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DRUMM DA EX HUMA TESTEMUN

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DrummonDDA EXPERIÊNCIA

HUMANATESTEMUNHO

GUIA DO PROFESSORRosa Gens | Ana Crelia Dias | Manoel Santana | Martha Alkimin

APRESENTAÇÃO ............................................................................ 5

PROPOSTAS DE ATIVIDADES

“Retrato de uma cidade” ....................................................................... 6

“Paisagem como se faz” ........................................................................ 6

“Paisagens, país” ................................................................................... 7

“Circulação do poeta” ........................................................................... 8

“A palavra mágica” ................................................................................ 9

“Hoje tem filme de Carlito!” .............................................................. 10

“A linguagem na ponta da língua” ...................................................... 10

Fala, cidade! A era do rádio ................................................................ 11

“Se a gente tivesse um elefante, que alegria, hein?” ............................ 12

“A noite dissolve os homens” .............................................................. 12

Delícias menineiras ............................................................................ 13

“A alegria de con-viver” ...................................................................... 14

“A poluição sob controle” ................................................................... 15

“A terra e os cometas devem ter medo de nós” ................................... 16

Quanto vale? ...................................................................................... 16

“Notícias humanas” ............................................................................ 17

O som do poema................................................................................ 18

Poema oculto ou poema-presente ...................................................... 21

“À procura de uma besta” ................................................................... 22

“Idade madura” ................................................................................... 24

Dois Andrades e uma conversa entre bruxos ...................................... 28

Drummondianos ................................................................................ 28

PALAVRAS FINAIS ........................................................................ 30

BIBLIOgRAFIA ............................................................................. 32

FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL

PresidenteJorge Alfredo Streit

Diretor Executivo de Desenvolvimento SocialÉder Marcelo de Melo

Diretor Executivo de Gestão de Pessoas, Controladoria e LogísticaDênis Corrêa

Gerente de Educação e CulturaMarcos Fadanelli Ramos

Assessoria técnicaJuliana Mary M. ganimi Fontes

ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DA CASA DE RUI BARBOSA

PresidenteJoão Maurício de Araújo

Vice-PresidenteIrapoan Cavalcanti

Diretor-tesoureiroJoão Aguiar Sobrinho

Diretora-secretáriaMaria Augusta Brandão

FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA

PresidenteJosé Almino de Alencar e Silva Neto

Diretora ExecutivaRosalina Maria Fernandes gouveia

Diretora do Centro de PesquisaRachel Teixeira Valença

Diretora do Centro de Memória e InformaçãoAna Maria Pessoa dos Santos

Coordenador-Geral de Planejamento e AdministraçãoCarlos Renato Costa Marinho

Chefe do Arquivo-Museu de Literatura BrasileiraEduardo Coelho

PETROBRAS

PresidenteJosé Sergio gabrielli de Azevedo

Diretor de ComunicaçãoWilson Santarosa

Gerente de PatrocínioEliane Costa

Gerente de Patrocínio CulturalTais Wohlmulth Reis

PRODUTORA CULTURALAbravideo

Concepção e TextoAna Crelia DiasManoel SantanaMartha AlkiminRosa gens

Coordenação GeralElizabete Braga

Pesquisa HistóricaJoão Camillo Penna

Assistente de PesquisaMariana Quadros

Pesquisa Histórica e IconográficaSilvana Jeha

Imagens de ArquivoArquivo-Museu de Literatura Brasileira - FCRBFundação Casa de Rui Barbosa

Digitalização e tratamento de imagensTrio Studio

Revisão de TextosCely CuradoAna Paula Belchor

Projeto GráficoRuth Freihof | Passaredo DesignChistiane Krämer

Supervisão GeralRuy godinho

Imagem da capaAlair gomes/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRBRogério Reis/Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

sumário

APrEsENTAÇÃo

Ao leitor:

Este material não pretende ser um “guia” — no sentido habitual do termo —, isto é, o que serve de diretriz, de modelo; um manual ou uma publicação com instruções, ensinamentos ou conselhos.

Embora intitulado Guia do professor, o que apresentamos neste material poderia ter outro nome: Convite. Sim. Trata-se de um convite à festa da literatura e à capacidade de reinvenção permanente do ambiente escolar, ainda que por meio de pequenas iniciativas, de pequenas práticas de aprendizagem e, por que não dizer, de alegria e afeto.

E, como festas não são feitas de diretrizes, instruções, ensinamentos ou conselhos, nós, que somos professores, gostaríamos de compartilhar, neste guia, o modo como sonhamos a presença da literatura de Carlos Drummond de Andrade na sala de aula, seja do nível fundamental, seja do nível médio de ensino.

Sonhamos um Drummond de forma a torná-lo ainda mais vivo, caminhando pelos corredores de uma escola brasileira qualquer para ser rodeado e abraçado pela risada das crianças ou pelas primeiras incertezas de um coração adolescente.

É com esse espírito de festa e de ternura que nós, de mãos dadas com Drummond, queremos convidá-lo, leitor, para a experiência do seu sentimento do mundo, do seu humor, das suas notícias humanas, simples estar no mundo.

Diretrizes, conselhos, ensinamentos podem ser dispensados nessa travessia. Em seu lugar, propomos outras palavras: brincar, jogar, inventar, fabular e, claro, repartir o testemunho da experiência humana na poesia de Carlos Drummond de Andrade!

Bem-vindo!

Eu passava na Avenida quase meia-noite.

Foi no Rio

Foi no Rio

Havia a promessa do mar

Foi no RioFoi no R

io

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

voluptuosidade errante do calo

mil presentes da vida aos hom

ens indiferentes,

Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.

abafando o calor

e bondes tilintavam,

que soprava no vento

A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu

autos abertos correndo caminho do mar

autos abertos correndo caminho do m

ar

meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

O grande pão de mel suspenso entre mar e céu

insinua os prazeres da cidade.

A boca, o paladar,

a trama dos sentidos serpenteia lá em

baixo. O sol nascente

serpenteia lá embaixo. O

sol nascente

serpenteia lá embaixo. O

sol nascente

e o sol cadente vestem de púrpura

a forma rígida. N

uvens ciganas

a forma rígida. N

uvens ciganas

brincam de subtraí-la.

ITABIRA

BELOHORIZONTE

RIO DEJANEIRO

ao descer,

ao descer,

volto de mãos vazias para casa.

Consciência mais leve do que asa

faz-se, desfaz-se, faz-se

uma incorpórea face

de hiatos e de vácuos

de elipses, psius

ei, pessoal: furtar jabuticaba.

Jabuticaba chupa-se no pé.

A�nal,

A�nal,

A�nal,

que é andrade? Andrade é árvore

hermafroditas

Mas que dizer do poeta

igarapé ribeirão rio corredeira

andrade é morro

povoado

povoado

povoado

ilha

numa prova escolar?

