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EM TERRA ESTRANGEIRA REVISTA DA AEASC Edição 50/2016 DOCENTE Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga conta como se tornou um dos grandes neurocirurgiões da Santa Casa e do Brasil Ex-alunos da Faculdade da Santa Casa comemoram carreira em medicina construída fora do Brasil Dra. Marina Ferri de Barros Solheim, de Oslo, Noruega Dr. Yong Lee, de Xangai, China Dr. Marcel Scheinman, de Nova York, EUA

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EM TERRA ESTRANGEIRA

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Edição 50/2016

DOCENTE Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga conta como se tornou um dos grandes neurocirurgiões da Santa Casa e do Brasil

Ex-alunos da Faculdade da Santa Casa comemoram

carreira em medicina construída fora do Brasil

Dra. Marina Ferri de Barros Solheim, de Oslo, Noruega Dr. Yong Lee, de

Xangai, China

Dr. Marcel Scheinman, de Nova York, EUA

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É sempre assim. Um ano termina e começa outro novamente. Em outras ocasiões já tive a oportunidade de me referir a este tema. Mas agora parece que as coisas estão dife-rentes. Não que 2016 não vá acabar (Ufa!!! E já vai tarde!) ou que 2017 não vá começar (e que venha trazendo bons fluidos). O que eu quero dizer é que o ano de 2016 foi dife-rente dos anteriores, que costumavam ser muito parecidos.Na política aconteceram coisas que não são vistas habitualmente: Impeachment da

presidente; políticos presos; escândalos vindos à tona. Tudo isso gerando uma instabilidade econômica, social e uma crise político--financeira e moral. E quem sofre as consequências?A população em geral e cada um de nós particularmente. Nós que vivemos o dia a dia da Santa Casa sentimos na própria pele as difi-culdades financeiras que fazem com que a nossa querida instituição atravesse a pior crise de sua centenária existência. E parece que essa travessia nunca termina.Reflexo de tudo isso é a grande incerteza que domina todos, prin-cipalmente quanto ao futuro de cada um, de nossas instituições e de nosso País. Por tudo que foi aqui comentado, a matéria de capa desta edição da revista AEASC vem muito a calhar. Ela mostra o cami-nho seguido por três ex-alunos que, por razões diferentes, tomaram o mesmo destino de construir sua vida profissional no exterior.E podemos ver que se deram muito bem! Seria essa, no momento, a melhor opção? Para não parecer que estamos muito pessimistas, trazemos também uma excelente matéria com o ex-aluno da 9ª turma José Carlos Veiga Esteves, que atualmente é o chefe da importante Disciplina de Neurocirurgia da FCM Santa Casa, mostrando que nem tudo está perdido.Temos valores humanos, morais e profissionais com capacidade para reverter situações adversas e mostrar que o nosso País tem boas perspectivas. Nossas instituições podem continuar exercendo as funções a elas destinadas, e cada um de nós deve manter a con-fiança e a esperança, características próprias de todos os brasileiros.

E D I T O R I A LPALAVRA DO PRESIDENTE

Celso de Oliveira (12ª turma), Presidente da Associação dos Ex-alunos da Santa Casa de São Paulo

DIRETORIA 2015/2017

PRESIDENTE: Dr. Celso de Oliveira 12ª turma

VICE-PRESIDENTE: Dr. Lister de Macedo Leandro 7ª turma

DIRETOR-SECRETÁRIO: Dr. Oswaldo Cudizio Filho 10ª turma

DIRETOR ADMINISTRATIVO: Dr. Murillo P. Fraga 34ª turma

DIRETOR SOCIAL: Dr. João Carlos Chazanas 18ª turma

DIRETOR CIENTÍFICO: Dr. Marcos Broglio Guidoni 31ª turma

CONSELHO DEPARTAMENTAL

CULTURA: Dr. Roberto Mitiaki Endo - 1ª turma

COMUNICAÇÃO: Dr. Andraus Kehde - 11ª turma

PATRIMÔNIO: Dr. Paulo F. Kertzman - 19ª turma, e Dr. Marcio Rosa Pagan - 27ª turma

SECRETÁRIA: Denise Pires Cudizio [email protected]

PRODUÇÃO EDITORIAL

PROJETO GRÁFICO E EDITORIAL: Fullcase Editora, www.fullcase.com.br

DIRETOR-GERAL: Angel Fragallo [email protected]

DIRETORA EDITORIAL: Juliana Klein MTb 48.542, [email protected]

REVISÃO: Adriana Giusti

A Revista AEASC é uma publicação trimestral da Associação dos Ex-alunos da F.C.M. da Santa Casa de São Paulo.

Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 112CEP 01221-020 São Paulo/SPTel./Fax: (11) 3362-1869E-mail: [email protected]: www.aeasc.org.br

2017 já está começando!

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E M E V I D Ê N C I APROF. DR. JOSÉ CARLOS ESTEVES VEIGAENTREVISTA

Destino marcado

Enquanto estiver lúcido, o de-sejo do Prof. Dr. José Carlos Es-teves Veiga é continuar trans-formando a Irmandade em

uma das melhores na área de neu-rocirurgia do País. E, nesse quesito, o ex-aluno da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (FCMSCSP), formado em 1976 pela 9ª turma, sem-pre soube contribuir muito bem. Desde 2000 ele ocupa a cadeira de chefe da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Cirurgia da Ir-mandade. É o terceiro chefe de ser-viço na Santa Casa, o primeiro foi o Prof. Dr. Carlos Gama, que faleceu em 1963, e o segundo, o neurocirurgião Prof. Dr. Rui de Carvalho, que ficou até dezembro de 1999. Em 2013 também se tornou Professor Livre-Docente da Disciplina de Neurocirurgia do Depar-tamento de Cirurgia da Faculdade e em 2014 foi nomeado, após concurso, Professor Titular. Em entrevista exclu-siva, Dr. Veiga conta como foi o seu progresso pela Santa Casa e os desa-fios que sempre venceu com a ajuda da própria instituição.

O que guarda do tempo de estudante na Santa Casa? Dr. José Carlos Esteves Veiga: Tenho ótimas recordações, desde o trote que era bem organizado, o baile de calouros no clube Pinheiros animado pela cantora Elis Regina, até os pro-fessores que marcaram muito a minha passagem na graduação. Lembro-me com carinho do Prof. Dr. Orlando Jor-ge Aidar, dos seus ensinamentos em neuroanatomia e, posteriormente, de seus inestimáveis e prestimosos co-

mentários na elaboração de minha tese de doutorado. Do Prof. Walter Edgard Maffei, as aulas proferidas em salas de necrop-sia mostrando os diferentes aspectos e mecanismos das doenças, mormente do sistema nervoso, despertaram em mim o interesse pela neuropatologia. Por vezes pegava carona comigo, pois morava perto da minha casa. Assim, tive a oportunida-de de conversar sobre vários aspectos da Medicina, da mitologia grega e culturais. Além, em especial, do Prof. Dr. Rui Raul Dahas de Carvalho, da Neurocirurgia, e do Prof. Dr. Wilson Luiz Sanvito, da Neurolo-gia, que influenciaram muito na minha ascensão tanto na carreira universitária quanto na profissional. Foi por causa de-les, inclusive, que segui a área de Neuro-cirurgia. No Departamento de Cirurgia, o Prof. Dr. Fares Rahal foi o principal respon-sável pela minha iniciação cirúrgica. Res-peitado por toda comunidade médica pela sua esmerada técnica, destreza e pelo comportamento metódico e determinado. Ulteriormente, recebi direto e incessante apoio e incentivo até a obtenção dos títu-los de Livre-Docente e de Prof. Titular.

Desde então, sempre permane-ceu na Irmandade? Dr. Veiga: Fiz a residência de neurocirurgia na própria Santa Casa. E após a residência fiquei ainda dois anos como voluntário, onde eu trabalhava como residente sênior. Em 1983/84 iniciei minha pós-graduação na FMUSP, e lá eu fui até o doutorado, que defendi em 1990. No entanto, em 1983, eu já tinha sido contratado como médico assistente pela Irmandade da Santa Casa e outorgado o título de Prof. Instrutor de Ensino pela Faculdade. Desde então, as oportunidades foram aparecendo na pró-

pria Irmandade e fui ascendendo na carreira aqui dentro, o que agradeço aos meus professores.

