eduardo ganilho pd

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Universidade Aberta Sistemas da Qualidade no Ensino Superior: Contributos para Modelos de Melhoria da Qualidade e Responsabilidade Social Eduardo Jorge Simões Ganilho Doutoramento em Gestão Especialidade: Gestão da Qualidade 2009

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  • Universidade Aberta

    Sistemas da Qualidade no Ensino Superior: Contributos para Modelos de Melhoria da

    Qualidade e Responsabilidade Social

    Eduardo Jorge Simes Ganilho

    Doutoramento em Gesto Especialidade: Gesto da Qualidade

    2009

  • Universidade Aberta

    Sistemas da Qualidade no Ensino Superior: Contributos para Modelos de Melhoria da

    Qualidade e Responsabilidade Social

    Eduardo Jorge Simes Ganilho

    Doutoramento em Gesto Especialidade: Gesto da Qualidade

    Tese Orientada pela Doutora Maria Cristina Mendona

    2009

  • i

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades Muda-se o Ser, muda-se a confiana; Todo mundo composto de mudana,

    Tomando sempre novas qualidades

    Rhitmas (1595)

    Lus de Cames

  • ii

    A Educao encerra um tesouro

    Jacques Delors

  • iii

    Se quiseres um ano de prosperidade, semeia cereais. Se quiseres dez anos de prosperidade, planta rvores.

    Se quiseres cem anos de prosperidade, educa os homens.

    Provrbio chins: Guanzi (c.645 a.C.)

  • iv

    memria dos meus Pais

  • v

    minha Mulher e aos meus Filhos

  • vi

    Agradecimentos

    A concretizao deste trabalho no teria sido possvel sem os ensinamentos da orientadora e o apoio de outras pessoas. Assim apresento os meus sinceros agradecimentos a todos, em particular:

    Professora Doutora Maria Cristina Mendona, Investigadora da Unidade de I&D, IPCDVS, a quem manifesto o meu reconhecimento por ter criado as condies para o desenvolvimento desta tese. Agradeo ainda a sua dedicao, os seus ensinamentos e o seu incentivo contnuo, sem os quais os objectivos deste trabalho no teriam sido atingidos.

    Ao Professor Doutor Amlcar dos Santos Gonalves, Professor da Universidade Tcnica de Lisboa (UTL) e da Universidade Aberta (UAb).

    Ao Professor Doutor Eduardo Joo Ribeiro dos Santos, Professor da Universidade de Coimbra e Director do IPCDVS.

    E, por fim, a todos aqueles que contriburam de uma forma ou de outra, os meus agradecimentos pelo ensinamento de mais uma lio de vida.

  • vii

    Resumo

    A gesto das Instituies de Ensino Superior est a ser repensada num contexto de globalizao tendo em conta a misso destas, a responsabilidade e a sua cultura (ou culturas), impondo-se novos modelos de gesto e governao. A Qualidade e a Responsabilidade Social do Ensino Superior constituem um tema pertinente e actual. As transformaes estruturais que as sociedades atravessam aconselham e justificam da parte do Ensino Superior uma atitude consentnea com as necessidades daquelas. Os desafios que, as Instituies de Ensino Superior enfrentam, exigem novas perspectivas estratgicas e nova viso perante cenrios de incerteza que surgem a nvel mundial, desempenhando a liderana um papel fundamental na qualidade destas instituies.

    Neste sentido, lana-se no presente estudo, a seguinte questo: Que Modelos de Gesto e Governao contribuem para a melhoria da Qualidade no Ensino Superior?

    A metodologia utilizada para a realizao deste estudo passa pelo delineamento de uma estratgia com cinco fases: elaborao de um plano ajustvel evoluo do trabalho, levantamento do estado da arte de uma forma gradual, trabalho de pesquisa e criao, escrita da tese e anlise crtica e reflexo.

    Para alm de outros aspectos relevantes no domnio do Ensino Superior, foram estudados diversos modelos, Modelos de Excelncia, modelos para implementao de Sistemas de Gesto da Qualidade, Gesto Ambiental, Gesto da Segurana e Sade do Trabalho, Gesto de Risco; entre outros. Criaram-se diversos Indicadores de Responsabilidade Social neste contexto e foi feito um estudo piloto no mbito da Responsabilidade Social em Instituies de Ensino Superior.

    Por ltimo, destacaram-se as concluses que decorrem do estudo piloto efectuado, bem como reflexes que surgem da investigao terica realizada.

    O estudo piloto efectuado permitiu concluir, por exemplo, que existem indcios de algum alheamento no seio das Instituies s temticas relacionadas com os princpios ticos e com a educao ambiental. Por outro lado, uma grande parte dos indivduos inquiridos disseram no ter qualquer opinio quando confrontados com questes sobre Participao Social Responsvel, Investigao Socialmente til e Gesto Social do Conhecimento. Conclui-se que as questes para as pessoas ainda so muito vagas, da que, faa sentido o debate de todas estas questes, bem como estudos que

  • viii

    contribuam para uma mudana de paradigma relativamente educao, e em particular no Ensino Superior, com vista qualidade, num sentido abrangente.

    Palavras-Chave: Ensino Superior, Modelos de Gesto e Governao, Melhoria da Qualidade, Responsabilidade Social

  • ix

    Abstract

    The management of Higher Education Institutions is being rethought, with the mission and culture of the institutions changing due to globalization, resulting in new models of management and governance. The quality of Higher Education and its obligations to society are of current importance. The structural changes that the society has gone through requires a response in higher education that matches the changing needs of the society. Higher Education Institutions require new perspectives and a new strategic vision to cope with the uncertainty arising at a global scale, and this plays a role in their quality and whether they are leading institutions.

    Thus the following question arises: Which forms of management and governance contribute to the improvement of quality in higher education?

    The methodology for this study was designed with five stages: preparation of a plan of work within the thesis, the gradual progression to understanding the up-to-date understanding of Higher Education Research, generating research hypotheses and creating further understanding, writing the thesis with critical analysis and reflection.

    In addition to other relevant issues in higher education, different models were studied: Models of excellence, Models for implementation of Quality Management Systems, Environmental Management, Occupational Health and Safety Management, Risk Management, among others. Several indicators of Social Responsibility were created in this context and a pilot study was conducted in the area of Social Responsibility in Higher Education Institutions.

    Finally the conclusions resulting from the pilot study are presented and questions arising from the theoretical research are discussed. For example, the pilot study showed that there are indicators of a lack of understanding within the institutions to issues related to ethical and environmental education. Moreover, a large proportion of respondents said individuals have no opinion when confronted with questions on Responsible Social Involvement and Social Research and Social Management of Useful Knowledge. It is concluded that people have a vague awareness of these issues, so these concepts are new to them.

  • x

    Keywords: Higher Education, Management and Governance Models, Improving Quality, Social Responsibility

  • xi

    Abreviaturas AACSB - Association to Advance Collegiate Schools of Business AASO - Avaliao Ambiental de Stios e Organizaes ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas ACSUG - Axencia para a Calidade do Sistema Universitrio de Galicia

    (Espanha) Adi - Agncia de Inovao: Inovao Empresarial e Transferncia de

    Tecnologias, S.A.

    AENOR - Asociacin Espaola de Normalizacin y Certificacin (Associao Espanhola de Normalizao e Certificao)

    AEP - Associao Empresarial de Portugal AESST - Agncia Europeia para a Segurana e a Sade no Trabalho AFNOR - Association Franaise de Normalisation (Associao Francesa

    de Normalizao) AIRMIC - Association of Insurance and Risk Managers ALARM - Nation Form for Risk Management in the Public Sector AMFE - Anlise Modal de Falhas e seus Efeitos AMN - Asociacin MERCOSUR de Normalizacin ANECA - Agencia Nacional de Evaluacin de la Calidad y Acreditacin ANSI - American National Standards Institute APCER - Associao Portuguesa de Certificao APEE - Associao Portuguesa de tica Empresarial APG - Associao Portuguesa dos Gestores e Tcnicos de Recursos

    Humanos

    AQU - Agncia per la Qualitat del Sistema Universitari de Catalunya ASQ - American Society for Quality (Sociedade Americana para a

    Qualidade AVAC - Aquecimento, Ventilao e Ar Condicionado BFUG - Follow-up Group of the Bologna Process BSI - British Standards Institute CAC - Comisso do Codex Alimentarius

  • xii

    Abreviaturas (Continuao)

    CAF - Common Assessment Framework CBSR - Canadian Business for Social Responsibility CCCM - Centro Cientfico e Cultural de Macau, I.P. CD - Compact Disc CEDEFOP - European Centre for the Development of Vocational Training CEG - Club Excelencia en Gestin CEN - Comit Europeu de Normalizao CEN - European Committee for Standardization CENELEC - European Committee for Electrotechnical Standardization CHEA - Council for Higher Education Accreditation CLA - Conselho dos Laboratrios Associados CMC - CEN Management Centre

    CNAVES - Conselho Nacional de Avaliao do Ensino Superior CNE - Conselho Nacional de Educao CONAMA - Conselho do Meio Ambiente (Brasil) COPANT - Comisin Panamericana de Normas Tcnicas CQAF - Common Quality Assurance Framework CRUE - Conferencia de Rectores de las Universidades Espaolas CRUP - Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas CSR - Business for Social Responsibility CTEC - Commonwealth Tertiary Education Commission DGES - Direco-Geral do Ensino Superior DGI - Direco Geral de Investigao (Espanha) DGN - Direccin General de Normas DGTP - Direco Geral de Poltica Tecnolgica (Espanha) DGU - Direco Geral das Universidades (Espanha) DMM - Dispositivo de Monitorizao e Medio DVD - Digital Video Disc ou Digital Versatile Disc EABIS - European Academy for Business in Society

  • xiii

    Abreviaturas (Continuao)

    EABIS - European Academy for Business in Society EAUC - Environmental Association of Universities and Colleges ECA - European Consortium for Accreditation ECTS - European Credit Transfer System EED - Department of Education and Early Development do Alasca EFMD - European Foundation for Management Development EFQM - Fundao Europeia para a Gesto da Qualidade EFR - Family Responsible Company EHEA - European Higher Education Area EMAS - Eco-Management and Audit Scheme ENIC - European Network of Information Centres ENQA - European Network for Quality Assurance in Higher EOQ - Organizao Europeia para a Qualidade EQUAL - Programa de Iniciativa Comunitria (Unio Europeia) EQUIS - The European Quality Improvement System ESADE - Escuela Superior de Administracin y Direccin de Empresas ESIB - The National Unions of Students in Europe EU - European Union (Unio Europeia) EUA - European University Association

    EULAC - Unio Europeia/Amrica Latina e Carabas EURASHE - European Association of Institutions in Higher Education FAO - Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e

    Agricultura

    FCT - Fundao para a Cincia e a Tecnologia, I.P. FCTUC - Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade de

    Coimbra FDA - U. S. Food and Drug Administration (Agncia Norte-americana

    para a Alimentao)

  • xiv

    Abreviaturas (Continuao)