Que ele é meio pateta

e não sabe rimar?

autos abertos correndo caminho do mar

uma pedra e, estacando,

uma pedra e, estacando,

uma pedra e, estacando,

Muito riso escarninho

Muito riso escarninho

o foi logo cercando?

Atrás do grupo-escolar �cam

as jabuticabeiras.

Atrás do grupo-escolar �cam

as jabuticabeiras.

Atrás do grupo-escolar �cam as jabuticabeiras.

Estudar, a gente estuda. Mas depois,

Estudar, a gente estuda. Mas depois,

Na cidade toda de ferro

Na cidade toda de ferro

De cacos, de buracos

resumo de existido.

O furto exaure-se no ato de furtar.

Cada um de nós tem seu pedaço

As ferraduras batem

como sinos.

As ferraduras batem como sinos.

no pico do Cauê.

Mas as coisas �ndas,

Consciência mais leve do que asa

Mas as coisas �ndas,

Mas as coisas �ndas,

muito mais que lindas,

muito mais que lindas,

tornam-se insensíveis

à palma da m

ão.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

abafando o calor

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

de folhas alternas �ores pálidas

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

deixa confundido

este coração

este coraçãoeste coração

este coração

este coração

este coração

Tem as cores da vida e o sigilo da sombra.

Am

ar o perdido

A cada hora, desintegra-se, recom

põe-se,

assume formas inéditas de transparência.

meu amor.

meu am

or.

deixa confundido

deixa confundido

meu amor.

meu amor.

meu amor.

meu amor.

a cidade sou eu

sou eu a cidade

sou eu a cidade

sou eu a cidade

O grande pão de mel suspenso entre mar e céu

É montanha ou aparição crepuscular.

essas �carão.

essas �carão.

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

essas �carão.

hermafroditas

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“retrato de uma cidade”

As cidades são motivo recorrente na produção de Carlos Drummond de Andrade. Princi-palmente pela memória, o escritor focaliza características e marcos dos tecidos urbano e ru-ral que se tornam conhecidos ou reconhecidos para o leitor. Consultar o Almanaque Drum-mond, nas páginas relativas a Belo Horizonte, Brasília, Itabira e Rio de Janeiro, e o texto “Drummond e as cidades”, constante do site Drummond, testemunho da experiência humana.

1. Sugerir que os alunos tracem percursos seus e de suas famílias na cidade e os representem em mapas e imagens cartográficas. Com base num levantamento das riquezas históricas, das atividades culturais e de lazer, cada equipe deve propor a elaboração de um guia a partir do qual os alunos apresentem o potencial de sua cidade para o conjunto da comu-nidade, tendo como ponto de origem as suas famílias. Destacar nesse guia a importância de lugares que possuam significados especiais para a população local porque continentes de suas tradições, cultura e experiências de vida (lugares de brincadeiras de infância, de vivência religiosa, de trabalho etc.).

2. Propor aos alunos uma pesquisa sobre a existência de prédios tombados na cidade. Tra-balhar com o conceito de tombamento de bens, assim como com o de memória cultural, tão caros a Drummond. Paralelamente, verificar com os alunos qual o tipo de habitação mais comum no local. Procurar, também, construções que se sobressaem pelo caráter arrojado de suas formas, pela inovação arquitetônica. Fotografar exemplares das três mo-dalidades de construção e montar um painel da cidade, que constituiria seu perfil arqui-tetônico, seu retrato.

3. Em “Retrato de uma cidade”, poema de Drummond sobre o Rio de Janeiro, encon-tram-se os versos:

Cada cidade tem sua linguagemnas dobras da linguagem transparente.

Observar, com os alunos, expressões recorrentes na fala dos habitantes locais. Pesquisar, também, gírias que são usadas por grupos, atentando para a sua significação. Após o levantamento, procurar construir um breve retrato linguístico da cidade.

“Paisagem como se faz”

Este núcleo de atividades pode ser uma oportunidade de integrar todos os segmentos da escola. O objetivo principal é construir com os alunos uma espécie de “guia turístico” da cidade em que vivem.

Sugere-se a construção de uma maquete ou de um tabuleiro em que se possam visualizar, além dos pontos turísticos tradicionais, outras curiosidades, hábitos ou tradições locais.

1. A maquete Na maquete, podem ser representadas cenas de festas e danças folclóricas locais, a culinária

e as receitas típicas da região, seus habitantes mais conhecidos e queridos, enfim, as pessoas que fazem parte da história da cidade e guardam dela a memória dos tempos antigos.

2. O tabuleiro turístico ou “a amarelinha turística” Confeccionar um tabuleiro (como o das brincadeiras de amarelinha ou outros jogos de

tabuleiro) em que, com o auxílio de um dado, ou de uma pedrinha, os jogadores possam percorrer várias “casas” até conquistar o seu objetivo. As “casas” desse tabuleiro podem conter os pontos turísticos locais ou solicitar uma tarefa do jogador, como, por exemplo, cantar uma música folclórica conhecida na cidade ou relembrar uma passagem de sua his-tória. Nesse tabuleiro, ou nessa “amarelinha turística”, professores e alunos podem reunir as fotos antigas da cidade como ilustração. Usar a criatividade e começar a jogar. A única regra é desvendar e conhecer as paisagens da sua cidade: físicas, culturais, ou históricas.

3. Caderno turístico Para desenvolver a escrita, o professor poderá dividir a turma em grupos e estimular os

alunos a criarem e a investigarem:

• mensagenspublicitáriasquedivulguemasatraçõesdacidade;• umcardápiocomasreceitascaseiras(opratodequecadafamíliamaisgosta);• lendase“causos”daregião

“Paisagens, país”

Estudar a paisagem sonora é uma ideia recente, que se desenvolveu a partir do trabalho do compositor canadense Robert Murray Schafer. A paisagem sonora é como a paisagem visual — aquela que se desdobra aos nossos olhos em qualquer lugar em que estejamos —, só que a primeira se desdobra aos nossos ouvidos. Muitas vezes, ela passa despercebida, por já estarmos acostumados aos sons que ouvimos todos os dias e por não utilizarmos a audição tanto quanto a visão.

1. Propor aos alunos que façam um diário dos sons interessantes do seu dia a dia — e faça um você também, professor(a). Destacar junto com eles as características mais marcantes. Os sons anotados devem, posteriormente, ser acompanhados de sua função, em movimento investigativo. Na atividade seguinte, os diários devem ser comparados, estabelecendo-se as diferenças entre os sons partilhados, em comunidade, e outros que atingem cada um individualmente.

