edição 33 jornal cidadão

7
387 anos de história 387 anos de história Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul Ano X - Número 33 - Maio de 2009 Construída em 1622, a capela de São Miguel Arcanjo é a mais antiga da cidade de São Paulo, tombada na década de 1930 pelo então recém-criado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nos seus quase quatro séculos de vida, a capela presenciou diversos períodos e acontecimentos da história brasileira. Passando por um processo de restauração, ela deve ser reaberta ainda neste ano. Páginas 4 e 5 Felipe Godoy Inclusão nas escolas A EMEF Marechal Juarez Távora, localizada na Ponte Rasa, é considerada uma escola exemplo na questão da inclusão social por ser responsável pelo projeto que oferece uma Sala de Apoio e Aten- dimento à Inclusão (SAAI) para alunos com ne- cessidades intelectuais da região. Página 6 Mariana Pimentel Para solucionar problemas com resíduos de constru- ção ou reformas feitas nas residências dos paulistanos, a prefeitura de São Paulo criou o Ecoponto, projeto que recebe o material sem custo algum e evita o despejo à margem de córregos e rios da cidade. Página 2 Entulho bem-vindo Tatiana Cachoeira Produção cultural A mais antiga Casa de Cultura de São Paulo, no Itaim, que acaba de completar 24 anos, convo- ca a população para participar das atividades reali- zadas no local, que vão desde oficinas de teatro, artes plásticas, karatê, yoga e canto coral até exposi- ções de artes e sala de leitura. Página 8 Silvia Gonçalves

Upload: carollalvess

Post on 21-Jun-2015

737 views

Category:

Education


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: Edição 33   jornal cidadão

387anos dehistória

387anos dehistória

Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul Ano X - Número 33 - Maio de 2009

Construída em 1622, a capela de São Miguel Arcanjoé a mais antiga da cidade de São Paulo, tombada na

década de 1930 pelo então recém-criado Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nos seus

quase quatro séculos de vida, a capela presencioudiversos períodos e acontecimentos da história

brasileira. Passando por um processo de restauração,ela deve ser reaberta ainda neste ano. Páginas 4 e 5

Felipe Godoy

Inclusão nas escolasA EMEF Marechal Juarez Távora, localizada

na Ponte Rasa, é considerada uma escola exemplona questão da inclusão social por ser responsávelpelo projeto que oferece uma Sala de Apoio e Aten-dimento à Inclusão (SAAI) para alunos com ne-cessidades intelectuais da região. Página 6

Mariana Pimentel

Para solucionar problemas com resíduos de constru-ção ou reformas feitas nas residências dos paulistanos, aprefeitura de São Paulo criou o Ecoponto, projeto querecebe o material sem custo algum e evita o despejo àmargem de córregos e rios da cidade. Página 2

Entulho bem-vindo

Tatiana Cachoeira

Produção culturalA mais antiga Casa de Cultura de São Paulo,

no Itaim, que acaba de completar 24 anos, convo-ca a população para participar das atividades reali-zadas no local, que vão desde oficinas de teatro,artes plásticas, karatê, yoga e canto coral até exposi-ções de artes e sala de leitura. Página 8

Silvia Gonçalves

Page 2: Edição 33   jornal cidadão

Camila Santana

PÁGINA 2 - MAIO DE 2009 SERVIÇOS

Tatiana Cachoeira

Ecoponto tira entulho das ruasProjeto pode ser solução para problemas de limpeza urbana em São Paulo

Os Telecentros são locais que pos-suem computadores conectados a In-ternet, totalmente gratuitos, oferecen-do à população de baixa renda possi-bilidade de inclusão digital. Criados emantidos pela Prefeitura de São Pau-lo, são instalados em áreas da periferiada cidade e contam com a orientaçãode profissionais treinados para incen-tivar o acesso às mídias eletrônicas.Cada unidade conta com 20 compu-tadores e determina seu horário defuncionamento. É necessário fazer umcadastro apresentando RG e compro-vante de residência para fazer os cur-sos e oficinas oferecidos gratuitamen-te. Os menores de 12 anos devem es-tar acompanhados dos pais ou res-ponsáveis legais.

Quem já possui conhecimentos deinformática pode aperfeiçoá-los comos cursos de capacitação para ingressono mercado de trabalho, criação de si-tes e processamento de imagens. Aglobalização, a tendência de informa-tização em todos os setores de negó-cios e a necessidade de troca rápida deinformações exigem que todos te-nham, ao menos, um conhecimentobásico sobre as redes de informações,logo, o envolvimento com novas tec-nologias torna-se cada dia mais neces-sário. As classes mais carentes são asque encontram dificuldade de acesso ainclusão digital e, neste momento, osTelecentros exercem o papel de inter-mediadores entre a carência e a neces-sidade, disponibilizando o acesso aum mundo informatizado. Ao rece-berem orientações e conhecimentos,crianças e jovens ficam longe das ruase percebem a existência de novas pers-pectivas para o futuro.

No site www.telecentro.sp.gov.brestão disponíveis os endereços de to-dos os Telecentros da cidade de SãoPaulo, divididos por região. Faça umavisita a um deles e perceba que a inclu-são digital é acessível, fácil e interes-sante.

Telecentrosfavorecem a

inclusão digital

Há mais de 30 anos, quando co-meçou a preocupação com o meioambiente, passamos a usar o termoreciclagem, que nada mais é do queseparar um material para que retorneao seu ciclo de produção – após já tersido utilizado e descartado –, tornan-do-se novamente um bem de consu-mo, economizando energia e preser-vando os recursos naturais e o meioambiente. A reciclagem pode trazerinúmeros benefícios para a população:diminuímos a quantidade de lixo aser aterrado, preservamos os recursosnaturais, economizamos energia, re-duzimos a poluição do meio am-biente e, fator importantíssimo emnossos dias, geramos empregos emum novo tipo de segmento, a indús-tria da reciclagem.

O IBGE aponta pesquisa bienalCiclosoft, realizada pelo Compromis-so Empresarial para Reciclagem (Cem-pre), como fonte de dados sobre aevolução da coleta seletiva no país. Em2008, houve crescimento de 24% naabrangência dos municípios que reali-zam a seleção do lixo.

O engajamento das prefeituras,ONG’s e sociedade civil foi fator de-terminante para o aumento de pes-soas com acesso aos programas de co-leta seletiva, passando de 25 milhõesem 2006 para 26 milhões em 2008.

Em São Paulo, a prefeitura desen-volve o projeto Ecoponto – Estaçãode Entrega Voluntária de Inservíveis,que aumenta a oferta de áreas para de-posição regular dos resíduos da cons-trução e demolição de pequenos e gran-des geradores, além de facilitar e in-

PRESERVAÇÃO - Ecopontos incentivam a coleta seletiva e a reciclagem de materiais não-orgânicos

centivar a coleta seletiva e reciclagemde materiais não-orgânicos. A cidadeconta hoje com 35 unidades em fun-cionamento. Nos Ecopontos, o mu-nícipe poderá dispor o material gra-tuitamente em caçambas distintas paracada tipo de resíduo.

O material de origem mineral,como concreto, argamassa e alvena-ria, é encaminhado para o aterro deinertes e transformado em agregadoreciclado utilizado na pavimentaçãode ruas. O rejeito é levado aos aterros

sanitários e o resíduo reaproveitávelàs 15 Centrais de Triagem para co-mercialização.

Cerca de 51 mil m³ de entulho eobjetos volumosos foram recolhidosnos Ecopontos em operação no anopassado. Se os Ecopontos não exis-tissem, provavelmente todo este ma-terial poderia estar sendo jogadoem via pública. Segundo o coordena-dor do Núcleo Gestão de Entulho doLimpurb, Valdecir Papazissis, atual-mente oito unidades estão em pro-

cesso de obras e licitação. A meta daadministração municipal é ter umEcoponto em cada distrito, totalizan-do 96 unidades.

A maioria dos Ecopontos fun-ciona regularmente de segunda-feira àsexta-feira, das 8 às 17 horas. Algu-mas unidades também funcionamaos sábados. Mais informações po-dem ser solicitadas pela Central deAtendimento da Prefeitura, no tele-fone 156, Limpurb 3397-1777, ou nosite www.prefeitura.sp.gov .br.

