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História literária latino- -americana: ameaças e desafios. Entrevista a Pablo Rocca Bruno Mazolini de Barros Fábio Varela Nascimento Recebido em: 26 de março de 2018 Aceito em: 16 de outubro de 2018 Pablo Hugo Rocca Pesce nasceu em Montevideo, em 1963. É doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular de Literatura Uruguaia na Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (Universidad de la República, Montevidéu). Foi diretor do arquivo literário dessa instituição, fundado por sua iniciativa, entre 1999 e 2016. Atuou como professor em universidades na Argentina e no Brasil e traduziu textos de Machado de Assis, João do Rio, Murilo Rubião, Lima Barreto, Tabajara Ruas, entre outros escritores brasileiros. Entre seus livros, destacam-se: 35 años en Marcha, de 1991 (reedição corrigida em 2015); Horacio Quiroga, el escritor y el mito, de 1996 (reedição corrigida em 2007); Historia de la literatura uruguaya contemporánea, 1996-1997, em codireção com Heber Raviolo; Ángel Rama, Emir Rodríguez Monegal y el Brasil , em 2006; Revistas culturales del Río de la Plata (em 2009, vol. I, e em 2012, vol. II). Editou, em 2016, a correspondência entre Ángel Rama e Antonio Candido, publicada em Montevideo e de próxima saída em Brasil. Bruno Mazolini de Barros é graduado em Letras pela Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Mestre em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atualmente, é doutorando em Teoria da Literatura na mesma instituição, com publicações de artigos, resenhas e entrevistas principalmente nas áreas de Literatura Brasileira e de Literatura Portuguesa. Contato: [email protected] Fábio Varela Nascimento é doutor (2018) em Teoria da Literatura, com bolsa CNPq, e mestre (2014) em Teoria da Literatura, com bolsa CAPES, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Fez graduação (2011), pela mesma universidade, no curso de Letras – Língua Portuguesa. Seus objetos de estudos são a literatura brasileira, a literatura sul-rio-grandense, a biografia e as relações entre literatura e história.

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Dieciocho apuntes sobre el dieciochoEduardo Rinesi

caracol, são paulo, n. 16, jul./dez. 2018

História literária latino--americana: ameaças e desafios. Entrevista a Pablo Rocca

Bruno Mazolini de Barros Fábio Varela NascimentoRecebido em: 26 de março de 2018Aceito em: 16 de outubro de 2018

Pablo Hugo Rocca Pesce nasceu em Montevideo, em 1963. É doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular de Literatura Uruguaia na Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (Universidad de la República, Montevidéu). Foi diretor do arquivo literário dessa instituição, fundado por sua iniciativa, entre 1999 e 2016. Atuou como professor em universidades na Argentina e no Brasil e traduziu textos de Machado de Assis, João do Rio, Murilo Rubião, Lima Barreto, Tabajara Ruas, entre outros escritores

brasileiros. Entre seus livros, destacam-se: 35 años en Marcha, de 1991 (reedição corrigida em 2015); Horacio Quiroga, el escritor y el mito, de 1996 (reedição corrigida em 2007); Historia de la literatura uruguaya contemporánea, 1996-1997, em codireção com Heber Raviolo; Ángel Rama, Emir Rodríguez Monegal y el Brasil, em 2006; Revistas culturales del Río de la Plata (em 2009, vol. I, e em 2012, vol. II). Editou, em 2016, a correspondência entre Ángel Rama e Antonio Candido, publicada em Montevideo e de próxima saída em Brasil.

Bruno Mazolini de Barros é graduado em Letras pela Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Mestre em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atualmente, é doutorando em Teoria da Literatura na mesma instituição, com publicações de artigos, resenhas e entrevistas principalmente nas áreas de Literatura Brasileira e de Literatura Portuguesa.Contato: [email protected]

Fábio Varela Nascimento é doutor (2018) em Teoria da Literatura, com bolsa CNPq, e mestre (2014) em Teoria da Literatura, com bolsa CAPES, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Fez graduação (2011), pela mesma universidade, no curso de Letras – Língua Portuguesa. Seus objetos de estudos são a literatura brasileira, a literatura sul-rio-grandense, a biografia e as relações entre literatura e história.

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Entrevistadores: Como o senhor analisa as histórias e os ensaios sobre literatura que, já no início do século XIX, ditavam as regras para que as literaturas fossem dotadas de cores locais, de caráter nacional? No Brasil, Ferdinand Denis e Gonçalves de Magalhães fizeram isso explicitamente, mas como isso ocorreu nos outros territórios da América?

Pablo Rocca: Fuera de las potencias o debilidades creativas, fuera de los usos y las prácticas de solaz, en todas partes de América Latina la literatura fue el discurso privilegiado para atribuir sentidos y direcciones a esa zona de riesgo llamado Estado-nación. Cuando ese discurso pasaba a ser interpretado por otro discurso, el de la crítica o el de la primitiva historiografía, podía convertirse en un artefacto menos durable, paradójicamente, en tanto impusiera el rudo escrutinio de lo propio, en oposición a un impreciso más allá de lo local. Esa exigencia o imposición supo de un mal de origen insalvable: lenguas y lecturas venían de afuera (de Europa, sobre todo de París) para agregarse incómodamente al débil tejido de la escritura y la recepción vernáculas. No había manera sensata de representar esto último sino a través de la celebración de la autoctonía y, por lo tanto, de la alianza entre el signo y el referente. Las contradicciones entre lo uno y lo diverso se incrementaron en algunos países americanos en que la lengua oficial es el español, porque si Brasil hablaba portugués como su metrópoli, pronto la inmensa colonia pudo sentirse ufana ante la pequeñez y marginación de la matriz. Pero, en Hispanoamérica, ¿cómo hacer para defender seriamente la diferencia entre lo argentino y lo uruguayo en el siglo XIX?

