economia industrial - barreiras a entrada
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Barreiras à Entrada e Defesa da Concorrência: NotasIntrodutórias
Jorge Fagundes *
João Luiz Pondé **
I - Introdução
O objetivo deste artigo é discutir o conceito de barreiras à entrada, de
modo a evidenciar a sua importância para a análise antitruste, sobretudo no
âmbito dos julgamentos de atos de concentração econômica. Em particular,
como se verá adiante, verifica-se que a presença de um baixo nível de barreiras
à entrada em um mercado relevante - ou seja, a existência de forteconcorrência potencial - é suficiente para impedir o surgimento e /ou o
exercício de poder de mercado por parte de empresas.
Com esse propósito, o artigo está dividido em quatro seções, além desta
introdução. A segunda seção apresenta e discute os principais aspectos
teóricos do conceito de barreiras à entrada. A terceira seção analisa o papel das
barreiras à entrada no âmbito da moderna teoria dos mercados constestáveis. A
quarta seção incorpora as barreiras à entrada na dimensão da análise de atos
de concentração. Finalmente, a última seção resume as principais conclusõesdeste artigo.
II - Barreiras à Entrada: Aspectos Teóricos
A análise das barreiras à entrada de uma indústria, com o objetivo de
identificar e avaliar os determinantes do seu desempenh o, foi originalmente
desenvolvida pelos trabalhos de Joe Bain e Paolo Sylos-Labini no anos
cinquenta. As contribuições teóricas destes autores propiciaram a base sobre aqual foi construído o paradigma Estrutura- Conduta- Desempen ho (ECD).
* Professor da Universidade Cândido Mendes.** Professor do Instituto de Economia da UFRJ.
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QUADRO I
O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
ESQUEMA ANALÍTICOESTRUTURA
número de produtores e compradores, diferenciação de produtos,barreiras à entrada, estruturas de custos, integração vertical,
diversificação
1
CONDUTApolíticas de preços, estratégias de produto e vendas, pesquisa e
desenvolvimento, investimentos em capacidade produtiva1
DESEMPENHOAlocação eficiente dos recursos, atendimento das demandas dos
consumidores, progresso técnico, contribuição para a viabilização dopleno emprego dos recursos, contribuição para uma distribuição
equitativa da renda, grau de restrição monopolística da produção emargens de lucro
Fonte: Adaptado de Scherer e Ross (1990).
Os modelos ECD buscam, sinteticamente, derivar de características da
estrutura do mercado conclusões acerca do seu desempenho em termos de
alguma variável escolhida, supondo para isso que as condutas das empresas
são fortemente condicionadas pelos parâmetros estruturais vigentes. O quadro
I apresenta o esquema analítico básico.
Assim, torna-se possível identificar os fatores estruturais que
condiciona m as condutas de fixação de preços das empresas e,
conseqüentement e, podem levar a situações de elevação abusiva de margensde lucro e prejuízos para os consumidores. Basicamente, considera- se que, em
um mercado no qual as empresas têm o poder de decidir o preço a ser cobrado
pelos produtos vendidos, estes e as margens de lucro serão tanto maiores
quanto mais:
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(i) as cond ut as das firmas já existent es no merca do
apresentem um grau elevado de coordenação, seja
através de acordos tácitos, liderança de preços ou
cartelização;
(ii) elevada for a exposição destas empresas à
concorrência potencial, ou seja, à ameaça de entrada
de novos concorrentes, atraídos pelas margens de
lucro praticadas no mercado.
O principal fator estrutural a afetar o grau de coordenação das condutas
das empresas estabelecidas, segundo Bain (1958), é o nível de concentração da
produção e das vendas, visto ser razoável supor que comportame ntos colusivosserão mais facilmente implementados quando um reduzido número de firmas
do mi na o merca do. Em merca do s conce nt ra dos, por consegui nt e, a
intens idade da concorrência potencial, inversamente proporcional à
magnitude das barreiras à entrada existentes, é um elemento crucial na
determinação do desempenh o observado 1.
Neste sentido, Possas (1985) enfatiza o consenso dos teóricos do
paradigma ECD em "tomar a concentração econômica como o elemento básico
da estrutura [do mercado] e a intensidade das barreiras à entrada como umindicador-chave do poder de mercado das empresas oligopolistas e co-
determinante do nível de preços" (p. 95), assumindo que "é possível formular
algum nível de generalização teórica sobre a relação entre preços (margens de
lucro) e barreiras à entrada" (p. 109).
