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EDITORA CRIAÇÃO

CONSELHO EDITORIAL Fábio Alves dos Santos

Luiz Carlos da Silveira FontesJosé Eduardo Franco

Luiz Eduardo OliveiraJorge Carvalho do Nascimento

José Afonso do NascimentoJosé Rodorval Ramalho

Justino Alves LimaMartin Hadsell do Nascimento

Rita de Cacia Santos Souza

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Aracaju, SE | 2016

Criação Editora

Ana Maria de Menezes

AS INCONGRUÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO ELEITORAL FRENTE AOS DIREITOS

TRABALHISTAS

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Projeto gráfico:Adilma Menezes

Foto da capa: Wandycler Marcos Júnior

Copyright © 2016 by Ana Maria de Menezes

Menezes, Ana Maria de M541i As incongruências da legislação eleitoral frente aos di-

reitos trabalhistas/Ana Maria de Menezes. - Aracaju: Criação, 2016.

ISBN 978-85-8413-122-8 54 p.,il. 21 cm 1. Legislação Eleitoral. 2. Direito do Trabalho. 3. Campa-

nha Eleitoral. I. Título II. Ana Maria de Menezes III. Assunto

CDU. 342.8: 349(81)

Claudia Stocker - CRB

Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou pro-cesso, com finalidade de comercialização ou aproveitamento de lu-cros ou vantagens, com observância da Lei de regência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja expressa marcação do nome da autora, título da obra, editora, edição e paginação.A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.619/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código penal.

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A meu amado filho ISAAC, razão de todos os meus dias.

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SUMÁRIO

I CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................... 9

II OS DIREITOS TRABALHISTAS CONSTITUCIONAIS ........13

2.1 Configuração da Relação de Emprego nos Trabalhos

Eleitorais ..........................................................................................22

2.2. Termo de Ajuste de Conduta do MPT – Garantia

Mínima de Trabalho nas Campanhas Eleitorais ................29

III A INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 100 DA LEI 9.504/97

3.1 A Jurisprudência Consolidada ..................................................38

3.2 Os Direitos Trabalhistas Constitucionais Aproveitados

aos Trabalhadores de Campanha Eleitoral ..................................43

IV CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................49

BIBLIOGRAFIA .............................................................................53

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I

CONSIDERAÇÕES GERAIS

As campanhas eleitorais se revelam, para muitos, uma oportunidade de empregabilidade. Na formação da

estrutura do comitê de campanha há postos de trabalho em várias funções que vão de coordenadores, assesso-res e motoristas, até os importantes panfletadores, to-dos formando uma equipe para angariar votos a favor do seu candidato. Os trabalhadores das campanhas in-tegram uma população excedente nas ruas, próprio do período eleitoral, com a finalidade de divulgação do ma-terial de campanha e popularização da candidatura.

No Estado social instituído na Constituição Federal, so-mando-se a sólida legislação trabalhista, efetivada através da estruturada Justiça do trabalho, seria óbvio que os di-reitos trabalhistas estariam resguardados em cada contra-tação. No entanto, não foi assim que entendeu o legisla-

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dor ao prescrever no artigo 100 da Lei nº 9504/1997 (que estabelece as normas para as eleições), que a relação de trabalho desses trabalhadores não gera vínculo emprega-tício, o que resulta em uma grande perda para os direitos trabalhistas conquistados no decorrer da história.

A partir da provocação na seara trabalhista, quando tra-balhadores buscavam a tutela do Estado e se deparavam com o óbice ao direito do trabalhador imposto pelo di-ploma eleitoral, é que se verifica a necessidade de estu-dos voltados à temática.

O tema abrange dois ramos específicos do direito que possuem legislação infraconstitucional estabelecidas: o Direito do Trabalho e o Direito Eleitoral; no entanto, o debate se aprofunda acerca da constitucionalidade do art. 100 da Lei 9504/1997, já que fere frontalmente pre-ceitos trabalhistas num estudo singular da doutrina.

A pesquisa pretende demonstrar os princípios e garan-tias constitucionais estabelecidos na relação de empre-go. O assunto direciona uma reflexão mais detalhada quanto aos requisitos caracterizadores desta modalida-de de relação de trabalho, com isso faz-se uma análise de aproximação com as atividades desenvolvidas nas campanhas eleitorais de maneira a posicionar os traba-lhadores no gênero: trabalho empregado.

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As incongruências da legislaçãoeleitoral frente aos direitos trabalhistas

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Dessa forma, o estudo se inicia com um histórico acerca das conquistas dos trabalhadores até chegar à Constitui-ção Cidadã de 1988 que elenca em seu artigo 7º todos os direitos trabalhistas constitucionalmente assegura-dos aos trabalhadores rurais e urbanos. A abordagem segue citando o enfoque normativo dos Termos de Ajus-te de Conduta – TAC, firmado pelo Ministério Público do Trabalho nas campanhas eleitorais com os candidatos, partidos políticos e a anuência do Ministério Público Eleitoral.

No terceiro capítulo será estudado o conflito da norma eleitoral e o direito do trabalho sob os aspectos princi-piológicos que sustentam cada um desses ramos do or-denamento jurídico brasileiro. Será apresentado as par-ticularidades que envolvem os gastos das campanhas eleitorais, a figura equiparada do candidato a pessoa jurídica e os possíveis óbices dessas peculiaridades a se-rem harmonizados aos direitos trabalhistas.

No último subtítulo a proposta é apresentar itens que compõem o feche do direito do trabalhador, elenca-dos no capítulo 7º da Constituição Federal, fazendo um contraponto à prestação de contas eleitoral e sua viabilidade de arcar com o mínimo dos direitos tra-balhistas sistematizados na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

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A jurisprudência também será estudada para oferecer consistência prática, somando-se a teoria apontada na legislação e na doutrina atual. Conjuntamente a esse tó-pico, traz-se a discussão dos fundamentos jurispruden-ciais nos acórdãos emitidos pelos Tribunais pátrios.

A pesquisa será desenvolvida utilizando-se do método qualitativo. Para tanto, o fundamento teórico foi buscado em autores que dominam a matéria do Direito do Tra-balho, dentre os quais: Maurício Godinho Delgado, José Augusto Rodrigues Pinto e Ricardo Resende, entre outras obras complementares. Na área Constitucional a base re-ferencial será a literatura de Dirley da Cunha Junior e José Afonso da Silva. Para o Direito Eleitoral a consulta foi mais apurada nos autores Jouberto de Quadros Pessoa Caval-cante e Francisco Ferreira Jorge Neto, os quais possuem obra científica inédita com abrangência a esta temática.

