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A SEMENTE BASÍLICA DO EMBARÉ MINARETES SUIÇOS ANO IV VOL.20 BIMESTRAL - MARÇO DE 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA O FIDELÍSSIMO

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Page 1: Edição março 2010

A SEMENTE•

BASÍLICA DO EMBARÉ

MINARETES SUIÇOS•

ANO IV VOL.20 BIMESTRAL - MARÇO DE 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

O FIDELÍSSIMO•

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4 TROVAS

5 PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO

Carolina Ramos

6 MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A MESÓCLISE

Fernando Jorge

7 A SEMENTE

Sonia Regina Rocha Rodrigues

8 FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO

Nelly Martins Ferreira Candeias

9 MINARETES SUIÇOS

Ives Gandra da Silva Martins

10 COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS

Wilma Therezinha Fernandes de Andrade

11 O FIDELÍSSIMO

Cláudio de Cápua

12 BICICLETA BERÇO

Maria Zilda da Cruz

13 OS INOCENTES DO EMBARÉ

José Candido F. Júnior

13 BASÍLICA DO EMBARÉ

Liane Uechi

14 A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO FEMININA (1902 - 1920)

Maria Apparecida Franco Pereira

15 O PIANO E O BASTIDOR

Valéria Pelosi

15 ZILDA ARNS NEUMANN

16 T.P.M.

Neide Ramos

17 NOTAS CULTURAIS

18 ESPAÇO DO LIVRO

ExpedienteEditor - Cláudio de Cápua. MTB 80

Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.Editoração Gráfica - Liane UechiDesigner Gráfico - Mariana Ramos GadigCapa: Liane UechiEnd.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: [email protected] desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de Cápua; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins, José Candido F. Junior, Liane Uechi; Maria Apparecida Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Neide Ramos; Nelly Martins Ferreira Candeias; Sonia Regina Rocha Rodrigues; Valéria Pelosi e Wilma Therezinha Fernan-des de Andrade. Os autores têm responsabilidade integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados. Distribuição Gratuita. 5000 exemplares.

EDITORIALSumárioEdição 20 - Ano 4 - Março 2010

Olá, leitores:

Nesta edição, não po-deríamos deixar de prestar homenagem à mulher, no seu dia internacional. É o que fazemos, por in-termédio da pena de uma mulher especial, Liane Uechi, esposa e mãe dedicada, além de competente pro-fissional, que traça o perfil dessa mulher ímpar que foi Zilda Arns.A capa é foto de uma das construções ar-quitetônicas sacras mais deslumbrantes de Santos, a Basílica de Santo Antonio do Embaré.Nossos colaboradores, como não poderia dei-xar de ser, mantém seus textos no ápice do bom gosto e da in-formação cultural.

Boa leitura

O Editor.

A Revista Santos Arte e Cultura é aprovada pelo Ministério da Cultu-ra e beneficiada pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Os patroci-nadores poderão abater 100% do valor doado no imposto de renda. O benefício é válido para pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, sendo o valor limitado a 4% do imposto de renda devido. Pessoas físicas que fazem a decla-ração completa do IR também po-dem abater suas doações. O limite neste caso, é de 6% do Imposto de Renda.

LEI ROUANET

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TROVAS

Tens tanto fascínio, tanto, que as flores puras e belasse curvam cheias de encantoquando tu passas por elas!P. de Petrus

O átomo a força desata!Cresce a ambição! E a sofrer,a humanidade, insensata,se algema ao próprio poder!Carolina Ramos

Bendigo a lágrima doceda chuva que cai lá fora.Bom seria se assim fosseo pranto que a gente chora...José Valdez de Castro Moura

Tantas ternuras guardadaseu tenho para te dar,que minhas mãos descuidadas,já traçam carícias no ar...Héron Patrício

Que bela seria a vidase acima de ódios mortais,uma ponte fosse erguidaunindo margens rivais!Dorothy Jasson Moretti

Gosta de Trovas?A “União Brasileira de Trovadores”, seção de Santos, reúne-se, na última terça-feira de cada mês, no IHGS, av. Conselheiro Nébias, 689, às 20h30. Compareça!

Ao sulcos que, bem juntinhos,na face mostram a idade,das lágrimas são caminhosabertos pela saudade!Angélica Villela Santos

TROVAS

Março - Santos Arte e Cultura

Teu beijo pela internet,vem sempre com tal calor,que qualquer dia derretemeu pobre computador!Antonio Augusto de Assis

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PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTOCAROLINA RAMOS

Março - Santos Arte e Cultura 5

Carolina Ramos, poetisa e escritora, é Secretária Ge-ral do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS)

e Presidente da União Brasileira de Trovadores UBT- Santos. Pertence à Academia Santista de Letras e

à Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos (AFCLAS).

Na verdade, palpites não custam nada e às vezes dão certo... ou não. Este, certamente deu. À volta de uma viagem a Ribeirão Preto, em meio do século passado, tendo oportuni-dade de conhecer o Museu do Café, apresentado com orgu-lho aos visitantes daquela cidade, indaguei-me, por que San-tos, porto plenamente integrado à vigorosa era cafeeira não tinha ainda um Museu igual àquele?! A nossa Bolsa de Café, desativada, oferecia, de bandeja, sede ideal para tal instala-ção! José Carlos Jr, corretor de café, com seu violão, animava nossas festas de poesia, e foi, por algumas vezes, alvo desse questionamento. Concordava comigo. O tempo passou e o palpite desta inconformada santista, tivesse, ou não, chegado aos ouvidos de alguém com poder decisivo, acabou aconte-cendo, indo além do pretendido! Aí está o nosso Museu do Café situado no mesmo nobilíssimo local e em pleno desem-penho de suas funções! Claro, que aquele palpite, com tantos anos de antecedência, nada teve a ver com esta realidade! Mas, deu certo, ninguém negará! Outro palpite feliz foi aquele a envolver o Guarany. Há alguns anos, usando o espaço reservado ao lei-tor, cumprimentei “A Tribuna” pelo oportuno artigo “Ruínas do Guarany”. O autor? Por certo, alguém, também preocupado com o estado precário do imóvel e, com o destino que viesse a ter aquele arruinado palco de tantas glórias anteriores! San-tista, muito me entristecia a condição, dita irreversível, desse patrimônio cultural à mercê de palpites, nem sempre bem in-tencionados. Muitas eram as sugestões. Falava-se em demo-lição, em transformar o local em estacionamento, num restau-rante, etc. Lembram-se? Eu mesma cheguei a ser convencida de que, “absolutamente não havia possibilidade de recupera-ção do prédio” e “o jeito, para livrar a cidade daquele pardiei-ro, era pô-lo abaixo”! Cruzes! Enorme, pois, a satisfação, quando, alguns anos mais tarde, ao ler o referido artigo, pude sentir ainda vivo o interesse público e somado ao das autoridades. Na esperan-ça de que algo pudesse ser feito em prol do arruinado Gua-rany, atrevi-me a sugerir o que me parecia viável para a sua recuperação e reaproveitamento das antigas funções. Minha sugestão, acolhida pelo jornal A Tribuna, era de que, após retorno do imóvel ao poder público e extirpado o matagal in-terno, fossem restauradas, pelo menos, a fachada e as pare-des passíveis de restauração. Isto feito, o que fazer do espa-ço recuperado? - Arrisquei: - Que tal transformar o Guarany num pólo cultural? Num Teatro de Arena, a exigir instalações mais simples, menos dispendio-sas, já que impossível, recuperar as valio-

