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ECOLOGIA DOS ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS Juliana Lopes Martins Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Microbiologia). Orientador: Ulysses Lins UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Fevereiro de 2007

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ECOLOGIA DOS ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS

Juliana Lopes Martins

Tese de doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto

de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em

Ciências Biológicas (Microbiologia).

Orientador: Ulysses Lins

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2007

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ECOLOGIA DOS ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS

Juliana Lopes Martins

Orientador: Ulysses Lins Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas

(Microbiologia).

Aprovada por:

_______________________________________________

Presidente, Prof.

Prof.

Prof.

Prof.

Prof.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2007

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Ficha Catalográfica

Martins, Juliana Lopes.

Ecologia dos organismos multicelulares magnetotáticos/ Juliana

Lopes Martins. - Rio de Janeiro: UFRJ/IMPPG, 2007. x, 195f.: il.

Orientador: Ulysses Lins.

Tese. (Doutorado) – UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de

Góes/ Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), 2007.

Referências Bibliográficas: f. 94-107

1. Bactérias Magnéticas 2. Organismos multicelulares magnetotáticos.

3. Ecologia microbiana – I. Lins, Ulysses. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes. III. Título.

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Trabalho realizado no Laboratório de Biologia e Ultraestrutura de Procariotos do Departamento de Microbiologia Geral do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes sob orientação do Professor Dr. Ulysses Lins.

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Este trabalho foi desenvolvido com o apoio financeiro do CNPq, Faperj (Pronex) e Capes (Procad).

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Dedico este trabalho a minha filha, Maria Clara. Ela é a grande responsável pela pessoa que sou hoje.

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Agradecimentos Ao terminar este trabalho tenho de agradecer a todos que de alguma forma

colaboraram para a sua realização. Em particular agradeço:

Primeiramente a Deus, pois foi Ele que permitiu que eu encontrasse no meu caminho

todas as pessoas relacionadas abaixo.

À minha mãe Estela, por sempre me apoiar em todos os momentos, me dar suporte

logístico e emocional durante o desenvolvimento desta tese, principalmente nos momentos

finais.

À minha avó Jurema (in memoriam), enquanto ela esteve de corpo presente ela foi de

fundamental importância no apoio e na torcida. Sei que hoje ela deve estar “lá de cima” ainda

olhando e torcendo por mim.

Ao meu pai Paulo, por me tranqüilizar com seu bom humor e sempre me lembrando

que a vida não é só trabalho.

Às minhas irmãs Bia, Carol e Aninha, adoro vocês.

Ao meu namorado Celso, pelo carinho e pela sua calma e paciência em aturar meus

ataques de mau humor quase sempre vinculados a momentos de crise relacionados à tese.

Agradeço também pelas discussões científicas e pelo auxílio em algumas etapas dessa tese.

Aos meus amigos Carol, Volotão, Aline, Cláudia, Felipe, Júlia, Fábio, Rodrigo,

Bernardo, Lelê, Eduardo, Maíra (espero não ter esquecido de ninguém) por estarem sempre

presentes ajudando pessoal e profissionalmente. Em especial a Carol, Aline, Cláudia e Júlia

minhas amigas mais próxima e ao Eduardo, que por ser o pai da minha filha, me ajudou na

criação dela nos momentos em que eu não podia dar a atenção que ela merecia.

Ao pessoal do laboratório, Herval, Mineiro, Fernando, Virgínia, Karen, Fernanda,

Júlia (mais uma vez), Thaís, Prof. Carolina, pelo clima de companheirismo e ajuda mútua;

poucos são os laboratórios que, como o nosso, as pessoas são tão amigas. Agradecimentos

especiais às pessoas que me auxiliaram na realização das coletas e a Thaís (Thaisinha), nem

sei por onde começar a agradecer a essa menina.

Ao Prof. Alexandre Soares Rosado, por ter cedido a estrutura do seu laboratório e pelo

conhecimento na área de Ecologia Molecular Microbiana.

Ao Prof. Ulysses Lins, não só por ser meu orientador mas pela orientação (no real

sentido da palavra), dedicação, empenho e apoio, fundamentais no desenvolvimento dessa

tese e no meu desenvolvimento profissional.

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Ao Prof. Inácio Domingos da Silva Neto e à sua equipe, pelo auxílio no experimento

com os ciliados.

Ao Prof. Alex Enrich Prast, pela ajuda com as medidas com os microeletrodos.

À Profa. Lucy Seldin, pela rapidez e eficiência na revisão desta tese, além de sempre

manter as portas do seu laboratório abertas para qualquer ajuda.

Ao CNPq, pelos quatro anos de bolsa.

À coordenação de pós-graduação do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes,

na pessoa da Prof. Thaís Souto Padrón.

Ao Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, na pessoa da Prof. Agnes Marie de

Sá Figueiredo.

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Resumo

ECOLOGIA DOS ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS Juliana Lopes Martins

Orientador: Ulysses Lins Resumo da Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Microbiologia).

Os Organismos Multicelulares Magnetotáticos (OMMs) são bactérias magnetotáticas pluricelulares gram-negativas, capazes de sintetizar magnetossomos compostos por cristais magnéticos de greigita (Fe3S4) e raramente também magnetita (Fe3O4). A ecologia dos OMMs é pouco compreendida. Por não serem cultivados, os estudos são feitos a partir da sua retirada magnética do sedimento. Neste trabalho, estudamos a diversidade e aspectos ecológicos dos OMMs em ambientes aquáticos do estado do Rio de Janeiro. A presença dos OMMs no ambiente parece estar relacionada com a salinidade, uma vez que locais com salinidade inferior a do mar (30‰) não apresentaram OMMs. Os OMMs encontrados nos diferentes ambientes são morfologicamente similares. A biomineralização de magnetossomos com morfologias distintas de sulfeto de ferro e de óxido de ferro na mesma célula foi observada nos OMMs da lagoa Robalo. Os OMMs encontrados nas lagoas de Araruama e Encantada são possivelmente os mesmos microrganismos, porém na lagoa Robalo não foi possível verificar essa semelhança. Os OMMs da lagoa de Araruama se localizam preferencialmente nas regiões anóxicas do sedimento, indicando que estes microrganismos são provavelmente anaeróbicos, idéia sustentada pela associação filogenética destes às bactérias anaeróbicas. A distribuição sazonal ao longo de um ano demonstrou que possivelmente a introdução de matéria orgânica possa favorecer o aumento na densidade da população de OMMs, mas que diferenças biogeoquímicas também são importantes na determinação dessa densidade. Mudanças na estrutura da comunidade microbiana dos ambientes dos OMMs ocorrem concomitantemente com mudanças bruscas na densidade da dos OMMs. Possivelmente algum fator ambiental possa ter afetado a toda a microbiota (incluindo os OMMs) ou então a própria mudança na comunidade possa estar influenciando diretamente a população de OMMs. Observações feitas nos ambientes e em microcosmos indicam que os OMMs são microrganismos levemente halofílicos. Experimentos de predação mostraram que ciliados oriundos do mesmo local que os OMMs não tiveram dificuldade em ingeri-los. Observações anteriores demonstraram que flagelados não eram capazes de ingerir os OMMs intactos, apesar de ambos os protozoários ingerirem facilmente cocos magnéticos. Essa diferença de resposta à predação sugere que a organização agregada dos OMMs seja uma conseqüência da pressão evolutiva para evitar a predação por protozoários. Os OMMs foram encontrados em estado de extrema deterioração inclusive com a dissolução dos magnetossomos dentro dos compartimentos ácidos do ciliado. Dependendo da taxa do consumo dos OMMs pelos ciliados, parte do ferro imobilizado dentro dos magnetossomos é reciclado ao ambiente em uma forma mais solúvel. Palavras-chave: Bactérias Magnéticas. Organismos multicelulares magnetotáticos. Ecologia

microbiana.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2007

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Abstract ECOLOGIA DOS ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS

Juliana Lopes Martins

Orientador: Ulysses Lins

Resumo da Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Microbiologia).

Magnetotactic Multicellular Organisms (MMOs) are gram-negative pluricellular

magnetotactic bacteria, capable of synthesizing magnetosomes composed of magnetic crystals of greigite (Fe3S4) and some times also magnetite (Fe3O4). The ecology of the MMOs is poorly understood. Because they are not cultivated, studies rely on their magnetic extraction from the sediment. In this work, we studied the diversity and ecological aspects of the MMOs in aquatic environments of the Rio de Janeiro state. The presence of MMOs in the environment seems to be related with the salinity, as sites where the salinity was lower than the sea (30‰) did not contain MMOs. MMOs found in the different environments are morphologically similar. We observed the biomineralization of iron sulfide and iron oxide magnetosomes with different morphologies in the same cell in the MMOs from Robalo lagoon, suggesting that these microorganisms may have two sets of independent genes for each type of magnetosome, and the environment can be responsible for the element availability for the formation of each crystal type. MMOs found in Araruama and Encantada lagoon are probably the same microorganism, but in the Robalo lagoon, we could not verify this similarity. MMOs from Araruama lagoon are located preferentially in the anoxic zone of the sediment, indicating that these microorganisms are anaerobic, an idea supported by the phylogenetic association of these microorganisms with anaerobic bacteria. The sazonal distribution along one year demonstrated that possibly the input of organic material increase the population density of MMOs, although biogeochemical differences are also important in the determination of such density. Changes in the microbial community structure in the MMOs environment occur concomitantly with strongl changes in the density of MMOs. Possibly, other environmental factors may have influenced the whole microbiota (including the MMOs) or the change in the community could be directly influencing the population of MMOs. Environmental and microcosm observations indicate that the MMOs are slightly halophilic microorganisms. Predation experiments showed that the ciliates from the same site where MMOs thrive easily ingested the MMOs. Previous observations demonstrated that flagellates did not consume intact MMOs, although both protozoa can easily ingest magnetic cocci. The difference in the predation response indicates that the aggregated organization of the MMOs is a consequence of an evolutionary pressure to prevent predation by protozoa. The MMOs were found in extreme deterioration conditions, along with the dissolution of magnetosomes within the acid compartments of the ciliate. Depending on the rates of MMOs consumption by the ciliates, part of the iron stored within the magnetosomes is recycled to the environment in a more soluble form. Key-words: Magnetic bacteria. Magnetotactic multicellular organisms. Microbial ecology.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2007

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INTRODUÇÃO 4

Bactérias magnéticas 4

Magnetossomos 5

Magnetotaxia 8

Ecologia das bactérias magnéticas 12

Organismos Multicelulares Magnetotáticos (OMMs) 14

Morfologia e movimento 15

Ciclo de vida 18

Multicelularidade 19

Filogenia 21

Ecologia 23

OBJETIVOS 25

MATERIAIS E MÉTODOS 26

Locais de coleta 26

Coleta das amostras 26

Dados abióticos 27

Concentração das bactérias magnéticas 27

Isolamento, cultivo e identificação dos ciliados 29

Observação das bactérias magnéticas por microscopia de luz e vídeo microscopia 29

Contagem dos OMMs 29

Contagem das bactérias totais 30

Experimentos de interação ciliados-OMMs 31

Microscopia eletrônica de varredura 32

Microscopia eletrônica de transmissão 32

Hibridização in situ fluorescente (FISH) 33

Técnicas moleculares 34

Extração de DNA do sedimento 34

Reação em cadeia da polimerase 35

Eletroforese em gel de agarose 35

Eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE) 36

Coloração por nitrato de prata 36

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Análise dos géis de DGGE 37

RESULTADOS 38

Distribuição dos OMMs nos ambientes aquáticos do Estado do Rio de Janeiro 38

Lagoa Encantada 38

Lagoa Robalo 39

Diversidade genética dos OMMs encontrados no RJ 40

DGGE dos OMMs da lagoa de Araruama (Iguaba) e Encantada 40

Hibridização in situ com o uso de sondas oligonucleotídicas marcadas fluorescentemente

(FISH) com a sonda MMP 41

Estudos ecológicos dos OMMs da lagoa de Araruama 41

Estudos no ambiente 42

Estudos nos microcosmos 43

Comportamento sazonal no ambiente 44

Testes de salinidade 46

Ensaio de predação 47

Estudo da comunidade microbiana dos mesmos ambientes dos OMMs 49

PRANCHAS 52

Prancha 1: OMMs encontrados na lagoa Encantada 53

Prancha 2: OMMs da lagoa Robalo 55

Prancha 3: Diversidade genética dos OMMs encontrados em diferentes regiões do

estado do Rio de Janeiro 57

Prancha 4: Distribuição espacial dos OMMs na lagoa de Araruama 59

Prancha 5: Comportamento dos OMMs nos microcosmos ao longo do tempo 61

Prancha 6: Dados abióticos do acompanhamento sazonal 63

Prancha 7: Comportamento sazonal dos OMMs no ambiente – importância da

salinidade 65

Prancha 8: Ciliado isolado do sedimento da lagoa de Araruama identificado como

Euplotes vannus 67

Prancha 9: Predação dos OMMs pelos ciliados 69

Prancha 10 – Deterioração dos OMMs e dos magnetossomos nos vacúolos do ciliado 71

Prancha 11 – Vacúolos ácidos e localização do ferro dentro do ciliado 73

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Prancha 12 – Comunidade microbiana dos ambientes dos OMMs nos meses de

Agosto/2005, Janeiro e Fevereiro/2006 75

DISCUSSÃO 77

Distribuição e diversidade no ambiente 77

Biogeografia dos OMMs 79

Localização no sedimento 80

Variação da densidade da população de OMMs ao longo do tempo em diferentes locais

na lagoa de Araruama 81

Estrutura da comunidade microbiana 82

Salinidade 84

Predação 85

Organização multicelular como forma de evitar a predação 85

Digestão dos magnetossomos e impacto no ambiente 87

Regulação da população dos OMMs 87

CONCLUSÕES 90

REFERÊNCIAS 91

3

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Introdução

A constante interação dos seres vivos com o ambiente é um processo dinâmico. A

interação entre o campo magnético terrestre e os seres vivos é um dos exemplos deste

dinamismo (LINS DE BARROS, ESQUIVEL & FARINA, 1990). Este fenômeno tem sido

observado desde a sua descoberta em uma variedade de organismos (FRANKEL, 1984;

WALKER et al., 1988) incluindo algas (TORRES DE ARAÚJO et al., 1986), protozoários

(BAZYLINSKI et al., 2000) e bactérias (BLAKEMORE, 1975).

BACTÉRIAS MAGNÉTICAS

As bactérias magnéticas são procariontes gram-negativos, móveis por meio de flagelos;

a maioria parece ser microaerófila, com alguns indivíduos anaeróbicos. Esse grupo de bactérias

é ubíquo e comum em ambientes aquáticos (BAZYLINSKI et al., 1995) e solos alagados

(FASSBINDER, STANJEK, & VALI, 1990). Essas bactérias sintetizam inclusões

intracitoplasmáticas contendo cristais magnéticos chamadas de magnetossomos. Essas

organelas conferem à bactéria a capacidade de se orientar e migrar ao longo das linhas de um

campo magnético (SCHÜLER & FRANKEL, 1999).

As bactérias magnéticas representam um grupo diversificado no que diz respeito à

morfologia e à filogenia (SPRING & SCHLEIFER, 1995). Com isso o termo “bactéria

magnética” perde o significado taxonômico e esses microrganismos devem ser considerados

como um grupo diverso de procariotos, que compartilham da característica da magnetotaxia

(BLAKEMORE, 1982). O número de bactérias magnéticas em cultura axênica é

extremamente limitado e, por isso, a diversidade morfológica e a filogenia deste grupo têm

sido analisadas por métodos independentes de cultivo.

A filogenia de alguns morfotipos de bactérias magnéticas, incluindo tanto aquelas

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obtidas em cultura pura quanto as coletadas diretamente do ambiente, tem sido determinada

pelo seqüênciamento do gene que codifica a subunidade menor do RNA ribossomal (16S

rRNA). Até agora, os representantes dos procariotos magnetotáticos estão filogeneticamente

associados a três principais linhagens dentro do domínio Bacteria. Aquelas que se encontram

dentro do grupo das proteobactérias estão distribuídas entre as subclasses

Alphaproteobacteria, Deltaproteobacteria e Gammaproteobacteria (DELONG, FRANKEL

& BAZYLINSKI, 1993; KAWAGUCHI et al., 1995; SPRING & SCHLEIFER, 1995;

SPRING & BAZYLINSKI, 2000; SIMMONS et al., 2004). Apesar de a grande maioria estar

localizada dentro do grupo das Proteobacteria, a bactéria denominada “Magnetobacterium

bavaricum” é afiliada ao filo Nitrospira (SPRING et al., 1993).

A diversidade das bactérias magnéticas é refletida pelo número de diferentes morfotipos

encontrados nas amostras ambientais de água e sedimento. Os morfotipos normalmente

observados incluem células cocóides a ovóides, bastonetes, vibrios e espirilos de várias

dimensões. O mais abundante morfotipo de bactéria magnética presente nas amostras

ambientais, especialmente sedimentos, é células cocóides que possuem dois tufos de flagelos.

Em contraste, duas das bactérias magnéticas morfologicamente mais distintas, regularmente

observadas nas amostras ambientais, mas nunca isoladas em cultura pura, são os procariotos

multicelulares magnetotáticos (PMMs) (FARINA et al., 1983; RODGERS et al., 1990a,

KEIM et al., 2004a; SIMMONS et al., 2004) e o “Candidatus Magnetobacterium

bavaricum”, um grande bastonete contendo muitos magnetossomos em forma de ponta de

lança (VALI et al., 1987; SPRING et al., 1993).

