ebook porquemudarlda v3

Upload: michellemagrini

Post on 17-Jul-2015

161 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MARCOS WACHOWICZOrganizador

Por que mudar a Lei de Direito Autoral?ESTUDOS E PARECERESVerso Digital

Colaboradores

Alexandre R. Pesserl Christiano Lacorte Denis Borges Barbosa Gert Wrtenberger Guilherme Coutinho Jos de Oliveira Ascenso Karin Grau-Kuntz Luiz Gonzaga S. Adolfo Marcos Wachowicz Newton Silveira Rangel Trindade

MARCOS WACHOWICZCOORDENADOR

POR QUE MUDAR A LEI DE DIREITO AUTORAL?ESTUDOS E PARECERESVerso Digital

FLORIANPOLIS EDITORA FUNJAB

2011

[RECURSO ELETRNICO - EBOOK - VERSO ELETRNICA REVISADA]

P832 Por que mudar a lei de direito autoral? : estudos e pareceres / Marcos Wachowicz organizador. Florianpolis : Fundao Boiteux, 2011. 280p. 2. Tiragem Inclui bibliografia ISBN:978-85-7840-048-4 1. Direitos autorais. 2. Propriedade intelectual. 3. Projetos de lei. I. Wachowcz, Marcos. CDU: 347.78

Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071 Editora Fundao Boiteux Conselho Editorial Luiz Carlos Cancellier de Olivo Eduardo de Avelar Lamy Jos Isaac Pilati Secretria executiva Thlita Cardoso de Moura Capa Arte: Christiano Lacorte Projeto grfico: Studio S Diagramao e reviso Luiza Morena Moraes Gabriela Arenhart Sarah Helena Linke Endereo UFSC CCJ - 2 andar Sala 216 Campus Universitrio Trindade Caixa Postal: 6510 CEP: 88036-970 Florianpolis SC E-mail: [email protected] - Site: www.funjab.ufsc.brEsta obra distribuda por meio da Licena Creative Commons 3.0 Atribuio/Uso No-Comercial/Vedada a Criao de Obras Derivadas / 3.0 / Brasil

Joo dos Passos Martins Neto Horcio Wanderley Rodrigues Jos Rubens Morato Leite

MARCOS WACHOWICZCOORDENADOR

POR QUE MUDAR A LEI DE DIREITO AUTORAL?ESTUDOS E PARECERESVerso Digital

Colaboradores

Alexandre R. Pesserl Christiano Lacorte Denis Borges Barbosa Gert Wrtenberger Guilherme Coutinho Jos de Oliveira Ascenso Karin Grau-Kuntz Luiz Gonzaga S. Adolfo Marcos Wachowicz Newton Silveira Rangel Trindade

FLORIANPOLIS EDITORA FUNJAB

2011

Apresentao

com orgulho que se apresenta a construo e amadurecimento de um pensamento coletivo que agora culmina com a verso digital (eBook), revisada, sob o ttulo Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres. Trata-se de uma obra que rene de forma clara e objetiva, artigo por artigo, os estudos realizados pelo Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informao GEDAI, nos ciclos de debates ocorridos no transcorrer do ltimo ano, somados aos pareceres dos professores Jos de Oliveira Ascenso, Newton Silveira, Denis Borges Barbosa, Karin Grau-Kuntz, Gert

Wrtenberger e Luiz Gonzaga S. Adolfo. Aqui nesta obra coletiva, o leitor encontrar o trabalho organizado pelo do Grupo de Pesquisa de Direito Autoral e Informao GEDAI, que viabilizou debates em inmeros seminrios, trocas de ideias nos fruns realizados nos ltimos anos, que culminaram para que determinadas questes tenham aflorado em congressos, em ciclos de debates. E, aqui destaco a participao de Alexandre Pesserl, Guilherme Coutinho, Christiano Lacorte e Rangel Trindade. Agradeo em especial a dedicao e o trabalho de Amanda Madureira, Heloisa Medeiros, Sarah Helena Linke e Gabriela Arenhart que participaram em vrios momentos, nos ciclos de debates, nos seminrios e nos workshops realizados, num esforo coletivo para aprofundar as discusses e apresentar uma contribuio consistente para o avano e modernizao da legislao autoral brasileira, o que foi, efetivamente, alcanado na presente obra. Fica o agradecimento tambm Kamila Brandl e Kelly Batistella pelo auxlio imprescindvel na relatoria do Ciclo de Debates.

Esta obra, contudo, reveste-se de algumas pecularidades que devem ser destacadas. O tema da obra vai ao encontro do eixo temtico que envolve a linha de pesquisa Sociedade da Informao e Propriedade Intelectual do Programa de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Aqui consigno o esforo dos todos os professores e alunos do nosso PPGD/UFSC. Tambm cabe ressaltar o apoio do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual IBPI, FAPEU, Fundao Boiteux, Ministrio da Cultura e os recursos recebidos da CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pesssoal de Nvel Superior. Esta obra, revisada e agora em formato digital (eBook), visando a mais ampla difuso e acesso, se dirige ao leitor com a inteno de fomentar a reflexo sobre os novos conceitos imanentes da Socidade Informacional, com vistas a propiciar a formulao de suas prprias concluses e convices, num momento em que o pas vivencia um grande debate sobre a necessidade de mudana da legislao autoral. A reviso da Lei Autoral necessria para um novo equilbrio entre interesses pblicos e privados.

Marcos WachowiczProfessor de Direito do PPGD/UFSC Coordenador do GEDAI/UFSC

SUMRIOPARTE IEstudos para a reviso da Lei de Direito AutoralMarcos Wachowicz Guilherme Coutinho Alexandre Pesserl Christiano Lacorte Rangel Trindade Introduo ................................................................................................................................... 13 Captulo 1 Estudos para a reviso da Lei de Direito Autoral .............................................. 21 1.1. Disposies Preliminares ............................................................................................... 21 Captulo 2 Das obras intelectuais ......................................................................................... 37 2.1. Das obras protegidas ..................................................................................................... 37 2.2. Da autoria das obras intelectuais .................................................................................... 42 2.3. Do registro das obras intelectuais.................................................................................... 45 Captulo 3 Dos Direitos do Autor ......................................................................................... 47 3.1. Das obras protegidas ..................................................................................................... 47 3.2. Dos direitos do autor ....................................................................................................... 47 3.3. Dos direitos patrimonias do autor e de sua durao ...................................................... 50 3.4. Das limitaes aos direitos autorais ............................................................................... 58 3.5. Da transferncia dos direitos de autor ............................................................................ 66 3.6. Da obra sob encomenda ou decorrente de vnculo ........................................................ 69 3.7. Das licenas no voluntrias .......................................................................................... 71 Captulo 4 Da utilizao de obras intelectuais e dos fonogramas .................................... 75 4.1 Da edio ......................................................................................................................... 75 4.2 Da comunicao ao pblico .............................................................................................. 77 4.3 Da utilizao da obra de arte plstica................................................................................ 80 4.4 Da utilizao da obra fotogrfica....................................................................................... 80 4.5 Da utilizao de fonograma............................................................................................... 80 4.6 Da utilizao da obra audiovisual.... ................................................................................. 81 4.7 Da utilizao de base de dados ........................................................................................ 82 4.8 Da utilizao da obra coletiva ........................................................................................... 82 4.9 Da reprografia ................................................................................................................... 83 Captulo 5 Dos Direitos Conexos .......................................................................................... 85 5.1 Disposies preliminares ................................................................................................... 85 5.2 Dos direitos dos artistas, intrpretes ou executantes ........................................................ 85 5.3 Dos direitos dos produtores fonogrficos .......................................................................... 87 5.4 Dos Direitos da Empresas de Radiodifuso....................................................................... 88 5.5 Da durao dos direitos conexos ....................................................................................... 88 Captulo 6 Das associaes de titulares de dieitos de autor e dos que lhe so conexos............................................................................................................ 89 Captulo 7 Das sanes s violaes dos direitos autorais............................................... 95 7.1 Disposio preliminar ......................................................................................................... 95 7.2 Das sanes civies..... ........................................................................................................ 96 7.3 Da prescrio da ao...... ................................................................................................ 100 Captulo 8 Disposies finais e transitrias....................................................................... 101

PARTE IIPareceres sobre a reviso da Lei de Direito Autoral

Captulo 9 Clusulas gerais de harmonizao dos direitos autorais com outros diplomas legais (artigos 1 a 4 da proposta) ..................................................... 105 Jos de Oliveira Ascenso O enquadramento geral da Proposta............................................................................. 105 Os principios gerais reclamados.................................................................................... 109 A interpretao restritiva dos negcios jurdico relativos a direitos autorais .......................................................................................... 110

Captulo 10 A proposta do MinC de reforma da LDA: as limitaes aos direitos autorais.. ...................................................................................... 115 Jos de Oliveira Ascenso O enquadramento geral.................................................................................................. 115 Matrias alheias ao direito de autor. O uso privado....................................................... 118 As limitaes reproduo para uso privado ............................................................... 121 A interdependncia de compensao por reprografia e liberdade da cpia privada......................................................................................... 124 Obra inspirada em obra precedente e apropriao de obra alheia................................ 125 Utilizaes para ensino e pesquisa cientfica................................................................ 128 Tentativas de ampliao dos limites alm das hipteses tipificadas na lei ........................................................................................... 133 O esprito da Proposta inicial e o da Proposta consolidada ............................................................................................ 137 A digitalizao de obras................................................................................................. 138 Os acervos digitais........................................................................................................ 139 Concluses.................................................................................................................... 142

Captulo 11 A superviso de gesto coletiva na reforma da LDA.................................... 143 Jos de Oliveira Ascenso O enquadramento........................................................................................................... 143 Limitao da LDA disciplina fundamental em matria de gesto coletiva ..................................................................................... 146 Os pressupostos............................................................................................................ 147 A regulamentao das entidades ................................................................................. 150 A superviso.................................................................................................................. 153 Os processos digitais e o retorno do protagonismo do autor........................................ 155

