

2 AS CONDIÇÕES DO SER HUMANO

As condições da existência humana estão relacionadas a diferentes circunstâncias. Não

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122 UNIDADE 3TÓPICO 1

FILOSOFIA

é uma única condição que dá conta de explicar a complexa existência do ser humano. Dentre as principais condições identificamos: a condição racional, a condição social, a condição mortal, a condição material, a condição espiritual, a condição comunicativa, a condição psíquica, a condição do trabalho, a condição de liberdade, a condição ética, a condição histórica, a condição biológica, a condição cultural e a condição lúdica.

A condição racional é destacada desde Aristóteles, que dizia: “O homem é um animal racional”. A condição racional permite ao homem refletir, emitir juízos, dominar e modificar a realidade, compreender a si mesmo, questionar, transcender os limites impostos pelo corpo, reproduzir e inovar o que já existe. Pela condição racional o homem se dá conta de sua condição mortal e sua finitude gera a certeza de uma condição intransponível: a de que é um ser para a morte.

A condição social é a realidade gregária. Promove a coexistência e a cooperação. Pode garantir o bem-estar individual e coletivo. Qualquer outra espécie, mesmo separada de seus pais e do seu grupo desde o nascimento, quando adulto mantém as características de sua espécie. O mesmo não acontece com o ser humano. Os exemplos de crianças que foram encontradas com lobos revelam que o ser humano não nasce pronto, ele se forma no convívio social. Esta condição demonstra que no decorrer do histórico desenvolvimento humano houve

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123UNIDADE 3 TÓPICO 1

FILOSOFIA

uma gradativa diminuição do determinismo instintivo; o que nos resta são apenas reflexos.

A condição mortal está ligada à condição racional que permite ao homem lançar-se para o futuro e assim constatar as possibilidades de sua existência e constatar seu final. Esta condição desperta no homem o sentimento de vulnerabilidade de sua condição material, anuncia sua brevidade existencial e cria nele uma condição espiritual.

Pela condição material, o ser humano está preso à sua corporeidade. O corpo é matéria viva e organizada pela interação com outras matérias. A condição material prende o ser humano a uma condição mundana e isto interfere sobre o que lhe é permitido ver e saber.

A condição espiritual é a condição de esperança. Para Erich Fromm (1975, p. 73), “se o homem abandonou toda esperança, ele cruzou os umbrais do inferno, quer saiba ou não, e deixou atrás de si toda a humanidade”. Constantemente as pessoas rezam, apostam ou ritualizam na esperança de um “depois” melhor.

A condição comunicativa está relacionada diretamente com a condição social. Permitiu e permite ao homem estabelecer uma relação de diálogo com os membros de seu grupo. Permitiu e permite a transmissão da cultura.

A condição psíquica do ser humano o constitui enquanto uma personalidade exclusiva, enquanto ser de necessidade de afeto e autoestima. Produz o sentimento de estar no mundo e de estar com os outros.

Pela condição do trabalho o ser humano torna-se um ser de ação consciente e com finalidade. Surge da necessidade de defesa, abrigo e sobrevivência. Pelo trabalho o homem se autoproduz, se distingue e intervém no curso da história. Como Homo faber o homem se tornou um fabricante de ferramentas e fabricante de si mesmo.

A condição de liberdade é o poder de escolha e decisão. Para Sartre, “o homem está condenado a ser livre”. A liberdade torna o ser humano responsável pelas suas escolhas e ações. A condição de liberdade é a condição para a condição cultural e ética.

A condição ética. Por meio da liberdade de escolha o ser humano é desafiado a estabelecer critérios, o que o torna um ser moral. Cria uma realidade normativa. A ética ilumina a consciência moral. Regula a vida dos indivíduos através de normas, leis e padrões.

A condição histórica. No percurso de sua existência o homem faz sua história e se torna um ser histórico. A existência do ser humano em um dado momento não ocorre isoladamente, está relacionada a uma condição histórica. As relações sociais, as relações de produção, as relações culturais sofrem interferências históricas. Somos herdeiros de nossa história.

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124 UNIDADE 3TÓPICO 1

FILOSOFIA

3 O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL OU ASSOCIAL?

É comum a afirmação de que o homem é um ser social, de relação com os outros e que não vive só. Porém, quando pensamos nas dificuldades geradas por essa convivência, que chegam muitas vezes a situações de violência e morte, nos questionamos se o homem não é um ser para a solidão.

Segundo Todorov (1996), existem dois discursos que tentam dar explicações da convivência ou não do homem em sociedade. O primeiro deles trata do homem enquanto ser solitário e associal. Cita os moralistas da época clássica que apresentam a visão da humanidade em dois estados: um sendo a vida real, envolvendo também as nossas ilusões, e outro da vida autêntica, apesar de ser de difícil acesso. Nesta visão, o homem deve tentar livrar-se do intercâmbio com outros homens, almejando a autarquia, a autossuficiência. Tal visão revela uma concepção individualista das representações da vida humana. Além disso, o autor traz as concepções de Maquiavel e Hobbes, pensadores que tiveram repercussão no pensamento da época ao considerar o homem sendo lobo do próprio homem; onde a relação do homem com os outros se dá apenas para satisfazer seus interesses, sendo, assim, egoísta e interesseiro.

A condição biológica é a condição somática dada pela natureza. É a condição ditada pelas leis da genética.

A condição cultural permite ir além da natureza e além da condição histórica. A cultura caracteriza o ser humano como ser de mutação, como ser de projeto e transcendência, sujeito de sua história e de seus valores. Para Battista Mondin (1998, p. 16), “a tarefa primeira e principal da cultura não é construir casas, carros, trens, navios, aviões, computadores, bombas, etc., em outras palavras, construir o mundo. Sua tarefa principal é construir o homem, um projeto de humanidade que seja adequado à dignidade e à exigência da pessoa humana”.

A condição lúdica está ligada com a condição cultural e é a condição que torna o homem um ser que joga e que brinca. É uma atividade que transcende as necessidades biológicas imediatas de sobrevivência.

Mais condições poderiam ser elencadas, mas optamos por estas, que são as mais clássicas. Possivelmente você constatou que o ser humano é múltiplo e complexo, o que torna impossível decifrá-lo por apenas uma condição. Preferimos afirmar que a condição humana está no jogo das múltiplas condições.

Na sequência aprofundaremos a discussão sobre a condição social e verificaremos um pouco mais do que já foi polemizado.

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125UNIDADE 3 TÓPICO 1

FILOSOFIA

O segundo discurso traz a visão do homem enquanto ser social. Tal visão está presente na filosofia clássica com os filósofos gregos, que acreditam que o homem é um animal social, que o outro é importante para que a virtude possa se manifestar e a amizade é vista como um mérito e não uma necessidade. Em “O banquete”, Platão traz a ideia de completude e da necessidade que o homem tem do outro. Aristóteles (1999, p. 147) afirma “aquele que for incapaz de viver em sociedade, ou que não tiver necessidade disso por ser autossuficiente, será uma besta ou um deus, não uma parte do Estado”.

No século XVIII, Rousseau trará pela primeira vez, segundo Todorov (1996), a concepção do homem como um ser que tem necessidade dos outros. O mérito atribuído a Rousseau refere-se ao fato de ter abordado a questão da identidade por meio de um terceiro sentimento (além do amor de si e o amor-próprio), que é o meio caminho dos dois: a “ideia da consideração”. Ou seja, trata da necessidade do homem de atrair o olhar do outro, a necessidade de ser olhado, de buscar a estima pública. O homem é visto como um ser incompleto e insuficiente, que precisa do outro para completar sua falta. Hegel também ampliará em certo sentido as concepções de Rousseau, ao utilizar o termo reconhecimento designando o que Rousseau chamava de “consideração”. Para Hegel, o homem tem necessidade do outro e para haver um é preciso mais um, para ser humano é preciso pelo menos dois.

O MENINO SELVAGEM DE AVEYRON

Em setembro de 1799, um menino, de cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da França. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante cinco anos o Dr. Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler, a se comportar como um ser humano, mas seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e aprendeu a ler somente uma palavra (leite). Não era mais o menino selvagem de quando fora encontrado, mas, também, não se tornou humano.

FONTE: Disponível em: <http://www.geocities.com/jaimex54/Natureza.html>. Acesso em: 4 jul. 2008.

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126 UNIDADE 3TÓPICO 1

FILOSOFIA

DICAS!

Que tal analisar alguns filmes para melhor refletir sobre os mistérios que constituem o ser humano? Minhas dicas são: • O ponto de mutação – o filme discute os paradigmas cartesiano e emergente.• Imensidão Azul - História de mergulhadores que buscam nas profundezas dos oceanos as respostas para as questões existenciais.• Nell - História de uma mulher que vive isolada até os 30 anos, desenvolvendo linguagem própria e características selvagens. O dilema está na necessidade ou não de civilizá-la.

Como ilustração do que acabamos de estudar, veja como o poeta pensa o ser humano:

O ÚNICO ANIMAL

O homem é o único animal que ri dos outros. O homem é o único animal que passa por outro e finge que não vê.

É o único que fala mais que o papagaio.É o único que gosta de escargots (fora, claro, o escargot).É o único que acha que Deus é parecido com ele.E é o único...... que se veste... que veste os outros... que despe os outros... que faz o que gosta escondido... que muda de cor quando se envergonha... que se senta e cruza as pernas... que sabe que vai morrer... que pensa que é eterno... que não tem uma linguagem comum a toda espécie... que se tosa voluntariamente... que lucra com os ovos dos outros... que pensa que é anfíbio e morre afogado... que tem bichos... que joga no bicho... que aposta nos outros... que compra antenas... que se compara com os outros

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127UNIDADE 3 TÓPICO 1

FILOSOFIA

DICAS!

O homem não é o único animal que alimenta e cuida das suas crias, mas é o único que depois usa isso para fazer chantagem emocional.

Não é o único que mata, mas é o único que vende a pele.Não é o único que mata, mas é o único que manda matar.E não é o único...... que voa, mas é o único que paga para isso... que constrói casa, mas é o único que precisa de fechadura... que constrói casa, mas é o único que passa quinze anos pagando... que foge dos outros, mas é o único que chama isso de retirada estratégica... que trai, polui e aterroriza, mas é o único que se justifica... que engole sapo, mas é o único que não faz isso pelo valor nutritivo.[...]

FONTE: VERÍSSIMO, L. F. O marido do Doutor Pompeu. Porto Alegre: L&PM, 1987.

Para ampliar suas leituras, investigue em: <http://www.filosofiavirtual.cjb.net/> site com temas da filosofia, cronologia, filósofos, informações sobre a carreira e mercado de trabalho para o filósofo; <http://www.terravista.pt/Ancora/1452/artigos.htm>. - artigos que tratam de questões filosóficas.

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128 UNIDADE 3TÓPICO 1

FILOSOFIA

Neste tópico você viu que:

Tratamos sobre o ser humano e refletimos sobre a clássica indagação: afinal, o que é o homem?

Dentre as principais condições identificamos: a condição racional, a condição social, a condição mortal, a condição material, a condição espiritual, a condição comunicativa, a condição psíquica, a condição do trabalho, a condição de liberdade, a condição ética, a condição histórica, a condição biológica, a condição cultural e a condição lúdica.

Apresentamos duas visões sobre o ser humano: uma associal e outra social.

Na visão associal, o homem deve tentar livrar-se do intercâmbio com outros homens, almejando a autarquia, a autossuficiência.

A visão social está presente na filosofia clássica com os filósofos gregos, que acreditam que o homem é um animal social, que o outro é importante para que a virtude possa se manifestar e a amizade é vista como um mérito e não uma necessidade.

RESUMO DO TÓPICO 1

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129UNIDADE 3 TÓPICO 1

FILOSOFIA

Para tornar as informações deste tópico mais concretas, procure identificar que condições a sua área de formação mais atende.

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130 UNIDADE 3TÓPICO 1

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

LIBERDADE: ESTÁ NOLIMITE OU NO VíNCULO?

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 2

UNIDADE 3

A liberdade de um vai até onde começa a liberdade do outro? Esta questão conduz nossa reflexão para as diferentes compreensões sobre o que é essa tal liberdade. O problema da liberdade está, primeiro, em pensar se ela existe ou não; depois, por considerar que ela existe, pensar se ela se dá no limite ou no vínculo. Antes de tudo: o que é liberdade?

Você, por muitas vezes, deve ter se sentido preso, sem liberdade para sair de casa ou fazer o que quer. Ou, muitas vezes, ao ser livre para escolher, acaba escolhendo a partir de critérios alheios aos seus. Ou ainda, ao ser livre para querer, se quer o que outros querem que se queira. A filosofia, como ferramenta para o pensar, pode nos ajudar a entender melhor a liberdade.

A liberdade sempre foi uma questão fundamental na história da humanidade. Todos nós queremos ser livres. Através da história percebemos que muitas pessoas tiveram que pagar um preço alto pela sua liberdade. Muitos queimados em fogueira, outros presos, perseguidos e torturados.

Todos necessitam de liberdade. Até os animais. Você já reparou como o cachorro fica feliz quando o soltamos da corrente?

Skinner, psicólogo americano, escreveu “O mito da liberdade”. Nele questiona as noções de livre-arbítrio, liberdade e homem autônomo. Skinner afirma que as contingências é que determinam nossa liberdade. Para ele, as contingências de reforçamento são mais poderosas do que a consciência do homem autônomo. Por exemplo, “não saio nu na rua porque posso ser preso”. “Não falto ao trabalho para não ganhar a conta ou para não perder a gratificação”. Assim, para Skinner, não podemos ser livres, a menos que conheçamos nossas fontes de controle.

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132 UNIDADE 3TÓPICO 2

FILOSOFIA

NOTA! �

A liberdade, para o existencialismo, é uma das grandes angústias da condição humana. O homem é condenado a ser livre e isto o coloca na obrigação de escolher. Constantemente estamos escolhendo, porque somos livres. Nossa angústia reside na responsabilidade das escolhas livres que fazemos.

Por outro lado, podemos refletir sobre a condição histórica e cultural da liberdade. Nesta condição, podemos reconhecer que a liberdade não é uma dádiva, não nascemos livres e a liberdade é conquistada. Assim procedem todos os que querem romper com os grilhões que prendem, alienam e interrompem a liberdade.

Para você fazer uma leitura criteriosa, selecionei os principais conceitos que aqui se desenvolverão:• Liberdade - Abbagnano (1998, p. 606) aponta três significados

diferentes: 1º- como autodeterminação e, portanto, sem limitações; 2º- como necessidade; 3º - como possibilidade ou escolha.

• Escolha - quando se pode fazer uma opção diante de algumas possibilidades. Não escolha sem haver possibilidade. Para Platão, “cada qual é a causa de sua própria escolha” (Rep., X)

• Responsabilidade - diferente de imputabilidade (atribuição de uma ação a um agente), a responsabilidade está relacionada com a escolha. Ser responsável é assumir as consequências de suas escolhas, bem como prever sobre elas antes de optar.

