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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 4 - Nº 36 - Julho 2010 - Distribuição Gratuita EDIçãO ESPECIAL 16 32 04 Rogério Cezar de Cerqueira Leite Iluminado por Natureza Energia Eólica Vai de vento em popa Agenda verde Candidatos à Presidência

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Page 1: Ed36

www.neomondo.org.br

NeoMoNdoum olhar conscienteAno 4 - Nº 36 - Julho 2010 - Distribuição Gratuita

Edição EspEcial

16 3204

Rogério cezar de cerqueira leite Iluminado por Natureza

Energia EólicaVai de vento em popa

agenda verde Candidatos à Presidência

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ESPECIAL - ENERGIA

ESPECIAL - ENERGIA

Seções

Prof. Emérito da Unicamp iluminado pela própria natureza

Artigo – Dr. Marcos Lúcio Barretoreaproveitar aproveitemos essa ideia

04

Artigo – Natascha TrennepohlPolítica nacional de resíduos sólidos

Para economizar bilhões Desperdício de energia chega a 17 bilhões por ano

Por céus de brigadeiro espaço aéreo livre de co2

Artigo – Denise de La Corte Baccio calor que vem de dentro

24

ESPECIAL - ENERGIA

2 neo mondo - Julho 2010

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira(MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins e Vinicius ZambranaRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)Estagiária: Heloisa MoraesRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaDiagramação: Renata Rodrigues VialliProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de Relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 - Vila Floresta - Santo André – SPCep: 09050-120

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

30 Energia EólicaVai de vento em popa

CotIdIANoNEO MONDO Informanotícias imperdíveis

56

No alvo a energia verde temática sobre energia limpa

15

Agenda verde na campanha Programas eleitorais de candidatos à Presidência

16

PERfIL12

28

Artigo – João MuciaccitoProdução mais limpa (P+l)

38ESPECIAL - ENERGIA

O sol brilha para todos energia do astro rei

Artigo – Terence Trennepohl Farewell do código florestal de 1965

37

08Profile Professor Emeritus of Unicampenlightened by his own nature

ARTICLE IN ENGLISH

Artigo – Dra. Dilma de Melo Silva energia pura

44

ESPECIAL - ENERGIA

20

ESPECIAL - ENERGIA

32

40ESPECIAL - ENERGIA

Vem da lama, mas é limpa lodo gera energia

46

ESPECIAL - ENERGIA

Energia que vem das cinzas usinas flutuantes

48 Artigo – Rafael Lopesteoria da evolução dos automóveis

50

Artigo – Rosane Magaly Martins longevidade

52

Artigo – Márcio Thamos a invenção da humanidade

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3neo mondo - Julho 2008

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neo mondo - Julho 20104

NEo MoNdo: A saída para o Brasil é insistir na construção de hidrelétricas? Por quê? E em que medida esse tipo de usina pode acrescentar como alternativa de energia limpa?

Cerqueira Leite: “a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas

de álcool e açúcar... a redução de emissões beneficiará o Brasil e o resto do planeta”

Perfil

N uma edição que trata das alterna-tivas de energia limpa, neo mon-Do foi buscar uma das maiores au-

toridades não só no tema do nosso caderno especial, mas também em assuntos de múl-tiplo interesse socioeconômico pela sua car-reira caracterizada pela diversidade de atua-ção: da docência acadêmica a participações como conselheiro, passando pela gestão de instituições privadas e públicas.

rogério cezar de cerqueira leite é fí-sico, professor emérito da universidade estadual de campinas (unicamp), mem-bro do conselho de ciência e tecnologia da Presidência da república, presidente do conselho de administração da aBtlus (associação Brasileira de tecnologia de luz síncrotron) e membro do conselho edito-rial da Folha de s.Paulo.

a aBtlus administra o centro na-cional de Pesquisas em energia e mate-riais, que congrega os quatro laboratórios nacionais (síncrotron, Biociências, nano-tecnologia e etanol).

cerqueira leite tem participação impor-tante no desenvolvimento da ciência, espe-cialmente em são Paulo, por ser membro fundador da academia Paulista de ciências

e atuar, durante 6 anos, como membro do conselho superior da Fundação de amparo à Pesquisa do estado de são Paulo (Fapesp).

na qualidade de pesquisador, foi tam-bém presidente do laboratório nacional de luz síncrotron (lnls), de 1985 a 1997, onde ainda atua como presidente do con-selho de administração.

Fazem parte de sua trajetória ativida-des como a presidência da companhia de Desenvolvimento do Pólo de alta tecnolo-gia de campinas, a vice-presidência execu-tiva da companhia Paulista de Força e luz, a participação em 1976, como consultor, da conferência de ciência e tecnologia para o Desenvolvimento, da organização das nações unidas (onu), e a participação em missões da Presidência da república do Brasil para acordos de cooperação interna-cional em tecnologia industrial.

cerqueira leite não deixou de lado ne-nhuma das questões levantadas e é ao mes-mo tempo visceral e bem-humorado quando trata de assunto que é a bola da vez: a cons-trução de Belo monte. “ ’ignocentes’ veem a árvore, mas não percebem a floresta em que ela está inserida”, diz. Vale a pena ler a entre-vista que gentilmente nos concedeu.

Professor emérito da Unicamp, pesquisador emérito do CNPq, conselheiro federal em Ciência e Tecnologia, falar de – e com – energia é com ele mesmo

Gabriel Arcanjo Nogueira

cerqueira leite: No médio e longo prazo o problema ambiental funda-mental será o do aquecimento global; todos os demais serão insignificantes perto deste. Isto, se não tomarmos providências sobre a emissão de gases

do efeito estufa (GEE), e a hidrelétri-ca ainda é a opção que emite menor quantidade de CO2 e outros gases GEE. Principalmente a longo prazo, pois o tempo de vida de uma usina dessas é de mais de 100 anos.

Iluminadopela própria

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5 neo mondo - Julho 2010

É claro que outras opções, principal-mente a eólica, podem ser adicio-nadas a sistemas em que não sejam majoritárias. Isto devido à baixa confiabilidade inerente ao regime de ventos.

NEo MoNdo: Por que se investe tão pouco, no país, comparativamente, nas modalidades eólica e solar: Falta vontade política? Falta interesse do setor privado? Falta planejamento? Ou não compensa mesmo? cerqueira leite: Investimentos em hidrelétricas são de retorno muito longo, e empresários brasileiros estão acostumados a recuperar seus capitais em poucos anos. Eis por-que não são comuns investimentos privados em hidrelétricas no Brasil. A solução continua sendo investimento público, ou privado com emprésti-mos a baixos juros. Mesmo assim o empresário brasileiro tem outras opções de retorno rápido.

NEo MoNdo: Como estão esses investimentos no mundo ou nos países em que há mais avanços? Há casos em que possamos nos espelhar e aplicar as soluções aqui? cerqueira leite: Em outros países o setor financeiro não oferece retorno tão generoso como no Brasil e, por isso, o setor de energia tem alguma atratividade para o setor privado. Isto ocorre principalmente nos

Estados Unidos, mas não na Europa, onde o setor público se ocupa da produção de energia.

NEo MoNdo: Investir em energia significaria também contribuir para mitigar os efeitos do aquecimento global? Se sim, como? Ou uma coisa não tem a ver com a outra? cerqueira leite: É claro que investir em eletricidade produzida por meio de combustíveis fósseis é o mais atraente do ponto de vista estritamente financei-ro, principalmente porque o período de construção dessas usinas é muito menor, ensejando retornos mais rápidos. To-davia, se torna um atraso essa escolha devido à enorme emissão de GEE. Hoje, do ponto de vista financeiro e ecológico, a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas de álcool e açúcar. De fato, é um atra-so que apenas um percentual muito baixo desse potencial já existente seja atualmente aproveitado. Esse potencial poderá ser ele mesmo aumentado quando o Brasil vier a exportar álcool, o que terá uma dupla vantagem financeira e ecológica, pois a redução de emissão de GEEs que vier a ocorrer nos países importadores de álcool beneficiará igualmente o Brasil e o resto do planeta.

NEo MoNdo: O senhor vê como po-sitivas as iniciativas de grupos como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar

(Unica), que estão avançados no apro-veitamento do potencial que o setor sucroenergético possui? cerqueira leite: Considero que as ini-ciativas do grupo Unica e outras têm sido eficientes para derrubar barreiras baseadas em falsas premissas que foram erguidas na Europa e em outras partes do universo. Embora o governo federal e alguns governos estaduais tenham feito algum esforço no mesmo sentido, o resultado é muito inferior àqueles dos setores sucroalcooleiros.

NEo MoNdo: Como estamos no Brasil em relação a outros países em pesquisas, projetos e realizações para incrementar a oferta de energia limpa? O senhor pode citar exemplos bem-sucedidos ou pelo menos bem encaminhados? cerqueira leite: O Brasil domina e está na dianteira quando se trata de tecnolo-gias como as de hidrelétricas e de produ-ção de álcool, mas está atrasado no que se refere a vários tipos de aproveitamen-to de energia solar e eólica. Também no que diz respeito a energia nuclear; ape-nas recentemente percebeu o Brasil que é necessário um esforço de pesquisa em ciência e tecnologia nuclear, e não a aquisição de pacotes fechados e reato-res de grande porte. É um engano imperdoável achar que o Brasil terá alguma competência tecno-lógica em energia nuclear comprando mostrengos como Angra 3.

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Se o Brasil tem hoje alguma compe-tência no setor é porque, opondo-se, embora timidamente, a influências externas, desenvolveu seu próprio sistema de enriquecimento de urânio.Devido a interesses puramente financeiros o setor sucroalcooleiro desenvolveu com muita competência a tecnologia de produção de açúcar e ál-cool de primeira geração. Isto ocorreu, sobretudo, devido à criação ousada do Centro de Pesquisa da Copersucar. To-davia, embora um pouco tardiamente, mas não tarde demais, o governo federal decidiu criar um centro de pesquisas dedicado principalmente à tecnologia do álcool de segunda ge-ração, isto é, álcool produzido a partir da celulose, inclusive bagaço de palha de cana.Este esforço é concomitante aos que são realizados atualmente pela Petro-brás e pela Embrapa.

NEo MoNdo: Belo Monte parece ser a bola da vez. O que há de mito e reali-dade na relação custo/benefício neste empreendimento? cerqueira leite: Que carnaval estão fazendo ambientalistas e ecopalermas em torno da futura usina de Belo Monte, a ser implantada no médio Xingu, na Amazônia.Esse exército extemporâneo de Branca-leone é composto de conservacionistas de diversas espécies. Além de uma tribo de índios locais e de bem-intenciona-dos, porém mal informados, estudan-tes e intelectuais, veem-se artistas de Hollywood e de outras culturas, mala-baristas, fanfarrões e pseudointelectu-ais. Será que esses senhores deixaram de comprar móveis de mogno, ou se manifestaram perante seus governos, ou boicotaram a carne e a soja produzi-das na Amazônia?Será que percebem que a área alagada pelo projeto Belo Monte corresponde a

Aquecimento global é o problema ambiental; todos os demais são insignificantes.

E a hidrelétrica ainda é a opção que emite menos gases, no longo prazo

“”tão-somente 0,01% da Amazônia brasi-

leira e que bastaria 0,025% do rebanho nacional de gado para invadi-la, dentro da média atual de ocupação? Ou seja, da maneira como está planejada, Belo Monte, usina de fio d’água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condições ecológicas e também finan-ceiras. Que bênção seria se tivéssemos mais uma meia dúzia de Belo Monte!

NEo MoNdo: Como assim, professor. Só há benefícios? cerqueira leite: Os mais inteligentes e bem-intencionados “ignocentes” (ne-ologismo composto por 50% de ino-cência + 50% de ignorância) dirão: e a biodiversidade? Ora, qualquer espécie que esteja espontaneamente restrita a um território de 500 km2, excetuando-se algumas confinadas a pequenas ilhas, já está em extinção. Só um ignorante pode pensar em perda de biodiversi-dade nessas circunstâncias. E é claro que muitos espécimes vão sucumbir, milhares, se não milhões de formigas, carunchos e talvez até alguns mamí-feros. Em compensação, 20 milhões de brasileiros poderão ter luz em suas casas, muitos outros locais passarão a ter benefícios do progresso, poderão ver pela TV o Programa do Ratinho. Indústrias geradoras de emprego serão implantadas. É isso que os “ig-nocentes” não percebem. Eles veem a árvore, mas não percebem a floresta onde ela está inserida, sem a qual não pode a árvore sobreviver.Quanto à questão social, é preciso lembrar que o caso de Belo Monte é muito diferente do de Três Gargantas, na China, onde a densidade da população ribeirinha era extremamente elevada. O governo chinês admite que precisou realocar 1 milhão de habitantes; outras organizações falam em 2 e até 3 milhões.

NEo MoNdo: A seu ver, como está a convivência e até mesmo a parce-ria entre órgãos públicos, como o Ministério das Minas e Energia e seus derivados ou equivalentes nos estados e municípios, com o setor privado, ONGs, sociedade em geral? cerqueira leite: Em casos como esse, em que uma nova oportunidade surge, a ansiedade inicial causa algumas dife-renças de opinião; por exemplo, certo constrangimento entre o setor público e o privado ocorreu no que diz respeito à tecnologia do álcool, o que é uma pena, pois o objetivo do setor público é apenas desenvolver tecnologias que sejam aproveitadas pelo setor privado. A mesma falta de entendimento existe entre órgãos do próprio governo federal e entre estes e alguns dos órgãos esta-duais. Parece ser uma questão apenas de disputa de espaços. É uma pena. To-davia, essa competição vem aos poucos se amenizando graças a intervenções do Ministério de Ciência e Tecnologia.

NEo MoNdo: O que tem de ser feito para o Meio Ambiente tornar-se matéria obrigatória nas escolas em todos os níveis, seja nas particulares seja nas públicas? cerqueira leite: Algumas escolas secundárias têm introduzido a questão ecológica em seus cursos. Obviamente só haverá disciplinas específicas com a conscientização da questão ambiental em diversos setores da sociedade, in-clusive governos estaduais, ministérios e a sociedade como um todo.

NEo MoNdo: O senhor participa de instituições de relevância no cenário nacional. Seria possível resumir o que cada uma delas faz de significativo na questão energético-ambiental? É pos-sível apresentar para nossos leitores os resultados mais expressivos? cerqueira leite: A questão da sustentabilidade está-se tornando um problema de toda a sociedade, e creio que cada uma das organizações em que atuo, como o Conselho de Ciência e Tecnologia, órgão da Presi-dência da Republica, tem-se mostra-do sensível à questão. O problema atual é que ambientalistas apaixona-dos com seu extremismo dogmático e pseudocientífico tornam difícil uma conscientização racional dos

neo mondo - Julho 20106

Perfil

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instituições de ponta desde estudante

• Engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

• Doutor em Física de Sólidos na Universidade Paris

• Professor do ITA e da Unicamp

• Diretor do Instituto de Física e coordenador geral das Faculdades na Unicamp

problemas do meio ambiente. Isto é natural em todo o início de revo-lução cultural, mas já é tempo de ambientalistas, cientistas e governos se fazerem entender.

NEo MoNdo: No caso da mídia, em recente evento internacional, em Ma-naus, ela foi cobrada por não fazer da questão ambiental uma bandeira, em vez de tratá-la apenas como notícia. O que o senhor acha disso? cerqueira leite: É claro que todo mundo acha que é o outro o culpa-do pelos problemas ambientais. A imprensa não é mais culpada do que qualquer outro setor. Durante cinco ou seis anos mantive uma coluna da Folha de S. Paulo deno-minada “O todo e a parte” e não tive muito sucesso. O amadurecimento em relação à questão ambiental está-se acelerando nestes últimos anos, princi-palmente na Europa. Acredito que no Brasil isso ocorrerá tanto mais cedo quanto a sociedade vier a perceber os exageros de suas militâncias. Se um jornal nesse momento fizer uma campanha de esclarecimento, ela não deve ser excessivamente contun-dente. A capacidade de absorção pela população quando se trata de proble-mas de longo prazo é também lenta. Não devemos esperar milagres.

NEo MoNdo: O que cabe a cada um de nós fazer para termos melhor qua-lidade de vida, a partir dos cuidados socioambientais: o indivíduo, a família, a escola, as ONGs, as empresas, as instituições acadêmico-científicas? cerqueira leite: Hoje creio que nin-guém mais defende o desmatamento. Ele ocorre já no âmbito da marginali-dade. Mas devemos lembrar que qua-lidade de vida não melhora sem uma melhor distribuição de renda no país, sem melhores salários, sem empregos; e esta será consequência de melhorias na educação, no saneamento básico e na infraestrutura. A questão ambiental virá como conse-quência dessas outras melhorias.

NEo MoNdo: Obrigado pela entrevis-ta. Fique à vontade para deixar seu re-cado para os leitores de NEO MONDO.

cerqueira leite: A questão da biodiversidade está-se tornando uma religião e não mais um tema de natu-reza cientifica. Ambientalistas e até mesmo cientistas vêm defendendo a Amazônia devido ao valor financeiro de suas riquezas bioquímicas, de sua biodiversidade, o que é uma reversão histórica. A farmácia até 1950 teve de fato como fonte de seus produtos e de conhecimento a natureza. Hoje, dentre as várias dezenas de milhares de fármacos, apenas um é extraído da natureza. O extrativismo foi a forma inicial de que se valeu a humanidade para sua sobrevivência em seus primórdios; depois vieram a agricultura, a revo-lução industrial, a informática etc. O homem usa hoje a sua inteligência para criar moléculas para toda e qualquer finalidade. Colocar as espe-ranças do desenvolvimento do Brasil em extrativismo, em biodiversidade é um retrocesso inaceitável para um país moderno. Devemos lutar contra o desmata-mento da Amazônia e de outras áreas que devem ser preservadas, principalmente devido ao fato de que contêm elas o carbono que pode vir a ser um desastre para a humani-dade, pois a quantidade de CO2₂ que seria produzida com a destruição da Amazônia é equivalente àquela devida a todo petróleo que já foi uti-lizado, mais aquele que ainda resta nas reservas conhecidas. Temos que mantê-la também devido à sua influ-ência no regime de chuvas, essencial para nossa economia Devemos ainda manter a Amazônia porque é parte integrante da identi-dade nacional.

7 neo mondo - Julho 2010

Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Entre outros títulos recebeu:

• a Ordem Nacional do Mérito da França

• a Cátedra da Universidade de Montreal, no Canadá

• o de Professor Emérito da Unicamp

• o de Pesquisador Emérito do CNPq

• a Ordem Nacional do Mérito (Gran Cruz)

É autor de cerca de 80 trabalhos em revistas especializadas que receberam cerca de 3 mil citações em revistas indexadas.

Títulos e obras

Para o professor e pesquisador eméritos, Brasil não terá competência

em tecnologia nuclear comprando mostrengos como Angra 3

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neo mondo - July 20108

Cerqueira Leite: “the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar

mills… reduced emissions would equally benefit Brazil and the rest of the planet”

Profile

Professor Emeritus of Unicamp, Emeritus CNPq Researcher, and Federal Science &Technology Counselor; when it comes to ‘energy’,

he knows – and shows – what he’s talking aboutGabriel Arcanjo Nogueira

Enlightenedby his own

I n a month is which we are covering clean energy alternatives, neo mon-Do sought advice from one of the

greatest authorities in the field, not only for our special section article, but also for issues of multiple social and economic in-terests – in light of his expertise and di-versified career: cerqueira leite has been a scholar and a technology counselor, be-sides having successfully run both private and public institutions.

rogério cezar cerqueira leite is a Phy-sicist; Professor emeritus of the state uni-versity of campinas (unicamp), member of the science & technology council of the Presidency of the republic, President of the administrative Board of aBtlus (Brazilian synchrotron light technology association), and member of Folha de são Paulo’s Publishing Board.

aBtlus runs the national energy and materials research center, which is made up of four national labs (synchrotron, Bio-sciences, nanotechnology, and ethanol).

cerqueira leite plays an important role in the development of science, es-pecially in são Paulo, for also being a member and co-founder of the academia

Paulista de ciências (science academy of são Paulo), besides having acted, for six years, as member of the higher council of the são Paulo scientific research support Foundation (Fapesp).

as a researcher, he also chaired the national synchrotron light laboratory (lnls) from 1985 to 1997, where he still works as President of the adminis-trative council.

his track record encompasses activities such as chairing the campinas higher te-chnology Pole Development company, the executive Vice-Presidency of the são Paulo light and energy company, consulting jobs for the united nations (un) science and te-chnology conference in 1976, and participa-tion in missions on behalf of the Presidency of the republic of Brazil for international in-dustrial technology cooperation deals.

cerqueira leite did not dodge any of our questions, answering them in a visceral and witty fashion, especially with regard to the issue in the spotlight these days: the cons-truction of ‘Belo monte’. ‘“ignocently”, they see a tree, but can’t notice the forest around it”, he says. the interview he kindly granted us is well worth reading.

cerqueira leite: On a medium and long term basis our essential environmental issue is global warming; all other issues seem insignificant compared to it. In other words, if we don’t effectively find an alternative to reducing Greenhouse Gas

NEo MoNdo: Is insisting in the construc-tion of hydroelectric plants the alternati-ve for Brazil? Why? To what extent can this type of energy generation aggrega-te value as a source of ‘clean energy’ on a medium and long term basis?