Captulo 12 Proposta de reforma da lei dos direitos autorais do Brasil no enquadramento internacional .......................................................................... 159 Jos de Oliveira Ascenso Introduo....................................................................................................................... 160 mbito de anlise........................................................................................................... 160 O tratado da OMPI sobre o direito de autor................................................................... 162 O tpo de anlise a empreender..................................................................................... 164 O tratado da OMPI sobre interpretaes e execues e fonogramas .......................... 179 O Acordo ADPIC/TRIPS ............................................................................................... 199 O ACTA.......................................................................................................................... 205

Captulo 13 Nota ao anteprojeto de lei para reforma da lei autoral submetido consulta pblica pelo Ministrio da Cultura ............................................................................................................... 207 Newton Silveira Denis Borges Barbosa Karin Grau-Kuntz Introduo....................................................................................................................... 207 Direito de Autor e Concorrncia .................................................................................... 217 Direito de Autor na Constituio: sobre a utilizao pblica e privada .......................... 219 Licena no voluntria.................................................................................................... 227 Captulo 14 Notas sobre os sistemas de direito de autor brasileiro e alemo, tendo em considerao a perspectiva de reforma das legislaes vigentes e a procura de equilbrio de interesses ........................................................................................ 233 Gert Wrtenberger Karin Grau-Kuntz Sobre as reformas das leis de direito de autor brasileira e alem................................ 233 Sistemtica de construo e interpretao do Direito de Autor: uma comparao entre o direito brasileiro e alemo .................................................... 237 Das chamadas limitaes do Direito de Autor............................................................. 242 Remunerao compensatria........................................................................................ 252 Sobre o usurio da obra ou ainda sobre a crise do direito de autor............................ 253

Captulo 15 Breve anlise do projeto de nova lei de direito autoral e sugestes do GEDAI-UFSC .................................................................................................. 263 Gonzaga Adolfo Sucinta introduo, com nfase no esprito que norteia o projeto ..................................................................................... 263 Breve anlise das principais alteraes sugeridas pelo GEDAI/UFSC ....................................................................................... 264

Sobre os autores ..................................................................................................................... 277

PARTE I

ESTUDOS PARA REVISO DA LEI DE DIREITO AUTORAL

Aviso ao LeitorA abordagem da primeira parte da presente obra sistemica, observando o texto da Lei 9.610/98, as propostas do MinC e as contribuies do GEDAI/UFSC para o aprimoramento da legislao autoral brasileira.

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

ESTUDOS PARA REVISO DA LEI AUTORAL

Marcos Wachowicz Guilherme Coutinho Alexandre Pesserl Christiano Lacorte Rangel Trindade

INTRODUOA necessidade de reviso da Lei de Direito Autoral brasileira muito clara quando se percebe o desequilbrio em relao ao sentido pblico e privado, e tambm, quando se observam manifestaes positivas da sociedade civil brasileira com relao a reforma da lei. O Direito Autoral no um direito absoluto, cujo diapaso de anlise seja eminentemente privatista ou mercantilista, nem fruto de uma viso maximalista de tutela e proteo da propriedade intelectual, cujo iderio dominante foi decisivo para consolidar o Acordo TRIPs, isto no ano de 1994, no qual se estruturou a OMC sob os algurios do livre comrcio, das redues das barreiras alfandegrias e da promoo do desenvolvimento e cooperao internacional. Nesta perspectiva, o Brasil, na dcada de 90, houve por rever todo o seu marco legal de propriedade intelectual e editar novas legislaes em fiel observncia aos parmetros mximos de proteo estabelecidos no Acordo TRIPs, seja pela Lei de Propriedade Industrial publicada logo em 1996, como tambm, pela Lei 6.910 de 1998 que reformou a Lei Autoral brasileira que vigorava desde a dcada de 70.

13

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Passados quase 20 anos do Acordo TRIPs pode-se mensurar seus efeitos no sistema internacional de proteo de propriedade intelectual, que foi homogeneizado mediante a derrocada das soberanias nacionais pela fora de interesses econmicos. No Acordo TRIPs, os bens intelectuais, nomeadamente os bens tutelados pelo direito autoral, como livros, msicas, filmes que produzidos pelas indstrias de contedo passam a ser tratados como mercadoria no contexto do mercado globalizado. Assim, as diretrizes de proteo nos fruns internacionais de soluo de controvrsias que so dispensadas para um conflito de exportao/importao de algodo, so idnticas s dispensado a bens intelectuais, como uma msica ou um filme. O bem intelectual tutelado pelo direito autoral portador de valores e significados que esto intrnsecos sua prpria essncia, porm, seu valor enquanto bem cultural advm da sociedade. A obra de arte est ligada de forma indelvel ao ambiente cultural da qual a obra autoral emerge, e, uma vez que esta obra circule, ou seja, uma vez que ela se torne disponvel e acessvel sociedade, que se estabelece o dilogo do autor com o seu pblico. As novas tecnologias da informao, sem dvida ampliaram sobremaneira a difuso das obras, como a Internet, que um veculo de aproximao mpar do autor com o seu pblico. Contudo, os bens intelectuais tutelados pelo direito autoral no guardam similitude aos demais produtos que so tambm comercializados sob as regras ditadas pela OMC. Neste sentido, que as questes subjacentes ao processo de reforma da legislao autoral brasileira podem ser apontadas:

Haver-se- de admitir que a OMPI, paulatinamente enquanto organismo internacional por excelncia para ser o grande foro de14

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

debates sobre propriedade intelectual tenha sido subjulgada OMC? Ser que os primados do Direito de Autor no Brasil, passados mais de 10 anos de uma viso maximalista, no devam ser revistos em seus conceitos estruturantes? Ser que a figura tradicional, clssica, que liga a pessoa do autor obra por ele criada ainda vlida e adequada s novas tecnologias da informao? Ser que as novas formas de criao, de uso compartilhado e de acesso na Internet so paradigmas de uma nova sociedade, na qual o compartilhamento e a socializao do conhecimento esto na sua gnese, e que, o Direito Autoral deve fazer uma reflexo sobre o que uso justo e quais so os interesses pblicos que envolvem as questes autorais na sociedade da informao? E, quem ser que deve fazer esta reflexo? Com certeza sero aqueles que debruam a sua capacidade intelectual no objetivo de promover um amplo debate acadmico sobre essas questes de fundo inerentes nova Sociedade da Informao. Por outro lado, tambm certo, que advogar as teses econmicas de clientes ou de interesses interpostos de grupos afasta uma percepo real e sistmica da complexidade de nossa sociedade, dificultando alcanar as solues jurdicas adequadas para a tutela do direito autoral. O objetivo da presente obra fornecer a nossa comunidade acadmica e aos juristas que se dedicam ao direito de autor, um estudo sistematizado das atuais propostas de reviso da Lei Autoral, complementado com pareceres de especialistas. A abordagem da primeira parte da presente obra sistemica, observando o texto da Lei 9.610/98, as propostas do MinC e as contribuies do GEDAI para o aprimoramento da legislao autoral brasileira.15

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Para a compreenso Direitos Intelectuais dentro do contexto da Sociedade Informacional, preciso ter-se claro que a Revoluo da Tecnologia da Informao subjacente em nossa sociedade ao transformar o homem na sociedade, transformou tambm o modo dele se comunicar, viver e expressarse. Ento, as obras intelectuais ganharam novos espaos, novas dimenses. isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informacional. Da mesma forma que os juristas do sculo XIX erigiram dois marcos internacionais - Conveno de Paris (1883) e de Berna (1886) -, projetando um mundo, que aps cem anos apresenta uma clara dicotomia entre pases desenvolvidos, que so tecnologicamente avanados de outros que no so. Alguns destes pases so como o Brasil, que tm uma diversidade cultural imensa, mas que a maior parte de sua populao no tm acesso aos bens intelectuais por ela produzidos, isto porque insipiente a colocao dessa produo intelectual no mercado interno. O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informao (GEDAI), vinculado ao Curso de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, promoveu um ciclo de oito debates durante os meses de junho e julho de 2010, sob a coordenao cientfica do Prof. Dr. Marcos Wachowicz, para discusso do projeto de alterao da Lei de Direitos Autorais (LDA) promovido pelo Ministrio da Cultura (MinC) e pela Casa Civil da Presidncia da Repblica. Alm dos pesquisadores vinculados ao GEDAI, bacharis, mestres e doutores especializados em Direito Autoral, durante os debates contamos com a presena de membros da comunidade acadmica em geral, do escritrio de direito autoral da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), de advogados que prestam servios a entidades de gesto coletiva de direitos, da Casa Civil do governo de Santa Catarina, da sociedade civil e de representantes do Ministrio da Cultura. Os resultados obtidos e aqui publicados no representam

necessariamente a viso destas entidades, mas os participantes dos encontros foram de uma ou outra forma essenciais para a discusso, e agradecemos a16