Magnetossomos

Os magnetossomos são organelas envoltas por membranas ou por estruturas similares a

membranas, que contém um cristal magnético em seu interior (GORBY, BEVERIDGE &

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BLAKEMORE, 1988). Esses cristais, que podem ser tanto de óxido de ferro magnetita

(Fe3O4) ou sulfeto de ferro greigita (Fe3S4), representam a característica distintiva das

bactérias magnéticas. Embora a maioria das bactérias magnéticas produza somente um tipo de

mineral, uma bactéria magnética em forma de bacilo e uma multicelular (PMMs) contêm

ambos os tipos de cristais, magnetita e greigita, cada um com sua morfologia característica

(BAZYLINSKI et al., 1993a e 1995; LINS et al., 2007).

A fase mineral dos magnetossomos nas bactérias magnéticas contém cristais que variam

em tamanho de 35-200 nm (FRANKEL, BAZYLINSKI & SHÜLLER, 1998), mas a grande

maioria possui cristais entre 35-120 nm (BAZYLINSKI, 1995, FRANKEL, BAZYLINSKI &

SHÜLLER, 1998). Dentro dessa faixa de tamanho a maioria dos cristais são monodomínios

permanentes (BUTLER & BANERJEE, 1975). Partículas menores de 35 nm são

superparamagnéticas à temperatura ambiente e com isso não são magneticamente estáveis. Já

partículas maiores tendem a formar múltiplos domínios, reduzindo e até neutralizando a

magnetização da partícula (BAZYLINSKI, 1995).

As morfologias dos cristais dos magnetossomos variam, mas são geralmente uniformes

entre as células de uma mesma espécie ou cepa (BAZYLINSKI, GARRAT-REED &

FRANKEL, 1994). Até mesmo a bactéria que produz magnetita e greigita produz apenas uma

morfologia de cristal para cada um dos minerais (BAZYLINSKI et al., 1995). Geralmente três

morfologias de partículas magnéticas têm sido observadas nas bactérias magnéticas através da

microscopia eletrônica de transmissão (MET). Elas são: cubo-octaedro (cubóides)

(BALKWILL, MARATEA & BLAKEMORE, 1980), prismáticas (TOWE & MOENCH,

1981) e em forma de bala ou ponta de seta (MANN, SPARKS & BOARD 1990). Estudos de

MET de alta resolução têm demonstrado que as partículas de magnetita dentro dos

magnetossomos possuem uma grande perfeição estrutural (BAZYLINSKI, 1999). Nas

partículas de greigita, a morfologia cristalina inclui cristais cubo-octaédricos (cubóides) e

6

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prismáticos retangulares (HEYWOOD et al., 1990); partículas pleiomórficas e em forma de

ponta de seta são ocasionalmente encontradas (PÓSFAI et al., 1998b).

Na maioria das bactérias magnéticas, os magnetossomos estão organizados em uma ou

mais cadeias ao longo do eixo longitudinal da célula (BAZYLINSKI, 1999). Nessa

organização, o momento magnético total da célula é a soma dos momentos das partículas

individuais e a cadeia de magnetossomos se comporta como um único dipolo magnético

(FRANKEL & BLAKEMORE, 1980). Essa é a organização magneticamente mais eficiente,

pois o momento magnético final é a soma de todos os momento magnéticos gerados por cada

cristal. Estudos recentes em espécies cultivadas de bactérias magnéticas têm demonstrado a

existência de estruturas similares ao citoesqueleto de células eucarióticas que mantêm a

organização destas cadeias de cristais e que estas estruturas também são responsáveis por

ancorar estas cadeias à membrana das células bacterianas e, com isso, transferir o torque da

cadeia para a célula em caso de mudança do campo magnético (KOMEILI et al., 2006;

SCHEFFEL et al., 2006; MARTINS et al., 2007).

É importante comentar que se sugere que parte das bactérias denominadas

magnetotáticas possa ser somente magnética, ou seja, a presença dos cristais pode ter outra

função diferente da orientação de nado no campo geomagnético (MANN, SPARKS &

BOARD, 1990). Em favor desta hipótese existem observações sobre inúmeras espécies de

bactérias magnéticas nas quais os cristais magnéticos não estão organizados em cadeias, mas

em grupos. A organização aleatória desses cristais, apesar de poder ter sido gerada pelo

processamento das células para a microscopia, resulta em um momento magnético por célula

perto do neutro (MANN, SPARKS & BOARD, 1990). A idéia de que a função primária dos

magnetossomos seja a orientação é a mais aceita, apesar de algumas bactérias apresentarem

mais magnetossomos do que o necessário para sua orientação (SPRING et al., 1993; LINS et

al., 2000, 2005 e 2006).

7

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Outras funções sugeridas para o magnetossomo seriam o armazenamento de ferro, a

prevenção à toxicidade do ferro, o uso do ferro como fonte de energia, e a destruição dos

radicais tóxicos do oxigênio produzidos durante a respiração (BLAKEMORE, 1982). Porém,

no caso dos cocos, é improvável que os cristais possam ser usados para a obtenção de energia

ou como estoque de ferro, pois o ferro contido nos cristais não é usado mesmo na ausência de

ferro no meio (COX et al., 2002). Além disso, a perfeição cristalográfica dos cristais, a

regulação do tamanho e da direção do crescimento do cristal sugere que o processo de

formação seja biologicamente controlado (LOWENSTAM & WEINER, 1989) e não um

subproduto do metabolismo bacteriano. Já a bactéria Desulfovibrio magneticus, apesar da sua

fraca resposta a um campo magnético aplicado, foi observada a produção de magnetita e no

interior da célula e sulfetos de ferro e hematita no exterior (SAKAGUCHI, BURGESS &

MATSUNAGA, 1993, PÓSFAI et al., 2006). Estudos filogenéticos demonstraram que esta

bactéria está relacionada a outras que fazem a redução do ferro, sendo que uma delas produz

magnetita extracelularmente (KAWAGUCHI et al., 1995). Com isso os autores comentam a

possibilidade de nessas bactérias as inclusões de magnetita serem derivadas da redução

metabólica do ferro, sem nenhuma função na orientação (KAWAGUCHI et al., 1995). Mais

recentemente, foi observado que essas bactérias quando crescem anaerobicamente na presença

de fumarato e sulfato, os cristais de magnetita produzidos são poucos e pequenos,

insuficientes para a magnetotaxia (PÓSFAI et al., 2006).

Magnetotaxia

O fenômeno de magnetotaxia, ou seja, a resposta passiva de microrganismos a campos

magnéticos foi primeiramente descrita em 1975 (BLAKEMORE, 1975). A teoria original

sobre a magnetotaxia se baseava na suposição de que todas as bactérias magnéticas são

microaerófilas e nativas nos sedimentos. Estudos demonstravam que elas se alinhavam

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passivamente e nadavam ativamente ao longo do campo geomagnético inclinado. Células

mortas como não nadam, se alinham, mas não se movimentam no eixo do campo magnético.

Com isso, BLAKEMORE propôs que a magnetotaxia ajudava a guiar as células até as regiões

menos oxigenadas dos ambientes aquáticos, o sedimento. Uma vez atingida seu microhabitat

ótimo, as células parariam de nadar e adeririam às partículas de sedimento até as mudanças

nas condições do local, como por exemplo, quando oxigênio adicional fosse introduzido. Essa

hipótese é apoiada pelo fato de que as bactérias que são tipo Norte (nadam para a direção

norte indicada por uma bússola, ou seja, paralelamente ao campo) ocorrem

predominantemente no hemisfério Norte ao passo que as bactérias tipo Sul (nadam

antiparalelo ao campo, ou seja, para o sul da bússola) são encontradas predominantemente no

hemisfério Sul. Devido ao comportamento negativo (para cima) e positivo (para baixo) da

inclinação do campo geomagnético no hemisfério Norte e Sul, respectivamente, as bactérias

magnéticas em ambos os hemisférios, portanto nadam para baixo direcionado para o

sedimento, longe da superfície onde a concentração de oxigênio é alta (BLAKEMORE,

1982).

Recentes descobertas a respeito do comportamento das bactérias magnéticas, motivaram

uma revisão sobre a teoria da magnetotaxia. O modelo tradicional proposto não explicava

completamente como as bactérias da região anóxica das colunas d’água se beneficiavam da

magnetotaxia, nem como cocos magnetotáticos formam bandas microaerofílicas de

crescimento em meio semi-sólido com gradiente de oxigênio. SPORMANN & WOLFE

(1984) demonstraram que a magnetotaxia era de alguma forma controlada pela aerotaxia em

algumas bactérias magnéticas, mas esse fato sozinho não ajudava a explicar todos os efeitos

observados da magnetotaxia.

Ao contrário das bactérias quimiotáticas que possuem mobilidade do tipo “run and

tumble”, a maioria das bactérias magnetotáticas se move bidirecionalmente no campo

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magnético. No caso dos espirilos magnéticos, que possuem dois flagelos um em cada pólo da

célula, ocorre o alinhamento com o campo magnético e as células nadam para ambos os lados

do campo magnético, sendo por isso conhecidos como “two way swimmers” (figura 1).

Durante o nado usam a aerotaxia para achar a concentração ótima de oxigênio na zona de

transição óxica anóxica (inglês, OATZ) (FRANKEL et al., 1997). Os cocos magnéticos

microaerófilos, que possuem dois tufos de flagelos de um mesmo lado da célula, também

nadam para os dois lados, mas com um comportamento diferente. Quando em ambiente com

oxigênio acima da ideal (estado oxidado) eles nadam para o norte, no caso das bactérias do

hemisfério Norte (paralelo ao campo) e o inverso para as bactérias encontradas no hemisfério

Sul (antiparalelo ao campo) com o flagelo impulsionando o corpo bacteriano. Quando

encontram ambientes com baixas concentrações de oxigênio, a bactéria passa para um estado

reduzido e elas então nadam em sentido contrário através da inversão do sentido de rotação do

flagelo (FRANKEL et al., 1997) com este “puxando” o corpo celular (figura 2).

Figura 1: Ilustração comparando o comportamento, no hemisfério Norte, de cepas dos cocos magnéticos MC-1 e M. magnetotacticum em uma gota d’água (condição de alta tensão de O2) em lâmina. Células da cepa MC-1 nadam persistentemente, paralelo ao campo magnético B (no hemisfério Norte) se acumulando na borda da gota, independentemente do sentido do campo. Células de M. magnetotacticum nadam em ambos os sentidos do eixo na mesma

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direção do campo magnético independentemente do sentido do campo. Figura modificada de FRANKEL et al. (1997).

Figura 2: Modelo hipotético da magneto-aerotaxia polar (hemisfério Norte). As células se alinham no eixo do campo geomagnético e sua direção de nado depende do estado redox (SPRING & BAZYLINSKI, 2000).

Baseado nessas observações foi proposto que a aerotaxia e a magnetotaxia atuam juntos

nas bactérias magnetotáticas, surgindo a evidência de um comportamento sensorial (magneto-

aerotaxia) que envolve dois tipos diferentes: a representada pelo comportamento dos espirilos

magnéticos, magneto-aerotaxia axial; e a pelos cocos magnéticos magneto-aerotaxia polar

(FRANKEL et al., 1997). No caso da axial, o campo geomagnético fornece somente o eixo

enquanto que na polar o campo fornece o eixo e a direção do nado.

A magneto-aerotaxia é especialmente vantajosa para os microrganismos nativos de

ambientes onde há um gradiente vertical de concentração. Este tipo de comportamento

aumenta a eficiência na localização da concentração ótima em relação ao gradiente. Como as

bactérias se movem ao longo do eixo do campo inclinado geomagnético, esse comportamento

transforma um problema tridimensional em unidimensional (FRANKEL et al., 1997). A

magneto-aerotaxia pode interagir com outros mecanismos sensoriais além da aerotaxia, como

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por exemplo, a quimiotaxia envolvendo moléculas e íons diferentes do oxigênio como o

sulfeto (BAZYLINSKI, 1999).

A magnetotaxia também já foi descrita em microrganismos eucariotos. A primeira

descrição de um microrganismo eucariótico apresentando o comportamento magnetotático foi

em uma alga do gênero Anisonema (TORRES DE ARAUJO et al., 1986). Posteriormente,

foram também descritos protozoários flagelados e ciliados que apresentavam uma fraca

resposta a campos magnéticos (BAZYLINSKI et al., 2000). Entretanto, não foi determinado

se os cristais magnéticos são originados do próprio protista ou se pertencem a bactérias

magnéticas que esses protozoários possam ter ingerido.

ECOLOGIA DAS BACTÉRIAS MAGNÉTICAS

Como já mencionado, as bactérias magnéticas são comuns em ambientes aquáticos

(BAZYLINSKI et al., 1995). Ainda não foi detectada a presença destas bactérias nos

ambientes extremos, como as fontes hidrotermais (MANN, SPARKS & BOARD, 1990). A

ocorrência de bactérias magnéticas parece ser dependente de um gradiente de compostos

reduzidos e oxidados, normalmente representados pelas espécies reduzidas do enxofre e do

oxigênio.

Bactérias magnéticas se encontram nos sedimentos e em colunas d’água estratificadas

predominantemente na zona de transição aeróbica-anaeróbica (oxic-anoxic transition zone –

OATZ) e na região anaeróbica do habitat. Em muitos ambientes aquáticos, a OATZ se

localiza na interface sedimento-água ou logo abaixo. Entretanto, em alguns ambientes

salobros, a OATZ é localizada permanentemente ou sazonalmente na coluna d’água devido à

difusão ascendente do sulfeto de hidrogênio, produzido pelas bactérias redutoras de sulfato na

região anaeróbica e no sedimento (BAZYLINSKI, 1999). Geralmente as bactérias magnéticas

produtoras de magnetita preferem a OATZ propriamente dita e se comportam como

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microaerófilos (BAZYLINSKI, 1999). As produtoras de greigita estão em sua maioria

localizadas nas regiões anaeróbicas sulfídricas abaixo da OATZ e se comportam como

bactérias anaeróbicas (BAZYLINSKI et al., 1995).

Tanques de tratamento de esgoto, bacias de sedimentação de purificação de água e

lagoas naturais com acúmulo de sedimento orgânico são aparentemente bons locais para

encontrar bactérias magnéticas (MANN, SPARKS & BOARD, 1990). Certas generalizações

podem ser feitas sobre as condições que aparentemente favorecem o crescimento das bactérias

magnéticas na natureza. Um sedimento rico em matéria orgânica, fino, com pH de neutro a

alcalino e submetido a perturbações periódicas são nichos favoritos para esse grupo de

bactérias (MANN, SPARKS & BOARD, 1990).

Seu papel ecológico ainda não é muito bem conhecido. Sabe-se que a importância deste

grupo de bactérias no ciclo biogeoquímico do ferro é óbvia, uma vez que acumulam grandes

quantidades de ferro intracelularmente na forma de magnetita (Fe3O4) e greigita (Fe3S4)

(BAZYLINSKI, 1995). De acordo com estudos preliminares de cepas de bactérias magnéticas

obtidas em cultura pura, esses microrganismos catalisam muitas transformações químicas

importantes em compostos de nitrogênio, enxofre e carbono, devendo ter papéis significativos

nos ciclos biogeoquímicos desses elementos tanto na coluna d’água quanto no sedimento

(BAZYLINSKI, 1995). Provavelmente, as bactérias magnéticas desempenham um papel

importante na magnetização dos sedimentos. Quando essas células morrem e lisam, elas

liberam os cristais magnéticos (que são em sua maioria monodomínios magnéticos

permanentes) no ambiente em que se encontram (VALI et al., 1987).

O maior obstáculo para o estudo das bactérias magnéticas é que elas são geralmente

muito difíceis de cultivar. Dessa forma, poucos são os representantes em cultura pura. As

bactérias magnéticas cultivadas incluem espécies de espirilos de água doce do gênero

Magnetospirillum (BLAKEMORE, MARATEA & WOLFE, 1979; MATSUNAGA,

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SAKAGUSHI & TADAKORO, 1991; SCHLEIFER et al., 1991); víbrios marinhos MV-1 e

MV-2 (BAZYLINSKI, FRANKEL & JANNASCH, 1988; MELDRUM et al., 1993b); a

bactéria redutora de sulfato Desulfovibrio magneticus (SAKAGUCHI, ARAKAKI, &

MATSUNAGA, 2002); e os magnetococos MC-1, MC-2 e MC-3 (MELDRUM et al. 1993a,

DEVOUARD et al., 1998).

Vários morfotipos de bactérias magnéticas tem sido isolados de sedimentos e solos

alagados por todo o mundo (MANN, SPARKS & BOARD, 1990), mas como a maioria destas

bactérias é ainda não cultivável, não são acessíveis para uma descrição taxonômica válida.

Conseqüentemente é sugerido o uso de características morfológicas (composição, morfologia

e organização dos cristais) como base para classificação das bactérias magnéticas

(THORNHILL et al., 1994).

ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS (OMMS)

Formas multicelulares de bactérias magnéticas foram descritas em diferentes ambientes

salobros, marinhos ou hipersalinos ricos em enxofre nos hemisférios norte e sul, e diferentes

nomes foram propostos (FARINA et al., 1983; RODGERS et al., 1990a, KEIM et al., 2004a;

SIMMONS et al., 2004; SIMMONS & EDWARDS, 2007a). Essas formas multicelulares

foram primeiramente descritas por FARINA e colaboradores em 1983 na lagoa Rodrigo de

Freitas no Rio de Janeiro e foram chamados de agregado multicelular magnetotático (AMM).