O assunto é instigante e atrativo à medida que transita por três matérias do Direito – trabalho, eleitoral e cons-titucional –, num constante desafio às normas estabe-lecidas. Na constatação de que o tema ainda é pouco explorado, apesar de sua importância para uma parcela significativa de trabalhadores, o estudo não tem preten-são de esgotar a matéria, mas de trazer o assunto à baila e colocar em debate. Afinal, a partir dos debates resul-tam as grandes conquistas sociais.

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II

OS DIREITOS TRABALHISTAS CONSTITUCIONAIS

A Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988 concretizou os direitos trabalhistas que surgiram,

paulatinamente, desde a abolição da escravatura (1888), a adesão do país à Organização Internacional do Traba-lho (OIT/1919)1, passando pela Revolução Industrial. Os avanços dos direitos do trabalhador obtiveram contor-nos significativos a partir de 1930 com a política popu-lista de Getúlio Vargas e ganharam a sistematização das várias normas esparsas em 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

1 Após o término da primeira Grande Guerra Mundial (1919), o Brasil aderiu ao Tratado de Versalles que previa a criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, com sede em Genebra e composta pela representação de 10 países, dentre os quais o Brasil.

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Nesse sentido, o direito do trabalho2 se estabelece como valoração da dignidade da pessoa humana. É o reconhe-cimento da necessidade de o Estado atuar em equilí-brio à hipossuficiência do operário, frente à exploração desmensurada do capitalismo, com o intuito de regular, inicialmente, o limite de jornada semanal de trabalho, a fixação do salário mínimo, o trabalho da mulher e do menor e a segurança do trabalhador.

Com o condão de Constituição Cidadã, a Carga Magna de 1988 revoga toda norma infraconstitucional existen-te à época, incompatível com a nova ordem material, sendo imperativo de validade a harmonização com os parâmetros constitucionais inaugurados. “Se o direito pré-constitucional não se harmonizar materialmente com a nova Constituição, não será recepcionado por esta, mas sim por ela revogado.”3

A Constituição vigente ampliou sobremaneira os direi-tos sociais dos trabalhadores. O art. 7º reserva 34 incisos relativos a direitos individuais, e as relações coletivas de trabalho são tratadas dos artigos 8º a 11º:

2 O Decreto Lei nº 1237, de 01 de maio de 1939, constituiu a Justiça do Traba-lho e foi somente em 1941 instalada oficialmente.3 CUNHA JUNIOR, 2011, p. 258-259.

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de

sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despe-

dida arbitrária ou sem justa causa, nos termos

de lei complementar, que preverá indenização

compensatória, dentre outros direitos;

II - seguro-desemprego, em caso de desempre-

go involuntário;

III - fundo de garantia do tempo de serviço;

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente

unificado, capaz de atender a suas necessidades

vitais básicas e às de sua família com moradia,

alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,

higiene, transporte e previdência social, com

reajustes periódicos que lhe preservem o poder

aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para

qualquer fim;

V - piso salarial proporcional à extensão e à com-

plexidade do trabalho;

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto

em convenção ou acordo coletivo;

VII - garantia de salário, nunca inferior ao

mínimo, para os que percebem remuneração

variável;

 VIII - décimo terceiro salário com base na remu-

neração integral ou no valor da aposentadoria;

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IX - remuneração do trabalho noturno superior

à do diurno;

 X - proteção do salário na forma da lei, consti-

tuindo crime sua retenção dolosa;

XI - participação nos lucros, ou resultados, des-

vinculada da remuneração, e, excepcionalmen-

te, participação na gestão da empresa, confor-

me definido em lei;

  XII - salário-família pago em razão do depen-

dente do trabalhador de baixa renda nos termos

da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucio-

nal nº 20, de 1998)

XIII - duração do trabalho normal não superior a

oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,

facultada a compensação de horários e a redu-

ção da jornada, mediante acordo ou convenção

coletiva de trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452,

de 1943)

XIV - jornada de seis horas para o trabalho rea-

lizado em turnos ininterruptos de revezamento,

salvo negociação coletiva;

XV - repouso semanal remunerado, preferencial-

mente aos domingos;

XVI - remuneração do serviço extraordinário su-

perior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do

normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)

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As incongruências da legislaçãoeleitoral frente aos direitos trabalhistas

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XVII - gozo de férias anuais remuneradas com,

pelo menos, um terço a mais do que o salário

normal;

 XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do em-

prego e do salário, com a duração de cento e

vinte dias;

XIX - licença-paternidade, nos termos fixados

em lei;

XX - proteção do mercado de trabalho da mu-

lher, mediante incentivos específicos, nos ter-

mos da lei;

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de ser-

viço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos

da lei;

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho,

por meio de normas de saúde, higiene e segu-

rança;

XXIII - adicional de remuneração para as ativida-

des penosas, insalubres ou perigosas, na forma

da lei;

XXIV - aposentadoria;

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen-

tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de

idade em creches e pré-escolas; (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

XXVI - reconhecimento das convenções e acor-

dos coletivos de trabalho;

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XXVII - proteção em face da automação, na for-

ma da lei;

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a

cargo do empregador, sem excluir a indeniza-

ção a que este está obrigado, quando incorrer

em dolo ou culpa;

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das

relações de trabalho, com prazo prescricional de

cinco anos para os trabalhadores urbanos e ru-

rais, até o limite de dois anos após a extinção do

contrato de trabalho; (Redação dada pela Emen-

da Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

a) (Revogada).  (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

b) (Revogada).  (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

XXX - proibição de diferença de salários, de exer-

cício de funções e de critério de admissão por

motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI - proibição de qualquer discriminação no

tocante a salário e critérios de admissão do tra-

balhador portador de deficiência;

XXXII - proibição de distinção entre trabalho ma-

nual, técnico e intelectual ou entre os profissio-

nais respectivos;

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso

ou insalubre a menores de dezoito e de qual-

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quer trabalho a menores de dezesseis anos, sal-

vo na condição de aprendiz, a partir de quatorze

anos; (Redação dada pela Emenda Constitucio-

nal nº 20, de 1998)

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha-

dor com vínculo empregatício permanente e o

trabalhador avulso.