2. Retornar ao conceito de paisagem sonora e gravar, com aparelhos, os sons observados e analisados. Esta gravação pode ter variados percursos de escuta. Por exemplo: gravar sons avulsos e/ou específicos; gravar a paisagem sonora como um todo, a partir de um

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único ponto de observação auditiva, parado; gravar a paisagem sonora como um todo, a partir de um percurso em movimento, como ouviria alguém que andasse pelo mesmo espaço. Importar as gravações feitas para um computador e ouvi-las cuidadosamente, procurando identificar as características sonoras discutidas anteriormente. Utilizar um software de edição de áudio e modificar as gravações.

3. Planejar e confeccionar, a partir de pesquisa orientada, um arquivo sonoro de diferentes paisagens, a fim de construir um Catálogo da paisagem sonora das regiões brasileiras. Os sons coletados e catalogados devem permitir a identificação, o reconhecimento e a dis-cussão sobre diferentes configurações das paisagens. O resultado desse projeto pode ser apresentado ao conjunto da escola ou à própria comunidade local, quando possível.

4. Muitas crônicas de Drummond fazem referência a situações do mundo rural e urbano – o carro de boi, os rios, o trem, o bonde, os automóveis etc. Propor a construção de um Catálogo das paisagens sonoras para o reconhecimento dos sons locais ou regionais, em especial distinguindo o campo e a cidade, ou as atividades dos mundos urbano e rural.

5. Observar como Drummond explora o conceito de ruído e som na crônica “Peça nova”, presente no site. Discutir, também, as possibilidades apresentadas pelo autor, a partir da utilização do som, para fugir à censura que imperava no Brasil da ditadura militar. Re-alizar uma pesquisa sobre os mecanismos de censura instaurados após o AI-5 e abordar os artifícios utilizados por profissionais da escrita para burlá-los. Tecer um paralelo com a censura da Ditadura Vargas.

“Circulação do poeta”

Há, no Almanaque, a representação de trajetos percorridos por CDA ao longo de sua vida, os lugares onde viveu e aqueles que visitou. Leia, investigue e discuta os motivos que podem ter motivado essas migrações do poeta-cronista.

1. Com base na compreensão dos roteiros de Drummond e dos motivos de sua mobilidade, incentivar os alunos a resgatar a sua própria história e os trajetos percorridos pela família (pais, avós), traçando os próprios percursos em mapas que estiverem disponíveis (pode ser um mapa local, regional ou do Brasil).

2. Destacar, no mapa, além dos trajetos, os “pontos” ao longo desses percursos em que tenham ocorrido encontros com pessoas, eventos e situações que devem ser registradas porque foram marcantes para os demais momentos de vida.

“A palavra mágica”

1. A carta Ler, antes de iniciar a atividade, a seção “Remetente CDA”, do Almanaque. Consultar,

também, o site. O ponto de partida desta atividade é o seguinte fragmento escrito por Carlos Drummond de Andrade, extraído do seu livro “O observador no escritório”:

Durante anos, como tanta gente, mantive um diário e, como tanta gente, acabei por abandoná-lo. Ao lado de anotações pessoais, registrava nele, com frequência irregular, fatos políticos e literários que me interessassem [...]. Se os leitores encontrarem nestas páginas o eco de um tempo abolido, terei resgatado a minha nostalgia e fornecido matéria para a conversa de pessoas velhas e novas.

O professor pode se valer deste fragmento e da crônica “Projeto de carta” para experi-mentar com seus alunos uma prática que se perdeu e que, aos poucos, pode desaparecer, ou seja, escrever cartas.

Com a presença da internet no mundo atual, as novas gerações talvez não saibam, por exemplo, o papel dos selos nas correspondências, o significado do CEP (Código de En-dereçamento Postal) e a importância dos correios em um país continental como o Brasil.

Fazem parte desta atividade:

• o exercício da escrita (e o conhecimento das formalidades que uma carta requer,como, por exemplo, data, local, assinatura, selo, CEP);

• adiscussãodasnossasrelaçõescomotemponocontextodasnovastecnologiasdecomunicação e da internet.

2. Correspondências antigas Muitas famílias, além do hábito de guardar fotografias, preservam também as correspon-

dências entre seus membros. O professor pode sugerir que os alunos pesquisem em suas famílias se um avô ou outro

parente guardou alguma carta antiga. Uma carta de amor ou uma que relate as novida-des, por exemplo.

Esta atividade pode propiciar um debate sobre o vocabulário da época, a ortografia, as formas de tratamento entre as pessoas. Além de revelarem uma parte da história indivi-dual, essas correspondências também dizem respeito aos valores, costumes e hábitos das gerações passadas.

3. Uma carta ao poeta Carlos Drummond de Andrade Sugerir que os alunos escrevam uma carta ao poeta. O tema pode ser decidido coletiva-

mente, a partir de seus interesses.4. O diário ontem e hoje Escrever em um diário é uma prática muito antiga. No ambiente das novas tecnologias

e da internet, ele ganhou outra versão. Se antes o diário era sigiloso, hoje, depois do

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surgimento dos blogs, ele se transformou em uma prática de exposição pública da inti-midade. Todos expõem na rede os seus segredos, inquietações, sonhos, partilhando o que antes era íntimo e privado.

O professor poderá estimular a experiência da escrita dessas duas formas de diário: a “antiga”, em que se escreviam em cadernos as experiências vividas; e a “moderna”, em que os blogs surgem como um veículo para falar das impressões da vida e divulgá-las.

“Hoje tem filme de Carlito!”

O verso acima, pertencente ao poema “O amor bate na aorta” (de Brejo das almas), aponta a adesão de Carlos Drummond de Andrade ao cinema e traz uma personagem que será um mo-tivo recorrente em sua produção: o Carlitos. Ler, no site, sobre a atração do escritor pelo cinema.

1. Chaplin e Drummond Assistir aos filmes de Charles Chaplin, procurando perceber a consonância do lirismo cha-

pliniano com o do escritor Carlos Drummond de Andrade. Tecer relações entre o filme O grande ditador e o poema “Carta a Stalingrado”; entre Tempos modernos e o poema “A má-quina do mundo”; entre O garoto e “Canto ao homem do povo Charles Chaplin”.

2. Lanterna mágica O título “Lanterna mágica”, referente à série de poemas que contemplam cidades, da obra

Alguma poesia, remete a uma forma ancestral do cinema, datada do século XVII. Recorrendo às noções de Física, com a ajuda do professor de Ciências, procurar entender o fenômeno do aparelho óptico. Pesquisar com os alunos seu funcionamento e construir uma lanterna mágica, fazendo experiências de visualização. Ler os poemas de Drummond da série “Lan-terna mágica” e os comentários a eles dedicados, constantes do site, buscando a significação do título.