Como foi a evolução da Dis-ciplina na Santa Casa e como ela se insere no contexto nacional? Dr. Veiga: O grande desafio foi a cria-ção das subespecialidades. Isso já na minha administração. Para tal convi-dei colegas, a maioria ex-alunos e/ou ex-residentes, e constituímos um forte grupo com várias subespecialidades dentro da Neurocirurgia. Consegui-mos graças ao incentivo da própria Irmandade na formação da equipe de trabalho e também na aquisição de equipamentos de ponta que nos per-mitiram progredir na Disciplina. Deste modo, do ano 2000 para cá, todos os procedimentos neurocirúrgicos em todas as subespecialidades fazemos aqui mesmo na Santa Casa. Até a crise do País, a Santa Casa estava relativa-mente bem equipada na área de neu-rocirurgia, com microscópio cirúrgico, neuroendoscópio, equipamentos para estereotaxia, neuronavegador de pon-ta e outros instrumentos cirúrgicos apropriados. Nossa equipe de neuro-cirurgiões já promoveu vários cursos e congressos da especialidade e concur-sos para obtenção do título de espe-cialista. Continuamos com atividades na pós-graduação lato e stricto sensu. Setor que precisamos melhorar, no entanto, é a área de pesquisa. E a Dis-ciplina de Neurocirurgia tem se desta-cado pela sua produção científica.

Texto: Juliana Klein

Um dos grandes neurocirurgiões do Brasil conta como ingressou na Santa Casa e como pretende contribuir até o final para que a instituição continue sendo uma das melhores do País

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N O S S A C A P AEX-ALUNOS PELO MUNDO

Muito mais que buscar uma ex-periência cultural diferente, deixar o Brasil para viver em outro país significa também

abraçar uma oportunidade que não foi realizada aqui. No entanto, poucos são os que conseguem atuar lá fora na sua profissão de formação. Na medicina, pen-sar nessa chance seria ainda mais difícil. Mas para alguns ex-alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) isso foi possível. A oportunidade bateu à porta e transfor-mou a vida de cada um.A Dra. Marina Ferri de Barros Solheim, formada em 1998 pela 31ª Turma – dos esponjetas –, havia passado na residên-cia de oftalmologia da Santa Casa assim que concluiu a graduação, além de ter conseguido também uma vaga no serviço da aeronáutica para trabalhar como mé-dica da clínica interna geral. No entanto, largou tudo para trás para se casar com o norueguês Kristian e se mudar para a No-ruega em 1999. Isso não significava, contudo, que o de-sejo dela era largar a medicina também. Muito pelo contrário! Quando foi para lá, começou um trabalho para revalidar seu diploma do Brasil. O primeiro passo foi o domínio do idioma, que aprendeu nos primeiros seis meses pelo autoaprendi-zado, em escolas de língua e por meio de um emprego que arrumou como ajudante em uma escola.O segundo passo então foi passar em uma prova de medicina geral em norueguês, equivalente a uma prova de residência na qual a nota mínima deveria ser de 80%. “Depois de ter sido aprovada, comecei a procurar emprego com uma autorização

Ex-alunos da Faculdade da Santa Casa construíram a carreira em medicina fora do Brasil e hoje comemoram a decisão com experiências singulares

Em terras estrangeirastemporária para exercer a medicina. Fiz seis meses de trabalho supervisio-nado e, infelizmente, como o internato brasileiro não foi reconhecido no pro-cesso de validação, precisei também ficar como interna por mais um ano e seis meses”, revela a Dra. Marina. Esse primeiro emprego foi similar ao de uma médica residente do primeiro ano de cirurgia geral. Durante esse pe-ríodo concluiu os cursos de radiologia, tratamento psiquiátrico compulsório (leis regentes no país) e medicina pú-blica (para aprender sobre o sistema de saúde público e leis em vigor). “Em julho de 2000 pude começar o inter-nato, que é um emprego remunerado, dividido em seis meses de cirurgia ge-ral, seis meses de medicina interna e seis meses de medicina de família. Foi então que me apaixonei novamente pela medicina e descobri que gosta-ria de ser médica de família”, conta e completa que depois de dois anos de supervisão, quatro anos de trabalho clínico e mais 450 horas/curso ela se tornou especialista em medicina de família. Atualmente trabalha em Kolbotn/Oppegård, que fica nos arredores da Capital, Oslo. Em 2005, montou um consultório com quatro colegas, no qual possui cerca de 1.300 pacien-tes, entre homens, mulheres, adultos, crianças e idosos. E uma vez por mês faz plantão de 12 horas onde atende à população do município, como um serviço de porta de pronto-socorro. Segundo a Dra. Marina, a medicina na Noruega é baseada em um sistema público de saúde que funciona, com

Texto: Juliana Klein

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A Dra. Marina Ferri de Barros Solheim trabalha em Kolbotn/Oppegård, arredores da Capital, Oslo.