2 TIPOS DE LIBERDADE

Vamos agora apresentar algumas definições de liberdade que estão vinculadas a uma visão de homem e de mundo, presentes nas leis, nos dizeres cotidianos e em máximas que marcaram época.

Liberdade de ação - “Um ser é livre quando é regido pelas suas próprias leis decorrentes da sua natureza”.

Liberdade permitida - “É proibido proibir”.

Liberdade física: “É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz (Constituição - Artigo 5º, XV) - direito de ir e vir”.

Liberdade religiosa: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença...” (Constituição - Artigo 5º, VI).

Liberdade política: “Poder atuar nos rumos da organização social”.

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133UNIDADE 3 TÓPICO 2

FILOSOFIA

Liberdade jurídica: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações...” (Constituição - Artigo 5º, I).

Liberdade profissional: “É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão...” (Constituição - Artigo 5º, XIII).

Liberdade social - “Ser livre é fazer tudo o que não for proibido pela lei social”.

Liberdade legal - “Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei” - “Se eu devo, eu posso”.

Liberdade necessária - “A liberdade reside em fazer o que é necessário”.

Liberdade de escolha - “O homem livre, entre dois bens, escolhe o maior” (Spinoza).

Liberdade de pensamento - “Não nascemos livres, mas conquistamos, pela razão, a liberdade”.

Liberdade concreta - “Uma liberdade que é só pensamento não é liberdade”.

Liberdade condicional - “Toda vida humana se explica por três fatores: a raça, o meio, o momento”. (Taine)

Liberdade incondicional - “Por mais que eu procure em mim a razão que me determina, mais sinto que eu não tenho nenhuma outra senão apenas minha vontade”. (Bossuet)

Liberdade consciente - “A consciência que o homem tem das causas se transforma, por sua vez, em outra causa, capaz de alterar a ordem das coisas”. (Aranha e Martins)

Liberdade transcendente - “A transcendência é a ação pela qual o homem executa o movimento de se ultrapassar a si mesmo”. (Aranha e Martins)

Liberdade impossível - “O homem é um corpo físico, um corpo biológico, um ser psicológico e cultural. Isto determina o que ele vai ser e o que vai escolher. O homem é determinado e não é livre”.

3 ONDE ESTÁ A LIBERDADE: NO LIMITE OU NO VíNCULO?

Tratemos agora de investigar estas duas possibilidades de entendimento da liberdade. Nosso ponto de partida está no dito popular: “a liberdade de um vai até onde começa a do outro”.

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134 UNIDADE 3TÓPICO 2

FILOSOFIA

3.1 LIBERDADE: A ESCOLHA NO LIMITE

Nesta posição, defende-se que a liberdade está em fazer o que se quer sem prejudicar ao outro. A liberdade de um tem seu limite onde começa a do outro. Ser livre é respeitar o outro em sua liberdade. Como quotidianamente se diz: “cada um na sua” ou “cada macaco no seu galho”. Cada um é responsável por suas escolhas.

Esta posição pode ser sustentada a partir do liberalismo moderno, no qual a burguesia defendia ideias de desvinculação entre estado e sociedade. No liberalismo ético, buscou-se garantir os direitos individuais, que são os clássicos: liberdade de pensamento, liberdade de crença e liberdade de expressão.

A liberdade passa a significar o direito que cada pessoa possuía para poder fazer tudo aquilo que não venha a prejudicar aos outros. As leis exercem o papel de dar garantias individuais e assim assegurar a liberdade do cidadão. Elas são fruto de um contrato social que determina os limites da condição individual diante do coletivo e os limites do coletivo diante do individual. Um exemplo concreto disto é a propriedade privada, que é um direito instituído no capitalismo. No espaço que me pertence sou livre para construir uma casa sem ferir o direito e a liberdade de ninguém. Com o dinheiro do salário, compro o que posso e quero...

Para Montesquieu (1973, p. 155), “a liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder”.

Nossa Constituição define que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade... (Constituição, Artigo 5º).

3.2 LIBERDADE: A ESCOLHA NO VÍNCULO

A nossa forma de vida revela uma existência social, de vínculo de um para com o outro. Não há como imaginar o ser humano sem pensá-lo nas qualidades que adquiriu no coletivo. Coletivo que se organiza pela reciprocidade de colaboração entre os membros de um grupo. Viver no coletivo foi uma escolha necessária para garantir a própria sobrevivência do ser humano.

A existência humana se constitui a cada dia, pois o homem não é algo pronto e acabado, é um ser em movimento e que no coletivo exercita possibilidades de escolha. O nosso existir revela uma escolha. Uma escolha de nossos pais, ao terem um filho, e uma escolha nossa,

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135UNIDADE 3 TÓPICO 2

FILOSOFIA

de optarmos todos os dias pela vida.

Assim, somos livres para escolher possibilidades e renunciar a outras. Porém, nossas escolhas variam de grau e importância. Escolher entre ir para a escola e ficar em casa em um dia chuvoso é mais simples do que escolher uma profissão. Nossas escolhas implicam um ato que revela responsabilidade.

[...] admite-se como direito de liberdade de um indivíduo ele realizar tudo quan-to queira, desde que suas ações não venham a interferir na vida do outro. O que não se admite são os choques, os conflitos. Deste modo, teria eu o direito de fazer tudo quanto quisesse, desde que não perturbasse a vida de outra pessoa. Sim, o sentido parece claramente ser esse. Mas, será isto aceitável? Primeiro, é possível todas as pessoas agirem de tal modo que cada um faça o que quer desde que não afete a vida do outro? Admitamos, teoricamente, que isto seja possível. Quais seriam as consequências? Ousamos dizer que as consequências estariam em que toda a vida humana seria perturbada. Como pretender não afetar a vida do outro se naturalmente nossas vidas são afeta-das umas pelas outras? Depois, não basta [...] admitir a liberdade de um em separado da liberdade do outro, uma vez que faz parte legítima da liberdade de cada um esperar do outro aquilo que lhe é devido, ou seja, não é possível escamotear o fato de que uns têm para com os outros deveres recíprocos. (MENDONÇA, 1977, p. 21) .

Como vivemos em sociedade, nossas escolhas influenciarão outras pessoas. Se eu decidir abandonar a escola, minha decisão influenciará a minha vida e também a de meus colegas, familiares e amigos.

Assim, Sartre afirma que quando escolho, me torno humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda humanidade. Nossas escolhas é que determinarão o nosso existir.

A toda ação uma reação. A toda escolha individual uma reação social.

FONTE: Disponível em: <http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_26/ sartre.html>. Acesso em: 5 jul. 2008.

FIGURA 10 – JEAN-PAUL SARTRE

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136 UNIDADE 3TÓPICO 2

FILOSOFIA

4 CONCEITOS TRADICIONAIS PARA PRÁTICAS INOVADORAS – “CADA UM NA SUA!”

É corriqueiro ouvir a expressão “cada um na sua”, seja nas relações de trabalho ou nas relações educativas. Outras expressões endossam a mensagem: “cada um por si, Deus por todos”, “cada cabeça uma sentença”, “distância impõe respeito”, “cada macaco no seu galho”, “cada um sabe de si, Deus de todos”. Endossam a mensagem de individualismo, equivalente à ideia de liberdade, quando se diz que “a liberdade de um vai até onde começa a do outro”. Contrariamente a estes adágios, encontramos reflexões que salientam a necessidade de se exercitar a liberdade na coletividade. Os conceitos que dão força a esta visão são: solidariedade, equipes de trabalho, trabalho coletivo, cooperação, objetivos comuns, responsabilidade coletiva. Na contramão dos provérbios carregados de individualismo, encontramos provérbios que valorizam a colaboração: “duas cabeças pensam mais do que uma”, “é companheiro até debaixo d’água”.

As novas teorias de gestão de pessoas analisam formas de se obter um clima propício para a colaboração mútua em superação da obsoleta visão individualista presente na abordagem tayloriana/fordista. Para esta nova discussão, pergunta-se: como transformar um grupo em equipe? Para Claudia Bitencourt (2004, p. 134), “um conjunto de pessoas trabalhando em uma sala já constitui um grupo. A questão primordial para transformar o arranjo de pessoas em equipe é conseguir ativar os relacionamentos interpessoais em atitudes cooperativas e proativas”.

Na direção de nossa reflexão, procuramos verificar a liberdade como uma forma de vínculo, o que implica uma responsabilidade coletiva. Esta mesma responsabilidade é apontada como uma necessidade nos grupos de trabalho. Além disto, a liberdade como vínculo na formação de equipes dentro das organizações promove qualidade, agilidade, rapidez de resposta às mudanças, flexibilidade na assimilação de novos valores. Isto ocorre porque as equipes proporcionam um ambiente de trocas contínuas, de respeito, de reciprocidade e de comprometimento.

Conforme Katzenbach e Smith (apud BITENCOURT, 2004, p. 135):

As equipes reais estão profundamente compromissadas com seu propósito, suas metas e com sua abordagem. Os participantes da equipe de alta perfor-mance encontram-se também muito compromissadas entre si. Eles compre-endem que a sensatez das equipes surge ao se dar enfoque aos produtos do trabalho coletivo, ao crescimento pessoal e aos resultados da performance.

A condição para a colaboração e para o coletivismo tem relação direta com a cultura que cada pessoa compartilha. Os adágios na introdução desta seção denunciam uma cultura desfavorável ao compromisso coletivo, mas nada impede que haja um processo de aprendizagem para o trabalho em conjunto, para a responsabilidade coletiva, para a cooperação. Esta aprendizagem pode ser orientada pelo exercício de contratos objetivos e subjetivos,

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137UNIDADE 3 TÓPICO 2

FILOSOFIA

de solidariedade interpessoal e, principalmente, de comunicação aberta. Entende-se por comunicação aberta a liberdade de expressão e a participação no processo de planejamento e de deliberação.

5 ESTUDO DE CASO

A empresa Calçados S.A.

A empresa Calçados S.A. está há 40 anos no mercado de calçados e apresenta uma postura de incentivar a conscientização dos funcionários. Esse incentivo se dá pela implementação de programas de educação e capacitação, controle estatístico do processo, projeto da produção, atividades em pequenos grupos, cursos de qualidade e manutenção produtiva total. Outra forma que a empresa utiliza para a conscientização dos operários é a participação nos lucros. Nesse processo, os colaboradores são responsáveis pela definição da parcela de lucro que lhes cabe e há a promoção de reuniões para análise e discussão dos índices de perdas e ganhos e dos resultados.

A produção nessa empresa é do estilo “puxada”, como no sistema just-in-time, e, se há excedente de vendas, existem facções preparadas para absorvê-las e fabricar mais calçados, com a mesma qualidade dos produzidos internamente. O sistema de produção é chamado de Sistema Rápido de Produção, composto por células de produção, multioperadores, automação e melhoria de baixo custo, sistema rápido de abastecimento, produção em pequenos lotes e autogerenciamento. O gerente é cobrado pela produtividade e tem que ter um perfil de apoiador, com habilidades humanas bem desenvolvidas, para deixar o grupo num clima de motivação constante.

A empresa trabalha com os sistemas de células e de multioperadores, sendo cada célula formada normalmente por sete pessoas e por 10 a 11 máquinas, possibilitando que, no mesmo dia, cada operador faça um rodízio de função. Quando termina a atividade na máquina em que estava trabalhando, o operador passa para uma máquina desocupada que o está aguardando com trabalho a complementar. É importante salientar que na célula não ocorre todo o trabalho de confecção do calçado, mas toda uma etapa de confecção, como, por exemplo, todas as atividades de costura de um sapato.

A razão da eficiência desse sistema de produção, na empresa Calçados S. A., tem fundamentação na necessidade de flexibilização, ou seja, “cada grupo pega uma linha e cumpre o pedido, faz o que o cliente pediu com rapidez e, se tiver que alterar alguma coisa, a mudança é muito mais veloz. Quando há reuniões, alterações, etc., é tranquilo porque para somente um segmento, ao contrário da esteira, que atrapalha toda a continuidade”, afirma o gerente de treinamento.

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FILOSOFIA

Além disso, disse ele, numa entrevista em 1995, que “a mudança é no jeito de encarar o funcionário”, e considerou difícil a fase de implantação do processo, porque há um investimento muito grande para fazer funcionar, acertar os desvios e desenvolver as pessoas. Concluiu que o resultado é positivo: “agora as pessoas são mais responsáveis e são cobradas por isso”.

Segundo a empresa, todas as sugestões são bem-vindas e recompensadas por meio de promoção pessoal, e dificilmente as recompensas são em valores monetários. É aceito que dar sugestões, fazer melhorias e manufaturar com produtividade e qualidade faz parte nos deveres do cargo ocupado”.

A empresa trabalha movida por objetivos que são definidos pela alta direção, sendo que a decisão do caminho a seguir é compartilhada pela gerência. As políticas de recursos humanos da empresa Calçados S.A. englobam os subsistemas de recrutamento e seleção e o treinamento e o desenvolvimento. O sistema de recrutamento e seleção visa a buscar pessoas com características para trabalhar em grupo; o pessoal sabe por experiência que, sem esse perfil, o funcionário acaba por excluir-se do sistema, não se sustentando. O grupo de operadores ajuda na seleção e, se quiser, pode escolher e convidar alguém da própria empresa para fazer parte da sua célula.

[...]

Existe ainda na empresa o programa de formação de menores para o trabalho no calçado. Por dois anos, os menores são acompanhados, aprendendo a trabalhar em grupo, a exercer suas habilidades interpessoais (criatividade, integração, relacionamento, etc.) e praticando todas as atividades da confecção do calçado. No final do programa, os treinandos podem escolher se querem permanecer ou não na empresa. Para a participação no programa, a empresa exige que os menores estejam cursando a escola básica. Também é estimulada a prática de esportes e há o acompanhamento de psicóloga para orientá-los.

[...]

A empresa Calçados S.A. tem a percepção da satisfação dos funcionários quanto ao estilo do trabalho por meio dos contatos internos com a área de recursos humanos, pois demonstram orgulho ao explicar seu trabalho, ou ao saber as características da sua produção. Outro fator de medição, segundo a empresa, pode ser o nível de produtividade. Exemplificando: num determinado momento foi prevista uma quantidade de funcionários para a produção numa célula; depois de iniciado o trabalho e atingido o nível ótimo de produção, não apenas foi alcançado o objetivo, como também se diminuiu em 30% o número de pessoas ali necessárias. (BITENCOURT, 2004, p. 141-142).

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139UNIDADE 3 TÓPICO 2

FILOSOFIA

NOTA! �O filme conta a história de uma gaivota que não quer ser igual às outras, quer voar mais longe, quer ser livre. Após assistir ao filme, procure relacionar com este tópico que aborda a questão da Liberdade. FERNÃO CAPELO GAIVOTA. Direção de Richard Bach. EUA: CIC, 1973, 1 Cassete (99 min): legenda, color; 12mm VHS.