3. De uma linguagem a outra Acessar o site Drummond, testemunho da experiência humana do Projeto Memória, em que

se encontram trechos de filmes sobre o autor ou construídos a partir de sua obra. Procurar conhecer os textos de Drummond que deram origem a filmes, comparando texto literário e cinematográfico. Assistir ao videodocumentário e observar os recursos de narrativa que nele são utilizados: o corte, a montagem, a aproximação da câmera, o afastamento, entre outros.

“A linguagem na ponta da língua”

Este núcleo de atividades dá oportunidade aos alunos de brincarem vocalmente com os tex-tos de Carlos Drummond de Andrade e de transferirem palavras do papel para experiências de dramatização. Nessa perspectiva, o leitor é visto como operador da ação de ler e deve usar não apenas a voz, mas o próprio corpo, na totalidade, como canal condutor do texto.

1. Ler e ouvir Estudar com os alunos os mecanismos de produção da voz. A partir de experiências de

fala, chegar à concepção de aparelho fonador e entender como a voz pode ser bem ou mal colocada. Observar a importância da discriminação sonora para a comunicação. Por exemplo, ler o poema “Isto é aquilo” (Lição de coisas) explorando a similaridade entre os sons e a distância entre os significados.

2. Declamar, interpretar, performatizar Fazer experiências de leituras de crônicas e poemas de Drummond. Nos exercícios

de vocalização, trabalhar, por exemplo, com a intensidade das rimas, com a explo-ração da camada sonora, com as linhas de força dos versos ou períodos. Tentar “projetar” o texto em cena, ou seja, utilizar recursos da voz para modulá-lo, para que, assim, possa ser percebido de outras formas. Observar com atenção, no videodocu-mentário, a leitura de trechos de poemas de Drummond por diversos intérpretes. Comentá-las e identificar as principais características de cada enunciador, inclusive as do próprio poeta.

3. Fazer um sarau Elaborar um roteiro, com os alunos, dos textos de Drummond a serem interpretados

por eles. Construir uma espécie de cenário, ainda que mínimo, em que possa decorrer a performance, um ambiente de inserção da literatura oral. Procurar elementos do cenário que possam enfatizar a significação das crônicas ou dos poemas.

Fala, cidade! A era do rádio

1. Amigo ouvinte! Apesar das transformações e avanços da comunicação, o rádio ainda ocupa um lugar de

importância na vida brasileira. Consultar a seção relativa ao rádio no Almanaque.a) Pesquisar sobre a história do rádio e sua influência na história do Brasil. Passeando pela

história do rádio, pode-se pesquisar a linguagem das programações de cada época, dos anúncios publicitários, das músicas e das famosas novelas radiofônicas.

b) Estimular entre os alunos a criação de uma programação de rádio à moda dos anos 1940 ou 1950, a era de ouro do rádio no Brasil.

c) Sugerir a elaboração de um pequeno enredo para uma novela de rádio e, posteriormente, sua dramatização em sala de aula.

2. No ar... Quadrante Entre os anos 1950/1960 do século XX, um programa de rádio chamado Quadrante fez

enorme sucesso na Rádio MEC. Seu formato era simples: durante cinco minutos, o ator Paulo Autran lia crônicas escritas por escritores como Carlos Drummond, Cecília Meirelles, Paulo Mendes Campos, entre outros.

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Pesquisar algumas dessas crônicas e “reeditá-las” com os alunos. Se a escola tiver um alto falante, os alunos poderão ler para os colegas, na hora do recreio, uma crônica escrita por Carlos Drummond de Andrade.

“se a gente tivesse um elefante, que alegria, hein?”

A frase acima foi dita por Carlos Manoel , um dos netos de Drummond, após assistir a um programa de circo na TV. Nós a escolhemos como base do núcleo de atividades que explo-ram a fantasia e a imaginação.

1. Leitura e construção de imagens Ler com os alunos o poema “O elefante” (A rosa do povo). Comentar com eles a cons-

trução do animal e seu percurso, atentando para as significações do texto. Recorrer aos comentários sobre o poema que podem ser encontrados no site Drummond, testemunho da experiência humana. Depois, passar a um exercício oral, em que cada um constrói o seu elefante, trabalhando com imagens próprias, e dá a ele determinado destino.

2. Fabricando um elefante Da imagem poética, pode-se passar à materialidade. Utilizando materiais descartáveis do

cotidiano, propor aos alunos a construção de um elefante coletivo, fruto da imaginação trabalhada em grupo.

3. Se a gente tivesse... Trabalhar com hipóteses, a partir de diferentes animais, deflagrando, à maneira do poe-

ma “O elefante”, a construção do animal e seu trajeto.4. História de dois amores Procure conhecer o livro História de dois amores (1985), de Drummond, com ilustrações

de Ziraldo. O enredo centra-se na pulga, ou melhor, no pulgo Pul e no elefante Osborne, vulgo Osbó. E ambos encontram suas almas gêmeas. Há também uma edição em audio-livro, com narração de Odete Lara.

“A noite dissolve os homens”

Dois poemas servirão de base para as atividades propostas: “A noite dissolve os homens” e “Os ombros suportam o mundo”, ambos pertencentes à obra Sentimento do mundo. Além deles, ler as crônicas indicadas no Almanaque.

A longa vida de Carlos Drummond de Andrade atravessou as duas grandes guerras mun-diais e, como poeta atento às questões humanas, ele versou sobre o tema em seus textos.

1. Considerando os dois poemas e as crônicas, voltar ao Almanaque e rever alguns escritos de Drummond sobre a guerra e seu impacto nas relações humanas.

2. O Almanaque Drummond traz pinturas de Lasar Segall, acompanhadas de trechos de crônicas do escritor mineiro que analisavam as cruezas da guerra e faziam referência à obra de Segall. Procurar conhecer outras telas do pintor para compor um painel com obras de outros artistas: Cândido Portinari e Pablo Picasso.

3. Montar uma exposição em que se faça um diálogo da obra de Drummond com as telas que tematizam a guerra, de autoria dos artistas Segall, Portinari e Picasso. Os versos do poeta ou trechos de suas crônicas poderão ser pincelados de modo a dialogar com as imagens selecionadas e compor um recorte desejado pelos alunos.

4. Para ambientar o projeto, procurar conhecer músicas compostas no período dos conflitos mundiais mencionados e executá-las durante a exposição.

“Delícias menineiras”

Este núcleo de atividades tem como base as crônicas “Boneca triste” e “Soltar papagaio”, que podem ser encontradas no site.

As brincadeiras infantis tradicionais são fruto da criação coletiva. Na nossa cultura, não se tem notícia de um registro formal do surgimento dessas brincadeiras, mas sabe-se que algumas delas podem ser atribuídas aos índios, outras devem ter sido trazidas pelos portugueses e outra parcela tem origem africana.

