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Volume 3, Número 3 | Março de 2015 ISSN 2319-0949 EDIÇÃO ESPECIAL IV SIREE

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Page 1: Edição EspEcial iV siREE - Jalan Tecnologiade equipamentos eletroeletrônicos, divulgar boas práticas para uma gestão de TIC mais sustentável e propor ações de sensibilização

Volume 3, Número 3 | Março de 2015

ISSN 2319-0949

Edição EspEcial iV siREE

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Volume 3, Número 3 | Março de 2015ISSN 2319-0949

Edição EspEcial iV siREE

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DiretoriaExecutiva

ComissãoCientífica

Diretor Presidente (DPR)Frederico Cavalcanti Montenegro

Diretor Executivo Comercial (DEC)Ivan Dornelas Falcone de Melo

Diretora Administrativa Financeira (DAF)Patricia Mezzadre Verçosa

Diretor Técnico Científico (DTC)José Geraldo Eugênio de França

Adélia Cristina Pessoa Araújo (ITEP)Dra. em Saúde Pública (USP)

Adriano Batista Dias (FUNDAJ)Dr. em Economia (VU)

Arnóbio Gonçalves de Andrade (CETENE)Dr. em Agronomia (Solos e Nutriçãode Plantas) (USP) e pós-doutorado (GSU)

Carlos Welligton de A. P. Sobrinho (ITEP)MSc. em Engenharia Civil (COPPE/UFRJ)

Celso Vainer Manzatto (EMBRAPA)Dr. em Produção Vegetal (UENF)

Eden Cavalcanti de A. Júnior (ITEP)Dr. em Eng. Química (UNICAMP)

Emídio Cantídio Almeida de Oliveira(UFRPE/CAPES)Dr. em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ)

Frederico Cavalcanti Montenegro (ITEP)Dr. em Física (UFPE)

Gutemberg de Souza Pimenta(CENPES/PDEP/TMEC)MSc. em Metalurgia e Ciência dos Materiais (UFRJ)

José Geraldo Eugênio de França(ITEP) – Presidente do Conselho EditorialDr. em Agronomia – Genética eMelhoramento Vegetal (TAMU)

Osmar Souto Baraúna (ITEP)Dr. em Engenharia Química (UNICAMP)

Severino Leopoldino Urtiga Filho (UFPE)Dr. em Eng. Mecânica (UNICAMP)

Silvio José de Macedo (UFPE)Dr. em Ciências (USP)

Sônia Valéria Pereira (ITEP)Dra. em Botânica (UFRPE)

Washington Luiz de Barros Melo(EMBRAPA) Dr. em Física (UFPE)

Yêda Vieira Povoas Tavares (UPE)Dra. em Eng. de Construção Civil eUrbana (USP)

José Geraldo Eugênio de FrançaPresidente do Conselho Editorial

Sônia Valéria Pereira Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Elaine Raposo de Melo Macêdo Biblioteca ITEP - Secretaria Executiva

Jose Antonio Valença de OliveriaCoordenador Administrativo

Simone Rosa de OliveriaEditoração / Normatização

Alberto Saulo Silva de LimaITEP - Projeto Gráfico

Camille Nascimento SantiagoITEP - Diagramação

Eveline Mendes Costa LopesITEP - Revisora de texto

ComitêExecutivo

Expediente

REVISTA PERNAMBUCANA DE TECNOLOGIAEditada pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco. v. 1, n.1(2013) – Recife/PE: ITEP/OS, 2012.Periodicidade: semestralSistema requerido: Adobe e Acrobat Reader.1.Tecnologia - PeriódicosISSN 2319-0949

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Expediente IV SIREE

COORDENAÇÃO GERAL

Joana Sampaio – Porto Digial

COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO

Rossini Barreira (Porto Digital)

Jacques Barcia (Porto Digital) Natália Simões (Porto Digital)

COMISSÃO EXECUTIVA

Tiago Barreto Rocha (Centro de Tecnologia Renato Archer - CTI)

José Rocha Andrade da Silva (Centro de Tecnologia Renato Archer - CTI)

Adalberto Rodrigues (Porto Digital)

Isabella Rocha (Porto Digital)

COMISSÃO CIENTÍFICA

CoordenadorProf. Dr Bertrand Sampaio Alencar (ITEP)

Avaliadores Prof. Dr. Adriano Batista Dias (FUNDAJ) Prof. Dr. Ivo Pedrosa (UPE) Prof. Dr. João Paulo Cajueiro (UFPE) Prof. José Mariano Aragão (UFPE) Profa. Dra. Lúcia Helena Xavier (FUNDAJ) Profa. Luciana Lucena (UFRN) Prof. Marcelo Sampaio (IECOM) Profa. Dra. Patricia Guarnieri (UnB) Profa. Dra. Sônia Valéria Pereira (ITEP) Profa. Dra. Soraya El-Deir (UFRPE)

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RealizaçãoParque Tecnológico Porto Digital.

Co-realizaçãoCentro de Tecnologia da Informação Renato Archer Ambientronic

Patrocinadores

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçãoSECTEC-PE – Secretaria de Ciência e TecnologiaSibratec - Sistema Brasileiro de TecnologiaFACEPE – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

ApoioITEP – Instituto de Tecnologia de PernambucoAbinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e EletrônicaPlataforma RELACBanco do BrasilASSESPRO - Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da InformaçãoBistrô e BotecoReport: sustentabilidadeFIEPE – Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco

IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS – IV S IREE

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A Revista Pernambucana de Tecnologia (RPT) caracteriza-se por ser o veículo de publicação científica do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP ) e de institui-ções científicas do Nordeste do Brasil.

Em sua primeira fase, entre 1981 e 1987, o periódico tinha como principal objetivo divulgar prioritariamente os resultados obtidos pela equipe técnica do ITEP, destacando-se entre outros temas a construção civil, a tecnologia do gesso e o controle de qualidade de combustíveis líquidos, notadamente, o etanol.

Por alguns anos a instituição deixou de publicar sua revista, passando a utili-zar-se dos novos meios de divulgação científica criados no país para tornar público os resultados de seus projetos e iniciativas.

Neste momento, o ITEP retoma a publicação da Revista Pernambucana de Tecnologia e volta a se inserir na comunidade científica regional como uma instituição provedora de documentos e informações científicas e técnicas relevantes para o meio acadêmico e empresarial.

Nas duas últimas décadas, do ponto de vista científico e tecnológico não foram poucos os avanços observados. A informática popularizou-se e atinge a maioria da po-pulação mesmo em países em desenvolvimento. A internet e as formas de comunicação digital tornaram a informação acessível a uma fração da população que dificilmente conseguiria tornar-se usuária dos meios impressos, somente.

A química analítica, as ciências ambientais, a segurança alimentar, a construção civil, a engenharia do petróleo e gás, as energias renováveis, a tecnologia ambiental, a bio-tecnologia, a ciência da computação têm mudado radicalmente a vida do cidadão comum e colocado o bem estar da população em um patamar inimaginável.

Por outro lado, as mudanças climáticas em curso passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas e merece uma atenção redobrada por parte da comunidade go-vernamental, dos empresários e das instituições de ensino e pesquisa. Neste sentido, a proposta da Revista Pernambucana de Tecnologia se insere neste novo ambiente tecno-lógico e espera poder ser mais um instrumento de disseminação científica, tecnológica e cultural para Pernambuco e o Nordeste.

Por último, o Comitê Editorial da Revista Pernambucana de Tecnologia gosta-ria de agradecer a todos os autores, colaboradores do ITEP e a comunidade ligada à ci-ência e tecnologia do estado de Pernambuco pelo apoio em fazer real este instrumento de divulgação científica.

ContatoRevista Pernambucana de TecnologiaConselho Editorial - EditoraAv. Professor Luiz Freire, 700 Cidade UniversitáriaRecife – PE CEP: 50.740-540Fones: +55 81 3183-4270 / 4344 E-mail: [email protected]/rpt

Apresentação

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É com grande prazer que apresentamos os Anais do IV Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos – IV SIREE, publicados este ano na Revista Pernambucana de Tecnologia - RPT. O Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos é realizado anualmente,desde 2011, pelo Parque Tecnológico Porto Digital, através do seu braço para a promoção das tecnologias da informação para o bem-estar socioambiental, ITgreen – Inovação e Sustentabilidade.

O SIREE surgiu com o objetivo de promover o debate sobre a gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, divulgar boas práticas para uma gestão de TIC mais sustentável e propor ações de sensibilização socioambiental com a participação das empresas locais, da sociedade civil, da iniciativa privada e das representações públicas.

Nesta quarta edição do SIREE, assim como na passada, abrimos chamadas de artigos técnico-científicos, tamanha a importância da colaboração acadêmica na construção e divulgação de conhecimentos. Contamos com a apresentação de artigos técnicos e acadêmicos de diversas partes do país, nas modalidades pôster e apresentação oral.

Este ano, o SIREE foi realizado nos dia 18 e 19 de setembro de 2014 e contou com as parcerias do CTI – Centro de Tecnologia da Informação Ricardo Archer, uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do ITEP – Instituto de Tecnologia de Pernambuco.

A parceria do CTI com o IV SIREE foi vital para a existência do evento, já que se fez presente no planejamento do evento, construção da programação, patrocínio através do Sibratec, e ainda realização de palestras durante a programação do seminário.

O ITEP, por sua vez, também contribuiu enormemente com o evento, tendo ficado responsável pela Coordenação da Chamada de Artigos, epela publicação dos Anais dos artigos apresentados no IV SIREE na Revista Pernambucana de Tecnologia, sendo esta uma edição especial de caráter exclusivo com produções técnico-científicas apresentadas durante os dois dias de seminário.

Desejamos que os trabalhos aqui apresentados sejam de grande contribuição para a comunidade técnica e científica que atuam ou venham a atuar na gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.

Joana Lima Sampaio Francisco Saboya Albuquerque NetoCoordenadora Diretor PresidenteSIREE Núcleo de Gestão do Porto Digital

www.siree.org

Apresentação IV SIREE

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A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG

Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas

Públicas Municipais

Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa

para os REEE de Computadores na UFPE

Logística Reversa dos Resíduos dos Equipamentos

Eletroeletrônicos : Análise do Consumo e Pós - Consumo

dos Computadores da Universidade Federal de Pernambuco

Reciclagem de Lixo Eletrônico: Primeiras Impressões Sobre

Projeto de Extensão em Ambiente Acadêmico

Projeto para Implantação de um Centro de Reciclagem

e Reuso de Equipamentos Eletroeletrônicos

Estimativa do Desperdício de Metais Pesados Advindos

do Descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Países

do G7 e do BRICS

Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos no Centro de Tecnologia da UFRJ

Impactos Causados por Metais em Humanos Devido

à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos

p. 9–14

p. 15–22

p. 23–31

p. 32–40

p. 41–50

p. 51–59

p. 60–65

p. 66–74

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A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais

Resumo

Palavras-chave: Resíduos eletroeletrônicos; Mobilização; Inclusão.

Key - words: Electronic waste; Mobilization; Inclusion.

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância e o alcance social obtido pelo Pro-grama de Mobilização Social em Saneamento Ambiental desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande por meio do Projeto de Extensão intitulado: “Recuperação física de equipamentos e resíduos eletroeletrônicos, gerados na UFCG, e seu reaproveitamento em comunidades carentes do en-torno” vêm gerando uma metodologia de coleta, desmonte, recuperação e montagem de equipamentos a partir de partes reutilizadas. O Projeto vem sendo desenvolvido por um período de 02 (dois) anos consecutivos. Além dos resultados de cunho social, sobretudo com a inclusão digital de alunos das escolas municipais localizadas no entorno da Universidade, tem chamado a atenção da comunidade universitária para o desenvolvimento de práticas ambientalmente sustentáveis quanto ao descarte dos resíduos eletroeletrônicos. Nessa segunda fase do Projeto, foi beneficiada a Escola Municipal de Educa-ção Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, localizada no Sítio São Tomé, município de São Sebastião de Lagoa de Roça - PB, para a qual foram doados cinco computadores.

This paper aims to present the importance and the social impact achieved by the Social Mobilization Pro-gram in Environmental Sanitation developed by the Federal University of Campina Grande (UFCG), through the Extension Project entitled “Recovery of physical equipment and electronic waste generated in UFCG and its reuse in underserved communities around “, has developed a methodology for the collection, dismantling, recovery and mounting equipment from reused parts.The project that has been developed over a period of two (02) consecutive years, and the results of social, especially with the digital inclusion of students of muni-cipal schools located around the University, has called the attention of the university community to develop environmentally sustainable practices with regard to the problem of disposal of electronic waste. In this second phase of the Project, the City has benefited Preschool and Elementary School São Tomé, located in Sitio Sao Tome - São Sebastião de Lagoa de Roça/PB, where the donation of five computers was conducted.

1Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG - Coordenadora Geral do Programa de Extensão – Mobilização Social em Saneamento Ambiental - Instrumentos Práticos e Teóricos de Educação Ambiental - PROEXT 2012.2Engenheiro-Área. Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG. Orientadora do Projeto de Resíduos Eletroeletrônicos.3Professor da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG. Colaborador do Projeto de Resíduos Eletroeletrônicos.4Bolsista. Aluna do Curso de Engenharia Elétrica da UFCG.5Aluno Voluntário. Curso de Engenharia Elétrica da UFCG.6Aluno Voluntário. Curso de Engenharia Elétrica da UFCG.

CIRNE,Luíza Eugênia da Mota Rocha1. FERNANDES, Maria de Fátima2.BARBOSA, Marx Prestes ³.FARIAS, Lislley Leite de Carvalho4.DANTAS, Felipe Barros5.ENCARNAçãO, Felipe Aurélio de Campos6.

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A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais.

1 | IntroduçãoA Universidade Federal de Campina Grande

- UFCG - campus I, com vistas a atender as diretri-zes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010), tem como diretriz principal desenvolver a educação ambiental e as práticas sustentáveis para a solução de problemas relacionados ao modelo de gestão dos resíduos só-lidos. Vem realizando ações de extensão voltadas à sustentabilidade socioambiental. Nesse sentido, o Programa de extensão desenvolvido no âmbito da UFCG permitiu a realização de ações de pesquisa e extensão envolvendo alunos do Curso de Enge-nharia Elétrica dessa instituição, um como bolsis-ta e dois voluntários, visando à recuperação física de equipamentos eletroeletrônicos, cujo objetivo final de destinação coube às escolas públicas e bi-bliotecas, visando à inclusão digital da comunidade escolar, seguindo os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos e introduzindo um modelo de gestão mais adequado e sustentável para os resídu-os eletroeletrônicos - REE.

Considerando a importância e aplicação dessa política no âmbito da Universidade Federal de Cam-pina Grande, tendo em vista ser uma instituição de ensino que abrange um universo em torno de 8.000 alunos, 1.197 servidores técnico-administrativos, 739 docentes do 3º grau efetivo e visitantes e 15 docentes do 1º e 2º grau, número que demanda uma preocupação acentuada quanto à utilização, geração e descarte de resíduos eletroeletrônicos.

Nesse sentido, o Programa de Mobilização Social em Saneamento Ambiental, por meio do Pro-jeto intitulado “Recuperação física de equipamen-tos e resíduos eletroeletrônicos gerados na UFCG e seu reaproveitamento em comunidades carentes do entorno”, vem desenvolvendo uma metodologia de coleta, desmonte, recuperação e montagem de equipamentos a partir de partes reutilizadas. Tem, também, contribuído para acatar a demanda dos equipamentos disponibilizados pelos parceiros do Projeto e assim minimizar os eventuais problemas relacionados ao descarte dos resíduos eletroeletrô-nicos e como objetivo final promover a inclusão di-gital de alunos de escolas municipais.

O município de Campina Grande localiza-se no Estado da Paraíba na Mesorregião Agreste Pa-raibano e Microrregião Campina Grande, com uma

população de 385.213 habitantes (IBGE, 2010), representando o segundo maior centro urbano do Estado. Do ponto de vista educacional, a cidade de Campina Grande representa um grande polo uni-versitário, contando com nove instituições de en-sino superior, das quais duas Universidades públi-cas, a Universidade Federal de Campina Grande e a Universidade Estadual da Paraíba, e um Instituto Federal - Instituto Tecnológico Federal de Ensino Superior.

Nesse sentido, ações de recuperação física de resíduos sólidos são desenvolvidas pelo Programa de Extensão Universitária - Mobilização Social em Saneamento Ambiental - Instrumentos Práticos e Teóricos de Educação Ambiental, possibilitando realizar a mediação entre os pares, comunidade geradora, gestores, doadores e catadores, de acor-do com as legislações vigentes: o Decreto Federal nº. 5.940/06, a Instrução Normativa no. 1, de 19 de janeiro de 2010, o Decreto Federal nº. 6.087/07, o Decreto Federal nº. 99.658/90 que regulamen-tam, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material, a Lei nº. 11.445/07- Política Nacional de Saneamento, a Lei n°. 9.795 - Política Nacional de Educação Am-biental, a Lei no. 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada pelo Decreto 7.404/2010 (BRASIL, 2010).

O Decreto 6.087, de 20 de abril de 2007 (BRA-SIL, 2007) altera os arts. 5o. 15 e 21 do Decreto no. 99.658, de 30 de outubro de 1990, que regulamen-ta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Assim, de acordo com o art. 15, inciso V em seu Parágra-fo único institui que: “Os microcomputadores de mesa, monitores de vídeo, impressoras e demais equipamentos de informática, respectivo mobili-ário, peças-parte ou componentes, classificados como ociosos ou recuperáveis, poderão ser doados a instituições filantrópicas, reconhecidas de utili-dade pública pelo Governo Federal e Organizações da Sociedade Civil de interesse público, que partici-pem de projeto integrante do Programa de Inclusão Digital do Governo Federal”.

O Decreto no. 5.940, de 25 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006) institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da

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Administração Pública Federal direta e indireta, na fonte geradora e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. Na esfera federal, o decreto é de caráter obrigató-rio, significando que todos os ambientes públicos federais devem realizar um descarte diferenciado dos seus resíduos e destiná-los para as organiza-ções de catadores habilitadas para o recebimento em seu município, porém não abrange os resíduos eletroeletrônicos - REE, especificamente, visto que são considerados resíduos sólidos especiais ou di-ferenciados devido ao grau de periculosidade e por conterem, em seus constituintes, metais pesados de alto poder poluente, dentre muitos outros agravan-tes.

A Lei da Política de Resíduos Sólidos (12.305/2010) apresenta, em seu art. 30, os prin-cípios da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: “art. 30 - é instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma indivi-dualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos”.

No entanto, tem-se observado que a aplicação da lei em vigor não tem sido eficaz, com frequen-cia encontram-se jogadas em terrenos baldios, em lixões a céu aberto, quantidades significativas de resíduos eletroeletrônicos, sem observância dos perigos que estes produtos oferecem, por conte-rem substâncias químicas como: mercúrio, cádmio, arsênio, cobre, chumbo e alumínio, que, ao serem manuseados de forma inadequada, oferecem riscos à saúde dos que utilizam esses materiais, destacan-do-se, sobretudo, os riscos ao meio ambiente, im-pactos negativos impostos à saúde humana e quali-dade ambiental.

Para Biscaino (2012), essa lei procura mi-nimizar o volume de resíduos e rejeitos gerados, bem como reduzir os impactos negativos gerados à saúde humana e qualidade ambiental. Dessa for-ma, quando se trata dos resíduos eletroeletrônicos, esbarra-se numa deficiência ainda maior quanto à forma de fiscalização do descarte de forma adequa-da.

Nesse sentido, Castro et al. (2013) chamam a atenção da necessidade para o estabelecimento de

sistemas de gestão eficientes dos resíduos eletro-eletrônicos englobando as três esferas do poder (federal, estadual e municipal) para o atendimen-to dos instrumentos previstos na Política Nacional, visando ao equacionamento das questões relativas a esses resíduos, a valorização desses resíduos como importante fonte de materiais, como tam-bém a eliminação ou redução, ao máximo, dos po-tenciais impactos negativos oriundos de uma ges-tão inadequada.

Selpis et al. (2012) afirmam que para uma correta gestão ambiental de resíduos eletroeletrô-nicos, existe a necessidade de esforços conjuntos da sociedade, empresas e governos por intermé-dio de educação ambiental e conscientização. Es-ses autores enfatizam a questão da legislação com atribuições de responsabilidade por parte dos fa-bricantes, comerciantes e também dos consumi-dores, pontos de coleta de fácil acesso, condições logísticas e incentivos fiscais para práticas de reci-clagem e destinação correta desses resíduos.

