edifício-sede, na cidade de são josé da costa rica, da corte · manual bibliográfico de estudos...

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Edifcio-sede, na cidade de So Jos da Costa Rica, da CorteInteramericana de Direitos Humanos, presidida, no perodo

1999-2004, pelo Juiz Professor Antnio Augusto Canado Trindade, ex-Consultor Jurdico do Itamaraty.

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PARECERES DOSCONSULTORES JURDICOS

DO ITAMARATY

VOLUME VIII (1985-1990)

Mesa DiretoraBinio 2003/2004

Senador Jos SarneyPresidente

Senador Paulo Paim1o Vice-Presidente

Senador Romeu Tuma1o Secretrio

Senador Herclito Fortes3o Secretrio

Senador Eduardo Siqueira Campos2o Vice-Presidente

Senador Alberto Silva2o Secretrio

Senador Srgio Zambiasi4o Secretrio

Suplentes de Secretrio

Senador Joo Alberto Souza

Senador Geraldo Mesquita Jnior

Senadora Serys Slhessarenko

Senador Marcelo Crivella

Conselho EditorialSenador Jos Sarney

PresidenteJoaquim Campelo Marques

Vice-Presidente

Conselheiros

Carlos Henrique Cardim Joo Almino

Carlyle Coutinho MadrugaRaimundo Pontes Cunha Neto

PARECERES DOSCONSULTORES JURDICOS

DO ITAMARATYVOLUME VIII (1985-1990)

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Coleo Brasil 500 Anos

Braslia 2004

Organizao e Prefcio deAntnio Paulo Cachapuz de Medeiros

COLEO BRASIL 500 ANOSO Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em 31 de janeiro de 1997buscar editar, sempre, obras de valor histrico e cultural e de importncia relevante para acompreenso da histria poltica, econmica e social do Brasil e reflexo sobre os destinos do Pas.

COLEO BRASIL 500 ANOS

Obras publicadas

De profecia e Inquisio Padre Antnio VieiraO Brasil no Pensamento Brasileiro (Volume I) Djacir Menezes (organizador)Manual Bibliogrfico de Estudos Brasileiros (2 volumes) Rubens Borba de Morais e WilliamBerrienCatlogo de Exposio de Histria do Brasil Ramiz Galvo (organizador)Rio Branco e as Fronteiras do Brasil A. G. de Arajo JorgeGaleria dos Brasileiros Ilustres (2 volumes) S. A. SissonAmap: a terra onde o Brasil comea, 2 edio Jos Sarney e Pedro CostaNa Plancie Amaznica Raimundo MoraisCastilhismo: Uma filosofia da Repblica Ricardo Vlez RodrguezUm Paraso Perdido (Ensaios Amaznicos) Euclides da CunhaPorque constru Braslia Juscelino KubitschekEfemrides Brasileiras Baro do Rio BrancoDom Helder: o Arteso da Paz Raimundo Caramuru Barros (organizador)O Discurso autoritrio de Cairu Joo Alfredo de Sousa MontenegroO Rio de Janeiro nos Tempos dos Vice-Reis Lus EdmundoFormao Histrica do Acre (2 volumes) Leandro TocantinsA Amaznia e a Integridade do Brasil Arthur Czar Ferreira ReisPareceres dos Consultores jurdicos do Itamaraty (9 volumes) organizao de Paulo Cachapuz deMedeiros

Projeto grfico: Achilles Milan Neto Senado Federal, 2004Congresso NacionalPraa dos Trs Poderes s/n CEP 70168-970 Braslia [email protected] htpp://www.senado.gov.br/web/conselho/conselho.htm

Pareceres dos consultores jurdicos do Itamaraty Antnio Augusto Canado Trindade/organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros Braslia: Senado Federal,

Conselho Editorial, 2004, 9 v.680 p. (Coleo Brasil 500 anos)

1. Direito Internacional Pblico, jurisprudncia, Brasil 2. DireitoInternacional Privado, jurisprudncia, Brasil. 3. Direito Constitucional,jurisprudncia, Brasil. 4. Direito Civil, jurisprudncia, Brasil. 5. DireitoAdministrativo, jurisprudncia, Brasil. 1. Medeiros, Antnio Paulo Cachapuzde. II. Srie.

CDDir 340.6

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Senado Federal

Presidente do Senado Federal

Presidente do Conselho Editorial

Diretor-Geral

Ministrio das Relaes Exteriores

Embaixador Celso AmorimMinistro de Estado das Relaes Exteriores

Embaixador Samuel Pinheiro GuimaresSecretrio-Geral das Relaes Exteriores

Professor Antnio Paulo Cachapuz de MedeirosConsultor Jurdico

Fundao Alexandre de Gusmo

Embaixadora Thereza Maria Machado QuintellaPresidente

MINISTRIODAS

RELAES

EXTERIORES

Coleo Brasil 500 Anos

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

Plano da Obra

Co-Edio Senado Federal/Ministrio das RelaesExteriores/Fundao Alexandre de Gusmo

Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros (Organizador)

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume I)Edio Fac-similar do volume editado pela Seo de Publicaes do

Ministrio das Relaes Exteriores em 1956, sob o ttulo dePareceres dos Consultores Jurdicos do Ministrio das

Relaes Exteriores Tomo I 1903-1912Organizao e apresentao de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Prefcio de Geraldo Eullio do Nascimento e Silva

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume II)Edio Fac-similar do volume editado pela Seo de Publicaes do

Ministrio das Relaes Exteriores em 1962, sob o ttulo dePareceres dos Consultores jurdicos do Ministrio das

Relaes Exteriores Tomo II 1913-1934Organizao de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Prefcio de Zuleika Lintz

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume III)Edio Fac-similar do volume editado pelo Departamento de

Imprensa Nacional em 1961, sob o ttulo dePareceres dos Consultores Jurdicos do Ministrio das

Relaes Exteriores Tomo III 1935-1945Organizao de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Prefcio de Zuleika Lintz

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume IV)Edio Fac-similar do volume editado pela Seo de Publicaes do

Ministrio das Relaes Exteriores em 1967, sob o ttulo dePareceres dos Consultores Jurdicos do Ministrio das

Relaes Exteriores Tomo IV 1946-1951Organizao de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Prefcio de Zuleika Lintz

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume V)Organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Pareceres de Hildebrando Accioly (1952-1960)

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume VI)Organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros

Pareceres de Haroldo Vallado (1961-1971)

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume VII)Organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de MedeirosPareceres de Amilcar de Arajo Falco, de Augusto de Rezende

Rocha e de Miguel Franchini-Netto (1972-1984)

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume VIII)Organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de MedeirosPareceres de Antnio Augusto Canado Trindade (1985-1990)

PARECERES DOS CONSULTORESJURDICOS DO ITAMARATY

(Volume IX)Organizao e prefcio de Antnio Paulo Cachapuz de MedeirosPareceres de Vicente Marotta Rangel, de Joo Grandino Rodas e

de Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros (1990-1999)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Prefcio

O Professor Antnio Augusto Canado Trindade exerceu afuno de Consultor Jurdico do Ministrio das RelaesExteriores de 1985 a 1990.Foi um dos mais dinmicos, produtivos e eficientesconsultores com que o Itamaraty j contou.Seu legado Casa de Rio Branco constitui uma coleo de mais

de duzentos circunstanciados pareceres. A publicao dos seus textos nesseVIII volume da srie Pareceres dos Consultores Jurdicos do Itamaratyresgata o elevado valor do trabalho daquele perodo, dando-se a devidapublicidade a muitas opinies consultivas inditas, para o proveito dosestudiosos da Direito e das Relaes Internacionais.

O exerccio do cargo de Consultor Jurdico pelo Professor CanadoTrindade coincidiu com uma fase interessante da histria poltica do Brasil,marcada pela redemocratizao do Pas e pelo processo constituinte de 1987-88.

Imperioso, portanto, que o Consultor Jurdico fosse ouvido sobretemas como os anteprojetos das comisses temticas da AssembliaNacional Constituinte no que toca aos princpios que regem as relaesinternacionais do Brasil e ao processo de celebrao de tratadosinternacionais.

Valiosa foi igualmente a contribuio do Professor CanadoTrindade na fundamentao jurdica para a adeso do Brasil aos tratados

12

gerais de proteo aos direitos humanos, notadamente os dois Pactos deDireitos Humanos das Naes Unidas e a Conveno Americana sobreDireitos Humanos.

Antnio Augusto Canado Trindade integrou, outrossim, naqualidade de Chefe, Subchefe ou Delegado, numerosas delegaesdiplomticas do Brasil a importantes conferncias internacionais, como, porexemplo, a Conferncia de Viena, convocada pelas Naes Unidas, sobreDireito dos Tratados entre Estados e Organizaes Internacionais ou entreOrganizaes Internacionais.

autor de vastssima obra no campo do Direito InternacionalPblico e do Direito Internacional dos Direitos Humanos, com mais devinte livros e duzentos artigos publicados em vrios idiomas.

Professor Titular da Universidade de Braslia e do Instituto RioBranco, j ministrou cursos em muitas universidades e instituies acadmicasde prestgio mundial, como a Academia de Direito Internacional da Haia.

Atualmente, exerce a presidncia da Corte Interamericana deDireitos Humanos, estabelecida em So Jos da Costa Rica.

Braslia, 11 de novembro de 2003.

ANTNIO PAULO CACHAPUZ DE MEDEIROSConsultor Jurdico do Ministrio das Relaes Exteriores

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Sumrio

1985

Delimitao e Demarcao da Fronteira Brasil-Uruguai: a Nota Uruguaia de 27 de Maro de 1985 e os Argumentos do Brasil ........................... 21

O Brasil e a Proteo Internacional dos Direitos Humanos: FundamentosJurdicos para o Reexame da Posio do Brasil .................................... 57

Os Mecanismos de Soluo Pacfica de Controvrsias Internacionais e aCrise na Amrica Central: Ata de Contadora, Documento de Tegucigalpae Outras Gestes e Propostas de paz ................................................ 106

Fundamentos Jurdicos, Natureza, Efeitos e Alcance das Sanes doBrasil frica do Sul: o Decreto n 91.524 de 9 de Agosto de 1985 e asMedidas Contra o Apartheid ......................................................... 125

Clusulas sobre Soluo Pacfica de Controvrsias em Acordos Internacionais(Com Ateno Especial Prtica do Brasil) ..................................... 157

A Proposta Cingapureana de Embaixador Itinerante Luz do DireitoDiplomtico Contemporneo .......................................................... 173

1986

Os Limites da Jurisdio Obrigatria da Corte Internacional de Justia eas Perspectivas da Soluo Judicial de Controvrsias Internacionais(Com Ateno Especial ao Contencioso Nicargua versus EstadosUnidos, 1984-1985) ..................................................................... 185

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Subsdios para a Elaborao de Instrues Delegao do Brasil Conferncia de Viena sobre Direito dos Tratados entre Estados eOrganizaes Internacionais ou entre Organizaes Internacionais

de 1986 ...................................................................................... 210

Consolidao das Posies do Brasil na Conferncia das Naes Unidassobre Direito dos Tratados entre Estados e Organizaes Internacionaisou entre Organizaes Internacionais (Viena, 1986) ....................... 237

A Questo da Imunidade de Jurisdio do Agente Diplomticoem Matria Trabalhista ................................................................. 254

O Foreign States Immunities Act 1985 da Austrlia, as TendnciasRecentes e a Questo da Reciprocidade no Domnio das Imunidadesdo Estado ..................................................................................... 274

