eduardo reis viana rocha jÚnior sistemÁtica

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EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA ISOTÓPICA DE Os-Nd-Pb-Sr e GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS TRAÇO LITÓFILOS e SIDERÓFILOS DE BASALTOS DA PROVÍNCIA MAGMÁTICA DO PARANÁ São Paulo 2010

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Page 1: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR

SISTEMÁTICA ISOTÓPICA DE Os-Nd-Pb-Sr

e GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS TRAÇO

LITÓFILOS e SIDERÓFILOS DE BASALTOS

DA PROVÍNCIA MAGMÁTICA DO PARANÁ

São Paulo

2010

Page 2: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Eduardo Reis Viana Rocha Júnior

Sistemática isotópica de Os - Nd - Pb - Sr e geoquímica

de elementos traço litófilos e siderófilos de basaltos

da Província Magmática do Paraná

Tese apresentada ao Departamento de Geofísica do Instituto

de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da

Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de Concentração: Geofísica e Tectônica Global

Orientador(a): Prof.(a). Dr.(a). Leila Soares Marques

São Paulo

2010

Page 3: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Este trabalho é dedicado à minha família,

em especial aos meus pais que sempre me apoiaram

e me incentivaram ao longo de toda minha vida.

Vocês são fantásticos!

Page 4: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Agradecimentos

Considerando esta monografia como resultado de uma caminhada que não começou na

USP, agradecer pode não ser tarefa fácil, nem justa. Para não correr o risco da injustiça,

agradeço de antemão a todos que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram

para a construção de quem sou hoje.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha orientadora, Profa. Dra. Leila S.

Marques, a quem peço “meu muito obrigado” pela criteriosa avaliação, pela crítica de alto

nível e pelas discussões sempre proveitosas sobre as ferramentas analíticas aqui integradas.

No decorrer desses últimos quase 7 anos dos cursos de Mestrado e Doutorado, aprendi “um

monte de coisas” simplesmente observando a forma de como a Profa. Leila faz ciência,

sempre com a mente aberta, disposição para ouvir novos argumentos e novas idéias, e sempre

com um intelecto bastante aguçado para avaliar os prós e contras dessas proposições.

Agradeço também ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da

Universidade de São Paulo, que forneceu o suporte físico e proporcionou um ambiente

agradável para realização deste trabalho. Em especial, aos seus professores, que direta e

indiretamente, contribuíram para realização desta tese de doutorado, como também para meu

crescimento científico. Meu agradecimento também para as meninas da secretaria de

geofísica, Teca e Virgínia, pela competência em ministrar esse departamento, e pela forma

humana e amiga de nos recepcionar.

Agradeço também à University of Maryland at College Park (UMD), nos Estados

Unidos, por me receber de braços abertos e proporcionar um aprendizado ímpar no que tange

a sistemática isotópica de Rênio – Ósmio. De modo especial, quero deixar meus sinceros

Page 5: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

agradecimentos ao Prof. Dr. Richard J. Walker e ao Dr. Igor S. Puchtel, por me darem todo

suporte laboratorial, mas o mais importante foi desafiar-me para avaliar criticamente os

problemas científicos de vários ângulos, ajudando no meu amadurecimento científico.

Agradeço também pelo apoio e amizade de Mathieu Touboul e James Day durante minha

estadia na UMD.

Agradeço à profa. Dra. Ana M. G. Figueiredo e a colega Regina B Ticianelle, pela

orientação na parte analítica relativas à preparação das amostras e método de ativação

neutrônica.

Agradeço, ainda, à equipe do Laboratório de Geologia Isotópica da USP,

especialmente à profa. Marly Babinski e a Izabel Ruiz, pela orientação na parte analítica

relativas à preparação das amostras para análises isotópicas de Sr, Nd e Pb.

Sou grato aos profs. Antônio J. Nardy e Marcos Aurélio (ambos da UNESP - Rio

Claro), e ao amigo Fábio Machado, agora professor da UNIFESP, que muito contribuíram na

construção desta pesquisa, como também nos proveitosos campos e congressos

compartilhados.

Agradeço ao CNPq, FAPESP e CAPES pelo apoio financeiro para realização desta

investigação.

Meus sinceros agradecimentos a todos meus amigos que, direta ou indiretamente,

acreditaram e me incentivaram a correr atrás dos meus ideais, tornando possível a realização

deste trabalho. De modo especial, um grande obrigado para Carlos Eduardo, Vanessa, Rê

Pires, James, Alan, Nara, Marcelo, Alanna, Franklin, Wanderson, Fogaça, Raphael, Ricardo,

Andrea, Manuelle, Willian (em SP), e Cicinho, Ceceu, Luíza, Dayse, Marquinhos (na BA), e

tantos outros...

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Por fim, faço um agradecimento especial aos meus pais (Eduardo e Ana), minhas

irmãs (Marcelle e Luana), meus sobrinhos (Luan, Kevin e Bruno) e a toda minha família que,

com muito carinho e apoio, pela compreensão do tempo “furtado”, não mediram esforços para

que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Dedico a vocês a realização deste trabalho.

É muito difícil agradecer a todos sem esquecer, inevitavelmente, de alguém ...

Page 7: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

"O encanto com que nos deparamos com um fato novo é

o que nos move para avançar, conhecer mais. A vontade,

o interesse, a curiosidade, esses são os verdadeiros

motores do intelecto."

Page 8: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Resumo

ROCHA-JÚNIOR, E. R. V. Sistemática isotópica de Os-Nd-Pb-Sr e geoquímica de elementos traço litófilos e siderófilos de basaltos da Província Magmática do Paraná. 2010. 153f. Tese (Doutorado) – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

O objetivo primário deste estudo é aprimorar o conhecimento acerca das fontes do manto e

dos mecanismos envolvidos na gênese dos basaltos da Província Magmática do Paraná, que

constitui uma das maiores manifestações de basaltos continentais do mundo. Para tanto, foram

determinadas as concentrações de terras raras (La, Ce, Nd, Sm, Eu, Tb, Yb e Lu), outros

elementos traço (Cs, Rb, Ba, U, Th, Ta, Hf, Co e Sc) e elementos altamente siderófilos (Os,

Ir, Ru, Pt, Pd e Re), juntamente com razões isotópicas dos sistemas Rb-Sr, Sm-Nd, U-Th-Pb e

Re-Os em basaltos com alto-Ti (Paranapanema e Pitanga) que ocorrem no norte da PMP.

Além disso, foram determinadas as concentrações de elementos altamente siderófilos e as

razões isotópicas de 187Os/188Os amostras representativas de basaltos com baixo-Ti

(Esmeralda) do sul da PMP. Os dados geoquímicos e as razões isotópicas de Sr, Nd e Pb

obtidos são consistentes com dados da literatura, porém, refinam as variações (extremos)

isotópicas dos magmas-tipo Paranapanema e Pitanga. Esses dados, juntamente com as

concentrações de elementos altamente siderófilos e das razões isotópicas de Os, inéditas na

literatura, sugerem que as fontes dos basaltos (astenosfera ou manto litosférico

subcontinental) sofreram metassomatismo significativo, com a intrusão de veios piroxeníticos,

relacionado a antigas subducções e/ou processos de delaminação.

Palavras-chave: Província Magmática do Paraná; Províncias de derrames continentais;

Geologia de isótopos radiogênicos; Elementos traço litófilos; Elementos traço siderófilos.

Page 9: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Abstract

ROCHA-JÚNIOR, E. R. V. Os-Nd-Pb-Sr isotope systematics and lithophile and siderophile trace element geochemistry of basalts from Paraná Magmatic Province. 2010. 153p. Thesis (PhD) – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

The primary goal of this study is to improve the understanding about the mantle sources and

the mechanisms involved in the basalt genesis from Paraná Magmatic Province (PMP), which

is one of the largest known continental flood basalts of the world. Therefore, the

concentrations of rare earths (La, Ce, Nd, Sm, Eu, Tb, Yb and Lu), other trace elements (Cs,

Rb, Ba, U, Th, Ta, Hf, Co and Sc) and highly siderophile elements (Os, Ir, Ru, Pt, Pd and Re)

were determined, along with isotope ratios regarding Rb-Sr, Sm-Nd, U-Th-Pb e Re-Os

systematics in high-Ti basalts (Paranapanema and Pitanga) from northern PMP. In addition,

the highly siderophile element concentrations, as well as 187Os/188Os isotope ratios, were

measured in selected samples of low-Ti basalts (Esmeralda) from southern PMP.

The geochemical and Sr-Nd-Pb isotope results of the present study are consistent with

literature data, but refine the isotope variations (extreme) for the Paranapanema and Pitanga

magma-types. These data, along with the concentrations of highly siderophile elements and

Os isotope ratios suggest that the basalt mantle sources (asthenosphere or subcontinental

lithospheric mantle) were affected by significant metasomatism (piroxenitic vein

hybridization), related with old subduction and/or delamination processes.

Keywords: Paraná Magmatic Province; Continental Flood Basalts; Radiogenic isotope

geology; Lithophile trace elements; Siderophile trace elements.

Page 10: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Lista de Figuras

Figura 3.1: Nomenclatura das rochas investigadas de acordo com o esquema proposto por De La Roche et al. (1980). R1 = 4*Si - 11*(Na + K) - 2*(Fe + Ti); R2 = Al + 2*Mg + 6*Ca. ..................................................................................................................

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Figura 3.2: Diagrama TAS de classificação de rochas (Le Bas et al., 1986) para os basaltos investigados nesse estudo. A linha pontilhada preta separa o campo dos basaltos toleíticos dos alcalinos, conforme proposto por Zanettin (1984). A linha pontilhada vermelha separa os campos das rochas alcalinas e toleíticas (Irvine & Baragar, 1971). ................................................................................................................

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Figura 3.3: Diagrama AFM de discriminação de séries toleítica e cálcio-alcalina dos basaltos investigados nesse estudo. Linha divisória segundo Irvine & Baragar (1971). ..............................................................................................................................

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Figura 3.4: Diagramas de variação (a) SiO2, (b) CaO, (c) TiO2, (d) Na2O, (e) Al2O3, (f) K2O, (g) Fe2O3(t) e (h) P2O5, em função de MgO, das amostras investigadas neste trabalho. ...........................................................................................................................

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Figura 3.5: Diagrama de variação de P2O5 em função de TiO2 das amostras investigadas neste trabalho. .............................................................................................

47

Figura 3.6: Diagrama de variação do conteúdo de (a) Ni, (b) Sc, (c) Cr e (d) Co em função de MgO. Setas representam os efeitos de cristalização fracionada Unidades: Oliv = olivina, Cpx = clinopiroxênio. ..............................................................................

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Figura 3.7: Diagramas de variação do conteúdo de (a) Cr e (b) Ni em função de Zr. Este gráfico ilustra que os magmas-tipo Urubici, Pitanga e Paranapanema podem refletir diferenças no grau de fusão parcial, conforme as linhas traçadas nos diagramas. CF = Cristalização Fracionada; F = Fusão parcial. A seta vermelha, verde e azul corresponde ao comportamento dos litotipos Urubici, Pitanga e Paranapanema, respectivamente. ...............................................................................................................

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Figura 3.8: Diagrama de variação (a) La, (b) Ta, (c) Ce, (d) Ba, (e) U, (f) Rb, (g) Th e (h) Nb (μg/g), em função de Zr, das rochas investigadas neste trabalho. ........................

52

Figura 3.9: Diagrama de variação (a) Hf, (b) Sm, (c) Eu, (d) Tb, (e) Yb, (f) Nd, (g) Lu e (h) Cs, em função de Zr, das rochas investigadas neste trabalho. .................................

53

Figura 3.10: Padrões de elementos terras raras, normalizados em relação aos meteoritos condríticos (Boynton, 1984), dos basaltos investigados neste trabalho com MgO ≥ 4,0%. (a) magma-tipo Pitanga; (b) magma-tipo Paranapanema; (c) magma-tipo Urubici; (d) Comparação entre as médias dos magmas-tipo Pitanga, Paranapanema e Urubici com OIB, N-MORB, IAB, TC. Acrônimos: OIB (do inglês Ocean Island

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Basalts) e N-MORB (do inglês, Normal Mid-Ocean Ridge Basalts) são de Sun & McDonough (1989). IAB (do inglês, Island Arc Basalts) de Kelemen et al. (2003). TC (Tristão da Cunha) foi baseado no banco de dados da GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). ..................................................................................................

55

Figura 3.11: Diagramas de elementos incompatíveis normalizados em relação ao manto primordial (Sun & McDonough, 1989) das rochas investigadas neste trabalho com MgO ≥ 4,0%. a) magma-tipo Pitanga; (b) magma-tipo Paranapanema; (c) magma-tipo Urubici; (d) Comparação entre as médias dos magmas-tipo Pitanga, Paranapanema e Urubici com OIB, N-MORB, TC e IAB. Acrônimos: OIB (do inglês Ocean Island Basalts) e N-MORB (do inglês, Normal Mid-Ocean Ridge Basalts) são de Sun & McDonough (1989). IAB (do inglês, Island Arc Basalts) de Kelemen et al. (2003). TC (Tristão da Cunha) foi baseado no banco de dados da GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). .................................................................

57

Figura 4.1: 87Sr/86Sri versus 143Nd/144Ndi das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). ...............................................

63

Figura 4.2: 206Pb/204Pbm versus 143Nd/144Ndi das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). ...............................................

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Figura 4.3: 206Pb/204Pbm versus 87Sr/86Sri das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). ...............................................

65

Figura 4.4: 206Pb/204Pbm versus 207Pb/204Pbm das rochas investigadas neste trabalho.. NHRL corresponde a Linha de Referência do Hemisfério Norte (do inglês, Northern Hemisphere Reference Line). Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988;

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Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/). ..................................................................................................

66

Figura 4.5: Reconstrução do supercontinente Gondwana no início do Mesozóico e a distribuição de províncias de derrames de basaltos continentais. A linha sólida (roxo) divide as províncias caracterizadas pela erupção de basaltos ATi e BTi. Figura modificada de Piccirillo & Melfi (1988) e Wilson (1989). ..............................................

69

Figura 4.6: (a) Evolução tectônica do supercontinente Gondwana (retirado de Bizzi et al., 2003). Blocos cratônicos do Gondwana foram colados ao longo de cinturões móveis Pan-Gondwânicos durante o Pré-Cambriano superior (650 ± 100? Ma), quando o Gondwana era delimitado ao longo de suas margens norte e sul por zonas de subducção e acreção. (b) Riftes extensionais de margem passiva se formaram a norte e a sul do Gondwana durante o Paleozóico inferior. (c) A acreção tectônica ao longo da margem sul do Gondwana durante o Paleozóico superior levou à formação de uma extensa bacia de antepaís. (d) A orientação de vários sistemas de falhas é compatível com os falhamentos induzidos por estresse devido à acreção de terrenos ao longo da margem sul do Gondwana. ..............................................................................................

70

Figura 4.7: Principais crátons da plataforma Sul-Americana (AM – Amazônico; SF – São Francisco; RdP – Rio de Plata; RA – Rio Apa). A linha tracejada mostra a zona de sutura (ca. 528 ± 36 Ma; fechamento do oceano Clímene). Figura retirada de Tohver et al. (2010). .........................................................................................................

71

Figura 4.8: Diagrama de variação de: (a) P2O5/K2O versus 87Sr/86Sr; (b) SiO2(%) versus 87Sr/86Sr; (c) SiO2(%) versus 143Nd/144Nd; (d) SiO2 versus 206Pb/204Pb; (e) SiO2 versus 207Pb/204Pb e (f) Nb/Zr versus 87Sr/86Sr. Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). ..................................................................................

80

Figura 4.9: Diagrama de variação de: (a) Th/Ta versus 87Sr/86Sr e (b) La/Yb (μg/g) versus 87Sr/86Sr. Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). ................

81

Figura 4.10: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos, com forte envolvimento de fontes litosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e L1 (manto litosférico do Gondwana 1); Curva [2] DMMb e L2 (manto litosférico do Gondwana 2); Curva [3] L1 e L2; Curva [4] corresponde a mistura entre DMMb e variações entre os extremos isotópicos do manto litosférico L1 e L2. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados

Page 13: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). ...............................................................................................................................

85

Figura 4.11: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos com forte envolvimento de fontes sublitosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e EMI; Curva [2] DMMb e EMII; Curva [3] FOZO e EMII; Curva [4] DMMb e piroxenito (EN89-2). Essa mistura (entre DMMb e piroxenito) corresponde ao componente contaminado (metassomatizado) por veios de piroxenitos; Curva [5] corresponde à mistura entre o componente contaminado (por 4–5 % de veios de piroxenitos) com o reservatório EMII. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). .............................................................

87

Figura 4.12: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos com forte envolvimento de fontes sublitosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e EMI; Curva [2] DMMb e EMII; Curva [3] FOZO e EMII; Curva [4] DMMb e piroxenito (EN89-2). Essa mistura (entre DMMb e piroxenito) corresponde ao componente contaminado (metassomatizado) por veios de piroxenitos; Curva [5] corresponde à mistura entre o componente contaminado (por 4–5 % de veios de piroxenitos) com o reservatório EMII. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). .............................................................

90

Figura 5.1: Padrões de elementos altamente siderófilos (HSE) dos basaltos toleíticos da PMP. Os basaltos baixo-Ti diferem do alto-Ti por possuírem maiores razões de Pd/Ir e Pt/Ir. PUM (Primitive Upper Mantle) representa os peridotitos férteis antes da remoção de material do manto superior (Becker et al., 2006). UCC (Upper Continental Crust) representa a crosta continental superior. ...............................................................

109

Figura 5.2: Diagramas de variação de (a) Os, (b) Ir, (c) Ru, (d) Pt, (e) Pd, (f) Re, em função de MgO (%) das rochas investigadas neste estudo. .............................................

113

Figura 5.3: Diagrama de variação Cr e Ni versus Ru e Os das rochas investigadas neste estudo. .....................................................................................................................

115

Figura 5.4: Isócrona 187Re/188Os versus 187Os/188Os dos basaltos toleíticos da PMP investigados neste trabalho. Os erros experimentais são menores do que o tamanho dos símbolos que representam os dados. Os dados foram regredidos e a isócrona foi gerada usando o programa Isoplot (Ludwig, 2008). ....................................................................

118

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Figura 5.5: Razão isotópica inicial de 187Os/188Os (em 131,6 Ma) versus 1/Os. A falta de correlação sugere assimilação insignificante de crosta continental radiogênica (linha de mistura em vermelho) ou SCLM não radiogênico. A estimativa do manto primitivo (sem incerteza) de Meisel et al. (2001), composição dos condritos Carbonaceous (sem incerteza) de Walker et al. (2002) e SCLM de Shirey & Walker (1998) são também mostradas na figura. .........................................................................

120

Figura 5.6: Razão isotópica inicial de 187Os/188Os (em 131,6 Ma) versus (a) 206Pb/204Pbm; (b) 87Sr/86Sri (em 131,6 Ma). A composição aproximadamente condrítica dos basaltos investigados neste trabalho não sugere envolvimento dos componentes HIMU, EMI e EMII, os quais são extremamente radiogênicos em 187Os/188Os, na gênese da PMP. ................................................................................................................

121

Figura 5.7: Diagrama de γOs versus εNd para os basaltos investigados neste trabalho e possíveis reservatórios envolvidos na gênese da PMP. O diagrama exibe misturas binárias entre o DMM e: L1, L2, piroxenito EN89-2 (em 2,6 Ga, 1,2 Ga, 1,0 Ga e 0,53 Ga). Também é exibida uma mistura entre o componente de pluma (EP – Enriched Plume) e L2. As composições dos membros finais utilizados nos cálculos de misturas encontram-se na Tabela 4.1. ............................................................................................

125

Figura 5.8: Composição isotópica de 143Nd/144Nd versus 187Os/188Os ilustrando as relações de mistura entre peridotito e um componente empobrecido em olivina na fonte da PMP, análogo ao modelado por Carlson et al. (2007) para explicar a gênese do GAP e do APAP. As três curvas de misturas mostradas correspondem aos membros finais sugeridos listados na Tabela 8 do artigo de Carlson et al. (2007) e são identificados como: (1) peridotito arqueano com baixo 187Os/188Os e 143Nd/144Nd intrudido em 130 Ma por um magma com razão Sm/Nd similar àquela dos basaltos ATi da PMP e concentrações de Re e Os similares àquelas de fusões derivadas do manto normal. (2) peridotito fértil moderno intrudido em 130 Ma pelo mesmo magma usado no modelo-1; (3) peridotito arqueano exaurido (baixo 187Os/188Os, alto 143Nd/144Nd) intrudido em 900 Ma por um magma possuindo baixo Sm/Nd, alto conteúdo de LILE e baixas concentrações de Os; (4) os mesmos componentes utilizados no modelo-3, mas com o magma metassomático intrudindo em 1700 Ma. Vale salientar que as composições isotópicas sugeridas por Carlson et al. (2007) assumem que a mistura ocorreu em ~ 85 Ma, que corresponde a idade de erupção das rochas alcalinas máficas do GAP e APAP. Os pequenos símbolos (marcas) em cada curva representam incrementos a cada 10% do componente pobre em olivina na mistura. .............................................................................................................................

126

Figura 5.9: (a) Mecanismo pelo qual a litosfera continental é afinada e rejuvenescida (re-fertilizada). A representação de delaminação e afinamento convectivo são similares ao proposto por Houseman & Molnar (2001). (b) Diagrama esquemático mostrando o processo de desidratação de materiais em “afundamento” e a produção de magma durante delaminação por instabilidade gravitacional. .........................................

129

Page 15: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Sumário

1. Introdução .............................................................................................. 16 1.1. Por que estudar magmatismo intra-continental? ................................................... 16 1.2. A Província Magmática do Paraná ....................................................................... 19

1.3. Organização deste trabalho ................................................................................... 22

2. Metodologias Analíticas ........................................................................ 23 2.1. Concentração de elementos maiores, menores e traços ........................................ 24 2.1.1. Seleção de amostras ................................................................................... 24 2.1.2. Técnica de fluorescência de raios X .......................................................... 25 2.1.3. Análise por ativação com nêutrons térmicos e epitérmicos ....................... 25 2.2. Análises isotópicas de Sr-Nd-Pb .......................................................................... 26 2.2.1. Seleção de amostras .................................................................................... 26 2.2.2. Preparação de amostras ............................................................................... 26 2.2.3. Dissolução das amostras ............................................................................. 27 2.2.4. Extração de Pb ............................................................................................ 29 2.2.5. Medidas isotópicas ...................................................................................... 30 2.3. Análises isotópicas de Ósmio e concentração dos HSE ....................................... 31 2.3.1. Desenvolvimento das análises isotópicas do sistema Re-Os ...................... 31 2.3.2. Seleção de amostras .................................................................................... 33 2.3.3. Preparação de amostras ............................................................................... 33 2.3.4. Digestão das amostras ................................................................................. 34 2.3.5. Extração dos HSE ....................................................................................... 34

2.3.6. Medidas isotópicas ...................................................................................... 35

3. Caracterização Geoquímica ................................................................. 37 3.1. Classificação e nomenclatura ............................................................................... 38 3.2. Geoquímica de elementos maiores e menores ...................................................... 44 3.3. Geoquímica de elementos traço ............................................................................ 48 3.3.1. Elementos compatíveis ............................................................................... 48 3.3.2. Elementos incompatíveis ............................................................................ 51 3.3.3. Padrões de Elementos Terras Raras (ETR) ................................................. 54 3.3.4. Padrões de abundância de elementos incompatíveis .................................. 56

3.4. O papel de processos metassomáticos associado à PMP ...................................... 58

4. Sistemática isotópica de Sr–Nd–Pb ...................................................... 60 4.1 Conceituação teórica . ........................................................................................... 62 4.1.1. Manto Litosférico Subcontinental (SCLM) Heterogêneo ........................... 62 4.1.2. Amalgamação de blocos cratônicos na porção oeste do Gondwana ........... 68 4.1.3. Reservatórios do manto ............................................................................... 72 4.2 Contaminação crustal ............................................................................................ 77 4.3. Características da fonte e sistemáticas de mistura ................................................ 82 4.3.1 O papel do manto litosférico subcontinental ............................................... 84 4.3.2 O papel do manto sublitosférico................................................................... 88

Page 16: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

5. Elementos siderófilos e a sistemática isotópica de Re-Os ................... 91 5.1 Conceituação teórica ............................................................................................. 92 5.1.1. O sistema 187Re-187Os ................................................................................. 92 5.1.2. Manto superior primitivo (PUM – primitive upper mantle) ....................... 95 5.1.3. Ósmio na litosfera continental .................................................................... 96 5.1.4. Ósmio na crosta continental ........................................................................ 100 5.1.5. Interação crosta-manto ou núcleo-manto .................................................... 101 5.1.6. Isótopos de Os e componentes do manto ..................................................... 103 5.2. Elementos Altamente Siderófilos (HSE) ............................................................. 108 5.3. Sistemática isotópica de Re-Os ............................................................................ 116 5.4. Sistemáticas de mistura ......................................................................................... 122 5.5. Modelo Petrogenético ........................................................................................... 124 5.5.1 Processos metassomáticos no manto astenosférico e suas implicações ....... 124

5.5.2 Processos metassomáticos no manto litosférico .......................................... 130

6. Considerações Finais .............................................................................

134

Referências Bibliográficas .......................................................................... 138

Page 17: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 1 Introdução 1.1. Por que estudar magmatismo intra-continental?