RODGERS e colaboradores (1990a) encontraram um microrganismo similar aos AMMs em

ambientes costeiros marinho e salobro em New England e foram chamados de “many-celled

magnetotactic prokaryote” (MMP) e posteriormente de procarioto multicellular magnetotático

(PMM) (RODGERS et al., 1990b). Essas bactérias multicelulares magnetotáticas foram

também encontradas em uma das maiores lagoas hipersalinas permanente do planeta, a lagoa

de Araruama (KEIM et al., 2004a), e foram chamadas de organismo multicelular

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magnetotático (OMM). De todas as formas multicelulares descritas a que possui uma melhor

caracterização fenotípica é o OMM (KEIM et al., 2004a, 2004b, 2007), por isso essa será a

nomenclatura adotada nesse trabalho.

Morfologia e movimento

Todas as bactérias multicelulares magnetotáticas descritas até então parecem partilhar

de algumas características principais. Os OMMs são microrganismos esféricos, com diâmetro

variando de aproximadamente 3 a 12 µm, composto de aproximadamente 10 a 30 células

gram-negativas, organizadas em uma aparente simetria helicoidal (LINS & FARINA, 1999,

KEIM et al., 2004a e 2007). As células são arranjadas radialmente ao redor de um

compartimento acelular encontrado no centro do microrganismo (figura 3; KEIM et al.,

2004a, 2004b, 2007). Esse arranjo radial das células faz com que as células assumam uma

conformação piramidal (figura 4), com a base sendo a superfície em contato com o meio

externo e o ápice em contato com o compartimento acelular. Esse arranjo de células dos

OMMs não é aleatório, um vez que se somente as leis de tensão superficial estivessem

atuando sobre a organização dos OMMs, era de se esperar que houvessem células internas

nesse arranjo (KEIM et al., 2007). A possível existência de junções intercelulares entre as

células adjacentes do OMM já foi relatada (RODGERS et al., 1990a), e a íntima união entre

as membranas externas entre as células adjacentes indicam a existência de algum mecanismo

específico de ligação célula-célula (KEIM et al., 2007).

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Figura 3 – Série óptica obtida por microscopia confocal a laser de um OMM corado com o corante lipofílico (FM 1-43) que realça o contorno das células. A barra indica 5 µm. (KEIM et al., 2007).

Figura 4 – Imagem de criofratura dos OMMs mostrando o formato piramidal das células devido ao arranjo radial das mesmas. A barra indica 1 µm. Figura reproduzida de KEIM et al. (2004a).

As células que compõe os OMMs são assimetricamente multiflageladas na sua

superfície externa exposta ao ambiente. Possuem uma cápsula composta por fibras arranjadas

radialmente circundando o agregado, e possuem estruturas subcelulares como inclusões

lipídicas, flagelos e numerosos magnetossomos (em média 31 por célula que compõe o

agregado) (FARINA et al., 1983; RODGERS et al., 1990b; KEIM et al., 2004a; SILVA et al.,

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2007).

Os magnetossomos consistem de greigita e inúmeros precursores não magnéticos da

greigita (PÓSFAI et al., 1998a). Raramente cristais de magnetita são encontrados, juntamente

com os de greigita, nos OMMs (KEIM, LINS & FARINA, 2003; LINS et al., 2007). Os

magnetossomos variam de 85 a 100 nm de tamanho (LINS DE BARROS, ESQUIVEL &

FARINA, 1990; RODGERS et al., 1990a), são geralmente pleiomórficos e arranjados em

cadeias curtas perto da periferia do microrganismo, paralelo à superfície externa das células

(KEIM et al., 2007). O número de magnetossomos por OMMs pode variar de 300 (LINS,

FARINA & LINS DE BARROS, 1992) a 1000 (FARINA et al., 1983, FARINA, ESQUIVEL

& LINS DE BARROS 1990), podendo ter uma distribuição uniforme nas células (PÓSFAI et

al., 1998b) ou não homogênea (LINS DE BARROS, ESQUIVEL & FARINA, 1990).

O tipo de movimento denominado “ping-pong” ou “movimento de escape” parece ser

uma peculiaridade desses microrganismos (LINS & FARINA, 1999, KEIM et al., 2007).

Neste movimento as células, na presença de oxigênio em um campo magnético uniforme,

nadam na direção preferencial (sul no hemisfério Sul) até encontrarem a borda da gota d’água.

Depois os OMMs ocasionalmente revertem espontaneamente sua direção nadando por curtos

trajetos na direção oposta a da sua polaridade (RODGERS et al., 1990a). Esse movimento

contrário à direção preferencial sofre desaceleração continua com o tempo, enquanto que o

movimento a favor demonstra uma aceleração uniforme (GREENBERG et al., 2005). Na

borda da gota os OMMs rodam ao redor de um eixo que passa no centro do microrganismo

(KEIM et al., 2007). Esse movimento de rotação também é observado quando o OMM

encontra um obstáculo, como grãos de areia e partículas de sedimento (KEIM et al., 2007).

Quando não há nenhum obstáculo (borda da gota ou partículas de sedimento e areia) os

OMMs podem nadar a 90 ± 20 µm/s de velocidades em uma trajetória helicoidal com o eixo

alinhado ao campo magnético (ALMEIDA, FARINA & KEIM, 2005; KEIM et al., 2007). O

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movimento de “ping-pong” não é observado quando os OMMs são expostos a campos

magnéticos próximos ao da Terra, neste caso os OMMs nadam em velocidade constante com

movimentos de “looping” na interface água-ar (GREENBERG et al., 2005). O “ping-pong”

parece ser dependente da intensidade do campo magnético, quanto maior o campo maior a

probabilidade dos OMMs percorrerem trajetórias contrárias à direção preferencial e, em

seguida, voltarem a borda da gota (GREENBERG et al., 2005).

Ciclo de vida

Apesar da maioria dos OMMs possuírem uma forma esférica, são ocasionalmente

visualizadas formas elípticas (RODGERS et al., 1990a) e parecidas com “oito” (LINS &

FARINA, 1999). A partir dessas observações, foi sugerido que essas formas não freqüentes

poderiam ser estágios do ciclo de vida desses microrganismos (figura 5; KEIM et al., 2004b).

De acordo com o ciclo de vida proposto, os OMMs seriam esféricos a maioria do tempo do

seu ciclo (figura 5a) e primeiramente cresceriam de tamanho por aumentar o volume de suas

células, mas com o mesmo número de células (figura 5b). Posteriormente todas as células

dividiriam sincronicamente permanecendo juntas na esfera, os OMMs então passariam a ter o

dobro do número de células original (figura 5c). Os microrganismos se tornariam elípticos

(figura 5d) e então em formato de “oito” com os dois OMMs filhos aderidos entre si (figura

5e). Ocorreria uma pequena torção entre as duas metades, e a separação dos dois OMMs

filhos (figura 5f), retornando ao início do ciclo. Essa separação por torção resolveria o

problema de manter a organização, a polaridade magnética e o compartimento interno acelular

dos OMMs.

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Figura 5 – Micrografias de microscopia eletrônica de varredura mostrando o ciclo de vida proposto para os OMMs. Os OMMs pequenos (a) aumentam de tamanho por aumentar o volume de suas células (b) então as células se dividem sincronicamente duplicando o número de células (c). Os OMMs se tornam alongados (d) e através de um torção entre os dois OMMs filhos (e) se separam em dois OMMs iguais (f). A barra indica 4 µm. Figura reproduzida de KEIM et al. (2004b).

O septo da divisão celular parece ocorrer simultaneamente em todas as células dos

OMMs, começando na superfície externa da célula e se direcionando ao compartimento

acelular. Esse mecanismo incomum de divisão celular ajuda a preservar a organização geral

dos OMMs pois mantém todas as células arranjadas radialmente. Além disso, como os

magnetossomos e os flagelos são encontrados na região mais externa da célula, este

mecanismo incomum de divisão celular ajuda a distribuir igualmente essas estruturas nas

células filhas (KEIM et al., 2004b).

Multicelularidade

O ciclo de vida proposto para os OMMs é sustentado pelo fato de que nunca foram

observadas células individuais ativas (que nadam e se orientam no campo magnético)

(FARINA, ESQUIVEL & LINS DE BARROS, 1990; LINS & FARINA, 1999; KEIM et al.,

2004a). Além disso, quando os OMMs são expostos a diferentes pressões osmóticas, as

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células desagregam e as células individuais não se movimentam sozinhas (LINS & FARINA,

1999), enfatizando assim o comportamento integrado do sistema. A restauração da

osmolaridade original não restabelece a organização dos OMMs nem a mobilidade celular.

Esses dados sugerem que não existe estágio unicelular nesses microrganismos. Recentemente,

nosso grupo demonstrou que a integridade estrutural dos OMMs é essencial para seu

movimento e viabilidade (ABREU et al., 2006). Foi observado com o uso de corantes de

viabilidade celular, que a saída de algumas células pode induzir a morte de todo o

microrganismo e que as células individuais realmente não estão viáveis, enfatizando a

característica multicelular dos OMMs.

A importância da organização estrutural dos OMM deve ocorrer devido à aparente

polarização das células. A distribuição não aleatória de estruturas como flagelos, cápsula e

magnetossomos (KEIM et al., 2004b) e também a distribuição não homogênea de partículas

intramembranosas (observadas por criofratura), que estão concentradas na região da célula em

contato com o meio externo (KEIM et al., 2004a), demonstram a especialização celular e a

polarização. A ausência de algumas células no OMM, leva a perda desse arranjo estrutural e

conseqüentemente a perda da especialização celular e a coordenação célula-célula (ABREU et

al., 2006).

O alto nível de organização estrutural, a interdependência entre as células, o ciclo de

vida complexo e incomum, e a coordenação celular necessária para o comportamento

natatório e a orientação no campo magnético nos levam a concluir que os OMMs são

realmente um microrganismo multicelular procarioto, coordenando percepção e resposta.

Apesar de não se encaixar no conceito tradicional de definição de organismos multicelulares

(GILBERT, 2003) que incluem a necessidade da existência de tipos celulares diferentes, os

OMMs se encaixam perfeitamente nos conceitos modernos (CARLILE, 1980; SHAPIRO,

1998; KAISER, 2001). Esses novos conceitos propõem que organismos multicelulares devem

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possuir muitas células intimamente conectadas, forma específica, organização celular,

ausência de autonomia celular e competição, e coordenação de movimento, crescimento e

atividades bioquímicas.

A natureza exclusivamente multicelular dos OMMs pode estar relaciona com a

necessidade de manter o conteúdo do compartimento interno acelular separado do ambiente

externo; outra possibilidade seria a sua sobrevivência no ambiente (KEIM et al., 2004b).

Somente como uma unidade multicelular, os OMMs podem se orientar e navegar ao longo de

um campo magnético, permitindo assim encontrar regiões preferenciais no sedimento. Além

disso, a natureza multicelular pode estar associada à proteção contra a predação pois mantém

o microrganismo grande o suficiente para tentar evitar a predação por protozoários

bacterívoros, algo que não aconteceria nas formas unicelulares.

Filogenia

Poucos estudos existem sobre a relação filogenética dos OMMs. O 16S rDNA de

OMMs coletados em regiões costeiras de New England (EUA), foram seqüenciados e

descritos como pertencentes ao grupo das bactérias redutoras de sulfato dentro das

Deltaproteobacteria, sendo a bactéria Desulfosarcina variabilis a representante cultivável

mais próxima (DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI, 1993). Nosso grupo analisou a

relação filogenética dos OMMs da lagoa de Araruama através do seqüênciamento do 16S

rDNA e os resultados foram muito semelhantes aos descritos anteriormente (ABREU et al.,

2007; ver anexo 4). Os OMMs da lagoa de Araruama pertencem a classe das

Deltaproteobacteria, ordem Desulfobacterales, família Desulfobacteracea e estão

relacionados aos gêneros Desulfonema, Desulfosarcina e Desulfococcus (figura 6) com

similaridades de cerca de 92%.

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Desulfococcus biacutus AN: AJ277887

Desulfococcus multivorans AN: AF418173

Desulfonema magnum AN: U45989

Desulfosarcina variabilis AN: M26632

MMO AN: 847002

MMP 1991 AN: L06457

Uncultured delta proteobacteria AN: DQ630701

Desulfofaba gelida AN: AF099063

Desulfofaba hansenii AN: AF321820

Desulfofrigus oceanense AN:AF099064

Desulfofrigus fragile AN: AF099065

Desulfotignum balticum AN: AF233370

Desulfotignum phosphitoxidans AN: AF420288

Desulfobacula toluolica AN: X70953

Desulfobacula phenolica AN:AJ237606

Desulfospirajoergensenii Desulfospira joergensenii AN: X99637

Desulfobacter postgatei AN: AF418180

Desulfobacter halotolerans AN: Y14745

Desulfobacter hydrogenophilus AN: M34412

Desulfobacter psychrotolerans AN:DQ057079

Myxococcus xanthus AN: AY724798

82

100

100

100

100

100

98

95

99

68

52

100

100

95

64

95

46

82

0.02

Figura 6 – Árvore filogenética das seqüências do 16S rDNA, construída pelo método

“neighbor-joining”, mostrando a posição filogenética dos OMMs da lagoa de Araruama. Os

números de acesso do GenBank estão ao lado do nome das espécies. Figura reproduzida de

ABREU et al. (2007, ver anexo 4).

SIMMONS & EDWARDS (2007a) recentemente descreveram uma inesperada

diversidade filogenética na população de OMMs coletadas em diferentes épocas em pântanos

marinhos em Little Sippewissett (EUA). O seqüênciamento do rDNA 16S demonstrou a

presença de 5 diferentes linhagens de OMMs separadas por pelo menos 5% de divergência

entre as seqüências, sugerindo que esse grupo de microrganismos morfologicamente

semelhantes deva ser considerado um gênero separado dentro das Deltaproteobacteria e não

uma única espécie como anteriormente pensado (DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI,

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1993). Foi proposto que esses diferentes filotipos de OMMs possam refletir diferentes

ecotipos, ou seja, que essas diferentes linhagens possam estar ocupando diferentes nichos no

ambiente (SIMMONS & EDWARD, 2007a). Essa diversidade filogenética foi observada

entre os microrganismos, não entre as células que os compõem que expressam o mesmo

rRNA (SIMMONS & EDWARDS, 2007a), confirmando o fato já observado de que os

OMMs são formados por um único filotipo celular (KEIM et al., 2004b). No estudo

filogenético realizado pelo nosso grupo em OMMs da lagoa de Araruama, não foi observado

essa divergência de seqüências que indicassem a presença de diferentes espécies (ABREU et

al., 2007, ver anexo 4). Porém foi verificada uma similaridade de apenas 97% com um dos

clones obtidos dos OMMs de Little Sippewissett por SIMMONS & EDWARDS (2007a) e de

96% com os OMMs obtidos de New England (DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI,

1993), indicando que provavelmente são espécies diferentes pertencentes a um mesmo gênero

(ABREU et al., 2007, ver anexo 4).

Ecologia

Os OMMs tem sido observados em diferentes regiões ao redor do planeta

(BAZYLINSKI et al., 1993b; DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI, 1993; FARINA et

al., 1983, FARINA, ESQUIVEL & LINS DE BARROS, 1990; GREENBERG et al., 2005;

KEIM, LINS & FARINA, 2003; KEIM et al., 2004a, b; LINS DE BARROS, ESQUIVEL &

FARINA 1990; LINS & FARINA, 1999, 2001; LINS, FARINA, LINS DE BARROS, 1992,

LINS et al., 2000; PÓSFAI et al., 1998a,b; RODGERS et al., 1990a,b; SIMMONS et al.,

2004, 2007a; WINKLHOFER et al., 2007). Seus habitats preferenciais parecem ser ambientes

com salinidade que varia de salobro a hipersalino e ricos em enxofre (FARINA, ESQUIVEL

& LINS DE BARROS, 1990; RODGERS et al., 1990 a, b; LINS & FARINA, 1999, KEIM et

al., 2004a; SIMMONS et al., 2004). Podem ser encontrados nas colunas d’água estratificadas

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(RODGERS et al., 1990a,b; SIMMONS et al., 2004) ou no sedimento de ambientes com

coluna d’água não estratificada (FARINA et al., 1990; KEIM et al., 2004a; SIMMONS &

EDWARDS, 2007a).

Os OMMs são aparentemente microrganismos de gradiente e são preferencialmente

encontrados na base ou imediatamente abaixo do oxiclina, ou seja, nunca encontrados em

regiões onde o oxigênio é detectável (SIMMONS et al., 2004). Entretanto o estímulo

ambiental que é usado pelos OMMs para seu posicionamento dentro do quimioclina ainda não

é conhecido. Os OMMs podem ter uma resposta quimiotática ao ferro e a compostos de

enxofre, já que eles formam cristais compostos por sulfeto de ferro e estão filogeneticamente

associados ao grupo das bactérias redutoras de sulfato. Em colunas d’água estratificadas, foi

observado que a maior abundância da população de OMMs ocorria na mesma profundidade

onde havia uma maior concentração de ferro oxidado (SIMMONS et al., 2004).