No transporte acessível, a cidadede São Paulo tem feito a diferença. Em1996, o então prefeito Paulo Malufassinou o decreto nº 36. 071, que criouo Atende, iniciativa para regulamentaro serviço de atendimento especial aosusuários com mobilidade reduzida.

O objetivo é garantir um serviçode transporte público seguro e con-fortável para dar maior autonomia àspessoas com mobilidade reduzida. Oserviço é destinado a atender, exclusi-vamente, pessoas portadoras de defi-ciência motora, mental e múltipla,temporária ou permanente, em alto

Transporte especial faz a diferençagrau de dependência, sendo feito deporta a porta, gratuito e com regula-mento diferenciado.

O atendimento especial tornou-se parte dos trabalhos da SecretariaMunicipal dos Transportes, respon-sável pela sua organização e planeja-mento. Às subprefeituras cabe o ca-dastramento e agendamento das pes-soas que utilizarão o transporte. Ogerenciamento é feito pela SPTrans esua operação compete às empresas detransporte coletivo do município deSão Paulo.

A prioridade na seleção das pes-soas a serem beneficiadas é dada aostratamentos de saúde, reabilitação eeducação. Caso haja oferta de veícu-

los, esporte, trabalho, lazer e outrasatividades diárias também podem seratendidas.

Para efetuar o cadastramento sãonecessários os seguintes documentosdo usuário: ficha de avaliação médi-ca, encontrada no site da SPTrans ounas subprefeituras, devidamente pre-enchida por um médico que confir-me o grau de mobilidade do solici-tante, CPF, RG e comprovante de re-sidência em nome da própria pessoa.O responsável precisa levar apenasRG e comprovante de residência emseu nome.

Todas as pessoas cadastradas de-vem agendar sua programação de via-gens sempre com 15 dias antes do iní-

Bianca CustodiaTatiana Cachoeira

cio de cada mês para que o atendimen-to possa ser prestado com eficiência equalidade.

O serviço funciona de segunda asexta-feira, das 7 às 20 horas, e aossábados e domingos, das 8 às 18 ho-ras, somente para programações cul-turais e de lazer. Cada usuário poderealizar uma única viagem por dia.Atualmente há 292 veículos destina-dos ao tendimento e mais de 6 milusuários cadastrados no programa(deficientes e acompanhantes).

Mais informações podem ser ob-tidas pelo site www.sptrans.com.br,pelo telefone 156 ou nas subprefeitu-ras da região, com atendimento de se-gunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas.

Tatiana Cachoeira

O Telecentro tem...n Uso livre dos equipamentos;n Acesso à Internet;n Cursos de informática básica;n Curso de navegação na Internet;n Realização de atividades sócio-culturais para mobilização social;n Oficinas de alfabetização digital;n Oficinas de capacitação diversasque possam utilizar as Tecnologiasda Informação e Comunicação.

EDITORIAL

Resgatandomemórias

O que somos no presente e o que sere-mos no futuro é totalmente influenciadopor nossa história, seja ela familiar ou aque aprendemos na escola. Cada povo,nação, pessoa, tem sua identidade, suaspeculiaridades na fala, costumes, vestimen-tas e alimentação, tudo isso graças à his-tória que um dia nossos antepassados cons-truíram e que nós construiremos para au-xiliar na formação de nossos filhos, ne-tos, bisnetos...

Nesta edição do Cidadão, jornal-

laboratório produzido pelos estudantes deJornalismo, valorizamos o resgate históricocomo fator essencial à construção de umaidentidade ao indivíduo e seu direito ao ple-no exercício da cidadania.

A editoria de Serviços, por exemplo,traz diversas informações sobre serviços pú-blicos oferecidos gratuitamente para a po-pulação. Destaque para os Ecopontos, querecebem resíduos e material reciclável, e ocurioso projeto Escreve Cartas, oferecidopelo Poupatempo, que auxilia pessoas comdificuldades na escrita.

A restauração da capela de São MiguelArcanjo, carinhosamente chamada de Ca-pela dos índios, após 387 anos de existên-cia, foi patrocinada por grandes empresas e é

uma prova de que nossa história jamaispode ser esquecida. Nas páginas centrais,você vai conhecer a história, a importânciae a restauração da igreja mais antiga dacapital paulista.

Muito se fala sobre a inclusão de alu-nos com necessidades educacionais espe-ciais no ensino regular, mas pouco se faz.A EMEF Marechal Juarez Távora é umexemplo desse desafio na educação, aten-dendo alunos do Programa de Inclusão àCriança com Necessidades EducacionaisEspeciais. Cultura e arte, além de lazer,podem trazer conhecimentos que serão uti-lizados para sempre, tudo disponibilizadopela Casa de Cultura do Itaim Paulista,que oferece inúmeras atividades gratuitas.

Jornal-laboratório do

Curso de Comunicação Social

(Jornalismo)

da Universidade Cruzeiro do Sul

Ano X - Número 33

Maio de 2009

Tiragem: 3 mil exemplares

Telefone para contato:

(11) 2037-5706

Impressão:

Jornal Última Hora do ABC

(11) 4226-7272

Reitora

Sueli Cristina Marquesi

Pró-reitor de Graduação

Carlos Augusto Baptista de Andrade

Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa

Luiz Henrique Amaral

Pró-reitor de Extensão e

Assuntos Comunitários

Renato Padovese

Coordenador do Curso de

Comunicação Social

Carlos Barros Monteiro

Professor-orientadorDirceu Roque de Sousa

Page 3: Edição 33   jornal cidadão

SERVIÇOS

Conselho procura apoiar moradores no combate à violência e sugerindo alternativas para o trânsito

SEMEANDO - Com seu trabalho voluntário no Conseg, Leão espera plantar um futuro melhor para seus netos

Fotos Tatiana Cachoeira

Conseg luta pela segurança da comunidadeMAIO DE 2009 - PÁGINA 3

Muitos devem se perguntar o queé Conseg? Uma palavra não muito fa-miliar no cotidiano das pessoas, oConseg – Conselho Comunitário deSegurança – é um grupo de morado-res de um mesmo bairro que se en-contra para debater e propor soluçõespara problemas relacionados à segu-rança, trânsito e má iluminação.

Criado por meio do Decreto Es-tadual nº 3.455, de 10 de maio de 1985,ele deve, obrigatoriamente, ter a pre-sença de membros da Polícia Militar eCivil, representantes religiosos ou deensino, além de pessoas da comuni-dade. A existência de cada Conseg de-pende da localização dos distritos po-liciais nos bairros. Em São MiguelPaulista, por exemplo, há o 63º e o 22ºDP, portanto dois Consegs. É repre-sentado por um presidente eleito pelacomunidade e seu mandato tem a du-ração de dois anos, com possibilidadede reeleição.

Há quatro anos, Claudionor Cor-rea Leão, 54 anos, preside o Consegde São Miguel Paulista, trabalho querealiza em caráter voluntário. Segun-do ele, o Conselho não possui verbaou apoio e sua divulgação é muito de-fasada. “As pessoas do bairro não par-ticipam dos encontros porque acredi-tam que este projeto tem parceria com

Criado pelo governo de São Pau-lo em 1996, o Poupatempo reúne, emum único local, 30 órgãos públicos eempresas prestadoras de serviços denatureza pública, disponibilizando àpopulação mais de 400 serviços, semdiscriminação ou privilégios, por 12horas consecutivas, de segunda-feira asábado. Há atualmente em todo oEstado 13 postos fixos de atendi-mento: Sé, Luz, Santo Amaro, Itaque-ra, São Bernardo do Campo, Guaru-lhos, Campinas Centro, CampinasShopping, São José dos Campos, Ri-beirão Preto, Bauru, Osasco e Santos.

Os serviços mais utilizados são osexecutados por órgãos como o De-tran, Correios, Instituto de Identifi-cação e Procon. Porém, há muitos ou-tros gratuitos e desconhecidos porgrande parte da população. O projetoEscreve Cartas, por exemplo, inspira-

Camila Santana

Poupatempo é aprovado pela populaçãodo no filme Central do Brasil, tem oobjetivo de atender pessoas simples,que têm dificuldades em escrever, eque saíram de sua cidade natal deixan-do para trás muitas lembranças e sau-dades dos familiares.