Parágrafo único. São assegurados à catego-

ria dos trabalhadores domésticos os direitos

previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV,

XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX,

XXXI e XXXIII e, atendidas as condições esta-

belecidas em lei e observada a simplificação

do cumprimento das obrigações tributárias,

principais e acessórias, decorrentes da rela-

ção de trabalho e suas peculiaridades, os pre-

vistos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII,

bem como a sua integração à previdência

social. (Redação dada pela Emenda Constitu-

cional nº 72, de 2013)

Após tantas conquistas verifica-se uma dicotomia entre a ordem econômica e a ordem jurídica imposta. Já se vis-lumbra uma nova fase de transição democrática na evo-lução do Direito do Trabalho. “Entretanto, as dificuldades residem em se definir qual será o Direito do Trabalho mí-nimo, ou seja, as matérias que não poderão ser objeto

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dessa nova realidade.”4. Busca-se o redimensionamento normativo das condições de trabalho através da auto-nomia coletiva privada, onde se valoriza a negociação coletiva como novo modelo de tutela.

Algumas medidas já estão sendo efetivadas e a flexibili-zação de alguns institutos, a exemplo da compensação anual das horas de trabalho – banco de horas e o con-trato por prazo determinado (ambos na Lei n° 9601/98). Nesse ínterim, exacerba aos direitos trabalhistas a Lei 9504/1997 que estabelece normas para as eleições: “Art. 100 – A contratação de pessoal para prestação de servi-ços nas campanhas eleitorais não gera vínculo emprega-tício com o candidato ou partido contratantes.”5

Nesse tocante há de se reconhecer a inconstitucionalida-de do dispositivo, pois na relação entre trabalhadores e o candidato ou partido contratantes, é visível o atendimen-to aos pressupostos alinhavados nos arts. 2º e 3º da CLT, quando determinadas as características do empregado e

4 CAVALCANTE; JORGE NETO, 2004, p. 38.5 A Lei nº 9504/1997, que estabelece as normas para as eleições democráticas no País, é tida como uma inovação, tendo em vista que antes da sua promul-gação cada eleição exigia lei nova para discipliná-las, com eficácia limitada e finalizada ao final do período eleitoral. Apesar da vigência do Código Eleito-ral, eram frequentes as alterações pontuais, muitas vezes fruto do momento político.

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do empregador. Estando a Constituição acima de todas as demais normas do País, não é razoável o ordenamento jurídico admitir o ditame da lei eleitoral através desta nor-ma, sobrepondo-se ao consagrado direito do trabalho em favorecimento aos atores do processo eleitoral.

Negar o vínculo empregatício à mão de obra despren-dida nas campanhas eleitorais é excluí-la ao provimen-to dos direitos trabalhistas assegurados constitucio-nalmente. Na constituição social e no instituído Estado democrático de direito não há lugar para interpretação excludente dos direitos da classe operária. Ao revés, se espraia por todo o texto constitucional princípios norte-adores das normas que agregam a proteção aos menos favorecidos.

A Carta Magna prestigia os valores sociais do trabalho (art. 1º, IV e 6º CF/88), também com o princípio geral da atividade econômica de busca do pleno emprego, fundado na valorização do trabalho humano (art. 170 “caput” e VIII, CF/88); e por fim, com a ordem social, base-ada no primado do trabalho, e que tem como objetivo o bem-estar e a justiça social (art. 193, CF/88).6

6 CAVALCANTE; JORGE NETO. Op. cit. 2004, p. 103

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2.1 Configuração da Relação de Emprego nos Trabalhos Eleitorais

A legislação trabalhista aponta as modalidades do traba-lhado humano do gênero da Relação de Trabalho, que se fazem presentes no dia a dia do trabalhador na reali-zação do seu exercício profissional. No trabalho avulso, trabalho eventual e no trabalho autônomo a contrapres-tação será regida conforme o estabelecido contratual-mente, sem que haja qualquer observância à legislação trabalhista, uma vez que aos prestadores de serviço, in-seridos nestas modalidades de trabalho, não são abar-cados pelo vínculo empregatício definido na CLT, que acoberta a relação de emprego.

É através da definição de qual modalidade se enquadra a relação de trabalho, que decorre o tratamento jurídico reservado ao trabalhador incluído nessa determinada relação. No Brasil, a relação de trabalho que se mostra mais atrativa entre os trabalhadores é a Relação de Em-prego, por isso é também a que tem maior proteção no ordenamento jurídico.

Para o reconhecimento da Relação de Emprego é neces-sário atendimento as características próprias desta moda-lidade. Somente a presença, cumulativamente das cinco características listadas a seguir é que garantem ao traba-

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lhador o reconhecimento do vínculo empregatício. Esses requisitos caracterizadores da relação de emprego estão delineados no “caput” do arts. 2º e 3º da CLT, de onde tam-bém se extrai o conceito de empregado e de empregador:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, in-

dividual ou coletiva, que, assumindo os riscos da

atividade econômica, admite, assalaria e dirige a

prestação pessoal de serviço.

[...]

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa fí-

sica que prestar serviços de natureza não even-

tual a empregador, sob a dependência deste e

mediante salário.

A simples leitura da norma mostra os elementos fun-damentais para estabelecer a relação de emprego, ou seja, esta modalidade de trabalho exige a presença da subordinação, pessoa física, pessoalidade, onerosidade, permanência ou não eventualidade.

Não se pode olvidar que o período eleitoral é atípico, eis que, além da sazonalidade, possui um lapso temporal determinado. É também uma fase de possibilidade de emprego para mão de obra ociosa, com e sem especia-lização. A excepcionalidade da campanha eleitoral não justifica tratamento diferenciado ao previsto legalmen-

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te para os contratados nesta prestação de serviço, desde que atendidos todos os requisitos da legislação trabalhis-ta necessários à configuração de relação de emprego.

Uma das características mais marcantes da relação de emprego é a subordinação, pois essa condição ocorre antes mesmo do próprio labor, haja vista a forma de trabalho disponibilizada antepor-se à própria realização de qualquer tipo de atividade. Segundo o justrabalhis-ta José Augusto Rodrigues Pinto, “[...] a unanimidade da doutrina conclui que a subordinação se antecipa à pró-pria prestação [...]”, porque o empregado se encontra disponível às ordens do empregador que detém o poder de direção, independente do mando.7

O trabalhado de atos de campanha eleitoral, como por exemplo a panfletagem ou a exposição de estandartes em sinaleiras, ocorre de forma ordenada e organizada, sendo evidente a subordinação ao próprio contratante (candidato/partido) ou de quem o faça representar, res-tando patente a existência de uma relação hierárquica.