Na infância, nosso autor conviveu com brinquedos e brincadeiras que, mesmo de maneira rarefeita, ainda permanecem entre algumas crianças, como pião, pipa, ciranda, peteca.

1. Ler a crônica “Soltar papagaio”. Fazer com os alunos uma pesquisa sobre brincadeiras de hoje e de antigamente. Indicar uma entrevista com as pessoas mais velhas sobre as suas formas de brincar na infância para compor a pesquisa.

2. A partir de brincadeiras e brinquedos tradicionais, como pião, pipa, ciranda e peteca, in-dicar aos alunos uma pesquisa em que se busquem as origens dessas diversões e as formas de brincar com elas.

3. Ler a crônica “Boneca triste”, que está no site. Solicitar que os alunos busquem infor-mações sobre bonecas, de modo a compor um histórico desse brinquedo. Comparar as bonecas de antigamente às de hoje. Se possível, trazer exemplares para expor.

4. Fazer com os alunos um catálogo de brincadeiras. Promover com eles uma gincana em que se possa conhecer e experimentar brincadeiras diversas. Nessa oportunidade, fazer, também, uma oficina de preparação de brinquedos a partir de sucatas.

5. “De que se brinca hoje?” A partir do universo tecnológico digital, promover com os alunos uma exposição dos principais brinquedos e brincadeiras oriundos da era digital.

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“A alegria de con-viver”

O centro deste núcleo de atividades apresenta dois poemas de Drummond: “O homem, as viagens” e “A máquina do mundo”, que se entrelaçam a crônicas do autor. No poema “O ho-mem, as viagens” (As impurezas do branco), encontra-se a possibilidade de o homem desbravar o universo e, após tê-lo feito, permanecer insatisfeito e passar a procurar o conhecimento de si mesmo.

1. Considerando o poema “O homem, as viagens”, estimular o debate sobre os motivos e sobre as condições necessárias para viajar, em distintas épocas da história humana. A partir desse debate, pode-se alcançar e promover as seguintes atividades:

a) Caixa de paisagens – Reunir objetos característicos de diferentes lugares (uma cidade, um estado, uma região, um país etc.), de forma que o contato com os mesmos permita o reconhecimento e a lembrança a partir deles. Esses materiais devem ser compostos por recursos visuais, sonoros, olfativos, táteis e até mesmo gustativos, que, reunidos em uma caixa ou baú, possam ser manuseados. O manuseio deve ser orientado conforme o tipo de estímulo a ser vivido (por exemplo, recursos táteis, olfativos e auditivos devem ser expe-rimentados com olhos vendados), e quem experimenta deve reconhecer ou formular uma hipótese referente ao lugar de origem ou àquele caracterizado pelo objeto. A discussão, após as experiências, deve permitir que os alunos relacionem a memória e o conhecimento sobre diferentes lugares, como uma apreensão do mundo pelos diferentes sentidos, tanto pela atividade racional quanto pela subjetividade ou pela emoção. Exemplo: Caixas de paisagens sobre as regiões brasileiras montadas por diferentes equipes.

b) Orientar uma pesquisa sobre relatos e histórias de viagens, identificando os autores, as obras e ainda os diferentes suportes (livros, filmes), estilos e épocas. Dessa pesquisa, os alunos podem ser estimulados a dramatizar situações de viagens, fictícias ou não, confor-me o aprendizado durante as atividades.

c) Após uma leitura dramatizada do poema “O homem, as viagens”, responder à questão: por que nós, homens, viajamos tanto e o que procuramos? O que torna as viagens “difi-cílimas” e “dangerosíssimas”?

d) Comparar as dificuldades e perigos das viagens marítimas, das expedições a lugares des-conhecidos, com as viagens espaciais de hoje.

2. Para os estudantes do ensino médio, propor a articulação do poema “A máquina do mundo” com os poetas utilizados por Drummond, em movimento intertextual, como Camões (Os Lusíadas) e Dante (A Divina Comédia), que relatam percursos dos poetas — e, por extensão, do gênero humano — na busca por conhecimento de si e do mundo.

a) Segundo a leitura do poema, qual deverá ser a viagem sem fim, mais longa e mais surpre-endente: a viagem para o mundo exterior ou para dentro do próprio homem? Debater as respostas com os alunos.

b) Os verbos dominantes no poema (“olhar”, “reparar”, “auscultar”, “ver”, “contemplar”) in-dicam ou sinalizam claramente uma possibilidade ou esforço de conhecimento, ao fim, desdenhado pelo poeta porque ofertado mui gratuitamente. Propor um paralelo desse conhecimento ofertado ao poeta com as condições de acessibilidade ao mundo pela via da tecnologia da informação — aliás, um mundo e um recurso desconhecido ao poeta.

c) Ler a crônica “Queixa de uns óculos errados”, presente no site Drummond, testemunho da experiência humana, e encaminhar um debate sobre a significação de “ver”, “enxergar”, continuando as reflexões delineadas no item anterior. Trabalhar filosoficamente com a visão de conhecimento e de contemplação do mundo. Completar suas observações com a leitura da crônica “Maneira de olhar”.

d) Após a leitura do texto crítico “Aporias do impasse”, constante do site Drummond, teste-munho da experiência humana, discutir a visão do eu lírico frente à possibilidade de des-vendar o mundo. Mostrar a estratégia dramático-filosófica de “A máquina do mundo”, em comparação à irônica de “O homem, as viagens”.

“A poluição sob controle”

Em vários de seus textos, Drummond antecipa a capitalização do tema da ecologia. A sua ideia de natureza — motivada por sua vivência nas montanhas de Minas gerais — a vida da fazenda e a marca constituinte do minério de ferro em Itabira assinalam tensões revisitadas com frequência. Posteriormente, a exploração do minério de ferro que desfigura a sua Itabira, preservada na memória, combinada com sua experiência de habitar a cidade, também estimula distintas refe-rências às transformações que ele observa, reflete, denuncia e critica.

1. Realizar a leitura e discussão da crônica “A poluição sob controle” e debater como a no-ção de poluição retratada pode ser comparada com a emergência da questão ambiental nos dias atuais. O tema da natureza ganhou manchete, extrapolando a ideia restrita de preservação e caminhando para o tema ecológico, ele próprio uma questão econômica, social e política. A elaboração de um quadro comparativo das situações relativas à ecolo-gia no tempo do poeta-cronista e na atualidade poderá ser uma estratégia de sintetizar a investigação dos estudantes.