Bain (1958) define a "condição de entrada" de uma indústria como o
"estado de concorrência potencial" de possíveis novos produtores/vendedor es,
podendo ser avaliada pelas vantagens que as firmas estabelecidas possuemsobre os competidores potenciais, sendo que estas vantagens se refletem na
capacidade de elevar persistentemente os preços acima do nível competitivo
sem atrair novas firmas para a indúst ri a em questão 2. Tais vantagens
constituem exatamente o que se denomina "barreiras à entrada". Por sua vez,
1 Já que as firmas existentes atuam colet ivamente e não competem diretamenteatravés de reduções de preços.
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uma entrada consiste no estabelecimento de uma nova empresa que constrói
ou introduz uma nova capacidade produtiva em uma indústria/mercado3.
Exclui-se do conceito de entrada:
(i) a compra de uma empresa (ou p lanta) já atuan te poroutra que não atuava no mercado;
(ii) a expansão da capacidade de uma empresa já
existente;
(iii) a entrada de uma empresa já estabelecida em outra
indústria, que apenas altera a forma de utilizar sua
capacidade adicionando um novo produto à sualinha de produtos.
Resumidamente, o argumento exposto diz que
E = (Pl - Pc)/Pc, onde
E=condição de entrada;
Pl=preço limite (máximo que pode ser cobrado sem
atrair novos concorrentes);Pc=preço que seria cobra do em um mercad o
competitivo (com lucros normais).
Tem- se que Pl = Pc (1+E), ou seja, quanto mais difícil a entrada de novos
concorrentes em um mercado, maior o preço que um conjunto de empresas
2Devendo- se notar que, "as such, the 'condition of entry' is then a primarily structural
condition. Its reference to market conduct is primarily to potential rather than to actualconduct, since basically it describes only the circumstances in which the potentiality of
competition from new firms will or will not become actual" (Bain, 1958, p.3).3 O concei to de ent rada também é importan te para a definição do "mercadorelevante" em análises antitruste, pois permite distinguir entre efeitos de substituiçãona oferta e o surgimento de um novo concorrente. Segundo Scherer e Ross (1990, p.76), "at the risk of being somewhat arbitrary, we should probably draw the line to
include as substitutes only existing capacity that can be shifted in the short run, that is,
without significant new investment in equipment and work training".
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oligopolistas, adotando comportamentos colusivos, pode adotar sem ser
ameaçado por concorrentes potenciais.
As barreiras à entrada, dada a natureza dos seus determinantes que
serão listados a seguir, são estruturais, estáveis e se modificam lentamente notempo, além de não poderem ser facilmente alteradas pelas entrantes
potenciais. Isto permite considerar a condição de entrada e seus determinantes
como, primariamente, condicionantes estruturais do comportamento das
firmas e não como um resultado deste comportamento.
A literatura de organização industrial desenvolve uma análise dos fatores
determinantes da existência e magnitude das barreiras à entrada que permite
classificá-las em quatro tipos básicos.
As barrei ras à entrada assentadas na diferenciação de produto
decorrem da presença de elementos que fazem com que os consumidores
considerem mais vantajoso adquirir um produto de empresas já existentes do
que similares oferecidos por novos concorrentes. A intensidade de tais
barreiras será tanto maior quanto maiores:
(i) o con trole do acesso à tecnologia necessária pa ra
projetar os produtos por parte das firmas existentes,através de mecan ismos legais de cont role da
propriedade industrial , segredos industriais ou
presença de conhecimentos tácitos difíceis de serem
imitados 4;
(ii) o monta nte de gastos com propagan da e vendas
requeridos para garantir a fidelidade dos
consumidores, impondo aos novos concorrentesdespesas elevadas para tornar seu produto
conhecido e aceito no mercado;
4 A forma como este controle é garantido varia de acordo com característ icas dossetores. Em indúst rias como a farmacêutica, por exemplo, as patentes dão ummecanismo fundamental de proteção, enquanto nas indústrias mecânicas o carátertácito dos conhecimentos tem um peso maior.
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(iii) a durabi lidade e complexidade dos produtos , que
tornam a reputação destes decisiva da decisão de
compra dos consumidores e fazem com que um
novo concorrente tenha que incorrer em gastoselevados durante um período considerável de tempo
para convencer o consumidor das qualidades do seu
produto;
(iv) a presença de prá ticas e canais de dis tribuição que
limitam a utilização de determinadas formas de
acesso ao consumidor para novos concorrentes,
como por exemplo contratos de exclusividade comrevendedores; e
(v) a p resença de "consumo conspícuo", que valoriza o
prestígio de certos produtos e torna a marca um
elemento crucial nas decisões de compra dos
consumidores.