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médicos de família extremamente capaci-tados para abranger as necessidades da população. Com isso, ela diz que a medi-cina lá se torna mais eficaz e mais barata. “Os consultórios de medicina de família são particulares subsidiados pelo gover-no. Os pacientes pagam um preço fixo pela consulta, e o governo paga o restante (exa-mes complementares, encaminhamentos, pequenas cirurgias, etc.)”, explica.Arrependimento de ter saído do Brasil não faz parte dos sentimentos da médica. Vive bem economicamente de acordo com os padrões noruegueses. Ela e seu marido tiveram também duas filhas, Sofia e Vic-toria, hoje com 12 e 8 anos. As escolas públicas são de qualidade e podem até viajar anualmente para o Brasil para visitar a família ou para outros países em férias.

UM CHAMADO IRRECUSÁVELEm 1988, o Dr. Yong Lee – conhecido na época como Yong L. Lam – se formou na FCMSCSP, na 21ª turma, e seguiu por mais dois anos em residência de cirurgia geral na própria Santa Casa. Durante essa resi-dência, como parte do seu treinamento, teve que estagiar duas vezes em Pari-quera-Açu, no interior de São Paulo. Lá, fazendo cesáreas, cuidando de crianças, fraturas e emergências, descobriu seu ver-dadeiro chamado como médico de família. Por essa descoberta e ainda por suges-tões de amigos americanos que conhe-cia, começou então a investigar a pos-sibilidade de ser um médico de família nos Estados Unidos. Como sua família já morava lá, ele tinha ainda mais motiva-

ção estrutural e mais verbas. Tem tecno-logia, mas falta conhecimento. O governo tem investido na infraestrutura, mas não no salário médico. Já o setor privado é bom e oferece ótimas oportunidades para estrangeiros. Para trabalhar como médico lá, ele diz que basta ter boa experiência, habilidade de fazer medicina em inglês e licença válida no país de origem. “Em Xangai, o setor privado aceita o diploma brasileiro. E sempre existem necessida-des médicas em diversas especialidades. No momento estou buscando obstetras e ortopedistas com boa experiência em ar-troscopia, além das demais especialida-des. Abriremos dois novos hospitais nos próximos dois anos”, ressalta. Fora o lado profissional, Dr. Lee é casa-do há 17 anos com Deanna, uma ameri-cana, e possui quatro filhos, sendo dois meninos e duas meninas, e diz que viver na China é tranquilo, mas não barato, ou seja, o salário é bom, porém o custo de educação e aluguel pesam. “Mas tem boas vantagens, como a baixíssima cri-minalidade, acesso fácil a toda a Ásia – meus filhos, por exemplo, já visitaram o Japão, Malásia, Filipinas, Tailândia, Ma-cau, Hong Kong e vários outros locais –, sem contar que é um bom ambiente para as crianças”, conta. Um amante do Brasil, mas com sua famí-lia nos Estados Unidos, raízes e interes-ses na China, além do senso de aventura, o médico diz que por essas razões seria difícil voltar ao País. “A decisão de ter vin-do para a China tem sido muito feliz para mim e minha família. Provavelmente não

