eduardo silveira_contribuições a educação ambiental

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38 Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015. Universidade Federal do Rio Grande - FURG ISSN 1517-1256 Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Revista do PPGEA/FURG-RS O incrível curso dos palhaços fracassados. Tomo I: Contribuições à educação ambiental Eduardo Silveira 1 “Sou um palhaço, e coleciono instantes.” Heinrich Böll Resumo: O que poderiam os palhaços ensinar à educação ambiental? Pensado como um curso brincante ministrado por diferentes palhaços que são personagens reais ou ficcionais, o presente texto é constituído por diferentes aulas, oficinas e estudos dirigidos. Em cada uma delas são discutidos temas, que na realidade estabelecem princípios fundamentais na arte do palhaço, relacionados a conceitos da filosofia da diferença. São esses princípios que pensamos trazer significativas contribuições à educação ambiental enquanto campo fluído e poroso. Assim, o que se pretende neste curso é mais do que uma proposta de aprendizado formal, é uma proposta de aprendizado em jogo a partir da transgressiva lógica do palhaço. Palavras-chave: Palhaço. Educação Ambiental. Filosofia da diferença. The incredible course of loser clowns. Tome I: Contributions to environmental education Abstract: What could the clowns teach to environmental education? Thought as a trifling course taught by different clowns that are real or fictional characters, this text is made up of different classes, workshops and guided studies. In each of these classes some topics are discussed. Actually, these topics establish fundamental principles on the art of clown, related to concepts of the philosophy of difference. These are the principles that we believe provide significant contributions to the fluid and porous field of environmental education. So, what we intend in this course is more than a proposal for formal learning, is a proposal of learning in play from the transgressive logic of clown. Keywords: Clown. Environmental Education. Philosophy of difference. 1 Professor de Biologia no IFSC. Ator, biólogo, palhaço e doutorando em educação pela UFSC. [email protected]

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eduardo silveira

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  • 38 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Universidade Federal do Rio Grande - FURG

    ISSN 1517-1256

    Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental

    Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental

    Revista do PPGEA/FURG-RS

    O incrvel curso dos palhaos fracassados. Tomo I: Contribuies educao

    ambiental

    Eduardo Silveira1

    Sou um palhao, e coleciono instantes.

    Heinrich Bll

    Resumo: O que poderiam os palhaos ensinar educao ambiental? Pensado como um curso brincante ministrado

    por diferentes palhaos que so personagens reais ou ficcionais, o presente texto constitudo por diferentes aulas,

    oficinas e estudos dirigidos. Em cada uma delas so discutidos temas, que na realidade estabelecem princpios

    fundamentais na arte do palhao, relacionados a conceitos da filosofia da diferena. So esses princpios que

    pensamos trazer significativas contribuies educao ambiental enquanto campo fludo e poroso. Assim, o que se

    pretende neste curso mais do que uma proposta de aprendizado formal, uma proposta de aprendizado em jogo a

    partir da transgressiva lgica do palhao.

    Palavras-chave: Palhao. Educao Ambiental. Filosofia da diferena.

    The incredible course of loser clowns. Tome I: Contributions to environmental education

    Abstract: What could the clowns teach to environmental education? Thought as a trifling course taught by different

    clowns that are real or fictional characters, this text is made up of different classes, workshops and guided studies. In

    each of these classes some topics are discussed. Actually, these topics establish fundamental principles on the art of

    clown, related to concepts of the philosophy of difference. These are the principles that we believe provide

    significant contributions to the fluid and porous field of environmental education. So, what we intend in this course

    is more than a proposal for formal learning, is a proposal of learning in play from the transgressive logic of clown.

    Keywords: Clown. Environmental Education. Philosophy of difference.

    1 Professor de Biologia no IFSC. Ator, bilogo, palhao e doutorando em educao pela UFSC.

    [email protected]

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    O que poderiam ter os palhaos para ensinar educao ambiental? Esse curso pensado

    na tentativa de movimentar essa incmoda questo. Incmoda, pois demanda a ruptura, a queda.

    Ruptura com uma lgica qualquer, instituda e institucional. Queda no silncio vazio e

    significante do acontecimento. Enquanto curso, esta proposta se (des)organiza de forma

    cartogrfica. Uma cartografia vagabunda, sem dono. Em que no existe uma linha precisa, mas

    sim intensidades e instantes. Propostas de acontecimentos intensos. Constitudos em modestas

    oficinas e aulas brincantes nas quais, despretensiosamente e sem se fazer valer de fundamentos

    tericos assegurados pela autoridade de um grupo, de uma escola, de um conservatrio ou de

    uma academia (GUATTARI, 2001, p.22), mas simplesmente a partir do olhar incisivo, de

    mtodos pouco ortodoxos e de sua fala bobageira, os palhaos pretendem dar sua contribuio

    educao ambiental. A cada aula, um tema ser desenvolvido a partir da fala de um palhao,

    pois vrios deles participam do curso. Alguns so personagens ficcionais reais, outros so

    personagens ficcionais inventados e existem ainda aqueles que so somente o desejo de ser

    palhao ou o palhao que tomou conta de um desejo. Cada palhao contribuir com um fato para

    o curso e cada um desses fatos, sugere pequenos e sutis movimentos que no prescindem de uma

    lgica de encadeamento formal, mas sim da lgica do devir que se constitui na lgica do palhao.

