ebd 1º trim. 2010 - lição 08 - 21022010 - subsídio

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Subsídios para Escola Bíblica Dominical Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Ministério de SBCampo www.iead-msbc.com.br - 1 EXORTAÇÃO À SANTIFICAÇÃO Carolina Souza da Silva 1 Valter Borges dos Santos 2 Resumo O subsídio desta semana (Lição 8 – 1º Trimestre de 2010 - de 21/02/2010) da Revista “Lições Bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema “Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas”, (um estudo na 2ª epístola de Paulo aos Coríntios), traz o assunto da santidade, com o título “Exortação à Santidade”. O texto áureo desta lição está registrado em 2ª Co 7.1, que diz “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”. O comentarista, Pr. Elienai Cabral, extraiu do texto base (2 Co 6.14-18; 7.1, 8-10), a seguinte verdade prática “Através de uma vida de santificação e pureza, o crente separa-se das paixões mundanas, dedicando-se sacrificialmente ao serviço de nosso Senhor Jesus Cristo”. Com isto, este subsídio procurará abordar exaustivamente, sem querer ser a última palavra no assunto, mas com o objetivo de auxiliar, o tema Santificação. Assim, a finalidade deste subsídio é “compreender o que levou Paulo a buscar a reconciliação e a comunhão com os coríntios; conscientizar-se a respeito da importância de se ter uma vida santificada; e, explicar o porquê de Paulo ter reiterado seu amor para com os coríntios”. 3 Bons estudos!!! Palavras-Chaves: Jugo Desigual; Santificação; Arrependimento Introdução Nesta lição Paulo orienta aos coríntios para que tenham uma vida de santificação, separada de tudo que pudesse contaminá-los, atrapalhar a comunhão com Deus e impedi-los de serem filhos legítimos. O apóstolo discorre sobre o assunto, fazendo alusões ao texto do 1 Colaboradora, Superintendente da EBD – AD Thelma, Pós-graduada em Letras pela UMESP, Professora da Rede Estadual de Ensino. E-mail: [email protected] 2 Evangelista, Pastor da AD Thelma, Professor da FATEBENE – Faculdade Teológica de Ensino Bíblico e Evangélico. Bacharelando em Teologia e em Sociologia pela UMESP. E-mail: [email protected] 3 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p.

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Este subsídio aborda o tema da Santificação. Elaborado pela irmã Carolina e revisado teologicamente pelo Ev. Valter Borges, o subsídio demonstra a necessidade de santificação, que aparece nas palavras de Paulo como indicação da necessidade de purificar-se para agradar o Senhor.Bons estudos!!

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EXORTAÇÃO À SANTIFICAÇÃO

Carolina Souza da Silva1

Valter Borges dos Santos2

Resumo

O subsídio desta semana (Lição 8 – 1º Trimestre de 2010 - de 21/02/2010) da Revista “Lições Bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema “Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas”, (um estudo na 2ª epístola de Paulo aos Coríntios), traz o assunto da santidade, com o título “Exortação à Santidade”. O texto áureo desta lição está registrado em 2ª Co 7.1, que diz “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”. O comentarista, Pr. Elienai Cabral, extraiu do texto base (2 Co 6.14-18; 7.1, 8-10), a seguinte verdade prática “Através de uma vida de santificação e pureza, o crente separa-se das paixões mundanas, dedicando-se sacrificialmente ao serviço de nosso Senhor Jesus Cristo”. Com isto, este subsídio procurará abordar exaustivamente, sem querer ser a última palavra no assunto, mas com o objetivo de auxiliar, o tema Santificação. Assim, a finalidade deste subsídio é “compreender o que levou Paulo a buscar a reconciliação e a comunhão com os coríntios; conscientizar-se a respeito da importância de se ter uma vida santificada; e, explicar o porquê de Paulo ter reiterado seu amor para com os coríntios”.3 Bons estudos!!!

Palavras-Chaves: Jugo Desigual; Santificação; Arrependimento

Introdução

Nesta lição Paulo orienta aos coríntios para que tenham uma vida de santificação, separada de tudo que pudesse contaminá-los, atrapalhar a comunhão com Deus e impedi-los de serem filhos legítimos. O apóstolo discorre sobre o assunto, fazendo alusões ao texto do

1 Colaboradora, Superintendente da EBD – AD Thelma, Pós-graduada em Letras pela UMESP, Professora da Rede Estadual de Ensino. E-mail: [email protected] 2 Evangelista, Pastor da AD Thelma, Professor da FATEBENE – Faculdade Teológica de Ensino Bíblico e Evangélico. Bacharelando em Teologia e em Sociologia pela UMESP. E-mail: [email protected] 3 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p.

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AT, bem como aos ensinos do Mestre por excelência, o Senhor Jesus, mostrando aos coríntios que a santificação não é uma opção, mas uma condição para que pudessem ter uma vida plena em Cristo.

Também nesta lição, observa-se que o apóstolo demonstra sua alegria ao receber de Tito a notícia de que suas palavras haviam provocado efeito satisfatório, ou seja, arrependimento naqueles que haviam se voltado contra seu ministério. Apesar de Paulo ser severo em suas palavras não deixa de demonstrar seu amor por aqueles crentes, buscando desta forma, reaver a comunhão com os cristãos de Corinto. Assim temos a preocupação do apóstolo na orientação da incompatibilidade entre luz e trevas; exortando, assim, à santificação, principiando pelo arrependimento.