A Proteo dos Refugiados em Seus Aspectos Jurdicos: a Conveno deGenebra de 1951 Relativa ao Estatuto do Refugiado e a Questo doLevantamento pelo Brasil da Reserva Geogrfica ............................. 293

A Ata de Contadora Revisitada: Desenvolvimentos Recentes, os QuatroProtocolos Adicionais e a Posio do Brasil ....................................... 316

A Questo da Competncia do Itamaraty na Determinao do LimiteExterior da Plataforma Continental Brasileira ................................ 331

A Necessidade de Harmonizao entre a Conveno para a Eliminaode Todas as Formas de Discriminao contra a Mulher e a LegislaoNacional sobre a Matria ............................................................... 339

A Constituio de Misses de Observao e Foras de Paz ou Emergnciapara Operao Internacional Luz do Direito Internacional Pblico edo Direito Interno Brasileiro .......................................................... 342

O Caso do Apresamento do Navio Lloyd Mxico no Estreito de Hormuzpela Marinha Iraniana em Julho de 1986 ...................................... 354

Ponderaes sobre a Questo da Remoo de Casais de Diplomatas ........ 363

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1987

O Projeto de Protocolo Adicional Conveno Americana de DireitosHumanos em Matria de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais:Elementos para a Tomada de Posio do Brasil ................................ 369

Anlise Crtica do Projeto de Tratado de Institucionalizao do ParlamentoLatino-Americano ......................................................................... 378

Novos Elementos para a Tomada de Posio do Brasil em Relao aoProjeto de Protocolo Adicional Conveno Americana de DireitosHumanos em Matria de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais ... 398

Apreciao do Projeto de Artigos sobre Imunidades Jurisdicionaisdos Estados e de sua Propriedade da Comisso de Direito Internacionaldas Naes Unidas: Posies do Brasil ............................................. 403

Denncia e Nova Adeso do Governo Brasileiro Conveno n 81da Organizao Internacional do Trabalho Concernente Inspeodo Trabalho na Indstria e no Comrcio (1947) .............................. 416

Posies do Brasil em Matria de Reconhecimento de Governo ............... 424

1988

O Fechamento do Consulado-Geral em Gnova e a Questo dos DireitosTrabalhistas de Auxiliares Locais na Itlia ...................................... 433

Medidas Coercitivas de Carter Econmico e Proposta de Alterao doArtigo 19 da Carta da OEA: Elementos Bsicos para a Tomada dePosio do Brasil ............................................................................ 439

O Uso de Notas Diplomticas e Notas Verbais e os Acordos Simplificadospor Troca de Notas ......................................................................... 444

Anlise da Situao Jurdica da Representao da Organizao para aLibertao da Palestina no Brasil .................................................... 454

16

Acordos Internacionais: as Atribuies Distintas de Negociao pelo PoderExecutivo e de Aprovao pelo Poder Legislativo ............................. 463

Contratos e Acordos Internacionais: Semelhanas e Elementos Diferenciais 466

Clusula sobre Soluo de Controvrsias no Projeto da Conveno sobreRecursos Minerais Antrticos: Elementos para a Tomada de Posiodo Brasil ....................................................................................... 469

Exame da Conveno sobre a Preveno e o Castigo de Delitos ContraPessoas Internacionalmente Protegidas, Inclusive os AgentesDiplomticos (Nova York, 1973) e da Conveno Internacional

Contra a Tomada de Refns (Nova York, 1980) ............................. 473

O Caso das Reclamaes (War Claims) da Construtora Mendes Jnior S.A. Contra o Governo do Iraque: Vias de Soluo de Controvrsias .. 478

A Questo do Reconhecimento de Governo, Face Dualidade de Poderes,no Perodo de Transio e Instabilidade Institucionais no Lbano:Elementos para Tomada de Posio do Brasil ................................... 482

A Questo do Eventual Estabelecimento de Governo Provisrio Palestinono Exlio: Elementos para Tomada de Posio do Brasil .................... 487

1989

Projeto de Decreto Legislativo sobre Suspenso da Vigncia dos AtosInternacionais ainda no Aprovados pelo Congresso Nacional:

Elementos para a Tomada de Posio do Itamaraty .............................. 493

A Proclamao do Estado Independente da Palestina e a Questo daSituao Jurdica da Representao da Palestina no Brasil ............... 497

Fundamentao Jurdica da Prtica Constitucional do Itamaraty emMatria de Celebrao de Acordos Internacionais .................................. 509

Anexos: A Questo da Aprovao pelo Legislativo de Atos Internacionais .. 518

A Participao do Poder Legislativo no Processo de Celebrao de AcordosInternacionais ................................................................................ 524

O Equilbrio e a Coordenao entre os Poderes Executivo e Legislativo naProcessualstica dos Atos Internacionais ........................................... 527

17

Elementos para Informao ao Presidente da Repblica sobre Aspectos da Questo da Formao do Novo Estado da Palestina ................... 532

A Questo da Definio Jurdica da Largura do Mar Territorial Brasileirono mbito do Direito Interno Face Ratificao pelo Brasil daConveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 (Aindano em Vigor no Plano Internacional) ............................................ 535

A Questo da Determinao do No-Cumprimento das Disposies doProtocolo de Montreal sobre Substncias que Destroem a Camada

de Oznio de 1987 ....................................................................... 538

O Brasil e a Proteo Internacional dos Direitos Humanos (Instrumentose Clusulas Facultativos): Fundamentos Jurdicos para a Consolidaoda Nova Posio do Brasil .............................................................. 542

A Atual Crise Panamenha e a Questo da Nomeao do NovoAdministrador do Canal do Panam em seus Aspectos Jurdicos ....... 617

Caso de Pedido de Proteo Diplomtica para Reparao de Danos Sofridospor Nacional Brasileiro em Lisboa ................................................... 624

1990

Os Argumentos de Israel sobre a Aplicao no Caso Palestino dos Critriospara a Caracterizao do Estado no Direito Internacional ................ 629

As Consultas Mundiais das Naes Unidas sobre a Realizao do Direitoao Desenvolvimento como um Direito Humano (Genebra, 8 a 12

de Janeiro de 1990) ....................................................................... 635

A Questo da Solicitao da Comunidade Econmica Europia (CEE)de Admisso como Membro Pleno da Organizao das NaesUnidas para a Alimentao e a Agricultura (FAO): Elementos

Bsicos para Tomada de Posio do Brasil ........................................ 648

1985

21

Fronteira Brasil Uruguai. NotaUruguaia de 27 de Maro de 1985:Natureza e Efeitos Jurdicos.Argumentos do Brasil Luz doDireito Internacional: Doutrina,Jurisprudncia, Prtica dos Estados.

PARECER

Delimitao e Demarcao da Fronteira Brasil-Uruguai:a Nota Uruguaia de 27 de Maro de 1985 e os Argumentos do Brasil

Sumrio: I. Delimitao do Objeto do Parecer. II. Natureza Jurdica, Efeitose Alcance da Nota Uruguaia de 27 de Maro de 1985. III. OsArgumentos do Brasil. 1. A Configurao ou no de umaControvrsia Internacional. 2. O Erro no Direito dos Tratados e aConduta Subseqente das Partes. 3. O Valor da Aquiescncia e daContestao Luz da Jurisprudncia Internacional.4. A Fora da Aquiescncia e a Insuficincia da Alegao de Errocomo Vcio do Consentimento. a) O Contencioso Camboja VersusTailndia (1962) e sua Repercusso. b) O Contencioso HondurasVersus Nicargua (1960). 5. O Carter Definitivo da Operao deDemarcao. V. Concluses.

I. Delimitao do Objeto do Parecer

O Governo do Uruguai encaminhou nota ao Embaixador do Brasilem Montevidu, em 27 de maro de 1985, em que, ao retornar linha deargumentao utilizada em notas em 1934 e 1937-1938, deixou registro da

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posio uruguaia de que teria havido um erro de demarcao limtrofe arequerer a reviso da determinao in situ da fronteira Brasil-Uruguai nosetor em questo, e de que o estabelecimento recente de um ncleo depovoamento na zona no afetava a suposta diferena limtrofe e territorial detipo demarcatrio que sustentava existir. Consulta-me o Ministrio das RelaesExteriores, atravs de carta do Senhor Secretrio-Geral das Relaes Exteriores,de 13 de maio de 1985, sobre a natureza jurdica, os efeitos e o alcance dareferida nota uruguaia, assim como o possvel tratamento a ser-lhe dado.

2. Os fatos pertinentes encontram-se narrados, detalhadamente eem perspectiva histrica, no memorandum DF/12 secreto, de 25 de abril de1985, e no cabe aqui repeti-los. A julgar pela documentao que me foientregue (anexos ao memorandum DF/12), esta a primeira vez que a questolevantada pelo Uruguai ser examinada neste Parecer estritamente luz dateoria e prtica do Direito Internacional Pblico. Um exame da correspondnciadiplomtica trocada entre Brasil e Uruguai sobre a matria (notas uruguaias de10 de agosto de 1934, 1 de setembro de 1937, 8 de novembro de 1937, 7 defevereiro de 1938 e 27 de maro de 1985, e notas brasileiras de 26 de outubrode 1934, 13 de outubro de 1937, 6 de dezembro de 1937, e 4 de abril de1938) revela um aparente propsito de restringir a argumentao interpretaoou verso dos fatos, aos dados geogrficos, e a consideraes de ordem poltica.Mesmo assim, encontram-se referncias genricas a princpios e normas doDireito Internacional (nota uruguaia de 27 de maro de 1985), meiospacficos de soluo dos litgios internacionais (nota uruguaia de 8 denovembro de 1937), cumprimento rigoroso dos compromissos internacionais(nota brasileira de 13 de outubro de 1937), princpios de inviolabilidade dospactos internacionais (nota brasileira de 26 de outubro de 1934), e princpiosde justia e direito (nota uruguaia de 10 de agosto de 1934).