Uma das formas mais enigmáticas da atividade ígnea terrestre são aquelas

relacionadas aos processos magmáticos que ocorrem no interior dos continentes,

tais como, as províncias de derrames continentais (CFB – Continental Flood

Basalts). Existe ainda uma grande controvérsia com relação à natureza das regiões-

fonte dos magmas (manto litosférico continental ou manto sublitosférico), como

também acerca dos mecanismos geodinâmicos que provocam o início da fusão

dessas regiões-fonte. Em contrapartida, os processos relacionados à produção de

magmatismo em outros ambientes tectônicos são, geralmente, mais bem

compreendidos, muito embora alguns detalhes não sejam completamente

entendidos. Em limites de placas divergentes, por exemplo, fusão por

descompressão do manto astenosférico em ascensão a uma temperatura “normal”

(~1300°C) é provavelmente o responsável pela produção de crosta oceânica em

dorsais meso-oceânicas (Grove, 2000). Nos limites de placas convergentes, o

magmatismo de arco é, provavelmente, o produto de fusão da cunha mantélica

acima da litosfera oceânica subductada, induzido pela adição de fluidos liberados da

placa (Wilson, 1989). Já as ilhas oceânicas (intraplacas) são consideradas como o

produto de fusão por descompressão de plumas do manto, estas últimas

representando porções “úmidas” ou quentes do manto da Terra (Green & Falloon,

1998).

Page 18: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

17

Em contraste, tem sido extremamente difícil classificar o magmatismo que

ocorre no interior dos continentes (e.g. CFB), em termos dos processos acima

referidos. Primeiro, as fontes de tais magmas são difíceis de serem determinadas

utilizando técnicas químicas e isotópicas convencionais, tanto devido à

heterogeneidade da crosta continental e do manto litosférico, como também devido à

probabilidade de processos de contaminação crustal e/ou litosférica em sua jornada

para superfície. Em segundo lugar, os mecanismos desencadeadores desses

eventos magmáticos são pobremente entendidos, por exemplo: (1) a fusão por

descompressão de manto sublitosférico é inibida pela espessura da litosfera

continental, mesmo se o manto possui altas temperaturas potenciais; (2) O manto

litosférico continental é geralmente infértil para produção de magma, como também

é muito improvável que sofra fusão por descompressão, mesmo durante distensão

litosférica (McKenzie and Bickle, 1988).

Como resultados de muitas investigações foram propostos diferentes modelos

para explicar a origem dessas províncias, sendo que até o presente momento, não

existe um consenso sobre a seqüência dos processos tectônicos envolvidos, como

também sobre a participação de diferentes componentes mantélicos na gênese das

rochas básicas.

Os modelos propostos têm implicações bastante distintas no que concerne às

características geoquímicas e isotópicas dos magmas basálticos originados. Os que

mais se destacam para explicar a origem dessas grandes manifestações ígneas são

àqueles relacionados a processos de distensão litosférica (e.g. White & McKenzie,

1989), os quais precedem a geração de basaltos, e os relacionados à atividade de

plumas, cujas composições devem refletir aquelas do manto profundo (Richards et

Page 19: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

18

al., 1989; Campbell, 2005). Por outro lado, Tarduno et al. (2003) e Tarduno (2008)

propuseram um sistema mais dinâmico (não fixo) no que diz respeito à plumas, ou

seja, que as plumas podem ter um deslocamento, tanto na base (limite núcleo-

manto), quanto no topo (base da litosfera), associado à convecção do manto.

Pesquisas efetuadas recentemente têm mostrado que a origem dessas

províncias ainda é um tema muito debatido e controverso. Embora as plumas

mantélicas tenham sido amplamente utilizadas para explicar as características gerais

de várias províncias basálticas, o modelo clássico está sendo seriamente

questionado. Os principais problemas deste modelo são sintetizados e discutidos por

Sheth (1999, 2005), Smith & Lewis (1999), Anderson (2005) e Kumar & Mohan

(2005) com base em dados geoquímicos, isotópicos e geofísicos, principalmente

dados de tomografia sísmica.

O debate tem sido bastante intensificado nestes últimos anos, com a

formulação de propostas alternativas à teoria clássica de plumas, com o

envolvimento de litosfera subductada e reciclada no manto astenosférico (Meibon &

Anderson, 2003; Koneraga, 2004; Sheth, 2005; Foulger et al., 2005 e Foulger &

Anderson, 2005) ou no manto inferior (mesosfera; Cordery et al., 1997 e Takahashi

et al., 1998), que explicariam os elevados graus de fusão parcial do manto na

geração de elevados volumes de rochas vulcânicas.

Outras hipóteses para explicar as características observadas nas províncias

ígneas incluem origem no manto litosférico subcontinental heterogêneo (Hergt et al.,

1991; Cox, 1992, Molzahn et al., 1996) e no modelo de edge-driven convection, que

se baseia nas variações laterais de temperatura e descontinuidades na espessura

da litosfera, as quais podem ocorrer nas margens de regiões cratônicas ou em

Page 20: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

19

bordas de placas (King & Anderson, 1998). Deste modo, a fusão por descompressão

no manto sublitosférico pode ser induzida através de instabilidades convectivas no

manto superior, resultantes de variações na espessura litosférica (King & Anderson,

1998) ou de processos relacionados à delaminação da litosfera, incluindo a crosta

inferior (Elkins & Hager, 2000; Houseman & Molnar, 2001 e Lustrino, 2005).

O processo de delaminação litosférica é baseado no desenvolvimento de

instabilidade gravitacional devido à colisão continente-continente ao longo de uma

zona móvel (Lustrino, 2005). Tais colisões forçam as rochas da crosta inferior a mais

altas pressões e temperaturas. Sob tais condições, a porção litosférica abaixo da

crosta inferior torna-se gravitacionalmente instável (crosta inferior adensada +

litosfera) podendo se desmembrar e mergulhar no manto astenosférico.

Nesse contexto, o estudo da Província Magmática do Paraná (PMP) possui

grande importância por constituir uma das maiores manifestações de basaltos

continentais do mundo. Esse magmatismo precedeu a separação continental

América do Sul – África, ocorrendo na forma de intenso vulcanismo na Bacia do

Paraná, associado a uma expressiva atividade ígnea de caráter intrusivo (Almeida,

1986; Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques & Ernesto, 2004).

1.2. A Província Magmática do Paraná

Embora muitos estudos já tenham sido conduzidos na PMP, existe ainda uma

grande controvérsia sobre os processos envolvidos na gênese destas rochas. De

acordo com Gibson et al. (1995, 1999), Milner & Le Roex (1996), Ewart et al. (1998;

2004) e Marsh et al. (2001) a composição das rochas basálticas reflete a

participação da pluma de Tristão da Cunha. Por outro lado, Hawkesworth et al.

Page 21: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

20

(1992), Turner & Hawkesworth (1995), Comin-Chiaramonti et al. (1997), Peate et al.

(1999) e Marques et al. (1999) propõem que essa pluma pode ter contribuído

apenas como fonte de calor para a fusão de manto litosférico. Além disso, foi

também sugerido o possível envolvimento de porções do manto astenosférico

empobrecido do tipo N-MORB (Normal Mid-Ocean Ridge Basalts) nas últimas fases

da atividade extrusiva (Peate & Hawkesworth, 1996).

Por fim, a reconstrução paleogeográfica dos continentes, baseada em dados

paleomagnéticos (Ernesto, 1996; Raposo et al., 1998; Ernesto et al., 1999), indica

que, se a pluma de Tristão da Cunha já existia há 133 Ma, mantendo-se, desde

então, como um ponto fixo no manto, sua posição estava deslocada em cerca de

1.000 km em relação à região sul da PMP. Deste modo, para que a pluma de Tristão

da Cunha tenha participado na gênese da PMP, seria necessário um caráter mais

dinâmico para essa pluma, seguindo o modelo sugerido por Tarduno et al. (2003) e

Tarduno (2008).

Assim, esta investigação, se concentrou no estudo de rochas extrusivas (alto-

TiO2) que ocorrem no norte da PMP, compreendendo partes do extremo norte do

estado de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, ainda carentes de estudos mais

detalhados, os quais são fundamentais para o entendimento da origem e evolução

de uma das maiores províncias basálticas do mundo.

Esse estudo foi baseado principalmente na determinação de elementos

maiores, terras raras e outros traços fortemente incompatíveis, como U, Th, Ta e Hf,

bem como determinações de isótopos de Sr–Nd–Pb. Estas determinações foram

fundamentais para investigar as características das fontes mantélicas envolvidas na

Page 22: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

21

atividade ígnea, bem como verificar e quantificar possíveis processos de

contaminação crustal.

Entretanto, com o objetivo de investigar e quantificar a participação do manto

litosférico subcontinental (SCLM) e/ou de material astenosférico na gênese dos

basaltos da PMP, foi decisivo utilizar a sistemática isotópica de Re-Os, pois: (1) o

SCLM tem razão de Re/Os mais baixa e concentração de ósmio mais alta do que o

manto astenosférico; (2) processos metassomáticos que geram enriquecimentos em

elementos traço, incluindo Rb-Sr, Sm-Nd e U-Th-Pb, não afetam significativamente

os isótopos de Re e Os; (3) a razão isotópica de 187Os/188Os é um traçador muito

sensível da interação crosta-manto, servindo como um importante indicador de

processos de contaminação crustal, que podem mascarar as características

químicas e isotópicas das fontes mantélicas. Além disso, foram também

determinadas as concentrações de elementos altamente siderófilos (Os, Ir, Ru, Pt,

Pd e Re).

Como este estudo foi a primeira aplicação mais detalhada da sistemática

isotópica de Re-Os em basaltos toleíticos da PMP, buscou-se selecionar as

amostras mais primitivas da província, a fim de investigar a região-fonte envolvida na

gênese da PMP. Desta forma, foi necessário incluir amostras da parte sul da

província (magma-tipo Esmeralda; baixo-TiO2), nesta investigação. Cabe mencionar

que foram efetuadas medidas de 187Os/188Os em poucas amostras da PMP no

Instituto de Geociências da USP, as quais foram apenas publicadas em resumos de

eventos científicos (Kirk et al., 2006 e 2008).

Page 23: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 1 – Introdução

22

1.3. Organização deste trabalho

Este trabalho está organizado em seis capítulos. O primeiro capítulo é esta

introdução. O segundo discorre sobre os métodos analíticos utilizados para

determinação das concentrações de elementos maiores, terras raras e outros traços,

como U, Th, Ta e Hf, assim como determinações do conteúdo de elementos

altamente siderófilos (Os, Ir, Ru, Pt, Pd e Re) e de isótopos de Os–Nd–Pb–Sr. Por

fim os resultados obtidos nesta investigação foram discutidos em três capítulos (3, 4

e 5).

No terceiro capítulo são apresentadas as características geoquímicas das

amostras investigadas em termos de elementos maiores, menores e traços

fortemente incompatíveis.

As composições isotópicas de Sr, Nd e Pb são discutidas no quarto capítulo,

em consonância com os resultados obtidos no presente estudo, como também em

estudos anteriores. No entanto, os resultados obtidos definem melhor as variações

dessas razões, uma vez que poucas amostras alto-TiO2 do norte da PMP foram

anteriormente investigadas em trabalhos da literatura.

O quinto capítulo documenta em detalhe, pela primeira vez, a aplicação da

sistemática isotópica de Re-Os em basaltos toleíticos da PMP, assim como a

distribuição dos elementos altamente siderófilos nessas rochas. Além disso, são

propostas algumas possibilidades para a gênese de tão volumoso magmatismo de

natureza básica.

O último capítulo desta tese sumariza os principais resultados obtidos neste

estudo.

Page 24: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 2 METODOLOGIAS ANALÍTICAS

Com a finalidade de atingir os objetivos propostos foram efetuados trabalhos

de campo para coleta de rochas ígneas que ocorrem no norte e nordeste da PMP,

particularmente as que ocorrem no norte do estado de São Paulo (n = 18 amostras),

extremo sul de Minas Gerais (n = 08 amostras) e sul de Goiás (n = 81 amostras)

cobrindo de maneira satisfatória a área investigada. Cabe destacar, que para a

caracterização geoquímica e isotópica das rochas basálticas da região norte da PMP

foram incluídos resultados de análises de elementos maiores, menores e traços

obtidos em trabalhos anteriores na mesma região (n = 32 amostras; Rocha-Júnior,

2006; Gabioli, 2006). Dessa forma, este estudo utilizou um conjunto de 144 amostras

para investigar as fontes do manto envolvidas na gênese da PMP.

Para caracterização geoquímica das rochas vulcânicas e intrusivas da região

norte da Província Magmática do Paraná (PMP) foram utilizados dois métodos

analíticos. As determinações dos óxidos de elementos maiores e menores, bem

como das concentrações dos elementos Cr, Ni, Sr, Zr, Y e Nb foram efetuadas no

Departamento de Petrologia e Metalogenia do Instituto de Geociências e Ciências

Exatas da Universidade Estadual Paulista (UNESP – Rio Claro), mediante o

emprego da técnica de fluorescência de raios X.

O método utilizado para a determinação de U, Th, Ta e de outros elementos

traço, incluindo terras raras, foi a análise de ativação com nêutrons (AAN) térmicos e

epitérmicos, a qual foi efetuada no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares –

IPEN/CNEN – SP.

Page 25: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

24

As composições isotópicas dos elementos de natureza litófila (87Sr/86Sr,

143Nd/144Nd, 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb) foram determinadas no Centro de

Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) da Universidade de São Paulo (USP).

As medidas das razões isotópicas de 187Os/188Os, assim como a

determinação das concentrações dos elementos altamente siderófilos (HSE - Highly

Siderophile Elements), incluindo cinco elementos do grupo da Platina (Os, Ir, Ru, Pt,

Pd) e Re foram efetuadas na University of Maryland at College Park (UMCP), nos

Estados Unidos da América.

2.1. Concentração de elementos maiores, menores e traços

2.1.1. Seleção de amostras

Em todas as 144 amostras foram efetuadas determinações de óxidos de

elementos maiores, menores e traços por fluorescência de raios X (FRX). Em 63

dessas amostras foram também determinadas as concentrações de elementos

terras raras e outros traços por ativação com nêutrons. Os níveis de precisão e

exatidão para elementos maiores e menores são inferiores a 5%, enquanto para os

elementos traço, esses são inferiores a 10% (Bellieni et al., 1983; Marques, 2001;

Rocha-Júnior, 2006; Gabioli, 2006). Para as interpretações foram consideradas

somente rochas extrusivas, com perda ao fogo inferior a 2%.

Page 26: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

25

2.1.2. Técnica de fluorescência de raios X

A técnica de fluorescência de raios X foi empregada na determinação das

concentrações dos óxidos de elementos maiores e menores (SiO2, TiO2, Al2O3,

Fe2O3, MgO, MnO, CaO, Na2O, K2O e P2O5) e também para os elementos traço Cr,

Ni, Sr, Zr, Y e Nb. O procedimento empregado na determinação dos elementos

maiores e menores foi o de analitos fundidos em meio borato diluídas em uma

proporção de 1:5, enquanto para os elementos traço, os analitos são produzidos

através da mistura da rocha pulverizada na qual são adicionados 25% de cera micro-

pulverizada e prensados a 30 t/cm2 (Nardy et al., 1997).

2.1.3. Análise por ativação com nêutrons térmicos e epitérmicos

A análise por ativação com nêutrons térmicos e epitérmicos, seguida de

espectrometria gama de alta resolução utilizando detectores de germânio hiperpuro,

foi empregada para a determinação de terras raras (La, Ce, Nd, Sm, Eu, Tb, Yb e

Lu) e dos elementos traço U, Th, Ba, Rb, Ta, Hf, Cs, Co e Sc, seguindo a

metodologia descrita em Marques (1983, 2001), Marques et al. (1989), Figueiredo &

Marques (1989), e Rocha-Júnior (2006).

Page 27: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

26

2.2. Análises isotópicas de Sr-Nd-Pb

2.2.1. Seleção de amostras

Foram selecionadas 21 amostras para análises de composições isotópicas de

87Sr/86Sr, 143Nd/144Nd, 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb. Em apenas 5 dessas

amostras foram feitas determinações da concentração de Pb por diluição isotópica.

As amostras selecionadas para análises isotópicas foram restritas a rochas toleíticas

com SiO2 < 53%, MgO > 4% e Rb/Ba < 0,10.

As análises isotópicas de 87Sr/86Sr e 143Nd/144Nd foram realizadas no CPGeo

por técnicos do laboratório, logo, a descrição metodológica detalhada desses dois

sistemas isotópicos não será tratada nesta tese. O procedimento metodológico

efetuado para as medidas das razões isotópicas de 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e

208Pb/204Pb encontra-se a seguir.

Foram selecionadas para as análises isotópicas amostras representativas de

basaltos pertencentes aos magmas-tipo Pitanga (14), Paranapanema (06) e Urubici

(01) no norte da PMP

2.2.2. Preparação de amostras

O procedimento para preparação de amostras de rochas basálticas para

análises isotópicas de Pb foi realizado com muito cuidado, a fim de se evitar

contaminação.

Inicialmente, os fragmentos de amostras de rochas frescas (sem alteração

e/ou parte serrada) são triturados em frações menores, diâmetro máximo de 0,5 cm.

A seguir os fragmentos são lavados com água e álcool técnico, em peneira de aço

inox de 80 mesh (0,177 mm de diâmetro), para eliminação de grãos finos produzidos

Page 28: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

27

no processo de britagem, e a secagem é feita em estufa sob baixa temperatura

(aproximadamente 65°C) por cerca de 1 hora.

Em seguida, deve-se efetuar o procedimento de lavagem desses fragmentos

(Marques et al., 2003), como descrito a seguir:

1) Coloca-se cerca de 30 g de amostra num recipiente de teflon, previamente

descontaminado e enxaguado com água MilliQ (água deionizada a 18 MΩ.cm) e

HNO3 0,1N. A amostra é lavada por três vezes com água MilliQ para remoção da

poeira. A água MilliQ é usada por possuir teores de Pb inferiores a 1 pg/mL

(Babinski, 1993);

2) Em seguida, adiciona-se HNO3 0,1N, de modo a cobrir totalmente a amostra,

deixando-se por cerca de 15 minutos em ultra-som. Repete-se este procedimento

mais duas vezes;

3) Após a última lavagem com HNO3 0,1N, adiciona-se água MilliQ deixando o

béquer por cerca de 15 minutos em ultra-som;

4) A seguir, coloca-se a amostra sob chapa aquecedora (em clean-box) a cerca de

100°C até a secura;

5) Finalmente as amostras são pulverizadas num moinho de bolas de carbeto de

tungstênio.

2.2.3. Dissolução das amostras

O procedimento empregado para dissolução das amostras e separação do Pb

é similar àquele reportado por Marques et al. (1999, 2003) e Babinski et al. (1999).

O procedimento para ataque químico de rochas básicas é descrito a seguir:

Page 29: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

28

1) Cerca de 200 mg de amostra foram pesadas em um béquer de teflon savillex de

15 mL, previamente descontaminado com HNO3 e HCl ultrapuros;

2) Adicionam-se 6 mL de HF concentrado e 2 mL de HNO3 7N. O béquer é fechado

e levado à chapa aquecedora a ~100°C por 3 dias para que ocorra a dissolução;

3) Ao final da dissolução, o béquer é aberto e aquecido até a secura, na chapa

aquecedora a cerca de 100°C;

4) Adicionam-se 10 mL de HCl 6N para dissolução do precipitado, deixando-se a

solução em aquecimento por 24 horas sobre a chapa aquecedora a ~100°C (béquer

fechado);

5) Ao final da dissolução, separam-se aproximadamente 5 mL da solução, para

análise da composição isotópica de Sr e Nd, com transferência para um béquer

savillex de 15 mL (descontaminado). Em seguida, transfere-se para um béquer

savillex de 7 mL (pré-limpo) cerca de 15% da solução restante para análise de Pb

por diluição isotópica (DI), o que resta no savillex de 15 mL é destinado para medida

da composição isotópica (CI) de Pb;

6) Adicionam-se cerca de 20 μL de traçador (spike) de 208Pb nas amostras

separadas para DI. Como foi empregado o traçador de 208Pb foi necessário trabalhar

na forma de duas alíquotas após a digestão química. Uma utilizada para a

determinação da CI do Pb, e a outra para a determinação da concentração deste

elemento químico por DI;

7) As amostras contidas no savillex de 15 mL para CI são colocadas para aquecer

sobre chapa aquecedora (~100°C) até a secura;

8) Ao final, adicionam-se ao resíduo aproximadamente 2 mL de HBr 0,6N.

Page 30: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

29

2.2.4. Extração de Pb

A extração de Pb é feita em mini-colunas de polietileno, usando a técnica de

troca iônica, com resina aniônica AG-1X8, 200-400 mesh, seguindo o método

rotineiramente empregado pelo CPGeo para separação deste elemento.

O procedimento para extração de Pb utilizando coluna cromatográfica de troca iônica

é descrito a seguir:

1) O procedimento tem início com a lavagem da mini-coluna com água MilliQ, após a

coluna ter ficado submersa em HNO3 50%, enquanto não estava em uso;

2) Adicionam-se cerca de 35 μL de resina na mini-coluna de polietileno;

3) As mini-colunas de polietileno, com 35 μL de resina, são lavadas com 2 mL de

HCl 6N e 0,3 mL de água MilliQ;

4) A seguir, a resina é condicionada com 0,3 mL de HBr 0,6N;

5) Adiciona-se então a amostra dissolvida em 2 mL de HBr 0,6N na mini-coluna;

6) A resina é lavada com 0,3 mL de HBr 0,6N por três vezes consecutivas para

remoção de elementos interferentes; o Pb sob estas condições é retido na resina;

7) O Pb é eluído com 1,0 mL de HCl 6N;

8) Esta solução é evaporada e submetida a uma segunda purificação de Pb,

seguindo o mesmo procedimento descrito acima, com a adição de 2 mL de HBr 0,6N

ao resíduo;

9) Às soluções finais são adicionados cerca de 5 μL de H3PO4 0,25N e evaporadas à

secura.

Page 31: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

30

2.2.5. Medidas isotópicas

Para análise espectrométrica, o concentrado de Pb é depositado em

filamentos de rênio, de arranjo geométrico simples, previamente degaseificados.

Para a deposição adicionam-se ao concentrado de Pb sílica-gel e H3PO4 0,25N.

Suas composições isotópicas são obtidas com detectores do tipo “Faraday”, pela

técnica de multi-coleção simultânea. As concentrações e composições isotópicas de

Pb foram medidas no espectrômetro de massa VG354.

A correção de fracionamento de massa foi de 0,11 %/u.m.a., 0,11 %/u.m.a. e

0,07%/u.m.a. para 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb, respectivamente. Os

brancos analíticos registrados durante as análises foram inferiores a 100 pg, os

quais são desprezíveis em comparação às concentrações de Pb presentes nos

basaltos investigados.

Além disso, é importante mencionar que as composições isotópicas de Sr

foram normalizadas a 86Sr/88Sr = 0,1194 e análises duplicatas de 87Sr/86Sr para o

padrão NBS987 produziram um valor médio de 0,71028 ± 0,00006 (2σ). Os brancos

analíticos foram menores do que 6,4 ng, os quais são desprezíveis em comparação

às concentrações de Sr nos basaltos investigados.

As composições isotópicas de Nd foram normalizadas a 146Nd/144Nd =

0,72190. As médias de 143Nd/144Nd medidos nos padrões La Jolla e BCR-1 foram de

0,511847 ± 0,00005 (2σ) e 0,512662 ± 0,00005 (2σ), respectivamente. Os brancos

analíticos foram inferiores a 0,03 ng, os quais são desprezíveis em comparação às

concentrações de Nd nos basaltos investigados.

Page 32: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

31

2.3. Análises isotópicas de Ósmio e concentração dos HSE

2.3.1. Desenvolvimento das análises isotópicas do sistema Re-Os

Os aspectos analíticos do sistema isotópico Re-Os têm sido o principal

obstáculo para sua aplicação. Isto é particularmente importante em vista das

concentrações extremamente baixas desses elementos na maioria das rochas

crustais (Shirey & Walker, 1998).

