edição 26: outubro/ novembro/ dezembro

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Ano 9 . nº 26 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2014 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. A desconsideração inversa da pessoa jurídica Fernando Welter Compliance criminal para empresas brasileiras Gustavo Scandelari Responsabilidade por ruptura injustificada das negociações Vanessa Cani Os princípios da probidade e da boa-fé objetiva José Roberto Trautwein A discussão legislativa sobre a criminalização do “bullying” Rafael de Melo “A profissão da advocacia, exercida com ética, eficiência, dedicação e humanidade, é uma referência generosa de fé e de esperança”. (Prof. René Ariel Dotti) René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara Emilly Crepaldi . Bruno Correia . Ana Cristina Viana Maria Vitoria Kaled . Rafael Berzotti . Lorena Fadel

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Ano 9 . nº 26 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2014

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

A desconsideração inversa da pessoa

jurídica

Fernando Welter

Compliance criminal para empresas

brasileiras

Gustavo Scandelari

Responsabilidade por ruptura injustificada

das negociações

Vanessa Cani

Os princípios da probidade e da boa-fé objetiva

José Roberto Trautwein

A discussão legislativa sobre a criminalização

do “bullying”

Rafael de Melo

“A profissão da advocacia, exercida

com ética, eficiência, dedicação e

humanidade, é uma referência generosa de

fé e de esperança”.(Prof. René Ariel Dotti)

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari

Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana GearaEmilly Crepaldi . Bruno Correia . Ana Cristina VianaMaria Vitoria Kaled . Rafael Berzotti . Lorena Fadel

EDITORIAL

Advogado, profissão esperança (René Ariel Dotti) ................................................................................................................................................... 03

SEÇÃO INFORMATIVA

Participação em eventos ......................................................................................................................................................................................... 04Ordem de Mérito Judiciário do Trabalho 2014 ................................................................................................................................................. 04Homenagem ADPF .................................................................................................................................................................................................... 04Projeto Ler e Pensar ................................................................................................................................................................................................... 05

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ................................................................................................................................................................................................ 05

DIREITO CRIMINAL

A colaboração premiada: “dedurismo institucionalizado” ou “mal necessário”? (Alexandre Knopfholz) .................................................. 06Compliance criminal para empresas brasileiras (Gustavo Scandelari) .................................................................................................................. 06A discussão legislativa sobre a criminalização do “bullying” (Rafael de Melo) ................................................................................................ 07Prerrogativa de foro na fase de investigação criminal (Luis Otávio Sales) ......................................................................................................... 07A criminalização do “plantão de sobreaviso” (Guilherme Alonso) ......................................................................................................................... 08O crime de violação de direitos e prerrogativas do advogado (Bruno Correia) ............................................................................................. 08

DIREITO ADMINISTRATIVO

A Lei Anticorrupção e os efeitos já constatados nas empresas (Rogéria Dotti) ............................................................................................. 09Indenização pela ruptura do equilíbrio econômico-financeiro do contrato: o caso Varig S/A (Francisco Zardo) ............................... 09A correção fundamentada de provas em concurso público (André Meerholz) ............................................................................................... 10Termo de ajustamento de conduta como instrumento consensual de solução de conflitos entre a administração pública e a sociedade (Ana Cristina Viana) ................................................................................................................................................................... 10Litisconsórcio passivo necessário em ação de investigação judicial eleitoral (Maria Vitoria Kaled) ......................................................... 11

DIREITO CIVIL

Hipótese de não responsabilização do agente financeiro por vícios da construção (Julio Brotto) ....................................................... 11Internet: buscador não é responsável por resultado da pesquisa (Patrícia Nymberg) .................................................................................. 12Os princípios da probidade e da boa-fé objetiva (José Roberto Trautwein) ......................................................................................................... 12A desconsideração inversa da pessoa jurídica (Fernando Welter) ........................................................................................................................ 13Responsabilidade por ruptura injustificada das negociações (Vanessa Cani) .............................................................................................. 13Os clientes de planos de saúde e o atendimento fora do horário comercial (Cícero Luvizotto) ................................................................ 14A desinformação lesiva ao consumidor (Laís Bergstein) ........................................................................................................................................ 14Indenização pela perda de tempo útil (Rafael Berzotti) ......................................................................................................................................... 14A aplicabilidade do CDC em contrato de seguro empresarial (Lorena Fadel) ............................................................................................... 15

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A impossibilidade de execução das astreintes antes da sentença (Vanessa Scheremeta) ............................................................................ 15

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Registro de maternidade socioafetiva (Fernanda Pederneiras) ............................................................................................................................... 16Testamento cerrado (Thais Guimarães) ........................................................................................................................................................................ 16Dano moral por inadimplemento alimentar (Diana Geara) ................................................................................................................................ 17A partilha de indenização trabalhista (Emilly Crepaldi) .......................................................................................................................................... 17

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

A reincidência penal afasta o princípio da insignificância? (Antonella Cequinel Thá) ...................................................................................... 18As reais causas de nulidade do voto (Bianca Komar de Carvalho) ............................................................................................................................ 18Crimes contra a ordem tributária (Hevelin Cristiane Agostinelli Quintão) .................................................................................................................... 18Alienação parental: a ruptura da sociedade conjugal e suas consequências (Isabela Ferreira de Andrade) ............................................... 19O dano gerado por um crime e sua reparação civil (Lincoln Machado Domingues) ............................................................................................. 19Uso indevido de informação privilegiada na bolsa de valores é crime (Vinícius Cim) ................................................................................ 19

ÍNDICE

3

Nos anos 70 eu assisti, no Rio de Janeiro, um excelente musical estrelado por PAULO GRACINDO e CLARA NUNES. Ele, um extraordinário ator. Quem não se lembra de Odorico Paraguaçú, o célebre prefeito de Sucupira que a novela da Globo, o Bem Amado, de DIAS GOMES, consagrou como paradigma de muitos políticos brasileiros? Ela, a imortal cantora, intérprete de sucessos como O mar serenou, Conto de areia e Ternura antiga (de DOLORES DURAN). A produção tinha o nome “Brasileiro, profissão esperança”, originalmente escri-to em 1966 por PAULO PONTES, autor de uma série de novelas de TV.

O título e tudo o quanto o espetáculo simbolizou ao tempo de privações e restrições das liberdades públicas, dos direitos e das garantias individuais, durante o regime militar, são constantes em minha lembrança. E o motivo é simples: a profissão da advocacia, exercida com ética, eficiência, dedicação e humanidade é uma referência generosa de fé e de esperança. Fé no Direi-to que constitui a ciência destinada a resolver conflitos e atender interes-ses sociais e individuais. Esperança na decisão da Justiça que permita aliviar, quando não eliminar, as pressões da alma do litigante ofendido e que possa, também, distribuir a cada um o que é seu (suum cuique tribuere), segundo aforisma de ULPIANO (170 a.C – 228 d.C), jurisconsulto de Roma antiga.

Independentemente da especialidade das áreas jurídicas e da natureza da causa a ser atendida, em pleito amigável ou litigioso, o advogado é muito mais que o representante de uma parte. Ele é o interprete das aspirações do cidadão que tem a liberdade, em uma democracia, de defender e lutar por seus direitos mesmo que se oponham aos interesses dos poderes públicos de qualquer nível ou natureza. E assim é porque no Estado Democrático de Direito, assim declarado pelo primeiro artigo da Constituição, são garanti-dos, além de outros, o direito de petição para qualquer autoridade e o direito de acesso ao Poder Judiciário para defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.

RENÉ ARIEL DOTTI

ADVOGADO, PROFISSÃO ESPERANÇA

EDITORIAL

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SEÇÃO INFORMATIVA

O Professor RENÉ DOTTI recebeu em Curitiba, no dia 05/09/2014, uma homenagem da ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DA POLÍCIA FEDERAL, como símbolo de reconhecimento pela luta em prol dos direitos dos cidadãos brasileiros à plena justiça.

Homenagem ADPF

Participação em eventos

O Professor RENÉ DOTTI recebeu em Brasília, no dia 11/08/2014, pelo TRIBU-NAL SUPERIOR DO TRABALHO, o Prêmio Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, com o grau de Comendador.

A Ordem do Mérito Judiciário do Tra-balho, instituída em 11 de novembro de 1970, destina-se a agraciar personalida-des civis e militares, nacionais ou estran-geiras, que tenham se distinguido no exercício de suas profissões e se consti-tuído em exemplo para a coletividade, bem como as pessoas que, de qualquer modo, hajam contribuído para o engran-decimento do país, internamente ou no exterior, da Justiça do Trabalho ou de qualquer ramo do Poder Judiciário, do Ministério Público ou da advocacia.