Emissions (GGE), hydroelectric power will carry on being the alternative with the lowest CO2 generation and other GHG emissions. And the main impact is clearly in the long run, since a hydro-energy plant

is built to work for over 100 years.

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9 neo mondo - July 2010

Of course other options, especially wind power, may be added to sys-tems as secondary energy sources. I say secondary because of the unde-pendability of this type of energy production; the behavior of the wind is inherently hardly ever accurate.

NEo MoNdo: Why is there, compa-ratively, so little investment in wind and solar energy in this country: lack of will on the part of the politicians? Lack of interest from the private sec-tor? Lack of planning? Or is it simply not worthwhile?cerqueira leite: Investments in hydro-electric plants and similar types clean energy generation take long to break even and Brazilian entrepreneurs are used to recovering their investments in just a couple of years. That’s why invest-ments in hydroelectric plants from the private sector are scarce in Brazil. The so-lution continues being investments from the public sector or loans made to the private sector at very low interest rates. But Brazilian businessmen have many other investment options of quicker ROI.

NEo MoNdo: What’s the investment scenario like in the world or in more developed countries? Are there case studies worth replicating and whose solution would be applicable here?cerqueira leite: In other countries, interest rates don’t favor speculative investments as generously as in Brazil.

Consequently, the energy segment is somewhat more attractive to the private sector. That’s particularly true in the North America, but not quite so in Europe, where the public sector still runs the energy generation sector.

NEo MoNdo: Do investments in energy also mean contributing to mitigating the effects of global warming? If so, in what way? Or is there no correlation between the two things?cerqueira leite: Investing in fossil fuel energy is obviously the most attractive alternative from a strictly financial stan-dpoint, especially because the time to build such plants is relatively shorter, me-aning quicker ROI. However, such choice becomes onerous if GGE is added to the equation. Today, from both a financial and environmental standpoint, the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar mills. As a matter of fact, it’s a shame that only a tiny share of this potential is actually used and that we still don’t take full advantage of it. This potential might be leveraged when Brazil starts exporting ethanol, which brings a two-fold advantage to the world – financially and environmentally speaking – since reduced emissions in importing nations would equally benefit Brazil and the rest of the planet.

NEo MoNdo: Do you consider positive the initiatives of companies such as The Industrial Union of Sugar Produ-

cers (Unica), who are well advanced in exploiting the potential of the sugar production segment? cerqueira leite: I think Unica initiatives and those of other groups have been effective in overcoming barriers set by false assumptions that originated in Europe and “elsewhere in the universe”. But even though the Federal gover-nment and some State governments have made an effort, however mild it may have been, to fight such backward ideas, the result is still way below the expectations of the sugar-ethanol pro-duction sector.

NEo MoNdo: When it comes to ‘clean energy’, how do we fare, in Brazil, in relation to other countries, in terms of research, projects, and achievements? cerqueira leite: Brazil is at the forefront in terms of hydro energy and sugar-cane ethanol production te-chnology, but we lag behind in terms of solar and wind energy alternatives. Also, when it comes to nuclear power, Brazil has only recently realized that an effort towards incrementing rese-arch into science and nuclear techno-logy is necessary, instead of acquiring large-scale energy production projects from abroad. It’s an unforgivable mistake to think that Brazil will ever be competent in nuclear energy technology if we keep on buying outdated white elephants such as Angra 3.

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Profile

Global warming is an environmental issue; all other issues seem insignificant compared to it.

Hydroelectric power will carry on being the alternative with the lowest CO2 generation and other GHG

emissions in the long run

Brazil is only somewhat competent in that field because we went against – though a subtle, shy manner – foreign interests by developing our own uranium enrichment system. On account of local interests, whi-ch were purely financial, the sugar-cane processing segment very competently developed the 1st generation of refined sugar-ethanol coproduction technology. This happened, above all, because of the bold creation of the ‘Copersucar’ Resear-ch Center. However, later on – but not too late – the Federal government deci-ded to create a dedicated research center focusing mainly on the 2nd generation of ethanol production technology ₂ i.e.: alcohol produced from cellulose ₂ including sugar-cane straw. This initiative is conco-mitant with the developments brought about by Petrobrás and Embrapa.

NEo MoNdo: Belo Monte seems to be in the spotlight these days. What’s myth and what’s fact about the cost-benefit ratio of this endeavor?cerqueira leite: The hissy fits these environmentalists and “eco-morons” are having and the tantrums they’re thro-wing in public are totally out of line. Belo Monte is but a hydro-energy plant to be built on the Xingu River in the Amazon. This modern version of Brancaleone’s army is made up of rebel-rousing conser-vationists “of many a species” supported by students armed with good intentions and poor education and the scholars who educated them. Hollywood stars can easily be found in their midst, “amongst other creatures”, alongside myriad foreign and local jugglers, acrobats, and pseudo-intel-lectual buffoons. I wonder how many of them haven’t ever bought any mahogany furniture. Have they ever taken a formal manifest to their governments? Would they boycott beef or soybeans produced in the Amazon? Don’t they realize that the area to be flooded by Belo Monte represents only 0.01% of the Amazon and

that 0.025% of our cattle would easily use up an equivalent area within the current occupation rates? That means that, as it was planned, Belo Monte, with its running water production technology, has no better option than to be built there, nor is any other location better in terms of sustainability, combining financial advan-tages and environmental impact minimi-zation. What a blessing it would be if we had not one, but a dozen Belo Monte!

NEo MoNdo: What do you mean, Professor? Are there only advantages? No downsides? cerqueira leite: The most intelligent good-willed “ignocents” (neologism mea-ning 50% ignorant; 50% innocent) would say: what about biodiversity? Please! Any species spontaneously res-tricted to a 500 Km2 territory, except for those few confined in restricted islands, is already in extinction! Only an uneducated simpleton would ever consider loss of bio-diversity under these circumstances. And of course many species will succumb; thou-sands, if not millions of ants, worms, and maybe even a couple of mammals. On the other hand, 20 million Brazilians will have electricity in their homes, countless places will be entitled to a little progress and their people will finally be able to watch the ‘Ratinho’ show on TV. Companies will be attracted to those remote regions and create jobs where today there’s mass unemployment. That’s what our “igno-cent” whiners fail to realize. They see a tree, but fail to notice the forest around it, without which the tree can’t survive. As for the social issue, one must remem-ber that the Belo Monte Case is very different from that of the Tree Gorges, in China, where the population living alongside river banks was enormous. The Chinese government admits having to relocate 1 million inhabitants; but other organizations claim they were 2, or even 3 million.

NEo MoNdo: In your point of view, how good is the relationship and even the partnership between public agencies, such as the Ministry of Mining & Energy and its State and municipal counterparts with the private sector, NGOs, and society at large?cerqueira leite: In cases such as that, in which a new opportunity arises, the initial anxiety brings about some conflicting opinions – for example; there was some friction between the public and private sectors with regard to ethanol tech-nology. That’s unfortunate, since the private sector’s objective is merely to develop technologies which may be used by the public sector as well. The same lack of understanding is present between Federal and State government agencies themselves. It seems to be a matter of territorial dispute, which is truly a shame. No-netheless, such competition has been slowly losing momentum thanks to the intervention of the Ministry of Science & Technology.

NEo MoNdo: What must be done for environmental studies to become a mandatory subject at all levels of both public and private schools? cerqueira leite: Some high schools have added general environmental issues to the courses they teach. Obviously specific subjects will only be formally introduced when several social segments, including State governments, Ministries, and the population at large, become fully aware of the importance of environ-mental issues.

NEo MoNdo: You’re a member of important institutions in the natio-nal scenario. Would it be possible to briefly describe the key things each of them does with regard to the energy/ environment issues? cerqueira leite: Sustainability is be-coming a growing concern for all so-ciety. And I believe that each of the organizations in which I participate, such as the Science & Technology Council – an agency of the Federal government – has been showing interest in this issue.

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at the forefront of education ever since a student

• Electronic Engineering degree from the Air-force Technology Institute (ITA)

• PhD in Physics – Solids – University of Paris

• Professor at ITA and Unicamp

• Director of the Physics Institute and General Faculty Coordinator of Unicamp

11 neo mondo - July 2010

Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Among other awards and titles:

• National Order of Merit of France

• Professor of the University of Montreal, Canada

• Professor Emeritus of Unicamp

• CNPq Emeritus Researcher

• National Order of Merit (Gran Cruz)

Author of over 80 works in specia-lized magazines, which have been quoted over 3,000 times in other publications.

The problem these days is that passio-nate environmentalists filled with dog-matic and pseudo-scientific radicalism make it hard to foster rational awa-reness of true environmental issues. This is only natural at the beginning of any cultural revolution, but it’s about time environmentalists, scientists, and governments tune up to the same wavelength and start understanding each other.

NEo MoNdo: Regarding the media, during a recent international event in Manaus, the press was asked why they don’t turn environmental issues into one of their flagships instead of treating them as common news. What do you think about that?cerqueira leite: Of course, we all like to put the blame for environ-mental issues on others. The press isn’t any guiltier than any other sector of the economy. For five or six years I had a column in the Folha de São Paulo newspaper na-med “The Whole and the Fragment”, which didn’t do very well. Maturity towards environmental issues has been gaining momentum in the last few years, especially in Europe. But in Brazil I believe this will only happen once society realizes the hindrance posed by environmentalist radicalism. If a newspaper now made an aware-ness campaign clarifying the issue it would bear no fruit. The population can’t promptly grasp the importance long-term issues. We shouldn’t expect any miracles.

NEo MoNdo: What part does each of us have to play to have a better qua-lity of life from a social-environmental point of view; that is: individuals, fa-milies, schools, NGOs, companies, and academic-scientific institutions?cerqueira leite: I believe that no-wadays no one’s openly in favor of deforestation anymore; it’s become a criminal activity. But we must remem-ber that quality of living is directly proportional to better income distri-bution in the country, better salaries, enough jobs and it’s also a direct consequence of effective investments in education, basic sanitation, and infrastructure. Environmental awa-

reness will surface as a by-product of these other improvements.

NEo MoNdo: Thank you for the inter-view. Feel free to leave your message to the readers of NEO MONDO. cerqueira leite: The biodiversity issue is becoming a religion rather than an issue of scientific nature.Environmentalists and even scientists are defending the Amazon on account of the economic value of its biochemical resources, of its biodiversity, which is like looking back in time. The phar-maceutical industry, until 1950, truly depended on its knowledge of nature to survive. Today, of all pharmaceutical products, only one in tens of thousands is extracted from nature. Exploiting na-tural resources was the primal means of survival for humanity in its early evolu-tionary stages; which was then followed by agriculture, the industrial revolution, computer science, etc. Humans use their intelligence today to synthesize any mo-lecule they might need to meet any ima-ginable purpose. To think all hopes for Brazil lie on extracting natural resources and on our biodiversity is an unaccepta-ble setback for a modern nation. We must fight against the deforestation of the Amazon and other areas that should be preserved mainly because of the carbon they contain, which, if turned into CO2 through deforesting fires, would be equivalent to burning all petroleum ever used to-date plus all reserves known and yet to be exploi-ted – and that would be a disaster for humanity. We must also preserve such areas in light of their influence on the rain, which is essential to our economy. Last but not least, we must preserve the Amazon because it’s an essential part of our national identity.

For the Emeritus Researcher and Pro-fessor, Brazil will not be competent in

nuclear energy buying outdated white elephants, such as Angra 3

awards and achievements

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tion

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12 neo mondo - Julho 2010

Em termos de energia térmica, o in-terior do nosso planeta é uma fonte inesgotável, considerando a escala

de tempo humano.a transferência de calor da terra ocor-

re por meio de três mecanismos: condução: que acontece pela transfe-

rência de calor entre moléculas pelo con-tato físico entre elas. a condução depende da estrutura molecular do material.

convecção: que é a transferência de calor pelo deslocamento de um fluido, que ocorre no núcleo externo da terra.

radiação: os objetos emitem radiação eletromagnética. esse processo pode ocor-

rer quando os dois mecanismos acima são impossíveis, pois independe do contato molecular e torna-se particularmente efi-ciente quando a temperatura ultrapassa os 1.000o c. esse é o mecanismo principal de transferência de calor do núcleo da terra para as camadas mais periféricas.

a conversão do calor natural do inte-rior da terra em energia (geotérmica) para aquecimento e geração de eletricidade é usada desde o início do século XX. no en-tanto, o interesse por esse tipo de energia aumentou na década de 70, com a crise do petróleo. constitui-se numa fonte de ener-gia limpa, uma vez que o vapor e a água

geotermal não produzem resíduos e geral-mente contêm baixa quantidade de co

2.

o aproveitamento dessa fonte exige regiões com fluxo alto de calor, onde a fonte é relativamente próxima da superfí-cie (3-10 km). locais apropriados são onde ocorrem gêisers com atividade vulcânica recente ou outros pontos quentes como, por exemplo, os do Parque de Yellowsto-ne (eua). os gêisers se caracterizam como uma atividade ligada à interferência de calor do magma com a água subterrânea, caracterizado por jatos intermitentes de água quente e vapor que surgem através de fraturas na crosta da terra.

os vapores geotermais são empregados em usinas de produção de eletricidade em regiões da europa, nova Zelândia, Japão, is-lândia, américa central, américa do norte e américa do sul. o maior campo de ex-ploração localiza-se na costa da califórnia (eua), com uma produção atual de 1.200 mW de energia, suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de pessoas.

no Brasil as águas quentes são usadas em algumas regiões com a finalidade de la-zer, em balneários com piscinas aquecidas por essas fontes naturais. Presidente Pru-

categoria Energia

Recursos acessíveis 140 000 000

Recursos acessíveis sem utilidade 600 000

Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)

5 000

Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)

500

potencial anual de energia geotérmica (EJ)

Fonte: Palmerini, 1993; Bjornsson et al, 1998.

o calor que vem de dentro

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neo mondo - Julho 2010 13

Denise de La Corte Bacci

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP,

Campus de Rio Claro, mestrado em Geo-ciências e Meio Ambiente pela UNESP e

doutorado em Geociências e Meio Ambi-ente pela UNESP. Estágios na Università

di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral

pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

dente (sP), termas do rio Quente (Go) e de Gravatal (sc) são locais bem conhecidos.

Dependendo das características geoló-gicas locais, os sistemas de aproveitamento das fontes geotermais são diferentes. os mais conhecidos são aqueles que compre-endem reservatórios naturais de água e va-por em profundidade, que recebem o calor constante do magma. Próximo à superfície, onde a pressão é menor, a água flui na for-

referência Bibliográficataioli, F. recursos energéticos e meio ambiente. in: teixeira, W.; Fairchild, t.r.; toledo, m.c.m.; taioli, F. Decifrando a terra. companhia editora nacional, 2ª edi-ção. 2009. são Paulo. cap 18. (p. 486-507).

ma de vapor superaquecido que é captado e canalizado para turbinas que produzem a energia elétrica. nesse sistema, a recarga de água subterrânea lenta permite que as ro-chas quentes convertam a água em vapor.

o aproveitamento geotérmico se dá pela captação de água quente em perfurações fei-tas a até 2 mil metros. através dos poços, o vapor é conduzido até a central elétrica geo-térmica. tal como numa central elétrica nor-

mal, o vapor faz girar as lâminas da turbina como uma ventoinha. a energia mecânica da turbina é transformada em energia elétrica através do gerador. a diferença destas cen-trais elétricas é que não é necessário queimar um combustível para produzir eletricidade.

após passar pela turbina o vapor é conduzido para um tanque onde vai ser resfriado. a fumaça branca que se vê sain-do das usinas é o vapor que se transforma novamente em água no processo de res-friamento. a água é de novo canalizada para o reservatório onde será naturalmen-te aquecida pelas rochas quentes.

os impactos ambientais provenientes do aproveitamento intensivo das fontes geotermais são menores que os de outras fontes, considerando sua extensão e que não é necessário o transporte de matéria prima ou beneficiamento de combustível. no entanto, seu aproveitamento ocorre em locais muito particulares, nos quais os condicionantes geológicos são favoráveis. os impactos, dessa forma, também são lo-cais, constituindo em ruídos e geração de gases. no entanto, não há queima ou dis-posição de resíduos na geração de energia.

Vapo

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Trocador de calor

Isobutano

TurbinaGerador

Torre de resfriamento

Água Água

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Reinjeção da águaFuro de produção

Fluido frioFluido quente

Ar e vapor de água

Condensador

o calor que vem de dentro

Usina Geotermal

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neo mondo - outubro 200814

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Três eventos ocorridos em junho voltados para a temática da Energia Limpa mostraram que seg-mentos essenciais para a consolidação de uma consciência em torno da questão estão ativos e amadurecem a passos largos.

O primeiro, em 8 de junho, incluiu no roteiro da candidata à Presidência da República, Dilma Roussef, uma visita a um centro de alta tecnologia para pesqui-sa de biomassa e motores verdes implantado pela Vale do Rio Doce, em São José dos Campos.

O segundo, entre 8 e 10 de junho, foi um Seminário sobre Fontes Renováveis de Energia na Aviação, tam-bém em São José dos Campos, o mais importante polo aeroespacial do Hemisfério Sul. Este reuniu empresas, pesquisadores e construtores para discutir questões

voltadas para os desafios da redução de emissão de CO2 e emprego de fontes renováveis de energia em aeronaves e aeroportos.

E por fim, em São Paulo, nos dias 16 e 17, houve o mais importante desses eventos: o 7° Congresso Bra-sileiro de Eficiência Energética (COBEE), abordando uma sólida pauta visando a “enfrentar a competição no pós-crise em uma economia de baixo carbono e menor desperdício”, ao lado de uma bem organiza-da exposição de produtos sobre o tema. O COBEE é o maior evento multissetorial a tratar da eficiência energética em todo o Brasil.

NEO MONDO acompanhou os três eventos e dispo-nibiliza nesta edição especial uma amostra do que foi abordado nestes encontros.

No alvo,

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neo mondo - Julho 2010 16

especial - energia

Parceria público-privada viabiliza centro de alta tecnologia, voltado a estudos de energia limpa, tema que deveria

constar de programas eleitorais de candidatos à Presidência Antonio Marmo

p reocupada em amarrar sua imagem a uma agenda verde como contra-ponto à sua declarada adversária

nesta área, marina silva, a candidata à Pre-sidência da república, Dilma roussef – vale lembrar, uma expert em energia – incluiu em sua agenda de início de campanha visita

a uma unidade experimental da Vale do rio Doce, instalada em são José dos campos.

a Vse ou Vale soluções energéticas foi criada em dezembro de 2007, com o obje-tivo específico de pesquisar e desenvolver sistemas integrados para geração distribu-ída de energia limpa com uma estimativa

na campanha

Funcionários no laboratório da VSE: gaseificação a partir do carvão, turbinas a gás e a vapor, motores de combustão interna e a busca por geração de energia a partir do etanol, para substituir o diesel poluidor são as preocupações da empresa

de investimento da ordem de us$ 720 mi-lhões em projetos entre 2008 e 2012.

o investimento é resultado de uma asso-ciação entre a Vale do rio Doce, que detém 52% da composição acionária, o BnDes (45%) e a sygma tecnologia (3%). a Vse será, na prática, o centro de Desenvolvimento tecno-

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17neo mondo - Julho 2010

Geração distribuídaaté julho de 2011 a empresa se pro-

põe a produzir turbinas de pequeno por-te. as tecnologias recentes têm permitido que se construam geradores de dimen-sões bastante reduzidas, muito eficientes, seguros, fáceis de adquirir e de operar, vi-sando a geração distribuída ou a geração de energia próxima do consumidor final.

além disso, encontra-se também em desenvolvimento uma tecnologia que viabi-lizará o projeto de centrais de geração com-pactas de alta potência para o mercado de Pequenas centrais hidrelétricas (Pch). o ob-jetivo da Vse é o desenvolvimento de uma fa-mília de turbinas para minitérmicas, com po-tencial para competir no mercado de energia.

Motores multicombustíveisBusca-se, ainda, o desenvolvimento

de uma família completa de motores mul-ticombustíveis (etanol, gás natural, bio-gás, gás de síntese obtido por gaseificação de biomassa e carvão), para aplicações em geração de energia elétrica estacionária e em veículos pesados híbridos, como ôni-bus, caminhões, tratores e colheitadeiras.