Sabemos que “la tradición literaria es en parte generadora del proyecto nacional y no su simple reflejo”, algo que Antonio Cornejo Polar, a quien

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pertenece esa sentencia publicada en 1989, se empeñó en combatir porque en un país mestizo como el Perú continuaba predominando la versión hispanizante y ultraconservadora que impuso José de la Riva Agüero en el siglo XIX. Un ejemplo como este y su trabajosa réplica posterior, que había iniciado José Carlos Mariátegui en los años veinte, muestra la persistencia del paradigma nacionalista más estricto, el menos flexible y por lo tanto el más improductivo. Sin embargo, como observó João Cezar de Castro Rocha, tenemos que aprender a leer a Sílvio Romero sacando provecho de sus errores, esto es, de sus violentos ataques que hoy pueden resultarnos inverosímiles contra las ficciones de Machado de Assis. O lo mismo podríamos decir de la lectura nacionalista que hace Francisco Bauzá de la poesía de Acuña de Figueroa. Sin el descarte de Machado por escritor cosmopolita o sin la valoración de Acuña que importa porque es “uruguayo siempre”, no existiría el debate posterior que se insubordina contra estas lecturas, que se puede cimentar gracias a ellas.

Entrevistadores: Desde o século XIX, os sistemas literário e político interagem na América Latina. Na Argentina, em determinado momento, escrever significava escrever contra Rosas; no Brasil, escrever significava escrever a favor de Pedro II. A classe letrada escrevia para tomar o poder ou para se manter no poder. Como o senhor vê essa intersecção de sistemas e o papel que alguns escritores tiveram nesse processo?

Pablo Rocca: La división entre los integrados y los heterodoxos no funciona en el siglo XIX. Las exigencias de la vida civil – como lo advirtió Pedro Henríquez Ureña – lo cubrían casi todo en múltiples tonalidades,

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puesto que “el territorio sociodiscursivo del Estado”, como dice Julio Ramos, aún no estaba diseñado, lo cual obstaculiza ese trabajo más específico sobre el lenguaje que se refinará hacia el novecientos.

Antes de que esto sea posible, unos se inclinan ante el poder, y por cierto que a veces todos obtienen ventajas de ese servicio, como las que se le debe al ítalo-argentino Pedro de Angelis, adulador de Rosas, gracias a quien pudo organizar el gran Archivo Americano, motivo de envidia de cualquier opositor al régimen. Otros, sin renunciar a sus ideas, prefieren internarse más en la labor propiamente cultural, como Juan María Gutiérrez, a quien no en vano José Enrique Rodó supo ver tempranamente como el mejor ejemplo para una république des lettres desasida de las pasiones que estancaban el curso “desinteresado” de la vida literaria.

Unos y otros, fuera de las simpatías o de la animadversión retrospectiva que podemos sentir y hasta experimentar por sus actos y sus dichos, pueden ser útiles tanto para entender ese pasado como para explicar nuestro presente y sus posibilidades. Sarmiento, por ejemplo, podía ser capaz de las ocurrencias más repulsivas y de las iniciativas de mejor proyección. Podía, como en su famosa carta a Mitre, pedir que no se ahorrara “sangre de gauchos” en la guerra contra el Paraguay; podía defender con todas sus energías la necesidad de la letra y la educación que ensancharían la potestad liberadora de esos mismos sujetos cruelmente estigmatizados. En medio de la entrega incesante a la lucha civil, auxiliado por una biblioteca heteróclita y a menudo imaginaria (por el uso de la cita errónea, como lo demostró Sylvia Molloy en la línea explorada por Paul Groussac y seguida por Ricardo Piglia) Sarmiento creó una prosa de una fuerza ignoradas en el

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español moderno. Ese es su gran legado que marcó para siempre la literatura argentina y se extendió a sus fronteras inmediatas. Sin su escritura, más que sus ideas y muchísimo menos que sus actos, no se entiende Borges; diría, incluso, que no es posible Borges ni siquiera Roberto Arlt, cuyas notas de viaje por Uruguay, Brasil, África y Europa mucho le deben a un texto semejante y fundador que Sarmiento redactó cuando debió salir de Chile en 1845, a poco de publicar su Facundo.

Entrevistadores: Ainda em relação à intersecção dos sistemas: perseguições políticas ou outros tipos de perseguição fizeram com que muitos escritores e intelectuais se exilassem. José Mármol e Domingo F. Sarmiento, por exemplo, viajaram por alguns países da América; em um momento posterior, Pedro Henríquez Ureña fez o mesmo. De que forma o exílio ajudou no processo de “olhar para o outro”? Qual é a marca do exílio na história da literatura da América Latina?

Pablo Rocca: Si se escapa a sus peores consecuencias, del exilio se puede extraer enseñanzas, una dolorosa ampliación de los horizontes personales y la final certeza de que uno pertenece a un lugar, que tiene o reconoce un origen, pero también es “ciudadano del universo”, como dice Borges en su célebre “El escritor argentino y la tradición”. No sólo Martí hubiera sido otro si no hubiera salido de Cuba como le tocó en suerte (o desgracia) en tantas ocasiones; sin esa experiencia nos hubiéramos privado de un texto capital como “Nuestra América”, matriz de una discusión que se prolonga hasta hoy. Pensar el hogar desde un afuera, verlo en perspectiva y saberlo más ancho, si más libre y en diálogo con otras culturas, ha sido la ganancia del

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exilio siempre que pudo sobrevivirse a inclemencias tales como la depresión o el hambre.