Agracia, ainda, instituições civis e milita-res (fonte: http://www.tst.jus.br/ordem-do-merito).

A indicação para o prêmio foi do Mi-nistro FERNANDO EIZO ONO.

No dia 21 de julho o Professor RENÉ DOTTI participou da Aula Inaugural no Curso Preparatório para a Carreira da Magistratura Federal na Escola da Magistratura Federal do Paraná (ESMAFE/PR). No dia 25 do mesmo mês, proferiu a palestra magna de en-cerramento do Congresso Nacional 30 Anos da Lei de Execução Penal - Reflexões sobre o grande encarceramento, realizado pela OAB - Conselho Federal e OAB do Espírito Santo. Em agosto o professor esteve presente em dois eventos : dia 14 na V Conferência Estadual dos Advogados do Paraná, onde palestrou sobre o tema Crimes Eleitorais, e no dia 27, em São Paulo, no 20º Seminário Internacional de Ciências Criminais. Em setembro participou da 2ª Edição do Bate Papo Jurídico, realizado na Sala Espaço Cultural - OAB PR.

Ordem de Mérito Judiciário do Trabalho 2014

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de Almeida

Mudanças relevantes

» Lei nº 13.019/2014, de 31/07/2014 (Publicada no DOU de 01/08/2014)

A Lei, conhecida como o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, estabelece o regime jurídico a ser aplicado nas contratações concernentes entre as organizações da sociedade civil e o poder público.

» Lei nº 13.022/2014, de 08/08/2014 (Publicada no DOU de 11/08/2014)

Prevê princípios de atuação, entre os quais a preservação da vida, patrulhamento preventivo e o uso progresso da força; dispõe sobre as competências, como a preservação e a inibição de atos de violência contra bens, serviços e instalações municipais e a colaboração com a paz social e a pacificação dos conflitos; estabelece a subordinação da instituição ao chefe do Poder Executivo municipal e lhe atribui caráter civil.

No dia 27 de outubro, a consultora do Projeto Ler e Pensar da Gazeta do Povo, REJANE LIMA, esteve no escritório para entregar ao Professor RENÉ DOTTI e a Dra. ROGERIA DOTTI o certificado de Padrinho Social. A Dotti & Advogados Asso-ciados apoia o Projeto desde 2012. Criado pelo jornal Gazeta do Povo, o Ler e Pensar é um projeto de incentivo à leitura e cidadania que por meio da distribuição de assinaturas do jornal a escolas públicas e privadas contribui com a formação de educadores, crianças e jovens no Paraná.

Projeto Ler e Pensar

Na foto: Professor RENÉ DOTTI, a Dra. ROGÉRIA DOTTI, a consultora REJANE LIMA e a secretária MARLI LEAL.

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A colaboração premiada: “dedurismo institucionalizado” ou “mal necessário”?

Compliance Criminal para empresas brasileiras

Dispõe o art. 4º da Lei n.º 12.850/2013 que “O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investi-gação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identi-ficação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do pro-

duto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.” Para a concessão do benefício, deverá ser le-vada em conta a personalidade do cola-borador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.

A “colaboração premiada” – anterior-mente chamada de “delação premiada” – não é nova. Consagrada no direito americano através da “plea bargaining”, tornou-se mundialmente conhecida através das operações contra a Máfia e o terrorismo, na Itália, na década de 1970. No Brasil, além da legislação citada (apli-cável apenas às organizações crimino-

sas), encontra previsão igualmente em outros textos legais, tais como a Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/2006, art. 41).

O acordo entre acusado e acusador, entregando a atividade criminosa de ou-tras pessoas é tido, por muitos, como o “dedurismo institucionalizado”, de duvi-dosa índole moral e até mesmo consti-tucional. Para outros, porém, trata-se de um “mal necessário”, já que é um eficaz instrumento probatório, capaz de desba-ratar quadrilhas e facilitar a persecução penal de criminosos. A discussão perma-nece e mostra-se cada vez mais acalora-da. Contudo, discussões à parte, é inegá-vel que se trata de instituto cada vez mais comum no cotidiano forense, inclusive em casos de grande repercussão.

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

GUSTAVO SCANDELARI

DIREITO CRIMINAL

O Compliance Criminal é uma forma de prevenção de riscos especificamente voltada a crimes em ambiente empre-sarial, também conhecida como: value management, corporate governance, business ethics, integrity codes, corpora-te social responsibility, self-policing en-tre outros. Modo geral, tais expressões designam medidas formuladas para orientar o empresário a perseguir valo-res éticos para impedir a criminalidade mediante a implantação de medidas de prevenção. Trata-se de estruturar uma cartilha de deveres e direitos aos envol-vidos, aliada à boa governança corpora-tiva, mas voltada especialmente a evitar a prática de crimes dentro da empresa (ou contra ela).

Por esses programas serem voluntá-

rios, a infração frequentemente é releva-da internamente. Não existe, no Brasil, lei determinando a criação de compliance criminal, com regras ou forma definidas. As normas administrativas – como circu-lares e resoluções bancárias e financei-ras – regulam apenas atividade finan-ceira do mercado. A Lei nº 9.613/1998, em seus arts. 10º e art. 11, atribui aos dirigentes de instituições financeiras e empresas a obrigação de implantar medidas de controle que lhes permitam atender a obrigações de comunicações de informações, a autoridades compe-tentes, sobre o volume de operações e dados cadastrais.

A Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013) prevê a criação de “me-canismos e procedimentos internos de

integridade, auditoria e incentivo à de-núncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de condu-ta” (art. 7º, VII, VIII e p.ún.). Mas “os parâ-metros de avaliação de mecanismos e procedimentos previstos no inciso VIII do caput serão estabelecidos em regula-mento do Poder Executivo Federal” (art. 7º, p.ún.), o qual ainda não foi editado.

No Brasil, poder-se-ia admitir a pu-nição daquele que não institui tal pro-grama em sua empresa por ter sido omisso. Embora ainda não se possa di-zer que exista lei disciplinando expres-samente essas questões, não se proíbe o empresariado de elaborar, com boas intenções, complexos programas de compliance criminal, antecipando-se à elaboração legislativa.

7

A discussão legislativa sobre a criminalização do “bullying”

Prerrogativa de foro na fase de investigação criminal

Nos autos do Inquérito 2842 (Relator Ministro RICARDO LEWANDOWSKI), cujo acórdão foi publicado em 27 de feverei-ro passado, o SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL reafirmou a orientação de que o foro por prerrogativa de função se estende a procedimento de investigação criminal. Ou seja, a prerrogativa de foro não de-termina somente a competência jurisdi-cional para o processo e julgamento de ação penal, mas também a autoridade que deverá presidir o inquérito, desde que o agente público seja formalmente investigado: “A competência do Supremo

Tribunal Federal, quando da possibilidade de envolvimento de parlamentar em ilíci-to penal, alcança a fase de investigação, materializada pelo desenvolvimento do inquérito. Precedentes desta Corte.”. Assim, por exemplo, Deputados federais e Se-nadores são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, b); Gover-nadores, Desembargadores estaduais e Conselheiros de Tribunal de Contas de Estado respondem a inquérito conduzi-do pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF, art. 105, I, a); Deputados Estaduais, Juízes de direito e Prefeitos são investi-

gados pelo correspondente Tribunal de Justiça (Constituição do Estado do Para-ná, art. 101, VII, a).

Esse entendimento, contudo, não prejudica a hipótese de que se aprovei-tem elementos de prova “acidentais” ou “fortuitos” descobertos contra autorida-de com prerrogativa de foro em inves-tigação direcionada contra cidadão(s) comum(s). O deslocamento de compe-tência, segundo a jurisprudência, deve ser reconhecido quando se tem como certa a condição de investigado do agen-te público, materializada em inquérito.

RAFAEL DE MELO

LUIS OTÁVIO SALES

Tramitam na Câmara Federal os pro-jetos de Lei nºs 1.011/2011, 1494/2011 e 1573/2011, apensados entre si, os quais propõem a inclusão no Código Penal do crime de “intimidação vexatória”, popu-larmente conhecido como “bullying”.

Os projetos visam a criminalização de toda e qualquer forma de “intimida-ção vexatória”, mas especialmente as condutas praticadas no contexto escolar.Se acolhida a proposta, poderão figurar como sujeitos ativos do crime tanto es-tudantes quanto professores que com-partilhem do convívio com a vítima. No caso dos professores, responderão tanto por uma ação de prática do “bullying”, quanto pela omissão em caso de notória prática por alunos.