sas pinturas que enriqueciam o interior do prédio. A Cultura e a Educação saberiam como usar o novo espaço, transforman-do-o em Escola de Arte, de modo a proporcionar aos jovens, que se dedicam ao teatro, feliz oportunidade de ver crescer o rol dos santistas que, lá fora, enfrentam com sucesso os pal-cos e cenários de TV. E não foi o que foi feito?! Aliás, foi feito muito mais! Restaurado e remoçado, o nosso Guarany reas-sumiu suas funções artísticas, transformado, não apenas num teatro de arena ou em escola de teatro a céu aberto, mas ul-trapassando, em muito, este modesto sonho! Ao vê-lo lotado, numa noite de gala, em que a nossa Marlene Akel, empolgou ouvidos e corações, interpretando, com virtuosismo, páginas de Chopin, meu orgulho santista, agradeceu e cumprimentou a Prefeitura de Santos e todos aqueles que levaram a cabo tão importante projeto! E, no íntimo, somei mais um palpite que dera certo. Contudo, houve um palpite que não pegou, embora, bem intencionado, como os demais. Quando a destinação do casarão branco, meu vizinho na Av. Bartolomeu de Gusmão, virou debate público, não me omiti. Sugeri fossem lá instala-das entidades culturais carentes de sede, como as duas Aca-demias de Letras, a Associação dos Artistas Plásticos do Lito-ral Paulista, e, naturalmente, a Seção de Santos da UBT (União Brasileira.de Trovadores), hoje Internacional, que te-nho a honra de presidir. A proposta até que não era má: uma sala para cada entidade, um salão, comum, para exposições e lançamentos, e, ainda, para que não virasse um saco de gatos, tudo a ser monitorado, oficialmente, pela Secretaria Municipal de Cultura. Intenção aplaudida por muitos, embora prevalecesse a idéia, primorosa, da criação da Pinacoteca Benedicto Calixto, concretizada como Fundação, e que, bas-tante ativa culturalmente, vai de vento em popa! E, ao final de cada ano, ao vê-la deslumbrante, com seus corais e decora-ções natalinas, reconheço, com toda a sinceridade, que, se daquela vez meu palpite não dera certo, dera muito certo, sim, tudo o quanto lá foi feito e, melhor ainda, o que o futuro há de mostrar!

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Georgina Magalhães Soares, estudante de jornalis-mo, quer saber se está correta a seguinte frase: “O doutor Fonseca, estabelecido à rua das Magnó-lias”... Cara Georgina, há aí um erro de regência, pois os verbos que indicam fixidez, estabilidade, como morar e ficar, possuem complemento com a preposição em. Portanto, eis o certo! “...estabelecido na rua das Magnólias”...

Antonio Carlos Frankenthaler, estudante de Direito, pergunta numa carta se não é errado dizer isto: “Hoje é 19 de março de 2009, quinta-feira”. Veja, Antonio, nesta frase o verbo ser deve concordar com o número que é indicado. Imagine que a frase fosse as-sim: “ Hoje são 1º de novembro de 2009, domingo”. Ela estaria completamente errada, pois o verbo ser está se referindo apenas a um número. Na primeira frase o verbo se refere a número superior a um e de acordo com a ló-gica, em vez de ir para o singular, vai para o plural: “Hoje são 19 de março de 2009, quinta-feira”.

Luiz Alberto Gomes Natário, economista, pretende ampliar os seus conhecimentos de português e por este motivo me fez várias perguntas. Ele deseja saber, por exemplo, o que é assibilação. Prezado Luiz, o dicionário do Aurélio, em um volume, e o do Caldas Aulete, em cinco, não encerram um verbete para explicar o significado de tal substantivo feminino. Entretanto, o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” o exibe, mas o seu verbete é lacunoso, não satisfaz. Revelo, assibilação é nos tex-tos a repetição de ss e zz: “Os seus sapatos sujos, quase sem solas, são sete”. A Zezé, bem zonza, zombava da Zulu”. O mesmo leitor se assustou com a palavra cacoepia (pronúncia cacoépia). Ele pergunta: que bicho é este? Cacoe-pia é a pronúncia contrária às regras da linguagem culta, ou melhor vernácula. Por exemplo, dizer flô, em vez de flor; homi, em vez de homem; mulhé, em vez de mulher; estrupo, em vez de estupro; mantega, em vez de manteiga; previlégio, em vez de privilégio; bandeija, em vez de bandeja; professô, em vez de professor; abissuluto, em vez de absoluto; mendingo, em vez de mendigo; pissiculugia, em vez de psicologia.

MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A MESÓCLISEFERNANDO JORGE

Março - Santos Arte e Cultura 6

Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, o petropolitano Fernando Jorge é autor do livro “A Academia do

Fardão e da Confusão”, lançado pela Geração Editorial, onde mostra numerosos erros de português cometidos pelos membros

da Academia Brasileira de Letras.