Cuentan que un atroz dictador quiso seducir a la bella mujer de Pedro Henríquez Ureña, y que la única salida para el matrimonio fue escapar precipitadamente de República Dominicana. Esa huida le hizo ganar a México, y luego a Argentina y por fin a América Latina y a la lengua española a uno de sus mayores filólogos, al primero de sus historiadores de su cultura. Un avión se quedó sin combustible en 1964 y obligó a que Darcy Ribeiro tuviera un aterrizaje forzoso en el litoral uruguayo. Se había quedado a mitad de camino ya que su objetivo era bajar en Santiago de Chile, luego de escapar de su país atrapado por un golpe militar. Sin ese accidente que lo hizo quedarse en Montevideo hasta 1970, la Universidad de la República, que le ofreció trabajo de inmediato, no hubiera conocido el nacimiento de la antropología cultural ni su pronto amigo Ángel Rama hubiera zafado tan fácilmente de las redes de la más ortodoxa sociología literaria. No digo que debamos agradecer a las dictaduras, sino que hay que deplorarlas sin perder de vista que, la voluntad y el azar, a veces pueden sobreponerse a la vileza. Desde luego: como se ha venido haciendo con distintas velocidades en los últimos años, mejor explorar la posibilidad del intercambio pacífico, democrático y el viaje intelectual.

Entrevistadores: A língua afastou o Brasil de certos “projetos” para a

literatura da América Latina. Porém, além do peso do idioma, o território brasileiro apresentava outros aspectos que o afastavam da América Hispânica. Ao contrário do que aconteceu com os países de colonização espanhola,

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o Brasil teve uma ruptura política muito suave com a metrópole. Os brasileiros não passaram por aquelas fases que Mármol e, depois, Henríquez Ureña, com mais detalhes e propriedade, citaram: independência, anarquia, reorganização. A ausência dessas fases no Brasil também pesou no seu afastamento do “projeto” literário latino-americano?

Pablo Rocca: Brasil es un universo. Su organización nacional, tan férrea y exitosamente alcanzada por las oligarquías, no puede ocultar contradicciones e incomunicaciones que ni siquiera pueden salvarse en este mundo hiperintegrado y veloz que padecemos y disfrutamos. Brasil es, a pesar de sus analfabetos (reales y funcionales), un gran mercado que pudo sentirse autosuficiente y que quiso escapar de su grandísimo cerco para tocar otros territorios, otras lenguas. No fue fácil salir de la idea, tan claramente defendida por Euclides da Cunha en uno de sus trabajos de A margem da história, a comienzos del siglo XX, de que las fronteras hispanohablantes eran una amenaza antes que un desafío. Cualquier proyecto que involucre Brasil, desde su perspectiva o desde los muchos ojos que lo miran desde los alrededores de sus vastas fronteras, deberá admitir un contrasentido para la integración, porque sólo lo heterogéneo y lo múltiple es la cifra de cualquier reunión. Tal multiplicidad significa la negación misma de cualquier propósito homogeneizante. Ni una integración ni un diálogo fluido siquiera surgen por generación espontánea.

Encontrar un proyecto es elegir un “meridiano”, para emplear la metáfora que lanzó torpemente Guillermo de Torre en Madrid en 1927 y que despertó la mayor polémica intercontinental de aquellos años. Cuando todo estaba en calma, invirtiendo el sentido director que había pretendido el ultraísta

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español, Mariátegui dijo que antes que cualquier otra cosa un “meridiano” es un mercado editorial, y que ese lugar lo podía ocupar Buenos Aires al sur y México al norte de América latina (o de Indoamérica, como prefería llamarla el gran intelectual peruano), con sus enormes ciudades por las que circulaban tantos de sus vecinos, tantísimos más que por Quito, Porto Alegre o Santiago. Otro “meridiano” pudo ser, y fue, la Revolución que nació en Cuba en 1959 y sus políticas culturales impulsadas por la Casa de las Américas. En los años veinte, los modernistas trataron de acercarse a Hispanoamérica, sobre todo al Río de la Plata, para hacer un Brasil más inteligible y producir una literatura propia legible fuera de su contexto. En el segundo momento, en los años sesenta, un movimiento centrípeto trató de empujar el Brasil hacia adentro de un destino general. En cualquier caso se trata de lidiar con la utopía, como – otra vez – antes que nadie lo vio Pedro Henríquez Ureña.

Entrevistadores: O Brasil é ainda uma potência econômica, cultural e populacional no continente, mas tem uma língua diferente da maioria dos outros países. Tendo isso em vista, pensando em sua própria produção cultural e a projeção dela, que atitudes o país tem ou deixa de ter que favorecem ou prejudicam suas relações com o restante da América Latina?

Pablo Rocca: Apelaré a la ayuda de un artículo de 1944, titulado “Um sul-americano”, de Mário de Andrade: “É dramática a situação humana do Brasil na Sulamérica. Nós não estamos sós, pois que nos pensam e muito, nós estamos abandonados – o que é terrivelmente pior. [...] entre as nossas heranças ibéricas tão unidas e superiores, nós herdamos também aquela

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parte cão-e-gato do destino que opõe Espanha e Portugal. E pois que eles são muitos e nós somos um só, é nosso o mal”.