Gaseificadores a carvãoum terceiro leque de projetos busca a

criação de uma nova geração de gaseificado-res para produção de gás combustível a partir de carvão, biomassa ou resíduos. o objetivo é atender às necessidades de energia da própria Vale do rio Doce, mas também do mercado.

neste leque persegue-se o desenvol-vimento de centrais termelétricas do tipo

iGcc de porte médio, utilizando gaseifica-dores térmicos de 60 e 70 mW, o que irá proporcionar geração distribuída de ener-gia elétrica de forma limpa e eficiente.

Nota da redação: dentre as diversas tec-nologias de combustão disponíveis para produção de energia elétrica com base em carvão destacam-se a Pcc ou carvão pulve-rizado, a cFBc ou leito fluidizado com re-circulação e esta iGcc que é o ciclo combi-nado com gaseificação integrada de carvão.

o carvão mineral é a segunda fonte de energia primária no mundo, mas represen-ta a principal posição na geração de energia elétrica. a produção mundial está no nível de cinco bilhões de toneladas anuais e as

reservas são enormes, assegurando o supri-mento nesse ritmo por 200 anos, ao passo que as reservas conhecidas de petróleo – primeira fonte – não garantem mais meio século de vida útil.

o carvão é o único combustível fóssil cujo suprimento permanecerá, durante uma parte do século XXi, existindo em grande quantidade e a custos relativamente baixos.

trata-se, portanto, de um dos principais combustíveis substitutos disponíveis para atenuar a transição da era atual de petróleo e gás natural abundantes para uma fase futura de recursos energéticos renováveis, gaseifi-cação do carvão até o processo de metaniza-ção e a produção do hidrogênio - em sistema híbrido com as demais energias.

PROJETOS EM ANDAMENTO

Protótipo de motor aeronáutico com energia verde. Motor já foi cedido ao ITA para estudos conjuntos

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çãológico em energia (cDte), empresa com sede

no rio de Janeiro e filial em Belo horizonte, mas fisicamente instalada numa área de 100 mil m2 no Parque tecnológico de são José dos campos, no Vale do Paraíba paulista.

o centro funciona como uma rede aberta de pesquisa e desenvolvimento, com áreas de atuação divididas de acordo com a tecnologia aplicada: gaseificação; turbinas a gás e a vapor; motores de combustão inter-na e a busca por geração de energia a partir do etanol, para substituir o diesel poluidor.

em 2009 foram realizados testes com os protótipos de turbinas e gaseificadores desen-volvidos pela empresa, realizados par a par com a construção do centro tecnológico.

Dilma Roussef busca uma agenda verde para contrapor-se a Marina SIlva, sua adversária mais próxima nestes temas. José Serra dedicou 10 linhas de seus discursos a esta questão

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AS CENTRAIS DE BOLSODiante de cenários de escassez de reservas e ameaças ambientais,

o mundo corre atrás de formas complementares ou alternativas para gerar energia

Para entender os avanços: em contra-posição às centrais convencionais e como meios complementares e alternativos de produção de energia elétrica, busca-se no mundo todo o desenvolvimento de novos tipos de centrais em vista da atual e fu-tura situação das reservas energéticas de combustíveis, bem como de preocupações relativas à poluição do ambiente.

estas formas de produção de energia de menor dimensão são englobadas no concei-to de geração distribuída que pode incluir várias formas de produção de energia elétri-ca, quer sejam de fontes renováveis ou não.

aqui destacam-se as microturbinas a gás, pilhas de células de combustível, grupo gerador multicombustível, a coge-ração, mini-hídricas, centrais de biomas-sa módulos solares fotovoltaico e as tur-binas eólicas.

sendo ela mesma uma voraz consu-midora de energia, a Vale prevê que a pri-meira unidade de gaseificação de carvão e biomassa será implantada na alunorte, no Pará. o gás gerado substituirá o óleo com-bustível na geração de energia, o que reduz as emissões de poluentes atmosféricos.

o maior investidor no Parque tecno-lógico foi o governo federal. o Banco na-cional de Desenvolvimento econômico e social (BnDes), a Financiadora de estudos e Projetos (Finep) e mesmo o mec inves-tiram quase r$ 500 milhões no Parque

tecnológico. a própria Vale entrou com r$ 300 milhões; Prefeitura e governo do estado entraram com r$ 100 milhões.

driblando racionamentosalém de maior consciência para a bus-

ca de sustentabilidade ambiental, estes es-forços todos envolvendo inovação, energia e ambiente estão intimamente ligados a cenários de racionamento de energia, hoje já mais distantes que em anos passados até mesmo diante do volume excepcional de chuvas entre 2009 e 2010 mas sempre presentes no horizonte.

as empresas estão implementando sistemas mais modernos, especialmente a troca de caldeiras movidas a biomassa, que são até três vezes mais eficientes na geração de eletricidade.

a própria Federação das indústrias do estado de são Paulo (Fiesp) já se con-venceu de que a produção de energia por biomassa tem o potencial de gerar até seis gigawatts (GW), o que seria equivalente à geração de eletricidade de duas hidrelétri-cas do rio madeira (ro).

no Parque tecnológico de são José dos campos, Dilma foi recepcionada pelo diretor-geral, marco antônio raupp, que fez uma apresentação técnica no auditório. em segui-da, a petista seguiu para uma visita ao local, que tem aproximadamente 12,5 milhões de metros quadrados, passando pelo labora-tório da empresa Brasileira de aeronáutica (embraer), pelo centro para a competiti-vidade e inovação do cone leste Paulista (cecompi), que abriga diversas incubadoras de empresas, e pela Vale soluções em energia.

Energia do etanol a scania e a Vale soluções em energia

(Vse) assinaram em estocolmo, na suécia, memorando de entendimento para acordo de cooperação tecnológica visando ao de-senvolvimento, no Brasil, de um projeto inédito na américa latina, buscando mo-tores para geração de eletricidade a partir do etanol e do gás natural.

trata-se da primeira parceria entre uma empresa brasileira e uma sueca vol-tada para o desenvolvimento e integra-ção de uma família de motores movidos a combustíveis alternativos. o rei carl XVi Gustaf em sua recente visita ao Brasil não deixou de marcar presença na Vse

ao lado do secretário de estado para co-mércio exterior da suécia, Gunnar Wies-lander, e do presidente da scania Brasil, sven antonsson

a Vse buscará transformar os moto-res básicos da empresa em motores para diversas aplicações, entre as quais, gera-dores de energia limpa, utilizando como combustível o etanol ou etanol combina-do com gás natural.

o diferencial é a utilização de 100% de etanol na geração de energia, sem emissão de gases poluentes. Quando comparado ao diesel, o uso do etanol possibilita significativa redução da emis-são de gases do efeito estufa, emitindo

cerca de 68% a menos de dióxido de car-bono (co2) na atmosfera.

os motores em teste já apresentam redução nos níveis de ruído, se compara-dos a motores que funcionam com óleo diesel. a potência máxima de operação pode chegar a 500 kW, o que daria para abastecer uma cidade com cerca de 2,5 mil habitantes.

Futuramente, os motores serão uti-lizados para gerar eletricidade e mover bombas e compressores em maquinários utilizados nas indústrias de mineração e agricultura. o mercado brasileiro para motores estacionários nestes segmentos é estimado em 3.000 unidades por ano.

especial - energia

Parque Tecnológico de São José dos Campos

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19neo mondo - maio 2008

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de 2,4 toneladas de co2, o equivalente a 65,35 euros no mercado de carbono.

as emissões de gases pelas aeronaves correspondem a 3,5% das emissões glo-bais de gases do efeito estufa com esti-mativa de dobrar este nível nos próximos 15 anos.

mas há um alerta positivo: estima-se que 18% do combustível queimado pela aviação no mundo seja resultado da ineficiência da infraestrutura e das medidas operacionais. isto significa quase 150 milhões de toneladas de co2 emitidas que poderiam ser poupadas simplesmente pela adoção de novos pa-râmetros operacionais.

Por ser extremamente dependente dos combustíveis fósseis o trans-porte aéreo é o maior emissor de

co2 per capita no mundo, mas os nú-meros divergem conforme a metodolo-gia de cálculo. Para a international civil aviation organization (cao), um passa-geiro que voa de são Paulo para tóquio (narita) no Japão, emitirá cerca de 1,5 tonelada de co2 no voo, quantidade que deveria ser emitida pelo passageiro durante um ano inteiro.

Já a quantidade de emissão de co2 por um único passageiro, em uma via-gem de miami ao rio – calculada pelo programa atmosfair –, por exemplo, é

Por céus de

O terceiro evento de junho voltado para a energia limpa mostrou preocupação em preservar céus de brigadeiro sempre azuis, mantendo o espaço aéreo livre da emissão de CO2.

Profissionais ligados ao setor aeroespacial discutiram durante dois dias em São José dos Campos como implementar fontes de energia renováveis na aviação.

Antônio Marmo

Foi para discutir saídas para tais im-passes que profissionais ligados à aviação reuniram-se durante dois dias em são José dos campos, o maior polo aeroespacial do hemisfério sul, entre 8 e 10 de junho, num seminário sobre Fontes renováveis de ener-gia na aviação. a cidade sediou, paralelo ao encontro, a 12ª Feira internacional de aero-náutica e Defesa – expo aero Brasil, o maior evento em aviação civil da américa latina.

no encontro os pesquisadores mostra-ram resultados de seus trabalhos voltados para a busca de combustíveis e motores alternativos e infraestruturas adequadas a uma economia de baixo carbono, como os aeroportos solares.

especial - energia

BRiGadEiRo

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21neo mondo - Julho 2010

a catarinense Priscila Braun, do labora-tório de eficiência energética em edificações (labeee) da universidade Federal de santa catarina, foi didática em sua explanação sobre os aeroportos solares para mostrar o potencial da geração solar fotovoltaica inte-grada a complexos aeroportuários.

segundo a pesquisadora, o aumento da utilização do transporte aéreo nos últimos anos faz com que aeroportos no mundo este-jam em constante expansão e modernização para acomodar a crescente demanda.

em 1998, 1,3 bilhão de pessoas viajaram de avião. em 2004 foram 4 bilhões de pas-sageiros e em 2009 estamos próximos dos 7 bilhões. este número cresce em média 5% ao ano. no Brasil cresceu 12% em 2009. a maioria desses passageiros é composta por formadores de opinião ou tomadores de de-cisão, lembra Priscila.

assim, tipicamente ocupando grandes áreas, ensolaradas ou livres de sombrea-mento, com características de construção horizontais, os aeroportos aparecem como um grande potencial para a aplicação dos sistemas fotovoltaicos, buscando tornar os aeroportos uma vitrine da tecnologia para esses usuários influentes e a socieda-de como um todo.

Medindo em megawatt/horaPara exemplificar, lembra-se que o maior

aeroporto do mundo, o de Pequim, tem uma área de 986 mil metros quadrados. a admi-nistração do aeroporto quer aquecer 315 to-neladas de água por dia, utilizando apenas a energia solar, que pode permitir o preparo de até 30 mil refeições por dia.

ela lembra que “na região mais ensola-rada da alemanha o nível de radiação solar é 40% menor do que na região menos enso-larada do Brasil. e na alemanha, foram ins-talados 10 mil m2 de módulos no aeroporto de saarbrucken e 1.685 módulos ou placas solares em colônia.

no Brasil, com toda essa exuberância de sol tropical, pesquisas mostram que há capa-cidade para se aplicar módulos solares nos aeroportos internacional de Brasília (22 mil m2 de placas), rio (até 70 mil m2), Guarulhos com 54 mil m2 e Florianópolis (14 mil m2), usando-se três tipos de tecnologia.

em função da enorme radiação solar na região do cerrado, em Brasília é possível cal-cular a capacidade de geração de energia em megawatt-hora, ou mWh.

Já em Guarulhos, por exemplo, com seus 54 mil m2 a potência seria medida em megawatts/pico ou mWp. Vale dizer, no en-tanto, que a demanda de Guarulhos e rio por energia é bem maior do que em Brasília. Por isso a capacidade de geração do equipa-mento solar nesses dois aeroportos cai.

antecipando-se a Kioto 2012a infraero, segundo Priscila, tem toma-

do medidas preventivas voluntárias, antes de ser obrigada por Kioto-2012. no entan-to, o setor está clamando por uma indústria nacional consistente de módulos solares.

hoje tais módulos são ainda um siste-ma caro. no Brasil ainda não há incentivo. eua, alemanha, a europa toda financiam boa parte do sistema.

mas, a cada vez que a produção acumu-lada dobra, o custo da produção diminui em cerca de 20 %. calcula-se que em 2020 o custo da tecnologia fotovoltaica poderá ser inferior a um dólar por watt instalado.

a sofisticação simplificadasegundo a pesquisadora, “a tecno-

logia solar é tecnologia de ponta mais simples de usar. É um sistema sem peças móveis, de baixa manutenção e operação desassistida. Basta um controlador de carga, um banco de baterias e se necessá-rio um inversor de corrente contínua para alternada. isso é válido para sistemas iso-

lados; no caso dos aeroportos solares, a ideia é que eles sejam conectados à rede ou smart grid”.

a maioria das tecnologias hoje disponí-veis no mercado é com base no silício crista-lino ou combinação de filmes finos. estática e silenciosa, esta tecnologia promissora de geração elétrica proporciona a possibilida-de de aplicação junto ao ponto de consumo. a tecnologia de silício cristalino domina o mercado de módulos fotovoltaicos.

nos estudos para o aeroporto de Flo-rianópolis, Priscila calculou que se fosse adotado um aumento de r$ 0,20 (vinte centavos de reais) na taxa de embarque, os resultados mostravam que se os 96 milhões de passageiros que utilizaram o transporte aéreo no Brasil pagassem essa sobretaxa, seria possível instalar um sistema fotovol-taico de 1,4 megawatt/p em menos de um ano no aeroporto de Florianópolis.

Vitrine tecnológicaa integração dos sistemas fotovoltai-

cos em aeroportos poderia suprir em 100% a demanda de energia elétrica dessas edifi-cações. a metodologia de pesquisa e im-plantação procura otimizar a integração de sistemas, buscando tornar os aeroportos uma vitrine da tecnologia para a sociedade.

e ainda: utilizando a energia solar nos aeroportos em substituição a outras fontes de energia poluidoras, viabilizaria negocia-ções no mercado internacional de carbono sob a forma de títulos de crédito compen-sando as emissões causadas pelo transporte aéreo, conclui Priscila.

AEROPORTOS SOLARES Acolhendo mais de 5 bilhões de passageiros/ano, os aeroportos do mundo todo

são passarelas para formadores de opinião ou tomadores de decisão. Assim, seus espaços vêm-se convertendo em vitrines para novas tecnologias poupadoras de energia.

Aeroporto de Florianópolis mira Copa de 2014; espaço para instalar 33 mil m2 de placas

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O QUEROSENE VERDE DO EXPEDITO A partir de um pé de ingá de seu sítio, o engenheiro químico

Expedito Parente tornou-se referência mundial em pesquisas com biomassa. Detentor da primeira patente internacional do

bioquerosene para aviação, hoje ele só espera a homologação do produto.

Desprezado no início de seu tra-balho praticamente artesanal, o engenheiro químico Expedito José de Sá Parente, 67 anos, cearense de Fortaleza, graduado pela Escola Nacional de Química, no Rio, espe-cializado em estudos de biomassa para fins energéticos, químicos e alimentares, acabou virando refe-rência mundial como pesquisador persistente e abnegado. Ele foi um dos convidados de honra no encontro de São José dos Campos para mostrar que “o bioquerosene – subproduto do biodiesel, criado por ele a partir do babaçu -- será como a terceira onda. Terão outras. Acho que um dia haverá a bioeletricidade”.No dia 24 de outubro de 1984, Dia do Aviador, um Bandeirante da FAB deco-lou, de São José dos Campos, usando o bioquerosene como combustível. O tes-te foi um sucesso! Mas, pasme-se, após criar e patentear o biodiesel e bioquero-

sene – para aviões – no início da década de 80, o então professor da Universida-de Federal do Ceará viu seus produtos engavetados no final do regime militar. Foram preteridos pelo álcool.Em maio de 2006, Expedito foi chamado a uma reunião em Seattle, com repre-sentantes da Nasa (agência espacial nor-te-americana), do governo dos EUA e da Boeing, a maior fabricante de aviões no mundo. Continuou suas pesquisas do bioquerosene com esta empresa. Em dezembro de 2009 foi convidado para o voo inaugural do Boeing 787.Mas, para ele, o reconhecimento mais importante veio mais de 20 anos depois da descoberta: “Recebi na China, em dezembro de 2005, o Blue Sky Award (Troféu Céu Azul), o mais importante prêmio de tecnologia e ciência concedido pela Organização das Nações Unidas. O prêmio foi concedido por causa da descoberta do bioquerosene.Expedito insiste sempre que o álcool é um combustível solitário, para veículo de passeio. O biodiesel é co-letivo, para ônibus, caminhões, trens, navios, máquinas agrícolas e geração de energia. Por isso, o programa do biodiesel chegará a ser maior do que o do álcool.

NEOMONDO: O que ainda impede a adoção do bioquerosene pela aviação?Expedito: Não há mais nenhum obs-táculo. O que tem que acontecer é a homologação desses combustíveis, que pode levar de dois a três anos, talvez. Eles já estão sendo testados pela Boeing e mesmo pela Nasa. A homolo-gação sairá.

NEOMONDO: Como o senhor chegou ao biodiesel?Expedito: Eu tive uma inspiração em 1977, tomando banho de cachoeira em meu sítio perto de Pacoti –

região serrana do Ceará – observan-do o fruto do ingá, que tem óleo na semente. Olhei para o pé de ingá e veio a inspiração: vi ali a molécula do biodiesel. No outro dia, surgiram os primeiros 100 ml de biodiesel a partir do óleo do algodão Quando concebi a ideia, em um domingo, já estava com o processo na cabeça. Na segunda-feira, fui para o laboratório e fiz a reação química. Foi muito fácil. Para fazer a transes-terificação, utilizei óleo de algodão e metanol. O resultado foi o biodiesel, idêntico ao que conhecemos hoje.

NEOMONDO: Por que a ideia só renas-ceu nos anos 90?Expedito: Cresceu a consciência da finitude do petróleo e dos danos cau-sados por sua queima. Energias limpas hoje têm mais visibilidade. Quando a ideia do biodiesel foi ressuscitada na Alemanha e Áustria (1991), passou a ser referência para os países em de-senvolvimento, como o Brasil. A outra razão é política: Lula comprou a ideia do biodiesel. Razão forte que fez o programa ser reiniciado aqui.

NEOMONDO: Qual a tendência daqui pra frente?Expedito: A tendência é que haja uma substituição gradual e completa do petróleo por combustíveis alternati-vos. Sim. Essa substituição vai acon-tecer de qualquer jeito. A demanda pelo petróleo vem crescendo expo-nencialmente. A média de consumo mundial no semestre passado foi de mil barris por segundo, um número que a atmosfera não aguenta. Os biocombustíveis vão ser uma alter-nativa importante, não para solução definitiva, mas para diminuir traumas do consumo de energia pela huma-nidade. Mas a energia solar será, a meu ver, a grande energia do futuro.

especial - energia

O cientista Expedito Parente, exemplo de persistência e simplicidade, aguarda homologação para seu combustível verde: o bioquerosene para aviação que lhe deu o mais importante prêmio científico da ONU, o Troféu Céu Azul.

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O poste, feito de aço e com altura que varia de 12 a 18 metros, denominado Produtor Independente de Energia (PIE), possui como peças-chave um avião de três metros de com-primento feito em fibra de carbono e alumínio especial e bateria montados no topo.O avião tem células solares de silício em suas asas que captam e transformam em energia elétrica os raios ultravioletas e infra-vermelhos. Esta energia fica armazenada na bateria instalada logo abaixo do avião. As hélices do aviãozinho funcionam como as pás dos moinhos de energia eólica. Quando giram impulsionadas pelo vento, elas produzem até 1.000 watts de energia que também vai para a bateria. A captação (do sol e do vento) pelo avião é feita em um eixo com giro de 360 graus, de acordo com a direção do vento.São duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo. Cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo. Ou seja, um poste com um “avião” – na verdade

um gerador – é capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas). Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão. As baterias do poste híbrido têm autono-

mia para 70 horas, ou seja, se faltarem vento e sol 70 horas, ou sete noites segui-das, as lâmpadas continuarão ligadas. O inventor arranjou um padrinho forte: o governo do Ceará. O projeto pode ser visto no Palácio Iracema, onde passa por testes finais.