    FEANI - Fdration Internationale d'Associations Nationales d'Ingnieurs

    FED - Frum Europeu da Deficincia FEUP - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto FLA - Fair Labour Association FLAD - Fundao Luso-Americana para o Desenvolvimento FONDONORMA - Fondo para la Normalizacin y Certificacin de la Calidad FUNDIBEQ - Fundao Ibero-americana para a Gesto da Qualidade GHESP - Global Higher Education for Sustainability Partnership GPE - Gabinete Portugus para o Espao GPPQ - Gabinete de Promoo do 7 Programa-Quadro GRACE - Grupo de Reflexo e Apoio Cidadania Empresarial GRI - Global Reporting Initiative GUNI - Global University Network for Innovation HACCP - Hazard Analysis and Critical Control Points HE 21 - Higher Education 21 HEPS - Higher Education Partnership for Sustainability HERDSA - Higher Education Research and Development Society IAU - International Association of Universities IAUP - International Association of University Presidents ICC - International Chamber of Commerce ICONTEC - Instituto Colombiano de Normas Tcnicas y Certificacin ICWF - International Center of Work and Family I-D-i - Investigao, Desenvolvimento e Inovao

    IFC - International Finance Corporation IGCES - Inspeco-Geral da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior IICT - Instituto de Investigao Cientfica Tropical, I.P. ILO - International Labour Organization (OIT Organizao

    Internacional do Trabalho)

  • xv

    Abreviaturas (Continuao)

    IMNC - Instituto Mexicano de Normalizacin y Certificacin (Instituto Mexicano de Normalizao e Certificao)

    INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda INEGI, - Instituto de Engenharia Mecnica e Gesto Industrial INLAC - Instituto Latinoamericano de Aseguramiento de la Calidad INQAAHE - International Network for Quality Assurance Agencies in Higher

    Education IPQ - Instituto Portugus da Qualidade IPSG - Innovative Public Service Group IQNet - International Certification Network IRAM - Instituto Argentino de Normalizacin y Certificacin (Instituto

    Argentino de Normalizao e Certificao) IRM - Institute of Risk Management ISCAL - Instituto Superior de Contabilidade e Administrao ISCSP - Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas ISO - International Organization for Standardization ISO/TC 176 - Quality management and quality assurance ISQ - Instituto de Soldadura e Qualidade ISRA - International Society for Research on Aggression IST - Instituto Superior Tcnico

    LABORSTA - Base de Dados de Estatsticas do Trabalho da OIT LCCA - Life Cycle Cost Analysis LNEC - Laboratrio Nacional de Engenharia Civil MCTES - Ministrio da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior MIT - Massachusetts Institute of Technology MRSI - Modelo de Responsabilidade Social para Instituies de Ensino

    Superior

  • xvi

    Abreviaturas (Continuao)

    NARIC - National Academic Recognition Information Centres NASA - National Aeronautics and Space Administration NATLEX - Base de Dados da OIT (contm legislao nacional sobre

    trabalho, Segurana Social e Direitos Humanos relacionados) NBR - Norma Brasileira

    NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health NIST - National Institute of Standards and Technology NJHEPS - New Jersey Higher Education Partnership for Sustainability NP - Norma Portuguesa

    OCDE - Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OECD em ingls)

    OCES - Observatrio da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior OHSAS - Occupational Health and Safety Management System OIT - Organizao Internacional do Trabalho OMS - Organizao Mundial de Sade ONG - Organizao no Governamental

    ONU - Organizao das Naes Unidas PALOP - Pases de Lngua Oficial Portuguesa PAS - Publicly Available Specification PDCA - Plan-Do-Check-Act (ou Ciclo de Deming) PIB - Produto Interno Bruto PME - Pequenas e Mdias Empresas PNUD - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUMA - Programa das Naes Unidas para o Ambiente QFD - Quality Function Deployment SAFE LAB - School Chemistry Laboratory Safety Guide SAI - Social Accountability International SCIE - Segurana Contra Incndios em Edifcios SER - Solues Racionais de Energia, SA

  • xvii

    Abreviaturas (Continuao)

    SGQ - Sistema de Gesto da Qualidade TIC - Tecnologias da Informao e Comunicao TPM - Total Productive Maintenance UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina ULSF - Association of University Leaders for a Sustainable Future ULSF - Association of University Leaders for a Sustainable Future UMIC - Agncia para a Sociedade do Conhecimento UNDP - United Nations Development Programme UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural

    Organization

    UNFPA - United Nations Population Fund UNIDO - Organizao das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    Industrial UNIT - Instituto Uruguayo de Normas Tcnicas (Instituto Uruguaio de

    Normas Tcnicas) UNL - Universidade Nova de Lisboa UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime UNU - United Nations University (Universidade das Naes Unidas) UPC - Universidad Politcnica de Catalua USC - Universidad de Santiago de Compostela WBCSD - World Business Council for Sustainable Development WFP - World Food Programme WHO - World Health Organization (Organizao Mundial de Sade) WMA - World Medical Association

  • xviii

    ndice

    Captulo 1 INTRODUO .. 1 1.1 Importncia do Estudo ............................................................................ 1 1.2 Definio do Problema 7

    1.3 Objectivos ..................................................................................... 8 1.4 Organizao da Dissertao .................................................................... 8 1.5 Metodologia .............................................................................................. 10

    1.6 Dificuldades e Limitaes .... 12

    Captulo 2 A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL 13

    2.1 Introduo ................................................................................................ 13

    2.2 O Ensino Superior num Ambiente Global Dinmico ........................... 16 2.3 Contribuio do Ensino Superior para o Desenvolvimento Socioeconmico e Humano .....................................................................

    23

    2.4 Panorama de Mudana no Ensino Superior ......................................... 32 2.5 Novas Modalidades de Organizao e Funcionamento ........................ 36 2.6 Conceito de Qualidade do Ensino Superior ........................................... 43 2.7 Problemas da Qualidade e Pertinncia do Ensino Superior e da Investigao ..

    48

    2.8 Resumo .. 53

    Captulo 3 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ENSINO SUPERIOR COMO FACTOR DA QUALIDADE . 57

    3.1 Introduo ................................................................................................ 57 3.2 Conceito de Responsabilidade Social do Ensino Superior Universitrio e das Universidades ......

    59 3.2.1 Conceito de Responsabilidade Social 59 3.2.2 Responsabilidade Social do Sistema Educativo . 66 3.2.3 Responsabilidade Social das Universidades .. 66

  • xix

    3.3 Antecedentes da Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentvel nas Universidades ....

    78

    3.4 Objectivos de um Projecto Universidade Responsvel .... 79 3.5 Estmulos e Barreiras para a Responsabilidade Social nas Universidades ...

    80

    3.6 Gesto Integrada da Responsabilidade Social nas Universidades... 88 3.7 Princpios e Normas no mbito da Responsabilidade Social .. 89 3.8 Organizaes de tica e Responsabilidade Social Portuguesas .. 102

    3.8.1 Associao Portuguesa de tica Empresarial . 102 3.8.2 A RSE Portugal .. 103 3.8.3 GRACE Grupo de Reflexo e Apoio Cidadania Empresarial Associao ..

    104 3.8.4 BCSD Portugal Conselho Empresarial para o Desenvolvimento

    Sustentvel .

    104 3.8.5 Projecto RSO Matrix .. 105

    3.9 Organizaes de tica e Responsabilidade Social Internacionais ... 105 3.9.1 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social 106 3.9.2 World Business Council for Sustainable Development WBCSD 106

    3.10 Resumo 108

    Captulo 4 MELHORIA CONTNUA DA QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR: PERSPECTIVAS E MODELOS .... 112

    4.1 Introduo ................................................................................................ 112

    4.2 Avaliao da Qualidade e Acreditao do Ensino Superior................. 114 4.3 Sistemas de Garantia da Qualidade do Ensino Superior . 121

    4.3.1 Orientaes Para o Desenvolvimento de Sistemas de Garantia da Qualidade do Ensino Superior

    123

    4.4 Modelos da Qualidade Aplicveis ao Sector do Ensino Superior 133 4.4.1 Modelos de Excelncia........................................................................ 135

    4.4.1.1 Modelo Ibero-americano de Excelncia ..................................... 138 4.4.1.2 Modelo de Excelncia da EFQM ............................................... 144 4.4.1.3 Modelo de Excelncia Malcolm Baldrige para a Educao ... 152

  • xx

    4.4.2 Modelo CAF ....................................................................................... 158 4.4.3 Balanced Scorecard ........................................................................... 164

    4.4.3.1 Implementao do Modelo ......................................................... 168 4.4.4 Modelo da Qualidade ISO 9000 no mbito do Ensino Superior ... 172

    4.4.4.1 A Especificidade do Sector do Ensino Superior ......................... 178 4.4.4.2 A Norma de Gesto da Qualidade ISO 9000 .............................. 186 4.4.4.3 A Norma de Gesto da Qualidade ISO 9001 .............................. 187 4.4.4.4 A Norma de Gesto da Qualidade ISO 9004 .............................. 190 4.4.4.5 A Norma ISO 19011 ................................................................... 192 4.4.4.6 Outros Referenciais .................................................................... 193

    4.5 Sistemas de Gesto da Qualidade no Sector do Ensino Superior ........ 197 4.5.1 Documentao do Sistema ................................................................. 202 4.5.2 Responsabilidade da Gesto ............................................................... 203 4.5.3 Gesto de Recursos ............................................................................ 208 4.5.4 Realizao do Produto ........................................................................ 212 4.5.5 Medio, Anlise e Melhoria ............................................................. 224

    4.6 Sistemas de Gesto Ambiental ................................................................ 229 4.6.1 O Ambiente no Contexto do Ensino Superior .................................... 231 4.6.2 A Norma ISO 14001:2004 ..................................... 251 4.6.3 A Norma ISO 14004:2004 ................................................................. 256 4.6.4 Outros Referenciais 257 4.6.5 Benefcios de um Sistemas de Gesto Ambiental .............................. 258

    4.7 Sistemas de Gesto da Segurana e Sade no Trabalho .. 259 4.7.1 A Sade e a Segurana no Trabalho no Sector da Educao . 263 4.7.2 Integrao da Segurana e Sade no Trabalho no Sistema Educativo 274 4.7.3 Custos Socioeconmicos Resultantes de Acidentes de Trabalho .. 276 4.7.4 Aspectos Importantes dos Sistemas de Gesto da Segurana e Sade no Trabalho .. 283 4.7.4.1 Poltica da Segurana e Sade no Trabalho 284 4.7.4.2 Participao dos Colaboradores . 285 4.7.4.3 Responsabilidade e Obrigao de Prestar Contas .. 286 4.7.4.4 Competncia e Formao ... 288