Jugo Desigual

No versículo 14 de 2 Coríntios 6, encontra-se uma advertência de Paulo “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis;...”, quando adverte ao povo desta forma, não está dizendo que eles não poderiam ter amizade com os incrédulos, mas que deveriam evitar algumas associações que poderiam comprometer a integridade de suas vidas com Deus. Isto porque seria impossível tal proibição, pois o mesmo afirma que se fosse assim teriam que sair do mundo e pode se entender que não é este o propósito de Deus. Paulo condena alguns relacionamentos íntimos que comprometeriam a vida cristã, como: o casamento do crente e do incrédulo; no casamento há a necessidade dos cônjuges serem ajudadores um do outro, deve haver uma intensa harmonia para que tenha êxito esta associação, e, isto, se torna impossível, principalmente quando as convicções religiosas são diferentes.

Quando Paulo introduz esta secção, ele está orientando os problemas que podem surgir da incompatibilidade entre o sagrado e o profano. A expressão “jugo desigual” (grego, ginesthe heterozygountes) contém a idéia de alguém estar num jugo desnivelado. O verbo heterozygeo encontra-se apenas aqui em todo o Novo Testamento, mas é empregado na LXX (Septuginta) em Levítico 19.19, como parte da proibição de colocar animais diferentes sob o mesmo jugo.4 A proibição de “lavrar” com animais diferentes sob o mesmo jugo (não havendo, porém, o verbo heterozugeo) encontra-se em Deuteronômio 22.10. Paulo emprega uma linguagem que lembra essas proibições ao exortar seus leitores a que não entrem em “sociedades” com os incrédulos. À luz do que se segue (VV. 15-16), parece que [o problema da participação em práticas cultuais pagãs] é a hipótese mais provável, na qual Paulo enfatiza. A expressão “jugo desigual”, provavelmente o apóstolo a tomou do texto em Dt 22.10, onde Deus orienta a respeito das combinações de animais que seriam proibidas nos variados serviços da nação judaica. Metaforicamente Paulo a usa para expressar o pensamento que está

4 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução

de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica). Nota do autor: “Segundo o texto hebraico de Levítico 19.19, em que se baseiam as versões em português, é proibido cruzas (acasalar) diferentes espécies de animais. Não se trata de proibição de colocá-los sob o mesmo jugo.

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sendo abordado aqui. Quando o apóstolo usa este termo não está ensinando que o cristão é um ser superior ao incrédulo, mas foca na diferença que o cristão deve fazer conscientemente em suas escolhas quanto às associações das quais fará parte. Todos nós carecemos de discernimento para enfim saber definir o que é de Deus e o que não o é. Paulo faz isso através de cinco perguntas retóricas que nos fazem arrazoar, analiticamente, acerca da incoerente maneira de viver dos coríntios. Ele apela ao intelecto e à razoabilidade da coerência, que “enfatizam a necessidade de atender a esta exortação”. 5 Veja:

“Jamais vos coloqueis em jugo desigual com os descrentes. Pois o que há de comum entre a justiça e a injustiça? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que parceria pode se estabelecer entre o crente e o incrédulo? E que acordo pode existir entre o templo de Deus e os ídolos? Porquanto somos santuário do Deus vivo. Como declarou o próprio Senhor: ‘Habitarei neles e entre eles caminharei, serei o seu Deus e eles serão o meu povo!’.” (2 Co 6.14-16)6

Outra forma de associação a que se refere o apóstolo, talvez seja uma associação comercial mais íntima7, pois se entende que o filho de Deus deve associar-se a um filho de Deus e não a um incrédulo, pois a propensão deste último prejudicar o outro é bem maior do que aquele influenciar este.

É possível que Paulo, proibisse certo grau de amizade entre os coríntios cristãos e os não cristãos, por conta do paganismo daquela cidade. Todos conhecem a história da cidade de Corinto e sabem que a idolatria imperava conduzindo o povo a imoralidade, e o cristão tendo um amigo incrédulo, expondo sua intimidade a ele está propenso a manchar sua vida de comunhão com Deus.

Paulo tem bem firme o significado e os desdobramentos a que as expressões: “comum”, “comunhão”, “harmonia”, “parceria”, e “acordo”, estão sujeitas. São todos sinônimos do que a Bíblia afirma como “aliança”, “testamento”, “pacto”. Normalmente temos [ou possibilidade de] associação com alguém com quem há afinidade, com pontos comuns e acordados. Entretanto, não existe contrato entre pessoas que não se entendem nos assuntos principais e pertinentes ao mesmo.

Para clarear um pouco o assunto, escolhemos o termo “acordo” para exemplificar os desdobramentos dos problemas resultantes das aproximações entre o sagrado e o profano. Segundo o dicionário Michaelis, a expressão “acordo”, significa “harmonia de vistas”; “concordância”, “concórdia”, “conformidade”, “convênio”, “tratado”, “pacto”, ”ajuste”, “combinação”, “concordância de vontades para determinado fim”. O dicionário também,

5 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica). 6 BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. Grifos meus. 7 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.