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

todos que comungaram de nossos encontros. Pelos mesmos motivos, nem todas as sugestes aqui apresentadas obtiveram o consenso do grupo; em tais casos, optou-se pela publicao dos argumentos concorrentes. O processo de construo deste texto obra autoral colaborativa demonstra a evoluo do processo criativo e a relevncia das obras colaborativas, em especial para a pesquisa acadmica e a efetiva construo do conhecimento, assim como evidencia o cheque em que se encontra o prprio conceito de autoria. Os debates foram registrados em vdeo, e secretariados em duas atas simultneas, de forma a se obter pontos de vista distintos sobre os argumentos produzidos pelo grupo. A partir de tais registros, o GEDAI montou uma proposta para a alterao da Lei de Direitos Autorais, enviada Casa Civil da Presidncia da Repblica. Esta proposta foi por sua vez submetida reviso de determinados professores, pensadores do direito autoral, os quais retornaram com seus prprios comentrios, que, por sua vez, foram editados e incorporados aos registros originais. Devido oralidade dos debates e a consequente dificuldade para transport-los para o texto as referncias aqui trazidas limitam-se aos textos legais citados, com uma bibliografia referencial indicada ao final para aqueles que gostariam de se aprofundar no estudo do tema. Os textos aqui publicados so de inteira responsabilidade do GEDAI. Esta publicao, sistematizada e com as devidas justificativas, est sendo realizada nos moldes solicitados pelo MinC para a consulta pblica, ou seja, na forma de lei comentada. Optamos por reproduzir o texto da lei atual, artigo a artigo, seguido sempre das proposies do MinC e das propostas enviadas pelo GEDAI Casa Civil, com as respectivas justificativas. Determinadas propostas enviadas pelos professores colaboradores aps o envio do documento Casa Civil foram anotadas como comentrios. Nossas contribuies no se limitaram aos pontos de reforma propostos pelo MinC, mas uma leitura criteriosa da Lei; foram estudados tambm itens de17

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

importncia que no entraram na consulta pblica, como a questo das obras produzidas pela administrao pblica Art. 44-A e ainda determinadas definies legais que a nosso ver solicitavam melhor redao tcnica. Dois tpicos polmicos merecem comentrio, por sua relevncia: a) dos prazos protecionais: as concluses obtidas foram de que no existe previso legal nos tratados e acordos internacionais dos quais o Brasil seja signatrio que exijam um prazo protetivo maior do que cinquenta anos aps a morte do autor, e, neste sentido, qualquer proteo que exceda tal prazo significa um avano desnecessrio de interesses privados sobre o domnio pblico. Entretanto, de forma a proteger os titulares de direitos que explorem obras cujos autores tenham falecido h mais de cinquenta e menos de setenta anos, foi sugerida a criao de uma regra de transio (Art. 112-A) que garantiria a proteo de tais obras pelo seu prazo remanescente (sob a lei atual), bastando para tanto que seus titulares manifestem interesse em tal proteo. b) da reprografia: a proposta do MinC prev que os operadores de fotocopiadoras devero no apenas obter permisses dos representantes das editoras, mas tambm devero identificar quais seriam as obras para cujos usos no se reputa necessria autorizao prvia (como aquelas previstas no Art. 46, por exemplo). Tal mecanismo nos parece fadado ao insucesso, pois no nos parece crvel que os operadores das fotocopiadoras tero condies de decidir questes relativas ao status do direito autoral sobre obras fora de catlogo, por exemplo. Assim, a sugesto aposta de inverter a lgica da operao: ao invs dos estabelecimentos terem que obter previamente inmeras autorizaes em todo o territrio brasileiro e decidir se determinada obra est ou no protegida, devero obter apenas listas que centralizaro as obras protegidas, as quais sero disponibilizadas pelos interessados. A partir da consulta de tais listas, podero praticar tabelas de preos diferenciadas, e devero manter registro contbil de tais operaes. Os interessados podero fiscalizar estas prticas, nos moldes do que hoje ocorre com outras categorias de gesto coletiva de direitos. As demais alteraes propostas encontram-se no corpo do texto abaixo.18

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Gostaramos de tornar pblico o nosso agradecimento a todos os coautores deste texto, e em especial equipe de organizao e secretaria dos debates realizados. Esperamos desta forma contribuir com a nova redao da Lei de Direitos Autorais, que deve almejar um equilbrio entre os diversos interesses que so ali acomodados.

19

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

20

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

CAPITULO 1 - DISPOSIES PRELIMINARES Esta publicao, sistematizada e com as devidas justificativas, est sendo realizada nos moldes solicitados pelo MinC para a consulta pblica de 2010, ou seja, na forma de lei comentada. Optamos por reproduzir o texto da lei atual, artigo a artigo, seguido sempre das proposies do MinC e das propostas enviadas pelo GEDAI Casa Civil, com as respectivas justificativas. Determinadas propostas enviadas pelos professores colaboradores aps o envio do documento Casa Civil foram anotadas como comentrios.

Art. 1 Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so conexos, e orienta-se pelo equilbrio entre Lei 9.610 os ditames constitucionais de proteo aos direitos autorais e de garantia ao pleno exerccio dos direitos culturais, educacionais e dos demais direitos fundamentais e pela promoo do desenvolvimento nacional. Art. 1 Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so conexos, e orienta-se pelo equilbrio entre MinC os ditames constitucionais de proteo aos direitos autorais e de garantia ao pleno exerccio dos direitos culturais e dos demais direitos fundamentais e pela promoo do desenvolvimento nacional. Art. 1 Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so conexos, e orienta-se GEDAI pelo equilbrio entre os ditames constitucionais de proteo aos direitos autorais e de garantia ao pleno exerccio dos direitos culturais, educacionais e dos demais direitos fundamentais e pela promoo do desenvolvimento nacional.

A Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais) foi resultado de um longo processo de elaborao na dcada de 90, tendo transcorridos quase dez anos entre sua redao inicial e sua efetiva publicao, tudo isso num contexto prdigital. Representa uma viso oriunda da era fabril, da necessidade de grandes investimentos (em grficas, estdios, pelculas, materiais de produo) para a produo cultural, e de sua consequente proteo.21

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Logo, uma lei que tende a superproteger os interesses do titular de direitos, que no necessariamente o autor, e ainda se mostra excessivamente vinculada ao padro assentado no sculo XIX, derivado do texto da Conveno de Berna. Tal caracterstica causa problemas com os usos possveis de obras autorais no ambiente digital. O mundo digital trouxe consigo a democratizao dos custos de se produzir e distribuir cultura. Ao criar travas ao acesso cultura e ao conhecimento, gera insegurana jurdica aos usos possveis de obras, tanto pelos usurios, como aos prprios autores, e, portanto ao prprio investidor; ou seja, sociedade em geral. As imperfeies nessa lei geram lacunas e os usos legtimos ficam prejudicados. A Lei 9.610/98 no preenche as demandas sociais para o fim a que ela se destina, dificultando os meios de acesso, de divulgao e limitando o domnio pblico e por isso, sua reviso deve considerar a incluso dos novos institutos e das novas tecnologias. O direito autoral uma equao de vrios fatores. preciso conciliar os interesses dos trabalhadores criativos (autores), dos investidores (parte necessria da cadeia produtiva de obras culturais) e do pblico, o qual detm interesses sociais legtimos no acesso cultura, alm de pagar a sua conta. A atual superproteo ao investidor termina por criar falhas de mercado e levar ineficincia econmica o que, em tese, exatamente o oposto do que deveria realizar. Alguns exemplos prticos para ilustrar o exposto acima: A cpia para a preservao de acervos atualmente no permitida. Com isso, est se deteriorando o patrimnio cultural, j que projetos de digitalizao de acervos esbarram em problemas jurdicos impraticveis. A Lei no permite a cpia integral, mas somente a cpia de pequenos trechos para fins de citao. Essa situao inaplicvel de fato a diversos formatos de obras, como obras de arte plstica ou sonetos, mas principalmente por limitar o direito cpia sem finalidades comerciais.

22

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

O acesso aos acervos de pesquisa normalmente restrito e muitas delas esto esgotadas, dificultando a sua utilizao para fins acadmicos; assim, o direito autoral atua como instrumento restringente do acesso ao conhecimento, que fator fundamental de gerao de riquezas no ambiente da sociedade informacional. Atividades corriqueiras, como a ripagem de msicas de CDs para MP3s (format shifting) no so permitidas. Isto cria um sentimento negativo junto ao pblico e em especial em relao aos mais jovens, gerando uma cultura de desrespeito ao direito autoral. o conhecido aforismo: se o direito no reflete a realidade, esta se vinga ignorando-o. E assim verifica-se uma desnecessria judicializao dos direitos autorais: so cada vez mais frequentes as demandas judiciais sobre o tema, o que em tese no interessa a nenhuma das partes autor, pblico e investidores deste balanceamento delicado que , ou deveria ser, o marco legal sobre o tema. Os reais beneficirios da atual situao so os atravessadores, que no representam necessariamente os trabalhadores criativos, nem o pblico. Em outros instantes do texto, se avista a adequao do diploma autoral com outras reas do Direito, como exemplificadamente quando se verifica a funo social do contrato, ou sua resoluo por onerosidade excessiva, institutos que constam no Digesto Civil, mas que evidentemente podem e devem aparecer na Lei Autoral. As contribuies trazidas durante o ciclo de debates promovido pelo GEDAI no se limitaram aos pontos de reforma propostos pelo MinC. Analisamos tambm algumas questes de importncia que no entraram na consulta pblica, como a questo das obras produzidas pela administrao pblica Art. 44-A ou ainda determinadas definies legais que a nosso ver solicitavam melhor redao. Ao observar o artigo mencionado, diante da meno aos ditames constitucionais, entende-se relevante a referncia aos direitos educacionais para considerao da aplicao da proteo autoral.23