3. Estas referncias so indicadoras da presena dos ingredientesjurdicos da questo suscitada pelo Uruguai. Tal presena vem sendoinsinuada, ainda que em linguagem indireta, desde a primeira nota uruguaiasobre a matria, de 1934. Assim, no surpreende que, no juzo do Ministriodas Relaes Exteriores, tenha, enfim, chegado o dia de enfocar a questo doponto de vista dos princpios, normas e prtica do Direito InternacionalPblico, e para mim um grato privilgio poder proceder, pela primeiravez, ao exerccio de anlise estritamente jurdica do caso. Como a declaraounilateral de reserva de direito por parte do Uruguai se passa dentro de um

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1 S.B. Jones. Boundary-Making: A Handbook for Statesmen, Treaty Editors and Boundary Commissioners.Washington: Carnegie Endowment for International Peace, 1945, p. 3-225; Paul de LaPradelle. Lafrontire tude de droit international. Paris: Les Editions Internationales, 1928, p. 9-367; H.D. Barbagelata.Frontires. Paris: Libr. P. Ollendorff, 1911, p. 1-89; S. Whittemore Boggs. International Boundaries AStudy of Boundary Functions and Problems. NY, Columbia University Press, 1940, p. 3-204; Ph. Pondaven.Les lacs-frontire. Paris: Pdone, s/d, p. 1-373; P. Guichonnet e C. Raffestin. Gographie des frontires.Paris: PUF, 1974, p. 11-221; C.V. Adami. National Frontiers in Relation to International Law. (trad. T.T.Behrens), Oxford/London: University Press/ H. Milford, 1927, p. 1-121; Gordon Ireland. Boundaries,Possessions, and Conflictos in South America. Cambridge/Mass.: Harvard University Press, 1938, p. 1ss.;Gordon Ireland. Boundaries, Possessions, and Conflicts in Central and North America and the Caribbean.Cambridge/Mass.: Harvard University Press, 1941, p. 3-407; Ian Brownlie. African Boundaries A Legaland Diplomatic Encyclopaedia. London/Berkeley L.A.: C. Hurst & Co./University of California Press,1979, p. 3-1348.2 Cf., a respeito, e.g., Dunshee de Abranches. Rio Branco e a Poltica Exterior do Brasil (1902-1912).Vol. I. Rio de Janeiro: Graf. J.B., 1945, p. 15-168; Teixeira Soares. Histria da Formao dasFronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972, p. 11-393; Jos Carlos deMacedo Soares. Fronteiras do Brasil no Regime Colonial. Rio de Janeiro: Livr. Jos Olympio Ed., 1939,p. 8-212; Xavier de Oliveira. Rediviso Poltica e Territorial do Brasil. Rio de Janeiro: ImprensaNacional, 1946, p. 45-216; Lus Ferrand de Almeida. A Diplomacia Portuguesa e os Limites Meridionaisdo Brasil. Vol. I (1493-1700), Coimbra: Universidade de Coimbra, 1957, p. 1-562; MRE. A NovaPoltica de Fronteiras. MRE/Seo de Publicaes, 1968, p. 1-44; Teixeira Soares. Um Grande DesafioDiplomtico no Sculo Passado (1840-1928). Conselho Federal de Cultura, 1971,p. 3-229; J.M.N. Azambuja. Questo Territorial com a Argentina / Limites do Brazil com as GuyanasFranceza e Ingleza. Vol. I , Rio de Janeiro: Cia. Ed. Fluminense, 1891; p.3-314; Julio Rocha. O Acre:Documento para Histria da sua Ocupao pelo Brazil. Lisboa: Minerva Lusitana, 1903, p. 7-72;Thaumaturgo de Azevedo. Limites entre o Brasil e a Bolvia. Ministrio da Guerra, 1953, p. 7-33;MRE. A Fronteira Brasil-Paraguai. MRE/Seo de Publicaes, 1966, p. 3-48; Castilhos Goycochea.A Diplomacia de Dom Joo VI em Caiena. Rio de Janeiro: Ed. GTL, 1963, p. 3-223; Affonso Varzea.Limites Meridionaes (As Fronteiras com o Uruguai, Argentina e Paraguai), Rio de Janeiro: Alba, s/d, p.15-214; Joaquim Nabuco. O Direito do Brazil (Fronteiras do Brazil e da Guyana Ingleza, PrimeiraMemria). Paris: A. Lahure Ed., 1903, p. 1-392; Joaquim Caetano da Silva. LOyapoc et lAmazone:Question Brsilienne et Franaise. Paris: Impr. L. Martinet, 1861, vol. I, p. 1-529, e vol. II, p. 1-477;Baro do Rio Branco. Brazil and Bolivia Boundary Settlement Report, NY: Knickerbocker Press, s/d,p.1-44; Hlio Vianna. Histria das Fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Grf. Laemmert, s/d, p. 7-322; A. de LaPradelle e N. Politis. Larbitrage anglo-brsilien de 1904, 22 Revue du droit public et dela science politique en France et ltranger (1905) n 2, p. 241-345; J.S. da Fonseca Hermes eMurillo de Miranda Basto. Limites do Brasil-Descrio Geogrfica da Linha Divisria. Rio de Janeiro:Grf. Laemert, 1940, p. 3-131; Osvaldo Aranha. Fronteiras e Limites (A Poltica do Brasil). Rio deJaneiro: MRE/Seo de Publicaes, 1940, p. 5-21; Clvis Bevilaqua. Direito Pblico Internacional.Rio de Janeiro: Livr. Francisco Alves, 1910, p. 277-386.

contexto poltico mais amplo, inegvel que as consideraes de ordempreponderantemente poltica aduzidas pelas partes so tambm de relevnciaa uma anlise essencialmente jurdica da questo. Seno vejamos.

4. certo que a questo da demarcao dos limites fronteiriosrequereria per se um estudo parte1, que ultrapassaria em muito ospropsitos do presente parecer; tampouco me dado aqui discorrer sobre aquesto da demarcao dos limites fronteirios do Brasil de um modo geral2.

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3 Teixeira Soares. Histria da Formao das Fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura,1972, p. 210-211, 218 e 227-228.4 Demarcao estabelecida por um tratado de 1867 e autorizada por um protocolo de 1895; cf. Ibid., p.229-230.5 E insistiu: como se poderia proceder a uma demarcao isenta de paixes, se a regio andava empolvorosa e no poderia haver segurana para os demarcadores?; ibid., p. 229-230.6 Ibid., p. 240-243; da em diante, passaram 13 anos at que se chegasse s reversais de 1941, que alis,jamais foram cumpridas no terreno, porque se evidenciaram de todo irrealistas; ibid., p. 244.

Contudo, este aspecto mais amplo esteve presente nas notas brasileiras de26 de outubro de 1934 e 13 de outubro de 1937, que, invocando a obraquase secular em matria de limites do Brasil, advertiram para os riscos dediscusses ou reabertura de pontos pacficos e definitivamente resolvidose as conseqncias imprevisveis que poderia isso acarretar para as relaesdo Brasil com os seus numerosos vizinhos. Permito-me insistir, nesteestgio preliminar de considerao do presente caso, e sem escapar dosparmetros da consulta que me foi formulada, em que este aspecto maisamplo no deve passar despercebido tampouco na apreciao da notauruguaia de 27 de maro de 1985: com efeito, o alcance do tratamento aser dado ao ponto levantado pelo Uruguai de modo algum se limitariaapenas fronteira brasileiro-uruguaia, e poderia vir a repercutir nas relaesdo Brasil com os outros pases vizinhos no tocante a suas respectivasfronteiras.

5. A esse respeito, recorde-se, por exemplo, in passim, a srie deincidentes e percalos (em 1837, 1844-1845, 1853, 1863, 1867-1868) napendncia da definio e caracterizao da fronteira brasileiro-boliviana3, quelevou um estudioso da matria at mesmo a indagar a certa altura: comose poderia demarcar4 se ainda no se encontrava perfeitamente caracterizadaa presena do Brasil no territrio, presena estribada em ttulos jurdicosinquestionveis?5 Com efeito, houve, por parte da Comisso MistaBrasileiro-Boliviana Demarcadora de Limites (que atuou na regio de 1874a 1877), um erro que causou perda de territrio Bolvia; mas o erro nofoi corrigido com a necessria presteza: somente quando os dois Governosassentaram executar o Tratado de Petrpolis de 1903, insistiu a Bolvia emum reexame do marco. Em 1909 procedeu-se ao reconhecimento, constatou-se o erro, mas o marco erradamente plantado no foi retirado ou mudado.O marco do rio Turvo (que se supusera ser o do rio Verde) foi solenizadopelo Tratado de Natal de 1928, entre o Brasil e a Bolvia6.

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7 Para outra alegao de erro grave mas involuntrio em relao a um acordo de 1867, entre Brasil e Bolvia,supostamente constatado em 1874, cf. Hlio Vianna. Histria das Fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Grf.Laemmert, s/d, p. 223.8 Hildebrando Accioly. Le Brsil et la doctrine de luti possidetis, 15 Revue de droit international. 1935, p.36-45.

6. Esta no foi a nica alegao de erro7 no caso, mas suficientecomo ilustrao das dificuldades na prtica de sua invocao (cf. infra), e,ainda mais importante, serve como pertinente advertncia contra qualquerpretenso revisionista em relao aos tratados de limites do Brasil. Recorde-se, ademais, para citar outro caso, que em nota de 1966 o Governo brasileirorefutou categoricamente a pretenso do Governo paraguaio de reaberturaou reviso de demarcao e caracterizao da fronteira brasileiro-paraguaia(cf.detalhes infra). Conforme demonstrou Accioly em artigo publicado em1935, jamais houve, por parte do Brasil, usurpao ou conquista do territrio,ou em caso que no tivesse optado por mtodos de soluo pacfica dedelimitao territorial; jamais abusou o Brasil da fora ou do fato de contarcom populao mais numerosa, e a fixao dos seus limites se deu luz dodireito internacional8. Qualquer pretenso revisionista, sob alegao de errode demarcao ou controvrsia congnere, poderia desencadear tentativas derenegociao ou reconsiderao dos limites fronteirios no apenas como apresente por parte do Uruguai como, possivelmente, por parte de outrospases vizinhos, hiptese esta a ser descartada e tida como inadmissvel porparte do Brasil. Questes de detalhes e dificuldades como as acimarecapituladas encontram-se hoje definitivamente superadas pela histria esepultadas pelos reclamos da segurana e estabilidade jurdicas que, em ltimaanlise, inspiram os tratados de limites.

II. Natureza Jurdica, Efeitos e Alcance da Nota Uruguaia de 27 de Marode 1985

7. Um exame correto do presente caso requer, de incio,compreenso exata do gnero de documento diplomtico a que pertence anota uruguaia de 27 de maro de 1985. Para tal mister ter em mente tantoa natureza jurdica do referido documento quanto seu alcance e efeitosjurdicos. Configura-se a nota uruguaia como uma declarao unilateral dereserva de direito, a qual, tomada per se e isoladamente, ao momento de sua

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emisso, ainda no produz efeitos jurdicos concretos, sendo estes apenaspotenciais. Tal manifestao de vontade por parte de um Estado s acarretaconseqncias jurdicas a partir do momento em que o outro Estado emquesto toma conhecimento e.g. , pelo recebimento da nota diplomticacontendo a declarao do contedo e teor da reivindicao ou alegaoavanada. O fato jurdico desse conhecimento efetivo gera a impossibilidadepara o Estado destinatrio (da nota ou declarao) de alegar ignorncia dasituao ou alegao ou manifestao de vontade transmitida.

8. Um Estado, ao tomar a deciso de emitir uma declarao dereserva de direito ante uma situao que considera no atender a seus interesses,certamente no age movido pela conscincia de um dever jurdico strictosensu, mas antes movido por um juzo de necessidade ou conveninciapoltica. Neste domnio, os Estados permanecem mestres de seus prpriosdireitos e guias de seus prprios interesses. Por conseguinte, do mesmo modono pode haver a fortiori para o Estado destinatrio uma obrigao formalou um dever jurdico stricto sensu de responder uma nota ou declarao dereserva de direito. O Direito Internacional desconhece a existncia de qualquerregra que obrigue um Estado a responder uma nota diplomtica.

9. Embora haja quem considere desejvel que se d respostaadequada a toda comunicao diplomtica9, na verdade no se pode dizerque estejamos aqui diante de um dever estritamente jurdico. Tanto assimque, na teoria como na prtica, tem-se admitido a no-aceitao e mesmoa restituio de nota diplomtica. No ensinamento de Maresca, esta ltima um instrumento do ato unilateral de Direito Internacional, podendoconter, e.g., uma notificao, um protesto, uma proposta, umreconhecimento, um convite10; no surpreende, assim, que uma nota (e.g.,de protesto) possa perfeitamente ser restituda, at mesmo de imediato,dada la constatazione dell inaccettabilit della nota quanto alla forma incui redatta ou a estimativa de conseqncias adversas que seu recebimentopoderia acarretar11.

9 Daniel Antokoletz. Tratado Terico y Prctico de Derecho Diplomtico y Consular. Vol. I, Buenos Aires:Editorial Ideas, 1948, p. 363.10 Adolfo Maresca. Il Procedimento Protocollare Internazionale. Vol. I, Milano: Giuffr, 1969, p. 540-541,e cf. p. 585ss.11 Adolfo Maresca. Il Procedimento Protocollare Internazionale. Vol. II, Milano: Giuffr, 1969, p. 986-988.