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afirma o contrário, ou seja, o antônimo que é “desacordo”, ”desarmonia”, “divergência”, “controvérsia”, “irreflexão” .8

Ter acordo com alguém é estar em conformidade, em convênio, em concordância de vontades. Nas questões religiosas não há como existir comunhão entre crentes e incrédulos, pois que comunhão pode haver entre Cristo e Belial? Os propósitos de cada um deles são totalmente distintos, dessa forma, não pode haver associação religiosa entre pessoas com convicções de fé diferentes.

A estrutura desta passagem é a seguinte:

“Ela consiste de: (a) uma exortação introdutória para que os crentes não formem equipes desparceiradas com incrédulos (6.14ª); (b) cinco perguntas retóricas que enfatizam a necessidade de atender a esta exortação (6.14b-16ª); (c) uma afirmação do relacionamento singular dos crentes com Deus (6.16b); (d) várias citações do Antigo Testamento que salientam os privilégios decorrentes deste relacionamento e reiteram o conteúdo da exortação (6.16c-18); e, (e) um chamado para que os coríntios se purifiquem, deixem o pecado e sigam a perfeita santidade”9

As cinco perguntas dizem respeito às práticas cultuais e diferenças religiosas. Veja os contrastes que Paulo enfatiza: justiça e iniqüidade; luz com as trevas; Cristo e Belial (Maligno).

“Em Colossenses 1.12-14, Paulo delineia a salvação como sendo o livramento dos crentes do domínio das trevas e transporte para o reino do Filho de Deus, onde compartilham a herança dos santos em luz. Portanto, os que foram transferidos para o reino de Cristo, o reino da luz, e, não podem manter comunhão com Satanás e o domínio das trevas. Em 1 Coríntios 10.14-22, Paulo refere-se à participação em cultos pagãos como sendo comunhão com os demônios, pelo que sua pergunta, Que harmonia entre Cristo e o Maligno (algumas versões em português trazem ‘Belial’), provavelmente reflete sua preocupação quanto ao mesmo problema. Neste caso, a quarta pergunta retórica de Paulo, que união do crente com o incrédulo?, seria interpretada com mais acerto em relação ao culto pagão; isto significaria que a chamada para a separação, ressoada na passagem toda, relaciona-se não aos contatos do dia-a-dia com os incrédulos (cf. 1 Co 5.9-10), mas ao problema do culto pagão. Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Esta pergunta final, com sua figura de linguagem sobre cultos, oferece

8 WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos. São Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=acordo, acessado em 18/02/2010, às 21h43. 9 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica).

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um pouco mais de apoio ao ponto de vista segundo o qual as primeiras perguntas reforçam a exortação para que os crentes não tenham nenhum relacionamento com o culto pagão. Quando Paulo fala aqui do santuário de Deus, a figura de linguagem no pano de fundo refere-se ao santuário de Jerusalém, mas na aplicação imediata, trata-se da comunidade cristã como templo de Deus. Isto se confirma pela afirmação de Paulo na parte final do versículo 16b).”10

Agora, temos, ainda, mais algumas considerações a fazer acerca das indagações de Paulo aos coríntios, das quais analisamos algumas palavras. “...que sociedade11 tem a justiça com a injustiça?...”. No original grego a palavra sociedade é “metoche” que significa “partilha”, “participação”. A retidão, que é inerente ao caráter essencial de Deus, delegada aos crentes não pode de forma alguma estar associada a injustiça ou iniqüidade. A retidão é característica daquele que foi aceito por Cristo e está sendo transformado pelo Espírito Santo em sua carreira cristã.

“...E que comunhão tem a luz com as trevas?” O termo “luz” é diretamente remetido a outra característica de Deus, segundo Jo 1.5, Deus é a própria luz e nEle não há treva alguma, ainda em I Tm 6.16, lê-se que Deus “habita em luz inacessível”. O termo “comunhão” no original grego é “koinonia” , que significa “associação”, “companheirismo”, “relação íntima”, conforme citado anteriormente: casamento de incrédulos e crentes, associações comerciais, associações religiosas. A expressão luz denota a natureza da habitação de Deus, lugar onde qualquer ser ou homem imperfeito pode estar; e também o caráter santo de Deus onde não se encontra falha alguma.

“Cristo é a luz mais resplendente que um ser humano pode contemplar; e mesmo assim foi necessário que o Filho de Deus viesse até nós em formas sombreadas, em que a sua glória e magnificência apenas ocasionalmente podem ser percebidas. Mas os seus ensinamentos iluminaram a vereda do princípio ao fim, até ao trono de Deus. Ele veio a fim de iluminar aos homens. E os seres humanos que são realmente iluminados assimilam a natureza dessa “luz” que é Cristo, não sendo meramente iluminados. Eles também se tornam “luzes”, isto é, participam totalmente da perfeita santidade de Deus.”12

“E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” Concórdia aqui, de acordo com o original grego “sumphonesis” é entendida como “harmonia”, musicalmente a palavra é usada para denotar a combinação dos sons. Pensando em combinação, o que há de comum entre Cristo e o maligno? Obviamente, nada há de comum entre os dois. O que pode haver de comum entre o crente e o incrédulo, entre o fiel e o infiel? O cristão deveria pensar, desejar as coisas que vem de Deus; já o incrédulo tem sua

10 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 146-147 p.. (Série Cultura Bíblica). 11 Grifo meu 12 CHAPLIN, R.N., 1995 (grifo meu)

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mente, seus desejos relacionados às coisas terrenas, portanto há uma disparidade, incompatibilidade, entre ideais, o que tornaria uma comunhão aqui improvável.