A ÁGUIA E A GALINHA

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras, do alto de uma planura verde. Quando passava ao pé de uma montanha, encontra um ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta por gravetos havia uma jovem águia ferida na cabeça, parecia morta. Era uma águia-harpia brasileira, ameaçada de extinção no Brasil.

Recolheu a águia com cuidado e pensou em levá-la ao seu vizinho, que empalhava animais. Este ficou admirado por se tratar de uma águia-harpia. Também supôs que estivesse morta, e a colocou ternamente debaixo de uma cesta.

Na manhã seguinte teve grata surpresa. Percebeu que a águia se mexia levemente. Havia feridas em várias partes do corpo e a águia estava cega.

Sentiu muita pena da jovem águia. Por misericórdia, quase quis sacrificá-la. Até encontrava razões para isso, visto que matam muitos animais pequenos, especialmente macacos e preguiças, lebres, patos. Sabia que na Austrália as águias são mortas às centenas por serem prejudiciais aos cangurus e a outros animais pequenos.

Pensou muito, mas lembrou-se da tradição espiritual de Buda e de São Francisco, que pregavam uma ilimitada compaixão por todos os seres que sofrem. Recordou-se da ética ecológica. Até uma frase bíblica lhe veio à mente: “escolha a vida e viverá”.

Por todos esses argumentos, decidiu preservá-la e tratá-la com carinho. Todo dia partia-lhe pedaços de pão e carne e a alimentava com dificuldade. Depois de um ano, começou a perceber que os sentidos despertavam para a vida. Primeiro os ouvidos. Depois começou a mover-se por si mesma. Andava pela sala e pelo jardim. Recuperou sua voz, mas continuava cega. Os olhos são tudo para uma águia. Seu olhar vê oito vezes mais que o olho humano.

LEITURA COMPLEMENTAR

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FILOSOFIA

Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Durante dois anos circulava cega entre elas. Andava com dificuldade, pois suas garras não foram feitas para andar.

Eis que um dia, a águia começou a enxergar. Depois de três anos de paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia. Porém, vivia como uma galinha.

Certo dia um casal de águias passou por ali. Deu voos rasantes. Ao perceber as águias no céu, a águia-galinha espalmava as asas e sacudia a cauda. Seu coração de águia voltava a pulsar aos poucos.

Passado algum tempo, o empalhador recebeu a visita de um naturalista, que ficou perplexo ao ver a águia-galinha. Decidiram fazer um teste. O empalhador colocou-a no braço e falou-lhe: Águia, nunca deixará de ser águia, estenda suas asas e voe. Porém, vendo as galinhas, a águia deixou-se cair pesadamente. Fizeram nova tentativa, no terraço de sua casa, mas não funcionou.

Aí ambos lembraram da importância do sol para uma águia, e a levaram ao alto da montanha, de frente para o sol. O empalhador sustentou fortemente a águia sob o olhar confiante do naturalista e disse: Águia, você é amiga das montanhas, filha do sol, eu lhe suplico: desperte de seu sono! Revele sua força interior. Abra suas asas e voe para o alto!

A águia ergueu-se soberba sobre o próprio corpo, abriu as longas asas, esticou o pescoço e alçou voo. Voou na direção do sol nascente. Voou até fundir-se no azul do firmamento.

Interpretação feita da história apresentada por Leonardo Boff.

FONTE: BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

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141UNIDADE 3 TÓPICO 2

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico apresentamos algumas definições de liberdade que estão vinculadas a uma visão de homem e de mundo, presentes nas leis, nos dizeres cotidianos e em máximas que marcaram época.

Definições apresentadas: liberdade de ação, liberdade permitida, liberdade física, liberdade religiosa, liberdade política, liberdade jurídica, liberdade profissional, liberdade social, liberdade legal, liberdade necessária, liberdade de escolha, liberdade de pensamento, liberdade concreta, liberdade condicional, liberdade incondicional, liberdade consciente, liberdade transcendente, liberdade impossível.

Problematizamos também o adágio popular que diz: “a liberdade de um vai até onde começa a do outro”.

Onde está a liberdade, no limite ou no vínculo?

Liberdade: a escolha no limite – neste parecer defende-se que a liberdade está em fazer o que se quer sem prejudicar o outro.

Liberdade: a escolha no vínculo – neste parecer defende-se que não há como imaginar o humano sem pensá-lo nas qualidades que adquiriu no coletivo.

Conceitos tradicionais para práticas inovadoras – as novas teorias de gestão de pessoas analisam formas de se obter um clima propício para a colaboração mútua em superação da obsoleta visão individualista presente na abordagem taylorista/fordista.

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142 UNIDADE 3TÓPICO 2

FILOSOFIA

Leia o artigo 5º da Constituição brasileira e procure identificar o conceito de liberdade implícito.

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FILOSOFIA

UNI

IDEOLOGIA: COMO PODE OPODER DE POUCOS DETERMINAR

A CONDIÇÃO DE MUITOS?

TÓPICO 3

UNIDADE 3

Como pode o poder de poucos determinar a condição de muitos? Você já parou para pensar nesta pergunta?

A palavra ideologia é empregada cotidianamente de duas maneiras distintas. Poderíamos distinguir entre uma “boa ideologia” e uma “má ideologia”.

A “boa ideologia” recebe uma forma de emprego que está associada a uma necessidade social, a uma identidade social, como lembra a música do Cazuza: “ideologia, quero uma pra viver”.

1 INTRODUÇÃO

“A ideologia é uma das formas da práxis social: aquela que, partindo da experiência imediata dos dados da vida social, constrói abstratamente um sistema de ideias ou representações sobre a realidade”. (CHAUÍ, 1997, p. 106).

O outro emprego da palavra é pejorativo e constitui uma “má ideologia”. Faz alusão à manipulação social como forma de dominação. Como prática, é o conhecimento utilizado interesseiramente. É uma tentativa de convencer as pessoas por meio de uma elucidação ou falseamento da realidade. Pode ainda ser considerada como um sistema de ideias geradas por uma minoria dominante que proveitosamente quer manipular a vontade das pessoas ou como um conjunto de ideias de uma maioria dominada que quer se libertar da opressão que vive.

A pergunta que orienta o tópico, “como pode o poder de poucos determinar a condição de muitos?”, também orientou o filósofo Karl Marx. A resposta que ele encontrou pode ser caracterizada a partir do conceito de Ideologia que, em sua reflexão, recebe um sentido

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144 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

mais amplo. Anteriormente, a palavra era empregada como teoria geral das ideias e, com o pensamento marxista, passa a ter um emprego político. Sua origem é constatada na ambição capitalista que para explorar precisa dificultar a percepção do real e alienar.

Marx verificou a estrutura social que se formou em cada tempo, principalmente na era industrial, e percebeu que toda sociedade está dividida em classes, sendo que uma domina as demais. Para não perder seus privilégios e conquistar outros, a classe dominante utiliza um mecanismo sutil de dominar e assim perpetuar-se no poder. A ideologia é a voz do opressor e a alienação, o silêncio do oprimido.

2 AS IDEOLOGIAS DE DOMINAÇÃO

As ideologias de dominação são formadas por um “corpo de ideias” que a classe opressora produz para convencer a população de que aquela estrutura social é a melhor. São ideias que geram acomodação e dissimulam as tentativas de contraorganização social. Existem vários mecanismos utilizados ideologicamente, dentre eles os principais são: a naturalização, a universalização, a reificação, a dissipação social, o falseamento e a alienação.

A naturalização é uma das formas de dirigir a consciência da população criando um juízo de que tudo é “natural”. Você já deve ter ouvido o juízo de que “sempre foi assim e sempre assim será”. Esta ideia disfarça as contradições e leva as pessoas ao conformismo político e social. Contra esta mentalidade, Bertolt Brecht (apud TOMELIN, 2004, p. 139) nos faz refletir:

Nós vos pedimos com insistência:Nunca digam – Isso é natural!Diante dos acontecimentos de cada dia.Numa época em que reina a confusão,Em que corre o sangue,Em que o arbitrário tem força de lei,Em que a humanidade se desumaniza...Não digam nunca: isso é natural!A fim de que nada passe por ser imutável.

A universalização consiste na formação de uma consciência universal, tornando-a um senso comum entre as pessoas. A ideologia passa a ser interiorizada por todos de tal forma que se aparenta como aspiração legítima do coletivo. “A convergência no pensamento evita a divergência nas ações”. (CYRINO et al., 1987, p. 26). Forma-se uma correnteza ideológica, dificultando que alguém resolva remar contra.

A reificação é a “coisificação”. As pessoas são tornadas coisas pela condição de trabalho e de produção a que são submetidas. A vontade e até a identidade são compradas mediante

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145UNIDADE 3 TÓPICO 3

FILOSOFIA

NOTA! �

o salário. O trabalhador faz a vontade de quem lhe paga. Por dinheiro, corre risco de perder a própria vida. A vida é coisificada.

3 ALGUMAS CARACTERíSTICAS DA IDEOLOGIA

A ideologia está presente na escola, na família, na religião, na política, na mídia e em todos os lugares em que há duas pessoas ou mais se relacionando. Ela se propaga em todas as instituições sociais que de alguma forma exercem um papel formativo da consciência humana. Veja, nas características a seguir, o que a ideologia faz e como atua na consciência humana:

• Estabelece uma visão de mundo.

• Manipula as vontades, cria desejos e necessidades, desenvolve o fascínio pela mercadoria.

A dissipação social está vinculada ao processo de fragmentação dos interesses sociais, de forma que ocorrem os individualismos e a desarticulação dos grupos. Como exemplo disto podemos citar os inúmeros partidos políticos, religiões e times de futebol que existem. Enquanto as pessoas se isolam em seus fanatismos, não se organizam em seus interesses coletivos para fazer frente às ideologias de dominação.

O falseamento da realidade ocorre quando se cria uma consciência falsa da realidade. Por meio de diferentes mecanismos de comunicação, a classe dominante deturpa os fatos para justificá-los socialmente. A ideologia projeta uma realidade falseada, ilusória, que oculta as contradições do mundo real.

A alienação torna o homem alheio a si mesmo. O valor de seu trabalho é desvinculado do produto final. O trabalho passa a ser necessário como meio para suprir as necessidades de sua sobrevivência. O homem não vive do trabalho, mas da remuneração de seu trabalho. Todo conjunto de interesses de uma pessoa ou grupo sobre outro, que se naturaliza, como coisa própria e indispensável ao cotidiano, leva as pessoas à alienação. Alienado é aquele que faz a vontade alheia. Pela reflexão, podemos identificar e superar o discurso da ideologia e das intenções predominantes que manipulam nossa vontade.

De acordo com o Dicionário Houaiss, coisificar é tornar parecido com uma coisa; identificar com um ato ou objeto concreto; reduzir o homem e sua consciência a coisa, objeto ou valores materiais; tratar o ser humano desse modo.

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146 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

• Encobre a verdade.

• Deixa a realidade confusa e distorcida.

• Coisifica a relação entre as pessoas.

• Prescreve normas para a conduta humana.

• Cria representações sociais, símbolos e modelos.

• Possui um discurso lacunar.

• Explica a realidade a partir da visão de mundo da classe dominante.

• Afasta o produtor do produto para que ele não veja significado em seu trabalho – Alienação.

• Naturaliza os problemas sociais – criando valores de conduta.

4 A FUNÇÃO DA IDEOLOGIA DOMINANTE

A função principal da ideologia dominante é conservar as coisas como estão, ou seja, criar uma realidade ilusória confortável a todos os dominados, de forma que não sintam as contradições e o peso da opressão. Para conservar as coisas como estão, ela se utiliza dos mecanismos acima apontados e se dilui na ingenuidade coletiva.

Disto surgem algumas afirmações correntes que fazem parte da consciência conformista. A seguir, listamos alguns dizeres cotidianos que podem formar uma falsa consciência conformista diante da realidade.

• Você é um trabalhador livre.

• Não podemos aumentar o salário porque aumenta a inflação.

• Os pobres não enriquecem porque não se esforçam.

• Todos os homens são livres.

• Todos são iguais perante a lei.

• Todos possuem igualdade de oportunidades.

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147UNIDADE 3 TÓPICO 3

FILOSOFIA

• Todos possuem direito à educação.

• Sempre foi assim, é natural que permaneça da forma como está.

• O trabalho dignifica o homem.

• As crianças pobres não aprendem porque não são inteligentes.

5 A IDEOLOGIA DO CONSUMO

No sistema capitalista, a produção é voltada para o consumo e para o lucro. Quanto maior a procura, maior a produção e maior o lucro.

A propaganda é a estratégia para fazer as pessoas consumirem. Ela cria modelos, padrões de beleza, gosto, prazer, lazer, que fazem as pessoas almejarem o que lhes é apresentado. Os propagandistas sabem que todos buscamos a felicidade, a harmonia, o bem-estar, uma família feliz etc. Sabem também que a realidade não é tão tranquila quanto gostaríamos que fosse.

FONTE: Disponível em: <http://www.telha.net/Consumismo203.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2008.

A partir da realidade e da vontade, os propagandistas criam uma imagem daquilo que almejamos, agregado a um produto. De alguma forma, a propaganda nos promete: “compre isto e leve aquilo”. “Consuma cigarro X e tenha a liberdade, cigarro Y e ganhe uma vida de aventura e sucesso, creme vegetal Z e uma família feliz, carro W e um emprego prazeroso,

FIGURA 11 – CONSUMISMO

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148 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

cerveja 1 para refrescar os pensamentos, tênis R para ser vencedor, sabonete P para uma pele perfeita”. Muitas vezes, compramos o produto por aquilo que ele promete, muito mais do que aquilo que realmente pode fazer. Compramos a ilusão.

O sucesso do sistema capitalista, fundado sobre os princípios da livre iniciativa, livre concorrência, lei da oferta e da procura, produção e lucro, depende em grande parte das ideologias de consumo. Ideologias de consumo que formaram uma sociedade de consumo que se caracteriza pela constituição de uma cultura do efêmero. Uma sociedade do efêmero que se sustenta no desejo pela novidade. Uma sociedade que anuncia o “admirável mundo novo” da plena realização e felicidade no consumo.

As ideologias de consumo levam às entranhas da consciência do indivíduo o impulso em substituição da razão, incitando desejos, estimulando reações e formando necessidade. O objeto que se torna sonho de consumo congrega em si as expectativas do indivíduo consumidor.

David Harvey (1989, p. 148) analisa as ideologias de consumo da seguinte forma:

A acumulação flexível foi acompanhada na ponta do consumo, portanto, por uma atenção muito maior às modas fugazes e pela mobilização de todos os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural que isso implica. A estética relativamente estável do modernismo fordista cedeu lugar a todo o fermento, instabilidade e qualidades fugidias de uma estética pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de formas culturais.