2. O pico do Cauê já não se alteia. Mas no coração da gente ele resiste

Drummond, José & Outros

As referências de CDA à cidade de Itabira e ao estado de Minas gerais estão marcadas pelas citações ao minério de ferro, presente nas entranhas das montanhas daquele estado, especial-mente em Itabira. As transformações produzidas na paisagem desses lugares pela exploração da riqueza mineral levaram o poeta-cronista a refletir e expressar em seus escritos uma visão de natureza e da relação do homem com seus lugares. De certa forma, os lamentos e a rela-

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ção direta da terra com a constituição dos homens e mulheres itabiranos é um pensamento fundante da relação do autor com suas origens. O pico do Cauê tem destaque nesse cenário, mas ele torna-se lembrança e, ao longo da exploração do minério, é inteiramente extraído e transportado para lugares muito distantes. A leitura das referências ao Cauê e ao minério de Itabira constantes no Almanaque é o ponto de partida para a atividade a seguir:

a) O Cauê foi parar no Japão... Pesquisar o uso e o destino dos recursos minerais do Brasil, mapeando as áreas produto-

ras e o destino dessa riqueza para diferentes destinos, destacando os efeitos ambientais e sociais da atividade mineradora. Os alunos devem propor hipóteses sobre os benefícios da extração do ferro de Itabira para os itabiranos e para os japoneses.

b) Em um mapa-múndi, localizar as regiões produtoras e consumidoras de minério de ferro, diferenciando-as e apontando os usos do minério nas diferentes atividades econômicas.

“A Terra e os cometas devem ter medo de nós”

No Almanaque Drummond, aparecem em destaque alguns textos em que o escritor se refe-re ao cometa Halley, marcando sua presença ao longo do século XX. A noção é de mistério e de atração. Em seus textos transparece, também, a ideia do medo do desconhecido, da natureza que pode aniquilar o humano. A situação aparece sob outra ótica em textos drum-mondianos vários: a natureza é que deve ter medo do humano.

1. Realizar, com os alunos, uma pesquisa sobre cometas. Reunir informações sobre a sua ori-gem, constituição e principais características, paralelamente à visualização do sistema solar. Construir uma miniatura do Sistema e simular a entrada em órbita, por exemplo, do cometa Halley. Discutir as interpretações — científicas e místicas — que antecipam sua aparição. To-mar como base os textos que aparecem no Almanaque, na seção dedicada ao cometa Halley.

2. Explorar, com os alunos, as noções de sobrevivência e de cuidado com a natureza. Tomar como base as crônicas “O pintinho” e “Utilidade dos animais”, atentando para o uso do humor e da ironia na sua construção.

3. A partir da leitura da crônica “Tatu”, investigar as concepções de animalidade e humani-dade. Discutir as concepções, em debate em sala de aula, e mostrar como os conceitos se redimensionaram ao longo dos tempos.

Quanto vale?

Este núcleo de atividades tem como base a página 90 e 91 do Almanaque, que faz um per-curso das moedas que o Brasil teve ao longo do período de vida do cronista-poeta. A inflação e a consequente desvalorização da moeda foram responsáveis por muitas mudanças no nosso painel financeiro ao longo dos anos.

1. Fazer com os alunos uma pesquisa sobre a história do dinheiro no Brasil, desde o período colonial aos dias de hoje. O site do Banco Central pode ser uma boa referência nesse caso.

2. Antes do surgimento da moeda, o “comércio” se dava por meio de escambo. Discutir com os alunos essa forma de troca e propor que tragam objetos variados para a sala. Propor que simulem situações de escambo, a fim de que reflitam acerca dos valores que cada objeto tem.

3. Dividir a turma em grupos. Distribuir a cada aluno uma moeda de um período citado no percurso proposto pelo Almanaque. Construir com os alunos um jogo Banco Imobiliário, atentando para os seguintes aspectos: os investimentos contidos no tabuleiro devem ser condizentes com a época de vigência da moeda recebida pelo grupo; as cédulas e moedas devem ser confeccionadas a partir de modelos reais, que estão disponíveis no site do Ban-co Central. Ao final do jogo, pedir que cada grupo apresente seu ganhador. Comparar, junto com os alunos, o valor das cédulas e a quantia que cada um deles acumulou. Aten-tar para o que é “ter muito dinheiro” em cada uma das situações. Pedir que comparem também o tipo de bens adquiridos pelos milionários.

4. A partir de reproduções de cédulas antigas, fazer um jogo da memória. 5. Pedir que os alunos pesquisem as moedas comemorativas que o País já teve. Fazer uma

exposição delas, contextualizando-as.

“Notícias humanas”

A obra de Carlos Drummond de Andrade abarca quase todo o século XX, o que permite um rico movimento de reflexão sobre acontecimentos, invenções, costumes, já que o escritor foi um observador da história brasileira e mundial.

1. A máquina de escrever foi companheira dos escritores do século XX. Consultar a página do Almanaque a ela dedicada e pensar no computador como seu substituto. Comparar máquina de escrever e computador. Pensar na constituição de ambos, na sua funcionali-dade, em semelhanças e diferenças.

2. Assistir à cena de abertura do videodocumentário, que apresenta referências importantes para a compreensão do século passado. Identificá-las e refletir sobre a sua representativi-dade na construção de um perfil do século XX.

3. Fazer um painel enfocando imagens do século XXI. Quais os principais fatos ocorridos na década? Que descobertas e invenções merecem atenção?

4. Assim como a máquina de escrever “transformou-se” em computador, o livro composto de papel parece caminhar para outros suportes. Pesquisar com os alunos novos suportes, na era digital, e procurar refletir sobre a sua eficácia e permanência.

16 17

Pentagrama: conjunto de cinco linhas (do grego penta= cinco + grama=linha) em que são representados os sons

As “bolinhas” representam os sons. As preenchidas indicam sons mais curtos, e as não-preenchidas, sons mais longos. Quanto mais para cima no pentagrama, mais agudo o som; quanto mais para baixo, mais grave.

Os sinais de intensidade são pequenas letras, retiradas de palavras em italiano:

m para mezzo (meio) p para piano (fraco, baixinho)f para forteff para muito forte

O sustenido deixa o som de uma nota um pouquinho mais agudo: o bemol, um pouquinho mais grave.

Os traços verticais são as barras e dividem os compassos. Cada compasso tem um número de tempos, marcado pela fração numérica que aparece ao início e durante a música.

Clave de Sol: dá uma referência, situa as notas musicais.

Caráter e velocidade de execução (andamento) da música.

Autor da letra Título Autor da música

o som do poema

Este núcleo de atividades parte de poemas de Drummond que foram musicados por grandes compositores. No Almanaque, há alguns exemplos.

Uma partitura é uma forma de escrever música. Sua função principal está no registro de uma ideia musical e no seu possível resgate, quando vier a ser tocada.

Para ler a linguagem musical, é necessário dominar suas convenções. Observar a explicação de alguns dos símbolos mais encontrados em uma partitura convencional:

Composição do pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, sobre poema “Memória”

| Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

18

1. Trabalhar com as diferenças entre agudo e grave, entre forte e fraco, entre longo e cur-to, os chamados parâmetros do som. Estimular a brincadeira com vozes dos alunos, direcionando a atenção deles para as características vocais. Depois, procurar identi-ficar tais parâmetros nos trechos musicais que têm por base poemas de Drummond presentes no site.