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Merece ser enfatizada a viso e a disposio de construo de um texto legislativo que no seja um porto isolado das demais reas do ordenamento jurdico, como muitas vezes se constatava, como se o Direito Autoral (ou, em ltima anlise, alguma rea do Direito ou do conhecimento em qualquer domnio) pudesse ser um sistema autorreprodutivo, que no se comunica com as demais instncias de formao e construo de interpretao. Nesta linha de mira, o primeiro artigo do Projeto j sinaliza que esta nova Lei ser orienta pelo equilbrio entre os ditames constitucionais de proteo aos direitos autorais e da garantia do pleno exerccio dos direitos culturais e dos demais direitos fundamentais e pela promoo do desenvolvimento nacional. A nova roupagem do artigo primeiro, mencionando os princpios norteadores da interpretao da Lei de Direito Autoral, vem em sintonia com a moderna hermenutica do direito privado contemporneo, determinando a sua funcionalizao, baseado numa viso social constitucional. Juntamente com a defesa dos direitos do Autor, deve-se desenvolver o reconhecimento de que o mesmo est sujeito a uma vinculao social, em nome do interesse comum, do interesse pblico. O novo texto proposto demonstra um fato que deveria ser bvio: embora os Direitos Autorais tenham legislao especfica e que esta exige uma interpretao restrita, ao mesmo tempo ela no est isolada do sistema jurdico. Ao contrrio, a lei de Direitos Autorais deve se nortear pelos ditames constitucionais, a fim de promover na relao autoral (autor, titular e utentes) o equilbrio necessrio para coibir eventuais situaes que possam violar o desenvolvimento scio-econmico-cultural do pas. A obrigatoriedade da sujeio aos direitos fundamentais ratifica esta posio, entretanto h que se observar que os direitos fundamentais no esto previstos apenas no rol do artigo 5 da Constituio Federal brasileira, mas espelhados ao longo do texto constitucional, como o caso do direito cultura, educao e informao, apenas para citar alguns exemplos, e que devem ser ponderados frente a anlise de um caso concreto.24

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

O destaque dado garantia ao pleno exerccio dos direitos culturais importante e no deixa de lado a incluso dos demais direitos fundamentais, como acima expostos. Porm, a expresso destaca a importncia que os direitos autorais tm para a sociedade, alm de estarem compatveis com a Conveno da UNESCO de Diversidade Cultural de 2005, do qual o Brasil signatrio. A referncia expressa ao direito educao se faz por ser este sabidamente um dos direitos fundamentais consagrados na Carta Poltica do pas, e que muitas vezes sonegado em sua forma plena por alegaes meramente econmicas travestidas de direitos autorais, muitas das quais de interesses empresariais privados que se anunciam como se estes fossem.

Pargrafo nico. A proteo dos direitos autorais deve ser aplicada em harmonia com os princpios e normas relativos livre iniciativa, defesa da concorrncia e MinC defesa do consumidor. Pargrafo nico. A proteo dos direitos autorais deve ser aplicada em harmonia com os princpios e normas relativos livre iniciativa, defesa da GEDAI concorrncia, defesa do consumidor e funo social da propriedade.

O direito autoral deve estar harmonizado aos ditames constitucionais, e entende-se importante a referncia ao princpio da funo social da propriedade. A incluso do pargrafo nico essencial para alcanar o equilbrio entre os interesses pblicos e privados que fazem parte intrnseca da relao autoral. Esto compatveis com o novo texto do caput do artigo 1, bem como destacam a relevncia da anlise dos princpios previstos no captulo da ordem econmica da Constituio Federal, que no constituem todos eles, em direitos fundamentais. Existe na doutrina uma discusso sobre formas pelas quais o direito autoral pode ser utilizado como forma de se afastar a concorrncia, ou seja, como instrumento de tticas comerciais monopolistas. Neste contexto, esse

25

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

pargrafo procura garantir que o mercado exista de forma mais equilibrada, segura e transparente. Quando esse dispositivo fala em harmonia, refere-se a equilibrar a livre iniciativa defesa da concorrncia e defesa do consumidor. Os titulares do direito autoral no podem ferir o direito do consumidor de acesso. O direito autoral est relacionado tambm com as estruturas de distribuio, empresas editoras e entidades reguladoras. Os contedos autorais destinados ao mercado possuem valor econmico e circulam dentro das relaes empresariais e sua regulao deve se harmonizar com as leis de mercado. O destaque aqui para livre iniciativa, defesa da concorrncia e defesa do consumidor, que constituem princpios da ordem econmica ao lado de outros, como o da funo social da propriedade que considerado um direito fundamental, e como tal, j previsto no artigo 1 desta proposta de Lei. A previso expressa destes princpios de extrema relevncia, tendo em vista que a informatizao ao promover o surgimento de diversas obras de carter utilitrio, tambm trouxe impacto no mercado de consumo de produtos e servios culturais. Por vezes, o exerccio do direito exclusivo pelo titular de direito autoral capaz de criar obstculos ao prprio mercado, quando impede, por exemplo, o surgimento de um novo produto no mercado, quando existe dificuldade na concesso ou mesmo recusa de uma licena para uso de uma obra ou se introduzem medidas tecnolgicas que impeam a reproduo de uma obra para fins de uso privado. Estes exemplos demonstram o prejuzo que estes atos praticados pelos titulares do direito autoral podem causar livre iniciativa, a concorrncia e o interesse dos consumidores. Por fim, o pargrafo est em sintonia com uma srie de medidas includas no projeto de reforma da Lei Autoral, notadamente nos Captulo VII (licenas no voluntrias), captulo IX (da reprografia), art. 99 par. 5, art. 100, b), e art. 113, abaixo.

26

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Opinio contrria ou ressalva: O projeto, mesmo saudavelmente se referindo a princpios e normas, mormente aqueles, no faz, como a maioria avassaladora de nossos doutrinadores, a necessria e indispensvel distino entre normas, princpios e regras, bem como os delimitando, certamente quando se refere a normas querendo dizer regras, j que estas efetivamente so positivadas, ou em consagrada viso, as normas so o gnero, compostas pelos tipos princpio e regras. De qualquer sorte em nenhuma delas encontraro suporte para fundamentar proposio de tutela dos Direitos Autorais como direito de propriedade. De acordo com a viso do professor Jos de Oliveira Ascenso, os Direitos Autorais se configuram em direitos exclusivos de publicao e explorao econmica por determinado perodo tutelado pelo Estado. Quer isso dizer que propriedade no , mesmo para aqueles que possam ser filiados a correntes mais conservadores de interpretao, pois a Constituio Federal de 1988 somente se refere propriedade de marcas em seu texto, no que diz respeito aos Direitos Intelectuais (artigo 5, incisos XXVII a XXIX). Se assim for necessrio e indispensvel, ento que se adote a mesma viso do autoralista portugus, para se referir funo social do Direito, o que seria uma soluo plausvel.

Art. 2 Os estrangeiros domiciliados no exterior gozaro da proteo assegurada nos acordos, convenes e tratados em vigor no Brasil. Lei 9.610 Pargrafo nico. Aplica-se o disposto nesta Lei aos nacionais ou pessoas domiciliadas em pas que assegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil a reciprocidade na proteo aos direitos autorais ou equivalentes.

27

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Lei 9.610

Art. 3 Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens mveis. Art. 3o-A. Na interpretao e aplicao desta Lei atender-se- s finalidades de estimular a criao artstica e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

MinC

expresso e o acesso cultura, educao, informao e ao conhecimento, harmonizando-se os interesses dos titulares de direitos autorais e os da sociedade.

O artigo sugerido pelo MinC ratifica, mais uma vez, a inteno da Lei Autoral em garantir determinados direitos fundamentais ao determinar estes como pilares da interpretao das normas autorais, a fim de alcanar o equilbrio da relao autoral. Nota-se que o artigo est em consonncia com a ideia de harmonizao do direito privado do autor com os interesses da sociedade para uso da obra protegida.

Lei 9.610

Art. 4 Interpretam-se restritivamente os negcios jurdicos sobre os direitos autorais.

MinC

Art. 4 Interpretam-se restritivamente os negcios jurdicos sobre os direitos autorais, visando ao atendimento de seu objeto.

Art. 4 Interpretam-se restritivamente os negcios jurdicos sobre os direitos autorais, visando ao atendimento de sua finalidade. Art. 4-A Nos contratos realizados com base nesta Lei, as partes contratantes so obrigadas a observar, durante a sua execuo, bem como em sua concluso, os princpios da probidade e da boa-f, cooperando mutuamente para o cumprimento da funo social do contrato e para a satisfao de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das partes. 1 Nos contratos de execuo continuada ou diferida, qualquer uma das partes poder pleitear sua reviso ou resoluo, por onerosidade excessiva, quando para a outra parte decorrer extrema vantagem em GEDAI virtude de acontecimentos extraordinrios e imprevisveis. 2 anulvel o contrato quando o titular de direitos autorais, sob premente necessidade, ou por inexperincia, tenha se obrigado a prestao

28

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

manifestamente desproporcional ao valor da prestao oposta, podendo no ser decretada a anulao do negcio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a reduo do proveito.