Por falar em cearense, o engenheiro mecânico Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eóllic, um outro professor Pardal daquelas paragens, testa após uma gestação de sete anos, com apoio

do governo local, o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energia eólica e solar.

cerca de um quarto das emissões glo-bais são geradas pelo setor de transportes dos países industrializados. um dos pales-trantes, especialista em controles operacio-nais, o comandante laert s. Gouvêa, insistiu na “importância da otimização de operações nesta área para redução de emissões”.

ele mostrou que no caso da aviação a eficiência dos motores melhorou de forma significativa desde que se entrou na era dos jatos. hoje um motor é 70% mais efi-ciente do que há 40 anos.

um jato moderno gasta 3,5 litros por passageiro a cada 100 km, e os modelos Boeing 787 e a380 gastam 3 litros por passageiro a cada 100 km em rotas longas, um desempenho claramente mais eficien-te que nos carros.

na comparação de consumo por pax (sigla para passageiro) em diferentes dis-tâncias, se vê que em voos entre são Paulo e

sul e sudeste o consumo é de 10 litros, en-tre o norte e nordeste é de 7.5 litros e entre eua e europa, de 6 litros a cada 100 km.

Eficiência operacionalsegundo o comandante, que já pilotou

na esquadrilha da Fumaça, só a influência do controle de tráfego aéreo é responsável por volta de 6% a 12% do co2 emitido.

Por este motivo são necessárias as me-didas operacionais que visem dar maior fluidez ao tráfego, e agilidade das operações pode colaborar claramente na diminuição destes volumes. com a ajuda das inovações tecnológicas e soluções criativas, algumas ações com este objetivo já foram possíveis, como o encurtamento de rotas.

cada rota entre europa e china foi re-duzida em 15 minutos, isto representou uma redução de 84 mil toneladas de co2 ao ano. a rota entre curitiba e campinas

foi encurtada em 115 milhas, represen-tando um economia de aproximadamen-te 500 kg de combustível em cada voo.

coincidência de interessesPara o comandante laert Gouvêa, “a

grande vantagem deste setor é que a maioria das medidas necessárias para redução das emissões é a mesma das que fomentam o desenvolvimento econômico da atividade”.

Desenvolver um motor mais eficien-te ou voar rotas mais curtas, por exem-plo, está em perfeita harmonia com os interesses econômicos e sustentáveis da atividade. mas para isso é fundamental que o sistema se torne cada vez mais in-teligente, ágil e eficiente, acompanhando o desenvolvimento tecnológico buscando sempre resultados satisfatórios, a come-çar pela otimização burocrática ou planos de voo.

Decisões visando agilizar operações e gerar maior fluidez no tráfego aéreo podem diminuir consideravelmente as emissões

COMEÇA NO PLANO DE VOO

o poste cearense

Projeção em computação gráfica da Avenida Washington Soares, uma das mais movimentadas de Fortaleza, com a utilização do poste híbrido

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especial - energia

O Brasil joga fora nada menos que R$ 17 bilhões por ano com o desperdício de energia. Empresas que buscam a eficiência energética sabem que isso é muito dinheiro e correm atrás para diminuir esta cifra dentro de uma

economia de baixo carbono. Para os organizadores do 7º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, “ninguém pode parar o crescimento da população

mundial nem a demanda por energia. Mas todos podem mudar a forma de utilizar esta energia e reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa”.

Antônio Marmo

Encontro sobre eficiência energética reúne pesos-pesados da conservação de energia, grandes usuários e profissionais em 16 painéis de debates e 80 palestrantes

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Entre os dias 16 e 17 de junho, em são Paulo, a associação Brasileira das empresas de serviços de conser-

vação de energia (abesco), com patrocínio do calibre de um BnDes, Petrobrás, eletro-brás, Furnas e light-esco, reuniu mais de 600 congressistas, órgãos públicos, bancos, grandes usuários de energia e profissionais em torno de 16 painéis de debates e pales-tras e rodadas de negócios, com 80 pales-trantes para o 7º congresso Brasileiro de eficiência energética (coBee).

o coBee reuniu entre esses participan-tes os presidentes das principais associações empresarias do setor: ricardo lima, da as-sociação Brasileira de Grandes consumido-res industriais de energia e de consumido-res livres- abrace; José starosta, presidente da abesco; e Jamilton lobo, coordenador do grupo de eficiência da associação Brasileira dos Distribuidores de energia (abradee).

a abesco representa mais de 80% de todo o setor de preservação e economia de energia do país. Fundada em 1997, com abrangência nacional, a entidade reúne 25 fabricantes de produtos e provedores de ser-viços de energia eficiente; instituições acadê-micas; agentes do setor energético; além de 60 empresas na categoria “esco” (de servi-ços de conservação de energia).

Economia de baixo carbonoDe caráter eminentemente técnico, esta

edição do congresso aprofundou temas práticos, de natureza tecnológica, úteis para as empresas que estão preparando-se para a competição no pós-crise, pois em todo o mundo as corporações estão reduzindo des-perdícios e adaptando-se à uma economia de baixo carbono.

o evento propôs-se a “difundir práti-cas sustentáveis e tecnologias que contri-buam para o uso racional de energia e ao mesmo tempo tragam mais competitivi-dade e lucros para as empresas, oferecer soluções para a eficiência em grandes edi-ficações, processos industriais e gestão de utilidades, apresentando casos de sucesso, tecnologias, opções de energéticos e linhas de crédito e serviços de apoio à implanta-ção de programas de eficiência energética”.

Por isso, as empresas estão empenha-das em intensificar a adoção de programas de racionalização de energia porque os in-vestimentos necessários podem propiciar um retorno em dois anos e podem econo-mizar até 10% de energia após 12 meses.

segundo a Federação das indústrias do estado de são Paulo (Fiesp), a tendência é de as empresas ampliarem tais programas de economia de energia, pois estão inte-ressadas em minimizar os riscos de forne-cimento, em meio a uma conjuntura eco-nômica marcada por um ciclo de expansão, como atestam os índices excepcionais des-tes dois últimos trimestres de 2010, próxi-mos a índices chineses.

17 bilhões jogados foranas estatísticas dos organizadores, o

mercado de eficiência energética no Brasil cresceu cerca de 15% entre 2008 e 2009, fechou 2009 representando um negócio de r$ 900 milhões de reais. mas a abesco prevê um estouro no crescimento do mer-cado em 2010: de 30% a 40%.

mas, segundo os dados divulgados no congresso, só com o desperdício de energia o Brasil joga fora nada menos que r$ 17 bi-lhões por ano. É um número astronômico.

mas o potencial de redução de energia por classe de consumidor é de 38% no se-tor industrial, 35% no setor público e 27% no comercial. a média de retorno de in-vestimento é de 36 meses.

em 21 de junho de 2009 surgiu o Pro-grama sinergia, que é a união de um gru-po de empresas privadas com o objetivo de criar soluções integradas para a racio-nalização programada e eficiência energé-tica, direcionado ao público industrial e comercial de grande porte (indústrias, re-des de supermercados, aeroportos, hotéis e shopping centers).

os organizadores enxergam benefícios de toda sorte em um programa como este: primeiro, para a engenharia que minimiza custos de instalação; depois, na manuten-ção que reduz períodos de indisponibilida-de. e ainda para a produção que maximiza disponibilidade, para a contabilidade que maximiza resultados financeiros da plan-ta e, finalmente, para os investidores que maximizam o valor de suas ações.

Alexandre Behrens falou sobre o primeiro programa privado de

eficiência energética - Sinergia - com foco no público industrial e comercial

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especial - energia

EFICIÊNCIA E INTEGRIDADE AMBIENTALVivemos em um mundo em perigo onde energia é custo e este custo está aumentando.

Logo, eficiência energética, integridade ambiental e aquecimento global estão relacionados.

uma das palestras mais acessíveis do evento – a maioria delas abordou temáti-ca especializada mas de especial interesse para cada participante – foi proferida por cyro Vicente Bocuzzi, presidente da eco-ee e do Fórum latino-americano de smart Grid. Discorrendo sobre o tema “redes in-teligentes e a Gestão energética nas em-presas”, ele foi claro ao mostrar que:

“Vivemos em um mundo em perigo”. hoje, “energia é um custo e este custo está aumentando. as fontes de energia estão ou declinando ou em risco político. assim, eficiência energética, a integrida-de ambiental e aquecimento global estão agora relacionados”.

Para ele, “a eficiência energética é a única estratégia viável a curto e médio prazos. onde achar o próximo real de economia de energia? só apresentando uma nova tecnologia para a realidade energética de hoje”.

a nova tecnologia, segundo ele, terá que englobar as chamadas “redes inteli-gentes” ou smart grid. elas envolveriam qualidades capazes de azeitar a transição da matriz energética tradicional para fontes renováveis, unindo tecnologias como uso de supercondutividade, pre-ços flexíveis e arquitetura plug-n-play (plugue e use).

Energia em micro-escalao início da construção dessa nova

rede faz parte do pacote de estímulo eco-nômico do presidente Barack obama.

nessa rede deve haver mecanismos para incluir a “geração distribuída” em pequena escala que também chegou para ficar. Por isso é hora de pensar na smart grid e armazenamento de ener-gia, já que será possível produzir ener-gia em micro- escala, de fontes não fir-mes (fotovoltaica e eólica).

a geração distribuída de forma inte-ligente transforma potencialmente a ci-dade inteira em uma usina, com perdas mínimas de transmissão. Faz sentido também, segundo cyro, dotar os prédios com capacidade de armazenamento. e ele entende que, a partir do uso em larga escala, também os veículos teriam incrí-vel capacidade de armazenamento para as redes elétricas.

assim, “a nova rede proverá energia e comunicações para habilitar prédios inteligentes, motores, aparelhos e car-gas inteligentes através de um ‘portal’ do consumidor”.• um conjunto de dispositivos (ihD’s)

e softwares permitirão que apare-lhos se comuniquem entre si em uma dada instalação.

• interfaces simples e efetivas entre a rede e os sistemas de gerenciamento de energia dos prédios irão permitir usos mais efi-cientes e menores custos de eletricidade.

• será possível programar o uso de ener-gia para tirar partido de políticas de preço diferenciado (em sinais de redu-ção de carga programada, ou sinais de redução de emergência).

• condicionadores de ar terão um pro-grama de uso otimizado com as tari-fas, em uma base dinâmica, conforme período do ano (seco ou úmido), tem-peratura ambiente e horário do dia.

E as empresas?mas, se o futuro é assim para as resi-

dências, o que é possível fazer hoje nas empresas? muita coisa, mas infelizmente os grandes consumidores ainda não se sentem estimulados a fazer ee ou eficiên-cia energética, diz cyro.

Vale dizer: pede-se incentivo, apoio oficial. mas o 7º congresso mostrou em detalhes que há linhas especiais de crédi-to para este fim.

cyro explicou que projetos de eficiên-cia energética têm prazo curto de implan-tação ou 3 vezes menor que na geração com retorno do investimento mais rápido que a expansão, além de:1. impacto ambiental = zero2. Viabilidade de novas tecnologias com

aumento de escala = muitas já são viáveis hoje, principalmente em gran-des operações;

3. cogeração e autoprodução no Brasil retornam mais rápido que em outros países;

4. implantação deve sempre ser dirigida por valor.

onde então o smart grid pode ajudar os grandes consumidores empresariais? Para o palestrante, será na melhor gestão de ener-gia, na busca de qualidade de energia, na busca de vantagens ou na integração com outros insumos e infras, na redução dos custos operacionais e melhoria da compe-titividade e na redução do impacto ambien-tal e melhoria da imagem.

Cyro Bocuzzi preside o Fórum Latino Americano de Smart-Grid. Ele entende que só novas tecnologias nos farão chegar ao

próximo real economizado com o consumo energético

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O SOL NA CASA DO PETRÓLEO

Ao incluir a energia solar em suas instalações, a Petrobrás busca ampliar fronteiras para além do universo dos hidrocarbonetos e derivados.

Mas ainda são investimentos hipertímidos diante da excitação do pré-sal, indicando que, por enquanto, vale apostar no tradicional.

o aproveitamento da energia termos-solar na Petrobrás, assim como de outras fontes renováveis, segundo o químico clau-dio r. modeze, tem como objetivo principal consolidá-la como uma empresa de energia, ampliando suas fronteiras para além do uni-verso dos hidrocarbonetos e seus derivados, mantendo-a em consonância com as restri-ções ambientais futuras do planeta sem per-der o foco no negócio.

Falando no 7º congresso, o representan-te da empresa compartilhou com o público, exemplos de aplicações de sistemas termos-solares que permitiram congregar em seus resultados: economia no consumo de outras fontes de energia, liberação desta energia para aplicações mais nobres, utilização de uma energia limpa e segura e geração de cré-ditos de carbono.

a “aplicação de energia termossolar na Petrobrás” por ora é restrita à utilização para aquecimento nas cozinhas, banheiros e la-boratórios em 16 unidades da empresa com uma área instalada de coletores planos de 4.640 m², um volume de reservatórios de água quente de 287 m³ e economia anual de energia em torno de 2.530 mWh, evitando-se a dispersão no ar de 651 t/ anuais de gás carbônico ou co2.

acrescentem-se a isto, com projetos para novas instalações em 2010, novos módulos de coletores planos e outros de mais 3.141 m2, volume de reservatórios de água quente em torno de 236 milhões de litros ou 236 m3

visando a uma economia anual de energia de 1.500 mWh ou evitando-se a dispersão de 378 toneladas/ano de co2 na atmosfera.

o explanador fez um comparativo com o co2 evitado mostrando que um veículo mé-dio com motor 1.8 FleX emite 81,923 g co2/km. se este veículo rodar 30.000 km/ano, emitirá 2,46 t de co2/ano (dados do ibama)

segundo a Petrobrás, com os sistemas solares instalados e a instalar pela empresa, chega a 419 o número de veículos correspon-dentes que sairiam de circulação.

a Petrobrás programa para 2010: 1. aplicações termossolares de alta tempe-

ratura para a substituição de queima de combustíveis fósseis com a consequente redução de gases de efeito estufa.

2. um único projeto, que está em pro-cesso de instalação para produção de água quente com 200 m² de coletores evacuados, evitará a emissão de 35 toneladas anuais de co2 (14 veículos médios FleX).

3. Desenvolvimento de novas oportunida-des tecnológicas em campos de produção terrestre como:

4. aquecimento para redução de viscosida-de de óleo;

5. aquecimento para quebra de emulsões água-óleo;

6. aquecimento de tubulações de transpor-te de óleo

7. termo de cooperação com a GtZ - socie-dade alemã de cooperação técnica.

detalhes:o 7º congresso incluiu ainda, em sua te-

mática, desde discussões sobre o “chuveiro flex” passando por questões mais detalhis-tas, como “a susbstituição da controladora de água gelada e implantação de sistema de ge-renciamento de fan-coils”, “a substituição da configuração de controle da instrumentação da casa de bombas e implantação de bombe-amento variável de água gelada”, “tendências tecnológicas em motores elétricos de alta efi-ciência, uma palestra simples proferida pelo engenheiro renato rech sobre “nova regula-mentação para motores elétricos no Brasil”, “iluminação de áreas de pátios e iluminação pública com tecnologias eficientes”.

e mais: o congresso mostrou que quem quiser investir nesta área pode contar com uma série de “linhas de financiamento para projetos de eficiência energética”. Vá em frente.

Revolução chegandose cyro estiver certo, a revolução está

chegando. e rápido. um exemplo: analis-tas dizem que há us$ 50 bilhões de dóla-res em capital pronto para ser investido em projetos de energia solar no deserto de nevada.

na califórnia, já está instalada a au-cra, empresa que oferece tecnologia para resolver um problema antigo: armazenar energia solar. Para isso, usa espelhos que aquecem água em contêineres para, em

seguida, mover turbinas a vapor. seu criador, David mills, promete que, com uso de 10% do deserto de nevada, será possível gerar 90% da energia consumida no país.

na europa existem ideias similares, como trazer energia geotérmica da islân-dia, eólica de “fazendas de vento” no mar do norte ou energia solar produzida em áreas desérticas do marrocos.

mas é preciso cuidado com a su- perexitação diante de tudo isso, fugin-

do-se de modismos na discussão: hoje se fala no smart grid, smart ims, ripple control, Plc etc., mas quem se lembra da “smart house”, uma outra febre tem-pos atrás?

Dizem os críticos que são soluções que prometem muito, mas antes de tudo mais servem para criação de no-vas associações, fórum, grupos, empre-sas etc. sob esse rótulo. lembre-se que uma simples ligação telefônica no Brasil ainda é capenga.

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Um dos maiores problemas am-bientais do Brasil está muito próximo de receber um adequa-

do tratamento legislativo. trata-se da Po-lítica nacional de resíduos sólidos que regula em âmbito nacional e de modo uniforme a coleta, o transporte, o trata-mento e a disposição final de milhares de toneladas de lixo produzidos diariamente nas cidades brasileiras.

na verdade, a preocupação do Poder legislativo com o tratamento dos resíduos sólidos não é recente. o Projeto de lei (Pl 203/91, substitutivo do Pls 354/89) que foi aprovado em março na câmara dos De-putados e em julho no senado Federal já tramita há 21 anos! no entanto, a Política nacional dos resíduos sólidos está agora

a um passo, ou melhor, a uma assinatura de se tornar lei: só falta a sanção do presi-dente lula.

o Projeto de lei estabelece princípios, objetivos, instrumentos econômicos, res-ponsabilidades e diretrizes gerais para a gestão integrada dos resíduos em todo o território nacional.

além disso, há a menção a um siste-ma de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto bem pare-cido com o existente em vários países europeus. nesse sistema, todos passam a ser responsáveis pelo lixo, exigindo a par-ticipação da sociedade, das empresas e do Poder Público na coleta seletiva.

também merece destaque a institui-ção de um sistema de logística reversa, que

nada mais é do que um conjunto de ações que visam facilitar a coleta e a devolução dos resíduos sólidos. nesse caso, quem fabrica, importa, distribui ou comerciali-za determinados produtos, como pilhas, baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes, equipamentos eletroeletrônicos e agrotóxi-cos, deve viabilizar uma forma de retorno desses produtos após o uso. a ideia central é diminuir a geração de resíduos na medida em que os fabricantes ficam responsáveis pelo seu tratamento e reaproveitamento.

uma opção simples e de baixo custo para viabilizar essa medida é o estabeleci-mento de postos de coleta em supermerca-dos. É comum encontrar caixas de coleta para pilhas, baterias e embalagens plásti-cas em supermercados europeus. assim,

política Nacional de Resíduos sólidos A Caminho da Sanção Presidencial

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facilita-se o acesso da população a uma forma ambientalmente correta de dispo-sição dos resíduos, os quais não acabam sendo jogados em lixões.

outro ponto interessante é a previsão de que os gestores dos serviços públicos de limpeza urbana priorizem a contrata-ção de cooperativas ou associações de ca-tadores de materiais recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda. não é novidade a existência de milhares de cata-dores trabalhando diariamente no Brasil. no entanto, apenas uma parte deles está organizada em associações e cooperativas. essa previsão da Política nacional pode ti-rar da informalidade milhares de pessoas e, inclusive, aumentar a renda de muitos catadores de materiais recicláveis no país.

Para que os municípios tenham acesso a recursos federais ou recebam financia-mentos para o desenvolvimento de em-preendimentos e serviços de limpeza ur-bana, é necessário que eles desenvolvam Planos municipais de Gestão integrada. aqui, terão prioridade de acesso aos recur-sos federais os municípios que implanta-rem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou associações de catadores.

o Projeto de lei da Política nacional também traz algumas proibições. Dentre elas, a proibição de queimar resíduos só-lidos a céu aberto ou jogá-los em lixões, praias, no mar ou em qualquer tipo de recurso hídrico. Por mais estranho que possa parecer, a proibição de lançamento de lixo nos recursos hídricos é muito im-

portante, pois a lei que regula o uso dos recursos hídricos no Brasil prevê a possibi-lidade de se usar um recurso hídrico para o “lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tra-tados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final” (artigo 12 da lei 9.433/97).

É certo que a aprovação do Projeto de lei 203/91 pela câmara e pelo senado é um grande avanço, ainda que tardio, já que essa matéria tramita há mais de duas décadas nas casas legislativas.

não há dúvida de que a instituição de uma Política nacional de resíduos sóli-dos é um tema muito importante para a qualidade de vida e já deveria constar no ordenamento jurídico nacional há vários anos. no entanto, a simples promulgação de uma lei não vai resolver os problemas oriundos do inadequado tratamento dos resíduos sólidos no país. Para isso, é es-sencial o estabelecimento de políticas pú-blicas voltadas para o incentivo à valoriza-ção dos resíduos, como a reciclagem.

Por fim, para que o sistema de respon-sabilidade compartilhada e o de logística reversa funcionem, é necessária a atuação conjunta do estado, das empresas e da so-ciedade civil, uma vez que a proteção am-biental não é um dever apenas do Poder Público, mas de toda a coletividade.

