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Economia solidária e as políticas públicas na Amazônia Brasileira: o Programa “Bolsa Trabalho” no Estado do Pará1
Roselene Portela2 Vera Lúcia Batista Gomes3
Modalidade de Trabalho: Presention de experiencias profissionals y
metodologia de intervencion Eixo temático: Politicas Sociales y desarrolo no contexto neoliberal y
os desafiso para o Trabalho Social Palavras Chaves: Economia Solidária, Políticas Públicas e Bolsa
Trabalho 1 Introdução
O presente trabalho tem por objetivo analisar a experiência do programa “Bolsa
Trabalho” como parte da Política Pública de Geração de Trabalho Emprego e Renda do
governo do Estado do Pará. Este Estado situa-se na Amazônia brasileira e é conhecido
por suas riquezas minerais e florestais, porém, contraditoriamente a maioria de sua
população está sujeita a condição de pobreza, devido à forma como esta região tem se
inserido, ao longo dos anos, na dinâmica econômica nacional e internacional. As regiões
que agregam esses municípios são marcadas por particularidades geofísicas, culturais,
sócio-econômicas e populacionais, as quais têm estimulado os investimentos em
empreendimentos econômicos voltados para a extração mineral e agropastoris, como
pode ser constatado no Estado do Pará, através do Projeto Tucuruí, Grande Carajás,
Albras/Alunorte, dentre outros. Tais projetos estão centrados em altas tecnologias
distanciadas das condições da realidade amazônica, pois como se sabe, a instituição do
trabalho livre no Brasil acompanhou o desenvolvimento industrial, impulsionado pelas
exigências externas, e também, pelas aspirações da elite política brasileira, expressas
nos pactos firmados com os representantes da nascente da burguesia industrial, cujas
raízes encontram-se nas oligarquias agrárias da cana de açúcar e nos latifúndios do café.
1 Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009. 2 Assistente Social, doutoranda pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia-NAEA – Universidade Federal do Pará – Brasil. E-mail: [email protected] 3 Assistente Social, professora do curso de serviço social da Universidade Federal do Pará-UFPA- Brasil, doutora em Sociologia do Trabalho pela Université de Picardie “Jules Verne”- Amiens-France.E-mail: [email protected].
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Sendo assim, na Amazônia, o trabalho assalariado nunca teve uma expressão
significativa, visto que foi somente com a implantação dos grandes projetos na Amazônia,
gerados no contexto da Ditadura Militar, que se vêem formas de assalariamento. Dessa
forma, o modelo de desenvolvimento regional imposto para a Amazônia tem resultado no
aumento da concentração de renda e no processo de urbanização das cidades, devido à
migração de certos segmentos populacionais do interior do Estado do Pará. Esta situação
tem conduzindo a proletarização destes segmentos sociais que passam a viver em
assentamentos informais, particularmente, em bairros periféricos e favelas da cidade,
gerando a segregação sócio-espacial. Dessa forma, impedidos de ingressarem no
mercado de trabalho formal por razões históricas e estruturais, tais segmentos
populacionais, sobretudo a juventude, tem procurado oportunidades para a inserção no
mundo do trabalho, dentre os quais os programas vinculados às políticas de geração de
emprego, trabalho e renda, a exemplo, o Programa Bolsa Trabalho, no Estado do Pará
que se apresenta como uma tentativa de respostas à inserção no mundo do trabalho,
tendo em vista as mudanças contemporâneas nos processos de produção e de
organização do trabalho conduzindo a profundas transformações no mundo do trabalho,
as quais têm se reconfigurado com o aumento do desemprego, a precarização e a
flexibilização das relações de trabalho.