“E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” O pensamento defendido aqui neste texto é o mesmo que se encontra no texto de I Co 6, quando Paulo censura a imoralidade que está totalmente relacionada com a idolatria abordada em I Co 8. “Ligação” no grego é “sugkatathesis”, que quer dizer “união”, “acordo”. O templo de Deus e um templo pagão têm padrões totalmente divergentes, o que não proporciona nenhum tipo de comunhão entre dois mundos totalmente diversos. Isto implica em que um cristão não tem como dar atenção aos dois (Lc 16.13). O cristão deve dedicar-se a Deus consagrando sua vida tendo plena consciência de que é templo do Espírito Santo, e um templo não pode servir a dois deuses.

Na segunda parte do versículo em questão temos uma promessa àqueles que se separarem para Deus. Há a afirmação de um relacionamento especial com Deus, o companheirismo do Senhor Deus para com aqueles que são fiéis.

Tendo enfatizado a incompatibilidade entre “templo de Deus” e os ídolos (v. 16ª), Paulo, com esta afirmação, mostra por que a comunidade cristã não se deve envolver em cultos pagãos: os crentes constituem o santuário do Deus vivo. No texto bíblico a palavra separação implica em dois sentidos: separação de tudo quanto é contrário a mente de Deus; e para o próprio Deus. O Senhor Deus não pode abençoar ou usar alguém que esteja associado ao mal. O jugo desigual entende-se por qualquer coisa que une um filho de Deus e um incrédulo em um propósito único13.

O resultado de se separar do mundo para Deus é o direito da filiação totalmente outorgado ao fiel, a plena comunhão, adoração e um trabalho que gera frutos duradouros (II Co 6. 17,18; Hb 13.13-15; II Tm 2.21). A não separação vai gerar automaticamente a perda dos elementos citados anteriormente.

A separação do cristão deve se dar com uma atitude de consagração a Deus (Sl 4.3; II Co 6.17). Quando o cristão como igreja toma esta atitude, a mesma assume as qualidades de gloriosa, sem mancha alguma e perfeita. (Ef 5. 26,27). Aquele que se recusa a separar-se totalmente para Deus está fadado a uma vida vazia, sem a presença de Deus, sem crescimento.

Santificação

Depois que nos faz “nascer” de novo em Jesus, o Espírito continua operando em nós a fim de moldar-nos mais e mais à imagem de Cristo, com quem ele nos uniu. Este processo de renovação e transformação moral é chamado santificação.14 Segundo Milne, “o fato de que as Escrituras utilizam dois termos para descrever o crescimento do povo de Deus em santidade... enfatizam a impossibilidade de separar a renovação e a transformação moral

13 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995. 14 MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”. Tradução de Neyd Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996. 199 p.

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que se segue” (MILNE, 1996). A justificação, portanto, não “pode ser separada da santificação (o processo vitalício da transformação moral à imagem de Cristo).”15

O centro da santificação é a união com Cristo. Deus nos uniu ao seu Filho. Segundo o texto usado como referência neste estudo, a separação do mal implica em algumas questões, as quais são listadas a seguir:

- Separação do mundo quanto ao desejo, motivo e ato, no sentido ético, que diverge do sistema corrompido deste mundo; e, separação entre crentes e crentes, principalmente dos falsos mestres, que, segundo o apóstolo Paulo, são vasos para desonra (II Tim. 2.20, 21).

- A separação não é do contato com o mal, no mundo ou na igreja, e, sim, da cumplicidade e da conformidade com o mundo (Jo 17.15; II Co 6. 14-18; Gal. 6.1; Rm 12.1).

Em Hb 12.14, encontra-se a afirmação de que sem a santificação ninguém verá o Senhor. Portanto, a santificação não é uma opção àqueles que querem agradar a Deus, mas um compromisso. A santificação “é a fruição da justificação, e não algo dela separado”. Desde o AT vê-se que o Senhor Deus deseja que todo aquele de dele se aproxima seja santo assim como Ele o é (Lv 11.45; Gn 17.1), bem como no NT se encontram as mesmas ordenanças (Hb 12.14; Jo 17.17; Hb 13.12; II Tm 2.21).

No versículo 18, como já foi citado, encontra-se a recompensa por se santificar para Deus: o direito da filiação, ou seja, o direito de participar da própria divindade do Senhor Deus como filhos, conforme Cristo dela participava (II PE 1.4; Rm 8. 16,17,29). Isto só será possível quando se tiver uma vida verdadeiramente santificada, caso contrário, jamais alguém poderá participar desta benção gloriosa. Sermos filhos de Deus!!!