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10. Um exemplo relativamente recente da prpria prtica brasileiradata de 4 de maro de 1977: naquele dia, a Embaixada dos Estados Unidosentregou ao Itamaraty um memorandum relativo mensagem que o PoderExecutivo norte-americano enviaria ao Congresso sobre a assistncia militaroferecida pelos Estados Unidos, a qual segundo a legislao norte-americana requereria do Poder Executivo a apresentao ao Congresso dos EstadosUnidos de um relatrio sobre a situao interna do Brasil (pas a serbeneficiado por aquela assistncia). O Governo brasileiro, reagindo deimediato a tal violao do princpio de no interveno em seus assuntosinternos, devolveu no mesmo dia o referido memorandum Embaixada dosEstados Unidos12 .

11. Tal atitude correta e perfeitamente admissvel na prticadiplomtica: pode certamente ocorrer, como tem ocorrido na prtica, queuma recusa em acatar os argumentos avanados em que uma nota diplomticaacarrete a rejeio ou no-aceitao ou devoluo desta ltima. Neste caso,the reason for the rejection is usually either the objectionable language of thedocument in question, or that it is a gross interference with the internal affairsof the addressee country, or both13.

12. Ora, se pode uma nota ser devolvida ou rejeitada, no hcomo sustentar um dever de receb-la e respond-la. A argumentao vitoriosado Camboja, no contencioso sobre delimitao fronteiria (caso do Templode Preah Vihear) com a Tailndia em 1962 perante a Corte Internacional deJustia (cf. infra), inequvoca sobre este ponto: Il n existe aucune rgle dedroit international qui oblige un gouvernement rpondre une notediplomatique 14.

13. No foi outra a concluso a que chegou a respeito umdetalhado levantamento do tratamento dado a um determinado tipo denota diplomtica (a de protesto) na prtica dos Estados, amparado por

12 E foi mais alm: por nota da mesma data, comunicou ao Governo norte-americano a recusa de sua inclusono programa de assistncia militar oferecida pelos Estados Unidos. MRE. Resenha de Poltica Exterior doBrasil, n 12, jan.-maro de 1977, p. 112-113.13 E. Satow. A Guide to Diplomatic Practice. 4 Ed., London: Long-mans, 1964, p. 76-77 (e cf. exemploprtico ali descrito).14 CIJ. Caso do Templo de Preah Vihear (Camboja versus Tailndia, 1962), Pleadings, Oral Arguments,Documents. vol. II, p. 202 (argumento na audincia de 5 de maro de 1962 do consultor jurdico doGoverno do Camboja, Paul Reuter).

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elucidativos dados estatsticos sobre sua eficcia relativa e varivel15: naprtica, tais notas tm gerado diferentes formas de reao, tais como, e.g.,resposta com vistas a uma soluo negociada, busca de um quid pro quosem qualquer relao intrnseca com a nota, contestao do argumentojurdico nelas contido, simples recusa expressa a consider-la (express refusalto consider it) ou seu arquivamento (quiet internment in the archives aftera period of negotiation)16.

14. A doutrina se orienta igualmente na mesma direo, conformepreceitua a tese sobre os atos jurdicos unilaterais no Direito Internacionalde Eric Suy, categrica ao revelar a inexistncia no Direito Internacionalcostumeiro de qualquer princpio de Direito Internacional que imponhaaos Estados o dever jurdico de, e.g., protestar contra uma determinadasituao: Si lEtat veut prserver ses droits, il doit, cette fin protester contreune violation ou une menace l encontre de ses droits, mais il ne sagit pas ldune obligation impose formellement par le droit 17.

15. No mesmo sentido, MacGibbon observa que a prticadiplomtica e a jurisprudncia internacional no revelam uma obrigaodos Estados de notificar suas pretenses a outros; ao contrrio, a notificaoformal de reivindicaes no estritamente obrigatria luz do DireitoInternacional. Relembra, por exemplo, que foi esta a posio do rbitrono caso da Ilha de Palmas (Estados Unidos versus Holanda, 1928); eigualmente no caso da Ilha Clipperton (Frana versus Mxico, 1931), orbitro disps-se a dispensar o requisito de notificao oficial18. Pode-seestar aqui diante de uma medida ou atitude recomendada como elementoprobatrio, mas, em concluso, no se est aqui diante de um dever jurdicostricto sensu.

15 Cf. J.C. Mckenna. Diplomatic Protest in Foreign Policy Analysis and Case Studies. Chicago: LoyolaUniversity Press, 1962, p. 40-41, 45-46, 51-52, 194 e 203; e cf. tambm discusso In: Eric Suy, op. cit.,Infra n 17, p. 75-76. Sobre a questo da relativa eficcia do ato unilateral (tal como o de protesto), j seobservou que este ltimo perderia sua fora a no ser que fosse apoiado por fatores adicionais (tal como, interalia, um contexto de negociao); cf., nesse sentido, I.C. MacGibbon. Some Observations on the Part ofProtest in International Law, 30 British Year Book of International Law. 1953, p. 310-319; A.P Rubin. TheInternational Legal Effects of Unilateral Declarations, 71 American Journal of International Law. 1977, p.7.16 J.C. Mckenna, op. cit., supra n 15, p. 23, e cf. p. 18 e 26; admite-se a prpria retirada de umareclamao.17 Eric Suy. Les actes juridiques unilatraux en droit international public. Paris: LGDJ, 1962, p. 68-70.18 I.C. MacGibbon. The Scope of Acquiescence in International Law, 31 British Year Book of InternationalLaw. 1954, p. 176-178.

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16. Uma deciso de responder ou no uma nota diplomtica recaino mbito da estrita discricionariedade do poder estatal. Cabe ao Estado, noentanto, seja qual for a deciso que vier a tomar (responder ou no a nota),pesar as conseqncias que podero advir da escolha do rumo que resolvertrilhar. Assim, por exemplo, o prprio silncio poder acarretar efeitosjurdicos: na maioria dos casos, pode ele ser tido como equivalendo a umaaceitao tcita pelo destinatrio de uma nova situao de fato a extinguirseus prprios direitos. Este um risco em que nenhum Estado estar dispostoa incorrer; mas nem por isso o princpio qui tacet consentire videtur h de sertido como revestindo-se em direito de um valor absoluto. Outros fatores(externos) havero de ser igualmente levados em conta, como, alm da atitudee reao do Estado destinatrio, e.g., o lapso de tempo, a assiduidade comque emitida e manifestada a reserva de direito, a gravidade da situao19.De todo modo, cumpre ter sempre presente o instituto do estoppel no DireitoInternacional, que se expressa precisamente na mxima, supra citada, alleganscontraria non audiendus est: seu propsito essencial impedir que umaparte se beneficie de sua prpria inconsistncia em detrimento de outra parteque se baseou de boa f em uma representao de fato feita pela primeira; afigura ou regra do estoppel, em suma, tem sua fonte na conduta ou nasdeclaraes das partes, e visa evitar inconsistncia, baseando-se no princpioda boa f no Direito Internacional20.

17. Se esta linha de ponderaes pesar suficientemente de modo alevar o Estado concluso de que no poder silenciar-se, haver ele, ento,que atentar para o risco de uma atitude oposta, qual seja, a de responderuma nota declaratria de reserva de direito. O risco consiste aqui basicamenteem contribuir decisivamente para a pronta configurao de uma situao decontrovrsia internacional, o que pode no atender a seus prprios interessese ser precisamente o que busca a outra parte. Assim, cabe ao Estado considerarno apenas o contedo mas, tambm, a forma a ser dada possvel resposta(se se optar por esta).

19 Eric Suy. Les actes juridiques unilatraux en droit international public. Paris: LGDJ, 1962 p. 61 e 80, ecf. p. 30.20 D.W. Bowett. Estoppel before International Tribunals and Its Relation to Acquiescence, 33 British YearBook of International Law. 1957, p. 177 e 193, e cf. p. 176-202; e cf. Elisabeth Zoller. La bonne foi en droitinternational public. Paris: Pdone, 1977, p. 274-297.

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18. A forma escolhida poder dar um carter mais, ou menos,solene situao em foco, conforme melhor convier ou Parecer a cada parte(e.g., resposta por outra nota diplomtica, ou explicaes verbais apenas, oubreve referncia questo consignada na nota anterior em comunicadoconjunto por ocasio de eventual encontro de chanceleres, ou breve referncia questo descrita na nota anterior em ata de eventual conferncia de ComissoMista sem que nela conste a declarao unilateral de reserva, e assim pordiante). Forma e substncia esto aqui inelutavelmente interligadas, como jbem se observou, de modo geral e em termos mais abstratos: Le languagetant lunique vhicule de la pense, en Droit comme en science de Droit, il nya pas une question de fond, dans la besogne du juriste, qui ne soit pas la foisquestion de forme21.

III. Os Argumentos do Brasil

19. Responder ou no a recente nota uruguaia uma deciso polticaque compete em ltima anlise ao Ministrio das Relaes Exteriores e Presidncia da Repblica e para a qual podero contribuir as consideraesde cunho jurdico aqui desenvolvidas. Esta faculdade de deciso poltica autorizada e viabilizada pela inexistncia de regra de Direito Internacionalque obrigue juridicamente um Estado a responder uma nota diplomtica.No presente caso, houve por bem o Governo brasileiro responder (pelasnotas de 26 de outubro de 1934, 13 de outubro de 1937, 6 de dezembro de1937 e 4 de abril de 1938) as quatro notas anteriores do Governo uruguaio(respectivamente, de 10 de agosto de 1934, 1 de setembro de 1937, 8 denovembro de 1937 e 7 de fevereiro de 1938). Como j observado, estacorrespondncia se absteve de ingressar no campo de Direito InternacionalPblico propriamente dito (supra), e, como pertinentemente observado peloGoverno brasileiro em sua ltima nota sobre a matria, a de 4 de abril de1938 (pargrafo 9), o Governo uruguaio no contestara um s dosargumentos apresentados pelo Brasil j na primeira nota de 26 de outubrode 1934 e no dera a ela qualquer resposta, permitindo o prosseguimentodos trabalhos de demarcao.

21 F. Longchamps. Sur le problme du droit subjectif dans les rapports entre lindividu et le pouvoir,Mlanges en lhonneur de Paul Roubier, vol. I, Paris: Dalloz/Sirey, 1961, p. 319, e cf. p. 305.

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20. A nota uruguaia recente, de 27 de maro de 1985, tampoucoresponde ou contesta, e sequer se refere aos argumentos aduzidos peloBrasil desde a primeira nota de 26 de outubro de 1934 (tais como,demarcao correta e impossibilidade de reviso, decurso de 78 anos semque qualquer dvida fosse levantada sobre a interpretao do artigo 3 (2)do Tratado de Limites entre Brasil e Uruguai de 1851, fixao definitivada fronteira e inviolabilidade de atos internacionais), preferindo insistirem suas prprias alegaes (notas uruguaias anteriores), acrescidas de umelemento novo, a referncia ao estabelecimento oficial na zona de um ncleode povoamento (Vila Albornoz). Sendo assim, uma possvel respostabrasileira nota uruguaia de 27 de maro de 1985 poderia reiterar osargumentos avanados pelo Brasil desde 1934 e insistir na necessidade deuma resposta do Governo uruguaio aos mesmos, abstendo-se no presenteestgio de apresentar novos argumentos do ponto de vista do DireitoInternacional Pblico (cf. infra).

