dto constitucional 2 semestre

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II SEMESTRE Direitos Fundamentais e Direitos, Liberdades e Garantias O professor Jorge Miranda considera direito fundamental toda a posição jurídica subjectiva das pessoas, enquanto consagrada na lei fundamental. Nesta noção de pessoas incluiremos as pessoas singulares e as instituições, considerando-se que os direitos fundamentais podem surgir tanto por via formal, como por via material. Direitos fundamentais em sentido formal correspondem a todos aqueles que se encontram expressos como tal na CRP, ou seja, é a própria lei fundamental que classifica um determinado direito como fundamental. Direitos fundamentais em sentido material resultam da sua própria essência da Constituição, podendo ultrapassar o número de direitos fundamentais formalmente expressos na CRP, já que também se constituem por força do direito natural e por força de direitos resultantes dos acordos internacionais, como por exemplo a Declaração Universal dos Direitos do Homem (artº 16º, nº 2 da CRP). Os direitos fundamentais em sentido material correspondem essencialmente aos não declarados, estabelecidos ou atribuídos pelo legislador constituinte, e são resultantes do espírito dominante na CRP, do sentimento jurídico colectivo e da própria ideia de direito existente naquele momento. Assim, consideramos como direitos fundamentais, alguns que o são por força do direito natural, como por exemplo, o apelo ao valor e à dignidade da pessoa humana , ou quaisquer outros, que não estando expressos na CRP, lhe estarão subjacentes. Segundo o prof. Jorge Miranda, devemos distinguir e agrupar os direitos fundamentais em diversas categorias: 1) Entre direitos fundamentais individuais e institucionais Os direitos fundamentais individuais correspondem àqueles que podem ser invocados por pessoas singulares ou por cada cidadão, como por exemplo o direito à vida e o direito à igualdade.

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II SEMESTRE

Direitos Fundamentais e Direitos, Liberdades e Garantias

O professor Jorge Miranda considera direito fundamental toda a posio jurdica subjectiva das pessoas, enquanto consagrada na lei fundamental.

Nesta noo de pessoas incluiremos as pessoas singulares e as instituies, considerando-se que os direitos fundamentais podem surgir tanto por via formal, como por via material.

Direitos fundamentais em sentido formal correspondem a todos aqueles que se encontram expressos como tal na CRP, ou seja, a prpria lei fundamental que classifica um determinado direito como fundamental.

Direitos fundamentais em sentido material resultam da sua prpria essncia da Constituio, podendo ultrapassar o nmero de direitos fundamentais formalmente expressos na CRP, j que tambm se constituem por fora do direito natural e por fora de direitos resultantes dos acordos internacionais, como por exemplo a Declarao Universal dos Direitos do Homem (art 16, n 2 da CRP).Os direitos fundamentais em sentido material correspondem essencialmente aos no declarados, estabelecidos ou atribudos pelo legislador constituinte, e so resultantes do esprito dominante na CRP, do sentimento jurdico colectivo e da prpria ideia de direito existente naquele momento.Assim, consideramos como direitos fundamentais, alguns que o so por fora do direito natural, como por exemplo, o apelo ao valor e dignidade da pessoa humana, ou quaisquer outros, que no estando expressos na CRP, lhe estaro subjacentes.

Segundo o prof. Jorge Miranda, devemos distinguir e agrupar os direitos fundamentais em diversas categorias:

1) Entre direitos fundamentais individuais e institucionaisOs direitos fundamentais individuais correspondem queles que podem ser invocados por pessoas singulares ou por cada cidado, como por exemplo o direito vida e o direito igualdade.Os direitos fundamentais institucionais correspondem queles que so atribudos a determinados grupos, associaes ou comunidades, como por exemplo aqueles direitos que esto atribudos aos sindicatos (direito de participao no processo legislativo).

2) Entre categorias comuns e particularesNeste sentido poderemos encontrar direitos fundamentais atribuveis a todos os cidados ou apenas a alguns. Ao longo da CRP encontramos direitos fundamentais comuns, como a liberdade de conscincia, de religio e de culto, comuns a todos os cidados, e outros que so atribudos apenas a alguns cidados, como por exemplo aos jornalistas (art 38, n 2, al, b) ou aos deficientes (art 71).

3) Entre direitos fundamentais pessoais, sociais e polticos.Nesta categoria h que distinguir aqueles direitos fundamentais que so inerentes realizao individual do homem, daqueles que so direitos fundamentais sociais, pois encaram o homem enquanto elemento integrado numa sociedade civil, no mbito da qual estabelece relaes especficas, tais como relaes profissionais (art 47 da CRP), relaes de propriedade (art 62 da CRP).Diferente dos direitos fundamentais pessoais ou sociais so os polticos, que correspondem presena e s relaes de cidadania que o indivduo estabelece com a comunidade politica (liberdade de opinio e expresso politica, liberdade de formao de partidos polticos, etc.).

4) Entre direitos fundamentais materiais e procedimentaisNesta categoria, para alm da existncia ou consagrao de direitos fundamentais materiais, ou seja, de todos aqueles que correspondem noo j dada anteriormente, deve-se tambm considerar a existncia de direitos fundamentais que possibilitam que os aludidos materiais se tornem efectivos. Assim, como direitos fundamentais materiais pode-se indicar o direito de participao politica ou a liberdade de expresso, e como direitos fundamentais procedimentais pode-se indicar o direito de sufrgio ou o direito de formao dos partidos polticos.

O prof. Jorge Miranda distingue tambm direitos de garantias, sendo que expresso direitos associa a de liberdades, pois ambas se atribuem ao indivduo, ou seja, dizem respeito a previses que estabelecem o modo de realizao do indivduo, atribuindo-lhe um determinado bem.As garantias tm um carcter acessrio, porque resultam da prvia consagrao de um direito ou de uma liberdade, pretendendo apenas torn-las efectivas.

Ao direito vida corresponder a garantia da inexistncia de pena de morte. Ao habeas corpus correspondem as garantias dadas ao arguido e liberdade de expresso e informao corresponde a garantia de proibio de censura.

A CRP vigente consagra tambm direitos sociais, como por exemplo o direito habitao (art 65), o direito educao (art 73) e o direito cultura fsica e ao desporto (art 79).

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Os direitos fundamentais integram necessariamente dois princpios, o da Universalidade e o da Igualdade, de acordo com os quais os direitos fundamentais so atribudos a todos os cidados (universalidade), os quais tm os mesmos direitos e deveres (igualdade) Vd. art 12 da CRP.