    Ou seja, aquela da simultaneidade que se furta ao presente. matria indcil, constante variao,

    paradoxo, identidade infinita sem repouso (DELEUZE, 1974 p.1-2). Matria brincante, delicada

    e colorida, mas tambm poltica, transgressora e infame.

    Dessa forma, o que se estabelece neste curso, mais do que uma proposta de aprendizado

    formal, uma proposta de aprendizado em jogo. Um jogo em que no h regras preexistentes,

    mas no qual cada lance inventa suas regras. Jogo que no pretende um vencedor e um vencido,

    mas sim o movimento interno do prprio jogo (Ibidem, p.62). Jogo de criao de singularidades e

    variao constante, em que pequenos fatos possam constituir-se em exploses de

    questionamentos significantes que gerem deslocamentos. Como por exemplo, um movimento

    inventado, um olhar silencioso, um gesto indefinvel e um aprendizado banal, embora

    extremamente poltico.

    Talvez nessa proposta de curso, os palhaos possam acrescentar retirando e retirar

    acrescentando, movimento, potncia e questionamento a uma educao ambiental muito cansada

  • 40 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    seja pelo peso, seja pela imobilidade de vrios verbos: prescrever, definir, sensibilizar,

    orientar, conscientizar, preservar etc...

    Primeira aula: falas sobre o nada

    1. Palhao Augusto.

    Ser voc mesmo, apenas voc mesmo, uma grande coisa. E como que se faz

    isso. Como que isso acontece? Ah, esse o mais difcil de todos os truques.

    difcil justamente porque no exige nenhum esforo. Voc no tenta ser uma

    coisa ou outra, nem grande nem pequeno, nem inteligente nem desajeitado... Est

    compreendendo? Voc age de acordo com o momento. Bien entendu, faz as

    coisas com boa vontade. Porque no existe nada sem importncia. Nada.

    (MILLER, 1979 p.25)

    2. Palhao Schnier. Minha me estava furiosa comigo. Aconselhou meu pai a me dar uma esfrega, e meu pai no parava de perguntar o que afinal eu queria ser, e eu disse:

    - Palhao.

    E ele disse:

    - Voc quer dizer ator, est bem, ento eu talvez possa mandar voc a uma

    escola.

    - No eu disse No ator, palhao. E escolas no vo me servir para nada. - Mas o que voc est pensando? ele me perguntou. - Nada, nada. E vou sair de casa.

    (BLL, 2008, p. 51-52)

    Parte-se do princpio que o estar no mundo provoca, quase que naturalmente, um

    movimento de agregao, ou tudio que se processa desde o nascimento com o aprendizado

    no mundo atravs das contnuas e constantes experincias que ele possibilita. O nada, ou

    nadio se relaciona com o movimento contrrio, de esvaziamento. Perda, retirada, subtrao,

    desagregao, daquilo que j excesso. O palhao vive no movimento de nadio. No existe

    a possibilidade de constituir-se palhao enquanto no se permita viver esse movimento, pois o

    palhao exige um encontro sempre novo com o mundo. Encontro ingnuo em que as

    possibilidades de relao e de entendimento com as experincias so sempre todas as possveis.

    Agir de acordo com o momento e perceber que no existe nada sem importncia so operaes

    que demandam um encontro inusitado e baseado no estranhamento constante com as

    experincias. A ingenuidade infantil do fluxo da descoberta. Fluxo da descoberta que, de certa

    maneira permitir-se a experincia de vivenciar o fluxo do devir que cria sempre novas

    invenes. Invenes de vida. Criativas, que sem um horizonte de chegada, so acontecimentos

    potentes. As invenes (tanto as pequenas quanto as grandes) so acontecimentos sem nenhum

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    valor em si mesmos, mas que, ao criar novos possveis, constituem a condio de necessidade de

    todo e qualquer valor (LAZZARATO, 2006, p.44). Inventar novos possveis na relao com o

    mundo pressupe um movimento de nadio. Essa atitude baseia-se na inverso de toda lgica

    formal que pressupe a necessidade de entendimento constante sobre as aes efetuadas: para

    qualquer coisa se faa h a necessidade intrnseca de que j se saiba de antemo ser ela a melhor

    escolha, baseado em critrios claros e definidos. Sendo assim, ainda haver espao para o nada

    em uma educao ambiental j completamente entendida?

