edilson mateus costa da silva
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Msica Popular do Norte: Marcus Pereira e sua misso folclrico-musical na
Amaznia (anos 1970).
EDILSON MATEUS COSTA DA SILVA1
Resumo:
Este artigo busca analisar os discursos folcloristas acerca da regio Norte na dcada de
1970. Neste sentido, o documento em questo a coleo msica popular do Norte (em
4 volumes), realizada atravs de coleta da gravadora Marcus Pereira, que tinha como
objetivo recolher as manifestaes musicais folclricas da Amaznia. Atravs do estudo
destes registros poderemos compreender os conceitos de folclrico e popular
desenvolvidos por intelectuais, crticos e pela indstria fonogrfica do perodo, que
convergem para os valores expressos nos discos. Ao mesmo tempo, iremos abordar a
mediao cultural desenvolvida por intelectuais folcloristas do modernismo desde a
dcada de 1920, que por meio da produo musical popularizaram os conceitos de cultura
por eles desenvolvidos e popularizados por registros como os da gravadora em questo.
Palavras-chave: Amaznia; folclore; msica; modernismo.
1 Doutorando Em Histria Social da Amaznia. Universidade Federal do Par. Programa de Ps-Graduao
em Histria Social da Amaznia (PPHIST/UFPA). Professor da Faculdade Integrada Brasil-Amaznia
(FIBRA).
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Introduo
Marcus Pereira fundou uma agncia de publicidade na dcada de 1960. A partir
desta passou a idealizar produes de discos como brindes promocionais aos clientes. A
partir desta ideia, em 1973 surge um projeto mais audacioso de criar uma gravadora
independente que buscasse produzir discos que revelassem a msica verdadeiramente
popular. Os primeiros lanados a nvel comercial foram discos antes gravados como
objetivos de cortesia, mas que agora alcanavam o mercado fonogrfico. Somente em
1974 que a gravadora Discos Marcus Pereira passou a produzir discos voltados
exclusivamente para a Indstria Fonogrfica2.
O publicitrio e advogado Marcus Pereira estabeleceu a partir da fundao de sua
gravadora homnima um projeto audacioso voltado para recolha de manifestaes
musicais existentes nas diferentes regies brasileiras, em um projeto intitulado mapa
musical do Brasil. Entre as regies que receberiam as misses de coletas estaria o
Norte. Neste sentido ocorreram incurses etnogrficas no Par (ARAGO, 2011).
Modernismo e o Folclore
interessante pensar que a forma pela qual as pesquisas folcloristas foram
incorporadas produo fonogrfica tem a ver com mediadores culturais que realizaram
esta transio dos ideais de uma essncia musical expressiva dos valores pretensamente
legtimos de uma cultura. A histria da msica brasileira foi elaborada com a presena
destes intelectuais, no caso dos estudos a respeito das sonoridades amaznicas podemos
dizer que os pioneiros foram Mrio de Andrade, Renato Almeida e Oneyda Alvarenga.
Posteriormente, esto Bruno de Menezes, Vicente Salles, Jos Ramos Tinhoro, entre
outros. Estes autores so responsveis por pensar e estabelecer a partir de um lugar
histrico-folclrico balizas para o discurso da msica brasileira produzida na regio
amaznica. Estes autores em associao a outros artistas, como Waldemar Henrique,
foram responsveis por catalogar a arte musical em sua essncia e a difundir pelos mais
2 ARAGO, Helena. Marcus Pereira: o guardio da msica nacional e regional. O Globo, Rio de
Janeiro, 20 dez. 2014. Disponvel em: http://oglobo.globo.com/cultura/livros/marcus-pereira-guardiao-
da-musica-popular-regional-14879049#ixzz3dSKPhIFx
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diversos canais. Entre os principais veculos de divulgao deste discurso estavam a
imprensa jornalstica, importante espao para os autores popularizarem suas perspectivas;
o rdio, com programas musicais contendo a presena de artistas que incorporavam temas
folclricos nas suas composies; publicao de obras de mbito acadmico ou no;
produo de discos.
Neste sentido, iremos analisar a partir das coletas folclricas empreendidas pela
gravadora Marcus Pereira na Amaznia, como estes ideais de popular convergem nos
discos produzidos, assim como a viso dos folcloristas e da crtica musical. Tambm
iremos demonstrar que esta coleo expressa valores acerca do folclorismo-modernista
desenvolvido a partir dos anos 1920. Neste sentido, a gravadora em questo organizou
um repertrio musical que popularizou, via indstria fonogrfica, os ideais de popular
e folclrico acerca da regio amaznica.