É importante notar, dada a presença de um ou vários destes elementos
em um dado mercado, que o nível das barreiras à entrada será menor paraentrantes que já atuam em indústrias correlatas, ou seja, em movimentos de
diversificação nos quais as empresas que os realizam já possuem ativos capazes
de facilitar sua atuação em novas áreas5. Além disso, deve- se lembrar que existe
casos em que a diferenciação de produto pode atuar no sentido de favorecer a
entrada , abrindo opor tunidade para a introdução de inovações por um
entrante potencial, que atrai o consumidor oferecendo um produto com novas
características.
5 Uma empresa que atua no mercado de refrigerantes, por exemplo, provavelmente seencontra em uma posição relativamente favorável para entrar no mercado de cervejas,visto que já possui uma estrutura de distribuição montada. Fenômeno semelhante severifica por similaridades nas bases técnicas de diferentes indústrias, criando, porexemplo , oportun idades para que empresas da indústr ia de equipamentos detelecomunicações entrem em segmentos da indústria de informática.
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As barreiras à entrada decorrentes da presença de vantagens absolutas
de custo para as empresas já existentes se fazem presentes quando estas têm
acesso exclusivo a determinados ativos ou recursos, o que lhes permite
fabricar, com a mesma escala de produção de um entrante potencial , a um
custo mais baixo. Tais vantagens se originam dos seguintes fatores:
(i) capacitação de recursos hum an os qualificados,
fazendo com que o entrante tenha dificuldades em
recrutar o pessoal adequado e frequentemente se
veja obrigado a pagar remune rações mais elevadas;
(ii) tecnologias que estão disponíveis apenas para as
firmas já estabelecidas, seja devido a mecanismoslegais de proteção da propriedade intelectual, como
as patentes, seja devido a dificuldades de imitação
que são inerentes ao conhecimento tecnológico, por
sua complexidade e presença de elementos tácitos;
(iii) controle do suprimento de matérias- primas através
da integração vertical, fazendo com que o entrante
tenha que pagar mais caro por seus insumos ou
recorrer a substitutos imperfeitos;
(iv) compra de matérias primas mais baratas pelas
empresas já estabelecidas, devido a contra tos
exclusivos ou compra em grandes volumes;
(v) menor custo de obtenção de capital para as
empresas estabelecidas, oriundo de imperfeições no
mercado de capitais e da maior facilidade de queestas dispõem no uso de fundos próprios para
financiar seus investimentos;
(vi) menores custos devido à integração vertical,
elevando os requerimentos e capital para um
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entrante eventual e criando barreiras "absolutas" à
entrada.
Também neste caso as barreiras à entrada podem se apresen ta r
reduzidas no caso de entrantes oriundos de indústrias correlatas, visto queestes possuem em maior grau recursos humanos qualificados, tecnologia,
acesso a fontes internas e externas de financiamento ou unidades integradas
verticalmente na produção de alguns insumos.
Por outro lado, em certos casos o entrante pode usufruir de vantagens
por ser uma firma completamente nova, já que isso lhe permite planejar e
construir uma planta utilizando soluções técnicas de última geração, situação
que se most ra importan te no caso de bens de capital que apresen tamtrajetórias tecnológicas com "safras" de modelos bem definidas6. Estes fatores
podem reduzir significativamente, ou mesmo eliminar, outras vantagens de
custo que as firmas já estabelecidas eventualmente possuam.
Um terceiro tipo de barreiras à ent rada resulta da presença de
economias de escala, sejam estas reais - derivadas de redução de custos, cuja
obte nç ão exije o aume nt o das dimens ões da plant a ou da firma - ou
pecuniárias - derivadas do pagamento de preços menores na aquisição de
insumos, incluindo aqui menores custos com transporte, propaganda e outrosgastos relacionados às vendas7. As economias de escala reais usualmente são
classificadas em três categorias:
(i) técnicas , r esultan tes do uso de equipamentos mais
eficientes;
(ii) gerenciais, resultantes da divisão de gastos gerenciais
fixos em uma produção mais elevada;
6 Supõe-se aqui que quem está na safra antiga enfrenta custos elevados para adaptarseus equipamentos às configurações da nova safra (o que às vezes é até mesmoimpossível) ou para se desfazer dos equipamentos ant igos antes do final da suadepreciação.7 A diferença portanto está em que as economias reais de escala reduzem o montanteuti lizado de fatores de produção ou insumos por unidade de produto, enquanto aseconomias pecuniárias de escala resultam do menor preço pago pelos fatores ouinsumos adquiridos.
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(iii) decorrentes da maior especialização do trabalho.
A presença des tas economias de escala se dá quando, dadas as
dimensões do mercado e a escala mínima que viabiliza economicamente a
operação de um entrante potencial, este espera que, como resultado da suaentrada no mercado, a oferta do(s) produto(s) em questão se eleve ao ponto de
eliminar os lucros extraordinários que tornariam atrativa a operação no setor.