Existem muita informação sobre a morfologia, ultraestrutura e cristalografia dos

OMMs, mas ainda muito pouco se sabe sobre seu nicho ecológico, distribuição e papéis

desempenhados nos ciclos biogeoquímicos de diferentes elementos, principalmente o ferro e

compostos de enxofre. Por não serem cultivados, os estudos são feitos a partir da retirada

magnética destes organismos dos sedimentos. Porém, o estudo dos aspectos ecológicos, e do

comportamento destes microrganismos diretamente no ambiente pode fornecer dados que

ajudem a explicar as informações obtidas in vitro, e com isso interpretar o motivo da

existência de características tão incomuns nesse tipo de microrganismo.

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Objetivos Este trabalho teve como objetivo geral estudar aspectos ecológicos dos OMMs encontrados

em ambientes aquáticos costeiros do Estado do Rio de Janeiro. Os objetivo específicos foram:

• Verificar a presença desses microrganismos em diferentes lagoas costeiras do estado

do Rio de Janeiro;

• Avaliar a diversidade morfológica por microscopia óptica e eletrônica, e genética

por eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE) e hibridização in situ

(FISH), entre os OMMs destes ambientes;

• Determinar a sua distribuição espacial na lagoa de Araruama e localização no

sedimento;

• Avaliar a densidade dos OMMs em microcosmos ao longo do tempo e em diferentes

salinidades;

• Observar o comportamento sazonal dos OMMs no ambiente em diferentes pontos da

lagoa de Araruama, comparando com características abióticas como salinidade, pH,

teor de umidade do sedimento e temperatura;

• Avaliar fatores que possam estar controlando a população dos OMMs no ambiente:

Predação por protozoários

Mudanças na estrutura da comunidade microbiana total

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Materiais e Métodos

LOCAIS DE COLETA

Os locais de coleta usados nesse estudo foram sete lagoas do Parque Nacional da

Restinga de Jurubatiba - PNRJ (22o-22o30’S x 41o15’- 42oW), com ênfase nas lagoas

Encantada e Robalo, e a lagoa de Araruama (22°50’-22° 57’ S x 42°-42° 30’ W).

O PNRJ é formado por um conjunto de 19 lagoas. Estas lagoas são rasas (profundidade

máxima de 3 m) e estão sujeitas a variações anuais em seu balanço hídrico, térmico e salino, o

que as leva a apresentar valores bastante distintos de salinidade, condutividade elétrica da

água e pH (ESTEVES, 1998; ENRICH-PRAST et al., 2003). As lagoas Robalo e Encantada,

por serem muito rasas, são ecossistemas muito inconstantes devido às variações muito

grandes nos aspectos físico-químicos. Freqüentemente é observado o desaparecimento destas

lagoas nos períodos de seca (ENRICH-PRAST et al., 2003).

A lagoa de Araruama é a maior lagoa com hipersalinidade permanente do Brasil, com

salinidade média de 52 ‰ (KJERFVE et al., 1996). Aparentemente este ambiente tem se

mantido hipersalino, pelo menos, nos últimos 4 ou 5 séculos (KJERFVE et al., 1996). Ela é

rasa (batimetria média de 3m), e possui uma grande variação espacial e temporal na

concentração de nutrientes e de outros parâmetros de qualidade de água (KJERFVE et al.,

1996).

COLETA DAS AMOSTRAS

Para a avaliação da presença dos OMMs, amostras de sedimento e água dos locais

descritos acima foram armazenados em frascos de plástico de 1 L, sendo aproximadamente dois

terços de seu volume preenchidos por sedimento e um terço por água. No laboratório, o

material foi mantido à temperatura ambiente, sob luz indireta.

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Para os experimentos realizados em microcosmos, amostras de sedimento e água foram

coletadas em potes de aproximadamente 10L e mantidos no laboratório nas mesmas

condições descritas anteriormente, pelos tempos descritos nos experimentos abaixo.

Para avaliações mais representativas do ambiente, as amostras de sedimento e água

foram também coletadas em amostradores cilíndricos de 500 mL, onde cerca os 5 centímetros

superiores do sedimento da lagoa foram coletados e o restante foi preenchido com água.

DADOS ABIÓTICOS

Alguns dados abióticos foram medidos dos pontos de coleta, entre eles pH, salinidade

temperatura e teor de água no sedimento. A salinidade foi medida com a utilização de um

refratômetro manual nos pontos em águas previamente filtradas em filtro Millipore 0,22 µm

de poro. A temperatura da água e do ambiente foi medida nos locais com o uso de um

termômetro de mercúrio comum. O pH foi medido em pHmetro Quimis em água também

previamente filtrada em filtro Millipore 0,22 µm de poro. Para a determinação do teor de

umidade no sedimento, uma determinada quantidade de sedimento (5 g) foi pesada, seca por

72 horas em estufa a 60 °C e novamente pesada. A porcentagem de umidade foi calculada

pela diferença entre o peso úmido e seco.

CONCENTRAÇÃO DAS BACTÉRIAS MAGNÉTICAS

As bactérias foram concentradas magneticamente como descrito por LINS et al. (2003).

Resumidamente, amostras de sedimento e água foram colocadas em um recipiente de vidro

desenvolvido especificamente para este fim. Este recipiente consiste em uma jarra de vidro

com uma entrada para os sedimentos e uma saída para as bactérias em forma de capilar

(figura 7). Estes recipientes foram colocados por 45 minutos no interior de um bobina que

produz um campo magnético que orienta as bactérias magnetotáticas em direção ao

estrangulamento do recipiente de vidro (figura 8). Passados os 45 minutos, as bactérias foram

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removidas com o auxílio de um tubo capilar.

Para as contagens, volumes e pesos pré-definidos de sedimento foram concentrados

como descrito acima e após a contagem os valores de OMMs foram corrigido para volume ou

peso de sedimento.

Figura 7 - Recipiente para concentração das bactérias magnéticas; a barra indica 2,5 cm.

Figura 8 - (a) Bobina (T) e fonte elétrica (PS) para concentração das bactérias magnéticas

vista lateralmente; b) Recipiente para concentração no interior da bobina; a barra indica 5 cm

em (a) e 2,5 cm em (b). Figura reproduzida de LINS et al., (2003).

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ISOLAMENTO, CULTIVO E IDENTIFICAÇÃO DOS CILIADOS

Para o cultivo dos ciliados isolados da lagoa de Araruama, a água e o sedimento da

interface sedimento-água de amostradores cilíndricos foram transferidos para placas de Petri

que foram preenchidas com água da lagoa filtrada. Alguns grãos macerados de arroz integral

foram adicionados para promover o crescimento bacteriano que serviu de alimento para os

protozoários. As placas de Petri foram mantidas fechadas, à temperatura ambiente, durante o

crescimento dos ciliados. Estes foram transferidos para novas placas nas mesmas condições

descritas acima, semanalmente. Os protozoários foram isolados das culturas com o uso de

micropipetas.

Para identificação, os ciliados isolados da cultura foram processados para microscopia

eletrônica de varredura (como descrito abaixo) e corados pela técnica de impregnação com

proteinato de prata (Protargol) como descrito por DIECKMAN (1995).

OBSERVAÇÃO DAS BACTÉRIAS MAGNÉTICAS POR MICROSCOPIA DE LUZ E

VÍDEO MICROSCOPIA

As amostras (bactérias magnéticas ou interações ciliados – OMMs) foram colocadas

entre lâmina e lamínula e observado a fresco com o microscópio Zeiss Axioplan 2 equipado

com acessórios para contraste de fase e contraste interferencial diferencial de Nomarski. As

imagens foram obtidas digitalmente com a câmera Color View XS (SYS) e as vídeos-

microscopias analogicamente com câmera e vídeo-cassete JVC.

CONTAGEM DOS OMMS

As quantificações dos OMMs foram feitas em câmara de Neubauer e os valores

corrigidos para o volume ou peso de sedimento usado na concentração magnética da amostra,

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levando em consideração que todos os OMMs foram retirados da amostra durante a

concentração magnética.

Para o acompanhamento mensal da população dos OMMs, foram coletados

amostradores cilíndricos totalizando 6 réplicas para cada local. Os cinco primeiros

centímetros de sedimento de cada amostrador foram concentrados magneticamente como

descrito acima e os OMMs foram contados.

Para a análise da distribuição espacial dos OMMs, camadas de 1 cm de sedimento

foram removidas (até a profundidade de 5cm), diluídas em água estéril da lagoa (filtrada em

filtro 0,22µm) e colocadas em uma lâmina. A lâmina foi exposta a um campo magnético de

um imã comum por 5 minutos, quando então os OMMs que atingiram a borda da gota foram

diretamente contados em um microscópio Zeiss Axiostar Plus equipado com contraste de fase.

CONTAGEM DAS BACTÉRIAS TOTAIS

Para a quantificação de bactérias totais no sedimento, os cinco primeiros centímetros de

três amostradores cilíndricos foram homogeneizados e alíquotas de 1g foram separadas e

processadas como descrito por GILLAN e colaboradores (2005). Esse processo foi realizado

nos três pontos de coleta do acompanhamento sazonal em três diferentes meses.

Os sedimentos (1g) foram fixados em 4% de paraformaldeído (PBS, pH 7,2), lavados

duas vezes em PBS, pós-fixados em etanol:PBS (1:1) e armazenados a –20°C. No momento

da preparação da lâmina, as amostras foram sonicadas (2 vezes por 30s cada, no modo pulsar

no sonicador Sonifier 250, Branson) com uma ponteira estéril (5mm, “output control” 3,

“duty cycle” 20%). Após a sonicação, as amostras foram deixadas paradas por 3 minutos para

que ocorresse a precipitação das partículas grandes. Uma alíquota da amostra foi misturada

com 10 mL de PBS estéril e filtrada em membrana de policarbonato preta (0,2 µm de poro,

Millipore) colocada sobre uma membrana de 0,45 µm de poro. As membranas foram coradas

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com uma suspensão de 1 µg/mL de DAPI (4’6’-diamidino-2-fenilindol) por 5 minutos,

lavadas gentilmente em água destilada e etanol 70%, secas ao ar e montadas em lâminas com

meio de montagem (glicerol:PBS, 4:1). Os experimentos foram realizados em triplicata para

cada amostra e as lâminas foram observadas em microscópio de epifluorescência Zeiss

Axioplan 2 (Carl Zeiss, Alemanha) com lâmpada de mercúrio de 100W, conjunto de filtros

para DAPI (02 Carl Zeiss, Alemanha) e equipado com câmera digital (Color View XS,

AnalySiS Co). Foram adquiridos 14 campos aleatórios em 2 transectos a 90o um do outro. Os

valores foram calculados levando em consideração a área total observada e a quantidade de

amostra, e expressos em relação ao peso de sedimento. A fórmula utilizada para o cálculo foi:

B= (N/X) x (A/C) x (1/S) onde; N é n° de bactérias contadas; X é número de campos

contados; A é a área da superfície onde a amostra está espalhada; C é a área do campo e S a

quantidade de amostra aplicada na superfície.

EXPERIMENTOS DE INTERAÇÃO CILIADOS-OMMS

Os OMMs magneticamente concentrados como descrito acima foram expostos aos

ciliados isolados da cultura. As interações foram acompanhadas em um microscópio Axioplan

2 (Carl Zeiss, Germany) equipado com acessórios para contraste de fase e contraste

interferencial diferencial de Nomarski. As imagens foram obtidas digitalmente com a câmera

Color View XS (AnalySiS Co), as vídeos-microscopias analogicamente com câmera JVC e

um videocassete com o qual os filmes foram gravados. Para a microscopia eletrônica de

transmissão, após o período determinado de 30 minutos ou 2 horas, as interações foram

processadas para rotina como descrito abaixo.

Para a observação do caráter ácido dos vacúolos que continham OMMS, os ciliados

foram coradas com 1 µM de Lysotracker Green DND-26 (Molecular Probes) por 5 minutos

após a interação com os OMMs. Em seguida foram fixados em paraformaldeído 4% (na água

da lagoa filtrada), lavados três vezes em PBS (130 mM NaCl, 7mM Na2HPO4, 3mM

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NaH2PO4; pH 7,2), e observadas em microscópio confocal de varredura a laser LSM 510

Meta Zeiss (Carl Zeiss, Germany), utilizando o sensor Meta nos comprimentos de onda de

505 a 600 nm.

MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

As amostras foram fixadas por 1 h em solução contendo 2,5% de glutaraldeído em

tampão cacodilato de sódio pH 7,2 (0,1 M) preparado na água da lagoa. Foram realizadas três

lavagens (de 10 minutos cada) na mesma solução tampão. As amostras foram então

depositadas a lamínulas previamente cobertas com polietilenimida ou poli-L-lisina e deixadas

por 40 minutos para permitir a aderência ao polímero. As amostras foram pós-fixadas em

tetróxido de ósmio a 1% em mesmo tampão por 1 h (no escuro), realizando-se outras três

lavagens de 10 minutos cada em tampão. As amostras foram desidratadas em série crescente

de etanol 30, 50, 70, 80, 90, 100% (2X, 5 minutos cada etapa), secas pela técnica de ponto

crítico de CO2 (Bal-Tec CPD 030, Balzer Inc.), cobertas com ouro (Balzer Inc.) e observadas

em microscópio JEOL JSM35 em 10kV.

MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO

As amostras foram depositadas em grades revestidas com filme de formvar 0,3% ou

incluídas em resina como descrito abaixo. Para as amostras depositadas na grade revestidas com

formvar, o excesso de líquido foi removido e as grades foram secas ao ar. Em alguns casos as

amostras foram contrastadas com uma solução de ácido fosfotúngstico 2% pH 7,2 por 1

minuto. O excesso de contrastante foi então removido e as grades secas ao ar.

Para realização de cortes ultrafinos, as amostras foram fixadas por 1h em solução de

glutaraldeído a 2,5% em tampão cacodilato de sódio, pH 7,2 (0,1M) preparado na água da

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lagoa, lavadas três vezes no mesmo tampão (10 minutos cada) seguido de pós-fixação em

tetróxido de ósmio a 1% no mesmo tampão por 30 minutos no escuro. As amostras foram

novamente lavadas, e desidratadas em série crescente de acetona (30, 50, 70, 90, três vezes

100%, 15 minutos cada etapa), incluídas em resina epóxi (PolyBed 812) e polimerizadas a 60°C

por 48 h. Cortes ultrafinos foram obtidos com navalhas de diamante em um ultramicrótomo LKB

depositadas em grades de cobre que foram ou não contrastadas em acetato de uranila por 30

minutos e citrato de chumbo por 5 minutos. As amostras foram observadas e fotografadas em

microscópio FEI Morgagni operando em 80kV.

Para a determinação da composição química das estruturas observadas por MET foi

utilizado o microscópio JEOL 2000FX equipado com o sistema Noran de microanálise de

raios X.

HIBRIDIZAÇÃO IN SITU FLUORESCENTE (FISH)

Todas as hibridizações in situ foram realizadas como descrito por Amann e

colaboradores (1992) com algumas modificações. Resumidamente, as células foram fixadas

em paraformaldeído 4 %, lavadas em PBS 3 vezes e pós fixadas em etanol:PBS (1:1) até o

momento da hibridização. As células foram aplicadas às lâminas previamente recobertas com

gelatina (0,1% de gelatina e 0,01% KCrSO4), deixadas aderindo por 20 minutos a 46°C. As

lâminas foram desidratadas em séries crescentes de etanol (50, 70 e 100%) por 5 minutos em

cada etapa. Para a hibridização, as amostras foram incubadas em tampão de hibridização (0,9

M NaCl; 5 mM Na2EDTA; 20mM Tris-HCl [pH 7,0]; 0,1% dodecil sulfato de sódio [SDS] e

5 ng de sonda) com 30% de formamida. Após a incubação a 46°C por 90 minutos em câmara

úmida, as amostras foram lavadas em tampão de lavagem (5 mM Na2EDTA; 20mM Tris-HCl

[pH 7,0]; 0,1% dodecil sulfato de sódio [SDS]; 112 mM NaCl) pré-aquecido e posteriormente

lavadas gentilmente em água destilada para a retirada do tampão de lavagem. As amostras

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foram coradas simultaneamente com DAPI (1 µg/mL) por 5 minutos, lavadas gentilmente em

água destilada e etanol 70%, secas ao ar e montadas em meio de montagem (glicerol:PBS,

4:1). As hibridizações foram observadas em microscópio Zeiss Axioplan 2 (Carl Zeiss,

Alemanha) com lâmpada de mercúrio de 100W, conjunto de filtros para DAPI, FITC e

TRITC (filtros 02, 10 e 15 respectivamente, Carl Zeiss, Germany) e equipado com câmera

digital Color View XS (AnalySis Co). Foram utilizadas a sonda MMP (5’-

GGACTCACCCTTAAACGG- 3’) descrita por DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI

(1993), marcada com FITC e a sonda OMM (5`- GATTTATACTCTTATAAGT- 3`) marcada

com TRITC descrita por ABREU et al. (2007, ver anexo 4).

TÉCNICAS MOLECULARES

Para as técnicas moleculares, os OMMs foram concentrados magneticamente como

descrito anteriormente. Após a concentração dos OMMs eles foram congelados a –20oC e

descongelados antes do uso direto para a amplificação por PCR.

Para o estudo da estrutura da comunidade microbiana total no sedimento, os cinco

primeiros centímetros de três amostradores cilíndricos foram homogeneizados e foram

separadas alíquotas de 5 gramas. Esse processo foi realizado em triplicata, nos três pontos de

coleta do acompanhamento sazonal e três meses.