    Segunda aula: shhhhhhh sobre o silenciar

    3. Palhao Xuxu.

    Silncio Total!!!! (KASPER, 2004, p.11)

    4. Palhao Lecoq.

    Comeamos pelo silncio, pois a palavra ignora, na maioria das vezes, as razes de

    onde saiu [...] , e desejvel que, desde o princpio, os alunos se coloquem no mbito

    da ingenuidade, da inocncia, da curiosidade. Em todas as relaes humanas, aparecem

    duas grandes zonas silenciosas: antes e depois da palavra. Antes, ainda no falamos,

    encontramo-nos num estado de pudor, que permite palavra nascer do silncio, a ser

    mais forte, portanto, evitando o discurso, o explicativo. [...] O outro silncio o do

    depois, quando no h mais nada a dizer. Este nos interessa menos. (LECOQ, 20, p.60)

    A tagarelice impera. Todos falam, todos tm opinio e todos sabem convm saber

    sobre tudo. De forma silenciosa e avassaladora a tagarelice avana sobre qualquer dado em um

    monlogo ensurdecedor, pleno de palavras, vazio de silncios. A informao replica-se

    virulentamente anulando qualquer possibilidade de experincia e de entrega aos acontecimentos.

    A informao no experincia. E mais, a informao no deixa lugar para a experincia, ela quase o contrrio da experincia, quase uma antiexperincia.

    Por isso a nfase contempornea na informao, em estar informados, e toda a

    retrica destinada a constituir-nos como sujeitos informantes e informados (LARROSA, 2002, p.21).

    A experincia demanda encontro. Encontro verdadeiro com os acontecimentos. O

    encontro s possvel pela entrega, a mais completa possvel. A entrega, por sua vez, exige a

    escuta em plenitude, com todo o corpo audiente. A escuta pressupe o silncio. Qualquer fala

    pressupe espaos de silenciamento, que Blanchot (2001) caracteriza como interrupes.

    Segundo ele so essas descontinuidades que possibilitam o devir e a potncia do falar. Existem

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    palhaos que no silenciam e vazam sua energia em um tagarelar constante. Estes esto

    perigosamente sujeitos a cair na forma, na caricatura de um palhao. A simples casca morta,

    embora falante, que s in-forma, ditatoriamente impe. Diferente do palhao que constri sua

    ao a partir do silncio originado na escuta e no encontro. Silncio que no significa

    passividade, mas sim plenitude, rumor2. Presena corporal na escuta silenciosa de tudo o que

    possa significar e potencializar a ao. Por qual dos poros falantes se poderiam silenciar as

    tagarelices plenas de certezas, informaes, opinies e caricaturas da educao ambiental?

    Primeira oficina: Cartografias do corpo

    5. Palhaa Rolnik. O que define, portanto, o perfil do cartgrafo exclusivamente um tipo de sensibilidade,

    que ele se prope fazer prevalecer, na medida do possvel, em seu trabalho. O que ele

    quer se colocar, sempre que possvel, na adjacncia das mutaes das cartografias,

    posio que lhe permite acolher o carter finito e ilimitado do processo de produo da

    realidade que o desejo. Para que isso seja possvel, ele se utiliza de um composto hbrido, feito do seu olho, claro, mas tambm, e simultaneamente, de seu corpo vibrtil, pois o que quer aprender o movimento que surge da tenso fecunda entre fluxo

    e representao: fluxo de intensidades escapando do plano de organizao de territrios,

    desorientando suas cartografias, desestabilizando suas representaes e, por sua vez,

    representaes estacando o fluxo, canalizando as intensidades, dando-lhes sentido.

    (ROLNIK, 1989, p.2-3)

    6. Palhao Cafa.

    Ser que a maneira particular de um indivduo agir, de se colocar, de se mover no espao e

    no tempo, ou seja, de ser corporalmente e de corporificar suas energias potenciais, no

    poderia conter um germe de uma tcnica particular de uso do corpo? (BURNIER, 2009,

    p.61)

    Nessa primeira oficina a proposta encontrar o corpo vivo e indito escondido baixo a

    pedaos de corpos mortos, que se movem automatizados em linhas definidas. O corpo do

    palhao necessita ser o corpo vibrante, corpo cartogrfico marcado por intensidades que se

    movimentam indeterminadamente por desvios, afetos, desejos e movimentos indefinidos. O ator

    sabe muito bem que a cabea anda, que todos os pensamentos sobem das pernas e se lembram

    2 O rumor o barulho daquilo que est funcionando bem. Segue-se o paradoxo: o rumor denota um barulho limite,

    um barulho impossvel, o barulho daquilo que, funcionando com perfeio, no tem barulho; rumorejar fazer ouvir

    a prpria evaporao do barulho: o tnue, o camuflado, o fremente so recebidos como sinais de uma anulao

    sonora (BARTHES, 2004, p. 94).