Os primeiros registros acerca da msica no Par foram realizados pelos cronistas
que estiveram na Amaznia desde o perodo colonial. No geral, textos de Felipe
Bettendorf e Padre Joo Daniel fizeram relatos da presena dos elementos no-
portugueses em suas performances musicais, embora tenham se concentrado na maneira
como a msica erudita e a sacra foram incorporadas ao projeto missionrio colonizador.
A msica possuiu neste contexto um papel pedaggico e de controle importante que
suprimia as manifestaes musicais locais (SALLES, 1980: 34).
Os primeiros relatos do tipo folclorista musical, no sentido de coleta dos costumes
e significados das culturas, foram realizados no sculo XVIII por Alexandre Rodrigues
Ferreira nas suas Viagens filosficas (1971), nas quais realizou amostras de instrumentos
musicais utilizados por indgenas e negros na regio Amaznica durante o perodo. Os
naturalistas do sculo XIX foram mais especficos nas definies dos costumes e das
manifestaes musicais praticadas na regio, entre eles Spix e Martius (1981), Wallace
(1939) e Bates (1944). Estes autores so importantes referncias, sejam como fontes para
compreenso das prticas musicais nestes perodos, como o tipo de registro etnogrfico.
Edward P. Thompson utiliza essas evidencias etnogrficas nas suas obras,
estabelecendo dilogos com estudos de folcloristas, realiza uma abordagem que as
compreende como documentao: cata de fontes sobre os costumes e suas
significaes, acabei me voltando para as compilaes dos folcloristas (THOMPSON,
2012: 230). Por outro lado, ele considera a abordagem altamente insatisfatria, j que
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as perguntas dos folcloristas raramente procuravam saber da sua funo ou uso
recorrente ((THOMPSON, 2012: 231). Na sua perspectiva, a abordagem do objeto pelos
folcloristas, se configurou como influncia importante para os estudos etnogrficos no
sculo XX. Podemos afirmar que, no nosso caso, esta abordagem folclorista ainda tem
um enorme peso sobre os estudos da histria da msica popular em perspectiva
acadmica.
As reflexes de Thompson a respeito do folclore ajudam a pensar na possibilidade
de incluso dos folcloristas como fontes para os costumes e suas significaes a respeito
da msica amaznica. Neste sentido, nos interessa estudar as recolhas realizada por estes
estudiosos e compreender a escrita da histria na seara destas influncias. Estes usos da
escrita folclrica, na abordagem de Edward Thompson, possibilitam a incluso de outros
autores, entre eles os naturalistas, como fontes para nossos estudos. Esta perspectiva est
muito presente nas obras dos folcloristas que analisaram a histria da msica paraense,
em especial Vicente Salles, que tomaram estes autores como fontes para compreender
como se configuravam as expresses artsticas do sculo XVII ao XIX e esta perspectiva
se configurou em uma tradio para os estudos posteriores que buscaram abordar a msica
amaznica (SALLES, 1970; 1980).
A produo de discos da Gravadora Marcus Pereira esteve intimamente ligada aos
valores relativos etnografia folclrica, retoma os valores desenvolvidos inicialmente por
Mrio de Andrade na dcada de 1920, assim como estabelece a perspectiva de misso
pensada pelo mesmo a respeito da Amaznia.
A partir dos folcloristas do modernismo, a arte musical passou a ser um canal de
percepo da essncia da cultura do povo capaz de representar a nao atravs destes
valores. Podemos dizer que Heitor Villa-Lobos tem sido considerado pelos intelectuais e
pela crtica como o primeiro compositor modernista, apresentando sua concepo de arte
musical na semana de 1922. O maestro influenciou sua gerao e colaborou no debate
com os folcloristas, sendo considerado por intelectuais como Mrio de Andrade um artista
que conseguia estabelecer a verdadeira arte musical da nao. H que se definir que
ambos compreendiam que somente a esttica erudita era capaz de representar a
nacionalidade e as temticas folclricas deveriam somente servir de inspirao na sua
origem o folclore ainda era pensado como prtica primitiva presente na expresso
popular in locus (CONTIER, 2004).
