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Frutas do Brasil, 33 Melão Produção
"EXIGENCIAS DECLIMA E SOLO,E EPOCA DE PLANTIO
INTRODUÇÃO
As condições ambientais que favo-recem o cultivo do meloeiro estão re-lacionadas com fatores climáticos, tempe-ratura, umidade relativa e luminosidade,além de fatores edáficos como textura,umidade e profundidade do solo e topogra-fia. Não menos importante é a influênciadas condições ambientais no florescimen-to e ria frutificação do meloeiro, principal-mente quanto ao tipo de flores e à eficiênciana atividade de insetos polinizadores.
Alta luminosidade - cerca de3.000 horas/ano -, baixos índices pluvio-métricos durante a maior parte do ano«600 mm), baixa umidade relativa e ainexistência da mosca-da-fruta permi-tem produzir o melão quase o ano intei-ro. Essas condições, que são desfavorá-veis à pragas e doenças, permitem maiorprodução e frutos com elevado teor desólidos solúveis (Gurgel et al., 2000). Omeloeiro não tolera ventos frios e geada.
Os processos da fotossíntese e datranspiração, responsáveis pela produ-ção e pelo uso de água da planta, depen-dem das condições ambientais e das ca-racterísticas da planta (Campbell, 1977).Por exemplo, em dias quentes, ensolara-dos e secos, uma folha pode trocar 100%de seu teor de água com a atmosfera, emapenas 1 hora (Taiz & Zeiger, 1991).
As condições climáticas são, por-tanto, importantes fatores para a esco-lha da cultivar mais adaptada à região e
Henoque Ribeiro da S i/vaNivaldo Duarte CostaOsmar Alves Carrijo
da melhor época de plantio, bem comopara o cálculo da evapotranspiração edo coeficiente de cultivo da cultura.
Quanto aos fatores edáficos, solosprofundos, leves, ricos em matéria orgâ-nica, planos e com boa exposição ao sol,são condições favoráveis ao desenvolvi-mento e à produção do meloeiro. Porexemplo, um dos principais pólos defruticultura irrigada da Região Nordestee do Brasil está instalado em áreas irriga-das de Mossoró-Açu, no Estado do RioGrande do Norte, em solos arenosos,com mais de 3.000 horas de exposiçãosolar por ano, de fácil manejo, de excelen-te drenagem e apropriados ao sistema deirrigação por gotejamento.
CLIMA
Temperatura
Entre os fatores climáticos que afetamdiretamente a cultura do meloeiro, o princi-pal é a temperatura,tanto a do ar quanto a dosolo, por influenciar desde a genninação desementes até a qualidade final do fruto e suaconservação pós-colheita, apresentando fai-xas ótimas nos diferentes estádios fenológi-coso
Segundo Filgueira (2000), em regiõesbrasileiras de clima semi-árido, quente eseco, os frutos apresentam teor de açúcar(OBrix)elevado, além de sabor agradável,mais aroma e maior consistência, caracte-rísticas importantes para a comercializa-
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Melão Produção
ção, principalmente para a exportaçãoe a conservação pós-colheita do melão.
Germinação de sementes
A temperatura ótima (35°C) se situaentre os extremos de 15°C e 4O"C.Abaixo de15°C, a germinação não ocorre e acima de40°C, ela é prejudicada (Edelstein & Kigel,1990; Brandão Filho & Vasconcellos 1998;Sousa et ai, 1999b).Estudos mostram que hádecréscimo na porcentagem e na velocidadeda germinação com redução da temperatura(Tabela 4). Mostram, ainda, que o uso decobertura do solo (mu!chinj) favoreceo aumen-to da germinação e a emergênciadas plântulas(Akiyoshi et ai, 1994).
Crescimento vegetativo
Em temperaturas abaixo de 12°C,o crescimento vegetativo é paralisado eacima de 40°C, é prejudicado. A faixaótima de temperatura para melhor cres-cimento e produção durante todo ciclode desenvolvimento do meloeiro situa-se entre 25°C e 35°C. Sob baixas tempe-raturas (15°C-20°C), a ramificação domeloeiro é afetada resultando em plan-tas pouco desenvolvidas (Ohara et al.,2000). Plantios em regiões com tempe-ratura abaixo da faixa ótima têm o perí-odo de colheita estendido (Sousa et al.,1999b). Entretanto, para estas regiões epara aquelas onde ocorre excesso deprecipitação, o uso do cultivo protegido
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é uma alternativa viável (Factor et. al.,2000), principalmente para o cultivo demelões do tipo rendilhado para o merca-do interno e de exportação. Com relaçãoao desenvolvimento de radicelas, a tem-peratura do solo ideal situa-se em 34°C,com extremos de 13°C e 40°C. A cober-tura do solo é uma técnica de cultivo quemantém elevada a temperatura do solo,induzindo ao crescimento vigoroso e àprodução de frutos de boa qualidade(Akiyoshi et al., 1994).