Deve-se buscar a interpretao teleolgica do negcio jurdico, ainda que restritiva. Portanto, a alterao do termo objeto pela finalidade do negcio jurdico, bem como o acrscimo da expresso visando ao atendimento de sua finalidade protegem diretamente os interesses do autor, que o criador da obra e titular originrio desta. Vale destacar que a interpretao restritiva tpica dos negcios jurdicos de propriedade intelectual, que so especialssimos. Por esta razo, interpretar restritivamente quer dizer, interpretar de acordo com os princpios deste ramo do direito. necessrio o deslocamento do art. 6 e seus par grafos, ora propostos A pelo MinC, para imediatamente seguirem o art. 4 v ez que falar em contrato , falar em negcio jurdico; assim, torna-se art. 4 A, seu 1 e 2 . Opinio contrria ou ressalva: Manifesta-se pela discordncia quanto tcnica de redao como inicialmente artigo 4-A, indiscutivelmente sendo mais adequado que se construam pargrafos artigo 4. Este artigo adqua o Direito Autoral a princpios consignados na parte atinente aos Contratos do Cdigo Civil vigente, especialmente necessria boaf objetiva antes, durante e aps a consecuo contratual, ainda ali prevendo outros institutos trazidos pelo Digesto Civil, como a resoluo por onerosidade excessiva e a anulao de contrato formulado em estado de perigo pelo autor. Os contratos de execuo continuada, ao contrrio daqueles de execuo instantnea, se prolongam no tempo. Pode-se citar, como exemplo, o contrato de um autor com uma editora, que promete pagar quele um valor percentual sobre as vendas; assim, o valor ser pago enquanto perdurar a venda dos livros.29

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Dessa forma, esse artigo pode ser aplicado, por exemplo, a uma ocasio em que o livro de um autor desconhecido se torne um best-seller. No incio foi feito um contrato por um valor baixo, em razo de tratar-se de um autor desconhecido e com probabilidade de poucos lucros; aps a publicao, o livro torna-se um grande sucesso e a editora passa a ter grandes lucros com a sua venda, sendo um caso de reviso contratual. Aplica-se ao caso a teoria da onerosidade excessiva ou teoria da impreviso, j existente no art. 478 do Cdigo Civil e no art. 6 V do Cdigo de De fesa do Consumidor e que , agora vem para o Direito Autoral. O disposto no art. 157 do Cdigo Civil (teoria da leso por vcio da vontade) est disposto no pargrafo segundo supramencionado, j que existe a previso de anulabilidade do contrato quando o contratante, por inexperincia ou necessidade, submete-se a uma situao desfavorvel, sendo muitas vezes explorado pela outra parte, que tem conhecimento da situao e utiliza-se dela para ganhar vantagem manifestamente desproporcional sobre o autor. Est se buscando evitar a repetio dos conhecidos exemplos de autores que perderam o controle de suas obras por conta de contratos leoninos.Lei 9.610 Art. 5 Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - publicao - o oferecimento de obra literria, artstica ou cientfica ao conhecimento do pblico, com o consentimento do autor, ou de qualquer outro titular de direito de autor, por qualquer forma ou processo; II - transmisso ou emisso - a difuso de sons ou de sons e imagens, por meio de ondas radioeltricas; sinais de satlite; fio, cabo ou outro condutor; meios ticos ou qualquer outro processo eletromagntico; III - retransmisso - a emisso simultnea da transmisso de uma empresa por outra; IV - distribuio - a colocao disposio do pblico do original ou cpia de obras literrias, artsticas ou cientficas, interpretaes ou execues fixadas e fonogramas, mediante a venda, locao ou qualquer outra forma de transferncia de propriedade ou posse; V - comunicao ao pblico - ato mediante o qual a obra colocada ao alcance do pblico, por qualquer meio ou procedimento e que no consista na distribuio de exemplares; VI - reproduo - a cpia de um ou vrios exemplares de uma obra literria, artstica ou cientfica ou de um fonograma, de qualquer forma tangvel, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporrio por meios eletrnicos ou qualquer outro meio de fixao que venha a ser desenvolvido; VII - contrafao - a reproduo no autorizada; VIII - obra:

30

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

a) em coautoria - quando criada em comum, por dois ou mais autores; b) annima - quando no se indica o nome do autor, por sua vontade ou por ser desconhecido; c) pseudnima - quando o autor se oculta sob nome suposto; d) indita - a que no haja sido objeto de publicao; e) pstuma - a que se publique aps a morte do autor; f) originria - a criao primignia; g) derivada - a que, constituindo criao intelectual nova, resulta da transformao de obra originria; h) coletiva - a criada por iniciativa, organizao e responsabilidade de uma pessoa fsica ou jurdica, que a publica sob seu nome ou marca e que constituda pela participao de diferentes autores, cujas contribuies se fundem numa criao autnoma; i) audiovisual - a que resulta da fixao de imagens com ou sem som, que tenha a finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de movimento, independentemente dos processos de sua captao, do suporte usado inicial ou posteriormente para fix-lo, bem como dos meios utilizados para sua veiculao; IX - fonograma - toda fixao de sons de uma execuo ou interpretao ou de outros sons, ou de uma representao de sons que no seja uma fixao includa em uma obra audiovisual; X - editor - a pessoa fsica ou jurdica qual se atribui o direito exclusivo de reproduo da obra e o dever de divulg-la, nos limites previstos no contrato de edio; XI - produtor - a pessoa fsica ou jurdica que toma a iniciativa e tem a responsabilidade econmica da primeira fixao do fonograma ou da obra audiovisual, qualquer que seja a natureza do suporte utilizado; XII - radiodifuso - a transmisso sem fio, inclusive por satlites, de sons ou imagens e sons ou das representaes desses, para recepo ao pblico e a transmisso de sinais codificados, quando os meios de decodificao sejam oferecidos ao pblico pelo organismo de radiodifuso ou com seu consentimento; XIII - artistas intrpretes ou executantes - todos os atores, cantores, msicos, bailarinos ou outras pessoas que representem um papel, cantem, recitem, declamem, interpretem ou executem em qualquer forma obras literrias ou artsticas ou expresses do folclore. MinC II emisso a difuso de sons, de sons e imagens ou das representaes desses, sem fio, por meio de sinais ou ondas radioeltricas ou qualquer outro processo eletromagntico, inclusive com o uso de satlites; III transmisso a difuso de sons, de sons e imagens ou das representaes desses, por fio, cabo ou outro condutor eltrico; fibra, cabo ou outro condutor tico, ou ainda qualquer outro processo anlogo; IV retransmisso a emisso ou transmisso simultnea da transmisso ou emisso de uma empresa por outra; V distribuio a oferta ao pblico de original ou cpia de obras literrias, artsticas ou cientficas, interpretaes ou execues fixadas e fonogramas, mediante a venda, locao ou qualquer outra forma de transferncia de propriedade ou posse; VI comunicao ao pblico ato mediante o qual a obra colocada ao alcance do pblico, por qualquer meio ou procedimento e que no consista na distribuio de exemplares;

31

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

VII reproduo a cpia de um ou vrios exemplares de uma obra literria, artstica ou cientfica ou de um fonograma, de qualquer forma tangvel, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporrio por meios eletrnicos ou qualquer outro meio de fixao que venha a ser desenvolvido; VIII contrafao a reproduo no autorizada, ressalvados os casos em que a Lei dispensa a autorizao; IX obra: a) em coautoria quando criada em comum, por dois ou mais autores; b) annima quando no se indica o nome do autor, por sua vontade ou por ser desconhecido; c) pseudnima quando o autor se oculta sob nome suposto; d) indita a que no haja sido objeto de publicao; e) pstuma a que se publique aps a morte do autor; f) originria a criao primignia; g) derivada a que, constituindo criao intelectual nova, resulta da transformao de obra originria; h) coletiva a criada por iniciativa, organizao e responsabilidade de uma pessoa fsica ou jurdica, que a publica sob seu nome ou marca e que constituda pela participao de diferentes autores, cujas contribuies se fundem numa criao autnoma; i) audiovisual a obra criada por um autor ou a obra em coautoria que resulta da fixao de imagens com ou sem som, que tenha a finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de movimento, independentemente dos processos de sua captao, do suporte usado inicial ou posteriormente para fixlo, bem como dos meios utilizados para sua veiculao; X fonograma toda fixao de sons de uma execuo ou interpretao ou de outros sons, ou de uma representao de sons; XI editor a pessoa fsica ou jurdica qual se atribui o direito exclusivo de reproduo da obra e o dever de divulg-la, nos limites previstos no contrato de edio; XII produtor a pessoa fsica ou jurdica que toma a iniciativa e tem a responsabilidade econmica da primeira fixao do fonograma ou da obra audiovisual, qualquer que seja a natureza do suporte utilizado; XIII radiodifuso a emisso cuja recepo do sinal ou onda radioeltrica pelo pblico ocorra de forma livre e gratuita, ressalvados os casos em que a Lei exige a autorizao; XIV artistas intrpretes ou executantes todos os atores, cantores, msicos, bailarinos, dubladores ou outras pessoas que representem um papel, cantem, recitem, declamem, interpretem ou executem, em qualquer forma, obras literrias ou artsticas, ou expresses culturais tradicionais; XV licena a autorizao dada determinada pessoa, mediante remunerao ou no, para exercer certos direitos de explorar ou utilizar a obra intelectual, nos termos e condies fixados no contrato, sem que se caracterize transferncia de titularidade dos direitos. GEDAI VI comunicao ao pblico ato mediante o qual a obra colocada ao conhecimento do pblico, por qualquer meio ou procedimento e que no consista na distribuio de exemplares; i) colaborativa a obra criada pelas contribuies de diversos autores sem a presena necessria de um organizador, e sem a necessria identificao

32

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

de todos seus autores ou de suas contribuies; XVI cesso a transferncia de titularidade de direitos patrimoniais determinada pessoa, que passa a ter o direito de explorar ou utilizar a obra intelectual; XVII disponibilizao pela internet a oferta ao pblico de materiais ou arquivos descritos no inciso V desta Lei, pela rede mundial de computadores; XVIII transformao criativa utilizao de trecho ou trechos de obra ou obras existentes para criao de obra intelectual original, que no constitua plgio ou reproduo da mesma.

As alteraes constantes no artigo 5 so oportunas, tendo em vista que corrigiram erros conceituais importantes, que se conciliaro com queles previstos nos Acordos Internacionais e com o momento atual. No que se refere sugesto do GEDAI para o inciso sexto do presente artigo, necessria a substituio do termo alcance por conhecimento, vez que colocar ao alcance no o mesmo que comunicar. A expresso proposta mais ampla e adequada que a anterior. Quanto s obras annimas e a referncia do MinC sobre o assunto, interessante para a sociedade que se proteja o direito expresso de ideias que trariam graves consequncias a seus autores, caso fossem identificados, em homenagem ao princpio da liberdade de expresso. No se deve confundir obra annima com obra apcrifa, entretanto; assim, aquele que responde por sua publicao h de ser necessariamente o titular para eventual reparao civil, ou mesmo penal em casos de crimes contra a honra. Opinio contrria ou ressalva: Se um dos objetivos do projeto, alis, seu cerne magnificamente pensado, como ficou dito na introduo desta anlise, era a adequao da legislao autoral Carta Magna, esta veda expressamente o anonimato, no sendo crvel que uma lei infraconstitucional proteja o que o ordenamento constitucional probe, logo inexistindo desde 05 de outubro de 1988 proteo s obras annimas em nosso pas, para todos os fins.