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Mrio de Andrade e Heitor Villa-Lobos possuam uma concepo paternalista-
folclorista. Para estes o folclrico, alm de captar a essncia do nacional-popular, era
tomado como mecanismo capaz de intervir nos aspectos educacionais, chegando a se
tornar poltica pblica durante a Era Vargas (TATIT, 2004). Neste mbito os decretos
de Lei n. 19.890/31 e o 9.494/46 estabeleciam a obrigatoriedade do ensino da msica na
educao escolar de 1 grau e o canto orfenico como modelo de prtica musical que
devia desenvolver, entre outras coisas, o conhecimento do nacionalismo presente nas
temticas de origem folclrica. Esta legislao foi bastante influenciada por Villa-Lobos
e por esta razo o canto orfenico era material para conscincia civil e patritica, devendo
incluir em seu repertrio canes voltadas para esta perspectiva (VILLA-LOBOS, 2010).
Ao mesmo tempo ocorriam ensaios acerca da histria da arte nacional, incluindo
a msica. Os folcloristas modernistas foram os primeiros a desenvolver uma histria da
msica de carter nacional, pensando as diferentes manifestaes regionais como
permeados por um mesmo sentido e uma mesma essncia capaz de revelar aspectos
internalizados no povo brasileiro (CONTIER, 1991). De maneira geral, a historiografia
acadmica no se preocupou com os estudos sobre a msica no Brasil at a dcada de
1980, quando as ps-graduaes em Histria passaram a desenvolver nas dependncias
de seus programas estudos sobre o tema. Anteriormente, a historiografia era tangencial
ao tema, ou seja, realizada por outros domnios acadmicos ou por intelectuais autnomos
como os folcloristas e/ou jornalistas (BAIA, 2010). Os folcloristas possuram no sculo
XX um carter hbrido que os enquadrava em uma posio paradoxal sobre a produo
acadmica, j que o Folclore esteve presente nos estudos relativos s cincias humanas e
sociais, porm seus representantes advogavam uma autonomia que decretasse o Folclore
como uma cincia especfica (CARNEIRO, 2008). De qualquer forma, os primeiros
ensaios sobre a escrita da histria da msica brasileira foram realizados de dentro do
movimento modernista, portanto prendiam-se, consciente ou inconscientemente, s
novas concepes sobre: a) brasilidade; b) identidade nacional e cultural; e a respeito do
folclore e da sua importncia na nacionalizao da arte musical era o de smbolo da
fala do povo a ser pesquisado e aproveitado pelo compositor erudito em suas obras
(CONTIER, 1991: 153).
Esta historiografia modernista da msica brasileira buscava uma
independncia musical do Brasil frente aos estrangeirismos europeus que marcavam a
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arte e a cultura brasileira. De maneira mais ampla, o modernismo realizava uma crtica
aos valores da Belle-poque no pas, percebendo-a como uma decadncia e uma perda
dos valores do povo brasileiro. Neste sentido a histria erigida traava uma viso
evolucionista e teleolgica, na qual buscavam valorizar os grandes compositores do
passado e do presente, definindo um sentido histrico de liberdade esttica dos
artistas brasileiros (CONTIER, 1991: 153).
Em especial, A primeira referncia histria da msica popular brasileira que
incluiu um gnero amaznico como manifestao folclrica foi a obra Histria da Msica
Brasileira (1926) de Renato Almeida, porm o autor realizou breves consideraes a
respeito somente do carimb, tratando o fenmeno como uma das ramificaes do
batuque afro-brasileiro. Segundo ele o gnero uma espcie de samba de roda com
violas e instrumentos de percusso, registrada na ilha de Maraj (ALMEIDA, 1926:
161).
Este conceito de batuque foi incorporado a todos os gneros que revelavam
alguma reminiscncia das heranas africanas e tambm era utilizado no sentido de
unificao das manifestaes musicais regionais, buscando identificar em diferentes
localidades a mesma essncia africana, evidncia de unidade nacional. Renato
Almeida, e sua gerao modernista, passou a buscar estudos que investigassem a essncia
desta msica brasileira in locus revelando uma pretensa legitimidade do povo brasileiro
configurado em sons. A msica foi tomada como reflexo das mais diversas falas
populares antropofagicamente internalizadas no povo brasileiro, visto como a sntese de
todas as etnias e nacionalidades (CONTIER, 1991: 154).