Obviamente, a existência de barreiras deste tipo exige a presença de custos
irrecuperáveis vinculados à efetivação da entrada (sunk costs), sem os quais
valeria a pena para o entrante entrar e sair rapidamente do mercado (hit and
run ) para auferir temporariame nte lucros extraordinários8.
A análise dos efeitos das economias de escala sobre a concorrênciapotencial é complexa, visto que estes depende m das expectativas dos entrantes
acerca das reações das firmas já estabelecidadas caso ocorra uma entrada, bem
como das expectativas das firmas estabelecidas acerca do provável
comportament o das entrantes.
Em outras palavras, como a lucratividade esperada do entrante depende
de qual será a reação da empresa já estabelecida, a intensidade da concorrência
potencial passa a ser percialmente determinada pelo processo de formação de
expectativas, o que levou alguns autores a analisar as condições nas quaisempresas já existentes adotam condutas que desencorajem entrantes
potenciais 9.
Nesta linha, é possível demonstrar que, em certo número de casos, pode
ser vantajoso para a firma estabelecida dominante procurar dimensionar seu
estoque de capital e capacidade produtiva de maneira a influenciar as decisões
de entrantes eventuais, basicamente minorando a intensidade da concorrência
potencial. A idéia básica é que, ao investir em instalações produtivas queficarão sub- utilizadas, a firma estabelecida cria uma "ameaça convincente" de
que sua reação será bastante agressiva frente a uma entrada, visto que seus
custos fixos se elevarão significativamente se a quantidade vendida diminuir.
8 Nos termos de Baumol, Panzar e Willig (1982), as economias de escala só dificultam aentrada em mercados que não são perfeitamente contestáveis.9 Cf., por exemplo, Caves e Porte r (1977) e Dixit (1980, 1982).
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O entrante, por sua vez, concluindo pela baixa probabilidade de uma
"acomodação" após a entrada, espera rá dificuldades em ocupar sua
capacidade, de modo que será dissuadido da iniciativa de passar a operar
naquele mercado. Este tipo de análise pode ser considerado como umaalteração dinâmica do paradigma Estrutura- Conduta- Desempenho, na medida
em que o amplia no sentido de analisar também efeitos da conduta das firmas
sobre a estrutura do mercado.
Por último, a exigência de investimentos iniciais elevados para
viabilizar a instalação uma nova empresa no mercado também é fonte de
barreiras à entrada. Por envolver a criação de nova capacidade, qualquer
investimento inicial envolve uma aplicação de recursos financeiros cujomontante depende, em grande parte, de variáveis relacionadas às tecnologias
em uso (principalmente da relação capital/produto). Um entrante potencial
que não possua uma base de negócios significativa em outros setores pode
encontrar dificuldades em obter o capital necessário, na medida em que:
(i) os bancos tende m a ser reluta ntes e/ou a cobrar
juros mais elevados em possíveis emprés timos ; e
(ii) o mercado de capitais se mos tra inacessível para
uma firma sem reputação estabelecida.
Deve-se lembrar que tais barreiras são minoradas nos casos de entradas
resultantes da diversificação de grandes grupos ou conglomerados. Estes, tanto
por seu porte e capacidade de mobilização de massas de lucros auferidos em
outras áreas, quanto por freqüentemente possuírem empresas do setor
financeiro, podem reunir o capital necessário com relativa facilidade.
III - Barreiras à Entrada e Mercados Contestáveis.
Nos anos 80 foi proposta a chamada teoria dos mercados contestáveis,
procurando examinar as condições nas quais um mercado concentrado,
oligopolístico ou até monopolístico, pode apresentar desempenho competitivo
nos preços (conduta) e nos custos (eficiência) apenas sob ameaça de entrada
da concorrência potencial, sem necessidade de reduzir a estrutura à condição
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atomística da concorrência perfeita, e visando ainda extrair daí implicações
normativas (Baumol, 1982).
Na teoria dos mercados contestáveis, a estrutura industrial surge como
resultado endógeno da interação entre as características técnicas da produção,
o tamanho do mercado e a concorrência potencial. Teoricamente, qualquer
est ru tura de mercado - inclusive o monopól io - pode ser, em princípio,
eficiente, desde que sua constituição não resulte de arranjos extra-mercado e
que seja impossível para qualquer firma participar do mercado auferindo lucro
(Araújo Junior, 1984).