Padre António Vieira, por Ar-nold van Westerhout (1651-1725

Desconfio que um presidente sul-americano é viciado em cacoepia... Francisco Calderón Verbena, de Porto Alegre, per-gunta se está correta a seguinte frase de Maitê Proença, publi-cada na edição do dia 18 de dezembro de 2008 do jornal “O Globo”: “Se os rapazes empreendessem a caça, faria-lhes bem ao instinto” Caro Francisco, a atriz Maitê Proença, embora seja também escritora, não soube empregar a mesóclise, que é o processo sintático da colocação do pronome pessoal oblíquo átono no meio do verbo. Um exemplo de mesóclise: “Dar-lhe-iam o troféu”. Vamos corrigir a frase da Maitê Proença: “Se os rapazes empreendessem a caça, far-lhes-ia bem ao instinto”. Três ótimos exemplos de mesóclise pronominal, no texto de um escritor clássico: “...(os hereges) tomarão os cálices e os vasos sagra-dos, e aplicá-los-ão às suas nefandas embriaguezes; derruba-rão dos altares os bustos e estátuas dos santos; deformá-los-ão a cutiladas, metê-los-ão no fogo” (Padre Antonio Vieira, “Sermão pelo sucesso das armas portuguesas”). A eloquência arrebatadora do je-suíta Vieira era incomparável. Não foi à-toa que ele recebeu a alcunha de “O Crisóstomo Português”. No idioma gre-go a palavra crisóstomo significa “boca de ouro” e isto nos traz à memória o nome de outro grande orador, São José Crisóstomo, um dos maiores bispos do sé-culo IV, diamante sem jaça, fulguroso, os oradores sacros do Oriente.

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A SEMENTESONIA REGINA ROCHA RODRIGUES

Cada ladrão que a assaltava ganhava um livro. E como ela acredita-va que os assaltos fazem parte do coti-diano de um paulista típico, expunha-se em horários e ruelas tais, que tornara-se uma vítima compulsiva. Leitora voraz, disseminadora de cultura, carregava sempre consigo dezenas de títulos que emprestava, presenteava ou trocava com amigos, alunos e parentes. Da primeira vez em que um pivete comentou: ‘Não tem mais nada de valor aí’, ela estremecera. Perce-bendo em que noite de trevas estava mergulhada aquela alma, ofereceu, ou antes, exigiu: - Leve um livro. E ofereceu O Ladrão de Bag-dá, em atraente capa colorida. A partir deste dia, junto com os trocados reservados para os habitu-ais assaltos, escolhia cuidadosamente os livros com que brindaria os assal-tantes. Havia estórias adequadas para órfãos abandonados e livros mais apropriados para desempregados pais de família. Certa noite uma pergunta sur-preendeu-a: - Tem aí um livro de culiná-ria? Não tinha, pois ela era mulher que se alimentava de sonhos, porém, de um canto do porta-malas, retirou

um “Nem Só de Caviar Vive o Homem” e explicou: - No meio de aventuras incrí-veis, tem aí umas receitas deliciosas. Em outra noite, tendo ouvido o clique revelador e levantado as mãos como de praxe, escutou: - Ah, é a doida dos livros! - Doido é quem vive no cri-me. Para seu espanto, o rapaz abaixou a arma. - Sabe, dona, o pessoal daqui ‘tamo’ juntando seus livros e trocando aí umas ideias... Madrugada adentro, aquelas duas almas conversaram longamente sobre estórias reais e imaginárias. Ela contaminou o rapaz com sua fome incurável, temperada com pó de pirlimpimpim; confrontou-o com monstros, dragões e bruxas; virou-o pelo avesso e transmutou suas angús-tias em curiosidade e desejo. Nossa heroína não foi mais assaltada naquele perigoso bairro. E convido o leitor a imaginar o que seria este país se cada um de nós se pusesse a ‘semear livros, livros à mão cheia...’

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Sonia Regina Rocha Rodrigues é médica, com pós-graduação em PNL - programa-

ção neurolinguística.

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Março - Santos Arte e Cultura 8

Nelly Martins Ferreira Candeias é professora titular da Uni-versidade de São Paulo (aposentada) e presidente do Ins-tituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

FUNDAÇÃO DE SÃO PAULONELLY MARTINS FERREIRA CANDEIAS

O encontro de náufragos portugueses com índias da terra deu origem à mestiçagem, signo sob o qual se for-mou a nação brasileira. Traço característico do quinhentismo – foi a melhor solução encon-trada pela colonização portuguesa para firmar-se no mundo novo. Fo-ram os mamelucos – fi-lhos de europeus com cunhatãs, jovens índias, que deram origem ao povo brasileiro. A mestiçagem foi um dos principais fatores que determinaram o povoamento da nação brasileira. O padre José de Anchieta representa a ação apos-tólica elevada ao mais alto expoente da dedicação e do amor à raça aborígene nas terras de Santa Cruz. Autor da primeira gramática em língua tupi e animado pela fé, colocou a inte-ligência e a vontade na integração de um Brasil sem precon-ceitos de raça. Esta nação é o peabiru do padre José de Anchieta. Na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo encontra-se belíssimo quadro, fixando um momento exponencial de sua vida, o de escrever na areia da praia de Iperoig, versos do poema “De Beata Virgine Dei Matre Ma-ria”, homenagem à Virgem Maria. Mas qual das designações da Virgem Maria, Padre Anchieta invocava ? No museu do Pateo do Collegio encontra-se ima-gem em bronze de Anchieta e réplica da imagem de Nossa Senhora da Candelária, padroeira das Ilhas Canárias, onde ele nasceu. Pequeno estudo a respeito das designações da Vir-gem Maria (assim era invocada no período quinhentista), permite supor que ele tivesse dedicado seus versos à Nossa Senhora da Candelária, também denominada Nossa Senho-ra das Candeias e Nossa Senhora da Luz. De acordo com a documentação do Arquivo da Cú-ria Metropolitana, a primitiva capela de Nossa Senhora das Candelárias ou das Candeias foi construída, em 1579, por Domingos Luís, português, casado com Ana Camacho, ma-meluca, bisneta de João Ramalho e da índia Bartira – fato registrado no traslado da doação, datado de janeiro de 1579. Nesse mesmo ano, José de Anchieta escreve em

carta dirigida ao capitão - mor Jerô-nimo Leitão,“ Do-mingos Luís está acabando a igreja. Já lhe dissemos mis-sa com muita festa”. Referia-se claramen-te àquela ermida, a primeira capela con-sagrada a Nossa Senhora em Pirati-ninga. Isso aconte-ceu apenas 25 anos após a fundação ofi-cial da Igreja e do

Colégio dos padres da Com-panhia de Jesus.