Com efeito, o acesso ao emprego formal, competitivo, tecnicamente qualificado, e
conseqüentemente, sintonizado com a lógica neoliberal impregna a vida social tornando-
se uma realidade cada vez mais distante para amplos segmentos da população em
escala mundial. Com efeito, a crise salarial no Brasil ganha visibilidade a partir dos anos
90 e as novas formas de organização do trabalho associativista passam a ser
desenvolvidas como reação à crise do trabalho assalariado, uma vez que os Planos de
Desenvolvimento Nacional e Regional têm priorizado a implantação do parque da
indústria nacional voltado a grandes plantas fabris. Estas foram estruturadas,
principalmente, na região sudeste e na Amazônia. Dessa forma, impedidos de
ingressarem no mercado de trabalho formal por razões históricas e estruturais, tais
segmentos, sobretudo as mulheres, constroem estratégias de sobrevivência vinculadas à
geração de trabalho e renda, a exemplo, o trabalho associativista em cooperativas,
associações e grupos de produção, com base na economia solidária.
No Brasil, a expansão da economia solidária é inquestionável (GAIGER, 2004).
Seus protagonistas diretos encontram-se pressionados, de um lado, pela crise estrutural
do mercado de trabalho e, por outro lado, se vêem motivados pela ação mobilizadora dos
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movimentos sociais, parcelas do sindicalismo e inúmeras entidades civis que buscam
criar alternativas para a crise estrutural do trabalho assalariado e às formas de
precarização. Nessa perspectiva, o governo do Estado do Pará por meio da Secretaria de
Estado de Trabalho, Emprego e Renda-SETER, ao criar o Programa Bolsa Trabalho
coloca o Trabalho como uma estratégia de desenvolvimento, ao invés de considerá-lo
como uma resultante do crescimento econômico e das exigências do mercado quanto à
competitividade tenta estimular um novo modelo de desenvolvimento sustentável que
responda as necessidades de diminuição das desigualdades sociais. Para tal, o governo
do Estado do Pará/SETER firmou convênio com a UFPa, para executar o Projeto
“Incubação de Empreendimentos Solidários no Estado Do Pará”, através do Programa de
Extensão “Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos
Solidários”- PITCPES vinculado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas-ICSA-UFPA.
Este trabalho está divido em três partes: a primeira analisa as políticas públicas
na Amazônia brasileira relacionando com as formas de expropriação e exploração dos
seus recursos naturais pelo grande capital nacional e internacional, evidenciando o papel
da Amazônia na divisão nacional e internacional do capital e do trabalho como
fornecedora de matéria-prima e como espaço de reprodução da força de trabalho. A
segunda parte trata da concepção do Programa Bolsa Trabalho, enquanto uma política
pública voltada para a geração de trabalho e renda, assim como a sua forma de
operacionalização (metodologia Incubação de Empreendimentos Solidários) e gestão,
objetivando promover uma política estadual de inclusão social com investimento em
formação profissional, visando oportunizar o acesso de jovens paraenses, de baixa renda,
ao mundo do trabalho. Ao final apresentam-se as considerações finais destacando a
Economia Solidária, enquanto uma política voltada para a geração de trabalho e renda, a
qual tem um papel fundamental na Amazônia brasileira, visto que a intervenção do poder
local nas expressões da questão social nos vários estados localizados na Amazônia, em
particular o Pará, tem sido feita de forma tênue, frágil quase sempre por meio de ações
governamentais em nível federal, programas que não enfrentam os determinantes
estruturais que condicionam gerações inteiras à reprodução de práticas sociais que
mantêm as velhas estruturas de poder em regiões como a Amazônia.
2 As políticas públicas na amazônia brasileira
Analisar a experiência do Programa “Bolsa Trabalho” com integrante da política
pública de geração de trabalho, emprego e renda no Estado do Pará, implica
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necessariamente, em situar essa política no contexto político, econômico e social da
Amazônia brasileira. Segundo Silva (2007) a “Região Amazônica é caracterizada como
uma grande fronteira de ocupação produtiva e de produção ambiental. Em termos
geográficos, trata-se de uma grande bacia geográfica e dimensões continentais (de
soberania compartilhada por 5 países e da maior reserva florestal e de diversidade do
mundo)” (p.114).