Ademais, a subordinação é intrínseca da própria relação de trabalho, sendo que ao celebrar o contrato de pres-

7 PINTO, 2007, p. 120.

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tação de serviço para trabalhar na campanha eleitoral, o contratante (candidato ou partido) se arvora da força de trabalho do contratado, se constituindo a relação de su-bordinação, de igual modo a qualquer outra atividade.

O vínculo empregatício acobertado pela legislação obreira toma em consideração apenas a relação pactu-ada com pessoa física (ou natural). O direito do traba-lho tutela bens jurídicos (vida, saúde, integridade moral, bem-estar, lazer, etc.) do trabalhador, excluindo de seu arbítrio as relações certificadas por pessoa jurídica. Nes-se aspecto, o questionamento da relação de trabalho nas campanhas eleitorais terem as garantias comuns ao vínculo empregatício, atingem, também, apenas as rela-ções de emprego firmadas pelo candidato ou partido e uma pessoa natural.

A pessoalidade, outra característica da relação de em-prego, tem inquestionável presença na prestação de serviço em campanha eleitoral. Somente com a presta-ção de serviço executada diretamente pelo contratado, sem possibilidade de substituição, é que se verifica o atendimento ao requisito da pessoalidade nas relações de emprego. Assim, em que pese o legislador repelir a responsabilidade trabalhista, por inexistência de vín-culo empregatício, verifica-se o reconhecimento nos ditames da legislação eleitoral do caráter pessoalidade,

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pois impõe através de mecanismos jurídicos, ao (candi-dato/partido) contratante, o registro dos seus presta-dores de serviço, corroborando que a relação aconteça de forma pessoal.

Ainda nesta trilha, cabe observar que além do requi-sito da pessoalidade, devidamente identificado na re-lação entre o candidato/partido (contratante/empre-gador) e o prestador de serviço, observa-se que a lei eleitoral provoca a distinção entre os apoiadores da candidatura, aqueles que vertem sua força de traba-lho motivados por ideologias partidárias, das pessoas que são cooptadas com objetivo de exercer uma ativi-dade remunerada.

A onerosidade é outro elemento essencial que cons-titui fático-jurídico da relação de emprego. Desse modo o trabalhador, ao dispor de sua energia pessoal, deve corresponder uma contraprestação econômica. O contrato é bilateral e envolve um conjunto dife-renciado de prestações recíprocas, economicamente mensuráveis.

Nas campanhas eleitorais, o prestador é legítimo da sua contraprestação e esse dispêndio é acompanhado pela Justiça Eleitoral, que controla as contratações e a efetivação dos pagamentos. A caracterização da onero-

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sidade excluiu o voluntariado dos serviços de campa-nha, aquelas pessoas que militam por uma ideologia. Essa diferenciação é nítida até porque a característica subordinação somente resiste com a acertada contra-prestação pecuniária.

Maurício Godinho Delgado destaca a expressão “servi-ços de natureza não eventual” aposta no artigo 3º, da caput da CLT, para traduzir a necessária característica da não eventualidade nas relações de emprego. Assim, continua o respeitável doutrinador, “[...] para que haja relação empregatícia é necessário que o trabalho pres-tado tenha caráter de permanência (ainda que por um curto período determinado), não se qualificando como trabalho esporádico.”8

A doutrina e a jurisprudência não trazem um conceito uniforme de não eventualidade, fincando impressões na ideia de permanência e excluindo do elemento fáti-co-jurídico indispensável a caracterização da relação de emprego os eventos esporádicos e vinculados a diversos tomadores. É cediço que as campanhas eleitorais pos-suem um prazo de início e término delineados, contu-do, durante esse período previamente determinado as

8 DELGADO. Op. cit., 2014, p. 295

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atividades são constantes e vão se intensificando com o prenúncio da finalização.

Assim, visível é a periodicidade da campanha eleitoral, tendo em vista seu caráter sazonal, estabelecido pelo sistema de eleição no Brasil, porém, não coaduna com eventualidade, já que o tomador (candidato/partido político) vinga com finalidade certa. Do mesmo modo, o prestador das atividades desenvolvidas na campanha eleitoral não exerce labor eventual, pois sua prestação de serviço não é esporádica, mas sim, persegue a ativi-dade fim almejada por seu contratante/tomador (candi-dato/partido).

Por fim, percebe-se que, mesmo atendidos todos os requisitos caracterizadores da relação de emprego, a legislação eleitoral, de modo diverso, desconsidera as normas trabalhistas e exclui o prestador de serviço de campanha eleitoral da categoria de empregado, negan-do-lhe o vínculo.

O entendimento é que o legislador tratou de excepcio-nar a norma trabalhista da relação de prestação de ser-viço na campanha eleitoral, e a doutrina busca uma alo-cação para este tipo de relação: “Neste caso, poderá ser uma simples relação de trabalho eventual, que é a me-nos onerosa para o tomador dos serviços, porque não

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existem direitos resultantes da prestação de serviços não prolongada, não repetida ou simplesmente espo-rádica”, afirma o justrabalhista João Augusto de Palma.9

2.2. Termo de Ajuste de Conduta do MPT – Garantia Mínima de Trabalho nas Campanhas Eleitorais

Visando minorar as arbitrariedades nas campanhas elei-torais contra os trabalhadores, especialmente os cabos eleitorais – aqueles que exercem atividade nas ruas, fa-zendo toda espécie de panfletagem, ou seja, de divulga-ção do candidato e da sua plataforma de trabalho, caso eleito – o Ministério Público do Trabalho (MPT) edita Ter-mos de Ajustes de Condutas (TAC) dirigidos a todos, que em tese, estariam no pólo passivo da relação de traba-lho: candidatos, comitês e partidos políticos. Tomando por base o último TAC, editado nas eleições 2014, em sua justificativa se vislumbra o entendimento de que o art. 100 da Lei em comento, por si só, não impe-de o reconhecimento do vínculo empregatício e a con-sequente garantia dos direitos trabalhistas: “Uma vez que referido dispositivo legal deve ser interpretado em consonância com os princípios e normas constitucionais

9 PALMA, 2000, p. 31.

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e legais que iluminam as relações de trabalho e de em-prego, protegendo o trabalhador hipossuficiente”10. No entanto, prossegue na diminuta garantia ali imposta, dando-se por efetivo o preceito arbitrário eleitoral.