Se a proposta seguir o curso que ora apresenta, o crime poderá ter um ou vários autores simultaneamente (casos como trote universitário). A punição po-derá variar de 1 (um) a 30 (trinta) anos, conforme a consequência do crime. As

consequências previstas são: sequela psicológica, lesão corporal (leve, grave e seguida de morte) e suicídio. Observa-se que esta última consequência é merece-dora de grande preocupação, uma vez que se vislumbra uma inequívoca difi-culdade em estabelecer correlação entre o suposto “bullying” e o suicídio.

É evidente que esse projeto ainda será objeto de muita discussão nas duas casas legislativas, pois, em uma análise mais aprofundada, facilmente se cons-tata que as penas aplicadas apresentam uma inequívoca dissonância com as pe-nas já existentes na legislação penal bra-sileira, o que só vem agravar ainda mais a sua condição atual, por muitos descrita como “colcha de retalhos” punitiva.

A conclusão a que hoje se chega, da discussão existente no projeto, é que a proposta efetivamente atende a neces-sidade social de repressão a condutas do gênero.

Entretanto, necessário que haja tam-

bém uma discussão no meio jurídico, para que se aprofunde a melhor compo-sição da lei e inserção de seu conteúdo na legislação penal existente.

8

A criminalização do “plantão de sobreaviso”

O caos da Saúde Pública do Brasil não é novidade nem segredo para ninguém. Os problemas estruturais, políticos e fi-nanceiros de instituições de saúde por todo o país são corriqueiramente escan-carados pela imprensa e, em especial, em períodos eleitorais, por candidatos a todos os cargos eletivos em disputa.

Uma das consequências à histórica ineficiência generalizada do sistema público de saúde foi a criação e popu-larização de regime de trabalho pecu-liar e que, recentemente, foi reconhe-cido pela Justiça como possivelmente criminoso: o plantão de “sobreaviso” para especialistas. Basicamente, trata--se de jornada de trabalho comumente dividida em 12 ou 24 horas e na qual o médico permanece à disposição do hospital para atendimentos intercor-

rentes sem a necessidade de sua pre-sença física e ininterrupta. Em regra, o médico visita os pacientes internados diariamente, mas pode permanecer fora do hospital no restante do tem-po, somente sendo chamado quando há novo internamento ou emergência que exija atendimento especializado.

Embora absolutamente comum, o regime de “sobreaviso” foi sonoramen-te refutado pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ no julgamento do Recurso em Sentido Estrito nº 1.122.256-9, em cujo acórdão reconheceu que atua com negligência (podendo, portanto, res-ponder criminalmente por crimes de homicídio ou lesões corporais culposas) o médico que confia “em seu pronto deslo-camento até o Hospital nas situações em que fosse requisitado”, mas deixa de rea-

lizar o eficiente atendimento do pacien-te. Categoricamente, a Corte Estadual afirmou que, “legalmente, os ‘plantões à distância’ não existem e nessas condições não podem ter regulamentação”.

GUILHERME ALONSO

O crime de violação de direitos e prerrogativas do advogado

BRUNO CORREIA

De acordo com a Constituição Fe-deral, o advogado é indispensável à ad-ministração da Justiça e inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão (art. 133). Nesse cenário, os direitos e prerrogativas previstos no Estatuto da Advocacia (art. 7º da Lei nº 8.906/1994) são essenciais para que o defensor desempenhe o seu relevante papel, dentro do qual seus atos consti-tuem múnus público. Apesar do ampa-ro legislativo à atividade, não é raro o desconhecimento, por parte das auto-ridades e servidores públicos, ou o seu deliberado descumprimento, uma vez

que não existe, no Brasil, regulação espe-cífica sobre a responsabilização de quem viola as normas.

Por isso, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado aprovou, no dia 02/09/2014, o Projeto de Lei da Câ-mara nº 83/2008, que pretende alterar a Lei nº 8.906/1994 para lhe acrescentar o art. 7º-A, com a seguinte redação: “Art. 7º-A: Violar direito ou prerrogativa do advogado, estabelecido no art. 7º desta Lei, impedindo ou limitando sua atuação profissional, pre-judicando interesse legitimamente patroci-nado: Pena – detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, sem prejuízo da pena correspondente

à violência, se houver”.Se o Projeto se tornar lei, a tendên-

cia é de que os direitos e prerrogativas sejam cada vez mais respeitados, valo-rizando o exercício da profissão. Para o Presidente da Comissão Nacional de Legislação da OAB, FRANCISCO ESGAIB, a criminalização “não serve apenas para coibir as reiteradas violações perpetra-das contra a classe dos advogados, como também cumprirá o importante papel de conscientizar a sociedade quanto a essas prerrogativas, bem como esclarecer sobre sua relevância frente ao Estado Democrá-tico de Direito”.

9

A Lei nº 12.846/2013, que entrou em vigor em 29 de janeiro de 2014, vem provocando grande polêmica na área ju-rídica. Tanto o meio acadêmico, quanto os profissionais da advocacia preocupa-ram-se em debater e criticar alguns as-pectos radicais da nova orientação legal. A responsabilidade objetiva das empre-sas, por exemplo, é um deles. De acordo com a nova regra, as pessoas jurídicas responderão pelos atos de corrupção de seus prepostos ou colaboradores, ainda que tais atos não tenham sido autoriza-dos ou não sejam de seu conhecimento.

Isso pode gerar grandes injustiças no plano concreto. Mas, o fato positivo é que as empresas vêm modificando prá-

ticas internas e criando sistemas eficien-tes de controle, em uma clara resposta às exigências do novo diploma. Além da mera instituição de códigos internos de conduta (compliance), algumas têm cria-do canais seguros de comunicação a fim de permitir a denúncia interna. Nesses casos, as informações são recebidas e in-vestigadas em absoluto sigilo por tercei-ros, sem o conhecimento da diretoria da empresa. Somente após o esclarecimen-to da questão é que, caso comprovada, a denúncia é informada. Tal sistema pro-tege funcionários menos qualificados, os quais testemunhavam práticas suspeitas mas, até então, não se sentiam seguros para denuncia-las.

No mês de setembro, a ASSOCIAÇÃO DOS ADVOGADOS DE SÃO PAULO (AASP) promoveu um seminário sobre “Regime brasileiro das normas de Compliance”. Ali se concluiu que, bem aplicadas, as normas de compliance não restringem a gestão corporativa (LÍVIA SCOCUGLIA, publicado em 29/09/2014 em www.conjur.com.br).

Em recente artigo publicado no site Conjur, PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON destaca que a Lei Anticorrupção, muito mais do que a intenção de ser apli-cada, cria um forte elemento dissuasivo de práticas lesivas à administração pú-blica. E isso, sem dúvida alguma, é muito positivo (publicado em 06/09/2014 em www.conjur.com.br).

Indenização pela ruptura do equilíbrioeconômico-financeiro do contrato: o caso Varig S/A

A lei Anticorrupção e os efeitos já constatados nas empresas

FRANCISCO ZARDO

Em Acórdão publicado no dia 18 de setembro de 2014, o SUPREMO TRIBU-NAL FEDERAL, por maioria, negou pro-vimento aos recursos do Ministério Pú-blico Federal e da União (RE no 571.969/DF), mantendo a condenação desta ao pagamento de indenização à Varig S/A.

A Varig, concessionária de serviço público de transporte aéreo, teve suas tarifas congeladas entre 1985 e 1992 em decorrência do Plano Cruzado, instituído com o objetivo de combater a inflação. Diante da variação dos custos no perío-do, as receitas da empresa foram insu-ficientes para manter suas obrigações

contratuais perante o usuário e, ainda, adimplir seus compromissos com fun-cionários, aposentados e pensionistas, causando-lhe prejuízos.

De acordo com a relatora, Ministra CÁRMEN LÚCIA, “apesar de toda a socie-dade ter sido submetida aos planos eco-nômicos, impuseram-se à concessionária prejuízos especiais, pela sua condição de concessionária de serviço, vinculada às inovações contratuais ditadas pelo poder concedente, sem poder atuar para evitar o colapso econômico-financeiro”. Ainda segundo a Ministra, “o Estado responde juridicamente também pela prática de

atos lícitos, quando deles decorrerem pre-juízos para os particulares em condições de desigualdade com os demais”. Assim, impôs-se à União condenação ao paga-mento de indenização, “para minimizar os prejuízos sofridos, segundo determina a Constituição”.