Mrio de Andrade passou a se interessar pela musicalidade amaznica a partir da
sua vinda regio em 1927.3 Estando em Belm despertou para as idiossincrasias do lugar
que o fizeram anos depois dirigir uma misso folclrica nos anos 1930 que viesse coletar
elementos do folclore musical do Brasil, incluindo no trajeto a Amaznia. Esta misso
recolheu fragmentos de diversos gneros paraenses, com destaque para o Boi-bumb e a
pajelana, estes foram gravados e publicados posteriormente.4 Interessante notar que o
3 A respeito da vinda de Mrio de Andrade neste ano ver ANDRADE, Mrio de. Turista Aprendiz. So
Paulo: Secretaria de Cultura, Cincia e Tecnologia, 1976. 4 Os registros da Misso de pesquisas folclricas dirigida por Mrio de Andrade, foram realizados em
1938, mas foram publicadas recentemente. Ver ANDRADE, Mrio de (org.). Misso de Pesquisas
folclricas, v. 6. So Paulo: SESC/SP, 2009.
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carimb no foi catalogado oficialmente pela misso, embora na audio seja possvel
identifica-lo com o rtulo de boi-bumb, isto revela uma certa impreciso a respeito
dos estudos iniciais destes gneros paraenses. Esta pesquisa, em sua concluso e
associada s posteriores do autor, deu origem a obra Msica de Feitiaria no Brasil
(1938), nesta obra Mrio de Andrade fez importantes consideraes ao gnero da
pajelana que segundo ele tem origem afro-indgena, e a partir das coletas sobre o
fenmeno ensaia uma hiptese que generaliza esta origem toda cultura brasileira. A
respeito do Par, realizou reflexes sobre o Boi-bumb na regio presente na obra Danas
Dramticas no Brasil (1938). Oneyda Alvarenga deu continuidade s questes propostas
por seu mestre Mrio de Andrade. Na obra Msica Popular Brasileira (1950) a autora
verificou no contexto de sua pesquisa uma escassez de informaes a respeito do tema,
segundo ela:
A respeito do Par, Mrio de Andrade realizou reflexes sobre o Boi-bumb na
regio presente na obra Danas Dramticas no Brasil (1938). Oneyda Alvarenga deu
continuidade s questes propostas por seu mestre Mrio de Andrade. Na obra Msica
Popular Brasileira (1950) a autora verificou no contexto de sua pesquisa uma escassez
de informaes a respeito do tema, segundo ela:
Sobre o carimb s tenho duas notcias. A primeira uma referncia rpida de
Renato Almeida (...). A Discoteca Pblica Municipal de So Paulo filmou em
So Luis do Maranho um Carimb completamente distinto deste e que sugere
logo a ideia de que devia ser como ele o primitivo Lundu, antes de e requintar
ao contato da sociedade burguesa. Pelo filme e pelas informaes que o
reforam, o carimb uma dana solista, com a circunstncia singular de que
no tem canto. Acompanha-a exclusivamente um urucungo, a que do nome de
marimba (...) (ALVARENGA, 1950: 170).
A partir do trecho podemos constatar que: a) O gnero ainda era desconhecido dos
estudos dos folcloristas; b) Ainda no era identificado como de origem especificamente
do Par; e c) Era pensado pela herana do batuque, que entre suas manifestaes estava
o lundu, apontado como gnero que deu origem ao carimb, a partir do contato da
sociedade burguesa que o modificou. Ainda realiza a unificao cultural, incluindo na
mesma manifestao Par e Maranho.
Esta noo do carimb, suas primeiras notcias, tambm apareceram neste
perodo na pesquisa de outros autores como Pedro Tupinamb (1969). Para estes autores,
o gnero era verificado como uma dana presente nas expresses do lundu
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modernizado e como parte do conjunto do boi-bumb, uma dana dramtica. Pedro
Tupinamb estabelece a mesma perspectiva de unificao da cano no gnero batuque,
que o mesmo aproxima das manifestaes das religies afro-brasileiras. Cita uma
abordagem etnogrfica realizada no terreiro do Pai-de-santo Raimundo Silva em 2 de
novembro de 1960, relatando as canes entoadas nos rituais sob a nomenclatura de
batuques, que so definidos pelo uso do atabaque neste caso independente da
celebrao ou festa em que estiver presente. Em outra crnica intitulada Carimb,
tambm a partir de interveno etnogrfica palhoa de seu Elzo em Salinpolis.