Extração de DNA do sedimento

A extração de DNA do sedimento foi realizada através do método de extração direta

com o kit de extração de DNA para solo (FastDNA® SPIN Kit for Soil) da BIO101

(Califórnia, EUA) segundo o protocolo do fabricante. Os DNAs obtidos foram analisados

quanto à pureza e eficiência das extrações através de eletroforeses em gel de agarose e

estocados a –20oC para posterior uso.

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Reação em cadeia da polimerase

Os iniciadores selecionados foram o U968f-GC1 (“grampo” + 5’ AAC GCG AAG AAC

CTT AC 3') e L1401r (5'GCG TGT GTA CAA GAC CC 3') (NÜBEL et al., 1996). O iniciador

U968f é homólogo à região 968-984 do gene 16S rRNA de Escherichia coli, enquanto que o

iniciador L1401r é homólogo à região 1385-1401 deste mesmo gene. Estes iniciadores

amplificam a região da alça V6-V8 do RNA ribossomal, que é mais variada do que outras

regiões usadas como alvo para outros iniciadores universais descritos na literatura

(WATANABE, KODAMA & HARAYAMA, 2001).

As reações de 50µL foram feitas pela mistura de tampão da enzima Taq polimerase 1x,

2,5mM de MgCl2 (Invitrogen), 0,5 mM de cada dNTP (Invitrogen), 0,2 µM de cada iniciador

(Promicro), 1% de formamida, 5µg de BSA, 2,5U Taq-polimerase (Invitrogen) e água Milli-Q

estéril (q.s.p). Em cada reação foram aplicados 1 µL de DNA extraído.

O programa de PCR utilizado foi iniciado com o ciclo de desnaturação das fitas de

DNA por 2 min a 94ºC, seguidos de 35 ciclos de 1 min a 94ºC, 1 min a 55ºC e 1 min a 72ºC, e

da extensão a 72°C por 10 min.

Eletroforese em gel de agarose

O DNA total extraído das amostras de sedimento e os produtos de PCR foram

submetidos à eletroforese em gel de agarose 0,9% e 1,2% (respectivamente) em tampão TBE

[Tris-HCl 89mM (pH 7,8), EDTA 2,5 mM, H3BO3 89mM], aplicando-se 10µL da amostra

com 5µL de corante de amostra para eletroforese de DNA [glicerol 50%, EDTA (pH 7,5)

20mM, azul de bromofenol 0,05%, xilenocianol 0,05%]. Os géis foram então submetidos à

corrente elétrica de 80V em tampão TBE durante 4 e 2 horas, respectivamente. Após a

corrida, os géis foram corados com brometo de etídio, visualizados por transiluminação de luz

UV e fotografados com uma câmera Polaroid acoplada a um filtro de UV.

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Eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE)

Os experimentos com eletroforese em gel com gradiente desnaturante (denaturing-

gradient gel electrophoresis – DGGE) foram realizados com um equipamento “Dcode TM

Universal Mutation Detection System” (BIO-Rad Richmond, USA). Os produtos de PCR

obtidos através da utilização dos iniciadores U968f e L1401r foram aplicados em volume de

20µl, com mais 20µl de corante para eletroforese de DNA, diretamente no gel de

poliacrilamida 6 % em tampão TAE 1x [20 mM Tris-acetato (pH 7,4), 10 mM acetato de

sódio, 0,5 mM EDTA], contendo gradiente linear de desnaturantes de 45 a 70 %. Esse

gradiente desnaturante foi formado, de acordo com as instruções do fabricante, pela mistura

das soluções estoques de poliacrilamida, uma com 0% e outra contendo 100% dos agentes

desnaturantes (40% de formamida e 7 M de uréia). Os géis de poliacrilamida foram

polimerizados com a adição de 10 µL de TEMED (N,N,N’,N’-tetrametiletilenodiamino) e 50

µL de APS (persulfato de amônio) 10 % para cada 12 mL totais de gel.

O gel foi deixado polimerizando por, no mínimo, 4 horas e em seguida, acoplado ao

aparelho de DGGE. Os produtos de PCR foram aplicados como descrito anteriormente e a

eletroforese foi realizada em tampão TAE 1x, com 75V/60ºC/ 17 h. Após a corrida, o gel foi

retirado da placa e corado com nitrato de prata.

Coloração por nitrato de prata

Os géis de DGGE foram revelados segundo protocolo de HERRING e colaboradores.

(1982). Após a corrida, os géis foram banhados em solução fixadora, contendo etanol 10% e

ácido acético a 5% por 30 minutos com baixa agitação, posteriormente a solução foi trocada

por uma contendo nitrato de prata 0,08% onde os géis foram então impregnados por 30

minutos com baixa agitação. A evidência das bandas foi feita banhando o gel em uma solução

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reveladora contendo NaOH 0,75 M e formaldeído 0,1 M até atingir a coloração desejada. A

coloração foi bloqueada substituindo a solução reveladora por água destilada. Os géis corados

foram mantidos em uma solução estoque, contendo ácido acético glacial (5%), etanol (10%) e

glicerol (1%), por tempo indeterminado. Os géis foram digitalizados em “scanner” Epson

Perfection 3300 (Epson).

Análise dos géis de DGGE

As imagens digitais dos géis foram utilizadas para a construção de uma matriz binária

de presença/ausência de bandas para análise de similaridade. Para isto, as bandas mais

definidas e significantes foram determinadas e selecionadas e verificada sua presença em cada

uma das amostras estudadas. Caso a banda esteja presente será adicionado um “1” na tabela,

caso não será adicionado o “0”. Dendrogramas foram construídos com o programa Statistica

6.0 (Stat Soft Co), para a análise de similaridade dos perfis do DGGE pelo método UPGMA

(unweighted pair group method using arithmetic averages) seguido do cálculo do coeficiente

de Pearson.

37

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Resultados

DISTRIBUIÇÃO DOS OMMS NOS AMBIENTES AQUÁTICOS DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO

Foram feitas coletas em diferentes lagoas costeiras do estado do Rio de Janeiro: sete

lagoas do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Macaé, RJ (Tabela 1), e lagoa de

Araruama. Dentre esses ambientes bem diversos, os OMMs foram encontrados nas Lagoas

Robalo e Encantada no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e na Lagoas de Araruama,

ambiente onde anteriormente já fora descrita a presença dos OMMs (KEIM et al.,2004a).

Tabela 1 – Lagoas do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba onde foi pesquisada a presença de OMMs e suas respectivas salinidades, temperaturas e pH.

Lagoa Salinidade média (‰) Temperatura pH Presença dos

OMMs

Encantada 50** ND ND +

Robalo Variável (oscilando de 18 a 50**) 27,2* 8,48* +

Preta 53,4* 22,6* 8,39* -

Pires 45,1* 21,3* 8,43* -

Comprida 0,4* 22,7* 5,54* -

Carapebus 4,4* 25,6* 7,70* -

Paulista 2,6* 23,4* 6,18* -

* Valores médios de amostras coletadas entre 2001 e 2003 (ENRICH-PRAST et al., 2003). ** Valores obtidos neste trabalho em julho de 2003 (lagoa Encantada e Robalo) e durante o ano de 2005 (lagoa Robalo). ND – Não determinado

Lagoa Encantada

Os OMMs observados na lagoa Encantada eram morfologicamente similares (figura 9),

esféricos, com diâmetro variando de 4,5 (figura 9b) a 7 µm (figura 9d). Ocasionalmente,

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observamos nas amostras OMMs em formas ovóides e em forma de oito, correspondentes às

diferentes etapas do ciclo de vida desse microrganismo. Os magnetossomos se organizam

radialmente nas células dos OMMs íntegros, na extremidade da célula em contato com o meio

externo (figura 10). Grandes inclusões eletrolucentes e muitos magnetossomos são observadas

nas células que compõe os OMMs (figura 11). Os cristais equidimensionais de cerca de 45 a

55 nm (figura 12), são compostos de ferro e enxofre (figura 13), provavelmente greigita

(Fe3S4).

Os OMMs foram encontrados durante todo o período no qual a lagoa possuía uma

salinidade alta (acima de 30 ‰). Porém no ano de 2004, após um período de muita chuva na

região, acidentalmente houve a formação de um canal que comunicou a lagoa Encantada com

a lagoa Paulista, uma lagoa de água doce (ver tabela 1). A lagoa Encantada, por ser de

dimensões reduzidas quando comparada a Paulista teve sua salinidade drasticamente

diminuída e até hoje, não recuperada. Desde então os OMMs não mais apareceram.

Lagoa Robalo

Durante o período em que nós estudamos a lagoa Robalo ela demonstrou ter uma

salinidade muito variável (tabela 1). Nos meses em que a salinidade estava abaixo de 30 ‰,

não observamos os OMMs nas amostras de sedimento e, mesmo em períodos de altas

concentrações de sais, o número de OMMs encontrados era reduzido se comparado à

densidade de OMMs encontrada na lagoa Encantada e de Araruama. Este fato inviabilizou os

estudos moleculares.

Três morfotipos de bactéria magnetotática foram encontrados na lagoa Robalo, dois

cocos de tamanhos diferentes e poucos OMMs (figura 14). Os cocos maiores possuem cerca

de 2,6 µm de comprimento por 2,1 µm de largura e seus magnetossomos possuem dimensão

de aproximadamente 110 nm (figura 15a). Os cocos menores possuem cerca de 2,1 µm de

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comprimento por 1,7 µm de largura e os magnetossomos possuem tamanho de

aproximadamente 75 nm (figura 15b). Em ambos os cocos, os magnetossomos estão

organizados em cadeias ao longo do eixo longitudinal da célula, várias inclusões

citoplasmáticas também podem ser observadas nesses cocos magnéticos (figura 15). Os

OMMs encontrados possuem cerca de 5 µm de diâmetro e uma particularidade é a presença

de dois tipos de cristais (figura 16), uma forma equidimensional, composto por sulfeto de

ferro (figura 17a) e um em forma de ponta de lança, composto por óxido de ferro (figura 17b).

DIVERSIDADE GENÉTICA DOS OMMS ENCONTRADOS NO RJ

Apesar da semelhança morfológica entre os OMMs dos diferentes ambientes estudados

foi verificada a diversidade genética desses organismos, e a semelhança destes com outros

microrganismos morfologicamente similares encontrados no Hemisfério Norte, o MMP

(many-celled magnetotactic prokaryote).

DGGE dos OMMs da lagoa de Araruama (Iguaba) e Encantada

Foi usado o DGGE para determinar a variabilidade genética entre as células que

formam o arranjo dos OMMs assim como para comparar os OMMs encontrados nas lagoas

Encantada e Araruama. Foi feita a amplificação do fragmento da região variável do 16S

rDNA dos OMMs encontrados na lagoa Encantada e Araruama (Iguaba), e esses fragmentos

foram submetidos a um DGGE. O perfil observado no PCR-DGGE mostra uma banda única

em todas as amostras analisadas (figura 18), indicando fortemente que as células que compõe

os OMMs são geneticamente idênticas. Além disso, o mesmo padrão de desnaturação, ou seja,

o mesmo comportamento eletroforético observado para os OMMs encontrados na lagoa de

Araruama e Encantada sugere que ambas as lagoas provavelmente contém os mesmos

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microrganismos (figura 18).

Hibridização in situ com o uso de sondas oligonucleotídicas marcadas

fluorescentemente (FISH) com a sonda MMP

Foram realizados experimentos de hibridização in situ com o uso de sondas

oligonucleotídicas marcadas fluorescentemente (FISH) para confirmar a relação filogenética

encontrada pelo seqüênciamento. A hibridização dos OMMs da lagoa de Araruama (Iguaba)

com a sonda desenvolvida para o 16S rRNA dos MMP confirma que são organismos

similares (figura 19). Posteriormente, o seqüênciamento do 16S rDNA dos OMMs da lagoa

de Araruama (ABREU et al. 2007, ver anexo 4) confirmou que a região onde essa sonda

hibridiza é idêntica nos dois microrganismos (OMM e MMP).

Na lagoa Robalo, os estudos filogenéticos foram dificultados devido à presença de

outras bactérias magnéticas e ao fato de que a lagoa não possui hipersalinidade permanente, o

que faz com que os OMMs não apareçam sempre.

ESTUDOS ECOLÓGICOS DOS OMMS DA LAGOA DE ARARUAMA

A lagoa de Araruama foi escolhida como principal ambiente para estudos ecológicos

mais específicos pois esta lagoa possui algumas vantagens em relação as outras onde os

OMMs também foram encontrados. Primeiramente a lagoa de Araruama é a maior lagoa

hipersalina do Brasil, e a salinidade parece ser um fator importante na determinação da

presença dos OMMs nos outros ambientes aqui estudados. É interessante que o ambiente seja

estável quanto à salinidade permitindo o acompanhamento desta população por longos

períodos, e, neste caso, a lagoa de Araruama possui hipersalinidade permanente. A grande

dimensão da lagoa de Araruama contribui para a formação de diversos microambientes dentro

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da mesma lagoa, permitindo assim a comparação do comportamento de determinada

população entre esses ambientes. Na lagoa de Araruama, os OMMs são as únicas bactérias

magnéticas encontradas, e estão normalmente em grande número, facilitando enormemente os

estudos pois como são bactérias ainda não cultivadas, os estudos se baseiam na retirada

magnética destes microrganismos do ambiente. Outro fator que influenciou na escolha da

lagoa de Araruama é o fato de que os OMMs isolados deste ambiente já foram

extensivamente caracterizados quanto à morfologia e à ultraestrutura, contribuindo com uma

maior informação para ajudar a interpretar os dados ecológicos que seriam obtidos dos

estudos. Além disso, recentemente nosso grupo realizou um estudo filogenético mais

completo destes microrganismos isolados da lagoa de Araruama (ABREU et al. 2007, ver

anexo 4).

Estudos no ambiente

Para os estudos no ambiente, as amostras de sedimento foram coletadas em

amostradores cilíndricos (figura 20) para que as amostras de sedimento e água coletadas

sejam o mais representativos do observado no local, e assim os dados obtidos possam

corresponder ao que ocorre no ambiente. Os locais escolhidos para essas avaliações foram a

praia de Iguaba Grande (Iguaba Grande, RJ) e a praia da Baleia (São Pedro d’Aldeia), locais

onde já havíamos verificado, possuir grandes números de OMMs.

A localização vertical dos OMMs mostrou que eles são encontrados nos 5 primeiros

centímetros de sedimento, estando preferencialmente entre os 3-4 cm (figura 21). Neste

ambiente, a medida de oxigênio dissolvido no sedimento mostrou que este elemento só está

presente até 0,3 cm (figura 21), sugerindo que os OMMs prefiram pelas regiões anaeróbicas.

Neste trabalho nunca foram observados OMMs na coluna d’água.

Foi verificada a distribuição espacial dos OMMs em diferentes pontos da lagoa de

Araruama e observamos que os OMMs foram encontrados ao redor de quase toda a lagoa

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(figura 22). Não foi detectado OMMs no ponto de menor salinidade (23,7 ‰), sendo esta

menos da metade da média geral (56,3 ‰) dos locais na margem da lagoa. Nos pontos mais

internos na lagoa, apesar da salinidade ser bem próxima da média, os OMMs quase não foram

encontrados, e quando o foram estavam em baixa densidade populacional. Os locais com

maior número de OMMs foram a praia de Baleia, Iguabinha, Rebolo, e próximo a ponte de

Cabo Frio com salinidades de 56, 60, 51,6 e 46,2 ‰, respectivamente. Provavelmente, a

salinidade é um fator importante para determinar a presença dos OMMs.

Foi realizado um experimento para verificar a distribuição dos OMMs no sedimento a

partir do espelho d’água. Sedimentos foram coletados em amostradores cilíndricos em um

transecto em intervalos de 0,5 m até a profundidade de 6,5 m (figura 23). A posição

preferencial dos OMMs foi a região entre 2,5 e 4,5 m a partir do início espelho d’água (figura

23). Esses resultados explicam a não detecção dos OMMs em pontos no meio da lagoa com

salinidades similares aos pontos onde os OMMs foram encontrados em grandes números, mas

ainda não encontramos um motivo para que ocorra esse comportamento nos OMMs.

Estudos nos microcosmos

Investigamos o comportamento dos OMMs em microcosmos contendo água e

sedimento da praia da Baleia (São Pedro d’Aldeia), local já conhecido por conter grandes

quantidades de OMM. Foi feito um acompanhamento ao longo de 42 dias em 5 diferentes

microcosmos (figura 24). A variação populacional de OMMs nos microcosmos, levando em

consideração a média das 5 réplicas revelou um declínio na sua população desde a primeira

semana, mas mesmo 42 dias após a coleta eles foram detectados (figura 24a). Quando os

dados foram analisados levando em consideração cada um dos microcosmos, o

comportamento populacional em cada um deles foi distinto: a taxa com que a densidade

populacional decaiu foi variável e em alguns momentos até subiu. Como os microcosmos

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foram montados no local, de maneira independente, provavelmente a estabilização destes

tenha ocorrido de maneira diferente e então eles possuam características bióticas e abióticas

diferentes, indicando que essas variações entre os microcosmos tem grande influência sobre a

população dos OMMs (figura 24b).

A comportamento dos OMMs nos microcosmos também foi avaliado quanto a sua

distribuição vertical no sedimento. Em 7, 15 e 45 dias após a coleta no ambiente, amostras

foram retiradas em amostradores cilíndricos e o sedimento foi fracionado em camadas de 1

cm até 5 cm de profundidade (figura 25a, b e c, respectivamente). Os OMMs foram então

contados na borda da gota após 5 minutos de aplicação de um campo magnético gerado por

um imã comum. Ao longo do tempo foi observado que os OMMs, que inicialmente se

localizavam nas camadas mais profundas (4-5 cm), vão gradativamente subindo para mais

próximo da interface sedimento-água (figura 25), provavelmente devido a migração do

quimioclina (gradiente de oxigênio e enxofre). Conforme os OMMs atingem as camadas mais

superiores, o número de indivíduos decresce (figura 25c).