21. Os argumentos e consideraes que desenvolverei a seguir, luz do Direito Internacional Pblico, no teriam necessariamente, no atualestgio de evoluo da questo, que ser reproduzidos ou mencionados emuma possvel resposta brasileira ltima nota uruguaia, e poderiam serreservados pelo Governo brasileiro para ocasio futura em que se julgassechegado o momento adequado de utiliz-los, particularmente, e.g., se equando o Governo uruguaio vier a sugerir ou propor consoante suaviso do caso recurso a meios de soluo pacfica de controvrsiasinternacionais. De todo modo, parece-me necessrio e convenientet-los desde j claramente em mente. inquestionvel que, desde atroca de notas da dcada de 1930 (1934 e 1937-1938) entre Brasil eUruguai o corpus juris gentium experimentou uma extraordinriaexpanso, refletida na doutrina, jurisprudncia e prtica dos Estados,a que no faz exceo a prtica do Brasil22. No caso que nos ocupa, comose ver a seguir, a evoluo e expanso do Direito Internacional Pbliconas cinco ltimas dcadas no apenas continuam a dar claro respaldo comotambm fortalecem a posio desde o incio mantida consistentementepelo Brasil.

22 Cf. A. A. Canado Trindade. Repertrio da Prtica Brasileira do Direito Internacional Pblico. 3 vols.(Perodos 1919-1940, 1941-1960 e 1961- 1981). Braslia: Funag, 1984.

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1. A Configurao ou no de uma Controvrsia Internacional

22. A nota uruguaia de 27 de maro de 1985 esfora-sevisivelmente em tentar configurar a existncia de uma diferena limtrofee territorial de tipo demarcatrio. O raciocnio uruguaio destaca-se porseu teor de todo simplista e tautolgico: haveria uma controvrsiainternacional porque o Governo uruguaio afirma haver uma controvrsiainternacional. No deve ser esse o entendimento do Brasil. A configuraode uma controvrsia internacional foi descrita em dictum clssico de 1924,vlido e freqentemente citado at nossos dias pela antiga Corte Permanentede Justia Internacional, no caso das Concesses Mavrommatis na Palestina(Grcia versus Reino Unido): Uma controvrsia uma discrepncia sobreuma questo de direito ou de fato, um conflito de posies jurdicas ou deinteresses entre duas pessoas23. A esses elementos a atual Corte Internacionalde Justia acrescentou, em 1962, no caso do Sudoeste Africano (Etipia eLibria versus frica do Sul) outro fator significativo: advertiu no sersuficiente que uma das partes afirme ou negue a existncia de umacontrovrsia, sendo necessrio demonstrar que a reclamao de uma partese defronta com a oposio manifesta da outra24.

23. Assim, configura-se uma controvrsia internacional medianteuma discrepncia ou divergncia, clara ou concreta, entre duas ou maispartes, sobre uma determinada questo de direito ou de fato. No caso, ofato de o Uruguai alegar a existncia de uma controvrsia internacionalno suficiente para a configurao de tal controvrsia. No poderia assimproceder fazendo abstrao da posio do Brasil. Da o necessrio cuidadoque deve inspirar qualquer manifestao de posio por parte do Governobrasileiro.

24. Em Direito Internacional, a delimitao de fronteiras umaoperao jurdico-poltica de fixao do alcance e limites espaciais do poderestatal, ao passo que a demarcao uma operao tcnica de execuo edeterminao do solo territorial dos termos de uma delimitao

23 CPJI. Srie A, n. 2, 1924, p. 11.24 CIJ. ICJ Reports. 1962, p. 328. Da a expresso competing claims/prtentions concurrentes usada pelaCorte Permanente de Justia Internacional no caso do Status Jurdico da Groenlndia Oriental (Dinamarcaversus Noruega, 1933); CPJI. Srie A/B, n 53, 1933, p. 46.

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estabelecida25. No pertinente ensinamento de Charles de Visscher, sendo ademarcao une opration technique dexcution, les commissaires ladmarcation nont, en principe, aucun pouvoir de modifier le trait 26.

E o critrio bsico de interpretao dos tratados de fronteiras precisamente o da estabilidade das delimitaes. A histria est repleta deexemplos de dificuldades de demarcao geradas por particularidades quepossam ter escapado aos negociadores dos tratados, imprecises topogrficase outras imperfeies, que, nem por isso, acarretam a reviso ou alteraesdas limitaes nos tratados27. No presente caso, porm, o Governo uruguaio,quase oito dcadas depois da demarcao de 1852-1856 (consoante o Tratadode Limites entre Brasil e Uruguai de 1851), resolveu, aparentementeprontificado por uma palestra de um gegrafo uruguaio (Sr. Elzear S. Giuffra)proferida em Montevidu em junho de 1934, tentar obter uma reaberturaou reviso da questo, para este propsito optando surpreendentemente poruma linha de argumentao jurdica particularmente vulnervel: a do supostoerro de fato na demarcao limtrofe.

2. O Erro no Direito dos Tratados e a Conduta Subseqente das Partes

25. A Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969admite o erro como vcio do consentimento: o que dispe o artigo 48,que, em seu pargrafo 1, especifica tratar-se de erro referente a um fato ousituao que um Estado julgou existir na poca em que o tratado foiconcludo e que constituiu uma base essencial de seu consentimento emobrigar-se por um tratado. Mas a linguagem da Conveno de Viena essencialmente restritiva, pois o pargrafo 2 do mesmo artigo prontamenteacrescenta que o pargrafo anterior no se aplicar se o referido Estadocontribuiu para tal erro por sua conduta ou se as circunstncias foram tais

25 Charles de Visscher. Problmes de confins en droit international public. Paris: Pdone, 1969, p. 28. So,assim, claramente distintos os problemas to-somente de demarcao dos que envolvem reivindicaesterritoriais propriamente ditas; A.J. Day (ed.), Border and Territorial Disputes. London: Longman, 1982, p.IX. Sobre a distino entre delimitao e demarcao. cf. tambm D. Bardonnet, Les frontires terrestres etla relativit de leur trac, 153 Recueil des Cours de l Acadmie de Droit International. 1976, p. 23-25, 50-52 e 56, 25-31 e 92 (carter definitivo e permanente das fronteiras), 48-49 (especificidades das questesde delimitao), e cf. p. 32-40 e 54-56 (dificuldades prticas).26 Ch. De Visscher. Problmes de confins..., op. cit., supra n 25, p. 28.27 Cf. ibid., p. 28-30.

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que o Estado podia ter sido advertido da possibilidade de erro. A Comissode Direito Internacional da ONU, em seu Projeto de Artigos comentado(de 1966) que serviu de base Conveno de Viena de 1969, advertiu queum suposto erro em relao a uma matria que no constitusse uma condiodo acordo no seria suficiente para invalidar o consentimento28. A limitaocontida no pargrafo 2 do artigo 48 (supra) afigura-se como reminiscnciada deciso da Corte Internacional de Justia no caso do Templo de PreahVihear (cf. infra), como fez questo de observar a prpria Comisso de DireitoInternacional em seu Projeto de Artigos comentado de 196629.

26. Em um recente estudo a ser publicado proximamenteno Brasil sobre o Tratado Brasileiro-Uruguaio de 1909 e a reviso doTratado de Limites de 1851 de uma perspectiva atual, precisamente umilustre internacionalista uruguaio, com ampla experincia no campo dodireito internacional, Hctor Gros Espiell, quem admite expressamente queo progresso da incluso do erro no regime referente nulidade de tratadosda Conveno de Viena de 1969 no chegou e nem podia chegar a provocara reviso de tratados na prtica do direito internacional contemporneo. Aalegao de erro ou injustia, no dizer de mestre uruguaio, no , no direitointernacional, uma causa autnoma de nulidade: tem-se que compreenderque no atual grau de evoluo e desenvolvimento da comunidade internacional impossvel pensar que um rgo jurisdicional possa chegar a anular umtratado com base na comprovao da injustia que contenha ou da injustiaque surja de sua aplicao; assim, s possvel, pelo menos at essemomento, pensar em anulao ou no-aplicao de um tratado injusto, comoconseqncia de um acordo de vontade das partes30.

27. A Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969contm outros dispositivos de relevncia aos presentes propsitos: oartigo 62 (2)(a), por exemplo, dispe que uma mudana fundamental de

28 Cf. United Nations Conference on The Law of Treaties Official Records, Documents of the Conference(1968-1969). NY: United Nations, 1971, p. 63. A Comisso, ademais, embora admitindo a dificuldadede distinguir nitidamente erro de fato de erro de direito, precisou que aqui se estava diante da hiptese deerro relativo a um fato ou situao apenas.29 Cf. ibid., p. 64.30 Hctor Gros Espiell. O Tratado Brasileiro-Uruguaio de 1909 e a Reviso, por Razo de Justia, doTratado de Limites de 1851, 84 Revista de Informao Legislativa do Senado Federal (1984-1985) (noprelo) (texto mimeografado, no-publicado, p. 1-2 e 20).

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circunstncias no pode ser invocada como causa para a extino ou retiradado tratado: a) se o tratado for de limites. esta uma demonstrao cabal docarter definitivo dos tratados de fronteiras (cf. infra). Alm disso, na seoda Conveno de Viena relativa interpretao de tratados, o artigo 31(3)(b) determina que ser levada em conta, juntamente com o contexto, interalia, qualquer prtica posterior na aplicao do tratado pela qual fiqueestabelecido o acordo das partes relativo sua interpretao. Sobre este ponto,antes mesmo da Conveno de Viena, Jean-Pierre Cot, em estudo sobre aconduta subseqente das partes a um tratado, admitia precisamente que talconduta pode constituir-se em meio de interpretao do tratado, e, seconstante e precisa, em elemento probatrio destinado a produzir efeitojurdico; mas se, ao contrrio, tal conduta for hesitante, contraditria ouinspirada pelo desejo de melhorar sua prpria posio, consubstanciada emexpresses isoladas em uma correspondncia, dificilmente ter ela valorprobatrio31. O requisito da constncia da prtica ulterior tem clara explicao:h uma preocupao em ne pas troubler une situation de fait, em no atentarcontra la stabilit de lordre juridique effectif au nom dune vrit hypothtiquee em assegurar la scurit des engagements internationaux 32. Assim, Cot inequvoco ao concluir que a conduta subseqente peut naturellement couvrirle vice de consentement 33.

3. O Valor da Aquiescncia e da Contestao Luz da JurisprudnciaInternacional

28. Ora, no presente caso, a conduta do Brasil tem sido sempreconstante e coerente (em defesa da inviolabilidade dos tratados e fixaodefinitiva das fronteiras), ao passo que a conduta do Uruguai tem sidodescontnua, com a manifestao de sua declarao unilateral de reserva dedireito (em 1934, 1937-1938, 1941-1943 e 1985) entremeada com

31 Jean-Pierre Cot. La conduite subsquente des parties un trait, 37 Revue gnrale de droit internationalpublic. 1966, p. 646 e 653, e tambm p. 636, 645, 648-649, 651-652, 656 e 658.32 Ibid., p. 652 e 666. Sobre a importncia da constncia da prtica, cf. tambm I.C. MacGibbon,Customary International Law and acquiscence, 33 British Year Book of International Law.1957, p. 125.33 J.P. Cot, op. cit., supra n 31, p. 659; a esse respeito, relembra Cot que, no caso do Templo de Preah Vihear(cf. infra), como as autoridades siamesas aceitaram o mapa elaborado pelo oficiais franceses sem pesquisarempor sua prpria conta, no poderiam depois invocar um erro viciando seu consentimento.