Uma configuração de mercado - is to é, o número, distr ibuição do
tamanho das firmas e suas pautas de produção - é eficiente quando forsimultaneamente factível e sustentável . A noção de factibilidade está associada
à necessidade de que existam técnicas de produção com as quais seja possível
atender à demanda aos preços vigentes, sem que nenhuma firma tenha
prejuízo. Formalmente, supondo que todas as firmas têm a mesma função de
custo:
(1) ΣYi = Q(p)
ou seja, a demanda de cada produto deve ser igual à quantidade ofertada ao
preço de equilíbrio, sendo Yi o vetor de produção da firma i, p o vetor preço e Q
(p) o vetor de demanda pelos produtos da indústria;
(2) pYi - C(Yi) ≥ 0 para todas as firmas i ,e:
(3) Yi≥ 0.
As condições associadas à manutenção de uma estrutura de mercado -monopolística ou não - sem barreiras institucionais à entrada são dadas pelo
conceito de sustentabilidade: uma estrutura industrial, inclusive o monopólio
natural, é sustentável se nenhuma entrada potencial no mercado - dada a
tecnologia, a produção e o vetor de preços vigente - for lucrativa, a esses preços.
Formalmente:
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(4) PeYe - C(Ye)≤0 para qualquer Pe ≤P e Ye ≤Q(Pe).
No caso de uma atividade mono- produto com rendimentos crescentes, é
possível provar que o único equilíbrio sustentável é alcançado quando o preçocorrespondente à quantidade produzida por um monopolista é igual ao seu
custo médio de produção. Para evitar a entrada de novas firmas, portanto, um
monopolista deverá praticar um política de preços que elimine seu próprio
lucro.
Contudo, segundo esta teoria, uma estrutura de mercado somente será
eficiente, do ponto de vista da maximização do bem- estar social, se a entrada
for possível, sendo impedida apenas pela política de preços das empresaspresentes no mercado. Em outras palavras, a eficiência da estrutura de
mercado dependerá do nível de obstáculos à entrada e à saída na indústria, ou
seja, de seu grau contestabilidade.
Um mercado é dito perfei tamente contestável se os concorrentes
potenciais têm acesso à tecnologia disponível e podem recuperar seus custos
de entrada, caso posteriormente decidam abandonar a indústria. Assim, o
conceito de perfeita contestabilidade está relacionado com liberdade absoluta
de entrada e saída das firmas em um determinado mercado. Note- se que estahipótese pressupõe, ainda que não exclusivamente:
a) a ausência de custos irrecuperáveis (sunk costs), tais
como os investimentos em ativos específicos;
b) que a tecnologia seja um bem livre; e
c) a inexistência de ações de retaliação contra os novos
entra nt es por parte das empres as já prese nt es na
indústria10
.
10 Trata-se, evidentemente, de pressupostos heróicos, em um mundo onde atecnologia é fator chave na determinação da competitividade das firmas e o processocompetit ivo é guiado justamente pela busca de lucro extraordinários, através daconstrução estratégica de barreiras à entrada.
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Vale observar que um mercad o perfeitament e compe titivo é
necessariamente contestável, mas o contrário não ocorre. Em particular, um
mercado perfeitamente contestável estará em equilíbrio se sua configuração for
sustentável.
Caso se verifique a presença de sunk cost s11, as empresas não precisarão
eliminar seus lucros econômicos, na medida em que sua si tuação estará
protegida pela existência de barreiras à entrada de caráter não- institucional.
As implicações de natureza política da teoria dos mercados contestáveis
sao distintas da microeconomi a ortodoxa: é perfeitamen te possível a existência
de estruturas concentradas sem que o interesse público seja prejudicado. A
política industrial deve evitar o controle das fontes de oferta de tecnologia( logo, devem existir insti tuições públicas que promovam a difusão da
tecnologia e inibam a apropriabilidade privada, sem contudo retirar o estímulo
à inovação) e o excesso de regulamentação no setor quanto ao número de
firmas (licenças de fabricação, etc). Quanto menores as barreiras à entrada no
setor, maior a sua eficiência, independentemente do produto ser ou não
homogêneo, das firmas serem ou não atomísticas e das decisões serem ou não
independentes.
O problema desse enfoque é que as condições requeridas para a perfeitacontestabilidade de um mercado - da qual a concorrência perfeita seira apenas
um caso particular - são tão restritivas quanto esta última: livre entrada (sem
custos e com livre acesso à tecnologia e aos insumos) e saída (ausência de sunk
costs, custos irrecuperáveis) e impossibilidade de retaliação via preços em
tempo hábil após a entrada.
Como a presença tanto de economias de escala quanto de ativos
específicos (como os tecnológicos, básicos na concorrência contemporânea)
implicam sunk costs, e por conseguinte barreiras à entrada e à saída, bem como
a hipótese de preços inflexíveis das firmas estabelecidas por mais tempo que o
11 Sunk costs são aqueles investimentos que podem produzir um fluxo de benefícios(receitas) ao longo de um amplo horizonte de tempo, mas que não podem ser jamaisinteirament e recuperados. Note- se que custos fixos são sunk costs no curto prazo.