COMPORTAMENTO SAZONAL NO AMBIENTE

Escolhemos três diferentes pontos da lagoa de Araruama para a realização de um

acompanhamento sazonal de 12 meses (julho/2005 a junho/2006) da população de OMMs no

ambiente levando em consideração alguns aspectos como salinidade e impacto ambiental pela

presença de área urbanizada. Os pontos escolhidos foram:

• Praia da Baleia (Município de São Pedro d’Aldeia, RJ) – local com alta salinidade

(média de 50‰), e impactado pela urbanização da cidade de São Pedro e a vila de

pescadores localizada nesta praia.

• Canal da Companhia Nacional de Álcalis (CNA) (Município de Arraial do Cabo, RJ;

próximo ao aeroporto de Cabo frio) – local com salinidade bem próxima à da praia da

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Baleia, porém em área não urbanizada e de proteção ambiental (menor impacto).

• Próximo à foz do Rio das Moças (Município de Araruama) – local em região

urbanizada de menor salinidade devido ao aporte de água doce do rio.

Nestes locais, foram coletadas amostras mensais de sedimento e água para a contagem

dos OMMS e alguns fatores abióticos foram medidos: temperatura da água, teor de umidade

no sedimento, salinidade e pH, (figura 26a–d, respectivamente). Dentre os fatores abióticos

mensurados, o que aparentemente mais se correlaciona com o número de OMMs é a

salinidade. Para avaliar a similaridade genética dos OMMs coletados dos três locais da lagoa

de Araruama, foi feito uma marcação de FISH nesses OMMs utilizando as sondas OMM,

desenvolvida para marcar especificamente OMMs coletados na praia da Baleia (ABREU et al.

2007, ver anexo 4) e MMP (DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI, 1993) (figura 27). As

duas sondas marcam regiões variáveis do 16S rRNA desse microrganismo. A dupla

hibridização (sonda OMM – vermelho; sonda MMP – verde) em todos os OMMs coletados

dos três pontos indica provavelmente uma população geneticamente homogênea e que são

microrganismos geneticamente iguais (figura 27).

A figura 28 mostra o número do OMMs e a salinidade para compararmos o quanto essa

correlação procede (figura 28). Podemos observar que os OMMs estão presentes o ano inteiro

nos três locais analisados. O local de coleta próximo à foz do Rio das Moças, com a menor

salinidade em todos os períodos analisados, normalmente possui número de OMMs sempre

abaixo dos outros dois pontos de coleta e tendem a ter um pequeno aumento nos períodos em

que a salinidade é superior a 40 ‰. Na praia da Baleia, no período do mês de outubro/ 2005 a

janeiro/ 2006, houve um aumento significativo no número de OMMs, sendo janeiro o mês

onde o número de OMMs foi o maior. Neste período a salinidade deste local teve uma

diminuição de 61 ‰ (mês de setembro/2005) a 55,7 ‰ (mês de janeiro/2006). No mês de

fevereiro, a população de OMMs na praia da Baleia teve uma forte queda na densidade e a

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salinidade neste mesmo mês teve um aumento de aproximadamente 9 ‰ (de 50 ‰ a 59 ‰).

Pudemos observar baseados nesses fatos que, provavelmente, tanto as baixas salinidades

quanto as altas salinidades controlam negativamente a população dos OMMs. Esses

microrganismos possivelmente possuem uma faixa de crescimento ótimo. Não sabemos que

outros fatores abióticos interferem nessa regulação.

Entre os pontos de coleta da praia da Baleia e canal da CNA, mesmo em períodos com a

mesma salinidade, a população dos OMMs sempre divergiram em número. A principal

diferença observada entre esses dois locais é a poluição orgânica. Enquanto a praia da Baleia

recebe um grande aporte de matéria orgânica devido a grande urbanização da área e da vila de

pescadores, o canal da CNA está localizado em uma área de preservação ambiental, não

havendo nenhum tipo de urbanização e sendo inclusive de difícil acesso. Talvez essa maior

quantidade de matéria orgânica na praia da Baleia possa, direta ou indiretamente, favorecer o

crescimento dos OMMs no ambiente.

TESTES DE SALINIDADE

Para testar a hipótese da existência de uma faixa de salinidade ótima para o crescimento

dos OMMs, foram montados 4 microcosmos contendo sedimento da praia da Baleia. Na

montagem dos microcosmos foi tomado o cuidado em homogeneizar todo o sedimento

utilizado e após a montagem foram acertadas as salinidades no laboratório com a adição de

água destilada ou NaCl à água da lagoa. Essa homogeneização é importante para permitir que

em todos os microcosmos os mesmos fatores bióticos e abióticos estejam agindo sobre a

população dos OMMs e que somente a salinidade seja o diferencial. Foram testadas 4

diferentes salinidades (figura 29): microcosmo 1, salinidade de 55 ‰ (salinidade normal

encontrada no local no momento da coleta); microcosmo 2, salinidade de 45 ‰; microcosmo

3, salinidade de 30 ‰ e microcosmo 4, salinidade de 65‰. Podemos observar que nas

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salinidades de 55 e 45 ‰ (microcosmo 1 e 2, respectivamente), a população dos OMMs teve

um ligeiro crescimento 3 dias após a coleta. O baixo número observado no dia seguinte após à

coleta é provavelmente devido à perturbação do sedimento no momento da coleta e montagem

dos microcosmos; após esse distúrbio a população dos OMMs se recuperaria e retomaria seu

crescimento (3 dias após a coleta), decaindo novamente, como observado em outros

experimentos realizados em microcosmo (figura 24). Nas salinidades extremas de 30 e 65 ‰,

aparentemente a população dos OMMs não se recupera e os OMMs não são capazes de

crescer nesses ambientes. Esses resultados confirmam a idéia de que os OMMs prefiram uma

faixa de salinidade para seu crescimento.

ENSAIO DE PREDAÇÃO

Para testar outros fatores que possam estar controlando a população dos OMMs foram

planejados experimentos de interação entre protozoários encontrados na lagoa de Araruama e

os OMMs. Sabe-se que os protozoários são os consumidores primários das bactérias e atuam

controlando a sobrevivência e o crescimento bacteriano no ambiente (PERNTHALER, 2005).

Para isso isolamos um ciliado da interface sedimento-água (figura 30). Esse ciliado de cerca

de 78 x 53 µm de tamanho (figura 31) estava presente em vários pontos da lagoa de

Araruama, inclusive os três pontos de coleta usados no acompanhamento sazonal, e foram

facilmente cultivados em placas de Petri. Com o auxílio do Prof Inácio Domingos Silva Neto

(Instituto de Biologia, UFRJ) esses ciliados foram identificados por imagens de microscopia

eletrônica de varredura e pela técnica da impregnação com proteinato de prata (protargol)

(figura 32-34) como pertencentes à espécie Euplotes vannus.

Para os experimentos de interação os OMMs magneticamente concentrados foram

colocados em contato com os ciliados (proporção de 30 OMMs/E. vannus) e os eventos foram

acompanhados por vídeo microscopia. Aproximadamente 30 minutos após o início da

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interação observamos o momento no qual os OMMs são ingeridos (figura 35). Após a

ingestão, os ciliados não demonstraram nenhuma resposta ao campo magnético aplicado.

Provavelmente a ausência de resposta ao campo magnético pode ser devido a quantidade de

material magnético ingerido pelo ciliado não ser suficiente para este microrganismo se

orientar no campo aplicado. Essas interações foram observadas em maior aumento e

observamos estruturas no interior do corpo do ciliado muito semelhantes a OMMs danificados

(figura 36 seta). Quando essas estruturas eram observadas em maior aumento, elas tornaram-

se visíveis (figura 37), incluindo, as cadeias de cristais magnéticos (figura 37, inserto). Essas

estruturas não foram visualizadas em ciliados que não foram expostos aos OMMs (figura 31).

As interações de 30 minutos e 1 hora foram processadas para microscopia eletrônica de

transmissão e as imagens confirmaram a presença de OMMs dentro dos vacúolos dos ciliados

(figura 38). Vários OMMs foram encontrados dentro de um mesmo ciliado, e os OMMs

possuíam diferentes graus de decomposição (figura 38 e 39 a-c). Em muitos casos, os cristais

magnéticos também se encontravam bastante deteriorados e, aparentemente, pareciam estar

sendo dissolvidos (figura 40 a, seta). Foram feitos espectros de microanálise de raios-X em

cristais aparentemente íntegros (figura 40a, cabeça de seta) e em cristais muito danificados

(figura 40a, seta); os espectros demonstraram que os cristais íntegros inicialmente contêm

ferro e enxofre, como o esperado para greigita (Fe3S4), mas sofrem então dissolução,

perdendo o aspecto cristalino e passam a conter somente o ferro (figura 40b). Provavelmente

o caráter ácido dos vacúolos é o responsável pela dissolução dos cristais. Para avaliar se os

vacúolos onde os OMMs são encontrados dentro dos ciliados são realmente acídicos usamos

o corante LysoTracker Green DND-26, que é um marcador de compartimentos ácidos (figura

41). Dentro dos vacúolos foi possível visualizar a presença dos OMMs e de suas cadeias de

magnetossomos (figura 41a). Os vacúolos onde os OMMs são encontrados são acídicos como

pudemos observar por microscopia de varredura a laser e análise espectral, quando

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comparamos a região do vacúolo e do citoplasma (figura 41b e espectros).

Pesquisamos se o ferro contido nos magnetossomos e dissolvido pelo ambiente ácido

dos vacúolos era acumulado em alguma estrutura dentro dos ciliados. Em cortes ultrafinos,

sem contrastante, de interações de 1 hora entre os OMMs e os ciliados, foram feitas

microanálises de raios-X para pesquisar a presença do elemento ferro (figura 42). As

estruturas eletrodensas que poderiam estar armazenando ferro não demonstraram a presença

deste elemento (figura 42a, b e c), bem como no citoplasma não foi detectado este elemento

(figura 42d). Provavelmente, o processamento para microscopia eletrônica de transmissão não

preservou o ferro solúvel dentro da célula do ciliado ou a quantidade de ferro é muito pequena

em relação ao volume celular dos ciliados e não foi detectado pela microanálise.

ESTUDO DA COMUNIDADE MICROBIANA DOS MESMOS AMBIENTES DOS

OMMS

Escolhemos três meses do acompanhamento sazonal para estudar mudanças na

comunidade microbiana que justificassem as diferenças observadas na população dos OMMs.

Estudamos a comunidade microbiana pelo método quantitativo de marcação por DAPI e

qualitativo de avaliação da estrutura da comunidade bacteriana por DGGE. Os meses

escolhidos foram: agosto, que apesar de haver uma diferença na salinidade entre os três locais,

a contagem de OMMs, apesar de baixa, foi muito similar entre eles; janeiro no qual a praia da

Baleia apresentou uma grande contagem (a maior de todo o acompanhamento sazonal) e

houve uma diferença muito grande nos valores de OMMs dos três locais sem que houvesse

uma diferença tão grande nos valores de salinidade; e o mês de fevereiro aonde os OMMs da

praia da Baleia tiveram uma queda drástica em relação ao mês anterior sem que houvesse

variações abióticas bruscas (ver figuras 26 e 28).

Os números de células observados nos cinco primeiros centímetros de sedimento dos

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locais e períodos avaliados estão mostrados na tabela 2. O ponto de coleta próximo à foz do

Rio das Moças foi o que demonstrou o maior número de bactérias nos três meses estudados,

quando comparado aos outros locais. Porém houve um decréscimo no número de bactérias no

mês de fevereiro (2006) em relação a agosto (2005) e janeiro (2006). Provavelmente a menor

salinidade deste ponto torna este ambiente menos extremo, permitindo uma maior densidade

populacional. Não houve nenhuma mudança importante nos valores de bactérias totais dos

outros dois locais entre os diferentes meses, e em ambos os locais (próximo ao canal da CNA

e praia da Baleia) as contagens foram muito semelhantes (tabela 2), nestes mesmos meses os

valores abióticos destes dois locais foram muito semelhantes (figura 26). Representamos no

mesmo gráfico os valores de bactérias totais e os valores da contagem dos OMMs para

verificar se existe alguma correlação entre esses valores no período estudado (figura 43). Não

observamos nenhuma correlação entre estes dois parâmetros, aparentemente os fatores

(bióticos ou abióticos) que regulam a densidade populacional dos OMMs não afeta a

comunidade microbiana como um todo.

Tabela 2: Número de bactérias totais nos meses de agosto/2005, janeiro/2006 e fevereiro/2006 nos três locais de coleta do acompanhamento sazonal. Valores expressos por grama (peso seco) de sedimento.

Locais

Mês Foz do Rio das Moças Canal da CNA Praia da Baleia

Ago/2005 1,2 x 109 ± 0,1 x 109 6,4 x 108 ± 1,6 x 108 8,4 x 108 ± 3,5 x 108

Jan/2006 1,5 x 109 ± 0,5 x 109 5,4 x 108 ± 1 x 108 6,9 x 108 ± 1,6 x 108

Fev/2006 6,4 x 108 ± 0,3 x 108 4,9 x 108 ± 0,5 x 108 4 x 108 ± 0,5 x 108

Para analisar a estrutura da comunidade microbiana, amplificamos um fragmento de

aproximadamente 430 pb da região da alça V4-V6 do rRNA 16S bacteriano e submetemos

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esse fragmento ao DGGE. O perfil gerado pelo DGGE mostrou um alto número de bandas

distribuídas pelo gel (figura 44). Um total de 36 bandas diferentes foi observado, sendo que o

menor número de bandas detectado foi de 16 (tira 4 – Rio das Moças em janeiro) e o maior de

26 (tira 5 – canal da CNA em janeiro). Não houve nenhuma banda que fosse comum a todas

as amostras. Os perfis do DGGE foram comparados usando o coeficiente de Pearson e um

dendrograma foi construído utilizando o método UPGMA (unweighted pair group method

using arithmetic average) (figura 45). O dendrograma mostra três grandes grupos associados

normalmente pelo período analisado. A praia da Baleia no mês de fevereiro se agrupou à

amostra do mês de agosto, ao contrário do que ocorreu nos outros locais. Esses dados

mostram que realmente houve uma mudança importante na estrutura da comunidade da praia

da Baleia entre os meses de janeiro e fevereiro e que essa mudança pode ter influenciado a

população dos OMMs ou então o fator que direcionou essa mudança na estrutura possa

também ter influenciado a população dos OMMs.

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Pranchas

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PRANCHA 1: OMMS ENCONTRADOS NA LAGOA ENCANTADA

Figura 9 a-e – Micrografias eletrônicas de varredura dos OMMs da lagoa Encantada (PNRJ,

Macaé, RJ). A barra indica 2 µm para todas as imagens.

Figura 10 – Imagem de microscopia de contraste de fase dos OMMs da lagoa Encantada

mostrando a organização periférica dos magnetossomos nas células (setas). A barra indica 5

µm.

Figura 11 – Micrografia eletrônica de transmissão de células individualizadas dos OMMs da

lagoa Encantada (sem contrastante). Observe os magnetossomos (setas) e os vacúolos

eletrolucentes (asterisco). A barra indica 1 µm.

Figura 12 – Micrografia eletrônica de transmissão (sem contrastante) de uma célula individual

do OMM mostrando muitos magnetossomos. A barra indica 250 nm.

Figura 13 – Espectro de microanálise raios-X de um magnetossomo do OMM da lagoa

Encantada mostrando a grande quantidade de ferro (Fe) e enxofre (S). O pico de cobre (Cu) é

das barras da grade.

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PRANCHA 2: OMMS DA LAGOA ROBALO

Figura 14 – Microscopia de contraste interferencial de Normaski onde podem ser observados

3 morfotipos de bactérias magnéticas da lagoa Robalo. Dois cocos, um menor (setas pretas) e

um maior (cabeças de setas), e os OMMs (seta branca). Barra indica 5 µm.

Figura 15 – Micrografia eletrônica de transmissão dos morfotipos cocóides da lagoa Robalo, a

celular maior (a) e a menor (b). Observe o magnetossomos (setas) e os glóbulos (asterisco). A

barra indica 500 nm para ambas as figuras.

Figura 16 – Micrografia eletrônica de transmissão dos OMMs após tratamento com água

destilada e conseqüente desagregação contendo inúmeras cadeias de magnetossomos (setas).

A barra indica 2,5 µm.

Figura 17 – Espectro de microanálise de raios-X do cristal equidimensional (a) e do cristal em

forma de ponta de lança (b) nos OMMs da lagoa Robalo. O sinal de Cu é da barras da grade,

os sinais dos elementos leves são oriundos do citoplasma da célula. O inserto mostra os dois

tipos de magnetossomos analisados (a e b). A barra indica 200 nm.

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PRANCHA 3: DIVERSIDADE GENÉTICA DOS OMMS ENCONTRADOS EM

DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 18 – Perfil do DGGE do fragmento do rDNA 16S dos OMMs magneticamente

concentrados das amostras da lagoa Encantada (a-b) e Araruama (praia de Iguaba Grande) (c-

d). A única banda em todas as amostras indica a similaridade genética entre elas.