Para Mattos et al. (2008), a quantidade de produtos eletrônicos descartados pela sociedade vem aumentando a cada ano, no entanto o fluxo reverso de produtos que podem ser reaproveita-dos ou retrabalhados para se transformarem em matéria-prima novamente vem sendo aproveitado apenas pela indústria em quantidades ainda pe-quenas frente ao potencial existente.

O presente trabalho objetiva apresentar os resultados das atividades práticas e dos proces-sos desenvolvidos pelos alunos extensionistas do Programa de Extensão: Mobilização Social em Saneamento Ambiental junto com a Universidade Federal de Campina Grande - Campus I, referentes ao ano de 2013, no tocante ao consumo, descarte, reaproveitamento e destinação final dos resíduos eletroeletrônicos recuperados.

2 | MetodologiaA Política Nacional de Resíduos Sólidos es-

tabelece um marco regulatório para a gestão de Resíduos Sólidos, embora ainda não tenha estabe-lecido instruções claras para a adoção da logística reversa dos REE em instituições públicas federais. Dessa forma, utiliza-se uma metodologia de inves-tigação dos instrumentos legais e jurídicos a fim de proceder com os trabalhos propostos pelo projeto

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A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais.

de extensão. Foi adotada a metodologia proposta pelo IPT/CEMPRE (2000) com adaptações a partir de observações identificadas na primeira fase do Projeto, conforme se discrimina abaixo:

1. Levantamento da base legal existente para aquisição e descarte de materiais em insti-tuições públicas federais;

2. Inventário dos resíduos eletroeletrônicos entregues no Posto de Entrega Voluntária do Programa de Extensão da UFCG;

3. Diagnóstico de geração de resíduos eletro-eletrônicos e verificação de formas de des-carte, observando-se os trâmites legais de desfazimento desses resíduos;

4. Logística de recebimento das máquinas, com visitas aos setores administrativos e jurídicos da Instituição;

5. Caracterização e triagem do material com observações sobre a possibilidade de rea-proveitamento: após o recebimento do ma-terial advindo de diversos setores da UFCG, é realizada a separação das máquinas pas-síveis de reaproveitamento, e as que não apresentam a possibilidade de recupera-ção são destinadas ao setor de patrimônio da UFCG. Após recebimento do material, ocorre o desmonte e a catalogação das pe-ças com potencial de recuperação e reapro-veitamento, com o respectivo inventário. A separação das peças ocorre da seguin-te forma: abertura das CPU’s e separação das peças, como placa-mãe, HD, CD, pilha, memória, fonte, cooler, processador e ca-bos em locais específicos. Com relação aos testes com monitores, estes são ligados à energia após a sinalização e conectados ao computador teste no qual se observa o de-sempenho, ocorrendo a separação daque-les que se apresentam com possibilidade de recuperação. As atividades de triagem e testes em material eletroeletrônico se de-senvolvem de forma contínua, durante toda a vigência do Projeto.

6. Visitas às escolas e bibliotecas municipais com possibilidades de formar parcerias que atendam ao objetivo do programa de exten-são e soluções de suas demandas. No mo-

mento da entrega das máquinas, as escolas contempladas assinam um Termo de Com-promisso com informes sobre a responsabi-lidade do descarte final dos equipamentos.

3 | Resultados e discussão O trabalho desenvolvido pela Univer-

sidade Federal de Campina Grande - Cam-pus I com relação à recuperação de resídu-os eletroeletrônicos chamou a atenção de municípios circunvizinhos ao de Campina Grande/PB, dada a repercussão na mídia local. Os resultados alcançados no ano 2013 vie-ram atender ao ofício no. 12/2013, enviado pela Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça. Após ser ava-liada a importância e a perspectiva de inclusão di-gital dos alunos da zona rural do município, mais precisamente a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, locali-zada no Sítio São Tomé, além do alcance social, verificou-se a necessidade de essa escola implan-tar, inserir e proporcionar aos alunos o acesso às Figura 8. Entrega das máquinas à Prefeitura Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça.

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tecnologias de informação, com o recebimento de 5 (cinco) das máquinas recuperadas (Figura 1).

Dessa forma, após o recebimento das má-quinas, a gestora da escola assim se posicionou: “A escola São Tomé pretende, a cada dia, buscar novas ideias e aprimorar o seu ensino e desen-volver um trabalho com qualidade, mas, para isso acontecer, a escola necessita de alguns equipa-mentos como computadores, brinquedos educa-tivos, ou seja, um grande melhoramento princi-palmente nos meios de comunicação”. Também avaliou a importância dos computadores para o desenvolvimento do aprendizado do aluno, refor-çando, sobretudo, o aspecto da inclusão digital.

Ainda, apresentou comentários o assessor técnico educacional (SEDUC) do município de São Sebastião de Lagoa de Roça: “Venho agradecer à equipe da UFCG, que, de maneira positiva, vem desenvolvendo o projeto que visa beneficiar estu-dantes de escolas públicas, bem como as próprias escolas mediante a doação de computadores que são, ao invés de lançados no lixo, reformados e passam a ser reutilizados. Projetos como esses devem ser valorizados e receber incentivos para que possam ser desenvolvidos com mais afinco”.

A doação das máquinas, como se pode ob-

servar, realizou o sonho de muitas crianças quan-to ao desenvolvimento de tarefas escolares, ao mesmo tempo em que a alegria tomou conta da sala montada pela diretoria da escola (Figura 2).

Importante citar que o Educandário Anji-nho da Guarda localizado no bairro de Jeremias, em Campina Grande-PB, também foi beneficiado com a doação de 02 (máquinas) para os alunos do ensino fundamental.

4 | ConclusõesConclui-se que o objetivo do Projeto de re-

cuperação física de equipamentos eletroeletrôni-cos gerado na Universidade Federal de Campina Grande - Campus I, localizada no município de Campina Grande, Estado da Paraíba, foi alcan-çado. As propostas apresentadas, além de aten-derem em parte as necessidades dos alunos das escolas públicas dos municípios, Campina Grande e São Sebastião de Lagoa de Roça, despertaram, na equipe do projeto e na comunidade universi-tária envolvida com a implantação do projeto, a importância e o alcance de cunho social que as ações alcançaram, contribuindo para que os alu-nos das escolas urbanas e rurais tenham acesso à inclusão digital, fortalecendo o desenvolvimento social das comunidades consideradas carentes.

Figura 2. Aspecto geral das salas de aula onde foram instalados os computadores e dos alunos utilizando as máquinas em suas tarefas es-colares - Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, localizada no Sítio São Tomé - município de São Sebastião de Lagoa de Roça/PB.

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A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais.

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Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE

Resumo

Palavras-chave: Resíduo eletroeletrônico; Logística reversa; Pós-consumo.

Key - words: Electronics waste; Reverse logistics; Post-consumer.

Abstract

A geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil tem sido, nos últimos anos, um tema relevante em todos os debates, discussões e agendas estratégicas da Política de Resíduos Sólidos Urbanos. Este estudo trata dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) de computado-res, resultado da revolução tecnológica dos últimos anos, que produziu equipamentos em larga escala, com variadas utilidades e vem propiciando um aumento na quantidade e diversidade desses tipos de resíduos. Além de ser um dos resíduos de maior crescimento no mundo, sua diversidade e periculosi-dade chamam a atenção para a necessidade de instrumentos de controle nas políticas públicas, para que melhor determinem o papel não só dos geradores mas de toda a sociedade no destino correto. O objetivo desta pesquisa foi analisar a relevância do rastreamento dos computadores da Universidade Federal de Pernambuco durante o consumo e pós-consumo. O estudo identificou instrumentos na le-gislação analisada que permitem um melhor gerenciamento desses resíduos e que, independente de acordos setoriais, poderiam ser aplicados com base na legislação que rege e direciona os órgãos públi-cos, com rebatimento no destino adequado dos REEE de computadores. A pesquisa ainda destaca uma tecnologia social que desenvolve um conjunto de ações e atividades diretamente relacionadas com a re-utilização, gerenciamento e descarte ambientalmente correto desses materiais.

The generation of electrical and electronic equipment waste has been lately a relevant subject in every deba-te, discussion and strategic agendas of Solid Urban Waste Politics. This study is about the waste of electrical and electronic equipment (WEEE) of computers, a results of the technological revolution in the past few ye-ars, which produced equipments with several utilities on a large scale and has been propitiating the enlarge-ment of the quantity and diversity of this kind of waste. Besides being one of the fastest growing wastes in the world its diversity and dangerousness warn us about the necessity of instruments of control in public policy to better determine the role, not only of the generators, but of the whole society in the correct destination of this waste. The objective of this research is to analyze the computer tracking relevance at Federal University of Pernambuco (UFPE) during the consumption and post-consumption. This study identified instruments in an analyzed legislation that allows a better management of this kind of waste and is independent from sectorial agreements. These instruments could be applied based on the current legislation that governs and directs the public organizations which determinates the appropriate destination of the computers WEEE. The research also highlights a social technology that develops a set of actions and activities directly related to the reuse, management, and environmentally appropriate disposal of these materials.

1(ITEP)[email protected](Marista)3(ITEP)

BARRETO, Carlos Alberto Alves1

FRANçA, Domingos Sávio de2

OLIVEIRA, Janeide Ferreira Alencar de3

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Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE

1 | IntroduçãoDe acordo com a Revista Ambiente (2014),

a China e outras economias emergentes ultrapas-saram a Europa e a América do Norte em rela-ção à quantidade de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE). É um dos efeitos do crescimento econômico rápido e tudo indica que concorre para o fato de que as economias emergentes terão que lidar com um aumento de 44,5%% dos REEE entre 2012 e 2017. Segundo o centro Solvingthe E-WasteProblem (StEP), a quantidade de REEE descartados em nível glo-bal foi de 48,9 milhões de toneladas em 2012 e deverá chegar aos 65,4 milhões de toneladas em 2017; o maior aumento ocorrerá nas economias emergentes. Em 2012, o Ocidente descartou 23,5 milhões de toneladas de REEE, enquanto o resto do mundo descartou 25,4 milhões de toneladas. A previsão para 2017 aponta para 28,6 milhões de toneladas descartadas no Ocidente (aumento de 21,7%) e 36,7 milhões de toneladas descarta-das no resto do mundo (aumento de 44,5%).

Oliveira (2011) ressalta que o crescimento populacional e econômico, aliado às mudanças no estilo de vida das pessoas, contribui para o aumento da geração per capita dos Resíduos Só-lidos Urbanos (RSU), que, se mal administrados, podem causar impactos significativos ao meio ambiente e à saúde pública. Nesse contexto, uma estratégia que está sendo cada vez mais utilizada, tanto pelo poder público quanto em instituições privadas, é a Logística Reversa (LR). Seu conceito é visto, no âmbito dos RSU, como uma alternati-va para a destinação final dos resíduos, que, por meio da coleta seletiva e da reciclagem, visa ao reaproveitamento de matéria-prima e energia, a geração de emprego, de renda e a mitigação dos danos ao meio ambiente.

A Universidade Federal de Pernambuco é um grande consumidor de produtos eletroele-trônicos, ressalvando-se os computadores, o que gera uma parcela considerável dos REEE desse tipo de equipamento.

Esta pesquisa buscou analisar a re-levância do rastreamento dos computado-res da Universidade Federal de Pernam-buco durante o consumo e pós-consumo.

2 | Fundamentação Teórica2.1 | Logística Reversa

Lacerda (2000) ressalta que usualmente pen-samos em logística como o gerenciamento do fluxo de materiais do seu ponto de aquisição até o seu ponto de consumo. No entanto, existe também um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo até o ponto de origem, que precisa ser gerenciado. Esse fluxo logístico reverso é comum para uma boa parte das empresas. Por exemplo, fabricantes de bebidas precisam gerenciar todo o retorno de embalagens (garrafas) dos pontos de venda até seus centros de distribuição. As siderúrgicas usam como insumo de produção em grande parte a sucata gerada por seus clientes e, para isso, usam centros coletores de car-ga. A indústria de latas de alumínio é notável em re-lação ao grande aproveitamento de matéria-prima reciclada, tendo desenvolvido meios inovadores na coleta de latas descartadas.

Podemos definir logística reversa como aque-le segmento da cadeia de suprimentos que

trata dos processos logísticos de produtos que já foram vendidos em duas frentes. A primeira refere-se ao fluxo de retorno de produtos que fo-ram entregues com algum tipo de problema (qua-lidade, quantidade etc.), produtos que necessitam de reparos (recall) e produtos que o produtor assu-me a responsabilidade sobre ele após sua vida útil. A segunda frente se refere ao fluxo de retorno de produtos que se destinarão basicamente à venda ou reciclagem, produtos que tenham sido originá-rios do comércio, indústria, ou residências. Assim podemos observar que o processo logístico não se

Figura 1. Descrição do quantitativo do REEE

Fonte: Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente (PNUMA 2014)

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encerra na entrega (SOUZA et al., 2005).

Oliveira (2011) relata que os Resíduos Sóli-dos Urbanos (RSU), antes entendidos como meros subprodutos do sistema produtivo, passaram a ser considerados como responsáveis por graves pro-blemas de degradação ambiental, cujos danos cau-sados tornaram-se mais evidentes com o passar dos anos. O termo resíduo, originado do latim residuu - aquilo que sobra de qualquer substância - passou a ser utilizado como termotécnico e a fazer parte da linguagem habitual em substituição ao desgastado termo “lixo”. O adjetivo sólido foi adotado para dife-renciar de outros tipos de resíduos, como líquidos e gasosos, e o termo urbano compreende os resíduos sólidos gerados num aglomerado urbano, excetu-ados os que possuem classificações diferenciadas como resíduos industriais, de serviço de saúde, de construção civil etc.

A origem do estudo sobre o desenvolvimento da logística surgiu na era moderna, durante as ope-rações militares na I Guerra Mundial. Foi durante a II Guerra Mundial, um conflito de escala global, que os processos de logística foram aperfeiçoados.

De acordo com a Política Nacional de Re-síduos Sólidos (estabelecida pela Lei 12.305, de 2/08/2010), a logística reversa pode ser definida como “instrumento de desenvolvimento econômi-co e social, caracterizado por um conjunto de ações,

procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010)

Dando ênfase ao meio ambiente, a logística reversa é a expressão utilizada para se referir ao papel da logística na reciclagem, disposição de resí-duos e gerenciamento de materiais perigosos.

A logística reversa não pode ser caracterizada apenas pelo recolhimento de material mas pelo ge-renciamento de todo caminho que esse produto vai realizar até o seu descarte.

Previsto na PNRS, o mecanismo de logística reversa é, sem dúvida, o instrumento que mais ne-cessitará de um olhar jurídico cuidadoso. Isso por-que poderá gerar pequenas modificações no perfil da responsabilidade ambiental dos resíduos eletro-eletrônicos produzidos no Brasil.

Segundo Rogers &Tibben-Lembke (2001), o processo de retorno dos produtos segue os se-guintes passos: remanufatura, reforma, reciclagem, reempacotamento, processos de retorno, recupe-ração, canibalização. A implantação do sistema de logística reversa é mais um elemento rumo ao desenvolvimento sustentável do planeta, pois pos-sibilita a reutilização e redução no consumo de matérias-primas, associado com uma definida tec-

Figura 2. Descrição do quantitativo do REEE

Fonte: Lacerda (2000)

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Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE

nologia de informação intensificando a rastreabili-dade do produto, resultando em um rápido e eficaz retorno dos produtos reciclados.

A logística reversa para os produtos eletroe-letrônicos (computadores) deverá ser operaciona-lizada mediante os acordos setoriais que serão re-alizados com a participação de vários segmentos: Indústrias, Cooperativas de catadores e Governo.

2.2 | Acordo Setorial

O Comitê Orientador para a Implementação de Sis-temas de Logística Reversa - CORI, em conformida-de com seu Regimento Interno aprovado pela Mi-nistra de Estado do Meio Ambiente e publicado no Diário Oficial da União, de 08 de abril de 2011 por meio de Portaria Ministerial nº 113, especialmente com o disposto no inciso II do caput e no parágrafo único do art. 2º, bem como nos § §1º e 2º do art. 11;

Os acordos setoriais são atos de natureza con-tratual, firmados entre o Pode Público e os fabrican-tes, importadores, distribuidores ou comerciantes, visando à implantação da responsabilidade com-

partilhada pelo ciclo de vida do prod

2.3 | Ciclo de Vida de um ComputadorA vida de um produto, do ponto de vista lo-

gístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos tornam-se obsoletos ou danificados; quando não funcionam, devem retornar ao seu ponto de origem, para serem adequadamente des-cartados ou reaproveitados.

A maioria dos consumidores de computa-dores não descartam seus equipamentos porque estão quebrados ou desgastados. As inovações tecnológicas provocam uma defasagem em com-paração ao nível de desempenho dos computado-res recém-lançados (FERRER, 1997; WILLIAMS e SASAKI, 2003; KAYO et al., 2006).

Um novo processador com maior velocidade de clock é introduzido no mercado a cada 5 ou 6 meses. O tamanho padrão para um chip de memó-ria para computador, 1 MB em 1990, tem dobrado a cada ano. O tamanho padrão de um disco rígi-do, 40 MB em 1990, tem aumentado ainda mais rápido. CD-ROM, uma raridade nos anos 1990, se

Figura 3.Fases da gestão do ciclo de vida do produto

Fonte: Adaptado de XAVIER e CORRÊA (2013)

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tornou equipamento padrão para todos os compu-tadores (FERRER, 1997, p. 85).

Do ponto de vista financeiro, fica evidente que, além dos custos de compra de matéria-prima, de produção, de armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também outros cus-tos que estão relacionados a todo gerenciamento do seu fluxo reverso. Do ponto de vista ambiental, essa é uma forma de avaliar qual o impacto ambiental que um produto pode estar causando sobre o meio ambiente durante sua vida.

O ciclo de vida de um computador varia se-gundo especialistas entre dois e três anos. Devido às dificuldades financeiras e também à cultura, o brasileiro não tem o hábito de trocar seu computa-dor nesse prazo, efetuando a troca somente quando este não realiza mais as tarefas solicitadas.

2.4 | RastreabilidadeDe acordo com pesquisa elaborada por Vaz

(2005), atribui-se que a capacidade de rastrea-mento de retornos, medição dos tempos de ciclo, medição do desempenho de fornecedores (ava-rias nos produtos, por exemplo) permitem obter informação crucial para negociação, melhoria de desempenho e identificação de abusos dos con-sumidores no retorno de produtos. Construir ou mesmo adquirir um sistema de informação que compartilhe todos os passos de operação logística é um grande desafio.

Laurindo (2011) conceitua a Tecnologia da Informação (TI) de uma forma mais abrangente que os de processamento de dados, sistemas de informação, engenharia de software, informática ou o conjunto de hardware e software, uma vez que também envolve aspectos humanos, admi-nistrativos e organizacionais. Laurindo (2011) faz uma abordagem com vários autores, restringindo à primeira expressão apenas os aspectos técni-cos, enquanto que à segunda corresponderiam as questões relativas ao fluxo de trabalho, pessoas e informações envolvidas.

A rastreabilidade para o sistema de logística reversa possibilita a identificação do produto da origem ao pós- consumo e o trajeto percorrido du-rante todo o processo.

Identifica os responsáveis pelas etapas de

coleta, armazenagem, pré-processamento e desti-nação, permitindo credibilidade e adequação aos preceitos legais da responsabilidade compartilha-da.

2.5 | Tipos de RastreamentoDe acordo com Xavier (2013), existem dife-

rentes processos para a identificação do produto. Podem ser por meio de etiquetas – com ou sem có-digos de barras – etiquetas com tecnologia RFID (radio frequencyidentification), GPS (global posi-tioning system), entre outros.

2.6 | Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC)

O Centro de Recondicionamento de Com-putadores do Recife – CRC-Recife surge como um espaço irradiador de práticas e experimentos am-bientalmente corretos e economicamente viáveis para transformar a problemática elencada acima em agendas de Educação Socioambiental, Empre-endedorismo Social, Economia Criativa e, sobre-tudo, promovendo e emancipando adolescentes, jovens e adultos das periferias da Região Metropo-

Figura 4.Certificado de destruição de REEE

Fonte: TES-AMM Cingapura (2013)

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Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE

litana do Recife, vulneráveis socioeconomicamen-te e/ou as pessoas envolvidas nas atividades de catação de recicláveis.