A dinâmica do capitalismo hoje está em função do consumo e a dinâmica do consumo está nos instrumentos ideológicos. As ideologias de consumo não ocorrem somente no capitalismo. As ideologias podem ser vistas em toda e qualquer sociedade e em diferentes grupos de cada sociedade. O que difere em cada espaço é a lógica das ideologias de consumo. A lógica do capitalismo se sustenta na exploração da mão de obra e acumulação de capital. O consumo é a etapa do processo que sustenta a dinâmica de acumulação, visto que é regulada pela demanda, que exige dos mecanismos de produção uma racionalização das necessidades dos consumidores. Um dos mecanismos utilizados pelas ideologias de consumo está em adaptar as diferentes culturas a um modelo globalizado de sociedade de consumo. Este mecanismo interfere diretamente sobre o imaginário coletivo, formando os impulsos consumistas. Este processo também é denominado de massificação. O objetivo final dos capitalistas é a constituição de uma cultura massificada.

DICAS!

Interessado em saber mais sobre o “Admirável Mundo Novo”? Então leia o seguinte livro: HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2000.

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149UNIDADE 3 TÓPICO 3

FILOSOFIA

DICAS!

Lembrou da pipoca? Selecionei os seguintes filmes:

• Muito além do jardim - Retrata a vida de um homem que nunca havia saído de casa, conhecia o mundo apenas pela televisão.

• Forrest Gump - Um jovem americano participando, mais do que por acaso, dos principais acontecimentos da história de seu país neste século. Uma boa forma de discutir como nossas vontades são produzidas ideologicamente.

• Bom dia, Vietnã! – um irreverente e inconformado “Disc Jockey” é recrutado pelas forças armadas para apresentar um programa de rádio em plena guerra. Contudo, sofre com a censura de suas falas.

Vejamos agora como o poeta reflete sobre o tema:

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nomeque não é meu de batismo ou de cartório,um nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Em minha camiseta, a marca de cigarroque não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoque nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provadapor este provador de longa idade.

Numa sociedade massificada é fácil implantar valores utilitaristas, criar fantasmas, manipular representações, criar mitos, estabelecer modelos e gerar encantamentos. Para Ortiz, a cultura de massa depende da padronização. “A padronização promovida por e através de produtos culturais só é possível porque repousa num conjunto de mudanças sociais que estendem as fronteiras da racionalidade capitalista para a sociedade como um todo.” (ORTIZ, 1988, p. 49).

Diante disto, vale perguntar: como ícones absorvidos por culturas diferentes, em nome de uma condução consumista, conseguem se infiltrar nas mais íntimas relações humanas?

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150 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova e pente,meu copo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes,gritos visuais,ordens de uso, abuso, reincidência,costume, hábito, premência,indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.Estou, estou na moda.É doce estar na moda, ainda que a modaseja negar minha identidade,trocá-la por mil, açambarcandotodas as marcas registradas,todos os logotipos do mercado.Com que inocência demito-me de sereu que antes era e me sabiatão diverso de outros, tão mim-mesmo,ser pensante, sentinte e solidáriocom outros seres diversos e conscientesde sua humana, invencível condição.Agora sou anúncio,ora vulgar ora bizarro,em língua nacional ou em qualquer língua(qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glóriade minha anulação.Não sou – vê lá – anúncio contratado.Eu é que mimosamente pagopara anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas,e bem à vista exibo esta etiquetaglobal no corpo que desistede ser veste e sandália de uma essênciatão viva, independente,que moda ou suborno algum a compromete.Onde terei jogado fora

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151UNIDADE 3 TÓPICO 3

FILOSOFIA

meu gosto e capacidade de escolher,minhas idiossincrasias tão pessoais,tão minhas que no rosto se espelhavam,e cada gesto, cada olhar,cada vinco da rouparesumia uma estética?Hoje sou costurado, sou tecido,sou gravado de forma universal,saio da estamparia, não de casa,da vitrina me tiram, recolocam,objeto pulsante mas objetoque se oferece como signo de outrosobjetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim, tão orgulhosode ser não eu, mas artigo industrial,peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem.Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.

FONTE: ANDRADE, Carlos Drummond de. Corpo. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997. p. 85-87.

AUTOATIVIDADE

Você já ouviu falar em mensagem subliminar? Veja o site a seguir e tire suas conclusões: <http://www.mensagemsubliminar.com.br/>. Ele traz mensagens subliminares presentes nas artes, filmes, músicas...

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152 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você estudou que:

A palavra ideologia é empregada cotidianamente de duas maneiras distintas. Poderíamos distinguir entre uma “boa ideologia” e uma “má ideologia”.

A “boa ideologia” recebe uma forma de emprego que está associada a uma necessidade social, a uma identidade social, como lembra a música do Cazuza: “ideologia, quero uma pra viver”.

O outro emprego da palavra é pejorativo e constitui uma “má ideologia”. Faz alusão à manipulação social como forma de dominação.

As ideologias de dominação são formadas por um “corpo de ideias” que a classe opressora produz para convencer a população de que aquela estrutura social é a melhor.

No decorrer do texto foi possível identificar que existem vários mecanismos utilizados ideologicamente, dentre eles os principais são: a naturalização, a universalização, a reificação, a dissipação social, o falseamento e a alienação.

Destacou-se que a ideologia embutida em algumas propagandas está em agregar alguma ilusão (falseamento) ao produto.

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153UNIDADE 3 TÓPICO 3

FILOSOFIA

Procure aplicar os critérios estudados neste tópico para identificar a ideologia nas propagandas.

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154 UNIDADE 3TÓPICO 3

FILOSOFIA

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FILOSOFIA

NOTA! �

TRABALHO: ALIENAÇÃOOU HUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO?

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 4

UNIDADE 3

Quando alguém lhe diz: “faça o seu trabalho”, você não pode deixar de pensar na etimologia da palavra: está sendo torturado. A partir do sentido primeiro dado à palavra trabalho, faz-se uma associação com tortura, sofrimento, desgosto, dor, martírio etc.

Etimologicamente, a palavra trabalho vem do latim “tripalium”, instrumento de três paus utilizado para prender os animais e que também servia para imobilizar os escravos e açoitá-los.

Na sociedade atual, muitos são os sentidos dados ao trabalho. Para muitos, o trabalho é visto como dificuldade, algo ruim que se faz contra a vontade, enquanto que para outros o trabalho é considerado algo que enobrece e dignifica os seres humanos, essencial à vida. Além disso, há outros que encaram o trabalho com prazer e, até, como um lazer.

Nota-se que não é uma tarefa fácil conceituar trabalho. Em sentido amplo, podemos dizer que o termo trabalho pode ser compreendido como “toda ação transformadora (material ou intelectual) do homem, realizada na natureza e na sociedade em que vive”. (CORDI et al., 2000, p. 195). Além disso, o trabalho poderá incluir outros elementos, como: desconforto, sofrimento, custo, utilidade, autorrealização, ligados diretamente à subjetividade de cada um.

Se olharmos filosoficamente para o trabalho, veremos que há uma relação dialética entre o pensar e o fazer, entre a teoria e a prática, de modo que é quase impossível uma parte existir sem a outra e vice-versa. Portanto, este tópico tem como primeira finalidade pensar sobre o fazer, as ações práticas do ser humano na realidade social.

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156 UNIDADE 3TÓPICO 4

FILOSOFIA

NOTA! �

O trabalho, tal como é conhecido na atualidade, não é uma decorrência natural do ser humano. Tanto em seu conteúdo como em sua função, não foi entendido sempre da mesma maneira, mas teve modificações ao longo da história da humanidade.

Nas primeiras comunidades primitivas, o trabalho era realizado por todos os integrantes da tribo. Geralmente as mulheres faziam tarefas diferentes daquelas desempenhadas pelos homens, mas o trabalho não tinha a finalidade de obter lucros, apenas de satisfazer as necessidades do grupo.

Para a sociedade grega, todo o trabalho braçal não era valorizado, por ser considerado uma atividade degradante e que não exigia uma capacidade reflexiva, enquanto que os cidadãos livres dedicavam o seu tempo livre à reflexão e à contemplação das ideias.

Na época medieval, o trabalho passa a ter uma influência cristã. Os pensadores cristãos, principalmente São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, seguiam um princípio paulino: “quem não trabalha não deve comer”. Mas a Igreja condenava qualquer tipo de trabalho que tinha por interesse a usura. Além disso, o trabalho era visto como meio de purificação da mente e como forma de disciplinar o corpo.

2 O TRABALHO ATRAVÉS DA HISTÓRIA

No início da Idade Moderna ocorrem várias transformações na vida social e econômica, culminando com a passagem do feudalismo para o capitalismo. No sistema capitalista há uma separação entre capital (indústria, máquinas, ferramentas, matérias-primas, terras) e trabalho. Surgem, portanto, dois grupos: o trabalhador, que vive exclusivamente de seu trabalho, e o capitalista, dono dos meios de produção. Aranha e Martins (1999, p. 10) fazem a seguinte análise do trabalho nesta época:

O capital acumulado permite a compra de matérias-primas e de máquinas, o que faz com que muitas famílias que desenvolviam o trabalho doméstico nas antigas corporações e manufaturas tenham de dispor de seus antigos instrumentos de trabalho e, para sobreviver, se vejam obrigadas a vender a sua força de trabalho em troca de salário.

Lembra o significado de usura? De acordo com o Dicionário Houaiss – usura significa juro, renda ou rendimento de capital; empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa legal; agiotagem; juro exagerado, extorsivo; onzena, agiotagem; lucro excessivo.

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157UNIDADE 3 TÓPICO 4

FILOSOFIA

No sistema capitalista, o trabalho passa a ser visto como uma mercadoria, onde o trabalhador vende a sua força de trabalho para os donos do capital.

A partir do século XVIII tem-se a introdução da máquina no processo de produção. Este processo propiciou uma nova forma de produção, pois as máquinas passaram a substituir a ferramenta e a energia humana. Como exemplo, uma criança podia, ao girar uma manivela, realizar o trabalho de dezenas ou até de centenas de pessoas. Com isto, a produção passou a ser feita nas fábricas e cada operário realizava uma parte do processo.

As várias etapas eram articuladas racionalmente, visando a uma maior produção, com custos mais baixos. Os patrões, donos dos meios de produção, assumiram o controle da indústria e eliminaram os antigos núcleos domésticos de produção. Conforme Aranha e Martins (1999, p. 10), os trabalhadores passaram a ser explorados nos seus trabalhos.

Extensas jornadas de trabalho, de dezesseis a dezoito horas, sem direito a férias, sem garantia para a velhice, doença e invalidez; arregimentação de crianças e mulheres, mão de obra mais barata; condições insalubres de tra-balho, em locais mal iluminados e sem higiene; mal pagos, os trabalhadores também viviam mal alojados e em promiscuidade.

Todas estas situações demonstram o valor dado ao trabalhador pelo mercado: o mínimo possível, apenas o necessário para que ele possa sobreviver. As máquinas, ao contrário de serem usadas para facilitar o trabalho dos homens e proporcionar-lhes mais tempo livre, serviram para aterrorizar os trabalhadores das indústrias por meio da ameaça do desemprego e para impor uma ordem de trabalho monótona e rotineira, impedindo-as de ativar e desenvolver a capacidade questionadora do seu fazer.

O que se viu nestes últimos anos foi um domínio da tecnologia e da automação dos principais meios de produção sobre os setores agrícolas e industriais. Atualmente, percebe-se o desenvolvimento dos setores de serviços, que visa ao cotidiano de todos nós, baseado no consumo e na informação.

NOTA! �O trabalho, nestes últimos tempos, está cada vez mais acentuado. Para constatar esta transformação, sugerimos que você assista ao vídeo A Revolução Industrial, que apresenta como o Sistema Doméstico de produção foi substituído pelo Sistema Industrial e mostra os tipos de máquinas que promovem a transformação da economia inglesa. Revela, ainda, os problemas sociais e os benefícios materiais da Revolução Industrial.Após assistir ao vídeo, procure identificar os benefícios e os problemas sociais que a Revolução Industrial está ocasionando na atualidade. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1989, 1 videocassete (48 min): VHS/NTSC: son., color.

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158 UNIDADE 3TÓPICO 4

FILOSOFIA

IMPORTANTE! �4 A ALIENAÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO

Segundo Amarildo R. Ferrari (2005, p. 85), “o trabalho foi entendido apenas como forma de acumular capital, conseguir sucesso, obter fama. Perdeu-se a relação doação-serviço, como algo prazeroso e verdadeiramente dignificante”.

Para Karl Marx, um dos maiores pensadores do campo social, o trabalho é uma das formas que o homem encontrou para satisfazer suas necessidades básicas. Ao trabalhar, a pessoa será remunerada, podendo adquirir os bens que achar conveniente. Do contrário, não haveria necessidade de o homem trabalhar.

Atualmente, observa-se que muitas pessoas não trabalham apenas para satisfazer as suas necessidades vitais. Algo mais as impulsiona a ingressarem no mundo do trabalho. Segundo Serge Koln (apud ELSTER, 1992, p. 79-80), as pessoas trabalham por diversas razões:

Devido à coação direta, como no trabalho forçado.

Em troca de um salário.

Em razão de um desejo de ajudar e servir a outros.

Em decorrência de um sentido de dever ou de reciprocidade.

Por interesse no próprio trabalho.

Para manter as relações sociais no local de trabalho.

Para mostrar a outros que se faz uma contribuição à sociedade ou que se

tem certas habilidades.

Devido ao status social associado ao trabalho.

Para fugir do tédio.

Para divertir-se.

Por hábito.

As razões apresentadas por Serge Koln significam que as pessoas possuem diferentes interesses que as motivam a trabalhar. Além disso, o local de trabalho é espaço para se fazer novas amizades, elevar a sua autoestima e, principalmente, uma oportunidade de autorrealização.

3 POR QUE AS PESSOAS TRABALHAM?

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159UNIDADE 3 TÓPICO 4

FILOSOFIA

Com o desenvolvimento do capitalismo e o avanço da tecnologia no processo produtivo, o trabalho, em sua relação, passou a ser compreendido de duas maneiras diferentes: como algo que constrói o ser humano, dando-lhe uma identidade própria, ou apenas como um mero participante do processo produtivo, que executa tarefas que lhe são determinadas, um ser passivo e alheio, não reconhecendo os produtos como obra sua, tornando-se um sujeito alienado.

Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao tra-balhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e mentais, que provocam cansaço físico e depressão. Nessa situação, o trabalhador só se sente feliz em seus dias de folga, enquanto no trabalho permanece aborrecido. Seu trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado. (apud COTRIM, 2002, p. 29).