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim.E-mail: [email protected]

Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – AlemanhaA Caminho da Sanção Presidencial

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Recente pesquisa realizada pela Fede-ração do comércio do rio de Janeiro revelou que, nos últimos três anos,

os brasileiros, apesar de mais preocupados com os impactos do aquecimento global, não alteraram os seus comportamentos correspondentemente. ao contrário; hábi-tos como reciclar o lixo e consumir produ-tos ecológicos diminuíram no período.

essa triste constatação faz por aumen-tar os desafios que se impõem à sociedade e ao poder público no trato de uma ques-tão sensível a todos, qual seja o gerencia-mento dos resíduos sólidos em nosso país.

o Brasil, conforme amplamente noti-ciado, vem experimentando níveis crescen-tes de desenvolvimento econômico. espe-cialmente o consumo das classes menos

favorecidas vem impulsionando esse cres-cimento. em tempos de economia aqueci-da, por conta do aumento do consumo das famílias, o descarte de embalagens se eleva.

o brasileiro praticamente já produz a mesma quantidade de lixo que um euro-peu. a média da geração de lixo no Bra-sil hoje é de 1,152 kg por habitante/dia, enquanto nos países da união européia a média é de 1,2 kg por habitante/dia.

Porém, apesar das merecidas cele-brações em torno dessa inquestionável conquista, temos que responsavelmente enxergar que, potencializado pela crença exacerbada de que a felicidade está condi-cionada à capacidade de consumir, os de-sejos humanos são ilimitados, tendo, no entanto, que serem atendidos e supridos

por recursos naturais limitados. todo pro-duto que chega ao consumidor, seja uma geladeira, um calçado, um copo de leite, é originário de extração ou colheita de bens da natureza. estima-se que atualmente consumimos 30% a mais de recursos natu-rais do que a terra consegue repor.

Diante dessa realidade, nos indagamos como compatibilizar tal contraposição.

Passando pelo sempre lembrado avan-ço tecnológico, entendemos que inafasta-velmente teremos que incrementar, em seus mais altos níveis, o reaproveitamento dos finitos recursos naturais.

Desnecessário discorrermos, por já fartamente repisados, acerca das conse-qüências ambientais da extração, em larga escala, desses materiais da natureza. mas é

aproveitemos essa ideia

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importante registrarmos que o Brasil produz cerca de 182.000 toneladas de lixo domés-tico, diariamente. apenas pouco menos da metade (89.000 toneladas), recebe destina-ção adequada, sendo depositado em aterros sanitários. Do restante, 21.000 toneladas sequer são coletadas, indo parar nas cabecei-ras dos rios, valas, terrenos baldios ou sen-do simplesmente queimados; resíduos que contribuem para desastres naturais, como as enchentes recentemente verificadas nos estados de alagoas e Pernambuco; as outras 72.000 toneladas seguem com destinação inadequada e vão para aterros com proble-mas e lixões a céu aberto. Daí, também, a importância da reciclagem de tais resíduos.

no Brasil, apenas 56% dos seus 5.564 municípios indicam a existência de ini-

ciativas de coleta seletiva de lixo. ainda assim, em boa parte desse universo, esse serviço se processa de maneira deficiente. na cidade de são Paulo, por exemplo, onde apenas 1% do lixo é reciclado e somente metade dos seus 11 milhões de habitantes dispõe do serviço, estima-se que 30% do que é separado pelos moradores para cole-ta seletiva vai parar em aterros sanitários comuns. ou seja, boa parte do esforço dos paulistanos conscientes de sua responsa-bilidade ambiental é literalmente jogada na lata do lixo. Por falta de estrutura (as atuais 16 centrais de triagem e o peque-no número de cooperativas conveniadas à Prefeitura paulistana são insuficientes à demanda existente) e vontade política, a cidade de são Paulo contribui para a satu-ração dos nossos aterros sanitários.

em estocolmo, por sua vez, escolhida pela união européia como sua “capital ver-de” em 2010, mais de 25% do lixo é reci-clado, 73,5% é queimado para produção de energia e o 1,5% restante é tratado biologi-camente. o que vai parar nos aterros, pas-mem, é só a cinza que resta da incineração.

a ineficiência da política de coleta se-letiva e a conseqüente deposição de ma-teriais recicláveis em aterros sanitários causam, além dos já conhecidos danos ambientais, enormes prejuízos financeiros para a sociedade. as perdas ocorrem prin-cipalmente por causa dos custos adicionais nas indústrias pelo uso de material virgem em vez de reciclado, dos próprios danos ambientais e de gastos do orçamento com a destinação final do lixo em aterros. só para a construção de um aterro sanitário com capacidade para receber 2 mil tone-ladas de resíduos por dia (lembrando que são Paulo produz cerca de 15 mil tonela-das) estima-se o custo de r$ 530 milhões.

Para se ter um alcance maior da cole-ta seletiva, é necessário o envolvimento de cooperativas de catadores, que, além

Dr. Marcos Lúcio BarretoPromotor de Justiça

do Meio Ambiente de São PauloE-mail: [email protected]

Dr. Marcos Lúcio Barreto

de expandir o volume de lixo reciclável recolhido, permite a geração de traba-lho e renda para ex-moradores de rua. Para tanto, impõe-se ao poder público o fornecimento de suporte jurídico, admi-nistrativo, operacional e material a es-sas cooperativas (construção/locação de galpão de triagem do material coletado, equipado com prensa e balança, aquisi-ção de caminhões gaiola de coleta, etc).

espalhando-se as centrais de triagem em diversos pontos da cidade, evitam-se viagens maiores do lixo e se torna possível a abran-gência total da área do município atendida.

Por outro lado, procurando-se uma contribuição ainda maior, é fundamen-tal a construção de usinas de compos-tagem, para a produção de fertilizantes utilizáveis em canteiros, jardins, reposi-ção de encostas.

Finalmente, todo esse processo não pode deixar de passar por uma conclama-ção da população a dele participar, seja através de educação ambiental, seja por meio de apelos via meios de comunica-ção. Dessa maneira, na medida em que os indivíduos passam a separar os materiais recicláveis, são eles levados a pensar so-bre as conseqüências de suas ações para a proteção do meio ambiente, fazendo surgir uma importante e imprescindível conscientização ambiental.

se esses e outros caminhos forem se-guidos, poderemos reduzir em 80% o lixo destinado a aterros sanitários, obtendo inegáveis ganhos ambientais.

assim, com a palavra e a caneta os nossos dirigentes...

aproveitemos essa ideia

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de vento em popa

especial - energia

Usina eólica na cidade de Walla Walla, Estados Unidos. País lidera a lista dos que mais geram este tipo de energia

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D ados divulgados pelo conselho Global de energia eólica (GWec, na sigla em inglês), em feverei-

ro, apontaram que a produção de energia eólica no Brasil cresceu mais do que o do-bro da média mundial, que registrou 31%. o crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que o dos estados unidos, que teve aumento de 39%, o da Índia (13%) e o da europa (16%), mas menor que o da china, cuja capacidade de geração am-pliou-se em 107%.

segundo o presidente da associação Brasileira de energia eólica (abeeólica), ricardo simões, o aquecimento do setor é reflexo de um processo que vem desde 2002, quando o governo federal instituiu o Programa de incentivo às Fontes al-ternativas de energia elétrica (Proinfa).

“Vários parques eólicos participantes do ProinFa entraram em operação no ano passado. contudo, o grande fato foi o leilão de energia de reserva que contra-tou 1.800 mW de potência instalada para entrada em operação em 2012”, explicou.

o leilão, realizado em dezembro, foi o primeiro exclusivo de energia eólica e os 1.805 mW comercializados se di-vidirão em investimentos a serem rea-lizados em cinco estados brasileiros: o rio Grande do norte com 657 mW, o ceará com 542 mW, a Bahia com 390 mW, o rio Grande do sul com 189 mW e sergipe com 30 mW.

“Foi uma mudança de paradigma. Para que se tenha uma idéia, hoje a capacidade instalada de energia eólica no Brasil é de 700 mW, entre o final deste ano e início do próximo passaremos para 1,4 mil mW e já em 2012, como consequência do leilão, teremos 3,4 mil mW de capacidade de ge-

33 neo mondo - Julho 2010

Emissão reduzida de CO2 e matéria-prima abundante são alguns dos atrativos da

modalidade que cresceu 77,7% no país, em 2009Rosane Araujo

ração de energia eólica. isso significa dizer que iremos quadruplicar a capacidade ins-talada em relação a 2010. mas isso não é muito, e o que impressiona é que esse vo-lume corresponde apenas a 2,5% da capaci-dade instalada no país”, completou simões.

se no território nacional, a força dos ventos ainda é pouco representativa, em termos mundiais a participação do Brasil é ainda menor. mesmo com tanto cresci-mento, o país ainda representa cerca de 0,38% da produção mundial.

segundo simões, um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor é o peso da carga tributária.

“Para enfrentar essa dificuldade é ne-cessário um regime tributário específico que contemple a cadeia produtiva como um todo, e não com benefícios fiscais iso-lados e temporários”, opinou.

neste sentido, a abeeólica vem discu-tindo com o governo federal a implemen-tação do renovento, regime tributário especial para desonerar desde a matéria-prima até a operação dos parques eólicos.

A eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta“ ”

Ricardo Simões, presidente da Abeeólica

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34 neo mondo - Julho 2010

mas por que a opção eólica, se o Bra-sil tem tanto potencial hidráulico para gerar energia?

a resposta, segundo simões, está na diversificação. “temos o privilégio de pos-suir recursos hidráulicos extraordinários e, assim, por muitos anos a nossa matriz continuará sendo predominantemente da forma que conhecemos hoje - com as hidroelétricas - e é bom que seja assim, porque essa é a mais competitiva de todas

e é justamente neste ponto que, segun-do ele, o crescimento da oferta de energia calcada em bases hidráulicas e eólicas, dada a complementaridade e contrasazonalida-de, faz com que o Brasil tenha uma condi-ção extremamente diferenciada e competi-tiva, em comparação com outros países.

como estimulante da competitividade, o leilão de energia de reserva (ler) fun-cionou bem já que também estimulou o aumento da escala na fabricação de equipa-mentos e componentes de geração eólica.

Por isso simões destaca a importância desta política. “a continuidade de leilões específicos para energia eólica pode tornar o Brasil uma plataforma de domínio tec-nológico desta rota de geração”, opinou. ao menos na edição do ler 2010, que será realizada em agosto, as eólicas terão que dividir espaço com termelétricas mo-vidas a biomassa (bagaço de cana-de-açú-car, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (Pchs). até agora, porém, segundo informa-ções da empresa de Pesquisa energética (ePe), as usinas movidas a vento são a grande maioria: representam 82% das 517 usinas cadastradas para concorrer ao leilão de fontes alternativas destina-das ao fornecimento de energia em 2013. Juntas, todas as cadastradas terão uma ca-pacidade instalada de 15.774 megawatts (mW), sendo que as 425 eólicas têm capa-cidade para 11.214 mW.

mesmo com dados tão promissores, o setor ainda tem desafios pela frente. Para que a energia que vem dos ventos se firme de vez em solo brasileiro é preciso resolver uma importante questão: o alto custo de produção.

a energia gerada por essa alternativa cus-ta entre 60% e 70% a mais que a mesma quan-tidade oriunda de uma usina hidrelétrica.

segundo simões, o processo para bai-xar este custo já começou.

“a energia eólica no Brasil está em fase de ampliação da sua competitivi-dade. Basta comparar o preço praticado no Proinfa e o preço médio do leilão de 2009. no Proinfa os valores são de r$ 260/mWh, enquanto no leilão o preço médio foi de r$ 148/mWh”, destacou.

segundo ele, a melhoria na qualidade dos projetos, a percepção de risco dos in-vestidores com o contrato ofertado no lei-lão, a situação cambial do ano passado e os efeitos da crise de 2008 influenciaram na redução dos custos.

as fontes. mas a eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente com-plementar a esta”, afirmou.

segundo ele, a característica comple-mentar pode ser verificada até em termos de sazonalidade.

“os ventos são mais fortes e mais constantes justamente quando não está chovendo, nos períodos em que os re-servatórios de água das hidros estão secando”, explicou.

especial - energia

Turbina da usina localizada em Macau, no Rio Grande do Norte, pertencente à Petrobrás

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35 neo mondo - Julho 2010

Como funciona?Energia eólica é a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu aproveitamento ocorre por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas, também denominadasaerogeradores, para a geração de eletricidade, ou ca-taventos (e moinhos), para trabalhos mecânicos como bombeamento d’água.As primeiras tentativas de geração de eletricidade sur-giram no final do século 19, mas somente cerca de um século depois é que foram desenvolvidos equipamentos para produção em escala comercial.

Fonte: Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica

VantagensA energia eólica atende às três principais preocupações em termos de geração de energia sustentável:• Segurança de suprimento – ao contrário de combustíveis

fósseis, como o petróleo, a energia eólica utiliza-se de matéria-prima permanentemente disponível em praticamente todos os países do mundo;

• Independência de preços externos do petróleo e do gás natu-ral - Cada quilowatt / hora gerado por energia eólica tem potencial para substituir importações de combustíveis fósseis, melhorando a segurança do abastecimento e da balança comercial dos países;

• Emissão reduzida de CO2 – o setor energético é a maior fonte de emissões de CO2, representando cerca de 40%. Na opção eólica, porém, a emissão é baixíssima: três a seis meses de atividade de uma turbina eólica compensam as emissões geradas durante a fabricação da própria turbina.

DiferencialAs três vantagens acima podem ser observadas também nas usinas hidrelétricas. O grande diferencial das eólicas refere-se ao baixo impacto ambiental que provocam.O equipamento ocupa 1% da área da usina eólica e o restante pode ser ocupado por lavoura ou pastagem.Além disso, é possível a uma distância de 400 metros das usinas eólicas sem que seu ruído cause danos ou perturbações ao ser humano.

DesvantagensO custo da energia gerada por essa alternativa é entre 60% e 70% mais alto do que a mesma quantidade produzida em uma usina hidrelétrica. Programas governa-mentais de incentivo estão tentando mudar esta realidade.

Pelo mundoOs Estados Unidos ocupam o topo da lista dos países com maior capacidade instalada em comparação com o potencial energético, somando 20,8%. Em seguida, vem a Alemanha, com 19,8%.

Fonte: Conselho Global de Energia Eólica (GWEC)

No BrasilO país tem posição destacada no contexto regional, pois

terminou o ano de 2009 com uma capacidade instalada de 606 MW, tendo apresentado um crescimento de 77,7% sobre os 341 MW instalados até o final de 2008.

a Força dos ventos

Top 10 – capacidadE ToTal iNsTalada 2008

MW %

EUA 25,170 20.8

Alemanha 23,903 19.8

Espanha 16,754 13.9

China 12,210 10.1

Índia 9,615 8.0

Italia 3,736 3.1

França 3,404 2.8

Inglaterra 3,241 2.7

Dinamarca 3,180 2.6

Portugal 2,862 2.4

Resto do mundo 16,693 13.8

Total TOP 10 104,104 86.2

Total mundo 120,798 100.0

Portugal

França

Índia

China

Resto do mundo

Alemanha

Espanha

InglaterraDinamarca

Estados Unidos

Geração Eólica no Brasil

Capacidade instalada

Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

MW 22 29 29 29 237 247 341 606 1423*

*projeção com a finalização do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA)

Fonte: Abeeólica

Itália

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36 neo mondo - Julho 2010

especial - energia

UsiNas do tipo Eólica em operação

Usina Potência Fiscalizada (kW)

Destino da Energia Proprietário Município

Eólica de Prainha 10.000 PIE 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda Aquiraz - CE

Eólica de Taíba 5.000 PIE 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio LtdaSão Gonçalo do Amarante - CE

Eólica - Elétrica Experimental do Morro do Camelinho

1.000 REG 100% para CEMIG Geração e Transmissão S/A Gouveia - MG

Eólio - Elétrica de Palmas 2.500 PIE 100% para Centrais Eólicas do Paraná Ltda Palmas - PR

Eólica de Fernando de Noronha 225 REG 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE Fernando de Noronha - PE

Parque Eólico de Beberibe 25.600 PIE 100% para Eólica Beberibe S.A. Beberibe - CE

Mucuripe 2.400 REG 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda Fortaleza - CE

RN 15 - Rio do Fogo 49.300 PIE 100% para Energias Renováveis do Brasil S.A. Rio do Fogo - RN

Praia do Morgado 28.800 PIE 100% para Central Eólica Praia do Morgado S/A Acaraú - CE

Pirauá 4.950 PIE 100% para Eólica Pirauá Geradora de Energia S.A. Macaparana - PE

Eólica de Bom Jardim 600 REG 100% para Parque Eólico de Santa Catarina Ltda Bom Jardim da Serra - SC

Foz do Rio Choró 25.200 PIE 100% para SIIF Cinco Geração e Comercialização de Energia S.A. Beberibe - CE

Praia Formosa 104.400 PIE100% para Eólica Formosa Geração e

Comercialização de Energia S.A.Camocim - CE

Eólica Olinda 225 REG 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE Olinda - PE

Eólica Canoa Quebrada 10.500 PIE100% para Rosa dos Ventos Geração e

Comercialização de Energia S.A.Aracati - CE

Lagoa do Mato 3.230 PIE100% para Rosa dos Ventos Geração e

Comercialização de Energia S.A.Aracati - CE

Parque Eólico do Horizonte 4.800 REG 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda Água Doce - SC

Eólica Icaraizinho 54.600 PIE100% para Eólica Icaraizinho Geração e

Comercialização de Energia S.A.Amontada - CE

Eólica Paracuru 23.400 PIE100% para Eólica Paracuru Geração e

Comercialização de Energia S.A.Paracuru - CE

Eólica Praias de Parajuru 28.804 PIE 100% para Central Eólica Praia de Parajuru S/A Beberibe - CE

Pedra do Sal 18.000 PIE 100% para Eólica Pedra do Sal S.A. Parnaíba - PI

Parque Eólico Enacel 31.500 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Macau 1.800 REG 100% para Petróleo Brasileiro S/A Macau - RN

Canoa Quebrada 57.000 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Eólica Água Doce 9.000 PIE 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda Água Doce - SC

Parque Eólico de Osório 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Parque Eólico Sangradouro 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Taíba Albatroz 16.500 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A.São Gonçalo do Amarante - CE

Parque Eólico dos Índios 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Bons Ventos 50.000 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Xavante 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Pombos - PE

Mandacaru 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Santa Maria 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Gravatá Fruitrade 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Millennium 10.200 PIE 100% para SPE Millennium Central Geradora Eólica S/A Mataraca - PB

Presidente 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Camurim 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Albatroz 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos I 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos III 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Atlântica 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Caravela 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos II 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos IV 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Mataraca 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Total: 45 Usina(s) Potência Total: 794.334 kW

SP - Serviço Público PIE - Produção Independente de Energia REG - Registro

Fonte: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

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Terence Trennepohl

Terence TrennepohlSócio de Martorelli e Gouveia Advogados

Senior Fellow na Universidade de Harvard

Doutor e Mestre em Direito (UFPE)Bolsista da CAPES

E-mail: [email protected]

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

A lei nº 4.771/65 que instituiu o código Florestal brasileiro é a res-ponsável pela regulamentação da

exploração das florestas e demais formas de vegetação no território nacional. Po-rém, muito embora tenha sido para a épo-ca um avanço em termos de legislação, ela precisa urgentemente de revisão.

o código trata da pequena proprie-dade rural, das áreas de preservação per-manente, da reserva legal e da amazônia legal, uma vez que as florestas nacionais e demais formas de vegetação são bens de interesse comum a todos. É impor-tante destacar que é possível o exercício dos direitos de propriedade em relação a esses espaços, mas esse direito está sujeito a limitações, podendo-se consi-derar as ações ou omissões que contra-riarem as disposições legais como uso nocivo da propriedade.

a atual legislação ambiental, caso seja aplicada em seus mais estritos termos, aqueles dispostos em 1965, colocaria na ilegalidade mais de 90% dos produtores rurais brasileiros. isso porque mantêm

algumas obsoletas exigências que são descabidas para o momento de desenvol-vimento econômico que conseguimos al-cançar. Diga-se de passagem, nosso setor primário deve ser reconhecido como a ati-vidade mais competitiva do país. hoje, por exemplo, o agronegócio representa para o Brasil aproximadamente 27% do PiB na-cional, 37% dos empregos no país, 42% das exportações, 215 mercados internacionais conquistados e um crescimento exponen-cial previsto para os próximos anos.