En efecto, la soledad parece desaconsejable aun para el grande, pero puede ser buena medicina para una literatura que opta – ¿qué otro razonable remedio cabe? –, por afirmar su occidentalización y desde ese eje comprender (o sofocar, depende de la estrategia) otras lenguas y canales expresivos que han hecho de la literatura brasileña la más compleja y de las más ricas de esta zona del mundo. Porque ese aislamiento y ese consecuente ensimismamiento nacional en un territorio dominado, en el que la imprenta arribó tarde y la alfabetización general empezó a llegar sólo en estos años pasados hizo prosperar la discusión sobre regionalismos, literaturas orales, relatos de cordel, narraciones en folletín con niveles inigualados en el vecindario de colonización española. La soledad de los muchos, los hispanoamericanos, a veces incrementada por un cierre de fronteras nacionales, entorpeció todo encuentro armónico con el gran vecino luso y los otros. Se impuso, para Brasil, una negociación con cada cual. Eso que fue la base de su exitosa y agresiva política exterior a mediados del siglo XIX, que tuvo su último y terrible capítulo en la Guerra del Paraguay, ese sacar de cada estado hispanoamericano lo mejor posible, condicionó algo más que sus reflejos. El breve y sabio artículo de Antonio Candido “Os brasileiros e a nossa América”, de 1989, repasa estas imposibilidades.

Depende la época, los estados se han mostrado indiferentes, han actuado con impericia o han tenido fuertes iniciativas fragmentadas, aunque varias a la larga hayan sido estimulantes más allá de sus propósitos, como ocurrió con las políticas sobre la enseñanza y el libro brasileños en el primer gobierno

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de Getúlio Vargas, sobre todo en Uruguay. Frente al estado, contra sus directivas o aprovechándose de sus regalías está el poder algo invisible de los que en otra ocasión llamé los traductores-contrabandistas y que, por extensión, podríamos denominar ahora los lectores-contrabandistas. Sin ellos, poco hubiera pasado. Daré algunos ejemplos. Para empezar, el del incomparable Juan María Gutiérrez recorriendo América a los tumbos, saliendo de Buenos Aires perseguido por Rosas, huyendo de Montevideo como polizonte en un barco espantado ante la proximidad de la flota oribista-rosista, pasando por otras remotas rutas americanas en busca del sustento y su destino hasta llegar a Chile. Ese periplo reformó el proyecto de la Colección de poetas del Río de la Plata (imaginado hacia 1843, interrumpido dos años después e inédita hasta que la publicamos en 2011), una recopilación que abandonó aquella geografía condicionada por la Revolución de mayo de 1810 y abrazó la general causa americana. En 1846 Gutiérrez publicó en Santiago de Chile la monumental América poética, primera reunión multitudinaria de textos hispanoamericanos, manifestación inicial de cualquier balance conjunto de la creación literaria de esta parte del mundo. No muy diferente, aunque otros fueran los alcances, fue la experiencia del adolescente Sérgio Buarque de Holanda, quien descubre en el Ariel de Rodó las ambigüedades y los problemas de una cultura americana y, desde luego, brasileña, reflexión temprana que se filtra en algunas luminosas notas comparativas de su Raízes do Brasil. O el caso de Mário de Andrade, quien lee y traduce a Borges y Güiraldes – sin entrar en contacto verificable con cualquiera de ellos –, quien procura acuciosamente a diversos hispanoamericanos para pensar mejor su país y para indagar en las raíces de la literatura y la música fuera de

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fronteras. O el ejemplo del poeta y antropólogo amateur Ildefonso Pereda Valdés, amigo de Bandeira o de Cecília Meireles, cuyos textos traduce y publica en Montevideo y sobre los que dicta conferencias, algo que los otros retribuyen, a veces con indulgente gesto. O el caso de Haroldo de Campos, quien se acerca a Octavio Paz para reforzar los caminos teóricos y prácticos de la poesía visual. O el de Sérgio Faraco, quien en un almacén de frontera, entre aperos y herramientas, da con los cuentos de Mario Arregui que le cambian la vida para siempre, reorientando su literatura y empujándolo a traducir narradores y poetas de la región como si fuera el cumplimiento de una misión que estaba aguardando una señal y que, en pocos años más, nutriría una colección entera de la editora gaúcha Mercado Aberto que, no en vano, se llamó “Descobrindo América”, en la que tuve el privilegio de colaborar.

Sin estos lectores que pasaron de un lado al otro esas mercaderías intangibles no hubiéramos conocido encuentro alguno, en especial en las últimas décadas. Salvo los que propician los mercados y sus soportes clásicos – más preocupados por sus réditos, pero aun así a veces abriendo senderos, como las ferias de libros – o los estados, cuyo alcance suele ser relativo, pero sin cuyo apoyo todo se reduce a lo testimonial. Por último, en el ciclo posdictatorial desde mediados de los ochentas, las universidades latinoamericanas se empeñan en el intercambio de profesores y alumnos, en programar congresos o seminarios para examinar cruces y caminos, preservar la memoria del imaginario de aquí que, por eso mismo, puede convertirse en patrimonio de cualquier parte.

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Entrevistadores: O brasilianista Ettore Finazzi-Agrò aponta em seu estudo Entretempos a recorrente ideia da existência de uma ilha-Brasil, tanto por parte de estrangeiros quanto de brasileiros ao longo dos séculos. Quais os principais desafios de uma inserção dessa grande ilha cultural na historiografia literária latino-americana?