Com base em laudo pericial, a indeni-zação foi fixada em R$ 2.236.654.126,92 (dois bilhões, duzentos e trinta e seis milhões, seiscentos e cinquenta e quatro mil, cento e vinte e seis reais e noventa e dois centavos), acrescidos de correção monetária e juros de 1% ao mês a partir de março de 1995.

DIREITO ADMINISTRATIVO

ROGÉRIA DOTTI

10

Termo de ajustamento de conduta como instrumento consensual de solução de conflitos entre a administração pública e a sociedade

A relação entre a Administração Pública e seus administrados vem pas-sando por transformações, sendo que o atual estágio da teoria administrativa pode ser definido no termo “em cons-trução”. Isso porque a concepção de Administração autoritária está sendo abandonada por uma nova perspectiva, mais consensual, que visualiza o indiví-duo como um sujeito de direito. Nesse cenário, não são poucas as normas que tratam de estabelecer novas modali-dades contratuais, como por exemplo, os termos de ajustamento de conduta, TACs, adotados com frequência por au-tarquias responsáveis pela regulação de

diversos setores. Sinteticamente, pode--se conceituar Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta como o ato pelo qual a pessoa interessada assume perante o agente público o compromis-so de reparar, mitigar ou compensar a ofensa, eliminar ou reduzir o risco, por meio da adequação de seu comporta-mento às exigências legais, mediante a formalização de um termo com força de título executivo extrajudicial. Em geral, os TACs vêm estabelecidos em regras específicas em atos normativos emiti-dos pelas próprias Autarquias, como por exemplo a AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS), que,

na Resolução Normativa nº 124/2006, o regulariza da seguinte forma: “Art. 29. O processo administrativo, antes de aplicada a penalidade, poderá, a título excepcional, ser suspenso pela ANS, se a operadora assinar termo de compromis-so de ajuste de conduta, perante a Direto-ria Colegiada, que terá eficácia de título executivo extrajudicial, nos termos esta-belecidos na Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998”. O TAC, portanto, aparece como instrumento eficaz de resolução de lití-gios, trazendo não somente eficiência no acordo celebrado, como também evitando posterior discussão judicial.

ANA CRISTINA VIANA

A correção fundamentada de provas em concurso público

A reestruturação dos quadros de ser-vidores públicos ocorrida ao longo dos últimos anos proporcionou a abertura de milhares de vagas na Administração Pública. A oportunidade tem atraído ano a ano milhares de interessados que, em número cada vez maior, proporcional-mente tornam a disputa pelas vagas dis-poníveis extremamente acirradas.

O concurso público dirige-se a asse-gurar a isonomia no acesso aos cargos e a seleção dos mais qualificados para o exercício das funções públicas. Para a adequada consecução destas finalida-des, exige-se que as provas sejam bem elaboradas, desde a adequação do con-teúdo programático às habilidades que determinado cargo demande até o es-tabelecimento de fatores objetivos de avaliação dos resultados obtidos pelos candidatos.

Nesta perspectiva, a correção das

provas em concurso público deve igual-mente observar uma série de garantias asseguradas aos candidatos. A eles é de-vido saber os critérios de correção ado-tados pela banca examinadora – o que usualmente se faz pela disponibilização de espelho de correção – e como a nota atribuída ao candidato foi obtida em consonância com o espelho de correção. Deste modo, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA assevera a obrigatoriedade de motivação contem-porânea ao ato de correção como con-dição indispensável para a regularidade do procedimento: “o problema que surge é o seguinte: a ausência de mo-tivação anterior ou

contemporânea ao ato administrativo (correção da prova do candidato) importa nulidade do mesmo, mas o concurso já foi homologado e não há como, agora, defe-rir uma nova correção de prova - porque, deste jeito, a motivação existiria, mas seria posterior e prejudicaria todo o certame.” (STJ, 2ª Turma. RMS 33825 / SC, Relator Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES. DJ. 14/06/2011).

ANDRÉ MEERHOLZ

1111

Com certa frequência, deparam-se os Tribunais com ações que discutem vícios construtivos. Ora pretendendo a reparação dos defeitos, ora a rescisão do negócio ou uma indenização pelos abor-recimentos vividos, que não costumam ser pequenos.

Considerando-se que a aquisição de um bem imóvel compreende um grande investimento, é bastante usual a contra-tação de um financiamento, passando o agente financeiro a integrar o contrato firmado com a construtora. A pergunta que surge é: até que ponto esse agente responde pelos defeitos que a constru-ção vier a apresentar?

Em decisão publicada em setem-bro deste ano, o TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO, apreciando Recurso de Apelação oriundo do Esta-do de São Paulo (Ap.Civ. n° 0021294-05.2012.4.03.6100), bem delimitou as hipóteses nas quais é possível cogitar a corresponsabilidade do agente finan-ceiro. No aludido precedente, que cita julgados dos TRFs da 1ª, 4ª e 5ª, fica claro que muito embora o agente de-tenha legitimidade para figurar na ação que visa ao ressarcimento de prejuízos, porquanto parte integrante do contra-to, via de regra ele não responde pelos defeitos causados pela má construção,

que são imputáveis exclusivamente à própria construtora.

No entanto, quando o agente finan-ceiro assume a responsabilidade pela fiscalização de edifício em construção, o que ocorre, por exemplo, quando par-celas do financiamento estão vinculadas à conclusão de etapas construtivas ou à sua higidez (o que se costuma deno-minar de cronograma físico-financeiro), nessa hipótese, aí sim, pode-se perquirir a corresponsabilidade (do banco). E isso, naturalmente, não ocorre com imóveis já finalizados, mas apenas com aqueles que serão ainda edificados.

Para fins do art. 73, §10˚, da Lei nº 9.504/1997, “há que se distinguir as situa-ções em que o agente público que executa a conduta vedada atua com independên-cia em relação ao candidato beneficiário, fazendo-se obrigatória a formação do litisconsórcio passivo, e aqueles em que ele atua como simples mandatário, nas quais o litisconsórcio não é indispensável à validade do processo”. Este é o recente posicionamento do TSE segundo o jul-gamento do AgReg RESp n˚ 311-08/PR (DJE de 16/09/2014).

No caso, a Coligação Pela História e Pelo Trabalho ajuizou ação de investiga-ção judicial eleitoral (AIJE) em desfavor

do prefeito e vice-prefeito de Três Bar-ras do Paraná/PR, reeleitos em 2012, por suposta prática de conduta vedada em campanha eleitoral, captação ilícita de sufrágio e abuso de poder.

Os investigados alegaram a nulidade do processo por ausência de citação da secretária de ação social na condição de litisconsorte passivo necessário, suposta responsável pela doação de material a eleitores. O Min. relator, João Otávio de Noronha, negou provimento ao agravo já que “ainda que a secretaria de ação social tenha executado a doação de ma-terial de construção, praticou ato no cum-primento de ordens do chefe do Poder

Executivo local, ou seja, como longa ma-nus dos agravantes”.

Assinalaram, ainda, que não haveria como suspender a conduta vedada, já que o responsável não integra a relação processual. Contudo, concluiu-se que “os agentes públicos responsáveis pela prática da conduta vedada são os pró-prios agravantes, e não a secretaria de ação social. A ordem para suspender a conduta deve ser direcionada, no caso, aos chefes do Poder Executivo, que são as autoridades com poder de determinar a sua cessão. Também serão eles que su-portarão eventual responsabilidade por improbidade administrativa”.

Hipótese de não responsabilização do agente financeiro por vícios da construção

Litisconsórcio passivo necessário em ação de investigação judicial eleitoral

JULIO BROTTO

MARIA VITORIA KALED

DIREITO CIVIL

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A internet tornou-se verdadeiro con-sultor social da vida pregressa de qual-quer cidadão. Basta digitar o nome do indivíduo para conferir tudo de bom, ou de ruim, que o passado da pessoa apre-senta. Naturalmente, são os resultados negativos que impressionam, ainda mais quando o cache (resultado da pesquisa) resume, em poucas palavras o fato crimi-noso envolvendo a pessoa.

O problema ocorre, e tem sido re-corrente, quando se apresenta em pri-meira página dos resultados uma infor-mação parcial e descontextualizada do fato como, por exemplo, uma acusação julgada improcedente, ou uma informa-ção inverídica.