Portanto, o agronegócio brasileiro é algo que muito interessa ao mundo neste início de século, principalmente quando se põe em discussão a sustentabilidade de suas matrizes.

temos que considerar que o novo código Florestal vai regular a proteção ambiental num país continental e com biomas muito diversificados. Generalizar essa proteção, desconsiderando as carac-terísticas de cada área envolvida, é come-ter uma grave injustiça com os produtores rurais brasileiros, com a economia e com a própria sociedade.

um dos pontos que mais chamava a atenção na redação do código de 1965 era a área de reserva legal, a qual fica localizada no interior de uma propriedade rural e sofre for-te limitação para sua exploração. ressalte-se que não faz parte da reserva legal a área de preservação permanente, necessária para o uso sustentável dos recursos naturais, a con-servação e reabilitação dos processos ecoló-gicos, a conservação da biodiversidade, bem como a proteção de fauna e flora nativas.

o art. 16 da lei nº 4.771/65 previa a averbação da área de reserva legal nos per-centuais de 80%, 35% e 20%, nas regiões da amazônia legal, cerrado e outras formas de vegetação, respectivamente. Porém, em passagem alguma do código Florestal ha-via a previsão de sanção pelo descumpri-mento dessa averbação.

o Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, reacendeu a polêmica no tocante à obrigatoriedade de averbação da área de reserva legal, conforme previsão do códi-go Florestal, e passou a impor severas mul-tas pela não averbação da área.

sendo assim, diversos detalhes pre-cisam ser analisados antes de se ter uma nova legislação tratando de uma matéria com pontos tão importantes.

afinal, não há no mundo um modelo de produção agrícola como o nosso, ou seja, uma produção sustentável e pouco poluente.

Por fim, a reforma que está em anda-mento é de vital importância para o país e precisa ser implementada seja para retirar o produtor rural brasileiro dessa suposta ‘ilegalidade’; seja para adaptar a legislação ambiental aos novos tempos.

Organizações não governamentais fazem manifestação contra a aprovação do Código Florestal em frente ao Congresso Nacional

antonio cruz/aBr

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38 neo mondo - Julho 2010

Ao longo da década de 90 do sé-culo XX, foram implementados nas empresas instrumentos de

gestão ambiental para o controle e a pre-venção de danos ambientais, a fim de responder com maior eficiência às atuais demandas do mercado e exigências de órgãos, onde entre outras situações, se deve enfatizar a ocorrência de acidentes ambientais – como o incidente na allied Quemical corporation, em hopewell, Vir-gínia (eua), em 1975; a explosão química da hoffman- la roche, em seveso (itália), em 1976; o vazamento de gases tóxicos numa fábrica de pesticida da union car-bide em Bhopal (Índia), em 1984; a explo-são de reator nuclear em chernobyl, na então união soviética, em 1986; o vaza-mento de petróleo, em 1990, do navio pe-troleiro exxon Valdez e o caso emblemá-tico love canal, no estado de nova York, um símbolo de contaminação do solo por resíduos sólidos enterrados, o que obri-gou as empresas a arcarem com elevados gastos em indenizações, recuperação dos ambientes danificados e ações para miti-gação e/ou controle dos danos. além dis-

so, a imagem das empresas causadoras do dano foi afetada negativamente.

Frente a esse quadro, empresas com maior potencial poluidor passaram a de-senvolver e implementar instrumentos de gestão ambiental corporativa para a melhoria do fluxo de informação, interno e externo, além de propiciar a redução de risco de incidentes e acidentes.

o setor químico foi o pioneiro na ela-boração de diretrizes para a gestão am-biental corporativa. a canadian chemical Producers association (ccPa) lançou, em 1984, um documento denominado sta-tement of responsible care and Guiding Principles, contendo princípios específicos para a gestão responsável do processo de produção em todo o ciclo de vida do pro-duto, dando ênfase à proteção da saúde humana e do meio ambiente e à segurança industrial e do produto.

o sGa (sistema de Gestão ambiental) contribui para a ecoeficiência das empre-sas, enquanto prática de produzir sempre bens e serviços mais úteis, concomitan-temente à redução contínua do consumo de recursos e da poluição, o que traduz

a preocupação em estabelecer a melhor relação possível entre atividade empre-sarial, meio ambiente e necessidades humanas presentes e futuras. sob essa ótica, empresas de todos os tamanhos estariam aprimorando suas cadeias pro-dutivas, incorporando ações que condu-zem à melhoria do desempenho ambien-tal. alguns desses avanços consistem na redução da obsolescência e da perda da manutenção, reparo e operação (mro) de materiais, através de práticas de gestão de estoques; decréscimo substancial de custos com sobras e perdas de materiais; aumento de receitas com a conversão de resíduos e desperdícios em subprodu-tos; redução do uso e do desperdício de solventes, pinturas e outras substâncias químicas, por meio de parcerias ou ter-ceirização de serviços e reutilização de materiais, pela adoção de programas de retorno do produto. atreladas ao sistema de gestão ambiental, inovações operacio-nais e tecnológicas são incorporadas ao longo do ciclo de vida de empresas que atuam em setores variados - química, ele-troeletrônica, alumínio, automóveis, en-

produção mais limpa (p+l)

A utilização do Sistema de Gestão Ambiental como ferramenta para

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porque depende do grau de conscienti-zação da alta administração em matéria ambiental. assim, a conscientização ambiental empresarial pode ser avalia-da à luz de diversos estágios evolutivos, que se constituem a partir da proposi-ção de importantes autores e que for-mam uma grande pluralidade de níveis de maturidade para a análise da gestão ambiental na organização. entender a gestão ambiental na empresa por meio de taxonomias é uma maneira estrutu-rada para que empresários e pesquisa-dores reflitam a situação organizacional atual e planejem atividades futuras em matéria ambiental.

assim, objetiva-se contribuir para a edificação do conhecimento já existente em gestão ambiental, a resposta da indús-tria ao desafio ecológico pode ser analisada por três estágios, muitas vezes superpos-tos. a primeira fase é chamada de controle ambiental na saída, tais como chaminés e redes de esgotos, (tecnologia de final de tubo), mantendo a estrutura produtiva já existente, o que nem sempre se mostra efi-caz, já que os benefícios dessa resposta são frequentemente contestados pela socieda-de civil e pelo próprio empresariado.

no princípio, as organizações ansiavam apenas com a eficiência dos processos pro-dutivos, porém, com o crescimento da cons-ciência ecológica principalmente a partir do final do século XX, a sociedade, os governos e as próprias empresas passaram a incorpo-rar essa orientação em suas estratégias.

a postura errônea adotada quanto ao tratamento de resíduos, tem de ser revis-ta e transformada com atitudes de gestão eficientes e efetivas. Do ponto de vista de processo não há como deixar de produzir resíduos no processo de negócio. Portanto, cabe aos futuros envolvidos na gestão des-tes uma abordagem mais ecológica nos pro-cessos, nos tratamentos e nos descartes.

João Carlos Mucciacito

João Carlos MucciacitoQuímico da CETESB, Mestre em

Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da

Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro Universitário Santo André - UNI-A e na FAENG -

Fundação Santo AndréE-mail: [email protected]

tre outros - com resultados positivos do ponto de vista econômico e ambiental. esses resultados raramente são percebi-dos, a não ser de forma muito pontual, pois as empresas carecem de mecanismos adequados para sua contabilização, razão pela qual consideram onerosos os gastos incorridos com a gestão e as certificação ambientais.

Diversos instrumentos, desenvolvidos para melhorar seu desempenho ambien-tal, redundaram numa série de vantagens econômicas: redução de custos, aumento de competitividade, abertura de novos mercados e diminuição das chances de se-rem surpreendidas por algum tipo de ônus imprevisível e indesejável.

tais argumentos de caráter econômi-co, por si sós, já seriam suficientes para fundamentar a necessidade de que as as-sumissem o compromisso de velar pela conservação dos recursos naturais e a qualidade do meio ambiente. no entanto, indústrias que atuam neste campo ainda carecem de uma política efetiva de gestão ambiental. mesmo executando serviços essenciais à sociedade, apresentam po-tencial poluidor capaz de causar danos à saúde de seus trabalhadores e à população localizada em seu entorno, além de con-taminar o solo, a atmosfera, os rios e os lençóis freáticos.

a preocupação ambiental não cons-titui tema recente, mas foi somente nas últimas três décadas do século XX que ela passou a ser debatida em. É uma discussão desafiadora, que deve envol-ver governo, empresas, sociedade civil como um todo, e o âmbito acadêmico. a introdução dessa variável no âmbito dos negócios não ocorre de forma ho-mogênea, variando entre as unidades produtivas, seja porque a consideração da variável ecológica está associada à natureza do negócio da empresa, seja

a partir de uma gestão correta, poder-se-á chegar aos fatores críticos de sucesso relativos ao meio ambiente, não somente ao atendimento a legislação, bem como a redução da poluição e consumo de água – por exemplo – e propiciar um correto descarte e destinação final dos resíduos. o conhecimento qualitativo prévio e pos-teriormente quantitativo da composição dos resíduos químicos, o fluxograma e a análise ambiental crítica proporcionam uma base para que a redução de desperdí-cios, mudanças nos processos, minimiza-ções do uso de certas matérias-primas ou substituição por outras menos agressivas ao meio ambiente sejam atingidas.

Desta forma pode-se concluir que atualmente, a sociedade preocupa-se com questões de qualidade de produtos ecológicos, de segurança, de proteção e defesa do consumidor. ela fica mais atenta ao comprometimento ético das empresas, assim como atuação de seus executivos, resultando em novas leis e regulamentos que provocam o surgimen-to de posturas modernas. Porém, a que custo aconteceram estas mudanças? será que ainda é possível reverter os danos causados ao meio ambiente ao longo da história? estas são dúvidas que remetem a muitas reflexões, pesquisas e ações; entretanto, são indagações que, prova-velmente, só o tempo poderá revelar.

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especial - energia

o s l brilha para todos

Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei

Heloisa Moraes

Quem diria que toda a tecnologia re-lacionada à energia solar, uma das vedetes responsáveis por oferecer

uma alternativa limpa e renovável, pode ser comparada ao funcionamento de orga-nismos presentes num jardim - as plantas. Por meio da clorofila (substância verde das folhas semelhante à hemoglobina do nos-so sangue) esses organismos são capazes de capturar os raios de sol e transformá-los no próprio alimento. este mesmo con-ceito pode ser aplicado aos painéis solares, que utilizam o sol para aquecer ou gerar energia elétrica.

as vantagens desses tipos de sistema vão do bolso do consumidor até o meio am-biente. não é à toa que cerca de 1 milhão de estabelecimentos (dos quais 66% são re-sidências) já adotaram esse mecanismo, de acordo com a associação Brasileira de re-frigeração, ar condicionado, Ventilação e aquecimento / Departamento nacional de aquecimento solar (abrava/Dasol). com o aquecimento solar é possível economizar até 70% de energia elétrica ao ano - por ser capaz de substituir o gás e a eletricidade - e recuperar o preço do investimento entre 2 e 3 anos, segundo a fabricante soletrol. além

disso, o fato de ser um tipo de energia re-novável e que não agride a natureza pode beneficiar a consciência de muita gente que deseja contribuir com a causa sustentável.

apesar dos benefícios, a energia foto-voltaica ainda engatinha aqui no Brasil. os principais motivos são a inexistência de uma política nacional que viabilize a produção em larga escala e os obstáculos para a produção de silício grau solar. este tipo específico de silício, elemento básico para a produção das células fotovoltaicas, caracteriza-se pelo elevado custo de produ-ção e pela alta pureza, que aumenta sua pro-

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o s l brilha para todos

Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei

Heloisa Moraes

jeto de lei do senado 336/09, que concede isenção do imposto de importação às células solares fotovoltaicas, assim como suas partes e acessórios, de autoria do senador João Vi-cente claudino (PtB-Pi).

apesar da lentidão do processo legislati-vo e da demora pela aprovação dos referidos projetos de lei, o advogado Diego medina explica que ainda é possível contar com outras formas de fomento à energia limpa. De créditos especiais em bancos privados, bolsas, editais e subsídios até programas de órgãos governamentais que podem investir em novas tecnologias (como a Financiadora de estudos e Projetos - Finep, do ministério da ciência e tecnologia), benefícios fiscais ou terceiro setor, opções não faltam. “há estados que concedem isenções tributárias nas operações com equipamentos e compo-nentes para o aproveitamento das energias solar e eólica. Por isso, quem quer investir em energia limpa deve estar atento à legisla-ção nacional e regional”.

eventos de grande porte como a copa do mundo de 2014 e as olimpíadas de 2016 também prometem impulsionar e disseminar a aplicação dessa tecnologia. mesquita afirma que o seminário copa do mundo de 2014: normatização para obras sustentáveis, promovido pela comissão de meio ambiente, Defesa do consumidor e Fiscalização e controle (cma), apresentou o aquecimento solar como uma importante contribuição para a infraestrutura neces-sária aos eventos por ser limpo, com um excelente potencial energético e economi-camente viável. “temos uma verdadeira usina solar limpa e gratuita, funcionando o ano todo, em todas as regiões. Por isso, pre-vemos aplicações em hotéis, alojamentos,

priedade de semicondutor elétrico e ramifi-ca seu uso para chips e outros componentes eletrônicos. o professor Paulo roberto mei, do Departamento de engenharia de mate-riais, da unicamp, explica que o mercado nacional ainda foca no silício metalúrgico, a forma impura do mineral, que é facilmente encontrado na natureza e que é usado nesse setor principalmente para dar liga metálica no aço, latão e bronze. Por esses motivos, o Brasil atualmente importa placas fotovoltai-cas de marcas como Kyocera, sharp, sanyo e ss solar.

o gestor da Dasol marcelo mesquita afirma que os pontos de maior dificuldade são o valor de produção e a pouca maturi-dade do setor. “apesar da redução do iPi e da devolução do icms, [o custo] ainda é um impeditivo para a competição no mercado de aquecimento de água. a desverticaliza-ção do setor, por sua vez, requer desenvol-vimento de toda a cadeia e a formação de profissionais instaladores para atender a demanda crescente.” além disso, mesquita acredita que o desenvolvimento da cultura ecológica na sociedade seja um ponto vital. “a conscientização da população pode ser considerada como desafio, apesar de já es-tar acontecendo de maneira acelerada.”

Uma nova era solar?

as expectativas para a mudança do cenário atual são grandes. o especialista e professor da universidade Federal de san-ta catarina (uFsc) ricardo ruther afirma que o aumento dos custos de produção de energia elétrica e a futura redução das despesas de fabricação das placas fotovol-taicas serão um verdadeiro impulso para a área. “temos boa insolação e a maior re-serva de quartzo do mundo, de onde se ex-trai o silício, usado nas células solares. De-senvolver o setor é questão de dez anos”.

Para mesquita, uma das novidades po-sitivas no setor é a busca da utilização do sistema de aquecimento solar em projetos habitacionais, como nos programas da companhia de Desenvolvimento habita-cional e urbano (cDhu), das companhias de habitação (cohab) e das casas construí-das pelo programa da caixa econômica Fe-deral minha casa minha Vida. “as vanta-gens em usar o chuveiro solar híbrido são grandes, pois os chuveiros elétricos ficam desligados como reserva para eventuais si-tuações de longo período sem sol.”

embora cogitada como item obrigató-rio no início do projeto, as placas solares serão opcionais e chegarão a apenas uma

parte do 1 milhão de casas que o governo pretende construir. o grupo de trabalho, que tem representantes dos ministérios do meio ambiente, de minas e energia, das cidades, além da caixa econômica Federal, do instituto nacional de metrolo-gia, normalização e Qualidade industrial (inmetro) e empresários do setor, ainda não definiu metas ou o número mínimo de unidades habitacionais que deverão re-ceber o sistema de aquecimento solar. De acordo com Vânia soares, coordenadora de energia e meio ambiente da secretaria e mudanças climáticas do ministério do meio ambiente, essa iniciativa irá depen-der das construtoras ou das prefeituras.

saindo do papel

“a legislação vem-se consolidando e aperfeiçoando suas aplicações. À medida que o aquecedor solar é implantado em municípios, aumenta a obrigatoriedade nas edificações e em alguns segmentos produti-vos da sociedade”, destaca mesquita.

a maior dificuldade, de fato, é aprovar e aplicar o que está no papel. algumas das iniciativas nacionais que ainda tramitam no congresso nacional são o Projeto de lei 630/03, que institui um fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a produção de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da energia eólica, de autoria do depu-tado roberto Gouveia (Pt-sP); o Projeto de lei do senado 311/09, que institui o regime especial de tributação para o incentivo ao Desenvolvimento e à Produção de Fontes alternativas de energia elétrica (reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de energia limpa, de autoria do senador Fernando collor (PtB-al); e o Pro-

Placas solares são cogitadas em projetos habitacionais e podem aparecer em obras da Copa do Mundo e Olimpíadas

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novidade do setor. ainda em fase de con-sultas com empresas do setor energético, órgãos do governo e empresas de con-servação de energia, o projeto tem como pontos principais a conscientização da po-pulação, do setor público e medidas que possam trazer benefícios financeiros e fis-cais (como leilões de eficiência energética, estímulos para indústrias, programas de etiquetagem, entre outros).

a elaboração do plano tem passado atu-por grandes complexidades devido a uma

Além de depender da energia solar, ambos os processos precisam de placas específicas que serão responsáveis por captar e transformar a energia. Enten-da em detalhes como funciona a ener-gia solar:

As placas para aquecer água são escuras com o intuito de absorver o má-ximo possível de radiação solar. O calor é então passado para as serpentinas internas da placa (geralmente feitas de cobre, um material altamente condutor), que contém água fria proveniente de um reservatório ligado à caixa d’água. Após passar por esse tubo, a água esquenta e vai para o boiler, um reservatório térmico específico para manter a temperatura. Dessa forma, a água chega muito quente aos chuveiros da casa, o que explica a ne-cessidade de ter uma torneira para cada tipo de água (quente e fria), para poder atingir uma temperatura agradável.

A energia fotovoltaica, por sua vez, requer placas compostas por células fei-tas de materiais semicondutores, como o silício (já citado anteriormente). Quando partículas de luz solar (fótons) se chocam com os átomos do material que reves-

restaurantes, hospitais, lavanderias, vestiá-rios, piscinas, entre outros.”

apesar da localização privilegiada do Brasil, que permite uma boa taxa de in-solação em várias regiões no ano todo, o país ainda está no 10 º lugar no ranking de utilização da matriz solar como fonte de energia – ficamos atrás de china, israel, Áustria, Índia, turquia, alemanha, Japão, estados unidos e austrália.

com metas de longo prazo, o Plano nacional de eficiência energética é outra

irmãos de sol

especial - energia

série de alinhamentos que precisam ser fei-tos para garantir o não aumento de tarifas, o respeito a contratos existentes (principal-mente das concessionárias com o governo e dos consumidores com as distribuidoras), a expansão rápida do acesso à rede elétrica em todas as regiões do país e integração sul-americana.

apesar disso, o diretor do Departa-mento de Desenvolvimento energético do ministério de minas energia, hamilton moss, afirma que o plano será anunciado antes do final de 2010 e estará alinhado com a meta de reduzir em 10% a deman-da por eletricidade no país até 2030. Para ele, o Brasil, comparado a outros países, tem menos urgência para implementar ações na área devido aos números atuais relacionados à eficiência energética: cerca de 70% da matriz elétrica e 48% da matriz energética total brasileiras provêm de fon-tes renováveis.

com informações de revista sustentabilida-de, inovação tecnológica, soletrol, Planeta sustentável, superinteressante, ecoDesen-volvimento, energia

Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvol-vido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Brasil precisa seguir alguns mandamentos para que se torne uma das principais lideranças no setor de energia solar:

• Laboratórios modernos• Centros de referência integrados• Investir em desenvolvimento de

o que nos falta

tecnologia (para obter energia solar fotovoltaica a baixo custo)

• Estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos

• Especialistas para o mercado – estima-se que o mundo irá precisar de 37 milhões de profissionais para atuar no setor até 2030

Fonte: EcoDesenvolvimento

Com informações de Soletrol, Guia da Energia Solar e artigo de Miguel C. Brito e José A. Silva, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

te a placa, elétrons se deslocam, e essa energia gerada carrega uma bateria. A tecnologia requerida por este processo vem sendo aprimorada com o tempo, já que em 1839 o físico francês Edmund Bec-querel descobriu o efeito fotovoltaico em uma experiência com eletrólitos (substân-cias que se tornam condutoras de eletri-cidade com a adição de um solvente ou aquecimento). Trinta e oito anos depois, W.G. Adams e R.E. Day construíram a pri-

meira célula solar com selênio, elemento que converte luz diretamente em eletri-cidade, mas com baixíssimo rendimento. O silício grau solar para fins industriais só veio a ser desenvolvido em 1940/1950, quando o método Czochralski (nome de um cientista polonês) foi desenvolvido para fins industriais. Atualmente, cada metro quadrado de coletor fornece 170 watts - pouco menos que três lâmpadas comuns de 60 watts.