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necessário à instalação de nova capacidade produtiva é francament e irrealista12,
os mercados oligopolísticos do mundo real são tudo menos contestáveis, e
preços acima do nível competi tivo (assim como as margens de lucro
correspondentes ) são a situação normal e estrutural dos mesmos. As
implicações normativas ficam igualmente prejudicadas pelo irrealismo deeventuais medidas destinadas a tornar contestável um oligopólio.
IV - Barreiras à Entrada e Análise Antitruste.
Do ponto de vista da política antitruste, é essencial avaliar a extensão e a
rapidez com que as medidas de intervenção no mercado conseguiriam prevenir
os indesejáveis efeitos anti-competitivos de um ato de concentração mais
eficazmente do que o mercado seria capaz de fazer por si mesmo. Isto requerinvariavelmente uma análise cuidadosa das condições de entrada no mercado,
em princípio independentemente do grau de concentração vigente, uma vez
que é a entrada “a resposta natural do mercado a lucros excessivos”, e sua
eficácia reduziria a necessidade de ação antitruste em cada caso específico
(Geroski, 1988, p. 182). A análise do nível das barreiras à entrada no mercado
relevante é, portanto, crucial para a determinação dos potenciais efeitos
anticompetitivos derivados de um ato de concentração:
“ Entry condit ions are a central feature of antitruste
analysis, because potencial entry represents a significant
market force that undermines incumbents’ tendency
toward unilateral or joint (collusive) exercise of market
power” (Bonner e Krueger, 1991, p. 5).
Segundo a teoria microeconômica moderna, sobre tudo na área de
organização industrial, nenhum ato de concentração realizado em mercados
relevantes onde as barrei ras à entrada são baixas deve gerar maiorespreocupações das autoridades antitruste. A explicação para essa afirmativa é
simples: a ausência de significativos impedimentos à entrada de novos
concorrentes em um determinado mercado relevante implica a virtual
inexistência de poder de mercado por parte de uma empresa que nele detenha
12 Ver a respeito Lyons (1988), pp. 53-55 e Shephe rd (1984).
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elevado market share, posto que em princípio qualquer conduta
potencialmente prejudicial ao bem- estar do consumidor poderia atrair a
entrada de novos concorrentes em seu mercado de atuação.
Em outras palavras, se a entrada em um certo mercado é fácil, mesmo apresença de um elevado market share não é suficiente para caracterizar poder
de mercado 13 por parte de uma empresa: assim que esta elevasse seu preço
para níveis de monopólio, novos competidores apareceriam, de modo que sua
participação de mercado se reduziria, forçando- a a diminuir seu preço de volta
ao nível competitivo (Hovenkamp, 1994, p. 246). Logo, em situações em que as
barreiras são inexistentes ou suficientemente baixas, essas condições
estruturais do mercado não permitirão o surgimento de preços de monopólio,
mesmo que tal mercado seja ocupado por uma única firma ou estejacartelizado.
A importância da análise das barrei ras à entrada não somente é
reconhecida pela teoria econômica aplicada à área antitruste, mas também na
jurisprudência dos órgãos de defesa da concor rê ncia nos países desenvolvidos.
Sua relevância aparece explicitamente, por exemplo, no Horizont al Merger
Guidelines, documento publicado em conjunto pelo Departamento de Justiça
(DOJ) e pela Federal Trade Commission (FTC) dos E.U.A..
Nesse documento, cujo objetivo é o de dar transparência ao processo de
análise e decisão no julgamento de atos de concentração, as autoridades norte-
americanas responsáveis pela defesa da concorrência afirmam que “uma fusão
provavelmente não criará ou aumentará o poder de mercado ou facilitará seu
exercício, caso a entrada no mercado seja suficientemente fácil para impedir,
após a fusão, que os participantes do mercado possam, coletiva ou
uniteralmente, manter, lucrativamente, preços acima dos níveis verificados
antes da fusão”.14
Nessas situações, a entrada potencial será suficiente para
13 Entende- se por poder de mercado a capacidade de uma empresa aumentar seuspreços sem expe ri ment ar perdas significativas de suas ven das, devido,fundamentalmen te, à ausência de produtos alternativos para os consumidores.14 “A merger is not likely to create or enhance market power or to facilitate its exercise,if entry into market is so easy that market participants, after the merger, eithercollectively or unilaterally could not profitably maintain a price increase abovepremerger levels”. Horizontal Mergers Guidel ines , 1992, p. 25.
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impedir o surgimento de eventuais efeitos anticompetitivos resultantes da
fusão.