Florescimento
o meloeiro apresenta quatro tiposde flores: andromonóica (masculina), gi-nomonóica (feminina), monóica (sexosdiferentes em flores distintas) e herma-frodita (sexos diferentes na mesma flor).As flores masculinas surgem bem maiscedo e em maior número do que as femini-nas ou hermafroditas, numa razão médiade 20:1 (Brandão Filho & Vasconcellos,1998). Temperaturas elevadas, acima de35°C, estimulam a formação de flores mas-culinas que também sofrem influência deoutros fatores ambientais como água, luz enutrientes, especialmente o nitrogênio (pe-drosa, 1999). Temperaturas noturnas pró-ximas de 25°C e diurnas de 25°C induzema emissão de flores hermafroditas, enquan-to que temperaturas noturnas elevadas se-guidas de temperaturas matinais mínimasacima de 28°C, podem induzir o aborta-mento de flores (Zapata et al., 1989). Alémda influência das condições climáti-
Tabela 4. Efeito da temperatura no germinação e tempo para emergência de plóntulasde melão. ,
Temperatura (ºC)
101520253035
40
Germinação (%)
O4297
10098
100
99Fonte: Brondõo Filho & Vosconcellos (1998).
Tempo (dias)
7,54,02,02,02,02,0
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cas no processo de flores cimento domeloeiro, a presença de agentes polini-zadores, principalmente as abelhas, éimportante tanto para o aumento deprodutividade quanto para o aumentodo número de frutos com qualidadecomercial. A abertura das flores (antese)ocorre no período da manhã e no inícioda tarde (Marr, 1994) e a viabilidade dopólen dura apenas algumas horas. As-sim, fatores que afetam a atividade des-ses insetos também afetam a poliniza-ção do meloeiro. Ma et al. (1996) obser-varam que existe alta correlação entregerminação do pólen e taxa de desenvol-vimento do tubo polínico e a tempera-tura, permitindo a produção de semen-tes. A eficiência da polinização dependeda atividade dos insetos polinizadores, oque ocorre na faixa ótima de temperatu-ra entre 28°C e 30°C. No meloeiro, opólen produzido está aderido a uma massapegajosa, dificultando a sua dispersãopelo vento. Somente flores hermafrodi-tas e femininas vão desenvolver frutos.Polinização deficiente resulta em frutosmal formados ou pouco desenvolvidos(Marr, 1994). Pedrosa (1999) relata resul-tados de pesquisas nos Estados Unidosque determinaram que oito colônias deabelhas por hectare são necessárias paraobter uma boa produção, tanto quanti-tativa quanto qualitativa. Porém, aspulverizações contra insetos-praga de-vem ser concentradas no período datarde quando as flores estão fechadas e osinsetos polinizadores estão inativos.
Luminosidade
A fonte de energia radiante inciden-te nas plantas provém do sol, da atmos-fera, do solo e dos elementos da própriaplanta (Campbell, 1977).
A duração e a intensidade luminosasão fatores decisivos a serem considera-dos na escolha da área para o cultivo domeloeiro. A redução da intensidade lu-minosa ou o encurtamento do períodode iluminação têm influência negativa
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no crescimento da planta com reduçãoda área foliar. Sob baixa intensidade lu-minosa (240 mmol.mê.s'), a ramificaçãodo meloeiro é afetada, resultando emplantas com ramas pouco desenvolvidas(Ohara et al., 2000). A característica deencurtamento de ramos mostrou-se rela-tivamente insensível ao comprimentodo dia, na faixa de 12 a 14 horas (Ohara etal., 2000). Por outro lado, dias longos teminfluência positiva no desenvolvimentoda folhagem e na emissão de flores mascu-linas (pedrosa, 1995; Sade, 1996).