O serviço consegue reduzir a dis-tância e as diferentes realidades sociais– alfabetizados e não alfabetizados,informatizados e não informatizados–, propiciando aos já socialmente ex-cluídos a oportunidade de escrever ereceber cartas. A idéia é tão valiosa quejá foi noticiada em veículos de grandecirculação, no ano passado, como Diá-rio de São Paulo e revista Época. Osinteressados em trabalhar como vo-luntários podem se inscrever nos pró-prios Poupatempos.

A Associação dos Registradores dePessoas Naturais do Estado de SãoPaulo (Arpen-SP) fornece segunda viade certidões de diversos tipos gratui-tamente, desde que seja preenchido

Tatiana Cachoeira

Os encontros do Conseg em SãoMiguel Paulista são mensais, realiza-dos na última quinta-feira de cadamês, no período noturno, e sediadosno Colégio Dom Pedro I, que fica narua Américo Gomes da Costa, 59.

Mais informações sobre os encon-tros da sua região poderão ser obtidasno site da Secretaria de Segurança Pú-blica (www.ssp.sp.gov.br), onde exis-te uma página destinada aos Consegscom telefones e endereços.

um formulário declarando a impossi-bilidade de pagamento da taxa.

Criado em setembro de 2002, o e-poupatempo é a primeira experiênciarumo ao Poupatempo virtual. Eleoferece aos cidadãos salas equipadaspara o acesso a mais de 2 mil serviçospúblicos das esferas estadual, munici-pal e federal disponíveis na Internet.Um dos principais objetivos da im-plantação destas salas é incentivar ocidadão a realizar os serviços públicoseletrônicos por si próprio.

Há atendentes atuando como fa-cilitadores para auxiliar, quando neces-sário, na execução dos serviços, seja namanipulação do equipamento ou nanavegação da página do órgão respon-sável. Também cabe ao atendenteacompanhar todo o processo e iden-tificar as dificuldades e barreiras encon-tradas pelo cidadão, além de observaro comportamento do usuário diantedo atendimento eletrônico.

O agendamento para doação desangue (Fundação Pró-Sangue) e con-sultas à situação na lista de espera paratransplante de órgãos e/ou tecidos sãoexemplos de serviços que podem serefetuados pelo e-poupatempo e muitosusuários desconhecem.

Todos os dados coletados nas sa-las de atendimento são analisados,gerando informações importantespara que os responsáveis pelos servi-ços conheçam o perfil dos cidadãos eem quais pontos eles têm maiores di-ficuldades para a utilização dos servi-ços. Desde o início de suas atividades,em setembro de 2002, até o fechamen-to de julho de 2008, o e-poupatempo jáprestou quase 2,8 milhões de atendi-mentos à população.

Informações sobre os serviçosoferecidos, documentos, condições,prazos e taxas podem ser obtidas peloDisque Poupatempo: 0800 772 36 33(ligação gratuita).

Criado em 2002 pela Coorde-nadoria Estadual para Assuntosdos Conselhos Comunitários deSegurança, o Prêmio Franco Mon-toro de Participação Comunitáriacontempla os melhores projetoselaborados por Consegs do Esta-do, na busca pela melhoria da se-gurança pública e da qualidade devida da comunidade de uma deter-minada região. O Prêmio foi no-meado Franco Montoro em home-nagem a André Franco Montoro,governador de São Paulo entre1983 e 1987, que assinou o decretode criação dos Conselhos.

PrêmioFranco Montoro

algum partido político, mas isso é umengano. Desta forma, elas acabam per-dendo a oportunidade de colaborarpara reivindicar melhorias”, lamenta.

Nas reuniões são discutidos diver-sos assuntos, como segurança nas pra-ças do bairro, buracos nas avenidas e

má iluminação das ruas. Cerca de 20pessoas participam regularmente dosencontros, contando com os represen-tantes da polícia e os moradores. OConseg de São Miguel ganhou inú-meras vezes o Prêmio Franco Monto-ro de Participação Comunitária (veja

box ao lado). O último benefício con-quistado foi o Posto da Guarda Civil,em uma praça no Parque Paulistano.Hoje, no antigo local dominado pe-los marginais, os moradores podemusufruir de campo de futebol, biblio-teca e Telecentro.

Unidades móveisatendem interior

do Estado

O Poupatempo móvel foi cria-do para atender a população quereside longe dos postos fixos. Aprimeira unidade surgiu em 2004,para suprir a necessidade de bair-ros distantes da capital e de muni-cípios da Grande São Paulo. O su-cesso foi tamanho que, em 2006,seis novos postos foram inaugu-rados, dois na região metropolita-na e quatro no interior do Estado.A permanência da unidade em cadalocalidade depende do número dehabitantes e da demanda pelos ser-viços, variando de 3 a 15 dias.

Nas unidades móveis são pres-tados serviços como emissão deRG, Carteira de Trabalho, Atesta-do de Antecedentes Criminais,além de uma série de serviços pú-blicos eletrônicos, disponibilizadospelo e-poupatempo, como consulta dedébitos de IPVA, DPVAT, multasde trânsito, pontos na CNH, regis-tro de Boletim de Ocorrência. Astaxas geradas pelos serviços doPoupatempo podem ser pagas noBanco Nossa Caixa, instalado den-tro das unidades.

Os postos itinerantes localiza-dos na Grande São Paulo têm ca-pacidade para atender uma médiade 800 pessoas por dia; os do inte-rior, cerca de 450. Todos os servi-ços prestados nas unidades móveisseguem o padrão Poupatempo deatendimento, sem privilégios e coma distribuição de senhas eletrônicaspor ordem de chegada.

Você encontra a programaçãocompleta das unidades móveis nosite www.poupatempo.sp.gov.br.

FACILIDADE - Agências oferecem comodidade e serviço rápido LEMBRANÇAS - Projeto Escreve Cartas reaproxima parentes distantes

Page 4: Edição 33   jornal cidadão

de mais bancos, es-tacionamentos, es-paços para alimen-tação e o aumentoda segurança, prin-cipalmente para acapela, onde hátantas riquezas epouca proteção.Uma parceria re-cente, firmada como Palácio dos Ban-deirantes, trará

obras de artistas famosos para seremexpostas no espaço, como as de Tar-sila do Amaral.

“Podemos dizer que o significa-do da capela de São Miguel, para nós,hoje, é o que queremos para ela nofuturo, baseando-nos, sobretudo, noseu memorável passado”, aponta pa-dre Geraldo no livro Capela de SãoMiguel Arcanjo, publicado ao térmi-no da primeira fase da atual restaura-ção da igreja.

Muito ainda tem a ser descobertosobre a Capela dos Índios, suas ri-quezas, seus segredos, sua história.Entretanto, para que a importância dacapela se perpetue, é necessário quetodos se unam em prol da sua preser-vação, como afirma o próprio padreGeraldo no livro citado: “Para ser, nofuturo, tudo o que significou até hoje,nossa capelinha, que já não é apenasespaço religioso, continuará precisan-do do cuidado das autoridades res-ponsáveis pelo patrimônio históriconacional, do apoio dos parceiros dainiciativa privada, da inspiração dosarquitetos e artistas, do zelo pastoralda igreja e do amor afetuoso do povodesta região.”

o ano de 1560, um grupode índios guaianases, lide-rados pelo cacique Piquero-

bi, assustados pelo grande númerode colonizadores europeus, fugiu doPátio do Colégio e se estabeleceu àsmargens do rio Ururaí, hoje Tietê.

Com o objetivo de continuar oprocesso de catequização dos guaia-nases, o jesuíta José de Anchieta foienviado pelo padre Manoel da Nó-brega à várzea do Ururaí, região atual-mente conhecida por São Miguel Pau-lista. Logo após a sua chegada, o pa-dre construiu uma pequena casa reli-giosa para o seu trabalho de cristiani-zação dos índios.