As técnicas de espectrometria de massa para o sistema Re-Os têm evoluído

esporadicamente nos últimos 25 anos, sendo que inicialmente as medidas eram

executadas por espectrometria de massa via bombardeamento de elétrons. Técnicas

subseqüentes incluem a espectrometria de massa por ionização secundária (SIMS),

espectrometria de massa por ionização ressonante (RIMS) e espectrometria de

massa com plasma acoplado indutivamente (ICP-MS). Todas essas técnicas

possuem baixa sensibilidade e precisão da ordem de 1-2% (2σ) para medidas de

187Os/188Os.

Em 1991, o desenvolvimento da técnica de espectrometria de massa por

ionização termal negativa (N-TIMS) de alta precisão (Creaser et al., 1991; Völkening

et al., 1991) forneceu a precisão analítica necessária (melhor que ± 0,1%, 2σ) para

explorar o sistema completamente. Neste método, sais de Re e Os são depositados

em filamentos de Pt junto com um emissor de elétrons, tais como Ba(NO3)2. Eles são

ionizados como as espécies moleculares −3OsO e −

4ReO , com eficiência de ionização

tão alta quanto 10-20% em alguns casos. Creaser et al. (1991) demonstraram que

N-TIMS poderia determinar a razão 187Os/188Os com uma precisão melhor do que ±

1% para 4 ng de Os. A precisão atingida usando SIMS variava de 3-10%, enquanto

que usando RIMS e ICPMS era de ± 10%.

Page 33: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

32

Nos trabalhos iniciais, os procedimentos analíticos usados para separar Re e

Os de amostras geológicas envolviam grandes quantidades de amostras, bem como

de reagentes, provocando aumento do branco analítico e decréscimo dos níveis de

precisão dos dados.

Shirey & Walker (1995) desenvolveram o método de digestão de amostras

usando o tubo Carius, o qual pode ser aplicado na análise de 0,1 g a 5 g de amostra.

Este método envolve digestão das amostras em altas temperaturas de oxidação num

tubo de vidro Pyrex® usando água régia. Esta técnica é capaz de dissolver os

minerais do grupo de elementos da platina (PGE – platinum-group element), metais

e sulfetos, como também possibilita reações com os silicatos, liberando a maior

parte do Re e Os de uma matriz silicática. Uma vantagem adicional desse

procedimento é que ele conduz Re e Os à oxidação (para suas valências mais

altas), promovendo, dessa forma, o equilíbrio químico completo desses elementos

na amostra e nos isótopos enriquecidos do traçador. Ósmio é subseqüentemente

separado via micro-destilação (ponto de fusão para 4OsO é 105°C) ou extração por

solvente, já que 4OsO é facilmente extraído de uma fase aquosa por solventes não-

polares, tais como, clorofórmio, tetracloreto de carbono ( 4CCl ) ou bromo líquido

(Shirey & Walker, 1995; Cohen & Waters, 1996). Rênio é separado via cromatografia

por troca aniônica ou extração de solventes. Esses procedimentos reduziram

significativamente o branco analítico, uma vez que se usam menores quantidades de

reagentes e simplifica os procedimentos de manuseio e manipulação.

Page 34: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

33

2.3.2. Seleção de amostras

Foram selecionadas 11 amostras representativas de basaltos com alto-Ti

(ATi) e baixo-Ti (BTi) da Província Magmática do Paraná, que possuem pouca ou

nenhuma evidência de contaminação crustal, visando melhorar o entendimento

acerca da gênese dessas rochas. Os basaltos BTi, pertencentes ao magma-tipo

Esmeralda (com 87Sr/86Sri < 0,7058), foram selecionados por se tratarem do grupo

de rochas da PMP com caráter mais primitivo em termos do conteúdo de MgO, e

também por possuir composições isotópicas de Nd (143Nd/144Nd) mais elevadas que

os demais litotipos.

Em síntese, foram selecionadas 6 amostras pertencentes ao magma-tipo

Esmeralda (B-208, B-418, B-448, B-509, B-3006 e B-3064; Marques et al., 1999), 3

amostras Paranapanema (KS-624, KS-660 e KS-685), 1 amostra Pitanga (KS-700) e

1 amostra Urubici (FL-98; Marques, dados inéditos).

2.3.3. Preparação de amostras

As alíquotas das amostras ATi utilizadas para determinação da composição

isotópica de Os, bem como para as concentrações dos HSE, foram as mesmas

utilizadas nas análises isotópicas dos elementos de natureza litófila Sr–Nd–Pb. Já as

amostras pertencentes ao magma-tipo Esmeralda (BTi) são as mesmas cujos dados

geoquímicos e isotópicos estão publicados na literatura (e.g. Cordani et al., 1988;

Piccirillo et al., 1989; Marques et al., 1999).

Page 35: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

34

2.3.4. Digestão das amostras

O procedimento empregado para separação química dos HSE é similar

àquele reportado por Shirey & Walker (1995) e Cohen & Waters (1996).

Para a digestão das amostras, cerca de 1 a 2 g de amostras em pó, soluções

de traçador, e aproximadamente 4 mL de HCl e 5 mL de HNO3 concentrados são

adicionados em um tubo de Pirex® (Tubo de Carius). Este tubo, no momento da

adição desses materiais, encontra-se resfriado para prevenir perdas de Os.

São utilizados 3 traçadores enriquecidos nos seguintes isótopos: (1) 190Os, (2)

185Re e (3) uma mistura de 191Ir, 99Ru, 194Pt e 105Pd.

Em seguida, o tubo de Pirex® é selado com maçarico (propano e oxigênio).

Uma vez selados, os tubos são agitados e alocados num invólucro cilíndrico de aço

(steel jackets) e aquecidos a 260ºC por um mínimo de 5 dias.

2.3.5. Extração dos HSE

Após a abertura dos tubos Carius, as amostras são transferidas para um tubo

cilíndrico de centrifugação de 15 mL, e centrifugadas durante 10 minutos para

separar a solução ácida (resultante da digestão acima) da fase sólida (fase não

digerida). Esta última é descartada.

O ósmio foi separado da fase aquosa (água régia) através da adição de um

solvente de extração CCl4 (tetracloreto de carbono). A fase aquosa e o CCl4 são

imiscíveis. O ósmio fica retido no composto orgânico, enquanto os outros HSE ficam

na fase aquosa. O ósmio é então extraído do composto orgânico (CCl4) através da

adição de HBr. Após aquecimento por aproximadamente 12 horas (~80°C), essa

solução é centrifugada e o composto orgânico, que se precipita no tubo de

Page 36: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

35

centrifugação, é descartado. A solução (com HBr) é aquecida até a secura numa

chapa aquecedora (~80ºC). Neste processo, o HBr é totalmente evaporado. Em

seguida, o Os é mais uma vez purificado via micro-destilação. Isto normalmente

produz uma solução extremamente purificada em ósmio.

Os outros HSE foram extraídos da fase aquosa através da técnica de

cromatografia de troca iônica, usando 2 mL da resina aniônica AG1X8 Eichrom.

Após os procedimentos de lavagem da resina, Re e Ru foram eluídos na passagem

de 10 mL de HNO3 6N pela resina, enquanto Irídio e Pt foram coletados na

percolação de 15 mL de HNO3 concentrado na coluna. Por fim, Pd foi coletado em

15 mL de HCl concentrado.

2.3.6. Medidas isotópicas

Para análise espectrométrica, o concentrado de Os foi depositado em

filamentos de platina, junto com Ba(OH)2 e então aquecido a ~ 830ºC.

As medidas isotópicas dos HSE foram efetuadas usando dois tipos de

espectrômetros de massa. As concentrações e as composições isotópicas de ósmio

foram medidas no espectrômetro de massa do tipo Thermo Electron Triton ou do tipo

NBS-style, ambos no Laboratório de Geoquímica Isotópica da University of Maryland

at College Park. Análises duplicatas de uma solução padrão de Os produziram uma

precisão de ± 0,1% (2σ) para as razões 187Os/188Os. Os brancos analíticos foram

inferiores a 1,6 pg, os quais são desprezíveis em comparação às concentrações de

ósmio presentes nos basaltos investigados.

Os outros HSE foram analisados num espectrômetro de massa com plasma

acoplado indutivamente (ICP-MS) do tipo Nu Plasma multi-collector, no laboratório

Page 37: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 2 – Metodologia Analítica

36

da mesma universidade. Cada HSE foi analisado em um modo estático, usando 2 ou

3 multiplicadores eletrônicos. Análises efetuadas em alíquotas diluídas dos

meteoritos ferrosos (South Byron, Dronino) foram rodadas em cada seção analítica

como padrão secundário, e os resultados obtidos estão de acordo com uma

correção de fracionamento em torno de 2%. Medidas efetuadas no padrão UB-N

produziram uma precisão em torno de 3 e 7%. Os brancos analíticos para os

elementos investigados foram de: 0,01 pg de Ir; 28 pg de Ru; 7 pg de Pt, 29 pg de

Pd e 0,3 pg Re. Todas as concentrações foram corrigidas pelo branco.

Page 38: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 3 Caracterização Geoquímica

A Província Magmática do Paraná, principalmente sua região sul, tem sido o

foco de diversos estudos geológicos e geoquímicos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi,

1988; Peate et al., 1992; Peate, 1997; Marques et al., 1999). Essas investigações

permitiram reconhecer fortes diferenças químicas entre os derrames basálticos,

dividindo-os em dois grandes conjuntos: a subprovíncia sul, caracterizada por

apresentar basaltos toleíticos com baixo titânio (BTi), com TiO2 ≤ 2% e

empobrecidos em elementos menores e traços incompatíveis, tais como P, Ba, Sr,

Zr, Hf, Ta, Y e terras raras leves; e a subprovíncia norte, cujos basaltos possuem

altas concentrações de titânio (ATi; TiO2 > 2%) e de elementos incompatíveis

(Bellieni et al., 1984; Piccirillo & Melfi, 1988; Marques et al., 1989).

Peate et al. (1992) baseando-se nas concentrações de elementos maiores,

menores e traços, dando maior relevância aos elementos com alta densidade de

carga, tais como Ti, Zr e Y, que são geralmente imóveis durante alteração

hidrotermal e processos de intemperismo, dividiram os magmas basálticos em 6

grupos: ATi (Pitanga, Paranapanema e Urubici) e BTi (Esmeralda, Ribeira e

Gramado). Para essa divisão foram utilizadas razões de elementos incompatíveis,

pois minimizam o efeito da mudança composicional causado por variados graus de

cristalização fracionada.

Mais recentemente, Rocha-Júnior (2006) verificou algumas inconsistências

nessa divisão, principalmente com relação às rochas ATi (TiO2 > 2%), propondo que

a divisão em magmas-tipo levasse em conta também as razões de elementos

Page 39: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

38

incompatíveis, em particular dos elementos terras raras, tais como (La/Lu)N, (La/Yb)N

e (Sm/Yb)N. Dessa forma, esse trabalho se restringirá ao estudo de rochas

vulcânicas, excluindo rochas intrusivas, já que uma parte delas possui evidências de

fracionamento in situ.

Na Tabela 3.1 encontram-se as análises químicas e isotópicas de amostras

representativas analisadas no presente trabalho. Os dados obtidos serão discutidos

e interpretados tomando-se como base as propostas de Peate et al. (1992) e Rocha-

Júnior (2006) para os magmas tipo da PMP, conforme Tabela 3.2.

3.1. Classificação e nomenclatura

A nomenclatura das rochas selecionadas foi obtida por meio de suas

composições químicas, seguindo o esquema proposto por De La Roche et al.

(1980), modificado para o campo dos basaltos por Bellieni et al. (1981), o qual se

encontra representado na Figura 3.1. Vale salientar que os óxidos de elementos

maiores e menores foram normalizados a 100%, eliminando-se o valor de perda ao

fogo (LOI). Ressalta-se ainda que as amostras que apresentaram LOI > 2% não

foram selecionadas para análises de elementos fortemente incompatíveis e da

composição isotópica (Sr, Nd, Pb e Os), devido à possibilidade de alteração, que

poderia mascarar as características geoquímicas originais.

Page 40: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

39

Tabela 3.1 – Análises químicas de elementos maiores (%), menores (%) e traços (µg/g) de amostras representativas dos basaltos toleíticos investigados neste trabalho

Grupos Paranapanema Pitanga Urubici

Amostras KS-624 KS-705 KS-755 KS-684 KS-701 KS-778 KS-614 KS-618 LM-4 Latitude 21,276 20,303 17,940 20,224 18,878 18,760 20,245 20,112 20,115

Longitude 47,753 49,241 51,660 48,153 48,329 50,930 47,798 47,467 53,46 SiO2 49,26 50,33 51,04 49,39 50,14 49,7 50,81 49,53 49,24 TiO2 2,98 2,63 2,87 3,58 3,52 3,75 3,86 4,07 3,98 Al2O3 13,03 13,09 13,19 13,19 13,19 12,7 13,25 13,83 13,49

Fe2O3(t) 15,78 15,36 15,13 14,40 14,77 16,2 14,11 13,82 13,35 MnO 0,22 0,22 0,2 0,22 0,19 0,23 0,23 0,12 0,17 MgO 5,46 4,73 4,77 4,81 4,81 4,44 4,10 4,63 4,39 CaO 9,40 9,38 8,96 9,20 9,17 8,49 7,78 8,09 7,97 Na2O 2,56 2,51 2,45 2,32 2,42 2,48 3,01 2,85 2,93 K2O 0,88 0,67 1,23 0,86 0,99 1,45 1,54 2,00 1,98 P2O5 0,28 0,37 0,30 0,42 0,41 0,53 0,64 0,67 0,66 LOI 0,14 1,10 0,78 1,33 0,83 0,95 0,74 0,72 1,94

Soma 99,99 100,39 100,92 99,72 100,44 100,92 100,07 100,33 100,10

La(1) 24,5 25,4 27,7 32,2 31,1 33,8 44,5 44,6 44,8 Ce(1) 54 58 62 64 76 74 984 1024 94 Nd(1) 29 30 33 40 39 41 51 531 51 Sm(1) 6,9 6,6 7,4 8,7 8,2 8,5 12,1 10,6 10,4 Eu(1) 2,3 2,2 2,2 2,7 2,8 2,8 3,7 3,5 3,5 Tb(1) 1,2 1,4 1,3 1,3 1,2 1,4 1,9 1,5 1,4 Yb(1) 3,3 3,6 3,4 3,7 2,5 3,3 3,3 2,9 2,9 Lu(1) 0,48 0,48 0,44 0,49 0,38 0,48 0,435 0,372 0,405 Ba(1) 343 386 396 450 393 447 599 692 641 Rb(1) 19 26 28 21 12 33 64 39 22 Sr(2) 354 447 368 472 467 362 672 681 677 Zr(2) 177 190 214 257 237 220 285 307 297 Y(2) 30 40 37 51 34 33 37 40 39

Nb(2) 16 18 13 26,4 21,3 24 26,0 28,0 27 Ta(1) 1,2 1,2 1,2 1,4 1,4 1,9 2,1 2,0 2,0 Th(1) 2,6 3,4 3,2 2,7 2,8 3,8 4,9 5,3 4,7 U(1) 0,54 0,60 0,63 0,56 0,65 0,87 1,41 1,35 0,99 Hf(1) 4,7 4,1 6,5 5,4 5,5 6,2 6,9 7,1 6,8 Cs(1) 0,28 0,47 0,15 0,50 0,13 0,36 1,19 1,05 0,70 Sc(1) 36 39 50 33 37 39 27 26 27 Co(1) 44 44 56 50 22 45 39 40 34 Cr(2) 157 158 93 120 106 63 138 91 65 Ni(2) 65 51 44 96 55 27 45 67 77

87Sr/87Srm 0,706018 0,706628 0,705931 0,705790 0,705834 0,705956 - - 0,706635

143Nd/144Ndm 0,512382 0,512360 0,512361 0,512361 0,512357 0,512369 - - 0,512408 206Pb/204Pbm 17,889 18,135 17,913 17,880 17,878 17,920 - - 18,319 207Pb/204Pbm 15,546 15,562 15,522 15,544 15,516 15,527 - - 15,586 208Pb/204Pbm 38,369 38,446 38,300 38,387 38,304 38,341 - - 38,567 (1) Análise por ativação neutrônica. (2) Fluorescência de raios – X.

Tabela 3.2 – Composição média dos basaltos ATi e BTi da PMP.

Grupos Alto TiO2 Baixo TiO2 Magmas-tipo Urubici Pitanga Paranapanema Ribeira Esmeralda Gramado Subprovíncia Sul Norte Norte Norte Sul Sul

TiO2 (%) 4,08 ± 0,03 3,6 ± 0,3 2,4 ± 0,4 1,5 - 2,3 1,1 - 2,3 0,7 - 2,0 P2O5 (%) 0,67 ± 0,01 0,47 ± 0,10 0,29 ± 0,06 0,15 - 0,50 0,1 - 0,35 0,05 - 0,40

Fe2O3 (t) (%) 13,8 ± 0,1 15,1 ± 0,8 15,1 ± 0,7 12 - 16 12 - 17 9 - 16 Sr (µg/g) 670 ± 15 471 ± 54 393 ± 54 200 - 375 < 250 140 - 400 Zr (µg/g) 300 ± 6 246 ± 42 183 ± 20 100 - 200 65 - 210 65 - 275

Ti/Y 634 ± 29 587 ± 108 455 ± 71 > 300 < 330 < 330 Ti/Zr 82 ± 2 91 ± 17 84 ± 9 > 65 > 60 < 70

(La/Lu)N 11,7 ± 0,7 7.9 ± 1,0 5,4 ± 0,5 - - - (Tb/Lu)N 2,6 ± 0,2 2,2 ± 0,2 1,8 ± 0,1 - - -

Page 41: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

40

Conforme esse esquema, as rochas investigadas (Figura 3.1) são

quimicamente representadas por basaltos toleíticos, andesi-basaltos toleíticos e lati-

basaltos, enquanto as mais evoluídas correspondem a lati-andesitos, de forma

similar ao constatado em estudos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Marques et

al., 1989; Rocha-Júnior, 2006). Além disso, nota-se que praticamente todas as

amostras do tipo Urubici encontradas neste trabalho são representadas por lati-

basaltos.

O diagrama TAS, de sílica versus álcalis [SiO2 versus. (Na2O + K2O)],

proposto pela Subcomissão de Sistemática de Rochas Ígneas (Zanettin, 1984 e Le

Bas et al., 1986), foi utilizado para a classificação das amostras (Figura 3.2) e

identificação da série magmática. Nota-se que todas as amostras situam-se no

campo das rochas sub-alcalinas (basaltos toleíticos e andesi-basaltos toleíticos),

com exceção das amostras Urubici, as quais possuem natureza levemente alcalina

(exceto a amostra LM-4; Figura 3.2). Vale destacar que todas as amostras

Paranapanema são basaltos toleíticos, de acordo com o diagrama TAS (Figura 3.2).

No diagrama AFM (Irvine & Baragar, 1971), as amostras investigadas

mostram um forte enriquecimento de Fe2O3(t) em relação aos álcalis e ao magnésio,

situando-se no campo das séries toleíticas (Figura 3.3)

Page 42: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

41

Figura 3.1: Nomenclatura das rochas investigadas de acordo com o esquema proposto por De La Roche et al. (1980). R1 = 4*Si - 11*(Na + K) - 2*(Fe + Ti); R2 = Al + 2*Mg + 6*Ca.

Page 43: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

42

Figura 3.2: Diagrama TAS de classificação de rochas (Le Bas et al., 1986) para os basaltos investigados nesse estudo. A linha pontilhada preta separa o campo dos basaltos toleíticos dos alcalinos, conforme proposto por Zanettin (1984). A linha pontilhada vermelha separa os campos das rochas alcalinas e toleíticas (Irvine & Baragar, 1971).

Page 44: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

43

Figura 3.3: Diagrama AFM de discriminação de séries toleítica e cálcio-alcalina dos basaltos investigados nesse estudo. Linha divisória segundo Irvine & Baragar (1971).

Page 45: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

44

3.2. Geoquímica de elementos maiores e menores

As amostras investigadas neste trabalho são todas basálticas com

composição de SiO2 variando de 47,7% a 53,9%, MgO de 3,2% a 6,2% e Mg# de 30

a 47 (Figura 3.4). Os valores de Mg# desses basaltos são muito menores do que

aqueles (Mg# =70) estimados para magmas basálticos derivados do manto primitivo

(Basaltic Volcanism Study Project, 1981). Estas características (Mg# < 65) indicam

que todos os magmas que originaram as rochas investigadas neste trabalho

sofreram significativos processos de cristalização fracionada.

As análises químicas mostram que a grande maioria das rochas possui

conteúdo de TiO2 acima de 3%, correspondendo a aproximadamente 74% das

rochas analisadas. Foram encontradas poucas rochas com conteúdos de TiO2 entre

1,9% e 3,0%, perfazendo aproximadamente 26% das ocorrências. As rochas com

alto conteúdo de TiO2 (TiO2 ≥ 3%) podem ainda serem subdivididas, quimicamente,

em Pitanga e Urubici (Tabela 3.2). Já as rochas com TiO2 entre 1,9% e 3,0%

pertencem ao magma-tipo Paranapanema.

Quando o conteúdo de MgO é utilizado como índice de fracionamento

magmático, claras tendências podem ser observadas no comportamento dos outros

óxidos de elementos maiores e menores. De modo similar ao observado em estudos

anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988, Marques, 1988, Rocha-Júnior, 2006), nota-se

que à medida que o grau de evolução aumenta, isto é, com a diminuição de MgO, há

um aumento nas concentrações de SiO2, Na2O, K2O e P2O5, e uma diminuição no

conteúdo de CaO e Al2O3 (Figura 3.4). Os óxidos de TiO2 e de Fe2O3(t) se

encontram um tanto dispersos, entretanto, pode-se observar um aumento em seus

conteúdos quando a concentração de MgO varia entre 6,5% e 4,8%, seguido de

Page 46: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

45

decréscimo (inflexão) com o aumento do grau de diferenciação (MgO ≤ 4,7%).

Dessa forma, as variações composicionais entre essas amostras parecem estar

relacionadas à cristalização fracionada de fases incluindo plagioclásio, clinopiroxênio

e titanomagnetita.

Nota-se que as amostras Paranapanema (1,9% ≤ TiO2 < 3,0%) apresentam,

para conteúdos similares de MgO, maiores concentrações de SiO2, Fe2O3(t), e

menores abundâncias de P2O5 do que as rochas Pitanga. Cabe salientar que as

rochas Paranapanema possuem o maior conteúdo de MgO das rochas investigadas,

variando entre 4,5% e 6,2%.

Elementos menores com comportamento levemente incompatível, tais como

TiO2 e P2O5, mostram uma correlação positiva (Figura 3.5), sendo que as rochas

pertencentes ao magma-tipo Paranapanema (mais magnesianas) têm,

distintamente, baixas concentrações de TiO2 e P2O5 (Tabelas 3.1 e 3.2). Além disso,

para o mesmo conteúdo de MgO, a concentração de Al2O3 nessas rochas é mais

baixa do que aquela das rochas pertencentes ao magma-tipo Pitanga. Essa

diferença na concentração de Al2O3, para o mesmo grau de evolução,

provavelmente reflete diferenças nas condições de fusão (Hirose & Kushiro, 1993).

O comportamento do Fe corrobora essa possibilidade, pois mesmo não sendo

afetado pelo grau de fusão parcial, esse elemento é significativamente sensível às

pressões nas quais a fusão ocorre, sendo que sua concentração é maior nos

magmas gerados em condição de maior pressão (Hirose & Kushiro, 1993). Por outro

lado, as diferenças no conteúdo de Fe podem sugerir que a fusão ocorreu em

regiões do manto já empobrecidas nesse elemento devido a processos de fusão

pretéritos.

Page 47: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

46

Figura 3.4: Diagramas de variação (a) SiO2, (b) CaO, (c) TiO2, (d) Na2O, (e) Al2O3, (f) K2O, (g) Fe2O3(t) e (h) P2O5, em função de MgO, das amostras investigadas neste trabalho.

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

47

Figura 3.5: Diagrama de variação de P2O5 em função de TiO2 das amostras investigadas neste trabalho.

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

48

3.3. Geoquímica de elementos traço

Quando o manto da Terra sofre fusão, os elementos traço exibem uma

preferência, ora para a fase líquida (magma), ora para a fase sólida (mineral). Os

elementos traço, cuja preferência é a fase mineral, são chamados de compatíveis,

enquanto aqueles que se concentram na fase líquida, são os incompatíveis

(Rollinson, 1993).

3.3.1. Elementos compatíveis

Em linhas gerais, verifica-se que conforme o conteúdo de magnésio diminui,

ou o conteúdo de Zr aumenta, os elementos traço compatíveis (Ni, Sc, Cr e Co)

decrescem de forma acentuada (Figura 3.6 e 3.7). Estas figuras demonstram o efeito

progressivo de cristalização fracionada na composição das rochas.