Essa promessa é para nós uma inspiração ou mais que isso, um real motivo interior movido pelo poder do Espírito Santo. Em II PE 1.4, nota-se que Deus nos chamou para sua glória, e as promessas vinculadas a isso, são muito profundas e preciosíssimas. Por meio delas pode-se fugir da corrupção mundana e assim pode-se participar da natureza divina. Isto significa que nossa glória é medida em termos de filiação; pois a salvação, de acordo com importante ponto de vista, consiste de filiação (Jo 1.12, Rm 8.29). Faz-se necessário que todo cristão leve estas promessas muito a sério, pois assim como Cristo se tornou homem, sujeito a tudo, mas sem pecado, também este se permanecer fiel será como Cristo também, no sentido literal mesmo, não metafórico do termo (Jo 17.21-23).

No capítulo 7 versículo 1, quando Paulo fala da contaminação do corpo e do espírito, está fazendo

“um ataque ao conceito gnóstico que dizia que o espírito humano é puro, mas que a carne é totalmente corrupta, sendo esta a sede do

15 MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”. Tradução de Neyd Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996. 199 p.

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princípio pecaminoso, e que não seria passível de purificação ou redenção. Pelo contrário, Paulo diz que o princípio do pecado é profundo, corrompendo tanto o corpo quanto a alma, o ser inteiro do homem, a sua porção essencial. Por conseguinte, a redenção deve ser um ato radical da parte de Deus, porquanto a queda no pecado foi profunda e extensa”.16

Ao analisar a expressão “...aperfeiçoando a santificação no temor do Senhor” , pode-se pensar que talvez por si mesmo o homem possa dar conta de seus pecados. Ainda que o homem fosse totalmente purificado de seus pecados ainda isto não seria suficiente, é necessário que se dispa do velho homem e se revista do novo homem, que é segundo a imagem de Cristo, que compartilha de sua natureza, seu amor, sua justiça, sua bondade, sua longanimidade, de sua graça, enfim, de tudo quanto o Senhor é moralmente. No entanto, isto é uma operação do Espírito Santo, não podendo resultar dos esforços humanos, ainda que haja a necessidade da cooperação da livre vontade humana. (Rm 3.21-26). Quando Paulo usa a expressão “no temor do Senhor”, não deseja que seu leitor tenha medo de Deus, mas pode-se entender o sentido mais adequado para esta expressão como um respeito profundo, “confiança reverente, com abominação contra o mal”.

Mas qual a santificação que Deus espera de cada um de nós? Jesus expressou o grau de santidade na qual o cristão precisa cultivar. A resposta está registrada em Mateus 5.20, que diz “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.” (ARC). Outras versões trazem “... se a vossa justiça não exercer”; outras “... não ultrapassar”; ainda, “... não superar”; “... não exceder”. Ou seja, parafraseando: “Se a vossa justiça não tiver uma qualidade superior” .

Em Mateus 5.18-19, Jesus não veio facilitar as coisas para nós, ou aliviar as exigências sobre nós impostas. O propósito da vinda de Jesus foi o de capacitar-nos a observar a lei17, e não o de revogá-la, como alguns opositores de Cristo imaginavam e de que o acusavam. Jesus enfatiza no que consiste a lei e, também, que devemos ser-lhe obedientes (Mateus 5.19). Há uma espécie de divisão da lei em 2 categorias: (a) Diz respeito às nossas relações com o Senhor; (b) Diz respeito às nossas relações com o próximo.

Há uma pequena diferença quanto à importância. Nossas relações com Deus revestem-se de maior importância que as relações com o próximo. Veja a resposta de Jesus em Mateus 22.37-40. Se a lei é importante (não segundo os fariseus e escribas, que formaram uma codificação que, acabava por distorcer as verdadeiras Escrituras Sagradas), e, se Jesus veio capacitar-nos a cumpri-la. O que é essa lei? Essa lei corresponde a doutrina bíblica da santidade.

16 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995. 17 NOTA DO AUTOR: Lei aqui se refere à parte moral do AT, que diz respeito ao relacionamento do cristão com Deus e o próximo: santificação. Pois, Jesus cumpriu toda a Lei, e a parte primordial que cabia somente a Ele, foi o cumprimento da lei dos holocaustos e sacrifícios. A lei judicial, dizia respeito à nação de Israel. Cabendo a cada um de nós, agora, compartilhar no relacionamento com Deus, depois de nascer de novo, a relação moral, espiritual, no que tange à separação das coisas mundanas, e a separação para junto de Deus, que está explícito no Sermão do Monte.

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Segundo Lloyd-Jones “a santidade não é experiência, mas guardar e cumprir a lei de Deus”18, expressa no Sermão do Monte. A experiência ajuda, mas não recebemos santidade e santificação com meras experiências. A santidade é algo que pomos em prática na nossa vida diária. Consiste em honrar e guardarmos a lei, conforme fez Jesus. Ser santo equivale a ser semelhante a Ele. A santidade está intimamente relacionada à lei. É nesse ponto que os escribas e fariseus entram em cena, pois pareciam ser os homens mais santificados que então havia. Entretanto, Jesus foi capaz de demonstrar, com grande clareza, que aqueles religiosos eram deficientes no campo da justiça e da santidade. Isso ocorria com eles principalmente porque compreendiam e interpretavam erroneamente a lei, mui tragicamente para eles.