A partir desta descrição de Marx, o trabalhador se encontra alienado em seus mais variados sentidos:

a) alienação em relação ao produto de seu trabalho: torna-se objeto de seu trabalho ao dono do capital, sendo tratado como coisa estranha e o produto do seu trabalho não lhe pertence;

b) alienação em relação à própria atividade do trabalho: na sociedade capitalista, o trabalho deixa de ser do operário. Este fica alienado na atividade do próprio trabalho;

c) alienado em relação à vida da espécie: o homem fica relegado às funções dos animais. Disto resulta que o homem somente se sente livre em suas funções animais: no comer, no beber, no criar e em tudo o que concerne à habitação e ao trajar; mas, em suas funções humanas, sente-se como um animal;

d) alienação em relação aos demais homens: como o homem é o resultado de suas relações, temos como consequência a alienação do homem em relação a outro.

NOTA! �Etimologicamente, a palavra alienação deriva do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a outro”, ou seja, é transferir ao outro o que é seu, é tornar-se alheio ao processo produtivo, é não reconhecer a sua participação neste processo.

Esta situação foi analisada por Marx, que faz uma análise filosófica do trabalho alienado.

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FILOSOFIA

FONtE: Disponível em: <http://www.geocities.com/autonomiabvr/sacou1.gif>. Acesso em: 17 fev. 2004.

DICAS!

Sugerimos que assista ao filme Tempos Modernos, que apresenta o processo de alienação do trabalhador na empresa, a submissão do homem à máquina e algumas manifestações contrárias à opressão e à exploração do homem no trabalho. TEMPOS MODERNOS. Direção de Charles Chaplin. EUA: Charles Chaplin Productions, 1936. 1 DVD (87 min): preto e branco.

FIGURA 12 – SACOU?!

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FILOSOFIA

Neste sentido, a alienação é um processo que torna o homem objeto por meio do seu próprio trabalho: os objetos que não têm vida (produto, mercadoria) ganham vida, enquanto que o homem que tem vida transforma-se em objeto, perdendo a sua identidade. A pessoa não se realiza em seu trabalho, apenas desempenha uma função, tendo em vista a satisfação do mercado ou do dono dos meios de produção. Por isso, o trabalhador se esgota e não se realiza em suas capacidades físicas e mentais.

Muitos são os estudos e as formas de manifestação da alienação. Além do trabalho, a alienação se manifesta no consumo e no lazer, que alimentam o fetiche de adquirir tal objeto, impulsionados pela propaganda. Além de Marx, as discussões em torno da questão da alienação despertaram interesse em autores como Lukács, Erich Fromm, Althusser, Sartre, Mounier, Heidegger e tantos outros, que compreenderam de maneira diferente a manifestação da alienação no existir humano.

NOTA! �

DICAS!

Fetiche: nas práticas religiosas, significa objeto a que se atribui poder sobrenatural, enquanto que em psicologia, o fetiche é o contato com determinado objeto (roupa, meia, camisa, etc.) para a sua satisfação sexual. Nestes dois casos, os objetos inanimados ganham “vida”, tornam-se “humanizados”.

Procure mais informações sobre o tema Trabalho, acessando os seguintes sites:

<http://www.geocities.com/autonomiabvr/dossie.html> - apresenta algumas reflexões sobre o trabalho na atualidade, a partir das obras de Marx.

<http://www.marins.hpg.ig.com.br/mat27.htm> - aborda a qualidade de vida no trabalho.

Se, por um lado, o trabalho aliena o ser humano, impedindo-o de participar como sujeito ativo do processo produtivo, por outro lado o trabalho pode ser visto como realização humana, algo que humaniza e dignifica a sua ação.

5 A REALIZAÇÃO HUMANA NO MUNDO DO TRABALHO

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FILOSOFIA

Então, por que o trabalho e a realização humana vivem em constante conflito? Esta situação torna-se ainda mais complexa se considerarmos o processo de globalização e mercadorização do trabalho. Este conflito se deve ao fato de que a sociedade está organizada de tal forma que, para a maioria dos indivíduos, o trabalho não é um projeto seu e nem são seus os frutos do seu próprio esforço. A maioria das pessoas na sociedade executa os projetos que são pensados por alguns e que também se apoderam dos frutos da grande maioria. Nesta situação, o trabalho se torna estafante e opressivo, longe de ser sinônimo de realização humana.

Segundo Marx, o trabalho deve ser visto com os olhos de um artista. “Uma expressão da criatividade e da inteligência humana, que possibilita a transformação da natureza, constituindo uma fonte de prazer e alegria”. (GALLO, 1997, p. 49).

Como realização humana, o trabalhador se transforma em sujeito de seu processo e reconhece a natureza como possibilidade de satisfação de suas necessidades, fruto de sua liberdade e criatividade.

LEITURA COMPLEMENTAR

Leia, agora, um famoso poema de Vinicius de Moraes, que nos fala da mudança de consciência de um trabalhador a partir da reflexão sobre a importância de sua profissão. Procure identificar, ao longo deste poema, expressões que apontam para a mudança de consciência do trabalhador.

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemplo,Que a casa de um homem é um temploUm templo sem religião.Como tampouco sabiaQue a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.

De fato, como podia,Um operário em construção,Compreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadria.Quanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!

OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

O ser humano vive sempre em busca de sua realização. A realização humana é sempre um projeto em construção, nunca está concluído. É a busca incessante desta realização que leva o homem a transformar a natureza em busca de sua satisfação. Se pelo trabalho há uma transformação da natureza em bens para a sua satisfação, parece evidente sua relação com a realização humana.

Vinicius de Moraes

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FILOSOFIA

E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse eventualmenteUm operário em construção.

Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão –Era ele quem fazia,

Ele, um humilde operário,Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela,Banco, enxerga, caldeirãoVidro, parede, janelaCasa, cidade, nação!Tudo, tudo o que existiaEra ele que os faziaEle, um humilde operárioUm operário que sabiaExercer a profissão.

Ah! homens de pensamentoNão sabereis nunca o quantoAquele humilde operárioSoube naquele momento!Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantaraUm mundo novo nasciaDe que sequer suspeitava.O operário emocionadoOlhou sua própria mãoSua rude mão de operárioDe operário em construçãoE olhando bem para elateve um segundo a impressãoDe que não havia no mundoCoisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensãoDesse instante solitárioQue, tal sua construção,Cresceu também o operárioCresceu em alto e profundoEm largo e no coraçãoE como tudo que cresceEle não cresceu em vãoPois além do que sabia– Exercer a profissão –O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.

E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.E foi assim que o operárioDo edifício em construção

Que sempre dizia “sim”Começou a dizer “não”

E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:Notou que sua marmitaEra o prato do patrão

Que sua cerveja preta

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Era o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde morava

Era a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.

E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.

Como era de se esperarAs bocas da delaçãoComeçaram a dizer coisasAos ouvidos do patrãoMas o patrão não queriaNenhuma preocupação.– “Convençam-no do contrário” –Disse ele sobre o operárioE ao dizer isto sorria.

Dia seguinte, o operárioAo sair da construçãoViu-se de súbito cercadoDos homens da delaçãoE sofreu, por destinadoSua primeira agressão.teve seu rosto cuspidoteve seu braço quebradoMas quando foi perguntadoO operário disse: Não!

Em vão sofrera o operárioSua primeira agressãoMuitas outras seguiramMuitas outras seguirão

Porém, por imprescindívelAo edifício em construçãoSeu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimentoMisturava-se ao cimentoDa construção que crescia.

Sentindo que a violênciaNão dobraria o operárioUm dia tentou o patrãoDobrá-lo de modo várioDe sorte que o foi levandoAo alto da construçãoE num momento de tempoMostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operárioFez-lhe esta declaração:

– “Dar-te-ei todo esse poderE a sua satisfaçãoPorque a mim me foi entregueE dou-o a quem quiser.Dou-te tempo de lazerDou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vêsSerá teu se me adoraresE, ainda mais, se abandonaresO que te faz dizer NÃO”.

Disse, e fitou o operárioQue olhava e refletiaMas o que via o operárioO patrão nunca veria.O operário via casasE dentro das estruturasVia coisas, objetosProdutos, manufaturas.Via tudo o que faziaO lucro do seu patrão.E em cada coisa que viaMisteriosamente havia

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A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!– “Loucura!” – gritou o patrão“Não vês o que te dou eu?”– Mentira! – disse o operário“Não podes dar-me o que é meu”.E um grande silêncio fez-seDentro do seu coração

Um silêncio de martíriosUm silêncio de prisão.Um silêncio povoadoDe pedidos de perdão

Um silêncio apavoradoCom o medo em solidão.Um silêncio de torturas

E gritos de maldiçãoUm silêncio de fraturasA se arrastarem no chão.

E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coraçãoE dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.

Vinícius de Moraes

FONtE: Moraes (1976, p. 69-70)

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FILOSOFIA

Neste tópico você viu que:

A palavra trabalho vem do latim tripalium e significa instrumento de tortura.

Nas primeiras comunidades primitivas, o trabalho era realizado por todos os integrantes da tribo e não tinha finalidade de obter lucro.

Para os gregos, apenas os cidadãos livres é que podiam exercer a sua cidadania.

A Igreja Católica condenava qualquer tipo de trabalho que tinha por interesse a usura.

Na Idade Moderna, com o sistema capitalista, surgem dois grupos: o trabalhador, que vive exclusivamente de seu trabalho, e o capitalista, dono dos meios de produção.

Segundo Marx, as pessoas trabalham para satisfazer as suas necessidades básicas.

Segundo Marx, o trabalhador se encontra alienado em relação: ao produto do seu trabalho, às atividades do seu trabalho, à vida da espécie e aos demais homens.

Segundo Marx, o trabalho deve ser visto como “uma expressão da criatividade e da inteligência humana, que possibilita a transformação da natureza, constituindo uma fonte de prazer e alegria”.

O poema O operário em construção apresenta a mudança de consciência de um trabalhador a partir da sua reflexão.

RESUMO DO TÓPICO 4

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As questões que seguem são uma espécie de roteiro para que você possa identificar as principais ideias referentes ao trabalho. Ao respondê-las, estará sintetizando e compreendendo as ideias apresentadas neste tópico. Bom trabalho!

1 Na atualidade, como o trabalho pode ser compreendido?

2 Como o trabalho era compreendido: pelas primeiras comunidades primitivas; entre os gregos; pela Igreja Católica na Idade Média; e pelo sistema capitalista?

3 Quais as consequências da introdução das máquinas no processo produtivo para a sociedade?

4 Quais as razões que levam as pessoas a trabalhar?

5 Comente a seguinte afirmação de Marx: “o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade”.

6 Quais os diferentes sentidos de alienação? Explique-os.

7 Como o ser humano pode se realizar no mundo do trabalho?

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FILOSOFIA

AS FILOSOFIAS POLíTICAS

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 5

UNIDADE 3

Em nosso tempo, quando se fala em política, há uma grande insatisfação e desinteresse pelo assunto. É comum ouvirmos expressões como estas sobre os políticos: são todos ladrões; não fazem nada para melhorar a vida do povo; só querem ganhar sem trabalhar... Todas estas expressões denotam um sentido negativo para a palavra política. Além disso, a palavra política é utilizada para expressar as ações do estado e de outras instituições que se manifestam como: política social, política ecológica, política educacional, política sindical e tantas outras formas. Segundo Bertolt Bretch (apud COTRIM, 1997, p. 249):

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorân-cia política nascem a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

De acordo com o pensamento de Bertolt Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político”, porque todas as nossas relações e vivências em sociedade são políticas. Desde o preço dos alimentos; a geração de empregos; a qualidade da educação; o nível de desenvolvimento de um país, tudo depende de decisões políticas. Portanto, a política não diz respeito apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos.

Mas o que é política? Etimologicamente, a palavra política vem do grego pólis (cidade-estado), que significa a arte de governar, de gerir o destino da cidade. O sentido dado ao termo política foi se formando a partir das atividades sociais desenvolvidas pelos homens na pólis, a cidade-estado grega. Enquanto que em outros locais, como na Pérsia ou no Egito, a atividade política seria a do governante, que comandava autocraticamente o coletivo em direção a certos objetivos: as edificações públicas, as guerras ou a pacificação do coletivo.

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FILOSOFIA

Segundo Aristóteles, a política refere-se a toda prática social que envolve a vida na pólis. Aristóteles entende que “o homem é, por natureza, um animal social e político”. Tende a fazer parte da pólis, a “cidade” enquanto sociedade política.

A partir desta compreensão de política, como prática social que envolve a vida na pólis, este tópico tem como propósito apresentar algumas ideias e concepções de política que a sociedade sistematizou ao longo de sua história. De antemão, temos consciência de que o campo de investigação sobre o assunto é amplo, abrangente e envolve visões bastante diferenciadas entre os pensadores do assunto. Nosso propósito é elucidar algumas ideias que são importantes para os diversos cursos em questão.

2 O PODER POLíTICO NA SOCIEDADE

Geralmente, a política se expressa por meio de uma estrutura denominada Estados, que se faz presente nas esferas locais, estaduais e federais, exercendo um grande poder perante a sociedade. Mas, o que vem a ser o poder? Tem sido entendido como dominação do homem ou de um grupo de pessoas sobre os outros homens. Para Hobbes (1974, p. 57), “[...] o poder de um homem (universalmente considerado) consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem futuro”. Enquanto que “o maior dos poderes humanos é aquele que é composto pelos poderes de vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de todos os seus poderes na dependência de sua vontade: é o caso do poder de um Estado”.

Neste mesmo sentido, Norberto Bobbio (2000, p. 954), filósofo político do século XX, estabelece que o poder é “[...] uma relação entre dois sujeitos, onde um impõe ao outro sua vontade e lhe determina, mesmo contra a vontade, o comportamento”. Se entendermos o poder como uma relação entre duas ou mais pessoas ou a posse de certos meios para alcançar uma certa vantagem ou obter os efeitos desejados, podemos identificar três grandes formas de poder na sociedade moderna: o econômico, o ideológico e o político.

A primeira forma de poder, o econômico, se baseia na posse de certos bens, considerados importantes pela sociedade, onde se estabelece uma relação de dependência. Este tipo de poder pode ser visto na relação que se estabelece entre patrões e empregados, em que os patrões, donos dos meios de produção, impõem as condições de trabalho e de salário aos empregados.

A segunda forma de poder, o ideológico, utiliza a posse de certas ideias, valores ou doutrinas para convencer ou condicionar os demais. Este tipo de poder pode ser visto nos meios de comunicação social (rádio, TV, jornais, revistas), nas igrejas (pastores e padres) ou

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FILOSOFIA

3 AS FILOSOFIAS POLíTICAS

3.1 A POLÍTICA ENTRE OS GREGOS

entre cientistas e intelectuais que difundem suas ideias perante a sociedade.