2. Escolher uma crônica de Drummond e filtrar um fundo musical para ela. Os alunos podem selecionar vários trechos musicais para que se harmonizem (ou não) a trechos vocalizados por eles.

3. A partir da execução instrumental da música “E agora, José”, cuja partitura completa se encontra no site, comparar o discurso musical, isto é, as sensações geradas pela música, à letra, que é o poema de Drummond — que também pode ser encontrado no site. Anali-sar a interpretação que o músico fez do poema.

4. Na seção “Música, maestro!”, do Almanaque Drummond, há um trecho de partitura de Capiba para o poema “Memória”. Reconhecer os sinais da linguagem musical que apa-recem no trecho. Procurar um músico que execute a partitura e tentar seguir a leitura.

5. A Estação Primeira de Mangueira homenageou Drummond em 1987. O enredo foi baseado no poema “Procura da poesia” e denominou-se “No reino das palavras, Carlos Drummond de Andrade”. Observar um trecho do samba:

O REINO DAS PALAVRAS

Mangueira De mãos dada com a poesiaTraz para os braços do povoEste poeta genialCarlos Drummond de AndradeSuas obras são palavrasDe um reino verdade

ItabiraEm seus versos ele tanto exaltou(Com amor) Eis aí a verde e rosaCantando em verso e prosaO que o poeta inspirou [...]

Na ilusão de um sonho acheiO elefante que eu imaginei

Rody, Verinha e Bira do Ponto

Ouvir o samba-enredo, com os alunos, e guiá-los para a observação dos motivos da produção drummondiana que nele aparecem. Discutir a relação entre a melodia e a letra e procurar perceber os principais motivos que foram desenvolvidos na avenida.

6. O poema “Canção amiga” foi musicado por Milton Nascimento. Assistir ao trecho do videodocumentário Drummond, testemunho da experiência humana, do Projeto Me-mória, em que o compositor se refere à criação da melodia, e procurar perceber as sequências melódicas e as poéticas. Em outras músicas criadas por compositores para poemas de Drummond, procurar perceber de que forma o músico trabalhou com os campos semânticos explorados pelo poeta.

Poema oculto ou Poema-presente

Poema oculto é um jogo ou uma brincadeira que segue os mesmos moldes do “amigo oculto”.Cada aluno deverá sortear o nome de um colega e, a partir das características, personalidade

ou temperamento, escolher um poema de Carlos Drummond de Andrade para presentear o amigo sorteado.

Os alunos reunidos em sala de aula, a exemplo do que ocorre no jogo do “amigo oculto”, devem tentar adivinhar quem é o amigo sorteado por cada integrante da turma. Em seguida, em voz alta, os alunos podem fazer a leitura do poema-presente e justificar os motivos da escolha.

Composição do pernambucano Paulo Diniz, sobre poema “E agora, José?” |

Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

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“À procura de uma besta”

Este núcleo de atividades parte das crônicas “Anúncio de João Alves”, “Olhador de anúncio”, que se encontram no site; do Almanaque Drummond, na seção “Olhadores de anúncio”, e do poema “Eu, etiqueta”.

1. Em busca de anúncios antigos Indicar aos alunos uma pesquisa sobre anúncios antigos, como os que podem ser encon-

trados no Almanaque. Comparar as formas de anunciar de antigamente com as de hoje. Observar, por exemplo,

as estratégias de sedução de que fazem uso. Fazer com os anúncios pares para serem expostos, como, por exemplo, uma propaganda

de carro antiga ao lado de uma moderna. Pedir que os alunos exponham, oralmente, os principais pontos de contato e as principais divergências entre uma e outra forma de apresentar o produto.

2. Olhador de anúncio Ler com os alunos a crônica “Olhador de anúncio”. Observar com eles de que forma se

apresentam no texto os produtos vistos “através da arte de vender”. Pedir que eles façam o levantamento das expressões usadas para promover os produtos e tentem explicar o sentido de cada uma delas.

A partir das expressões, dividir a turma em grupos e entregar a cada grupo a tarefa de fa-zer o anúncio do produto a que cada uma delas se liga, de modo a atualizar a propaganda, aproveitando a expressão, porém, como slogan.

3. “À procura de uma besta” Ler com os alunos a crônica “Anúncio de João Alves”. Observar com eles outro tipo de

anúncio, que não visa a vender o produto. Fazer uma pesquisa, em jornais e revistas, de anúncios desse tipo. Sugerir que os alunos produzam um anúncio nesses moldes.

4. Drummond propaganda No Almanaque Drummond, há uma propaganda das canetas Parker, em que o “garoto-

propaganda” é o nosso cronista-poeta. Sugerir aos alunos que a retomem e façam uma releitura dela a partir dos ícones e recursos visuais de hoje em dia.

5. Nós, etiquetas Fazer com os alunos uma análise do poema “Eu, etiqueta”. Discutir conceitos de identi-

dade e divulgação de propaganda de produtos. Propor que pensem também na estratégia moderna de consumo, que é a personalização do produto, para que este se “aproxime” da identidade do consumidor.

Propor aos alunos que listem itens que consomem, classificando-os como necessários ou supérfluos. Promover com eles uma análise comparativa entre as listas, observando se há itens comuns e se estão classificados da mesma forma. Discutir os conceitos de necessá-rio e supérfluo.

Drummond | Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

22 23

“idade madura”

Envelhecer é o caminho natural do homem, mas é uma fase temida por conta das dificul-dades que traz: fragilidade emocional e física, limitações aos hábitos até então praticados etc. O tema “envelhecimento” foi explorado por Drummond, entre outros textos, em “Idade madura”.

Idade madura em olhos, receitas e pés, ela me invadecom sua maré de ciências afinal superadas.Posso desprezar ou querer os institutos, as lendas,descobri na pele certos sinais que aos vinte anos não via. (Idade madura, em A rosa do povo)

Texto auxiliar 1 O poeta-cronista trata o tema do envelhecimento como quem olha o tempo, o mundo e

a si próprio enquanto caminha por suas palavras e versos, experimentando esse transcorrer do tempo e da vida, colecionando, deixando passar e perdendo amigos, amores, objetos, paisagens e o próprio vigor. Por isso se refere ao tema também no “Poema orelha” (A vida passada a limpo, 1958) e em diversas entrevistas.

