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  • Economia e Finanas Pblicas para ICMS/SP Teoria e exerccios comentados Prof Heber Carvalho Aula 08

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    AULA 08 Finanas Pblicas e o Sistema Federativo (modelo de Tiebout). Introduo Macroeconomia.

    SUMRIO PGINA

    1. Federalismo X Federalismo Fiscal 02

    2. Federalismo Fiscal 03

    3. Modelo de Tiebout 04

    4. Federalismo Fiscal timo 05

    5. Concluses sobre o Federalismo Fiscal 08

    6. Federalismo Fiscal no Brasil 09

    7. Introduo Macroeconomia 11 Ol caros(as) amigos(as), E a, como esto os estudos? Espero que tudo esteja indo bem. Com a aula de hoje, terminaremos o contedo de Finanas Pblicas (o de Microeconomia acabou na aula 06). Como o contedo de Finanas previsto para hoje bem pequeno (Sistema Federativo), decidi adiantar um pouco do contedo de Macroeconomia. Veremos alguns conceitos bsicos de Macroeconomia nesta aula. Mesmo assim, a aula ficou bem pequena, o que j era previsto. Hoje, excepcionalmente, tambm no haver questes de concurso comentadas. No existem questes anteriores da FCC (nem de outras bancas) sobre o sistema federativo, pois a FCC, neste edital do ICMS/SP, est cobrando um modelo bem especfico de federalismo (o modelo de Tiebout). No consegui encontrar questes sobre esse modelo especificamente. Alis, tenho srias suspeitas de que o examinador, na montagem do edital, tenha utilizado o livro Finanas Pblicas e Poltica Pblica, de Jonathan Gruber. um livro estilo lista telefnica, com aquela pgina bem grande e letras pequenas e com a argumentao terica toda contextualizada para a economia norte-americana. Alguns itens do edital (referente parte de externalidades, principalmente) parecem que foram retirados literalmente deste livro. O mesmo acontece com a parte de Sistema Federativo, uma vez que o livro traz o modelo de Tiebout (e no traz outros modelos). Em virtude disto, a explanao terica sobre o federalismo fiscal ser toda embasada nessa bibliografia.

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    Em relao introduo da Macroeconomia, apenas um quebra-gelo, antes de iniciarmos as aulas de Macro propriamente ditas. Na prxima aula, fiquem tranquilos, haver muitos exerccios (sero umas 50 questes comentadas, somente da FCC). Bem... vamos para a aula! E a, todos prontos? Ento, aos estudos!

    1. INTRODUO: Federalismo X Federalismo Fiscal O federalismo (ou sistema federativo) uma tcnica administrativa que possibilita o exerccio do poder em grandes territrios, como o Brasil, por exemplo. Em pases com grande amplitude territorial, e geralmente com populaes cultural e socialmente diversificadas, o sistema federativo condio quase obrigatria para a boa governabilidade e para a manuteno dos ditames democrticos. O federalismo baseia-se no estabelecimento de governos de mbitos nacional, regional e local, em divises administrativas denominadas estados, municpios, distritos, provncias, etc.

    Cada um desses governos possui suas atribuies definidas, de tal

    forma que no haja conflito de interesses entre os entes federativos. No caso do Brasil, essa repartio de competncias definida, entre outros, nos artigos 22 a 25 da Constituio Federal de 1988. No que tange parte tributria, a repartio de competncias definida quase que ao longo de todo o captulo que trata do Sistema Tributrio Nacional.

    Desta forma, em questes de Federalismo, bastante comum

    aparecerem questes que mais se parecem com questes de Direito Constitucional ou Tributrio, mesmo que seja em provas de Finanas Pblicas. No entanto, para o nosso concurso, no necessria tal preocupao. O edital, de forma indita, foi bastante claro em delimitar o assunto que devemos estudar em relao ao sistema federativo: o modelo de Tiebout. Este modelo trata de um tipo particular de federalismo: o federalismo fiscal. Em razo de o edital ter trazido esta limitao no contedo, ressalto que no consegui encontrar questes anteriores sobre o modelo de Tiebout. Assim, em relao a este assunto, peo que fique atento principalmente ao resumo que coloquei depois do item 4.