Segundo Tupinamb:
O carimb danado na quadra natalina, em Salinpolis, Marapanim, Marud,
Curu, Bragana, Salvaterra, etc. e seu nome se origina de carimb, tambor
comprido de procedncia africana, que os tocadores percutem com ambas as
mos, horas e horas seguidas, com alguns minutos de intervalo. Acompanha o
carimb o xeco-xeco, instrumento tambm usado nos batuques e viola
(TUPINAMB, 1969: 34).
Outro elemento interessante nesse relato etnogrfico de Pedro Tupinamb foi a
sua preocupao em delimitar os aspectos tnicos: observamos que 70% dos danarinos
eram caboclos e o restante negros (TUPINAMB, 1969: 35).
O boi-bumb, orientado pelas influncias dos estudos a respeito das danas
dramticas, passou tambm a ser o principal foco das preocupaes dos estudiosos do
folclore paraense. Sendo, portanto, para estes a toada de boi o gnero musical mais
estudado da regio. Entre os principais destacamos Bruno de Menezes que publicou o
estudo Boi-bumb (1951), que juntamente com a obra de Bordallo Filho citada
anteriormente, foram encaminhadas e apresentadas no 1 Congresso Brasileiro de
Folclore, sendo definido pela organizao do evento como contribuio do Par. Neste
evento no havia, portanto, referncias a outra manifestao folclrica musical que no
fossem o boi-bumb.
A perspectiva do Folclore como cincia foi estabelecida a partir deste 1
Congresso Brasileiro de Folclore em 1951. O documento oficial que definiu as suas
prerrogativas cientficas foi a Carta de Folclore Brasileiro. Entre elas havia: 1) a ideia de
que o Folclore um ramo das cincias antropolgicas e culturais, sendo ocupado dos
aspectos material e espiritual; 2) Constituem o fato folclrico os modos de pensar,
sentir e agir de um povo, preservadas pela ao popular e pela imitao, desta forma
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estabelece uma diferenciao entre os fatos histricos, sociais, antropolgicos e
folclricos, que pretensamente definiam cincias diferentes. Alm disso no poderiam ser
influenciados diretamente por instituies cientficas e eruditas, portanto, o Folclore
deve ser espontneo; 3) Folclore como fato de aceitao coletiva, annimo ou no, e
essencialmente popular e 4) Em face da natureza cultural das pesquisas folclricas (...)
aconselha-se, de preferncia, o emprego dos mtodos histricos e culturais.
interessante notar que estas perspectivas, embora tenham sido elaboradas nas dcadas de
1950, continuaram sendo tomadas pelos folcloristas como plano de trabalho, com alguns
elementos a menos ou a mais dependendo dos pressupostos de cada autor (BRANDO,
1984: 31).
Rossini Tavares de Lima definiu em 1978 o que chamou de Princpios gerais da
Cincia do Folclore, que ainda continha em essncia os posicionamentos desenvolvidos
no 1 Congresso Brasileiro de Folclore, trazendo como preocupao central a Teoria de
Cultura Espontnea que consiste no estudo acerca da cultura e sua interao com as
instncias erudita e popularesca. Esta perspectiva compreende que todo homem de
sociedade letrada tem uma expresso de cultura espontnea, ou seja, o Folclore pertence
a todos os grupos sociais existentes e imprime uma marca no indivduo pertencente
comunidade (LIMA, 2003: 3).
Outro ponto central na reconfigurao da cincia folclrica nas dcadas seguintes
ao 1 Congresso Brasileiro de Folclore diz respeito ideia da Dinmica do Folclore,
elaborada por dison Carneiro em 1950 (CARNEIRO, 2008), que define uma dinmica
autnoma e construda histrica pelas coletividades de uma dada comunidade e sofrendo
descaracterizao em consequncia da ao estranha ao campo do folclore, porm a
cultura folclrica se relaciona com a cultura erudita e com a cultura de massas, incluindo
a popularesca, unicamente atravs do seu prprio critrio de aceitao coletiva
espontnea. Portanto, h na perspectiva da dinmica do folclore um dilogo da cultura
folclrica com outros mbitos, mas desde que no ocorra de forma impositiva pelo
elemento externo. Quando h uma descaracterizao a cultura folclrica se torna
cultura popularesca. A divulgao e a pesquisa cientfica devem possuir um papel
somente de interao, respeitando os padres e a dinmica da manifestao do folclore
(LIMA, 2003: 4).