33

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Rplica: A responsabilizao civil da editora da obra annima conjuga-se com a sua entrada imediata no domnio pblico, nos termos do Art. 45. II; garante-se a liberdade de expresso e simultaneamente a reparao do ato. Seguindo as alteraes sugeridas pelo GEDAI, na alnea i do inciso IX, o que se busca proteger so as obras criadas de forma colaborativa, tais como o presente trabalho, cuja autoria no prontamente identificvel. Ainda, se faz imprescindvel o acrscimo do conceito de cesso de direitos no inciso XVI, expediente utilizado para as obras intelectuais cotidianamente, mas que no contm expressa previso legal na 9.610/98. No que diz respeito ao inciso XVII, existe confuso entre os conceitos de distribuio e disponibilizao. preciso construir um conceito de disponibilizao do que se descreve na nova sugesto do inciso V, com oferta ao pblico via internet. A transformao criativa, a transformao de obra intelectual existente, deve constar no rol dos conceitos da Lei como sugesto de insero no inciso XVIII, devido a sua importncia e utilizao atuais. Exemplos disso so os samples, os mash-ups, as colagens e tantas outras formas de expresso artstica que surgiram a partir da manipulao de artefatos culturais prexistentes. Com a publicao de uma obra, ela se torna parte do domnio pblico (no sentido amplo) e pode em si mesma se constituir num fator determinante em sua poca e espao social. A prpria obra, protegida pelo direito de autor, pode tornar-se o ponto de partida para uma nova discusso artstica; e tal integrao social justificaria esta limitao ao direito autoral original. Em especial, quando o uso realizado no traga consigo a existncia do perigo de desvantagens econmicas considerveis para seu titular e este o34

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

motivo da ressalva na parte final da redao sugerida prevalecem os interesses do pblico em fazer uso (no autorizado) de obras protegidas pelo direito autoral, com o objetivo de permitir discusso artsticas num ambiente livre.

Lei 9.610

Art. 6 No sero de domnio da Unio, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municpios as obras por eles simplesmente subvencionadas. Art. 6o-A Nos contratos realizados com base nesta Lei, as partes contratantes so obrigadas a observar, durante a sua execuo, bem como em sua concluso, os princpios da probidade e da boa-f, cooperando mutuamente para o cumprimento da funo social do contrato e para a satisfao de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das partes. 1o Nos contratos de execuo continuada ou diferida, qualquer uma das partes poder pleitear sua reviso ou resoluo, por onerosidade excessiva, quando para a outra parte decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinrios e imprevisveis. 2o anulvel o contrato quando o titular de direitos autorais, sob premente necessidade, ou por inexperincia, tenha se obrigado a prestao manifestamente desproporcional ao valor da prestao oposta, podendo no ser decretada a anulao do negcio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a reduo do proveito. Art. 6 No sero de titularidade da Unio, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municpios as obras por eles simplesmente subvencionadas, ressalvadas as disposies em editais.

MinC

GEDAI

A mudana no dispositivo reside na necessidade de utilizao do termo titular, conceito instrumental da Lei que trazido pelo art. 5 e mais adequado ao que se quer dizer neste artigo. A ressalva das disposies em editais deve constar aqui por ser praxe na Administrao Pblica. A previso de ressalva ao que dispem os editais de concursos pblicos que redundem em obras desta natureza salutar. Do mesmo modo, a troca da expresso domnio por titularidade, como proposto. Alis, veja-se que, alm de propriedade, como antes mencionado e criticado, o texto agora fala em domnio. O artigo 6-A sugerido pelo MinC quebra a hermenutica tradicional de interpretao de artigos, pois no diz respeito s obras subvencionadas mencionadas no art. 6 mas sim a todos os contrato s entre particulares ,35

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

regulamentados por esta lei. Por tal razo, entende-se de transferir este artigo para o 4-A ou na forma de pargrafos, onde faz meno aos mesmos objetos de proteo.

36

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

CAPTULO 2 DAS OBRAS INTELECTUAIS 2.1. Das Obras Protegidas

O texto da Lei Autoral protege as criaes do esprito de qualquer forma materializada, no se confunde com a inveno tcnica, como se refere o artigo 7 relativo s obras protegidas. A proposta do MinC busca avanar mais do que a lei atual em vigor.Art. 7 So obras intelectuais protegidas as criaes do esprito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos de obras literrias, artsticas ou cientficas; II - as conferncias, alocues, sermes e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramticas e dramtico-musicais; IV - as obras coreogrficas e pantommicas, cuja execuo cnica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V - as composies musicais, tenham ou no letra; VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou no, inclusive as cinematogrficas; Lei 9.610 VII - as obras fotogrficas e as produzidas por qualquer processo anlogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cintica; IX - as ilustraes, cartas geogrficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboos e obras plsticas concernentes geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e cincia; XI - as adaptaes, tradues e outras transformaes de obras originais, apresentadas como criao intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as coletneas ou compilaes, antologias, enciclopdias, dicionrios, bases de dados e outras obras, que, por sua seleo, organizao ou disposio de seu contedo, constituam uma criao intelectual. 1 Os programas de computador so objeto de legislao especfica, observadas as disposies desta Lei que lhes sejam aplicveis. 2 A proteo concedida no inciso XIII no abarca os dados ou materiais em si mesmos e se entende sem prejuzo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou materiais contidos nas obras. 3 No domnio das cincias, a proteo recair sobre a forma literria ou artstica, no abrangendo o seu contedo cientfico ou tcnico, sem prejuzo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade imaterial.

37

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

MinC

XI as adaptaes, os arranjos, as orquestraes, as tradues e outras transformaes de obras originais, apresentadas como criao intelectual nova;

GEDAI

Art. 7 So obras intelectuais protegidas as criaes do esprito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte tangvel, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

Por uma questo de clareza legislativa, faz-se necessria a retirada do termo intangvel do caput do artigo, vez que todo o suporte tangvel, em ltima anlise. Opinio contrria ou ressalva: H um excesso nesta proposta de alterao. Sabidamente ao se referir expresso intangvel em sede de Direitos Autorais, se est falando de obras cujos substratos materiais de fixao no so essencialmente materiais, como aqueles do meio digital; ainda que haja verdade no fato de que todo suporte tangvel, a lei cumpre sua funo didtica ao ser redundante. O inciso XI da proposta do MinC acaba por deixar explicitado, como obra, os arranjos e orquestraes, o que atende a demanda dos autores destas criaes, o que louvvel. O inciso XIII da Lei 9.610/98 merece o seguinte comentrio: Ainda que a previso disposta no art. 7 seja no exauriente das obras protegidas, pois que meramente exemplificativo, todavia, entende-se existir uma flagrante lacuna na lei no tocante s obras publicitrias. Muito embora sejam "criaes do esprito", no so referidas no rol do art. 7, carecendo para o seu efetivo reconhecimento como obra protegida dos requisitos de criatividade e originalidade, conforme reiteradas decises dos Tribunais do Pas. Entretanto, tal exigncia com relao s criaes publicitrias se mostra notadamente discricionria, no sendo razovel em relao ao tratamento assegurado s demais obras. Atualmente no existe garantia efetiva do38

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

reconhecimento da titularidade das obras publicitrias, ficando seus criadores merc da prpria sorte. Visando harmonizar as relaes jurdicas e assegurar o direito aos titulares de criaes publicitrias sugere-se a incluso do inciso abaixo no rol de obras protegidas pelo art. 7: "Art. 7 (...) XIV - as obras publicitrias, sinal ou expresso empregada como meio de propaganda, apresentados como criao intelectual nova." Opinio contrria ou ressalva: Discorda-se da necessidade de garantia da proteo autoral para o mercado publicitrio; trata-se de um mercado que no necessita de proteo adicional, pois a criao remunerada diretamente; alm disso, o que o anunciante deseja justamente a disseminao de sua publicidade, ou seja, a ele interessa que sua pea publicitria seja copiada. A motivao e a lgica diferem do mercado editorial. Estender a proteo autoral, com seus longos prazos protecionais e suas regras de direitos morais (extrapatrimoniais), para peas publicitrias, tenderia a meramente aumentar custos e diminuir a eficincia do mercado. Sua consequncia prtica seria que os anunciantes (de mercadorias e servios) tornar-se-iam tambm titulares de direitos autorais sobre as obras publicitrias contratadas e alijaramos do domnio pblico pores ainda maiores de construtos culturais. O discurso de apelo aos criadores merc da prpria sorte sem a proteo autoral no de prosperar, j que os profissionais da rea de criao continuariam a no ganhar em nada: o regime de obras produzidas sob encomenda prev o deslocamento da titularidade ao pagador. Comentrio: Insero da tcnica de grafite no rol exemplificativo de obras protegidas do artigo 7: mesmo sendo notrio que a previso legislativa dos incisos do39