A atribuio de direitos fundamentais envolve a correspondente atribuio de capacidade para o seu exerccio.

Em sede de direitos fundamentais, o gozo dos mesmos consiste na prpria capacidade de exerccio de cada cidado, no sendo transmissveis nem sequer delegveis.

Os direitos fundamentais, como alis a generalidade dos direitos, so primordialmente direitos das pessoas singulares. H, no entanto, que considerar a previso do art 12, n 2 da CRP, a qual alm de no equiparar as pessoas colectivas s pessoas singulares, condiciona a atribuio de qualquer direito fundamental s pessoas colectivas a uma prvia verificao da compatibilidade entre a natureza da pessoa colectiva e o contedo do direito fundamental.

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Os preceitos referentes aos direitos, liberdades e garantias tm particular relao com o princpio da separao de poderes polticos, quando se estabelece a sua tutela jurisdicional.A existncia de tribunais independentes do poder poltico, apenas sujeitos ao cumprimento das normas constitucionais e legais, permite uma garantia ou segurana acrescidas para o cidado, o qual pode recorrer, para os tribunais, das decises ou actos que violem ou prejudiquem um seu direito fundamental.

Para alm da tutela jurisdicional, a cargo dos tribunais, poderemos encontrar outra forma de proteco jurdica, designadamente a tutela graciosa ou extrajudicial.A tutela graciosa ou extrajudicial exercida junto da administrao ou dos orgos polticos atravs de petio ou de impugnao.A petio ou garantia peticionria consiste no direito de solicitar a interveno ou a mera ateno de orgos com competncia para tal, tendo em vista a resoluo de actos ilegais ou injustos que afectam um direito.No mbito do direito de petio poderemos destacar o papel do provedor de justia (art 23 da CRP), o qual pode receber queixas dos cidados, instruir ou aperfeioar as peties, e interceder junto do orgo em causa, no sentido do respeito dos direitos afectados.

As garantias impugnatrias consistem num modo de reaco dos cidados, que requerem, dessa forma, a modificao ou a revogao de actos que desrespeitam o seu direito fundamental. Neste mbito, os administrados vo necessariamente mais longe, podendo, junto da administrao, por exemplo em recurso hierrquico, suscitar a revogao do acto que violou o seu direito fundamental.

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Nos termos do art 18 da CRP (que estabelece o regime jurdico dos direitos, liberdades e garantias), os preceitos constitucionais dos direitos, liberdades e garantias so directa e imediatamente aplicveis, vinculando as entidades pblicas e privadas.

Os preceitos constitucionais dos direitos, liberdades e garantias tambm no constituem matria de reviso constitucional.

Com efeito, o art 18, n 1 da CRP corresponde a uma norma essencial para a aplicao dos direitos fundamentais, na medida em que estes podero ser invocados, respeitados ou aplicados por qualquer cidado, apenas com base neste preceito e, portanto, sem necessidade de qualquer regulamentao especfica, consubstanciando-se assim tambm o carcter instrumental do art 18.

O art 18, n 1 da CRP estabelece tambm que estes preceitos constitucionais so aplicveis a entidades pblicas e a entidades privadas, sujeitando assim expressamente ao contedo dos direitos, liberdades e garantias, as relaes ou actos estabelecidos entre privados e entre os particulares e a administrao.

O art 17 da CRP estabelece que o regime jurdico dos direitos, liberdades e garantias consagrado no art 18 da CRP aplica-se tambm aos direitos fundamentais de natureza anloga, como, por exemplo, os consagrados nos arts 268 e 269 da CRP (referentes Administrao Pblica).Organizao do Poder Politico

Processo Legislativo

A lei corresponde manifestao da vontade do colectivo, no sentido da satisfao das necessidades colectivas, sejam estas de segurana ou outras.Por outro lado, a lei constitui um modo de limitao da actuao de todos os membros de uma comunidade, sejam eles entidades pblicas, entidades privadas, pessoas singulares ou pessoas colectivas, dai resultando o carcter geral e abstracto da norma jurdica, a par da sua relevncia nas relaes jurdicas estabelecidas entre os membros de um sociedade.

O processo legislativo, ou seja, o conjunto de actos ou procedimentos tendentes elaborao e aprovao da norma, poder ser realizado por um nico rgo ou pelo concurso de um conjunto de orgos, sendo estes soberanos ou no (no caso portugus,as regies autnomas, que no so orgos de soberania, podem participar no processo legislativo, atravs das assembleias legislativas repectivas).

Se Monstesquieu consagrava uma separao rgida entre o poder legislativo e os demais e Rosseau limitava o processo legislativo a um nico rgo, as constituies do sec. XX promoveram gradualmente um princpio de colaborao e controle entre os orgos que participam no processo legislativo.

A Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 consagrou, conforme j visto, a existncia de 5 orgos de soberania: a Presidncia da Repblica, a Assembleia da Repblica, o Governo, o Conselho da Revoluo e os Tribunais. Qualquer um destes 5 orgos podia participar no processo legislativo, na medida em que lhe era conferida a possibilidade de influenciar a elaborao de um novo acto legislativo.

De facto, ao Conselho da Revoluo, a par da competncia legislativa em matria militar, era atribuda a capacidade de fiscalizao da constitucionalidade dos actos legislativos da Assembleia da Repblica ou do Governo da Repblica. Esta ltima capacidade foi atribuda, aps a primeira reviso constitucional (ocorrida em 1982), ao Tribunal Constitucional.

A Assembleia da Repblica detinha a competncia legislativa por excelncia, ou seja, a par do poder constituinte derivado que lhe estava atribudo, possua reserva absoluta de competncia legislativa para determinadas matrias e reserva relativa para outras matrias.

Ao Governo da Repblica, para alm da competncia de iniciativa legislativa, era atribuda competncia para legislar em matria delegada e em matria concorrencial, a par da sua competncia legislativa exclusiva em matria da sua organizao interna.

O Presidente da Repblica, enquanto detentor do poder moderador, poderia sancionar as leis, as quais s passariam a produzir efeitos, depois de verificadas, aceites e promulgadas por ele.

Se o processo legislativo partilhado por diversos orgos, tambm a competncia legislativa, isto , a capacidade para elaborar e aprovar um acto legislativo, o poder ser.