Em 1603, a capela foi transferida para o atual bairro da Luz, onde foi construído um convento que hoje abriga o Museu de Arte Sacra de São Paulo. Lá se encontra a mais antiga imagem de Nossa Senhora da Luz, entre outras relí-quias. Termino esta saudação à amada cidade de São Paulo, feita até de forma pouco convencional, em Inhapuam-buçu, no mesmo local onde no século XVI ouvia-se a voz de Anchieta a recitar com os curumins e as cunhatãs seu cân-tico sagrado. Vou citar:

“Ó Virgem Maria” Tupã sy êté,

Abapé ara póraOicó ende jabê?’

Xe retama moopira

Traduzindo :Ó Virgem Maria, Grande Mãe de Deus

Que outra criatura há igual a ti. Minha terra venturosa”.

Que a fé, a justiça, a tolerância e a solidariedade estejam sempre nos corações dos brasileiros paulistas. Amém!

Fundação de São Paulo, 1913. Óleo sobre tela, 179 x 279,5 cm (Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo).

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Dr. Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito

das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME;

Presidente do Centro de Extensão Universitária.

Março - Santos Arte e Cultura

MINARETES SUIÇOSIVES GANDRA DA SILVA MARTINS

casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos, as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes, que também existem na Suíça, como em todos os países, não sejam fechados, por uma questão de igualdade? Por que o culto ao Criador, conforme cada religião, não é respeitado como se respeita o culto aos denominados centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle ofi-cial? Àqueles que não conseguem viver como deveriam pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, inco-modam os valores que as religiões transmitem e que não conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons costumes devem ser afastados – embora vividos pela maio-ria das pessoas- em detrimento de um Estado Laico, sem valores, quase sempre libertino, onde a frustração, os divãs dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigu-rados e os filhos desorientados povoam como símbolo da modernidade. Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de “pre-conceito aristocrático” suíço e de outros países europeus está na essência da reação dos povos menos desenvolvi-dos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vin-gança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convi-vência entre os povos, não posso aprovar a discriminação odiosa dos suíços.

A Suíça sempre se caracterizou por ser um país com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocu-pados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusi-ve, conseguido permanecer neutra em duas guerras mun-diais, apesar de estar no centro dos conflitos. Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremis-mo, só quem não acredita em Deus pode falar em um Esta-do Laico, tem levado a geração de ódios e preconceitos que terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o

suíço, o francês e até mesmo a comunidade euro-péia.

Na França, proibiu-se o uso das “burcas” e “xadors” nas escolas, mas não a pouca roupa das meninas francesas, que se exibem em re-vistas de todas as espécies, algumas delas não recomendáveis, pois em um Estado Laico, quem

é islamita não pode seguir os seus costumes publicamente. Na Itália, uma única mulher ob-tém da “Corte de Direitos Humanos” da União

Européia – tenho dúvidas se os juízes deste Tri-bunal não italiano conheçam as tradições e cos-tumes do povo italiano- o direito de eliminar de todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmen-

te, a Ministra da Educação italiana já disse que não respeitará a desarrazoada deci-são. Agora, na Suíça, proíbe-se que os templos islâmicos ostentem seus minare-

tes! É bem verdade, que no Estado Laico Euro-peu, que está conformando os “sem Deus” ou aqueles agnósticos que se julgam “deuses”, se comemora o aniversário de Cristo, com fe-riados e presentes, sem que haja um movi-mento para abolir o Natal, data maior da Cris-tandade. Pergunto eu, por que não respeitar os mi-naretes islâmicos como se respeitam os sinos católicos e as Igrejas Cristãs na Suíça? Por que o preconceito? Por que admitir que as

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Março - Santos Arte e Cultura 1010

Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade. A classe tinha 15 alunos: treze adolescentes e dois adultos, entre eles eu. A sala era adequada e o livro excelente. Havia uma biblioteca com livros em inglês separados pelos níveis de aprendizados, um laboratório com gravações de aulas, diálogos e exercícios interativos. Uma vez por semana ocor-ria uma reunião para se falar em inglês. Entretanto, o princi-pal da aprendizagem ficava por conta da professora em sala de aula. Ela implicava com a classe, por sinal bem compor-tada, de adolescentes ajustados. - Vocês nunca aprenderão inglês, nem no 4º ano! Deviam ver a classe que eu tenho em São Paulo. São umas gracinhas, já estão falando inglês. Claro que isto não ajudava em nada para melhorar o astral da classe. A sua vítima favorita era um rapaz de 15 anos, ma-gro, alto, chamado Mário, que sempre chegava atrasado. - Isto são horas de chegar? Na sua casa não tem relógio? - Tem sim, até mais de um. É que eu durmo depois do almoço. - Isto é um absurdo! Eu vou falar com a sua mãe! - Pode falar. Ela está em casa agora. A idéia foi dela. Diz que eu estou magro e em fase de crescimento. A senhora quer o telefone? - Não preciso, posso conseguí-lo na secretaria. Mario falava sem provocação, normal como se al-guém lhe tivesse perguntado as horas. Ele devia ser de uma família bem estruturada, era filho de um delegado. Nunca se constrangia. Era até engraçado. A professora nervosa, o aluno tranqüilo.

COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊSwILMA ThEREZINhA FERNANDES DE ANDRADE

De uma feita, estávamos todos sentados frente à frente e ela ordenou: - Digam uma palavra em inglês. Ninguém se manifestou. Mudos, constrangidos, pa-recíamos aqueles soldados norte-americanos da Segunda Guerra Mundial, prisioneiros dos japoneses, obrigados a cantar em japonês. - Vamos, falem! Ninguém aprende uma língua, se não falar! Até que um adolescente mais otimista ou corajoso disse: - Píter. Pra quê! - Só vocês brasileiros é que falam Píter. No mundo inteiro se fala “Péchau” “Pétchau”! Apesar do equipamento e facilidades, nossa classe era o exemplo de como um bom sistema de ensino pode ser inutilizado por um mau professor. Após o término do semestre, encontrei-me com a professora na Avenida. Ela veio falando em inglês e eu res-pondi em português. - Vamos, fale em inglês. Você sabe inglês. Mas, eu disse: - Não sei não. Não sei falar inglês. E despedimo-nos. Foi o troco por aquela experiên-cia pedagógica mal-fadada. Como é difícil aprender inglês! Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade.

Wilma Therezinha Fernandes de Andrade é mestra e doutora em História Social, pela USP; professora da

Universidade Católica de Santos; membro da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos -

AFCLAS e da Academia Santista de Letras - ASL.