    O federalismo fiscal (objeto de estudo do modelo de Tiebout)

    restringe o tipo de federalismo de que estamos tratando. Conforme vimos no primeiro pargrafo, o termo federalismo, sem o adjetivo fiscal, diz respeito diviso de poder entre os nveis de governo. J o federalismo

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    fiscal diz respeito a poderes mais especficos: o poder de gastar e o poder de arrecadar. Mais especificamente, o federalismo fiscal tem estreita relao com a arrecadao de impostos e a proviso de bens e servios pblicos por parte dos diversos entes da federao.

    Assim, o federalismo fiscal (nosso objeto de estudo) se restringe

    aos encargos de gastar (principalmente, ofertando bens pblicos sociedade) e arrecadar (cobrar tributos).

    Outro termo comum para se referir ao federalismo fiscal

    descentralizao fiscal, no sentido de que o federalismo fiscal intimamente ligado descentralizao da poltica fiscal (poltica de arrecadar e gastar).

    2. FEDERALISMO FISCAL Uma importante pressuposio do federalismo fiscal repousa na

    ideia de que h livre negociao e um certo grau de autonomia entre as unidades da federao, de tal forma que as funes de cada uma sejam cumpridas, bem como haja uma correta e justa distribuio dos recursos exigidos da sociedade (tais recursos advm dos tributos). Assim, mais uma vez, voc pode perceber que o federalismo fiscal significa uma diviso de tarefas entre os diferentes nveis de governo. No Brasil, estes nveis de governo so representados por: Unio, estados e municpios (o Distrito Federal acumula as funes de Estado e Municpio).

    Nesta diviso de tarefas, de um modo bastante amplo, podemos

    destacar as duas principais tarefas de uma unidade federativa: arrecadar os tributos de sua responsabilidade (definidos pela Constituio Federal) e ofertar os bens ou servios de sua responsabilidade (sade, educao, segurana, etc).

    Neste ponto inicial da aula, em que j definimos o que federalismo

    fiscal, ns podemos nos perguntar: por que que existe um sistema federativo?

    No seria muito melhor apenas um governo central arrecadar os

    tributos e administrar os gastos pblicos. Seria muito mais simples, mais eficiente e menos custoso, certo? No, errado!

    Existem vrios abordagens ou teorias que justificam a

    descentralizao fiscal, ou um sistema federativo, ou, como ainda queiram, o federalismo fiscal. No entanto, obedecendo ao edital, apresentaremos o ponto de vista de somente 01 destas teorias. o ponto de vista de Charles Tiebout (modelo de Tiebout).

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    3. MODELO DE TIEBOUT Um problema importante no fornecimento governamental de bens

    pblicos diz respeito revelao de preferncias dos cidados. Conforme vimos na aula passada, um problema adjacente questo dos bens pblicos a existncia do carona, aquela pessoa que utiliza o bem pblico, mas que finge no necessitar do mesmo, a fim de no pagar por sua utilizao.

    Em razo disso, difcil para os governos produzirem o nvel timo

    de bens pblicos, uma vez que as pessoas no revelam de modo transparente qual o seu nvel exato de preferncia por esses bens.

    Charles Tiebout argumenta que a descentralizao poderia fazer

    com que os cidados revelassem suas preferncias por bens pblicos. A ideia central a de que cada pequeno governo dentro da federao ofertasse uma cesta de bens pblicos e impostos diferentes. Os cidados escolheriam aquela unidade da federao que mais lhes agradasse. Isto , se o indivduo no gosta do nvel de oferta de bens pblicos de sua localidade, ele pode simplesmente votar com os ps: ele pode se mudar para uma localidade prxima que possua os bens pblicos de que ele gosta.

    Por exemplo, se existe uma cidade que prioriza a construo de

    praas e centros de lazer; e, por outro lado, h outra cidade que prioriza a construo de escolas e hospitais; os cidados poderiam escolher onde viver baseado nas suas preferncias pessoais. Assim, ao optar por viver em uma comunidade, a famlia estaria revelando a sua preferncia pela cesta de bens pblicos e tributos que aquela comunidade oferece e cobra, respectivamente. Desta forma, portanto, a concorrncia entre governos locais acabaria revelando a preferncia por bens pblicos dos cidados.