Depois de Jesus definir seu ministério, as palavras do verso 20 de Mateus 5, deve ter soado extremamente surpreendentes e chocantes para os homens e as mulheres a quem elas foram dirigidas. É como se Jesus dissesse: “Não imaginem que vim facilitar as coisas, tornando menos severas as exigências da lei. Bem pelo contrário, estou aqui para dizer a vocês que a menos que a retidão de vocês exceda em muito a dos escribas e fariseus, não há diferença alguma de que vocês possam entrar no reino dos céus, nem mesmo como o menos de seus cidadãos”.19

Ora, que significam essas palavras? Escribas e fariseus, eram os elementos mais destacados da nação judaica. Os escribas passavam a vida ensinando e expondo a lei; eram as grandes autoridades sobre assuntos da lei de Deus. Dedicavam toda a sua vida ao estudo e à prática da lei. Mais que qualquer outro grupo de pessoas, eles podiam reivindicar a posição de estarem bem envolvidos na lei. Eles preparavam cópias da lei, exercendo o máximo cuidado nesse trabalho. A vida deles era gasta inteiramente em torno da lei, e, por esse motivo, todos lhes davam grande atenção.

Os fariseus, eram homens que tinham se notabilizado por sua pretensa piedade. Fariseu significa separatista, se separavam dos outros, pois formularam um código sobre os atos cerimoniais vinculados à lei, um código ainda mais rígido do que a própria lei de Moisés. Haviam criado regras e regulamentos atinentes à vida e à conduta que, quanto à sua severidade, ultrapassavam a qualquer coisa ordenada pelas Escrituras do Antigo Testamento.

Na comparação entre o fariseu e o publicano que foram orar no templo, o fariseu dissera que costumava jejuar duas vezes por semana. Não há nenhuma ordenança que os homens jejuam duas vezes por semana. O AT recomendava apenas 1 jejum anual. Os religiosos elaboravam seus próprios sistemas, e ordenavam ao povo a fazerem o mesmo. Foi com medidas como esta que eles formularam um código extremamente severo de moral e conduta, por conta disso, o povo pensava que os escribas e os fariseus eram os grandes paradigmas da virtude.

O homem comum refletia consigo mesmo: “Ah! Não tenho a menos esperança de algum dia chegar a ser tão bom quanto os escribas e fariseus!! São extraordinários; vivem

18 JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992. 19 Idem.

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apenas para serem santos e consagrados. Essa é a profissão deles, vivem somente para cumprir seu objetivo e alvo religioso, moral e espiritual” .20

Porém, eis que Jesus aparece e anuncia aos seus ouvintes que a menos que a justiça deles ultrapassasse em muito a dos escribas e fariseus, sob hipótese nenhuma poderia entrar no reino dos céus!!! Encontramos duas questões vitais a considerar: (a) Qual é o nosso conceito a respeito da santidade e da santificação? (b) Que idéia fazemos do homem religioso? (c) Que pensamos sobre como deve ser um crente? Nosso Senhor estabelece aqui a questão como um postulado, asseverando a retidão do crente – e mesmo do menor de todos os crentes – deve exceder a dos escribas e fariseus. Analisemos a nossa própria profissão de fé cristã, à luz dessa análise feita por Jesus Cristo. A razão que nos evangelhos há tanto espaço criticando os escribas e fariseus é que Ele (Jesus) sabia que o povo comum dependia tanto dos escribas e fariseus, bem como dos seus ensinamentos. Jesus queria demonstrar quão vazio e oco era o ensino daqueles homens, para então poder apresentar ao povo a doutrina verdadeira. Isso é o que o Senhor faz através de palavras.

Qual a religião praticada pelos fariseus a fim de detectarmos os seus defeitos e verificarmos o que ela exigia dos homens? A maneira de fazer isso é dedicar a estudar o quadro do fariseu e publicano que foram ao templo orar. Colocou-se de pé, em lugar proeminente, de onde se pôs a agradecer a Deus por não ser igual aos demais homens, especialmente por não ser igual ao publicano. Em seguida, o fariseu começou a alegar certas coisas sobre si mesmo: (a) Não era extorsionário, nem injusto, nem adúltero, muito menos era como aquele publicano. Essas declarações concordavam com a realidade dos fatos. Eles tinham suas características modalidades de justiça externa: (a) Jejuavam 2 vezes por semana; (b) Pagavam a Deus e à Sua causa o dízimo de tudo quanto possuíam; (c) Davam dízimo de tudo quanto tinham, incluindo suas ervas úteis, como a hortelã, o endro e o cominho. (d) Além disso, eram altamente religiosos, extremamente meticulosos na observância de certos ritos e cerimônias religiosas. Tudo isso era real no tocante aos fariseus. Eles não somente assim diziam, mas também agiam desse modo. Mas, a religiosidade deles provocava muita indignação no Senhor Jesus.21

Em Mateus 23, temos suas tremendas denúncias contra os escribas e fariseus, denúncias vazadas na forma de “ais”; e ali veremos a essência mesma das acusações revelatórias de nosso Senhor contra aquela gente, bem como a essência da crítica justa que Ele fazia acerca de toda a atitude deles para com Deus e para com a religião. Foi em face de todas essas razões que Ele disse: “... se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”.