A terceira forma de poder, o político, fundamenta-se na posse das armas e das leis, isto é, através dos meios de coerção social. Este tipo de poder pode ser visto em toda a estrutura estatal por meio do exército, das delegacias de polícia e dos tribunais, presentes em todas as esferas sociais. O que caracteriza o poder político é “[...] o processo que se desenvolve em toda a sociedade organizada, no sentido de monopolização da posse e uso dos meios com que se pode exercer a coação física”. (BOBBIO, 2000, p. 956).

O que há de comum entre estas três formas de poder “[...] é que elas contribuem conjuntamente para instituir e manter sociedades de desiguais divididas em fortes e fracos, com base no poder político; em ricos e pobres; com base no poder econômico; em sábios e ignorantes, com base no poder ideológico”. (BOBBIO, 1987, p. 83). Geralmente, estas três formas de poder estão direta ou indiretamente articuladas, e se manifestam nas forças produtivas da sociedade, nos detentores dos meios de comunicação social e nos responsáveis políticos na sociedade.

A concepção de política que se tem hoje é resultado de um longo processo histórico. Durante todo este processo histórico, muitas foram as formas utilizadas para fazer política, prevalecendo ora uma, ora outra concepção de política, dependendo de quem se encontrava no poder.

Desde os gregos, quando se iniciou uma discussão mais sistematizada sobre a política, até os dias atuais, muitas foram as concepções de política que se teve e muitas foram as formas utilizadas de se fazer política. Talvez mais importante do que identificar as transformações ocorridas ao longo da história da humanidade, pensar a política atualmente não significa estudar o Estado em sua constituição física e ideológica, mas repensar as necessidades do passado que levaram a constituir estas instituições.

Lembrar dos gregos é lembrar-se da Ágora, “[...] local onde as pessoas se reuniam nas diversas póleis para as atividades religiosas, políticas, sociais, judiciais, comerciais” (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 191), da democracia ateniense, do governo oligárquico e do poderio militar de Esparta. Estas ideias nos remetem ao desenvolvimento da política entre os gregos como

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FILOSOFIA

algo valoroso, importante para a população. Dentre os muitos pensadores políticos gregos, podemos citar Platão e Aristóteles, que procuraram desenvolver uma teoria política voltada para o exercício de um bom governo.

O pensamento político de Platão encontra-se na obra A República. Uma das alegorias que ilustra muito bem o seu pensamento está no mito da caverna, onde o filósofo é representado como aquele que ajuda a libertar das correntes os que vivem no interior da caverna apreciando apenas as aparências. A partir da ideia do mito da caverna, a questão que surge é: como fazer os homens contemplarem a verdadeira realidade? Trata-se de uma ação política, de transformar os homens e a sociedade dirigida por um modelo ideal de sociedade, perfeita, utópica (em grego, utopia significa “em nenhum lugar”), que não existisse em lugar algum.

Crítico da democracia, por achar que o povo é incapaz de dar a sua opinião de como governar, Platão afirma que “cada um deve ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor dotado por natureza”. (PLATÃO, 1996, p. 432d-433b). Apenas alguns são dotados desta capacidade, que são os reis ou os filósofos, porque somente o homem sábio é capaz de compreender em sua amplitude o que é bom, belo e justo. Somente quem conhece está menos propenso a cometer injustiças ou de praticar o mal.

Contrário à política platônica, Aristóteles critica a sua forma de fazer política, principalmente a ideia de cidade utópica, por ser algo irrealizável e pelo poder ilimitado dos reis e filósofos na sociedade, tornando-a hierarquizada. Aristóteles procurou tratar de uma política mais próxima de sua realidade.

Para Aristóteles, a política é uma ciência da busca da felicidade humana que “se utiliza de todas as outras ciências, e todas elas perseguem um determinado bem; o fim que ela persegue pode englobar todos os outros fins, a ponto de este fim ser o bem supremo dos homens”. (apud MAAR, 1994, p. 31). O principal objetivo da política é descobrir a melhor maneira de viver, que tenha em vista a felicidade humana como um todo.

As melhores formas de governo consideradas por Aristóteles são: monarquia (governo de uma só pessoa, que tem como característica principal a unidade), aristocracia (governo dos melhores, que tem como característica principal seu aprimoramento), politeia (governo da maioria, que tem como característica principal a liberdade). Nenhuma destas formas é perfeita, todas estão sujeitas a serem modificadas por interesses privados e pessoais dos homens, sofrendo alterações em sua essência. Para uma sociedade se manter estável, a melhor forma de governo é aquela que leva em consideração estas três formas de governo e que busca o equilíbrio entre as diferentes classes. Somente um governo formado por pessoas da classe média é que seria o mais capaz de resolver os conflitos entre ricos e pobres, dando estabilidade à organização social. Destas três formas de governo, Aristóteles prefere a politeia, que é o governo do povo, da maioria, que beneficia a todos os cidadãos indistintamente, sem fazer nenhum tipo de discriminação.

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FILOSOFIA

3.2 MAQUIAVEL E O GOVERNO

Maquiavel (1469-1527) viveu num período de profundas transformações econômicas, sociais, políticas e culturais no modo de vida europeu. Por pensar diferente em seu tempo, sofreu inúmeras perseguições, foi preso, torturado e exilado, mas não desistiu de suas ideias. Considerado o pai da Ciência política, Maquiavel apresenta em sua principal obra, O Príncipe, as formas para se manter no poder. “É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder não ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”. (MAQUIAVEL, 1973, p. 69). O governante não deve agir de acordo com os preceitos morais da sociedade, mas de acordo com a lógica do poder. É neste sentido que “[...] os fins justificam os meios”. É mais seguro para o governante ser temido do que ser amado, pois, sendo temido, será reverenciado por todos.

DICAS!

Sinopse:

‘O Príncipe’, escrito em 1513, é um livro polêmico, perigoso e revolucionário. É um manual para ação. É a obra-prima de Maquiavel. Maquiavel é considerado o ‘pai’ da ciência política e seus textos são analisados em escolas e universidades de todo o mundo.

Mas, para Maquiavel (1973, p. 81), um governante ou “[...] o príncipe deve, no entanto, ter muito cuidado em não deixar escapar da boca expressões que não revelem as cinco qualidades [...], devendo aparentar, à vida e ao ouvido, ser todo piedade, fé, integridade, humanidade, religião”. Maquiavel procurou entender a política como uma disciplina autônoma das outras ciências. Além disso, descreveu como ela se dá de fato na prática. Nesta perspectiva, fazer política é descobrir na sociedade os sistemas de forças existentes para poder desenvolver as suas ações.

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FILOSOFIA

3.3 HOBBES E O ESTADO

Filósofo inglês, Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado um crítico das ideias liberais. Suas ideias políticas estão registradas em uma de suas obras mais importantes, o Leviatã (título simbólico, o Leviatã é uma figura bíblica, animal monstruoso e cruel, mas que defende os peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes), em que afirma que os homens são naturalmente egoístas, maus e ambiciosos. Antes da origem do Estado, os homens viviam a sua verdadeira natureza, em estado de guerra permanente.

DICAS!

Sinopse:

Em ‘Leviatã’, Thomas Hobbes coloca as condições de dissoluções do Estado. Para ele, somente a concentração de autoridade garante a unidade e a paz social. Suas ideias políticas apoiaram o absolutismo do século XVII. Partidário do absolutismo político, defende-o sem recorrer à noção de ‘direito divino’. Segundo o filósofo, a primeira lei natural do homem é a da autopreservação, que o induz a impor-se sobre os demais - ‘guerra de todos contra todos’.

Neste estado natural, o homem está em constante conflito para poder sobreviver. Esta situação gera insegurança, angústia e medo. O homem se torna lobo para o outro homem. Este conflito só é superado quando todos os homens renunciarem à sua vontade natural por uma única vontade, um pacto de união.

Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração daquele grande Leviatã. (HOBBES, 1974, p. 109).

O Estado origina-se deste pacto social, onde cada indivíduo abre mão de sua liberdade e transfere ao Estado poderes absolutos e irrevogáveis. Hobbes também defendeu um poder indivisível, centrado nas mãos de um único soberano, caso contrário, o homem voltaria a um estado natural, marcado pela guerra e insegurança permanente.

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FILOSOFIA

3.4 MONTESQUIEU E OS PODERES

4 O ESTADO CAPITALISTA

Presente em quase todas as constituições do mundo e associada às ideias de estados democráticos, a separação dos poderes foi desenvolvida por Montesquieu (1689-755), como forma de garantir a liberdade política.

Em uma de suas principais obras, Do Espírito das Leis (1748), Montesquieu formula uma teoria baseada na divisão do poder em: Executivo, responsável em planejar e determinar como as leis devem ser executadas; Legislativo, responsável em transformar as diversas opiniões em leis, e Judiciário, responsável em fiscalizar e aplicar as leis aprovadas.

Sinopse:

Na sua obra prima Do Espírito das Leis (1748), Montesquieu elabora conceitos sobre formas de governo e exercícios da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos da ciência política. Suas teorias exerceram profunda influência no pensamento político. Inspiraram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, durante a Revolução Francesa.

Montesquieu (1996, p. 168) justifica a divisão dos poderes alegando que, “[...] quando os poderes Legislativo e Executivo ficam reunidos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a liberdade desaparece [...]. Para que não haja abuso é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder”. Dentro desta ordem, o objetivo político, para Montesquieu, é assegurar uma certa ordem, bem como conferir uma certa legitimidade e racionalidade administrativa aos poderes dentro de uma certa harmonia.

A partir do século XVI, surge na Europa um novo sistema político e econômico: o capitalismo, que se estruturou a partir da decadência do feudalismo. De maneira geral, a base de sustentação encontra-se no capital, na propriedade privada, nos meios de produção, na exploração do trabalho assalariado e na competição de um mercado livre. O objetivo principal é a obtenção da mais-valia, ou seja, o lucro que o patrão adquire na produção realizada pelos empregados.

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176 UNIDADE 3TÓPICO 5

FILOSOFIA

NOTA! �O Capitalismo é um sistema político e econômico que admite a propriedade privada do capital. O uso do capital e da riqueza não tem limites e não sofre interferências do Estado.

A Mais-valia é o lucro que o patrão adquire na produção realizada pelos empregados.

Também são características do capitalismo: as crises periódicas, a divisão da sociedade em classes, a miséria das massas, a exploração, as guerras. A contradição básica do capitalismo se expressa no antagonismo entre as classes, o proletariado e a burguesia.

Como força representativa da sociedade, o Estado no sistema capitalista tem por finalidade “agir como mediador dos conflitos entre os diversos grupos sociais [...]. O Estado deve promover a conciliação entre os grupos sociais, amortecendo os choques dos setores divergentes para evitar a desagregação social”. (COTRIM, 2002, p. 294). Sendo o Estado formado por representantes dos diferentes grupos sociais, tem ele a função de harmonizar os diferentes grupos, prevalecendo o interesse do bem comum.

5 O ESTADO SOCIALISTA

Embora o desenvolvimento do socialismo seja marcado por uma diversidade de interpretações, principalmente na sua origem e no desenvolvimento de suas ideias, podemos identificar algumas concepções que marcaram muito fortemente o pensamento socialista.

Em geral, o socialismo foi sendo entendido como um programa político das classes trabalhadoras, com o objetivo de promover uma maior igualdade social, em contraposição ao capitalismo. O Socialismo surge, principalmente, a partir das condições reais de trabalho e sobrevivência dos trabalhadores nas indústrias capitalistas.

ATENÇÃO!

O Socialismo é entendido como um programa político que propõe a incorporação dos meios de produção pelos trabalhadores, com o objetivo de promover uma maior igualdade social, em contraposição ao capitalismo.

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177UNIDADE 3 TÓPICO 5

FILOSOFIA

Os primeiros socialistas são conhecidos como utópicos, por compartilharem de um ideal de sociedade mais justo e igualitário, porém não sabiam como promover tais transformações. Dentre eles, destacam-se: Robert Owen, Saint-Simon, Fourier. Mas foi com Karl Marx e Engels que o socialismo ganhou um caráter científico. “De programa racionalístico de reconstrução da sociedade que se [...] transforma em programa de autoemancipação do proletariado, como sujeito histórico da tendência objetiva para a solução comunista das contradições econômico-sociais do capitalismo”. (BOBBIO, 2000, p. 1198).

Marx e Engels partiram da compreensão de que a origem da desigualdade entre as classes está na propriedade privada e na apropriação do trabalho do proletariado (mais-valia) pelos donos do capital. Os interesses das duas classes (burgueses e proletários) no sistema capitalista são irreconciliáveis, gerando a luta de classes. Para resolver esta situação, Marx deu indicações precisas:

[...] a passagem do ordenamento baseado na propriedade privada à sociedade comunista se configuraria, após a tomada do poder por parte do proletariado, como um período de transição caracterizado, no plano político, pela ditadura do proletariado e, no plano econômico, pela sobrevivência parcial da forma mercatória dos produtos e do trabalho, com a relativa repartição da renda segundo as quantidades desiguais de trabalho; numa segunda fase, com a completa extinção da divisão das classes e da forma mercatória, todo o do-mínio político desapareceria na sansimoniana administração das coisas e a repartição do produto social se realizaria segundo as necessidades. (BOBBIO, 2000, p. 1198).

Como resultado desse processo de mudança, o capitalismo seria substituído pelo socialismo, baseado na propriedade social (e não privada) dos meios de produção. O socialismo possibilitaria alcançar a fase do comunismo, no qual deixariam de existir as classes sociais e o próprio Estado.

DICAS!

Que tal assistir a um filme sobre política? Sugerimos que você assista ao filme: O Que é isso, Companheiro? Considerado um dos melhores filmes brasileiros que apresenta a dramática luta contra a ditadura militar. O filme mostra o sequestro do embaixador americano por um grupo de revolucionários, que pressionam o governo brasileiro a atender às suas reivindicações. Assista ao filme e procure relacioná-lo ao conteúdo deste tópico. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? Direção de Bruno Barreto. Brasil: Miramax Films / Riofilmes, 1997, 1 DVD (105 min), color.

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178 UNIDADE 3TÓPICO 5

FILOSOFIA

6 A SOCIEDADE DEMOCRÁTICA

A prática da democracia na atualidade é diferente de país para país, por isso não existe uma definição precisa sobre o seu significado. A forma específica que adquire a democracia em um país está determinada, de maneira geral, pelas circunstâncias políticas, sociais e econômicas, assim como fatores históricos, tradição e cultura.

A palavra democracia vem do grego demos, que significa povo, e cracia poder. Existe uma polissemia para a palavra democracia, mas existem várias definições que representam um pouco a palavra democracia. Acompanhe!

•Democracia é uma “forma de governo caracterizada por um conjunto de regras que permitem a mudança dos governantes sem necessidade de usar a violência”. (BOBBIO, 1996 apud BRANDÃO, 2006, p. 143).

•Para Kelsen, “o que caracteriza a democracia são as regras que possibilitam a livre e pacífica convivência dos indivíduos numa sociedade”. (BOBBIO, 1998 apud BRANDÃO, 2006, p. 144).