Geralmente, quem se vê envolvido injustamente nessas situações pretende processar o site buscador para a retira-da da informação do resultado da pes-quisa. Todavia, não é essa a via jurídica adequada. Nesse sentido, já decidiu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que “os provedores de pesquisa realizam suas

buscas dentro de um universo virtual, cujo acesso é público e irrestrito, ou seja, seu papel se restringe à identificação de pági-nas na ‘web’ onde determinado dado ou informação, ainda que ilícito, estão sendo livremente veiculados. Dessa forma, ainda que seus mecanismos de busca facilitem o acesso e a consequente divulgação de pes-quisas cujo conteúdo seja potencialmente

ilegal, fato é que essas páginas são públi-cas e compõe a rede mundial de compu-tadores e, por isso, aparecem no resultado dos ‘sites’ de pesquisa”. (Recurso Especial nº 1.316.921/RJ)

Assim, deve o interessado contatar diretamente o site mencionado no resul-tado para a retirada ou correção da infor-mação ofensiva.

Internet: buscador não é responsável por resultado da pesquisa

Os princípios da probidade e da boa-fé objetiva

O art. 422 do Código Civil, que dis-ciplina os princípios da probidade e da boa-fé objetiva nas relações obrigacio-nais, é tido pelo Prof. CARLOS ROBERTO GONÇALVES como uma “norma legal aberta”, na qual “... cabe ao juiz estabele-cer a conduta que deveria ter sido adotada pelo contratante, naquelas circunstâncias, levando em conta os usos e costumes. Es-tabelecido esse modelo criado pelo juiz para a situação, cabe confrontá-lo com o comportamento efetivamente realizado. Se houver contrariedade, a conduta é ilí-cita porque violou a boa-fé, assim como veio a ser integrada pela atividade judicial naquela hipótese”.

A Corte Especial do STJ já concluiu que a sua aplicação pode ser feita de ofício pelo Magistrado, ou seja, indepen-dentemente de pedido da parte:

“(...) Quando o juiz tiver de decidir independentemente de pedido da parte ou interessado, o que ocorre, por exem-plo, com as matérias de ordem pública, não incide a regra da congruência. Isso quer significar que não haverá julga-mento extra, infra ou ultra petita quando o juiz ou tribunal pronunciar-se de ofício sobre referidas matérias de ordem pú-blica. Alguns exemplos de matérias de ordem pública: (...) boa-fé objetiva (CC 422)” (Recurso Especial nº 1.112.524).

O TJ/RS recentemente entendeu que a violação do princípio da boa-fé objeti-va autorizava a reabilitação de uma pes-soa na plataforma on-line de um site de vendas pela internet, com a devolução das condições anteriormente adquiridas e a exclusão das qualificações negativas (Apelação Cível nº 70041956384).

Trata-se, em síntese, do entendi-mento de que as partes envolvidas numa relação devem observar o prin-cípio da boa-fé objetiva nas fases pré e pós contratual.

PATRÍCIA NYMBERG

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

1313

A responsabilidade pré-contratual decorre de violação ao princípio da boa--fé objetiva durante as tratativas que antecedem ao negócio jurídico. Ou seja, surge quando as partes envolvidas ma-nifestam a vontade de celebrar o negó-cio e, posteriormente, sem motivo jus-tificado, uma delas desiste do contrato, causando danos à outra.

Exige, assim, para a sua caracteriza-ção, a existência de negociação, a certeza na celebração do con-trato e o rompimento injustifica-do. Ademais, pressupõe a exis-tência de culpa e dano efetivo.

A certeza na celebração do negócio, a autorizar a respon-sabilização da parte que rom-pe de forma arbitrária, sem justa causa, deslealmente as negociações, precisa ser exa-

minada em conformidade com as cir-cunstâncias fáticas do caso concreto.

Esse entendimento encontra ampa-ro na doutrina majoritária e em prece-dentes jurisprudenciais, como se infere de decisões do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: “a ruptura imotivada de tratati-vas somente viola a boa-fé objetiva e en-seja indenização, quando as negociações preliminares ‘tenham chegado a tal pon-

to que faz prever que o contrato deveria poder-se estreitar’” (Recurso Especial nº 1.367.955) e “A responsabilidade pré-con-tratual não decorre do fato de a tratativa ter sido rompida e o contrato não ter sido concluído, mas do fato de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluí-do, efeito prejuízo material” (Recurso Es-pecial nº 1.051.065).

A responsabilidade pré--contratual, portanto, exige como um dos elementos in-dispensáveis à sua caracteri-zação a certeza na celebração do contrato, que deverá ser demonstrada no caso concre-to. Ausente qualquer indício que conduza a essa conclusão, afasta-se o direito a eventual indenização.

Responsabilidade por ruptura injustificada das negociações

A desconsideração inversa da pessoa jurídica

Em que pese a inegável importância econômica e social das pessoas jurídicas, a sua utilização para fins contrários ao Direito não é fenômeno de verificação recente. Se por um lado estimula as re-lações empresariais, a desvinculação pa-trimonial entre os sócios e a instituição criada abre espaço para que a cupidez humana dela se valha para a prática de abusos e fraudes não tolerados pela or-dem jurídica.

Nesse sentido, contando com o pio-neirismo do notável jurista paranaense RUBENS REQUIÃO, o Direito nacional in-corporou há décadas a teoria da descon-sideração da personalidade jurídica, pela

qual se afasta a personificação societá-ria para atribuir aos seus sócios a res-ponsabilidade por determinados atos que ordinariamente seriam imputados à sociedade. O sentido desse mecanis-mo jurídico, portanto, é alcançar o pa-trimônio pessoal dos sócios, ignorando--se a autonomia da pessoa jurídica no caso concreto.

Mais recentemente, o uso indevido das pessoas jurídicas também levou o Di-reito a percorrer o caminho inverso, bus-cando no patrimônio da pessoa jurídica o cumprimento de obrigações pessoais dos sócios. A chamada desconsideração inversa da personalidade jurídica tem

lugar quando alguém deliberadamente desvia bens do seu patrimônio pessoal e os integraliza em determinada empre-sa com a finalidade de frustrar direitos de terceiro. Tal questão voltou a figurar no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA por ocasião do julgamento do Recurso Espe-cial nº 1236916/RS, tendo como Relatora a Ministra NANCY ANDRIGHI.

Pelas suas particularidades, a descon-sideração inversa tem campo fértil de aplicação no direito de família, notada-mente frente à atitude do cônjuge que, em processo de separação, se vale desse expediente para excluir bens da divisão imposta pelo regime de casamento.

FERNANDO WELTER

VANESSA CANI

O direito à informação e o correlato dever de informar são inerentes a todas as relações contratuais. No âmbito das relações de consumo, o Código de Defe-sa do Consumidor estabelece como di-reito básico deste “a informação adequa-da e clara sobre os diferentes produtos e serviços” (art. 6º, III, CDC), sendo que a regulamentação atinge, também, o cam-po das informações publicitárias.

Todavia, imiscuídos em um contexto de aparente complacência e impunidade, diversos fornecedores valem-se da igno-rância dos consumidores para introduzir informações inadequadas ou não verda-deiras às suas práticas comerciais. Criam--se, com isso, espaços de desinformação.

Valemo-nos do seguinte exemplo: há algum tempo o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA firmou o entendimento de que é dever dos estabelecimentos co-merciais que oferecem estacionamento privativo aos consumidores, ainda que de forma gratuita, zelar pela segurança

dos veículos e dos clientes. A compreen-são de que o estabelecimento respon-de objetivamente pelos furtos, roubos e latrocínios ocorridos no seu interior é expressa na Súmula nº 130 da referida Corte, nos seguintes termos: “A empresa responde, perante o cliente, pela repara-ção de dano ou furto de veiculo ocorridos em seu estacionamento”.

Em que pese a orientação jurispru-dencial pacífica, é muito comum a ins-talação de placas ou dizeres atestando justamente o contrário. É corriqueira, por exemplo, a existência de letreiros com os seguintes dizeres: “Fique atento e cuide de seu veículo, pois não nos responsabili-zamos por quaisquer danos e/ou ocorrên-cias ao mesmo”.

Tal prática de desinformação ao con-sumidor é, por si só, lesiva – devido à sua aptidão a induzir o leitor em erro. Portan-to, também é passível de ensejar o corres-pondente dever de indenizar o consumi-dor diretamente lesado ou a coletividade.

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Não são poucas as pessoas que já se depararam com alguma dificuldade ao necessitarem, com urgência, de ser-viços hospitalares. Em Uberlândia/MG, por exemplo, grande parte dos hospitais cobrava dos clientes de planos de saú-de quando o atendimento era realizado fora do horário comercial (valores que seriam exigidos pelos próprios médicos), além de, muitas vezes, exigirem caução ou depósito prévio daqueles pacientes que não possuem convênios.

O Ministério Público de Minas Gerais tomou ciência desta conduta e propôs Ação Civil Pública requerendo que os hospitais se abstivessem das atitudes acima descritas.