ção e interesse em ir para o país. E, em 1991, mudou-se para Houston, no Texas, e fez três anos de residência em medicina familiar. “Após o término da residência, trabalhei com os pobres nos EUA, em San Diego, e fui docente da escola de medici-na da Universidade da Califórnia em San Diego por 13 anos”, conta o médico. No entanto, devido ao forte interesse pela cultura de seus pais, além de razões es-pirituais por querer trabalhar com o mo-vimento Cristão, em 2007 ele decidiu se aventurar em uma nova experiência e se mudou para Xangai, na China. Começou como chefe em uma clínica de urgência e de internação. E então foi promovido para chefe do corpo clínico e depois para vice-presidente de serviços médicos da Parkway. “Deixei a companhia depois de cinco anos rumo a um novo lugar (Ame-rican Medical Center), onde atuei como chefe do departamento médico. Depois de dois anos, fui recrutado por uma com-panhia americana (United Family Hospi-tal), onde atuo como chefe de departa-mento, docente e um dos assistentes do chefe do corpo médico. O plano era de ficar na China por três anos, mas já es-tou há nove. Acabei servindo em várias funções, sendo promovido, e o tempo foi passando”, argumenta.Dr. Yong Lee revela que, tratando-se de medicina, a China ainda possui um siste-ma imaturo, bastante atrasado. “Estamos estabelecendo o setor privado e contri-buindo com a educação do médico chi-nês. Mas o setor público, semelhante ao INPS do Brasil, necessita de uma renova-

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Dr. Yong Lee vive com sua família em Xangai, na China, e atua como vice-presidente de serviços médicos da Parkway.

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voltarei de forma permanente ao Brasil, mas pretendo visitar o máximo que pu-der. Tenho muitos amigos, familiares e lembranças boas. Já levei os meus filhos uma vez e eles querem voltar. Sonho ain-da em participar de uma conferência de veteranos da Santa Casa e de rever a mi-nha turma”, afirma e espera ainda rece-ber contatos de seus colegas através do seu e-mail [email protected].

VOCÊ FAZ O SEU FUTURO! Quando o Dr. Marcel Scheinman, formado em 1985 na FCMSCSP pela 18ª turma – a dos porretas –, decidiu sair do Brasil, ele já estava com sua carreira consolidada. Ti-nha um consultório privado, já havia termi-nado a residência na USP em cirurgia geral e depois em cirurgia vascular; lá também dava aulas em técnica cirúrgica e estava fazendo pós-graduação. “Sair do Brasil, no entanto, foi uma decisão familiar. Quando casei, cheguei a morar no País por um ano e meio, mas, em 1994, eu e minha esposa, que é americana, resolvemos nos mudar para Nova York, nos Estados Unidos, espe-cialmente pela questão da qualidade de vida”, desponta. Quando chegou lá, passou por um longo processo de validação do seu diploma e teve que refazer todas as suas residên-cias. Primeiro foi preciso passar em um exame de qualificação, chamado ECFMG Certification, para o qual o Dr. Scheinman estudou durante um ano para se preparar. Depois, enfrentou um processo burocráti-co e difícil para conseguir entrar em uma residência. “Aqui, há algumas áreas que é praticamente impossível um estrangei-ro conseguir a residência, são extrema-mente competitivas, como oftalmologia e dermatologia. Quando optei pela cirurgia, também era muito competitiva, mas con-segui entrar”, revela. O terceiro passo, segundo ele, foi o visto que, no seu caso, como havia casado com uma americana, já possuía. Após todo esse processo, fez residência em cirurgia geral no Maimonides Medical Center, no Brooklyn, em Nova York, por cinco anos e depois em cirurgia plástica no Hospital Universidade de Columbia e Cornell por mais dois anos,

também em Nova York. Hoje, trabalha em mais de quatro hospitais privados além de atender no seu consultório particular. Exercer a medicina nos Estados Unidos tem vários aspectos, alguns positivos e outros negativos. “É muito mais fácil exercer aqui uma medicina de alto pa-drão, pois qualquer hospital comunitário é bem equipado, com alta qualidade e tecnologia avançada, desde uma cidade pequena até os grandes centros. Diferen-te do Brasil, que só acontece o mesmo em grandes capitais como São Paulo. Sem contar que a remuneração aqui é extre-mamente superior. A grande desvanta-gem, no entanto, é que aqui a prática da medicina é mais estressante. Os médicos temem um possível processo por conta de qualquer complicação e, por isso, pre-cisam se resguardar através de processos burocráticos, como o pedido de diversos exames desnecessários e uma série de papelada para preencher. No Brasil não, nossa maior preocupação era o pacien-te”, pontua o Dr. Scheinman. Fora do trabalho, a prioridade do Dr. Mar-cel Scheinman é a sua família. Casado, possui quatro filhos, três meninos e uma menina. “Passo parte significativa da mi-nha vida com a minha família, passeio,

