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de Estudo e Partilha de Vida GRUPO TEMA 7 E os outros? 1. SENSIBILIZAÇÃO ...”- Disse o príncipe. - Eu procuro amigos. O que quer dizer “cativar”? - É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa “criar laços”... - Criar laços? - Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... ...A raposa retornou a seu raciocínio. - Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e obser- vou por muito tempo o príncipe: - Por favor... cativa-me! - disse ela. - Eu até gostaria - disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer. - A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! ”...

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de Estudoe Partilha de Vida

G R U P O

TEMA 7

E os outros?

1. SENSIBILIZAÇÃO

...”- Disse o príncipe. - Eu procuro amigos. O que quer dizer “cativar”?

- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa “criar laços”...

- Criar laços?

- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros

garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de

uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás

para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

...A raposa retornou a seu raciocínio.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os

homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.

Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da

terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de

trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E

isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é

dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e obser-

vou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! - disse ela.

- Eu até gostaria - disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas

a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer

coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm

mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! ”...

E os outros?

2. LECTIO DIVINA

Jo 8,1-11

1. Esta passagem retrata as habilidades sociais de Jesus quando se depara com um julgamento, segundo

a Lei de Moisés. Jesus pôs em oposição o pecado da mulher com os pecados dos que a acusavam. Como nos relacionamos com as situações de julgamento e conflito que vivemos em nosso dia-a-dia?

2. O que esta passagem nos ensina sobre compaixão e misericórdia nas relações com os outros?3. A mensagem de Jesus nos prepara um caminho para a alteridade, como desenvolver e vivenciar esse

ensinamento hoje, numa sociedade egocêntrica e individualista?

3. ÁGUA DA ROCHA

A Espiritualidade Cristã e Marista nos ensina a sermos seres que constroem suas relações baseadas no man-

damento de Jesus: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34).

Tal como fez Jesus, Marcelino Champagnat, em seu Testamento Espiritual, convidou seus seguidores

a viverem em comunhão e em comunidade. Jesus fez esse convite a seus discípulos na Última Ceia.

A mesa do Senhor passou a ser o símbolo central de comunhão e doação pessoal do cristianismo.

Para a comunidade de Marcelino, hoje, a mesa de La Valla representa um poderoso símbolo de

família e de serviço. Fabricada pelo próprio Champagnat, essa mesa pode ser considerada a expres-

são concreta de seus esforços para criar uma comunidade dedicada ao Senhor. Para conviver mais

intimamente com os primeiros Irmãos, o Fundador abandonou o relativo conforto do presbitério e foi

morar com eles. A vida em comum, expressão do espírito de família, é parte integrante de sua visão.

Nosso anseio mais profundo é o de amar e ser amados. Desejamos participar da vida, ser solidá-

rios e ter a oportunidade de compartilhar nossa vida e mudar nossas circunstâncias. Constituímos

família e nos unimos para lutar por nossos ideais e transformar a sociedade. Cada família, grupo ou

comunidade é marcada, de modo especial, por aquilo que une seus membros e constitui o núcleo

dessa conexão.

A mensagem de Jesus é simples, mas desafiadora: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.

Jesus não apenas prega união, mas, vive-a. Em sua essência, o cristianismo é comunhão que se con-

cretiza no amor ao próximo. Em Cristo descobrimos que a missão comum nos une em comunidade,

e, nos impele à própria missão.

Em um mundo ávido por conexão e pertença, o lar é um símbolo poderoso. Famílias e comunidades

tornam-se lugares ideais para as pessoas poderem crescer, apoiar-se, cuidar-se e renovar seu ânimo.

Todos os nossos relacionamentos são enriquecidos, quando adotamos Maria como inspiração

para o nosso modo de ser e de estar com os outros. Com Maria, aprendemos a expressar o amor de

Deus em todos os relacionamentos da vida pessoal e comunitária. Aprendemos, assim, o modo de

amar as pessoas, e a tornar-nos, por nossa vez, sinais vivos da ternura do Pai.

(Água da Rocha, nn. 91, 92, 93, 95, 101, 102)

4. REFLEXÃO PASTORAL

Somos seres relacionais, porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. E, conforme nos ensina São

João, “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Deus sendo amor é relação por essência. É relação de coexistência trinitária.

Assim, nosso modelo relacional deve ser a Trindade, onde há unidade na diversidade. Nossas relações devem

ser construídas com base no amor relacional trinitário: nos encontramos com Deus, com os outros e conosco

mesmos. Em toda a nossa existência necessitamos uns dos outros.

Na Trindade há o que Leonardo Boff explica como pericorese. É uma expressão grega que significa uma

Pessoa conter as outras duas, designando o caráter de comunhão que vigora entre as Pessoas divinas. Significa

ainda o estar ou morar de uma Pessoa na outra, porque cada Pessoa divina somente existe na outra, com a

outra, pela outra e para a outra.1 Isso quer nos mostrar que se trata de um processo de comunhão (koinonia),

onde deve haver reciprocidade ativa entre todas as pessoas envolvidas.