O pedido foi julgado procedente em 1º grau e reformado no Tribunal de Jus-tiça ao argumento de que falta ilegalida-de nas referidas práticas, alegando que a cobrança seria permitida pela Associa-ção Médica Brasileira, não sendo possí-vel ingerência estatal na iniciativa.

Ao decidir o Recurso Especial nº 1324712, o ministro LUIS FELIPE SALO-MÃO entendeu que, independentemen-te da razoabilidade ou possibilidade da

cobrança de honorários médicos majo-rados pela prestação de serviços fora do horário comercial, os custos são de res-ponsabilidade do próprio hospital, que deverá cobrá-los das operadoras dos planos de saúde. Segundo o voto, uma vez cobrado este custo extra do consu-midor, caracterizar-se-ia “conduta mani-festamente abusiva, em violação à boa-fé objetiva e ao dever de probidade do forne-cedor, vedada pelos artigos 39, IV e X, e 51, III, IV, X, XIII e XV, do Código de Defesa do Consumidor, e pelo artigo 422 do Código Civil de 2002”.

Quanto à exigência de prévia cau-ção para atendimentos de emergência, afirmou que, antes mesmo da vigência da Lei nº 12.653/2012 (Acresce o art. 135-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para tipificar o crime de condicionar atendi-mento médico-hospitalar emergencial a qualquer garantia e dá outras providên-cias), o STJ já se pronunciava no sentido de se tratar de prática ilegal, sendo dever do hospital a prestação de pronto aten-dimento, sob pena de responsabilização civil e criminal.

Em Economia, custo de oportuni-dade é ideia que lida com alternativas sacrificadas. Segundo o Manual de Economia da Equipe de Professores da USP, 2ª ed., o “Custo de Oportuni-dade mede o valor das oportunidades perdidas em decorrência da escolha de uma alternativa de produção em lugar de outra também possível”. Um exemplo ajuda a aclarar o conceito: “o custo de ler este artigo é igual ao va-lor que você atribui à outra coisa que faria com esses minutos empregados na leitura” (http://www.mises.org.br /Article.aspx?id=1733).

O exemplo deixa entrever que o tempo é um recurso escasso. O con-ceito de custo de oportunidade co-loca em termos racionais o que todos sabem intuitivamente: não há tempo para se fazer tudo. E não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Perder tempo é sacrificar oportunidades.

É raciocínio desse teor que deve informar uma nova modalidade de dano indenizável: o dano pela perda de tempo útil. No Direito do Consumi-dor, a ideia tem ganhado força, com produção doutrinária de peso, como a de MARCOS DESSAUNE, Desvio Pro-dutivo do Consumidor, que arrola uma série de situações que devem ser con-sideradas pelos julgadores quando do exame de casos que discutam danos aos consumidores.

Acanhadamente, a jurisprudência vem acolhendo o raciocínio. O TJPR, por exemplo, nos julgamentos da Ape-lação nº 812766-0 e do Recurso Ino-minado nº 2046-79.2012.8.16.00014, bem estabeleceu o dever de indenizar tão só pela perda de tempo útil.

O uso racional do tempo exige li-berdade. Situações que tomam tem-po excluem possibilidades de escolha. Reduzem a liberdade das pessoas. E li-berdade é princípio com abrigo cons-titucional (art. 5º, caput, da CF). Tomar tempo constitui, pois, ato ilícito lesivo, a exigir reparação.

Indenização pela perda de tempo útil

RAFAEL BERZOTTI

Os clientes de planos de saúde e o atendimento fora do horário comercial

CÍCERO LUVIZOTTO

LAÍS BERGSTEIN

A desinformação lesiva ao consumidor

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Em 19/08/2014, a Terceira Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), ao julgar o Recurso Especial nº 1352419/SP, reconheceu a aplicabilidade do Có-digo de Defesa do Consumidor nos contratos de seguro empresarial, nas hipóteses em que a empresa contrata seguro para a proteção de seus próprios bens sem o integrar nos produtos e ser-viços que oferece.

A empresa recorrente, atuante no ramo de comércio de automóveis novos e usados, contratou seguro cuja cober-tura relacionava-se com os riscos sobre o patrimônio da sociedade, como veículos mantidos em seu estabelecimento.

Ocorre que, efetuado o sinistro re-ferente ao furto de uma caminhonete nas dependências da empresa, a se-guradora recusou-se em arcar com o pagamento de indenização, alegando que não havia na apólice a garantia

para o “furto simples”.A empresa segurada ajuizou, então,

ação por quebra de contrato, a qual foi julgada procedente, em primeiro grau, com fundamento na legislação consu-merista. Contudo, em sede recursal, o Tri-bunal de Justiça de São Paulo entendeu pela inaplicabilidade do CDC e reformou a decisão.

Em recurso ao STJ, a empresa persis-tiu na aplicação do CDC e no reconhe-cimento de que as cláusulas ambíguas ou contraditórias do contrato de adesão deveriam ser interpretadas de maneira favorável ao aderente.

O Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Relator do voto, acolheu a ale-gação, fundamentando que a base da relação de consumo adotado pelo STJ é de que toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário fi-nal, produto ou serviço de determinado

fornecedor é consumidor.Segundo ele, se o seguro fosse con-

tratado para cobrir riscos dos clientes, faria parte dos serviços prestados pela pessoa jurídica, o que configuraria con-sumo intermediário, não protegido pelo CDC, o que não é o caso dos autos.

O Recurso Especial foi então provido, restabelecendo-se os termos da sentença.

A aplicabilidade do CDC em contrato de seguro empresarial

A impossibilidade de execução das astreintes antes da sentença

VANESSA SCHEREMETA

Sempre que é requerida uma obriga-ção de fazer ou não fazer em uma ação judicial, o Juiz pode fixar uma multa diá-ria para forçar o réu a cumprir a sua deci-são – as chamadas astreintes. Inclusive, o seu valor pode ser majorado em caso de recalcitrância do réu, ou reduzido, caso demonstrada a sua desproporcionalida-de, tal qual reza o art. 461 do CPC.

Embora as astreintes possam ser fi-xadas em decisão liminar – tomada com base em um juízo de verossimilhança – havia fundada dúvida se elas pode-riam ser cobradas antes da sentença. Isso porque, se de um lado a exigência

de seu pagamento serviria de incentivo para que o réu inadimplente cumprisse a obrigação, de outro o sujeitaria ao cum-primento de uma decisão que poderia vir a ser revogada na sentença.

Recentemente essa questão foi paci-ficada pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA no julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.200.856/RS (Relator Mi-nistro SIDNEI BENETI, CORTE ESPECIAL, DJe 17/09/2014). Entendeu-se que so-mente é possível iniciar a execução das astreintes após a sua confirmação pela sentença de mérito e desde que o recur-so eventualmente interposto não seja

recebido com efeito suspensivo. Como bem ressaltado no referido julgamento, “a subsistência da multa, segundo a juris-prudência majoritária deste Tribunal, está vinculada ao êxito da demanda na qual se busca a obrigação principal ou o direito material deduzido em Juízo, o que signifi-ca dizer que a multa fixada incidentalmen-te fica pendente de condição resolutiva, ou seja, se julgado procedente o pedido, ela se convalida e, contrariamente, se impro-cedente, perde ela o seu efeito”. Todavia, ressaltou que ela deverá ser computada desde a data do efetivo descumprimen-to da liminar.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

LORENA FADEL

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Registro de maternidade socioafetiva

Testamento cerrado

FERNANDA PEDERNEIRAS

THAIS GUIMARÃES

Uma das formas ordinárias de tes-tamento é o cerrado, disposto nos arts. 1.868 a 1.875 do Código Civil. Esta forma garante o sigilo absoluto da manifesta-ção do testador, sendo que nem as teste-munhas saberão do seu conteúdo.

O testamento é escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e será aprovado pelo tabelião, que lavrará o auto de aprovação (certidão de que o documento lhe foi entregue), assina-do por ele, pelas 2 testemunhas e pelo testador. Na sequência, o testamento é cerrado e costurado, de forma a garan-tir a sua inviolabilidade, e só poderá ser aberto após o falecimento do testador

pelo Juiz, que verificará a inexistência de vícios externos, determinará sua leitura e ordenará seu registro e cumprimento.

O que muitas vezes ocorre é a aber-tura do testamento após o falecimento por pessoa que desconhece seu con-teúdo e a formalidade necessária para seu cumprimento, conforme situação julgada pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, na Apelação Cível nº 02997-39.201.8.26.0100.