Pablo Rocca: En el principio, se dijo, fue la incomunicación alentada por los estados nacionales y sus clases dirigentes, lo cual se hizo más claro en Brasil a causa del portugués. Hasta el joven Machado de Assis, en apariencia tan alejado de estos desvelos, encerrado en su Rio de Janeiro, conoció algo de la literatura hispanoamericana gracias a que alternó con algunos escritores-diplomáticos chilenos y peruanos. Lo poco que supo le permitió darse cuenta de que su fortuna crítica, como dicen los italianos, podía estar ligada a un cambio de rumbo y por eso afirmó en una escueta nota de 1869 que “grande e recíproca vantagem seria, se houvesse relações íntimas entre as duas literaturas. Blest Gana, Matta, Palma, Cortés, Cisneros, apertariam gostosamente as mãos a Alencar, B[ernardo] Guimarães, Macedo, Varela e tantos”. De ahí, la isla. Pero también el archipiélago, porque a la metáfora de la isla, que el maestro Finazzi-Agrò retoma de Viana Moog y de Gilberto Freyre, corresponde pensarla dentro de la dinámica del archipiélago (también ensayada por Viana Moog), pero no sólo como si este ocupara el territorio de Brasil con sus correspondientes variaciones regionales, sino en el rompecabezas de los estados hispanoamericanos.

Aun más, podría pensarse esta metáfora hacia adentro de cada uno de los estados, ya que no siempre los intentos de regionalización nacional o supranacional (las “comarcas” que imprecisamente cartografió Rama leyendo

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a Darcy Ribeiro) superan los mandatos de la geografía y la economía. No siempre esos límites atienden las particularidades verbales y las posibilidades de aproximación cultural. Sólo en ocasiones es posible mapear estilos y formas en algunos subsistemas de escritura, como ocurrió con la literatura gauchesca o como podría hacerse con el regionalismo realista de los años diez y veinte del siglo pasado.

En 1942, a raíz de su viaje por Uruguay, Argentina y Paraguay, Gilberto Freyre pensó que América Latina, a la que veía por primera vez de cerca, lejos de formar una unidad racial, biológica o geográfica era un “arquipélago sociológico de proporções continentais”. Con la diáspora impuesta por las dictaduras de los años sesenta y setenta, los movimientos migratorios masivos de los noventas a causa del triunfo de las políticas expulsivas, con la trasnacionalización del mundo en sus facetas más hoscas o más amables, la propia noción de americanidad se convierte en un espacio de deseo. El problema no es nuevo, y tiene diferente intensidad según donde sea. Hoy, no es lo mismo pensar las vicisitudes de la escritura en Brasil que en Colombia, en Venezuela o en Cuba. Pero la literatura que se escribe o se publica en sus territorios o la que hacen donde estén quienes nacieron en alguno de sus puntos geográficos, pero terminaron dispersándose por el mundo, la literatura que se hace en lenguas europeas o en lenguas indígenas o en cualquier hibridismo lingüístico, en un mundo cada vez más des-localizado, dependerá de los medios y sus agentes difusores que, ahora, han perdido los centros rectores hasta hace poco inevitables.

A la imagen del archipiélago correspondería, en suma, la de una literatura envuelta en la red regional y americana; al relato historiográfico que le

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otorgaría un nuevo sentido habría que pensarlo desde la metáfora de un verdadero sistema de puentes que interconecte las islas (los países, cada cual con sus contradicciones internas), para lo cual se necesitarían muchos ingenieros-historiadores. Ojalá que no sean como el Roque Diadema del cuento “A diáspora”, de Murilo Rubião.

Entrevistadores: Qual a importância de figuras como Ángel Rama, Henríquez Ureña e Julio Cortázar, que lecionaram no exterior, no processo de internacionalização da literatura latino-americana?

Pablo Rocca: Son casos diferentes como distintas fueron las oportunidades históricas e individuales en que tuvieron que intervenir en la vida cultural.

Henríquez Ureña, salvo la primera época de su trabajo en Argentina en que participó con bastante frecuencia en las revistas literarias – como Valoraciones, de La Plata – se sintió más cómodo en su trabajo como profesor e investigador. Los resultados de esa labor, extraordinarios para su tiempo, facilitaron su elección para el dictado de una serie de conferencias en la Universidad de Columbia sobre literatura latinoamericana, las primeras en que Brasil fue incorporado junto a América Latina y el Caribe. Esa síntesis formidable no se desprendió de la denominación primera y pronto superada por su adscripción colonial: Las corrientes literarias en la América hispánica. Ciertamente, ese gran libro sinóptico fue el punto de apoyo básico para el manual de historia literaria hispanoamericana de Manuel Bandeira, en el que, a su vez, el profesor de la Universidade do Brasil aprovechó su conocimiento de la vida cultural de la otra América que había conocido de primera mano en cuanto poeta que leía o colaboraba en las revistas hacia

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1930. Por eso, Bandeira puede cerrar su libro con un breve pero agudo juicio sobre Mariátegui cuando nadie en Hispanoamérica, fuera del Perú, registraba la dimensión del autor de los 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana.

Lector devoto y temprano de Henríquez Ureña, como pudimos demostrarlo en otras ocasiones, Rama combinó su actividad como crítico literario y teatral militante en la prensa, sobre todo en el semanario Marcha, desde fines de la década del cuarenta hasta 1968. Vivió en la escritura y el mundo a un ritmo de vértigo, redactando dos o tres notas a la semana, algunos de ellos ensayos muy extensos, junto a la actividad editorial, la escritura de prólogos, el ejercicio de la docencia que sólo cuando declinaba la década del sesenta empezó en el campo universitario, primero en Montevideo, luego en San Juan de Puerto Rico, en Caracas y al fin en Estados Unidos, de donde lo expulsaron por razones ideológicas. A diferencia de Henríquez Ureña, los años sesenta le permitieron moverse por distintas partes de América Latina, con lo que pudo conocerla de primera mano, participando en congresos; sólo en los años setenta, ya en el exilio, por mediación de Antonio Candido pudo dictar cursos en Campinas y São Paulo. La correspondencia entre estos dos intelectuales clave que luego de una década y pico de trabajo acabamos de publicar en Montevideo (y que pronto saldrá en Brasil) ofrece todas las alternativas de esos encuentros, en los que un verdadero proyecto americano pudo pensarse desde instituciones universitarias o editoriales de grandes proporciones.