  • xxi

    4.7.4.5 Documentao do Sistema de Gesto da Segurana e Sade do Trabalho . 289

    4.7.4.6 Comunicao .. 290 4.7.4.7 Planeamento e Implementao ... 290 4.7.4.8 Preveno dos Perigos . 292 4.7.4.9 Gesto da Mudana . 293 4.7.4.10 Preveno, Preparao e Resposta a Situaes de Emergncia 294 4.7.4.11 Compras ... 295 4.7.4.12 Contratao de Servios 295 4.7.4.13 Avaliao .. 296 4.7.4.14 Reviso pela Gesto de Topo 300 4.7.4.15 Melhoria ... 301

    4.8 Sistemas de Gesto da Responsabilidade Social do Ensino Superior . 302 4.8.1 Requisitos do Sistema de Gesto da Responsabilidade Social .. 303

    4.8.1.1 Requisitos Gerais ... 304

    4.8.1.2 Valores e Princpios da Responsabilidade Social ... 304 4.8.1.3 Compromisso da Gesto de Topo .. 305 4.8.1.4 Poltica 305 4.8.1.5 Planeamento Operacional ... 305 4.8.1.6 Implementao e Operao .... 308 4.8.1.7 Verificao . 310 4.8.1.8 Reviso e Melhoria . 311

    4.9 Cdigos de tica nas Instituies de Ensino Superior .. 311 4.9.1 Planeamento do Cdigo de tica ... 312 4.9.2 Elaborao do Cdigo de tica....... 314 4.9.3 Implementao e Operacionalizao do Cdigo de tica .. 316 4.9.4 Monitorizao, Verificao da Eficcia e Melhoria Contnua ... 319 4.9.5 Divulgao do Desempenho tico da Instituio .. 321

    4.10 Sistemas de Gesto de Segurana da Informao .. 322 4.10.1 A necessidade da Segurana da Informao 322 4.10.2 Estabelecimento dos Requisitos de Segurana ..... 323

  • xxii

    4.10.3 Seleco de Controlos ...... 324 4.10.4 Ponto de Incio da Segurana da Informao ... 324 4.10.5 Factores Crticos de xito .... 325 4.10.6 O que Inclui um Sistema ...... 327 4.10.7 Controlo da Documentao ..... 330 4.10.8 Implementao de um Sistema de Gesto de Segurana da Informao ... 331

    4.10.9 O Envolvimento da Gesto de Topo .... 333 4.11 Sistemas de Gesto da Investigao, Desenvolvimento e Inovao ... 335

    4.11.1 Requisitos de um Sistemas de Gesto da Investigao, Desenvolvimento e Inovao ... 337

    4.11.1.1 Responsabilidade da Gesto de Topo ... 337 4.11.1.2 Planeamento . 339 4.11.1.3 Implementao e Operao .. 341 4.11.1.4 Avaliao de Resultados e Melhoria .... 342

    4.11.2 Requisitos de um Projecto de Investigao, Desenvolvimento e Inovao ... 343

    4.11.2.1 Plano do Projecto .. 343 4.11.2.2 Controlo e Monitorizao do Projecto ..... 346

    4.12 Sistemas de Gesto de Riscos nas Instituies de Ensino Superior ... 347 4.12.1 Incorporao da Gesto de Riscos nas Instituies de Ensino Superior 348

    4.12.1.1 Planeamento da Gesto de Riscos 349 4.12.1.2 Reviso pela Gesto ..... 352

    4.12.2 Viso Geral do Processo de Gesto de Riscos . 352 4.12.3 Processo de Gesto de Riscos .. 354

    4.13 Sistemas de Gesto de Recursos Humanos .. 358 4.14 Sistema da Manuteno .... 366 4.15 Integrao de Sistemas nas Instituies de Ensino Superior ..... 368

    4.15.1 Abordagem Integrao de Sistemas .. 369 4.15.2 Modelos de Referncia para Sistemas Integrados de Gesto ... 376

  • xxiii

    4.15.3 Nveis e Modos de Integrao .. 377 4.15.4 Concepo de um Sistema Integrado ... 380

    4.16 Resumo 382

    Captulo 5 - MODELO E INDICADORES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA AS INSTITUIES DE ENSINO SUPERIOR 385

    5.1 Introduo .... 385 5.2 Projecto de Modelo de Responsabilidade Social para Instituies de Ensino Superior: Modelo MRSI 387

    5.2.1 Princpios e Compromissos 388 5.2.2 Etapas .... 394 5.2.3 Requisitos ... 395

    5.2.3.1 Planear (Plan) . 395 5.2.3.2 Realizar (Do) .. 386 5.2.3.3 Verificar (Check) 401 5.2.3.4 Actuar (Act) 404

    5.3 Indicadores de Responsabilidade Social 405 5.3.1 Indicadores de Gesto tica e Qualidade de Vida na Instituio ... 407

    5.3.1.1 Indicador de Desempenho Econmico (IA 1 ) . 408 5.3.1.2 Indicador de Adopo de Princpios ticos (IA 2 ) . 408 5.3.1.3 Indicador de Boas Prticas Laborais (IA 3 ) 409

    5.3.1.4 Indicador de Competncias dos Colaboradores (IA 4 ) ... 413 5.3.1.5 Indicador de Marketing Responsvel (IA 5 ) ... 414

    5.3.2 Indicadores de Gesto Ambiental Responsvel . 415

    5.3.2.1 Indicador de Gesto Ambiental (IB 1 ) 417 5.3.2.2 Indicador de Educao Ambiental (IB 2 ) ... 418 5.3.2.3 Indicador de Atitude Ecolgica (IB 3 ) 419

    5.3.3 Indicadores de Participao Social Responsvel ... 420 5.3.3.1 Indicador de Relao da Instituio com os Actores Sociais

    (IC 1 ) ... 421

  • xxiv

    5.3.3.2 Indicador de Acessibilidade Social da Instituio (IC 2 ) .... 421 5.3.3.3 Indicador de Educao para o Desenvolvimento (IC 3 ) ..... 422

    5.3.4 Indicador de Formao Acadmica Socialmente Responsvel .. 423 5.3.5 Indicadores de Investigao Socialmente til e Gesto Social do Conhecimento . 424

    5.3.5.1 Indicador de Modo de Produo do Conhecimento (IE 1 ) ...... 426 5.3.5.2 Indicador de Qualidade e Pertinncia Social do Conhecimento (IE 2 ) ... 427

    5.3.5.3 Indicador de Gesto Social do Conhecimento (IE 3 ) ..... 428

    5.3.5.4 Indicador de Transdisciplinaridade e Investigao (IE 4 ) .. 429 5.3.5.5 Indicador de Ligao Entre Investigao e Ensino (IE 5 ) ... 434

    5.3.5.6 Indicador de tica da Cincia (IE 6 ) .. 435 5.5.6 Resumo dos Indicadores de Responsabilidade Social 436

    5.4 Aplicao ao Ensino Superior Portugus .. 439 5.4.1 Alguns Aspectos Relacionados com o Ensino Superior Portugus ... 439

    5.5 Instrumento Para Avaliao da Responsabilidade Social 450 5.5.1 Tipo do Questionrio e sua Estrutura ..... 452

    5.5.1.1 Correspondncia entre os Indicadores e os Mdulos do Questionrio ... 454 5.5.1.2 Tipos de Questes ... 455

    5.6 Quadros de Resultados do Questionrio 457 5.7 Modelo de Anlise dos Dados ..... 465 5.8 Algumas Consideraes ... 472 5.9 Resumo ...................................................................................................... 476

    Captulo 6 CONCLUSES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS .. 479

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 491

    ANEXOS (Em suporte digital)

  • xxv

    ndice de figuras

    Figura 1.1 - Modelo do desenvolvimento do trabalho de doutoramento .. 11 Figura 2.1 - Sistema de informao EDUNET . 41 Figura 4.1 - Processo para definir a Poltica e Objectivos da Qualidade .. 131 Figura 4.2 - Relao entre qualidade total, modelos de excelncia e famlia

    de normas ISO 9000 .. 135

    Figura 4.3 - Modelo Ibero-americano de Excelncia (2005) .... 143 Figura 4.4 - Modelo de Excelncia da EFQM .. 150 Figura 4.5 - Modelo de Excelncia Malcolm Baldrige .... 157 Figura 4.6 - Estrutura do Modelo CAF ..... 160 Figura 4.7 - Enquadramento da viso, misso, objectivos e estratgia . 165 Figura 4.8 - Balanced Scorecard .. 166 Figura 4.9 - Nveis conceptuais da organizao, plano estratgico e

    operacional .... 169

    Figura 4.10 - Modelo de relao entre cliente e fornecedor e fontes de financiamento do sistema educativo . 184

    Figura 4.11 - Modelo do sistema ISO 9001:2000 .. 189 Figura 4.12 - Relao entre as distintas etapas do controlo de concepo e

    desenvolvimento ... 219

    Figura 4.13 Modelo tpico de gesto .... 284 Figura 4.14 - Representao grfica dos nveis da documentao . 328 Figura 4.15 - Panormica do processo de gesto de riscos .....

    353 Figura 4.16 - Processo de gesto de riscos detalhado ..... 357 Figura 4.17 - Tringulo instituio, famlia e sociedade .... 360 Figura 4.18 - Ciclo atrair, manter e desenvolver .... 361 Figura 4.19 - Esquema de um sistema de gesto de recursos humanos . 363 Figura 4.20 - Representao de um sistema genrico .... 372 Figura 4.21 - Integrao de sistemas de gesto .. 374 Figura 5.1 - A universidade como organizao humana, viva e complexa .. 388

  • xxvi

    ndice de figuras (continuao)

    Figura 5.2 - Gesto de impactes ... 388 Figura 5.3 - Impactes provocados pela instituio ... 389 Figura 5.4 - Componentes da responsabilidade social da instituio ... 390 Figura 5.5 - Modelo MRSI ... 393 Figura 5.6 - Modelo MARSI .... 403 Figura 5.7 - Resumo de indicadores . 438 Figura 5.8 - Estrutura do questionrio .. 454 Figura 5.9 - Esquema para apoio anlise de dados .... 465 Figura 5.10 - Conjunto das matrizes parciais

    ijX , ijY e ijZ ... 466

    Figura 5.11 - Conjunto de matrizes parciais ou submatrizes da componente n . 469 Figura 5.12 - Exemplo de matriz de dados referente componente de

    Gesto tica e Qualidade de Vida na Instituio .. 471

    ndice de quadros Quadro 3. 1 - Estmulos e barreiras ao desenvolvimento da

    Responsabilidade Social nas Universidades ..... 80

    Quadro 4.1 -

    Pontuao dos vrios critrios de acordo com a edio de 2005 do Modelo Ibero-americano 143

    Quadro 4.2 -

    Pontuao de Critrios Meios ... 161

    Quadro 4.3 -

    Pontuao de Resultados ...... 162

    Quadro 5.1 - Evoluo do nmero de inscritos no 1. ano pela 1. vez no ensino superior, 1998 2005, por gnero (em %) .... 449

    Quadro 5.2 - Evoluo dos diplomados no ensino superior entre 1997-1998 a 2005-2006, por gnero (em %) ... 450

    Quadro 5.3 - Correspondncia entre os Indicadores e os mdulos do questionrio .. 455