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    que vm do corpo, que passaram pela prova das paixes, saram das carnes para nos pegar, nos

    fazer morrer e se mexer (NOVARINA, 1999, p.48). Corpo que passeia na beirada do

    desconhecido, desfaz-se de todos seus rgos, toma as linhas todas juntas: aquelas mais duras,

    junto s mais flexveis e s outras, de fuga (DELEUZE; GUATTARI, 1996), e atira-se. Ao

    desconhecido. Pois sempre pode criar mais. Corpo acontesente. Pleno; no vazio de todas as

    possibilidades. Corpo ativo no desenrijecimento dos clichs estticos na ao. Povoado de

    pequenas sutilezas insignificantes e belas. Corpo alegre: A alegria uma afeco pela qual se

    aumenta ou favorece a potncia de agir do Corpo; a tristeza, pelo contrrio, uma afeco pela

    qual se diminui ou entrava a potncia de agir do Corpo; e, por conseguinte, a alegria

    diretamente boa. (ESPINOSA, 1992, p.399).

    A oficina inicia-se com uma proposta de exerccio:

    1. Uma ativao corporal. O corpo sendo sentido em suas sutilezas. Desde a raiz, os ps, at o

    topo da cabea. Despertando-o sensivelmente, cada fibra muscular, cada canto adormecido...

    2. A respirao acompanha. Intensa. Profunda. A boca que se abre e como mquina de captura,

    faz entrar o ar com deciso. O ar irradia-se pelo corpo que se ativa. Irriga os msculos. Desloca o

    sentido do restrito espao cerebral, para o espao corporal, amplo de possibilidades.

    3. Ativado, o corpo deseja. Anseia pelo movimento que se inicia. Comea-se a desenhar uma

    cartografia.

    4. Uma caminhada. Simples. Foi ela quem me deu incio. Uma bola invisvel entre as mos. Bola

    flexvel, dinmica. Aos poucos, sendo moldada, torna-se uma capa. Uma capa que jogada sobre

    um corpo, recobre-o como um todo. Somente os ps, na base, esto descobertos. E so eles que

    caminham. Em crculo. O corpo todo recoberto pela capa, rgido, acompanha os ps. Passos

    curtos, pernas inflexveis. Uma frente outra. Movimento duro. Marcado, rgido. Aos poucos

    ele vai definindo uma lgica. A lgica da dureza. a dureza de um corpo que no pertence ao

    local em que est. Monolgico. No consegue sentir o que o cerca e nele est. Simplesmente

    atende aos estmulos de uma passada dura, precisa, circular e cclica. Segue, caminhando, em

    crculo, com dureza. Mas aos poucos surge algo a mais. Uma perna percebe ganhar um espao

    baixo capa. J se desloca com mais fluidez. Os passos pisam e firmam o cho. Ganham

    potncia em cada pisada. O movimento circular se intensifica. O corpo j se torna menos duro, a

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    fluidez ganha espao dentro dele. Seguem os passos, em crculo, mas com mais autonomia. Os

    ps, as pernas e o corpo vo ganhando mais dinamismo. Movimento. Perdem o peso, ganham a

    leveza. Ainda em crculo. Leves, passos maiores, o corpo acompanha o movimento. Os braos j

    no mais rgidos e estticos junto ao corpo. Cortam o ar, intensificam as possibilidades. O corpo

    ganha voz. Quer falar. Sua presena no cabe nos passos. Sugere. Um rodopio naquele

    movimento circular? Por que no? E rodopia. E o todo gosta. Volta ao crculo. Novo movimento,

    mo que serra o ar. Junto ao corpo. Todo conjunto vai. Nova proposta, a cabea para baixo. O

    todo vai. Assim comea um grande jogo de possibilidades. O corpo prope, todo o resto

    acompanha. E segue no movimento circular.

    Surge ento uma cartografia corporal baseada em um fluxo contnuo de sensaes e

    intenes. O sentido que surge da aventura do significante (BARTHES, 2004, p.393) e ainda

    assim frgil e provisrio. Possibilidade de pleno deslocamento. O corpo j no objeto. Nem

    tampouco sujeito, mas potncia que encoraja o encontro com o espao em uma perspectiva que

    no a esttica do clich de sensaes e pensamentos. E assim, de que forma resistir constante

    presena das deprimidas educaes ambientais que catastrofizam discursos e com isso

    despotencializam os corpos em um embrutecimento triste?