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O FIDELÍSSIMOCLÁUDIO DE CÁPUA

Aconteceu, embora pareça lenda. Segundo dois renomados histo-riaadores, Frei Gaspar da Madre de Deus e Afonso de Taunay, a história do paulista que tendo sido aclamado, não quis ser rei foi real. Fato acontecido com Amador Bueno da Ribeira. Após 60 anos de convívio, Portugal separou-se da Espanha, com o fim da Anexa-ção. Término da União Ibérica. Nessa época, o oitavo Duque de Bragança assume o trono portu-guês. Nos 60 anos de convivência , espanhóis e portugueses mesclavam-se em suas colônias, mundo afora. In-clusive, a presença espanhola na Pro-víncia de São Paulo era numerosa. Contrariada com a dissolução da União Ibérica, a elite composta de fidalgos espanhóis, em Piratininga, re-belou-se, não aceitando ser vassala do rei de Portugal. Foi então proclamado na Paulicéia, um novo rei, filho do fidal-go espanhol Bartolomeu Bueno da Ri-beira vindo para o Brasil, em 1571. O escolhido era figura ímpar, de Amador Bueno, homem influente e respeitado na época, pois, em 1614, saíra de Piratininga, comandando seu exército particular de índios e mamelu-cos, para aniquilar uma das primeiras

invasões holandesas, comandada pelo Gen. Spilbergen, contra Santos. Os paulistas andavam des-contentes com a coroa portuguesa que proibia o tráfego de índios. Os escravos africanos eram negociados sob a tutela holandesa. A companhia de Jesus dava proteção aos indígenas. Em 1640, pau-listas inflamados expulsaram os Jesui-tas da Capitania de São Vicente. Amador Bueno tinha ocupado o cargo de ouvidor e capitão-mor da Vila de Piratininga, era senhor de terras e de índios. Após aclamado rei, Ama-dor Bueno recusou a honraria e retirou-se para o Mosteiro de São Bento, onde jurou lealdade ao Rei de Portugal, Dom João IV e continuou na sua lida dedica-da à lavoura de trigo. Duzentos e cin-qüenta anos depois, Dom Pedro, nosso primeiro imperador, referindo-se ao fato, deu a Amador Bueno a alcunha de “O Fidelíssimo”.

Aclamação de Amador Bueno como rei de São Paulo

Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e escritor. Pertence ao Instituto Histórico e

Geográfico de Santos, à Academia Paulistana de História. É sócio-fundador da União Brasileira de Trovadores - Seção de

São Paulo. www.de-capua.com

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12Março - Santos Arte e Cultura

BICICLETA BERÇOMARIA ZILDA DA CRUZ

Maria Zilda da Cruz é Mestra e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Presidente da Academia Femi-nina de Ciências, Letras e Artes de Santos. Membro da Di-retoria da Academia Santista de Letras.

As pernas movimentam milhares de rodas, diaria-mente, pelas ruas e avenidas santistas. Elas são os motorzi-nhos das bicicletas transportando uma legião de trabalhado-res: homens, mulheres, jovens adultos e até idosos. Se alguém quer uma lição de democracia, basta observar essa gente em linha reta ou zinquezagueando por entre carros e motos. Todos se respeitam com o rosto avermelhado pelo ca-lor do esforço. Uns se cumprimentam num leve murmúrio; ou-tros em alta voz. Ignorando o vozeiro, pessoas carrancudas usam o mutismo para se fecharem no próprio interior indefini-do. Outras parecem não ter acordado. Alguns são malabaris-tas e aproveitam para provar e demonstrar, com cenas arris-cadas, gestos e contorções de equilíbrio duvidoso. No caminho, o verde se oferece para dar repouso ao olhar. O sol acaricia as carecas, banha os braços de todos. Observando os pés dos ciclistas dá para ler, inferir sobre os seus donos. Chinelas havaianas simples, umas já surradas pelo gasto do uso, protegem a sola grossa de pés maltratados. Seus donos têm a vida tão dura como seus sola-dos. Mulheres, jovens ou não, levam havaianas enfeitadas com dourados, prateados e tantas criativas fantasias, confir-mando cuidados e vaidades femininas. Uns poucos, homens e mulheres, pensando na pro-teção dos pés calçam tênis: coloridos, brancos, de baixo cus-to ou bem caros. Esse artefato torna mais difícil a tarefa de dizer sobre os seus donos. Não é a riqueza do bolso que de-termina a sua compra. Há os pobres querendo ser ricos nos pés; há os ricos querendo pobreza nos pés, com medo dos ladrões! Observemos mais atentos a bicicleta e os ocupan-tes. Algumas são pedaladas com vigor, pilotadas por heróis vencedores de grandes corridas, em sua imaginação esporti-va. Amigos e conhecidos vão aos pares, esquecendo o exer-cício das pernas, para se aterem ao equilíbrio das palavras, passando notícias alegres ou tristes, em altas ou baixas vo-zes. Existem os ciclistas, preocupados, pensando no traba-lho, na família em casa, nas contas a serem pagas. Uma infi-nidade de deveres ou de alegria escorregam das bicicletas e nas ruas acompanham o rolar das rodas, tornando todos os pensamentos redondos, sobre a vida a correr contínua no as-falto. Também existem os caronistas. Ganham com o es-forço do condutor e descansados chegam ao lugar desejado. Formam a simbiose do hospedeiro e a fraternidade.