    Quadro 5.4 - Quadro genrico de dados .... 458

  • xxvii

    ndice de quadros (Continuao)

    Quadro 5.5 - Exemplo de um excerto do quadro correspondente ao indicador princpios ticos referente instituio 1 .. 458

    Quadro 5.6 - Princpios ticos .... 459 Quadro 5.7 - Prticas Laborais ... 459 Quadro 5.8 - Gesto Participada ..... 459 Quadro 5.9 - Competncias dos colaboradores .. 460 Quadro 5.10 - Marketing Responsvel ..... 460 Quadro 5.11 - Sade, Segurana e Condies de Trabalho .. 460 Quadro 5.12 - Gesto ambiental ... 461 Quadro 5.13 - Educao ambiental ... 461 Quadro 5.14 - Exemplo de um excerto do quadro correspondente varivel

    atitude ecolgica referente instituio 1 ..... 462

    Quadro 5.15 - Atitude ecolgica .. 462 Quadro 5.16 - Participao Social Responsvel ... 463 Quadro 5.17 - Formao Acadmica Socialmente Responsvel .. 463 Quadro 5.18 - Investigao Socialmente til e Gesto Social do

    Conhecimento ... 464

  • INTRODUO

    1

    CAPTULO 1 INTRODUO

    1.1 Importncia do Estudo

    Justificao Actualmente, as sociedades enfrentam as consequncias de uma crise

    econmica e social global e h uma tomada de conscincia da importncia do Ensino Superior para alcanar uma recuperao e um desenvolvimento econmico sustentvel. As transformaes estruturais, que as sociedades atravessam, num ambiente de grandes riscos, justificam da parte do Ensino Superior uma atitude consentnea com as necessidades daquelas sociedades, assente no papel de liderana que as instituies vocacionadas para ministrar aquele ensino devem desempenhar. No obstante, em todas as regies do mundo a educao superior est em crise1 (segundo Toffler (1984) os sistemas, que designou de Segunda Vaga, esto em crise; crise nos sistemas escolares).

    1 Segundo Peters (1995:280) As crises no tm graa. Mas acabam por se revelar uns professores excelentes.

  • INTRODUO

    2

    O nmero de estudantes matriculados no est de acordo com a capacidade de financiamento dos Estados, a qual tende a no aumentar ou mesmo a diminuir2. Para alm disso, a insero profissional dos jovens que terminam o Ensino Superior cada vez mais complexa, veja-se o caso de Portugal.

    Tambm, a globalizao a que assistimos apresenta oportunidades e suscita desafios3. preciso responder aos actuais reptos, interpretar as aspiraes da sociedade - estudantes, docentes, instituies de ensino e outras partes interessadas - de modo a permitir assegurar que o Ensino Superior seja reconhecido pela sua qualidade no s tcnica e cientfica, mas tambm cultural e pelo sucesso escolar e profissional dos estudantes.

    Esta evoluo actual do Ensino Superior e os novos desafios que se apresentam, em especial os derivados do desenvolvimento das novas tecnologias da informao e comunicao, abreviadamente designadas por TIC, obrigam a reconsiderar a sua funo e as suas atribuies e a reajustar o seu desenvolvimento em funo de novos pontos de vista e novas prioridades. A sociedade da informao coloca novos desafios, nomeadamente no que se refere ao Ensino Superior a distncia e aprendizagem interactiva (UNESCO, 2004). Esta orientao a que guiou a aco da UNESCO4, enquanto Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura, ao longo do seu terceiro Plano a Mdio Prazo (1990-1995); e posteriormente, as Estratgias de Mdio Prazo dos perodos de 1996-2001 e 2002-2007; que se centram

    2 A edio 2007 do Global Education Digest (UNESCO, 2007) desenvolve como tema central o financiamento dos

    sistemas educativos. feita uma anlise a uma srie de dados mundiais sobre o gasto pblico em educao que pode ser utilizado como ponto de referncia, explora temas relacionados com a equidade, tais como a distribuio do financiamento por nvel educativo, e mostra as diferenas entre os pases em termos de fontes de financiamento e a utilizao que dada aos fundos destinados educao. Segundo a OCDE (2006c), em sete dos vinte e sete pases da OCDE ou pases parceiros com dados disponveis (Austrlia, Repblica Checa, Polnia, Portugal, Repblica Eslava, Brasil e Israel), as despesas por estudante do Ensino Superior decresceram entre 1995 e 2003, principalmente devido ao aumento em mais de 30% do nmero de estudantes. 3 A globalizao um processo mltiplo com consequncias econmicas, sociais, polticas e culturais para o Ensino

    Superior. As oportunidades potenciais so mltiplas e diversas e abarcam: o aumento da oferta educativa e o maior acesso dos estudantes, o apoio economia do saber, o estabelecimento de ttulos conjuntos, o aumento da comparabilidade dos diplomas, os benefcios econmicos dos fornecedores de educao e a diversificao e gerao de novos ambientes acadmicos entre outros aspectos. Os desafios potenciais so variados, e incluem a preocupao pela qualidade do ensino, a desigualdade de acesso, a problemtica da fuga de talentos (crebros) fsica e virtual, especialmente dos pases menos desenvolvidos para o mais desenvolvidos entre outros desafios. Contudo, coloca novas dificuldades numa poca em que os Pases j no so os nicos fornecedores de educao superior e a comunidade acadmica j no possui o privilgio da adopo de decises em matria educativa. Um novo aspecto que surgiu o que se prende com o aparecimento da educao superior transfronteiria e o comrcio de servios educativos, o que poder influir na capacidade dos Governos para regular a educao superior numa perspectiva de poltica pblica. A diminuio da capacidade normativa por parte dos Governos pode afectar os pases mais dbeis e beneficiar os mais prsperos (UNESCO, 2004). 4 UNESCO - United Nations Educational, Scientific, and Cultural Organization.

  • INTRODUO

    3

    nos desafios colocados pela globalizao: na actualidade um novo desafio assenta no consenso sobre normas e princpios estabelecidos para responder aos novos reptos e dilemas ticos como resultado da globalizao (UNESCO, 2004:22).

    Decorrente de uma resoluo da 27. reunio da Conferncia Geral da UNESCO (Paris, 1993), foi elaborado, em 1995, um documento propondo as linhas de orientao para o estabelecimento de uma poltica, para a mudana e desenvolvimento na educao superior; culminando com a organizao, em 1998, da Conferncia Mundial sobre a Educao Superior em torno do tema: a Educao Superior no sculo XXI: viso e aco.

    Esta nova iniciativa complementa a concertao mundial organizada em Jomtien (Tailndia, 1990) sobre a educao bsica, e a 45. reunio da Conferncia Internacional de Educao sobre o Fortalecimento da funo do pessoal docente num mundo em mudana (Genebra, 1996). Articulou-se com outras conferncias patrocinadas pela UNESCO: o Segundo Congresso Internacional sobre Educao e Informtica Polticas educativas e novas tecnologias (Moscovo, 1996), a Quinta Conferncia Internacional sobre Educao de Adultos (Hamburgo, 1997) e a Conferncia Intergovernamental sobre Polticas Culturais para o Desenvolvimento (Estocolmo, 1998). Prosseguiu com outras conferncias importantes celebradas em 1999; destacando-se o Segundo Congresso Internacional sobre o Ensino Tcnico e Profissional - Educao e formao ao longo da vida: uma ponte para o futuro (Seul), e a Conferncia Mundial sobre a Cincia: A Cincia para o Sculo XXI Um Novo Compromisso (Budapeste).

    A reflexo comeou ao nvel das principais regies, atravs de reunies regionais que proporcionaram a oportunidade para uma mobilizao de grande dimenso, como referido em documentos da UNESCO - Amrica Latina e Carabas: Conferncia Regional de Havana, Cuba (1996); frica: Conferncia Regional de Dakar, Senegal (1977); sia e Pacfico: Conferncia Regional de Tquio, Japo (1997); Europa: Conferncia Regional de Palermo, Itlia (1997); Estados rabes: Conferncia Regional de Beirute e Lbano (1998); culminado com a Conferncia Mundial sobre a Educao Superior realizada em Paris (1998).

    Outras conferncias sobre a educao superior foram realizadas na Europa, de onde resultaram vrias declaraes e Comunicados como a Declarao da Sorbone

  • INTRODUO

    4

    (1998), a Declarao de Bolonha (1999), o Comunicado de Praga (2001), a Declarao aprovada na Conferncia de Berlim (2003), o Comunicado de Bergen (2005), o Comunicado da Conferncia de Londres (2007), o Comunicado da reunio ministerial de Lovaina (2009) e o Comunicado da Conferncia Mundial sobre a Educao Superior (Paris, 2009).

    Todos estes eventos apontam para uma consciencializao crescente do mundo acadmico, poltico e da opinio pblica, da necessidade de estabelecer uma sociedade mais justa, assente no desenvolvimento e fortalecimento das suas dimenses intelectual, cultural, social, cientfica e tecnolgica. reconhecido, que o conhecimento um factor insubstituvel para o desenvolvimento social e humano; e uma componente indispensvel para consolidar e enriquecer a cidadania, capaz de dar aos cidados as competncias necessrias para enfrentar os desafios deste novo milnio, com uma conscincia de partilha de valores e pertinncia num espao social, e cultural comum.

    A pertinncia da educao superior deve avaliar-se em funo da adequao, entre o que a sociedade espera das instituies que o ministram e o que estas fazem; e como o fazem. Cada vez mais, a educao intercalada e entrosada com o mundo do trabalho; e mais repartida ao longo da vida (Toffler, 1984). Da que, as instituies e os sistemas de Ensino Superior, em particular nas suas relaes cada vez mais estreitas com o mundo do trabalho, devam alicerar as suas orientaes de longo prazo nas necessidades sociais; tendo em considerao as culturas5 (UNESCO, 2002) e o ambiente (por exemplo, a avaliao dos efeitos ambientais da actividade dos centros de Ensino Superior). importante prestar-se especial ateno s actividades destinadas eliminao da pobreza, da intolerncia, da violncia, do analfabetismo, da fome, da deteriorao do ambiente6 e das enfermidades (quer da populao em geral quer as resultantes da actividade laboral); e s actividades encaminhadas ao fomento da paz, mediante uma abordagem interdisciplinar e transdisciplinar7.

    5 Neste mbito, na Conferncia Geral sobre a Diversidade Cultural (2001) foi aprovada a Declarao Universal da

    UNESCO sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002a). 6 Segundo Al Gore (2007), no seu livro Uma verdade inconveniente, a crise climtica pode, por vezes, parece-nos

    estar a acontecer lentamente, mas, na verdade, est a desenrolar-se muito rapidamente e tornou-se uma verdadeira emergncia planetria. 7 A transdisciplinaridade diz respeito quilo que est ao mesmo tempo entre as disciplinas, atravs das diferentes

    disciplinas e alm de qualquer disciplina. O seu objectivo a compreenso do mundo presente, para o qual um dos imperativos a unidade do conhecimento. Mais frente voltar-se- a falar deste assunto.