O padroreiro escolhido para a igre-ja foi São Miguel Arcanjo, cuja escolhapossui duas hipóteses: a primeira, pelasemelhança do espírito combatente doarcanjo com a postura guerreira dosguaianases; a segunda, pelo fato deSão Miguel ser o patrono da cidadenatal de Anchieta. A igrejinha foi er-guida de maneira estratégica, mais altaem relação ao leito do Ururaí, dan-do visão dos índios tamoios que usa-vam o rio para atacar os seus inimigosguaianases e de todos que subiamrumo à São Paulo.

Em 1622, a rudimentar igreja deAnchieta foi demolida, dando lugar auma outra capela de taipa de pilão,construída pelos índios, com o coman-do do bandeirante e carpinteiro Fer-não Munhoz e do padre jesuíta JoãoÁlvares. De acordo com a inscrição naporta principal, a obra foi concluídaem 18 de julho de 1622, tornando-a aigreja mais antiga da capital paulista ea primeira construção em taipa de pi-lão do Estado.

No século XVIII, com a expul-são dos jesuítas do Brasil, os fradesfranciscanos assumiram o local e, sobo camando do frei Mariano da Con-ceição Veloso, reformaram e amplia-ram o prédio. Nessa reforma, paredesforam erguidas com adobe – tijoloartesanal utilizado em Minas Geraisnaquela época –, o pé direito da navelateral foi aumentado, duas janelas fo-ram abertas acima do telhado, umacapela lateral foi erguida em homena-gem a Nossa Senhora do Rosário eelementos decorativos de madeira fo-ram implantados, dando à igreja ca-racterísticas franciscanas. A estruturaoriginal, entretanto, foi mantida.

Após esse período só há registrosde modificações na capela no séculoXX. Em 1904, um forro foi colocadona nave e, em 1926, a Prefeitura deSão Paulo deu início a obras de pre-servação que não chegaram, porém, aser concluídas.

Na década de 1930, vendo a ne-cessidade da preservação do patrimô-

nio histórico do Brasil, Mario de An-drade elaborou o projeto de uma ins-tituição governamental que proteges-se bens históricos nacionais. Surgiu,então, em 1937, o Serviço do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional(Sphan), hoje Instituto do Patrimô-nio Histórico e Artístico Nacional(Iphan).

A capela de São Miguel foi um dosprimeiros bens tombados de acordocom a nova instituição. Em 1940, umagrande restauração foi comandadapelo arquiteto e diretor regional doSphan em São Paulo, Luis Saia, queencontrou o prédio abandonado, da-nificado e descaracterizado. O restau-ro foi concluído em 1941, reconsti-tuindo e livrandoa capela de traçosque Saia conside-rava indesejáveis.

Com a cons-trução da catedralde São Miguel, em1965, a poucosmetros da capela,os trabalhos reli-giosos foram mi-grados para a nova matriz, deixandoa Capela dos Índios, como é chamadapor moradores da região, em segun-do plano. A capela ficou fechada paracerimônias religiosas durante 24 anos,passando por uma recuperação estru-tural e das instalações, no início da dé-cada de 1980, e foi reaberta em 1988,com o casamento de Alberto Abe Ju-nior e Fátima Regina Della Torre (veja

box abaixo).Segundo o secretário da Associa-

ção Cultural Beato José de Anchieta,Alexandre Galvão, 34 anos, respon-sável pela capela, a igreja ficou fechada

todo esse tempo por falta de interes-se. “A consciência do patrimônio ar-tístico, cultural e arqueológico no Bra-sil é pequena ainda. É por isso quefazemos um trabalho de educação pa-trimonial, com visita de escolas”, afir-ma o secretário.

“A capela ultrapassa São Miguel,São Paulo, Brasil (...). Já vieram algunsprofessores da Espanha, de Portugal.Ela é única, tem elementos aqui nacapela que, ou você vem conhecer aqui,ou você não conhece. Ela é testemu-nha da história”, diz. Galvão aindaconta que vários acontecimentos mar-

PÁGINA 4 - MAIO DE 2009 MAIO DE 2009 - PÁGINA 5

caram a capela no últi-mo século. Na décadade 1990, um show napraça Padre Aleixo Ma-fra, onde fica localizadaa igrejinha, não supor-tou a quantidade depessoas que compare-ceram. Indignados por não enxergarnada, muitas pessoas subiram na ca-pela e jogaram as telhas originais de1622 nos carros que passavam pelaavenida. Certa vez, um homem inva-diu a igreja e destruiu várias imagenshistóricas e, no ano passado, um sinode cobre de 25 quilos foi roubado.

Atualmente a capela passa poruma restauração encabeçada pela As-sociação Cultural Beato José de An-chieta, que conseguiu o apoio finan-ceiro de algumas instituições interes-sadas na preservação do patrimôniohistórico e cultural brasileiro.

o longo dos seus 387 anos, acapela de São Miguel Arcan-jo passou por diversas refor-

mas e restaurações. A partir de 2006teve início um projeto de restauraçãopromovido pela Associação CulturalBeato José de Anchieta, que foi criadacom o objetivo de descobrir as histó-rias que rodeiam a capela. Esse pro-cesso teve duas fases: uma já concluí-da e outra em execução.

A primeira fase consistiu em res-taurar a estrutura da capela: edificação,rede elétrica, elementos artísticos, teto,piso e o acervo de imagens. Vidrosforam colocados no vão lateral paraproteger o interior da igreja do pó edos insetos e sistemas de escoamen-to de água foram instalados para quea chuva não estrague a madeira da fa-chada. Foram restaurados os forros,estruturas de madeira e ferragens ori-ginais.

Os nichos, cavidades feitas nasparedes e de diferentes tamanhos fo-ram preservados. Os nichos grandesguardavam pertences e objetos valio-sos, os médios abrigavam as imagense os pequenos eram usados para ilu-minação. Uma parte da parede origi-nal, feita de taipa de pilão, onde fo-ram encontrados pe-daços de madeira, pa-lha e crina de cavalo,foi deixada à mostra.

Na parte internaonde ficam as janelase o óculo – aberturaredonda que fica nafrente da capela – sepode ver uma pia ba-tismal e uma pia deágua benta do séculoXVII. No mesmoespaço existem altareslaterais com pinturasfeitas pelos jesuítas,que não tinham sido

descobertas na primeira restauração,entre 1939 e 1940, feita pelo arquitetoLuis Saia, pois estavam cobertas comuma tinta de cor cinza.

Pedras da época, que ficavam nopiso da capela, foram transferidas parao seu redor, afim de evitar o desgastecom a movimentação das pessoas. Oúnico piso original é o da sacristia,onde não se pode pisar. Pedras no-vas, semelhantes às antigas, foramcolocadas nesta restauração, pois a pe-dreira de onde eram extraídas, em Itu,foi tombada pelo Conselho de Defe-sa do Patrimônio Histórico, Arqueo-lógico, Artístico e Turístico (Conde-phaat).

Na restauração foram feitas esca-vações arqueológicas onde se desco-briu corpos de três índios, que forammantidos no local, além de porcela-nas portuguesas, utensílios usadospelos índios, pedaços de louças, cerâ-micas, cabelos e conchas que estão sen-do estudados.

A segunda fase do projeto é trans-formar a capela num espaço culturalpara mostrar o que foi encontrado epara que a história seja contada paratodos. Para visitar o lugar, uma taxaserá cobrada para custear a manuten-ção do restauro.

A capela tem os objetos mais an-tigos do Brasil, como a mesa da sa-

cristia, e é uma das construções maisantigas do Estado de São Paulo. Porisso, o espaço será muito mais mo-derno e seguro do que outros. A re-cepção será realizada nos fundos dotemplo, onde está sendo construídoum anexo flutuante para evitar danosao solo, considerado de alto valor ar-queológico.

De acordo com o Grupo Voto-rantim, um dos patrocinadores da res-tauração, serão utilizados painéis, vi-trines e placas que estimulem o inte-resse do visitante em conhecer e ex-plorar o edifício e sua trajetória. Tam-bém se pretende mostrar o resultadodas pesquisas arqueológicas realizadas.

O circuito ainda terá recursos digi-tais das informações reunidas e cata-logadas, para que o visitante possa tercontato com temas distintos comoreligiosidade e fé, social e histórico, artee técnica. O objetivo é que o visitanteconheça todo o conjunto e o patri-mônio tombado.