Nem sempre é gente carregando gente. Aos domingos, um senhor sorridente, de aparência simples, leva seu grande cão a passear... Sentado no selim, com as patas dianteiras sobre o guidão, um enorme cão pastor alemão vai à frente... fingin-do uma solene vigilância sobre a rua. Tal imponência quebra a sua propagada ferocidade. O dono, sentado no bagageiro de trás, pedala com as pernas bem esticadas, equilibrando o cachorro e o orgulho de o possuir. Um dá prazer ao outro sem importunar e, muito menos, ameaçar os transeuntes. Entre tanta igualdade na forma de transportar-se, e maior diversidade nos rostos lavados ou maquiados, uma bi-cicleta parece ser especial. Chama a atenção pela maneira como dois seres ocupam um transporte rotineiro em nossas ruas. Dirigindo o veículo, com grande cautela e equilíbrio, pedala uma jovem senhora. Desvia-se dos buracos, não faz manobras arriscadas; procura segurança entre tantos aventu-reiros do pedal. À frente, num cestinho ela carrega seu bem precioso: um menino com prováveis dois anos de vida. Ele viaja sereno, não sabendo o caminho por onde passa. Certo da habilidade materna, deixa-se levar, dormindo sobre fofos e grandes travesseiros. Nota-se que tudo foi colocado, cuidado-samente, dando conforto ao dorminhoco com chupeta na boca, e pequena mochila deitada em suas costas. No futuro as fraldas e mamadeiras, de agora, serão livros e canetas. A escola maternal o espera. O trabalho aguarda aquela mulher zelosa, preocupada em aninhar o filho no cora-ção e na bicicleta. A limpeza das fronhas alvas e o carinho se depositam no berço ambulante para proteger o sono de uma criaturinha, muito bem defendida por essa mãe, anônima do asfalto. O quadro de amor que embrulha as pedaladas da bi-cicleta berço, que rola cedo, nas manhãs santistas, aquece de ternura o pequeno dorminhoco, e alimenta o respeito para com as nossas crianças. Rola bicicleta berço, vence a rua, bem suave, de mansinho você carrega dois anjos: o protetor e o protegido, dentro de uma bolha de carinho.

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13 Março - Santos Arte e Cultura

O que pode fazer um homem cansado, andando pelo jardim da praia, além de se sentar num banco, embaixo de uma árvore e olhar a mo-cidade? Ah! A gigantesca energia vital da mocidade sentada ali, a meu lado, a desfrutar o iodo e o ócio marinhos, a esquadrinhar os biquínis, a trocar pa-lavrões amigáveis uns com os outros! Estão em plena felicidade distraída,

As origens da Basílica do Embaré estão ligadas ao primeiro morador do bairro de mesmo nome, Antônio Ferreira da Silva Júnior, o Viscon-de de Embaré, que também foi o fundador da Associação Comer-cial de Santos, em 1870. O Vis-conde ergueu em sua chácara, em frente à praia, a Capela de Santo Antônio do Embaré. Foi entregue em 1922 aos frades franciscanos, que iniciaram a nova edificação, em 1930, dan-do-lhe a forma como a conhece-mos hoje. Foi inaugurada em 1945, e em 1952, foi elevada à categoria de basílica, pelo Papa Pio XII. Seu estilo arquitetônico é o neogótico, marcado pelos seus arcos ogivais, vitrais e rosáceas. As duas torres da fachada termi-nam com pináculos. No tímpano sobre a entrada principal, uma composição clássica mostra San-to Antônio recebendo o Menino Jesus das mãos da Virgem. Na parte interna, os 18 metros de pé direito são cobertos por murais à têmpera de Pedro Gentili, que preenchem todos os espaços do templo. Os 44 pilares em granilito

BASÍLICA DO EMBARÉ LIANE UEChI

rosa dividem-se em cada lado da nave e do altar, emoldurando as quatro ca-pelas menores, bem como as capelas-balcões e as capelas de confissão. Ne-las, estão pinturas alusivas à remissão dos pecados, como o perdão ao filho pródigo e a Maria Madalena. Sem dúvida, um dos tesouros santista.

Informações fonte: site Novo Milênio

num nirvana originado do torpor do sol, no paraíso. De repente, passa um velhi-nho, tão frágil, entre a massa bronzea-da; a massa abre alas e o velhinho pas-sa. Olho para o lado oposto da praia e vejo a igreja do Embaré, uma verdadei-ra obra de arte espremida entre prédios ordinários. O velhinho passa lentamen-te, a garotada conversa assuntos tri-viais e ninguém o vê.

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OS INOCENTES DO EMBARÉJOSÉ CANDIDO F. JÚNIOR

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14Março - Santos Arte e Cultura

A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO FEMININA

(1902 - 1920)MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA

Nos inícios do século XX, Santos está pas-sando por um período de urbanização, onde a modernização de seu Porto, por causa da eco-nomia agro-exportadora do café, traz um nú-mero grande de trabalhadores nacionais (livres e ex-escravos) e sobretudo, imigran-tes (tornando-a uma cidade portuguesa), atuando nos serviços ligados à comerciali-zação do café; nos transportes, nos arma-zéns, nas docas e na ferrovia. Santos reúne uma elite formada pelo alto comércio, negociantes locais (diversos portugueses), a que se unem geralmente os filhos de fazendeiros paulistas. Completando, estão os homens de profissões liberais - médicos e engenheiros, muitos vindos da capital federal nos anos próximos à virada do século XIX para o XX, atraídos por uma cidade castigada por inúmeras epidemias (febre ama-rela, varíola, peste bubônica, tuberculose etc.), mas com recur-sos econômicos advindos da economia cafeeira para a supera-ção de seus males. Um aspecto importante dessa era da modernização é o filão da educação, patrimônio cultural que deve ser estendido a todos os estratos da população, necessitados da regeneração social. Em Santos, nesse início, as realizações educacionais se multiplicam, desde as iniciativas do poder do Estado (Grupos Escolares Cesário Bastos: 1900; Barnabé: 1902) e do Municí-pio (G.E. Olavo Bilac) e Academia do Comércio, 1907; das or-dens religiosas (Irmãs do Coração de Maria e Irmãos Maristas: 1904) ou de instituições leigas (Escola Docas: 1907), de grupos filantrópicos (Auxiliadora da Instrução, 1878) ou de Maçonaria (Loja Brás Cubas). É em 1902, que surge a primeira grande instituição voltada principalmente para a educação feminina. A professora Eunice Caldas (1879-1967) consegue reunir um grupo de senhoras da sociedade local e cria o Liceu Feminino Santista e as Escolas maternais, com o fim de “proporcionar a educação gratuita da criança e da mulher, principalmente desta”. Na mantenedora, a Associação Feminina Santista (AFS), militam mulheres da so-ciedade, assessoradas pelos seus maridos, que são engenhei-ros, médicos, bacharéis em Direito, comerciantes de café. Embora a grande inspiradora inicial fosse Eunice Caldas, irmã de Vital Brasil, uma de suas dirigentes fundadora e conti-nuadora foi Robertina Cochrane Simonsen . Robertina da Gama Cochrane nasceu em Santos, em

20 de dezembro de 1862 e era uma dos seis filhos do casal Ignácio da Gama Cochrane e Maria Luísa

Barbosa, filha de comissário de café santista, An-tônio Vieira Barbosa. Dr. Ignácio Wallace de Gama Cochrane (1836-1912), natural de Va-lença, RJ, de família ligada a projetos de fer-rovias, foi personalidade das mais atuantes, na vida administrativa política e social. Em 1860, está em Santos, como engenheiro fis-cal da São Paulo Railway e ao contrair matri-mônio e associando-se à firma de seu sogro,

aí permanece até 1878, quando se transfere para a capital paulista.