Os conteúdos de Ni e Cr dos litotipos investigados são ligeiramente similares

e exibem correlações fortemente positivas com MgO (Figura 3.6). As concentrações

de Ni variam de ~ 100 μg/g (rochas mais primitivas) a ~ 6 μg/g (composições mais

evoluídas), enquanto as de Cr situam-se entre 246 μg/g e 41 μg/g.

A Figura 3.7 assinala algumas diferenças nas rochas investigadas, ilustrando

que os magmas-tipo Urubici, Pitanga e Paranapanema podem refletir diferenças nas

profundidades e/ou grau de fusão parcial, conforme as setas traçadas nos

diagramas de Zr (μg/g) contra Cr (μg/g) e Ni (μg/g), em escala logarítmica. As

variações de elementos incompatíveis serão discutidas no próximo item, entretanto,

como o Zr exibe uma ampla variação, ele foi usado para testar diferenças nas

profundidades e/ou grau de fusão parcial, conforme Figura 3.7.

Page 50: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

49

Figura 3.6: Diagrama de variação do conteúdo de (a) Ni, (b) Sc, (c) Cr e (d) Co em função de MgO. Setas representam os efeitos de cristalização fracionada Unidades: Oliv = olivina, Cpx = clinopiroxênio.

Page 51: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

50

Figura 3.7: Diagramas de variação do conteúdo de (a) Cr e (b) Ni em função de Zr. Este gráfico ilustra que os magmas-tipo Urubici, Pitanga e Paranapanema podem refletir diferenças no grau de fusão parcial, conforme as linhas traçadas nos diagramas. CF = Cristalização Fracionada; F = Fusão parcial. A seta vermelha, verde e azul corresponde ao comportamento dos litotipos Urubici, Pitanga e Paranapanema, respectivamente.

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

51

3.3.2. Elementos incompatíveis

As concentrações de Zr e de elementos terras raras (ETR; retratadas pelo La)

exibem uma ampla variação, logo, podem ser usados como um índice de

diferenciação (Figuras 3.8 e 3.9). Esses diagramas de variação de elementos traço

fortemente incompatíveis, como terras raras leves, Ba, U, Th, Ta e Hf, mostram

enriquecimentos significativos à medida que o grau de evolução aumenta (Figuras

3.8 e 3.9). Nota-se nos diagramas de elementos traço fortemente incompatíveis

(Figuras 3.8 e 3.9) que, para cada magma-tipo, o comportamento dos elementos

traço também é compatível com processos de evolução por cristalização fracionada,

envolvendo principalmente plagioclásio, piroxênio e opacos (titanomagnetita).

O magma-tipo Paranapanema é caracterizado por possuir abundâncias

relativamente baixas de elementos litófilos de grande íon (LILE, do inglês Large Ion

Lithophile Elements), de elementos com alta densidade de carga (HFSE, do inglês

High Field Strength Elements) e de elementos terras raras leves (ETRL), os quais

mostram pouca variação (Figuras 3.8 e 3.9).

Em contraste, o magma-tipo Pitanga exibe uma ampla variação de

concentrações de elementos fortemente incompatíveis que aumentam

sistematicamente com o aumento de Zr, ou seja, com o decréscimo de MgO. Devido

à similaridade das características geoquímicas, Zr e Hf possuem correlação muito

boa (não mostrado).

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

52

Figura 3.8: Diagrama de variação (a) La, (b) Ta, (c) Ce, (d) Ba, (e) U, (f) Rb, (g) Th e (h) Nb (μg/g), em função de Zr, das rochas investigadas neste trabalho.

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

53

Figura 3.9: Diagrama de variação (a) Hf, (b) Sm, (c) Eu, (d) Tb, (e) Yb, (f) Nd, (g) Lu e (h) Cs, em função de Zr, das rochas investigadas neste trabalho.

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Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

54

3.3.3. Padrões de Elementos Terras Raras (ETR)

Todas as amostras analisadas (MgO ≥ 4%) mostram enriquecimentos em

ETR leves em relação às pesadas, com razões (La/Lu)N variando de 6,1 a 10,3 para

as rochas Pitanga (Figura 3.10a) e de 4,5 a 6,5 para as Paranapanema (Figura

3.10b). As rochas Urubici possuem (La/Lu)N variando de 11,0 a 12,4. Esses

enriquecimentos são uma característica típica de basaltos continentais intraplaca.

Nota-se que os padrões de ETR, normalizados em relação aos meteoritos

condríticos, exibem composições de ETRL variando de 50 a 200 vezes a

composição condrítica, enquanto os ETR pesados (ETRP) variam de 10 a 40 vezes.

Em todos os grupos de rochas básicas investigados não há variações muito

importantes em termos de anomalias de európio, nos quais as razões Eu/Eu* variam

de levemente positivas a levemente negativas (Figura 3.10).

Observa-se que os padrões de ETRL dos litotipos investigados são similares

aquelas da composição média de OIB sugerida por Sun & McDonough (1989),

porém, bem diferentes das rochas localizadas na Ilha de Tristão da Cunha (Figura

3.10). Outra característica que deve ser assinalada é que os padrões de ETRL das

rochas investigadas estão dispostos de forma paralela aos padrões dos basaltos

formados em arcos de ilhas (IAB, do inglês Island Arc Basalts).

Page 56: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

55

Figura 3.10: Padrões de elementos terras raras, normalizados em relação aos meteoritos condríticos (Boynton, 1984), dos basaltos investigados neste trabalho com MgO ≥ 4,0%. (a) magma-tipo Pitanga; (b) magma-tipo Paranapanema; (c) magma-tipo Urubici; (d) Comparação entre as médias dos magmas-tipo Pitanga, Paranapanema e Urubici com OIB, N-MORB, IAB, TC. Acrônimos: OIB (do inglês Ocean Island Basalts) e N-MORB (do inglês, Normal Mid-Ocean Ridge Basalts) são de Sun & McDonough (1989). IAB (do inglês, Island Arc Basalts) de Kelemen et al. (2003). TC (Tristão da Cunha) foi baseado no banco de dados da GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

Page 57: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

56

3.3.4. Padrões de abundância de elementos incompatíveis

A maioria dos elementos traço é mostrada na Figura 3.11 como padrões de

abundância de elementos incompatíveis, normalizados em relação ao manto

primordial (McDonough & Sun, 1995). Os padrões destes elementos exibem várias

características importantes. Primeiro, seus padrões mostram enriquecimentos nos

elementos mais incompatíveis relativo aos menos incompatíveis, exibindo um

enriquecimento significativo nos LILE, tais como Ba, K e Rb, e anomalia de Sr

levemente negativa.

Nota-se ainda que os três magmas-tipo exibem padrões enriquecidos de

ETRL (e.g. La e Ce com anomalias levemente positivas), além de um leve

enriquecimento de Th, U, Hf e Zr. Todas as amostras investigadas apresentam

também fortes anomalias negativas de Nb e Ta.

Observa-se ainda que os padrões de abundância de elementos incompatíveis

(Figura 3.11) são diferentes daqueles de basaltos oceânicos do tipo N-MORB e OIB

(Tristão da Cunha), os quais exibem pronunciadas anomalias positivas de Nb e Ta.

É importante assinalar que as rochas investigadas possuem padrões de

abundância de elementos incompatíveis (Figura 3.11) com distribuições ligeiramente

similares àqueles de basaltos formados em arcos de ilhas, principalmente quando

são tomados os elementos Rb, Ba, Th, U, K, ETR, destacando-se a forte anomalia

negativa de Nb-Ta entre tais rochas.

Page 58: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

57

Figura 3.11: Diagramas de elementos incompatíveis normalizados em relação ao manto primordial (Sun & McDonough, 1989) das rochas investigadas neste trabalho com MgO ≥ 4,0%. a) magma-tipo Pitanga; (b) magma-tipo Paranapanema; (c) magma-tipo Urubici; (d) Comparação entre as médias dos magmas-tipo Pitanga, Paranapanema e Urubici com OIB, N-MORB, TC e IAB. Acrônimos: OIB (do inglês Ocean Island Basalts) e N-MORB (do inglês, Normal Mid-Ocean Ridge Basalts) são de Sun & McDonough (1989). IAB (do inglês, Island Arc Basalts) de Kelemen et al. (2003). TC (Tristão da Cunha) foi baseado no banco de dados da GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

Page 59: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

58

Em linhas gerais, as concentrações de elementos traço das rochas

investigadas são similares às reportadas em estudos anteriores (e.g. Piccirillo &

Melfi, 1988; Marques, 1988; Peate, 1997). Entretanto, cabe chamar a atenção para o

fato de que na literatura há um número relativamente pequeno de rochas

Paranapanema e Pitanga contendo análises de ETR e de outros elementos traço

compatíveis e incompatíveis.

3.4. O papel de processos metassomáticos associado à PMP

Como mencionado anteriormente, os basaltos investigados apresentam

algumas características geoquímicas parecidas com as dos IAB, em especial as

anomalias negativas de Nb-Ta, que normalmente não são observadas em basaltos

gerados em manto litosférico subcontinental ou em manto astenosférico. Em função

disso, foi necessário investigar as causas que poderiam ter originado tais

características nas rochas da PMP.

A composição química dos IAB está relacionada a processos de subducção.

No processo de subducção ocorre fusão parcial da cunha do manto (acima de zonas

de subducção) através da adição de água e outros voláteis liberados durante

desidratação da crosta oceânica e dos sedimentos oceânicos (Wilson, 1989).

Inúmeros são os estudos experimentais efetuados com o objetivo de verificar

a “mobilidade” dos elementos químicos durante desidratação dos minerais conforme

ocorre o processo de subducção (e.g. Tatsumi et al., 1986; Tatsumi, 1989; Tatsumi &

Kogiso, 1997). Esses experimentos mostraram que a serpentina da crosta oceânica

ao sofrer subducção libera um fluido aquoso contendo metais alcalinos (Cs, Rb, K),

alcalinos terrosos (Ba, Sr) e ETR (La-Lu). Os metais alcalinos são mais móveis sob

Page 60: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 3 – Caracterização geoquímica

59

essas condições do que os alcalinos terrosos, enquanto os ETR são muito menos

móveis. Entretanto, os ETRL (La-Sm) são ligeiramente mais móveis do que os ETRP

(Tb-Lu).

Deste modo, os fluidos que são expelidos durante os processos de

subducção alteram a composição química da cunha mantélica e, esse fenômeno tem

sido rotineiramente chamado de metassomatismo. Enriquecimentos metassomáticos

podem ser modais, onde mudanças mineralógicas ocorrem, incluindo o crescimento

de novos minerais hidratados; ou crípticos, onde mudanças químicas ocorrem, mas

a mineralogia não é afetada (Dawson, 1984).

Evidências geoquímicas de metassomatismo críptico em geral são notadas

por enriquecimentos de elementos LILE móveis em fluidos (i.e., Cs, Rb, U e Sr) e

ETRL, os quais podem ser resultantes de fusões silicáticas de baixo grau ou

metassomatismo fluido aquoso (McCullough & Gamble, 1991; Pearson et al., 2003).

Algumas evidências do envolvimento de componentes metassomáticos na

gênese das rochas basálticas da PMP incluem: (1) enriquecimentos de ETRL em

relação aos ETRP; (2) enriquecimentos em LILE móveis; (3) forte anomalia negativa

de Nb-Ta. Em linhas gerais, os padrões de elementos incompatíveis exibem

distribuições ligeiramente similares àqueles de basaltos formados em arcos de ilhas,

principalmente quando são tomados os elementos Rb, Ba, Th, U, K, ETR.

É importante salientar que processos metassomáticos podem ocorrer, tanto

em manto litosférico, quanto em sublitosférico, conforme será discutido em mais

detalhe nos próximos capítulos. Entretanto, com as informações obtidas de

elementos maiores, menores e traços não é possível diferenciar entre essas fontes,

visto que ambos podem explicar as características químicas observadas na PMP.

Page 61: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 4 Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

Foram efetuadas 21 análises das razões isotópicas de 87Sr/86Sr, 143Nd/144Nd,

206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb nos basaltos toleíticos (magmas-tipo Pitanga

(n = 14), Paranapanema (n = 06) e Urubici (n = 01)) que ocorrem na região

investigada. As correções de idade foram efetuadas nas razões isotópicas de Sr e

Nd, assumindo uma idade de erupção de 133 Ma, baseadas em idades Ar-Ar

publicadas anteriormente para os basaltos da PMP (e.g. Renne et al., 1992; Turner

et al., 1994; Thiede e Vasconcelos, 2010). Apesar dos magmas-tipo Pitanga e

Paranapanema geralmente apresentarem concentrações de elementos maiores e

traços incompatíveis distintas, suas composições isotópicas são ligeiramente

similares (Tabela 3.1). As rochas Pitanga possuem 87Sr/86Sri variando de 0,70565 a

0,70642 e 143Nd/144Ndi de 0,51218 a 0,51233 (εNd(i) = -5,6 a -2,7) (Figura 4.1),

enquanto as Paranapanema possuem 87Sr/86Sri variando de 0,70552 a 0,70631 e

143Nd/144Ndi de 0,51222 a 0,51227 (εNd(i) = -4,8 a -3,9). A razão 147Sm/144Nd varia de

0,124 a 0,140 para as rochas Pitanga e entre 0,132 e 0,141 para as do tipo

Paranapanema, com razão 87Rb/86Sr variando de 0,065 a 0,276 (Pitanga) e de 0,122

a 0,221 (Paranapanema).

Estas rochas mostram também pouca variação nas composições isotópicas

de Pb (Figuras 4.2 e 4.3), onde a razão 206Pb/204Pb varia de 17,741 a 18,247,

207Pb/204Pb de 15,499 a 15,566 e 208Pb/204Pb de 38,183 a 38,431 nos litotipos

Pitanga. Nas rochas Paranapanema, as composições isotópicas de Pb sobrepõem-

Page 62: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

61

se àquelas do magma-tipo Pitanga, com 206Pb/204Pb variando de 17,887 a 18,135,

207Pb/204Pb de 15,513 a 15,562 e 208Pb/204Pb de 38,260 a 38,446.

Nota-se que as composições isotópicas representadas na Figura 4.4 definem

essencialmente arranjos lineares que são subparalelos à Linha de Referência do

Hemisfério Norte – NHRL (Hart, 1984). Uma possível explicação para este

comportamento é que os dados representem uma isócrona secundária, a qual gera

uma idade aparente de 2,45 Ga no arranjo 206Pb/204Pb versus 207Pb/204Pb (não

mostrado), sugerindo uma fonte do manto Arqueano-Proterozóico para as rochas

básicas da PMP, como também apontado por Hawkesworth et al. (1986) e Marques

et al. (1999). Outra possibilidade é que as tendências observadas são devido a

misturas de diferentes componentes do manto.

As composições isotópicas de Sr, Nd e Pb das rochas investigadas neste

trabalho (Figura 4.1 a 4.4) são muito similares àquelas obtidas em trabalhos

anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Marques et al., 1999; Peate, 1997).

Entretanto, os resultados obtidos definem melhor as variações dessas razões, uma

vez que poucas amostras ATi do norte da PMP foram anteriormente investigadas em

trabalhos da literatura.

Os resultados obtidos mostram que, de uma maneira geral, as razões

isotópicas de Nd mostram pouca variação (Figuras 4.1 e 4.2), indicando uma fonte

praticamente homogênea. Por outro lado, as razões de Sr (variando de 0,70552 a

0,70642) podem ser indicativas de uma fonte mantélica mais heterogênea e/ou leves

processos de contaminação crustal.

A seguir serão discutidas essas possibilidades, utilizando-se, para tanto, a

integração dos dados geoquímicos (elementos altamente incompatíveis) e

Page 63: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

62

isotópicos, mas antes, será importante discutir sobre alguns aspectos teóricos que

serão utilizados para interpretação dos dados, neste e no próximo capítulo.

4.1 Conceituação teórica

4.1.1. Manto Litosférico Subcontinental (SCLM) Heterogêneo

A gênese de algumas CFB (do inglês, Continental Flood Basalts) pode estar

ligada a fontes heterogêneas presentes no manto litosférico. Evidências para tal

incluem assinaturas isotópicas fora do alcance daquelas de fontes de plumas, como

registrado em OIB (Ellam et al., 1992).

Do ponto de vista geoquímico o SCLM (do inglês, Subcontinental Lithospheric

Mantle) é geralmente definido como um domínio que pertence às placas continentais

e está isolado dos processos convectivos que homogeneízam o resto do manto.

Entretanto, como o SCLM é rígido e relativamente frio, algumas condições

específicas são requeridas para que ocorra sua fusão, especialmente quando em

grau elevado, como aqueles requeridos para gerarem os grandes volumes de rocha

observados em CFB e em outras atividades vulcânicas continentais.

De acordo com Gallagher & Hawkesworth (1992), os grandes volumes de

basaltos produzidos em eventos CFB podem ser explicados através de fusões do

manto litosférico continental hidratado, contendo cerca de 0,3% de água e 0,7% de

dióxido de carbono, que pode ter a temperatura do solidus reduzida em cerca de

300°C em relação a um peridotito anidro.

Page 64: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

63

Figura 4.1: 87Sr/86Sri versus 143Nd/144Ndi das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

Page 65: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

64

Figura 4.2: 206Pb/204Pbm versus 143Nd/144Ndi das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

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Figura 4.3: 206Pb/204Pbm versus 87Sr/86Sri das rochas investigadas neste trabalho. Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

66

Figura 4.4: 206Pb/204Pbm versus 207Pb/204Pbm das rochas investigadas neste trabalho.. NHRL corresponde a Linha de Referência do Hemisfério Norte (do inglês, Northern Hemisphere Reference Line). Os campos de reservatórios do manto são de Zindler & Hart (1986), Hart et al. (1992) e Hauri et al. (1994). Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999). MORB do Atlântico foi retirado do banco de dados PET-DB (http://www.petdb.org). Rochas da Cadeia Walvis (sítio 525A) e Tristão da Cunha foram retirados do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

Page 68: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

67

Há praticamente consenso que o SCLM seja enriquecido em elementos

incompatíveis (e.g. alto Rb/Sr e baixo Sm/Nd), em comparação ao resto do manto

superior. Em função disso, esse reservatório desenvolveu assinaturas isotópicas

distintas com o passar do tempo (e.g. McDonough, 1990; Menzies et al., 1987). De

acordo com alguns autores (Hawkesworth et al., 1993; Roden & Murthy, 1985), esse

enriquecimento em elementos incompatíveis originou-se através de fluidos

metassomáticos, os quais são produzidos por baixos graus de fusão do manto,

podendo migrar através de grandes áreas e se infiltrar no manto litosférico.

No caso específico da gênese dos derrames basálticos mesozóicos do

Gondwana, tais como Karoo, Ferrar e Paraná, os estudos geoquímicos e isotópicos

indicam envolvimento de fontes com assinatura similar à do SCLM heterogêneo, ou

seja, apresentando baixas razões 143Nd/144Nd, altos valores de 87Sr/86Sr (> 0,7045) e

altas razões 207Pb/204Pb em relação ao 206Pb/204Pb (Cox, 1992; Erlank et al., 1984;

Hawkesworth et al., 1992; Molzahn et al., 1996; Piccirillo & Melfi, 1988). Neste caso,

o magmatismo está fortemente associado à fragmentação desse supercontinente

durante o Jurássico e Cretáceo (Figura 4.5). De acordo com alguns autores (e.g.

Cox, 1978), essas províncias estão localizadas em uma faixa paralela à margem

pacífica, ao longo da qual ocorreram subducções desde pelo menos o Devoniano

até a ruptura desse supercontinente. Conseqüentemente, a geração de magmas

nestas províncias pode envolver fontes do manto modificadas por subducção, o que

poderia explicar algumas características distintas de elementos traço nos derrames

basálticos (Duncan, 1987).

No que se refere às províncias do Paraná e Karoo, é importante destacar que

as razões isotópicas e elementos traço incompatíveis fornecem evidências para uma

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

68

história complexa de heterogeneidades mantélicas em escala regional. Em ambas,

observa-se uma fronteira geoquímica (Figura 4.5) separando: (1) áreas dominadas

por basaltos enriquecidos em elementos traço incompatíveis ao norte (alto Ti); (2)

áreas dominadas por basaltos com baixo Ti ao sul (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988;

Erlank et al., 1984).

4.1.2. Amalgamação de blocos cratônicos na porção oeste do Gondwana

A amalgamação das placas litosféricas e dos blocos cratônicos da porção

oeste do Gondwana ocorreu durante dois eventos principais, como destacado por

Bizzi et al. (2003): (1) há aproximadamente 650 Ma, durante a formação do proto-

Gondwana (provavelmente incluindo a América do Norte); (2) há 300 Ma, com a

formação do Supercontinente Pangea, durante a fusão entre Gondwana, Laurentia,

China Sul e Eurásia (Figura 4.6).

Trindade et al. (2006) e Tohver et al. (2010) propuseram que uma bacia

oceânica denominada Clímene fechou-se há cerca de 528 ± 36 Ma (baseado em

dados paleomagnéticos e geocronológicos), completando o supercontinente

Gondwana (Figura 4.7). Essa bacia oceânica separava os crátons da Amazônia e

África Ocidental daqueles outros da América do Sul (São Francisco, Rio de Plata e

Paranapanema).

Nesse contexto, é possível também que o processo de subducção do oceano

Clímene, com mergulho para leste, tenha propiciado a entrada e incorporação de

fluidos e sedimentos da litosfera oceânica sob a região onde atualmente se encontra

a Bacia do Paraná. Deste modo, a assinatura química e isotópica da PMP pode ter

sido influenciada pela cunha mantélica proveniente desse processo de subducção.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

69

Figura 4.5: Reconstrução do supercontinente Gondwana no início do Mesozóico e a distribuição de províncias de derrames de basaltos continentais. A linha sólida (roxo) divide as províncias caracterizadas pela erupção de basaltos ATi e BTi. Figura modificada de Piccirillo & Melfi (1988) e Wilson (1989).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

70

Figura 4.6: (a) Evolução tectônica do supercontinente Gondwana (retirado de Bizzi et al., 2003). Blocos cratônicos do Gondwana foram colados ao longo de cinturões móveis Pan-Gondwânicos durante o Pré-Cambriano superior (650 ± 100? Ma), quando o Gondwana era delimitado ao longo de suas margens norte e sul por zonas de subducção e acreção. (b) Riftes extensionais de margem passiva se formaram a norte e a sul do Gondwana durante o Paleozóico inferior. (c) A acreção tectônica ao longo da margem sul do Gondwana durante o Paleozóico superior levou à formação de uma extensa bacia de antepaís. (d) A orientação de vários sistemas de falhas é compatível com os falhamentos induzidos por estresse devido à acreção de terrenos ao longo da margem sul do Gondwana.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

71

Figura 4.7: Principais crátons da plataforma Sul-Americana (AM – Amazônico; SF – São Francisco; RdP – Rio de Plata; RA – Rio Apa). A linha tracejada mostra a zona de sutura (ca. 528 ± 36 Ma; fechamento do oceano Clímene). Figura retirada de Tohver et al. (2010).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

72

4.1.3. Reservatórios do manto

O reconhecimento de significantes diferenças geoquímicas entre MORB

(empobrecidos em elementos incompatíveis) e OIB (menos empobrecidos ou

enriquecidos em elementos traço incompatíveis) levou ao conceito da existência de

distintos reservatórios geoquímicos do manto (White, 1985; Zindler & Hart, 1986;

Hart et al., 1992), cada um caracterizado por combinações das composições

isotópicas de Sr, Nd e Pb. De acordo com Hoffman (2003) esses reservatórios do

manto podem representar: (1) volumes discretos e isolados com composição

isotópica distinta; (2) os membros-finais da variação de composições isotópicas

observadas em OIB.

Vários componentes mantélicos têm sido identificados (White, 1985; Zindler &

Hart, 1986; Hart et al., 1992; Sun & McDonough, 1989; White & Hoffman, 1982;

Chauvel et al., 1992; Hauri et al., 1993, 1994; Hawkesworth et al., 1986; Mahoney et

al., 1991; McKenzie and O'Nions, 1983; Ben Othman et al., 1989; Plank & Langmuir,

1989; Hanan & Graham, 1996; Gasperini et al., 2000; Stracke et al., 2005; Workman

et al., 2004). Esses reservatórios são HIMU, EMI, EMII, FOZO, DMM, PREMA e BSE

(Figuras 4.1 a 4.4) e os seus limites não são precisos, variando conforme o autor e o

ano. Essa notação é mais aplicável a basaltos oceânicos, onde os efeitos de

contaminação crustal podem ser ignorados. Entretanto, como será visto adiante, a

natureza “não-contaminada” das rochas investigadas neste trabalho permite

comparar a composição isotópica da PMP (ATi) a essas fontes potenciais, com o

objetivo de obter vínculos adicionais sobre a origem e natureza da fonte do manto

que deu origem aos basaltos da província.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

73

HIMU

O reservatório HIMU (alto μ) é um reservatório com alto 238U/204Pb integrado no

tempo, o qual possui alto 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb, baixo 87Sr/86Sr e

intermediário 143Nd/144Nd com relação a outros reservatórios do manto. As

características isotópicas são consistentes com uma fonte do manto que foi

enriquecida em U e Th em relação ao Pb, por períodos de tempo da ordem de 1,5 a

2,0 Ga (Rollinson, 1993). HIMU é interpretado como crosta oceânica reciclada que

foi empobrecida em elementos alcalinos e Pb devido aos processos que ocorrem na

zona de subducção (Hoffman & White, 1982; Chauvel et al., 1992; Hauri et al., 1993;

Kelley et al., 2005). Alternativamente, metassomatismo de litosfera oceânica por

magmas fundidos parcialmente ou líquidos com alto Th/Pb e U/Pb (Sun &

McDonough, 1989) poderiam gerar HIMU.