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prolongados perodos de silncio e aquiescncia (1856 a 1934, 1943 a 1974,ano em que o Governo uruguaio publicou mapa oficial da Repblica indicandoos chamados limites contestados). Os comportamentos distintos de Brasil eUruguai podem ser apreciados luz da jurisprudncia internacional, bastanteelucidativa a respeito. Assim, no caso do Direito de Passagem sobre TerritrioIndiano (Portugal versus ndia 1960), a Corte Internacional de Justia ponderouque como os britnicos encontraram os portugueses ocupando a regio e nelaexercendo autoridade administrativa ampla e exclusiva, e como noreivindicaram eles prprios soberania e preferiram reconhecer tacitamente oupor implicao a soberania portuguesa, no havia como negar que as vilas naregio adquiriram o carter de enclaves portugueses em territrio indiano34.Para a Corte, tampouco havia como negar que uma prtica contnua eclaramente estabelecida entre dois Estados, aceita por ambos, deveriadeterminar ou formar a base de seus direitos e obrigaes recprocos 35.

29. Em outra contenda perante a Corte Internacional de Justia, ocaso de Minquiers e Ecrehos (1953) opondo o Reino Unido Frana, avanou-se o mesmo tipo de argumentao: na audincia de 30 de setembro de 1953,um dos agentes do Governo francs no caso, o Professor Andr Gros,consultor jurdico do Ministre des Affaires trangres, argumentou, combase na jurisprudncia internacional e na doutrina, que

Sans doute une protestation isole, non reprise pendant de trslongues annes, ne signifierait-elle pas grandchose; le silence prolongaprs une telle protestation pourrait mme tre considr comme unabandon par ltat en cause de sa revendication. Mais dans notreaffaire, la France a maintenu ses protestations prsentes la mmoiredu Gouvernement du Royaume-Uni sans interruption36.

30. Como j bem se advertiu a respeito, lquit comme le droitpositif, se range au ct du vigilant: elle abandonne lindolent son sort 37.

34 CIJ. caso do Direito de Passagem sobre Territrio Indiano (Portugal versus ndia), Julgamento de 12 de abrilde 1960, ICJ Reports. 1960, p. 39.35 Ibid., p. 39 e 44.36 CIJ. Caso de Minquiers e Ecrehos (Reino Unidos versus Frana), Mmoires, Plaidoiries et Documents.1953, vol. II, p. 269-270.37 Charles de Visscher. De lquit dans le rglement arbitral ou judiciaire des litiges de droit internationalpublic. Paris: Pdone, 1972, p. 46.

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No caso Grisbardarna, opondo dois Estados europeus (Noruega versus Sucia,1909), a Corte Permanente de Arbitragem foi mais alm: endossou oprincpio bem estabelecido do direito internacional (settled principle ofthe law of nations) de que se deve abster tanto quanto possvel de modificarum estado de coisas que de fato existe e tem existido por um longotempo38.

31. A jurisprudncia arbitral concernente a pases latino-americanosfornece ilustraes pertinentes e elucidativas aos propsitos do presenteparecer. Assim, por exemplo, no caso da Fronteira entre Costa Rica e Nicargua(1888), a Nicargua argumentou que um tratado (de 1858) de limites noera em seu entender obrigatrio porque El Salvador no o ratificaracomo pas garante. O rbitro (norte-americano) rejeitou tal argumentorelembrando a aquiescncia, por 10 ou 12 anos, da Nicargua, quanto validade do tratado. E acrescentou significativamente.

The non-ratification by the Republic of San Salvador wasknown to the Governament of Nicaragua when ratifications wereexchanged with Costa Rica. It follows therefore that Nicaraguanever lost any of the considerations which induced her toconsummate, by an exchange of ratifications, the negotiations forthe treaty.(...)

(...)The Government of Nicaragua was silent when it ought tohave spoken, and so waived the objection now made. It saw fit toproceed to the exchange of ratifications without waiting for SanSalvador.

(...) They [Costa Rica na Nicaragua] did so, irrevocably, by aformal exchange of ratifications; and neither may now be heard toallege, as reasons for rescinding this completed treaty, any facts whichexisted and were known at the time of its consummation 39.

32. Anos depois, no caso da Fronteira entre Guatemala e Honduras(1933), o Tribunal Arbitral ponderou que certas afirmaes de soberania e

38 M.O. Hudson. Cases and Other Materials on International Law. 3. ed., St. Paul/Minn.: West Publ. Co.,1951, p. 261.39 John Bassett Moore. History and Digest of International Arbitrations. Vol. II, Washington: GovernmentPrinting Office, 1898, p.1959-1961.

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outros atos pblicos emanando da Guatemala revelavam claramente que aGuatemala entendia que a regio fazia parte do seu territrio. Ora, theseassertions invited opposition on the part of Honduras if they were believed to beunwarranted, e cabia examinar no caso qual havia sido o comportamento deHonduras no tocante ao territrio em questo e in answer to the above-mentioned proceedings of Guatemala 40.

33. Tambm houve casos em que a questo da aquiescncia ou dacontestao serviu de base argumentao de uma das partes litigantes. Assim,por exemplo, no caso da Fronteira da Colmbia e Venezuela (1922), oargumento colombiano baseou-se, com xito, na ausncia de protesto oureclamao por parte da Venezuela em duas ocasies (quando da ocupaopela Colmbia da bacia do Orinoco em 1900, e quando da cesso pelaColmbia ao Brasil de parte dos territrios em litgio em 1907)41, o quelevou a Colmbia a sustentar que labsence de protestation est, en droitinternational, une des formes de lacceptation ou de la reconnaissance de certainsfaits 42.

34. Recentemente, o (ltimo) laudo arbitral de 1977 no caso doCanal de Beagle (Chile versus Argentina) admitiu, a contrrio das pretensesargentinas, o recurso prtica subseqente das partes a um tratado comoelemento de interpretao ou de confirmao; no caso, no passoudespercebido aos cinco juzes que, enquanto uma das partes (a Argentina)adotara uma posio flutuante e incerta no decorrer dos anos, a outra (oChile) jamais modificara em princpio sua tese inicial, e no decorrer dosanos mantivera uma atitude sempre constante que se constitua em elementode fora probatria43. No surpreende, pois, que o referido laudo tenha seinclinado em favor da tese chilena. A jurisprudncia internacional, como odemonstram os exemplos acima, se inclina francamente em favor do tipo decomportamento adotado e constantemente seguido pelo Brasil no presentecaso.

40 United Nations. Reports of International Arbitral Awards. Vol. II, p. 1327, e cf. p. 1330 (sobre aausncia de oposio de Honduras).41 Nations Unies. Recueil des Sentences Arbitrales, vol. I , p. 280.42 Ibid., p. 251.43 J. Dutheil de la Rochre. Laffaire du Canal de Beagle (Sentence rendue par la Reine dAngleterre le 22avril 1977), 23 Annuaire franais de droit international. 1977, p. 427-429, 410 e 430.

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4. A Fora da Aquiescncia e a Insuficincia da Alegao de Erro comoVcio do Consentimento

35. J se sugeriu que, no direito internacional, a aquiescncia talveztenha um campo de aplicao mais amplo do que o da prescrio, alm deuma funzione legittimatrice, estendendo-se da esfera dos direitos subjetivosat possivelmente mesmo ao campo normativo; na expresso de Sperduti,lacquiescenza non il silenzio in generale, ma il silenzio di chi poteva opporsi 44.

No presente caso, como j se ressaltou, o Governo uruguaio slevantou a questo do suposto erro de fato de demarcao limtrofe 78 anosaps os trabalhos de demarcao de 1852-1856. Tal atitude choca-se noapenas com os preceitos da boa doutrina do direito internacional: o prpriocontencioso interestatal que vem, em consonncia com a doutrina, fornecerelementos de eloqente apoio posio consistente e coerente sempre adotadapelo Brasil. H dois precedentes que, por serem particularmente significativose relevantes aos propsitos deste parecer, merecem destaque e ateno especial:o contencioso do Templo de Preah Vihear (1962) entre Camboja e Tailndia,possivelmente o mais importante caso at o presente para o estudo da matriaque ora nos ocupa, e a contenda entre Honduras e Nicargua relativa Sentena Arbitral de 1906 do Rei da Espanha (1960). Ambos requerem umexame mais detalhado.

a) O Contencioso Camboja versus Tailndia (1962) e sua Repercusso

36. Em cause clbre em que efetivamente se invocou erro comovcio do consentimento, a orientao jurisprudencial foi claramente no sentidode descartar o argumento do erro e apontar condies em que no pode esteoperar como vcio do consentimento. Trata-se do caso, particularmenteelucidativo, do Templo de Preah Vihear (1962), opondo o Camboja Tailndia, perante a Corte Internacional de Justia. A regio fronteiria, ondese situa o Templo, fora objeto de um tratado de limites em 1904, entre o

44 G. Sperduti. Prescrizione, Consuetudine e Acquiescenza in Diritto Internazionale, 44 Rivista di DirittoInternazionale. 1961, p. 7-8 e 11; naturalmente a aquiescncia h de ser examinada caso por caso (ibid.,p. 15).

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ento Sio (Tailndia) e a Frana (o Camboja sendo na poca a IndochinaFrancesa), tendo os trabalhos de delimitao se estendido at 1908. OCamboja invocou o mapa existente (produzido em 1907 pelas autoridadesfrancesas a pedido do Sio) em apoio a sua reivindicao de soberania; aTailndia questionou a validade do mapa por no ter sido produto dotrabalho da Comisso Mista, e, muitos anos depois, alegando no se terdado conta da importncia do Templo na poca do acordo de limites, invocouerro como vcio do consentimento.

37. De incio, um ponto significativo45 que no passoudespercebido Corte foi o fato de que o referido mapa, equivocado ouno, foi efetivamente aceito pela Tailndia sem protestos ou comentrios, eo prncipe siams Damrong chegou a agradecer as autoridades francesas pelomapa e solicitar quinze cpias adicionais do mesmo. Sobre esta questo dautilizao de mapas na soluo de controvrsias fronteirias internacionais, de se observar que, j em 1933, advertia Hyde para a insuficincia de mapasmais antigos, que no eram precisos, referindo-se particularmente aos atinentesa regies da Amrica do Sul e Amrica Central46. Recentemente, o laudoarbitral de 1977 no caso do Canal de Beagle (Chile versus Argentina) voltoua reconhecer a grande reticncia com que as instncias internacionais tmutilizado mapas expresso grfica de uma situao de fato como meiode prova:

Il ntait pas question de trouver dans une carte la preuvedune ventuelle modification du trac dune frontire, ou duneattribution de territoire opre par un trait; de mme les cartesntaient pas utilises quavec la plus extrme rserve pour confirmerou prciser une frontire incertaine ou une attribution de territoireambigue47.

45 Salientado por R.Y. Jennings. The Acquisition of Territory in International Law. Manchester/NY: ManchesterUniversity Press/Oceana, 1963, p. 47.46 Ch.Ch. Hyde. Maps as Evidence in International Boundary Disputes, 27 American Journal of InternationalLaw. 1933, p. 312-314, e cf. p. 311-316; e cf. tambm, sobre a matria, mais recentemente, G. Weissberg.Maps as Evidence in International Boundary Disputes: A Reappraisal, 57 American Journal of InternationalLaw. 1963, p. 781-803.47 J. Dutheil de la Rochre, op. cit., supra n 43, p. 431.