Desde 2009, o CRC Recife atua recebendo REEE descartados por órgãos dos governos, em-presas e consumidores em geral. O espaço tem como alicerces estratégicos:

1. Oferecer um conjunto de itinerários for-mativos para crianças, adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, potencializando apren-dizagens em áreas como inclusão socio-digital e educação ambiental;

2. Atender adolescentes, jovens e adultos pertencentes às cooperativas de catado-res e recicladores da RMR com palestras, oficinas, cursos e capacitações nas áreas

de inclusão sociodigital, educação am-biental, crescimento pessoal, competên-cias laborais, criatividade empreendedo-ra, gerenciamento de REEE e reciclagem de resíduos eletroeletrônicos;

3. Disponibilizar para o segmento de coo-perativas de catadores do Estado de Per-nambuco um espaço de referência para a qualificação dos processos de coleta, tria-gem, segregação, estocagem, comerciali-zação e venda de recicláveis de resíduos eletroeletrônicos;

4. Realizar palestras, seminários e oficinas de educação socioambiental com foco na coleta seletiva e resíduos eletroeletrôni-cos nas escolas públicas municipais e es-taduais, empresas, ongs, universidades e eventos;

Tabela 1. Quantidade de computadores e monitores adquiridos na UFPE

Fonte: Setor de Patrimônio (2013)

Tabela 2.Quantidade dos equipamentos descartados na UFPE, no período de 2008 a 2012.

Fonte: Setor de Patrimônio (2013)

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5. Sistematizar a experiência desenvolvida durante a execução da parceria para pos-terior publicação e consolidação como tecnologia social.

3 | Material e MétodoA pesquisa sobre a logística reversa de com-

putadores foi realizada na UFPE, localizada no bairro da Cidade Universitária, na cidade do Re-cife. Este campus universitário possui 12 centros acadêmicos e 67 departamentos. Trabalham nesta universidade 2.209 professores e 4.144 servidores técnico-administrativos nos três campi. (dados de 2012)

Os estudos partem de uma pesquisa biblio-gráfica em artigos científicos sobre o descarte dos REEE em instituições de ensino no Brasil.

Foi ainda realizada análise documental em documentos específicos sobre o procedimento para a realização de uma adequada redução des-ses resíduos dentro da UFPE.

Foram aplicados questionários com ques-tões abertas, direcionado ao Setor de Patrimônio e ao Setor de Compras da UFPE, nos quais foram abordados assuntos relacionados ao descarte dos computadores, motivação, quantidade de equipa-mentos adquiridos, centros geradores, quantidade de equipamentos descartados e a forma de desti-nação final.

4 | ResultadoMediante pesquisa de campo realizada no

Setor de Patrimônio da UFPE, no período de 2008 a 2012, constatou-se que a instituição adquiriu cerca de 5.824 computadores e 6.071 monitores.

A aquisição desses equipamentos é justifica-da, mediante setor de patrimônio, pela implanta-ção do programa REUNI do Governo Federal.

O Programa foi criado para apoiar o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Trata-se de uma das ações inte-grantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em reconhecimento ao papel estratégico das Universidades Federais para o desenvolvimen-to econômico e social. O programa teve início em

2008.

Dados obtidos junto com o setor de patri-mônio da UFPE em julho de 2013 indicam que, nos últimos cinco anos, foram descartados 605 computadores, 568 monitores, 228 impressoras. Esses equipamentos foram doados para institui-ções filantrópicas, não havendo um acompanha-mento junto às instituições sob o destino correto desses equipamentos ao final do seu ciclo de vida.

Estudos realizados sobre o ciclo de vida dos computadores utilizados na UFPE revelam que servidores e professores estão descartando os equipamentos entre três e cinco anos.

A pesquisa realizada evidencia que os servi-dores justificam que as peças danificadas, como hd, processadores e memórias, são as causas do descarte dos equipamentos. Os professores jus-tificam a obsolescência para o descarte dos com-putadores.

5 | Conclusões

Os resultados obtidos na pesquisa comprovam que a aquisição de equipamentos eletroeletrôni-cos vem crescendo nos últimos anos, provocada pela expansão da universidade e pela crescente inovação tecnológica, fatores esses que contri-buem para o rápido descarte dos computadores.

Constatou-se que, na UFPE, os equipamen-tos eletroeletrônicos pós-consumo se tornam uma problemática de difícil solução, consideran-do que as legislações vigentes no país não garan-tem uma estrutura adequada que permita que tais materiais sejam recolhidos por um sistema de logística reversa eficiente e sustentável.

Conforme sugestão em pesquisa elabora-da por Xavier e Correia (2013), far-se-á a inser-ção para o monitoramento dos REEE a partir do descarte, tendo em vista que pode ser feito por meio do acompanhamento do código de barra e etiquetas de rádio de frequência (RFID). Conse-quentemente, percebemos a grande importância do rastreamento desses equipamentos, visando à possibilidade de um correto descarte dos compu-tadores da UFPE.

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Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE

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Logística Reversa dos Resíduos dos Equipamentos Eletroeletrônicos : Análise do Consumo e Pós - Consumo dos Computadores da Universidade Federal de Pernambuco.

Resumo

Palavras-chave: Consumo; Pós-consumo; Resíduos Eletroeletrônicos; Logística Reversa; Resíduos Sólidos.

Key - words: Consumption; Post-consumer; Electronics Waste; Reverse Logistics; Solid Waste.

Abstract

O crescente desenvolvimento tecnológico vem provocando uma elevada taxa de inovação entre os equi-pamentos eletroeletrônicos, gerando a necessidade de substituição dos equipamentos em um período cada vez mais curto. O acelerado processo tecnológico vem provocando problemas na gestão dos re-síduos dos equipamentos eletroeletrônicos (REEE), oriundos de computadores. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o Brasil está produzindo 0,5Kg/ano/hab.de REEE dos computadores, aos quais não tem sido dado um destino adequado. A Lei nº 12.305, de 2/8/2010, que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), exige a implementação do sistema de logística reversa e a responsabilidade dos produtores, distribuidores, comerciantes e importadores pelo tratamento e a destinação final dos REEE. Nessa nova estrutura de gerenciamento dos resíduos proposta pela PNRS, todos os envolvidos têm responsabilidades específicas e igualmente relevantes. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está adquirindo uma média de 1.165 computadores por ano. Este estudo analisou o consumo e pós-consumo dos computadores na UFPE, caracterizando o fluxo dos resíduos ao destino final e identificou indicadores que poderão auxiliar na implantação de um sistema mais eficiente na coleta desses equipamentos nos departamentos e no descarte final pelo Setor de Patrimônio. Foi realizada pesquisa bibliográfica, levantamento direto em campo, com foco no Setor de Patrimônio, Compras e junto com funcionários e professores. Os resultados obtidos demonstram a não aplicação da PNRS quanto ao processo de logística reversa dos REEE e, ainda, que o fluxo interno e o descarte vêm sendo efetuados de forma inadequada, para uma significativa geração de REEE, em função da quantidade de computadores adquiridos.

The increasing technological development has led to a high rate of innovation among consumers of elec-tronics equipments creating the need to replace equipment in short period. The accelerated technological process has caused problems in the management of waste of electrical and electronic equipment (WEEE) originated from computers. According to the United Nations Program for Environment (UNEP) Brazil is producing 0.5 kg/year/inh. of WEEE from computers which have not been given a proper destination. Law 12,305 of 08/02/2010 establishing the National Solid Waste Policy (PNRS) requires the implementation of reverse logistics system and the responsibility of producers, distributors, dealers and importers for treatment and disposal of WEEE. In this new management structure of the waste proposed by PNRS everyone involved has specific responsibilities and equally relevant. The Federal University of Pernambuco (UFPE) is acquiring an average of 1,165 computers per year. This study examined the consumption and post- consumption of computers at UFPE characterizing the flow of waste to final destination. This work has identified indicators that may assist in the implementation of a more efficient system to collect such equipments in the depart-ments and the final disposal of the Division of Equity. Bibliographical research, direct field surveys, focusing on Equity Sector, Procurement and among employees and teachers were held. The results demonstrate the non-application of PNRS regarding WEEE reverse logistics process and that the internal flow and disposal have been made improperly to a significant generation of WEEE on the quantity of purchased computers.

[email protected] em Gestão Ambiental (ITEP)

BARRETO, Carlos Alberto Alves1.

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LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

1 | IntroduçãoOs resíduos eletroeletrônicos de computa-

dores representam um considerável problema de abrangência mundial na atualidade, devido ao in-cremento da produção e do consumo em face da intensificação do atual modelo de desenvolvimen-to tecnológico, que induz esses equipamentos a se tornarem rapidamente obsoletos.

As indústrias optam por níveis de venda em economia de escala, que é um padrão internacio-nal de modelo socioeconômico capitalista. Desen-volvem equipamentos com o subterfúgio da práti-ca denominada designed for the dump (“projetado para o descarte”, em tradução livre para o idioma português). Essa estratégia sugere a criação, con-secução e desenvolvimento de bens de consumo elaborados para o descarte rápido, com vida útil curta.

Ao serem descartados, por se tornarem ob-soletos, esses equipamentos serão geradores de toneladas de REEE. De acordo com Kang & Scho-enung (2005), não existe atualmente nenhum mé-todo para tratamento dos REEE, e o destino desses resíduos são os lixões, aterros sanitários ou inci-neração.

O projeto de lei n o 203/1991, que foi apro-vado no Congresso Nacional na forma da lei no

12.305/2010, de 3/8/2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelece, dentre outras ações legais, a logística reversa como pro-posta para regular e responsabilizar os fluxos de pós-venda e pós-consumo de algumas cadeias produtivas, dentre as quais os resíduos eletroele-trônicos (REEE) descartados pelos consumidores (BRASIL, 2010).

O presente estudo tem por objetivo identi-ficar, qualificar e quantificar os fluxos de entrada e saída dos computadores utilizados na UFPE, no sentido de se estabelecerem indicadores que re-lacionem o consumo e pós-consumo com outras variáveis.

2 | FUNDAMENTAçãO TEÓRICA2.1 | Magnitude do Problema

O REEE produzido mundialmente é um sé-rio problema que precisa ser solucionado. Milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos são produzidos anualmente, causando problemas am-bientais, sociais e de saúde.

Segundo a UNEP (2009), Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente, a geração dos REEE deve chegar a 40 milhões de toneladas por ano, cuja maior parcela desses resíduos é gerada nos países desenvolvidos.

Figura 1. Geração de REEE de computadores, países emergentes.

Fonte: Relatório Unep ONU, 2009.

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O Brasil está descartando 96,8 mil toneladas métricas de PCs por ano, gerando 0,5 kg/hab ano de REEE de computadores. Esse volume é relativa-mente inferior ao da China que descarta 300 mil toneladas métricas (UNEP, 2009).

Em relação à geração per capita (kg/habitan-te por ano), o Brasil tem uma produção maior que o Chile que registra 0,45kg/hab. ano, da China com 0,23 kg/hab.ano, da Índia que tem 0,1kg hab.ano, perde para a Europa com 4 Kg/hab e para os ame-ricanos que geram 14 Kg/hab. ano.

Produtos presentes nesses materiais podem desencadear sérios problemas à saúde humana (MOREIRA, 2007), os quais têm possibilidade de serem agravados pelo processo de reciclagem bru-ta, pois muitos poluentes orgânicos persistentes e metais pesados são liberados, podendo se acu-mular facilmente no organismo por inalação do ar contaminado.

Entre os componentes tóxicos encontrados em um computador, destacam-se:

• Chumbo: pode causar danos ao sistema nervoso e sanguíneo;

• Cádmio: causa envenenamento, danos aos ossos e rins;

• Berílio: causa câncer no pulmão;

• Retardantes de chamas (BRT): causam desordens hormonais, nervosas e repro-dutivas.

Torna-se importante discutir sobre os prin-cipais componentes de um computador, para en-tender a aplicação das substâncias químicas utili-zadas na sua produção.

2.2 | PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM COMPUTADOR

2.2.1 | Placas de circuito impresso (PCI)As placas de circuito impresso representam

3% do peso total dos resíduos eletroeletrônicos geradas dos equipamentos (LONG et al., 2010;GUO et al., 2009). A industrialização das placas repre-senta uma das principais partes dos equipamentos para a quantidade atual de metais.

Esse componente é uma das principais par-tes dos equipamentos eletrônicos, sendo consti-tuído por uma placa em que são impressas trilhas de cobre. A placa se comporta como isolante (die-létrico), e as trilhas têm a função de conectar ele-tricamente os diversos componentes (MELO et. al., 2001).

Quadro 1. Composição típica de uma placa de circuito impresso

Fonte: LEE et al., 2004.

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LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Existe uma grande variedade de metais na PCI, o que dificulta a sua reciclagem. A quantidade de ouro existente em uma placa pode ser de 40 a 800 vezes maior que a encontrada em minério de ouro natural (BLEIWAS, 2001). Veit (2005) afirma que existem 17 gramas de ouro por tonelada de re-síduos das PCI. Na mineração de ouro, por exem-plo, é extraída uma quantidade que varia de 6-12 gramas por tonelada de minério.

Se essas placas forem descartadas de manei-ra incorreta, podem causar sérios danos ao meio ambiente. Se descartadas em aterros sanitários ou lixões, a lixívia gerada pode infiltrar no solo e al-cançar o lençol freático, podendo causar contami-nação nos agentes receptores.

2.2.2 | ProcessadoresO processador é um dos principais compo-

nentes dos computadores; formado por transís-tores, que substituíram as válvulas termoiônicas, as quais consumiam uma grande quantidade de energia.

Com os primeiros transístores, surgiu uma nova etapa da eletrônica de estado sólido.

O transistor pode ser miniaturizado em ní-veis microscópios. No início, media aproximada-mente 1,5cm e era confeccionado de germânio e ouro. Na década de 1950, o silício começou a ser utilizado, pois apresentava uma série de vanta-

gens em relação ao germânio. Hoje o transistor pode medir até 45nm(nanômetros) 330.000 vezes menor.

O fundador da Intel, Gordon Moore, publicou em 14 de abril de 1965, na revista Electronics Ma-gazine, um artigo sobre a capacidade dos proces-sadores dos computadores.

No artigo, Moore afirma que a capacidade dobraria no intervalo de 18 meses e que esse cres-cimento seria constante. Essa teoria ficou conheci-da como “Lei de Moore.”

2.3 | LEGISLAçãO APLICÁVEL2.3.1 | Administração Patrimonial

Segundo Santos (2002, p. 11), “a administra-ção patrimonial compreende uma sequência de atividades, que tem seu início na aquisição de ma-teriais pelo Setor de Compras e termina quando o bem for retirado do patrimônio da empresa”. Para Pozo (2007, p. 103), “patrimônio tem como con-ceito o conjunto de bens, valores, direitos e obriga-ções de uma pessoa jurídica”.

Os bens são classificados em tangíveis e in-tangíveis. Os bens tangíveis têm forma e podem ser tocados, como computadores, máquinas, mó-veis e veículos. Os bens intangíveis são aqueles em que não podemos tocar, como marcas, patentes e logotipos.

Figura 2.Placa de circuito impresso com vários componentes

Fonte: Autor, 2013.

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O Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990 regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimen-tação, alienação e outras formas de desfazimento de material.

A devolução ao Setor de Patrimônio (de uma determinada instituição pública) de bens avaria-dos, obsoletos ou sem utilização também se carac-teriza como transferência. Nesse caso, a autoridade da unidade onde o bem está localizado devolve-o com a observância das normas regulamentares, a fim de que o Setor Patrimonial possa manter rigo-roso controle sobre a situação do bem. Esses bens ficam sob a guarda dos servidores desse setor e serão objetos de análise para a determinação da baixa ou transferência para outros setores.

No artigo 4º do Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990, o material classificado como ocioso ou recuperável será cedido a outros órgãos que dele necessitem.

O parágrafo único do artigo 3º considera material inservível para repartição, órgão ou enti-dade aquele que detém propriedade, devendo ser classificado como:

a. ocioso - quando em perfeitas condições de uso, não estiver sendo aproveitado;

b. recuperável - quando sua recuperação for possível e orçar, no âmbito, 50% (cin-quenta por cento) de seu valor de mer-cado.

c. antieconômico - quando sua manutenção for onerosa ou seu rendimento, precário em virtude de uso prolongado, desgaste prematuro ou obsoletismo.

2.3.2 | A Política Nacional de Resíduos SólidosDepois de mais de 20 anos de discussões, mo-

dificações e rejeições, o projeto de lei 203/1991, que consolida a Política Nacional de Resíduos Só-lidos (PNRS), aprovado pela Lei n º 12.305, de 2 de agosto de 2010, em seguida normatizado pelo Decreto nº 7.401/2010, criou o Comitê Interminis-terial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Siste-mas de Logística Reversa, com a finalidade de dar apoio para estruturar os setores envolvidos e im-plantar a legislação mediante a articulação com os

órgãos e as entidades do governo.

No artigo 5º do Decreto sobre a Política Na-cional dos Resíduos Sólidos, que trata da respon-sabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, todos os envolvidos na geração deverão ter participação na eficácia das medidas adotadas.

Os produtores e fabricantes terão respon-sabilidade pelo produto eletroeletrônico, mesmo após o fim da sua vida útil, obrigando-se a não somente promover a logística reversa (art.33 da PNRS) mas também, uma correta rotulagem am-biental para possibilitar a efetivação dessa logísti-ca (art 7º, inciso XV, da PNRS).

Para os comerciantes e distribuidores, sua responsabilidade se traduz no dever de informar aos clientes e consumidores no que tange à logís-tica reversa e aos locais onde podem ser deposita-dos os resíduos eletroeletrônicos e a forma como esses resíduos poderão ser valorizados (art. 31 in-ciso II da PNRS).

A PNRS estabelece que as universidades e instituições de ensino no geral podem gerar mecanismos para gestão desses resíduos. Nos instrumentos VI, VII e VIII citados na lei, as uni-versidades podem atuar no desenvolvimento de pesquisas para novos produtos, métodos, proces-sos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutili-zação, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos na pesquisa científica e tecnológica e na educação ambiental (BRASIL, 2010).

2.3.3 | A logística reversa dos equipamentos eletroeletrônicos

Dando ênfase ao meio ambiente, a logística reversa é a expressão utilizada para se referir ao papel da logística na reciclagem, disposição de re-síduos e gerenciamento de materiais perigosos. A logística reversa não pode ser caracterizada ape-nas pelo recolhimento de material mas pelo geren-ciamento de todo caminho que esse produto vai realizar até o seu descarte adequado.

A logística reversa para os produtos eletroe-letrônicos (computadores) deverá ser operaciona-lizada por meio dos Acordos Setoriais que serão realizados com a participação de vários segmentos: Indústrias, Cooperativas de catadores e governo.

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2.3.4 | Acordos SetoriaisFoi lançado, no dia 13 de fevereiro de 2013,

o edital nº 01/2013 do Ministério do Meio Am-biente, referente aos resíduos eletroeletrônicos, com o prazo de 120 dias para encaminhamento de propostas ao comitê orientador. O edital de-termina que 17% de todos os equipamentos ele-troeletrônicos comercializados no ano de 2012 deverão ser coletados e destinados. Essa meta de-verá ser atingida no período de 5 anos, até 2017, com a implantação da logística reversa.

Consideradas resíduos com um alto valor agregado, as cooperativas estão buscando a qua-lificação dos catadores para que estes possam atuar profissionalmente com esse tipo de mate-rial (XAVIER e CARVALHO, 2014).

3 | METODOLOGIAO procedimento metodológico utilizado no

trabalho foi de natureza exploratória, proporcio-nando uma maior familiaridade com o problema ou caso estudado mediante levantamentos bibliográfi-cos e entrevistas com as pessoas que convivem com o objeto, visando identificar hipóteses que possam vir a resolvê-lo (GIL, 1991).

Foram analisados os motivos, a quantidade de equipamentos adquiridos, os centros geradores, a quantidade de equipamentos descartados e o des-tino final dos computadores da UFPE.

Com o objetivo de prever a quantidade dos

REEE que serão gerados na UFPE, até 2020, foi utilizado o modelo de regressão linear, sendo uma variável dependente os resíduos em toneladas e como variável independente, o ano.

As duas variáveis são identificadas da se-guinte forma: X é a variável independente, e Y, uma variável dependente.

O modelo de regressão linear simples ou reta de regressão é dado pela seguinte expressão:

4 | DISCUSSãO DOS RESULTADOS

Com dados obtidos no Setor de Patrimônio da UFPE, foi diagnosticado que, a partir da média dos últimos cinco anos, foram adquiridos cerca de 1.165 computadores por ano para os diversos departamentos.