Embora Hoffman (2003) argumente que uma origem metassomática para HIMU

deveria implicar em altas razões Rb/Sr relativo às fontes MORB (mais

empobrecidas), esse enriquecimento não deve influenciar significativamente a razão

87Sr/86Sr uma vez a razão Rb/Sr do manto litosférico oceânico é muito baixa. HIMU

raramente ocorre como um componente de mistura em OIB (Stracke et al., 2005) e

apresenta tipicamente 143Nd/144Nd ~ 0,5129, 87Sr/86Sr ~ 0,7030, 206Pb/204Pb ~ 21,50

e 207Pb/204Pb ~ 15,85 (Zindler & Hart, 1986).

EM-I e EM-II

Dois reservatórios do manto enriquecido (EM – Enriched Mantle) têm sido definidos,

EM-I e EM-II (Zindler & Hart, 1986). O reservatório EM-I é caracterizado por

moderado 207Pb/204Pb, baixo 206Pb/204Pb, relativamente alto 87Sr/86Sr e baixo

143Nd/144Nd. A origem do reservatório EM-I é atribuída a: (1) litosfera subcontinental

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

74

delaminada reciclada (Hawkesworth et al., 1986; Mahoney et al., 1991; McKenzie &

O'Nions, 1983); (2) sedimento pelágico antigo reciclado (Ben Othman et al., 1989;

Plank & Langmuir, 1993); (3) crosta inferior reciclada (Rollinson, 1993); (4) mistura

de HIMU e sedimento subductado (Weaver, 1991). Deste modo, percebe-se que a

origem do reservatório EM-I é ainda um tema muito debatido e controverso, sendo

caracterizado por possuir composições de 143Nd/144Nd ~ 0,5121, 87Sr/86Sr ~ 0,7049,

206Pb/204Pb ~ 16,80 e 207Pb/204Pb ~ 15,45.

O reservatório EM-II é caracterizado por apresentar valores relativamente altos de

207Pb/204Pb, 206Pb/204Pb e 87Sr/86Sr, e baixos de 143Nd/144Nd. A origem do

reservatório EM-II é atribuída a produtos reciclados de: (1) crosta continental e

sedimentos; (2) crosta de ilha oceânica; (3) crosta oceânica alterada; (4) litosfera

subcontinental (Hoffman & White, 1982; Rollinson, 1993).

Trabalhos recentes sobre as lavas das Ilhas Samoa sugerem que EM-II seja

derivado de litosfera oceânica metassomatizada reciclada que foi isolada no manto

profundo por cerca de ~ 2,5 Ga, e então retornou para superfície na forma de uma

pluma mantélica (Workman et al., 2004). EM-II é caracterizado por possuir

composições de 143Nd/144Nd ~ 0,5121, 87Sr/86Sr ~ 0,7080, 206Pb/204Pb ~ 18,90 e

207Pb/204Pb ~ 15,68 (Zindler & Hart, 1986; Chen et al., 2007).

FOZO e PREMA

O reservatório FOZO (Focal Zone; Hart et al., 1992) é intermediário nas

composições isotópicas de Sr, Nd e Pb com respeito aos outros reservatórios. FOZO

tem sido definido como um conjunto dos três componentes: (1) componente C

(Commom component; Hanan & Graham, 1996); (2) PHEM (Primitive Helium Mantle;

Farley et al., 1992); ambos têm substituído o antigo acrônimo (3) PREMA (Prevalent

Page 76: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

75

Mantle). Cada um dos novos termos descreve um reservatório com características

semelhantes (Hoffman, 2003), como pode ser visto a partir da proximidade entre os

componentes FOZO e PREMA nas Figuras 4.1 a 4.4. Embora Hart et al. (1992)

afirmem que FOZO seja o reflexo de plumas do manto profundo ascendendo para o

manto superior, Carlson et al. (2006) afirmam que as fontes FOZO estão presentes

no manto superior. Stracke et al. (2005) sugerem que FOZO está presente em todo

o manto. É importante assinalar que muitos exemplos de OIB (e.g. Havaí, Tristão da

Cunha, Samoa, Cabo Verde, Santa Helena) e até mesmo os membros-finais EMI,

EMII, HIMU e DMM, encontram-se ao longo de linhas de tendência que divergem a

partir do reservatório central – FOZO.

O reconhecimento de que vários reservatórios possam ser ligados a uma única

composição pode apenas representar um efeito de compensação, uma vez que

curvas de mistura feita entre os extremos dos reservatórios cruzam-se em um ponto

intermediário. As razões isotópicas para o reservatório FOZO, de acordo com Hart et

al. (1992), são 143Nd/144Nd > 0,5131, 87Sr/86Sr < 0,7025, 206Pb/204Pb = 19,1 a 19,7.

Por outro lado, Hauri et al. (1994) sugerem que composições de 87Sr/86Sr ~ 0,703 a

0,704, 143Nd/144Nd ~ 0,5128 a 0,5130, 206Pb/204Pb ~ 18,5 a 19,5, 207Pb/204Pb ~ 15,55

a 15,65 e 208Pb/204Pb ~38,8 a 39,3 são as mais apropriadas. Workman et al. (2005)

defendem um 206Pb/204Pb mais radiogênico (~19,4) e 87Sr/86Sr menos radiogênico

(0,7030 a 0,7032) para o componente FOZO.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

76

DMM

O reservatório DMM (depleted MORB mantle) representa a composição isotópica

mais empobrecida do manto, apresentando as variedades DMMa e DMMb (Zindler &

Hart, 1986). Estes reservatórios têm baixo 207Pb/204Pb, 206Pb/204Pb e 87Sr/86Sr, e alto

143Nd/144Nd comparado a outros reservatórios (Hoffman, 2003). O reservatório DMM

ocupa o manto superior (mais superficial) e é a fonte do MORB (Meibom &

Anderson, 2003). DMM é um reservatório amplamente homogêneo e bem misturado

como um resultado de extração crustal, assim como de processos de misturas

convectivas. Valores apropriados para o reservatório DMMa são: 143Nd/144Nd ~

0,51350, 87Sr/86Sr ~ 0,7021, 206Pb/204Pb ~ 17,40, e 207Pb/204Pb ~ 15,39; enquanto

para DMMb são: 143Nd/144Nd é o mesmo do DMMa, 87Sr/86Sr é ligeiramente mais

baixo ~ 0,7019 e as composições isotópicas de Pb são significativamente menos

radiogênicas do que as do DMMa (206Pb/204Pb ~15,8 e 207Pb/204Pb ~ 15,15) (Zindler

& Hart, 1986).

BSE

O reservatório BSE (Bulk Silicate Earth) representa a composição da Terra

silicatada. O BSE é caracterizado por razões isotópicas de Pb intermediárias, baixas

razões de Nd e razões radiogênicas de Sr.

Rollinson (1993) sugere que, embora algumas fontes de basaltos oceânicos possam

se aproximar a um tipo de reservatório BSE, não há evidências geoquímicas

convincentes de que tal reservatório geoquímico exista.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

77

4.2 Contaminação crustal

Antes de investigar as fontes do manto envolvidas na gênese da PMP, o

papel que a crosta continental pode ter exercido nesse processo deve ser indagado,

visto que a mesma pode facilmente modificar as composições químicas e isotópicas

dos magmas em sua jornada para superfície.

Magmas CFB passam através da crosta continental. A presença ou ausência

de bacias sedimentares, bem como a espessura e densidade da crosta exercem

fortes controles sobre a história de diferenciação dos magmas por ela atravessados.

Durante essa passagem, os magmas podem também interagir quimicamente com as

superfícies de contato (paredes) das rochas encaixantes. Uma vez que a crosta

continental comumente possui concentrações de elementos maiores, menores e

traços, bem como composições isotópicas, significativamente diferentes daquelas

dos magmas basálticos, tal interação pode ter grande impacto em suas

composições.

A crosta continental contém uma variedade complexa de tipos de rochas,

variando daquelas com temperaturas de fusão relativamente baixas, tais como

pegmatitos e granitos, para aquelas com valores mais altos, tais como gabros,

granulitos, anfibolitos e outras rochas máficas e ultramáficas (Wilson, 1989). Um

problema fundamental é onde ocorre a contaminação, uma vez que pode ocorrer

nas câmaras magmáticas crustais, nos condutos que as alimentam e/ou nos diques

que permitem a ascensão do magma até a superfície. Segundo Wilson (1989), o

grau de contaminação variará com a temperatura do magma, com a largura dos

diques, com o fluxo magmático através dos condutos e com a composição da crosta

por onde os magmas passam.

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

78

Nesse contexto, foram efetuados alguns testes geoquímicos para aferir se

ocorreram processos de contaminação crustal nas rochas investigadas. De forma

geral, os basaltos continentais são caracterizados por possuírem razões 87Sr/86Sr

mais altas, 143Nd/144Nd mais baixas e composições isotópicas de Pb mais

radiogênicas do que os oceânicos. Além disso, vale destacar que lavas

contaminadas por rochas sedimentares são também caracterizadas por possuírem

altos conteúdos de SiO2 e de elementos traço incompatíveis, tais como Ba e Rb, e

dependendo do contaminante envolvido, como arenitos ou folhelhos, pode haver

enriquecimento significativo de Zr e ETRL (Rollinson, 1993).

Quando rochas crustais são assimiladas pelo magma durante a diferenciação,

os índices de fracionamento magmático (MgO, SiO2) e as razões isotópicas

indicativas de contaminação (e.g. 87Sr/86Sr) apresentam correlação significativa, uma

vez que a crosta continental, apresenta razões iniciais de 87Sr/86Sr > 0,7045 (Taylor

& McLennan, 1985). Entretanto, no caso dos basaltos ATi da PMP investigados

nota-se que não existem correlações nítidas entre SiO2, P2O5/K2O e razões de

elementos traço incompatíveis (e.g. Th/Ta, La/Yb e Nb/Zr) com razões isotópicas de

Sr, Nd e Pb (Figuras 4.8 e 4.9), que seriam indicativas desse processo.

A relação entre P2O5/K2O e 87Sr/86Sr é muito eficiente para identificar

processos de contaminação crustal, pois magmas derivados do manto tipicamente

possuem altos valores de P2O5/K2O. Desta forma, ocorre decréscimo desta razão

quando magmas básicos se misturam com materiais crustais, os quais possuem

baixas razões P2O5/K2O (< 0,1). Esse comportamento não foi observado nos

basaltos ATi analisados, o que, provavelmente, reflete que essas rochas não

sofreram contaminação crustal, ou se sofreram, envolveram uma quantidade muito

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

79

pequena de material crustal (Figura 4.8a). Deve ser salientado que, durante o

fracionamento em sistema-fechado, essa razão permanece relativamente constante,

visto que ambos os elementos são incompatíveis em minerais cristalizados a partir

de magmas de composição básica sob temperaturas próximas às do liquidus

(Carlson & Hart, 1987).

Cabe destacar que a amostra LM-4 (tipo Urubici) possui 87Sr/86Sri = 0,70646,

143Nd/144Ndi = 0,51230 (εNd(i) = -3,2), 206Pb/204Pb = 18,319, 207Pb/204Pb = 15,586 e

208Pb/204Pb = 38,567 e concentração elevada de Ba e K2O (não mostrado), que

sugerem processos de contaminação crustal. Portanto, essa amostra não foi

utilizada para a caracterização da fonte mantélica envolvida na gênese da PMP.

Em suma, os basaltos ATi do norte da PMP apresentam um comportamento

muito distinto daquele dos basaltos com baixo-Ti (tipo Gramado) do sul da PMP.

Estes últimos mostram significativa variabilidade nas composições isotópicas de Sr,

Nd e Pb, as quais são acompanhadas por mudanças nas concentrações de SiO2,

K2O e Rb, bem como nas razões de elementos-traço fortemente incompatíveis,

indicando um comportamento evolutivo em sistema aberto do tipo AFC (Piccirillo &

Melfi, 1988; Peate, 1997).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

80

Figura 4.8: Diagrama de variação de: (a) P2O5/K2O versus 87Sr/86Sr; (b) SiO2(%) versus 87Sr/86Sr; (c) SiO2(%) versus 143Nd/144Nd; (d) SiO2 versus 206Pb/204Pb; (e) SiO2 versus 207Pb/204Pb e (f) Nb/Zr versus 87Sr/86Sr. Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

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Figura 4.9: Diagrama de variação de: (a) Th/Ta versus 87Sr/86Sr e (b) La/Yb (μg/g) versus 87Sr/86Sr. Os círculos pequenos azuis, verdes e vermelhos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga e Urubici, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999).

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Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

82

4.3. Características da fonte e sistemáticas de mistura

Antes de discutir sobre as características das fontes de magmas envolvidas

na gênese da PMP, é importante definir as composições de elementos traço e

isotópicas dos reservatórios mantélicos (EM-I, EM-II, HIMU e FOZO) que serão

utilizados nos cálculos de misturas. Para tal, dados químicos e isotópicos de ilhas

oceânicas (hotspots) correspondentes aos diferentes reservatórios mantélicos foram

obtidos do banco de dados GEOROC (http://georoc.mpch-mainz.gwdg.de/georoc/).

Para definição do reservatório DMM, foram utilizados dados químicos e isotópicos

sugeridos por Workman & Hart (2005) e do banco de dados da GERM

(http://earthref.org/GERM/).

Somente lavas silicáticas expelidas em cenário OIB foram consideradas nesta

caracterização. Foram excluídas lavas ultramáficas, intrusivas e carbonáticas. Platôs

oceânicos (e.g. Ontong-Java, Manihiki, etc.) não foram considerados. Somente lavas

que possuem dados isotópicos (Sr e Pb) e conteúdo de elementos maiores,

menores e traços medidos na mesma amostra foram considerados. Isótopos de

87Sr/86Sr e 143Nd/144Nd fornecem informações similares (devido à correlação global

existente entre 87Sr/86Sr e 143Nd/144Nd), e então 143Nd/144Nd não foi usado como um

discriminante neste estudo, apesar de ser empregado nos cálculos de mistura.

Porém, a maioria das amostras OIB selecionadas tem a composição de 143Nd/144Nd

determinada. Lavas com conteúdo de voláteis > 3% foram eliminadas. A fim de

minimizar os efeitos de cristalização fracionada e evitar cumulatos, foram

consideradas somente lavas com 8% ≤ MgO ≤ 16%. Após essas etapas de filtragem,

os hotspots com menos do que 7 amostras foram descartados, uma vez que não

Page 84: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

83

possuem uma população representativa. Vale destacar que os critérios de filtragens

dos OIB seguiram aqueles propostos por Jackson & Dasgupta (2008).

Os resultados obtidos através do processo de filtragem descrito acima para as

características geoquímicas e isotópicas dos reservatórios mantélicos HIMU, EM-I,

EM-II, FOZO e DMM encontram-se apresentados na Tabela 4.1. As curvas de

misturas entre esses diferentes reservatórios, cujos cálculos foram baseados nos

dados da Tabela 4.1, encontram-se na Figura 4.10 e 4.11, nas quais se nota que

misturas entre alguns desses componentes podem ser claramente excluídas da

gênese dos basaltos ATi do norte da PMP, como por exemplo, entre FOZO e HIMU.

Tabela 4.1: Parâmetros de entrada dos reservatórios usados nos cálculos de mistura

Variáveis DMMb FOZO HIMU EM-I EM-II L1 L2 EN89-2

Sr (μg/g) 7,66(1) 283(3) 623(3) 495(3) 484(3) 30,68(5) 30,68(5) 30,03(7,8)

Nd (μg/g) 0,581(1) 15(3) 46,3(3) 30,6(3) 41,4(3) 2,29(5) 2,29(5) 9,726(7,8)

Pb (μg/g) 0,018(1) 0,96(3) 3,1(3) 3,64(3) 5,12(3) - - ???

Os (ng/g) 2,99(1) 0,378(3) 0,329(3) 0,068(3) 0,293 (3) 0,5(6) 0,5(6) 0,484(7,8) 87Sr/86Sr 0,7019(1) 0,7035(3) 0,7028(3) 0,705(3) 0,708(3) 0,708749(5) 0,704989(5) 0,709154(7,8)

143Nd/144Nd 0,5135(1) 0,5129(3) 0,5129(3) 0,5121(3) 0,5121(3) 0,512501(5) 0,511652(5) 0,510866(7,8) 206Pb/204Pb 15,80(1) 19,0(3) 21,20(3) 17,30(3) 18,90(3) - - 19,439(7,8) 187Os/188Os 0,1276(2) 0,1322(4) 0,150(4) 0,152(4) 0,136(4) 0,10927(5) 0,11399(5) 0,27632(7,8)

ε(Nd) +16,8 +5,1 +5,1 -10,5 -10,5 +1,85 -14,7 -33,3

γ(Os) 0,5 +4,0 +18,1 +19,7 +7,1 -13,1 -9,4 +118,1

(1) Estimado de Workman & Hart (2005) e do banco de dados da GERM; (2) Walker et al. (2002) ofiolitos;(3) Estimado de hotspots do banco de dados da GEOROC;(4) Shirey & Walker (1998); (5) Heinonen et al. (2010), com concentrações de Sr e Nd calculadas para um grau de fusão de 1% (lamproíto); (6) Ellam et al. (1992); (7) Carlson & Irving (1994); (8) Chesley et al. (2004). L1 e L2 correspondem aos componentes do manto litosférico 1 e 2, respectivamente. EN82-2 corresponde a um piroxenito que representará o componente metassomático nos cálculos de mistura.

Page 85: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

84

4.3.1 O papel do manto litosférico subcontinental

Numerosos estudos sugerem que a origem de províncias CFB resulta de

diferentes produtos de fusão envolvendo fontes litosféricas, manto convectivo, como

também pequenas contribuições de crosta facilmente fundíveis. Por outro lado,

outras escolas de pensamento sugerem que a fonte de CFB é puramente originada,

ou através de plumas mantélicas que são originadas no manto astenosférico

profundo, ou pela fusão do manto litosférico subcontinental hidratado, região esta

que preserva antigas heterogeneidades químicas e isotópicas, por estarem isoladas

do manto convectivo. Assim, foi efetuada uma investigação detalhada da

participação do manto litosférico subcontinental (SCLM, do inglês, Subcontinental

Lithospheric Mantle) na gênese dos basaltos investigados.

Os dados isotópicos obtidos indicam envolvimento significativo do SCLM, uma

vez que eles exibem razões isotópicas de 143Nd/144Ndi não-radiogênicas, de

87Sr/86Sri radiogênicas e altos valores de 207Pb/204Pb em comparação com

206Pb/204Pb (Figuras 4.1 a 4.4).

De acordo com a sistemática de misturas (Figura 4.10), um provável membro

final envolvido na gênese da PMP é o componente EM-I, o qual pode explicar a

assinatura de isótopos de Sr e Pb, requerendo também uma pequena participação

do componente DMM para explicar as composições isotópicas de Nd (conforme

também proposto por Marques et al., 1999). Além disso, nota-se também que a

mistura entre os componentes EM-I (predominante) e EM-II (quantidade muito

pequena) poderia explicar de forma satisfatória a assinatura de isótopos de Sr, Nd e

Pb dos basaltos (Figura 4.11).

Page 86: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

85

Figura 4.10: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos, com forte envolvimento de fontes litosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e L1 (manto litosférico do Gondwana 1); Curva [2] DMMb e L2 (manto litosférico do Gondwana 2); Curva [3] L1 e L2; Curva [4] corresponde a mistura entre DMMb e variações entre os extremos isotópicos do manto litosférico L1 e L2. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999).

Page 87: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

86

Recentemente, Heinonen et al. (2010) propuseram uma assinatura isotópica

para o SCLM do supercontinente Gondwana. Esses pesquisadores basearam-se em

extremos isotópicos, denominados de L1 e L2 (componentes do manto litosférico 1 e

2, respectivamente), obtidos na análise de lamproitos oriundos de fusões parciais

derivadas do SCLM do Kaapvaal. As composições isotópicas de L1 e L2 encontram-

se na Tabela 4.1. Entretanto, para efetuar os cálculos de mistura envolvendo esses

dois componentes é necessário conhecer suas concentrações de Sr e Nd. Para

tanto, foram utilizadas as concentrações desses dois elementos reportadas para o

lamproito investigado, assumindo-se que essa rocha foi produzida por grau de fusão

muito baixo (F < 1%; Wilson, 1989) e que Sr e Nd são fortemente incompatíveis

(coeficientes de partição global D << 1). As concentrações no manto litosférico do

Gondwana puderam então ser estimadas a partir da Equação 4.1:

FCCL

0=

(4.1)

Onde, CL = concentração do elemento traço na rocha (lampróito), C0 = conteúdo do

elemento traço na fonte e F o grau de fusão parcial (assumiu-se F = 1%).

Nota-se, na Figura 4.10, que os basaltos ATi do norte da PMP, podem ser

explicados pela mistura do componente DMMb com os extremos isotópicos do

SCLM do Gondwana (L1 e L2). Para tal, é necessário que cerca de 30% a 50% do

componente DMMb seja misturado ao manto litosférico do Gondwana. A

composição do manto litosférico que melhor se ajusta aos basaltos da PMP, possui

entre 50% e 70% do extremo isotópico L2 (menos radiogênica; curvas 4).

Page 88: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

87

Figura 4.11: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos com forte envolvimento de fontes sublitosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e EMI; Curva [2] DMMb e EMII; Curva [3] FOZO e EMII; Curva [4] DMMb e piroxenito (EN89-2). Essa mistura (entre DMMb e piroxenito) corresponde ao componente contaminado (metassomatizado) por veios de piroxenitos; Curva [5] corresponde à mistura entre o componente contaminado (por 4–5 % de veios de piroxenitos) com o reservatório EMII. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999).

Page 89: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

88

Entretanto, como será visto no próximo capítulo, os sistemas isotópicos de

natureza litófila (e.g. Sr–Nd–Pb) são facilmente afetados por processos

metassomáticos e, deste modo, pode herdar grande parte do conteúdo de

elementos traço (e.g. Rb, Sm, U, Th) dos fluidos e/ou magmas metassomáticos.

4.3.2 O papel do manto sublitosférico

Conforme discutido anteriormente, as características geoquímicas e

isotópicas (Sr–Nd–Pb) dos basaltos investigados podem ser explicadas pela fusão

do SCLM. Entretanto, recentemente têm sido publicados muitos trabalhos que

mostram o envolvimento de manto sub-litosférico na geração de províncias ígneas

(e.g. Ellam et al., 1992). Dessa forma, em função disso e dos resultados obtidos na

aplicação da sistemática de Re-Os, que serão discutidos em detalhe no próximo

capítulo, a possibilidade de processos de mistura envolvendo o manto astenosférico

superficial (Modelo de Placa; Anderson, 2005; Foulger, 2007) foi também verificada.

Diversos estudos têm comprovado a existência de um manto astenosférico

(DMM) contaminado por veios de piroxenitos (e.g. Allégre & Turcotte, 1986). Estes

pesquisadores forneceram evidências sobre a distribuição e a dimensão de

heterogeneidades em peridotitos embasados em Beni Bousera, Marrocos. Nestas

rochas, veios de piroxenitos de variadas espessuras são encontradas encaixadas

numa matriz lherzolítica. Esses veios são, em média, basálticos em composição e

possuem espessuras variando de 2 cm a 100 cm.

Deste modo, é possível que o manto astenosférico apresente regiões

contendo veios de piroxenitos, sendo capazes de explicar as assinaturas

enriquecidas de elementos traço e isotópicas (Sr–Nd–Pb). Neste trabalho, para fins

Page 90: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

89

de cálculos de mistura, o piroxenito EN89-2 (websterito), coletado no cráton

Wyoming (Carlson & Irving, 1994; Chesley et al., 2004), foi utilizado como

componente metassomático. Sua composição elementar e isotópica se encontra na

Tabela 4.1.