É patente a preocupação, mais com a segurança do tra-balho e a proteção ao menor, do que a contrapartida material pela prestação de serviço. Em se tratando de re-muneração, ao trabalhador cabe tão somente o que foi estipulado pelo contratante, seja qual for o valor, ocasião do pagamento, periodicidade ou local do pagamento.

CONSIDERANDO que as normas de tutela dos

trabalhadores, das crianças e dos adolescentes

apresentam caráter imperativo, de ordem públi-

ca, cogente, concretizando o princípio superior

do Direito do Trabalho de melhoria da condição

social do trabalhador e o princípio constitucio-

nal da proteção integral;

CONSIDERANDO, também, que a Lei Fundamen-

tal, no § 3.º do artigo 227, dispõe que o direito

à proteção especial abrangerá a idade mínima

10 O Ministério Público do Trabalho elaborou o “Termo de Ajuste de Condu-ta (TAC) - contratação de cabos eleitorais”. Em Sergipe o TAC foi firmado, nas Eleições 2014 entre o MPT, o MPE, os Partidos e coligações.

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para admissão ao trabalho, a garantia de direi-

tos previdenciários e trabalhistas e a garantia

de acesso do trabalhador adolescente e jovem

à escola.11

Pelo TAC é proibido o trabalho de menores de 18 anos nas campanhas eleitorais, combatendo-se uma práti-ca comum de vários adolescentes, no período eleito-ral, estarem nas ruas entregando volantes, expostos ao sol e chuva, muitas vezes faltando a escola para receber um “extra” descompromissado com a garantia mínima de retorno pecuniário pelo uso da mão-de--obra, tão arduamente conquistada e positivada no Direito do Trabalho.

Quanto ao rendimento, o MPT impôs a observância do valor mínimo por hora, resguardando o salário mínimo proporcional, sendo que o pagamento deverá ser rea-lizado mediante cheque ou depósito bancário nominal ao contratado, em atendimento ao dispositivo da le-gislação eleitoral que proíbe o pagamento em espécie. Também atenta para o fornecimento do vale transpor-te e vale alimentação, ambos podendo ser providos “in natura”.

11 Idem.

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No TAC foi instituído o contrato individual e por escrito, sendo necessário que se faça constar os termos consigna-dos para cada trabalhador. Pelo TAC também é mediado entre o MPT, os Partidos e seus candidatos, que a presta-ção de serviço será de 8 (oito) horas diárias, chegando a 44 horas semanais e se resguardará uma folga semanal. A proteção ao trabalhador se traduz no fornecimento de protetor solar, faixas reflexivas, assentos e água potável fornecida durante toda a jornada de trabalho.

Mesmo com a atuação do MPT nas campanhas, não é raro a mídia divulgar reclamações de cabos eleitorais que ao finalizar a campanha ficaram sem o seu devido pagamento. A garantia é apenas do salário mediante a prestação de serviço e mesmo assim, motivados pela falta de norma coercitiva, alguns candidatos e Partidos saem da eleição sem honrar os compromissos acorda-dos com os trabalhadores.12

Seguindo os ditames do art. 100 (Lei 9504/97) no seu pa-rágrafo único, o TAC também orienta para a contribuição previdenciária na qualidade de contribuinte individual.

12 Notícia no site do MPT traz casos que ao finalizar a eleição 2014, em Ma-naus, houve várias denúncias de falta de pagamento a cabos eleitorais. O pagamento só foi efetivado, em 2015, após a intermediação pelo Ministério Público do Trabalho, mesmo com a assinatura do TAC pelos Partidos.

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Neste tocante há o agravante de que o procedimento adotado pela Receita Federal do Brasil, no que diz res-peito ao recolhimento desta contribuição, não se reveste a favor do trabalhador, seja para seu proveito previden-ciário ou de seguridade social. A contribuição atende somente o fim solidário da previdência social, conforme detalhamento desse assunto no item 2.1.

O TAC configura-se em via alternativa à falta de normati-zação específica para o cumprimento de obrigação com os trabalhadores em campanha. De certo que a legisla-ção eleitoral, de forma contrária ao ordenamento consti-tucional, exclui o vínculo trabalhista dos prestadores de serviços da campanha eleitoral, restando tão somente os direitos mínimos, nas cláusulas garantidoras instituídas pelo TAC, cuja desatenção enseja multa aos infratores.

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III

A INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 100 DA LEI 9.504/97

A tese da inconstitucionalidade do Art. 100 da Lei 9504/97 encontra guarida entre os estudiosos do

assunto, apesar da inclinação do Poder Judiciário em sentido oposto. Jouberto Cavalcante e Francisco Jorge Neto insurgem como precursores do estudo acerca da temática e se posicionam contrários ao dispositivo elei-toral. A alegação é de violação aos direitos da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF) e da igualdade de todos perante a lei (art. 5º, “caput” da CF).

Patente, assim, a inconstitucionalidade do ar-

tigo 100, Lei n. 9.504/97, pois não poderia o

legislador infraconstitucional impor distinções

às situações fáticas idênticas, de maneira a ga-

rantir apenas a alguns direitos trabalhistas e a

outros não; ou, ainda, ao legislar desprestigiar

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princípios e valores consagrados constitucio-

nalmente (requisito material – compatibilida-

de do objeto da lei ou do ato normativo com a

Constituição Federal).1

O art. 100 da Lei em comento viola o princípio da igual-dade (art. 5º CF/88), pois, não dar tratamento isonômi-co aos trabalhadores de campanha eleitoral deflagra a distinção de situações fáticas idênticas. Já o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III) – como valor supremo, no reconhecimento e valorização do ser humano como a base e o topo do direito.

Ainda em observância à dignidade da pessoa humana, a CF/88 encarrega a ordem econômica de assegurar uma existência digna (artigo 1º, incs. I e II e no artigo 170,  caput), dessa forma, entende-se que ao negar o vínculo empregatício, e consequentemente direitos trabalhistas, estaria excetuando a dignidade.

