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 Economia dos Custos de Economia dos Custos de Transação e a Teoria Transação e a Teoria Organizacional Organizacional WILLIAMSON, O.E. Transaction Cost Economics and Organization Theory. In: SMELSER, N.J.; SWEDBERG, R. (editors). The Handbook of Economic Sociology. Princeton, Princeton University Press: 1994. Disciplina: Instituições, Organizações e Desenvolvimento Aluna: Regina Degani

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Economia dos Custos de Economia dos Custos de Transação e a Teoria Transação e a Teoria

OrganizacionalOrganizacionalWILLIAMSON, O.E. Transaction Cost Economics and Organization Theory. In: SMELSER, N.J.; SWEDBERG, R. (editors). The Handbook of Economic Sociology. Princeton, Princeton University Press: 1994.

Disciplina: Instituições, Organizações e DesenvolvimentoAluna: Regina Degani

 

• A característica marcante que distingue a Nova Economia Institucional (NEI) das outras correntes que estudam a Ciência Econômica é a sua insistência na idéia de que as transações raramente podem ser realizadas sem custos, o que tornaria a análise neoclássica pouco adequada. Os custos de transação surgem, em parte, devido ao fato de os agentes não disporem de plena informação para tomarem decisões. Nos modelos mais freqüentemente utilizados pela economia neoclássica, adota­se o pressuposto da racionalidade plena, inexistindo custos de transação. 

• Os custos estudados pela economia neoclássica referem­se apenas os custos de produção, pois não existem custos para negociar em quaisquer que sejam os mercados.

• Os custos de transação são aqueles com os quais os agentes se defrontam toda vez que necessitam recorrer ao mercado, e estes custos seriam, do modo mais formal, os custos de negociar, redigir e garantir que um contrato será cumprido. Para que os custos de transação possam ser incluídos na análise econômica, faz­se necessário o abandono de alguns dos pressupostos neoclássicos, com a inclusão de novos conceitos: racionalidade limitada, incerteza, oportunismo e especificidade de ativos.

 

O capítulo desenvolve o argumento de que as abordagens econômicas e sociológicas chegaram a um estado de tensão saudável levando a trocas de conhecimento mútuo.

Enquanto importantes áreas de discordância permanecem, existe mais consenso do que aparenta num primeiro momento.

 

O capítulo foca na emergência de relacionamentos entre ECT e TO  argumentando que essa relação tem 3 aspectos principais: 

• 1º) e mais importante, ECT é, e continuará sendo, massissamente influenciada por conceitos e regularidades empíricas que tem origem na TO; 

• 2º) há muitos conceitos na ECT  que a TO pode se relacionar; 

• 3º) sovrevivência de tensões saudáveis.

RelacionamentoRelacionamento  Economia dos Custos Economia dos Custos           de Transaçãode Transação

Teoria OrganizacionalTeoria Organizacional

 

REVISÃO SOBRE ECONOMIA INSTITUCIONALREVISÃO SOBRE ECONOMIA INSTITUCIONALTradições antigas 

Principais figuras nos EUA: Mitchell, Veblen, Commons. Embora muitos sociólogos aparecem se mostrando simpáticos ao velho institucionalismo, há um crescente acordo que essa abordagem foi “amplamente descritiva e historicamente específica”. Trabalhos não levavam a lugar algum.

Crítica de Coase: “o trabalho do institucionalismo americano não levou a nada…Sem uma teoria, eles não tinham nada a passar além de uma massa de descrições esperando por uma teoria “.

 

– Exceção : Commons – as instituições são uma resposta à escassez e conflitos de 

interesse; – transação como unidade básica de análise;– análise de como a ação coletiva constrange, libera ou expande 

ações individuais e como os desejos individuais levam a mudanças institucionais;

– apreciação histórica de como costumes, precedentes legais e leis de uma sociedade evoluem para construir um padrão coletivo de comportamento.

– Escola Alemã: Programa Ordoliberal – grande impacto nas políticas econômicas da Alemanha pós 

guerra    (perda de prestígio na déc 60). – CRÍTICA: modelos específicos nunca foram desenvolvidos; os 

mecanismos permaneciam muito abstratos. 

 

A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONALA NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

• Instituições são importantes e suscetíveis de análise.

• Difere mas não é hostil à ortodoxia.

• Agrupamento interdisciplinar do Direito, Economia e Teoria das Organizações.

 

A NEI foi desenvolvida em 2 partes complementares: (1) vai além do direito de propriedade para incluir contratos, normas, costumes, convenções e preferências; (2) mecanismos de governança.

 

Com relação a segunda parte, Davis e North (1971) definem:

– ambiente institucional : é o grupo de regras políticas, sociais e legais, que estabelecem a base para a produção, troca e distribuição. Ex: regras de eleição, direitos de propriedade e direito de contrato.