O aumento do consumo desses equipamen-tos, provocado pela expansão da UFPE, a crescen-te inovação tecnológica e a diminuição do tempo de vida útil são fatores que contribuem para o descarte dos equipamentos de informática.

Estudos realizados sobre o ciclo de vida dos computadores utilizados na UFPE revelam que servidores e professores estão descartando os equipamentos entre três e cinco anos.

Quadro 2. Quantidade de computadores e monitores adquiridos na UFPE

Obs. Considerando os três campus universitários da UFPE.Fonte: Setor de Patrimônio, 2013.

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LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Os principais motivos para o descarte dos computadores são defeitos apresentados no HD, na placa-mãe e na memória, cuja justificativa é a invia-bilidade econômica do seu conserto.

Dados obtidos junto com o Setor de Patrimô-nio da UFPE, em julho de 2013 indicam que, nos últimos cinco anos, foram descartados 605 com-putadores, 568 monitores, 228 impressoras. Esses equipamentos foram doados para instituições filan-trópicas, não havendo um acompanhamento junto com as instituições sobre o destino correto desses

equipamentos ao final do seu ciclo de vida.

Com os dados que foram obtidos no Setor de Patrimônio em relação ao descarte de computado-res, impressoras e monitores, foi realizada uma es-timativa da quantidade de resíduos que a UFPE vai gerar até 2020. Os dados revelam que a UFPE vem gerando aproximadamente 3,48 toneladas por ano de REEE nos últimos cinco anos, e a estimativa é a de que, até 2020, sejam geradas aproximadamente 4,3 toneladas por ano.

Quadro 3.Quantidade de equipamentos de informática descartados nos últimos cinco anos, na UFPE.

Fonte: Setor de Patrimônio, 2013.

Grafico1. - Projeção da quantidade de REEE - 2008 a 2020

Fonte: Autor, 2014.

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5 | CONCLUSãOOs resultados que foram obtidos na pesquisa

constatam que não existe, no campus da UFPE, um gerenciamento adequado dos resíduos dos equipa-mentos de informática.

A geração anual de REEE de computadores, identificada no estudo, aliada às dificuldades ob-servadas nos fluxos de entrada e saída, demonstra a necessidade de se propor um gerenciamento ade-quado desses resíduos na Universidade Federal de Pernambuco.

Constatou-se que é possível obter meios mais eficazes para se efetivar uma logística reversa dos REEE de computadores da UFPE nos aspectos legal e técnico, no sentido de garantir os fluxos reversos de pós-consumo desses equipamentos, observan-do-se os aspectos ambientais, sociais e a viabilidade econômica para sua utilização.

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ReferênciasBRASIL. Lei No 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Presidência da República. Casa Civil. Brasília, DF, 3 ago. 2010. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil03/_ato2007-2010/2010/lei/I12305.htm>. Acesso em: 10 abr. 2012.

BLEIWAS, D. Obsoleto computers, “Gold mine”, or High--tech trash: Geological Survey, 2001.

DECRETO Nº 99.658, de 30 de outubro de 1990. Regu-lamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Diário Oficial da Re-pública Federativa do Brasil, Brasília, 31 out. 1990.

DECRETO Nº 4.507, de 11 de dezembro de 2002. Altera o art. 15 do Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990, que regulamenta, no âmbito da Administração Pública Fe-deral, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 12 dez. 2002.

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XAVIER; CARVALHO, T.C.M.B. Gestão de resíduos eletroe-letrônicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

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Reciclagem de Lixo Eletrônico: Primeiras Impressões Sobre Projeto de Extensão em Ambiente Acadêmico

Resumo

Palavras-chave: Lixo eletrônico de informática; Política Nacional de Resíduos Sólidos; Sustentabili-dade; Projeto de Extensão.

Key - words: Computer Eletronic Waste; National Solid Waste Policy; Sustainability; Extension Project.

Abstract

A preocupação ambiental instigou a vontade de conhecer a experiência de uma instituição de ensino superior do sertão pernambucano que vem desenvolvendo um projeto de extensão, cujo objetivo está pautado na possibilidade de difusão do conhecimento sobre lixo eletrônico de informática, proble-matizando os modos para redução dos impactos desses resíduos no meio ambiente e na saúde da população. O presente trabalho propõe-se a colaborar com o conhecimento sobre o lixo eletrônico de informática, alinhado à possibilidade de gerenciamento sustentável e, portanto, com efeitos positivos do ponto de vista social e econômico. Trata-se, pois, de um estudo de caso, no qual a ação de extensão acadêmica transita entre a coleta de lixo eletrônico de informática e a qualificação profissional para reciclagem desses resíduos, articulada ao programa de inclusão digital, destinado aos jovens, adoles-centes e adultos de bairros periféricos. A principal âncora teórica deste estudo é a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, instituída pela Lei nº 12.305/2010, que apresenta como pano de fundo a ideia de responsabilidade compartilhada – governos, indústrias, revendedores, consumidores, ca-tadores e recicladores – para preservação do meio ambiente e proteção às pessoas em relação aos possíveis danos provocados pelo tratamento inadequado dos resíduos eletroeletrônicos. Observou-se que o projeto permitiu aos participantes a compreensão da cadeia de transformação de lixo eletrônico de informática ao tempo em que se indicou a necessidade de inclusão desse eixo temático no currículo acadêmico do curso de Ciências da Computação da Instituição.

Environmental concern prompted the desire to know the experience of an institution of higher education in Pernambuco hinterland that has been developing an extension project which objective is founded on the possibility of dissemination of knowledge on waste electronic computer, discussing ways to reduce its im-pacts on the environment and population health. The present work proposes to collaborate with knowledge about e-waste computer aligned with the possibility of sustainable management and, therefore, with positi-ve effects in social and economic terms. It is, consequently, a case study, in which the action of academic ex-tension transits between collecting junk computer and the qualification for recycling these wastes hinged to a digital inclusion program for youth, teens and adults of peripherals neighborhoods. The theoretical anchor of this study is the National Solid Waste Policy - PNRS established by Law No. 12,305 / 2010, which has as its background the idea of shared responsibility - governments, industry, retailers, consumers, collectors and recyclers - to preserve the environment and protect people against the possible damage caused by improper handling of electronic waste. It was observed that the project allowed the participants to understand the transformation process of junk computer, which indicated the need for inclusion of this thematic axis in the academic curriculum of the Computer Science Institution chain.

1Mestrando em Gestão da Tecnologia Ambiental pelo Programa de Pós-graduação do Instituto de Tecnologia Ambiental – ITEP. Professor de Administração de Empresas e Diretor Acadêmico da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE. Bacharel em Administração pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE.

2Doutorando em Informática pela Universidade de Évora, Especialista em Tecnologia Educacional, Sistemas de Informação e Redes e Segurança da Informação, Professor do Curso de Ciências da Computa-ção, Coordenador dos Projetos de Inclusão Digital e Reciclagem de Lixo Eletrônico na Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE.

HABIB, Antonio Henrique1. GONDIM, Vanderley2.

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RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO

1 | IntroduçãoNo processo de aceleração da inovação tec-

nológica definido pelas exigências da lógica de fortalecimento do modelo econômico, merece particular análise a introdução de novas tecno-logias nos equipamentos de informática e das telecomunicações, indutores, em boa medida, do consumo desenfreado, gerado tanto pela ob-solescência da funcionalidade do equipamento quanto pelo estímulo das mídias. Nesse sentido, Casa Grande Jr. (2014) afirma que a inovação tec-nológica é elemento gerador de mudanças que não se relaciona apenas com questões de ordem técnico-científica, mas está implicada também nas dimensões de natureza política, econômica e sociocultural, compreendendo-se assim que o uso de novas tecnologias contribui para a repre-sentação social e inclusão do sujeito.

Ressalte-se que a introdução de novas tec-nologias tem maior impacto nos equipamentos de informática e telecomunicações, determinan-do um ciclo de atualização mais curto a tais equi-pamentos. Quando em desuso e com descarte inadequado, esses equipamentos constituem re-síduos sólidos, de significativa periculosidade às pessoas e ao meio ambiente. São os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEEs), também denominados Resíduos Eletroeletrôni-cos (REEs), Resíduos Tecnológicos, e-resíduos ou popularmente lixo eletrônico.

“Lixo eletrônico é o nome dado aos resíduos da rápida obsolescência de equipamentos eletrôni-cos, que incluem computadores e eletrodomésticos, entre outros dispositivos. Tais resíduos, descartados em lixões, constituem-se num sério risco para o meio ambiente, pois possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo. Em contato com o solo, esses me-tais contaminam o lençol freático e, se queimados, poluem o ar além de prejudicar a saúde dos catado-res que sobrevivem da venda de materiais coletados em lixões.” (GUERIN, 2008, p.1).

Essa advertência de Guerin (2008) esclare-ce que o mau gerenciamento do descarte de REEE expõe as pessoas que lidam com esses resíduos ao risco de contaminação de metais pesados gerando efeitos danosos à saúde. Ao mesmo tempo, o de-pósito desses resíduos diretamente na natureza, mesmo em aterros sanitários, pode contaminar os lençóis freáticos e subterrâneos, apresentando consequências negativas para o ambiente como um todo.

Santos et al. (2014) informam que a litera-tura internacional sobre REEE dispõe de grande diversidade de pesquisas e destacam que

- os estudos recentes têm direcionado seus esforços, principalmente, para três grandes áreas: (i) a situação corrente dos REEE e suas cadeias reversas em diferentes locais/países (ONGONDO; WILLIAMS, 2011; GOMES; BARBOSA-POVOA; NO-VAIS, 2011); (ii) relacionadas ao fluxo internacio-nal de REEE e, em especial, referentes às práticas informais de reciclagem desses resíduos em paí-ses asiáticos e africanos (WANG; REUTER, 2011; ONGONDO; WILLIAMS; CHERRETT, 2011) e (iii) pesquisas sobre novas técnicas e procedimentos de reciclagem (TUNESI, 2011) nessa linha de pes-quisa, no plano nacional, destacam-se os recentes trabalhos de (KASPER et al., 2011) e (VEIT et al., 2009)”.

As pesquisas sobre procedimentos e técni-cas de reciclagem são relevantes à medida que a produção do lixo eletrônico, segundo o Greenpe-ace (2012), representa 5% de toda a produção municipal de resíduos sólidos em todo o mundo. Segundo a mesma fonte, esse fato se alia ao consu-mismo, pelo qual, muitas vezes, as pessoas trocam seus aparelhos eletrônicos por novos exemplares ao surgir, no mercado, equipamento com tecnolo-gia mais avançada.

Diante dessas considerações e ancorada em Miguez (2010), a contribuição da logística rever-sa, entendida como proposta empresarial, cuida tanto da preservação e defesa do meio ambiente e saúde da população quanto da geração de negó-cios. Miguez (2010) evidencia casos de organiza-ções atuantes no setor eletroeletrônico que obtêm benefícios ambientais e financeiros com a utiliza-ção de processos de logística reversa.

Contudo, os produtos de inovação tecnoló-gica têm ritmo de criação e produção mais acele-rado que os processos produtivos realizados pela logística reversa. Essa constatação aponta para a criação de uma lógica empresarial, instituída sob novo paradigma produtivo, ou seja, um paradigma fundado na visão de um sistema ecossustentável.

A compreensão da densidade desse proble-ma resultou no desenvolvimento de um projeto de extensão em uma instituição de ensino superior do

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sertão pernambucano, cujo objetivo está pautado na possibilidade de colaborar na difusão do conhe-cimento sobre resíduos eletroeletrônicos e proble-matizar os modos irregulares do descarte desses resíduos. O projeto é pertinente do ponto de vista social e científico, à medida que, na sequência de desenvolvimento das ações, pode contribuir com o poder público local para gestão apropriada do lixo eletrônico de informática, produzido na cidade.

2 | Fundamentação TeóricaNo contexto do desenvolvimento sustentá-

vel, especificamente no que se refere aos cuida-dos com o meio ambiente, a Constituição Federal de 1988, Cap. VI, Art. 225 estabelece os princípios fundantes da política ambiental brasileira. Ao lon-go desses últimos 25 anos, essa política vem pro-cedendo a mudanças nos instrumentos legais que regulam as intervenções antrópicas no meio am-biente, em todo o território nacional. Para efeito deste trabalho, no que tange à legislação brasilei-ra, é suficiente referir a Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resídu-os Sólidos – PNRS, merecendo leitura preliminar:

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, ob-jetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às respon-sabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

§ 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou pri-vado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela ge-ração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.

Ao explicitar a responsabilidade dos gera-dores e do poder público sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos e ainda assinalar a obser-vância da lei por pessoas, físicas ou jurídicas, que sejam responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos, a PNRS se ancora na ideia de responsabilidade compartilhada; co--responsabiliza, pois, todos os segmentos sociais – governos, indústrias, revendedores, consumi-dores, catadores e recicladores – na preservação do meio ambiente e na proteção às pessoas dos danos advindos do tratamento inadequado dos resíduos sólidos (TAVARES, 2010).

Nessa ordem, todos têm de fazer algo por

aqueles resíduos que produziram ou consumi-ram.

Em termos gerais, essa Lei determina que fabricantes e distribuidores de diversos produtos industrializados, como agrotóxicos, pilhas, bate-rias, óleos lubrificantes, equipamentos de tecno-logia, dentre outros, implementem ações de logís-tica reversa. Convém ressaltar que a mencionada Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu que o mês de agosto de 2014 seria o prazo limite para extinção dos lixões a céu aberto em todo o território brasileiro bem como aterros sanitários para despejo de qualquer tipo de resíduo que seja passível de reciclagem ou reutilização. Além dis-so, a PNRS também inspira uma mudança nos pa-drões de consumo, já que um dos pilares é a ideia de não produção de resíduos, sem se restringir, apenas, àquilo que já foi ou será descartado.

Miguez (2010), comentando o texto da PNRS, destaca que é de responsabilidade dos Mu-nicípios e do Distrito Federal a gestão dos resídu-os sólidos, gerados em seus territórios. Segundo o autor, as instâncias federativas devem ter acesso aos recursos da União para elaboração do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o qual deve mapear a situação dos resíduos sólidos em seu território, identificar locais para disposição final adequada, elaborar indicadores de avalia-ção do impacto social, econômico e ambiental e, ainda, exercitar uma política apropriada ao trata-mento desses resíduos.

Cabe assinalar, também, que a PNRS atri-bui ao gerador do resíduo sólido a responsabili-dade de acondicionar, disponibilizar para coleta ou coletar, dar tratamento e disposição final am-bientalmente adequada aos rejeitos por si produ-zidos, mesmo que a ação de tais procedimentos seja desenvolvida por empresa especialmente contratada para tal fim.

A PNRS dá destaque à logística reversa, afirmando que ela tem por objetivo promover ações para garantir que o fluxo de resíduos só-lidos seja direcionado para a sua própria cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas. Em complemento, a logística reversa deve reduzir a poluição e o desperdício de materiais, incentivar a utilização de insumos que não degradem o meio ambiente e desenvolver estratégias de sustenta-

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bilidade que unam os interesses econômicos, am-bientais, sociais, culturais e políticos. Nesse sen-tido, cabe destacar, dentre os princípios definidos pela PNRS:

1. O reconhecimento do resíduo sólido reu-tilizável e reciclável como um bem econô-mico e de valor social, gerador de traba-lho e renda e promotor de cidadania;

2. O desenvolvimento sustentável;

3. A visão sistêmica, na gestão dos resí-duos sólidos, que considere as variá-veis ambiental, social, cultural, econô-mica, tecnológica e de saúde pública. Na linha desses princípios, merece trans-crição o texto de Kahhat, Williams, 2009, citado por Santos et al., 2014.

“Em relação aos impactos sociais, Labuschag-ne, Brent e Claasen (2005) e Sarkis, Helms e Hervani (2010) mencionam a geração de emprego decorrente das atividades de coleta e reciclagem dos REEE. Para Tong e Wang (2004), a reutilização e a reciclagem de um computador representam uma fonte de emprego nos países em desenvolvimento, principalmente para aqueles trabalhadores que estão à margem do merca-do formal de trabalho. Ao reutilizar um computador, por exemplo, ocorre a geração de emprego na indús-tria de remanufatura, além de atenuar a exclusão di-gital em comunidades de baixa renda, por aumentar a acessibilidade a computadores com preços acessí-veis. Outro impacto mencionado na literatura é a do-ação de REEE para entidades sem fins lucrativos e or-ganizações de ensino.” (KAHHAT; WILLIAMS, 2009).

Considerando as afirmações dos pesquisa-dores acima nomeados, entende-se que os be-nefícios econômicos dos REEE, além de impul-

sionarem a criação de empresas de reciclagem, instalam, no mercado, a vertente de produtos de segunda mão a preço acessível, atendendo um nicho particular de consumidores de equipamen-tos eletrônicos que não têm poder de compra do equipamento novo.

Ademais, Natume et al. (2011), citando Ro-drigues (2003), ressaltam a quantidade de tele-visores, rádios, celulares, eletrodomésticos por-táteis, todos os aparelhos de microinformática, DVDs, luminárias fluorescentes, brinquedos ele-trônicos e milhares de outros produtos tecnolo-gicamente ultrapassados, com ciclo de vida cada vez mais curto, assinalando que isso acarreta crescimento no volume de lixo eletrônico.

No sentido do desenvolvimento sustentável, cabe considerar a visão de Motta (2010), segun-do o qual as empresas devem perceber a parceria entre a logística reversa e a sustentabilidade como estratégia para aumentar a lucratividade dos ne-gócios, bem como para se posicionar, estrategi-camente, numa realidade que vem impulsionan-do mudança de paradigma na concepção de vida. Pode-se dizer que o Brasil, ao propor o exercício de uma política nacional para os resíduos sólidos, traz à prática um recorte dos múltiplos discursos contemporâneos sobre sustentabilidade.

Importa considerar que está na ordem do dia a discussão de um novo padrão de desenvolvi-mento que vai além da lógica econômica do cresci-mento, em benefício da lógica da sustentabilidade;

Tabela 1.Gráfico 1: Volume de lixo eletrônico entre países emergen-tes.Fonte: http://www.estadao.com.br

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abandona-se, pois, o conceito ortodoxo de desen-volvimento econômico e passam-se a utilizar as expressões desenvolvimento humano e desenvol-vimento sustentável.

Assinala Bruseke (1998) que Maurice Strong, em 1973, cunhou a expressão ecodesenvolvimen-to, cujo conceito vem a ser tratado por Ignacy Sa-chs, em 1996, para caracterizar uma concepção de desenvolvimento que incorpora as dimensões sociais e ambientais, tecendo uma crítica à socie-dade industrial e, portanto, à lógica do desenvol-vimento econômico. Na perspectiva da teoria dos sistemas, Capra (1996) entende que o desenvolvi-mento sustentável funda-se numa concepção sis-têmica da vida. Segundo esse autor, o mundo deve ser compreendido pelas relações de integração e interdependência entre todos os fenômenos – eco-lógicos, sociais e econômicos – numa complexa vi-são de totalidade; portanto, qualquer intervenção em uma espécie de ser impacta, de algum modo e em algum momento, todos os demais.

Os princípios declarados na Lei 12.305, de agosto de 2010 que instituem a PNRS apresentam certa aderência ao pensamento dos pesquisado-res mencionados e de outros na mesma ordem de ideia, à medida que se propõe proteger a vida no e do ambiente natural.

3 | Materiais e Métodos3.1 | O desafio da reciclagem de lixo eletrônico de informática: estudo de caso

A pesquisa de campo foi realizada na Facul-dade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE, uma instituição de ensino superior no sertão pernambucano, que iniciou, em 2012, um projeto de extensão destinado ao estudo e des-carte apropriado de equipamentos eletrônicos de

informática. Assim sendo, esse espaço constituiu--se como o lócus da pesquisa empírica, segundo o paradigma do estudo de caso numa abordagem qualitativa. Segundo Macêdo (2000), a experiência direta é, sem dúvida, o melhor “teste de verifica-ção” da ocorrência de determinado fenômeno. Faz--se necessário frisar que o processo de observação num estudo de caso não se consubstancia em um ato mecânico de registro das ocorrências presen-tes ou anteriores ao estudo. Privilegia-se o olhar senso-analítico do pesquisador no processo de co-leta de informações e na ação investigativa sobre detalhes da prática cotidiana das pessoas no de-senvolvimento do projeto (MACÊDO, 2000).