Norma infraconstitucional de Justiça especializada den-tro do ordenamento jurídico brasileiro, o Direito do Tra-balho guarda princípios imperativos aos direitos do tra-balhador que não harmonizam com a também norma especializada do Direito Eleitoral. Restaria prejudicada a

1 CAVALCANTE; JORGE NETO. Op. cit., 2004, p. 103.

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aplicação do art. 100 da lei das eleições, mesmo que ad-quira convicção uniforme pela sua constitucionalidade, em respeito aos princípios trabalhistas da “norma mais favorável”, “princípio da primazia da realidade” e ainda mais em nome do imperativo “princípio da irrenunciabi-lidade de direitos”.

Seguindo os ensinamentos do notável constitucionalis-ta Robert Alexy, “[...] princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”2. Extrai--se, portanto, que o Direito do Trabalho recalcitra seus primados em favor do arrogante ditame do artigo elei-toral.

Enquanto que a ordem pública dos princípios do direito do trabalho se configura na proteção individual, no di-reito eleitoral, essa mesma ordem pública se estabelece em prol do coletivo, como o consagrado princípio da de-mocracia, que requer o debate permanente relativo aos problemas relevantes para a vida social. Também corro-bora o leque de princípios do Direito Eleitoral: o Estado Democrático de Direito, o sufrágio popular, princípio re-publicano e federativo. Porém, nenhum deles se justifica

2 ALEXY apud GOMES, 2013, p. 35.

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para assunção da constitucionalidade do art. 100 da lei das eleições.

Pesquisando nos Tribunais Regionais do Trabalho – TRT’s diversos, acerca desta temática, chama a atenção o número significativo de reclamações, na década entre 1990-2000. Os números decaem no período seguinte e atualmente, decorridos dois anos do último pleito, são raros os julgados do ano 2014, o que demonstra uma pacificação de trabalhadores e operadores, as-sentada no entendimento equivocado da constitu-cionalidade do art. 100 da Lei 9.504/97.

No subtítulo que se segue, a análise de constitucionali-dade em foco será atacada através do comparativo do entendimento jurisprudencial e seus fundamentos. Em seguida, será apresentada uma proposta de deferir aos direitos constitucionais trabalhistas, firmados no art. 7º, cuja compatibilidade com o direito eleitoral presume-se evidenciada.

3.1 A Jurisprudência Consolidada

É dominante nos tribunais pátrios o não reconheci-mento do vínculo de emprego aos trabalhadores de campanha eleitoral. A fundamentação assenta-se na vedação prescrita no artigo 100 da Lei 9.507/97, que

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ordena literalmente “  não gera vínculo empregatício com o candidato ou partido contratantes”, a contrata-ção de pessoal para trabalho nas campanhas eleitorais. A dificuldade imposta para o reconhecimento do vín-culo de emprego está, em muitas das fundamentações jurisdicionais, no fato da natureza do serviço prestado – campanha eleitoral; e o objetivo proposto – eleição do contratante.

VÍNCULO DE  EMPREGO. CABO ELEITORAL. INE-

XISTÊNCIA.  Muito embora a discussão acerca

da natureza jurídica dos trabalhos prestados

em campanhas eleitorais tenha sido esclarecida

com o advento da Lei Eleitoral nº 9.504/97, o re-

lacionamento que envolve o cabo eleitoral e o

candidato a cargo de ordem eletiva não é de na-

tureza empregatícia. Esta atividade político-par-

tidária se afigura eventual e o candidato político

não se enquadra no art. 2º da CLT, que define a

figura do empregador como explorador econô-

mico de uma atividade. (TRT – 12ª R -  Ac.-2ªT-Nº 

12875/2002 RO-V 00119-2002-015-12-00-6. Rel.

Jorge Luiz Volpato)

Tais assertivas contrapõem-se aos princípios legais aqui elencados. “Esta atividade político-partidária se afigura eventual...” Na modalidade das Relações de Trabalho, o

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trabalho eventual é explicado através de quatro teorias: teoria do evento, a teoria da descontinuidade, a teoria dos fins do empreendimento e a teoria da fixação jurídi-ca do tomador de serviços. Segundo Maurício Godinho Delgado, a aderência de dois desses critérios no exame da relação jurídica concreta “[...] irá permitir o mais firme enquadramento da situação fática examinada.”3

A campanha eleitoral, apesar de sua periodicidade, é um evento previsto juridicamente. Ocorre a cada dois anos as eleições no País e em todas existirá a necessidade de utilização de mão de obra, dedicada às mais diversas funções que compõem a estruturação do “empreendi-mento”. O certame eleitoral não pode ser caracterizado como um evento esporádico de um tomador, mas sim a atividade fim que justifica a existência do empregador/tomador, seja ele candidato ou o partido político.

A teoria do evento considera o trabalhador eventual quando contratado para atender um evento episódico verificado na empresa. Em simples análise dos serviços prestados na campanha eleitoral, é nítida a exclusão dessa teoria nas relações de trabalho existentes durante a campanha eleitoral. O trabalhador não vai desenvolver

3 DELGADO, 2014, p. 355.

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serviço episódico, mas sim, integrar uma estrutura com o objetivo de alcançar a finalidade principal da existên-cia do candidato ou partido (tomador do serviço).

Ainda mais excludente da eventualidade da atividade política eleitoral é a teoria da descontinuidade, pois jul-ga a vinculação do trabalhador em periodicidade, ou seja, seria uma prestação de modo fracionado ao toma-dor, em períodos entrecortados, de curta duração. Nas atividades eleitorais não existirá a necessidade de rever o trabalhador que se desligou de suas atribuições. Seu serviço (como enseja essa teoria) não se finaliza com a execução fracionada em que venha a ser necessária a re-tomada da mão de obra, como se fosse um técnico de informática chamado a consertar o equipamento a cada vez que este apresenta defeito. O trabalhador de campa-nha eleitoral tem atividades diárias e sucessivas pré-de-finidas necessárias à consecução do objeto do tomador.

Fácil distinguir pela teoria dos fins da empresa que o trabalhador eventual não se identifica com o traba-lhador de campanha eleitoral, pois segundo Maurício Delgado, essa teoria “[...] identifica o trabalhador con-tratado para realizar tarefas estranhas aos fins do em-preendimento, as quais, por isso mesmo, tenderiam a ser episódicas e curtas”. Como já exposto, o trabalhador de campanha irá desenvolver a atividade fim do “em-

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preendimento”, refutada, por óbvio, a condição de tare-fas estranhas aos fins do tomador de serviço. As tarefas também não tendem a ser episódicas e curtas. Podem ser adaptadas pelo tempo que convier às duas partes, em prazo indeterminado ou determinado pela finaliza-ção do tomador.