Figura 19 – Micrografias de epifluorescência dos OMMs da lagoa de Araruama (Iguaba)

corados com DAPI (a) e hibridizados com a sonda MMP (b). Barra indica 5 µm em ambas as

figuras.

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PRANCHA 4: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS OMMS NA LAGOA DE

ARARUAMA

Figura 20 – Amostrador cilíndrico usado nas coletas. A barra indica 2 cm.

Figura 21 – Perfil de oxigênio (medido com um microsensor de oxigênio de 25 µm acoplado a

um micromanipulador) e a distribuição vertical dos OMMs nas camadas do sedimento

coletado em amostradores cilíndricos (ver figura 20). Observe que uma maior densidade é

observada nas regiões anaeróbicas do sedimento.

Figura 22 – Distribuição dos OMMs nos primeiros 5 cm de sedimento da lagoa de Araruama,

coletado em amostradores cilíndricos. Os valores das contagens são OMMs/ mL e os números

entre parênteses são as salinidades (‰) observadas no local no momento da coleta (através de

um refratômetro manual). A barra indica 5 km.

Figura 23 –Transecto da distribuição dos OMMs a partir do inicio do espelho d’água de

amostras coletadas em amostradores cilíndricos (ver figura 20). As barras são a média de 3

réplicas e seus erros padrões.

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PRANCHA 5: COMPORTAMENTO DOS OMMS NOS MICROCOSMOS AO

LONGO DO TEMPO

Figura 24 – Variação do número de OMMs em microcosmos acompanhados por um período

de 42 dias após a coleta. Estão representadas as médias de 5 microcosmos (a) e os erros

padrões, e os valores representados por cada microcosmo (b) mostrando o comportamento

variável entre os diferentes microcosmo.

Figura 25 – Distribuição vertical dos OMMs no sedimento de microcosmos ao longo do

tempo. As barras mostram o comportamento da população de OMMs de 2 amostradores

cilíndricos coletados do mesmo microcosmo em 7 (a), 15 (b) e 45 (c) dias após a coleta. Os

OMMs tendem a se mover para as camadas superiores se aproximando da interface

sedimento-água com o tempo.

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PRANCHA 6: DADOS ABIÓTICOS DO ACOMPANHAMENTO SAZONAL

Figura 26 –Dados abióticos mensurados durante acompanhamento sazonal de 12 meses em

três pontos de coleta da lagoa de Araruama. Os parâmetros medidos foram temperatura da

água, teor de água no sedimento, pH e salinidade (a, b, c e d, respectivamente).

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PRANCHA 7: COMPORTAMENTO SAZONAL DOS OMMS NO AMBIENTE –

IMPORTÂNCIA DA SALINIDADE

Figura 27 – FISH dos OMMs encontrados nos três diferentes pontos da lagoa de Araruama do

acompanhamento sazonal (Rio das Moças – a, b e c; Canal da CNA – d, e e f e Praia da

Baleia – g, h e i) marcados com as sondas OMM (b, e e h) e MMP (c, f e i). A barra indica 5

µm.

Figura 28 – Acompanhamento da densidade populacional dos OMMs por 12 meses em três

diferentes pontos da lagoa de Araruama (barras) comparado com a salinidade (linhas e

quadrados) em partes por mil (‰). As barras são a média de 6 réplicas com o erro padrão.

Figura 29 –Avaliação do efeito de diferentes salinidade em microcosmos por 1, 3 e 7 dias

após a coleta e o ajuste das salinidades. O microcosmo 1 corresponde a salinidade do local

(Praia da Baleia) no momento da coleta (55 ‰), o microcosmo 2, 3 e 4 correspondem às

salinidades de 45‰, 30 ‰ e 65 ‰, respectivamente.

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PRANCHA 8: CILIADO ISOLADO DO SEDIMENTO DA LAGOA DE ARARUAMA

IDENTIFICADO COMO EUPLOTES VANNUS

Figura 30 – Microscopia óptica mostrando a localização na interface sedimento-água (ver

escala) dos ciliados (setas) isolados de amostras da lagoa de Araruama. A barra indica 100

µm.

Figura 31 – Microscopia óptica com contraste de fase interferencial do ciliado obtido da

cultura feita com amostras de sedimento da lagoa de Araruama. A barra indica 20 µm.

Figura 32 – Imagem de microscopia óptica do ciliado corado pela técnica do Protargol para

identificação da espécie. A barra indica 20 µm.

Figura 33 – Microscopia eletrônica de varredura mostrando a região dorsal do Euplotes

vannus. A barra indica 10 µm.

Figura 34 – Microscopia eletrônica de varredura mostrando a região ventral do Euplotes

vannus. A barra indica 10 µm.

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PRANCHA 9: PREDAÇÃO DOS OMMS PELOS CILIADOS

Figura 35 – Imagens da digitalização da vídeo-microscopia da interação entre OMMs (cabeça

de seta) e o E. vannus. Observe o momento exato no qual os OMMs são ingeridos pelo E.

vannus (seta). A barra indica 20 µm.

Figura 36 – Imagem de microscopia de luz com contraste interferencial do E. vannus cerca de

2 horas após a interação com os OMMs. A seta mostra uma estrutura dentro do vacúolo do

ciliado similar a um OMM deteriorado A barra indica 20 µm.

Figura 37 – Imagem de microscopia de luz com contraste interferencial mostrando um maior

aumento de uma região com várias estruturas similares aos OMMs. No inserto observa-se esta

estrutura em maior aumento onde os magnetossomos podem ser visualizados (seta). As barras

indicam 10 µm e 2 µm (inserto).

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PRANCHA 10 – DETERIORAÇÃO DOS OMMS E DOS MAGNETOSSOMOS NOS

VACÚOLOS DO CILIADO

Figura 38 – Imagem de microscopia eletrônica de transmissão de E. vannus 2 horas após a

interação com OMMs. Observe os OMMs (setas) em diferentes graus de decomposição dentro

dos vacúolos do ciliado. A barra indica 5 µm.

Figura 39 – Imagem em maior aumento dos OMMs em diferentes graus de decomposição (a-

c) dentro dos vacúolos do E. vannus. Observe em c, um OMM com um alto nível de

degradação A barra indica 500 nm para todas as micrografias.

Figura 40 – Imagem de microscopia eletrônica de transmissão dos magnetossomos dentro do

vacúolo do ciliado (a) e os espectros de microanálise de raios-X desses magnetossomos (b).

Observe os cristais com alto grau de deterioração (setas) e cristais ainda intactos (cabeça de

seta). O espectro dos magnetossomos intactos está representado pela curva vazia e dos

magnetossomos degradados pela curva cheia. Os picos de cobre são oriundos das barras da

grade. A barra indica 250 nm.

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PRANCHA 11 – VACÚOLOS ÁCIDOS E LOCALIZAÇÃO DO FERRO DENTRO DO

CILIADO

Figura 41 – Marcação com o corante Lysotracker dos vacúolos digestivos dos ciliados

contendo os OMMs. Imagem de campo claro mostrando os OMMs e seus magnetossomos (a)

e a imagem de fluorescência no comprimento de onda de 510-520 nm (b). O gráfico mostra a

análise espectral entre os comprimentos de onda 505 e 600 nm das áreas indicadas na imagem

(1 e 2). A barra indica 5 µm para ambas as imagens.

Figura 42 – Imagem de microscopia eletrônica de transmissão de um ciliado que ingeriu

OMMs mostrando diferentes estruturas eletrodensas dentro do corpo do ciliado e seus

respectivos espectros de microanálise de raios-X. Os picos de cobre são oriundos das barras

da grade. As barras indicam 2 µm para a imagem maior e 150 nm, 300 nm, 500 nm e 200 nm

para os insertos a, b, c e d respectivamente.

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PRANCHA 12 – COMUNIDADE MICROBIANA DOS AMBIENTES DOS OMMS

NOS MESES DE AGOSTO/2005, JANEIRO E FEVEREIRO/2006

Figura 43 – Gráfico comparando a contagem de bactérias totais (quadrados) e a contagem do

OMMs (colunas) dos cinco primeiros centímetros de sedimento, nos três pontos de coleta do

estudo sazonal nos meses de agosto/2005, janeiro e fevereiro/2006. Os valores estão

representados por peso seco. As barras são a média de seis réplicas com os respectivos os

erros padrões e os quadrados são a média de três réplicas com os respectivos erros padrões.

Figura 44 – Perfil do DGGE do fragmento do 16S das bactérias dos 5 centímetros de

sedimento das amostras do mês de agosto (1-3), janeiro (4-6) e fevereiro (7-9), dos locais de

coleta próximo a foz do Rio das Moças (1, 4 e 7), próximo ao canal da CNA (2, 5 e 8) e praia

da Baleia (3, 6 e 9).

Figura 45 – Dendrograma obtido do agrupamento pelo método UPGMA a partir do perfil do

DGGE da comunidade microbiana total dos cinco primeiros centímetros de sedimento, nos

três pontos de coleta do estudo sazonal nos meses de agosto/2005, janeiro e fevereiro/2006.

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Discussão

Os OMMs são microrganismos magnéticos com inúmeras características singulares,

entre elas podemos citar a multicelularidade (FARINA et al., 1983; RODGERS et al., 1990a;

FARINA, ESQUIVEL & LINS DE BARROS, 1990; KEIM et al., 2004a, b), o ciclo de vida

incomum (KEIM et al., 2004b) e a coordenação celular para o seu movimento característico e

a magnetotaxia (RODGERS et al., 1990a; KEIM et al., 2004a; GREENBERG et al., 2005).

Muito se sabe sobre as características fenotípicas desses microrganismos, mas a grande

maioria dos trabalhos se baseia na sua retirada do ambiente. Neste trabalho, nós estudamos

vários aspectos ecológicos como distribuição no ambiente, variação da densidade

populacional ao longo do tempo e os fatores que poderiam estar controlando essa população

no ambiente.

DISTRIBUIÇÃO E DIVERSIDADE NO AMBIENTE

Estudamos a presença dos OMMs em diferentes lagoas costeiras próximas à cidade do

Rio de Janeiro, localizada na região de Anomalia Geomagnética do Atlântico Sul (baixa

intensidade do campo geomagnético de cerca de 0,23 Gauss; a média é de 0,5 Gauss).

A presença dos OMMs nos ambientes estudados parece estar relacionada com a

salinidade. Nos locais e/ou períodos onde a salinidade estava abaixo da do mar (30‰) não

encontramos os OMMs. Porém outros fatores também devem estar associados à presença

desses microrganismos, pois, dentre as lagoas hipersalinas estudadas, nem todas possuíam

OMMs. Essas lagoas são conhecidas por possuírem uma grande diversidade nas

características físico-químicas da água (ENRICH–PRAST et al., 2003). Na literatura, os

OMMs são normalmente encontrados em ambientes hipersalinos a salobros (KEIM et al.,

2007 – ver tabela 1 do anexo 2), mas até então não foram descritos em ambientes de água

doce.

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Os OMMs encontrados nos diferentes ambientes estudados neste trabalho são

morfologicamente similares. Uma característica incomum foi observada nos OMMs da lagoa

Robalo, eles mineralizam tanto cristais de sulfeto de ferro (comum a maioria dos OMMs)

quanto de óxido de ferro na mesma célula, apesar de terem morfologias distintas. Essa

característica pode estar relacionada a fatores ambientais (maior ou menor disponibilidade de

oxigênio molecular ou sulfeto de hidrogênio). Porém, provavelmente estes microrganismos

possuem dois conjuntos de genes independentes para cada tipo de magnetossomo, pois o fato

de existir dois morfotipos de cristais não condiz com a ocorrência de um único processo de

biomineralização sobre a interferência somente ambiental. O ambiente poderia influenciar na

composição dos cristais, mas a morfologia é regulada geneticamente (BAZYLINSKI et al.,

1995). Foi observado em um bastonete magnético também produtor dos dois tipos de

magnetossomos que, dependendo do local onde essas bactérias eram retiradas elas possuíam

uma quantidade diferente de cada cristal. Elas possuíam mais magnetossomos de magnetita

quando coletadas da região óxicas e mais greigita quando coletadas das regiões anóxicas

(BAZYLINSKI et al., 1995), indicando que o ambiente pode ser responsável pela abundância

relativa de cada tipo de cristal. Devido a reduzida quantidade de OMMs na lagoa Robalo, não

foi possível verificar a localização deles no quimioclina nem verificar a existência de

diferenças de abundância de cada tipo de cristal conforme a região de coleta no sedimento.

Recentemente nosso grupo demonstrou um outro OMM coletado da lagoa de Itaipu

(Niterói, RJ) que também mineraliza ambos os cristais, somente magnetita ou somente

greigita (LINS et al., 2007). LINS et al. (2007) propõem que a presença da maquinaria

genética responsável pela produção de magnetita nos OMMs possa ter origem de uma

transferência lateral de genes, já que a grande maioria desses microrganismos, descritos até

então, mineralizam somente greigita (MANN, SPARKS & BOARD, 1990; PÓSFAI et al.,

1998b; LINS & FARINA, 2001; KEIM et al., 2004a). Em ambos os ambientes onde foram

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encontrados OMMs com os dois tipos de cristais (lagoa de Itaipu e de Araruama), eles não

foram as únicas bactérias magnéticas encontradas (LINS et al., 2005, 2006). Essa diversidade

das bactérias magnéticas nestes locais, inclusive com a presença de bactérias magnéticas

produtoras de magnetita, possa ter facilitado essa transferência lateral.

Os OMMs encontrados na lagoa de Araruama e na lagoa Encantada possuem uma

estreita relação filogenética indicando que possivelmente são os mesmos microrganismos,

porém a presença de outras bactérias magnéticas e o baixo número dos OMMs encontrados na

lagoa Robalo dificultaram o estabelecimento de uma relação filogenética entre este e os outros

OMMs encontrados neste trabalho.

Biogeografia dos OMMs

Apesar de recentemente ter sido descrito uma diversidade filogenética em OMMs

isolados de pântanos salgados em Little Sippewisset (Falmouth, MA, EUA) (SIMMONS &

EDWARDS, 2007a), essa mesma diversidade não foi observada no seqüênciamento completo

do rDNA 16S de clones obtidos de amostras magneticamente concentradas, ricas em OMMs,

da praia da Baleia na lagoa de Araruama (ABREU et al. 2007, ver anexo 4). Também não foi

observada essa diversidade nos locais estudados neste trabalho (próximo à foz do Rio das

Moças e do canal da CNA e praia da Baleia – lagoa de Araruama) tanto através do FISH com

a utilização de duas sondas para regiões variáveis, quanto por DGGE (praia de Iguaba Grande

– Lagoa de Araruama, lagoa Encantada). Porém, somente o seqüênciamento completo do

rDNA 16S pode confirmar a ausência dessa diversidade. Essa diversidade encontrada levou a

proposição de um novo gênero dentro das Deltaproteobacteria (SIMMONS & EDWARDS,

2007a). Os OMMs encontrados na lagoa de Araruama (praia da Baleia) possuem 97% de

similaridade com os OMMs de Little Sippewisset (SIMMONS & EDWARDS, 2007a) e 96%

com os OMMs coletados em New England (DELONG, FRANKEL & BAZYLINSKI, 1993),

logo eles pertenceriam ao mesmo gênero bacteriano (ABREU et al. 2007, ver anexo 4).

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Se levarmos em consideração o gênero bacteriano como unidade taxonômica, a

presença de OMMs em diferentes regiões do globo indica uma distribuição cosmopolita.

Mesmo com essa distribuição geográfica cosmopolita, a sua distribuição dentro de um mesmo

local parece ser direcionada por fatores intrínsecos do ambiente. Quando observamos a

distribuição dos OMMs em vários pontos da lagoa de Araruama, nós observamos mais uma

vez que a baixa salinidade limita a presença desses microrganismos. Foi visto também que em

pontos localizados no interior da lagoa eles não eram detectados (apesar da salinidade não ser

o fator limitante). Essa observação foi confirmada pelo transecto feito a partir do início do

espelho d’água que indicou uma localização dos OMMs preferencialmente, próxima à

margem. A falta de informação sobre dados bióticos e abióticos dos locais analisados no

transecto não nos permite inferir os fatores que possam estar associados a essa distribuição.

Localização no sedimento

A maioria das bactérias magnéticas são organismos de gradientes, ou seja, eles obtêm

energia para o seu crescimento no ambiente de compostos redutores e oxidantes localizados

em uma interface química (quimioclina), e por isso ocorrem em uma pequena região do

ambiente onde esta interface química ocorre (SIMMONS & EDWARDS, 2007b). Cada tipo

de bactéria magnética parece estar adaptado aos diferentes gradientes físico-químicos no

ambiente estratificado onde elas vivem (SIMMONS et al., 2004). Bactérias produtoras de

greigita (incluindo os OMMs) são encontradas na região anaeróbica, enquanto bactérias

produtoras de magnetita são normalmente encontradas em regiões microaerófilas (oxiclina)

(BAZYLINSKI et al., 1995; SIMMONS et al., 2004). Os OMMs da lagoa de Araruama se

localizam preferencialmente nas regiões anaeróbicas do sedimento, como esperado para

bactérias magnéticas produtoras de greigita. Elas estão distribuídas por uma região de cerca

de 3 cm, tendo uma maior concentração no quarto centímetro do sedimento

(aproximadamente uma ordem de grandeza a mais do que nas outras regiões). Esse

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comportamento já havia sido observado em OMMs de outros ambientes estratificados

(SIMMONS et al., 2004). Provavelmente estes microrganismos são anaeróbicos, sendo essa

idéia apoiada pelo fato de que estão filogeneticamente associados às bactérias anaeróbicas

heterotróficas que utilizam a redução de sulfato ou ferro na sua respiração (DELONG,

FRANKEL & BAZYLINSKI, 1993; SIMMONS & EDWARDS, 2007a; ABREU et al. 2007,

ver anexo 4). Porém, são microrganismos aerotolerantes, pois sobrevivem à exposição, por

longos períodos, ao O2 quando observados ao microscópio.