A praça Padre Aleixo MonteiroMafra foi restaurada pela subprefeitu-ra de São Miguel Paulista para valori-zar a visualização da capela. Ela foi re-baixada na frente e as árvores foramreorganizadas.

Prevista para ser reinaugurada nosegundo semestre deste ano, a capela,cujas obras levaram mais de dois anos,

teve investimento deaproximadamenteR$ 3 milhões. Os pa-trocinadores são aPetrobras, Itaú, Vo-torantim Metais eNitro Química. Agestão cultural é daFormarte e execuçãoda Concrejato. Cercade 50 profissionais,entre engenheiros,arquitetos, restaura-dores, historiadorese arqueólogos estãoenvolvidos na res-tauração.

o ser construída, em 1560, acapela de São Miguel Arcan-jo tinha como objetivo ser

um ponto de encontro e de evangeli-zação dos índios Guainases e, devidoa sua estratégica posição, acima do lei-to do rio, servia como espaço de vigi-lância e defesa dos ataques dos índiosTamoios pelo rio Tietê. Atualmente apequena capela apresenta uma impor-tância singular, não só religiosa, mastambém histórica e cultural.

Em entrevistaao jornal Cida-

dão, o presidenteda AssociaçãoCultural BeatoJosé de Anchieta,padre GeraldoAntônio Rodri-gues, cita um co-mentário feitopelo sociólogoGilberto Freyre re-ferindo-se à cape-la: “Não se pode conhecer com pro-fundidade o Brasil, sem conhecer acapela de São Miguel.” Até o historia-dor Sérgio Buarque de Holanda já tra-tou da igrejinha em um dos seus tra-balhos. A entidade foi criada com oobjetivo de resgatar, preservar e di-vulgar o patrimônio artístico e cultu-ral da Diocese de São Miguel Paulista.

A arte simplesmente contemplao ambiente, duas imagens localizadasna frente dos altares laterais intrigama muitos: “Os dois rostos em cadaponta da antiga mesa de comunhãoque, para muitas pessoas, são chama-dos de anjos, querubins, para o arqui-teto Lúcio Costa – um dos idealiza-dores de Brasília –, são faces femini-nas da arte primitiva mais antiga doBrasil”, lembra padre Geraldo.

Segundo ele, projetos são estuda-dos para a melhoria da capela. Existea possibilidade de uma parceria com aempresa que projeta o Museu da Lín-gua Portuguesa para dinamizar o es-paço e atrair um público-alvo maior.Porém, para que isso ocorra, é neces-sário mais investimentos dos órgãospúblicos, valorizando a região de SãoMiguel Paulista, como a implantação

Daffne SenaEstéfani Lozano

Renata SantosJuliana Ribas

MEMÓRIA

NN

““ ““Ela é única, temelementos aqui na capelaque, ou você vem conhecer

aqui, ou você não conhece. Elaé testemunha da história

A importância

Capela de São Miguel ArcanjoCapela de São Miguel Arcanjo

Felipe GodoyMarília Lino

À esquerda, a capela de São Miguel Arcanjo noinício do século XX; abaixo, em foto atual; à

direita, o interior já restaurado da igreja,destacando a pia batismal do século XVII

Acima, recorte de jornal dobairro falando sobre o

casamento de Fátima eAlberto; ao lado, foto docasamento de Natália e

Pedro, realizado por padreAleixo Mafra em 1959

De mãe para filhacapela de São Miguel Arcan-jo traz histórias de gerações,em especial as cerimônias de

casamento de Natalia e a de sua filha,Fátima. Natalia Garcez Della Torre, 69anos, é uma portuguesa que veio parao Brasil com 13 anos. No dia 26 dedezembro de 1959 casou-se com opaulista, natural de São José do RioPardo, Pedro Della Torre, 76 anos.

O cenário do casamento foi a ca-

pela de São Miguel Ar-canjo, com uma cerimô-nia realizada pelo padreAleixo Mafra, figura im-portante para a históriado bairro de São MiguelPaulista.

Dona Natalia contaque a cerimônia foi mui-to bonita e inesquecível.“No dia em que casamos, houve oitocasamentos, era um em cada umahora”, recorda. “Lembro de tudo, nãotem como esquecer”, completa, comum brilho intenso nos olhos, prova-velmente o mesmo de 50 anos atrás,quando entrava toda de branco pelaantiga porta da capela.

Dessa união nasceu Fátima Regi-na Della Torre, hoje professora e com39 anos, que sonhava em se casar namesma igreja em que sua mãe casou.

Ela lembra que não queria casar nacatedral e que, na época, a capela es-tava fechada para atividades religio-sas e abrigava uma exposição, queterminaria no dia 7 de setembro de1988.

“Pedi autorização para o padreOlivão e a capela foi desocupada nodia do casamento. Foi uma corre-ria”, relembra Fátima, que casou nodia 8 de setembro de 1988, na igrejaque estava fechada há 24 anos.

Felipe GodoyFotos Arquivo Pessoal

Pedro, Natália e Fátima: boas lembranças

Padre Geraldo: apoio dos parceiros

Para preservar o solo arqueológico, foi criado um anexo flutuante

AA

AA

AAFelipe Godoy

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Felipe Godoy

Felipe G

odoy

A história

A restauração

Page 5: Edição 33   jornal cidadão

PÁGINA 6 - MAIO DE 2009 EDUCAÇÃO

Escola prova que a inclusão é possívelUma lição de vida aprendida a cada dia, assim é a rotina dos alunos da EMEF Marechal Juarez Távora

Felipe Della TorreMariana Pimentel

INTEGRAÇÃO - Alunos na sala de SAAI, da esquerda para a direita: Daniel, Guilherme, Milena e Bruno

Fotos Mariana Pimentel

Aula de música melhora desempenho escolarMariana PimentelNatalia Fernandes

Uma escola na Zona Leste de SãoPaulo, mais precisamente no bairro daPonte Rasa, é a responsável por umprojeto que deveria existir em todasas outras escolas do Brasil: o Progra-ma de Inclusão da Criança com Ne-cessidades Educacionais Especiais. AEMEF Marechal Juarez Távora é aúnica da região que oferece uma Salade Apoio e Atendimento à Inclusão(SAAI), que atende os alunos da pró-pria unidade e de outras, como os daEMEF Henrique Pegado.

Além desses alunos, a escola aten-de também mais quatro alunos comdeficiência visual, os chamados DV. Asala de SAAI atende alunos com ne-cessidades intelectuais e não deficiên-cias motoras ou visuais. “Os alunosfreqüentam a aula em horário normal,e têm o atendimento na parte da tar-de, porque se você tirar esses alunosda sala normal não é inclusão, é exclu-são”, resume o diretor da unidade,Agostinho de Paula Pereira, 42 anos.

As crianças que têm esse atendi-mento na sala de SAAI fazem o traje-to de casa para a escola e vice-versa pormeio de um serviço oferecido pela Pre-feitura de São Paulo, o Transporte Es-colar Gratuito (TEG), um direito detodos os alunos com necessidades es-peciais. Em média, eles têm o atendi-mento especial, duas vezes por sema-na, com a professora Tânia AparecidaCarvalho, 53 anos. Aqueles que de-monstram maiores dificuldades, pos-suem três sessões semanais.

Esse atendimento é feito comcrianças de diferentes idades e diferen-

tes necessidades especiais. Ao todo,são 13 alunos. O que mais chama aatenção, Daniel Maieiro, 12 anos, temum quadro de Autismo Infantil e Sín-drome de Asper-ger, que faz comque a criança te-nha um conheci-mento fora do co-mum em assun-tos um tantoquanto extrava-gantes. De início,

ele se mostra um pouco tímido, masvai se soltando e demonstra todo oseu conhecimento. “Existiram 1.032espécies de dinossauros na Terra. Eles

viveram há uns200 milhões deanos, você sabiadisso?”, perguntao garoto.