Nota-se, nas Figuras 4.11 e 4.12, que a composição isotópica dos basaltos da

PMP pode ser explicadas através de uma mistura de um componente de natureza

metassomática (mistura entre DMMb e o piroxenito EN89-2) com o componente

mantélico EMII. O componente metassomatizado (DMM + piroxenito) é constituído

por aproximadamente 95% do componente DMM e cerca de 5% de piroxenito.

A partir do componente metassomatizado, diversas misturas foram

calculadas, e a que melhor se ajustou às rochas investigadas foi a mistura entre

esse componente e o EM-II (curva-5; Figuras 4.11 e 4.12). Nessa mistura, verifica-se

que é necessário cerca de 0,6% a 2% do componente EM-II misturado ao

componente metassomatizado.

É importante destacar que os cálculos efetuados neste trabalho descartam

misturas envolvendo os componentes FOZO e HIMU. Em particular, a assinatura da

fonte mantélica da pluma de Tristão da Cunha não foi reconhecida nas rochas

investigadas.

Em suma, os dados isotópicos de Sr, Nd e Pb obtidos nesta investigação e

em trabalhos pretéritos, podem ser explicados tanto pela fusão do SCLM, como

também pela participação de manto astenosférico metassomatizado.

Page 91: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 4 – Sistemática Isotópica de Sr-Nd-Pb

90

Figura 4.12: Diagrama de 87Sr/86Sr versus 143Nd/144Nd ilustrando os efeitos de misturas de materiais de diferentes componentes isotópicos com forte envolvimento de fontes sublitosféricas na gênese dos basaltos da PMP. As diferentes curvas correspondem a misturas envolvendo os componentes: Curva [1] DMMb e EMI; Curva [2] DMMb e EMII; Curva [3] FOZO e EMII; Curva [4] DMMb e piroxenito (EN89-2). Essa mistura (entre DMMb e piroxenito) corresponde ao componente contaminado (metassomatizado) por veios de piroxenitos; Curva [5] corresponde à mistura entre o componente contaminado (por 4–5 % de veios de piroxenitos) com o reservatório EMII. As composições químicas e isotópicas dos componentes utilizados nos cálculos de mistura se encontram na Tabela 4.1. Os símbolos pequenos azuis, verdes, vermelhos e roxos correspondem aos basaltos Paranapanema, Pitanga, Urubici e Esmeralda, respectivamente, investigados em trabalhos anteriores (e.g. Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999).

Page 92: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 5 Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

Foram selecionadas 11 amostras para efetuar as medidas da razão isotópica

de 187Os/188Os, assim como para determinação das concentrações dos HSE (Os, Ir,

Ru, Pt, Pd e Re). Dessas 11 amostras, 06 pertencem ao magma-tipo Esmeralda (B-

208, B-418, B-448, B-509, B-3006 e B-3064), 03 Paranapanema (KS-624, KS-660,

KS-685), 01 Pitanga (KS-700) e 01 Urubici (FL-98).

Enfatiza-se que para minimizar os efeitos de contaminação crustal, somente

os basaltos com 87Sr/86Sri inferiores a 0,7060, juntamente com informações acerca

das razões de elementos traço (e.g. Rb/Ba, Nb/La, Zr/Ta, Ta/U, e Th/Ta) foram

selecionados para este estudo.

Cabe destacar que as rochas mais primitivas da PMP estão localizadas na

sua região sul, possuem baixo conteúdo de TiO2 (TiO2 < 2%) e pertencem ao

magma-tipo Esmeralda. As 06 amostras desse grupo selecionadas para análise

foram objeto de estudos geoquímicos (maiores, menores e traços) e isotópicos (Sr-

Nd-Pb) anteriores (Piccirillo & Melfi, 1988, Marques et al., 1989; 1999). A amostra

FL-98 (tipo Urubici), pertencente a um dique que ocorre na Ilha de Santa Catarina,

foi anteriormente analisada por Marques (2001) e Marques et al. (2003). As demais

amostras selecionadas para o presente estudo são todas pertencentes ao extremo

norte da PMP, que é a região investigada no presente estudo.

Abaixo, encontra-se uma breve discussão acerca da sistemática isotópica de

Re-Os e como ela pode contribuir para este estudo.

Page 93: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

92

5.1 Conceituação teórica

5.1.1. O sistema 187Re-187Os

O sistema isotópico Re-Os tem se tornado um dos sistemas isotópicos

comumente aplicados a problemas geológicos (Walker, 2009). O crescente interesse

nesse sistema isotópico advém do fato que Re e Os pertencem ao grupo de HSE,

significando que eles fortemente se particionam nas fases metálicas ou sulfetadas,

em relação às silicáticas (Shirey & Walker, 1998; Walker, 2009).

Neste sistema, o isótopo 187Re decai para o isótopo 187Os através de uma

emissão β- (elétron). A equação usada para este sistema é:

( )1Re188

187

188

187

188

187

−×+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ t

inicialmedida

eOsOs

OsOsOs λ

(5.1)

onde λ representa a constante de decaimento e t o tempo. Um estudo envolvendo

isócronas Re-Os de alta precisão, produzidas para meteoritos ferrosos, refinou o

valor da constante de decaimento (λ = 1,666 × 10-11 ano-1), com uma incerteza de ±

1% (Smoliar et al., 1996). Isto corresponde a uma meia-vida de 41,60 ± 0,42 × 109

anos.

Devido às grandes variações isotópicas de 187Os em materiais terrestres,

resultantes dos fracionamentos mais extremos pai-filho durante fusões parciais, os

dados isotópicos de ósmio são freqüentemente reportados em desvios percentuais a

partir de uma composição de referência. Isto é referido como γOs (Walker et al.,

1989), onde:

Page 94: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

93

1001)/()/(

)(188187

)(188187

×⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡−=

tcondrito

tamostraOs OsOs

OsOsγ

(5.2)

Onde a evolução da razão condrítica em função do tempo t é dada por:

( )tcondritoitcondrito

eeOsOs

OsOsOs .)10558,4.(

188

187

188

187

)(188

1879Re λλ −×⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ ×

(5.3)

Amostras com γOs positivo são freqüentemente descritas como enriquecidas

ou radiogênicas e implicam em longo período de razão 187Re/188Os elevada (e.g.

crosta continental). Amostras com γOs negativo são freqüentemente descritas como

empobrecidas ou não-radiogênicas e implicam em longo período de razão

187Re/188Os baixa (e.g. manto litosférico e peridotitos abissais).

Os parâmetros propostos por Shirey & Walker (1998) para os termos da

equação 5.3 são: (187Os/188Os)i = 0,09531, (187Re/188Os)condrito = 0,40186 e λ = 1,666

× 10-11 anos-1. Isto corresponde a uma razão 187Os/188Os condrítica atual de 0,1270.

Ao contrário de outros sistemas isotópicos, os quais envolvem elementos que

se concentram em fases silicáticas (e.g. Rb-Sr, Sm-Nd, U-Th-Pb, Lu-Hf), rênio e

ósmio se associam a fases metálicas e sulfetadas. Portanto, rênio e ósmio foram

extraídos quase totalmente do manto terrestre para o núcleo durante o processo de

diferenciação planetária (Shirey & Walker, 1998). Contudo, rochas oriundas do

manto terrestre convectivo mostram uma evolução de Re/Os condrítica por toda

história da Terra, a qual tem sido explicada através da adição de elementos

fortemente siderófilos (junto com outros metais nobres) ao manto, após a

segregação do núcleo, via acreção tardia (Shirey & Walker, 1998).

Page 95: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

94

O sistema isotópico de Re-Os tem sido usado com sucesso para estudar os

processos que ocorrem no manto da Terra, como por exemplo, a fusão parcial,

durante a qual o Re é particionado preferencialmente no líquido (magma), enquanto

Os é quase totalmente retido pelo resíduo, ou seja, comporta-se compativelmente

durante fusão do manto. Estudos mostram que o Re é moderadamente incompatível

nesses processos, com um coeficiente de partição global similar àquele do Yb

(Reisberg & Meisel, 2002). Segundo esses pesquisadores, a razão Re/Os da crosta

continental (~ 10) é muito mais alta do que aquela do manto (~ 0,1), e com o tempo,

as rochas crustais desenvolveram razões 187Os/188Os (tipicamente ~ 1 a 2), diferindo

grandemente daquelas de peridotitos do manto e de basaltos (0,1 a 0,15).

A razão Re/Os dos resíduos de fusão do manto é fortemente reduzida,

retardando o crescimento de 187Os radiogênico (Shirey & Walker, 1998; Hauri, 2002).

A retenção de Os por resíduos de fusão do manto é uma propriedade exclusiva do

sistema isotópico de Re-Os, e esta propriedade faz dos isótopos de ósmio um

traçador extremamente sensível para investigar porções do manto que sofreram

fusões pretéritas. Dessa forma, basaltos oceânicos e continentais possuem elevadas

razões de Re/Os em relação ao manto superior e, conseqüentemente, apresentam

razões 187Os/188Os altamente radiogênicas. A subducção ou delaminação desses

materiais crustais (extremamente radiogênicos em 187Os) pode, em parte, ter gerado

assinaturas distintamente elevadas na razão 187Os/188Os em certas regiões-fonte do

manto. Segundo Schiano et al. (1997), muitos autores têm proposto que as razões

isotópicas radiogênicas de alguns OIB podem ser explicadas através de quantidades

variadas de crosta oceânica reciclada contidas no manto.

Page 96: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

95

As propriedades do sistema Re-Os são mais claramente visualizadas na

litosfera continental, onde tais variações não têm sido influenciadas por processos

convectivos, uma vez que a litosfera continental é uma região rígida e relativamente

fria (Hauri, 2002). Por outro lado, de acordo com este pesquisador, as variações

observadas nos isótopos de Os no manto convectivo fornecem informações únicas

acerca de plumas do manto e a distribuição de reservatórios químicos na Terra

profunda.

5.1.2. Manto superior primitivo (PUM – primitive upper mantle)

Xenólitos derivados do manto e trazidos para a superfície através de

vulcanismo estão entre os poucos tipos de materiais que permitem o estudo direto

da composição química do manto superior da Terra. O PUM é um reservatório

hipotético do manto superior não diferenciado (Meisel et al., 1996; Meisel et al.,

2001), ou seja, que não sofreu eventos de empobrecimentos ou enriquecimentos na

razão Re/Os desde o final do período de acreção tardia (finalizado há cerca de 3,9

bilhões de anos) até o presente. A projeção do PUM prediz um valor de 187Os/188Os

atual de 0,1296 ± 0,0008 (Meisel et al., 2001), assumindo as correlações existentes

entre 187Os/188Os e os índices geoquímicos de ‘fertilidade’ (e.g. Lu e Al2O3)

extrapolados para uma razão isotópica de ósmio do manto não-empobrecido.

Vale ressaltar a similaridade da composição isotópica de Os entre o PUM e o

DMM. Esta similaridade sugere que pouca crosta oceânica enriquecida em Re ficou

armazenada no manto inferior e isolada por longos períodos de tempo do manto

superior convectivo (Meisel et al., 2001). Outra possibilidade para explicar essa

semelhança foi levantada por Becker (2000), através do estudo de eclogitos, os

Page 97: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

96

quais podem representar pedaços de crostas oceânicas antigas subductadas. Seu

estudo revelou que cerca de 60% do Re é removido durante subducção da litosfera,

sendo que esse elemento fica retido na cunha do manto durante subducção e pode

ser subseqüentemente misturado ao manto superior por convecção.

Em síntese, embora não seja possível conhecer a priori a composição

isotópica de ósmio e a razão Re/Os da Terra Silicatada, devido aos processos de

acreção tardia, é aparente, a partir dos estudos da sistemática de ósmio em

xenólitos peridotíticos férteis, que a composição isotópica de 187Os do PUM moderno

é da mesma ordem daquele de meteoritos condríticos, especialmente aqueles

ordinários e os do tipo enstatita, ao invés dos carbonáceos (Meisel et al., 2001;

Walker, 2009).

5.1.3. Ósmio na litosfera continental

De acordo com Pearson & Nowell (2002), o manto litosférico continental é um

reservatório mantélico volumetricamente pequeno (cerca de 2,5% do manto), distinto

quimicamente e que tem desempenhado um papel muito importante na fonte do

magmatismo continental e oceânico.

O SCLM é a camada que subjaz à descontinuidade de Moho e abrange o

topo do manto superior sobrejacente a astenosfera, podendo ser considerado como

uma região de transição mecânica, térmica e química entre a crosta e o manto. Ela

desempenha um importante papel na interação e evolução do sistema convectivo

manto – manto litosférico – crosta. A composição, estrutura, formação e evolução do

SCLM são tópicos atualmente bastante debatidos na literatura.

Page 98: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

97

Do ponto de vista geoquímico, existem três tipos de materiais geológicos

diretamente provenientes do SCLM: (1) peridotitos tectônicos tipo alpino; (2)

xenólitos peridotíticos contidos em kimberlitos e (3) xenólitos peridotíticos contidos

em basaltos alcalinos. A vasta maioria dos xenólitos do manto pertence a duas

categorias: peridotitos (mineralogia dominada por olivina) e eclogitos (mineralogia

dominada por piroxênios). Segundo Hauri (2002), o termo “eclogito” indica uma

rocha dominantemente máfica com baixa abundância de olivina (menor do que

30%).

Muitos trabalhos geoquímicos, incluindo elementos maiores, terras raras e

outros elementos traço, assim como de sistemas isotópicos, foram efetuados em

xenólitos peridotíticos produzindo resultados importantes para o entendimento do

SCLM (Basu & Hart, 1996; Hofmann, 1997). Entretanto, nenhuma melhoria

significante acerca da idade de formação do SCLM foi conseguida antes da

aplicação do sistema isotópico Re-Os (Walker et al., 1989; Pearson et al., 1995;

Meisel et al., 1996).

Sistemas isotópicos, tais como Rb-Sr, Sm-Nd, U-Th-Pb não conseguem

fornecer a idade de formação de peridotitos derivados do manto, uma vez que todos

eles são elementos litófilos, e como tal mostram características de elementos

incompatíveis durante a evolução manto-crosta, sendo exauridos no manto residual.

A formação do manto litosférico está tipicamente ligada aos eventos de

extração de magmas, bem aos processos de estabilização do manto refratário

empobrecido em elementos maiores, o qual claramente possui baixo conteúdo de Fe

e Ca, e alto de Mg e Si relativo ao manto fértil. O SCLM é principalmente formado

pelo resfriamento dos materiais residuais da astenosfera após a formação da crosta.

Page 99: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

98

Esse processo é representado mineralogicamente através da transição de lherzolito

(olivina + ortopiroxênio + clinopiroxênio + granada ou espinélio) para harzburgito

(olivina + ortopiroxênio) para dunito (apenas olivina). Diversos estudos têm mostrado

que o componente dominante do manto litosférico continental é o harzburgito ou

dunito refratário, materiais que são produzidos somente nos mais altos graus de

fusão parcial do manto.

Ao contrário das outras razões isotópicas (Sr, Nd e Pb) que fornecem

informações acerca dos eventos de enriquecimento em elementos menores e traços

(Hawkesworth et al., 1999), o esquema de decaimento de Re-Os (187Re → 187Os)

mostrou-se útil em determinar idades de empobrecimento de elementos maiores,

uma vez que Re é moderadamente incompatível e Os é compatível no manto

superior. Além disso, as razões isotópicas de Os são pouco modificadas em

resposta a subseqüentes processos de enriquecimentos relacionados a fluidos e/ou

magmas do que, por exemplo, as razões de 87Sr/86Sr ou 143Nd/144Nd, pois os

peridotitos residuais tem um conteúdo de Os muito mais elevado do que a maioria

dos fluidos e/ou magmas metassomáticos. Dessa forma, isótopos de Os são

particularmente apropriados para investigar a história de empobrecimento de fontes

no manto litosférico, especialmente aquelas que possuem menores razões Re/Os do

que a fonte de MORB (Walker et al., 1989; Shirey & Walker, 1998).

Em síntese, como discutido acima, o manto residual (harzburgito e/ou dunito)

possuirá concentração de Re mais baixa e de Os mais alta do que a do manto fértil

ou algum outro líquido gerado no manto. A composição isotópica de 187Os/188Os da

maioria dos peridotitos estudados (Shirey & Walker, 1998), varia de 0,105 a 0,129

(γOs varia de -17,3 a +1,6), com uma média de 0,113 (γOs = -11,0). A composição do

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

99

manto litosférico subcontinental é significativamente mais baixa do que os valores

estimados para o manto convectivo (0,123 – 0,129; Meisel et al., 1996). Exceções

existem em xenólitos lherzolíticos e harzburgíticos oriundos de arcos de ilhas, que

possuem baixas concentrações de Os (0,1–2,1 ppb) e 187Os/188Os (0,1277–0,1338)

e são interpretados como provenientes da cunha do manto sobrejacente à zona de

subducção (Brandon et al., 1996). Segundo esses pesquisadores, a composição

isotópica de xenólitos dessa região varia em torno de 5% acima e abaixo da

composição condrítica.

Como destacado por Carlson et al. (2005), a conseqüência básica do

processo de extração de magma em graus elevados é a formação de peridotito

empobrecido, menos denso do que o peridotito fértil na mesma temperatura. Desta

forma, existem diferenças composicionais entre o SCLM arqueano e pós-arqueano.

O SCLM arqueano possui uma composição altamente refratária (resultante de

grandes graus de extração de magma), sendo dessa forma gravitacionalmente

estável (densidade mais baixa). Em contrapartida, o SCLM pós-Arqueano sofreu

menos extrações de magmas, podendo ser, portanto, menos estável

gravitacionalmente devido à sua maior densidade maior densidade. Nesse contexto,

processos de erosão convectiva ou de delaminação de manto litosférico continental

têm sido propostos para explicar o rápido soerguimento e magmatismo de alguns

orógenos continentais mesozóicos.

Além disso, existe também uma diferença na composição isotópica de ósmio

entre peridotitos oriundos de regiões cratônicas daquelas de regiões não-cratônicas.

A composição isotópica de ósmio em xenólitos peridotíticos de regiões não-

cratônicas é de γOs = -1,5 (Pearson et al., 2003), próximo da composição condrítica.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

100

Em contrapartida, xenólitos peridotíticos de regiões cratônicas possuem uma

composição isotópica de ósmio extremamente não-radiogênica, com uma média de

γOs = -10,3 (estendendo-se a valores de γOs = -17,3; Pearson et al., 2003).

Composições extremamente não-radiogênicas (gama de ósmio muito negativo), são

características notórias do manto arqueano amostrado como xenólitos peridotíticos

(Pearson et al., 2003). Vale ressaltar que as composições isotópicas de ósmio em

xenólitos peridotíticos oceânicos sobrepõem-se significativamente às de xenólitos

peridotíticos continentais não-cratônicos (Pearson et al., 2003).

5.1.4. Ósmio na crosta continental

Embora a crosta continental constitua somente 0,6% da massa silicatada da

Terra, ela contém uma grande proporção de elementos incompatíveis, incluindo os

elementos produtores de calor e membros de sistemas isotópicos radiogênicos (Rb-

Sr, U-Pb, Sm-Nd, Lu-Hf).

Como discutido anteriormente, Re comporta-se como um elemento

moderadamente incompatível, enquanto Os comporta-se como um elemento

fortemente compatível durante a fusão do manto. Deste modo, os produtos de fusão,

tais como materiais crustais, terão Re/Os muito alto em relação ao resíduo mantélico

e rapidamente acumulará 187Os radiogênico.

Ainda que a crosta seja o menor reservatório terrestre, o imenso contraste na

composição isotópica entre o manto geralmente condrítico (187Os/188Os ~ 0,127) e a

crosta continental altamente radiogênica (187Os/188Os > 0,8; valores de γOs variam de

+330 a +22.000) fornece um mecanismo sensível para examinar a interação entre

contaminantes crustais com os produtos de fusão do manto (particularmente

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

101

basaltos) contendo baixas abundâncias de Os, tipicamente menores do que 50 pg/g

(Esser & Turekian, 1993; Horan et al., 1995; Asmerom & Walker, 1998; Shirey &

Walker, 1998; Peucker-Ehrenbrink & Jahn, 2001).

Vale salientar que a crosta oceânica também possui uma composição

isotópica de Os radiogênica, já que a crosta oceânica é também enriquecida em Re

com relação ao Os. Todavia, o tempo de vida da crosta oceânica é inferior a 180 Ma,

deste modo, não consegue acumular tanto 187Os radiogênico quanto a crosta

continental.

5.1.5. Interação crosta-manto ou núcleo-manto

A geoquímica de OIB (Hofmann, 1997) e tomografia sísmica (Van der Hilst et

al., 1997) fornecem uma poderosa evidência de que o manto convectivo é

heterogêneo do ponto de vista térmico e químico. Contudo, a causa dessa

heterogeneidade é pobremente entendida. Tem sido proposto que a reciclagem de

litosfera oceânica (incluindo a crosta associada) em zonas de subducção é,

provavelmente, a causadora da heterogeneidade, re-enriquecendo o manto em

voláteis e elementos incompatíveis (Hofmann, 1997).

Tem-se tornado aparente que aproximadamente todas as manifestações

associadas a plumas exibem elevado 187Os/188Os, o qual requer o envolvimento de

fontes máficas, a maioria provavelmente através da reciclagem de crosta oceânica

no manto profundo (Hauri, 2002). Hauri & Hart (1993), Lassiter et al. (2000), Hauri

(2002) e Kogiso et al. (2004) sugerem que a composição isotópica de Os

radiogênica de OIB reflete a participação de litologias máficas (e.g. piroxenitos ou

eclogitos), os quais possuem altas razões Re/Os e 187Os/188Os. Isto contrasta com o

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

102

187Os/188Os (< 0,130) não-radiogênico encontrado na maioria dos peridotitos

analisados (Shirey & Walker, 1998).

Piroxenitos e eclogitos podem ser gerados através da hibridização do manto

peridotítico com componentes reciclados (Sobolev et al., 2005; Sobolev et al., 2007)

ou via metassomatismo intra-manto de alta temperatura, similar àquele invocado

para litosfera oceânica (Pilet et al., 2008). Cabe salientar que a maioria desses

piroxenitos possui concentrações de Os muito mais baixas do que as dos peridotitos.

Em contraste, concentrações de elementos traço incompatíveis, tais como Sr, Nd e

Pb, são geralmente mais altas em piroxenitos do que em peridotitos (Hirschmann &

Stolper, 1996), indicando que a interação de piroxenitos ou de fusões derivadas de

piroxenitos com o manto peridotítico poderia facilmente suprimir a assinatura de Os

radiogênico do piroxenito, mas não afetaria significativamente a assinatura de outros

elementos traço incompatíveis.

Vale salientar que os magmas produzidos através de fusão parcial de

piroxenito geram concentrações de Os similares à sua fonte, já que este possui

temperatura do solidus mais baixa do que a do peridotito (Hirschmann & Stolper,

1996), fundindo quase que completamente.

Um estudo realizado por Day et al. (2009), mostrou que as lavas das ilhas

Canárias, com assinaturas isotópicas enriquecidas, foram geradas através de fontes

mantélicas ricas em piroxenitos metassomatisados por componentes reciclados

(<10% de piroxenitos oriundos de litosfera oceânica).

Uma explicação alternativa para o Os radiogênico encontrado nos OIB e

províncias de derrames basálticos é que o magma foi derivado de uma seção do

manto inferior que experimentou interações químicas com o núcleo externo (Walker

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

103

et al., 1995; Brandon et al., 1998, 1999). De acordo com Brandon & Walker (2005),

plumas mantélicas, que foram originadas no limite núcleo–manto, podem gerar

magmas que carregam informações composicionais acerca da diversidade de

materiais situados no manto inferior. A evidência é um excesso de 187Os relativo a

188Os o qual é positivamente correlacionado com um excesso de 186Os relativo a

188Os em alguns OIB e províncias basálticas. Anomalias na razão 187Os/188Os são

devidas ao decaimento-β de 187Re para 188Os, enquanto aquelas na razão

186Os/188Os são causadas pelo decaimento-α de 190Pt para 186Os. Walker et al.

(1995, 1997) propuseram que a cristalização do núcleo interno (sólido) fracionou o

núcleo externo, produzindo elevadas razões Pt/Os e Re/Os, e que a re-injeção de

material do núcleo ao manto foi o causador de correlações positivas entre

187Os/188Os e 186Os/188Os em algumas plumas.

5.1.6. Isótopos de Os e componentes do manto

A existência de heterogeneidades químicas de longo período no manto foi

observada há mais de 40 anos através de análises isotópicas de vários OIB e de

MORB. Tal variabilidade não é randômica, mas parece se relacionar a um número

limitado de componentes do manto, que possuem características químicas e

isotópicas distintas (e.g. Zindler & Hart, 1986; Hofmann, 2003). Por conta disso,

algumas razões isotópicas, tais como 87Sr/86Sr, 143Nd/144Nd e 3He/4He, bem como de

Pb (206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/204Pb) e de Os (187Os/188Os, 186Os/188Os),

requerem que, no mínimo, algumas dessas heterogeneidades sejam antigas (e.g.