– arranjo institucional : arranjo entre unidades econômicas que governam as formas pelas quais estas unidades podem cooperar e/ou competir.

 

Definição de InstituiçõesPor North: “instituições são restrições (normas) construídas 

pelos seres humanos, que estruturam as interações social, econômica e política. Elas consistem em restrições informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) e regras formais, (constituições, leis e direitos de propriedade)”.

Por Smelser e Parson: “instituições são caminhos em que padrões de valores da cultura comum de uma sociedade são integrados na ação concreta de suas unidades e na interação entre elas, através da definição das expectativas e da organização da motivação”.

 

   Definições especialmente pertinentes quando se trata de traçar comparações inter­temporais, internacionais e entre culturas.

 

 A pergunta central da TCTPor que organizar a atividade econômica de determinada forma, em 

detrimento de outra maneira?

Dada  a  necessidade  da  empresa  de  dispor  de  equipamentos,  insumos,  etc,  qual  a melhor maneira de fazê­lo?

Realizando uma transação de compra? (mercado)Internalizando a produção desses fatores, ou seja, passando ela mesma a produzí­los? 

(hierarquia).

A resposta: Depende  da  avaliação  da  empresa    quanto  à  magnitude  dos  custos  de  transação 

incorridos ao optar por uma ou outra dessas estruturas de governança: • mercado versus hierarquia.

 

   Isso explica o interesse dos teóricos e sociólogos da organização na Economia Institucional.

 

Esquema de três níveisEsquema de três níveis

Ambiente Institucional

Indivíduo

Governança

Atributos deComportamento

Parâmetros deMudança Estratégia

PreferênciasEndógenas

 

• O esquema proposto por Williamson privilegia o seu foco de análise na estrutura de governança, embora ela não opere isoladamente. Mesmo assim,  serve como um importante ponto de referência ao estudo das inter­relações entre os diferentes níveis analíticos.

• A estrutura de governança se desenvolve dentro dos limites impostos pelo ambiente institucional e pelos pressupostos comportamentais dos indivíduos.

• Setas contínuas – representam os principais efeitos e as pontilhadas representam efeitos secundários.

 

• Parâmetros de mudança: ambiente institucional fornece o quadro fundamental de regras que condiciona o aparecimento e a seleção de formas organizacionais que comporão a estrutura de governança.

• Estratégia: efeitos de ações estratégicas tomadas no plano das organizações com o objetivo de se modificar as regras do jogo (reconhece­se, portanto, que elementos microanalíticos podem modificar o ambiente institucional).

• Atributos comportamentais: indivíduos desempenham também um papel importante no arcabouço teórico da NEI. Eles são considerados racionais, porém de modo limitado, e oportunistas (i.e., auto­interessados). Tais pressupostos constituem condições necessárias para a ocorrência de custos de transação.

• Preferências endógenas: tanto o ambiente institucional quanto as estruturas de governança apresentam um efeito secundário sobre os indivíduos. Os indivíduos agem de acordo com suas convicções e preferências. Williamson reconhece que as preferências endógenas são um produto de um condicionamento social.

 

   Os pressupostos comportamentais – racionalidade limitada e oportunismo – são talvez os exemplos mais óbvios de como a ECT foi moldada pela TO.

   

 

O valor adicionado pela Teoria OrganizacionalO valor adicionado pela Teoria Organizacional

• Processos de transformações intertemporais– Demandas por controle– Oligarquia– Identidade/capacidade– Burocratização

• Adaptação• Política• Embeddedness • Análise estrutural discreta

 

Processos de transformação intertemporaisProcessos de transformação intertemporaisSe a organização tem vida própria e a abordagem econômica convencional não é capaz de relatar as realidades intertemporais desta, então, ao menos para alguns propósitos, uma abordagem não econômica será suficiente.Uma vez que as conseqüências não antecipadas sejam compreendidas, elas serão antecipadas. Custos não desejados serão minimizados e benefícios não antecipados serão ampliados.A TO têm um conhecimento mais amplo e profundo sobre os processos de transformação inter­temporais, e isso pode ser útil para os economistas.

 

Processos de transformação intertemporaisProcessos de transformação intertemporaisDemandas por controle: uma resposta natural às falhas de 

desempenho percebidas é introduzir controles adicionais, que podem limitar a ação das pessoas.

Oligarquia: a liderança tende a ser centralizadora e pode usar a organização para promover seus próprios interesses.

Identidade/capacidade: A identidade é explicada por alguma forma de especificidade de ativos. Para estabelecer a visão de capacidades de uma firma, deve­se descrevê­la não apenas em termos de ativos físicos, financeiros e sua força de trabalho, mas também os códigos de comunicação desenvolvidos, as rotinas empregadas e a cultura corporativa.

 Burocratização: uma das tarefas da ECT é avaliar o significado das falhas burocráticas em termos institucionais comparativos (e não absolutos).