Contudo, a Amazônia preserva a sua particularidade em relação a outras regiões,
por ser a única do país que se encontra resguardada do saque definitivo e praticamente o
último e grande espaço ainda não ocupado pelos padrões de densidade econômica e
populacional existente no mundo capitalista, embora seja a região onde se concentram as
maiores estatísticas de violência rural4. O compromisso do Estado na defesa dos
interesses do grande capital nacional e internacional se expressa pela invisibilidade dos
sujeitos sociais amazônidas e pela visibilidade de planos econômicos e empresariais em
crise. Estes precisam ver redefinido o papel da Amazônia na divisão nacional e
internacional do capital e do trabalho como fornecedora de matéria-prima e como espaço
de reprodução de uma força de trabalho com singularidade. Nesse processo, transformam
parcela significativa de trabalhadores sem experiência de assalariamento, como os
descendentes negros escravizados, conhecidos como quilombolas e descendentes de
índios, denominados de caboclos, em assalariados secundários, uma vez que esses
trabalhadores, ao serem inseridos nos processos de proletarização, auferem salários
irrisórios, quando não utilizados em regime de trabalho forçado, análogo ao escravo5
(GOMES e NASCIMENTO, 2007).
O modelo exportador e concentrador de renda se expressa na Amazônia,
inicialmente, por meio do Plano Nacional de Integração-PIN (Decreto-lei 1.106 de
16/06/1970) e nos I e II Planos de Desenvolvimento que projetam o Estado do Pará como
um grande pólo de desenvolvimento baseado em atividades voltadas para uma vocação
extrativista: a pecuária, a agricultura e, principalmente, a exploração de minerais para
atender as indústrias siderúrgicas do Brasil (com exceção da região Norte), Europa e
Estados Unidos. Sendo assim, no final dos anos 80, foram implantados os grandes
4 Segundo os últimos dados da Comissão Pastoral da Terra-CPT/Pa, em trinta e três anos, 772 pessoas foram mortas no Estado em decorrência de conflitos no campo (GOMES e NASCIMENTO, 2007). 5 A Delegacia Regional do Trabalho-DRT/Pará tem indicado que o Estado do Pará é um dos campeões deste tipo de experiência. Em 2006 foram registrados 560 trabalhadores nessa condição, destacando a Pecuária e o setor da produção de carvão mineral como os principais expoentes de escravidão.
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empreendimentos na Amazônia que começaram um processo de modernização com
mudanças significativas nas relações de trabalho, em especial nos padrões de gestão da
força de trabalho e do processo produtivo que refletiu no interior da empresa e também da
ampliação de um mercado terceirizado. Mais recentemente, ampliaram-se as práticas de
subcontratação de serviços menos chaves no processo produtivo, mesmo para atividades
antes consideradas típicas do desempenho da empresa principal (CASTRO, 1998). Este
quadro se torna mais grave no Estado do Pará, pelo fato de que a riqueza expressa na
exploração dos recursos extrativistas de alto valor de troca não tem tornado a existência
da maioria dos habitantes da Amazônia mais digna, pois os dados do Índice de
Desenvolvimento Humano-IDH do Brasil, no 1970 a 1996 pouco se alteraram, conforme
foi referido na parte introdutória deste artigo. Constata-se assim que a atuação do Estado
no que tange a reprodução social, ou seja, nas condições de vida da maioria dos
trabalhadores brasileiros e, em particular os amazônidas, prioriza claramente os
investimentos para as empresas transnacionais e o empresariado nacional. Sendo assim,
existe um movimento do capital diferenciado nas diversas regiões a partir do que se
define como processos produtivos mais afinados com o modelo de valorização clássica de
acumulação e com as formas de produção e reprodução pautadas em meios e modos de
vida não necessariamente mercantilistas. Dessa forma, a intervenção do poder local nas
expressões da questão social nos vários estados localizados na Amazônia, em particular,
o Pará tem sido feita de forma tênue, frágil quase sempre por meio de ações
governamentais em nível federal, programas que não enfrentam os determinantes
estruturais que condicionam gerações inteiras à reprodução de práticas sociais que
mantêm as velhas estruturas de poder em regiões como a Amazônia. É com base nessas
considerações que a SETER, a partir de setembro 2007 implantou no Estado do Pará,
uma política pública voltada para a geração de oportunidades de acesso à permanência
do cidadão no mundo do trabalho, possibilitando a valorização e dignidade do trabalho
humano com base num modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo e
ambientalmente sustentável (BARBOSA, 2008).