água quenteágua fria

coletor solarboiler(reservatório térmico de água quente)

caixa d’água da residência

sistema auxiliar elétrico(para dias em que o sol não aquece a água plenamente)

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43neo mondo - maio 2008

a EFEX idioMas é uma consultoria de línguas que atua há 20 anos no mercado de “Business English coaching”,

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E stive em hiroshima, em nagasaki, cidades bombardeadas por ordem do presidente dos eua, harry tru-

man. e também em aldeias africanas des-truídas por napalm por aviões da otan por ordem dos generais de salazar.

nesses locais, totalmente destruídos pela insensatez de poderosos, a natu-reza deverá trabalhar milhares de anos para que o meio ambiente volte a ter vida,para que a terra novamente frutifi-

dos povos africanos e pré-colombianos de nossa américa. os pressupostos de seus ensinamentos – confirmados pela física contemporânea – afirmam que o mundo é constituído de energia vital, de uma força presente nos seres humanos, nas coisas animadas e inanimadas, no mundo exis-tente e no preexistente.

os homens/mulheres são poderosos, pois são a força com inteligência capaz de manipular a força destituída de inteligên-

que.Foram experiências marcantes que nunca irei esquecer.

o que me faz refletir sobre a origem da vida, e nossa sobrevivência neste plane-ta. a terra é a fonte primeira da energia e devemos preservá-la, com a seriedade dos líderes sioux quando discutem se podem ou não derrubar uma árvore, e se esse ato irá ou não prejudicar a oitava geração.

Precisamos aprender com a sabedoria milenar do taoísmo, budismo, xintoísmo,

o cosmos é em movimento

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Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de

Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto.E-mail: [email protected]

Dilma de Melo Silva

cia (ou seja, todo o meio ambiente que nos cerca). assim, cabe a nós, seres vivos, com domínio sobre a natureza, cuidar dela, mantê-la, preservá-la afinal, fazemos parte da mesma.

como nos ensina F.capra(1), fazemos parte do universo, somos parte consti-tuinte do mesmo (leiam a obra “o tao da Física” ou “Ponto de mutação); esse cien-tista nos recomenda cuidar do planeta como um animal cuida de seus filhotes, e jamais nos arriscarmos a destruir a ener-gia viva existente no mesmo. nessa obra, faz um paralelo entre a Física moderna e o pensamento oriental levando a uma nova visão de mundo seja no contexto científico seja sociológico, onde a carac-terística unilateral é a concepção da uni-dade e da coexistência e alternância de valores opostos.

esse pensamento em física surge com a teoria da relatividade, enquanto que nas tradições filosóficas do oriente a maior parte de seus conceitos inclui o tempo e a mudança como elementos essenciais. essa concepção é a parte in-tegrante da visão da realidade que se torna à base das tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais. Daí a necessidade de dominar e de controlar o conhecimento científico para uma atitu-de de cooperação e não de violência na sociedade, ou ao meio ambiente.

nós, enquanto seres vivos, observa-mos e estudamos a movimentação da energia vital em nosso planeta; os avanços da Física no século XX, com a descoberta dos quanta, pode nos ser extremamente útil, pois aponta para o papel do observa-dor na constituição da realidade, a impor-tância dos processos cognitivos relaciona-dos às estruturas sociais.

autores como maturama, Varela, ca-pra, Pregogine, morin são alguns dos que apontam para a importância do observa-

dor na constituição da realidade, já que o mundo nos é dado através da experiência do sujeito, o meio e suas interações estão referidos a esse sujeito.

todos os sistemas vivos são unidades de interações,interagimos entre nós – se-res vivos, animados, com inteligência/consciência – e também com os demais seres vivos, sem inteligência, sem cons-ciência de si.

a realidade é feita de inter-relações dos diferentes níveis de concretude da força/energia vital, dentro e fora de nós.nas primeiras décadas do século XX o avanço cientifico passa ter uma alteração complexa, surgindo em primeiro plano o princípio da complexidade.

a Física contemporânea com o prin-cipio da incerteza/complexidade/com-plementaridade de Bohr e de heisenberg introduz o observador na observação. o objeto da ciência não é mais um objeto, mas um sistema com atividades autorre-guladoras, cada elemento último esperado pela Física não é encontrado, mas sim o incerto, o contraditório – a partícula ora se comporta como onda, ora como corpúscu-lo. após a descoberta do átomo, tivemos a descoberta da partícula, e depois a desco-berta dos quanta, que nos remete ao prin-cipio da incerteza.

Desde heráclito de Éfeso (século V a.c.) temos uma visão processual da rea-lidade como um vir-a-ser, como um mo-vimento, como metamorfoses, como mu-tações, essa linha de pensamento propõe uma visão processual da realidade, num permanente fazer-se.

como nos bem ensinou ruy Galvão de andrada coelho, valendo-se de hus-serl, a realidade não se dá a conhecer em sua totalidade, em sua essência, mas atra-vés de manifestações, de fenômenos atra-vés do quais o real se apresenta à consci-ência humana(2). o conhecimento resulta

do encontro do objeto – naquilo que ele se dá à percepção – com a consciência intencional do homem. assim, sujeito e objeto se fundem; existe uma relação recíproca entre noese e noema, entre os fatores constituintes e constituídos no processo de conhecimento.

torna-se, assim, imprescindível per-ceber a subjetividade como fator partí-cipe da formação do conhecimento; a própria afirmação: visão de mundo pres-supõe a existência de um sujeito e, desse modo, reconhecer o papel indispensável da consciência no processo cognitivo, nos vermos como ser-no-mundo, fundi-dos e interligados uns com o(s) outro(s) e com a natureza.

o mundo é feito de energia, o cosmos é feito de energia pura, energia em mo-vimento, num caos de incertezas, no qual está imersa a vida. e o equilíbrio é instá-vel, cabendo a nós seres humanos a tarefa de mantê-lo.

citações:caPra, F. o ponto de mutação, cannes: 1990 (vídeo)o tão da física,sP:ed. cultrix,1983coelho,r.G.a. Ficção e realidade in re-vista arte cultura da américa latina.sP: cesa,2004

o cosmos é

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A mesma lama que pode atrapalhar navios e outras embarcações de tra-fegarem pelo Porto do rio Grande,

localizado no município gaúcho de mesmo nome, agora contribuirá para alimentar veí-culos e equipamentos do próprio porto.

Projeto desenvolvido pelo laboratório de controle de Poluição da Fundação universida-de rio Grande (Furg) utilizará a lama dragada do oceano como fonte de geração de energia para baterias utilizadas nesses equipamentos.

o processo aproveita os elétrons envol-vidos na respiração dos micro-organismos encontrados na lama, que durante a quei-ma (oxidação) da matéria orgânica liberam elétrons, que são captados por um eletrodo, gerando uma corrente elétrica. associado a este reator, um circuito elétrico converte a voltagem desta reação para valores comer-ciais tradicionais (110 ou 220 volts).

“em escala industrial, estima-se que pos-sam ser gerados até 580 mW, considerando que a dragagem do Porto produz 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos ao ano”, explicou o professor Dr. Fabricio santana, que coordena a pesquisa ao lado da profes-sora Dra. christiane saraiva ogrodowski.

Coordenadores da pesquisa Furg, Fabricio Santana e Christiane Ogrodowski mostram a lama retirada do porto

ala

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Vem da lama, mas é liMpa

especial - energia

Pesquisadores da Fundação Universidade Rio Grande (Furg), do Rio Grande do Sul, vão aproveitar lodo do porto para geração de energia

Rosane Araujo

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47 neo mondo - Julho 2010

Energia a partir da lama

1º passo – Dragagem As dragagens removem sedimentos que se acumulam com o tempo no fundo do mar, a fim de manter ou aumentar a profundidade dos canais portuários, garantindo o acesso seguro dos navios. O material retirado é separado, parte vira areia e é comercializada e a outra parte, que seria despejada de volta no oceano em profundidades maiores, vai para a Unidade de Tratamento.

2 º passo - Unidade de Tratamento de SedimentosA parte dos sedimentos onde estão instalados os microrganismos capazes de gerar energia é utilizada na geração de energia por meio da queima da matéria orgânica (oxidação).

3º passo – Utilização da energiaA energia gerada é utilizada para carregar as baterias de equipamentos e veículos do próprio Porto do Rio Grande.

a geração de energia seria suficiente para abastecer uma cidade de até 600 mil habitantes.

segundo santana, o objetivo é criar uma unidade de tratamento de sedimen-tos de Dragagem, cuja previsão para início das atividades é janeiro de 2011.

há dois anos, o processo de bioconver-são da lama em energia elétrica vem sendo estruturado pelos pesquisadores que con-tam com o apoio de outros profissionais participantes de convênios com órgãos de fomento estaduais, federais e privados.

o projeto conta com financiamento da secretaria estadual de ciência e tecno-logia do rio Grande do sul, que investirá r$ 300 mil, e do Porto do rio Grande, que injetou r$ 60 mil, além do custo estima-do em r$ 300 mil que será pago pela Furg pelo trabalho dos pesquisadores.

“atualmente, encontra-se em fase de laboratório, estão sendo realizados experi-mentos para o dimensionamento da planta piloto, próxima etapa do estudo”, revelou.

assim que implantada, a unidade será a única do gênero no mundo, já que as ou-tras iniciativas de que se tem conhecimen-to visavam utilizar o sedimento oceânico para geração de energia, mas sem removê-lo da superfície marinha.

“esta alternativa é muito questionada, já que pode provocar um desequilíbrio no meio ambiente”, contou santana.

o projeto gaúcho, ao contrário, é total-mente seguro à vida marinha, pois utiliza o material já retirado, oferecendo solução para um problema de esfera mundial, que é a destinação desses sedimentos.

Menor impactoa lama retirada dos portos contém

uma parte inerte (areia), que corresponde a 96% e pode ser comercializada. o res-tante do sedimento, onde estão presen-tes micro-organismos capazes de gerar eletricidade, é armazenado e depois des-pejado no oceano, em áreas onde causa menor impacto ambiental.

segundo o professor santana, a lama do Porto do rio Grande pode ter sido benefi-ciada pelo fato de ser este canal uma ligação natural da lagoa dos Patos com o oceano, proporcionando maior teor de matéria orgâ-nica e criando características diferenciadas.

“mas isso não impediria a aplicação desta tecnologia a outros portos”, garantiu.

ao menos no Porto do rio Grande, o se-gundo do país e um dos mais importantes da américa latina devido à sua posição geográ-fica e extensão, a geração de energia limpa é uma questão de tempo.

Para o professor santana, mesmo a ge-ração biológica não sendo a alternativa mais desenvolvida atualmente, em comparação à eólica, solar e hidráulica, por exemplo, soma-das, essas tecnologias podem incrementar a matriz energética do país.

“sabe-se que a solução para a escassez de energia não está associada com o uso de apenas um tipo de tecnologia ou fonte e sim com o aproveitamento pleno destas possibi-lidades”, encerrou.

A estimativa é que e, em escala industrial, possam ser

gerados até 580 MW

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Porto do Rio Grande é considerado um dos mais importantes da América Latina devido à localização estratégica

Representação da geração de energia a partir da instalação da Unidade de Tratamento

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A clássica pergunta “o que você le-varia para uma ilha deserta” pode agora ser projetada em outro

contexto – esse sim, muito mais real. o cenário é a ilha de marajó, localizada na foz do rio amazonas, considerada a maior ilha fluvial-marítima do mundo. em vez de itens de beleza, tecnologia e entrete-nimento, o Grupo de energia, Biomassa e meio ambiente, da universidade Federal do Pará, decidiu levar aos moradores da ilha um item de difícil acesso, mas essen-cial: energia.

o grupo, criado com o intuito de de-senvolver pesquisas e projetos aplicados na área de produção de energia a partir da queima direta de biomassa, foi respon-

alternativa que vem

Usinas flutuantes de biomassa reaproveitam sobras de materiais e renovam comunidades inteiras no Pará

Heloisa Moraes

sável pela criação de usinas de porte pe-queno para atender a demanda de comu-nidades isoladas da ilha. “até então, essas pessoas contavam com geradores a diesel para ter energia elétrica – a pouca renda que tinham ainda tinha que dar para a compra do combustível. nós entendemos a dificuldade em gerar energia”, afirma o coordenador Gonçalo rendeiro.

o especialista em energia de biomassa explica que as usinas se adequam ao perfil e à demanda de cada comunidade e aproveitam os resíduos locais – “um vetor de desenvol-vimento acoplado a um processo produtivo.” o projeto, que tem apoio do ministério das minas e energia, do cnPq, da eletrobrás e da rede celpa, proporciona duas vantagens

que se destacam. além da possibilidade de gerar energia a partir de restos que iriam para o lixo (como óleo vegetal, lascas de madeira, folhas, frutos e até lixo), economiza-se o di-nheiro anteriormente destinado para compra de óleo diesel - vendido exclusivamente por empresas sediadas no centro-sul do país e causador de impactos ambientais, como chu-va ácida e emissão de gases estufa.

o sistema tem um ciclo sustentável re-dondo: além de não agredir a natureza, as usinas aproveitam resíduos extrativistas, ajudam no desenvolvimento econômico da região e ainda beneficiam os trabalhadores responsáveis pela plataforma, que são trei-nados e acompanhados até serem capazes de gerenciar o processo de forma independente.

especial - energia

das ciNzas

Projeto Usina Flutuante: potência de 50 kW acoplada a uma fábrica de extração de óleo vegetal

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Cada unidade é constituída basicamente por uma cal-deira, uma turbina, um gerador, um condensador, um tanque de condensados, um sistema de bombeamento e um sistema de tratamento de água.

Quando a biomassa é queimada na fornalha da caldei-ra, gera-se calor. O calor, ao entrar em contato com a água, se transforma em vapor que, por estar em alta pressão e alta temperatura, gira as pás da turbina. A rotação da turbina aciona o gerador, que produz ener-gia suficiente e estável para o funcionamento da usina e para a comunidade.

como funciona a biomassa

Tudo novo, de novoo primeiro projeto voltado para aten-

der as demandas de energia elétrica em locais distantes aconteceu em 2004. as duas primeiras usinas eram de alvenaria e levaram pouco mais de um ano para ser construídas. no meio desse processo, surgiram os obstáculos. “havia dificulda-de em encontrar mão-de-obra e material, além do problema do transporte – aqui os rios são as estradas”, conta rendeiro.

Por isso, a equipe criou plataformas flutuantes. além de levar menos tempo para construir (seis meses apenas), esses tipos de usina podem deslocar-se facil-mente por rios e atracar em comunidades ribeirinhas, que vão de 80 a 300 pessoas.

segundo o coordenador, três unida-des já funcionam e cinco irão ficar prontas ainda neste ano. uma delas, responsável pela geração de 50kW de energia, atende a comunidade de santo antônio e fornece eletricidade para uma fábrica de gelo, uma fábrica de extração de óleo e uma câmara frigorífica que armazena produtos agríco-las e pescado.

com esse sistema é possível tornar praticamente todos os tipos de resíduo em biomassa para produção de energia – até lixo. rendeiro conta que atualmente essa possibilidade passa por análise da prefei-tura local e garante a viabilidade desse tipo de aplicação. “com o auxílio das usi-nas, é possível diminuir a quantidade de lixo e ainda gerar energia elétrica. e ainda existe o benefício de que esse projeto pode ser aplicado em qualquer lugar”, conclui.

com informações de Beira do rio

Projeto Enermad/Buriti: usina de de 200 kW. estufa para secagem de madeira e uma Fábrica de Extração de óleo Vegetal

Projeto Marajó: usina de 200 kW, fábrica de gelo com câmara frigorífica e fábrica de extração de óleo vegetal

49 neo mondo - Julho 2010

Fábrica de extração de óleo Vegetal

Usina de 200kW

Usina de 1 kW para atendimento de 5 residências isoladas

Fábrica de Gelo e Câmara Frigorífica Fábrica de Óleo

Vegetal

Usina de Geração de Energia Elétrica

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T odo mundo que foi um bom alu-no em biologia lembra do Darwi-nismo e da teoria da evolução.

hoje, dois séculos depois do nascimento do seu criador, charles Darwin, o pen-samento continua atual e servindo de inspiração para inúmeras outras ideias, inclusive publicitárias.

Para comemorar os 200 anos de charles Darwin e os 100 anos da monta-dora audi, uma agência de publicidade sueca criou o conceito do “carwinismo” e trouxe um novo olhar para a indústria automobilística.

segundo a teoria do “carwinismo”, não devemos enxergar os carros como máquinas, mas como organismos que evoluem, crescem e morrem, depen-dendo do potencial de cada um para se adaptar ao meio.

o pesquisador e consultor francês clotaire rapaille, um dos principais ide-

com tanta oferta e variedade de mo-delos no mercado, a escolha de um deter-minado carro acaba sendo uma expressão inconsciente de quem você é. nos estados unidos, por exemplo, há quem diga que quem dirige um hummer é republicano e quem dirige um Volvo é democrata.

se por um lado os carros precisam reinventar-se para sobreviver, eles não podem jamais perder a sua identidade, o seu Dna. muitas marcas têm tido mui-to sucesso com essa filosofia, sendo fiéis ao que elas representam ao consumi-dor, como no caso do Jeep, que significa aventura, e o mini cooper, que é sinôni-mo de diversão.

outro teórico do “carwinismo”, o psicólogo sueco Kare rumar, analisa a evolução do carro pelo funcionamento dos faróis. rumar afirma que o olho hu-mano foi feito para a luz solar e que, por essa razão, à noite o olho funciona de

alizadores do “carwinismo”, questiona: “será o carro uma espécie em extinção?”. muitos poderão dizer que sim, conside-rando o impasse global das mudanças climáticas e a necessidade de revermos drasticamente todas as fontes de emis-são de dióxido de carbono.

no entanto, o que estamos assistin-do não é bem a um processo de extinção, mas uma série de mutações ao longo da história que tem garantido a sobrevivên-cia dessa “espécie” chamada automóvel. essas mudanças têm sido em grande parte no papel e no significado do carro para a sociedade.

o significado de carro evoluiu incri-velmente desde a sua criação, indo muito além de um meio de transporte ou algo que simplesmente leva você de a para B. rapaille recomenda às montadoras: “a missão de vocês não é vender carros, mas perpetuar um elemento da cultura”.

a teoria da evolução dos aUToMóVEis

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neo mondo - Julho 2010 51

Rafael Pimentel LopesPublicitário da Jung von Matt, em Berlim

Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP

e em Criação Publicitária pela Miami Ad School

Rafael Pimentel Lopes

modo limitado com a iluminação artifi-cial. Diante disso, os passos evolutivos dos faróis seriam no sentido de tornar-se extremamente inteligentes, ajustan-do automaticamente a luz de acordo com fatores como distância para outros carros, composição do tráfego, condi-ções climáticas e situação da rodovia.

anders sandberg, da universidade de oxford, também destaca o aumento da inteligência dos carros. Para sandberg, num futuro próximo, os carros serão ro-bôs inteligentes, chegando a entrar em piloto automático e podendo comunicar -se com outros carros e com o departa-mento de trânsito.

a robotização dos carros não vai pa-rar por aí. o carro inteligente saberá exa-tamente onde já foi e onde não foi, bem como será capaz de fazer viagens randômi-cas, escolhendo o destino de acordo com as preferências e o perfil do motorista.

também haverá uma otimização de trajetos de acordo com os compromis-sos do motorista, pois o carro ajudará a definir a sequência ideal dos lugares a serem visitados. além disso, o carro in-teligente poderá propor uma alteração de agenda de acordo com as condições do trânsito.

o preço dessa inteligência reduzirá bastante com o passar dos anos e se tor-nará acessível para o motorista. mas quem falou que sempre haverá um motorista? Já existe tecnologia para a criação do carro autônomo, que fará com que todos no car-ro sejam passageiros.

Para que os carros acompanhem as mudanças sociais e culturais, uma das palavras-chave é inovação. É apenas com criatividade que essa “máquina viva” vai adaptar se ao mundo a seu redor, encon-trando soluções para temas como efici-ência energética e redução de emissões,

apenas para citar alguns dos temas am-plamente discutidos nos dias de hoje.