tiro férias todo ano para viajar com eles, etc.”, aponta e diz ainda que não se ar-repende da decisão de ter ido embora do Brasil. “Não me arrependo pela qualida-de de vida que eu e minha família temos aqui. E especialmente porque, desde que eu saí do Brasil, houve uma piora significativa da violência e qualidade de vida em São Paulo. Sem contar outros as-pectos que fizeram a diferença, como a minha vida religiosa. Eu sou judeu prati-cante e aqui em Nova York isso é extrema-mente mais fácil”, reflete. A última vez que esteve no Brasil foi em 1996, quando seu pai faleceu. Possui uma família pequena, e como suas irmãs já ha-viam se mudado do Brasil e sua mãe tam-bém foi para os Estados Unidos, ficou cada vez mais difícil voltar. “Perdi um pouco o contato com o pessoal da faculdade. Fize-ram uma festa de 20 anos, mas eu não con-segui ir, no entanto, uma coisa muito baca-na foi que criaram um grupo no Whats App do qual eu participo e consigo me comuni-car com a turma. Mas as boas lembranças da faculdade ficam para sempre e o orgulho e a alegria de ser parte dos porretas, mes-mo de longe, nunca se perde, especialmen-te agora quando a tecnologia nos permite manter contato”, conclui.

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Dr. Marcel Scheinman, há 20 anos sem vir ao Brasil, confessa que hoje sua vida está toda em Nova York, onde reside com sua família.

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M O V I M E N T A A A E A S CFATOS E DESTAQUES DOS EX-ALUNOS DA SANTA

A AEASC convida você, ex-aluno, a participar da sua comunidade

on-line em 2017. A proposta é unir e promover a confraterni-

zação dos alunos que são parte da história desta instituição.

Entre, faça o cadastro, confira as fotos, mande a sua opinião e tenha um canal aberto para

marcar encontros e disseminar o aprendizado que recebeu no tempo de estudante. Acesse:

www.aeasc.org.br

Com a construção do novo prédio da Faculdade no quadrilátero da Santa Casa, os departamentos de Morfolo-gia, Fisiologia e Anatomia ganharam uma nova casa. Mas quem também ga-nhou novo espaço foi a nossa querida Toca, tradicional e histórica lanchone-te dos alunos da Faculdade. E agora com mais espaço, moderno e funcio-nal, a Toca tornou-se o local ideal para a realização de encontros das turmas formadas na FCMSC. Assim, tem sido muito frequente ex-alunos marcarem suas festas de confraternização na própria Santa Casa, sendo possível matar a saudade não só dos colegas, mas também dos lugares frequentados durante os seis anos de Faculdade. Se a sua turma ainda não fez seu encontro, não perca a oportunidade de passar quase um dia inteiro com muita alegria, relembrando os bons tempos de escola. Quem já fez recomenda.

A diretoria da AEASC, acatando uma feliz ideia de seu diretor, Paulo Kertzman, iniciou mais uma atividade sociocultural, no sentido de levar aos associados mais conhecimento e atualização do que vem acontecendo dentro e fora da Santa Casa. São palestras seguidas de debates bas-tante proveitosos sobre assuntos gerais. Na primeira edição, realizada dia 27 de setembro, o convidado foi o ex-aluno e atual provedor da Irmandade da Santa Casa, José Luiz Setúbal, que fez uma apre-

sentação sobre o Fundo Areguá, o qual foi criado com o intuito de conseguir fundos para bolsas de estudo aos alunos da pós-Graduação da Faculdade e estímulo ao intercâmbio e pesquisas que possam propiciar a manutenção de talentos em nossa escola. Além de falar sobre o Fundo Areguá, o provedor teceu considerações sobre a atual situação financeira da Irmandade. Fique atento aos meios de co-municação da AEASC (site e e-mail) para saber sobre as novas palestras.

Prestação de contasComo todos sabem, a AEASC tem como sua única fonte de arrecadação a anuidade paga pelos associados. Neste ano de 2016, o valor foi de

R$130,00, que pode ser considerado quase simbóli-co, pois significa pouco mais de R$10,00 por mês. Mesmo assim a adesão dos ex-alunos é muito baixa. Atualmente so-mos cerca de 4.500 ex-alunos (48 turmas já formadas) e apenas 268 contribuíram com a nossa Associação. Muitos

fatores podem ser colocados como causa dessa baixa adesão, porém não é este o objetivo deste breve texto, com o qual queremos apenas levar a informação, prestar contas e agradecer àqueles que contribuíram, verda-deiros responsáveis pela manutenção da AEASC.