  • INTRODUO

    5

    A anlise da situao do Ensino Superior pe em relevo trs prioridades dominantes, s quais se deve conceder a mxima ateno (UNESCO, 1998): (i) a ampliao do acesso sobre a base do critrio do mrito; (ii) a renovao dos sistemas e Instituies de Ensino Superior e; (iii) o fortalecimento da ligao sociedade, em particular ao mundo do trabalho.

    Esta atitude de renovao do Ensino Superior articula-se em torno de quatro exigncias fundamentais: (i) a pertinncia; (ii) a gesto e o financiamento; (iii) a cooperao internacional e; (iv) a qualidade.

    A qualidade da educao superior, conceito multidimensional e complexo8, dever compreender todas as suas funes e actividades. Os critrios da qualidade devem reflectir os objectivos globais do ensino superior, em particular o de incutir nos estudantes o pensamento crtico e independente; e a capacidade de aprender ao longo da vida.

    H que prestar especial ateno ao progresso dos conhecimentos mediante a investigao. As Instituies de Ensino Superior de todas as regies devero submeter-se, como referido na Declarao Mundial sobre a Educao Superior, a avaliaes internas e externas realizadas com transparncia, levadas a cabo abertamente por especialistas independentes. Todavia, importante prestar-se a devida ateno s particularidades dos contextos institucionais, nacionais e regionais, a fim de ter em conta a diversidade e evitar a uniformidade. Percebe-se a necessidade de uma nova viso e um novo modelo de educao superior, que dever estar centrado no estudante (UNESCO, 1998; Declarao de Bolonha, 1999). Para alcanar o referido objectivo, h que reformular os planos de estudo, no se ficar pelo mero domnio cognoscitivo9 das disciplinas e incluir a aquisio de conhecimentos prticos, competncias e atitudes para a comunicao, a anlise criativa e crtica, a reflexo independente e o trabalho em equipa em contextos multiculturais como acontece actualmente, por exemplo, em

    Portugal.

    No processo de discusso, podero ocorrer algumas tenses destacando-se por exemplo as seguintes: a massificao do Ensino Superior e excelncia acadmica; a

    8 O facto da qualidade ser um conceito difcil de definir, complexo e multidimensional, no pode servir de argumento

    para no tentar compreend-lo nas suas diversas acepes e na sua alterao ao longo da histria de qualquer instituio em particular das Instituies de Ensino Superior. 9 Ou seja, a capacidade ou o poder de conhecer (www.infopedia.pt).

  • INTRODUO

    6

    participao social e mrito acadmico; a educao pblica e educao privada; o investimento pblico no ensino essencial e no Ensino Superior; a autonomia e avaliao externa; as polticas nacionais para a educao superior e internacionalizao dos sistemas educacionais.

    Uma educao de qualidade e socialmente responsvel uma condio essencial da educao para a sustentabilidade.

    A educao para o desenvolvimento sustentado envolve diversos mbitos que reflectem diversos objectivos e interrelao entre eles, como sejam, por exemplo, a promoo e melhoria da educao bsica, a reorientao dos programas de educao de todos os nveis orientada para o desenvolvimento sustentado, a sensibilizao para a sustentabilidade, formao e envolvimento do Ensino Superior. A educao o principal agente da transio para o desenvolvimento sustentado.

    Est presente uma combinao de partes que devero estar coordenadas entre si de modo a concorrerem para um resultado de excelncia (ensino socialmente responsvel, investigao socialmente responsvel, gesto (a gesto das Instituies de Ensino Superior uma Responsabilidade Social), servios sociedade) ou para formarem um conjunto, isto , um sistema, ou seja, um conjunto de partes dependentes umas das outras.

    Pode dizer-se que tudo o que diga respeito Educao Superior de uma forma abrangente, incluindo a Qualidade e a Responsabilidade Social, um assunto extremamente relevante.

    Enquadramento Os sistemas de educao e de formao devero aliar qualidade, acesso

    generalizado e abertura ao mundo exterior. Atendendo ao papel central que desempenham, a criao de uma sociedade

    baseada no conhecimento representa para as Instituies de Ensino Superior uma fonte de oportunidades e de desafios considerveis. As Instituies de Ensino Superior actuam efectivamente num ambiente cada vez mais globalizado, em constante evoluo, marcado por uma concorrncia crescente para atrair e manter os melhores talentos e pela emergncia de novas necessidades a que tm a obrigao de dar resposta.

  • INTRODUO

    7

    Este trabalho insere-se no esprito dos desafios lanados pela UNESCO e implcitos na alnea c) do Artigo 5 da Declarao Mundial sobre Educao Superior no Sculo XXI: Viso e Aco, ou seja, a relevncia do incremento da investigao em todas as disciplinas, compreendidas as cincias sociais e humanas, as cincias da educao, incluindo a investigao sobre a educao superior, e no do Artigo 53. da Lei de Bases do Sistema Educativo onde referido que A investigao em educao destina-se a avaliar e interpretar cientificamente a actividades desenvolvida no sistema educativo, devendo ser incentivada, nomeadamente, nas Instituies de Ensino Superior .

    1.2 Definio do Problema Face ao que foi dito anteriormente considera-se o seguinte Problema: h a

    necessidade de estabelecer uma sociedade mais justa construda, particularmente, mediante o desenvolvimento e fortalecimento das suas dimenses intelectual, cultural, social, cientfica e tecnolgica, integrando os princpios, valores e prticas do desenvolvimento sustentado. O Ensino Superior fundamental para alcanar os objectivos referidos, no entanto existe, actualmente, uma crise neste nvel de ensino. O Ensino Superior enfrenta desafios e dificuldades relativos a financiamento, igualdade de condies de acesso, melhoria das competncias dos colaboradores das instituies que o ministram, formao baseada em competncias, melhoria e manuteno da qualidade do ensino, a investigao e os servios, a pertinncia dos planos de estudo, as possibilidades de emprego dos diplomados, o estabelecimento de acordos de cooperao eficazes e igualdade de acesso aos benefcios que permitem a cooperao internacional. O Ensino Superior tem que enfrentar por sua vez os desafios e as novas oportunidades propiciadas pelas tecnologias, em particular as novas tecnologias da informao e comunicao, que melhoram a maneira de produzir, organizar, difundir e controlar o saber e de aceder ao mesmo.

    Para dar resposta a este problema estabelece-se a seguinte Questo de partida:

    Que Modelos de Gesto e Governao contribuem para a melhoria da Qualidade e Responsabilidade Social no Ensino Superior?

  • INTRODUO

    8

    1.3 Objectivos Como foi referido anteriormente o Ensino Superior importante para o

    desenvolvimento econmico e social das sociedades. Contudo, o Ensino Superior deve ter como objectivo alcanar nveis de qualidade e excelncia elevados. Todas as instituies devero demonstrar nveis de qualidade em termos de liderana, desenvolvimento curricular, desempenho pedaggico, viabilidade financeira e capacidade de garantir o acesso aos recursos existentes. Por outro lado, dada a complexidade dos desafios globais, presentes e futuros, o ensino superior tem implcito uma responsabilidade social, no que se refere compreenso e resoluo dos problemas multifacetados que se apresentam, os quais possuem dimenses sociais, econmicas, cientficas e culturais. A questo que se coloca, ser essencialmente, como

    a vai explicitar?

    Assim, os objectivos principais deste trabalho so os seguintes: Objectivo 1 debater o conceito da Qualidade do Ensino Superior e, identificar

    e estudar sistemas e outros instrumentos de apoio melhoria da qualidade visando a sua integrao;

    Objectivo 2 propor um modelo de Responsabilidade Social para Instituies de Ensino Superior baseada na metodologia de Deming (PDCA);

    Objectivo 3 - identificar Indicadores de Responsabilidade Social, recorrendo a um estudo piloto, utilizando os indicadores referidos.

    O objectivo 2 refere-se apenas ao desenvolvimento do modelo de Responsabilidade Social. A sua implementao ficar para um desenvolvimento futuro deste trabalho.

    1.4 Organizao da Dissertao O trabalho que ora se apresenta, composto por seis captulos. O primeiro

    captulo, Introduo, um captulo introdutrio onde se refere a pertinncia do tema,

  • INTRODUO

    9

    os objectivos a atingir, o enquadramento, a metodologia, as convenes utilizadas e as dificuldades e limitaes surgidas.

    O segundo captulo, designado por A Qualidade do Ensino Superior no Contexto Actual, d uma perspectiva do que a qualidade do Ensino Superior, a internacionalizao do Ensino Superior, a relao do Ensino Superior com as diversas partes interessadas: mercado de trabalho, estudantes, organizaes empresariais, organizaes profissionais, decisores polticos entre outros.

    O terceiro captulo, A Responsabilidade Social do Ensino Superior como Factor de Qualidade, d uma viso dos aspectos relevantes nesta matria.

    O quarto captulo, designado por Melhoria Contnua da Qualidade do Ensino Superior: Perspectivas e Modelos, aborda alguns tipos de sistemas de garantia da qualidade, modelos de excelncia e diversos sistemas de gesto.

    No quinto captulo, intitulado Modelo e Indicadores de Responsabilidade Social para as Instituies de Ensino Superior, proposto um modelo e so desenvolvidos alguns Indicadores de Responsabilidade Social, culminando com um estudo piloto, o qual, pretende por um lado validar, no na prtica, os Indicadores desenvolvidos e por outro, ficar com uma perspectiva em matria de Responsabilidade Social no Ensino Superior portugus.

    Por ltimo, surge o sexto captulo, onde se apresentam as concluses deste trabalho e se apontam alguns desenvolvimentos futuros.

    Existem tambm nove anexos em suporte digital contendo: (i) o estudo piloto efectuado; (ii) diversa legislao no mbito do ensino superior no mbito da Gesto e Governao, Estruturas e Pessoas, Avaliao e Qualidade, Segurana e Sade Ocupacional, Ambiente, Qualidade do ar interior, trmica e energtica, e outra geral; (iii) alguns documentos considerados importantes no mbito do Ensino Superior a nvel mundial, como o caso da Declarao Mundial sobre a Educao Superior; (iv) documentos importantes no mbito do Espao Europeu de Ensino Superior, como sejam, a Declarao da Sorbonne, a Declarao de Bolonha, o Comunicado de Praga, o Comunicado de Berlim, o Comunicado de Bergen, o Comunicado de Londres, Relatrios de seguimento e Documentos complementares; (v) alguns aspectos que se prendem com a SIDA e o seu impacte no Ensino; (vi) algumas consideraes sobre a

  • INTRODUO

    10

    utilizao das novas Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) no Ensino Superior.

    1.5 Metodologia A evoluo do trabalho de doutoramento tem uma caracterstica dinmica.

    Como tal, no existem etapas estanques. A figura 1 pretende representar o modelo adoptado para desenvolver aquele trabalho10.