Na escuta dos gestores da época, foi declara-do que o desenvolvimento do projeto de extensão em tela tornou-se necessário à medida que equi-pamentos dos laboratórios de informática, por obsolescência, foram substituídos por equipamen-tos novos com melhor qualificação tecnológica. A quantidade de equipamentos em desuso ocasio-nou o problema de um estoque inativo, elevan-do as discussões sobre diferentes aspectos legais para doação a instituições filantrópicas em face dos procedimentos administrativos aos quais os órgãos públicos estão submetidos. Esse foi nosso primeiro registro no caderno de campo.

A divergência de pensamento sobre as for-mas administrativas para liberação desses equipa-mentos instigou um grupo de servidores vincula-dos, direta ou indiretamente, à área de tecnologia, a iniciar discussões voltadas ao destino correto desses equipamentos. Dentre as considerações do grupo, foi vista a possibilidade de ampliar a quali-ficação profissional dos participantes do curso de inclusão digital, habilitando-os, também, à reali-zação de pequenos reparos nos equipamentos em desuso. Tal medida obrigou a instituição a instalar uma pequena oficina para reciclagem dos equipa-mentos – na expressão dos estudantes: “de dois

Figura 1. Doações recebidas pelo Projeto de Reciclagem de Lixo Eletrônico.

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equipamentos a gente faz um”.

Os gestores informaram, ainda, que o Projeto iniciou com 101 equipamentos em desuso, libera-dos pela própria Instituição, sendo 98 computado-res de mesa e três impressoras modelo HP.

Superados os entraves administrativos, os equipamentos reciclados foram doados às insti-tuições filantrópicas e associações de bairro, con-tribuindo para a realização de cursos de inclusão digital na base da comunidade, atendendo jovens, adolescentes, adultos e pessoas da terceira idade; estas, em sua maioria, participantes de projeto de extensão específico.

Contudo, esse sentimento de vitória gerou outro problema: o que fazer com os resíduos ina-proveitáveis nas condições de produção instaladas na Instituição.

Para destinar o descarte adequado desses resíduos, o grupo gestor do projeto articulou-se com empresas coletoras de lixo eletrônico existen-tes na cidade e que procedem à coleta sempre que solicitadas.

Os dados fornecidos pela Coordenação de Extensão assinalam que o projeto teve início em março de 2012, contando, à época, com a partici-pação voluntária de seis estudantes do curso de Ciências da Computação e oito jovens de bairros, residentes na periferia da cidade que haviam par-ticipado do projeto de extensão de inclusão digital, com duração de seis meses e carga horária sema-nal de 20 horas/aulas.

Os estudantes coletam o lixo eletrônico de in-formática junto com as empresas e a comunidade, registram o acervo de doações, fazem a triagem, procedem à recuperação dos componentes, mon-

tam os computadores reciclados, instalam softwa-res livres e promovem as doações.

4 | Análises e discussão dos resultados

Os resultados apresentados neste artigo apoiam-se na análise dos processos observados na implementação do projeto de extensão universitá-ria, que se propôs a reaproveitar o lixo eletrônico produzido na própria instituição, além daqueles doados pela sociedade local e das cidades circun-vizinhas.

O estudo bibliográfico alinhado à observação da experiência sobre a reciclagem de lixo eletrô-nico na FACAPE possibilitou aos pesquisadores, de um lado, aproximar-se da base teórica, que de-monstra os riscos ambientais causados pelo des-carte inapropriado dos resíduos eletroeletrônicos e, de outro, conhecer uma prática coletiva, orien-tada no sentido de imprimir uma dimensão social ao reaproveitamento de material eletrônico de in-formática.

Para Santos et al. (2014), os REEE também têm reflexos sob o ponto de vista social e econômi-co, pois, ao receberem um descarte correto, podem gerar elevado valor econômico por serem compos-tos de metais nobres como ouro, prata, bronze, co-bre e paládio.

Aspecto importante a ser considerado é que o Projeto de Reciclagem da FACAPE apenas rea-proveita os componentes que ainda têm vida útil; os componentes danificados, inaproveitáveis são enviados a uma empresa terceira, que remete o material para outras empresas do ramo, sedia-das na capital. Essa logística implica custo eleva-do, considerando-se o processo da coleta inicial, a

Figura 2.Figura 2: Alunos do Curso de Ciência da Computação participam do projeto de Reciclagem de Lixo Eletrônico, coletando, recupe-rando e promovendo doações de componentes de informática.

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recuperação e o reaproveitamento, até a remessa para empresas que processam os componentes inaproveitáveis. O custo relativo ao processamento do lixo eletrônico de informática é assumido pela Instituição; o referente a transporte e reprocessa-mento dos resíduos descartados é, obviamente, assumido pela empresa receptora. Considerando que os componentes eletrônicos recondicionados retornam ao mercado, tal procedimento se consti-tui nicho de negócios.

Após todos os processos de recuperação dos REEEs, os alunos, junto com os servidores da Ins-tituição envolvidos com o projeto, procedem ao cadastro de instituições requerentes e fazem a do-ação dos equipamentos. Ciente de que o simples ato de doar equipamentos recondicionados por si só não produziria o resultado proposto, o coorde-nador do projeto decidiu oferecer aos receptores dos equipamentos reaproveitados cursos de inclu-são digital ministrados pelos estudantes bolsitas do curso de Ciência da Computação, selecionados para atuação como monitores no projeto de inclu-são digital, destinados, prioritariamente, a estu-dantes de escolas públicas da periferia e a pesso-as da terceira idade. Os equipamentos doados às instituições comunitárias permitem que os cursos sejam realizados na própria comunidade.

De acordo com Santos et al. (apud ELKING-TON, 1998), o reaproveitamento dos REEE justifi-ca os conceitos do Triple Bottom Line (TBL) pro-postos por Elkington (1998), legitimando a análise dos impactos gerados pelas organizações nas di-mensões ambiental, social e econômica. Referido autor tem aderência aos conceitos do TBL, quando afirma:

“Os REEE também têm reflexos sob o ponto de vista social e econômico, pois, ao receberem um descarte correto, podem gerar elevado valor econô-mico, por serem compostos de metais nobres como ouro, prata, bronze, cobre e paládio. Com isso, ao estabelecer um adequado gerenciamento dos REEE, existe a possibilidade de geração de ganhos nas três dimensões do TBL, tendo em vista que, na dimensão ambiental, a natureza é resguardada da ação dos pro-dutos tóxicos e químicos.”

Contudo, o TBL, desenhado por Elkington (1998), não guarda expressiva aproximação com o pensamento de Ignacy Sachs (1996), à medida que o ecodesenvolvimento incorpora as dimensões so-ciais e ambientais, articulando crítica à sociedade industrial e, portanto, à lógica do desenvolvimento

econômico. Na mesma direção, Capra (1996) aju-da a compreender a condição de dilapidação de re-cursos naturais não renováveis, utilizados em larga escala na produção de equipamentos eletroeletrô-nicos, com destaque a fabricação de computado-res. Nessa linha de pensamento, o primeiro grande impacto dos eletroeletrônicos na natureza não é o seu descarte, mas sim, a extração da matéria prima não renovável, necessária à sua fabricação.

Entretanto, é possível observar que os princí-pios declarados na Lei 12.305, de agosto de 2010, que institui a PNRS, pode ser vista na perspectiva de Elkington (1998), na medida em que cuida do descarte adequado e produtivo dos resíduos dos eletroeletrônicos.

Nesse sentido, o projeto de Reciclagem do Lixo Eletro Eletrônico da FACAPE coaduna-se com os conceitos da TBL, quando atua na dimensão so-cial e ambiental, promovendo o reaproveitamen-to dos equipamentos que estão em condições de uso, fortalecido pelo projeto de inclusão digital e também quando atua na dimensão econômica, re-cuperando o valor monetário com o repasse dos equipamentos inutilizados para terceiros, especia-lizados em reciclagem de REEE, possibilitando a geração de emprego e renda.

Como resultado alcançado, no período 2012/13, o projeto recondicionou 498 computa-dores, 38 impressoras e qualificou, em inclusão digital e reciclagem de lixo eletrônico de informá-tica, 100 jovens de bairros da periferia, além de 13 adultos da terceira idade. Podemos considerar esses números inexpressivos diante do volume de lixo eletrônico gerado por ano na cidade, mas tor-na imperativa a continuidade do projeto e, acima de tudo, a participação dos cidadãos, das empre-sas e instituições governamentais no sentido de reduzir o consumo desenfreado de produtos de tecnologia, utilizar essa tecnologia durante o seu ciclo de vida e promover o seu descarte de forma correta.

Ações como essa são importantes sob todos os aspectos. Tendo como ponto de partida a aca-demia, é possível criar e disseminar a cultura da preservação ambiental, consciência ecológica e in-clusão a todos os envolvidos.

Cabe, portanto, às empresas do setor investi-

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rem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de pro-dutos inovadores e atrativos, derivados do proces-so de reciclagem, de modo a conquistar nova fatia de mercado. Não é demais registrar o movimento mundial sobre a preservação do meio ambiente e as questões relativas à saúde humana. Essa é a pe-dra de toque.

5 | Considerações FinaisNa expectativa de colaborar com a difusão

do conhecimento sobre o lixo eletrônico de infor-mática alinhado à possibilidade de gerenciamento sustentável e, portanto, com efeitos positivos do ponto de vista social e econômico, este artigo se propôs a analisar o projeto de extensão de recicla-gem de lixo eletrônico, desenvolvido no ambiente acadêmico da FACAPE.

O exemplo dessa Instituição, base empírica do estudo, contribui para instigar outras institui-ções de educação a, errando e acertando, persegui-rem o mesmo objetivo. Além disso, consigna-se o mérito da capilaridade do projeto, à medida que atravessa os limites do ambiente acadêmico e se estende à base comunitária em bairros da perife-ria; de um lado, gera profissionalização e de outro, contribui para a formação de uma consciência co-letiva sobre os riscos do descarte de resíduos ele-troeletrônicos.

À guisa de fechamento, fica a sugestão para que a qualificação em reciclagem de lixo eletrônico integre o currículo dos cursos de graduação em Ci-ências da Computação; quiçá, via ingerência junto com os Conselhos Estaduais de Educação.

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RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO

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Projeto para Implantação de um Centro de Reciclagem e Reuso de Equipamentos Eletroeletrônicos

Resumo

Palavras-chave: Lixo Eletrônico; Reuso; Reciclagem; Desenvolvimento Sustentável; REE; REEE.

Key - words: Electronic Waste; Reuse; Recycling; Sustainable Development; WEE; WEEE.

Abstract

A sociedade brasileira necessita voltar sua atenção para os problemas causados pelo lixo eletroeletrô-nico e os indesejáveis impactos causados pelo descarte indevido desse material nos aterros sanitários. Quando descartados de maneira inadequada, esses equipamentos, por possuírem metais pesados, po-dem poluir o meio ambiente e contaminar pessoas e animais. O principal objetivo deste estudo é des-crever um projeto conceitual para instalação de um centro de reuso e reciclagem de produtos eletroe-letrônicos, realizado na Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco. O centro servirá para reforçar o compromisso estratégico da universidade com o desenvolvimento sustentável por meio de uma ação concreta e de grande potencial de visibilidade por parte da sociedade. Além de diminuir os impactos ambientais, as atividades desse centro serão capazes de gerar melhorias sócio--econômicas mediante as parcerias que podem ser firmadas com instituições públicas ou privadas e com associações de catadores de lixo. Neste estudo, são analisadas sucintamente as tendências con-temporâneas em relação ao tratamento do lixo eletroeletrônico assim como o potencial de captação e tratamento desse material por meio da Escola Politécnica de Pernambuco.

The Brazilian society needs to turn its attention to the problems caused by the electronic waste and the undesirable environmental impacts caused by the improper disposal of this material in landfills. Once they have heavy metals, these equipments can pollute the environment contaminating people and animals when improperly disposed. The main objective of this study is to describe a conceptual design for the installation of a reuse and recycling center of electrical and electronic products made by the Polytechnic School of the University of Pernambuco. The center will serve to strengthen the strategic commitment of the university with the sustainable development through concrete actions and great visibility by the society. In addition, to reduce environmental impacts, the activities of this center will be able to generate socio-economic impro-vements through partnerships that can be established with public and private institutions and with asso-ciations of waste pickers as well. This study analyzes the contemporary tendencies related to waste disposal of electro-electronic materials as well as the potential for capture and treatment of this material by the Polytechnic School of Pernambuco.

[email protected] 2(UPE)

FERREIRA, Thiago1.CO-AUTOR: CAMPELLO, Sérgio2 .

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PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

1 | IntroduçãoO grande uso dos recursos naturais por par-

te da atividade industrial não está mais sendo compensado pelo crescimento natural desses re-cursos, o que levaria a uma situação insustentável. Visando proteger os recursos naturais e preservar o meio ambiente, atividades, como reciclagem, do-wncycling (recuperação de um material para reu-so em um produto com menor valor) e upcycling (forma de recuperação capaz de converter os resí-duos em novos materiais ou produtos com maior valor agregado, qualidade e valor ambiental), es-tão, cada vez mais, sendo utilizadas como um ver-dadeiro canal logístico reverso e de revalorização. Incluem-se, nesse rol, os materiais utilizados origi-nalmente na fabricação dos produtos eletroeletrô-nicos e que são comumente descartados sem ne-nhum tratamento nos aterros sanitários e lixões, formando o lixo eletrônico e poluindo o solo, o ar e o lençol freático (BRÜSEKE, 1994; FERREIRA E FERREIRA, 2008; GUARNIERI, 2011).

De acordo com relatório Recycling - From E--Waste to Resources, divulgado em 2009 pelo Pnu-ma (2009) (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), a estimativa é de que 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas por ano, em todo o mundo. O Brasil contribui com 96,8 mil toneladas de PCs, e cada brasileiro é responsá-vel por descartar o equivalente a meio quilo por ano. O volume é alto quando comparado a outros países emergentes como a China que, com uma po-pulação bem maior, possui uma taxa per capita de descarte de 0,23 quilos contra 0,1 quilos da Índia. Cada brasileiro também ésponsável por descartar 0,7 quilos de TVs por ano, ou seja, um volume total de 135,5 mil toneladas. Considerando o descarte anual de celulares, o Brasil gera 2,2 mil toneladas de lixo. O relatório ainda conclui que o Brasil é o mercado emergente, que gera o maior volume de lixo eletrônico per capita a cada ano.

Estudos, como os de Carvalho (2009); Fin-co e Brasil (2010); Ferreira e Ferreira (2008), de-monstram que o potencial de reaproveitamento do lixo eletrônico é alto. No entanto, o processo de reaproveitamento, que pode viabilizar a transfor-mação desse tipo de resíduo em matérias-primas secundárias ou recicladas a serem utilizadas na remanufatura, ou mesmo na fabricação de novos produtos, deve contemplar várias etapas – coleta,

seleção e preparação, reciclagem industrial e, por fim, reintegração ao ciclo produtivo. Essas etapas necessitam de planejamento minucioso, em que se atente para que o custo total de obtenção desses componentes não exceda o custo de aquisição de componentes novos.

Como ocorre em outros processos de manu-fatura, a formação de parcerias entre organizações públicas, privadas e do terceiro setor pode criar si-nergias para agregar valor nas diversas fases desse processo de logística reversa (GUARNIERI, 2011).

1.1 | O lixo eletrônico e os problemas ambientais

Hoje, é perceptível que há um consenso na sociedade acerca dos impactos negativos causa-dos pelo simples descarte do lixo eletroeletrônico nos aterros sanitários, em virtude, principalmen-te, da presença de metais pesados, utilizados em boa parte dos componentes dos aparelhos eletro-eletrônicos.

Na composição desses materiais, existem di-versas substâncias perigosas para a saúde dos seres humanos, bem como para outras espécies da flora e da fauna. Metais pesados, como chumbo, mercúrio, cádmio e muitos outros, podem causar vários tipos de patologias e levar os indivíduos até a morte por envenenamento, nos casos mais extremos. A Tabela 1 mostra a quantidade utilizada, o potencial de re-ciclagem e os danos que podem causar à saúde hu-mana nos casos de contaminação (ANDRADE, OLI-VEIRA E CAMPELLO, 2011; FINCO E BRASIL, 2010; SELIGER, KERNBAUM E ZETTL, 2006).

1.2 | O ciclo de vida dos produtos eletro-eletrônicos

A pujante indústria eletroeletrônica mun-dial não para de crescer, mesmo diante das crises internacionais. A cada dia, a melhoria dos proces-sos – projeto, logística, produção, distribuição - e o desenvolvimento de novas tecnologias tornam os aparelhos eletroeletrônicos mais baratos e, portan-to, acessíveis a praticamente todas as camadas so-ciais. Os novos equipamentos são mais eficientes e eficazes que os modelos antigos, o que torna esses últimos economicamente inviáveis de serem man-tidos. Isso causa uma série de outros problemas, como a diminuição do ciclo de vida dos produtos

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e, também, o aumento do descarte desses equipa-mentos (CARVALHO, 2009; FERREIRA E FERREIRA, 2008; FINCO E BRASIL, 2010).

Para Ost (2004), há uma tendência de redu-ção no ciclo de vida dos produtos eletroeletrônicos, provocada pela combinação de dois fenômenos – a diminuição do tempo de lançamento dos produtos no mercado (time-to-market) e a prática de combi-

nação de múltiplas tecnologias nos circuitos inte-grados (evolução tecnológica). R. A. Bergamaschi e J. Cohn (2002), citados por Ost (2004), afirmam que a relação entre o tempo decorrido, desde o lança-mento do produto no mercado, e a quantidade do produto que foi comercializada pode demonstrar o encurtamento do ciclo de vida dos produtos ele-troeletrônicos. A Figura 1 ilustra essa relação para alguns produtos.

Tabela 1. Principais Metais Presentes nos Computadores

1 A medida m/m significa massa de soluto por massa de solução. % (m/m) corresponde a uma unidade de concentração da solução, o “m/m” significa que esta concentração corresponde à MASSA de soluto por MASSA de solução. No caso do alumínio, por exemplo, significa que, a cada 100

gramas de solução, existem 14,17 gramas de alumínio.

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Vale considerar, no estudo realizado por R. A. Bergamaschi e J. Cohn (2002), que o fator tempo - decorrido até o alcance da marca de um milhão de unidades vendidas – também foi in-fluenciado por outros fatores, dentre eles o au-mento da produtividade, a redução dos preços provocada pela curva de experiência e pelos ga-nhos de escala, bem como da melhoria do nível de renda da população mundial.

1.3 | Reciclagem e reuso de produtos eletroeletrônicos

Atualmente, novas técnicas de projetos de produtos e serviços têm sido usadas para o prolongamento do ciclo de vida dos produtos, considerando-se, inclusive, a reciclagem e o reu-so desses produtos no futuro. Para amenizar os problemas causados pelo encurtamento do ciclo de vida dos produtos eletroeletrônicos, segundo Stevenson (2001), é possível utilizar métodos de desenvolvimento de projetos voltados para a reciclagem (PVR) e de projetos voltados para a desmontagem (PVD). A cada dia, aumenta o nú-mero de fabricantes que estão adotando o con-ceito de remanufatura em suas áreas de produ-ção.

A remanufatura é simplesmente a retirada de componentes, em bom estado, dos produ-tos usados para uma posterior reutilização em produtos novos. Essa é uma atividade que tanto pode ser realizada pelo próprio fabricante como por empresas contratadas. Muitos produtos que

são consumidos atualmente são remanufatura-dos; dentre eles, podem-se destacar os automó-veis, computadores, aparelhos telefônicos, má-quinas copiadoras, etc.

Essas duas técnicas, PVR e PVD, possibili-tam a recolocação de produtos no mercado de remanufaturados, cujo preço médio chega a ser metade do preço de um produto novo como tam-bém utilizam mão de obra não especializada ou semiespecializada em seus processos, o que fa-vorece a melhoria da distribuição de renda entre a população.

Stevenson (2001) lembra, ainda, que o sé-culo XX foi marcado pelo desenvolvimento da li-nha de montagem e que, muito provavelmente, o século XXI será lembrado como o século da linha de desmontagem. Isso ocorre porque várias em-presas de classe mundial, como a Xerox® (2014) e a Kodak® (2014), passaram a projetar seus produtos para que fossem mais fáceis as fases de montagem e desmontagem. Essas empresas per-ceberam que era possível reaproveitar boa par-te dos componentes dos produtos usados para montar novos produtos, e isso faz a remanufa-tura se transformar numa poderosa ferramenta administrativa para a redução de custos. Muitos tipos de produtos remanufaturados podem al-cançar um custo total de produção em torno de 45% a 60% mais barato que o de um produto novo, sendo essa estratégia cada vez mais copia-da pelos concorrentes de todos os portes.