    Em termos de eficincia econmica, a principal implicao que os

    governos locais concorreriam para atrair famlias para viver em suas comunidades e, assim, arrecadar mais recursos via impostos. Ou seja, haveria uma concorrncia entre governos locais e, conforme sabemos, mercados competitivos so naturalmente eficientes do ponto de vista econmico. Na descentralizao fiscal, segundo Tiebout, os governos locais seriam as firmas (governos) disputando clientes (contribuintes).

    Desta forma, a descentralizao fiscal estimularia a concorrncia

    entre os governos locais (estados e municpios), estimulando os ganhos de eficincia e as inovaes tecnolgicas e administrativas. J em um sistema de governo central que monopolizasse a oferta de servios pblicos, no haveria tal estmulo inovao e concorrncia, existindo, portanto, perda de eficincia econmica.

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    Veja que duas das principais ideias inerentes ao trabalho de Tiebout

    esto: na mobilidade das pessoas como mecanismo para revelar suas preferncias por bens pblicos e tributos; e na competio horizontal, ou seja, na competio entre os governos locais, como forma de conseguir ganhos de eficincia.

    Embora o modelo tenha alguma lgica, evidente que vrios

    problemas dificultam sua possvel concretizao. O primeiro problema reside no fato de que a mobilidade das pessoas entre diversas cidades (localidades) bastante limitada.

    Por exemplo, hoje, estou bem estabelecido em So Paulo, com

    emprego, amigos, e uma toda uma rotina qual estou acostumado. Eu, provavelmente, no mudaria para outra cidade simplesmente porque a oferta de bens pblicos desta outra cidade fosse um pouco melhor. Seria necessrio bem mais que isso.

    4. FEDERALISMO FISCAL TIMO Segundo Tiebout, os bens pblicos devem ser ofertados no nvel

    local quando:

    i) O vnculo entre impostos e benefcios for forte Se os residentes conseguem vincular de forma direta e intuitiva a

    relao entre um bem pblico e os impostos que eles pagam, ento, neste caso, tal bem pblico deve ser ofertado no nvel local (exemplo: conservao de praas, coleta do lixo, construo de parques, etc).

    J, por exemplo, quando difcil vincular o bem pblico com o

    imposto que se paga (exemplo: programas assistenciais do governo, defesa nacional, organizao da justia), ento, neste caso, o bem pblico deve ser ofertado em nvel regional (e no em nvel local).

    ii) No houver transbordamentos positivos (ou externalidades positivas) para outras localidades

    Suponha que uma localidade (um municpio) faa um excelente

    hospital, com aparelhos modernos, e uma tima equipe de mdicos. Em uma situao como essa, ser natural que cidados de localidades prximas queiram utilizar este hospital que foi montado em uma cidade prxima da sua.

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    Neste caso, h, claramente, uma externalidade positiva decorrente da montagem deste hospital. Essa externalidade, por sua vez, transborda para municpios vizinhos, cujos cidados querero utilizar o hospital moderno recm montado, em vez de utilizar o sistema de sade de suas respectivas cidades.

    Conforme sabemos, uma externalidade positiva uma falha de

    mercado porque induz o agente causador da externalidade a oferta menos do que o nvel timo (suboferta). Assim, para bens pblicos onde seja grande a possibilidade de transbordamento de externalidades positivas para outra localidade, recomendada sua produo em nvel regional (estadual ou federal) e no em nvel local.

    iii) Houver reduzidas economias de escala na natureza dos bens pblicos Os bens com elevadas economias de escala (exigem uma estrutura muito grande para sua viabilizao) geralmente no so ofertados eficientemente por governos locais. Temos como exemplo a defesa nacional, ou a organizao da justia. Por outro lado, bens pblicos sem economias substanciais de escala (limpeza, coleta de lixo, proteo policial, etc) podem ser ofertados mais eficientemente por governos locais. ... Concluso sobre o federalismo timo de Tiebout: os gastos de governos locais devem se concentrar em programas que afetem a comunidade local, com poucas externalidades e economias de escala relativamente limitadas. J os governos regionais devem se preocupar com programas redistributivos (onde o vnculo imposto X bem pblico ofertado tende a ser mais baixo), com programas onde haja significativas externalidades positivas (educao, por exemplo) e com programas que possuam elevadas economias de escala (como defesa nacional). O federalismo fiscal no Brasil, basicamente, compatvel essas concluses. As obras pblicas, em sua maioria, so financiadas no nvel local, os programas redistributivos (programa bolsa-famlia) e com elevadas economias de escala (defesa nacional) so financiados por governos estaduais e federal.