Zindler & Hart, 1986; Hofmann, 2003). Vale ressaltar que a natureza exata desses

componentes é ainda um assunto de considerável debate (Hofmann, 2003).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

104

Dos cinco membros finais, conforme sugerido por Zindler & Hart (1986) e Hart

et al. (1992), destaca-se que a distinção entre os membros finais “empobrecidos”

(DMM e FOZO) e “enriquecidos” (EM-I, EM-II e HIMU) é elucidada com os dados de

187Os/188Os, não necessitando de componentes mantélicos adicionais (Shirey &

Walker, 1998). As características que se destacam na sistematização dos membros

finais são:

DMM

Este reservatório é empobrecido em elementos incompatíveis, como resultado de

processos de fusão que produziram os MORB. Segundo Shirey & Walker (1998),

este reservatório possui razões de 187Os/188Os (187Os/188Os entre 0,1230 – 0,1281

(média = 0,125); γOs = -3,1 a +0,6) mais baixos do que os valores medidos para

todas as classes de meteoritos condríticos (187Os/188Os ~ 0,127; γOs = 0,0) e para as

estimativas do PUM (187Os/188Os ~ 0,129; γOs = +1,6). Isto está de acordo com o

esperado para reservatórios terrestres, uma vez que o elemento incompatível Re,

removido relativamente ao elemento compatível Os, desenvolveu baixas razões

Re/Os através de repetidos eventos de fusão do manto (no tempo geológico). Esta

conclusão é consistente com a composição isotópica empobrecida de Sr e Nd no

manto superior (Shirey & Walker, 1998; Hauri, 2002).

É importante salientar que peridotitos abissais são resíduos do manto, após a

geração dos MORB e, como tal, são presumivelmente representativos do DMM

(Hauri, 2002). Peridotitos abissais contém, na média, 50 a 1000 vezes mais Os do

que MORB típicos (Brandon et al., 2000), sendo assim resistentes a alterações pela

água do mar. No entanto, Schiano et al. (1997) observaram grandes variações de

187Os/188Os (de 0,127 a > 0,2), sendo que as mais radiogênicas foram interpretadas

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

105

como sendo causadas pela interação com água do mar. Por outro lado, as variações

isotópicas encontradas nos MORB podem estar relacionadas às suas fontes,

refletindo grandes heterogeneidades isotópicas de Os no manto superior. Logo, os

membros finais com Os mais radiogênico podem consistir de veios piroxeníticos ou

eclogíticos caracterizados pela alta razão de Re/Os.

FOZO

Este membro final tem também sido chamado de PHEM (primitive He mantle) ou C

(common component). A principal característica do componente FOZO é sua alta

razão 3He/4He, a qual pode ser indicativa de um reservatório relativamente não

desgaseificado. A fonte deste material não desgaseificado tem sido atribuída ao

manto inferior (alto em 3He; Hart et al., 1992). Alta razão 3He/4He pode ser resultante

da alta abundância de 3He (hélio cosmogênico), e isto tem sido usado para

argumentar que o manto inferior não foi desgaseificado em voláteis primordiais.

Vale ressaltar que 4He é um produto de decaimento de U e Th, acumulando-se

através do tempo. Tal acumulação é mais rápida em rochas que são ricas em U e

Th, porém, muito mais lenta em rochas que contém baixas concentrações desses

dois elementos. O conteúdo de U e Th em rochas do manto e materiais reciclados

varia de 3 ou 4 ordens de magnitude, logo, grandes variações nas razões de

3He/4He podem se desenvolver. De acordo com Shirey & Walker (1998), o

componente FOZO representa o componente de pluma enriquecida (EP – enriched

plume). Segundo estes pesquisadores, o EP é um componente mais enriquecido em

187Os/188Os (0,132 – 0,135; γOs = +2,4 a +6,3) do que o DMM (0,1246). Várias linhas

de evidências sugerem que o manto inferior pode ser o local de tais fontes

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

106

enriquecidas em Os (Shirey & Walker, 1998). Por outro lado, a composição de Os

radiogênico em plumas pode indicar uma interação do manto com o núcleo externo.

HIMU

Este componente é distinto do DMM primariamente pelo Pb radiogênico (206Pb/204Pb

> 20) e Os (187Os/188Os = 0,150; γOs = +18,1; Shirey & Walker, 1998). Segundo

Carlson (1995), exemplos extremos de HIMU são raros e ocorrem somente nas ilhas

oceânicas de Santa Helena (Atlântico Sul) e ilhas Cook-Austral e Tubuai – Mangaia.

HIMU é caracterizado por um empobrecimento em elementos incompatíveis, como

DMM, mas é moderadamente enriquecido em U, altamente exaurido em Pb e possui

alta razão Re/Os comparado ao DMM (ressaltado por Carlson, 1995). Este

componente tem sido interpretado como sendo crosta oceânica antiga reciclada

através da convecção mantélica (Shirey & Walker, 1998). Segundo esses autores,

HIMU é facilmente entendido através da perspectiva isotópica de Os, uma vez que

possui correlações positivas entre Pb e Os radiogênico (modelo de reciclagem de

crosta oceânica antiga).

EM-I

É um dos reservatórios mais enigmáticos em termos dos processos petrogenéticos

relacionados à sua origem. Esse componente pode ser explicado através da mistura

de vários componentes, tais como sedimentos pelágicos e/ou terrígenos, manto

litosférico subcontinental (SCLM), platô oceânico antigo, crosta oceânica e crosta

continental inferior (Lustrino & Dallai, 2003).

Estes materiais poderiam ser reciclados via (1) subducção; (2) processos de

delaminação e/ou desmembramentos; (3) erosão térmica via manto anomalamente

aquecido numa astenosfera variavelmente empobrecida. Poucas análises foram

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

107

efetuadas em lavas EM-I e todas possuem baixas concentrações de Os, fazendo-o

susceptível à contaminação litosférica (Shirey & Walker, 1998). Logo, definir uma

interpretação geológica para tal componente torna-se bastante complexa.

Entretanto, o EM-I parece possuir elevada razão 187Os/188Os (~ 0,152; γOs = +19,7),

tão alta quanto aquelas das ilhas HIMU (Shirey & Walker, 1998). Segundo estes

pesquisadores, o envolvimento de reciclagem de um manto metassomatisado ou

crosta continental inferior são os prováveis candidatos para explicação da gênese

desse membro-final. Vale ressaltar que nesse modelo é assumido um SCLM

recentemente metassomatisado, logo, não possuindo assinaturas de 187Os/188Os

típicas de SCLM isolado por um longo período de tempo e caracterizado por

187Os/188Os não radiogênico. A crosta continental inferior pode ser amplamente

introduzida no manto durante o rifteamento continental, e pode ser responsável por

algumas das heterogeneidades de elementos traço e isotópicas no manto superior.

EM-II

Esse componente se distingue do EM-I por possuir composições isotópicas de Sr e

Pb mais radiogênicas. Este componente possui 187Os/188Os ~ 0,136 e γOs = +7,1. As

fontes mantélicas das ilhas oceânicas EM-II podem ter sido produzidas através da

reciclagem de crosta oceânica, desde que a fonte contenha uma menor parcela de

crosta comparada às fontes das ilhas HIMU, ou tenha diferentes razões de U/Pb,

Re/Os ou idade (Shirey & Walker, 1998). Os dados sugerem também reciclagem de

sedimentos da crosta continental juntamente com a crosta oceânica. Além disso,

não é possível descartar o envolvimento de pequenas quantidades de SCLM nas

fontes de ilhas EM-II com os dados de isótopos de Os, especialmente se o SCLM

não for empobrecido e tenha sido recentemente metassomatisado.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

108

5.2. Elementos Altamente Siderófilos (HSE)

As concentrações de HSE foram obtidas nas 11 amostras selecionadas,

sendo que análises em duplicata foram efetuadas em algumas amostras. Como

somente uma duplicata foi feita para cada amostra (BTi), é difícil aferir acerca da

reprodutibilidade. As maiores discrepâncias entre análises duplicatas provavelmente

indicam heterogeneidades em pequena escala na distribuição dos HSE dentro de

alíquotas da mesma rocha pulverizada, comumente denominada de “efeito nugget”.

Entretanto, os padrões de HSE normalizados em relação aos condritos são muito

similares (Figura 5.1), indicando que o efeito nugget contribui de forma mínima na

concentração final dos dados obtidos.

Antes de discutir acerca da distribuição dos HSE nos basaltos investigados,

serão assinalados alguns aspectos e/ou efeitos importantes desses elementos nos

processos de diferenciação.

Normalmente, os efeitos de fusão parcial podem ser claramente observados,

através do conteúdo de HSE, em rochas geradas por altos graus de fusão parcial,

por exemplo, komatiítos (Puchtel et al., 2004; 2005), e por menores graus de fusão,

tais como rochas do tipo MORB (Peucker-Ehrenbrink et al., 2003).

As abundâncias de magmas primários são basicamente controladas pela

presença ou ausência de fases-traço no resíduo da fusão. Sulfetos, em particular,

são importantes “incorporadores” dos HSE no manto, embora os IPGE (Iridium-PGE;

Os, Ir e Ru) sejam também incorporados por outras fases, incluindo ligas de Os-Ir-

Ru (Luguet et al., 2007). Os IPGE são tipicamente incorporados em Mss (solução

sólida mono-sulfetada), os quais são freqüentemente incorporados em fases

silicáticas (Luguet et al., 2007).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

109

Figura 5.1: Padrões de elementos altamente siderófilos (HSE) dos basaltos toleíticos da PMP. Os basaltos baixo-Ti diferem do alto-Ti por possuírem maiores razões de Pd/Ir e Pt/Ir. PUM (Primitive Upper Mantle) representa os peridotitos férteis antes da remoção de material do manto superior (Becker et al., 2006). UCC (Upper Continental Crust) representa a crosta continental superior.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

110

Os PPGE (Platinum–PGE; Pt e Pd) são comumente incorporados pelos

sulfetos de Cu, os quais são usualmente encontrados em fases intersticiais (Alard et

al., 2000). Rênio, por outro lado, não é tão claramente controlado por esse processo

de particionamento inter-sulfetos. Rênio, normalmente, permanece moderadamente

incompatível durante fusão do manto e pode ser controlado pelo particionamento

silicático. Então, um forte enriquecimento de Re é uma característica comum na

maioria dos magmas derivados do manto (Peucker-Ehrenbrink et al., 2003).

Mais altos graus de fusão parcial (>20%), tal como komatiítos, são

comumente insaturados em enxofre. Conseqüentemente, os HSE podem ser

eficientemente removidos da fonte, uma vez que os sulfetos são inteiramente

incorporados à fase líquida. Tais magmas tendem a possuir padrões de HSE,

normalizados em relação aos condritos, horizontalizados, resultando em razões Pd/Ir

aproximadamente condríticas. Por conta disso, os magmas produzidos por alto grau

de fusão parcial possuirão abundâncias absolutas mais altas, em comparação às de

outras rochas máficas (Puchtel et al., 2004; 2005).

Inversamente, magmas produzidos por mais baixos graus de fusão parcial

(<20%), tal como a maioria dos basaltos, tendem a ser saturados em enxofre,

resultando numa dissolução incompleta de sulfetos na fonte mantélica. Nestes

casos, os PPGE podem ser eficazmente fracionados do IPGE como sulfetos ricos

em Cu, fundidos antes do Mss, resultando em magmas com altas razões Pd/Ir.

É importante destacar que, comumente, o comportamento de Re e PGE

durante processos de fusão parcial são investigados em amostras basálticas com

MgO > 9,5%, conforme destacado por Rehkämper et al. (1999). Por conta disso,

evitou-se fazer afirmações conclusivas utilizando esses elementos para a

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

111

caracterização dos basaltos toleíticos investigados neste trabalho, já que as

composições de MgO são geralmente inferiores a 7,5%.

As concentrações de ósmio das amostras analisadas variam de 0,033 ng/g a

0,125 ng/g (Figura 5.2), sendo ligeiramente mais elevadas que os MORB (0,001–

0,05 ng/g), mas situando-se dentro do intervalo típico (0,01–0,5 ng/g) de OIB (Shirey

& Walker, 1998).

As concentrações de rênio variam de 0,55 ng/g a 1,07 ng/g (Figura 5.2). Em

contraste ao conteúdo de ósmio, as concentrações de rênio são mais típicas de

MORB (0,5–2 ng/g) do que de OIB (0,1–1 ng/g) (Shirey & Walker, 1998).

De uma maneira geral, todas as amostras são fortemente empobrecidas em

Os, Ir e Ru em relação aos elementos Pt, Pd e Re (Figura 5.1). As concentrações de

Pd variam de 1,7 ng/g a 11,6 ng/g, sendo o Pd, dentre os HSE, o que apresentou a

maior variação de concentração (Figura 5.2). Essa diferença provavelmente reflete

processos relacionados ao fracionamento cristal–líquido durante ou subseqüente à

fusão, já que esse elemento é “fortemente” incompatível.

As concentrações de irídio variam de 0,022 ng/g a 0,071 ng/g (BTi) e 0,087–

0,201 ng/g (ATi), enquanto as de rutênio se situam entre 0,16–0,24 ng/g (BTi) e

0,08–0,15 ng/g (ATi) (Figura 5.2).

Observa-se a existência de algumas diferenças nos conteúdos dos HSE entre

os basaltos BTi e ATi. Em geral, os basaltos ATi têm concentrações mais elevadas

de Ir e Re, e mais baixas concentrações de Ru, Pd e Pt, relativo aos basaltos BTi.

Consistente com isto, as razões Pd/Ir variam de ~140 a ~380 nos basaltos BTi,

enquanto nos basaltos ATi o alcance é de ~20 a ~40, exceto para a amostra FL-98

(magma-tipo Urubici), cuja razão Pd/Ir é de ~102. Devido à compatibilidade de Os, Ir

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

112

e “Re”, e devido à incompatibilidade de Pd durante o processo de fusão parcial, tem

sido sugerido que o baixo grau de fusão parcial pode produzir um magma que é

enriquecido em Pd, empobrecido em Ir, Os e Ru, e, deste modo, gerar alta razão de

Pd/Ir (Alard et al., 2000).

Por outro lado, graus mais elevados de fusão podem também produzir

magmas com baixas razões Pd/Ir, uma vez que durante a fusão parcial, os

elementos mais incompatíveis são os primeiros a se concentrarem na fase líquida, e

com o aumento do grau de fusão, os elementos menos incompatíveis vão também

se concentrando na fase líquida, podendo, desta forma, diluir o conteúdo de Pd no

magma final.

A mais baixa razão de Pd/Ir nos basaltos ATi comparado à mais alta razão

Pd/Ir nos basaltos BTi poderia, neste contexto, refletir diferentes graus de fusão

parcial. Contudo, esta interpretação é inconsistente com estudos anteriores, os quais

têm assinalado que os magmas alto-Ti foram produzidos por graus de fusão mais

baixos que os magmas baixo-Ti (e.g. Piccirilo & Melfi, 1988; Peate, 1997).

Evidências para isto incluem a observação de maiores razões La/Yb nos basaltos

alto-Ti, as quais têm sido explicadas como reflexo da retenção de granada na fonte,

como também resultado de menores graus de fusão parcial. Assim, as diferenças

nas abundâncias de HSE entre os basaltos BTi e ATi podem ser o resultado de

processos de fracionamento de sulfetos e silicatos que reduzem os conteúdos de Pd

e Ir nos magmas.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

113

Figura 5.2: Diagramas de variação de (a) Os, (b) Ir, (c) Ru, (d) Pt, (e) Pd, (f) Re, em função de MgO (%) das rochas investigadas neste estudo.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

114

Vale ressaltar que todos os basaltos alto-Ti mostram anomalias negativas de

Ru no diagrama de HSE normalizado em relação aos condritos (Figura 5.1). Esta

anomalia de Ru pode indicar fracionamento de laurita (Ru, Os, Ir)S2 ou ligas de Os-

Ir-Ru nos magmas primários, como também através da co-precipitação de laurita

com cromita ou olivina (Rehkämper et al., 1999). Tem sido documentado que laurita

é estável até ~ 1275°C e é substituída por ligas de Ru em mais altas temperaturas

(Brenan & Andrews, 2001). Portanto, tanto laurita, quanto ligas de Re-Os-Ir são

estáveis em temperaturas do liquidus de espinélio-cromita em magmas máficos (Qi

& Zhou, 2008). Devido à sua alta estabilidade térmica, laurita pode ser uma fase

magmática inicialmente primária e pode ser aprisionada em outras fases minerais

em cristalização, tais como espinélio-cromita (e.g. Righter et al., 2004)

A abundância de Ru se correlaciona positivamente com o conteúdo de MgO

(Figura 5.2). Estes elementos normalmente podem estar ligados ao fracionamento

de olivina ou fases associadas (i.e. cromita ou fases presentes em níveis de traço

enriquecidas em PGE). Pt, Pd e Re não possuem claras correlações com o

conteúdo de MgO (Figura 5.2). Estes elementos exibem um comportamento

modestamente incompatível a modestamente compatível durante processos de

cristalização fracionada.

Nos gráficos de Cr e Ni versus Ru e Os (Figura 5.3), os basaltos investigados

exibem correlações positivas (com exceção de algumas amostras BTi nas Figuras

5.3b e 5.3d), que podem indicar que sulfetos portadores de Cu (PPGE são

incorporados por estes sulfetos) foram as primeiras fases a se fundirem, mesmo que

de forma incompleta, já as concentrações dos IPGE diminuem com a diminuição de

Cr e Ni, como também ocorre com o índice de fracionamento (MgO; Figura 5.2).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

115

Figura 5.3: Diagrama de variação Cr e Ni versus Ru e Os das rochas investigadas neste estudo.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

116

5.3. Sistemática isotópica de Re-Os

As razões 187Re/188Os nos basaltos investigados variam de ~30 a 90. Os

dados exibem ainda uma tendência linear no gráfico de 187Re/188Os versus

187Os/188Os e definem uma isócrona de boa qualidade, considerando que as

amostras são de diferentes regiões da PMP (Figura 5.4), indicando também uma

fonte isotopicamente homogênea em termos 187Os/188Os. A isócrona formada por 11

pontos (incluindo médias com as análises de duplicatas) forneceu uma idade de

131,6 ± 2,3 Ma, uma razão inicial de 187Os/188Os de 0,1295 ± 0,0018 (γ187Os = +2.7 ±

1.4) e um MSWD de 4,5 (Figura 5.4).

Os resultados obtidos são consistentes com as idades obtidas em trabalhos

pretéritos efetuados em basaltos da PMP, onde um grande número de datações de

alta precisão pelo método 40Ar/39Ar e estudos paleomagnéticos indicaram que o pico

de atividade magmática extrusiva ocorreu em cerca de um milhão de anos (133-132

Ma; Renne et al., 1992; Turner et al., 1994; Thiede & Vasconcelos, 2010).

Utilizando como idade de regressão aquela obtida neste estudo (~131,6 Ma),

foram calculados os valores de γOs, os quais variam somente de +1,5 a +4,2. Se

valores de γOs forem calculados utilizando a idade de 133 Ma (baseada em datação

40Ar/39Ar), um valor similar de γOs seria obtido, variando somente de +0.3 to +3.5.

Dada a incerteza de ±1 γOs em valores individuais, nota-se uma variação muito

pequena nos basaltos da PMP. Este resultado contrasta com o amplo intervalo

reportado em outras CFB (e.g. Ellam et al., 1992; Qi & Zhou, 2008). Esta variação

extremamente pequena nos dados de isótopos de Os pode refletir leves

heterogeneidades de longa duração nas razões Re/Os entre as regiões-fonte

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

117

envolvidas ou ainda um sistema complexo de geração de magmas, que pode ter

atenuado heterogeneidades mais significativas presentes nas fontes.

A razão inicial de 187Os/188Os dos basaltos BTi (Esmeralda) e ATi

(Paranapanema, Pitanga e Urubici) situa-se entre 0,1284 e 0,1315 (γOs:+1,8 a +4,2)

e entre 0,1280 e 0,1296 (γOs:+1,5 a +2,8), respectivamente (Figura 5.5). Essa razão

é muito próxima do limite superior das estimativas do manto empobrecido (DMM:

187Os/188Os entre 0,123 – 0,128; γOs = -3,1 a +0,6), as quais foram obtidas a partir de

estudos de peridotitos abissais e ofiolíticos (Walker et al., 2002; Schulte et al., 2009).

Assumindo-se que a composição isotópica inicial obtida através da regressão

na isócrona (Figura 5.4), e misturando-a com composições típicas de crosta

continental (Figura 5.5; curva vermelha pontilhada), nota-se que não houve

processos de contaminação crustal, e se esta ocorreu, foi num nível muito reduzido

(< 1%). Deste modo, os valores de γOs parecem ser inconsistentes com algum

processo apreciável de contaminação crustal.

Uma vez que a contaminação crustal foi descartada, os dados da composição

isotópica de ósmio, integrados aos resultados dos outros isótopos, foram analisados

em detalhe com o objetivo de obter informações sobre a fonte dos basaltos da PMP.

Dados de pesquisas anteriores baseadas nas relações isotópicas de Sr-Nd-Pb (e.g.

Piccirillo & Melfi, 1988; Peate, 1997; Marques et al., 1999) foram interpretados pelo

envolvimento predominante do componente EMI, com mínima participação do

componente EMII.

Page 119: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

118

Basaltos da PMP(ATi e BTi)

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0 20 40 60 80 100187Re/188Os

187 O

s/18

8 Os

Model 3 Solution (±95%-conf.)Idade = 131.6 ± 2.3 Ma187Os/188Os i = 0.1295 ± 0.0018MSWD = 4.5

Figura 5.4: Isócrona 187Re/188Os versus 187Os/188Os dos basaltos toleíticos da PMP investigados neste trabalho. Os erros experimentais são menores do que o tamanho dos símbolos que representam os dados. Os dados foram regredidos e a isócrona foi gerada usando o programa Isoplot (Ludwig, 2008).

Page 120: EDUARDO REIS VIANA ROCHA JÚNIOR SISTEMÁTICA

Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

119

Contudo, esta interpretação parece ser inconsistente sob a ótica dos isótopos

de ósmio, já que nenhuma amostra individual parece sugerir o envolvimento de

ósmio substancialmente mais radiogênico, como seria característico dos

componentes EMI (γOs > +12) ou EMII (γOs > +7) (Figura 5.6). Da mesma maneira,

pode-se também descartar o envolvimento do componente HIMU (γOs > +18,1) na

gênese dos basaltos da PMP (Figura 5.6).

Por outro lado, a origem da PMP tem também sido comumente ligada à pluma

de Tristão da Cunha (e.g. Richards et al., 1989; White & McKenzie, 1989; Gibson et

al., 1995; Ewart et al., 1998). Contudo, alguns pesquisadores (e.g. Peate &

Hawkesworth, 1996; Peate, 1997; Marques et al., 1999) têm reportado diferenças

composicionais e isotópicas (Sr-Nd-Pb) substanciais entre os basaltos da PMP e as

rochas alcalinas da ilha de Tristão da Cunha, sendo que as primeiras tendem a

possuir menores razões de 208Pb/204Pb. Nesse contexto, as razões isotópicas de

187Os/188Os também parecem ser inconsistentes com o envolvimento da pluma de

Tristão da Cunha, visto que as rochas originadas em plumas possuem, geralmente,

valores de γOs > +4.

Os resultados obtidos nos basaltos da PMP permitem também afirmar que

não existem evidências do envolvimento exclusivo de SCLM antigo (Proterozóico ou

Arqueano) em sua gênese, uma vez que os basaltos originados por fusões de SCLM

seriam caracterizados por γOs < 0. Por outro lado, caso o manto litosférico tenha sido

removido e substituído pelo manto astenosférico, uma razão de 187Os/188Os mais

radiogênica (0,122 – 0,130) seria esperada (Shirey & Walker, 1998).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

120

Figura 5.5: Razão isotópica inicial de 187Os/188Os (em 131,6 Ma) versus 1/Os. A falta de correlação sugere assimilação insignificante de crosta continental radiogênica (linha de mistura em vermelho) ou SCLM não radiogênico. A estimativa do manto primitivo (sem incerteza) de Meisel et al. (2001), composição dos condritos Carbonaceous (sem incerteza) de Walker et al. (2002) e SCLM de Shirey & Walker (1998) são também mostradas na figura.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

121

Figura 5.6: Razão isotópica inicial de 187Os/188Os (em 131,6 Ma) versus (a) 206Pb/204Pbm; (b) 87Sr/86Sri (em 131,6 Ma). A composição aproximadamente condrítica dos basaltos investigados neste trabalho não sugere envolvimento dos componentes HIMU, EMI e EMII, os quais são extremamente radiogênicos em 187Os/188Os, na gênese da PMP.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

122

Em suma, os dados de concentração e composição isotópica de ósmio não

mostram evidências do envolvimento da pluma de Tristão da Cunha na gênese dos

basaltos da PMP e nem da participação exclusiva de SCLM antigo. Assim, tornou-se

fundamental investigar outros mecanismos que poderiam explicar os dados

isotópicos obtidos, conforme descrito a seguir.