    A partir do anteprojecto de investigao, foi delineada uma estratgia e feito um plano (ajustvel evoluo do trabalho). Como se pode observar na figura referida existe um tringulo cujos vrtices correspondem ao plano (fase 1), ao levantamento do estado da arte11 (fase 2) e ao trabalho de investigao e criao12 (fase 3). Estes aspectos que correspondem s fases 1, 2 e 3 como foi referido anteriormente esto ligados entre si pelos ciclos de retorno representados. Estes ciclos foram percorridos vrias vezes, at que o trabalho efectuado comeou a produzir resultados. Quando isso aconteceu, passou-se fase 4, que corresponde escrita dos vrios captulos da tese. A cada momento, atravs da fase 5, foi possvel fazer uma anlise crtica e reflexo sobre o que foi escrito, e assim, ter informao para voltar a outras fases anteriores numa

    perspectiva de melhoria contnua. Por outro lado, a frequncia das vrias aces de formao que se representa no centro do tringulo obtido pelas fases 1, 2 e 3, permitiu obter um maior nmero de conhecimentos que se reflectiram nas fases 1, 2 e 3 e, tambm, por consequncia, na fase 4.

    O plano, ou lista de tpicos, que se pretendeu tratar, foi-se adaptando medida que o trabalho evoluiu. Por isso, no ficou acabado o texto de introduo (Captulo 1 Introduo), o qual, devido a questes que foram tratadas em pormenor, foi a ltima coisas a ser terminada.

    10 Figueiredo (1997) prope o estabelecimento de uma estratgia assente em seis fases para articular o trabalho

    terico e o de campo com a tarefa especfica de escrever a tese: plano, levantamento do estado da arte, trabalho de pesquisa e criao, corpo da tese, concluses e introduo. Com inspirao no modelo deste autor construiu-se o modelo seguido. 11

    O estado da arte tende a mudar enquanto o trabalho progride (ou a nossa prpria viso do estado da arte tende a amadurecer com o tempo). 12

    Trabalho de pesquisa e criao, o trabalho fundamental, que conduz tese. Progride normalmente num circulo de retorno que o liga ao levantamento do estado da arte. medida que se vo obtendo resultados estveis, podem-se ir escrevendo os captulos do corpo da tese que tratam desses resultados.

  • INTRODUO

    11

    O levantamento do estado da arte, desde o incio do estudo manteve-se de uma forma gradual, tendo em ateno as alteraes ocorridas enquanto progredia, e/ou da viso do estado da arte que com o tempo tende a amadurecer.

    Fonte: Elaborao do autor

    Figura 1 Modelo do desenvolvimento do trabalho de doutoramento

    Progrediu normalmente num crculo de retorno que o liga ao levantamento do estado da arte. A sua evoluo obrigou a rever o esboo da introduo, isto , das grandes finalidades. medida que se foram obtendo resultados estveis, foi-se

    Anteprojecto

    Plano

    Trabalho de pesquisa e

    criao

    Levantamento do estado da

    arte

    Elaborao da

    Dissertao

    Anlise crtica e Reflexo

    Fase 1

    Fase 2 Fase 3

    Fase 4

    Fase 5

    Aces de formao

    CONCLUSO

  • INTRODUO

    12

    escrevendo os captulos referentes ao corpo da Dissertao que tratam desses mesmos resultados.

    As concluses so um balano final do estudo realizado, realando os aspectos principais, formulando crticas positivas e negativas sobre o que se conseguiu, e proposta de sugestes para estudos futuros.

    1.6 Dificuldades e Limitaes Est em curso uma reforma profunda do Ensino Superior e por isso surgiram

    novos documentos ao longo do tempo em que decorria esta investigao, tanto a nvel nacional como ao nvel no nacional, o que obrigou a fazer actualizaes constantes.

    Tambm, se verificou alguma dificuldade, o que se previa partida, na obteno de respostas ao questionrio desenvolvido para o estudo piloto efectuado.

    Estes aspectos, para alm de constiturem dificuldades e limitaes, contriburam para uma maior morosidade na realizao deste trabalho.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    13

    CAPTULO 2 A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    2.1 Introduo Na pirmide da educao13 tradicional o ensino superior no s constitui o seu

    ponto culminante, como tambm um pilar crucial para o desenvolvimento humano no mundo. No marco actual do processo de aprendizagem ao longo da vida14, o ensino superior oferece no s as capacidades (destrezas) de alto nvel que exigem os diversos mercados laborais, bem como, o treino essencial de cientistas, docentes, economistas,

    empresrios, enfermeiros, engenheiros, mdicos, socilogos e outros especialistas das

    13 Processo que visa o desenvolvimento harmnico do ser humano nos seus aspectos, intelectual, moral e fsico e a

    sua insero na sociedade (http://www.infopedia.pt). 14

    Pode-se definir aprendizagem ao longo da vida (lifelong) como (Comisso das Comunidades Europeias, 2001b, p. 10): toda a actividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, como objectivo de melhorar os conhecimentos, as aptides e competncias, no quadro de uma perspectiva pessoal, cvica, social e, ou, relacionada com o emprego.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    14

    diferentes reas do saber. So estes indivduos formados que, desenvolvem o saber e as anlises necessrias para impulsionar as economias15, apoiar a sociedade, educar as crianas e os jovens, liderar governos eficazes e tomar importantes decises que envolvem o conjunto da sociedade.

    Ainda que nos pases em desenvolvimento e transio, se observe um crescimento significativo e grandes melhorias nos sistemas de ensino superior, o

    carcter evolutivo, da economia do conhecimento, contrasta com a rigidez e debilidade de certos sistemas de ensino superior o que, lhes impede a maximizao do seu potencial. Em particular, os pases em desenvolvimento correm o risco, de ficarem excludos, devido dinmica da economia mundial16. Esta marginalizao no s promove a fuga do capital humano dos pases com menor capacidade para assumir os custos, mas tambm, aumenta a probabilidade de ignorar ou descurar as necessidades do

    prprio pas. Entre estas ltimas, destacam-se, o caso do VIH17/SIDA18 e outros problemas de sade pblica, o atraso da agricultura, a deteriorao ambiental, a falta de

    capacidade institucional, a escassez de projectos de investigao e inovao que, poderiam ajudar os pases a beneficiar do conhecimento global.

    As instituies de ensino superior so, sem dvida, parte essencial do sistema de ensino superior. Porm, o conjunto diverso e crescente de instituies pblicas e no pblicas em cada pas, sejam institutos tcnicos, laboratrios de investigao, centros de excelncia, centros de ensino a distncia ou outros, formam uma rede de instituies

    sobre a qual, se apoia a produo de conhecimento para o desenvolvimento. Dada a gama diversa de problemas, aos quais preciso dar soluo, o ensino

    superior um importante bem pblico, essencial para o desenvolvimento e para a reduo da pobreza, o qual deve ser acessvel a todos os estratos e pessoas,

    independentemente do gnero19 (homem ou mulher). De igual modo, o ensino superior

    15 Regionais, nacionais e locais.

    16 Engloba-se as economias regionais, nacionais e locais.

    17 HIV em lngua inglesa.

    18 As siglas SIDA representam Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (AIDS em lngua inglesa). No Anexo 1,

    Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (SIDA), aborda-se este assunto. 19

    Na Unio Europeia foi criado, atravs do Regulamento (CE) n. 1922/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, publicado no Jornal Oficial L 403 de 30 de Dezembro de 2006, o Instituto Europeu para a Igualdade de Gnero, o qual se destina a ajudar as instituies europeias e os Estados-Membros a promover a igualdade entre homens e mulheres em todas as polticas comunitrias e polticas nacionais delas decorrentes, bem como a lutar contra a discriminao com base no sexo. O referido instituto prope-se igualmente sensibilizar os cidados da Unio Europeia para este tema.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    15

    j no deve ser considerado um subsector diferenciado da educao, mas, pelo contrrio, faz parte dos elementos cruciais do sistema global de educao, o qual deve ser mais flexvel, diverso, eficaz e esteja em sintonia com as necessidades da economia do conhecimento. Reconhece-se que, o contexto vital para compreender os problemas

    e, imprescindvel consultar os grupos interessados para a concepo de solues mais adequadas.

    Os governos da maioria dos pases do mundo, ao estudar os programas de educao superior no decurso das ltimas dcadas, centraram a sua ateno nos problemas relativos ao controlo e melhoria da qualidade (El-Khawas, DePietro-Jurand & Holm-Nielsen, 1998). Apesar das diferenas e grau de desenvolvimento do sector da educao nos diversos pases, muitos governos chegaram concluso que os mtodos tradicionais de controlo acadmico no so adequados, para enfrentar os desafios do

    presente e do futuro e que necessrio criar controlos da qualidade mais explcitos. Algumas organizaes, como a ENQA ou a OCDE, e a Comisso Europeia,

    reforaram esta tendncia ao considerar essencial a criao de novas estruturas e novos mtodos, para assegurar a qualidade, no mbito do Ensino Superior.

    As estratgias relativas qualidade variam consideravelmente entre os vrios pases. Alguns governos adoptaram medidas, destinadas a reforar a qualidade,

    mediante a incorporao de novos requisitos de prestao de contas e outros mecanismos de controlo da gesto. Na Argentina, por exemplo, criaram-se mecanismos

    de controlo da qualidade que, dependem de um sistema de informao e avaliao e de novas normas para o financiamento das Instituies de Ensino Superior (Lamarra, 2002). Muitos pases desenvolveram sistemas de acreditao, enquanto que outros estabeleceram comits de avaliao ou centros que, realizam ciclos de avaliao

    externa. Noutros pases foram criados rgos independentes, frequentemente uma entidade de alcance nacional, como por exemplo a Agencia Nacional de Evaluacin de la Calidad y Acreditacin (ANECA), em Espanha, e a recente Agncia de Avaliao e Acreditao do Ensino Superior, criada em Portugal; noutros casos, como o Mxico, Pases Baixos ou Romnia, existe um organismo diferente para cada tipo de instituio, regio ou propsito.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    16

    Esta diversidade de estratgias denota as preferncias polticas e culturais de cada pas, as orientaes dos governos e a etapa de desenvolvimento do sector da educao superior.

    O campo de aco dos mecanismos de controlo da qualidade tambm variou

    consideravelmente. Na Esccia e na Inglaterra, por exemplo, existem procedimentos para supervisionar a eficcia do ensino, enquanto que em Hong Kong (El-Khawas, DePietro-Jurand & Holm-Nielsen, 1998) dada prioridade criao de mecanismos de gesto da qualidade. Estabeleceram-se outros sistemas para conceder autorizao a novas instituies. Alm disso, adoptaram-se medidas orientadas a compensar a produtividade na investigao, seja de determinados especialistas (como no Mxico) ou de todo um departamento acadmico (como no Reino Unido).

    Por outro lado, os organismos de controlo da qualidade abordaram de maneira

    muito diversa os problemas relativos transferncia de estudantes e os estudos no estrangeiro, assim como os relativos ampliao de novas modalidades de fornecimento

    de servios de educao, como o ensino recorrendo ao vdeo, a transmisso interactiva a lugares remotos ou, mais recentemente, a aprendizagem atravs da Internet.