Os fatores que afetam a fotossíntese- síntese de substâncias orgânicas median-te a fixação do gás carbônico do ar atravésda ação da radiação solar - e a transpiração- processo de perda de água da superfícieda planta - afetam diretamente a produ-ção e a qualidade de frutos do meloeiro.Estudos mostram que o comprimento deonda de 675 nm e intensidade luminosabaixa é a combinação mais eficiente fotos-sinteticamente para as folhas do meloei-ro; por outro lado, se a intensidade lumi-nosa é alta, o comprimento de onda de 550nm é mais eficiente (Ransmark, 1995).
Cohen et al, (1999) estudaram adistribuição da luminosidade e a estru-tura do dossel em cultivo protegido demelão cantaloupe e verificaram a pre-dominância da radiação difusa interna-mente, com a cultura absorvendo de 35%a 45% da radiação global externa. Obser-varam ainda que o peso do fruto, toma-do de forma isolada, estava relacionadode maneira direta com a absorção deradiação por plantas individualmente.
Portanto, é recomendável o plantiodo meloeiro em regiões que apresentemexposição solar na faixa de 2.000 a 3.000horas/ ano para a obtenção de sucesso noagronegócio desta hortaliça.
Umidade relativa
A umidade relativa do ar ótima parao meloeiro situa-se na faixa de 65% a 75%durante a fase de crescimento vegetativo(Brandão Filho & Vasconcellos, 1998).
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Melão Produção
Grande parte da região do semi-árido nor-destino do Brasil apresenta condições deumidade relativa dentro da faixa ótimadurante todo o ano, favorecendo a produ-ção de frutos de melão com alto teor deaçúcares.
Em contrapartida, regiões com al-tos índices pluviométricos, elevadaumidade relativa do ar por períodosprolongados e excesso de umidade dosolo dificultam, ou até inviabilizam, ocultivo' do meloeiro, principalmente,pela falta de resistência foliar a doençase pelo efeito deletério de chuvas naqualidade de frutos (Elmstrom & May-nard, 1992; Marr, 1994).
CONDiÇÕES DE SOLO
Textura do solo
o meloeiro necessita, para umbom desenvolvimento, de solos levese soltos, profundos, com boa drena-gem, textura franco-arenosa a areno-argilosa e, sobretudo, que permitam oestabelecimento do sistema radicular e ainfiltrabilidade da água - taxa de infiltra-ção da água quando esta, sob a pressãoatmosférica, está disponível na superfíciedo solo (Sousa et al., 199%; Hillel, 1982).
Solos argilosos, em geral, não sãorecomendados para o cultivo do meloei-ro (ver item 8.5 - Nutrição e Adubação)para informações mais detalhadas sobrea textura do solo). Contudo, para estessolos, o cultivo pode ser viabilizadopelo plantio em camalhões. Esta práticaproporciona boa drenagem e condiçõesfavoráveis de oxigenação na região dasraízes, evitando-se, assim, os efeitos ad-versos da superfície saturada na sanida-de e qualidade dos frutos.
A incorporação de calcário e dematéria orgânica contribui para a me-lhoria das condições físicas do solo comoaeração e estruturação, melhor reten-ção de umidade, rápida formação de
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nitratos na zona radicular, disponibili-dade de micronutrientes e melhor dis-tribuição de raízes, permitindo maiorprodução e' melhor qualidade de fru-tos (Brandão Filho & Vasconcellos,1998; Segura et al., 1999).
Umidade do solo
o meloeiro é uma planta conside-rada pouco exigente em umidade dosolo, mas necessita de suprimento ade-quado para seu pleno desenvolvimen-to vegetativo. Menores rendimentossão obtidos em condições de déficithídrico. Contudo, é importante frisarque tanto a falta quanto o excesso deumidade podem ser prejudiciais.
Excesso de umidade do solo cau-sado por chuvas ou manejo inadequa-do da irrigação favorece a proliferaçãoe a disseminação de doenças na culturaque afetam a qualidade de frutos pró-ximo da maturação. Os melões produ-zidos tanto sob excesso quanto déficitde umidade são pequenos e de saborinferior, geralmente com baixo teorde açúcares devido, sobretudo, à que-da de folhas causada por doenças. Po-dridão de encosto é, em geral, causadapelo contato do fruto com o solo satu-rado e, por vezes, associado a ferimen-tos oriundos da virada do fruto oudanos por insetos que facilitam a en-trada de fungos e bactérias, principaisagentes da podridão. Nesse caso, deve-se evitar irrigar em excesso durante amaturação do fruto e promover con-dições de drenagem adequada por meiodo plantio em camalhões e, também,proteger a base do fruto com palha. Oexcesso de umidade pode, ainda, cau-sar rachadura de frutos e perda doaroma em melão tipo Cantaloupe.