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    Resumo do modelo de Tiebout:

    O modelo de Tiebout indica que a oferta de bens pblicos pode ser eficiente caso os indivduos possam se mudar para outras cidades que ofertem os bens pblicos que eles preferem;

    O modelo sugere que os seguintes gastos devem ser ofertados no

    nvel local:

    i. Fortes vnculos entre impostos e benefcios; ii. Baixo transbordamento de externalidades positivas; iii. Limitadas economias de escala.

    Os seguintes gastos devem ser ofertados no nvel regional (estadual ou federal):

    i. Baixos vnculos entre impostos e benefcios (programas de

    redistribuio de renda, por exemplo); ii. Elevadas externalidades positivas; iii. Elevadas economias de escala.

    ..........

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    5. CONCLUSES SOBRE A TEORIA DO FEDERALISMO FISCAL De um modo geral, podemos apresentar algumas ideias bsicas sobre o Federalismo Fiscal. Podemos comparar as principais caractersticas da descentralizao fiscal (ou federalismo fiscal), versus as caractersticas da centralizao fiscal: Este quadro interessante pois d uma ideia bastante ampla das vantagens e desvantagens da descentralizao fiscal (sistema federativo):

    Descentralizao fiscal Centralizao fiscal Os servios pblicos podem atender mais precisamente s demandas locais, melhorando, assim, a eficincia econmica.

    Maior controle das variveis macroeconmicas (inflao, juros, cmbio, etc).

    Incentivo integrao e cooperao, j que a partilha de competncias faz com que cada localidade se sinta mais responsvel pelo seu destino. Isto acarreta em maior envolvimento dos cidados, favorecendo a uma maior integrao social e cooperao.

    Maior facilidade na conduo da poltica fiscal.

    Estmulo s inovaes, uma vez que localidade procurar melhorias que atendam s suas demandas em especial. O resultado final o estmulo inovao.

    Maiores investimentos em grandes obras de infraestrutura (rodovias, aeroportos, portos, etc).

    A descentralizao de recursos afeta (prejudica, ou atrapalha) a capacidade de o Estado atuar com a finalidade de evitar a concentrao de renda.

    Maior potencial de reduo da desigualdade social e econmica entre as regies (evitar a concentrao de renda).

    Reduo de conflitos entre diversas localidades, ou etnias, j que cada localidade tem certa autonomia sobre o seu destino.

    Maior probabilidade de conflitos e rivalidades entre as localidades.

    As atividades alocativas ficam a cargo de governo locais (Estados e/ou Municpios), enquanto atividades alocativas de carter nacional, atividades distributivas e

    Todas as atividades (alocativas de carter local e nacional, distributivas e estabilizadoras) ficam a cargo do governo nacional.

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    estabilizadoras ficam a cargo do governo federal. Fortalecimento da democracia e barreira a regimes autoritrios (devido repartio do poder e ao maior controle da sociedade sobre as aes do Estado).

    Maior uniformidade na prestao dos servios pblicos, atendendo a um padro mnimo de qualidade em territrio nacional.

    As decises sobre o gasto pblico (as despesas e a distribuio das mesmas) NO so tomadas no mesmo nvel onde so tomadas as decises relativas s medidas a serem utilizadas para realizar determinado gasto.

    As decises sobre o gasto pblico (as despesas e a distribuio das mesmas) so tomadas no mesmo nvel onde so tomadas as decises relativas s medidas a serem utilizadas para realizar determinado gasto.