Figura 1.Tempo de Lançamento x Volume de Vendas de Produtos Eletroeletrônicos.

Fonte: BERGAMASCHI E COHN (2002) apud OST (2004).

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1.4 | Situação atual do lixo eletrônico na Escola Politécnica de Pernambuco

Atualmente, a Escola Politécnica de Per-nambuco possui uma iniciativa para o trata-mento do lixo eletrônico, gerado dentro do seu próprio ambiente organizacional. Após os levan-tamentos iniciais deste estudo, foram realizadas entrevistas com os gestores de dois setores da instituição, diretamente responsáveis pelo pro-cessamento do lixo eletroeletrônico gerado, a saber: o DTI (Divisão de Tecnologia da Informa-ção), o DOA (Divisão de Operação e Administra-ção).

De acordo com as informações coletadas, o tratamento do lixo eletrônico é feito internamen-te, apenas em equipamentos provenientes de fun-

cionários e dos laboratórios. Os equipamentos obsoletos e com defeitos são encaminhados para o DTI, onde passam por uma triagem. Algumas pe-ças ou componentes são separados e guardados em estoque para serem reutilizados em manu-tenções futuras, conforme mostrado na Figura 2. Os equipamentos recuperados ficam disponíveis para o reuso dentro da própria Universidade. Os equipamentos que não podem ser mais utilizados, cujo desmonte não demonstre ser proveitoso, são doados para empresas envolvidas em iniciativas de reciclagem, como: Hospital do Câncer (2014), CRC Marista (2014) e Trapeiros de Emaús (2014). Vale lembrar que essas entidades também pos-suem seus próprios meios de triagem e avaliam as possibilidades de reuso, remanufatura, ou mesmo, descarte responsável dos equipamentos.

Figura 2. Triagem de equipamentos realizada pelo DTI

Figura 3.Estoque de equipamentos para doação

Fonte: Elaborada pelo autor.

Fonte: Elaborada pelo autor

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Antes de serem doados para as instituições, esses resíduos eletrônicos ficam armazenados em uma área já definida dentro da Universidade, con-forme mostrado na Figura 3.

1.5 | Definição dos macroprocessos a serem desenvolvidos na Escola Politéc-nica de Pernambuco

Após entender como funciona o atual pro-cesso de descarte/reutilização dos equipamentos eletroeletrônicos na Escola Politécnica de Pernam-buco, foram definidos três principais macropro-cessos (coleta e triagem, reuso, reciclagem) para melhoria da captação e tratamento desse material.

O primeiro macroprocesso – coleta e tria-gem - é a etapa relacionada com a entrada do lixo eletrônico no centro. Os equipamentos obsoletos e defeituosos serão recebidos e organizados para a próxima atividade. A entrada desses equipamen-tos deverá ser acompanhada por um inventário para controle e identificação do lixo eletrônico. Na triagem, será avaliado o funcionamento dos equipamentos recebidos. O objetivo do teste é re-alizar uma checagem rápida, apenas para saber se eles podem ser reutilizados, sem a necessidade de grandes modificações.

Se o teste for satisfatório, os equipamentos ou componentes serão reutilizados no macropro-cesso de reuso para a confecção de PCs remanufa-turados, que serão encaminhados a ONGs e a pro-jetos sociais. Deverão ser definidas configurações mínimas para esses computadores montados, para permitir que eles ainda desempenhem suas fun-ções com qualidade. De acordo com a Microsoft® (2014), se for escolhido como sistema operacional o Windows 7, a configuração mínima seria a se-guinte: processador de 1 gigahertz (GHz) ou supe-rior de 32 bits (x86) ou 64 bits (x64); 1 gigabyte (GB) de RAM (32 bits) ou 2 GB de RAM (64 bits); 16 GB de espaço em disco disponível (32 bits) ou 20 GB (64 bits); dispositivo gráfico DirectX 9 com driver WDDM 1.0 ou superior.

Caso os equipamentos não funcionem duran-te os testes, será necessário iniciar a desmontagem e a separação dos componentes. Essas ativida-des resultarão em diversos elementos separados, como: plástico, vidro, placas de circuito impresso, metais, componentes eletrônicos, elétricos e me-

cânicos. Esses componentes serão testados e, se aprovados, serão utilizados nos macroprocessos de reuso para a confecção de Kits didáticos para treinamento. Os diversos componentes eletrôni-cos, elétricos ou mecânicos, removidos das suca-tas, serão usados para confecção de artefatos para serem utilizados, como ferramenta de treinamen-to, por estudantes de engenharia e técnicos, per-mitindo que se realizem experimentos práticos de acordo com os conceitos teóricos abordados em sala de aula, conforme proposto na pesquisa de Andrade, Oliveira e Campello (2011).

Por outro lado, o macroprocesso de reci-clagem considera que as eventuais sobras da desmontagem e separação (plásticos, vidros, placa de circuitos defeituosa, metais) deverão ser vendidas para empresas de reciclagem que serão levantadas após os contatos da primeira fase desse projeto. Na maioria dos casos, as em-presas de reciclagem trabalham com um único tipo de material, e, por isso, elas serão contata-das de acordo com o tipo de lixo coletado. A re-ciclagem desses materiais possibilita a geração de matéria-prima, que pode ser novamente utili-zada pelas indústrias para a produção de outros equipamentos eletrônicos.

O macroprocesso de reciclagem possibilita também parcerias com associações e cooperati-vas de catadores de lixo, trazendo para os envol-vidos oportunidades de emprego e geração de renda. Essa atividade demonstra, mais uma vez, a importância do centro como um elemento de transformação social. É importante que os cata-dores sejam treinados para realizar a separação dos componentes com segurança, sabendo dos riscos associados aos materiais manuseados.

Vale lembrar que, no Brasil, há alguns anos, não existia possibilidade de reciclar pla-cas de circuito impresso. A maioria das placas eram simplesmente incineradas ou jogadas em aterros sanitários. A solução mais viável era o acúmulo desse tipo de material para posterior envio a empresas de outros países, especializa-das nesse tratamento, como a Umicore® (2014). Hoje, com filial no Brasil, a multinacional possui tecnologia metalúrgica inovadora para realizar a correta destinação de placas de circuito im-presso por meio da unidade de refino de metais preciosos. Lotes, contendo exclusivamente pla-

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cas de circuito impresso ou telefones celulares sem bateria, são recebidos para processamento na sua planta matriz em Hoboken, Bélgica.

1.6 | Projeto conceitualPara elaborar o projeto conceitual do cen-

tro de reciclagem, faz-se necessário considerar e descrever três fases principais. A primeira delas é identificar e contatar organizações públicas, privadas e do terceiro setor que sejam capazes de agir como parceiros para as fases de recolhi-mento, avaliação, encaminhamento para reuso, desmonte para reaproveitamento das peças e

ou descarte do lixo eletrônico. A segunda é re-ferente à coleta e classificação do lixo eletroe-letrônico em si, a mensuração do tempo gasto nos diversos processos de desmonte, separação e armazenamento de componentes que podem ser reutilizados. A terceira e última fase é a de avaliação e elaboração da proposta de criação de um centro de recolhimento permanente.

Como parte inicial do primeiro processo – identificar e contatar organizações públicas, pri-vadas e do terceiro setor – foi elaborada a Tabela

2 cujas informações foram obtidas por meio de fontes on-line.

Essas organizações serão contactadas para verificar o grau de interesse em firmar um acor-do com a universidade para criação e participa-ção efetiva nos diversos processos do centro de recolhimento, devendo agir como verdadeiros parceiros e desenvolvendo uma relação de longo prazo que tenha como principal objetivo a efeti-va realização de ações e práticas alinhadas com o desenvolvimento sustentável.

Após a efetivação dos primeiros contatos

com as organizações citadas, será necessário esta-belecer um cronograma de visitas para negociar as diversas formas de atuação dos futuros parceiros. Para organizar esses processos e as tarefas do pro-jeto conceitual, foi escolhida a metodologia PERT--CPM. PERT é a sigla derivada do idioma inglês (program evaluation and review technique), da mesma maneira, CPM é a sigla para (critical path method), também conhecido como método do ca-minho crítico. Ambas são amplamente utilizadas no planejamento e na coordenação de projetos (DAVIS, 2001; STEVENSON, 2001).

Tabela 2. - Organizações que recolhem Lixo Eletrônico em Recife

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Tabela 3.Atividades para Determinação do Caminho Crítico/Designação e Estimativas de tempo

Ao utilizar o PERT ou o CPM, um gerente pode obter: (1) Um gráfico das atividades do projeto; (2) Uma estimativa do tempo de duração do projeto; (3) Uma indicação de quais atividades são as mais críti-cas para o término do projeto dentro do prazo e (4) Uma indicação de quanto tempo se pode atrasar uma atividade qualquer sem estender a duração do proje-to (STEVENSON, 2001, p.592).

Para o primeiro dos processos, naquele refe-rente à pesquisa para identificar e contatar organi-zações potencialmente parceiras, foram identifica-das as atividades (A até C descritas logo adiante). Utilizando-se as prescrições da metodologia PERT--CPM, chegou-se à proposta de sequência de ativi-dades, conforme Tabela 3.

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De acordo com Stevenson (2001), o cami-nho crítico é a sequência mais longa de atividades conectadas. Para determinar o caminho crítico, faz-se necessário identificar todos os caminhos através da rede e, logo em seguida, calcular seus respectivos tempos de conclusão. O caminho que possuir o maior tempo de conclusão será então o caminho crítico. A Tabela 4 ilustra a determinação do caminho crítico de acordo com a sequência das atividades.

O caminho A até O, com 29 dias leva mais tempo para conclusão. Consequentemente esse processo, como foi inicialmente previsto, não pode ser concluído em menos de 29 dias. Caso fosse de-sejada a conclusão do processo em menos de 29 dias, uma ou mais atividades do caminho crítico deveriam ser “colididas”, ou mesmo, até acelera-das para atender à data almejada para a conclusão de todo o processo.

1.7 | Resultados esperados e conclusõesAs expectativas em relação aos resultados

da implantação do centro de reciclagem, idealiza-do pela Escola Politécnica de Pernambuco, variam desde o ganho de imagem institucional diante da sociedade pernambucana, passando pelo ali-nhamento com as diretrizes de desenvolvimento sustentável preconizadas pela universidade, até a sensibilização e a melhoria da consciência da po-pulação, no tocante aos problemas relacionados com o lixo eletroeletrônico.

Até o presente momento, as ações governa-mentais e do terceiro setor no tocante à recicla-gem e ao reuso de equipamentos eletroeletrônicos têm sido esparsas. Isso pode ser aproveitado como

uma excelente oportunidade para ocupar espaços na mídia e, consequentemente, vincular a imagem da universidade e da escola às boas práticas de de-senvolvimento sustentável e defesa do meio am-biente.

É preciso ter em mente que esse projeto é um projeto social e que, diferentemente de projetos de ciências exatas e da natureza, o fator humano cer-tamente é um dos mais críticos. Portanto, as lide-ranças da Escola Politécnica e da UPE precisam se engajar nesse projeto para que tanto a comunida-de interna como as diversas parcelas da sociedade, mais diretamente ligadas à universidade, possam contribuir, de forma efetiva, para a criação e manu-tenção desse centro e para a causa ambiental que é o foco desse projeto.

Por fim, caso implantado, o projeto signifi-cará a inclusão de um novo conjunto de possibili-dades para a escola, universidade e comunidade. A possibilidade de alunos, professores e funcio-nários aprenderem novas formas de lidar com o aumento do lixo eletroeletrônico; a possibilidade de atrair empresas recicladoras de placas de cir-cuito impresso para instalar suas fábricas no país, tornando o processo de tratamento desse tipo de lixo mais viável; a possibilidade de minorar a de-sigualdade social por meio de doações de equipa-mentos remanufaturados para organizações de apoio e caridade, a possibilidade de sensibilização de políticos e de agentes econômicos para a ado-ção de políticas públicas e de práticas alinhadas com o desenvolvimento sustentável; e, por fim, a possibilidade de mudar os hábitos de consumo da sociedade local, conscientizando as pessoas a pra-ticarem formas de consumo responsável que pre-servem o meio ambiente para as gerações futuras.

Tabela 4.Determinação do Caminho Crítico

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Estimativa do Desperdício de Metais Pesados Advindos do Descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Países do G7 e do BRICS

Resumo

Palavras-chave: REEE; Ouro; Prata; Paládio; Cobre.

Key - words: WEEE; Gold; Silver; Palladium; Copper.

Abstract

Os metais pesados se configuram como um grave risco à saúde humana e ao equilíbrio ambiental, tendo em vista o seu potencial impactante e a característica de bioacumular na teia trófica, gerando danos aos organismos vivos de topo de cadeia. Os eletroeletrônicos possuem esses elementos na sua composição, porém o mercado não repassa essa informação aos consumidores. Por outro lado, o estí-mulo excessivo para o consumo faz com que haja uma velocidade de compra e troca de equipamentos eletroeletrônicos por causa de novos modelos ou sistemas operacionais. Realizou-se um estudo esti-mativo e comparativo do potencial produtivo de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos entre os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) e do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em uma década, sob a ótica do consumo, consumo sustentável e consumerismo. Dados secundários foram analisados, percebendo-se que a quantidade desses resíduos produzida não se relaciona diretamente com o tamanho da população de um país, mas com o modelo de consumo estimulado pela economia de cada país.

Heavy metals are configured as a serious risk to human health and the environmental balance due to its impactful potential and feature bioaccumulate in the food web, causing damage to living organisms from the top of the chain. The electronics have these elements in its composition, but the market does not pass this information to consumers. On the other hand, excessive stimulation to the consumer means that there is a speed purchase and exchange of electronic equipment because of new models or operating systems. A comparative and estimate study of the productive potential of electronic waste among G7 countries (United States, Japan, Germany, UK, France, Italy and Canada) and the Brics (Brazil, Russia, India, China and Sou-th Africa) was conducted, in a decade, from the perspective of consumption, sustainable consumption and consumerism. Secondary data were analyzed, sensing that the amount of this waste produced is not directly related to the size of a country population, but to the model of consumption stimulated by the economy of each country.

SANTOS, Jenyffer da Silva Gomes1. GUIMARãES, Elisângela da Silva2. VIEIRAEL-DEIR, Soraya Giovanetti3.

1Graduada em Engenharia Agrícola e Ambiental pela UFRPE . e-mail: ( [email protected])2UFRPE - [email protected] [email protected]

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ESTIMATIVA DO DESPERDÍCIO DE METAIS PESADOS ADVINDOS DO DESCARTE DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS PAÍSES DO G7 E DO BRICS

1 | IntroduçãoO modelo de consumo e a crescente demanda

por modernização e informatização dos processos produtivos vêm gerando um aumento na busca por equipamentos eletroeletrônicos (EEE). Esse fato tem relação direta não só o modelo produti-vo como também a evolução tecnológica, além da pressão consumista difusa da população, advinda dos processos midiáticos, da evolução tecnológica e das novas formas de produção. Entretanto, não há o estabelecimento de preceitos de responsabi-lidade socioambiental referente ao uso e descarte desses aparelhos eletroeletrônicos, o que conse-quentemente gera resíduos, rejeitos e, por vezes, a contaminação ambiental com metais pesados. Uma parte desses metais representa um elevado desperdício quanto a recursos naturais finitos, como é o caso do ouro, prata, cobre e paládio, que apresentam valor de mercado significativo. O pre-sente artigo visa realizar uma estimativa do des-perdício potencial em relação aos países formado-res do Brics e G7, se comparados os três modelos de consumo em uma década.

2 | Fundamentação teóricaO processo da industrialização agregou às

civilizações humanas um perfil profundamente tecnológico. As pessoas procuram estar sempre portando aparelho de celular moderno, o qual possua todos os aplicativos dos quais necessita. Porém, esses aparelhos geralmente não duram muito tempo. Segundo Silva (2012), a obsolescên-cia programada é uma estratégia utilizada pela in-dústria, para que haja uma diminuição no ciclo de vida dos produtos, com a intenção de que sejam substituídos por produtos novos. O que geralmen-te acontece é que o preço para se consertar e o tempo que a pessoa fica sem usar o aparelho nem sempre compensam e logo se avalia que será mais “útil” comprar outro. Não é só esse o fator prin-cipal para o descarte de aparelhos eletrônicos, já que, na maioria das vezes, o aparelho ainda está em bom estado de funcionamento, porém é con-siderado ultrapassado, visto como algo que já não serve mais.

2.1 | Brics e G7O G7 e o Brics são dois grupos de países di-

vididos em desenvolvidos e em desenvolvimen-

to, respectivamente. O G7 é o conjunto de países formados por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, considerados os mais desenvolvidos, e o Brics é o conjunto de países, formado Brasil, Rússia, Índia, China e Áfri-ca do Sul. De acordo com Baumann (2010), o Brics possui um peso diferenciado e crescente no que diz respeito ao cenário internacional, decorrência de as economias destes possuírem certas peculia-ridades, devendo-se isso ao seu tamanho (espaço territorial) ou ao seu dinamismo. Segundo Lastres (2007), o Brics tem possibilidade de crescimento na economia mundial, nas décadas que estão por vir devido às oportunidades que esse grupo de pa-íses representa tanto econômica, social e politica-mente.

2.2 | Metais pesados Nos equipamentos eletroeletrônicos, exis-

tem vários componentes como metais, vidros e plásticos. Nesses equipamentos se encontram diversos tipos de metais, em sua maioria, alguns considerados metais pesados como a prata, o ouro, o cobre e o paládio, que, muitas vezes, des-cartados de forma errônea, podem trazer grandes prejuízos tanto para o meio ambiente como para os seres humanos.

O ouro é o elemento químico de número atô-mico 79; constitui-se em um dos metais mais no-bres empregados em equipamentos eletrônicos. Trata-se de um metal do Grupo 1B. Na tabela pe-riódica, é geralmente encontrado na natureza, no estado nativo. O ouro é o mais maleável e o mais estável dos metais, usado, principalmente, em mo-edas, joias e decoração.

A prata tem símbolo químico Ag e possui nú-mero atômico 47 na tabela periódica. De acordo com Pascalicchio (2002 apud LEITE et al., 2013), a prata possui ação orgânica relacionada aos me-tabolismos do cobre e do selênio, reagindo com substâncias orgânicas derivadas do grupo Thiol. Segundo Liporini (2012), a prata é bastante utili-zada em indústrias de fotografia e imagem e ele-troeletrônicos em geral.

Se esses metais pesados forem descartados erroneamente e em grande quantidade, podem gerar diversos malefícios não só para as plantas, os animais e os seres humanos mas também para

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o meio ambiente como um todo.

2.3 | Modelos de consumoPartindo do modelo de consumo adotado,

observa-se uma velocidade distinta na aquisição e descarte, gerando diferentes potenciais impactantes. Segundo Campbell (1995), “consumo” é qualquer ati-vidade, que envolva selecionar, comprar, usar, fazer manutenção, reparar e destruir qualquer produto ou serviço. Para o Ministério do Meio Ambiente, “consu-mo sustentável” significa comprar o necessário, esten-dendo a vida útil dos produtos tanto quanto possível. O termo “consumerismo” se relaciona com o consu-mo responsável, solidário e ético, segundo critérios apropriados e racionais, observando-se a origem dos produtos e os impactos socioambientais. Partindo-se dessas tipologias de consumir, a geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) deve ter perfil diferente, especialmente a quantidade de me-tais, os quais são potencialmente impactantes (SAN-CHES, 2008).

3 | Material e métodosCom base nos dados secundários, resultantes

de levantamento bibliográfico, foram realizados cál-culos para a determinação da população do Brics e do G7. Considerando invariável a população desses paí-

ses, foi analisado o potencial de WEEE e a quantida-de de metais relativos com base nos três modelos de consumo. Para o modelo “consumo”, foi usada como padrão a aquisição de 1 personal computer a cada ano; para “consumo sustentável”, 1 a cada 2 anos, e para “consumerismo”, 1 a cada 3 anos. Em seguida, foram comparadas as quantidades de WEEE produ-zidas pelos dois grupos, assim como a quantidade de metais pesados produzidos por ambos no decorrer de uma década. Para fins de cálculo, apenas a popu-lação que tem renda acima da linha de pobreza (U$ 3.00 por dia) foi considerada para tal consumo, visto que a faixa abaixo dificilmente teria condições finan-ceiras para isso. Como corte etário, foram considera-dos fora desse tipo de consumo idosos (acima de 65 anos) e crianças (abaixo de 6 anos), totalizando cerca de 50% da população, dos que estão acima da linha de pobreza. O valor dos metais (ouro, prata, cobre e paládio) foi mensurado com base na cotação interna-cional em Euro e transpostos para o presente artigo, por serem commodities internacionais.