    Terceira aula: depondo a lgica

    7. Palhaa De Castro.

    Um palhao um ser estranho que bota a mo no fogo, que pe a cabea na guilhotina e que se

    expe nu em sua tolice e estupidez. [...] Palhao quando faz discurso fala besteira. Palhao erra.

    Palhao no fala srio. Palhao no pode vir com legendas explicativas, seno acaba a graa,

    acaba a palhaada. (CASTRO, 2005, p. 256)

    8. Palhao Tililingo.

    No se pode confiar nos palhaos, que dizem tantas bobagens que, de to tolas, nos jogam

    de frente a verdades que passavam ao largo (POSSOLO, 2009, p.139).

    Em seu constante processo de subjetivao, o palhao acontecimento permanente em

    profundidade. No h como situar uma lgica definida nesse fluxo intensivo de inveno. O

    palhao, portanto, orienta-se por lgicas prprias e modos de existncia especficos. Assume que

    sua condio de su-jeito momentnea e abre-se para o movimento de desestabilizao contnuo

    das foras que o compem. Um tipo ou um indivduo nada mais do que uma estabilizao,

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    um fechamento momentneo da infinita monstruosidade que cada fora guarda em si mesma e

    em suas relaes com outras foras. A monstruosidade assim definida no uma exceo do

    indivduo, mas sua prpria natureza (LAZZARATO, 2006, p.57).

    Assim, vive entre lgicas intensivas. Marcadas por uma relao ntima com o corpo.

    Originadas em um processo ativo de entrega e descoberta de si, atravs do acolhimento dos

    prprios fracassos escondidos e dos ridculos menosprezados pela exigncia social. Quando a

    superfcie dilacerada por exploses e rasges, os corpos recaem na sua profundidade, tudo recai

    na pulsao annima em que as prprias palavras no so mais do que afeces do corpo: a

    ordem primria que murmura sob a organizao secundaria do sentido (DELEUZE, 1974,

    p.130).

    Dessa forma, como entender as lgicas do palhao? Certamente no se baseiam elas no

    entendimento que subjaz discursividade da norma, da moralidade, do capital. So lgicas que

    demandam outro sentido. O sentido da sensao que se baseia em um campo de afectos no

    estruturados, capazes de acolher o risco do intil e abertos a relaes mais fludas, construdas

    por encontros inusitados. A lgica do palhao demanda o entendimento da ao em sua

    plenitude. Quanto, a lgica construda pela a educao ambiental, permite-se variar?

    Segunda oficina: improvisao como ao

    9. Palhao Schnier.

    Aceito as coisas como vm, nem a sarjeta eu descarto (BLL, 2008, p.47).

    10. Palhao Rupito.

    No precisamos e nem conseguimos entender tudo racionalmente. No precisamos entender

    para poder fazer. Temos que nos permitir, agir (SILVEIRA, 2010a).

    Partindo da ideia de que o palhao se constitui na improvisao, a oficina se prope a

    experimentar a improvisao. Ela se constitui enquanto oficina, pois a base da formao do

    improvisador a ao. O aprendizado da improvisao depende da experimentao, e da

    inveno prpria do jogo de cada improvisador. Esse aprendizado demanda uma srie de

    elementos importantes. Para citar alguns desses elementos, poderia mencionar inicialmente o

    risco. A improvisao exige que o improvisador se arrisque, saia de seu espao de vivncia

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    confortvel, j plenamente entendido e definido e arrisque-se em outros ainda no totalmente

    entendidos e definidos. Sem arriscar-se no h como se improvisar. Outro elemento fundamental

    a escuta. A improvisao exige uma escuta ampla do mundo. No h como improvisar fechado

    em si mesmo sem escutar profundamente o que est ao seu redor. Escuta de si, escuta do outro,

    escuta do mundo. Existe ainda a presena. No h como arriscar-se e escutar o que acontece se

    no se estiver presente no momento. A presena se configura como um estar plenamente no

    momento e no lugar da ao. A presena exige ainda outro elemento que corpo, j trabalhado

    na primeira oficina. No h presena sem uma ateno e vivncia plena do corpo. Corpo que

    presente, que escuta e se arrisca. no corpo que os outros elementos acontecem e tornam um

    ltimo ainda possvel: o jogo. Quando o trabalho envolve todos esses elementos, mais fcil

    ocorrer um jogo. ele que fundamenta toda a ao de uma improvisao. Se no existe jogo, no

    h improvisao, inveno.