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interessante notar que este contexto de busca pela legitimao cientfica do
Folclore recebeu crticas de importantes intelectuais acadmicos, entre eles estavam
Florestan Fernandes. O autor descaracteriza a possibilidade da autonomia da disciplina
no mbito acadmico, por outro lado, verifica no Folclore um importante campo para os
estudos das Cincias Sociais, mais especificamente deve ser um ramo da Etnografia
esta sim vista por ele como uma cincia estabelecida. Este posicionamento trouxe crticas
severas derivadas dos folcloristas, em especial de dison Carneiro (FERNANDES,
2003).
dison Carneiro veio Amaznia na dcada de 1950, em misso exploratria
com o objetivo de realizar um levantamento mais amplo da realidade amaznica, seja nos
aspectos econmicos, sociais, culturais, etc. Fato relevante o de que esta expedio foi
dirigida pelo intelectual paraense Jos Verssimo e dison Carneiro passou a visualizar
nele sua referncia para pensar a Amaznia (CARNEIRO, 1956).
De forma semelhante a Bordallo Filho, Bruno de Menezes e Pedro Tupinamb,
verificou inicialmente como manifestao folclrica musical exclusivamente o boi-
bumb. Interessante notar que o mesmo compreende esta dana dramtica como uma
forma de resistncia do homem amaznico que frente s mudanas da paisagem e das
relaes sociais na regio, o boi-bumb uma forma de preservar sua tradio e, portanto,
no se sujeitar ao opressor burgus. Esta associao entre folclore e luta de classes foi
bastante comum ao pensamento dos folcloristas brasileiros (CARNEIRO, 1956). Esta
aproximao dos folcloristas com os ideais de revoluo social, pela conservao das
tradies e sua influncia do marxismo, foi amplamente expressa pela instaurao da
Ditadura Civil-militar que via estes intelectuais como subversivos (SALLES, 1990).
Interessante notar que esta perspectiva modernista no deixou de ser presente nos
debates acerca do Folclore na segunda metade do sculo XX. Um exemplo marcante
dessa continuidade da perspectiva dos anos 1920 foi a trajetria do compositor paraense
Waldemar Henrique, que foi tomado nos anos 1970 como modelo de cano popular
amaznica pelos folcloristas. H uma ntida relao do maestro com o modernismo
musical e neste contexto estas perspectivas convergiram e destacaram-lhe pela sntese
esttica que realizava em concordncia com estes discursos. Este aspecto da obra do
maestro foi forjado na seara da influncia do principal compositor modernista, alm de
percursor destes ideais musicais, Heitor Villa-Lobos. Estes mantiveram contatos e
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socializaram suas concepes musicais no perodo em que Waldemar Henrique mudou-
se para o Rio de Janeiro. Villa-Lobos via de forma positiva as composies do maestro,
em um encontro especfico com Waldemar Henrique afirmou que ele seria um artista que
honra o Brasil (PEREIRA, 1984: 51).
O maestro Waldemar passou a ser includo no hall dos compositores nacionalistas,
sendo apreciado pelo grande nome da msica neste perodo e que tinha ligaes com as
polticas de educao e promoo musical da primeira metade do sculo XX.
interessante notar que h notcia de estudantes no Rio de Janeiro que testemunharam nos
anos 1940 a presena de repertrio do compositor Waldemar Henrique na composio
pedaggica-musical.
Esta perspectiva folclorista-modernista est presente em Waldemar Henrique pela
incorporao da potica amaznica, com suas lendas, rituais e costumes associados
esttica erudita. A sua perspectiva composicional esteve to alinhada a esta compreenso
esttica que recebeu constantes elogios dos folcloristas brasileiros e paraenses (SILVA,
2010). No disco Waldemar Henrique (1976)5 h depoimentos de uma srie destes no
encarte do LP, entre eles h a presena de ilustres folcloristas como Renato Almeida.