A Criação e, particularmente o ser humano, é fruto do amor de um Deus Amor, que não é solidão,

mas família – Pai, Filho e Espírito Santo – um único Deus, em três pessoas. Na trindade de Deus,

tudo é relação, comunhão, impulso amoroso, dom recíproco, comunicação de Pessoas. Entre as três

Pessoas, há uma radical relacionalidade, na qual cada Pessoa é irredutível, mas sempre na relação

com as demais.2

Então nosso modelo relacional deve ser de comunhão uns com os outros e com Deus, buscando um de-

senvolvimento humano e de relações que se importe com os outros, pois se a natureza das Pessoas Divinas

é de relação e comunhão e uma vez que somos imagem e semelhança de Deus, nossa natureza não pode ser

diferente deste processo.

O ser humano é um ser de relações sociais concretas3, onde a alteridade afirma o homem como sendo ‘ser

para o outro’, com uma exigência ética de encontro interpessoal4, por isso Jesus ensinou apenas uma oração

muito simples, o Pai-nosso; no entanto, ele dava prioridade ao ensino das relações, assim destaca Arturo Paoli5:

Aos apóstolos, ele ensinava como se comportar com as pessoas, como se comportar entre si, o centro

da sua ação é o Reino de Deus: buscai primeiro o Reino de Deus. O que é esse Reino? A relação humana.

Nas paróquias, em vez do encontro unicamente para rezar, seria bom dar primazia às relações: como

nos comportamos entre nós... A Jesus não interessa ensinar a rezar, ele não é um guru; ele veio para

sistematizar as relações humanas, para nos ensinar a viver com os outros.6

Viver com os outros, potencializar relações de igualdade e não de poder, relações de justiça e não de de-

sigualdade, relações de misericórdia e perdão e não de punição e rancor, para isso Jesus anunciou o Reino de

Deus, Reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,17), Reino onde haja vida em abundância para

todos (Jo 10,10), abundância também nas relações humanas, pautadas pela ética do amor, da fraternidade e

da justiça.

A psicologia vem trabalhando o termo habilidades sociais para referir-se às “diferentes classes de compor-

tamentos sociais, para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais”7. De forma

pontual alguns autores trabalham as habilidades sociais cristãs para determinar a assimilação e aplicação

do paradigma de Jesus em suas relações pessoais. Neste sentido, em Jesus, temos um modelo de competência

1 BOFF. L. A Trindade, a sociedade e a libertação. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. 1986, pg. 286 e 290.2 Brighenti. A. O ideal da convivência humana à luz da fé cristã. Site: http://ordosocialis.de/pdf/Brighenti/O%20

ideal%20da%20convivencia%20humana%20a%20luz%20da%20fe%20crista.pdf. Acessado: 03.10.2015.3 ASSMAN. H, MO SUNG. J. Competência e sensibilidade solidária. Educar para a esperança. Petrópolis: Vozes,

pg. 217.4 VIDAL, Marciano. Para conhecer a ética cristã. São Paulo: Paulus, 2ª ed. 2005, pg. 149. 5 Arturo Paoli (1912-2015) foi um padre e missionário, grande pensador italiano, que pertenceu à

Congregação dos Pequenos Irmãos de Jesus.6 Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514323-jesus-mestre-de-relacoes. Acesso: 03.10.2015.7 DEL PRETTE. A. DEL PRETTE. Zilda A. P. Habilidades Sociais Cristãs. Desafios para uma nova sociedade.

Petrópolis: Vozes: 2003, pg. 80.

E os outros?

extraordinária no exercício de relacionamento interpessoal, sobretudo, devido à sua coerência entre o pensar,

o sentir e o agir, o que podemos chamar de congruência. Jesus tinha congruência em suas ações. Jesus deixou

um exemplo a ser seguido por toda a humanidade. Mesmo sem buscar a perfeição essas habilidades devem

ser desenvolvidas por todos nós, pois, muitas vezes, o que constatamos é uma falta de coerência nas ações

de cristãos em relação com o modelo de Jesus.

Ser coerente com o paradigma de Jesus é um desafio talvez acima de nossas forças e condições humanas,

mas é preciso não se furtar a esse dever, mas também direito de seguir Jesus com objetivo de desenvolver

habilidades sociais que possam ajudar na redução de conflitos interpessoais e para melhorar a qualidade das

interações entre as pessoas, melhorando nossa tolerância e paciência.8

5. ORAÇÃO

Senhor Jesus, Tu que sempre proporcionaste momentos de encontro, mas que também sempre te colocaste

em posição de abertura para o encontro com o outro, com o diferente, recebe toda nossa limitação e falta de

habilidade no trato com nosso próximo. Senhor, capacita-nos a ser teus discípulos e a estar sempre dispostos

a melhorar e potencializar nossas relações, segundo teus ensinamentos, em vista de uma sociedade com re-

lações de igualdade, fraternidade, justiça e solidariedade.

6. COMPROMISSO SEMANAL

A partir das leituras que meditamos, que compromissos podemos assumir para melhorar nossas relações de vida e partilha?

7. DICA DE LEITURA

⬢ Habilidades Sociais Cristãs. Desafios para uma nova sociedade. A. Del Prette e Zilda A. Del Prette.

⬢ O ideal da con vivência humana à luz da fé cristã. Agenor Brighenti.

8 DEL PRETTE. A. DEL PRETTE. Zilda A. P. Habilidades Sociais Cristãs. Desafios para uma nova sociedade. Petrópolis: Vozes: 2003, pg. 89-93.