Depois destas definições, podemos afirmar que democracia é um sistema político em que as decisões são tomadas por representantes da sociedade. Além disso, é uma forma de governo em que a realidade e os valores são ajustados de acordo com a liberdade e a igualdade.

A palavra democracia provém dos antigos gregos, mais precisamente da cidade de Atenas. Todos os homens adultos se reuniam para discutir, debater diferentes temas e manifestavam seu voto pela aprovação ou rejeição da ideia proposta. Os escravos e mulheres não tinham direito ao voto e nem participavam da vida política.

Atualmente, uma das características da democracia é a rotatividade de governos. As escolhas dos governantes, na maioria dos países, são feitas por eleições diretas e indiretas.

NOTA! �Eleições diretas: quando o povo escolhe diretamente as pessoas que irão ocupar um cargo ou função em âmbito municipal, estadual ou federal.

Eleições indiretas: quando o povo escolhe representantes que irão eleger ou escolher pessoas para ocuparem cargo ou função em âmbito municipal, estadual ou federal.

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179UNIDADE 3 TÓPICO 5

FILOSOFIA

Nos estados capitalistas há uma defesa bastante forte da democracia. As características que marcam a democracia nos estados capitalistas são:

Em primeiro lugar, que identificam liberdade e competição – tanto a com-petição econômica da chamada “livre iniciativa”, quanto a competição política entre partidos que disputam eleições.Em segundo lugar, que identificam a lei com a potência judiciária para limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania, a lei garantindo os governos escolhidos pela vontade da maioria.Em terceiro lugar, que identificam a ordem com a potência do Executivo e do Judiciário para conter e limitar os conflitos sociais, impedindo o desen-volvimento da luta de classes, seja pela repressão, seja pelo atendimento das demandas por direitos sociais (emprego, boas condições de trabalho e salário, educação, moradia, saúde, transporte, lazer).Em quarto lugar, que, embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia. (CHAUÍ, 1997, p. 556-557, grifo nosso).

Neste sentido, a democracia é um sistema político baseado na ideia de liberdade, competição, legitimidade e eficiência dos ocupantes de cargos públicos e nas soluções técnicas (e não políticas) para os problemas sociais.

Por fim, apresentamos alguns princípios e práticas que caracterizam a democracia e consequentemente distingue de outros regimes políticos. Acompanhe!!!

•Democracia é o governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são exercidos por todos os cidadãos, diretamente ou através dos seus representantes livremente eleitos.

•Democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade humana; é a institucionalização da liberdade.

•A democracia baseia-se nos princípios do governo da maioria, associados aos direitos individuais e das minorias. Todas as democracias, embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.

•As democracias protegem de governos centrais muito poderosos e fazem a descentralização do governo a nível regional e local, entendendo que o governo local deve ser tão acessível e receptivo às pessoas quanto possível.

•As democracias entendem que uma das suas principais funções é proteger direitos humanos fundamentais, como a liberdade de expressão e de religião; o direito a proteção legal igual; e a oportunidade de organizar e participar plenamente na vida política, econômica e cultural da sociedade.

•As democracias conduzem regularmente eleições livres e justas, abertas a todos os cidadãos. As eleições numa democracia não podem ser fachadas atrás das quais se escondem

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180 UNIDADE 3TÓPICO 5

FILOSOFIA

ditadores ou um partido único, mas verdadeiras competições pelo apoio do povo.

•A democracia sujeita os governos ao Estado de Direito e assegura que todos os cidadãos recebam a mesma proteção legal e que os seus direitos sejam protegidos pelo sistema judiciário.

•As democracias são diversificadas, refletindo a vida política, social e cultural de cada país. As democracias baseiam-se em princípios fundamentais e não em práticas uniformes.

•Os cidadãos numa democracia não têm apenas direitos, têm o dever de participar no sistema político que, por seu lado, protege os seus direitos e as suas liberdades.

•As sociedades democráticas estão empenhadas nos valores da tolerância, da cooperação e do compromisso. As democracias reconhecem que chegar a um consenso requer compromisso e que isto nem sempre é realizável. Nas palavras de Mahatma Gandhi, “a intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático”.

FONTE: BRASÍLIA. Embaixada Americana (Org.). Princípios da Democracia. Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/what.htm>. Acesso em: 10 maio 2010.

Em síntese, no regime democrático os representantes políticos são eleitos através de eleições periódicas; todos os cidadãos têm direito de votar e ser votados conforme regras estabelecidas pelo processo eleitoral; cada um tem direito de expressar-se livremente sobre todos os assuntos políticos sem serem castigados pelo Estado; direito de manterem-se informados sobre todas as ações de governo.

DICAS!

Procure mais informações sobre o tema Política, acessando os seguintes sites: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/index_politica.htm>. – apresenta uma série de artigos sobre política na visão de cada um dos pensadores.<http://consciencia.org/contemporanea/ortegagassetdanilo.shtml>. – dispõe de um artigo que analisa as teses sociais e políticas do filósofo.

LEITURA COMPLEMENTAR

SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO

John Locke

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181UNIDADE 3 TÓPICO 5

FILOSOFIA

124. O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunidades, colocando-se eles sob governo, é a preservação da propriedade. Para este objetivo, muitas condições faltam no estado de natureza:

Primeiro, falta uma lei estabelecida, firmada, conhecida, recebida e aceita mediante consentimento comum, como padrão do justo e injusto e medida comum para resolver quaisquer controvérsias entre os homens; porque, embora a lei da natureza seja evidente e inteligível para todas as criaturas racionais, entretanto os homens, sendo desviados pelo interesse, bem como ignorantes dela porque não a estudam, não são capazes de reconhecê-la como lei que os obrigue nos seus casos particulares.

[...]

127. Assim os homens, apesar de todos os privilégios do estado de natureza, mantendo-se em más condições enquanto nele permanecem, são rapidamente levados à sociedade. Daí resulta que raramente encontramos qualquer grupo de homens vivendo dessa maneira. Os inconvenientes a que estão expostos pelo exercício irregular e incerto do poder que todo homem tem de castigar as transgressões dos outros os obrigam a se refugiarem sob as leis estabelecidas de governo e nele procurarem a preservação da propriedade. É isso que os leva a abandonarem de boa vontade o poder isolado que têm de castigar, para que passe a exercê-lo um só indivíduo, escolhido para isso entre eles; e mediante as regras que a comunidade ou os que forem por ela autorizados, concordem em estabelecer. E nisso se contém o direito original dos poderes Legislativo e Executivo, bem como dos governos e das sociedades.

[...]

132. Tendo a maioria, conforme mostramos, quando de início os homens se reúnem em sociedade, todo o poder da comunidade naturalmente em si, pode empregá-lo para fazer leis destinadas à comunidade de tempos em tempos, que se executam por meio de funcionários que ela própria nomeia: nesse caso, a forma de governo é uma perfeita democracia; ou então pode colocar o poder de fazer leis nas mãos de alguns homens escolhidos, seus herdeiros e sucessores: nesse caso, ter-se-á uma oligarquia; ou então nas mãos de um único homem: constitui-se nesse caso uma monarquia; se para ele e herdeiros: será hereditária; se para ele somente durante a vida, mas pela morte dele sendo a ela devolvido o poder de indicar o sucessor: será a monarquia eletiva. E assim, segundo estas maneiras de ser, a comunidade pode estabelecer formas compostas ou mistas de governo, conforme achar conveniente. E se o Poder Legislativo for a princípio concedido pela maioria a uma pessoa somente, para sempre, ou por qualquer prazo limitado, e em seguida o poder supremo deva novamente voltar para ela – quando assim volta, a comunidade pode dispor de novamente, colocando-o nas mãos de quem quiser, constituindo nova forma de governo. Dependendo a forma de governo da situação do poder supremo, que é o Legislativo – sendo impossível conceber-se que o poder inferior prescreva ao superior ou que outro qualquer que não o poder supremo faça as leis –,

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182 UNIDADE 3TÓPICO 5

FILOSOFIA

conforme se coloca o poder de fazer leis, assim também é a forma da comunidade.

FONTE: Locke (1973, p. 88-89, 91)

O PRíNCíPE

Nicolaw Maquiavel

Quando seja louvável a um príncipe manter a fé e viver com integridade, não com astúcia, todos o compreendem; contudo, observa-se, pela experiência, em nossos tempos, que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em pouca conta tiveram a palavra dada, e souberam, pela astúcia, transformar a cabeça dos homens, superando, enfim os que foram leais.

Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] É que isso (ter um preceptor metade animal e metade homem) significa que o príncipe sabe empregar uma e outra natureza. E uma sem a outra é a origem da instabilidade. Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de leões não serão bem-sucedidos. Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mau. Mas, dado que são pérfidos e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la para com eles.

FONTE: Maquiavel (1973, p. 79-80)

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183UNIDADE 3 TÓPICO 5

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico vimos que:

O significado da palavra política vem do grego polis (cidade-estado), que significa a arte de governar, de gerir o destino da cidade.

O poder é a relação que se estabelece entre dois sujeitos, onde um impõe ao outro sua vontade ou a posse de certos meios ou bens para alcançar uma certa vantagem ou obter os efeitos desejados.

As formas de poder que predominam na sociedade são: econômico, político e ideológico.

Para Aristóteles, a política é a ciência da busca da felicidade. A melhor forma de governo é aquela que busca o equilíbrio entre aristocracia, monarquia e a politeia.

Para Maquiavel, “os fins justificam os meios” no governo.

Para Hobbes, o Estado é um pacto social, onde cada indivíduo abre mão de sua liberdade e transfere ao Estado poderes absolutos e irrevogáveis.

Montesquieu desenvolveu uma teoria baseada na divisão do poder em: Executivo, Legislativo e Judiciário.

A função principal do Estado Capitalista é ser mediador entre as classes sociais.

A função principal do Estado Socialista é eliminar as desigualdades sociais.

Democracia vem do grego demos, que significa povo, e cracia, poder.

A democracia é um sistema político baseado na ideia de liberdade, competição, legitimidade e eficiência dos ocupantes de cargos públicos e nas soluções técnicas (e não políticas) para os problemas sociais.

Uma das características da democracia é a rotatividade de governos e eleições livres para a escolha de seus representantes.

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184 UNIDADE 3TÓPICO 5

FILOSOFIA

Para que você possa compreender todos os aspectos apresentados neste tópico, sugerimos que siga os seguintes passos:

• Leia novamente este tópico e procure destacar as palavras ou ideias centrais que aparecem ao longo do texto.

• Após reler e destacar as ideias centrais do texto, procure elaborar um resumo do tópico, comparando as ideias entre si, identificando as semelhanças e as diferenças.

Bom estudo!

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FILOSOFIA

CIDADANIA E SOCIEDADE

1 INTRODUÇÃO

2 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CIDADANIA

TÓPICO 6

UNIDADE 3

A expressão cidadania teve diferentes sentidos ao longo da história da humanidade e foi se adaptando às trocas de experiências das pessoas na sociedade. Inicialmente podemos afirmar que a expressão cidadania está relacionada a diferentes situações, como, por exemplo: participar de uma determinada agremiação política; ter direitos e deveres reconhecidos; ter consciência dos seus atos, entre outros aspectos.

Constantemente somos tomados por notícias do tipo: crianças passam fome; famílias vivem na miséria; bandidos que traficam armas e drogas; países que adotam regimes totalitários; guerras entre países; destruição das florestas e a falta de perspectivas de melhoria a curto prazo são fatores que nos levam a refletir sobre o significado da palavra cidadania, sua evolução histórica e suas perspectivas.

Portanto, este tópico tem por finalidade refletir sobre o tema cidadania e suas implicações na vida social. No final deste tópico propomos um teste para identificar sua postura perante os direitos e responsabilidades do cidadão na sociedade.

A expressão cidadania é um termo que nos remete à vida em sociedade. Sua origem está ligada ao desenvolvimento das primeiras cidades, que vem do grego polis. Na Grécia Antiga a democracia era entendida como a participação ativa na vida pública. Assim o cidadão era o que reunia os quesitos para poder participar dos assuntos públicos, em que o ordenamento político baseava-se no diálogo e não na utilização da força ou da violência como imposição. Em princípio, a expressão cidadania se referia “[...] aos direitos e às obrigações nas relações entre o Estado e o cidadão.” (KUNSCH, 2007, p. 63).

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UNIDADE 3TÓPICO 6186

FILOSOFIA

Entre os romanos a concepção de cidadania estava relacionada à República. Ser cidadão romano era gozar dos direitos legitimamente estabelecidos e de participar ativamente das decisões da cidade, elegendo seus representantes.

O conceito de cidadania que temos hoje tem influência direta das revoluções burguesas e Francesa, da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Industrial. Sobre as revoluções e a Independência dos Estados Unidos, Silva e Silva (2010, p. 48-49) fazem a seguinte afirmação:

[...] os direitos instituídos pela Declaração de Independência dos EUA (1776) e pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da França revolu-cionária (1789), não se estendiam a todos os membros de suas nações. Pois, apesar do conteúdo universalista da Declaração francesa, as mulheres eram excluídas do voto. Já nos Estados Unidos, além das mulheres, a exclusão atingia escravos e brancos pobres. Esses excluídos tiveram de empreender longas lutas antes de serem contemplados pelos direitos básicos definidos pelas revoluções burguesas. Entretanto, esses documentos tinham imenso potencial revolucionário, e muitos daqueles que foram inicialmente excluídos da vida política depois usariam o mesmo discurso liberal para alcançar os direitos previstos por essas declarações. Foi assim que mulheres e negros alcançaram seus direitos civis nos EUA já no século XX, usando a mesma linguagem do século XVIII.

Nos últimos tempos, os estudos sobre cidadania têm demonstrado que ela está relacionada às conquistas civis (liberdade pessoal, de expressão, de pensamento, de crença...), políticas (direito de votar e ser votado) e sociais (segurança, bem-estar). Diante disto, podemos compreender a cidadania como prática que tem como interesse a coletividade, a defesa da qualidade de vida e o bem público. Mas, “um dos grandes problemas para o exercício da cidadania em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo.” (SILVA; SILVA, 2010, p. 50). Além disso, a cidadania é marcada pelas reivindicações dos movimentos sociais que defendem interesses de grupos sociais, como os mendigos, pobres, negros, os deficientes físicos ou mentais, entre outros.

Diante destas questões apresentadas, nota-se que a cidadania vai muito além de pertencer a uma sociedade política ou simplesmente por escolher os representantes políticos, a sociedade como um todo luta para a representatividade e a legitimidade dos seus direitos e obrigações.

3 CIDADANIA: UM CONCEITO UNIVERSAL OU PARTICULAR

Vimos até então que o conceito de cidadania esteve muito ligado a questão dos direitos e dos deveres das pessoas. Mas o aspecto que gera discussão é: os direitos e deveres são

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UNIDADE 3 TÓPICO 6 187

FILOSOFIA

universais ou individuais. Este será o assunto de nossa discussão nesta seção.