Msica Popular do Norte
O pesquisador Jos Ramos Tinhoro, quando lanado em 1976 a coleo Msica
Popular do Norte6, teceu os comentrios:
(...) Jos Ramos Tinhoro, no Jornal do Brasil, escolhendo as melhores
gravaes, ressalta M. P. do Norte dizendo inclusive, que os discos que
integram esse lbum se constituem o que de mais inesperado e mais
surpreendente dado a algum ouvir, mesmo levando em conta uma razovel
informao sobre o que existe no Brasil em matria de sons produzidos pelo
povo. Para quem no sabe: neste lbum esto inmeras composies de
Waldemar Henrique, ainda a glria musical do Par na atualidade.7
Este disco aponta a presena do folclorismo-modernista na dcada de 1970. O
destaque deste disco foi atribudo ao maestro Waldemar Henrique, que segundo o
5 HERIQUE, Waldemar; Maria Helena Coelho Cardoso. Canes de Waldemar Henrique. Belm: Secult,
1976. LP. 6 PEREIRA, Marcus (org.). Msica Popular do Norte. So Paulo: Gravadora Marcus Pereira, 1976. (4
vols.) 7 Par entre os melhores da msica. A Provncia do Par, Belm, 2 jan. 1977, p.10
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Tinhoro era ainda a glria musical no Par. Esta matria foi recebida de forma
entusiasmada pela imprensa paraense, pois legitimava a importncia do compositor
perante o Brasil e nos valores paradigmticas da crtica musical envolvida com os
folclorismos. Ao todo, foram gravados 4 volumes a respeito do Norte, mas neste nmero
destacado foram gravadas 8 canes do compositor paraense. De alguma forma, havia
uma viso de que Waldemar representava a produo de temas folclricos, a legtima
msica popular. Interessante que o restante do lbum foi composto por canes
coletadas no lugar da expresso dos artistas, gravadas in locus, portanto msicas
folclricas enquadradas nos paradigmas vigentes. Entre as coletas h registros realizados
em 1938 pela misso de coleta folclrica de Mrio de Andrade. O que demonstra o elo
com as perspectivas elaboradas pelo modernismo-folclorista, uma evidncia da
continuidade dos referenciais esttico-culturais estabelecidos na dcada de 1920.
Como foi dito anteriormente, a presena de Waldemar Henrique predominante
no volume 1 de Msica Popular do Norte, com as canes Rolinha (chula marajoara),
Uirapuru (cano amaznica), Abaluai (ponto ritual), Tajapanema (Cano
Amaznica), Matintaperra ( cano amaznica), Boi-bumb (batuque paraense), Querer
bem no pecado (toada) e Morena (cano marajoara). No geral, estas canes so
voltadas para os temas folclricos, dentro da perspectiva desenvolvida e legitimada pela
intelectualidade folclorista. Sendo que estabelece um elo com as perspectivas regionais
da expresso do povo. O maestro Waldemar ganha destaque por ser considerado um
modelo de incorporao dos temas do folclore ao cancioneiro. Outro elo importante com
as perspectivas do modernismo musical a coleta da misso anterior dirigida por Mrio
de Andrade e que revela a continuidade do princpio de pesquisa do folclore no seu lugar
de manifestao. As canes incorporadas desta maneira foram Cabocla bonita (toada) e
Murucutu (Acalanto). O interessante que os volumes da coleo Marcus Pereira
obedecem a lgica de seleo j presente na misso andradeana, ou seja, recolhendo os
gneros exclusivamente locais e os existentes em outras regies. Este procedimento se
deveu ao ideal de que toda musicalidade folclrica presente nas diversas localidades
brasileiras do Brasil profundo refletem a essncia da brasilidade, as recolhas
folclricas em diversas regies, em diferentes manifestaes, revelam a nacionalidade.
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Portanto, no contraditrio verificar na msica popular do Norte os gneros de
quadrilha, polca e samba rural.
Os intrpretes presentes nas canes gravadas possuem uma formao erudita,
tanto Waldemar Henrique, quanto Jane Vaquer (depois conhecida como Jane Duboc),
Jos Tobias, Marena Salles, Odete Dias e Elza Gushkin. As excees so o Trio T
Teixeira e o dueto de Izaltina e Radonir Santos. interessante notar que o conceito de
popular desenvolvido nestes discos tambm se refere viso modernista que verifica a
necessidade de incorporar os temas folclricos s expresses eruditas para expressar o
patriotismo e a essncia nacional. Tambm no esto presentes no volume 1 canes
sem autoria.