Apesar de seruma escola exem-plo, a EMEF Ma-rechal Juarez Tá-

vora não recebe em sua unidade esco-lar alunos cadeirantes, por ser uma es-cola dividida em três andares. “Nãoseria inclusão expor uma criança queanda em uma cadeira de rodas a cadatroca de sala ter que ser carregada paracima ou para baixo”, diz o diretor. Es-ses alunos são enviados a unidadespróximas, como a EMEF AmadeuAmaral ou para o CEU Quinta do Sol.“O CEU é o mais bem preparado parareceber esses alunos, pois tem eleva-dor que atende todos os andares”,

completa Pereira.Apesar de não participarem da sala

de SAAI, os alunos com deficiênciavisual não deixam de ter atendimentoespecial da professora. Juntos, elesensinam o método Braile para outrosprofessores e funcionários da escola,em algumas ocasiões eles traduzemdo Braile e em outras traduzem parao Braile. Na escola há máquinas de es-crever em Braile e uma impressora quecontribui muito na inclusão dos DV.Infelizmente, porém, o equipamentosó funciona após o pagamento deuma taxa de R$ 1.900. Em São Paulosó existe um instituto que pode ins-talar essa impressora. Enquanto a es-cola não tem dinheiro, ela fica parada.

Bruno, um dos alunos cegos queestudam na EMEF Marechal JuarezTávora, é sensação entre os colegas.“Cada vez que a aula começa é umabriga para saber quem vai buscar amáquina para ele”, relata Pereira. “OBruno está conosco desde a 1ª série(agora está na 8ª), e sempre foi muitodedicado. Ele toca teclado. Descobri-mos isso antes da festa junina há unsanos. Os preparativos acontecendo eo Bruno perguntou o que iria aconte-cer. Expliquei que era uma festa juni-na e nesse momento ele disse que es-tava aprendendo a tocar teclado na igre-ja e perguntou se poderia tocar na fes-ta. Conversei com sua mãe e percebique ele poderia tocar. Foi um sucessotremendo”, recorda o diretor.

Para a psicóloga Hilde Cristina, “aeducação especial é parte integrante daeducação regular, por isso os alunosnecessitam sentir na escola a ressonân-cia de alguém que as compreenda eque as permita se expressar.”

Muitos projetos mostram que,aplicada ao ensino, a música ajuda osestudantes a melhorarem o compor-tamento e a terem mais disciplina.Embora tenha sido sancionada emagosto do ano passado, a Lei n.º11.769, que inclui a música como com-ponente curricular na educação brasi-leira, ainda não está adaptada em di-versas escolas, mesmo porque a novaregra tem o prazo de inserção da disci-plina em até três anos.

Em São Paulo, 168 escolas muni-cipais já possuem bandas e fanfarrasformadas por alunos. Como o proje-to de lei não regulamenta o formatoou conteúdos das aulas, as escolas es-tão livres para escolher quais ativida-des serão oferecidas, tais como coro,grupos instrumentais, orquestras, en-sino de instrumento, entre outros. Oimportante é que a escola considere ademanda dos alunos e as característi-cas culturais da região em que está in-serida.

Em 2007 a Prefeitura de São Pau-lo avaliou cerca de 270 mil alunos darede municipal de ensino com a reali-zação da Prova São Paulo, teste com-posto pelas matérias bases do ensino:português e matemática. Na maioriadas escolas a média de aprovação dosalunos que freqüentam aulas de mú-sica foi superior. “O resultado da Pro-

va São Paulo que tivemos em todas asescolas da rede municipal e as notasdos integrantes da banda foram de20% a 30% maiores que as do restan-te dos alunos da escola”, afirma Mar-celo Bonvenuto, maestro e coordena-dor do Departamento de Bandas e

Fanfarras da Cidade de São Paulo.Perceber-se que a música realmen-

te melhora o desenvolvimento infan-til. Analisando a educação de temposatrás no país, Heitor Villa-Lobos apre-sentou, em 1930, à Secretaria de Edu-cação do Estado de São Paulo, um

AFINAÇÃO - São Paulo tem 168 escolas municipais com bandas e fanfarras, como a EMEF Rodrigues Alves

projeto inovador de educação musi-cal, que foi aceito pelas autoridades.Foi uma época de qualidade no ensi-no, já que a música influenciava nomelhor aproveitamento das demaisdisciplinas. Mas, em 1971, quandouma nova versão da Lei de Diretrizes

e Bases para a educação nacional en-trou em vigor, um dos artigos foi es-trategicamente modificado, e a disci-plina de Música nas escolas de ensinofundamental e médio foi substituídapela de Artes. Com um termo tão am-plo ficou muito fácil excluir, ao longodo tempo, a música da grade escolardas escolas públicas e os prejuízos fo-ram imediatamente visíveis. O rendi-mento escolar caiu e ainda aumenta-ram os problemas com a disciplina efreqüência em sala de aula.

Marjorie Magalhães, 9 anos, estu-dante da 3a série da EMEF OctavioMangabeira, declara sua experiênciacom a música: “Desde que entrei nabanda, minha mãe nunca mais foi cha-mada na escola. Eu nunca mais leveibilhete e minhas notas melhorarammuito.”

Outro projeto pioneiro é o TIMMúsica nas Escolas, que já beneficioumais de 16 mil alunos em quatro anosde atividades. Em 2006, foi compro-vado que os participantes do projetoapresentaram uma taxa de desenvol-vimento social de até 19%, o equiva-lente a um ano a mais de escola, se-gundo os melhores índices mundiaisde formação de capital humano.

Ficou comprovado que a introdu-ção da música nas escolas de periferiadas grandes cidades brasileiras melho-ra o desenvolvimento humano dascrianças, a sua auto-estima, a tolerân-cia e o convívio social.

“Tirar esses

alunos da

sala normal não

é inclusão,

é exclusão”

Page 6: Edição 33   jornal cidadão

MAIO DE 2009 - PÁGINA 7EDUCAÇÃO

MEC propõe trocar vestibular por novo EnemNova alternativa para seleção de candidatos divide opiniões e cria esperança para a educação do país

Felipe Della TorreMariana PimentelNatalia Fernandes

Estima-se que mais de 5 milhõesde jovens estão se preparando este anopara o vestibular. Em 2010, algo como1,5 milhão de estudantes conseguirãoingressar numa universidade, um re-corde para a história do país que não éum grande exemplo na educação, com-parado com os mais desenvolvidos.A novidade é que parte deles não faráo tradicional vestibular, mas será ava-liada por meio de outro sistema anun-ciado pelo Ministério da Educação(MEC).

A proposta do MEC é que a pro-va aconteça em dois dias (sábado e do-

mingo), avaliando com 200 questõesde múltipla escolha (hoje são 63), qua-tro áreas do conhecimento: lingua-gens, com questões de língua portu-guesa, língua estrangeira e redação; ma-temática; ciências humanas; e ciênciasda natureza. A prova será aplicada nosdias 3 e 4 de outubro e não mais emagosto, como nos anos anteriores.

A nota obtida no novo ExameNacional do Ensino Médio (Enem)permitirá o ingresso nos cursos detodas as instituições participantes dopaís. No entanto, a adesão das univer-sidades será voluntária, já que elas têmautonomia para definir as regras deseus processos seletivos.

Manuela Cristina Leite, 19 anos,que passou no vestibular da Fuvest

no ano passado ecursa atualmente Di-reito na São Francis-co, acredita que essaunificação é uma pés-sima idéia. “Eles es-tão tentando fazerno Brasil um tipo devestibular parecidocom o americano, sóque sem a avaliaçãoseriada do ensinomédio”. Ela aindacompleta dizendoque essa não é umamaneira de facilitar oacesso de alunos debaixa renda e escolaspúblicas à universida-de. É só uma formade elitizar ainda maiso acesso.

Nem todos osestudantes comparti-

lham da mesma opi-nião. Fábio Riuiti Mi-tani, 19 anos, que fazcursinho e quer pres-tar vestibular para aárea da saúde aindaeste ano, diz que anova forma de provao agradou. “Na mi-nha opinião, o novosistema de vestibularfavorece mais aos in-teligentes do que aspessoas com boa me-mória. Como minhasnotas no Enem sem-pre foram boas, acre-dito que isso pode meajudar mais.”

O novo vestibu-lar unificado propos-to pelo MEC tam-bém deverá permitirque os candidatos in-diquem cinco opçõesde curso em até cincoinstituições diferentes, assim como ex-plicou o ministro da Educação, Fer-nando Haddad. “Na prática, o estu-dante concorre a todas as vagas dasuniversidades federais. A partir domomento que ele percebe que suaschances são menores em um cursoespecífico, ele pode migrar.”