Encontro de turmas na Toca

2017Acredite em

Sejamos a mudança que queremos ver no mundo.

Palestras e debates AEASC

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F A C U L D A D E E I R M A N D A D E

Bem-vindo, Areguá!

A crise e a Faculdade

C O M A P A L A V R A

Foi com muito prazer que recebi o convite de abrir uma conversa com vocês por meio da re-vista dos ex-alunos. Escolhi como tema desta primeira edição falar de uma iniciativa que foi

lançada no final de agosto, o Fundo Areguá, que é uma iniciativa que encabecei para ajudar na retenção de talentos para as instituições ISCMSP e FCMSCSP.O espírito de união motivou um grupo de ex-alunos a buscar um modelo de apoio à FCMSCSP e seus alu-nos, visando ao fortalecimento e à perpetuação da Santa Casa como instituição de ponta no ensino e pesquisa em Ciências de Saúde.Criou-se assim o Fundo Areguá, um Fundo Patrimo-nial em forma de associação independente da estru-tura da faculdade, que visa captar doações e investir os recursos oriundos dessa captação prioritariamen-te em bolsas de estudos, de intercâmbios, pós-gra-duação e também em apoio a pesquisas e melhorias na infraestrutura da FCMSCSP e da Irmandade. Fundos Patrimoniais (endowments, em inglês) são estruturas criadas para dar sustentabilidade finan-ceira a causas e organizações sem fins lucrativos. Para isso, a administração de seus recursos, que são provenientes de doações, tem por princípio a conser-vação no longo prazo do valor doado. Assim, a estru-tura de governança, as regras de resgate e gestão dos recursos de fundos patrimoniais são preestabeleci-das, tendo como objetivo principal garantir que as doações recebidas perenizem uma causa. Como con-sequência, o doador do fundo patrimonial tem mais segurança de que os recursos doados terão o destino definido e está deixando um importante legado para a sociedade.Como participar do Fundo Areguá? Toda doação ao Fundo Areguá, não importa seu tamanho, contribui para gerar oportunidades que transformam vidas por meio da educação de excelência na FCMSCSP. Doações mensais renovam os vínculos de ex-alunos, pais e amigos com a FCMSCSP. Seu esforço coletivo

É pouco provável que qualquer um de nós, ex--alunos, não tenhamos passado por um mo-mento de “crise” aqui na “Santa”, seja ao vivo, seja através de notícias. Sempre dize-

mos que “esta crise atual” é a pior que já tivemos.Na verdade, já vivenciamos momentos muito di-fíceis, mas sempre tivemos como parceira forte e indissociável a imagem da Santa Casa diante da opinião pública de uma entidade acima de qualquer suspeita, de uma entidade respeitada pela popula-ção, porque só faz o BEM, porque sempre ajuda os mais necessitados, principalmente quando estes não têm mais a quem recorrer.Pois bem, neste momento, nesta crise, parece que este é o diferencial, porque a imagem da “nossa Santa” foi maculada, a meu ver de forma injusta; não cabe neste momento discutir o que já foi, cabe sim a todos nós, ex-alunos, resgatar esta imagem perante a opinião pública, porque só assim que vol-taremos a ter credibilidade junto aos nossos gover-nantes para que o remédio certo possa ser aplicado e a saúde da Santa Casa readquirida.Participe do Fundo Areguá, será muito importante para nossa escola.

José Luiz Egydio Setúbal, Provedor da Santa Casa

Dr. José Eduardo Dolci, Diretor da FCMSCSP - Medicina

beneficia toda a sociedade, possibilitando a formação na FCMSCSP dos futuros líderes no setor de saúde. Fazer parte da Associação Fundo Areguá é acreditar na força da FCMSCSP e apoiá-la ativamente no de-senvolvimento de seu poten-cial de mudar a realidade da saúde no Brasil. Sua contribui-

ção pode valer o dobro. Como forma de incentivar sua parti-cipação e por acreditar muito no Fundo Areguá, estou me comprometendo, a cada real doado, contribuir também com R$1,00 até R$1 milhão para do-brar a sua contribuição durante o primeiro ano do fundo. VA-MOS COLABORAR!