Com efeito, em Portugal, a competncia legislativa encontra-se atribuda a dois orgos, designadamente Assembleia da Repblica e ao Governo, muito embora s Assembleias Legislativas das Regies Autnomas seja reconhecida a possibilidade de aprovao de actos legislativos (art 112, n 1 e 228 e sgs. da CRP).Verifica-se assim que a competncia legislativa j no exclusiva dos orgos de soberania (art 110 da CRP).

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Competncia Legislativa da Assembleia da RepblicaA CRP atribui Assembleia da Repblica a competncia legislativa para um conjunto de matrias sobre as quais nenhum outro rgo pode legislar, como o caso da competncia de reviso constitucional (art 284 da CRP), bem como a aprovao de actos legislativos sobre as matrias contidas no art 164 da CRP.

A par da competncia legislativa absoluta, a CRP consagra um conjunto de matrias que embora sendo da exclusiva competncia da Assembleia da Repblica, esta pode delegar no Governo da Repblica (art 165 da CRP). Estas matrias, apesar da sua relevncia, no tm tanta necessidade de proteco.

De facto, a reserva de competncia absoluta da A.R. resulta da necessidade sentida pelo legislador constituinte de salvaguardar um conjunto de matrias que devero ser discutidas e aprovadas por um rgo do tipo assembleia, onde participem uma multiplicidade de partidos polticos, situao que mais dificilmente se verificar num rgo que, embora colegial, no promove a mesma discusso, e que, em regra, no constitudo por membros de todos os partidos polticos com expresso parlamentar, como o caso do Governo da Repblica.

O art 161, al. c) da CRP estabelece que, salvaguardadas as matrias reservadas pela CRP ao Governo, a Assembleia da Repblica pode fazer leis sobre todas as matrias, materializando-se assim a competncia concorrencial da A.R.Com efeito, a CRP confere, tanto Assembleia da Repblica como ao Governo, competncia para legislar, no entanto, como bvio, no consagra nem prev todas as matrias existentes na nossa sociedade, pelo que, para alm das matrias expressamente atribudas Assembleia da Repblica ou ao Governo, existem outras sobre as quais quer a Assembleia da Repblica, quer o Governo, podem legislar.

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Competncia Legislativa do Governo da RepblicaO Governo, semelhana da A.R., tambm tem 3 planos de competncia legislativa, designadamente a competncia absoluta, a competncia delegada (pela A.R.) e a competncia concorrencial.

A competncia legislativa absoluta do Governo da Repblica aquela que diz respeito sua prpria organizao e funcionamento (art 198, n 2).

O Governo pode tambm legislar sob a forma delegada, mediante prvia autorizao da Assembleia da Repblica, em matria da competncia relativa desta.Com efeito, a Assembleia da Repblica, com base numa proposta de lei do Governo, aprova uma lei de autorizao legislativa, nos termos do art 165, n 2 da CRP, a qual permitir ao Governo elaborar e aprovar um Decreto-Lei (art 198, n 1, al. b) da CRP).

O Governo possui ainda competncia legislativa concorrencial, podendo elaborar e aprovar actos legislativos sobre todas as matrias que no estejam expressamente atribudas Assembleia da Repblica (art 198, n 1, al. a) da CRP).

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Competncia Legislativa das Assembleias das Regies AutnomasAps a reviso constitucional de 2004, para alm do Governo, tambm as regies autnomas, atravs das respectivas Assembleias Legislativas, podem legislar em matria da competncia relativa da Assembleia da Repblica, mediante prvia autorizao desta (arts 227, n 1, al. b) e 232, n 1 da CRP).As Assembleias Legislativas das Regies Autnomas tambm podem legislar sobre matria concorrencial, isto , que no seja da exclusiva competncia da A.R. e do Governo (art 232 da CRP).

Tipo CompetnciaAssembleiaRepblicaGoverno RepblicaRegiesAutnomas

Competncia Absoluta164 e 284198, n 2

Competncia Relativa / Delegada165198. n 1, al. b)227, n 1, al. b) e 232, n 1

Competncia Concorrencial161, al. c)198, n 1, al. a)232

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Processo Legislativo na Assembleia da Repblica

O processo legislativo na Assembleia da Repblica distinto do processo legislativo correspondente no Governo, facto que naturalmente se compreende, desde logo at pelas matrias sobre as quais cada um dos orgos pode legislar.

A Assembleia da Repblica legisla sobre as matrias mais importantes, como as contidas na sua competncia absoluta (art 164 da CRP) e relativa (art 165 da CRP).Por outro lado, enquanto que a Assembleia da Repblica composta por 230 deputados, representantes de diversas foras politicas, o Governo da Repblica composto por membros que obedecem a um programa comum, so solidrios uns com os outros e, em regra, so da mesma fora ou rea politica.

O processo legislativo da Assembleia da Repblica, ou seja, o conjunto de actos tendentes elaborao e aprovao de um acto legislativo, pode implicar a participao da totalidade dor orgos de soberania.

A iniciativa legislativa poder caber no s a membros da Assembleia da Repblica (deputados e grupos parlamentares), como tambm a entidades estranhas Assembleia da Repblica, como o Governo, as Assembleias Legislativas das Regies Autnomas e at Grupos de cidados eleitores (art 167 da CRP).

Com efeito, a primeira fase do processo legislativo ao nvel da Assembleia da Repblica a da iniciativa, a qual se traduz no exerccio de uma competncia junto da Assembleia da Repblica, no sentido de desencadear um processo legislativo sobre matria da competncia da mesma. Esta iniciativa encontra-se prevista no art 167 da CRP, podendo ser realizada pelos deputados da Assembleia da Repblica (art 156, al. b) da CRP), pelos grupos parlamentares representados na Assembleia da Repblica (art 180, n 2, al. g) da CRP), pelo Governo da Repblica (art 197, n 1, al. d) da CRP), pela Assembleias Legislativas das Regies Autnomas (art 232, n 1 e 227, n 1, al. f) da CRP), e ainda por cidados eleitores em termos a definir em lei ordinria.

Designam-se propostas de lei os actos de iniciativa legislativa, apresentados por orgos externos Assembleia da Repblica (Governo e Assembleias Legislativas das Regies Autnomas), designando-se como projectos-lei os actos de iniciativa legislativa dos membros ou orgos da prpria Assembleia da Repblica, e tambm os actos de iniciativa legislativa dos cidados eleitores.

De acordo com o art 168 da CRP, os projectos ou as propostas de lei so sujeitos a duas discusses e trs votaes, a saber:

Uma primeira discusso na generalidade, na qual o plenrio da Assembleia da Repblica discute se ir promover o processo legislativo proposto, decidindo atravs duma votao na generalidade.