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38. Mas voltando ao caso do Templo de Preah Vihear, quepresentemente nos ocupa, a deciso da Corte Internacional de Justia foiaqui inequvoca. Comeou por advertir que cabia s autoridades siamesasmanifestar em um prazo razovel a sua discordncia quanto aos mapas, oque no fizeram, incorrendo da em aquiescncia: qui tacet consentire videtursi loqui debuisset ac potuisset 48. A Corte rejeitou a alegao tailandesa, dedesconhecimento na poca da importncia do Templo, como semfundamento jurdico, e acrescentou significativamente: On ne saurait endroit rclamer des rectifications de frontire pour le motif quune rgion frontirese rvlerait prsenter une importance inconnue ou insouponne au momentde ltablissement de la frontire 49.

E a Corte da Haia foi mais alm:

Cest une rgle de droit tablie quune partie ne saurait invoquerune erreur comme vice du consentement si elle a contribu cetteerreur par sa propre conduite, si elle tait en mesure de lviter ou siles circonstances taient telle quelle avait t avertie de la possibilitdune erreur 50.

39. Mesmo se houvesse dvida quanto aceitao pelo Sio(Tailndia) do mapa utilizado em 1908, acrescentou a Corte, luz dos eventossubseqentes a Tailndia, em virtude de sua prpria conduta, no poderiahoje afirmar que no havia aceito o mapa51. Um dos juzes, em explicaode voto, asseverou que no admissvel a inconsistncia entre reivindicaesou alegaes avanadas por um Estado e sua conduta prvia em relao aelas: allegans contraria non audiendus est. No se pode admitir que um Estadose beneficie da inconsistncia de sua prpria conduta em prejuzo oudetrimento de outro Estado: nemo potest mutare consilium suum in alteriusinjuriam. Por conseguinte, uma parte que, por sua conduta ou seu silncio,manteve uma atitude manifestamente contrria ao direito que passa a seguir

48 ICJ Reports. Julgamento de 15 de junho de 1962, p. 23.49 Ibid., p. 25.50 Ibid., p. 26. Para a Corte, a Tailndia aceitara uma delimitao cujo efeito era o de atribuir soberania sobreo Templo de Preah Vihear ao Camboja; ibid., p. 30.51 Ibid., p. 32.

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a reivindicar, no pode reclamar este direito: venire contra factum propriumnon valet 52.

40. A deciso da Corte, integralmente favorvel ao Camboja53,repercutiu prontamente na doutrina. Charles de Visscher, em um de seusltimos estudos monogrficos, qualificou a deciso de uma contribuioimportante ao mtodo de interpretao a ser seguido nos litgios fronteirios,que constituem em nossos dias o aspecto verdadeiramente atual das contendasterritoriais54. E Cukwurah, em sua tese doutoral sobre a soluo de disputasfronteirias no direito internacional, destacou da deciso o elemento deestabilidade como o objeto primrio da delimitao de fronteiras55.

41. A prpria Corte Internacional de Justia, ao declarar que aconduta subseqente da Tailndia confirmara e corroborara sua aceitaoinicial do limite fronteirio e que ambas as partes por sua condutareconheceram a linha como constituindo desde ento a fronteira56, arrematouem termos inequvocos:

Dune manire gnrale, lorsque deux pays dfinissent entre euxune frontire, un de leurs principaux objectifs est darrter une solutionstable et dfinitive. Cela est impossible si le trac ainsi tabli peuttre remis en question tout moment, sur la base dune procdureconstamment ouverte, et si la rectification peut en tre demandechaque fois que lon dcouvre une inexactitude par rapport unedisposition du trait de base. Pareille procdure pourrait se poursuivreindfiniment et lon natteindrait jamais une solution dfinitive aussilong temps quil resterait possible de dcouvrir des erreurs. La frontire,loin dtre stable, serait tout fait prcaire. (...) Lobjectif essentieldes parties dans les rglements de frontires de 1904 1908 taitdaboutir une solution certaine et dfinitive 57.

52 Ibid., explicao de voto de Juiz Alfaro, p. 40, e cf. p. 49-51, para exemplos da jurisprudnciainternacional de aplicao do princpio segundo o qual cabe rejeitar as alegaes contrrias aos atos de ummesmo Estado (inconsistncia de conduta).53 cf. ibid., p. 36-37.54 Charles de Visscher. Les effectivits du droit international public. Paris: Pdone, 1967, p. 113.55 A.O. Cukwurah, The Settlement of Boundary Disputes in International law. Manchester: University Press/Oceana, 1967, p. 214, 230 e 133.56 ICJ Reports, Julgamento de 15 de junho de 1962, p. 33.57 Ibid., p. 34.

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42. A deciso da Corte veio a influir, como j indicado (supra), naprpria acepo restritiva do erro como vcio do consentimento constanteda Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969. No caso doTemplo de Preah Vihear, nas audincias perante a Corte (de 3 e 5 de marode 1962), um dos consultores jurdicos do Governo cambojano, o ProfessorPaul Reuter, insistiu no fato de que o Sio (Tailndia) no fizera reservaalguma ao tratado de limites (de 1904), e s muitos anos depois alegou adescoberta de um erro. Este ltimo no poderia, pois, modificar a situao,referindo-se a uma questo de detalhe que melhor seria abandonar58. Teriasido extremamente fcil ao Sio (Tailndia) inserir, na poca oportuna,uma reserva, mas ao invs disso, preferiu a Tailndia guardar silncio, e somentedepois de vrios anos resolveu tirar conseqncias do erro descoberto59.Ora, acrescentou Reuter,

Le temps exerce en effet une influence puissante surltablissement et la consolidation des situations juridiques, notammenten matire territoriale. (...)

Dabord la longueur du dlai dpend des matires. Il y a desmatires o la securit des actes juridiques est lobjet dune exigencesociale imprieuse. Ainsi en est-il en matire des vices du consentementet notamment les erreurs qui viendraient entacher la validit dunacte. Garder pendant vingt ans, par-devers soi, le secret dune erreurque lon estime essentielle semble dpasser la mesure. De mme lorsquilsagit de lacquisition de droit de souverainet, le problme changesuivant que le droit porte sur des espaces maritimes ou sur des territoiresterrestres dont le statut, en ce qui concerne ces derniers, ne doit pasrester dans lindcision longtemps. (...)

(...) Un deuxime lment doit tre pris en considration, nousserions tents de lappeler la densit du temps. Le temps des hommesn est pas le temps des astres. Ce qui fait le temps des hommes, cest ladensit des vnements rels ou des vnements ventuels qui auraientpu y trouver place. Et ce qui fait la densit du temps humain apprci

58 CIJ. Caso do Templo de Preah Vihear (Camboja versus Tailndia), ICJ Reports (1962), Pleadings, OralArguments, Documents, vol. II, p. 194-197.59 Ibid., p. 197-198 e 202-203.

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sur le plan juridique, cest la densit, la multitude des actes juridiquesqui y ont trouv ou qui y auraient pu trouver place.

Dans la vie des nations comme dans la vie des individus, il y ades annes lgres, de annes heureuses o il narrive rien et o il nepeut rien arriver. Mais il y a aussi des annes lourdes, pleines desubstance. (...)

Il y aussi un troisime lment quil faut prendre en considrationdans lanalyse des circonstances concrtes: cest la situation respectivedes Parties. (...)

(...) Dans les relations internationales la doctrine fait de lestoppelun mcanisme rpondant au principe gnral de la bonne foi et aubesoin de scurit qui rgit les socits humaines. Dans la prsenteaffaire, cest lattitude de la Thailande, cest ce silence gard pendantde longues annes qui est en contradiction avec les thses actuellementsoutenues. La position des autorits cambodgiennes, rappelons-le unefois de plus, est trs claire ds lorigine 60.

43. As autoridades cambojanas, ressaltou Reuter, sempreconsideraram a delimitao fronteiria como geradora de afirmao desoberania notria e perfeita, realizada de acordo com o direito, tendosido objeto de um trabalho em comum e de um tratado; luz deste, oCamboja exerceu efetivamente atos de soberania que a Tailndiadificilmente poderia contestar. E como poderia ela rejeitar agora otrabalho (de delimitao) feito em comum e os mapas que ela prpriautilizou? Um exame da jurisprudncia internacional revela que esta, demodo geral,

na pas estim ncessaire de qualifier les mcanismes formels quiconsacrent la vertu consolidatrice du temps. (...)

On pourrait rsumer cette jurisprudence en trois principes (...):Premier principe: tout droit affirm et exerc se consolide par

le temps. Deuxime principe: toute situation territoriale ne peuttre consolide que si elle bnficie dune parfaite notorit. Troisime

60 Ibid., p. 203 e 205.

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principe: le silence lgard dun droit affirm et exerc dunemanire parfaitement notoire vaut acquiescement et rend le droitopposable.

Sans quil soit ncessaire dinsister davantage, ces principessemblent applicables au profit du Cambodge dans la prsente espce.Mme si le titre que lui donnent les procdures de 1904-1908 ntaitpas parfait, ce titre serait suffisant au regard des principes que nousvenons dnoncer 61.

44. Poucos dias aps, nas audincias de 26 e 27 de maro de1962, o consultor Reuter foi mais alm, ao sugerir que, mesmo umadelimitao unilateral em sua origem, efetuada na iluso de boa f, aindaque precria, passa a ser necessariamente recproca em seus efeitos, ebaseada em um ttulo (constitudo por um tratado)62. Quanto alegaode erro, prosseguiu Reuter, h uma diferena entre um suposto erroviciando toda a delimitao a ponto de torn-la inexistente e um supostoerro a nvel de execuo estritamente: se se admite uma delimitao comotendo sido vlida no passado, mas no mais o podendo ser no futuro, estasimples concesso demonstra que a teoria da inexistncia em matria dedelimitao absurda; a jurisprudncia internacional recomenda prudnciano sentido de encarar o problema de uma deciso de uma comisso dedelimitao no esprito do primado da segurana da deciso63, da seguranados acordos internacionais64.

45. O ponto no passou despercebido a outro dos consultoresjurdicos do Governo do Camboja, o Professor Roger Pinto (audincia de24 de maro de 1962). Para este, no presente caso o erro substancialreferente deciso da Comisso de Delimitao, equivalia a um erro defato, trop insignifiante pour entraner une consquence juridique quelconque,e um erro normal nas circunstncias da poca. Ademais, qualquer nulidaderelativa que pudesse dele decorrer teria sido coberta ou apagada pela

61 Ibid., p. 205 e 207-208.62 Ibid., p. 523-524, e cf. p. 526.63 Adverte Reuter, ademais, que on ne peut pas trouver un seul exemple darbitrage en matire territoriale olon fasse rtroagir la constatation faite par larbitre; ibid., p. 534-535, e cf. p. 529, 532 e 544.64 Ibid., p. 84 (no mesmo sentido, na audincia de 12 de abril de 1961).

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aquiescncia ulterior das partes, que impedia a Tailndia de levantar hojeobjeo deciso da Comisso de Delimitao65.