Robertina casou-se, aos 21 anos, com Sydney Martin Simonsen, inglês que se dedica aos negó-

cios do café. Um dos seus filhos foi o eng. Roberto C. Simonsen, o grande industrial paulista.

A atividade de Robertina Simonsen na Associação Feminina Santista é muito grande. Sócia fundadora (1902), é vice-presidente da AFS no biênio 1902-1903. A seguir, assume a função pedagógica mais importante da escola, com a saída de Eunice Caldas, que é a de Diretora Geral da Instrução por vários anos, sem ter diploma de normalista. Ao mesmo tempo, de 1903 a 1907, também ministra Trabalhos Manuais. Depois, mantém a sua participação como Presidente da mantenedora ou no atuante Conselho da instituição, arregi-mentando novos sócios, com seu marido. Uma das poucas vezes onde se encontram as suas palavras: “É sinceramente penalisada que deixo este logar onde há perto de 9 annos me tenho esforçado em prol desta tão útil e benemérita Associação, e a qual eu desejo de coração a continuação de sua prosperidade” (Rel. AFS de 1911). Em 1919, é chamada, novamente em situação de crise da Associa-ção Feminina Santista, para ser a sua Presidente. Com pouco mais de 60 anos, em 1921,desliga-se de-finitivamente da direção (continuando como conselheira), mu-dando-se para o Rio, onde falece com a idade de 80 anos (1942). Durante esses anos todos batalhou para a manutenção da instituição e para o seu engrandecimento cultural .

Maria Apparecida Franco Pereira é professora titular da Universidade Católica de Santos. Possui graduação em

Pedagogia, em História e em Filosofia. É Mestre em História Econômica e Doutora em História Social, ambas pela USP.

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15 Março- Santos Arte e Cultura

Ah! Velhos companheiros! Porque os amo, escrevo. Se suas teclas falassem (nossa, como estão velhas)! E dizer que as conheci desde o tempo em que reluziam, enfim, se suas teclas falassem o que conta-riam? Acho que diriam que o mesmo tempo que gastou suas teclas pode afinar a alma. Que uma alma bem afinada pode ver que o belo não está em um único lu-gar e pode ouvi-lo quando ele chama no farfalhar de folhas, numa canção de ninar, nas tentativas de peque-nos dedos queridos que buscam desvendar os misté-rios das velhas teclas. O redondo mais perfeito, o encaixe mais total, o que você tem para contar? Você entende tudo de devaneio. Sabe segurar as mãos para soltar a alma. Com seu contorno construí minhas asas. Obrigado amigos.

O PIANO E O BASTIDORVALÉRIA PELOSI

Valéria Pelosi é cronista, Mestra-Doutora em Psicologia, pela PUC São Paulo.

ZILDA ARNS NEUMANN LIANE UEChI

Muitas mulheres deixaram seu nome na história da huma-nidade, algumas por feitos inéditos, pelo pioneirismo e coragem. Donas de características como liderança, obstinação e destemor, elas abriram caminhos a tantas conquistas obtidas ao longo das últimas décadas. Fa-

mosas ou anônimas, todas foram importantes. Mas há algumas que merecem um olhar mais atento, por dedicarem seus conhecimentos, esfor-

ços e trabalho em prol da dignidade humana. Aque-las que no seu labor diário, combatem mais do que preconceitos ou uma superação pessoal, enfren-tam sim, vilões cruéis: a pobreza, a ignorância e a injustiça. Uma dessas combatentes e que nos dei-xou há pouco, vítima do terremoto no Haiti, foi a

médica e sanitarista Zilda Arns Neumann, coordenadora da Pastoral da Criança e três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil. Os resultados do seu trabalho são o maior testemunho de seu valor como mulher. Sua estratégia foi apostar que a educação das mães, através de líderes comunitários capacitados, revelaria-se a melhor forma de comba-ter doenças facilmente preveníveis e a marginalidade das crianças. Acer-tou! A Pastoral estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes já foram beneficiados pelo trabalho idealizado e, até então, co-mandado por ela. Seus mais de 260 mil voluntários levam fé e vida, em forma de solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidada-nia para as comunidades mais pobres do mundo. Uma mulher, uma brasileira, um exemplo!

Março é o mês de homenagear a mulher. A Revista Santos Arte e Cultura o faz através de uma ilustre representante do sexo feminino, a mé-dica e sanitarista Zilda Arns Neumann e seu trabalho à frente da Pastoral da Criança.

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Neide Ramos é médica, com título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Fundação Brasileira de

Ginecologia e Obstetrícia. Especialista em ginecologia da infância e da adolescência

T.P.M.NEIDE RAMOS

O que é T.P.M? (Tensão Pré-Menstrual). É uma síndrome com um conjun-to de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que se manifestam de maneira

cíclica (período pré-mesntrual) que em geral desaparece por completo com o início do período menstrual.

O quadro clínico da T.P.M. é bastante variado, sendo relacionados 150 sinto-mas.

Os mais comuns são: Irritabilidade, Agressividade, Depressão, Fadiga, Labili-dade Emocional, Dificuldade de Concentração, Cefaléia (Enxaqueca), Mastal-gia (Dores nas Mamas), Acne, Distensão Abdomnal (Inclaço), Palpitação e Vertigem. Por que a T.P.M. acontece? As causas ainda são desconhecidas e ao mesmo tempo polêmicas; entre os fatores apontados estão o envolvimento de vários hormônios, como estrogênio, progesterona, prolactina e androgênios; a alteração dos níveis de neuro-transmissores (endorfinas, serotoninas e prostaglandinas). Nutri-cionais e deficiência de vitaminas e sais minerais.

TratamentoÉ feito de acordo com a intensidade dos sintomas.Dieta: hipoproteica (pobre em carbohidratos). Evitar ingerir álcool, café e chás, por-que interfere na retenção hídrica.Exercícios Físicos: aeróbicos que atuam na eliminação das endorfinas: correr, nadar, e quaisquer outros exercícios aeróbicos fazem bem e aliviam a T.P.M.Diuréticos: melhoram os sintomas da paciente com retenção hidríca.