Caso seja aceite na generalidade, a proposta ou projecto discutida e votada na especialidade, havendo a considerar que nos termos do art 168, n 3 da CRP, os textos aprovados na generalidade sero discutidos e votados na especialidade pelas comisses temticas se o Plenrio da Assembleia da Repblica assim o tiver deliberado na votao na generalidade ocorrida anteriormente, sendo certo que a Assembleia da Repblica tem as comisses previstas no art 178 da CRP.Todavia, dispe tambm o art 168, n 3 da CRP que durante o processo de discusso e votao na especialidade em sede de comisses, a Assembleia da Repblica pode, a todo o tempo, avocar para si o processo legislativo.Com efeito, o Direito de Avocao traduz-se na capacidade atribuda a um rgo, de revogar um acto de delegao que previamente praticou, recuperando, por essa via, o poder que havia delegado.

Depois da discusso e votao na especialidade, segue-se uma votao final global, a partir da qual se consumar um acto da Assembleia da Repblica, o qual, depois de ser assinado pelo Presidente da Assembleia da Repblica, passar a ter a forma e a designao de Decreto da Assembleia da Repblica e dever ento ser enviado ao Presidente da Repblica.

O Presidente da Repblica, depois de receber o Decreto da Assembleia da Repblica, ter, por sua vez, de o promulgar, vetar ou requerer a fiscalizao preventiva da sua constitucionalidade (arts 136, n 1 e 278, n 1 da CRP), nos termos e condies seguintes.

O requerimento de fiscalizao preventiva da constitucionalidade dever ser apresentado num prazo de 8 dias aps a recepo do decreto, junto do Tribunal Constitucional, o qual tem, por sua vez, um prazo de 25 dias para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade ou no inconstitucionalidade do decreto, podendo, no entanto, esse prazo ser encurtado pelo Presidente da Repblica (art 278, ns 1, 3 e 8 da CRP).

Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade do Decreto, o Presidente da Repblica dever vet-lo (art 279, n 1 da CRP), podendo a Assembleia da Repblica responder a esse veto por uma de quatro formas:

Ou altera o Decreto adequando-o CRP.

Ou expurga o Decreto retirando-lhe os preceitos que foram declarados inconstitucionais.

Ou confirma o Decreto por deliberao realizada com a maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que essa maioria de 2/3 seja superior maioria absoluta dos deputados em efectividade de funes.

Ou desiste do processo legislativo.

Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela no inconstitucionalidade do Decreto ou se a questo da inconstitucionalidade nem sequer se colocar, o Presidente da Repblica tem o prazo de 20 dias para o promulgar ou vetar politicamente (art 136, n 1 da CRP), sendo seguro que os 20 dias so contados a partir da data da recepo do Decreto na Presidncia da Repblica, quer ele venha, consoante os casos, do Tribunal Constitucional ou da Assembleia da Repblica.

De acordo com o art 115, n 8 da CRP, o Presidente da Repblica deve obrigatoriamente requerer a fiscalizao preventiva da constitucionalidade dos actos respeitantes ao referendo, o que diferente do disposto no art 278, n 1 da CRP.

Se no se colocar a questo da inconstitucionalidade do Decreto da Assembleia da Repblica e se o Presidente da Repblica ao receb-lo no concordar com o mesmo, pode, no prazo de 20 dias, vet-lo politicamente (art 136, n 1 da CRP), porm, neste caso, o veto presidencial tem um efeito meramente suspensivo, j que nos termos dos ns. 2 e 3 do art 136 da CRP, a Assembleia da Repblica pode confirmar o seu Decreto e obrigar o Presidente da Repblica a promulg-lo. Porm, para que tal acontea, isto , para que a Assembleia da Repblica possa confirmar o seu Decreto dever primeiramente conhecer o motivo pelo qual o Presidente da Repblica o vetou, conforme disposto na parte final do n 1 do art 136 da CRP, condio obrigatria para o Presidente da Repblica que j no se verifica no veto poltico aos Decretos do Governo da Repblica, como adiante melhor se precisar (art 136, n 4 da CRP).

No sendo nem vetado por inconstitucionalidade nem vetado politicamente, o Decreto da Assembleia da Repblica dever ser promulgado pelo Presidente da Repblica, pois a no promulgao implicar a inexistncia jurdica do Decreto (art 137 da CRP), podendo o rgo legislativo, neste caso a Assembleia da Repblica, dar incio a um novo processo legislativo, sendo por isso que se afirma que no nosso ordenamento jurdico no existe veto de gaveta ou veto de bolso.

Para alguns autores, o veto poltico e o veto por inconstitucionalidade correspondem, para alm de actos de censura, a modos de defesa do Presidente da Repblica para que este no assuma qualquer responsabilidade pelo Decreto da Assembleia da Repblica.

A Promulgao no , no entanto, um acto de ratificao ou aprovao, mas apenas a aposio da concordncia ou adeso do Presidente da Repblica ao acto de um outro rgo, pelo que dificilmente se poder afirmar que o Presidente da Repblica pode ser responsabilizado por um Decreto por si promulgado.

Promulgao do Presidente da Repblica, segue-se a referenda ministerial (art 140 da CRP), a qual corresponde ao acto de conhecimento pelo Governo da Repblica dos actos legislativos promulgados pelo Presidente da Repblica.

A referenda ministerial, embora a constituio no o preveja expressamente, dever ser realizada com a assinatura do Primeiro-ministro (responsvel pela poltica do governo) e a assinatura do(s) ministro(s) competente(s) em razo da matria. A falta de refenda ministerial implicar a inexistncia jurdica do acto (art 140, n 2 da CRP).

Vimos at aqui que o processo legislativo pode passar por todos os orgos de soberania e at passar por orgos que no so de soberania.

Concluda a explicao das fases do processo legislativo da Assembleia da Repblica, vejamos de seguida as fases do processo legislativo do Governo da Repblica.

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Processo Legislativo no Governo da Repblica

O processo legislativo no Governo da Repblica inicia-se com a apresentao, por parte de um dos membros do Conselho de Ministros, de um projecto de decreto-lei (art 200, n 1, al. d) da CRP), o qual, aps aprovao, ser assinado pelo Primeiro-ministro e pelos ministros competentes em razo da matria (art 201, n 3 da CRP) e enviado ao Presidente da Repblica para promulgao (art 136, n 4 da CRP).