Por fim, é importante ressaltar que todas essas transformações do mercado automobilístico não vão partir apenas das montadoras, mas da nossa própria trans-formação como consumidores. essa sele-ção natural dos veículos depende funda-mentalmente da seleção que fazemos na hora de comprar um carro. Por isso, não dê chance de sobrevivência a carros com um baixo custo de aquisição, mas um alto custo ambiental.

a teoria da evolução dos aUToMóVEis

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a recente descoberta que indivíduos centenários possuem uma série de assinaturas genéticas particu-

larmente comuns abre a discussão sobre novos rumos da longevidade e saúde nas próximas décadas. abre a possibilidade de que, no futuro, as pessoas poderão saber se têm ou não o potencial de viver ainda por muitas décadas – sem levar em conta, naturalmente, o histórico familiar, fatores ambientais ou de estilo de vida. a pesqui-sa, publicada em 2 de julho pela revista science, interessa a toda a humanidade.

as pessoas geneticamente privilegia-das foram pesquisadas pela professora

Paola sebastiani, da universidade de Bos-ton (eua)1, que vasculhou com parceiros os genomas de 1.055 homens e mulheres com mais de 100 anos e de 1.267 indivídu-os mais jovens (grupo de controle).

identificaram um número de marca-dores genéticos que são especialmente diferentes entre centenários e indivídu-os mais jovens. os cientistas desenvol-veram um modelo para calcular a pro-babilidade de uma pessoa atingir maior longevidade, com base em 150 marcado-res genéticos identificados pelo estudo. com a ajuda do modelo, os cientistas foram capazes de estimar com 77% de

exatidão se um determinado indivíduo ultrapassou ou não os 100 anos. mas os autores destacam que o modelo ainda está longe de ser perfeito.

seguros e planos de saúdeos resultados da pesquisa recém-pu-

blicada (os genes da longevidade) pode-rão ser utilizados não apenas para avaliar a probabilidade de uma pessoa tornar-se centenária, mas também no estudo de doenças relacionadas ao envelhecimento. “a metodologia que desenvolvemos pode ser aplicada a outros mecanismos genéti-cos complexos, incluindo doenças como

LONGEVIDADE e suas implicações comerciais e sociais

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neo mondo - Julho 2010 53

alzheimer, Parkinson, cardiovasculares e diabetes”, disse a pesquisadora para a re-vista science.

os reflexos desta e outras pesquisas do Genoma humano deixam em desassos-sego outros especialistas, como os que atu-am com risco, que analisam como estas in-formações poderão refletir no cálculo dos custos de planos de saúde, nos atuariais da previdência pública e privada, assim como poderão ser mais bem calculados os seguros de vida.

no futuro próximo poderemos saber quais pessoas apresentarão maior proba-bilidade genética que outra de envelhecer saudável ou envelhecer com patologias di-versas que encareçam seus planos de saú-de, seguro de vida e os cuidados e serviços com saúde.

prevenção de doençasos pesquisadores imaginam que os

resultados de novas investidas sobre o genoma poderão revelar padrões hoje des-conhecidos a respeito do envelhecimento humano e que serão úteis para o desen-volvimento de estratégias de prevenção e tratamento específicas para cada indi-víduo. hoje proliferam informações com fórmulas e conselhos que indicam o modo correto de viver bem, sem que tenhamos as fontes que embasem tais orientações.

e mesmo que tenhamos acesso a tais fontes, não há como garantir que o indiví-duo que siga tais recomendações terá o re-sultado prometido, pois não vivemos num mundo de certezas. surge o paradoxo: quanto mais nos aperfeiçoamos nas pes-quisas e no conhecimento, mais incerteza tem-se do futuro.

há sempre uma promessa para aque-les que fazem atividade física diária, con-somem alimentação saudável e vivem sem estresse de que viverão muito. caso não si-gam as recomendações, os indivíduos hoje

correm o risco de ser vítimas de exclusão de determinados grupos sociais, por não cuidar de si e de sua saúde.

hoje vivemos uma infelicidade crônica não por falta de escolhas, mas pelo exces-so e impossibilidades de usufruir de todas as informações existentes ao nosso redor. Z. Bauman chama isso de “globalização da vida individual”.

corpo de rico versus corpo de pobreas pesquisas do Genoma humano

podem mostrar-nos novos caminhos para controle e prevenção de doenças, mas não poderemos evitá-las. como vivemos numa sociedade desigual, temos que pensar tais temas em termos de responsabilidade so-cial. como bem destaca o filósofo renato Janine ribeiro, a saúde até pouco tempo era vista como uma tentativa de evitar males, onde a medicina pretendia levar o corpo a um estado de bem-estar. hoje exi-ge-se da saúde algo mais que o combate a doença, pois as pessoas buscam a promo-ção do bem-estar. como resultado temos o Prozac, o Xenical, o Viagra e vitaminas ortomoleculares que favorecem prazer, vi-rilidade e expectativa de vida superior à de nossos antepassados.

a questão trazida pela filosofia é como faremos a apropriação social desses resul-tados da ciência, uma vez que corpo e psi-que das pessoas estão em jogo. caso não se faça uma discussão ética, “teremos uma sociedade dividida em corpos de ricos e corpos de pobres”, adverte renato Janine ribeiro. ele destaca corpos esculpidos, saudáveis acompanhados de psique mais feliz versus corpos doentes, longe dos pa-drões da beleza com psiques infelizes por questão de dinheiro.

como podemos fazer com que a igualdade prevaleça, em tempos de mer-cado e globalização de uma sociedade capitalista selvagem? se tivermos corpos

tratados desde cedo de maneiras dife-rentes, poderemos ter fetos e embriões manipulados e programados para des-tinos distintos. o que era ficção deixa de sê-lo, sustentado por um discurso midiático que oferece corpos magros mesmo comendo gordura, alegria com medicamentos, vida sexual ativa apesar da impotência.

temos que observar com cuidado a evolução das pesquisas financiadas por laboratórios que não objetivam o bem- estar individual, mas sim o lucro no mercado globalizado. somente avanços tecnológicos acessíveis a todos é que devem ser estimulados, sob pena de termos desigualdade não só social e eco-nômica, mas também determinante de quem viverá pouco ou muito, com saúde ou doenças.

1 artigo “Genetic signatures of exceptional longevity in humans” (10.1126/science.1190532), de Paola sebastiani e outros, pode ser lido em www.sciencemag.org

Rosane Magaly Martins

Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito

Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em

Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/

México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fun-dadora e presidente da ONG Instituto

AME SUAS RUGAS, participando desde 2007 na Europa e na América Latina de congressos, cursos e especialização que envolve o tema. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas”

lançados no Brasil e em Portugal.E-mail: [email protected]

Site: www.rosanemartins.com

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neo mondo - outubro 2008a

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Marcio Thamos

N o limiar do terceiro milênio, ve-mos o surgimento de uma preocu-pação socioambiental auspiciosa.

uma outra ordem, mais democrática, mais sensível, mais humana, gradualmente pare-ce impor-se no mundo globalizado, ao mes-mo tempo em que, com os rápidos avanços da ciência e da tecnologia, vislumbramos, fascinados, um novo nível civilizacional que a humanidade estaria apta a atingir.

mas uma ampla consciência ecológica só poderá ser alcançada mediante esforços con-tínuos visando a uma educação que favoreça decisivamente o processo de interação do homem com o meio ambiente. ao insistir na necessidade de colaboração internacional para a preservação da vida e para a elevação da qualidade de vida no planeta, a ideia de uma fraternidade universal naturalmente tende a se reforçar. assim, o conceito de hu-manidade se expande na medida em que o espírito humano encontra condições para se desenvolver (eis aí o que parece um impor-tante ganho do nosso tempo).

a ciência e a tecnologia, no entanto, não podem por si mesmas apontar esse caminho para a evolução do homem. tudo o que com elas se faça depende e dependerá sempre de escolhas ditadas por valores socialmente construídos, lenta e moralmente arraigados. a ciência e a tecnologia em si mesmas não são boas nem más – são possibilidades que se co-locam à disposição da vontade humana, crian-

Mitologia clássica: a invenção da

do novos meios que podem influir tanto na elevação quanto na dissipação da inteligência. tudo depende do uso que deles se faça. Daí a necessidade de alimentar continuamente o espírito, educando a sensibilidade. Daí a im-portância da cultura e da imaginação, funda-mentais na estruturação do pensamento.

Por conta de um pragmatismo e de um imediatismo crescentes nos dias de hoje, o estudo da cultura clássica, base de todo o hu-manismo, foi sendo relegado em nossas es-colas a ponto de desaparecer dos currículos oficiais do ensino fundamental e médio. em consequência, o acesso ao legado do antigo mundo greco-romano e o despertar para os valores clássicos, sobre os quais se assentou a sociedade ocidental desde o renascimen-to, tornou-se mais difuso e pouco sistemáti-co para as jovens gerações. a perda que daí advém para a formação do espírito é certa-mente incalculável. e, por isso mesmo, num tempo em que tudo escoa pelo crivo simplis-ta e quantificador das planilhas de avaliação, não podendo ser reduzido imediatamente a números, esse prejuízo passa despercebido.

ninguém menos do que einstein afirma-va que a imaginação é mais importante que o conhecimento (uma vez que o progresso do conhecimento, o que de fato importa, de-pende de nossa capacidade criativa).

a invenção da humanidade – isto é, o reconhecimento de características específi-cas do homem, que nos distinguem como

seres no mundo, a valorização de nossa própria natureza e a consciência de que per-tencemos a um grupo maior, ao qual perma-necemos ligados por laços intrínsecos – se deu inequivocamente na Grécia antiga, após um imemorial processo de evolução do pen-samento primitivo. Perscrutando o mistério da existência, a imaginação do povo helêni-co criou uma série praticamente inesgotável de relatos míticos que sobreviveram por muitas gerações e foram o tesouro dos po-etas antigos. assimilado e enriquecido pelos romanos, esse patrimônio cultural jamais deixou de influenciar as artes e as ciências das épocas posteriores, no mundo que se re-construiu sobre os fundamentos da cultura greco-romana. na essência, ainda somos o que fomos desde então.

Por isso estou pensando em recontar aqui um pouco dessas fábulas que incremen-taram nossa imaginação no decorrer dos tempos e, de certo modo, levaram à inven-ção do que chamamos humanidade.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU

– Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

HUMaNidadE

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Cotidiano

Acompanhe aqui, em cada edição, as novidades mais quentes sobre o que está acontecendo no mundo

Da Redação

NEoMoNdo iNFoRMa

imagine 3 mil pessoas de 110 países diferentes reunidas para discutir o merca-do de carbono – desde as emissões de Gee (gases de efeito estufa) até tendências, no-vidades e tudo que há de mais moderno na área. esse foi o principal objetivo da 7ª carbon expo, uma feira sobre mercado de carbono e tecnologias limpas que aconte-ceu em 26, 27 e 28 de maio em colonia, na alemanha.

o evento foi organizado pelo Banco mun-dial, pela associação internacional de mer-cado de emissões (em inglês, international emissions trading association - ieta) e pelo Koelnmesse, uma das organizações mundiais líder em exposições de mercado industrial.

segundo feedbacks de alguns dos 240 exibidores da feira, o evento foi importante principalmente para deixar evidente a impor-

tância de estabelecer regras claras para a pro-teção do clima global para depois de 2012 – a data limite do chamado “primeiro período de

Carbono pra dar e vender

compromisso” do Protocolo de Quioto.

com informações de carbonexpo

Líderes empresariais discutem novidades do mercado de carbono

Cada vez mais verde em meio de tantas iniciativas susten-

táveis atuais, o instituto de pesquisa ma-rket analysis constatou que a publicidade também está mais verde - a quantidade de anúncios voltados para o tema cresceu 51%. tais dados consideraram somente as revistas Veja e exame, de grande cir-culação nacional, entre janeiro de 2003 e janeiro de 2010. as matérias de mídia impressa, no entanto, são imbatíveis: au-mentaram cerca de 344% nesse período.

Para Fabián echegaray, diretor geral do instituto, tal estatística representa o repo-sicionamento do mercado a favor da busca de soluções para os problemas ambientais – uma boa-nova para todo mundo.

com informações de meio & mensagem Pesquisa constata que houve crescimento de anúncios sustentáveis de 2003 para cá

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57

uma iniciativa pioneira da Petrobrás, com a parceria do site de buscas Google, re-sultou em um mapa detalhado sobre a flora e fauna amazônicas disponível na internet. além de ficar por dentro de curiosidades das espécies nativas, também é possível vi-sualizar fotos e vídeos sobre as expedições realizadas por profissionais na área.

a visualização e a pesquisa aconte-cem por meio dos serviços Google maps e Google earth e o acesso está disponí-vel no endereço www.petrobras.com.br/biomapas.

com informações de cicloVivo

Amazônia detalhada em mapa online

Neo Mondo - Julho 2010

na corrida mundial por energias renováveis, a Índia aparece no cenário com uma proposta inusitada: produzir biodiesel a partir de algas marinhas e pinhão-manso (Jatropha curcas). estu-dos que comprovem a eficiência e a via-bilidade do projeto ainda estão em curso e são somados ao benefício de reduzir a pressão por terras, já que o país tem uma alta densidade populacional e é es-casso em terras cultiváveis.

os especialistas preveem colheitas rá-pidas das algas (que crescem de 5% a 10% ao dia) e pesquisas posteriores que aumen-tem a produtividade do pinhão.

com informações da agência Fapesp

Alternativa indiana

não, a aparência do made in Fo-rest não é igual ao Facebook, mas a proposta de reunir pessoas, institui-ções e informações sobre iniciativas ambientais do mundo todo até permi-te uma comparação.

o miF possui sete categorias para faci-litar a navegação: eco produtos, eco servi-ços, eco turismo, reciclagem de lixo e ma-teriais, universidade e usuários da rede.

segundo os criadores da rede – os empresários brasileiros Fábio Biolcati e martin mauro – o portal já possui mais de 5 mil perfis de empresas, onGs, universi-dades e cidadãos comprometidos com a causa ambiental de 25 países diferentes.

Para mais informações é só aces-sar o site www.madeinforest.com ou seguir o perfil da rede no twitter pelo @madeinforest.

com informações de Planeta sustentável

Facebook ambiental

e que chova, de preferência, nos re-servatórios para captação de água dos edifícios de são Paulo. essa é a mais nova proposta de lei sugerida pelo deputado rodolfo costa e silva (PsDB) e que agora depende somente da aprovação do gover-nador alberto Goldman.

se a lei for aprovada, os prédios que possuem área superior a 500m² ou

que abrigam mais de 50 famílias terão de se apressar – os prazos para que edifícios comerciais e residenciais se adaptem à nova legislação será de dois e sete anos, respectivamente, e apenas 180 dias para os que ainda estão em construção ou na planta.

com informações de metro

Chove, chuva

Curiosidades sobre fauna e flora, bem comofotos e vídeos de expedições, estão no site

Biodiesel de algas marinhas é uma solução

Prédios com mais de 500 m2 ou mais de 50 famílias terão de se adaptar

500 m2 é a área a partir

da qual os prédios comerciais

precisam captarágua da chuva

como Funciona

4. Por uma tubulação, a água é conduzida para o reservatório superior

5. O reservatório distribui a água para o reúso

1. A água pluvial é captada por pontos distribuídos pelo prédio

2. A água é direcionada por tubulação para o sistema de filtragem

Reservatórios superiores

Filtro

Água da concessionéria

Bomba de recalque 3. Após passar

pelo filtro, a água é armazenada numa cisternaCisterna

Chuva

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Cotidiano

58 neo mondo - Julho 2010

Verdadeiras vilãs do meio ambiente por se acumularem em uma proporção imensu-rável, por levar centenas de anos para se de-compor e por poluir o meio ambiente. Para se ter uma ideia, o instituto socioambiental dos Plásticos (Plastivida) calculou que 15 bi-lhões de sacolas plásticas descartáveis foram distribuídas às lojas comerciais brasileiras em 2009. esses são os principais motivos que estão levando supermercados – que distribuem sacolinhas plásticas descartáveis de graça – a promover iniciativas que visam incentivar o consumidor a reduzir e até dis-pensar o uso desse produto.

segundo o ministério do meio ambien-te, Belo horizonte (mG) foi a primeira cidade brasileira a instituir, em 2007, uma legisla-ção para o assunto (a partir de 2011, todos

os estabelecimentos do município que não se adaptarem à lei serão penalizados). De-pois, vieram algumas outras cidades como Florianópolis (sc), sorocaba, Guarulhos e Jundiaí (sP). essas ações, no entanto, ainda são pontuais e tímidas diante da urgência da causa ambiental. até quando?

com informações do Planeta sustentável

Movimento antissacolinha Casa Cor sustentável

a busca por soluções sustentáveis em todos os projetos desenvolvidos por arquitetos e decoradores foi a linha-guia desse ano da casa cor, o maior evento de arquitetura e decoração das américas e o segundo maior do mundo.

os 120 ambientes apresentados se-guiram o tema “sua casa, sua vida, mais sustentável e feliz” e apresentaram ten-dências e novidades da área. espaços multifuncionais, o uso de madeira certi-ficada e de objetos reciclados, feitos por exemplo a partir de garrafas pet, foram algumas das alternativas mais vistas du-rante o evento.

com informações de casacor

Para quem acredita que o que realmen-te importa são as crianças que deixaremos para o mundo (e não o contrário), vem aí uma oportunidade para mostrar projetos educacionais sustentáveis que visam cons-cientizar a geração futura. trata-se da se-gunda edição do Prêmio ecofuturo de edu-cação para a sustentabilidade, que tem o “saber cuidar” como tema central e recebe

iniciativas e planos de aula que ajudem educadores a tratar de sustentabilidade em sala de aula de forma teórica e prática.

a inscrição vai de 25 de junho a 25 de agosto e é aberta para professores da rede pública e privada de educação infantil a ensino médio, além de educadores que atuem na eJa (educação para Jovens e adultos) e em outras instituições onde se

realizem atividades educacionais. os au-tores dos dez melhores projetos inscritos no concurso serão premiados com r$ 3 mil e uma coleção de títulos de literatura e ecologia.

mais informações no site www.pre-mioecofuturo.com.br.

com informações de Planeta sustentável

Os frutos (verdes) do ensino

Projetos e atividades ligadas à sustentabilidade em sala de aula serão premiados pela iniciativa

15 bi de descartáveis ainda são pouco

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59 Neo Mondo - Julho 2010

a Fundação Vanzolini, uma insti-tuição sem fins lucrativos, mantida e gerida pelos professores do Departa-mento de engenharia de Produção da escola Politécnica da universidade de são Paulo, acaba de lançar a certificação aQua para arenas e complexos espor-tivos multiuso.

esta novidade é voltada para ade-quar reformas e construções aos crité-rios de alta Qualidade ambiental para a copa do mundo de 2014 e as olimpí-adas de 2016. as categorias abordadas no processo envolvem questões como acessibilidade, segurança, impacto am-biental, economia de energia elétrica e de água, planejamento da gestão de resí-duos, entre outros.

com informações de infra Facility | Property

Construção sustentável para Copa e Olimpíadas

Parceria artesanal online

a rede norte-americana de supermer-cados Walmart anunciou uma parceria com a solidarium, uma empresa social com foco na articulação de acordos comerciais para desenvolver, fortalecer e ampliar uma rede de grupos produtores localizados em comunidades de baixa renda.

esse tipo de negócio está alinhado ao comércio Justo, um dos pilares da susten-tabilidade econômica e ecológica que visa estabelecer preços justos e padrões sociais e ambientais equilibrados.

estima-se que o projeto beneficie cerca de 150 homens e mulheres do Paraná, são Paulo, maranhão e minas Gerais, que contarão com o pagamen-to 50% adiantado pela companhia. será possível adquirir os produtos fabricados pelo site www.walmart.com.br.

com informações de supermercado moderno

Hidropirataria volta para a pauta

Você leitor de neo monDo se lem-bra de uma reportagem denunciando o roubo de água de rios da amazônia por navios estrangeiros (edição 32 / março 2010)? Pois esse mesmo tema voltou à tona no final de junho em uma audiência pública na comissão da amazônia, que reuniu vários órgãos do executivo para debater essas denúncias.

o tema, no entanto, foi contestado por representantes da marinha, da Po-lícia Federal e do ministério do meio ambiente, que informaram que até hoje não foi feita nenhuma denúncia formal de hidropirataria na região amazônica.

o coordenador de articulação e comunicação da agência nacional de Águas (ana), antonio Félix Domin-gues, foi um dos presentes que argu-mentou que esse tema é um mito. “não temos a menor evidência nem funda-mento sobre essa denúncia por uma simples razão: economicamente, não é viável para ninguém pegar água na foz do rio amazonas e levar, por exemplo,

para os países do oriente médio, porque o custo do frete e do tratamento dessa água é três, quatro, cinco vezes superior ao custo da dessalinização dessa água em israel ou na arábia saudita.”

a advogada ilma Barcelos, auto-ra das denúncias publicadas na revista consulex e ligada à comissão de meio ambiente da oaB do espírito santo, disse que vai formalizar a denúncia. “eu

já tinha certeza absoluta que essas ques-tões seriam negadas porque ninguém vai assumir que é incompetente em al-gum órgão. eu continuo afirmando que existe uma grande omissão por parte das autoridades em verificar, de forma responsável, essa questão do tráfico de água doce.”

com informações de correio do Brasil

Selo leva em conta acessibilidade, segurança e economia

Autoridades negam, mas advogada insiste em que o que há na verdade é omissão em apurar as denúncias

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Neo Mondo - Outubro 200860