5.4. Sistemáticas de mistura

Para explicar as composições isotópicas radiogênicas de ósmio nos basaltos

da PMP, de modo análogo ao que foi feito com os isótopos de Sr, Nd e Pb, foram

testadas possibilidades envolvendo processos de mistura, incluindo: (1) os

reservatórios mantélicos EM-I, EM-II, HIMU e FOZO; (2) manto litosférico

subcontinental (SCLM do Gondwana; Heinonen et al., 2010); (3) manto

astenosférico DMM metassomatisado (contaminado por veios piroxeníticos).

As composições de elementos traço e isotópicas dos reservatórios mantélicos

(EM-I, EM-II, HIMU e FOZO), bem como as do SCLM do Gondwana, utilizadas nos

cálculos de misturas encontram-se na Tabela 4.1, sendo que os principais

resultados da modelagem encontram-se nas Figuras 5.7 e 5.8, nas quais se nota

que misturas entre os componentes DMM com veios piroxeníticos, representado

pela amostra EN89-2 (websterito; Carlson & Irving, 1994 e Chesley et al., 2004) ou

entre o SCLM e componentes empobrecidos em olivina exibem bons ajustes.

Como discutido no capítulo anterior, subducções pretéritas e/ou delaminação

de crosta inferior podem ter contribuído para a geração de um componente

astenosférico com composição isotópica de ósmio e neodímio semelhante à dos

basaltos da PMP. Dessa forma, a composição isotópica do piroxenito (EN89-2) foi

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

123

calculada para idades distintas, assumindo-se que sua remoção do DMM ocorreu

nesses períodos e que desde então a evolução isotópica procedeu, mantendo-se a

mesmas concentrações e razões de Sm/Nd e Re/Os (147Sm/144Nd = 0,087,

187Re/188Os = 3,7). A idade mais jovem para o cálculo foi de 0,53 Ga, que

corresponde ao término da subducção do Oceano Clímene (0,53 Ga; Tohver et al.,

2010), enquanto a idade de 1,2 Ga corresponde à idade modelo (TDM), calculada

para os basaltos do norte da PMP. A título de ilustração foi também efetuado o

cálculo para a idade de 1,0 Ga e de 2,6 Ga (que corresponde ao TDM do piroxenito

EN89-2). Deste modo, nota-se que os basaltos investigados neste trabalho podem

ser explicados através de misturas envolvendo o componente DMM com veios

metassomáticos introduzidos na astenosfera em diferentes épocas (Figura 5.7).

Outro aspecto que deve ser observado é a coincidência da razão 187Os/188Os

dos basaltos da PMP com os xenólitos peridotíticos da Província Alcalina de Goiás

(GAP – Goiás Alkaline Province: 0,1261–0,1292; Carlson et al., 2007). As

composições férteis obtidas na análise dos xenólitos da GAP são, de fato, incomuns

para origem no SCLM, porque, muito embora a crosta seja relativamente antiga, o

manto subjacente parece ser dominado por manto fértil, o que não é uma

característica nem mesmo de SCLM proterozóico, caracterizado por 187Os/188Os não

radiogênico (e.g. < 0,122 nas amostras mais refratárias; Handler et al., 1997; Lee et

al., 2000). Entretanto, conforme assinalado por Carlson et al. (2007), não se pode

ainda afirmar acerca da idade de formação do manto litosférico dessa região, porém,

como será discutido em seguida, as rochas máficas alcalinas podem ser resultado

de fusões desse manto com intrusões de veios pobres em olivina. Partindo-se do

esquema proposto por Carlson et al. (2007) para explicar a gênese das rochas

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

124

máficas alcalinas da GAP, verificou-se que os basaltos BTi e ATi da PMP podem

também ser produtos de fusões do manto litosférico misturadas a menores frações

de componentes pobres em olivina (Figura 5.8).

Cabe destacar que misturas envolvendo os componentes DMM com EM-I,

EM-II e HIMU foram também calculadas, mas como as curvas não se ajustaram aos

dados isotópicos obtidos, em benefício da clareza elas não estão mostradas na

Figura 5.7.

5.5. Modelo Petrogenético

5.5.1 Processos metassomáticos no manto astenosférico e suas implicações

De uma maneira geral, foi mostrado que a fonte dos basaltos ATi foi

controlada por uma mistura do DMM com veios piroxeníticos calculados para 1,2 Ga

(< 20%), enquanto a dos BTi foi controlada por uma mistura do DMM com

piroxenitos calculados para 0,53 Ga (entre 30 e 50%) (Figura 5.7). Esses veios

piroxeníticos podem ter sido originados através de antigas subducções, processos

de delaminação litosférica e/ou pela entrada de crosta inferior no manto

astenosférico por causa do rifteamento. Como discutido anteriormente, os dados

isotópicos de Os dos basaltos PMP exibem uma variação extremamente pequena e

coincidente com os xenólitos peridotíticos do GAP, os quais possuem composição

atípica para SCLM. Entretanto, esse comportamento é um tanto similar ao ocorrido

em xenólitos peridotíticos Shanwang e Penglai de basaltos Cenozóicos localizados

em direção ao leste do Cráton do Norte da China, onde o manto litosférico mais

antigo parece ter sido removido nos últimos 300 Ma (Chu et al., 2009).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

125

Figura 5.7: Diagrama de γOs versus εNd para os basaltos investigados neste trabalho e possíveis reservatórios envolvidos na gênese da PMP. O diagrama exibe misturas binárias entre o DMM e: L1, L2, piroxenito EN89-2 (em 2,6 Ga, 1,2 Ga, 1,0 Ga e 0,53 Ga). Também é exibida uma mistura entre o componente de pluma (EP – Enriched Plume) e L2. As composições dos membros finais utilizados nos cálculos de misturas encontram-se na Tabela 4.1.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

126

Figura 5.8: Composição isotópica de 143Nd/144Nd versus 187Os/188Os ilustrando as relações de mistura entre peridotito e um componente empobrecido em olivina na fonte da PMP, análogo ao modelado por Carlson et al. (2007) para explicar a gênese do GAP e do APAP. As três curvas de misturas mostradas correspondem aos membros finais sugeridos listados na Tabela 8 do artigo de Carlson et al. (2007) e são identificados como: (1) peridotito arqueano com baixo 187Os/188Os e 143Nd/144Nd intrudido em 130 Ma por um magma com razão Sm/Nd similar àquela dos basaltos ATi da PMP e concentrações de Re e Os similares àquelas de fusões derivadas do manto normal. (2) peridotito fértil moderno intrudido em 130 Ma pelo mesmo magma usado no modelo-1; (3) peridotito arqueano exaurido (baixo 187Os/188Os, alto 143Nd/144Nd) intrudido em 900 Ma por um magma possuindo baixo Sm/Nd, alto conteúdo de LILE e baixas concentrações de Os; (4) os mesmos componentes utilizados no modelo-3, mas com o magma metassomático intrudindo em 1700 Ma. Vale salientar que as composições isotópicas sugeridas por Carlson et al. (2007) assumem que a mistura ocorreu em ~ 85 Ma, que corresponde a idade de erupção das rochas alcalinas máficas do GAP e APAP. Os pequenos símbolos (marcas) em cada curva representam incrementos a cada 10% do componente pobre em olivina na mistura.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

127

A Bacia intracratônica do Paraná está localizada sobre um terreno da

Plataforma Sul Americana que foi extensivamente afetado por eventos tectônicos,

metamórficos e magmáticos no período denominado de “Ciclo Brasiliano” (700-450

Ma; Piccirillo & Melfi, 1988). Neste contexto, é razoável propor que pode ter ocorrido

uma remoção do SCLM abaixo da Bacia do Paraná no Mesozóico (final do Jurássico

ou início de Cretáceo), fenômeno este que pode ter desmembrado a crosta inferior e

o SCLM nesta região. Contudo, o mecanismo causador da instabilidade na

densidade e afundamento é ainda uma questão em aberto.

Veios de piroxenitos podem ter sido originados através de reciclagem de

litosfera cratônica profunda. A reciclagem e fusão de crosta inferior eclogítica pode

contribuir mais para a heterogeneidade mantélica do que tem sido reconhecido até o

momento (Chu et al., 2009). Deste modo, os basaltos da PMP poderiam ser

derivados de um manto fértil, considerado aqui como o componente DMM, que foi

modificado pela interação com líquidos formados a partir do afundamento de

eclogitos, cujo processo pode estar associado ao mecanismo de rifteamento.

Assim, manto litosférico cratônico antigo pode ter sido removido da base do

Bloco Paranapanema, assim como abaixo do GAP, durante o Mesozóico e foi

substituído por um manto litosférico mais jovem e menos refratário (manto fértil).

Entretanto, é extremamente difícil aferir acerca do período exato em que pode ter

ocorrido a remoção do SCLM antigo, havendo a necessidade de outras

investigações que corroborem com o modelo.

Vale ressaltar que estudos recentes, utilizando dados obtidos em sondagens

magnetotelúricas (MT), têm mostrado que o manto litosférico abaixo da porção mais

ao norte da Bacia do Paraná possui características muito similares às de manto

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

128

astenosférico condutivo (Bologna, comunicação pessoal), corroborando o modelo

proposto neste trabalho. Entretanto, o perfil de MT efetuado é muito limitado.

Outro aspecto que merece atenção é o fato de que entre a Superseqüência

Gondwana II e Gondwana III (220 – 150 Ma) da Bacia do Paraná existe uma lacuna

estratigráfica (Milani & Zalán, 1999) que pode ser devida a algum soerguimento de

blocos tectônicos. De acordo com Anderson (2005), quando basaltos se convertem

em eclogitos, ocorrem mudanças em sua densidade. Quando a crosta continental

inferior mais densa, é removida, ocorre soerguimento e magmatismo. Deste modo,

não é improvável que tenha ocorrido remoção do manto litosférico nesse período.

O manto astenosférico que substitui o manto litosférico removido pode ter

contribuições químicas e isotópicas de ambientes de cunhas mantélicas, visto que

ocorreu o fechamento da bacia marinha do Oceano Clímene (Trindade et al., 2006;

Tohver et al., 2010) que separava os crátons da Amazônia e África Ocidental dos

outros crátons da América do Sul (São Francisco, Rio de Plata e Paranapanema), os

quais completaram a assembléia do Gondwana (ca. 528 ± 36 Ma).

Na Figura 5.9a encontra-se um diagrama esquemático representando o

processo de delaminação e afinamento convectivo. Este diagrama mostra um

mecanismo pelo qual a litosfera continental é afinada e rejuvenescida (re-fertilizada).

Na Figura 5.9b encontra-se um diagrama esquemático mostrando o modelo

tectono-petrogenético proposto para a PMP. Neste diagrama é mostrado o processo

de desidratação dos materiais que estão mergulhando na astenosfera, a qual foi

também modificada por antigos processos de subducção, e a produção de magma

durante delaminação por instabilidade gravitacional (baseado em Elkins-Tanton,

2007 e Mori et al., 2009)

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

129

Figura 5.9: (a) Mecanismo pelo qual a litosfera continental é afinada e rejuvenescida (re-fertilizada). A representação de delaminação e afinamento convectivo são similares ao proposto por Houseman & Molnar (2001). (b) Diagrama esquemático mostrando o processo de desidratação de materiais em “afundamento” e a produção de magma durante delaminação por instabilidade gravitacional.

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

130

5.5.2 Processos metassomáticos no manto litosférico

De acordo com Carlson et al. (2007), os xenólitos peridotíticos da GAP

possuem composições químicas similares às do manto fértil (Al, Mg, Ca) e a maioria

desses xenólitos tem uma sistemática de Re-Os bastante próxima às estimativas do

manto fértil moderno (187Os/188Os = 0,1296; Meisel et al., 2001). Além disso, dois

desses xenólitos peridotíticos têm razões de 187Os/188Os mais baixas que as dos

demais, definindo idades modelo de empobrecimento de Re (Re-depletion - TRD) de

~ 1,2 Ga que, junto com um TRD de 2,0 Ga para um kamafugito da GAP, indicam

que, no mínimo, parte do manto litosférico desta área pode datar do

Mesoproterozóico (Carlson et al., 2007). Conforme destacado por esses autores,

com os escassos dados disponíveis de xenólitos da GAP não se pode ainda afirmar

se o manto litosférico dessa região foi formado no Proterozóico ou em idades mais

jovens.

O magmatismo da GAP, representado pelas rochas máficas alcalinas

(kamafugitos) de Santo Antônio da Barra, Paraúna e intrusões vizinhas, mostra

algumas sobreposições nas razões isotópicas de 187Os/188Os, porém na maioria

desses kamafugitos essas razões são significativamente mais elevadas que aquelas

exibidas por alguns peridotitos. Isto pode apontar para um significante envolvimento

de componentes pobres em olivina (e.g. piroxenito, eclogito, glimerito ou outras

assembléias metassomáticas) na fonte mantélica desses magmas (Carlson et al.,

2007). O componente pobre em olivina na fonte dessas rochas poderia ter sido

adicionado pela introdução de líquidos magmáticos no manto litosférico numa escala

regional, e, por conta disso teria lhes fornecido as características dos LILE e

isotópicas (Sr – Nd – Pb).

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

131

Em contrapartida, estudos químicos e isotópicos (e.g. Araújo et al., 2001;

Carlson et al., 2007) realizados nos xenólitos peridotíticos da Província Alcalina do

Alto Paranaíba (APAP – Alto Paranaíba Alkaline Province) indicam que o manto

litosférico abaixo desta província foi formado do Paleoproterozóico ao Neoarqueano

(TRD ~ 2,4 Ga; Cráton do São Francisco). Esses xenólitos têm baixos valores de

187Os/188Os (0,10572 – 0,11491), os quais são significativamente mais baixos do que

o valor estimado do manto fértil moderno. Assim, os kamafugitos e kimberlitos da

APAP foram interpretados como sendo originados em um manto litosférico

subcontinental menos fértil (mais refratário) e mais antigo que os kamafugitos do

GAP, mas que também sofreu infiltrações de componentes empobrecidos em

olivina.

A infiltração desses componentes deve ter ocorrido nos eventos relacionados

à formação dos cinturões móveis do Proterozóico (900 – 1700 Ma), permitindo aos

kamafugitos serem fundidos em uma fonte composta de quantidades ligeiramente

iguais de peridotito litosférico e veios metassomáticos (Carlson et al., 2007). De

acordo com esse modelo, essas rochas são resultantes de refusão de manto

litosférico do Cinturão Brasiliano, composto de peridotitos venulados por produtos

cristalizados de magmas infiltrados no Mesoproterozóico. Como também assinalado

por esses autores, este manto litosférico metassomatisado poderia ter sido a fonte

dos basaltos ATi da PMP, como também dos basaltos oceânicos da Cadeia Walvis

(formado por fragmento de manto litosférico subcontinental proterozóico).

Os resultados aqui obtidos permitiram aferir o modelo proposto por Carlson et

al. (2007). Verificou-se que os basaltos ATi da PMP possuem razão 187Os/188Os

(0,1280 e 0,1296) que se sobrepõe àquelas dos xenólitos da GAP (0,1261–0,1292),

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

132

sendo significativamente distintas daquelas dos kamafugitos, que são mais

radiogênicas (Figura 5.8). O surpreendente, é que os basaltos BTi (Esmeralda)

também possuem assinatura isotópica de Os (0,1284 e 0,1315) similar aos ATi,

sobrepondo-se também às dos xenólitos da GAP, demonstrando com isso uma fonte

bastante homogênea à luz desses isótopos.

Com base na discussão acima, dois pontos merecem especial atenção. O

primeiro é verificar se os basaltos ATi e BTi da PMP podem ser produtos de fusões

de manto litosférico misturadas a menores frações de componentes pobres em

olivina e o segundo é investigar quais seriam os mecanismos (processos geológicos)

responsáveis por essa infiltração.

Com relação ao primeiro ponto, foram testadas possibilidades envolvendo

processos de mistura entre peridotito fértil moderno e peridotito arqueano intrudido

por diferentes fluidos empobrecidos em olivina, de forma análoga ao efetuado por

Carlson et al. (2007), utilizando os mesmos parâmetros para construção das curvas

de mistura. Vale salientar que para modelagem dos dados não foram alteradas as

idades sugeridas por estes pesquisadores para a regressão das composições

isotópicas iniciais de Os e Nd, visto que esta análise é ainda preliminar e foi

realizada apenas para uma comparação geral. Futuramente, com mais dados

disponíveis, uma modelagem mais precisa e eficiente poderá ser executada.

De uma maneira geral, verifica-se que os basaltos ATi podem ser explicados

através da curva de mistura (3), representada por um peridotito arqueano (baixo

187Os/188Os, alto 143Nd/144Nd) intrudido em 900 Ma por um magma metassomático

(entre 30 e 40%) com baixo Sm/Nd, alto conteúdo de LILE e baixo conteúdo de Os

(Figura 5.8). O interessante é que uma parte dos kamafugitos da APAP também se

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Capítulo 5 – Elementos siderófilos e a Sistemática Isotópica de Re-Os

133

ajusta a esse mesmo domínio litosférico. Em contrapartida, os basaltos BTi se

ajustam à curva (2), representada por um peridotito fértil moderno intrudido por

magmas metassomáticos (entre 10 e 20%) durante o evento magmático (~ 130 Ma),

com uma razão Sm/Nd similar às dos basaltos ATi e concentrações de Re e Os

similares às dos magmas máficos derivados do manto astenosférico (e.g. Hauri &

Hart, 1997).

Em suma, as composições isotópicas de Os dos basaltos ATi e BTi da PMP

podem ser explicados através de misturas de um manto litosférico subcontinental

com menores frações de componentes empobrecidos em olivina.

Com relação ao segundo ponto, eventos geológicos devem ser requeridos

para permitir, de forma satisfatória, a infiltração de uma grande quantidade de

material empobrecido em olivina (que pode se originar através de fusões de

materiais de cunha mantélica). Para os basaltos ATi do norte da PMP, o mecanismo

responsável pelos processos metassomáticos estão relacionados aos cinturões

móveis proterozóicos, conforme sugerido por Carlson et al. (2007). Por outro lado,

para os basaltos BTi da parte sul da província a infiltração de olivina pode estar

relacionada ao fechamento do Oceano Clímene (Trindade et al., 2006; Tohver et al.,

2010), já que não há evidências desses cinturões proterozóicos nessa região.

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CAPÍTULO 6 Considerações Finais

O objetivo principal deste trabalho foi melhorar o entendimento dos processos

e materiais que contribuíram às fontes mantélicas envolvidas na gênese dos

basaltos da Província Magmática do Paraná. Para alcançar este objetivo, uma

grande quantidade de análises de elementos formados por LILE, HFSE e HSE,

como também dados isotópicos de quatro sistemas de decaimento radioativo (Rb-Sr,

Sm-Nd, U-Th-Pb e Re-Os), foram obtidos em basaltos toleíticos ATi (magmas-tipo

Paranapanema, Pitanga e Urubici) que ocorrem no norte da província. Além disso,

foram também determinadas as concentrações de HSE e as razões isotópicas

187Os/188Os em basaltos BTi representativas do magma-tipo Esmeralda, que estão

entre os basaltos mais primitivos da PMP, e, como tal, podem preservar uma

quantidade considerável de informações sobre as regiões-fonte envolvidas neste

colossal evento magmático.

As análises efetuadas forneceram informações ímpares acerca das fontes

envolvidas nesse magmatismo. O fato mais surpreendente e intrigante foi o

envolvimento de uma fonte relativamente homogênea em termos da sistemática

isotópica de Re-Os, nos basaltos localizados no norte e sul da PMP, o que tornou

necessário procurar mecanismos petrogenéticos alternativos, distintos daqueles

atualmente propostos para a origem desses basaltos.

Os resultados obtidos permitem as seguintes considerações:

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Capítulo 6 – Considerações Finais

135

As concentrações de elementos traço das rochas investigadas são similares

às reportadas em estudos anteriores. Entretanto, os novos resultados refinam

as composições de elementos traço incompatíveis, uma vez que poucas

análises haviam sido feitas em basaltos Pitanga e Paranapanema

anteriormente.

Existem evidências geoquímicas de metassomatismo críptico na região-fonte

da PMP, visto que enriquecimentos de elementos LILE móveis em fluidos

(i.e., Cs, Rb, U e Sr) e ETRL podem ser resultantes de fusões silicáticas de

baixo grau ou metassomatismo fluido aquoso.

As novas composições isotópicas de Sr, Nd e Pb são consistentes com dados

publicados na literatura, porém, corroboram no refinamento dos extremos

isotópicos da parte norte da PMP.

Os basaltos ATi do norte da PMP não sofreram processos de contaminação

crustal, visto que não foram encontradas correlações nítidas entre razões

isotópicas com P2O5/K2O e outras razões de elementos traço. Este processo

petrogenético é também inviável sob a ótica da sistemática de Re-Os.

Os dados isotópicos de Sr, Nd e Pb obtidos nesta investigação e em trabalhos

pretéritos, podem ser explicados, tanto pela fusão do SCLM intrudido por

magmas empobrecidos em olivina, como também pela participação de manto

astenosférico metassomatizado por veios piroxeníticos, cuja origem pode

estar relacionada a antigos processos de subducção.

O comportamento dos HSE nos basaltos ATi e BTi pode estar ligado ao

fracionamento de olivina ou fases associadas (i.e. cromita ou fases presentes

em níveis de traço enriquecidas em PGE). Além disso, foi constatado que

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Capítulo 6 – Considerações Finais

136

todos os basaltos ATi mostram anomalias negativas de Ru no diagrama de

HSE normalizado em relação aos condritos. Esta anomalia de Ru pode ser

explicada através do fracionamento de laurita (Ru, Os, Ir)S2 ou ligas de Os-Ir-

Ru nos magmas primários, como também através da co-precipitação de

laurita com cromita ou olivina.

Os dados obtidos à luz da sistemática isotópica de Re-Os exibem uma

tendência linear (187Re/188Os versus 187Os/188Os), definindo uma isócrona de

boa qualidade (idade = 131,6 ± 2,3 Ma), consistente com as idades obtidos

em trabalhos anteriores utilizando o método 40Ar/39Ar.

Os dados isotópicos de Os exibem uma variação extremamente pequena,

podendo refletir leves heterogeneidades de longa duração nas razões Re/Os

entre as regiões-fonte envolvidas, ou ainda, um sistema complexo de geração

de magmas, que pode ter atenuado heterogeneidades mais significativas

presentes nas fontes.

As composições isotópicas iniciais de Os sobrepõem-se ao intervalo daquelas

observadas no manto superior convectivo e dos xenólitos peridotíticos da

Província Alcalina de Goiás. Tais composições descartam o envolvimento dos

componentes mais radiogênicos HIMU e EMII, ou de manto litosférico

arqueano na gênese das rochas investigadas. A sistemática isotópica de Re-

Os não exibe evidências do envolvimento da pluma de Tristão da Cunha na

gênese dos basaltos da PMP, visto que basaltos originados de fusões de

plumas possuem razões significativamente mais radiogênicas, principalmente

aquelas originadas no limite manto – núcleo.

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Capítulo 6 – Considerações Finais

137

As composições isotópicas de Os dos basaltos ATi e BTi da PMP podem ser

explicadas através de dois modelos petrogenéticos, sendo ambos

consistentes com as anomalias negativas de Nb-Ta observadas nessas

rochas e também com as análises dos outros sistemáticas isotópicos.

(1) manto astenosférico infiltrado por veios piroxeníticos oriundos de

subducções pretéritas e/ou associados a processos de delaminação. Neste

último caso, o manto astenosférico metassomatizado pode ter substituído o

espaço deixado pela porção do SCLM delaminada e/ou desmembrada,

formando uma nova litosfera, mais fértil e infiltrada por esses componentes. O

bloco desmembrado pode ter retornado ao manto convectivo, e gerado ilhas

oceânicas ou elevações submarinas, tais como as cadeias Walvis e Rio

Grande.

(2) manto litosférico subcontinental intrudido por frações de componentes

empobrecidos em olivina, na forma de veios. Os processos que permitiram a

infiltração de uma grande quantidade desses veios podem estar relacionados

com o fechamento de antigos oceanos nos cinturões móveis no Ciclo

Brasiliano, na parte mais ao norte da PMP, como também aquele relacionado

ao fechamento do Oceano Clímene na parte mais ao sul.

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