Perante um Decreto do Governo, o Presidente da Repblica poder requerer a sua fiscalizao preventiva da constitucionalidade, vet-lo politicamente ou promulg-lo.

A fiscalizao preventiva da constitucionalidade requerida junto do Tribunal Constitucional (art 278, n 1 da CRP) sendo certo que se este orgo se pronunciar pela inconstitucionalidade do decreto, o Governo, para ultrapassar a situao, poder realizar os mesmos actos que a Assembleia da Repblica realiza nas situaes semelhantes, excepo da confirmao do Decreto, isto , o Governo apenas pode alterar o Decreto adequando-o CRP, ou Expurgar o Decreto retirando-lhe os preceitos que foram declarados inconstitucionais, ou ainda Desistir do processo legislativo.

Se o Presidente da Repblica pretender vetar politicamente um Decreto do Governo, poder faz-lo no prazo de 40 dias a partir da data da recepo do mesmo (art 136, n 4 da CRP), no podendo o Governo vir a confirmar o seu Decreto, querendo isto dizer que os vetos polticos do Presidente da Repblica sobre os Decretos do Governo tm efeito absoluto, pois implicam a imediata rejeio dos mesmos, sem possibilidade de reapreciao, aprovao ou confirmao por parte do Governo.

Fiscalizao sucessiva da constitucionalidade

Enquanto lei fundamental e seguindo o pensamento de Kelsen, a CRP consagra dois meios ou modos de garantia do seu contedo, estabelecendo formas de controlo da constitucionalidade de actos legislativos publicados. Teremos assim a fiscalizao sucessiva da constitucionalidade das normas, a qual surge aps a publicao do acto legislativo em Dirio da Repblica.

A fiscalizao sucessiva da constitucionalidade pode ser abstracta ou concreta, consoante esteja em causa um mero confronto entre a CRP e a lei ou um recurso de uma deciso de um tribunal que se pronuncie sobre a conformidade ou desconformidade da lei face CRP.

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A fiscalizao sucessiva abstracta pode ser desencadeada por qualquer um dos orgos referidos no n 2 do art 281 da CRP. Assim, aps a publicao da norma, qualquer um desses orgos pode requerer ao Tribunal Constitucional que verifique da sua conformidade ao teor da CRP.

Este modo de fiscalizao pois objectiva, na medida em que se limita relao entre dois actos legislativos.

A fiscalizao sucessiva abstracta tem fora obrigatria geral (art 281, n 1 da CRP).

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Na fiscalizao sucessiva concreta recorre-se de uma deciso de um tribunal.

O recurso para o Tribunal Constitucional, de acordo com o art 280 da CRP, facultativo, s podendo ser realizado por quem tenha arguido a inconstitucionalidade da norma aplicada na deciso que lhe foi anteriormente desfavorvel (art 280, n 4 da CRP).

Este recurso ser, no entanto, obrigatrio para o Ministrio Pblico se a deciso do tribunal defender a inconstitucionalidade de norma constante de conveno internacional, acto legislativo ou decreto regulamentar (art 280, n 3 da CRP), ou, se a deciso do tribunal se basear em norma j anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo Tribunal Constitucional (art 280, n 5 da CRP).

Nos termos do n 3 do art 281 da CRP, o Tribunal Constitucional declara, com fora obrigatria geral, a inconstitucionalidade ou ilegalidade de qualquer norma que tenha sido por ele julgada inconstitucional ou ilegal em trs casos concretos.

Os efeitos da declarao de inconstitucionalidade com fora obrigatria geral so os estabelecidos no art 282 da CRP.

Reviso Constitucional

A consagrao do modo de reviso constitui um dos elementos mais importantes para a manuteno dos princpios que integram determinado texto constitucional, pelo que, no momento da elaborao inicial, dever haver particular ateno ao modo ou possibilidade de alterao do seu contedo.

O Poder constituinte poder ser originrio ou derivado, correspondendo o originrio quele que assumido por uma determinada comunidade poltica que se pretende auto-limitar pela primeira vez, e o derivado quele que ocorre quando a prpria ordem jurdica prev a possibilidade de alterao ou reviso do texto constitucional.

A Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 foi elaborada por uma Assembleia Constituinte eleita em 25 de Abril de 1975, a qual desenvolveu, com base nas novas plataformas constitucionais e nos programas apresentados pelos partidos polticos em Junho de 1975, uma Constituio semi-rgida, ou seja, uma lei fundamental que previa a sua prpria alterao, embora condicionada a alguns limites.

A reviso do texto constitucional ficou assim, desde logo, acautelada na verso original da Constituio, prevendo-se, aps a segunda plataforma constitucional, a possibilidade de alterao do texto constitucional por um nico orgo, depois de decorrido um prazo temporal mnimo considerado como essencial para a proteco do esprito da revoluo de 1974.Com efeito, no art 286 da verso original da CRP poder-se-ia ler que a Assembleia da Repblica teria poderes de reviso constitucional na sua segunda legislatura.

Em 1982, aps a primeira reviso constitucional, o art 286 passou a ter a redaco que hoje corresponde ao 284 da CRP, estabelecendo que a Assembleia da Repblica pode assumir competncia de reviso constitucional decorridos 5 anos sobre a ltima reviso.Esta disposio corresponde a um primeiro limite do poder de reviso (poder temporal), que, no entanto, pode ser excepcionado pelo disposto no n 2 do mesmo art 284 da CRP, que estabelece que a Assembleia da Repblica pode anunciar, a todo o tempo, um processo de reviso constitucional, desde que 4/5 dos deputados assim o deliberem.

Um segundo limite o da iniciativa, pois ao contrrio dos demais actos da Assembleia da Repblica, como vimos por exemplo no art 167, n 1 da CRP, a iniciativa da reviso constitucional s pode ser tomada pelos deputados Assembleia da Repblica (art 285, n 1 da CRP).

O processo de reviso constitucional , todo ele, exclusivo da Assembleia da Repblica, j que a iniciativa cabe exclusivamente aos deputados (art 285, n 1 da CRP), a aprovao da competncia da Assembleia da Repblica que delibera por maioria qualificada - 2/3 dos deputados em efectividade de funes (art 286, n 1 da CRP), sendo certo que o Presidente da Repblica tem obrigatoriamente de promulgar a correspondente lei de reviso constitucional (art 286, n 3 da CRP).