Aunque en su juventud fue profesor de Literatura en la educación media en el interior argentino, Cortázar difundió sus ideas sobre literatura y

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enmarcó sus preferencias sobre literatura latinoamericana en cuanto escritor-crítico. Esto significa que lo hizo en un sentido más moderno – como lo habían hecho ya tantos otros las décadas pasadas –, pero en un contexto propicio para la exposición de ideas estéticas y de problemas americanos y con un amplio e interesado auditorio. A sus artículos sumó la labor, para la cual estaba especialmente dotado, de conferencista y activo participante de congresos, en especial en México, Cuba y Nicaragua, adonde llegaba desde la residencia parisina que decidió adoptar a comienzos de la década del cincuenta. Como le pasó a tantos de su edad (y nótese que evito el sustantivo “generación”, porque está permeado de algunas lecturas teóricamente muy débiles), Cortázar llegó un poco tarde a la literatura latinoamericana y sus lecturas fueron más bien contemporáneas, además de estar regidas por el legítimo y arbitrario patrón del gusto personal. Primero, y hasta el alumbramiento que para él, como para casi todos, supuso la Revolución cubana, su interés estaba centrado en las letras anglosajonas, de lo que da abundante testimonio su estudio de la poesía de John Keats o su notable traducción de las obras completas de Edgar Allan Poe.

Cada uno a su manera abrieron un mundo casi clausurado a unos pocos o encerrado en el campanario de la aldea. Lo hicieron como tantos otros críticos o historiadores de la literatura y la cultura en la estela de José Enrique Rodó, el primer historiador de la literatura hispanoamericana o por lo menos regional-americana en “Juan María Gutiérrez y su época”, cuya versión última es de 1912; del virtuoso y multiforme mexicano Alfonso Reyes; del venezolano Mariano Picón Salas, el primero en avisar que para la historia de una literatura cuentan las obras canónicas pero también los

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textos “bajos” o menores (Formación y proceso de la literatura venezolana, 1940); el uruguayo Alberto Zum Felde, quien se entregó a una empresa más ambiciosa de lo que estuvo a su alcance luego de haber construido en 1930 un libro extraordinario sobre su país (Proceso intelectual del Uruguay y crítica de su literatura). Ya en los años cincuenta hay que contar con el colombiano Rafael Gutiérrez Girardot, temprano analista de la obra de Borges, profundo estudioso de las claves del modernismo; el uruguayo Emir Rodríguez Monegal, autor de Narradores de esta América, que en su edición de 1974 recoge tres decenas de ensayos; con menos producción latinoamericanista pero agudeza inigualable, el también uruguayo Carlos Real de Azúa; el cubano Roberto Fernández Retamar, ligado íntimamente al proceso de la Casa de las Américas y a muchas de sus figuras; los peruanos Antonio Cornejo Polar y José Miguel Oviedo, el primero concentrado en su país, el segundo, autor de una larga historia de la literatura hispanoamericana publicada en los años noventa; el argentino Noé Jitrik, también poeta y narrador, responsable de algunos estudios fundamentales sobre letras latinoamericanas sobre todo desde que salió al exilio a mediados de los setentas. Y hay que alinear, en la genealogía de Cortázar, a otros escritores-críticos, en especial a Carlos Fuentes, desde la publicación de su pequeño pero potente ensayo sobre literatura hispanoamericana de 1966; Mario Benedetti, incansable cronista de la literatura contemporánea del que llamó “continente mestizo”; Mario Vargas Llosa, siempre activo y polémico; Carlos Martínez Moreno, lector de la narrativa de su tiempo e Ida Vitale, refinada traductora y lectora de poesía. Estos, entre tantos otros.

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Entrevistadores: Quando e como a Espanha passou a ler efetivamente a produção em espanhol dos países que, aos poucos, foram tornando-se independentes dela? Qual a foi a recepção?

Pablo Rocca: Hubo distintos períodos. Uno, fuerte, a fines del siglo XIX cuando la poesía de Rubén Darío provocó una onda expansiva que removió la idea que se tenía de escribir en español. Otro, a comienzos de la década del sesenta del siglo pasado, cuando comenzó a aflojar la censura impuesta por el régimen del general Franco, al tiempo que la economía española se recuperó un tanto y permitió, así, cierto resurgimiento de las clases medias, ávidas por leer algo más que la literatura asfixiante del régimen. Entonces, la curiosidad por lo que estaba pasando en América Latina (la Revolución cubana, los movimientos de insurrección, las dictaduras, la madurez de una cultura ignorada por la península), estimuló a un poeta y editor catalán de excepción, Carlos Barral, a crear un premio con el que muchos narradores, más que poetas (Vargas Llosa, Martínez Moreno, etc.) se hicieron conocer y empezaron a ganar terreno en España, un país que entre tantas terribles pérdidas con la derrota republicana de 1939 se despidió por décadas de sus grandes y sus pequeños editores, que se había trasladado a México, Buenos Aires y un poco menos a Bogotá, Caracas y Montevideo.