Mitani também gostou dessa no-vidade. “Isso fará com que eu não façavários vestibulares por finais de sema-na seguidos, o que é positivo”, diz.Porém, quem já vive na realidade dauniversidade, como é o caso de Ma-nuela, isso não é tão vantajoso assim.“Se um aluno de baixa renda de SãoPaulo, que perdeu sua vaga nas uni-

versidades daqui para outros de me-lhores condições, conseguir pontua-ção para uma vaga em outro Estado,quem vai bancar esse aluno?”, indaga.

Apesar das diferentes opiniõesentre os estudantes, as instituições deensino superior já parecem seguir ca-minhos parecidos. Dos 55 reitores deuniversidades federais, 25 são favorá-veis à mudança e querem adaptá-lasainda no vestibular desse ano. Maisde 500 universidades particulares jáavisaram que vão aderir ao novo pro-cesso de seleção. No entanto, a USP e aUnicamp, que têm os dois maioresvestibulares do país, vão ficar de fora.

Os detalhes do teste serão defini-

dos pelo MEC em conjunto com asuniversidades federais que aderirem aonovo sistema.

Já os critérios de uso dos resulta-dos ficarão a cargo das instituições,pois o MEC divulgará separadamen-te os resultados dos candidatos emcada área do conhecimento avaliada.Desse modo, cada instituição poderádeterminar o peso da nota de portu-guês, matemática, ciências humanas ouda natureza. Universidades que quei-ram realizar uma segunda prova, alémdo Enem, também terão liberdadepara isso. Trata-se da maior mudançajá feita no concurso desde 1911, quan-do o Enem surgiu no Brasil.

Cristiano MarinhoFelipe Della T orreNatalia Fernandes

EXPERIÊNCIA - Aluno de Visagismo e Estética Capilar, Genival Ferreira trabalha há 12 anos na área

Felipe Della Torre

Crescimento desperta novas profissões

Antigamente parecia até que as pro-fissões no Brasil se resumiam a duas:médico ou advogado. Esses sempreeram os sonhos de todas as crianças eprincipalmente dos pais de alunos, quegeralmente queriam que o filho fosse“doutor”. Hoje, porém, com as mo-dificações culturais, econômicas e so-ciais que a sociedade vem sofrendo, issoestá começando a mudar.

Exemplos dessa mudança aqui naZona Leste são a Faculdade de Tecno-logia (Fatec) e a USP Leste. Na Fatec, ocurso mais atual, Tecnologia em Pro-dução de Plástico, ensina todo o pro-cesso de produção do produto. Já aUnidade da Escola de Artes, Ciênciase Humanidades (EACH), mais conhe-cida como USP Leste, inaugurada em2005, oferece diversos cursos relacio-nados a essas novas profissões queestão surgindo.

Ao todo, são dez cursos: Ciênciada Atividade Física capacita as pessoasa atuar na manutenção e promoção dasaúde; Marketing prepara o profissio-nal de maneira mais específica para asinovações da área; Gestão Ambientalpropõe formar profissionais do meioambiente; Gerontologia prepara o alu-no para atuar nas assistências específi-cas ao idoso; Gestão de Políticas Pú-blicas ensina o aluno a ser capaz de

administrar organizações públicas, es-tatais ou não; Licenciatura em Ciên-cias da Natureza capacita para admi-nistração de Museus e Centros deCiência, sejam de órgãos oficiais da ad-ministração municipal, estadual ou fe-deral ou mesmo não governamentais;Obstetrícia forma especialistas na áreada saúde de gestantes; Lazer e Turis-mo direciona às múltiplas e crescentesoportunidades do setor; Têxtil e

Moda capacita o aluno a ingressar naindústria têxtil; e Sistemas de Infor-mação amplia as capacidades criativasdo analista de sistemas. Este último éo mais concorrido no vestibular, poisa informática é a área com maior cres-cimento atualmente.

Waldir Júnior, 17 anos, aluno do1° ano de Sistemas de Informação, dizque o curso visa aprimorar a interaçãoentre usuário e máquina. “Acredito

que, depois de terminado o curso, se-rei capaz de programar computadoresde maneira amigável ao usuário final.E é justamente o objetivo do curso”,afirma. Apesar de ser um curso bas-tante recente, Júnior se sente totalmen-te confiante quanto à credibilidade docurso. “Recebemos muito apoio docorpo docente da USP quanto a isso.O curso ainda está no começo e namaior parte do tempo estudamos o

Ciclo Básico, que contém matérias deâmbito geral. Para mim, o mercadosofre com a falta de profissionais comformação multidisciplinar e mais am-pla, e que necessita desses novos pro-fissionais mais específicos”, analisa.

A busca pelo desenvolvimentoestá se tornando indispensável. Pro-fissões mais antigas, como a de cabe-leireiro, procuram formação de melhorqualidade e maior grau. O curso deVisagismo e Estética Capilar, ofereci-do pela Universidade Cruzeiro do Sul,é o primeiro de nível superior para ca-beleireiros no Brasil. “O visagismo évoltado para o atendimento ao públi-co, desde administração de salão, le-gislação, corte e coloração”, explica Ge-nival Ferreira, 32 anos, estudante do2° ano. O curso também atende pes-soas que já atuam na área, cuja inten-ção é desenvolvimento e aprimoração.“Sou cabeleireiro há 12 anos e fiz vá-rios cursos fora do país, buscando va-lorizar a profissão. Nunca tinha feitofaculdade, pois já estava na área quegosto e não quis mudar”, completa.

Fotos Mariana Pimentel

ESFORÇO - Alunas estudam para concorrer no vestibular unificado

REPROVAÇÃO - Manuela discorda da uníficação

Fatec - Zona Leste - Rua SonhoGaúcho, 641 - Cidade A. E. Carva-lho. Telefones: 2045-4000 e 2045-4023. Site: www.ctzl.edu.brUsp Leste - Rua Arlindo Bettio,1.000 - Ermelino Matarazzo.Site: www.uspleste.usp.br

Page 7: Edição 33   jornal cidadão

PÁGINA 8 - MAIO DE 2009 CULTURA

Casa do Itaim faz apelo à comunidadeCoordenador da Casa chama a população do bairro para participar das atividades realizadas no local

Primeira Casa de Cultura da cidadeAna Paula Gomes

Fundada em 1985, a Casa de Cul-tura do Itaim Paulista nasceu da or-ganização de movimentos culturaislocais e é a mais antiga da cidade deSão Paulo.

Antes de sua inauguração, os ar-tistas do bairro se reuniam em umasala em cima de uma padaria para pro-duzirem arte e trocarem experiências.Na época, o então prefeito de SãoPaulo, Mario Covas, e o secretário deCultura, o ator e dramaturgo Gian-francesco Guarnieri, em visita a umbairro vizinho, foram procurados poresses artistas que pediram um localdedicado à cultura na região. Ambosapoiaram a idéia e fizeram com queela se tornasse realidade no ItaimPaulista.

Em entrevista, um dos fundado-res da Casa, Paulo Martins Campos,contou que, a princípio, o espaço de-veria ser um Centro Cultural, mas porcausa da destinação da maior parte dasverbas da Secretaria de Cultura ao Cen-tral Cultural Vergueiro e outros gran-des centros, o investimento foi peque-no na periferia. Desta forma, em vezde ser de fato um Centro, o local tor-nou-se a Casa de Cultura do ItaimPaulista.

Segundo Campos, o principal ob-jetivo dos artistas que lutaram pelaconstrução desse espaço cultural nobairro era trazer arte e cultura à popu-lação da periferia da cidade.

“O maior objetivo era trazer arte ecultura, trazer mais envolvimento nes-sas coisas de padrão artístico para opessoal da periferia, porque o nossopovo aqui infelizmente é muito ca-rente em relação a isso”, relata.

No início, a Casa de Cultura erautilizada pelo grupo Cultura Arte eMovimento (CAM), composto porartesãos e músicos, todos independen-tes. “Eu fazia artesanato de couro esisal, e tinha outros colegas que fa-ziam carrancas em madeira e escultu-ras”, recorda.