O art 288 da CRP consagra os limites materiais de reviso constitucional, pretendendo-se, deste modo, salvaguardar determinados princpios de uma futura lei de reviso constitucional.A existncia destes limites, como vimos anteriormente, no , por s s, uma garantia suficiente, na medida em eles prprios podero ser passveis de reviso (como defendem alguns autores, entre os quais o Prof. Dr. Jorge Miranda), e podero constituir apenas uma mera inteno programtica (como defendem outros autores, entre os quais o Dr. Andr Gonalves Pereira).

Por ltimo, a Constituio consagra no art 289 limites circunstanciais de reviso, estabelecendo aqueles momentos em que no pode ser aprovada qualquer lei de reviso constitucional, nomeadamente o Estado de Sitio e o Estado de Emergncia.

Regies Autnomas

De acordo com o art 6 da CRP Portugal um Estado unitrio onde encontramos tambm Regies como modo de representao e exerccio do poder poltico.

Assim, Portugal, sendo um Estado unitrio, integra, no entanto, regies autnomas, conforme previsto nos arts 6 e 225 e sgs. Da CRP.

O poder constituinte a maior expresso da soberania de um Povo, integrando-se no mesmo a capacidade ou possibilidade do Estado se dotar de estatuto jurdico prprio, isto , de se auto-organizar e auto-regular.

O Estado regional implica uma profunda descentralizao poltica e administrativa, a ponto de se atriburem s regies competncias que caberiam aos orgos de soberania. Todavia, o poder constituinte manter-se- necessariamente sempre junto dos orgos de soberania.

O conjunto de das atribuies e competncias das regies encontra-se definido num diploma prprio em regra denominado como Estatuto.

O Estado autonmico ter como caractersticas os seguintes aspectos:

O reconhecimento constitucional, pois a lei fundamental ter necessariamente que conter os preceitos essenciais respeitantes s regies e aos seus orgos.

O conceito de Estado torna-se ambivalente, pois a par do Estado soberano passar a existir um Estado enquanto comunidade, ou seja, ao instituir-se um conjunto de novas entidades (as regies) estas relacionar-se-o de um modo especfico com o Estado soberano.

A existncia de uma pluralidade de sujeitos no mbito do Estado, pois para alm deste e das regies autnomas esto consagrados os municpios e as freguesias.

A consagrao e respeito pelos princpios da independncia, coordenao e competncia nas diversas relaes estabelecidas com as regies autnomas.

A consagrao de regies autnomas implica um particular cuidado no respeito pelos seguintes princpios:

Princpio da constitucionalidade, de acordo com o qual todos os actos legislativos, regulamentares e outros dos orgos das regies autnomas devem obedincia CRP.

Princpio da unidade, de acordo com o qual a autonomia e o seu exerccio nunca podero pr em causa a unidade do Estado unitrio.

Princpio da autonomia, de acordo com o qual a atribuio de competncias s regies no fica subordinada ou dependente, na aplicao das leis, a instrues ou deliberaes de outras pessoas jurdicas.~

Princpio da solidariedade, de acordo com o qual deve haver uma reciprocidade de interesses e obrigaes entre todas as comunidades autonmicas e entre estas e o Estado.

Princpio da igualdade, de acordo com o qual as comunidades autnomas e os cidados que as integram so iguais no s perante a CRP e a lei, mas tambm perante toda a actuao do Estado.

Principio da cooperao, de acordo com o qual se consagra a exigncia de auxlio recproco e de troca de informao entre as regies e entre estas e o Estado.

Princpio da proibio de reunio das comunidades ou regies autnomas, de acordo com o qual as regies autnomas no podem unir-se ou organizar-se de forma a porem em causa a soberania nacional.

O Estado unitrio descentralizado pode ser parcial ou integralmente regional.

A Finlndia com a Alndia, a Dinamarca com as Ilhas Feroe e a Gronelndia, e a Ucrnia com a Crimeia constituem exemplos, tal como Portugal com os Aores e a Madeira, de Estados unitrios descentralizados e parcialmente regionalizados.

Em Portugal as atribuies e competncias das regies autnomas so definidas no estatuto poltico-administrativo de cada regio autnoma, em obedincia ao estabelecido nos arts 225 e segs. Da CRP.

A competncia para aprovao do estatuto poltico-administrativo das regies autnomas da Assembleia da Repblica (art 161, al. b) da CRP). Este estatuto reveste a forma de lei, conforme disposto no art 166, n 3 da CRP.

Assim sendo, a aprovao dos estatutos poltico-administrativos das regies autnomas realizada como qualquer outro acto legislativo, estando sujeitos s discusses e votaes previstas nos ns 1 e 2 do art 168 da CRP. No entanto, carecem de aprovao por maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior maioria absoluta dos deputados em efectividade de funes, as disposies desses estatutos que enunciem as matrias que integram o poder legislativo das regies autnomas (art 168, n 6, al. f) da CRP).

A iniciativa da reviso estatutria, ou seja, os projectos respeitantes alterao dos estatutos poltico-administrativos das regies autnomas cabe exclusivamente s assembleias legislativas das regies autnomas (art 226, n 1 da CRP).

Como j visto anteriormente, as regies autnomas possuem competncia legislativa (art 112, n 1 e 227 da CRP), sendo certo que essa competncia legislativa foi revista em 2004.

Com efeito, at essa reviso constitucional, os actos legislativos das Assembleias Legislativas Regionais deveriam respeitar as leis gerais da Repblica (anterior redaco do art 227, n 1, al. a) da CRP).

Com a reviso constitucional de 2004, a designao dos orgos das regies autnomas foi alterada. Assim, a Assembleia Legislativa Regional passou a ser designada por Assembleia Legislativa da Regio Autnoma (art 231 da CRP) e o Ministro da Repblica passou a designar-se Representante da Repblica (art 230 da CRP).

As regies autnomas possuem dois orgos de governo prprios, nomeadamente a Assembleia Legislativa e o Governo Regional (art 231 da CRP), ou seja, um rgo deliberativo e outro executivo.Diz-se que estes orgos so prprios da regio autnoma pelo facto dos seus membros serem directa ou indirectamente designados pelos cidados da respectiva regio autnoma.

O Representante da Repblica o orgo representante da soberania, sendo nomeado pelo Presidente da Repblica (art 230 da CRP), cabendo-lhe o exerccio do poder moderador na regio autnoma, podendo assinar ou vetar os decretos da assembleia legislativa e do governo regional (art 233, ns 1 e 2 da CRP).O Representante da Repblica pode tambm, no mbito do seu poder moderador, requerer a fiscalizao preventiva da constitucionalidade dos decretos da Assembleia Legislativa (art 278, n 2 da CRP).