    Improvisador e improvisao inventaro e sero o vazio no qual todo o jogo se

    far. Em seu buraco vazio, o improvisador sabe que h sempre algo melhor pra se fazer do que fazer alguma coisa. Ele sabe que no vai cometer nada, nem

    agir, nem executar. (...) o ator s comete desao. (NOVARINA, 2005, p.37). O que Novarina chama de desao definir o estado de disponibilidade para os

    encontros e afetos j como uma ao. Ter idias abrir-se para um fluxo criativo contnuo que vibra entre singularidades e coletivos, conectando todas

    as propostas em um nico jogo. disponibilizar-se ao espontneo, ao acaso e

    as infinitas possibilidades e rumos que uma improvisao pode tomar. (ELIAS,

    2010, p.2-3)

    Dessa forma, a improvisao constitui-se no em fazer qualquer coisa, banal, mas sim em

    um aparato profundamente estruturado, um dispositivo3, que constitu a possibilidade da

    ocorrncia da improvisao como acaso controlado.

    - Eis que se faz vazio para que a improvisao acontea:

    Uma improvisao: Usar o contraditrio. Brincar com amor e eletricidade. No

    esquecer o pblico. Treme, treme, casa comigo. Ele tremia, como se estivesse em

    curto-circuito, e a expectativa era de que quando ela o abraasse levasse um choque,

    porm a dupla no sacou seu prprio jogo, bvio. Infelizmente no conseguiu envolver a

    3 Definimos o dispositivo com base em Foucault (2007). Segundo ele, o dispositivo configura-se como um conjunto

    de fatores, desde aqueles mais subjetivos, compostos por modos de subjetivao, dados por elementos de saberes-

    poderes especficos at os mais objetivos como constituio de regras especficas, propostas, formas de atuao, etc.

  • 47 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    plateia. O fato de estar bvio de que ela levaria um choque no era motivo para que isso

    no acontecesse. A plateia curte o simples. ESCUTA. Buscar sensibilidade para perceber

    o que est rolando no jogo. Perceber o tempo do jogo! Tem que comear e terminar isso

    [o jogo] quando est em alta e no esperar o clima baixar. Seguir as histrias propostas.

    Usar possibilidades que transgridem a lgica que j est a. No deixar o jogo se perder!

    O nosso amor uma garrafa de vinho virando vinagre devagarzinho. importante

    perceber todos os elementos do jogo, no supor ou imaginar o que possa ter a mais.

    PERCEPO.4

    Permitir-se a ao. a simplicidade. o no saber. a presena a disponibilidade. Permitir-se

    improvisar o acaso controlado. A educao ambiental permite-se improvisar na constituio de

    suas aes?

    Estudo dirigido: constituio da brincadeira

    11. Palhao Rupo.

    lindo quando at mesmo os palhaos no entendem nada, se olham um ao outro

    perdidos, para saber se o outro entendeu (SILVEIRA, 2010b).

    12. Palhao Zanatta.

    fundamental que a brincadeira seja verdadeira. No um brincar de brincar. A brincadeira

    verdadeira quando existe prazer. Prazer de brincar sendo voc mesmo, como a criana

    (ZANATTA, 2008).

    Esta aula se estrutura em um protocolo rpido e rgido. So dez pontos bsicos que, se

    seguidos com disciplina e preciso certamente sero eficazes na construo da brincadeira como

    fluxo de acontecimentos.

    4 Anotao feita a partir de uma improvisao de palhao vivenciada no contexto de um projeto de extenso

    desenvolvido no IFSC em 2011/ 2012 com alunos do Ensino Mdio, Tcnico e Superior. O projeto teve por objetivo

    pesquisar e experimentar o palhao e sua relao com a cincia e a tecnologia e baseou-se em um treinamento em

    improvisao e posterior estruturao de cenas de palhao que envolvessem a tecnologia, sustentabilidade e

    educao profissional. O material foi apresentado, juntamente com improvisao livre de palhao, durante o II

    Frum Mundial de Educao Profissional e Tecnolgica em maio/2012 em Florianpolis/SC. Mais material sobre o

    projeto est disponvel em http://www.palhacosdezeducados.blogspot.com

  • 48 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    1. Respire com intensidade;

    2. Disponha-se a tentar estar vivo;

    3. No tente entender, simplesmente sinta;

    4. No espere ganhar. Ganhar no sempre fundamental; tampouco ter sucesso ou acertar;

    5. D a(ten)o ao seu corpo;

    6. Esteja disponvel. Se entregue ao nada;

    7. Fracasse;

    8. Quando se brinca, no existe certo ou errado. Simplesmente existe;

    9. Deixe o tenho que. Talvez voc no tenha que. E mais, talvez voc nem seja to importante,

    o mundo vai continuar girando, contigo ou sentigo;

    10. Dignifique e abrace o prazer.

    Quarta aula: processo de menorizao

    13. Palhao Teotnio.

    O palhao no tem rtulos, ele no necessariamente puro, anjo ou demnio, masculino

    ou feminino [...]; no podemos querer enquadrar o palhao (PUCETTI, 2009, p.121).