    Este captulo contextualiza o ensino superior na actual crise a nvel mundial deste nvel de ensino, atendendo complexidade e diversidade crescentes dos sistemas

    de ensino superior modernos bem, como, a sua qualidade.

    2.2 O Ensino Superior num Ambiente Global Dinmico De acordo com Seves (2003) as primeiras evidncias de formao superior

    encontram-se na cultura sumria20 por volta de 2400 a.C. e foram as notveis

    percursoras da universidade, por exemplo, na Academia de Plato, no liceu de Aristteles21, nas escolas superiores em Constantinopla, ndia (Nolanda, sculo V), China (Xian, sculo VII) e na zona de denominao rabe (Bagdad, Cairo, Crdoba, Granada, Toledo, sculos X e XI).

    20 Os Sumrios eram habitantes da regio sul da Mesopotmia. Construram uma grande civilizao cujas origens

    remontam a 3 300 a.C. desconhecendo-se a sua origem. O que sabemos no entanto que os Sumrios possuam uma cultura superior, plenamente desenvolvida. 21

    Tanto a Academia de Plato como o Liceu de Aristteles estavam organizadas como comunidades complexas e diversificadas e no como um simples grupo composto pelo professor e pelos estudantes (alunos).

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    17

    A primeira Instituio de Ensino Superior, a universidade22 (instituio social de nvel superior, destinada ao cultivo dos saberes num processo de formao de humanidade, inscreve-se e funciona num sistema educativo, cientfico e cultural mais amplo, onde chamada a ocupar um lugar de topo, e a empreender um desempenho de

    acrescida excelncia (Moura, 1999)), nasce entre os sculos XI e XII, primeiro na forma de universitas scholarium, mais tarde como universitas magistrorum e universitas magistrorum et scholarium (por exemplo, Bolonha data do sculo XII, seguida em comeos do sculo XIII por Valencia, Oxford e Paris; Coimbra criada em 1279 (Gil, 1999)).

    Na sua realidade escolar, segundo Moura (1999), as universitates medievais eram organismos associativos: de estudantes (universitas scholarium, segundo o modelo bolonhs), de professores (collegia doctorum ou universitas magistrorum), de estudantes e docentes (universitas magistrorum et scholarium, na tradio parisiense); a denominao universitas studiorum mais tardia, e recobre desta feita a totalidade das disciplinas ministradas num determinado centro de estudos.

    O primeiro antecedente de uma Lei Orgnica Universitria foi a Carta de Privilgios outorgada pelo imperador Federico Barbarroja aos estudantes de Bolonha em 1155 (Seves, 2003). Da em diante, diversas universidades receberam privilgios por carta imperial ou bula23 papal.

    A educao superior teve ao longo do tempo um papel importante na sociedade

    (segundo Barreto (1999), globalmente, poder-se- dizer que a evoluo e a mudana na universidade foram, dentro do sistema educativo, as que mais impacte tiveram na sociedade), razo pela qual a educao superior e a investigao sejam hoje em dia parte fundamental do desenvolvimento cultural, econmico (economia cada vez mais baseada no conhecimento) e ecologicamente sustentado dos indivduos, das comunidades e das naes (UNESCO, 1998).

    A ltima dcada do sculo XX caracterizou-se por alteraes profundas e significativas no ambiente global, assim como, por novas tendncias no cenrio mundial

    22 Do ponto de vista subjectivo, a universidade comeou igualmente por indicar a ideia de um determinado

    colectivo. 23

    Nome vulgarmente dado a documentos pontifcios (prprio ou proveniente do Papa - chefe da Igreja Catlica ou, chefe supremo de qualquer Igreja) escritos em pergaminho com selo papal gravado em chumbo ou cera (http://www.portoeditora.pt).

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    18

    que, de uma forma ou de outra, tiveram importantes repercusses em alguns aspectos, destacando-se, no papel, funes e modo de funcionamento dos sistemas de ensino superior no mundo, incluindo os pases em desenvolvimento e transio. Algumas destas tendncias traduzem-se em oportunidades, enquanto que outras, constituem

    desafios potenciais ou, inclusivamente, ameaas, que se podero repercutir no s na forma e no modo de funcionamento, mas tambm, na misso e no propsito dos

    sistemas de ensino superior. Entre as alteraes de maior influncia destaca-se a importncia cada vez maior do conhecimento como motor de crescimento no mbito econmico global, o surgimento de um mercado laboral de mbito internacional, a revoluo da informao e da comunicao e as transformaes sociais e polticas globais. Ou seja, no actual ambiente global dinmico destacam-se, para alm de outros, pelo menos quatro aspectos a ter em conta (World Bank, 2002):

    O conhecimento como factor chave do desenvolvimento

    O mercado laboral de mbito internacional

    A revoluo da informao e da comunicao

    As transformaes sociais e polticas globais

    a) O conhecimento como factor chave do desenvolvimento A capacidade de uma sociedade para produzir e utilizar o conhecimento

    crucial, para alcanar um crescimento econmico sustentado e melhorar o modelo de vida dos cidados. O conhecimento converteu-se no factor preponderante de

    desenvolvimento econmico, e a acumulao de conhecimento surge como motor fundamental do processo de desenvolvimento (Conceio, Heitor & Santos, 1999).

    O ensino permanente de nvel superior permite aos pases manter um processo constante de avaliao, adaptao e aplicao de novos conhecimentos (World Bank, 1999a). Num estudo elaborado pela OCDE, sobre os factores determinantes do crescimento, conclui-se que as taxas subjacentes de crescimento a longo prazo, nas economias dos pases membros desta organizao dependem da manuteno e expanso da base de conhecimentos (OCDE, 1998a). As economias mais avanadas tecnologicamente assentam no conhecimento, e deste modo geram trabalhos relacionados com o conhecimento num amplo espectro de disciplinas que surgiram

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    19

    repentinamente. Actualmente, o conhecimento um factor determinante da vantagem competitiva dos pases; as vantagens comparativas entre as naes assentam cada vez menos na abundncia de recursos naturais ou mo-de-obra barata e radica cada vez mais na inovao e utilizao do conhecimento e na combinao destes24.

    b) O mercado laboral de mbito internacional A globalizao25, a diminuio dos custos das comunicaes e dos transportes,

    e a abertura das fronteiras polticas so factores que, combinados facilitam a mobilidade de recursos humanos especializados. Esta dinmica produziu de facto um mercado global de capital humano, onde os indivduos com formao superior tm maiores possibilidades de participar. Neste mercado do sculo XXI, os pases mais ricos tentam arranjar a melhor forma de atrair os indivduos de maior capacidade. Segundo Afonso (1999) o mundo para o qual fomos preparados j no existe. Entre os factores mais poderosos de atraco, destacam-se as polticas que fomentam de maneira eficaz as actividades de investigao e desenvolvimento e aumentam o investimento directo,

    oferecem ensino de ps-graduao atractivo e oportunidades de investigao, e contratam jovens recm graduados e profissionais. No caso dos pases da OCDE, estes, aumentaram o seu investimento na investigao e desenvolvimento, no s no sector da cincia e tecnologia, mas tambm, em outros sectores baseados no conhecimento,

    criando assim oportunidades para as pessoas altamente especializadas. Por exemplo, no incio do ano de 2001, o governo australiano anunciou um incremento de 100% para o

    financiamento do Conselho Australiano de Investigao e uma iseno de impostos equivalente ao gasto das empresas em actividades de investigao e desenvolvimento.

    Cerca de 25% dos estudantes de cincias e engenharia inscritos em programas universitrios de ps-graduao nos Estados Unidos da Amrica, provm de outros

    pases26, isto , entre 50 mil e 100 mil estudantes estrangeiros ingressaram no mercado norte-americano de capital humano especializado (World Bank, 2000).

    24 O Banco Mundial (World Bank, 1999a) no seu relatrio Knowledge for Development (o conhecimento ao servio

    do desenvolvimento) refere o caso de sucesso de Bangalur, a capital da indstria indiana do software. 25

    O mundo caracteriza-se por rpidas mutaes, uma globalizao crescente e uma maior complexidade em termos de relaes econmicas e scio-culturais. A velocidade a que se esto a efectuar estas mutaes repercute-se no contexto em que deve ser colocada qualquer reflexo sobre os objectivos futuros dos sistemas de educao e formao. As novas sociedades e estruturas econmicas so cada vez mais guiadas pela informao e o conhecimento (Conselho da Unio Europeia, 2001). 26

    A maioria destes estudantes cursou o ensino bsico e os primeiros graus do ensino superior no seu pas de origem, ou seja, so estes pases e no os que oferecem emprego os que custeiam a formao inicial. Isto aconteceu, e ainda acontece, em Portugal.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    20

    O mercado laboral global de capital humano altamente qualificado uma realidade em expanso e uma preocupao prioritria dos governos, em particular nos pases em desenvolvimento.

    A fuga de crebros ou de talentos pode causar debilidades nas estruturas dos

    governos e da capacidade de gesto dos sectores produtivos, e das instituies de ensino superior.

    A crescente mobilidade internacional de recursos humanos qualificados pode ter efeitos, tanto positivos como negativos, em todos os nveis de desenvolvimento dos pases. No obstante, nos pases em desenvolvimento as consequncias tendem a ser adversas, j que abandonam o pas especialistas, tcnicos e profissionais que poderiam aplicar os seus conhecimentos em programas destinados a reduzir a pobreza e melhorar as condies de vida dos cidados. Apesar das consequncias para um pas, que pode ter

    a fuga de crebros ou de talentos, raramente um tema de preocupao explcito. Por exemplo, em Portugal, devido ao crescente desemprego de licenciados, estes procuram

    outros pases, como o Reino Unido, Espanha, etc.27 De qualquer forma, quaisquer que sejam as causas, a mobilidade dos escassos

    recursos humanos qualificados continuar a apresentar riscos a longo prazo em muitos pases para o investimento no ensino superior. Problemas como o do financiamento, da

    autonomia, da qualidade, das relaes com os meios de produo e com o mercado de trabalho (Estrela, 1999), fazem parte do dia a dia de qualquer Instituio de Ensino Superior.

    c) A revoluo da informao e da comunicao Uma dimenso especfica do progresso cientfico e tecnolgico que produziu

    um efeito significativo no sector do ensino superior a revoluo da informao e da

    comunicao. O invento da imprensa, no sculo XV (Drucker, 2000), produziu a primeira transformao radical dos tempos modernos sobre a forma de armazenar e

    partilhar conhecimentos. Para Pombo (1999:5) um facto que o conhecimento, tanto ao nvel da sua construo como da sua transmisso, sempre esteve dependente da evoluo das formas e tecnologias da comunicao. Refiram-se apenas a escrita,

    27 Tambm, a Comisso das Comunidades Europeias (2006a:3) refere que: O desemprego entre diplomados em

    muitos Estados-Membros situa-se em nveis elevados totalmente inaceitveis.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    21

    condio de possibilidade de toda a cincia, e a imprensa, condio de possibilidade da revoluo cientfica dos sculos XVI e XVII.