Essa é uma das mais sérias e importantes questões que podemos considerar juntos. Há uma real e terrível possibilidade que nos deixemos enganar e iludir. Os fariseus e escribas foram denunciados como hipócritas, hipócritas inconscientes, e imaginavam que tudo ia bem com eles. Não notavam sua hipocrisia, e pensavam que tudo ia bem com eles. Todavia, ninguém pode ler ar Escrituras sem ser constantemente relembrado desse terrível perigo. Há

20 JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992. 21 Idem.

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possibilidades de dependermos de coisas distorcidas, de descansarmos sobre coisas que apenas dizem respeito à verdadeira adoração, ao invés de assumirmos a posição de adoradores autênticos. Aqueles que dentre nós que não somente se afirmam evangélicos, mas que também se ufanam de ser chamados tais, facilmente podem tornar-se culpados dessas atitudes.22

Os fariseus eram acusados, fundamentalmente, de uma religiosidade inteiramente externa e formal ao invés de ser uma religião do coração. (Lucas 16.15). É possível que nos mostremos altamente regulares em nossa freqüência à casa de Deus, apesar disso sermos invejosos e despeitados com os outros. Era isso que Jesus denunciava no caso dos fariseus. E a menos que nossa justiça exceda em muito a essas exigências religiosas meramente externas, jamais pertenceremos ao reino de Deus. Reino de Deus envolve diretamente o coração; não consiste meramente em atos externos, porque o fator que realmente importa é aquilo que eu sou por dentro. Alguém disse que a melhor definição de religião é essa: “Religião é aquilo que um homem faz com a sua própria solidão”. Isto é, se você quiser saber o que realmente é, poderá encontrar a resposta quando estiver sozinho com os seus pensamentos, desejos e imaginações. O que conta é aquilo que pensamos de nós mesmos. Quão cuidadosos nos mostramos naquilo que dizemos aos outros! Porém, que pensamos de nós mesmos? O que um homem faz quando está sozinho, isso é o que tem real importância. As coisas que se agitam em nosso interior, que estão ocultas no mundo externo porque temos vergonha delas, essas são as coisas que, em última análise, proclamam o que somos.23

A segunda acusação feita por Jesus contra os escribas e fariseus é que eles obviamente preocupavam-se mais com os aspectos cerimoniais do que com as realidades morais; e isso, como é natural, sempre será um corolário daquela primeira acusação. Aquela gente mostrava-se cuidadosa quanto ao exterior; eram minuciosos no lavar as mãos ou às cerimônias da lei. Obstante, não demonstravam cuidado algum no caso da porção moral da lei.

Outra característica religiosa dos fariseus é que a devoção deles consistia em regras e normas ditadas por homens, com base em certas concessões que eles tinham feito uns aos outros, mas que, na realidade, violavam a lei que pretendiam estar observando. Os fariseus atuavam de conformidade com as suas próprias tradições, e a maioria dessas regras tradicionais nada mais era do que mui astutas e sutis maneiras de se evadirem dos mandamentos da lei.

Os fariseus só se interessavam por eles mesmos e por sua própria forma de justiça, conforme facilmente se percebia. E como resultado, eles ficavam satisfeitos com eles próprios. O objetivo final dos fariseus não era glorificar a Deus, mas a si mesmos. Quando executavam as normas de sua religião, na realidade só estavam pensando em si mesmos e no cumprimento dos seus deveres religiosos, e não na glória e honra de Deus. Os fariseus eram satisfeitos com eles mesmos, concentrando-se em suas próprias realizações, nunca no seu relacionamento com Deus. A nossa grande dificuldade é que nunca olhamos para nós mesmos, conforme somos vistos por Deus: jamais nos lembramos do caráter, da pessoa e da

22 JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992. 23 Idem.

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natureza de Deus. A nossa religião consiste em certo número de coisas que havíamos resolvido por em execução: e então, tendo feito isso, pensamos que está tudo muito bem. Entre nós, manifesta-se a presunção, a lisonja prestada a nós mesmos e a auto-satisfação.24

Isso leva-nos a considerar a lamentável e trágica atitude dos fariseus para com seus semelhantes. A condenação mais severa contra os fariseus é que, em sua vida diária, exibiam total ausência daquelas atitudes delineadas nas bem-aventuranças. Essa é a mais notável diferença entre os fariseus e os crentes no Senhor Jesus.

O crente é uma pessoa na vida de quem são exemplificadas as bem-aventuranças. O crente é “humilde de espírito”; é “manso”; é “misericordioso”. Ele não fica satisfeito consigo mesmo quanto terminou de cumprir algum dever. Não, pois “tem fome e sede de justiça”. Anela por ser alguém parecido com Cristo. Dentro dele agita-se uma profunda falta de satisfação consigo mesmo. Esse é o teste através do qual deveríamos provar-nos a nós mesmos.