3 O programa bolsa trabalho e a economia solidária
O Programa Bolsa Trabalho foi instituído por ato normativo do Governo do Estado,
expresso pela Lei 7.036 de 14 de setembro de 2007. A referida Lei regulamenta, em
linhas gerais, o funcionamento do Programa, definição do público alvo: jovens na faixa
etária de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, pertencentes, a famílias de baixa renda,
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preferencialmente os inseridos no Programa Bolsa Família, desempregados, residentes
no Pará, que possuam no mínimo 05 (cinco) anos de escolaridade, com ênfase naqueles
que estejam concluindo o ensino médio ou que o tenham concluído no máximo há 02
(dois) anos e que não estejam cursando ensino superior; sua área de abrangência, o
sistema de cooperação técnica e parcerias, bem como, a destinação de recursos
orçamentários do tesouro estadual, específicos para sua execução, garantindo
sustentabilidade legal e material para o programa (IBID, 2008).
A SETER é responsável pela gestão do mencionado programa, a qual segue o
modelo de desenvolvimento adotado pelo Governo do Estado do Pará, caracterizado por
um governo democrático, participativo e popular. A metodologia do Programa inicia com a
seleção e cadastro do público alvo, partindo do banco de dados do Programa Bolsa
Família. O Programa prevê ainda a metodologia de Incubação das cooperativas e
empreendimentos solidários populares, a qual está sendo realizado através de Convênio
firmado com a UFPA para a execução do projeto “Empreendimentos Solidários no estado
do Pará”, objetivando a formação com base na tecnologia de Incubação de
empreendimentos solidários e a construção de um novo regionalismo, centrado no
desenvolvimento do Estado do Pará, tendo em vista a inclusão social, portanto, a redução
das desigualdades sócio-econômicas e o respeito à diversidade cultural e a viabilização
de atividades econômicas estratégicas que possibilitem a geração de trabalho e renda
(IBID, 2008).
3.1 A metodologia incubação de empreendimentos solidários: estratégia de
inserção ao mundo do trabalho
O PITCPES/UFPA desde 2001 vem disponibilizando transferência de tecnologia
social através do processo de incubação de empreendimentos solidários visando à
organização, a formação e a inovação de unidades produtivas, assim como a identificação
de empreendimentos solidários inseridos nos arranjos produtivos locais e nas cadeias
produtivas, devido a grande potencialidade de inserção no mercado local, regional,
nacional e internacional possibilitando o desenvolvimento regional, na perspectiva da
geração de trabalho e renda articulados com políticas públicas.
As Incubadoras Tecnológicas nas universidades brasileiras têm se constituído
em experiência do desenvolvimento de tecnologias sociais voltadas para apoiar políticas
públicas voltadas para a inserção no mundo do trabalho. Assim, a metodologia de
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Incubação consiste em ações participativas baseadas nos princípios da economia
solidária e do trabalho cooperativo e associativista que se opera através de um processo
dialógico, objetivando fortalecer o protagonismo do grupo e a sua autonomia em relação à
equipe do PITCPES. O processo de construção de empreendimentos solidários se
exercita pela auto-gestão e pela economia solidária popular pautada nos saberes e
conhecimentos locais. Trata-se de uma metodologia baseada na educação popular (troca
de informação e na socialização de saberes), tendo em vista o desenvolvimento de ações
sustentáveis e solidárias, na perspectivas da geração de trabalho e renda. Dessa forma, o
trabalho solidário deve se constituir num instrumento gerador de satisfação e de
atendimento as necessidades dos envolvidos nessa forma de trabalho.