Direito de Iniciativa Legislativa

ALei n 17/2003 de 4 de junho veio regulamentar o direito de iniciativa legislativa previsto no artigo 167. da Constituio, que permite que grupos de cidados eleitores possam apresentar projetos de lei e participar no procedimento legislativo a que derem origem.Estes projetos de lei devem ser subscritos por um mnimo de 35.000 cidados eleitores. Tm de ser apresentados por escrito ao Presidente da Assembleia da Repblica, revestindo a forma articulada, devendo conter:a) Uma designao que descreva sinteticamente o seu objeto principal;b) Uma justificao ou exposio de motivos de onde conste a descrio sumria da iniciativa, os diplomas legislativos a alterar ou com ela relacionados, as principais consequncias da sua aplicao e os seus fundamentos, em especial as respetivas motivaes sociais, econmicas, financeiras e polticas;c) As assinaturas de todos os proponentes, com indicao do nome completo, do nmero do bilhete de identidade e do nmero do carto de eleitor correspondentes a cada cidado subscritor;d) A identificao dos elementos que compem a comisso representativa dos cidados subscritores, bem como a indicao de um domiclio para a mesma;e) A listagem dos documentos juntos

Uma Autorizao Legislativa uma autorizao ao Governo, a seu pedido (atravs de proposta de lei) para legislar sobre matrias que so da competncia exclusiva (reserva relativa) da Assembleia da Repblica. As leis de autorizao legislativa devem definir o objecto, o sentido, a extenso e a durao da autorizao.

Iniciativa da lei = deputados, grupos parlamentares, governo, grupos de cidados eleitores e assembleias legislativas regionais (iniciativa de lei das regies autnomas). (Art. 167.) Projecto de Lei: uma iniciativa legislativa interna, compete aos: deputados (156/b); grupos parlamentares (180/2/g) e grupo de cidados eleitores (mnimo 35.000 cidados). Proposta de Lei: uma iniciativa legislativa externa, compete: ao governo (200/1/c) e s regies autnomas (227/1/g). Leis Orgnicas- so leis ordinrias da AR e a CRP confere-lhes a natureza de leis reforadas (112/3).- esto vinculadas no princpio da tipicidade .- so matrias de reserva absoluta.- apresentam dimenses orgnico-procedimentais especificas.- a maior parte das leis orgnicas so obrigatoriamente votadas na especialidade no Plenrio e no em comisses, reservas do plenrio (168/4).- exigem maioria absoluta (50% + 1 dos deps em efect de funes).- elas tm um regime especial de fiscalizao preventiva.-So Leis orgnicas:- O regime eleitoral dos rgos de soberania (164/1/a)- O regime dos referendos, (164/1/b)- A organizao do TC (164/1/c) e defesa, disciplina e sucesses de necessidade constitucional (164/1/d) (estado de stio e estado de emergncia (164/1/e)),- Aquisio, perda e reaquisio da cidadania portuguesa, (164/1/f)- Disciplina das associaes e partidos polticos, (164/1/h)- O regime das eleies dos deputados s Assembleias legislativas das regies autnomas dos Aores e da Madeira, (164/1/j)- As eleies dos titulares dos rgos do poder local, (164/1/l)- O regime de informao da Republica e do segredo de Estado, (164/1/q)- O regime das finanas das regies autnomas, (164/1/t)- A criao das regies administrativas (255).-Funes das Leis Orgnicas:- subtrair as regras do jogo eleitoral s maiorias parlamentares de cada momento, protegendo, simultaneamente, o direito das minorias (164/a, b, j)- exigir um consenso alargado para a disciplina do direito processual constitucional , dada a sua importante funo de desenvolvimento da Constituio (164/c)- impor uma maioria qualificada na definio e organizao da defesa nacional e disciplina das Foras Armadas (164/d)- proteger a constituio e os direitos fundamentais nos casos de estado de stio e de emergncia, evitando rupturas constitucionais a pretexto da existncia de situaes de anormalidade constitucional (164/e)- controlar o regime do sistema de informaes da Republica e do segredo de Estado,- assegurar o estatuto constitucional dos partidos e associaes polticas- dar transparncia e reforar a legalidade oramental ao regime de finanas regionais e locais- garantir apoio parlamentar qualificado criao de regies adm.1)INICIATIVA O direito de iniciativa legislativa manifesta-se atravs da apresentao AR de um texto articulado de preceitos normativos denominados, conforme os casos, por projectos de lei(iniciativa parlamentar pertencente aos deputados e aos grupos parlamentares) e por proposta de lei(iniciativa legislativa governamental, pertencente ao governo).-Iniciativa da lei ou do referendo = deputados, grupos parlamentares, governo, grupos de cidados eleitores e assembleias legislativas regionais (iniciativa de lei das regies autnomas).(Art. 167.)-Projecto de Lei: uma iniciativa legislativa interna, compete aos: deputados (156/b); grupos parlamentares (180/2/g) e grupo de cidados eleitores (mnimo 35.000 cidados).-Proposta de Lei: uma iniciativa legislativa externa, compete: ao governo (200/1/c) e s regies autnomas (227/1/g).- O sistema de iniciativa legislativa em Portugal pluralstico, mas existem certos domnios onde a iniciativa legislativa reservada , quer por imposio expressa da C, quer porque isso decorre da especificidade constitucional de certas leis. Ex: Governo: leis das grandes opes do plano e do oramento; leis de autorizao legislativa e de autorizao de emprstimos. | RA: leis de aprovao dos estatutos regionais, e de outras leis respeitantes s regies autnomas. | Deputados: leis de reviso constitucional.- A iniciativa o impulso do procedimento legiferante.- Este processo no se limita a uma simples aprovao ou rejeio , antes pressupe uma fase de discusso e elaborao.Proposta ou Projecto de lei entregue na mesa da AR , sendo aceite, inscrito na ordem do dia apresentao perante o Plenrio (podendo neste momento ser apresentadas pelos deputados propostas de alterao (emenda, substituio, adiantamento ou eliminao).Processo legislativoEm Portugal, o processo legislativo cabe Assembleia da Repblica ou ao Governo consoante as respectivas matrias de competncia legislativa.Os diplomas emanados da Assembleia da Repblica tm a designao de Leis e os diplomas emanados do Governo tm a designao de Decretos-Lei.Processo de Formao das Leis da Assembleia da RepblicaEste processo inicia-se com o projecto de lei (texto apresentado pelos Deputados ou pelos Grupos Parlamentares Assembleia da Repblica para que esta se pronuncie) ou com a proposta de lei (texto apresentado pelo Governo Assembleia da Repblica para que esta se pronuncie), depois de aprovado pela Assembleia da Repblica, designa-se por Decreto e, s aps promulgao pelo Presidente da Repblica, publicado como Lei. O texto de uma lei pode ainda ser apresentado por um grupo de cidados eleitores.A promulgao um ato pelo qual o Presidente da Repblica atesta solenemente a existncia de norma jurdica e intima sua observao. O Presidente da Repblica poder no promulgar o diploma e exercer o direito de veto, que poder ser jurdico ou poltico. A promulgao uma etapa essencial no decorrer do processo legislativo, pois, s aps esta, o texto torna a designao de Lei e a falta de promulgao tem como consequncia a Inexistncia Jurdica do Ato.Aps a promulgao, o diploma enviado ao Governo para referenda ministerial, seguindo-se a publicao no Dirio da Repblica sob a forma de Lei, para a sua entrada em vigor.1Processo de Formao dos decretos-lei pelo GovernoNas suas competncias legislativas pode optar por uma de duas situaes: Assinaturas sucessivas: O texto do diploma submetido separadamente assinatura do Primeiro-Ministro e de cada um dos ministros competentes. Uma vez obtidas as assinaturas, o diploma enviado ao Presidente da Repblica para promulgao. Aprovao em Conselho de Ministros: O texto do respetivo Decreto-Lei apresentado e aprovado em Conselho de Ministros, sendo depois enviado ao Presidente da Repblica para promulgao.Em caso de veto, o Governo pode: arquivar; alterar; enviar para a Assembleia da Repblica sob a forma de Proposta de Lei.