VARIAÇÃO DA DENSIDADE DA POPULAÇÃO DE OMMS AO LONGO DO

TEMPO EM DIFERENTES LOCAIS NA LAGOA DE ARARUAMA

Observamos que os OMMs eram encontrados em maior densidade populacional, quase

sempre, no ponto de coleta onde a influência antropogênica era maior (praia da Baleia), sendo

que foram encontrados os maiores valores (ordem de 103 OMMs/cm3 de sedimento) no início

do verão (dezembro/2005 e janeiro/2006), onde o número de habitantes aumenta

consideravelmente a população do local devido ao turismo na região e, conseqüentemente,

aumenta o despejo de esgoto doméstico que é lançado diretamente na lagoa. Essa informação

sugere que a introdução de matéria orgânica possa estar favorecendo o aumento na densidade

da população de OMMs. SIMMONS & EDWARDS (2007a) já haviam observado essa

correlação entre matéria orgânica e a população dos OMMs. A raiz da vegetação encontrada

no local estudado por eles liberava quantidades variáveis de exudatos ricos em carbono

orgânico. Essa liberação era maior durante o verão, período onde foram encontrados também

mais OMMs. Os nossos valores máximos de OMMs foram similares aos valores máximos

encontrados no sedimento de Salt Pond (MA, EUA), na ordem de grandeza de 103

(SIMMONS & EDWARDS, 2007a).

As enormes diferenças nas contagens de OMMs entres os três locais estudados podem

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ser explicados pelas grandes diferenças biogeoquímicas existentes nesses locais (SOUZA et

al., 2003). Foram medidos mensalmente, por dois anos, diversos fatores abióticos como

fosfato, nitrito, nitrato, amônia, carbono orgânico particulado, entre outros, em 14 diferentes

pontos da lagoa de Araruama, e análises estatísticas separaram esses três locais em diferentes

grupos (SOUZA et al., 2003). Apesar dessas medições terem sido realizadas nos anos de

1991/1992, existe uma relativa homogeneidade dentro de cada região da lagoa de Araruama

(SOUZA et al., 2003). Neste mesmo trabalho, foi verificado que o balanço de nutrientes na

lagoa é resultado de fontes antropogênicas (SOUZA et al., 2003), ou seja, qualquer alteração

nas quantidades de nutrientes na lagoa é oriundo da ação do homem. Logo, caso o aumento da

matéria orgânica tenha sido responsável pelo grande crescimento da população dos OMMs na

praia da Baleia, essa matéria orgânica tem origem no esgoto doméstico. Nos outros dois

pontos de coleta (próximo à foz do Rio das Moças e canal da CNA) não foi observado esse

aumento, pois ambos os locais possuem pouca ou nenhuma urbanização ao redor. No local

próximo a foz do Rio das Moças, apesar de haver urbanização e a entrada da água do rio, este

rio ainda não está poluído (SOUZA et al., 2003). Neste local, a salinidade deve atuar

controlando o crescimento dos OMMs.

Observamos uma queda brusca na contagem de OMMs no mês de fevereiro/2006 na

praia da Baleia, mês no qual ainda haveria um despejo maior de esgoto (e conseqüentemente

matéria orgânica). Essa diminuição na densidade populacional pode ter ocorrido em função de

mudanças bruscas na estrutura da comunidade microbiana causadas pelo excesso de

nutrientes.

Estrutura da comunidade microbiana

Analisamos a estrutura da comunidade microbiana de meses onde verificamos

mudanças importantes no número de OMMs para observar se mudanças bióticas poderiam

estar influenciando a densidade dos OMMs e verificar se a população dos OMMs variava

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junto com a comunidade microbiana total.

A diversidade de ambientes hipersalinos normalmente é baixa, porém em nossos

experimentos observamos uma densidade bacteriana total na ordem de grandeza de 108 a 109

células por grama de sedimento (peso seco). Existem poucos trabalhos de quantificação de

bactérias totais em sedimentos de ambientes hipersalinos (DANOVARO et al., 2005;

SORENSEN et al., 2005). Nossos valores de bactérias totais foram cerca de três ordens de

grandeza maior do que os encontrados nesses trabalhos. Essa diferença pode estar relacionada

com a diferença de salinidade observada entre a lagoa de Araruama (aproximadamente 55‰)

e os descritos nestes trabalhos (300 e 200‰, DANOVARO et al., 2005; SORENSEN et al.,

2005, respectivamente).

Não houve correlação entre o número de bactérias totais e o número de OMMs e os

valores de bactérias totais não tiveram mudanças importantes entre os meses analisados. Se a

hipótese de ter havido um aporte de matéria orgânica na praia da Baleia, no início do verão,

estiver correta, essa matéria orgânica não influenciou no número de bactérias totais, mas pode

ter influenciado na estrutura da comunidade. Os resultados obtidos pela comparação do perfil

do DGGE sugerem que essa mudança tenha ocorrido entre os meses de janeiro e

fevereiro/2006 na praia da Baleia, onde a amostra da praia da Baleia no mês de fevereiro/2006

se agrupou bem distante da do mês de janeiro/2006. A relação entre mudanças bruscas na

estrutura da comunidade microbiana e mudanças na população dos OMMs pode ser explicada

pela relação filogenética dos OMMs às bactérias redutoras de sulfato (DELONG, FRANKEL

& BAZYLINSKI, 1993; SIMMONS & EDWARDS, 2007a; ABREU et al., 2007, ver anexo

4). Sabe-se que as bactérias redutoras de sulfato utilizam como fonte de energia moléculas

orgânicas de baixo peso molecular que normalmente são produtos de organismos

fermentativos (PURDY, EMBLEY & NEDWELL, 2002), logo é provável que essa mudança

na estrutura da comunidade microbiana tenha influenciado na disponibilidade de fonte de

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energia usada pelos OMMs.

Quando calculada a proporção dos OMMs em relação ao total de bactérias do mesmo

ambiente foi observada que eles não são numericamente significativos, mesmo nos meses de

pico da densidade populacional (cerca de 0,001% do total de bactérias). Já foi sugerido que a

contagem de bactérias magnetotáticas baseada na concentração magnética possivelmente

subestima a abundância dessas bactérias no ambiente, pois o método se baseia na capacidade

de todas as células nadarem no tempo pré-definido, e células que estejam nadando devagar ou

que estejam presas às partículas de sedimento são perdidas. No sedimento de Salt Pond (MA,

EUA) foi verificado que eles podem corresponder a 1,9% de todas as bactérias (SIMMONS &

EDWARDS, 2007B).

SALINIDADE

Foi verificado que nos meses em com alta salinidade também havia uma baixa

contagem de OMMs, sugerindo que eles possam ser também regulados por salinidades muito

altas. Testamos em microcosmos diferentes salinidades e observamos que os OMMs preferem

uma faixa de salinidade para seu crescimento. Em salinidades extremas não houve aumento

do número de OMMs ao longo do tempo, indicando que não houve crescimento da população

nestas condições. No ambiente, os OMMs são sempre encontrados em salinidades que variam

de 8 a 60‰ (KEIM et al., 2007; tabela 1, anexo 2). Baseado nessas observações é possível

propor que os OMMs sejam microrganismos halofílicos, e levando em consideração a

classificação de acordo com a necessidade de NaCl (MADIGAN, 1996), eles seriam

microrganismos levemente halofílicos (crescimento ótimo entre 10 e 60 ‰ de NaCl). O

estudo filogenético desse microrganismo mostra que eles estão associados aos gêneros

Desulfosarcina, Desulfococcus e Desulfonema. Esses gêneros são considerados levemente

halofílicos, e normalmente são as principais bactérias redutoras de sulfato encontradas em

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ambientes moderadamente hipersalinos (como é o caso da lagoa de Araruama) (OLLIVIER et

al., 1994).

PREDAÇÃO

Os protozoários são os consumidores primários das bactérias em muitos ambientes,

onde controlam a sobrevivência e o crescimento das populações bacterianas (PERNTHALER,

2005). Baseado nessa informação verificamos se esse tipo de controle na população dos

OMMs poderia estar ocorrendo no ambiente.

Nossos resultados indicam que os OMMs são facilmente ingeridos pelo ciliado E.

vannus. Experimentos realizados anteriormente no nosso laboratório demonstraram que

flagelados de cerca de 20 x 12 µm de tamanho não eram capazes de ingerir OMMs intactos

encontrados em condições normais de salinidade. Porém quando a salinidade no ambiente

diminui, após períodos de muita chuva, por exemplo, são observadas alterações na morfologia

dos OMMs (ver figura 2C, anexo 3), que resultam em uma diminuição na mobilidade e

predação pelos flagelados. Quando bactérias magnetotáticas unicelulares (Itaipu-1; LINS et

al., 2005, 2006) foram expostas a flagelados e ciliados, a predação ocorria facilmente (ver

figura 2A, anexo 3).

Organização multicelular como forma de evitar a predação

Pode se observar baseado nos resultados expostos acima, que existem diferentes

respostas na predação dos cocos unicelulares e nos OMMs. As bactérias unicelulares da lagoa

de Itaipu podem ocorrer em diferentes tamanhos, podendo alcançar até 4 µm, e ainda assim

são consumidos pelos protozoários. Entretanto os OMMs que são maiores (até 10 µm; KEIM

et al., 2004a) são ingeridos somente pelos ciliados. Além disso, os OMMs possuem outras

características que podem evitar a predação pelos protozoários. A grande velocidade de nado

(até 100 µm/s, SILVA et al., 2007), e o “movimento de escape” são características que podem

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ajudar os OMMs a evitar a predação pelo menos pelos flagelados. Trabalhos anteriores têm

demonstrado que o tamanho é um importante parâmetro para a predação seletiva nos

protozoários (MONGER & LANDRY, 1991; MATZ & KJELLEBERG, 2005). O ciclo de

vida incomum dos OMMs não inclui um estágio de vida unicelular (KEIM et al., 2004b). Em

todos os ciclos reprodutivos, dois novos microrganismos multicelulares são gerados por cada

OMM. A multicelularidade é mantida ao longo das gerações assim como a polaridade

magnética. Foi proposto que a otimização da resposta magnetotática nos OMMs e a

necessidade de transferir a polaridade magnética dos microrganismos parentais para

microrganismos filhos tenham sido as forças seletivas principais para a multicelularidade nos

OMMs (WINKLHOFER et al., 2007). Cada célula separada do OMM perde sua habilidade de

se movimentar e se alinhar no campo magnético. Recentemente demonstramos que uma

célula separada dos microrganismos perde a sua viabilidade e morre (ABREU et al., 2006).

Acreditamos que a organização altamente complexa dos OMMs possa ser um indicativo da

pressão evolutiva contra a predação. A observação de que OMMs parcialmente desagregados

são predados pelos flagelados corrobora esta hipótese. Experimentos em microcosmos

indicam que o comportamento magneto-aerotático dos OMMs pode, a princípio, evitar o

contato entre os OMMs e os ciliados, uma vez que eles estariam em diferentes locais no

sedimento. Porém prováveis mudanças no quimioclina dos microcosmos fazem com que os

OMMs migrem para as regiões superiores do sedimento. Com isso, estes poderiam ser

predados já que entram no mesmo ambiente dos protozoários. A diminuição do número de

OMMs conforme eles vão atingindo as camadas superiores do sedimento fortalece essa idéia.

É razoável imaginar que esta situação de mudança na localização do quimioclina possa

ocorrer no ambiente e possa ser um ameaça em potencial aos OMMs. Logo, sugerimos que as

principais características do OMMs, que incluem o momento magnético otimizado para

magnetotaxia, organização multicellular, alta velocidade de nado e o sofisticado mecanismo

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da reprodução são uma conseqüência de uma pressão evolutiva para evitar a predação por

protozoário, particularmente nanoflagelados.

Digestão dos magnetossomos e impacto no ambiente

O processo digestivo é bem estudado em ciliados que possuem uma alimentação

baseada na filtração (filter feeder), particularmente no Paramecium e no Tetrahymena

(RAMOINO et al., 1996). Após a formação do vacúolo digestivo, seu conteúdo é levemente

acidificado. Posteriormente, uma maior acidificação ocorre com a fusão dos lisossomos. O

material digerido que não é absorvido é então exocitado através do citoprocto (ALLEN &

WOLF, 1974, 1979). Observamos que os magnetossomos foram parcialmente dissolvidos

provavelmente pelo ambiente ácido do vacúolo digestivo. Não sabemos o impacto da digestão

dos magnetossomos pelos ciliados no ambiente. Está claro, entretanto, que dependendo da

taxa do consumo dos OMMs pelos ciliados parte do ferro imobilizado dentro dos

magnetossomos é reciclado ao ambiente em uma forma mais solúvel. Por outro lado, este

consumo é provavelmente baixo porque os OMMs e os ciliados co-existem em diferentes

camadas do sedimento. No entanto, nossos resultados são a primeira evidência de que a

contribuição dos magnetofósseis à magnetização dos sedimentos após a morte das bactérias

magnetotáticas pode ser superestimada (CHANG & KIRSCHVINK, 1989), já que os

magnetossomos podem ser dissolvidos pela digestão dos protozoários.

REGULAÇÃO DA POPULAÇÃO DOS OMMS

O tamanho de uma população no ambiente é determinada pelo balanço entre seu

crescimento e sua taxa de mortalidade, isso é válido também para as bactérias

(PERNTHALER, 2005). Existem dois mecanismos de controle da população microbiana nos

ambientes: top-down control, no qual a abundância de uma população é, principalmente,

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determinada pela mortalidade devido a predação; e bottom-up control, no qual a abundância

da população é determinada pela falta de recursos e a mortalidade é devido a estarvação

(PERNTHALER, 2005). Não existe consenso sobre qual dos dois tipos de controle tem mais

influência sobre a população microbiana. Uma das hipóteses é que o tipo de controle

predominante em um ambiente estaria relacionado com a produtividade do ecossistema.

Modelos teóricos e observações diretas em diferentes ecossistemas têm demonstrado que em

ambientes oligotróficos o controle da população microbiana seria conferido pela predação,

enquanto que em ambientes eutróficos o controle seria pela limitação de nutrientes (GASOL,

PEDRÓS-ALIÓ & VAQUÉ, 2002). Apesar dessa hipótese pode não parecer intuitiva, ela tem

explicações no contexto da cadeia alimentar como um todo. Em ambientes oligotróficos, os

protistas bacterívoros são controlados somente pela limitação da presas (bactérias). Já os

ambientes eutrofizados podem sustentar uma comunidade de predadores superiores muito rica

(grandes protistas, zooplancton e larvas de peixes), estes predadores superiores controlariam

(através da predação) a população de bacterívoros, liberando então os procariotos do controle

pela predação (PERNTHALER, 2005). A lagoa de Araruama tem passado por mudanças no

seu estado trófico nos últimos anos. Originalmente era um ecossistema oligotrófico e na

década de 90 houve uma transição para um ecossistema mesotrófico (SOUZA et al., 2003).

Hoje em dia, com o enorme aporte de esgoto recebido, a lagoa de Araruama provavelmente

está mais próxima de um ecossistema eutrófico, principalmente nas regiões urbanizadas.

Apesar de neste trabalho não termos analisado muitos fatores abióticos, aparentemente a

população dos OMMs tem um controle populacional mais fortemente regulado pela

disponibilidade de nutrientes (bottom-up control), como o esperado para ambientes

eutrofizados. Os mecanismos de escape da predação apresentados pelos OMMs parecem

diminuir a importância do tipo de regulação top-down nesta população. Porém, para

determinarmos o grau de regulação da população dos OMMs pela predação é necessária a

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realização de contagens simultâneas da abundância dos protistas e dos OMMs no ambiente.

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Conclusões

Os resultados obtidos neste trabalho ampliam significativamente os conhecimentos a

respeito da ecologia dos OMMs, microrganismos com características tão singulares. Baseado

nas nossas observações e comparando com os dados já existentes na literatura, podemos

concluir:

a) A salinidade é um importante fator na determinação da presença dos OMMs nos

ambientes, porém outros fatores abióticos também regulam a densidade destes

microrganismos no ambiente. Estudos mais aprofundados com relação às outras

características biogeoquímicas do ambiente seriam necessários para mapear outros

parâmetros abióticos que possam regular essa população no ambiente estudado.

b) Os OMMs estão amplamente distribuídos em ambientes de moderadamente

hipersalinos a salobros e são filogeneticamente relacionados.

c) Os OMMs são microrganismos levemente halofílicos e anaeróbios.

d) A organização multicelular dos OMMs, alta velocidade de nado e o seu ciclo de vida

incomum podem estar relacionados a uma forma dos OMMs evitarem a predação no

ambiente.

e) Os OMMs quando predados têm seus magnetossomos dissolvidos pelo vacúolo do

ciliado e, conseqüentemente, o ferro pode voltar ao ambiente de uma forma solúvel.

f) Provavelmente a população dos OMMs é regulada pela distribuição de nutrientes.

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