 

AdaptaçãoAdaptaçãoProblema central da organização econômica.

PolíticaPolíticaBurocracias do setor público são modeladas pela política (diferentemente daquelas do setor privado)

EmbeddednessAs práticas organizacionais são influenciadas pelos padrões de interação pré­existentes. Em função disso, o ambiente (e não apenas a governança) também importa (ex: organizações em países com diferentes culturas)

Análise estrutural discretaAnálise estrutural discreta(em vez de espectro contínuo)É necessário estudar efeitos de primeira ordem (estrutura discreta) antes de examinar os refinamentos de segunda ordem (marginalistas). Dentro da ordem institucional do capitalismo, por ex, cada forma genérica de governança (mercado, híbrida ou hierarquia) possui sua própria lógica e atributos distintos.

 

Economia dos custos de transação: Economia dos custos de transação: a estratégiaa estratégia

Esboço da estratégia geral empregada pela ECT:

• Argumento central• Unidade de análise• Farsighted contracting (contrato “precavido”)• Trade­offs• Remediabilidade

 

• O argumento central : todas as teorias organizacionais rivais são chamadas a nominar suas questões centrais, desenvolvendo implicações refutáveis (Para ECT – economias do custo de transação).

• Unidade de análise : independentemente da unidade de análise selecionada, as dimensões críticas que a diferenciam devem ser identificadas.

• Farsighted contracting : A condição de racionalidade limitada torna necessária a identificação de possíveis riscos e a inclusão ex ante de salvaguardas com o objetivo de deter oportunismo ex post.

• Trade­off : ganhos advindos de uma crescente especialização são reduzidos ou eliminados pelos custos de transação.

• Remediabilidade : análise dos trade­offs (a tentativa de solução para uma ineficiência pode levar a outra ineficiência).

 

Regularidades AdicionadasRegularidades Adicionadas

 

Regularidades AdicionadasRegularidades Adicionadas• A transformação fundamental: a realização de 

investimentos específicos por dois parceiros cria um compromisso confiável em torno da continuidade da relação. Portanto, a concorrência deixa de ser um indicador suficiente do nível de eficiência, uma vez que a relação que se constrói entre as partes, da qual ambas se beneficiam, é bilateral.

• A impossibilidade da intervenção seletiva: caso contrário, as organizações cresceriam sem limites (existência de trade­offs)

• Atmosfera: importância das externalidades; se refere a interações entre transações separadas tecnologicamente, mas com conseqüências sistêmicas – dificuldades em termos de cálculos em função de “vazamentos”.

 

Tensões não resolvidasTensões não resolvidas

• Poder e dependência de recursos• Dependência de trajetórias• Confiança• “Nonsense” (“Tosh”)

 

Tensões não resolvidasTensões não resolvidas• Poder e dependência de recursos: voluntariedade com que as 

partes consentem determinado contrato é questionada ­ sistemas de troca são “incrustados” de sistemas de poder e dominação ou sistemas de normas e valores.

• Dependência de trajetórias: o ambiente institucional é produto da história. A história da org. leva ao aprendizado (identificação de causas­efeito)

• Confiança: subclasse do risco / necessidade de criação de substituto calculável para a confiança. As relações pessoais de confiança e as relações comerciais de risco calculado são de tipos diferentes.

• “Nonsense” (Tosh”): “sem sentido racional” ­ rituais supérfluos, regras de procedimentos sem propósito claro. Mais importante em circunstâncias não comerciais (Estado, família, religião).

 

CONCLUSÕESCONCLUSÕES

 

• Considerando, conforme sugeriu Commons, a transação como unidade de análise, Williamson preocupa­se em atribuir dimensões a essas transações, utilizando elementos objetivos e observáveis (lacuna deixada por Coase). Esses elementos procuram identificar a possibilidade da ação oportunista por uma ou mais partes envolvidas na transação e os seus respectivos custos sobre as demais partes. 

• Conforme a transação, diferentes custos de transação serão inferidos, o que poderia exigir uma diferente forma organizacional para governar essa transação.

• A proposição de Coase finalmente poderia ser testada: os elementos observáveis permitiriam deduzir o nível de custos de transação e optando assim  pela forma organizacional mais eficiente para reger essa determinada transação.

 

Suportes da Teoria Organizacional para a Suportes da Teoria Organizacional para a Economia dos Custos de TransaçãoEconomia dos Custos de Transação

• Suposições comportamentais• Adaptação• Conseqüências não antecipadas• Política• Embeddedness• Análise estrutural discreta

 

Suportes da Economia dos Custos de Suportes da Economia dos Custos de Transação para a Teoria OrganizacionalTransação para a Teoria Organizacional

• Unidade de análise• O argumento central• Contrato previdente • Trade­offs• Remediabilidade