    Por fim, devo tecer alguns brevssimos comentrios acerca do federalismo fiscal no Brasil:

    6. FEDERALISMO FISCAL NO BRASIL A Constituio Federal de 1988 consolida e traa as diretrizes gerais do processo de descentralizao fiscal brasileiro. Observa-se uma descentralizao tanto de receitas quanto de gastos. O problema que no houve um processo organizado de transferncia de responsabilidades, com a descentralizao forada1 de alguns programas sociais, gerando distores no que diz respeito ao atendimento das demandas da populao. A CF/88 aumentou os recursos fiscais disponveis dos estados e municpios (por meio de repasses que vinham/vm do governo federal) sem, entretanto, definir com clareza as novas atribuies dessas esferas de governo. A descentralizao forada, somada aos recursos fiscais disponveis, fez com que estados e municpios expandissem seus gastos, especialmente em sade e educao. No entanto, esse processo desorganizado gerou distores e provocou desperdcios. No houve redistribuio de instalaes, nem de funcionrios, nem de tecnologia (nem de nada!) do governo central para os governos subnacionais, de tal maneira que estes entes tiveram que construir 1 Segundo Giambiagi, a descentralizao forada significa o abandono, por parte do governo central, de certos tipos de programas que eram de sua atribuio, sem uma transferncia formal e organizada de responsabilidades aos estados e municpios. Nesses casos, o desaparecimento da oferta de servios federais, combinado com a continuidade da demanda da populao, forou os governos subnacionais, devido presso social, a assumirem essas funes, mesmo que estas no tenham sido formalmente repassadas a eles. Em especial, o caso da descentralizao forada da sade foi marcante.

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    hospitais, escolas, contratar e dar treinamento a funcionrios, o que significou, em certa medida, um desperdcio de recursos pblicos. Se este processo fosse planejado mais adequadamente, Estados e municpios poderiam se beneficiar da estrutura de capital e recursos humanos que a Unio j possua ao ofertar tais bens. A falta de planejamento quanto transferncia de responsabilidades de gastos especialmente destacada no que diz respeito aos estados, que no tiveram uma especificao de atribuies. O processo de descentralizao afetou principalmente a Unio (que continuou a ser coordenadora das polticas gerais) e os municpios, cujos gastos possuem maior visibilidade perante a sociedade. Os estados ficaram sobrando, com menos responsabilidades e em menor evidncia que a Unio e os municpios. Bem, quanto s responsabilidades, ns vimos que os municpios e a Unio ficaram em evidncia, e os estados um pouco menos. E quanto s receitas fiscais disponveis? Ser que isso se mantm? Em termos verticais, em relao receita tributria disponvel (recursos fiscais), os principais privilegiados pelo processo de descentralizao brasileiro, principalmente aps a CF/88, foram os municpios. A maior parte destes recursos que passaram a aumentar as receitas disponveis para os municpios vem de transferncias intergovernamentais e no pela arrecadao de recursos prprios.

    Tambm importante destacar que os municpios pequenos foram os grandes privilegiados. Os maiores ndices de transferncias recebidas por habitante foram apresentados pelos municpios com menor populao. Alis, o federalismo fiscal brasileiro um verdadeiro convite criao de municpios. Segundo o IBGE, em 1980, o Brasil possua 4.036 municpios; em 2006, j tnhamos mais de 5.500 municpios, todos eles recebendo transferncias dos governos federal e estadual. ......

    Agora, faremos uma breve introduo do que vem a ser Macroeconomia. Assim, na aula que vem, j podemos iniciar o contedo de Macro com melhor noo das diferenas conceituais entre os objetivos da Micro e da Macroeconomia.

    ....

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    7. INTRODUO: O QUE MACROECONOMIA? A cincia econmica dividida em quatro grandes partes:

    microeconomia, macroeconomia, desenvolvimento econmico e economia internacional. Para ns, neste curso, interessa saber apenas as diferenas entre os dois primeiros conceitos.

    A Microeconomia estuda as unidades de produo (empresas) e

    as unidades de consumo (famlias), individualmente ou em grupos. Por exemplo, buscar entender a relao da indstria automobilstica com seus fornecedores ou com as concessionrias de veculos um problema tpico de seu estudo; ou tentar compreender como as grandes empresas decidem quanto vo cobrar pelos seus produtos; so temas microeconmicos. Enfim, a microeconomia estuda a interao entre firmas e consumidores e a maneira pela qual a produo e preo so determinados em mercados especficos.