A teoria da fixação jurídica explica que a relação de tra-balho estaria caracterizada como trabalho eventual, uma vez que pela própria dinâmica de relacionamento com o mercado de trabalho o profissional não se fixe a nenhum tomador de serviços especificamente. Não me-rece acolhida essa teoria para posicionar o trabalhador de campanha eleitoral como eventual, já que a questão está justamente no oposto: o cabo eleitoral busca a tutela do Estado, com o reconhecimento do vínculo por-que esteve prestando serviço a um determinado toma-dor, candidato ou partido político.

O estudo encontrou com predominância a exclusão do vínculo de trabalho para os trabalhadores de campanha eleitoral, fundamentada no fato da eventualidade. No entanto, também é comum os acórdãos justificarem a falta de relação de emprego por não reconhecerem as prerrogativas legais de empregado ligado ao candidato ou partido, principalmente no que tange a exploração econômica da atividade.

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CABO ELEITORAL. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO

EMPREGATÍCIO. CONSTITUCIONALIDADE DO

ART. 100 DA LEI Nº 9.504/97. Os afazeres de cabo

eleitoral são de natureza eventual e visam à ob-

tenção de vantagens futuras conforme o resul-

tado do pleito, o que anima a conclusão da in-

suscetibilidade dessa situação gerar uma típica

relação de emprego, na forma da citada lei, cuja

constitucionalidade não se suspeita, já que ten-

de a tratar desigualmente os desiguais. (Acórdão

696/2007 - Processo: Nº 04563-2006-026-12-00-

8 – Juiz Garibaldi T. P. Ferreira – TRTSC/DOE em

05-02-2007)

3.2 Os Direitos Trabalhistas Constitucionais Aproveita-dos aos Trabalhadores de Campanha Eleitoral

Pelas peculiaridades do processo eleitoral é compreensí-vel que nem todos os direitos instituídos no artigo 7º da Constituição Federal de 1988 (CF/88) possam ser efeti-vados. O que não seria nenhum abismo, tendo em vista que várias outras legislações se adequam para o aten-dimento à normativa constitucional. No entanto, não se mostra legítimo desobrigar uma das partes ao atendi-mento à garantia trabalhista, sem que se aponte alterna-tiva para que o trabalhador seja contemplado com seu direito assegurado constitucionalmente.

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É incompreensível que atendidos todos os requisitos caracterizadores da relação de emprego, quais sejam, a subordinação, a onerosidade, a pessoalidade, a não eventualidade e o trabalho sendo contratado por pes-soa física, ainda assim, haja o imperativo da lei eleitoral no que diz respeito ao não reconhecimento do vínculo empregatício. Trata-se de duas justiças especializadas, no entanto, as normas processuais trabalhistas são co-gentes, imperativas e de ordem pública e neste enfoque protege direitos constitucionalmente estabelecidos.

A legislação eleitoral esbarra em óbices de direitos con-tinuados, como suportar uma estabilidade provisória gestacional (art. 7º, XVIII, CF/88) e de auxílio doença aci-dentário (art. 7º, XXVIII, CF/88), pois a excepcionalidade do trabalho está justamente no período determinado à vigência da atividade do contratante (candidato ou par-tido). Porém, haveria de estabelecer uma alternativa a este tipo de questão que assegurasse ao trabalhador a garantia constitucional.

É fato que no bojo da legislação eleitoral já há a previsão de recolhimento previdenciário, imputando ao trabalhador a condição de contribuinte individual (alínea h do inciso V do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991). Aqui já se caracteriza uma anomalia, pois o contratante (partido) recolhe e se encarrega do

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depósito do contribuinte individual e esse depósito em nada aproveita ao trabalhador. Atende ao dever de con-tribuir com a previdência social, cumprindo com o siste-ma contributivo social do INSS.

Visando assegurar igualdade de condições no pleito eleitoral, e combater abuso de poder econômico, a legis-lação cria regras para arrecadação e gastos com despe-sas durante a campanha eleitoral, tendo o candidato e partido que obedecer ao limite, definido em Lei comum a todos as candidaturas. O financiamento da campanha é composto por recursos públicos, oriundos do Fundo Partidário e também por doações de pessoas físicas, es-tas limitadas a 10% do rendimento bruto do ano anterior à eleição (arts. 17 e 18, Lei 9504/97).

Assim, há um rígido controle dos gastos eleitorais, sujei-tos a prestação de contas, obedecidas as limitações na aplicação dos recursos (art. 28 Lei 9504/97). A Lei estipu-la até mesmo a quantidade de pessoas que podem ser contratadas e o valor máximo que pode ser despendido para alimentação desse pessoal. A desobediência aos limites impostos na Lei sujeita o candidato ou partido político a responder por abuso de poder econômico:

Art. 100-A. A contratação direta ou terceirizada

de pessoal para prestação de serviços referentes

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a atividades de militância e mobilização de rua

nas campanhas eleitorais observará os seguin-

tes limites, impostos a cada candidato:         

I - em Municípios com até 30.000 (trinta mil)

eleitores, não excederá a 1% (um por cento) do

eleitorado;        

II - nos demais Municípios e no Distrito Federal,

corresponderá ao número máximo apurado no

inciso I, acrescido de 1 (uma) contratação para

cada 1.000 (mil) eleitores que exceder o número

de 30.000 (trinta mil).4

Não obstante, é perfeitamente possível a observância do cumprimento da jornada de 44 horas semanais (art. 7º, XIII, CF/88) e a garantia do salário mínimo vigente (art. 7º, VII, CF/88), como já vem sendo pactuado através do TAC do MPT. Se a prestação de serviço é externa, não se tem que falar em recompensa pecuniária da sobre-jornada, mas pode ser respeitado o direito ao adicional noturno (art. 7º, IX, CF/88), bem como ao adicional de insalubridade e periculosidade (art. 7º XXIII, CF/88), con-forme o efetivo risco ocupacional.

Diante do todo exposto, a relação de emprego configu-rada (não fosse o atendimento predominante ao art. 100

4 Lei 9504/97 – estabelece normas para as eleições.

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da Lei 9.504/97) estaria formatada através de contrato de trabalho por prazo determinado, ou seja, limitado no tempo por um evento de previsão aproximada: o perí-odo do processo eleitoral. Daqui insurge os direitos na rescisão do contrato, previsto constitucionalmente, e com capacidade legal (em acordo com a prestação de contas eleitoral).