Os desvalores jurdicos aplicam-se no s a actos legislativos, mas tambm aosdemais actos jurdicos, tais como, os actos administrativos (vejam-se os artigos 133a 135 do Cdigo de Procedimento Administrativo) e os negcios jurdicos (veja-seo regime dos artigos 285 a 294 do CC). Este aspecto ajuda a explicar o tratamentoda anulabilidade neste mbito, pois ao nvel da desconformidade dos actoslegislativos a inconstitucionalidade da lei fala-se apenas de inexistncia (casosexpressamente previstos na CRP) e nulidade, no caso uma nulidade atpica que como veremos comunga aspectos tambm da anulabilidade.

Inexistncia jurdica

Verifica-se quando um determinado acto legislativo se encontra de tal forma emdesconformidade para com o Direito que para este nada h. Nestes casos nem se pode dizer que subsiste uma base que permite identificar um acto jurdico mesmo que invlido.A lei inexistente uma mera aparncia de lei, pelo que no produz qualquer efeito.4Vcios do acto que geram inexistnciaPara que exista uma lei preciso que esta preencha certos requisitos mnimos deidentificabilidade formal, orgnica e material, caso os viole, temos vcios de:a. Inconstitucionalidade formal desrespeito de requisitos de existncia formal v.g.no promulgao do Presidente da Repblica (art. 137. da CRP), no referenda doGoverno (142. n2 da CRP) ou no votao de uma lei pela Assembleia daRepblica.b. Inconstitucionalidade orgnica desrespeito de requisitos de existncia orgnica(competncia do rgo para aprovar as leis ou a prpria funo de Estado que lheest incumbida) quando um rgo que no exerce a funo legislativa pratica um acto que cabe nas competncias de um rgo legislativo (casos de usurpao dafuno legislativa), v.g. lei aprovada por um rgo da Administrao ou por umtribunal um Director de Finanas cria um imposto (princpio da legalidade fiscal os impostos s podem ser criados por lei art. 103 da CRP).c. Inconstitucionalidade material: desrespeito de requisitos de contedo (aspectos queno so de forma ou orgnicos), v.g. desconformidade face aos direitosfundamentais - lei que suprime o direito vida dos cidados de certa raa; leipraticada sob coaco fsica ou ausncia completa de vontade na sua prtica.

Aspectos definidores do regime da lei inexistente1. Os cidados podem resistir tentativa da sua aplicao (invocando o direito deresistncia do art. 21 da CRP)2. No pode ser aplicada pelos rgos que tenham essa funo

Invalidade: nulidade e anulabilidade

A lei que existe para o Direito pode ser vlida ou no vlida. no vlida quando norespeita todas as exigncias da CRP, por isso, tal lei no tem qualquer valor para o Direito, embora preencha os requisitos mnimos que a permitem identificar como tal violao da CRP quando no afecte a sua identificabilidade como lei.

Vcios que geram a invalidadeA invalidade resulta do facto de os pressupostos da lei no respeitarem a CRP. Existe um vcio da lei que se pode traduzir em:a. Inconstitucionalidade formal - v.g. lei que no respeitou todos os trmitesconstitucionais da sua aprovao -b. Inconstitucionalidade orgnica - v.g. decreto-lei aprovado pelo Governo emmatria de reserva absoluta de competncia legislativa da Assembleia da Repblica.c. Inconstitucionalidade material - v.g. lei cujo contedo contrrio a um principiono essencial da CRP.

Distino da inexistnciaA invalidade da lei verifica-se quando surgem inconstitucionalidades menos graves do que aquelas que geram a sua inexistncia. Por isso, a diferena entre invalidade e inexistncia da lei uma questo qualitativa ou de grau: quando a violao da CRP to grave que afecta a identificabilidade da lei inexistncia; quando a violao reveste formas menos graves, mas existe invalidade.

Regime constitucional da invalidade da leiDe acordo com a CRP a invalidade das leis inconstitucionais a nulidade atpica, porquantoperfilham as caractersticas da:1. Nulidade: a) as leis inconstitucionais no produzem efeitos desde que so elaboradas- a declarao pelo tribunal elimina os seus efeitos desde a feitura, respeitando, emprincpio, s os casos julgados (art. 282. da CRP); b) a invocao dainconstitucionalidade pode ser feita sem sujeio a um prazo; c) uma forma deinvalidade muito grave porque pe em causa a lei fundamental.2. Anulabilidade: a) universo limitado de entidades que podem pedir a declarao deinconstitucionalidade (art. 280. e 281. da CRP); b) a declarao genrica podesalvar excepcionalmente alguns efeitos das leis inconstitucionais alm do casojulgado (282. n.3 e 4 da CRP