No referido julgamento, aquele Tri-bunal entendeu que “o fato de o testa-mento encontrar-se aberto, como sucedeu na espécie dos autos, não o invalida neces-sariamente, como pareceu ao MM. Juiz de

1º grau, desde que o interessado (ou inte-ressados) prove que o documento foi aber-to inadvertidamente, sem o conhecimento ou a autorização do testador”.

Nesse sentido, o art. 1.972 do Código Civil prevê que “o testamento cerrado que o testador abrir ou dilacerar, ou for aber-to ou dilacerado com seu consentimento, haver-se-á como revogado”. Portanto, a abertura por terceiro só revoga automa-ticamente o testamento se houver o con-sentimento ou a autorização do testador, e qualquer discussão deverá ser realizada perante as vias ordinárias, e não no pro-cedimento de jurisdição voluntária de abertura e registro de testamento.

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Em decisão proferida no mês de agosto do corrente ano, a Juíza da 6ª Vara de Família de Curitiba julgou procedente o pedido formulado pela madras-ta para a inclusão de seu nome como mãe no registro de nasci-mento de seu enteado.

Assim, reconhecendo a re-lação materno-filial socioafe-tiva existente entre a autora e a criança, fruto de um relacio-namento de seu marido com outra mulher quando ainda solteiro, a sentença determinou a inclusão da ma-drasta como mãe do menor, o qual, des-de o falecimento da mãe biológica, ocor-rido em 2013, vive com a madrasta, o pai e os dois irmãos (filhos do casal).

A magistrada salientou que, tendo havido a comprovação da relação de afeto, a anotação concomitante da ma-

ternidade biológica e da socioafetiva no assento de nascimento da criança garan-te o legítimo anseio dos autores e de sua família, sem ofender a ordem jurídica.

O Poder Judiciário cada vez mais vem sendo desafiado a encontrar soluções para as questões relacionadas às famílias reconstituídas e aos novos arranjos fami-liares. A ponderação de princípios consti-

tucionais, como o da dignidade, da igualdade e da solidariedade, e o reconhecimento da afetivi-dade como elemento gerador de vínculos parentais têm con-tribuído para o reconhecimento das relações baseadas no afeto em seus mais variados formatos, de modo a retratar a realidade vivenciada pelas famílias atuais.

Como bem destacam CRIS-TIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD “a família

do novo milênio, ancorada na segurança constitucional, é igualitária, democrática e plural (não mais necessariamente casa-mentária), protegido todo e qualquer mo-delo de vivência afetiva e compreendida como estrutura socioafetiva, forjada em la-ços da solidariedade”. (Direito das Famílias. 2. ed., rev., amp. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.p.10).

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Dano moral por inadimplemento alimentar

A partilha de indenização trabalhista

DIANA GEARA

EMILLY CREPALDI

A moral é indiscutivelmente um bem jurídico e, como tal, recebe respaldo de di-versos diplomas legais, tais como a Consti-tuição Federal e o Código Civil que garan-tem a indenização por danos morais.

O dano moral pode ser compreendi-do como a ofensa à honra, à dignidade, aos direitos da personalidade, e demais elementos importantes a cada indivíduo.

Neste sentido, a doutrina e a jurispru-dência têm delineado a possibilidade de indenização por danos morais nas relações familiares, eis que, em razão dos princípios fundamentais norteadores do direito de família, há maior dever entre os entes de uma família em preservar a dignidade e direitos de personalidade uns dos outros.

O descumprimento do dever alimen-tar está dentre as hipóteses de aplicação da teoria da reparação por danos morais no âmbito familiar. Isso porque, afora o princípio da solidariedade familiar, há dispositivos expressos quanto ao dever jurídico de prestar alimentos. Além disso,

o Código Penal prevê que o inadimple-mento alimentar trata-se de ato ilícito.

Portanto, os genitores e os ex-cônjuges/companheiros que, de forma contumaz, descumprem o dever de pagar alimentos estão sujeitos a reparar o dano causado. Contudo, é claro que cumprirá ao alimen-tado comprovar os constrangimentos que

sofreu em razão do atraso ou não recebi-mento da verba alimentar, assim como a conduta injustificada do alimentando.

A medida da condenação, tal como ocorre nas demais demandas cíveis, será compensar a extensão do dano sofrido e evitar a continuidade do inadimplemen-to (o caráter pedagógico da sanção).

Prevê o artigo 1.659, inciso VI do Có-digo Civil que, no regime da comunhão parcial, estão excluídos “os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge”. Por sua vez, o artigo 1.660, inciso V, dispõe que entram na comunhão “os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada côn-juge, percebidos na constância do casa-mento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.” Em outras palavras, embora os proventos não se comuniquem no fi-nal do matrimônio, as verbas recebidas durante ela passam a ser bens comuns.

Diante disso, discute-se se a indeni-zação trabalhista recebida após a separa-

ção do casal deve ou não ser partilhada.A jurisprudência do SUPERIOR TRI-

BUNAL DE JUSTIÇA tem-se firmado no sentido de que, independentemente da data em que realizado o pagamento das verbas trabalhistas pleiteadas em ação ju-dicial, é o fato gerador destes direitos que deve ser considerado para a resolução da questão. Vale dizer, interpretando-se har-monicamente os referidos dispositivos de lei, conclui-se que as verbas trabalhistas que tiveram origem e foram requeridas em ação judicial durante a relação conju-gal constituem-se bem partilhável, ainda que recebidas após a separação do casal.

Foi o que se decidiu no Recurso Es-pecial nº 1.024.169/RS, de relatoria da Ministra NANCY ANDRIGHI, quando se expôs que “Por tudo isso, o entendimen-to que melhor se coaduna com a essência do regime da comunhão parcial de bens, no que se refere aos direitos trabalhistas perseguidos por um dos cônjuges em ação judicial, é aquele que estabelece sua co-municabilidade, desde o momento em que pleiteados. Assim o é porque o ‘fato gera-dor’ de tais créditos ocorre no momento em que se dá o desrespeito, pelo emprega-dor, aos direitos do empregado, fazendo surgir uma pretensão resistida”.

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HEVELIN CRISTIANE AGOSTINELLI QUINTÃOAcadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de

Curitiba

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS Crimes contra a ordem tributária

No Brasil, além dos crimes relacio-nados no Código Penal, há leis esparsas que informam certas condutas e san-ções criminais. Uma destas é a Lei nº 8.137/1990, que disciplina delitos tribu-tários, contra a ordem econômica e as relações de consumo.

Quando provado algum desses de-litos, o agente estará sujeito a penas de reclusão ou detenção (prisão). Embora a punição pareça desproporcional para quem sonega tributos (impostos, taxas e contribuições sociais), é preciso compre-ender que o seu não recolhimento obs-taculiza a atividade estatal. A Constitui-ção Federal protege interesses coletivos e individuais de forma equânime; estes interesses são interdependentes na sis-temática tributária, conferindo à lei o po-der de fixar sanções penais no intuito de vincular o contribuinte ao pagamento dos tributos devidos.

No entanto, a Lei nº 12.382/2011 indi-ca a possibilidade de composição com o Fisco, quando, por exemplo, suspende a pretensão punitiva do Estado pelo parce-lamento da dívida tributária (art. 6º). Po-rém, isto só é possível se o pedido de tal benefício for efetuado antes do recebi-mento da denúncia criminal; neste caso, o prazo prescricional também fica sus-penso até a quitação integral da dívida. Ainda, a Súmula Vinculante nº 24 do STF diz que nenhuma das condutas do art. 1º da Lei 8.137/1990 pode ser considerada crime antes de o tributo ser lançado defi-nitivamente pela Receita Federal.

Importante explicar, todavia, que o intuito do legislador não foi o de perdoar o infrator, mas o de expandir as possibi-lidades de cumprir seu dever, que é o de arrecadar tributos. Isto não significa que a sonegação dos mesmos está livre das sanções penais, pois elas continuam va-lendo para os casos em que o tributo não for parcelado ou integralmente pago no momento processual adequado.

A reincidência penal afasta o princípio da insignificância?

As reais causas de nulidade do votoBIANCA KOMAR DE CARVALHO

Acadêmica do 2º ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

O voto é a nossa voz e também a arma da cidadania. Arma que não mata, mas edifica; que não destrói, mas dá es-perança. O  voto, ou sufrágio universal, como é também conhecido, é um dos principais instrumentos utilizados para as eleições.

Existem muitas críticas às eleições, principalmente as decorrentes das cam-panhas do voto nulo. A prática de anular o voto visa expor um descontentamen-to com todo o sistema da democracia representativa ou, em alguns casos, a insatisfação com os candidatos que são apresentados. Tanto o voto nulo como o em branco não são considerados na soma dos votos válidos.