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

artigo 7 no numerus clausus, mas meramente exemplificativa, sugere-se a incluso de obras feitas pelo processo de grafite em inciso prprio. Demanda judicial da dcada de 1990 em nosso pas ps em confronto grafiteiro do Bairro de Perdizes em So Paulo com empresa que produz e vende cadernos acadmicos (cadernos de aula), tendo utilizado sem meno de autoria e sem autorizao fotografia de obra deste naipe elaborada por jovem em parede de prdio. A previso somente soma ao tratar-se de uma linha mais produtiva dos autores em geral, mormente daqueles que sobrevivem de suas criaes artsticas.Art. 8 No so objeto de proteo como direitos autorais de que trata esta Lei: I - as ideias, procedimentos normativos, sistemas, mtodos, projetos ou conceitos matemticos como tais; II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negcios; III - os formulrios em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informao, cientfica ou no, e suas instrues; Lei 9.610 IV - os textos de tratados ou convenes, leis, decretos, regulamentos, decises judiciais e demais atos oficiais; V - as informaes de uso comum tais como calendrios, agendas, cadastros ou legendas; VI - os nomes e ttulos isolados; VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idias contidas nas obras. V as informaes de uso comum tais como calendrios, agendas, cadastros ou legendas informativas ou explicativas; MinC VII o aproveitamento industrial ou comercial das idias contidas nas obras; VIII as normas tcnicas em si mesmas, ressalvada a sua proteo em legislao especfica; IX as notcias dirias que tm o carter de simples informaes de imprensa. IV - os textos de tratados ou convenes, leis, decretos, regulamentos, decises judiciais, peties, pareceres e demais atos oficiais; VIII as normas tcnicas;

GEDAI

Sugere-se, no inciso IV, a incluso dos termos peties, pareceres, de forma a pacificar a questo sobre os usos possveis de tais documentos. A jurisprudncia pacfica sobre os usos de tais documentos, e de como no lhes40

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

cabe proteo autoral por terem sido apresentados perante a Administrao Pblica. Opinio contrria ou ressalva: A petio em processos judiciais pode ser obra literria de titularidade do advogado, seu autor. Aqui h uma confuso que muitos (inclusive a referida jurisprudncia pacfica da justificativa) fazem, pois o que oficial e assim pblico o acesso aos autos, por qualquer forma, inclusive fotocpia, para exerccio pleno do direito ao contraditrio e a ampla defesa. Rplica: Talvez a incluso das peas citadas nas hipteses do Art. 45, II (incluso no domnio pblico) solucionasse a questo, j que garantiria as defesas contra o plgio (obrigatoriedade de citao da fonte), ao mesmo tempo em que permite o uso por terceiros das teses jurdicas apresentadas ao Poder Judicirio. Ainda, no que se refere ao inciso VIII, necessria a retirada da parte ressalvada a sua proteo em legislao especfica, pois isso limita e restringe o acesso da sociedade s normas tcnicas. Igualmente, retira-se a expresso em si mesmas, para evitar desentendimentos.

Lei 9.610

Art. 9 cpia de obra de arte plstica feita pelo prprio autor assegurada a mesma proteo de que goza o original. Art. 10. A proteo obra intelectual abrange o seu ttulo, se original e inconfundvel com o de obra do mesmo gnero, divulgada anteriormente por outro autor. Pargrafo nico. O ttulo de publicaes peridicas, inclusive jornais, protegido at um ano aps a sada do seu ltimo nmero, salvo se forem anuais, caso em que esse prazo se elevar a dois anos.

A lei estende a proteo ao ttulo do trabalho, no entanto, h que se observar que o ttulo deve ser original e inconfundvel: o ttulo direito autoral, ou curso de direito autoral, por exemplo, no so originais e inconfundveis; agora, se o ttulo trouxer elementos que o diferencie dos demais, marcando sua originalidade, ser, ento, protegido pela lei.41

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

2.2. Da Autoria das Obras Intelectuais A Lei de Direito Autoral define o autor como sendo uma pessoa fsica criadora da obra literria, artstica ou cientfica.

Art. 11. Autor a pessoa fsica criadora de obra literria, artstica ou cientfica. Lei 9.610 Pargrafo nico. A proteo concedida ao autor poder aplicar-se s pessoas jurdicas nos casos previstos nesta Lei. Art. 11. Autor a pessoa natural criadora de obra literria, artstica ou cientfica.

GEDAI

indispensvel a adequao da nomenclatura aos modernos meios regulatrios em sede legislativa, j que o vigente Cdigo Civil se refere pessoa natural em vez de pessoa fsica, nomenclatura j superada.

Art. 12. Para se identificar como autor, poder o criador da obra literria, artstica ou cientfica usar de seu nome civil, completo ou abreviado at por suas iniciais, de pseudnimo ou qualquer outro sinal convencional. Lei 9.610 Art. 13. Considera-se autor da obra intelectual, no havendo prova em contrrio, aquele que, por uma das modalidades de identificao referidas no artigo anterior, tiver, em conformidade com o uso, indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilizao.

Presume-se que o nome que estiver na obra o do autor; caso haja divergncia, aquele que a suscitou dever prov-la. Trata-se de presuno relativa.Art. 14. titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra cada no domnio pblico, no podendo opor-se a outra adaptao, arranjo, orquestrao ou traduo, salvo se for cpia da sua. Art. 15. A coautoria da obra atribuda queles em cujo nome, pseudnimo ou sinal convencional for utilizada. Lei 9.610 1 No se considera coautor quem simplesmente auxiliou o autor na produo da obra literria, artstica ou cientfica, revendo-a, atualizando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edio ou apresentao por qualquer meio. 2 Ao coautor, cuja contribuio possa ser utilizada separadamente, so asseguradas todas as faculdades inerentes sua criao como obra individual, vedada, porm, a utilizao que possa acarretar prejuzo explorao da obra comum.

42

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

1 No se considera coautor quem simplesmente auxiliou o autor na produo da obra literria, artstica ou cientfica, revendo-a, atualizando-a, orientando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edio ou apresentao por qualquer meio. GEDAI 2 Ao coautor, cuja contribuio possa ser utilizada separadamente, so asseguradas todas as faculdades inerentes sua criao como obra individual, vedada, porm, a utilizao que acarrete prejuzo explorao da obra comum.

Inclui-se o termo orientando-a no pargrafo primeiro, para explicitar a funo do orientador acadmico, que igualmente no coautor de produo da obra literria. A insero da orientao acadmica em qualquer esfera de ensino como atividade que no considerada coautoria, vem ao encontro de tema bastante polmico, mas equivocadamente interpretado por alguns, j que de fato o orientador no participa nesta condio da feitura de trabalhos cientficos. No pargrafo segundo, faz-se necessria a substituio do termo que possa acarretar por acarrete, vez que qualquer utilizao pode causar prejuzo explorao da obra comum, mas nem todo uso prejudicial. O coautor tem todos os direitos sobre sua obra quando sua contribuio passvel de individualizao, no podendo, no entanto, prejudicar o todo. Deve limitar-se tal vedao quela utilizao que acarrete dano certo, para que tenhamos assim clareza legislativa.

Lei 9.610

Art. 16. So coautores da obra audiovisual o autor do assunto ou argumento literrio, musical ou ltero-musical e o diretor. Pargrafo nico. Consideram-se coautores de desenhos animados os que criam os desenhos utilizados na obra audiovisual. Art. 16. So coautores da obra audiovisual o diretor realizador, o roteirista e os autores do argumento literrio e da composio musical ou ltero-musical criados especialmente para a obra.

MinC

O texto normatiza demanda antiga deste setor da indstria cultural. Ao artigo da lei foi acrescentado o roteirista e o diretor realizador, sendo assim, o dispositivo legal ficou melhor especificado e mais claro. Cabe lembrar que o filme no obra coletiva, e sim obra audiovisual.

43

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

Art. 17. assegurada a proteo s participaes individuais em obras coletivas.

Lei 9.610

1 Qualquer dos participantes, no exerccio de seus direitos morais, poder proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva, sem prejuzo do direito de haver a remunerao contratada. 2 Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva. 3 O contrato com o organizador especificar a contribuio do participante, o prazo para entrega ou realizao, a remunerao e demais condies para sua execuo. 4o Ao autor, cuja contribuio possa ser utilizada separadamente, so asseguradas todas as faculdades inerentes sua criao como obra individual, vedada, porm, a utilizao que possa acarretar prejuzo explorao da obra coletiva. 4o Ao autor, cuja contribuio possa ser utilizada separadamente, so asseguradas todas as faculdades inerentes sua criao como obra individual, vedada, porm, a utilizao que acarrete prejuzo explorao da obra coletiva.

MinC

GEDAI

Repetem-se aqui os mesmos argumentos relativos ao Art. 15, 2: Necessria a substituio do termo que possa acarretar por acarrete, vez que qualquer utilizao pode causar prejuzo explorao da obra comum, mas nem todo uso prejudicial. O autor individual de obra coletiva tem todos os direitos sobre sua obra quando sua contribuio passvel de individualizao, no podendo, no entanto, prejudicar o todo. Deve limitar-se tal vedao quela utilizao que acarrete dano certo, para que tenhamos assim clareza legislativa. A insero do pargrafo 4 refora o exerccio das prerrogativas dos autores de forma individualizada. De modo que, mesmo garantindo-se esta individualizao, o exerccio de uma destas faculdades no pode acarretar prejuzo obra coletiva.

44

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

2.3. Do Registro das Obras Intelectuais A incluso da Lei 9.610/98 de disposies sobre o registro de foi polmica epoca da publicao da lei, Plinio Cabral asseverava que o registro de obras intelectuais um absurdo para a qual no se encontra qualquer explicao.

Lei 9.610

Art. 18. A proteo aos direitos de que trata esta Lei independe de registro. Art. 19. facultado ao autor registrar a sua obra no rgo pblico definido no caput e no 1 do art. 17 da Lei n 5.988, de 14 de dezembro de 1973. Art. 19. facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei.

MinC

Pargrafo nico. Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as condies para o registro da obra, especificando os rgos ou entidades responsveis por esse registro.