Os registros de composies de domnio pblico passam a ser usuais no volume
2 da coleo, entre elas as maranhenses Boi de Orquestra, Boi de Monte Castelo, Boi de
Pindar e Boi da Madredeus. H tambm nesta perspectiva assinaturas descritas como
folclore do MA, que remontam uma estabelecida legitimidade no Estado acerca do
que deve ser considerado como folclrico, entre as canes esto Tambor de ndio,
Tambor de Mina, Carro vai virar. Este nmero tem como nexo central expor diversas
coletas de folcloristas da regio, entre eles o paraense Vicente Salles com Me d, me d
moreninha; o amazonense Walter Santos com Boi Amazonas; e o maranhense Amrico
Azevedo Neto com Balana que pesa ouro, eu sou a rosa menino/ D licena/ Meu
balaio/ Meu Baralho vai embora, A mui e meu cavalo/ Eu no desprezo amor velho,
Mas tu no sabe/ pau pereira/ Marimbondo. Esta atitude de destacar os folcloristas da
regio est ligada ao prestgio que estes intelectuais possuam neste perodo, seu status
acadmico (embora tangencial)8, a presena dos ideais folclrico-modernistas na
produo fonogrfica da dcada de 1970 e uma busca pelo registro do folclore em nvel
de indstria fonogrfica.
No volume 3 est mais presente a ideia de domnio pblico presente em todas
as canes registradas, sendo que os intrpretes tambm so, em sua maioria, oriundos
8 Este lugar acadmico tangencial se refere no incluso autnoma da Cincia Folclore como formao
acadmica especfica. Esta situao se deve aos crticos do Folclore, entre eles Florestan Fernandes que era
contrrio ao estabelecimento autnomo deste no ambiente das universidades. Ver FERNANDES, Florestan.
O folclore em questo. 3 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003
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das localidades em que foram criadas as obras. H um destaque s manifestaes
ocorridas no Par, nos municpios de Marapanim e Soure, e a presena de duas presentes
no Maranho: Dana de So Gonalo de Viana e Festa do Divino. No geral, h uma
seleo de repertrio que prioriza os cnticos que expressam a religiosidade atrelada ao
catolicismo, mesmo que no exclusivamente, presentes Crio de Nazar e Ladainha de
So Sebastio, existentes em Belm do Par; e na expresso dos grupos folclricos locais:
Ajiruteua (de Marapanim) Conjunto Embalos de Soure e Gigantes da Ilha (Soure).
Outro dado importante a presena de gravaes de Carimb, um dos principais gneros
considerados representativos do cancioneiro paraense, tanto pelos crticos, quanto pelos
folcloristas, na cano Tou mandando brasa no meu carimb.
No volume 4 h uma continuidade nos temas levantados anteriormente. A seleo
feita entre as canes de domnio pblico, retomando os conjuntos Embalos de
Soure e Ajiruteua, e um elemento novo: a presena de intelectuais acadmicos, ou
seja, os antroplogos paraenses da Universidade Federal do Par, Napoleo Figueireido
e Anaza Virgulino e Silva. Estes ltimos realizaram coletas folclricas buscando
fomentar seus estudos etnolgicos, cedendo seus registros para compor a coleo de
Marcus Pereira, no sentido de que h uma estreita comunicao entre os ideais folcloristas
no campo da indstria fonogrfica (representada pela gravadora) e pelos estudos
acadmicos. Embora no haja uma incluso do Folclore como Cincia, ele se configura
como um importante acervo de reflexo e pesquisa para as cincias humanas. As coletas
dos antroplogos registradas na coleo se referem ao complexo de msicas de
feitiaria, nas sesses de cura e linha de Mina. Esta incluso mais uma referncia
direta s misses andradeanas, e ainda contendo o registro Babassu, realizado pela
misso de 1938. H tambm no volume 4, a incluso de registros musicais de grupos
indgenas, entre eles os Kamayur, Maus, Mana e Yurupixuna. Ganha espao tambm
regies do Oeste Paraense e do Amazonas, com canes de domnio pblico.
Consideraes Finais
A partir da apresentao dos discos da coleo Msica Popular do Norte
podemos perceber que h uma ntida relao entre os conceitos desenvolvidos acerca do
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popular e do folclore desenvolvidos no mbito do modernismo folclorista e a
elaborao do projeto em questo neste texto. constatvel que os paradigmas de
reflexo sobre o processo composicional e de expresso da sonoridade do povo tm que
estar adequados ao ideal de nao e esttica modernista. Ao mesmo tempo, podemos
perceber o papel relevante dos folcloristas na configurao das gravaes da indstria
fonogrfica quando buscam exemplificar a essncia popular da arte nacional e das
particularidades da regio. A seleo realizada pela gravadora Marcus Pereira realiza um
recorte que busca representar a regio Amaznica por meio de sons e desta forma
estabelece uma mediao com a mdia nacional, portanto, populariza uma determinada
verso de folclrico, um recorte das inmeras manifestaes populares que
caracterizam o Norte do Brasil e o pas como um todo.
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