Entrevistadores: Em uma América predominantemente de língua espanhola, como a historiografia da literatura latino-americana pode lidar com a presença periférica de produções artísticas em português (marginal, mas em grande quantidade) e francês, assim como em línguas nativas?

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Pablo Rocca: Leyendo sin prejuicio alguno esa literatura como literatura, es decir en toda su potencia expresiva, y como fenómeno cultural que se acomoda o se opone al sistema de la lengua española o portuguesa. Que el español o el portugués son las lenguas obligatorias de América Latina parece ser, a esta altura, una posibilidad, la más frecuente y por lo tanto la más ostensible y firme, pero para nada la obligatoria. De hecho, los viajeros europeos de los siglos XVIII y XIX, como decía Real de Azúa, escribieron textos que están “varios palmos por encima” de lo que usualmente se llamaba entonces literatura, y sus textos participan, así sea retrospectivamente, de la geografía física e imaginaria de América. El argentino W. H. Hudson, de larga y final residencia en Inglaterra, escribe en inglés The Purple Land (1885), la primera novela sobre el territorio de la Banda Oriental que, hasta donde tengo noticia, no tuvo la menor repercusión en Montevideo sino hasta mediados del siglo XX; el montevideano Isidore Ducasse escribe en francés y publica en París, donde muere muy joven, Les chants de Maldoror, el texto que se convirtió en el santo y seña de los surrealistas; el chileno Vicente Huidobro escribe en francés toda su primera poesía. ¿Por qué no formarían parte de la literatura latinoamericana si sus autores nacieron en estas tierras o sus textos circularon en ella o las registran y entablan una conversación con sus culturas?

No podrían integrar esas literaturas, nacionales ni globales, si entendemos una identificación estrecha entre territorio y escritura, es decir, si propusiéramos el retorno a formas de representación en las que la servidumbre al referente estuviera en un plano de tal dominio que obturase toda manifestación que lo opacara. Visto así deberíamos destronar el barroco

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o las modalidades de lo fantástico o la poesía metafísica. Si en el estadio de la formación esta última posibilidad tal vez podría ser contemplada, hoy ha perdido todo sentido.

Entrevistadores: Existe na contemporaneidade ou é possível um projeto plausível de América Latina? Quais as perspectivas para tanto?

Pablo Rocca: Nunca como ahora se impuso el nombre de América Latina. Y se impuso tanto que entró en crisis y está siendo cercado por la lectura poscolonial, de la que el argentino de extensa residencia en Estados Unidos, Walter Mignolo, es quizá su exponente más visible en un libro que escribió en inglés e hizo traducir al español, en 2007, con el título La idea de América Latina. La herida colonial y la opción decolonial. Arrasada o cansada la fuerte idea que se había fomentado en la década del sesenta; derrotada, parece, la moderada renovación de este pacto en la década anterior, habrá que esperar otra oportunidad para renovar la utopía. Mientras tanto, hay que seguir cumpliendo con el deber principal que es el de hacer una literatura, aunque también la forma de leer esté cambiando aceleradamente en la era digital.

Entrevistadores: Em “Literatura e subdesenvolvimento”, Antonio Candido discorre sobre as características literárias das fases de “consciência amena” e de “consciência catastrófica” de atraso dos países latino-americanos. Décadas depois, esta última fase foi superada ou não, e de que maneira?

Pablo Rocca: La narrativa de los años sesenta sobre la que se expide Candido con esas denominaciones en ese ensayo tan marcado por la teoría

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de la dependencia, dio paso, pronto, a otras preocupaciones. La catástrofe se instaló en formas del realismo que reelaboró técnicas de vanguardia, como lo estudió Candido y lo siguió profundizando Ángel Rama. Pero, como dice un tango, “el mundo sigue andando”, y si la miseria no se alejó ni la prepotencia ni el dolor – cualesquiera sean sus caras – las opciones ficcionales pasaron por otros lados. Tantos, que enumerarlos sería fatigoso. Señalaré sólo la prosperidad notable de la literatura fantástica o sus formas circunvecinas. Por lo demás, aquella literatura americana que Candido y Rama – entre otros – vivieron como la redención del estereotipo que edulcoraba la vida pastoril gracias al triunfo de la conciencia crítica, en pocos años fue absorbida por el capitalismo como mercancía, que la convirtió en otra suerte de estereotipo, más al paladar de bienpensantes, nativos y extranjeros.

Entrevistadores: Qual a razão de um significativo apagamento da produção cultural paraguaia entre os países falantes de espanhol?

Pablo Rocca: La cultura es un producto humano, sometido a las presiones de una historia. Esta máxima de resaltada obviedad se hace brutalmente evidente en El dolor paraguayo, como hacia 1900 lo llamó para siempre Rafael Barrett. El pueblo paraguayo fue sometido a un genocidio perpetrado por los ejércitos combinados de Brasil, Argentina y Uruguay junto a la responsabilidad de un autoritarismo suicida de Francisco Solano López, aspecto este último que con valentía y pasión analizó el intelectual asunceño Guido Rodríguez Alcalá en varios libros de ensayos y ficción. Luego, la humillación y la dependencia de los estados dominadores, sobre todo los dos grandes. Otra peste se arrojó sobre su territorio y su gente

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después de otra guerra: el general Alfredo Stroessner, quien gobernó a sangre y hierro su país durante casi cuatro décadas, hasta que su cuñado lo derrocó en 1989 y se exilió en Brasilia, en una gran mansión, de la que salió para visitar a un excapitán de las SS alemanas que vivía cerca de su casa y, luego, salió para morir. No se supera fácilmente tanta catástrofe (que, además, no cesó ni nada que se parezca desde 1989) y no se puede construir, pese a tantos esfuerzos, una cultura letrada activa de un día para el otro.