Campos relatou que no começohavia muitos festivais entre os mora-dores da rua Barão de Alagoas e dosbairros Camargo Velho, Camargo

Novo, Vila Itaim, São Miguel Paulistae Jardim Helena.

Segundo o atual coordenador daCasa de Cultura do Itaim Paulista,Sandro Lúcio Ivo, cerca de 250 pes-soas, de todas as idades, freqüentamhoje a Casa de Cultura.

Ivo afirma que, ao contrário doque diz a grande mídia, de que não hácultura nas regiões periféricas da cida-de, “na periferia de São Paulo é ondese fabrica muita cultura”.

“Nas esquinas, nas casas e nas ga-ragens é que se encontram os artistasde música; nos encontros de praça enos encontros de rua é que se acha umartista de madeira ou de escultura”,completa o coordenador.

GRAFITE - Muro da Casa homenageia Gianfrancesco Guarnieri O projeto da Casa de Cultura foiidealizado por Mario de Andrade, nadécada de 1930, quando esteve à fren-te do Departamento de Cultura dacidade de São Paulo. Desde aquelaépoca ele já imaginava criar pontosde cultura nas regiões periféricas dacidade com apoio da prefeitura. Noentanto, a primeira Casa foi inaugu-rada somente em 1985, no bairro doItaim Paulista.

Hoje são 20 Casas espalhadas porSão Paulo, sete delas só na Zona Les-te: além da Casa do Itaim Paulista, háCasas de Cultura em Cidade Tiraden-tes, Itaquera, Penha, São Mateus e SãoMiguel Paulista, e também a Casa deCultura Chico Mendes, no bairro deVila Curuçá Velha, que no momentoencontra-se fechada para reforma.

Projeto cultural para a capitalpaulista nasceu na década de 1930

As demais Casas de Cultura dacidade são: Casa de Cultura Amarela,localizada em Santo Amaro; Casa deCultura do Butantã; Casa de CulturaCampo Limpo; Casa de Cultura doGrajaú; Casa de Cultura de Interla-gos; Casa de Cultura do Ipiranga;Casa de Cultura do Jabaquara; Casade Cultura Júlio Guerra, em SantoAmaro; Casa de Cultura de M’BoiMirim; Casa de Cultura Salvador Li-gabue, localizada na Freguesia do Ó;Casa de Cultura Tendal da Lapa; Casade Cultura Tremembé; e Casa de Cul-tura Vila São Pedro.

As Casas oferecem diversas ativi-dades para a comunidade: oficinas deartes plásticas, teatro e música para to-das as idades, bem como dispõem deespaços para espetáculos, leitura e en-saios de grupos de teatro e dança desuas regiões.

Silvia Gonçalves

Importante conquista de movi-mentos culturais do bairro de ItaimPaulista, a administração da Casa deCultura do Itaim Paulista encontradificuldades em envolver a comuni-dade nas atividades culturais realiza-das no local.

Com o compromisso de trazercultura e arte à população do bairro, amais antiga Casa de Cultura da cida-de de São Paulo completou 24 anosde trabalho comunitário no últimodia 21 de abril.

De acordo com Sandro Lúcio Ivo,35 anos, que coordena a Casa de Cul-tura desde 2007, o espaço teve umaboa participação dos moradores dobairro até a década de 1990, quando,por motivos desconhecidos por ele,passou a ter um público cada vez me-nor. Ele relata que a Casa só se reer-gueu a partir de 2005, quando come-çou a ter uma nova dinâmica.

Ivo explica que os artistas do bair-ro são presentes no espaço, mas é ne-cessário que a comunidade prestigie aarte local. “A comunidade não apren-deu a dar valor dentro da sua própriacultura de bairro, no prestígio a essepovo que faz cultura”, protesta.

Patrícia Alves, 35 anos, funcioná-ria da Casa de Cultura há 17 anos,também lamenta que a participaçãoda comunidade nas atividades desen-volvidas no local ainda seja pequena.“O único problema da gente é a po-pulação, porque tem um monte decoisas aqui na Casa de Cultura quesão totalmente gratuitas, mas o pes-soal não procura. Você vai no centroda cidade e os meninos estão todos

lá, aproveitando o que é gratuito enão na periferia”, descreve.

Patrícia enfatiza a importância daCasa de Cultura para o desenvolvi-mento cultural da população da regiãoe acredita que seja melhor para osmoradores do bairro estarem ali par-ticipando das atividades e aproveitan-do as oportunidades.

A mesma opinião é compartilha-da pelo artista plástico Ricardo Cardo-so, 47 anos, colaborador da Casa, queenfatiza a necessidade de se envolvercrianças e jovens em atividades cultu-

rais. “É gratificante ver as crianças queparticiparam das oficinas desenhando,compondo poemas, pintando telas,fazendo gibis”, completa.

O artista plástico conta que dasCasas de Cultura que já participou, amais organizada e que oferece maiornúmero de atividades é a do ItaimPaulista. “Eu já freqüentei várias Ca-sas de Cultura e essa aqui do Itaim,pelo que eu tenho conhecimento, éuma das Casas mais atuantes na re-gião”, alega. Cardoso, que é moradorde Ermelino Matarazzo, lamenta que

em seu bairro não tenha uma Casade Cultura. Para ele, é de grande valiapara uma região ter um espaço cultu-ral desse tipo, justamente pelo fatode que a maior parte das atividadesartísticas está concentrada no centroda cidade.

Segundo Sandro Lúcio Ivo, co-ordenador da Casa de Cultura, a en-tidade realiza oficinas culturais gra-tuitas de acordo com a necessidadeda população local, como no caso daoficina de yoga, utilizada até mesmopor pacientes de uma clínica de fisio-

terapia vizinha à Casa.No entanto, somente a oficina de

violão tem suas turmas sempre lota-das. “A gente sabe que há muitas es-colas de violão, só que o poder aquisi-tivo da comunidade às vezes não dácondições de acesso. É quando a co-munidade procura esses equipamen-tos públicos”, explica o coordenador.

Para Patrícia, a explicação para abaixa participação da comunidade naCasa de Cultura é falta de conheci-mento por parte dos moradores, por-que a instituição não tem muitos re-cursos para divulgação. Ela baseia suaafirmação no fato de que aqueles queparticipam de uma das oficinas cul-turais oferecidas no local, quando fi-cam sabendo de outra que está sen-do aberta, se matriculam e tornam-se assíduos na Casa.

A Casa de Cultura é subsidiadapela Secretaria Municipal de Cultura eadministrada pela subprefeitura doItaim Paulista.

De acordo com Paulo MartinsCampos, 48 anos, que participou dafundação da Casa em 1985, é necessá-rio que se destine mais verba para quea Casa de Cultura continue promo-vendo atividades no bairro. Para o fun-dador, o trabalho desenvolvido nolocal já “fluiu muitas coisas positivasno Itaim”, por isso não deve acabar.

Sandro Lúcio Ivo ressalta que asatividades realizadas no local são ofe-recidas justamente aos moradores dobairro e é necessário que eles partici-pem. Desta forma, o coordenador daentidade chama a todos para usufruí-rem da Casa. “O apelo que a Casa deCultura faz à comunidade é que elause realmente o espaço”, enfatiza.

Fotos Silvia Gonçalves

COMEMORAÇÃO - Fachada da entidade durante a preparação da festa de 24 anos de fundação

Michelle Amaral

A Casa de Cultura do Itaim Pau-lista (Rua Barão de Alagoas, 340,aberta de terça-feira a domingo, das9 às 21 horas) realiza:n Oficinas de artes plásticas; karatêpara crianças de 5 a 7 anos; canto co-ral a partir de 15 anos; yoga a partirde 15 anos; musicalização a partir de5 anos; e danças urbanas.n Exposições de artes periódicas.

Serviço

n Encontros tradicionais com poe-tas da região aos domingos, a partirdas 15 horas.n Entrevistas com personalidadesculturais do bairro exibidas ao vivopela TV Web do Itaim Paulista.n Disponibilização da Sala de Leitu-ra Severino do Ramo, que funcionade terça-feira a sábado, das 10 às 17horas.