4 | Análise e discussão dos resultados

Os países do Brics apresentaram, em 2010, po-pulação total de 3.038.269.869 habitantes, sendo que destes 6,64% no Brasil, 4,67% na Rússia, 42,15% na

Tabela 1.População abaixo e acima da linha da pobreza dos países do G7 e Brics em números e em porcentagens.

Fonte: diversos dados de censo dos países.

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Índia, 44,87% na China e 1,64% na África do Sul. Nos países do G7, a população totalizou 752.854.871 habi-tantes, sendo destes 10,85% na Alemanha, 4,66% no Canadá, 42,73% nos Estados Unidos, 8,5% na França, 8,17% na Itália, 16,67% no Japão e 8,41% no Reino Unido. A população consumidora do Brics representa pouco mais de 2 bilhões de habitantes, e a do G7, qua-se 700 milhões de habitantes (Tabela 1). Em geral, vemos que o Brics possui uma maior quantidade de consumidores que o G7, porém, observando-se casos isolados como o da África do Sul e o da Itália e de po-pulações próximas, se vê que a Itália possui mais que o dobro de consumidores em potencial que a África do Sul, cuja diferença populacional entre elas é de 10 mil habitantes.

Observando os três modelos de consumo (consumo – aquisição de 1personalcomputer a cada 1 ano, consumo sustentável – 1 a cada 2 anos, consumerismo – 1 a cada 3 anos), haverá uma dife-rença na aquisição de computadores pela amostra da população em potencial, num final de 10 anos. No modelo consumo, 11,9 bilhões de unidades serão adquiridas pelo Brics, sendo a China consu-midora de quase metade desses produtos (Tabela 2). Por outro lado, no G7, 3 bilhões de unidades

serão adquiridas, responsabilizando-se os Estados Unidos por 46% dos produtos consumidos (Tabela 2). No modelo consumo sustentável, serão consu-midas mais de cinco bilhões de unidades no Brics, e quase 2 bilhões de unidades no G7. Por fim, no consumerismo, nos países do Brics, observa-se um consumo de três bilhões e seiscentos milhões de unidades, e no G7, 980 milhões de unidades, mos-trando, em ambos os casos, uma diminuição entre o consumo e o consumerismo de 60 % de produtos consumidos.

Os equipamentos eletroeletrônicos pos-suem, na sua composição, diversos tipos de metais pesados, como o cobre, a prata, o ouro e o paládio, que, descartados de forma errônea, podem trazer riscos para o ser humano e o meio ambiente. Por apresentarem efeito acumulativo, os metais pesa-dos chegam a provocar várias doenças (FERREIRA, ANJOS, 2001). Segundo a Chile Resíduos, a quanti-dade desses metais pesados em um computador pode ser de 1g, a exemplo da prata (Tabela 3).

Analisando-se os dados das quantidades de computadores pessoais produzidos nos três mo-delos de consumo, durante 10 anos, tanto no Brics como no G7, obtiveram-se valores significativos da

Tabela 2.Quantidade de computadores adquiridos em 10 anos, de acordo com os três tipos de consumo: consumo (C), consumo sustentável (CS) e consumerismo (CM), nos países do G7 e Brics.

Fonte: pesquisa dos autores.

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quantidade de metais pesados que são descarta-dos com esses equipamentos. Com relação à Prata, aplicado o modelo consumo, o Brics usaria quase 6 mil toneladas, sendo 87,13% pela China e Índia (Tabela 4). Por outro lado, no G7, no mesmo perí-odo de tempo, seriam usadas 3,2 toneladas, sen-do destas 41,8% pelos Estados Unidos. Observa--se que China e Índia juntas usariam 59% a mais de prata que todos os demais países do Brics. Se ambos os grupos diminuíssem seu consumo e adotassem o consumerismo, os dois grupos juntos utilizariam quase o mesmo que o G7 sozinho. Essa discussão, refletida em Euros, representa um total geral de mais de 1 bilhão para os países do G7 e 2 bilhões para os do Brics, sendo que esse valor seria

reduzido em mais da metade, se alterado o modelo de consumo para consumerismo. No caso do palá-dio, sendo adquirido o modelo consumo, a quanti-dade consumida em 10 anos para a fabricação de computadores pessoais nos países do Brics será de 4,8 mil toneladas, chegando a diminuir em 40%, se o modelo utilizado for o consumerismo (Tabela 6). Por outro lado, no G7, sendo utilizado o modelo de consumo, serão usadas 2,6 mil toneladas de palá-dio, que seriam diminuídas em 30%, se o modelo consumerismo fosse utilizado. Esses dados vistos em valores monetários, em Euros, apresentam um montante superior a 58 bilhões para os países do G7 e 100 bilhões para os do Brics. Se utilizado o modelo de consumo sustentável, os dois blocos es-

Tabela 3.Quantidade de metais na constituição de um computador pessoal (PC)

Fonte: Chile Resíduos (s/a)

Tabela 4.Quantidade de prata em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics.

Fonte: pesquisa dos autores.

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Tabela 5. Quantidade de ouro em toneladas e valor total do metal em Euros, encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics.

Tabela 6.Quantidade de paládio em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics.

Fonte: pesquisa dos autores.

Fonte: pesquisa dos autores.

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tariam economizando mais de 30 e 60 bilhões de Euros no modelo consumerismo, respectivamente. Por outro lado, para o cobre no modelo de consu-mo no Brics, a quantidade usada no consumo de computadores pessoais em 10 anos seria de quase 1,5 mil toneladas, que cairia para 800 toneladas, se fosse adotado o modelo consumerismo, sendo a China e a Índia responsáveis por praticamennte 90% desse material utilizado (Tabela 7), no G7 se-riam utilizados aproximadamente 700 toneladas de cobre no modelo consumo, que diminuiria se o modelo consumerismo fosse utilizado para 215 toneladas que é 80% menor que a China produzi-ria nesse mesmo modelo. Esses dados, expressos em valores monetários, em Euros, apresentam um valor superior a 15 bilhões para os países do G7 e 29 bilhões para os do Brics. Se utilizado o modelo consumerismo, os dois blocos gastariam menos da metade desse valor.

Os dados consolidados de volume dos me-tais (ouro, prata, paládio e cobre), em uma dé-cada, no modelo consumo, refletem o total de 4.632.945,74ton. para o total dos países do G7 e Brics. Em valores monetários, em Euros, esse vo-lume significa 236.527.980.439. Esses valores re-duziriam em mais da metade, se esses dois grupos de países utilizassem o modelo consumerismo. Observa-se que existe um desperdício de metais pesados, advindo do descarte de EEE nos países do G7 e do Brics e que esse volume poderia ser redu-zido em mais de 50%, caso houvesse uma política de alteração do modelo de consumo. Tal iniciativa teria um reflexo significativo na apropriação an-trópica de recursos naturais, derivados da extra-ção desses metais, atividade que apresenta signifi-cativo impacto ambiental.

Tabela 7.Quantidade de cobre em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics.

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5 | ConclusõesOs EEE possuem grande quantidade de me-

tais pesados, que, muitas vezes, parecem ser míni-mos, quando observados em uma unidade, porém, quando analisados em grande escala, consegue-se perceber o nível de desperdício desses metais. O modelo de consumo adotado pelo país é definidor da quantidade de produtos eletroeletrônicos que este consumirá. Comparando consumerismo ao modelo consumista atual, observou-se que há um decréscimo de mais de 50% do EEE consumidos e, por consequência, dos metais pesados utilizados.

Dados consolidados de volume dos metais ouro, prata, paládio e cobre, se analisados em uma década, a depender do modelo de consumo nos pa-íses do G7 e Brics, poderá refletir numa economia significativa de recursos naturais derivados da ex-tração desses metais. Visto que a atividade extra-tivista apresenta significativo impacto ambiental, recomenda-se que seja estabelecida política públi-ca nas esferas internacional e nacional, visando ao incentivo da migração referente à visão consumis-ta atual para um consumo consciente e, por fim, o consumerismo.

É importante que se dê continuidade à pes-quisa, utilizando-se de ferramentas estatísticas, com vistas ao estudo da econometria.

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Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos no Centro de Tecnologia da UFRJ

Resumo

Palavras-chave: Gestão ambiental; Resíduos eletroeletrônicos; Universidade; Educação ambiental

Key - words: Environmental management; Waste of electrical and electronic equipment; University, Environmental education.

Abstract

O artigo apresenta o processo de gestão de resíduos no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com foco particular nos resíduos eletroeletrônicos – REEE. São apresentados os programas e as ações realizadas desde 1994, com o objetivo de aproveitar e recuperar os resíduos. Fi-nalmente, discorre-se sobre o projeto do Centro de Tecnologia em Reciclagem, que tem como objetivo criar um ambiente de desenvolvimento de tecnologia para a recuperação de materiais dos resíduos eletroeletrônicos.

This article presents the process of the management of waste generated at the Technology Center of the Federal University of Rio de Janeiro – CT/UFRJ, with focus on waste of electrical and electronic equipment – WEEE. The programs and actions developed since 1994 at CT/UFRJ are presented to recover the waste. Finally, the project of the Technology Center of Recycling is introduced. It aims to create a structure for the development of innovative technology for the recovery of materials from WEEE.

1Doutorado em Engenharia Elétrica pela École National Supérieur D’ingénieurs Électriciens de Grenoble. Professor Associado da Escola Politécnica e da COPPE, UFRJ. ([email protected]). 2Doutorado em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Colaborador da UFRJ.

SUEMITSU, Walter Issamu 1. ARAúJO, Marcelos Guimarães2.

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GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ

1 | IntroduçãoO tratamento adequado de resíduos ele-

troeletrônicos tem sido alvo de preocupação dos órgãos ambientais e outros atores da socieda-de diante do crescente aumento dos volumes de REEE devido, principalmente, à presença de subs-tâncias perigosas contidas nesses resíduos, como mercúrio, cádmio e aditivos, como retardadores de chama e outras (SteP/UNEP, 2009), e à comple-xidade dos materiais presentes nesse produto.

O setor de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil representava no ano de 2008 4,5% do PIB nacional ou 15% da produção industrial do país. A geração desses resíduos eletroeletrônicos no Brasil é estimada em mais de 760 mil toneladas por ano, para os equipamentos com maior pene-tração no país: televisores, geladeiras e freezers, computadores, máquinas de lavar roupa e celula-res. Dessa quantidade, 105 mil toneladas por ano são referentes a computadores, incluindo monito-res (ARAÚJO et al., 2012).

A gestão de REEE no Brasil é incipiente e predomina a disposição final em aterro controlado ou lixão, nos quais milhares de toneladas de ma-teriais nobres são perdidas anualmente. Segundo estimativas de BANDINI (2009), a reciclagem de REEE não ultrapassa 2% do total de resíduos ge-rados, concentrando-se em resíduos oriundos dos próprios processos industriais das empresas ma-nufatureiras dos equipamentos eletroeletrônicos e enviados para tratamento no exterior.

As universidades são grandes geradores de resíduos, particularmente de resíduos de equi-pamentos eletroeletrônicos, com tendência cres-cente de aumento da geração. Ao mesmo tempo, as universidades dispõem de capacitação técnica para participar do gerenciamento e desenvolver tecnologia para o adequado tratamento dos REEE.

2 | - Fundamentos da gestão de resíduos nas Universidades Públicas

O descarte de qualquer resíduo deve aten-der à Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Essa lei dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos,

bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. Devem-se destacar os se-guintes pontos relevantes para o tema dos REEE:

Art. 6 - São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

III - a visão sistêmica, na gestão dos resídu-os sólidos, que considere as variáveis am-biental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem e c o n ô -mico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania.

Art. 7 - São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

II - não geração, redução, reutilização, re-ciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final, ambientalmente adequa-da dos rejeitos;

IV - adoção, desenvolvimento e aprimora-mento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais.

Assim, além dos aspectos ambientais, de-vem ser considerados os aspectos sociais e econô-micos, entre outros. Os resíduos passam a ter um status econômico mais relevante e sugere-se que a hierarquia da gestão de resíduos privilegia a reci-clagem em detrimento da incineração e disposição em aterro.

Ainda no artigo nº. 30, a PNRS institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, abrangendo os fabricantes, impor-tadores, distribuidores e comerciantes, os consu-midores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com o objetivo de promover o aproveitamento dos resíduos sólidos, estruturando uma cadeia de lo-gística reversa.

Por outro lado, o Decreto nº. 5.940, de 25 de outubro de 2006 obriga a separação dos resí-duos recicláveis, descartados pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal direta e indireta na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de mate-riais recicláveis e dá outras providências.

Essas leis conferem o arcabouço legal para a gestão dos resíduos em uma universidade públi-

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ca e, a partir delas, foram estruturados programas e ações no CT/UFRJ.

3 | Materiais e MétodosDentre os equipamentos eletroeletrônicos

que são mais comuns em uma universidade, des-tacam-se os computadores desktop, utilizados em praticamente todos os laboratórios, salas de aulas e outras instalações de uma universidade. As apli-cações desse equipamento podem ser bastante variáveis: do simples uso do computador para ela-boração de documentos administrativos ao uso de computadores potentes de última geração para cál-culos complexos de modelagem. Essa diversidade faz o parque instalado ser diverso, dificultando sua gestão.

Apesar de o controle dos equipamentos ele-troeletrônicos ser realizado conforme os princípios contábeis da administração pública, não ocorre uma centralização da gestão de ativos de equipa-mentos eletroeletrônicos que permita uma gestão integrada dos seus resíduos. Assim, a estimativa da vida útil dos equipamentos é prejudicada. Da mes-ma forma, não é fácil a previsão da geração dos resí-duos e a possibilidade de reuso de partes e compo-nentes dos computadores obsoletos para o usuário original.

Frequentemente ocorre o sucateamento de computadores com o reuso de partes e componen-tes em computadores reparados localmente. Quan-do não há mais o interesse, o equipamento deve ser direcionado ao setor de ativos para a sua baixa contábil. Essa, em princípio, só deve ser feita após a depreciação convencional de cinco anos do equipa-mento. Esse fato pode dificultar o reuso das partes e componentes em bom estado fora da universida-de, pois somente após a baixa do ativo contábil, os equipamentos podem ser doados para reuso, reci-clagem ou envio para tratamento adequado. Ocorre que frequentemente os computadores se tornam obsoletos para os laboratórios e, embora não te-nham mais utilidade para esses, não podem ser do-ados antes do prazo da depreciação contábil.

O tratamento adequado dos REEE demanda conhecimento em diversas áreas da engenharia e, principalmente, o desenvolvimento de processos inovadores para a recuperação dos materiais e sua transformação em novos materiais compósitos, que

sejam demandados pelo mercado produtivo.

No caso específico da UFRJ, verifica-se um crescimento do Parque Tecnológico na Cidade Uni-versitária e, consequentemente, um aumento da de-manda para destinação dos REEE. Tem-se, também na cidade universitária da UFRJ, a comunidade no entorno que é carente de recursos e aprendizado de informática, de emprego e de capacitação, o que estimula ainda mais o desenvolvimento de projetos nessa área.

A estruturação de um programa para a ade-quada gestão dos REEE na UFRJ demanda uma ar-ticulação entre diversos atores da instituição e par-ceiros externos e está embasada nas experiências dos programas e ações do CT/UFRJ para a gestão de resíduos gerados em suas instalações.

3.1 | Recicla CTO Recicla CT é um programa do Centro de

Tecnologia da UFRJ, instituído pela Decania e pa-trocinado pela Petrobras. Foi criado para atender o Decreto no. 5.940/2006, referente à obrigatorie-dade nas autarquias federais da coleta seletiva de resíduos recicláveis e posterior doação à coopera-tiva de catadores. Nesse programa, os resíduos são coletados por intermédio de contentores coloridos espalhados pelo CT/UFJ e diretamente nos departa-mentos e laboratórios.

O programa teve a adesão de diversas unida-des do CT/UFRJ, tendo atingido volumes represen-tativos de coleta de recicláveis, gerando renda para as cooperativas e redução de impactos ambientais (ANDRADE, 2014).

3.2 | RIPeR - Rede de Informações e Pes-quisa em Resíduos

A RIPeR é uma unidade do SOLTEC – Núcleo de Solidariedade Técnica, que tem como objetivo um trabalho de extensão, com bolsistas da gradua-ção, em gestão de resíduos, que inclui o desenvolvi-mento de estudos no tema e o apoio às cooperativas de catadores de resíduos recicláveis (BARBOSA et al. 2012). Dentre as ações da RIPeR, destaca-se a as-sessoria à Rede Recicla Rio, que reúne cinco coope-rativas de catadores que atuam na cidade do Rio de Janeiro. Junto com o Recicla CT, realizou o diagnós-tico preliminar dos resíduos da UFRJ que permitiu identificar as fontes geradoras, os processos de co-

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GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ

leta, o armazenamento e a destinação final dos re-síduos gerados na UFRJ (LUZARDO, 2012; LUZAR-DO et al., 2013). A RIPeR também pesquisa, junto com especialistas em Segurança do Trabalhado, os riscos e as medidas de proteção necessárias para quem trabalha com reciclagem, de modo a tornar essa atividade mais segura.

Um dos produtos conceitualmente desen-volvidos no RIPeR é o RECICLADADOS. Trata-se de um software criado para auxiliar o acompanhamen-to e controle das operações das cooperativas de ca-tadores de resíduos recicláveis. O sistema roda em plataforma Web, demandando somente o uso de um computador com acesso à internet e pouco trei-namento. Esse programa vem sendo utilizado pelo Recicla CT como forma de registro e administração dos resíduos gerados no Centro de Tecnologia. A melhoria da gestão nas cooperativas contribui para o aumento do índice de reciclagem no país, a redu-ção do envio de resíduos para aterros e o aumento de renda das cooperativas.

3.3 | LIpE - Laboratório de Informática para a Educação

Além da reciclagem dos computadores, as po-líticas de resíduos sólidos recomendam o reuso dos resíduos como prioridade na hierarquia de gestão de resíduos. No CT/UFRJ, o reuso se concretiza por meio da remanufatura dos equipamentos que são remontados com o aproveitamento das peças de equipamentos usados.

Esse histórico se inicia em 1994 quando co-meçou o projeto Minerva do Departamento de Eletrônica da Escola Politécnica da UFRJ com o ob-jetivo de auxiliar na introdução da Informática Edu-cacional em escolas públicas. Com o atendimento aos trabalhadores da UFRJ, jovens e adultos da Vila Residencial da Ilha do Fundão em 2002, foi organi-zado o Laboratório de Informática para a Educação – LIpE, que passou a englobar o Minerva e essas no-vas atividades. Entre estas, o LIpE com uma equipe de alunos e técnicos da UFRJ realizam a remanu-fatura de computadores usados para a doação às comunidades carentes nos moldes do projeto de Computadores para Inclusão do Governo Federal (PATRÍCIO, 2013).

Desde então, as atividades do LIpE englobam não somente a remanufatura de computadores ob-

soletos do CT/UFRJ mas também a inclusão digital da comunidade do entorno. São formados membros da própria comunidade que serão os disseminado-res do conhecimento. A formação dos professores começa com uma introdução a algumas ferramentas da informática, como editores de texto, planilhas, correio eletrônico e busca e navegação na internet. Esse treinamento tem sido realizado pelos alunos monitores da UFRJ que assessoram os professores durante um período.

Adicionalmente o LIpE tem ministrado cursos de aprendizagem em relação ao uso do RECICLA-DADOS para os membros das cooperativas de cata-dores. Além do próprio Recicla CT, algumas coope-rativas da região metropolitana do Rio de Janeiro já estão usando esse programa para aumentar a efici-ência da gestão de sua operação.

4 | Análise e Discussão dos Resultados: Cenário futuro da gestão de Resíduos Eletroeletrônicos na UFRJ

As experiências bem sucedidas dos progra-mas implantados servem de motivação para expan-são das atividades de coleta seletiva e para o pla-nejamento objetivando o adequado gerenciamento dos REEE. As ações e os programas realizados sina-lizaram que a gestão dos REEE é complexa e neces-sita de um enfoque mais abrangente, direcionando para o desenvolvimento de um projeto o Centro de Tecnologia em Reciclagem em Resíduos Eletroele-trônicos.