Assim, o mencionado projeto possui uma meta de 2000 (dois) mil bolsistas para
serem formados no período de 2008-2009. Tem como área de abrangência a Região
Metropolitana de Belém-RMB6 e o município de Marabá. Os beneficiários do Projeto são
orientados para a organização coletiva do trabalho visando à formação dos
empreendimentos solidários, com base no plano de negócio, em fase de elaboração. De
acordo com a situação de cada empreendimento são efetuadas articulações com
instituições de incentivos à inovação tecnológica do processo produtivo e ao crédito para
os respectivos empreendimentos, visando assegurar a qualidade da produção dos
mesmos no mercado. Com efeito, as cadeias produtivas com potencial para a formação
dos mencionados empreendimentos solidários são, em geral, relacionados ao setor de
serviços, o que de certo segue a tendência mundial em termos de geração de postos de
trabalho na contemporaneidade. Este fato pode ser atribuído as grandes alterações no
mundo do trabalho que têm gerado o aprofundamento da crise social, agravado pela
“incapacidade do Estado enfrentar a demanda por maior proteção social devido a sua
crise geral: fiscal-financeira, de planejamento, de gestão e regulação, com conseqüências
para a ruptura do padrão de estruturação do mercado até então vigente, representada por
um conjunto de manifestações inter-relacionadas, tais como: crescimento patológico do
setor terciário, comércio e serviços (terceirização), com destaque ao comércio ambulante
e serviços pessoais” (SILVA e SILVA, YASBEK: 2006, p.11).
6 A RMB até 1995 era composta por dois municípios: Belém e Ananindeua. Sua institucionalização se deu através de Lei complementar pelo governo Federal em 1973. Em 1995 a região foi ampliada e passou a fazer parte, além dos municípios iniciais, os municípios de Marituba, Benevides e Santa Bábara.
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Assim, entende-se que as atividades que serão desenvolvidas nos
empreendimentos solidários apresentam um potencial significativo para a inserção no
mercado de trabalho, tais como: 1) cuidador de idosos, 2) confecções e acessórios em
geral, mais especificamente a moda verde, 3) alimentação e a cadeia produtiva do
Artesanato. Como parte do processo de formação profissional dos bolsistas, está sendo
elaborado o plano de negócio dos empreendimentos que consta da previsão da
capacidade instalada de produção dos empreendimentos, assim como, os recursos
financeiros necessários para a aquisição da matéria prima, dos equipamentos, formas de
gestão e oportunidade de comercialização e mercado. Quanto à organização econômica
dos mencionados empreendimentos disponibiliza-se o conhecimento sobre gestão de
empreendimentos populares, por meio de cursos sobre contabilidade básica; legislação;
viabilidade econômica do empreendimento; demonstrativo administrativo financeiro;
noções de custo e plano de negócio. Portanto, a incubação envolve a ação de
fortalecimento da organização social e a consolidação da estrutura produtiva ou do
serviço ofertado pelos empreendimentos solidários e o desenvolvimento do processo de
comercialização, possibilitando sua inserção nos mercados locais, regionais e
internacionais. A desincubação dos empreendimentos solidários se constitui a última
etapa do processo de Incubação e deverá ocorrer com a formalização e início do
funcionamento dos empreendimentos solidários, dependendo fundamentalmente da
dinâmica do processo de auto-gestão e do acompanhamento técnico até 01 (um) ano,
possibilitando o re-ordenamento das ações realizadas por cada empreendimento solidário
constituído.