Sedativos e anti-depressivos: no caso de mulheres com depressão devem ser to-mados com orientação médica. É interessante ressaltar que adolescentes não

tem T.P.M., porque seus ciclos são anovulatórios; isto porque os Ciclos se tor-nam, anovulatórios dois anos depois da primeira menstruação.

Após a menopausa a mulher normalmente não tem mais T.P.M.

Existem empresas que não permitem que mulheres que ocupam cargos de respon-sabilidade tomem qualquer decisão nessa fase.

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NOTAS CULTURAIS

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NOTAS CULTURAIS

Março - Santos Arte e Cultura

Em comemoração aos 464 anos da Cidade de Santos, o Teatro Coliseu ganhou de presente um Piano Steinway Concert Grande - Model D, que foi entregue em grande estilo, com a apresentação do renomado pia-nista Nelson Freire, ao lado da Orquestra Sinfônica Mu-nicipal de Santos, em 24 de janeiro. Velho e ansiado sonho de Aura Botto de Barros, presidente do Centro de Expansão Cultural e dos de-mais associados, o Steinway foi adquirido pela Prefeitu-ra, no final de 2009, pelo Programa de Incentivo Fiscal do Governo do Estado de São Paulo (ProAC), graças ao patrocínio das empresas TECONDI, CPFL e Comgás.

A escola Padre Paulo foi a Campeã do Carnaval 2010, em Santos. Na apuração, que acon-teceu na quarta-feira de cinzas (17 de fevereiro), a campeã fe-chou a apuração na Passarela Dráusio da Cruz, na Zona Noro-este, com 179,25 pontos - distan-te apenas 25 décimos (0,25) da segunda colocada, a vice-cam-peã Vila Nova. A classificação final foi: GRUPO 1 (ESPECIAL)- 1º: 179,25 - Padre Paulo; 2º: 179 - Vila Nova; 3º: 178,75 - Sangue Jovem; 4º: 178,25 - Amazonense; 5º:178 - X-9 e União Im-

TEATRO COLISEU GANhA PIANO STEINwAY

A OUSADIA SACUDIU A MULTIDÃO.... CANTOU A CAMPEÃ DO CARNAVAL SANTISTA

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Mais um exemplar de bonde europeu começa a passar por um criterioso trabalho de restauração, nas garagens da Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos.Trata-se de um dos dois veículos italianos doados ao Mu-nicípio pela cidade italiana de Turim, o de prefixo 3265, construído pela FIAT italiana na década de 40. Fonte: Diario oficial de Santos.

BONDE ITALIANO EM RESTAURAÇÃO

A Vila Belmiro, bairro que abriga o Estádio Urbano Cal-deira, do SFC, completou no último dia 14 de fevereiro, 100 anos. Com cerca de 10 mil moradores, é um bairro residencial, onde convivem harmoniosamente casarios antigos e edificações modernas. Mantém excelente in-fra-estrtura com escolas, hospitais, bancos e comércio variado. Parabéns Vila Belmiro!

100 ANOS DE VILA BELMIRO

Foto: Vanessa Rodrigues/PM

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CAROLINA RAMOS PREMIADA

Carolina Ramos, poetisa e es-critora santista, recebeu das mãos da presidente dos II Jogos Florais de Cai-xas do Sul, intelectual Alice Velho Bran-dão, troféu e diploma de Vencedora, na categoria de crônica, cujo tema era “Nos trilhos da História”. O evento esteve integrado a um das mais belas festas do sul, a tra-dicional “Festa da Uva”, que aconteceu nos dias 27 e 28 de fevereiro. A entrega da premiação deu-se na Câmara Muni-cipal de Caxias do Sul.

perial; 6º: 177,5 - Unidos dos Morros; 7º: 174,75 - Bandeirantes do Saboó; 8º: 173,75 - Brasil e 9º: 169,5 - Real Moci-dade.

O DOMADOR DO ESPAÇOAproveitando sua passagem pelo sul do país, Cláudio de Cápua autografou informalmente, seu último livro “Santos Du-mont - o Domador do Espaço”, no saguão do Hotel Pousada Caxiense, em Caxias do Sul - RS

Carolina Ramos recebendo o prêmio das mãos da Presidente da Seção da UBT de Caxias do Sul, Alice Brandão.

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Março - Santos Arte e Cultura

Espaço do LivroCLÁUDIO DE CÁPUA

MIGUEL COSTAde YURI ABYAZA COSTA

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BRIGADEIRO-DO-AR NERO MOURA

MANUEL CAMBESES JR.

BARThOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO

CLOTILDE PAUL

DELÍRIOS DE UM SONhODEOCLECIANO JOSÉ

A história do B r i g a d e i r o Nero Moura, ilustre persona-lidade da vida nacional e da historiografia aeronáutica e da aviação bra-sileira.

A vida de um gênio de seu tempo, seus in-ventos e crono-logia, numa lin-guagem capaz de despertar nos jovens o interes-se pela histó-ria.

O poeta auto-didata mostra como as suas experiências de vida, como menino de rua, podem se transfor-mar em poe-sia.

“Miguel Costa: um herói brasileiro”, livro de autoria de Yuri Abyaza Costa, neto do verdadeiro comandante da Coluna que nunca foi Prestes, a não ser na cabeça de alguns radicais da esquerda bra-sileira de nossa imprensa. Miguel Costa foi o grande estrategista da revolução de 1924, a mais sangrenta luta entre irmãos travada em solo brasileiro. As tropas, sob o comando do Gen. Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, tomaram a Paulicéia, durante 23 dias, após intenso bombardeio da artilharia governista, que matou entre 12 a 15 mil civis, sendo que a população da cidade, não chegava a trezentos mil habi-tantes. Miguel Costa, homem de bom senso, para evitar que a matan-ça de inocentes continuasse, retirou as tropas revoltosas da capital e marchou para o sul do país, onde foi em socorro da fracassada Colu-na Gaúcha, comandada pelo inexperiente capitão engenheiro do exército, Luiz Carlos Prestes. Com a fusão dos revoltosos paulistas e o grupo rebelde gaúcho surgiu a 1ª Divisão Revolucionária. Miguel Costa foi pelo menos durante quatro décadas, o mais destacado líder político militar do Brasil. O livro de autoria de Yuri Abyaza Costa é um livro sério e esclarecedor. Edição da Imprensa oficial do Estado de São Paulo. Preço de R$ 50,00. Aquisição: http://livraria.imprensaoficial.com.br

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