    14. Palhaa Godoy.

    A grandeza do menor estaria nisto que se poderia chamar de no-pertencimento a um

    modelo (GODOY, 2008, p.58).

    O palhao o paradoxo do menor que enormitude. Ele no questiona o sentido posto na

    tentativa de impor uma forma, pois tampouco ele forma. matria amorfa, fronteira elstica e

    pulsante. justamente a constituio dessa matria anmala e variante que questiona e desloca,

    silenciosamente, somente pelo fato de ser, todo e qualquer sentido j dado. Na constituio do

    palhao, o processo de menorizao se d atravs de vrios elementos j discutidos nesse curso

    os quais exigem um esforo de resistncia em relao aos dados de uma vida enrijecida

  • 49 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    subjetivamente. (Des)constituir-se palhao di, sangra e machuca, mas tambm alivia, expande e

    potencializa. Tudo isso em um ciclo constante, ao mesmo tempo, pois no existe um repouso

    final. O fluxo permanente. Nessa (des)constituio minoritria existe fora e capacidade de

    resistncia, pois no menor no reside perda, mas a fora molecular da multiplicidade que o leva

    sempre para outra coisa, outra coisa, outra, coisa, outra:

    O menor aponta para uma potencia de devir minoritria que afirma o indivduo como multiplicidade prestes a tornar-se outro, aqum ou alm do fato

    que exprime a constante definidora do maior. Ele , na sua moderao, a

    impossibilidade de se conformar a um padro majoritrio e, na sua radicalidade,

    o mpeto de no formar um padro majoritrio, pois o menor se explicita como

    processo, isto , diante da ideia de que nunca se termina nada, implicada no controle em meio aberto [...]. (GODOY, 2008, p.61)

    A potncia do menor indica para uma resistncia em relao hegemonia do modelo e ao

    modelo hegemnico. Ainda mais, indica para a resistncia na criao de mltiplos sentidos,

    variaes ins-tveis, silncios significantes e solides frequentadas por multiplicidades e

    encontros alegres. Os palhaos so esses indivduos que ao decidirem no pertencer, acolhendo

    lgicas improvveis, roupas muitas vezes decididamente descabidas, gestos e aes ridculas e

    silncios preenchidos do mais audacioso rudo, tm o pertencimento pleno. Conseguem assumir

    um lugar na regra mesmo permanecendo fora. Em constante processo.

    Onde na educao ambiental ainda haver espao para um processo de menorizao e

    acolhimento das potncias do menor?

    Estudo de caso: poltica de palhao

    So quatro propostas de exerccios a partir de estudos de caso especficos e um espao

    para respostas (polticas educao ambiental?). Pois escrever, rasurar, insistir, errar e fracassar

    so palavras de ordem nesse curso.

    Estudo 1: A CIRCA

    Um dos alvos preferidos da CIRCA a polcia. O grupo descobriu que os agentes da lei morrem de medo de palhaos. Nada mais compreensvel: como ser fotografado batendo num palhao? (PAIVA, 2005).

    Aliste-se no Exrcito Clandestino Insurgente de Palhaos Rebeldes: A CIRCA, uma rede

    internacional de palhaos, est buscando brasileiros bobos e rebeldes, radicais e patifes,

  • 50 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    trapaceiros e traidores, desordeiros e descontentes para engrossar suas fileiras. Voc pode

    fazer parte de uma tropa armada com amor e espontaneidade: zombando das estruturas de

    poder e ridicularizando autoridades. No por medo ou dio, mas pelo reconhecimento de

    nossas prprias fraquezas e vulnerabilidades, inerentes a nossa condio humana

    compartilhada. Voc aprender tticas engenhosas e idiotas que confundem aqueles no

    poder. Aprender a revelar o palhao que h dentro de ns e a descobrir a liberdade

    subversiva da palhaada. Em nosso pas, onde vivemos uma situao absurda de

    violncia e desigualdade: com a polcia invadindo comunidades diariamente, com

    traficantes que aterrorizam a vida de todos, um pas miservel onde grandes empresas

    multinacionais, grandes latifundirios, e grandes bancos parecem ser os nicos a se

    beneficiar disso tudo, a tolice se mostra como a nica resposta sensata. Somente um

    exrcito de palhaos pode declarar uma guerra absurda guerra absurda. No preciso

    que se goste de palhaos ou soldados, s preciso amar a vida e boas risadas tanto quanto

    a rebeldia. IUPII! O corajoso terrorista potico, livre do medo, pode viver e amar

    honestamente. Se voc acha que tem o que preciso, siga o seu nariz e junte-se ao

    CIRCA! (Mensagem de alistamento do CIRCA Brasil www.clownarmy.org)

    Estudo 2: Chacovachi

    O que passa que eu tenho tudo que eu quero, Marcio. Quando vou pra rua, ganho um

    dlar de cada espectador. Se eu tenho mil pessoas na plateia, ganho mil dlares e pronto.