A primeira compreensão baseia-se no movimento do sujeito universal para o sujeito particular. Na universalidade a ideia de cidadania é única para todas as pessoas e válida para todos os lugares e épocas. Enquanto que na singularidade a cidadania se entrelaça nas esferas da vida privada e em meio aos processos sociais que as pessoas estabelecem em seu tempo histórico.

Nesta forma de compreensão, do universal para o particular, os sujeitos aspiram sempre uma cidadania plena fundada na universalização a todos os membros da sociedade. Seguindo esta forma de pensar, Maria de Lourdes Manzini Covre afirma que:

[...] a cidadania é o próprio direito à vida no sentido pleno. Trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em termos do atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do(s) homem(s) no Universo. (COVRE, 1996, p. 11).

Neste sentido, a cidadania caracteriza-se como uma conduta universal para todos os indivíduos frente ao coletivo.

Em sentido oposto à universalização está a cidadania entendida a partir do particular. Está fundamentada numa tentativa de corrigir as desigualdades sociais entre as pessoas na sociedade. A cidadania se constitui numa atitude de superação e emancipação política, social, conforme o pensamento que segue:

Só podemos ser indivíduos singulares, senhores de nós mesmos, numa sociedade aberta, em que a cidadania exista de fato como participação de todos, assim como só pode haver efetiva cidadania se os indivíduos são livres, singulares e participativos na comunidade. (GALLO, 2000, p. 109-110).

Seguindo este movimento, a cidadania é construída a partir das relações. Com o desenvolvimento das instituições modernas há a necessidade de se estabelecer relações entre sujeitos coletivos cada vez mais numerosos e portadores de direitos (grupos nacionais minoritários, grupos definidos por gênero e pela orientação sexual, entre outros). A novidade não reside na existência destes grupos, mas no convívio coletivo, sem o reconhecimento de uma personalidade jurídica que permite aos grupos atuarem tanto em instituições jurídicas

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UNIDADE 3TÓPICO 6188

FILOSOFIA

quanto políticas.

O cidadão, indivíduo singular, é fundamentado na legitimidade do sistema político moderno que pode exigir seus direitos. Em outras palavras, os direitos individuais estariam acima dos interesses coletivos.

Em síntese, a lógica da universalidade conduz à universalização da cidadania, enquanto a lógica particularista implica na extensão dos direitos a diferentes situações.

4 DIMENSÕES DA CIDADANIA

4.1 CIDADANIA SOCIAL

4.2 CIDADANIA POLÍTICA

Atualmente, as concepções de cidadania que mais têm se destacado são as considerações sociais, políticas e civis.

Ser cidadão não é apenas a pessoa gozar de direitos civis e políticos, mas a busca da igualdade como ponto fundamental para o resgate da justiça social que se manifesta no direito ao trabalho, saúde e educação.

No Brasil a cidadania social não se realizou, mas “[...] é uma condição de possibilidade de minimização da desigualdade que faz nossas diferenças sociais e insuficiências econômicas.” (BERTASO, 2004, p. 249). Neste sentido, a cidadania social, principalmente no estado liberal, é um modelo utópico a ser conquistado.

Em princípio, a cidadania é a relação política do indivíduo com o Estado. Neste caso a cidadania consiste na participação efetiva de escolha dos representantes que governam o Estado. Em resumo, é o direito de votar e ser votado.

Segundo Marshall (1967, p. 64), “O elemento político se deve entender o direito de participar no exercício do poder político, como um membro de um organismo investido da autoridade política ou como um eleitor dos membros de tal organismo [...]”.

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UNIDADE 3 TÓPICO 6 189

FILOSOFIA

4.3 CIDADANIA CIVIL

Sobre a cidadania civil, iniciamos com uma afirmação de Marshall (1996, p. 63): “O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual - liberdade de ir e de vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à justiça [...]”. Ou seja, a cidadania civil caracteriza-se pela incorporação de direitos a todos os membros de uma comunidade, criando uma igualdade de oportunidades.

A relação da pessoa com os grupos que compõem a sociedade civil é a dimensão mais radical da cidadania. Ao contrário da cidadania política e social, que se limita a receber passivamente direitos e vantagens, a cidadania civil convida à responsabilidade e a colaborar com os demais na realização de uma sociedade melhor.

Para finalizar esta seção, citamos algumas pessoas que foram exemplos na luta pela cidadania no Brasil e no mundo.

•Betinho – o sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido como Betinho, foi o idealizador da Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, que mobilizou todo o Brasil na doação de alimentos.

•Nelson Mandela – discordava do apartheid, sistema político que dava vantagens aos brancos e impedia os negros de participarem das decisões políticas. Em 1964 foi condenado à prisão perpétua por lutar contra a discriminação racial. Em 1990 foi libertado, em 1993 ganhou o Prêmio Nobel da Paz e em 1994 foi eleito presidente da África do Sul.

•Gandhi – dedicou a maior parte de sua vida à luta pela independência da Índia da Inglaterra. Mobilizou o povo indiano a favor da não violência. Foi assassinado em 1948.

DICAS!

Sinopse

África do Sul, início do século XX. Após ser expulso da 1ª classe de um trem, o jovem e idealista advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi (Ben Kingsley) inicia um processo de autoavaliação da condição da Índia, que na época era uma colônia britânica, e seus súditos ao redor do planeta. Já na Índia, através de manifestações enérgicas, mas não violentas, atraiu para si a atenção do mundo ao se colocar como líder espiritual de hindus e muçulmanos.

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UNIDADE 3TÓPICO 6190

FILOSOFIA

RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico você viu que:

•A expressão cidadania teve origem na Grécia Antiga e era entendida como a participação ativa na vida pública.

•Atualmente, um dos grandes problemas para o exercício da cidadania em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo.

•A cidadania como universalidade é única para todas as pessoas e válida para todos os lugares e épocas. Enquanto que na singularidade a cidadania se entrelaça nas esferas da vida privada e em meio aos processos sociais que as pessoas estabelecem em seu tempo histórico.

•Betinho, Nelson Mandela e Gandhi foram exemplos de pessoas que lutaram pela cidadania em seus países.

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UNIDADE 3 TÓPICO 6 191

FILOSOFIA

Você é um cidadão consciente? Sabe de suas responsabilidades? Como você se insere nestas questões?

Faça o teste que segue e descubra se você é um cidadão consciente e responsável. Mas, atenção! Leia atentamente todas as questões e siga todas as orientações.

TESTE DE CIDADANIA

Qualquer pessoa pode ajudar a transformar a realidade, não importando a sua posição social ou o seu nível de escolaridade. Todos podem contribuir efetivamente para resolver as principais questões do país. A arte de fazer as coisas acontecerem depende de nossa capacidade de começar a agir imediatamente e da nossa fé no processo natural de encadeamento (sementes que geram redes de consequências imprevisíveis, levando-as a objetivos maiores).

Cidadania implica compromisso e participação. Cidadania envolve os direitos e responsabilidades de cada um como membro da sociedade.

Cada pessoa, no entanto, posiciona-se de uma forma diferente diante dos seus direitos e responsabilidades e em relação ao seu meio social. Em relação aos DIREITOS DOS CIDADÃOS, identificamos cinco tipos de postura:

a) O inocente: que desconhece seus direitos.b) O acomodado: que espera passivamente que tudo se resolva.c) A vítima: que só sabe se queixar.d) O chato: que vive cobrando de forma errada.e) O cidadão consciente: que está comprometido com os direitos da cidadania e

sabe cobrar bem, com responsabilidade.

Em relação às RESPONSABILIDADES para com a sociedade, identificamos, também, cinco tipos de postura:

a) O destrutivo: que rejeita qualquer participação e envolvimento.

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UNIDADE 3TÓPICO 6192

FILOSOFIA

b) O alienado: que se omite de responsabilidade.c) O burocrático: que cumpre só o que é legal.d) O teórico: que se sente responsável, mas nada faz efetivamente; ee) O cidadão envolvido: que se sente responsável e atua para mudar e melhorar o

estado geral das coisas.

O teste, a seguir, propõe uma reflexão sobre a relação do indivíduo com a sociedade. Veja como você se insere nesse contexto.

No bloco “Direitos dos Cidadãos”, escolha as sete frases com as quais você mais se identifica. Faça o mesmo também com as escolhas no bloco “Responsabilidade dos Cidadãos”. Depois confira, no final da unidade, as tendências de seu comportamento como cidadão, identificando os grupos nos quais você se inclui.

DIREITOS DOS CIDADÃOS

1 Direitos do cidadão? Já ouvi falar, mas...2 É assim que as coisas funcionam. Faz parte do sistema.3 O que importa é que cuidem do meu! O resto...4 Cobrar nossos direitos num país como o Brasil requer, antes de tudo, nova postura

educativa.5 Não temos direitos neste país.6 Espero que alguém um dia me explique quais são meus direitos de cidadão.7 Antes de cobrar nossos direitos, devemos perguntar: estamos respeitando o direito

dos outros?8 Pra falar a verdade, não sei exatamente quais são meus direitos como cidadão.9 Este é um país onde só tem direitos quem está por cima.10 Não adianta tentar os caminhos normais e esperar. Preciso esperar o tempo

todo.11 Nunca me interessei em conhecer meus direitos.12 O pouco de direitos que temos está diminuindo a cada dia.13 Temos que fazer valer nossos direitos, nem que seja à força!14 Direito é coisa para advogado. É muito complicado para o leigo.15 Não adianta fazer nada. Nunca teremos nossos direitos para valer.16 O respeito aos direitos do cidadão depende de todos nós.17 Cobrar direitos é uma atitude política sadia, que exige não deixar passar nada que

viole os direitos de qualquer um – não só os seus.18 Um dia as coisas vão melhorar. Até lá, o negócio é ir tocando a vida...

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UNIDADE 3 TÓPICO 6 193

FILOSOFIA

19 Só temos obrigações a cumprir. Direito que é bom nada...20 Se você não cuidar dos seus direitos, quem é que vai fazê-lo?21 Exigir o cumprimento de nossos direitos através do uso rigoroso das instituições

é o melhor meio.22 Deve ter muita gente cuidando disso...23 Quem reclama mais consegue primeiro...24 A escolha consciente de nossos legisladores e executivos é a base fundamental

para fazer valer nossos direitos.25 No momento em que todo cidadão do país tiver plena consciência dos seus direitos,

estes se farão valer, como decorrência natural.26 Não há nada que eu possa fazer. Está além de minha capacidade.27 Deixe como está. Se mexer, pode piorar.28 Respeitar o direito de cada um é saber fazer valer o direito de todos.

RESPONSABILIDADE DOS CIDADÃOS

1 O negócio aqui é ‘salve-se quem puder’. Se você não garantir o seu...2 Sou um cidadão exemplar. Cumpro tudo o que a lei manda. É a minha contribuição

para a sociedade.3 Concordo em contribuir para atender a essas necessidades, desde que haja algo

em troca.4 Num sistema como esse, não adianta fazer nada...5 O caminho mais viável é... Só não começo porque...6 Sinto-me também responsável pelo que está acontecendo. Estou buscando ajuda

por meio de...7 Tudo que você faz, alguém destrói. Não vale a pena gastar seu tempo.8 Não me envolva nisso. Não é comigo!9 A gente vai ter que fazer algum dia! Assim não pode ficar.10 Se todos fizerem a sua parte da melhor forma possível, a sociedade como um

todo evoluirá.11 Se os outros estão fazendo, eu não sei... Eu sei do meu compromisso com o país

e ajo conforme minha consciência...12 Neste país nada funciona. Para que fazer papel de bobo, de D. Quixote?13 Já tenho tantas obrigações para com a sociedade. Tem gente fazendo bem menos

do que eu!14 Não sei se é o melhor caminho. Mas os resultados já se fazem sentir.15 Já tenho tanto com o que me preocupar! Preciso garantir o pão de cada dia. Não

posso ajudar.16 Na minha opinião, todos nós deveríamos contribuir.

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UNIDADE 3TÓPICO 6194

FILOSOFIA

17 O que mais posso fazer para ajudar a...18 Já pago impostos. O Governo que faça a sua parte!19 Em outros países, o cidadão típico ajuda a comunidade... Temos que fazer com

que no Brasil também as coisas funcionem dessa forma.20 O problema deste país são as pessoas. Só substituindo todo mundo.21 Para que se preocupar e se envolver? Isso é arranjar ‘sarna para se coçar’ e você

ainda pode sair machucado.22 Quem sabe se, com este meu exemplo, outras pessoas também se animarão a

ajudar.23 Você ainda acredita em Papai Noel? Isso não vai mudar nunca. Para que se

envolver?24 Fazer mais do que faço? Bem. Se for desejo da maioria e for exigido por lei.25 Somos todos responsáveis pela construção de uma sociedade cada vez melhor.

Não podemos ficar esperando que alguém comece a dar os passos necessários. É preciso agir.

26 Concordo em ajudar, desde que o governo crie algum tipo de incentivo fiscal.27 A coisa não funciona porque... Minha tese é...28 A vantagem de fazer o que é necessário é seu efeito multiplicador.29 Não temos nada a ver com isso. Cabe ao governo.30 Não fui eu que fiz esta bagunça. Não me sinto responsável.31 Há muito tempo tenho pensado em começar algo para ajudar a melhorar.

Após ter escolhido as suas sete frases, com relação aos DIREITOS DOS CIDADÃOS, veja a atitude que predomina na sua vida:

FRASES POSTURAa) 1, 6, 8, 11, 14 Inocenteb) 2, 18, 22, 26, 27 Acomodadoc) 5, 9, 12, 15, 19 Vítimad) 3, 10, 13, 20, 23 Chatoe) 4, 7, 16, 17, 21, 24, 25, 28 Cidadão Consciente

E veja qual tem sido sua postura em relação às suas RESPONSABILIDADES DE CIDADÃO:

FRASES POSTURAa) 4, 7, 12, 20, 23 Destrutivob) 1, 8, 15, 21, 29, 30 Alienadoc) 2, 3, 13, 18, 24, 26 Burocráticod) 5, 9, 16, 19 27, 31 Teóricoe) 6, 10, 11, 14, 17, 22, 25, 28 Cidadão Envolvido

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UNIDADE 3 TÓPICO 6 195

FILOSOFIA

Talvez você esteja em vários grupos ou se concentrou mais em um tipo de comportamento. O mais importante é reconhecer que só teremos uma sociedade melhor quando nos posicionarmos como cidadãos conscientes de nossos direitos e comprometidos com as necessidades do país.

FONTE: Adaptado da revista Reflexões Amana – Edição Especial de “IDEIAS AMAM; outubro/92.

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UNIDADE 3TÓPICO 6196

FILOSOFIA

Essa atividade

vale nota.

AVALIAÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da Unidade 3, você deverá fazer a Avaliação.

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FILOSOFIA

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