46. A rica argumentao cambojana certamente sensibilizou a Corte,em sua deciso, acatada pela doutrina, francamente favorvel ao Camboja (supra),que hoje constitui locus classicus para a insuficincia do erro como vcio doconsentimento, a importncia da conduta subseqente das partes e o imperativoda estabilidade na fixao definitiva das fronteira. O caso do Templo de PreahVihear no a nica ilustrao deste ltimo ponto: no caso da Soberania sobrecertas Partes de Territrio (1959), entre Blgica e Holanda, a Corte Internacionalde Justia descartou alegao de erro, relembrou que for almost a century theNetherlands made no challenge to the attribution of the disputed plots to Belgium66, e, ao decidir em favor da Blgica, ressaltou que a Conveno de Limites de1843 visara uma soluo final com base no status quo67 (eficcia da estabilidadeno cas despce)68. E, por ocasio do laudo arbitral de 24 de novembro de1966 sobre controvrsia entre a Argentina e o Chile, destinado a interpretaruma sentena arbitral mais antiga, de 20 de novembro de 1902, i.e., a precisar em razo de erro geogrfico ocorrido em demarcao efetuada em 1903 um limite j definido, o Tribunal Arbitral partiu do princpio de que a sentenade 1902 havia delimitado validamente a fronteira como um todo (inclusive osetor em litgio), e sua deciso de 1966 refletiu a preocupao em assegurar orespeito sentena de 190269.

b) O Contencioso Honduras versus Nicargua (1960)

47. Em caso opondo dois Estados latino-americanos, o da SentenaArbitral de 1906 do Rei da Espanha (Honduras versus Nicargua), envolvendo

65 Ibid., p. 516-518, e cf. p. 515, 474 e 71-73. Basdevant identificava no plano das relaes internacionaisum respeito preliminar ou provisrio s situaes de fato at surgirem elementos contrrios; certassituaes de fato vm criar situaes jurdicas, mas h limites de fato e de direito ao princpio da efetividade;cf. Roger Pinto, Le droit des relations internationales. Paris: Payot, 1972, p. 103-115. Para o ponto de vistade que a interao entre direito e fato an abiding problem of jurisprudence, cf. R.Y. Jennings, Nullity andEffectiveness in International Law. Cambridge Essays in International Law. London/NY: Stevens/Oceana,1965, p. 73.66 CIJ, caso da Soberania sobre Certas Partes de Territrio (Blgica versus Holanda), Julgamento de 20 dejunho de 1959, ICJ Reports (1959) p. 226-227.67 Ibid., p. 218-219, 221-222 e 225-226.68 Cf. A.O. Cukwurah. op. cit., supra n 55, p. 132.69 Charles de Visscher. Problmes de confins..., op. cit., supra n 25, p. 30-31.

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questo de validade de sentena arbitral em delimitao fronteiria, levantadapela Nicargua, a Corte Internacional de Justia acatou, em julgamento de18 de novembro de 1960, a posio hondurenha em sustentao da validadedo laudo70. Particularmente significativo aos nossos propsitos o tratamentodado pela Corte alegao nicaraguense de nulidade do laudo arbitral emrazo inter alia de erro essencial71. Comeou a Corte por registrar que,desde a data do laudo, em diversas ocasies a Nicargua, tendo tomadoconhecimento do mesmo, expressara a Honduras sua satisfao de que adisputa relativa delimitao das fronteiras entre os dois pases tinha sidofinalmente resolvida pelo mtodo da arbitragem; houve, assim, aceitaoda sentena por parte da Nicargua, e

De lavis de la Cour, le Nicaragua a, par ses dclarations expresseset par son comportement, reconnu le caractre valable de la sentenceet il nest plus en droit de revenir sur cette reconnaissance pour contesterla validit de la sentence. Le fait que le Nicaragua nait mis dedoute quant la validit de la sentence que plusieurs annes aprsavoir pris connaissance de son texte complet confirme la conclusion laquelle la Cour est parvenue72.

48. A Corte foi ainda mais categrica ao sentenciar que mesmoque no tivessem ocorrido da parte da Nicargua atos repetidos dereconhecimento que, no Parecer da Corte, a impedem de invocarsubseqentemente reclamaes de nulidade e mesmo que tais reclamaestivessem sido apresentadas em tempo hbil, a sentena, segundo a Corte,ainda assim deveria ser reconhecida como vlida73. Por conseguinte, a Corterejeitou o argumento nicaraguense de nulidade em razo de erro essencial,considerando-o no mais que uma avaliao de documentos e de outrasprovas apresentadas ao rbitro; a Corte rejeitou igualmente, de modocategrico74, a alegao da Nicargua de que teria ocorrido uma lacuna dealguns quilmetros no traado da fronteira, e concluiu que a sentena arbitral

70 Cf. ICJ Reports. 1960, p. 217.71 Cf. ibid., p. 210.72 Ibid., p. 212-213.73 Ibid., p. 214.74 Il nexiste en ralit aucune lacune dans le trac de la frontire; ibid., p. 217.

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do Rei da Espanha de 1906 era vlida e obrigatria e que cabia Nicarguaexecut-la75.

49. No decorrer do processo, ponto central na argumentaohondurenha, acatada pela Corte, foi a aquiescncia manifestada no prpriocomportamento da Nicargua tendente a fixar situao que devia revestir-sede segurana jurdica. Esta situao jurdica objetiva impedia que um Estadose voltasse contra uma sentena que acatara sem violar o princpio da boaf. Esta a essncia do argumento de um dos consultores jurdicos do Governohondurenho no caso, o Professor Paul de Visscher (audincias de 15 e 16 desetembro de 1960)76, que acrescentou que em certas circunstncias o prpriosilncio do Estado podia legitimar um determinado estado de coisas(consoante o que, na doutrina, ensina Anzilotti). Ora, se isto tem ocorridopor vezes em relao a situaes de fato, tanto mais necessrio se torna

attacher plus dimportance encore lorsque les droits qui ont bnficidune reconnaissance ou dun acquiescement sont fonds sur un titre,trait, ou sentence arbitrale, dont la validit vient tre contestepar ltat mme qui lavait prcdemment reconnue77.

50. Ao concluir seu discurso, Paul de Visscher relembrou que, nocaso do Status Jurdico da Groenlndia Oriental (Dinamarca versus Noruega,1933), a Corte reconhecera o carter irrevogvel da famosa declarao Ihlen,que visava uma situao que no se baseava em qualquer ttulo preciso; nopresente litgio, luz desta jurisprudncia, no se poderia esperar da Corteoutra deciso seno a de assegurar o respeito de uma aquiescncia que almejousimplesmente confirmar e fortalecer a autoridade de um ttulo78. Foi o queocorreu no caso.

51. Tampouco passou despercebida a natureza da aquiescncia daNicargua, manifestada no pleno exerccio de sua soberania, e com base naqual Honduras fixou seu prprio comportamento79. Outro dos consultoresjurdicos do Governo hondurenho, o Professor H. W. Briggs, pleiteou a

75 Ibid., p. 215-217.76 CIJ. caso da Sentena Arbitral de 1906 do Rei da Espanha (Honduras versus Nicargua), ICJ Reports(1960), Pleadings, Oral Arguments, Documents, vol. II, p. 26-27, 39-41 e 48-50.77 Ibid., p. 42.78 Ibid., p. 51-52.79 Ibid., p. 50.

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inadmissibilidade jurdica de provas evidence contraditadas pela conduta edeclaraes anteriores, em aplicao da mxima allegans contraria non estaudiendus. E, enfim, o Professor Paul Guggenheim, tambm consultorjurdico do Governo de Honduras no caso, apontou que a aquiescncia daNicargua se dera por atos espontneos, mltiplos e reiterados,contnuos e regulares (i.e., emanando das autoridades executivascompetentes)80. No surpreende tenha a Corte se sensibilizado com estalinha de argumentao.

5. O Carter Definitivo da Operao de Demarcao

52. O contencioso Camboja versus Tailndia (1962) assim comoo contencioso Honduras versus Nicargua (1960) constituem precedentesvaliosos para os argumentos do Brasil no presente caso, amparados essesltimos igualmente pela autoridade de ttulos de valor inquestionvel. Noestamos aqui diante apenas do vigor da aquiescncia e da insuficincia daalegao de erro como vcio do consentimento, mas ademais do peso deinstrumentos internacionais ao: Tratado de Limites de 185181 ( luz do qualse procedeu demarcao de 1852-1862) seguiu-se a nota uruguaia de 1861que, buscando por termo a discusses sobre permutas de terreno, sugeriuque no se pusesse obstculo algum precisamente possesso do Rincode Artigas por parte do Brasil. E, ainda mais significativamente, a Convenode 1916 para Melhor Caracterizao da Fronteira Brasil-Uruguai disps interalia que as atividades da Comisso Mista ento criada se desenvolveriamsem alterar o regime de fronteira estabelecido em atos internacionais anteriores;e o Convnio de 1933 para Fixao do Estatuto Jurdico da Fronteira Brasil-Uruguai (ratificado em 1937) referiu-se expressamente ao marco (49intermdio artigo IX) situado no ponto que o Uruguai depois considerousob litgio (estabelecido durante a demarcao de 1852-1862). Trata-se,assim, de questo rigorosa e definitivamente resolvida.

53. Testemunho dos mais eloqentes em favor da manuteno dostratados de fronteiras dado pela prpria Conveno de Viena sobre Direito

80 Ibid., p. 395-396, e cf. p. 411-413.81 Modificado apenas pelo Tratado de 1909, por iniciativa brasileira, que estabeleceu o condomniobrasileiro-uruguaio na utilizao das guas da lagoa Mirim e do rio Jaguaro, anteriormente sob soberaniabrasileira exclusiva.

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dos Tratados de 1969 (supra). Dispe esta, em seu artigo 62 (2) (a), que ostratados de fronteiras constituem exceo ao princpio rebus sic stantibus:assim, no se poder invocar mudana fundamental de circunstncias comocausa para extino ou retirada do tratado se este ltimo for um tratado delimites fronteirios. A Comisso de Direito Internacional da ONU, em seuProjeto de Artigos comentado (de 1966) que serviu de base Conveno deViena de 1969, explicou que os tratados de fronteiras deveriam ser tidoscomo uma exceo ao princpio rebus sic stantibus, porque de outro modoeste ltimo, instead of being an instrument of peaceful change, might becomea source of dangerous frictions 82.

54. O Relatrio do Ministrio das Relaes Exteriores relativo aoperodo maio de 1920/abril de 1921 refere-se s dificuldades prticas quenormalmente surgem quando da demarcao de uma fronteira,particularmente quando baseada em velhas cartas topogrficas, roteiros emapas sem preciso cientfica. O Relatrio do Itamaraty referente ao ano de1927 vai mais alm, ao apontar as dificuldades que surgem nas prpriasfronteiras j demarcadas, quando, e.g., se constata a necessidade de restauraodos marcos, ou quando o maior povoamento da regio como na divisa doBrasil com o Uruguai exige o estabelecimento de sinais intermediriosentre os marcos primitivos83. Ora, seria de todo inadmissvel que seprocedesse a alteraes da linha da fronteira a cada vez que surgissem taisdificuldades prticas. O Relatrio do Ministrio das Relaes Exteriores de1937 adverte precisamente para o perigo de se rejeitar o trabalho dos grandesdemarcadores do passado, relembrando que, no presente caso, o Uruguaino contestara um s dos argumentos apresentados pelo Brasil84.

55. J alertei para os riscos de qualquer pretenso revisionista emrelao aos tratados de limites do Brasil, que poderia desencadear iniciativasde reabertura da matria, no apenas como a presente por parte do Uruguaicomo por outros dos pases vizinhos, o que inadmissvel para o Brasil, queprocedeu fixao de seus limites fronteirios sempre luz do direitointernacional (supra). A nota uruguaia de 27 de maro de 1985, aditamento

82 United Nations Conference on the Law of Treaties Official Records, Documents of the Conference (1968-1969). NY: United Nations, 1971, p. 7983 A. A. Canado Trindade. Repertrio da Prtica Brasileira do Direito Internacional Pblico (Perodo 1919-1940). Braslia: Funag, 1984, p. 149 e 151.84 Ibid., p. 155-156.

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s de 1934 e 1937-1938, no prima