    A Macroeconomia o ramo da Economia que estuda a evoluo dos mercados de uma forma mais global, mais abrangente, analisando a determinao e o comportamento dos grandes agregados macroeconmicos (renda nacional, produto nacional, investimento, poupana, consumo agregado, inflao, emprego e desemprego, quantidade de moeda, juros, cmbio, etc). Ao focar o estudo de grandes agregados, a Macroeconomia no analisa em profundidade o comportamento das unidades econmicas individuais, tais como famlias, empresas, fixao de preos em mercados individuais etc. Essas so preocupaes da Microeconomia. A Macroeconomia trata dos mercados de forma global, agregada. Apesar do aparente contraste, no h um conflito entre a Micro e a Macroeconomia, dado que o mercado global a soma de seus mercados individuais. A diferena entre as subcincias est basicamente na questo do enfoque. Ao estudar a determinao dos preos em um tipo de mercado (Monoplio, por exemplo), estamos estudando Microeconomia. Ao estudar o nvel geral de preos em toda a economia, estamos estudando Macroeconomia. Objetivos da Poltica Macroeconmica

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    So objetivos da poltica macroeconmica:

    i. Alto nvel de emprego; ii. Estabilidade de preos; iii. Equidade (distribuio de renda); iv. Crescimento e desenvolvimento econmico.

    As questes relativas ao nvel de emprego e controle da inflao (estabilidade de preos) so questes consideradas conjunturais, de curto prazo. O crescimento e desenvolvimento econmico e a distribuio de renda so questes estruturais, que, em geral, extrapolam a anlise meramente econmica, envolvendo questes, como o prprio nome sugere, estruturais: polticas pblicas, progresso tecnolgico, educao, etc. Alguns autores colocam tambm como objetivo o controle das contas externas (equilbrio do Balano de Pagamentos, ou equilbrio das contas externas), mas esse se caracteriza mais como um instrumento de poltica econmica do que um objetivo propriamente dito. Vejamos, a partir de agora, o que significa cada um dos quatro objetivos citados acima.

    i. Alto nvel de emprego Entendemos por emprego a utilizao dos recursos disponveis na economia. Desemprego a no utilizao dos recursos disponveis, ou seja, h ociosidade dos recursos (capacidade ociosa). Em nosso dia a dia, a palavra desemprego associada mais comumente no utilizao do recurso de produo mo-de-obra. Isto , quando h mo-de-obra disponvel para trabalhar e a mesma no utilizada, havendo ociosidade (desemprego). Para fins de provas, considere os dois conceitos corretos. Hoje, este um dos temas principais da Macroeconomia e fruto de muita preocupao do policy-maker (administrador pblico). Nas nossas aulas 14 e 15, ns veremos diversas polticas de governo capazes de aumentar o nvel de emprego de uma economia.

    ii. Estabilidade de preos (controle da inflao) Inflao o aumento contnuo e generalizado no nvel geral de preos em uma economia. Na aula 15, ns veremos os diversos distrbios que ela causa Economia de uma forma geral. Por tais motivos, o seu controle deve ser um objetivo de poltica macroeconmica.