Os Guidelines classificam as empresas entrantes potenciais em dois tipos
básicos: uncommitted e committed entrants . As primeiras são aquelas cujanova oferta tenha, em resposta a um “pequeno, mas significativo e não-
transitório” aumento de preços, a probabilidade de ocorrer em um período de
1 (um) ano, sem que devam incorrer, para ofertar os seus produtos, em custos
de entrada e saída significativos (sunk costs)15.
Além dos uncommitted entrants , os Guidelines aponta m para a
importância, do ponto de vista da presença de concorrência potencial e de
limites ao exercício de poder de mercado derivado da existência de elevadosíndices de concentração econômica, dos chamados committed entrants ,
empresas que apresentam condições de superar, sem grandes dificuldades, as
eventuais barreiras à entrada em um determinado mercado relevante.
Este tipo de entrada é definida como aquela situação em que os novos
entrantes devem incorrer em sunk costs significativos. Neste caso, a
possibilidade de entrada no mercado relevante por committed entrants poderá
impedir os potenciais efeitos anticompeti tivos oriundos de um ato de
concentração desde que satisfaça as seguintes condições16:
(i) o novo entrante possa gerar uma nova oferta
significativa, do ponto de vista de seu impacto
sobre a oferta geral no mercado relevante,
dentr o de um período de tempo razoável
(“ timeliness test”);
15 Ibid ., p. 11. Segundo o entendimento da FTC e do Departamento de Justiça dosE.U.A., custos de entrada e saída significativos (significant sunk costs) são aqueles que“would not be recouped within one year of the commencement of the supplyresponse, assuming a ‘small but significant and non- transitory’ price increase in therelevant market.” É preciso diferenciar sunk cost do conceito de custos fixos: estesúlt imos podem ser recuperáveis quando da eventual saída da empresa do mercado,sendo terrenos um bom exemplo.16 Cf. Horizontal Merger Guidelines, pp. 25 a 30.
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(ii) a nova empresa possa atuar, no longo prazo,
obtendo lucros, segundo os preços vigentes no
mercado antes da efetivação do ato de
concentração (“likelihood test”); e
(iii) a nova estrutura de mercado, após a nova
entrada, seja capaz de reduzir os preços de
mercado para seus níveis anteriores à realização
do ato de concentração (“ sufficiency test”).
Caso esses testes sejam satisfeitos, o ato de concentração - fusão ou
aquisição - não deverá ser motivo de preocupação por parte das autoridades
antitruste, dispensando análises mais aprofundadas17
. Tal consideração funda-se sobre o fato de que a ameaça associada à presença de concorrentes
potenciais e novas entradas no mercado relevante constituem um obstáculo
real ao exercício de poder de mercado por parte de empresas que detenham
market shares elevados no mercado relevante previamente definido .
Note-se que a definição do período de tempo associado à entrada de um
novo concorrente potencial é fundamental para a análise das autoridades
responsáveis pela defesa da concorrência. A variável tempo é uma das chaves
para a definição do nível de barrei ras à entrada: quanto maior o temponecessário à efetivação da entrada - ceteris paribus - maior o nível das barreiras
em um certo mercado relevante.
Por outro lado, se o tempo de entrada de novos compet idores em
decorrência do aumento da rentabilidade em um certo mercado é virtualmente
nulo, devido à existência de capacidade produtiva já instalada , surge a questão
central da delimitação entre os conceitos de mercado relevante e barreiras à
entrada. Com efeito, na tradição antitruste norte- americana de conceituaçãode mercado relevante, os competidores cuja capacidade instalada pode ser
rapidamente redirecionada para a fabricação de novas linhas de produtos são
incluídos no mercado relevante, sendo suas ofertas potenciais coerentemente
17 “In markets where entry is easy (i.e., where entry passes these tests of timeliness,likelihood and sufficiency), the merger raises no antitrust concern and ordinarilyrequires no further analysis”. Cf. Horizontal Merger Guidelines , p. 26.
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computadas para o cálculo dos market shares das empresas (Bonner e Krueger,
1991, p. 12 e Hovenkamp, 1994, p. 107). Ou seja, esses competidores são
considerados efetivos e não potenciais ou externos ao mercado.
Na Europa, a presença desses mesmos competidores potenciais seria emgeral indicativa da existência de baixo nível de barreiras à entrada num
mercado relevante previamente definido, sem levar em consideração a
eventual flexibilidade dos processos produtivos de concorrentes que, embora
não fabricando produtos bons substitutos pelo lado da demanda, possam
rapidamente produzi-los. Neste caso, o mercado relevante é delimitado de
modo mais desagregado, mas apresentando baixas barreiras à entrada.
IV - Conclusões
A tradição em organização industrial e na economia antitruste acabou
por entronizar - inclusive na legislação - a noção de concentração industrial e
suas medidas como variável-síntese das condições estruturais no mercado,
com o intuito de inferir daí padrões de conduta anti-competitiva. No entanto,
são questionáveis tanto a base teórica quanto empírica desta focalização na
concentração industrial.