O manej o de água na cultura domeloeiro e critérios para a manuten-ção adequada da umidade do solo serãoabordados no capítulo sobre irrigaçãodeste manual.
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Profundidade do solo
As raizes do meloeiro se desenvol-vem até a extensão das ramas e podematingir até 1,2 m de profundidade. Contu-do, a profundidade efetiva do sistema radi-cular situa-se nos primeiros 30-50 em dasuperfície. Para atingir altas produtivi-dades, é importante que fertilizantes eágua de irrigação sejam fornecidos nessaprofundidade de solo. Entretanto, mes-mo em solos rasos é possível o cultivo domeloeiro, principalmente com irriga-ção por gotejamento, que limita o de-senvolvimento de raízes dentro de umbulbo molhado.
Outros aspectos da cultura, como aprofundidade efetiva de raízes, a profun-didade de incorporação de fertilizantese matéria orgânica, e a profundidade deplantio, serão abordados neste manual.
Topografia
O meloeiro prefere solos planos a semi-ondulados e de boa drenagem natural seme-lhante aos solos de textura arenosa queocorrem nas principais regiões produtorasda Região Nordeste do Brasil (Sousa et al.,1999b) e norte de Minas Gerais (Silvaet al.,2000). Pequenas áreas de plantio podem serconduzidas em solos de topografia maisacentuada, pelo plantio manual e, principal-mente, quando se dispõe de irrigação porgotejamento com emissores autocompen-
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santes. Em ambos os casos, o preparo dosolo e o plantio devem ser feitos obedecen-do a curvas de nível como prática conser-vacionista de controle de erosão.
ÉPOCA DE PLANTIO
A época de plantio mais adequada éaquela em que, durante todo o ciclo dacultura, ocorrem as condições climáticasfavoráveis. Em diferentes regiões, essas con-dições podem acontecer em épocas dife-rentes do ano, de acordo com sua localiza-ção e altitude. Em geral, nas regiões declima frio, o plantio do melão é feito deoutubro a fevereiro; nas de clima ameno, deagosto a março, e nas regiões de climaquente, durante o ano todo. Como exem-plo, na região do Submédio do Vale do SãoFrancisco, o plantio do melão pode serfeito durante o ano todo, porém, devem serevitadas as épocas de chuvas intensas.
Além dos fatores climáticos, é impor-tante considerar a variação estacional depreços do produto no mercado interno,bem como observar as janelas de exporta-ção, no momento da escolha da época deplantio. Os plantios realizados de dezem-bro a abril apresentam produtividade redu-zida em conseqüência, principalmente, doexcesso de chuvas que favorece a ocorrên-cia de doenças foliares e de frutos.É, entretanto, nesta época que o melãoobtém os melhores preços, registrando-seas melhores cotações de março a julho.A Fig. 1 ilustra a variação estacional de
-- índice de preço (R$ 0,728 kg)- Volume comercializado (média 3,173tJmês)
índice estacional médio
Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fig.l. índices estocionois de comerciolizoção no Ceogesp no período de 1991 o 1995.
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Melão Produção
preços no maior mercado de hortifruti-granjeiros do Brasil, a Ceagesp, no períodode 1991 a 1995.
Outro aspecto importante no esta-belecimento da melhor época de plan-tio é ~ janela de exportação (outubro afevereiro) observada no período de en-tressafra de outros países. Por exemplo,a janela de exportações da Maisa - Mos-soró Agro-Industrial, S.A. - (maiorprodutora de melão do Brasil), começacom o declínio de oferta do melão Espa-nhol (setembro a abril), responsável peloabastecimento anual de mais de 65% domercado europeu (Dias et al., 1998;
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Gomes, 1999). Inicialmente, os preçosobtidos são baixos em razão da comer-cialização de :restos de produção domelão Espanhol e da baixa qualidade dasprimeiras exportações brasileiras. Ain-da segundo Gomes (1999), há uma quedade preços a partir de janeiro/fevereirocom a entrada no mercado europeu demelões provenientes de Honduras eCosta Rica. Já a janela de exportaçãopara o mercado dos Estados Unidosocorre de dezembro a fevereiro, coinci-dindo com o fun de safra da Califórniae em razão de barreiras fitos sanitárias etarifárias protecionistas.