Em última análise, nosso Senhor condenou os fariseus por haverem fracassado completamente na observância da lei. Os fariseus, disse o Senhor, pagam o dízimo da hortelã, do endro e do cominho (pois imaginam que as coisas materiais, por serem mais importantes aos homens é o que Deus se importa: mas, não é!!), mas esquecem-se e ignoram as questões mais graves da lei, que são o amor a Deus e o amor ao próximo. Contudo o amor a Deus e ao próximo é o centro da religião, o propósito mesmo da nossa adoração. Deus quer que O amemos de todo o coração, de toda nossa alma, de todas as forças e de toda a mente, e também que amemos o próximo como a nós mesmos.25

A prova da nossa santidade é o nosso relacionamento com Deus, é a nossa atitude para com Ele, é o nosso amor a Ele. Como você se sairia em um teste dessa natureza? Ser santo não envolve apenas o evitar determinadas coisas, e nem mesmo o não pensar sobre certas coisas; mas envolve a atitude final do coração do homem para com aquele Deus amoroso e santo, e, em segundo lugar, a atitude do homem para com os seus semelhantes, homens e mulheres.

A grande falha dos fariseus é que eles se interessavam pelos detalhes, e não pelos princípios básicos; estavam mais interessados nas ações do que nos motivos; estavam mais interessados em FAZER do que em SER. Significa que Cristo está habilitando em mim, e que o Espírito Santo está comigo. O homem que nasceu do alto, que dispõe da natureza divina em seu interior, é o homem justo, cuja justiça excede em muito a dos escribas e fariseus. Tal homem não está mais vivendo para si próprio, visando somente as suas próprias realizações; e nem é mais um indivíduo justo em seu próprio conceito, satisfazendo consigo mesmo. Antes, tornou-se pobre de espírito, manso e misericordioso, alguém que tem fome e sede de justiça, alguém que se tornou um pacificador. O coração desse homem está sendo purificado. Ele ama a Deus, posto que mui imerecidamente, mas ama a Deus; e o seu anelo é contribuir para a

24 JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992. 25 Idem.

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honra e a glória do Senhor. O seu desejo é glorificar a Deus, bem como observar, honrar e cumprir a Sua lei.26

Arrependimento

Finalmente, no capítulo 7 e versículo 10, temos “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”. Não pode haver salvação se não houver arrependimento, sem arrependimento não há conversão e não há regeneração. Se não há regeneração, não há santificação, e como foi dito anteriormente, o texto bíblico é claro que “sem a santificação ninguém verá o Senhor”, ou seja, sem santificação não há glorificação, não há a participação da natureza de Cristo.

O homem deve abandonar realmente o pecado para que haja verdadeira conversão, não há outra forma para que isso ocorra. Claro está também que um homem por si só não é capaz de tornar-se santo. Essa é uma operação divina por intermédio de seu Espírito Santo, porém o homem deve se arrepender segundo a vontade divina para que alcance a salvação, porque o arrependimento genuíno produzirá profunda tristeza por ter sido ingrato quanto à graça de Deus, por ter desobedecido aos preceitos divinos, esta tristeza profunda gerada por Deus leva o homem ao arrependimento que por fim gerará vida, ou seja, a salvação (Ef 2. 1- 10).

“A salvação não inclui meramente o perdão dos pecados e a mudança de endereço para os lugares celestiais, e, sim, uma completa transformação do ser segundo a imagem de Cristo, tanto em seu aspecto moral quanto em seu aspecto metafísico, em que o indivíduo vem a participar finalmente da natureza divina”.27

“... a tristeza do mundo opera a morte”, esta afirmação mostra que a tristeza natural por um fracasso, por algo que deu errado, por uma catástrofe, não gera arrependimento. Um exemplo: Judas Iscariotes sentiu remorso e deu cabo da própria vida. A tristeza que sentiu não foi suficiente para gerar arrependimento genuíno e gerar vida, ocorreu justamente o oposto, gerou a morte, pois não deu o próximo passo na qual o arrependimento leva: o pedir perdão. A humilhação e a tristeza segundo Deus são necessárias para que haja arrependimento e estas duas coisas vem de Deus, que é o “doador da graça” salvadora (Ef 1. 3 – 14; 2.8).

Conclusão

Jesus através do apóstolo Paulo nos orienta a que, se estivermos em jugo desigual, precisamos buscar arrependimento e trilhar o caminho da santificação. Por isso sua incisiva

26 JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992. 27

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995.

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exortação. Deus é santo e deseja que todos aqueles que o buscam se santifiquem, com o fim de serem recebidos por Ele, em Cristo Jesus. Os coríntios não tinham discernimento em distinguir o sagrado do profano, e isso estava causando grandes prejuízos espirituais a eles. Deus requer pureza de seu povo! Enfatizamos aqui a dedicação de Paulo, ele ora, por toda igreja, independente dos seus leitores. Registramos, aqui, a oração de Paulo pelos crentes de Éfeso, que Deus em Cristo possa abençoar sua vida de forma especial, segundo a boa, perfeita e soberana vontade de Deus:

“... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu Ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”. (Efésios 1. 17-23)

Referências BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. Grifos meus. CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995. JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica). MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”. Tradução de Neyd Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996. WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos. São Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/mo-derno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=acordo, acessado em 18/02/2010, às 21h43.

São Bernardo do Campo, 19 de fevereiro de 2010.