4 Considerações finais
Pelo exposto, constata-se que a Economia Solidária, enquanto uma política
voltada para a geração de trabalho e renda tem um papel importante na Amazônia
brasileira, visto que a intervenção do poder local nas expressões da questão social nos
vários estados localizados na Amazônia, em particular, o Pará, tem sido feita de forma
tênue, frágil quase sempre por meio de ações governamentais em nível federal,
programas que não enfrentam os determinantes estruturais que condicionam gerações
inteiras à reprodução de práticas sociais que mantêm as velhas estruturas de poder em
regiões como a Amazônia. Sendo assim, o trabalho informal no Estado do Pará, segundo
o DIEESE apud Gomes (2006) estima-se que aproximadamente um milhão e meio de
pessoas sobrevivem do trabalho informal, sem garantia de direitos sociais, dentre os
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quais, os direitos previdenciários e trabalhistas. Esta realidade do mundo do trabalho
contribui, de forma significativa, para o surgimento de novos sujeitos sociais e para a
construção de novos espaços institucionais com base na economia solidária, à medida
que esta se apresenta como uma das alternativas para milhares de trabalhadores e
trabalhadoras que buscam alterar suas condições de vida sob a forma de organização
coletiva do trabalho nas mais diversas regiões. Dessa forma, a economia solidária no
interior do Governo Federal tem o objetivo de combater a pobreza e, simultaneamente, de
propiciar a inclusão social, se constituindo, portanto, uma política pública de caráter
transversal. É nesta perspectiva que se coloca o Programa “Bolsa Trabalho” que tem
como objetivo central contribuir para a criação de políticas públicas no estado do Pará
voltadas para a geração de trabalho e renda.
Contudo, a eficácia desse programa exige a sua articulação com outras polítcas
públicas, a exemplo: saúde e saneamento, educação, não somente o acesso a
escolarização, mas, sobretudo, a creche devido os beneficiários do projeto serem, em sua
maioria, mulheres, mães-solteiras com filhos na faixa etária de 0 à 12 anos. Caso
contrário, torna-se difícil o alcance de seus objetivos, pois: como os empreendimentos
podem desenvolver atividades de alimentação sem água e sanemaneto básico? Como as
mulheres envolvidas nesse programa poderão participar ausentar-se de casa para realizar
as suas atividades profissionais, se não possuem retargarda para deixar os seus filhos?
Esta questão torna-se fundamental, visto que ainda no processo de formação para os
empreendimentos solidários, é significativo o número de evasão das bolsistas, por não
terem com quem deixar os seus filhos ao se sairem de casa. Além disso, há que
considerar a necessidade da participação dos usuários na formulação de tais políticas,
haja vista, que não raro são aqueles que não se identificam com essa forma de trabalho
coletivo, porém se mantêm no programa somente para continuarem recebendo o valor de
R$ 70,00 (setenta reais) referente à bolsa trabalho. Esta situação ganha sentido pelo fato
de que a maioria dos bolsista ainda tem como referência de trabalho, o assalariamento,
devido a possibilidade de acesso a certos direitos sociais e trabalhistas.
A implantação e a execução de tais políticas não sejam balizadas pelos objetivos
quantitativos de cunho eleitorais. Isto é, há necessidade de transparência na escolha do
tipo de formação que os bolsistas possuem identidade e, assim, não sejam cadastrados
apenas para cumprir metas de campanha política, o que ficou explícito quando foi
efetuado cadastro de bolsistas para o projeto de qualificação através de cursos
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(operadora de caixa, recepcionista, secretária, etc.) que possibilitavam a inserção no
mercado de trabalho formal e não para o trabalho coletivo com base na economia
solidária. Este fato contribuiu para a desmotivação, a desistência e evasão de certos
bolsistas do programa. Aliado a isso, outros fatores tem concorrido para a evasão dos
bolsistas, tais como: dificuldade sócio-econômica vivenciada pelos bolsistas levando-os a
inserção imediata no mercado de trabalho, de forma que alguns já se encontram inseridos
em determinados trabalhos, ainda que precários; bolsistas-mães com crianças recém-
nascidas e/ou com dificuldades de apoio para cuidarem de seus filhos menores, enquanto
encontram-se participando das atividades formativas do trabalho coletivo com
empreendimentos solidários; a maioria dos bolsistas terem como referência de trabalho, o
assalariamento, isto é o trabalho formal; cultura individualista decorrente nos valores
inerentes ao modo de produção capitalistas, dificultando o interesse pelo trabalho coletivo.
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