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    iii. Distribuio equitativa de renda Tambm objetivo da poltica macroeconmica distribuir equitativamente a renda da economia. O Brasil um pas onde h alta concentrao de renda (m distribuio). Vale destacar que nem sempre o crescimento econmico acompanhado da distribuio de renda e vice-versa. Por exemplo, durante o milagre econmico (fase em que a economia brasileira cresceu a taxas superiores a 10% por vrios anos consecutivos), houve aumento da concentrao de renda, ou seja, a distncia de renda entre ricos e pobres aumentou. Curiosamente, no perodo, ocorreu aumento da renda mdia de todas as classes. O problema que, embora os mais pobres tenham melhorado seu padro de vida, os mais ricos melhoraram relativamente mais, aumentando a disparidade. Isto , houve um aumento geral do padro de vida, com todos melhorando, mas com os mais ricos melhorando mais que os pobres. As polticas pblicas utilizadas para distribuir a renda so controversas. Entre elas, podemos destacar a legislao do salrio mnimo, os programas de transferncia de renda e a utilizao de impostos progressivos. Nos trs casos, a preocupao ajudar as pessoas com menor nvel de renda atravs da garantia de renda mnima, suplementao de renda e menor tributao, respectivamente. A crtica, no caso do salrio mnimo, que ele causa desemprego (pois o pagamento de salrios elevados artificialmente, por artifcio de lei, pode reduzir a procura por mo-de-obra). A principal crtica no caso dos programas de transferncia de renda e impostos progressivos reside no fato de que tais programas desestimulariam o trabalho, uma vez que, medida que a renda do indivduo aumenta, os benefcios que recebe do governo so diminudos. Uma prova da importncia da distribuio de renda est no exemplo dos pases rabes. L, a renda dos pases bastante alta, no entanto, ela altamente concentrada, o que nos mostra que renda alta bom sinal, mas a distribuio de renda deve ser buscada como forma de aumentar o padro de vida da populao.

    iv. Crescimento e desenvolvimento econmico Quando o nvel de emprego est baixo (existe desemprego), pode-se aument-lo fazendo a economia crescer. Polticas econmicas voltadas para o crescimento geralmente tentam alterar o comportamento dos

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    agentes econmicos, provocando variaes no consumo, poupana e investimento agregado. Quando falamos em crescimento econmico, estamos falando do produto ou renda interna (ou nacional). Assim, quando falamos que determinado pas est crescendo 10% ao ano (que crescimento!), estamos falando, geralmente, que seu produto (ou renda) interno est crescendo 10%.

    Conforme comentado no incio do pargrafo anterior, o crescimento econmico buscado pelo fato de ele aumentar os nveis de emprego do pas (alis, este o principal motivo). H evidncias empricas que comprovam que a falta de crescimento, ou at mesmo o crescimento baixo, provoca aumento do desemprego (de trabalhadores), o que sinal de piora do bem-estar da populao, por isso a constante preocupao dos policy-makers em fazer a economia crescer.

    O conceito de crescimento econmico tem relao com o produto ou

    renda de um pas e com a existncia de desemprego, mas no podemos dizer que crescimento econmico o mesmo que desenvolvimento econmico. Este ltimo um conceito mais amplo, englobando aspectos como nvel educacional, segurana, meio ambiente, moradia, progresso tecnolgico, sade, infraestrutura, etc. Assim, percebemos que os dois conceitos no se confundem, apesar de um implicar o outro (para que haja desenvolvimento, deve haver crescimento. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento gera crescimento econmico). Os Trade-Offs da Poltica Econmica

    Os objetivos da poltica macroeconmica so interligados, isto , quando se busca um objetivo, outro est sendo afetado. Assim, atingir um objetivo pode implicar atingir outro objetivo secundariamente. Por outro lado, atingir um objetivo tambm pode significar se distanciar da consecuo de outro objetivo. Este ltimo caso representa um dilema de poltica econmica. Por exemplo, ao aumentar os gastos pblicos dando aumento para todo o funcionalismo pblico e realizando obras pblicas, o governo estar aumentando a renda da economia (objetivos: crescimento econmico e aumento do nvel de emprego). No entanto, o aumento de renda provocar, regra geral, aumento generalizado da demanda por bens e servios, pois as pessoas, com mais renda circulando, tendero a aumentar o consumo de bens de uma forma geral. A esse aumento generalizado da demanda chamamos de aumento da demanda agregada. Esse aumento da demanda agregada, por sua vez, provocar aumento de preos na economia. Dizemos, nesse caso, que a poltica econmica exerceu presses inflacionrias no mercado. Veja que h um dilema: ao aumentar o nvel de emprego e fazer crescer a economia, o governo, ao