A proposta atual procura eliminar referncias lei 5.988/73, e a criao do pargrafo nico dispe sobre a competncia sobre a forma e as condies para o registro das obras intelectuais para o Poder Executivo. Remeter a questo ao Ministrio de Estado da Cultura tambm representa colocar em prtica a ideia de que direito de autor tambm direito de cultura. O disposto no artigo deve ser interpretado com a previso do artigo 113-B, desta lei, que trata do local competente para registro at a implementao de rgo ou entidade responsvel. Mas no h motivo claro para o artigo 19 remeter para regulamentao posterior de forma e condies do registro, como vem em seu pargrafo nico. Por que no regular desde j este tema?

Lei 9.610

Art. 20. Para os servios de registro previstos nesta Lei ser cobrada retribuio, cujo valor e processo de recolhimento sero estabelecidos por ato do titular do rgo da administrao pblica federal a que estiver vinculado o registro das obras intelectuais. Art. 21. Os servios de registro de que trata esta Lei sero organizados conforme preceitua o 2 do art. 17 da Lei n 5.988, de 14 de dezembro de 1973.

45

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

MinC

Art. 20. Para os servios de registro previstos nesta Lei ser cobrada retribuio, cujo valor e processo de recolhimento sero estabelecidos em ato do Ministro de Estado da Cultura. Art. 21. Revogado

46

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

CAPTULO 3 DOS DIREITOS DO AUTOR Trata-se aqui de analisar-se as questes relativas a ttularidade do Direito de Autor e de seus Direitos Morais. 3.1. Disposies PreliminaresArt. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. Art. 23. Os co-autores da obra intelectual exercero, de comum acordo, os seus direitos, salvo conveno em contrrio.

Lei 9.610

3.2. Dos Direitos Morais do AutorArt. 24. So direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu nome, pseudnimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilizao de sua obra; III - o de conservar a obra indita; IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificaes ou prtica de atos que, de qualquer forma, possam prejudic-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputao ou honra; V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulao a obra ou de suspender qualquer forma de utilizao j autorizada, quando a circulao ou utilizao implicarem afronta sua reputao e imagem; Lei 9.610 VII - o de ter acesso a exemplar nico e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotogrfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memria, de forma que cause o menor inconveniente possvel a seu detentor, que, em todo caso, ser indenizado de qualquer dano ou prejuzo que lhe seja causado. 1 Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV. 2 Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra cada em domnio pblico. 3 Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prvias indenizaes a terceiros, quando couberem. 1o Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I, II, III, IV e VII. MinC 2o Compete aos entes federativos, aos rgos e s entidades previstas no caput do art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, a defesa da integridade e autoria da obra cada em domnio pblico. 3o Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as indenizaes a terceiros, quando couberem.

47

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

GEDAI

1o Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I, II, III, IV e VII, por cinquenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequente ao do falecimento do autor.

Do Projeto de Lei Autoral se labora com a discutida e to criticada expresso direitos morais de autor. Autores de nomeada, como Ascenso, a criticam, referindo expressamente este autor que foi mal traduzida da lngua francesa. Constata-se que a referida expresso serve para todos os tipos de confuso, como a que empresta interpretao anlise valorativa (moralidade), o que sabidamente no corresponde a realidade. Ento, se o momento histrico de construir uma diploma legal que seja considerado de vanguarda no mundo inteiro para seu tempo, pode ser a oportunidade tambm de utilizar-se o termo mais adequado para referir-se aos direitos autorais (prerrogativas) que no so patrimoniais, sugerindo a substituio pela a expresso extrapatrimoniais. Em relao ao pargrafo primeiro, a limitao temporal da transmisso dos direitos morais aos herdeiros, alm de no contrariar a Conveno de Berna ou outros tratados, permite o fortalecimento do domnio pblico, sem que haja prejuzo ao autor, pois a proteo da integridade e da autoria das obras em domnio pblico continua a ser da competncia do Estado, por fora do 2 do artigo 24, estando legitimados ainda todos aqueles entes constantes no art. 5 da Lei da Ao Civil Pblica (Lei no 7.347/85). Sobre o segundo pargrafo, a redao excelente, pois deixa claro que aps determinado lapso de tempo, com o domnio pblico, a obra passa a ser defendida pelo Poder Pblico, que tem constitucionalmente o dever da defesa cultura; obrigao esta contrada tambm pelo Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais. Sugere-se a meno dos termos nas suas esferas federal, estadual e municipal, e em nvel de atuao do Ministrio Pblico, o que ampliar48

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

sobremaneira a tutela e especialmente a defesa de autoria, integridade e demais direitos extrapatrimoniais de obras cadas em domnio pblico, quando cabvel. O pargrafo terceiro preserva a garantia da devida indenizao em caso de prejuzos a terceiros para que o autor possa exercer o seu direito moral nos casos citados, aps o devido processo legal.

Lei 9.610

Art. 25. Cabe exclusivamente ao diretor o exerccio dos direitos morais sobre a obra audiovisual. Art. 25. Os direitos morais da obra audiovisual sero exercidos sobre a verso acabada da obra, pelo diretor realizador, em comum acordo com seus coautores. Pargrafo nico. Os direitos previstos nos incisos I, II e VII do art. 24 podero ser exercidos de forma individual pelos coautores, sobre suas respectivas participaes.

MinC

O art. 25 referia-se apenas ao autor; agora, o artigo refere-se ao autor e seus coautores; o artigo passa, tambm, a fazer referncia obra acabada. A boa tcnica legislativa exige que se conceitue obra acabada, ou seja, a obra apresentada comercialmente ao pblico aps sua reviso e edio.

Art. 26. O autor poder repudiar a autoria de projeto arquitetnico alterado sem o seu consentimento durante a execuo ou aps a concluso da construo Lei 9.610 Pargrafo nico. O proprietrio da construo responde pelos danos que causar ao autor sempre que, aps o repdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.

Art. 27. Os direitos morais do autor so inalienveis e irrenunciveis.

Sugere a incluso do termo impenhorveis nas caractersticas dos direitos extrapatrimoniais.

49

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

3.3. Dos Direitos Patrimoniais do Autor e de sua Durao O direito patrimonial do autor est ligado a noo de propriedade e a idia de possuir o autor um direito real sobre sua obra. Contudo o carter desta propriedade peculiar, pois o seu valor aumenta na medida obra percebida por um nmero maior de pessoas na sociedade as quais lhe reconhecem significados e valores culturais intrinsecos em denterminada obra.Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literria, artstica ou cientfica.

Art. 29. Depende de autorizao prvia e expressa do autor a utilizao da obra, por quaisquer modalidades, tais como: I - a reproduo parcial ou integral; II - a edio; III - a adaptao, o arranjo musical e quaisquer outras transformaes; IV - a traduo para qualquer idioma; V - a incluso em fonograma ou produo audiovisual; VI - a distribuio, quando no intrnseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou explorao da obra; VII - a distribuio para oferta de obras ou produes mediante cabo, fibra tica, satlite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usurio realizar a seleo da obra ou produo para perceb-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso s obras ou produes se faa por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usurio; VIII - a utilizao, direta ou indireta, da obra literria, artstica ou cientfica, mediante: a) representao, recitao ou declamao; b) execuo musical; c) emprego de alto-falante ou de sistemas anlogos; d) radiodifuso sonora ou televisiva; e) captao de transmisso de radiodifuso em locais de frequncia coletiva; f) sonorizao ambiental; g) a exibio audiovisual, cinematogrfica ou por processo assemelhado; h) emprego de satlites artificiais; REVOGADO i) emprego de sistemas ticos, fios telefnicos ou no, cabos de qualquer tipo e meios de comunicao similares que venham a ser adotados; REVOGADO j) exposio de obras de artes plsticas e figurativas; IX - a incluso em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gnero;

Lei 9.610

50

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

X - quaisquer outras modalidades de utilizao existentes ou que venham a ser inventadas.

H um equvoco conceitual no inciso IV, que reclama enfrentamento e correo: a traduo da obra para qualquer idioma no prescinde de autorizao do autor da obra traduzida. O que requer autorizao a publicao da traduo. Trata-se de equvoco que vem sendo reiterado nas consecutivas legislaes autorais ptrias. A questo que se pe que se o objetivo geral da lei equilibrar interesses em jogo a facilitar de forma mais concreta e plena o direito educao e cultura, no tem sentido esta interpretao.

Art. 30. No exerccio do direito de reproduo, o titular dos direitos autorais poder colocar disposio do pblico a obra, na forma, local e pelo tempo que desejar, a ttulo oneroso ou gratuito.

Lei 9.610

1 O direito de exclusividade de reproduo no ser aplicvel quando ela for temporria e apenas tiver o propsito de tornar a obra, fonograma ou interpretao perceptvel em meio eletrnico ou quando for de natureza transitria e incidental, desde que ocorra no curso do uso devidamente autorizado da obra, pelo titular. 2 Em qualquer modalidade de reproduo, a quantidade de exemplares ser informada e controlada, cabendo a quem reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam, ao autor, a fiscalizao do aproveitamento econmico da explorao. Art. 30. Em qualquer modalidade de reproduo, a quantidade de cpias, realizadas por qualquer meio ou processo, ser informada e controlada, cabendo a quem reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam, ao autor, a fiscalizao do aproveitamento econmico da explorao. 2o No caso da insero tratar-se de uma fixao efmera de obra, fonograma ou interpretao, realizada por um organismo de radiodifuso, pelos seus prprios meios e para suas prprias emisses ao vivo ou suas retransmisses, no se aplica o direito de exclusividade de reproduo. Art. 30-A. Quando a distribuio for realizada pelo titular dos direitos da obra ou fonograma, ou com o seu consentimento, mediante venda, em qualquer Estado membro da Organizao Mundial do Comrcio, exaure-se o direito patrimonial de distribuio no territrio nacional do objeto da venda. Pargrafo nico. No se aplica o disposto no caput aos direitos de locao de programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequncia de que trata o art. 38.

MinC

51

Por que mudar a Lei de Direito Autoral? Estudos e Pareceres

A possibili