Entrevistadores: O que poderia ser apontado como o principal efeito de Jorge Luis Borges no sistema latino-americano, seja no campo literário ou nas histórias da literatura? Ele ainda reverbera com potência?

Pablo Rocca: Transformar el español – por medio de una profunda investigación en las lenguas clásicas y en el inglés –, en una lengua tersa y compleja a la vez, fría y brillante, comunicativa y enigmática. Revolucionar la forma de leer, inventando una crítica irónica, ágil y que reconoce fuentes que sigue sorprendiendo con nuevos asombros y descubrimientos. Una prosa que se impone con elegancia y naturalidad como ejercicio de inteligencia y placer, que se reconoce en cuanto texto y que, a pesar de su tendencia solipsista, nunca deroga la historicidad de la obra o al menos su recepción, como lo dice en su “Nota sobre (hacia) Bernard Shaw” en que postula, inequívocamente, que una “literatura difiere de otra, ulterior o anterior, menos por el texto que por la manera de ser leída: si me fuera otorgado leer cualquier página actual – esta, por ejemplo – como la leerán en el año dos mil, yo sabría cómo será la literatura del año dos mil”.

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Entrevistadores: A América Latina tem seis autores ganhadores do Prêmio Nobel. Quais os frutos efetivos disso para a legitimação da produção literária latino-americana no mundo? Isso afetou de alguma forma o sistema literário desses países ou mesmo da região?

Pablo Rocca: Habría que ver caso por caso. Recuerdo, ahora, el impacto y la alegría general en mi país o entre los jóvenes y los círculos letrados que conocía (o, mejor, leía) cuando García Márquez recibió el premio; recuerdo su discurso mezcla rara de engolamiento y espontaneidad y su figura algo pintoresca con guayabera y sonrisa invariable, entre cordial y altanera; recuerdo el gran impacto en las ventas de aquella cercana joya – para mí lo último de inmensa jerarquía que escribió – que es Crónica de una muerte anunciada; recuerdo, claro, que en Uruguay había una dictadura desde 1973 que nos había arrancado a quienes habíamos nacido pocos años antes de esa fecha toda la enorme fiesta de la cultura en la que Montevideo había ocupado un lugar muy importante desde 1960 en adelante. ¿Cómo no alegrarse? La historia pasa por uno y esa dimensión individual, afectiva, no puede descartarse, como sabemos gracias a los escritos de Carlo Ginzburg, entre tantos otros.

En síntesis, el Nobel ayuda a la difusión de los textos, aunque ya no tanto porque en el mundo en que vivimos todo pasa rápidamente, y esa fugacidad no es el tiempo de la literatura, o por lo menos de la literatura que exige algo más de unos segundos para ser procesada.

Entrevistadores: Qual a importância e os impasses gerados por literaturas com grande alcance comercial – como o caso da de Gabriel Garcia

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Márquez ou, até mesmo, no caso do Brasil, de Paulo Coelho, mundialmente famosos – para projeção e divulgação da narrativa latino-americana?

Pablo Rocca: Primero la mayor proyección atañe a las cuentas bancarias de los beneficiados por esos clientes-lectores que, a su vez, son estimulados a consumir sus obras como cualquier otro producto. Segundo, el mercado ofrece todo y promueve poco, así que en lugar de arrastrar a otros escritores a espacios de consideración, los oculta o le deja muy poco margen de movimiento a alguno que otro.

Algo muy diferente pasó en los años sesenta cuando la lectura ocupó su última posición ventajosa en diálogo con el cine, la música, las artes visuales y, sobre todo, con sociedades (en España, en América) atravesadas por la idea del cambio. Ahora, reina la obsesión del cambio, pero de automóvil o de teléfono celular. Mientras tanto, las mayorías de asalariados que apenas tienen para sobrevivir (no hablemos de las legiones que están fuera de todo) vuelven a sumirse en otras formas del analfabetismo. Para ellos, con suerte, planes de asistencia electrónica. Nada o poco de bibliotecas, pocos o ineficaces programas de libros populares que en los años sesenta fomentaron la lectura, como lo hizo mejor que nadie el Centro Editor de América Latina, dirigido por Boris Spivacow en Buenos Aires, pero que tuvo un altísimo alcance regional.

Entrevistadores: Como abordar fenômenos como o de Daniel Alarcón, peruano radicado nos EUA, que publica romances em inglês e que se considera “um latino-americano que escreve em inglês e um americano que escreve sobre a América Latina”?

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Pablo Rocca: La vida de los textos, los autores y los lectores está atravesada, cada vez más, por un sinnúmero de preocupaciones y sistemas semióticos que los alejan del imperio de la letra, tal como podía concebirse en la modernidad en que nuestros estados nacionales fueron diseñados. Al fin y al cabo, una literatura como la americana nació como expresión de una lengua nacional que, en verdad, era un acervo compartido y hoy se ha vuelto un campo de experimentación o un campo minado o un campo de prueba desde la superficie de una lengua. Lo mejor que se puede pedir, insisto, es que los textos nuevos se reconozcan en la tradición crítica, es decir que quienquiera que sea, y donde esté, escriba guiado por el imperativo de la creación antes que por el cualquier otro, sin que olvide que el texto participa de la historia de una colectividad y que, siempre, puede transformar al individuo que la integra.