    Se eu for pra TV eu vou atingir milhes de pessoas de uma vez e eles nunca vo me

    pagar um dlar por pessoa. Ento prefiro continuar na rua. No fico milionrio, mas sou

    livre. (CHACOVACHI apud LIBAR, 2008, p. 164)

    Chaco trabalha h 20 anos na Praa Fancia, no bairro da Recoleta em Buenos Aires. [...]

    reconhecidamente o palhao que ganha mais dinheiro na rua rodando o chapu. [...]

    Suas rodas [locais de apresentao dos palhaos de rua] na Recoleta renem cerca de mil

    pessoas e ele costuma fazer duas a cada domingo. Quando o conheci, um peso equivalia a

    um dlar. Isso significa que ganhava quase dois mil dlares por domingo. Nas frias de

    vero tinha licena para trabalhar nesse ponto durante sessenta dias seguidos. Tirando os

    dias de chuva que o obrigavam a cancelar a apresentao, podia ganhar cerca de

    cinquenta mil dlares em apenas dois meses de vero. Uma pequena fortuna inteiramente

    extrada do chapu, e totalmente livre de impostos. Desde que comeou a fazer isso, ao

    final de cada temporada de vero, pega a grana e passa de trs a quatro meses na Europa.

    Compra um furgo e circula por diversos festivais de rua entre a Frana, Itlia, Holanda e

    principalmente Espanha [...]. No final da temporada, vende o furgo por l mesmo,

    compra equipamentos de circo e tecnologia [...]. Os equipamentos que vo ficando

    obsoletos ele d aos amigos argentinos que tambm trabalham nas ruas. Na sua maioria

    discpulos dele. [...] No tem o mnimo pudor em ensinar seus segredos e permitir que

    outros os usem, diz que foi assim que aprendeu. Pede apenas para eu avisar o que estiver

    usando, para no repetir quando estivermos no mesmo evento ou na mesma praa.

    (LIBAR, 2008, p. 159)

  • 51 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Estudo 3: Lo Bassi

    O palhao aquele que perdeu. Seu nariz vermelho, porque com o tempo se embebedando de vinho nas ruas frias, o choro e as quedas, o nariz fica realmente

    vermelho. Suas roupas so desproporcionais e seus sapatos so grandes porque no lhe

    pertencem. O palhao aquele que perdeu a dignidade. Mas somente quem perde

    totalmente a dignidade pode atingir uma outra condio de dignidade, e isso acontece

    quando ele reconhece e aceita sua derrota, sem mgoas, sem culpar ningum pelos seus

    fracassos, sem autopiedade. (BASSI apud LIBAR, 2008, p.174)

    Leo saiu pelo mundo com sua tcnica e sua fonte insacivel de conhecimento.

    Apresentou-se nas ruas do Leste Europeu, Amrica, frica e sia. Observou faquires,

    encantadores de serpentes, hipnotizadores de praa pblica, mgicos xamnicos. De cada

    um absorveu uma tcnica e tirou um aprendizado para construir tudo que ele hoje. um

    filsofo e um estrategista capaz de elaborar teorias e pensamentos altamente sofisticados

    e transgressores, e um fenmeno de comunicao capaz de manipular a emoo das

    pessoas e de, literalmente, tocar o terror. Trocou o figurino de palhao por um terno preto

    normal, com culos de aro grosso e uma maleta tipo 007. Sem nenhuma maquiagem

    criou um personagem identificvel em qualquer lugar do mundo. Pode ser confundido

    com um poltico, um empresrio ou um investidor da bolsa de valores de Nova Iorque.

    Seja o que for, transmite a imagem de um homem com muito poder e ao mesmo tempo

    conservador. Porm, o que se revela por trs dessa faceta de homem srio, macho alfa,

    um louco transgressor, quase um psicopata capaz de transpor limites e provocar reaes

    como medo, frustrao, nojo, susto e gargalhadas nervosas. Tudo isso apoiado num nico

    princpio fundamental, que o abandono total da dignidade diante do pblico em nome

    da exposio dos nossos Instintos Ocultos, nome que d ao espetculo que apresenta.

    (LIBAR, 2008, p.173)

    Estudo 4: Leitura de imagem

  • 52 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Figura 1. Oceano de faces (Palhaos sem fronteiras)

    Espao com linhas abertas para respostas anotaes, rabiscos e variaes:

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    Referncias:

  • 53 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

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