No plano teórico , é discut ível o significado da própria noção deconcentração, quanto a seu conteúdo, e mais ainda quanto à sua medida 18.
Concentração é, a rigor, somente um indicador sin té tico de diferentes
dimensões estruturais do mercado procurando captar particularmente, em
simultâneo, o pequeno número de concorrentes e a desigualdade de tamanho
entre eles. No plano empírico os numerosos testes estatísticos de regressão
entre concentração e outras variáveis - especialmente de desempenho, como a
lucrat ividade - resultam inconclusivos, permanecendo substanciais
ambigüidades inclusive quanto à direção da causalidade19
.
A implicação para a política antitruste é que a antiga noção de que a
estrutura de mercado é uma indicação segura para a cond ut a dos
competidores e, por extensão, para balizar e justificar a intervenção estrutural,
18 Por exemplo, Possas (1985), pp. 138 ss.19 Veja-se a resenh a de Geroski (1988), pp. 176 ss.
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não mais se sustenta. O que não impede, entretanto, que algum índice de
concentração adequadame nte escolhido seja válido como um primeiro sinal,
ainda que insuficient e co mo eleme nt o previsor, apo nt an do para a
possibilidade de condutas anti -compet itivas. Em poucas palavras , a
concentração industrial é uma condição necessária para a acumulaçãoassimétrica de poder de mercado (no sentido amplo aqui adotado, e não só em
preços), e por conseqüência para a possibilidade de seu exercício de forma
anti-competitiva; mas de modo algum é condição suficiente.
A análise das forças da concorrência atuantes num dado mercado não
pode prescindir, nesse sentido, de uma análise específica das barreiras à
entrada e de seus deter mi na nt es, os quais são considera do s como
essencialmente estruturais, isto é, relacionados a condições tecnológicas, àsformas de concorrência típicas do mercado em questão e ao acesso aos
mercados supridores, de insumos ou de crédito, a custos mais vantajosos.
Em que pesem as peculiaridades de cada tipo de metodologia no que se
refere ao conceito de entrada , importa salientar que os princípios e os
resultados são basicamente os mesmos. Verificando- se a existência de baixas
barreiras à entrada e /ou concor rentes capazes de redirecionar suas
capacidades produtivas já instaladas para a fabricação de produtos do mercado
relevante, as autoridades anti trus te têm fortes indícios de que o ato deconcentração não deve gerar grandes efeitos em termos de criação e/ou
aumento de poder econômico: em ambos os casos, a elasticidade da oferta é
elevada, implicando que as empresas envolvidas no ato de concentração não
detêm poder de mercado significativo (Hovenkamp, 1994, p. 107)20.
20 No entan to , uma impor tan te , ainda que não necessári a, diferença deve serapontada. Trata- se da - provável - distinta duração dos processos de análise de atos deconcentração em países onde existe uma notificação prévia e/ou um julgamentopreliminar voltado para a eliminação sumária dos casos mais simples. Nessassituações, os market shares dos participantes no mercado relevante, quando nele seincluem os concorrentes potenciais, tendem a diminuir imediatamente, não gerandoelevadas participações que engendrem análises antitruste mais profundas. Já quandosomente o critério de barreiras à entrada é empregado, ainda que o resultado final daanálise seja o mesmo, num primeiro momento as participações tendem a ser maiselevadas, podendo dar origem a processos mais demorados.
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Evidentemente, a escolha dos métodos deve seguir não somente a
tradição de defesa da concorrência de cada país, mas também certos requisitos
técnicos. Por exemplo, naqueles casos em que os entrantes potenciais ainda
não existem e/ou não podem ser identif icados, torna-se imprescindível a
definição do mercado relevante sem levá-los em consideração; atribuindo- se,no entanto, baixas barreiras à entrada no mercado. A necessidade de tal
método funda- se na impossibilidade de se calcular o denominador - ou seja, a
produção total no mercado - da fração do market share de cada participante.
Ao contrário, se a base tecnológica de um certo fabricante permite que
sua produção possa ser redirecionada para outras linhas de produtos de um
mercado, é importante que sua produção potencial desses produtos seja levada
em consideração para efeito das participações de mercado das empresasenvolvidas na fusão ou aquisição. Vale notar que empiricamente é mais fácil
demonstrar o caso de flexibilidade no processo produtivo do que aquele
associado a baixas barreiras à entrada, em que as firmas entran tes
eventualmente ainda nem existem ou requereriam substanciais mudanças em
seus processos produtivos de modo a oferecerem novos produtos no mercado
relevante.
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