Devido ao grande número de substâncias e materiais usados nos equipamentos eletroeletrô-nicos, o tratamento adequado dos REEE demanda conhecimento em diversas áreas da engenharia e, principalmente, o desenvolvimento de processos inovadores para a recuperação dos materiais e sua transformação em novos materiais compósitos, que sejam adequados ao mercado produtivo.

Os computadores e monitores serão o foco do projeto devido à alta complexidade das misturas de materiais dos seus componentes e partes. Para esse projeto, sob a coordenação do Decano do Centro de Tecnologia, foi criado um grupo de pesquisa que congrega os vários laboratórios da UFRJ que, nos

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últimos anos, produziram pesquisas em tratamento e gestão de resíduos: Instituto de Macromoléculas na área de polímeros (FARIA E PACHECO, 2011, PA-CHECO et al., 2012; e outros), o Departamento de Engenharia de Materiais e Metalurgia da COPPE/UFRJ (DUTRA et al., 2008; FERNANDES et al., 2012) e o Instituto de Química da UFRJ (CÂMARA et al., 2012; entre outros).

O centro de Tecnologia de Reciclagem prevê:

• Coleta de peças e equipamentos de infor-mática que tenham origem na Cidade Uni-versitária, em empresas instaladas na Ilha do Fundão e trazidas por alunos, professo-res e funcionários;

• Empréstimo, com destinação preferencial, dos equipamentos remanufaturados para projetos de inclusão digital da comunida-de do entorno;

• Destinação dos materiais Classe II segre-gados manualmente para as cooperativas de catadores (Decreto no.5.940/2006);

• Convênio para destinação dos materiais não segregados manualmente, com alto valor agregado, para empresas de recicla-gem especializadas;

• Conhecimentos sobre novas rotas tecno-lógicas para separação dos materiais não segregados manualmente (metais raros, por exemplo);

• Diminuição dos impactos ambientais e custos associados à destinação final dos equipamentos que atualmente terminam em aterros ou em tratamento ambiental-mente inadequado por reciclagem infor-mal;

• Desenvolvimento de tecnologias inovati-vas para a produção de novos materiais compósitos a partir dos materiais não uti-lizáveis.

5 | ConclusõesA trajetória do CT/UFRJ na gestão de resíduos

apresenta uma evolução que está culminando com o projeto do Centro de Tecnologia de Reciclagem. Esse tem como objetivo principal o desenvolvimen-

to de tecnologia para o gerenciamento de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o seu reaproveitamento e reciclagem, especificamen-te equipamentos de informática e monitores de tu-bos de raios catódicos. Essa estrutura englobará os programas e as ações que já são realizadas na UFRJ, como o LIpE, RIPeR, e Recicla CT.

Também serão perseguidos alguns objetivos específicos, como: redução do volume de resíduos eletroeletrônicos na UFRJ; consolidação das pes-quisas dos laboratórios da UFRJ sobre reciclagem de REEE; reaproveitamento de computadores para uso em projetos de inclusão digital; destinação ade-quada de componentes para reciclagem; promoção da educação ambiental para as pessoas que traba-lham e estudam na Cidade Universitária e para as comunidades do entorno.

Dessa forma, a abordagem construída para a solução do problema da gestão de resíduos eletroe-letrônicos do CT/UFRJ contribuirá também para a redução de custos da Universidade com a destina-ção dos resíduos, atendendo também aos aspectos sociais, recuperação de materiais secundários, mi-nimizando impactos ambientais e desenvolvimento de inovações tecnológicas.

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GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ

ReferênciasANDRADE, E.A.T de. Avaliação do Ciclo de Vida na Gestão de Resíduos Sólidos: Um estudo de caso da coleta seletiva do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Programa de Enge-nharia de Produção, COPPE/UFRJ, 2014.

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BANDINI, M. Seminário Internacional de Resíduos Ele-troeletrônicos. Acesso em: 12.12.2009. Disponível em: http://www.seminarioree.com.br/, 2009.Barbosa, C.N.; Guilherme, V.S.; Suemitsu W.I. Riper – Apoio às Cooperativas na Implantação da Coleta Domiciliar de Óleo de Cozinha Usado no Município do Rio de Janeiro. 9º Congresso de Extensão da UFRJ, 2012.

CÂMARA, S.C.; AFONSO, J.C.; SILVA, L.I.D.; DOMINGUES, N.N.; ALCOVER NETO, A. Simulação do intemperismo na-tural de pilhas zinco-carbono e alcalinas. Química Nova, v. 35, p. 82-90, 2012.

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Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos

Resumo

Palavras-chave: REEE; Impacto ambiental; Metais pesados.

Key - words: Waste Electrical and Electronic Equipment; Environmental Impact; Heavy Metals.

Abstract

Os metais pesados podem acarretar sérias disfunções na saúde humana e causar graves problemas em plantas e animais. Este trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo sobre o risco potencial que os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos podem trazer para os seres humanos e o meio ambien-te como um todo, devido à grande quantidade de metais pesados que estes possuem em sua composi-ção e, ao serem descartados de forma errônea, trazem preocupantes danos ao planeta. Analisando-se o potencial produtivo de microcomputadores pelos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) em uma década, no consumo de menor demanda ecológica de matéria-prima e recursos naturais, sendo este de 3 computadores por década, pretende-se observar a quantidade de metais pesados que podem ser produzidos nesse espaço de tempo por esses países.

Heavy metals can cause serious dysfunctions on human health and cause serious problems in plants and animals. This paper aims to make a study on the potential risk that waste of electrical and electronic equi-pments can bring to humans and the environment as a whole, due to the large amount of heavy metals that they have in their composition and when wrongly discarded bring worrisome damage to the planet. Analyzing the productive potential of microcomputers by the BRICS countries (Brazil, Russia, India, China and South Africa) and the G7 countries (United States, Japan, Germany, UK, France, Italy and Canada) in a decade, in ecological lower consumption demand of raw materials and natural resources, which is 3 com-puters per decade, the aim is to observe the amount of heavy metals that may be produced within that time by these countries.

1 Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela UFRPE- ([email protected])4UFRPE - ([email protected])

SANTOS, Jenyffer da Silva Gomes1. VIEIRA, Priscila Lemos2. BELTRAME, Leocádia Terezinha Cordeiro3. EL-DEIR, Soraya Giovanetti4.

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IMPACTOS CAUSADOS POR METAIS EM HUMANOS DEVIDO à DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

1 | IntroduçãoCom o avanço da tecnologia, o consumo de

equipamentos eletroeletrônicos tende a aumentar naturalmente. O número desses tipos de equipa-mento, que incluem computadores, impressoras, fotocopiadoras, aparelhos de televisão, celulares, jogos eletrônicos dentre outros, cresce continu-amente, em escala global, seja pela inovação seja pela obsolescência programada, fazendo com que tenham uma vida curta. Assim, o alto consu-mo leva, portanto, a uma crescente geração, 2 a 3 vezes mais rápida que qualquer outro tipo de resíduo (GROSSMANN, 2006). De acordo com Ro-binson (2009), a produção global de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (WEEE) em 2006 foi estimada entre 20 a 50.000.000 t. Apenas nos Estados Unidos, 500.000.000 computadores se tornaram obsoletos entre 1997 e 2007 (GUAN et al., 2010), com expectativas atuais de 17.000.000 por ano (YAMANE, 2011). Estima-se que a gera-ção mundial de WEEE seja superior a 50.000.000 t (NI, ZENG, 2009), correspondendo de 5 a 8% dos resíduos municipais (UNEP, 2005; WIDMER, 2005), dos quais os computadores pessoais estão em maior número (KOLIAS, K.; HAHLADAKIS, J. N.; GIDARAKOS, 2014).

Esse aumento no consumo tem reflexo no descarte desses equipamentos, que poderá ser realizado de maneira correta ou não. O comércio internacional de WEEE para disposição é proibi-do mundialmente pela Convenção de Basileia no Controle dos Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação, de 1989. Contudo, a comercialização para reutilização e re-ciclagem ainda é realizada, fazendo com que países como a China, prioritariamente, e outros países da Ásia (Índia, Paquistão, Vietnã, Filipinas, Malásia), África (Nigéria e Gana) e América Latina (Brasil e México) estejam entre os principais importadores (ROBINSON, 2009). Devido à falta de legislação a respeito, essa recuperação é realizada, em sua maior parte, por pequenos empreendedores, sem critérios de proteção individual ou ambiental.

O descarte incorreto dos equipamentos ele-troeletrônicos ocasiona um grande volume de re-síduos , gerando assim uma significante quantida-de de metais pesados os quais estão presentes na composição desses equipamentos.Os impactos re-lacionados à disposição inadequada ou à má ges-

tão de resíduos, oriundos de processos, serviços e materiais usados, têm sido uma das principais preocupações quanto às questões ambientais, es-pecialmente em ambientes corporativos. Resídu-os tratados ou dispostos de forma inadequada podem levar à contaminação do sítio onde está disposto, assim como, devido à dispersão pelo ar, pela água ou ainda pela lixiviação, a uma área de abrangência maior que a usada para disposição ou tratamento. Embora resíduos, de forma geral, me-reçam atenção, especial cuidado deve ser dado aos resíduos perigosos. Entre os resíduos perigosos, estão os resíduos eletroeletrônicos (WEEE).

Em contato com o meio ambiente, os es-tragos causados pelos metais aos seres vivos são graves. Uma das formas de esses metais chegarem aos seres vivos ocorre por meio do solo que absor-ve esses metais dos equipamentos eletroeletrô-nicos que foram descartados de forma incorreta. As plantas, quando retiram os nutrientes do solo, terminam, junto com os nutrientes, absorven-do esses metais; os animais, ao ingerirem várias plantas já contaminadas, acumulam também em seu organismo os metais; os seres humanos, ao se alimentarem desses animais ou dessas plantas, acabam também absorvendo grande quantia des-ses metais que, mesmo em pequenas quantidades, geram grandes danos à saúde humana, sendo esse processo conhecido como bioacumulação.

Este artigo tem como objetivo desenvolver estudo sobre o risco potencial que os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos podem trazer aos seres humanos e ao meio ambiente como um todo, devido à grande quantidade de metais pesa-dos que estes possuem em sua composição e que, ao serem descartados de forma errônea, trazem preocupantes danos ao planeta. Analisando-se o potencial produtivo de microcomputadores pe-los países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do G7 (Estados Uni-dos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) em uma década, no consumo de menor demanda ecológica de matéria-prima e recursos naturais, sendo este de 3 computadores por déca-da, pretende-se observar a quantidade de metais pesados que podem ser produzidos nesse espaço de tempo por esses países.

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2 | Fundamentação TeóricaA recuperação de metais a partir de WEEE

pode ser estimulada pela presença de metais que apresentem valor significativo de mercado e por metais-base. O processo de recuperação pode ocorrer por processos mecânicos ou químicos, como pirometalúrgicos e hidrometalúrgicos (WID-MER, et al., 2005). Embora essas tecnologias este-jam bem estabelecidas na reciclagem de metais re-lativamente puros, a reciclagem de metais a partir de WEEE, devido a sua complexidade, composição e presença de materiais tóxicos, dificulta o proces-so. De acordo com Hong e Valix (2014), um núme-ro limitado de processos térmicos está disponível para tal fim, desenvolvidos pela Fundição Aurubis, na Alemanha (KAHHAT & WILLIAMS, 2009), assim como pela Fundição Noranda de cobre, no Cana-dá, e Fundição Ronnskar, na Suécia (CUI & ZHANG, 2008). Considerando que esses metais não estão em sua forma pura, mas como ligas metálicas, durante a fusão, é preciso um consumo maior de energia (NAKAJIMA et al., 2010), podendo ser ne-cessário utilizar processos hidrometalúrgicos (CUI E ZHANG, 2008).

Processos hidrometalúrgicos aplicados no processamento de WEEE apresentam algumas vantagens, como menor custo de implantação e operação, que são mais precisos e mais simples. Esses processos se baseiam na solubilização e re-cuperação dos metais em ácido, cianetos, tioureias, tiossulfatos e halogenetos (CUI & ZHANG, 2008; TUNCUK et al., 2012; ZHANG et al., 2012) por meio da precipitação, extração por solvente, extração eletrolítica, adsorção e troca iônica (COMAN et al., 2013; CUIE ZHANG, 2008; RIMASZEKIETAL, 2012; ROBOTIN et al., 2012).

Os processos hidrometalúrgicos e pirometa-lúrgicos apresentam passivos ambientais expres-sivos, pois, além da geração de dioxinas, furanos e liberação de outros compostos orgânicos a par-tir dos componentes plásticos e de retardantes de chama presentes nos WEEE por processos piro-metalúrgicos, provocam malefícios à saúde e ao ambiente (ZHANG, WU & SIMONNOT, 2012). Para evitar ou minimizar tais emissões, são necessá-rios investimentos em equipamentos específicos. Por sua vez, processos hidrometalúrgicos utilizam reagentes tóxicos, com sérios riscos tanto ao ope-rador quanto ao ambiente. Para gerenciar tal si-tuação, são necessários tratamentos de efluentes específicos e de alto custo. Essas tecnologias de tratamento não são usadas por pequenas empre-sas de reciclagem, seja pela ignorância do risco, pela falta do conhecimento tecnológico ou pelos altos investimentos que se fazem necessários.

A concentração dos contaminantes em WEEE depende do tipo de resíduo, da data de fabricação, da quantidade de resíduos processados e do méto-do escolhido para a recuperação dos metais, sen-do embora os metais pesados a principal causa de contaminação (Tabela 1)

A contaminação pode ocorrer com o solo sendo contaminado (ZHANG, WU, SIMONNOT, 2012; LI et al., 2010; ZHAO et al., 2009 a, b) ou pela dispersão dos metais no ambiente, seja pela solu-bilização em água, seja pela adsorção em partícu-las sólidas provenientes da queima de materiais contendo metais, o que leva à contaminação de uma área maior que a dos sítios de deposição ou de reciclagem. Entretanto, a presença de metais na água, ar e solo fornece uma visão sobre a conta-minação, porém a mobilidade, biodisponibilidade

Tabela 1. Fontes dos metais nos WEEE

Fonte: (Qingbin, Li, 2014)

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IMPACTOS CAUSADOS POR METAIS EM HUMANOS DEVIDO à DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

e toxicidade dos metais dependem das condições ambientais locais, como o pH da água e do solo, o potencial redox e componentes da matriz, como a matéria orgânica presente.

A liberação dos metais aumenta a exposição pela ingestão de água contaminada, entrando as-sim na cadeia alimentar ou pelo contato dérmico e inalação (FU et al., 2008; LUO et al., 2011). Con-siderando a cadeia alimentar, o teor de Chumbo e Cádmio em arroz (FU et al., 2008) e em hortaliças (LUO et al., 2011), cultivados em regiões de WEEE, se mostraram muito superiores, às vezes muito acima do limite aceitável, aos cultivados em outras regiões tomadas como referência. Mas a absorção de metais pelo homem é um fenômeno complexo, pois se deve observar a rota e a fonte desse metal, o tempo de exposição dos seres vivos e possíveis efeitos inibidores, sinergéticos e aditivos que cada um dos metais pode provocar nos organismos (FRAZZOLI et al., 2013; NI et al., 2013). Nesse sen-tido, um maior aprofundamento do processo de contaminação ambiental e dos seres vivos deve ser objeto de pesquisas.

3 | Material e MétodosA presente pesquisa, de caráter qualitativo

(OLIVEIRA, 2008; MINAYO, 2010), foi realizada por meio de levantamento de dados secundários mediante a copilação, compreendida como “a reu-nião sistemática do material contido em livros, revistas, publicações avulsas ou trabalhos” (LAKA-TOS & MARCONI, 2010, p. 48). Esse material foi encontrado em bases virtuais ou impressos, sen-do produzido com o auxílio de fontes primárias (pesquisa documental) e secundárias (pesquisa bibliográfica). Os dados levantados foram copila-dos a partir de dados disponíveis em sites oficiais

citados ao longo do artigo.

O universo analisado neste trabalho foram os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Ca-nadá), à luz do que estabelece Santos et al. (2014), considerando o consumo de menor demanda eco-lógica de matéria-prima e recursos naturais, sendo esse o consumo de 3 microcomputers por década. Foi analisada a quantidade de computadores que os países desses dois grupos consumiriam, em cima do valor obtido foi calculada a a massa em toneladas de metais pesados que seria gerada. Em seguida, utilizando como base dados do Chile Re-síduos (Tabela 2), foi analisada a quantidade dos seguintes metais pesados: cobre, prata, paládio e ouro considerados em nosso objeto de estudo.

Em seguida, analisou-se a quantidade máxi-ma de prata e cobre permitida em águas doces, salobras e salinas de classe 1 (segundo Ministé-rio do Meio Ambiente - 2005) e em água potável (Ministério da Saúde - 2004) (Tabela 2). Com esse valor, foi analisada a quantidade de litros que os resíduos eletroeletrônicos conseguiriam conta-minar com o dobro da quantidade de prata e co-bre permitida.

4 | Análise e discussão dos resultados

Analisadas as quantidades de equipamen-tos eletroeletrônicos produzidos pelos países do G7 e do BRICS (Tabela 4), foi possível analisar que, mesmo utilizando o modelo de consumo que cause menos impacto ao meio ambiente, a quan-tidade de resíduos produzidos é consideravel-mente extensa.

Tabela 2.Quantidade de metais na constituição de um computador pessoal (PC).

Fonte: Chile Resíduos (s/a)

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Analisando-se a quantidade de Prata, Ouro, Paládio e Cobre que esses países produzi-riam no espaço de uma década (Tabela 5), pode--se verificar que, entre os países do G7, os maiores produtores seriam o Japão e os Estados Unidos; no BRICS, entretanto, os maiores produtores seriam a China e a Índia.

Observa-se que há uma quantidade de água que apresenta potencial para ser contaminada pela prata produzida através dos resíduos eletro-eletrônicos do BRICS e G7. Nesse cenário, o caso mais grave é representado pela China, que sozinha conseguiria desqualificar maior volume de água

que todos os países do G7. Por outro lado, a África do Sul poderia provocar uma contaminação quase 150% a mais que todos os países do G7 adotando o mesmo processo (Tabela 6).

Em comparação à prata, pode-se analisar que, devido à quantidade de cobre encontrada nos equipamentos eletroeletrônicos ser muito maior que a de prata, esse metal pesado atingiria um vo-lume significativo de água a mais que a prata (Ta-bela 7). Conclui-se que o volume de água atingido pelo cobre é quase 3 vezes mais que o volume atin-gido pela prata.

Tabela 3.Concentração máxima para boa qualidade de águas doces e potabilidade de água.

Quadro 1.Fontes: (1) Ministério do Meio Ambiente; (2) Quimíca Nova Escola

Tabela 4.Quantidade de equipamentos eletroeletrônicos gerados pelos países do BRIC e do G7.

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IMPACTOS CAUSADOS POR METAIS EM HUMANOS DEVIDO à DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

Tabela 5.Quantidade de metais pesados em toneladas, produzidos pelos países do BRICS e G7.

Tabela 6.Quantidade de metais pesados em toneladas, produzidos pelos países do BRICS e G7.

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5 | Conclusões Percebe-se que a quantidade de volume de

água que seria prejudicada com o descarte er-rôneo dos equipamentos eletroeletrônicos é ex-pressiva, em particular em localidades onde ocor-re estado de indigência hídrica, como em muitas localidades do Brics. Grande volume de água po-deria ser atingido, inclusive água potável, o que significaria uma grande perda hídrica, agravando a situação de insegurança com a qual muitas po-pulações convivem.

Além disso, se essa água chegasse a entrar em contato com os seres humanos, animais ou plantas, ela poderia trazer sérios problemas devido ao pro-cesso de bioacumulação, que ocorre em diferentes níveis da cadeia trófica. Pode-se ainda perceber que o problema da poluição de rios e lagos está in-teiramente ligado ao descarte errado dos resíduos. Dessa forma, cuidados com a qualidade ambiental devem incluir a gestão integrada dos resíduos só-lidos, em particular formas de diminuir o volume dos WEEE, buscando reciclar e reaproveitar todos os seus componentes constituintes.

Tabela 7.Volume (m3) de água que poderia ser contaminada por cobre advindo de WEEE.

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Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015

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IMPACTOS CAUSADOS POR METAIS EM HUMANOS DEVIDO à DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

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