Geralmente, há uma confusão entre o voto nulo e a nulidade do voto, onde o segundo termo corresponde aos votos recebidos por um candidato majoritário

que, após o final da eleição, foi declara-do inelegível. Se por acaso este candida-to tiver recebido mais de 50% dos votos válidos, a eleição será anulada e o Tribu-nal Regional Eleitoral definirá uma nova eleição num período de 20 a 40 dias, de acordo com a Lei nº 4.737/1965. Também é causa de nulidade do voto, de acordo com o Código Eleitoral, a constatação de fraude nas eleições, como, por exemplo, a compra de votos.

As eleições no Brasil são um espaço para a prática coletiva da cidadania, em que se solidifica a cultura da participação social. Não desperdice seu voto, sua voz, nas urnas. O direito à escolha faz a socie-dade tornar-se cada vez mais consciente, crítica e exigente. O voto da pessoa mais pobre vale tanto quanto o voto da pes-soa mais rica. Essa é a beleza da democra-cia. Nas urnas somos todos iguais.

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

A esfera de atuação do direito penal, tido como a “ultima ratio”, só deve ser acionada em casos realmente necessá-rios, como a última alternativa do Estado para punir o agente que pratique de-terminadas condutas que não possam ser resolvidas por outros âmbitos do direito. Foi nesse sentido que decidiu a Sexta Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ao seguir o voto do relator SE-BASTIÃO REIS JÚNIOR no Habeas Corpus nº 299185 e absolver réu com reincidên-cia específica (prática do mesmo tipo de crime pelo qual o réu já foi condenado anteriormente), já que nem a reiteração criminosa, nem a habitualidade delitiva seriam suficientes, nesse entendimento, por si sós, para afastar a aplicabilidade do Princípio da Insignificância.

Este princípio tem por finalidade afastar a própria imagem de crime em ações de mínima importância social (fur-to de R$ 10,00, p.ex.), ou seja, não con-

sidera a conduta praticada como ilícita, impedindo a punibilidade do agente. Segundo o SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL esse critério é incompatível com os crimes resultantes de violência ou grave ameaça à pessoa, tráfico de drogas e cri-mes de falsificação.

O entendimento jurisprudencial, que, antes, era o da não aplicabilidade deste princípio em casos de habituali-dade delitiva e reincidência, alterou-se, portanto – para o STJ – em sentido opos-to. Não obstante a reincidência específi-ca, não prevalece a ideia de fomento à atividade criminosa, desde que outras especificidades do caso sejam observa-das para determinar a aplicabilidade do Princípio da Insignificância no crime de lesão inexpressiva, como, por exemplo, o valor do objeto, o grau de reprovabi-lidade do autor, a restituição do bem, a repercussão econômica para a vítima, entre outras.

ANTONELLA CEQUINEL THÁAcadêmica do 3º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

1919

Alienação parental: a ruptura da sociedade conjugal e suas consequências

Uso indevido de informação privilegiada na bolsa de valores é crime

O dano gerado por um crime e sua reparação civil

ISABELA FERREIRA DE ANDRADEAcadêmica do 4º ano da Faculdade Dom Bosco

VINÍCIUS CIMAcadêmico do 4º Ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

LINCOLN MACHADO DOMINGUESAcadêmico do 3º ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Quando da ruptura do casamento, não é raro que um dos cônjuges, muito abalado pelo término da relação, faça uma “lavagem cerebral” na criança, im-plantando falsas acusações contra o ex--marido ou ex-mulher, fazendo com que o filho se afaste do outro genitor e tudo isto com um único objetivo, a vingança pelo luto da separação.

A Lei nº 12.318/2010 dispõe sobre o tema e em seu art. 2º considera a prática de alienação parental todo o ato de in-terferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, induzida por um dos genitores ou até mesmo pelos avós ou ainda, aqueles que detenham sobre a criança ou adolescente, autori-dade, guarda ou vigilância.

Havendo indícios de alienação pa-rental, o processo terá tramitação prio-ritária para que então o juiz aplique medidas provisórias necessárias, que podem incluir perícia psicológica. Se res-tar comprovada, o juiz poderá: ampliar o regime de convivência familiar em fa-vor do genitor alienado; estipular multa ao alienador, determinar a alteração da guarda compartilhada ou sua inversão, dentre outras medidas descritas no art. 6º da referida lei.

Estudos revelam que quando a crian-ça ou o adolescente sofrem a alienação parental, estas tendem a se isolar dos demais, ocorrendo, também, baixo ren-dimento escolar, indisciplina em relação às tarefas de casa, problemas de concen-tração nas aulas e depressão dos mais di-versos graus. Sendo o quadro depressivo decorrente da constante convivência da criança com comentários negativos pro-venientes de um dos pais acerca do outro.

O que se espera dos ex-cônjuges é a consciência de os filhos não são culpa-dos pelo fim do casamento e que a par-ticipação de ambos os genitores, é ideal para uma boa formação, a saúde emo-cional e desenvolvimento da criança.

Recentemente, foi noticiado o ofe-recimento de denúncia contra o empre-sário EIKE BATISTA, acusado de manipu-lação de mercado e pelo uso indevido de informações privilegiadas (arts. 27-C e 27-D, respectivamente, da Lei n.º 6.385/1976). Este uso indevido de infor-mações, também chamado de insider trading, merece especial destaque para os profissionais de áreas estratégicas das empresas listadas na BOVESPA, a Bolsa de Valores de São Paulo.

A conduta típica do delito consiste no uso de informação relevante, de que se tenha conhecimento e se deva man-ter sigilo, antes de sua divulgação ao mercado, com o fim de obter vantagem indevida mediante negociação de valo-res mobiliários. Assim, o diretor financei-ro de determinada empresa que se ante-cipa ao anúncio de uma fusão e adquire ações, sabendo de sua potencial valori-zação e visando lucrar com sua venda futuramente, comete crime contra o

mercado de capitais. Do mesmo modo, aquele que, sabendo previamente da di-vulgação de balanço trimestral negativo pela companhia, se desfaz de suas ações a fim de evitar sua desvalorização.

A criminalização dessa conduta visa garantir a lisura das negociações finan-ceiras, protegendo, assim, a credibilida-de, estabilidade e eficiência do merca-do de capitais. Importante mencionar, ainda, que não somente os executivos e empregados da empresa envolvida podem ser autores deste crime, mas também qualquer pessoa que tenha acesso e faça uso de determinada infor-mação sigilosa, mesmo que através de mera conversa informal em uma roda de amigos.

Além da pena restritiva de liberdade cominada ao delito (1 a 5 anos), o infrator está sujeito a multa de até 3 vezes o mon-tante da vantagem ilícita obtida da ne-gociação, podendo, também, ser banido definitivamente do mercado financeiro.

A premissa de que aquele que causa dano a outrem, ainda que seja tal dano exclusivamente moral, deve indenizar, norteia a Legislação Civil Brasileira. Um exemplo de tal premissa é a obrigação que tem o causador de um acidente de trânsito de reparar os danos materiais causados ao veículo da vítima.

Entretanto, as situações que podem trazer prejuízos não são restritas so-mente àqueles corriqueiros, podendo também ser causados por crimes. Por exemplo, é certo que o crime de fur-to causa dano material, assim como é certo que a calúnia (imputação de fato falso criminoso) implica dano moral à vítima. Logo, apesar de tais crimes pu-nirem seus autores com a restrição de liberdade, há também o direito da víti-ma em ter seu prejuízo reparado.

Em observância a este direito, a Lei Civil e Processual Civil, assim como a Legislação Penal e Processual Penal, dispõem, em numerosos dispositivos

legais, acerca de tal tema e, apesar das responsabilidades de cunho civil e penal serem independentes entre si, pode haver a ocorrência de ambas sem o prejuízo da outra. Na hipótese de a sentença penal condenatória reconhe-cer a autoria e a materialidade da prá-tica de um crime, ela fará coisa julgada no juízo cível, restando a esta jurisdição somente a fixação da verba indenizató-ria e a respectiva satisfação do direito creditício da vítima do crime. Contudo, existem exceções a esta regra, como a relativização de sua aplicação em re-lação ao partícipe do crime. Nessa hi-pótese, há a necessidade de se discutir novamente a autoria, sob o prisma do Direito Civil, e, consequentemente, o dever de indenizar.

Deste modo, pode-se dizer que a medida de mais lídima justiça para com a vítima de um crime não consiste tão somente na punição do ofensor, mas também na reparação do dano causado.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Ano 9 | Número 26

Tiragem: 2.000 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

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Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

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