Em consequência, como em qualquer contrato deter-minado, não haveria destinação ao pagamento de aviso prévio (art. 7º, XXI, CF/88), mas caberia nas verbas res-cisórias a recompensa do 13º proporcional (art. 7º, VIII, CF/88), férias proporcionais acrescidas de 1/3 ferial (art. 7º, XVII, CF/88), o recolhimento dos 40% do FGTS (art. 7º, III, CF/88) e saldo de salário (art. 7º CF/88). Ainda se-ria obrigatório o fornecimento das guias de seguro de-semprego, que embora não atendam ao temporal do benefício, servirão para junção com futuro ou pretérita prestação de serviço.

O partido político que contrata para trabalhos em cam-panha eleitoral tem CNPJ fixo, não estando inserido nas prerrogativas de baixa compulsória em dezembro do ano que ocorre às eleições como ocorre com os candi-datos. (Normatização da RFB, aplica aos candidatos a equiparação à pessoa jurídica, ou seja, a pessoa natural--candidato ganha a personificação jurídica para distan-

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ciar as ações do pleito da vida pessoal). O que não cau-sa nenhum prejuízo para atender o direito de ação dos trabalhadores em campanha, conforme prescreve o art. 7º, XXIX da CF/88. Para os candidatos uma vez desperso-nificados suportaria seu deslinde, a pessoa física, assim como é regra para as empresas particulares comum.

A Justiça Eleitoral permite que contabilizados os gastos, também com pessoal, e na falta de recursos para quita-ção dos débitos contraídos, seja estabelecido um crono-grama de pagamento, efetivando uma “conta a pagar” posterior ao prazo de prestação de contas eleitoral, sem que isso acarrete dano no julgamento das contas eleito-rais. (Art. 29, inciso III, Lei 9504/97)

Não pode ser admissível a justificativa de que se hou-ver vínculo empregatício entre o trabalhador da cam-panha eleitoral e candidatos, o valor desembolsado para arcar verbas rescisórias oneraria substancialmen-te a campanha eleitoral.5 Nesse tocante, o contratan-te (candidato ou partido político) haveria de reservar dentre seu limite de gasto e inserido nas possibilidades de arrecadação, o montante necessário para suprir tais obrigações trabalhistas.

5 RIBEIRO, Rafael de Ameilda. Cabos Eleitorais – Art. 100 da Lei 9.504/97... Digital sem formatação de página.

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IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após longo período de pequenas conquistas, fruto de enfretamento entre a classe operária e os donos do

capital, surge o Direito do Trabalho, positivado na Con-solidação das Leis do Trabalho – CLT, que sistematizou as várias normas esparsas que até então fluíam no País.

No diploma obreiro estabeleceu-se a definição de em-prego e empregador e os requisitos essenciais carac-terizadores da relação de trabalho: subordinação, one-rosidade, pessoalidade, prestação por pessoa física e habitualidade, presentes cumulativamente na relação de trabalho, configurada estará a relação de emprego.

A Constituição Federal de 1988, com seu teor social de-mocrático, elenca no seu artigo 7º trinta e quatro incisos dirigidos aos trabalhadores, garantias constitucionais

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das relações individuais do emprego privado. No decor-rer de todo o texto constitucional transbordam normas de cunho protetor, na busca incansável da implantação de uma equidade social.

Diante desse contexto surge uma norma que se impõe avessa a todas as conquistas dos trabalhadores. É a Lei 9504 promulgada em 30 de setembro de 1997, que es-tabelece as regras para as eleições democráticas no País, especialmente no art. 100, que declara textualmente que a relação de trabalho não “gera vínculo empregatí-cio com o candidato ou partido contratantes”, aplicando--se à pessoa física contratada a situação de contribuinte individual para fins da Previdência Social.

Com esse dispositivo, percebe-se um ponto controver-tido entre o ordenamento trabalhista que, imperioso, ostenta princípios protetores à parte hipossuficiente na relação de trabalho, e os princípios constitucionais da igualdade e da dignidade da pessoa humana.

O agente político ativo em condições de elegibilidade, apto à disputa eleitoral, é sujeito do princípio da De-mocracia, erigido no direito eleitoral e perseguido pela Constituição, mas não autoriza o intento pessoal do candidato e/ou do Partido em desfavor dos direitos in-dividuais da mão de obra operária. Assim sobrevém a

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As incongruências da legislaçãoeleitoral frente aos direitos trabalhistas

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constatação que o Art. 100 da lei 9.504/97 sofre de in-constitucionalidade, ele não coaduna com a realidade perquirida no Estado Social do mandamento Constitu-cional,

É incompreensível que uma Lei infraconstitucional possa sobrepor a garantias constitucionalmente consagradas, se impondo como uma figura teratológica que não aten-de a nenhum ordenamento jurídico em vigência no País. O artigo 100 da Lei 9504/97 não encontra consonância, nem mesmo fazendo-se um esforço de interpretação hermenêutica, aplicando qualquer de seus fundamen-tos de explicação para imposição da norma jurídica. É flagrantemente inconstitucional e atinge a classe operá-ria, hipossuficiente nas relações de trabalho.

Infelizmente, de todo o estudo, verifica-se que no poder judiciário é dominante o entendimento pela predomi-nância da legislação eleitoral e a negativa ao reconhe-cimento do vínculo empregatício aos trabalhadores em campanha eleitoral. A inconstitucionalidade do artigo 100, até a presente data, não teve provocação na Supre-ma Corte Federal (STF), razão pela qual, sendo norma constitucional sua aplicação se faz útil e livre de nódoa.

O assunto tem tímido debate na doutrina, adormeci-do, talvez, pela pacificação dos operadores do direito,

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diante da inércia dos maiores interessados – os traba-lhadores, que são sempre mais volúveis que os agentes políticos do processo eleitoral. Estes, por ora, são os beneficiados da energia do trabalhador, fornecida sem a devida recompensa, constitucionalmente assegurada.

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Cabos eleitorais recebem pagamento após atuação do MPT. Disponível em: <http://portal.mpt.mp.br/wps/por-tal/portal_mpt/mpt/noticias-antigas/2015/fevereiro/.> Acesso em: 10/04/2016.

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