    Actualmente, as inovaes tecnolgicas na informtica e nas telecomunicaes

    esto, uma vez mais, a revolucionar a capacidade de arquivar, transmitir, aceder e

    utilizar a informao. O acelerado progresso da electrnica, as comunicaes e as tecnologias de transmisso por satlite, que fortalecem drasticamente a capacidade de

    transmisso de dados a baixo custo, produziu a neutralizao quase total da distncia fsica como barreira para a comunicao e como factor de competitividade econmica.

    Um ritmo acelerado do desenvolvimento tecnolgico converteu o conhecimento, num requisito crucial para participar na economia global. O impacte das novas tecnologias da informao e comunicao agilizaram a produo, a utilizao e a divulgao do conhecimento, como o demonstra o incremento das publicaes

    cientficas e o pedido de registo de patentes. Por conseguinte, a capacidade de um pas para beneficiar da economia do conhecimento depende da rapidez que disponha para

    ajustar a sua capacidade de gerar e partilhar conhecimento. Um estudo recente efectuado pela Organizao Internacional do Trabalho (OIT) determinou que, as novas tecnologias podem ter um impacte positivo nos pases, seja qual for o seu nvel de desenvolvimento econmico. Brasil, China, Costa Rica, ndia, Malsia e Romnia criaram com a ajuda de sistemas educativos relativamente eficazes nichos no mbito da informtica que lhes permite competir no mercado global (OIT, 2001a).

    Para o ensino superior de vital importncia contar com tecnologias da informao e comunicao adequadas e que funcionem correctamente, j que estas tm um potencial de:

    Agilizar e reduzir as tarefas administrativas e, em geral, tornar mais eficaz e

    eficiente a gesto das instituies e dos sistemas educativos;

    Ampliar o acesso e melhorar a qualidade da instruo e o ensino em todos

    os nveis;

    Ampliar significativamente o acesso informao e s bases de dados

    seja entre a mesma instituio ou na esfera global.

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    22

    O aparecimento e a rpida evoluo das tecnologias da informao e comunicao geraram dois grandes desafios para a educao: (i) atingir a integrao adequada destas tecnologias dentro dos sistemas globais de educao e das instituies e; (ii) garantir que as novas tecnologias propiciem o acesso e a equidade. As Instituies de Ensino Superior, e as universidades em particular, segundo Rossman (1999) tm uma papel importante na eliminao da pobreza, especialmente a pobreza intelectual.

    d) As transformaes sociais e polticas globais No mundo, esto a ocorrer mudanas aceleradas no s no mbito cientfico e

    tecnolgico, mas tambm, na dinmica social e poltica. Vrios acontecimentos ocorridos alteraram o cenrio poltico mundial, como por exemplo, o desmembramento da antiga Unio Sovitica, a reunificao das ex-Repblicas Federal da Alemanha e Democrtica da Alemanha, as questes polticas no continente Africano e da Amrica

    Latina.

    As Instituies de Ensino Superior esto sujeitas s alteraes que se produzem ao seu redor, ressaltando a sua importncia como pilares de coeso social, foros de dilogo pblico e aberto.

    Apesar dos avanos verificados, a situao poltica de muitos pases instvel. As ameaas de conflitos regionais e tnicos, o aumento da pobreza, a crescente

    desigualdade econmica, os nveis cada vez maiores de criminalidade e corrupo e o aumento da epidemia da SIDA so factores que, ao conjugar-se, impem severas presses e limitam a eficcia das instituies polticas e sociais de todo o tipo, incluindo as Instituies de Ensino Superior.

    A propagao do vrus da Sida aumentou a instabilidade poltica e econmica. Segundo estimativas do Programa conjunto das Naes Unidas sobre o VIH/SIDA (UNAIDS) em 2001, quarenta milhes de pessoas em todo o mundo tm VIH/SIDA. S no ano de 2000, estima-se que cinco milhes de indivduos se infectaram e trs milhes

    de pessoas morreram por causa desta epidemia. As Instituies de Ensino Superior tambm perderam uma grande quantidade de membros do seu pessoal docente, administrativo e estudantil em especial nos pases no desenvolvidos. As Instituies de Ensino Superior esto expostas a prejuzos maiores por causa do VIH/SIDA. Este um momento fundamental, j que o ensino superior representa a possibilidade de compensar essas perdas ao oferecer capital humano necessrio para manter os governos

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    23

    em funcionamento, o progresso das economias e aumentar o nmero de docentes e tcnicos sanitrios. Um sector de ensino superior forte e flexvel poder compensar os efeitos negativos do VIH/SIDA e outras ameaas no mbito da sade pblica, como por exemplo, a toxicodependncia.

    Actualmente, a maior parte das pessoas, dos pases desenvolvidos, por exemplo, os Estados Unidos da Amrica, e de outros pases do mundo sabem o que o

    VIH e a SIDA. O tratamento e o avano da medicina permitem que as pessoas continuem no seu trabalho ou estudo, ou regressem a estes depois de baixas mdicas para tratamento. Todavia, mais de vinte anos depois de comear a epidemia do VIH/SIDA e com milhes de pessoas que vivem infectadas, no local de trabalho (por exemplo nos Estados Unidos da Amrica), ou de estudo, mantm-se um silncio sobre a doena. Uma das razes principais o estigma (Milan, 2004).

    O estigma (que pode dar lugar a despedimento ou repulsa) manifestado de distintas maneiras, seja de forma subtil ou abertamente. Em particular, os locais de trabalho permitem que o estigma aumente, ao no se encarar o problema ou no se apoiar programas educativos de ajuda ou iniciativas de sade sobre o VIH/SIDA.

    As polticas e programas no local de estudo e de trabalho podem reduzir o estigma da doena e criar ambientes positivos onde as pessoas, que vivem ou esto

    infectadas pelo VIH/SIDA, podem ser elementos produtivos e podem contribuir para a fora de trabalho e para a sociedade. As polticas e programas devem ser consistentes. O

    estigma provocado pelo VIH/SIDA, no bem-vindo, ao local de trabalho. Ainda que a educao, tratamentos prometedores e o passar do tempo tenham ajudado a minimizar o pnico dos anos oitenta do sculo XX, o VIH/SIDA continua a ser um problema muito srio para a economia em geral e no se dever emitir um falso sentido de segurana

    (Petesch, 2003).

    2.3 Contribuio do Ensino Superior para o Desenvolvimento Socioeconmico e Humano

    As Instituies de Ensino Superior desempenham um papel crucial no apoio s estratgias de crescimento econmico baseadas no conhecimento e na construo das

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    24

    sociedades com forte coeso social e no desenvolvimento sustentvel28. O ensino superior contribui para a melhoria do regime institucional mediante a formao de profissionais competentes e responsveis que, se requerem para uma slida gesto da economia e do sector pblico. As suas actividades acadmicas e de investigao

    fornecem um apoio crucial ao sistema nacional de inovao. Para alm disso, as Instituies de Ensino Superior muitas vezes constituem o eixo da infra-estrutura de

    informao de um pas, no seu papel de depositrias e condutoras de informao (atravs de bibliotecas e similares), sistemas anfitries de redes de computao e fornecedoras de acesso Internet. Assim, as normas, os valores, as atitudes e a tica que incutam nos estudantes destas instituies, so o cimento do capital social indispensvel para construir sociedades civis slidas e culturas articuladas e o desenvolvimento humano em funo de um bom ambiente familiar, social, cultural e ambiental.

    Com o objectivo de cumprir com xito as suas funes no que se refere educao, investigao e informao no sculo XXI, as Instituies de Ensino

    Superior tm que ser capazes de responder s necessidades de mudana do ensino e da formao, de se adaptarem a um panorama de ensino superior dinmico e de adoptar modalidades mais flexveis de organizao e funcionamento.

    Os desafios colocados so muitos e as Instituies de Ensino Superior devem

    responder procura multifacetada que enfrentam, incluindo a necessidade de um esquema de ensino de aprendizagem contnua. Actualmente, esto a surgir novos tipos

    de Instituies de Ensino Superior no contexto de um mercado sem fronteiras, pelo que as instituies esto a transformar-se para responder s necessidades educativas em constante evoluo, perante novas exigncias e recorrendo s novas tecnologias de informao e comunicao.

    Verifica-se uma alterao das necessidades educativas e de competncias, podendo-se destacar, segundo Gardner (2002), trs actividades gerais realizadas pelas Instituies de Ensino Superior que ajudam a estruturar as sociedades baseadas no conhecimento:

    28 O desenvolvimento sustentvel um conceito antropocntrico referncia, completado por aspectos sociais,

    educacionais, culturais, polticos e tico-morais, que do sentido a longo prazo, em conjunto com o desenvolvimento humano, a uma perspectiva de continuidade sustentada. Considera-se que o desenvolvimento, a partir de um ponto crtico, pressupe um crescimento sobretudo em qualidade, em conhecimento, em sabedoria e no simplesmente em termos econmicos e materiais. O conceito antropocntrico refere-se a um sistema filosfico, pelo qual o Homem o centro do Universo (Grande Dicionrio da Lngua Portuguesa, 2002).

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    25

    O apoio inovao mediante a produo de conhecimento, acesso a bases mundiais de conhecimento e adaptao do conhecimento;

    A contribuio para a formao de capital humano qualificado e adaptvel

    de alto nvel, incluindo os investigadores, profissionais, tcnicos, professores do ensino bsico e secundrio e futuros dirigentes governamentais, da administrao pblica e de organizaes empresariais (empresas);

    A contribuio para a coeso social.

    Isto inclui a anlise da nova procura que os mercados mundiais e as tecnologias emergentes colocam ao ensino superior, assim como a forma como esto a responder os

    sistemas de ensino superior. Assim, existe um conjunto de aspectos, a ter em conta. Gardner (2002) refere os seguintes:

    O Sistema Nacional de Inovao

    A formao de Capital Humano

    A aprendizagem Contnua

    O reconhecimento Internacional de Graus Acadmicos A coeso social

    a) O Sistema nacional de inovao O conhecimento em si mesmo no transforma as economias, como tampouco

    h garantia alguma de rendimentos positivos sobre os investimentos em investigao e desenvolvimento ou outros produtos da educao superior. Numerosos pases, incluindo alguns de grande dimenso como o Brasil, ndia e algumas Repblicas do ex-bloco sovitico, investiram grandes somas no desenvolvimento de capacidades no campo da

    cincia e da tecnologia sem colher dividendos significativos no campo econmico. Isto mostra que o conhecimento cientfico e tecnolgico produz os seus maiores benefcios,

    quando se utiliza como parte de um sistema complexo de instituies e prticas, conhecido como sistema nacional de inovao.

    Este sistema uma rede composta pelos seguintes elementos conforme

    referido pelo World Bank (1999a):

  • A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO ACTUAL

    26

    Organizaes produtoras de conhecimento do sistema de ensino;

    Um marco macroeconmico e regulamentar apropriado incluindo as polticas comerciais que afectam a difuso da tecnologia;

    Organizaes inovadoras e redes de empresas; infra-estruturas de comunicao adequadas;