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    mesmo tempo, faz crescer a inflao. Em economs, quando h dilemas de escolha, referimo-nos a isso como um trade-off. Logo, h trade-off entre crescimento econmico e inflao. Nota: no se preocupe, neste momento, em entender as relaes de causa e efeito que eu coloquei entre aumento de renda, preos, demanda agregada, etc. Agora, o que eu quero que voc entenda somente o significado de trade-off, em um contexto da adoo de polticas econmicas. Durante o processo de atingimento dos objetivos de poltica econmica, os governos a todo o momento enfrentam trade-offs. Ao buscar o controle da inflao, o governo pode aumentar o desemprego, dado que tais polticas anti-inflacionrias retraem a demanda agregada, provocando retrao da produo e, portanto, do emprego. Ocorre outro trade-off entre crescimento e equidade. Muitos afirmam que a maneira mais rpida de crescer atravs da distribuio desigual de renda, em que seria mais fcil realizar polticas pblicas que visassem ao aumento dos lucros e da poupana dos mais ricos, para depois haver distribuio dos excedentes populao mais pobre (teoria do bolo2). Estrutura da Macroeconomia: Os tipos de mercados

    A Macroeconomia trata a economia como se ela fosse dividida em uma parte real e uma parte monetria, divididas em quatro mercados: o mercado de bens e servios, o mercado de trabalho, o mercado financeiro (moeda e ttulos) e o mercado cambial (de moeda estrangeira), conforme se v no quadro 01:

    Quadro 01: MERCADOS VARIVEIS DETERMINADAS

    Parte real da economia

    Mercado de bens e servios

    Produto/renda nacional Nvel geral de preos

    Mercado de trabalho Nvel de emprego Salrio monetrio (W)

    Parte monetria da

    economia

    Mercado financeiro (monetrio e ttulos)

    Taxa de juros Estoque de moeda

    Mercado de divisas3 (mercado cambial) Taxa de cmbio

    2 A Teoria do Bolo diz que primeiro o bolo deve crescer para depois ser repartido, e no o contrrio. Fazendo um paralelo com a economia: em primeiro lugar, a economia deveria crescer para, depois, em segundo momento, haver preocupao com questes de equidade (distribuio de renda). 3 Divisas = moeda estrangeira.

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    Para saber como anda o mercado de bens e servios, devemos saber qual a soma de todos os bens e servios produzidos pela economia durante certo perodo de tempo ( a definio de produto nacional, a qual veremos mais a fundo na prxima aula). A mdia de preos destes bens e servios produzidos chamada de nvel geral de preos. Para sabermos sobre o mercado de trabalho, verificamos o nvel de emprego, bem como o nvel de salrios (ou taxa salarial, ou o salrio monetrio). No mercado monetrio, determinam-se as taxas de juros e a quantidade de moeda (demanda por moeda) necessria para os agentes efetuarem as transaes econmicas. No mercado de ttulos (ttulos do governo, aes, fundos de renda fixa, etc), determinam-se, alm da taxa de juros, o preo e a quantidade de ttulos. Como a taxa de juros determinada tanto no mercado monetrio como no mercado de ttulos, bastante comum analisar esses dois mercados como se fosse um s: o mercado financeiro. No mercado cambial (de divisas), determina-se a taxa de cmbio, que o preo da moeda nacional em relao a uma moeda estrangeira. medida que um pas realiza transaes com o resto do mundo, necessrio que os preos dos diferentes pases sejam comparados. Para isso, deve-se converter uma moeda na moeda de outros pases. Assim, a taxa de cmbio permite calcular a relao de troca, ou seja, o preo relativo de diferentes moedas. Os gastos do governo e a oferta de moeda no so determinados por nenhum desses mercados, mas sim de forma autnoma pelas autoridades. So variveis determinadas institucionalmente, ou seja, so decises que fogem dos modelos econmicos. Dizemos que elas so variveis exgenas (determinadas exogenamente, externamente). Em outras palavras, o gasto pblico e a oferta de moeda no so determinadas, e sim determinam o comportamento das variveis localizadas na coluna da direita do quadro 01. O manejo do gasto pblico para alterar as variveis dos mercados o que chamamos de poltica fiscal. A utilizao da oferta de moeda como forma de alterar as mesmas variveis chamada de poltica monetria. Por meio dessas duas principais formas de poltica econmica (fiscal e monetria), o governo tenta atingir de forma equilibrada os objetivos da poltica macroeconmica.