E mais:Numa rápida entrevista que deu para a TV globo em 1980, comparou a rapidez da vida à

velocidade de um avião supersônico. O depoimento, jamais publicado: “A gente não tem ideia de que a vida passou. Quanto a gente olha para trás, vê que foi extremamente rápido. Não dá pra sentir a idade. Dá para sentir que o negócio foi veloz, um processo demasiado rápido. É como se a gente estivesse num avião supersônico. Eu me lembro de coisas da minha infância como se tivessem passado ontem. Chego à conclusão de que tudo passa num minuto.” (In: Moraes Neto, geneton. Dossiê Drummond. Prefácio de Paulo Francis. Posfácio do autor. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: globo, 2007. p. 26)

Texto auxiliar 2Envelhecimento da população brasileira

A população brasileira vem apresentando um nítido processo de envelhecimento, com a redução da população infanto-juvenil e o consequente aumento da população adulta e idosa. Esse processo, típico das sociedades contemporâneas urbano-industriais, é caracterizado por um conjunto de mudanças, entre elas a redução do número de filhos por família, a prevenção de doenças e a ampliação da expectativa de vida (vide quadro “Esperança de vida ao nascer”). Isso significa também que, no futuro, os países que vivem tal processo deverão ter maior atenção às questões relacionadas à população idosa, o que exigirá maiores cuidados com a saúde, lazer apropriado e qualidade de vida na aposentadoria. Segundo dados da ONU, a estimativa é que o Brasil multiplique por quatro o número de habitantes acima de 60 anos até o ano 2050.

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1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Proporção da População por Grandes Grupos de Idade - 1980-2000Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980, 1991 e 2000 e Contagem da População 1996.

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Brasil – Esperanças de Vida ao Nascer - 1990-2008FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.

Carlos Drummond de Andrade | Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

24 25

1. Refletir sobre as palavras de Drummond e imaginar um envelhecimento com qualidade para si mesmo, discutindo também como a questão da chamada Terceira Idade traz con-sequências, e exigências, para a sociedade como um todo.

2. A partir das fotografias de Drummond, constantes do Almanaque, montar um painel com retratos de diferentes momentos da vida do escritor. Nesse mosaico, sob cada ima-gem, deverão constar dois textos: um texto (crônica ou poesia) de Drummond no qual ele reflita sobre cada fase (infância, juventude, fase adulta, idade madura ou velhice) e outro, que retrate a situação de pessoas com essas idades na atualidade brasileira.

O conjunto do mosaico ou painel deverá permitir uma mensagem clara da experiência do poeta-cronista e das condições da população na comunidade próxima à escola e/ou no Brasil.

4. Propor aos alunos a construção de um quadro de fotos. Cada aluno deve escolher fotografias signi-ficativas, montá-las em sequência e associar cada uma delas a um evento de sua vida e a um aconte-cimento do Brasil.

5. O que desafiaria ou causaria espanto ao velho Drummond no mundo de hoje?

Para estimular a pesquisa sobre o tema, pode-se fa-zer um levantamento de ideias com os estudantes e, junto com eles, formular questões que orientem uma atividade de investigação para compreender melhor a questão da velhice ou terceira idade, favo-recendo a imaginação sobre o momento da velhice para quem é jovem hoje. Questões como: o que se sabe sobre o envelhecimento hoje? O que se gosta-ria de saber ou o que é preciso conhecer? Onde e a quem recorrer para procurar as respostas?

Várias imagens de Drummond

| Arquivo Carlos Drummond de Andrade - AMLB/FCRB

26 27

Dois Andrades e uma conversa entre bruxos

1. Dois Andrades: Drummond e Mário, Intérpretes do Brasil Este núcleo de atividades é dirigido especialmente para os alunos do ensino médio. Nele,

propõe-se um encontro com dois poetas: Carlos Drummond e Mário de Andrade. Duas sensibilidades unidas pela amizade e pela inquietação artística, que construíram juntas uma parte significativa da história literária, cultural e política do Brasil. Devemos aos dois uma forma própria e nova de testemunhar, pensar e escrever a experiência de um Brasil que, pelas mãos deles, pode-se descobrir.

Sugere-se que o professor estimule a pesquisa da correspondência entre Carlos Drum-mond e Mário de Andrade e, aos poucos, junto com os alunos, trace um mapa dos prin-cipais aspectos do debate literário e suas interpretações do Brasil.

2. Conversa entre bruxos: Drummond e Machado de Assis A sugestão é promover um encontro um tanto inesperado entre dois bruxos, Machado de

Assis e Carlos Drummond. Não há, claro, troca de correspondências, mas há um diálogo entre textos. Trata-se da crônica “Capítulo dos gênesis”, de Drummond, e do conto “Na arca”, de Machado de Assis. Vale a pena ler também o célebre o poema “A um bruxo com amor”, escrito por Drummond em homenagem ao autor de Dom Casmurro. A proposta é o estudo da intertextualidade, das metáforas e alegorias entre os textos desses escritores.

Drummondianos

Há autores que se tornam conhecidos, em algum momento de suas vidas não por formu-larem ou escreverem obras inteiras, mas por cunharem expressões ou criarem personagens que permitem dialogar e falar do cotidiano. Desses autores, frases, versos ou personagens são repetidos, encenados e adotados em expressões corriqueiras nas conversas domésticas, nos bares, nas ruas etc. Alguns versos de Drummond ganharam notoriedade assim e são exem-plos dessa situação. Vejam-se alguns desses casos nas atividades a seguir:

1. O caso da pedra no meio do caminho

“Tinha uma pedra no meio do caminho”

a) Quantos usos você já observou da expressão-verso de Drummond? Estimular os alunos a coletar depoimentos, referências de leituras e outros registros que remetem ao uso de expressões inspiradas em versos de CDA. Ao final, montar um painel com os achados dos alunos e discutir o alcance da palavra escrita. E se o poeta-cronista não tivesse falado, pensado, escrito essa ideia?

b) Outra questão derivada da mesma abordagem é sobre a originalidade do conhecimen-to. O texto formulado pelo autor de uma obra literária pode ser utilizado em situações bem diferentes daquela que o inspirou a escrevê-la. Isso pode favorecer a compreensão

de que o conhecimento e a cultura são produções inacabadas, e a criatividade permite o uso novo e imaginativo de expressões e ideias conhecidas. Com base nessa perspectiva, a proposta é investigar os autores, histórias e ideias que tenham sido citados por CDA em seus textos, bem como diferentes formas com que o próprio Drummond continua sendo citado.

c) Observar o poema de Régis Bonvicino:

“Tinha um caminho no meio da pedra”

Atentar para a expressividade obtida pelo deslocamento de palavras. Brincar com as palavras que formam o poema, instaurando outros significados.

2. São muitas as produções literárias que retomam trechos da obra de Carlos Drummond de Andrade, inserindo-os em contextos diversos e provocando significados múltiplos. Procure conhecer poemas de Adélia Prado (“Com licença poética”) e Armando Freitas Filho, entre outros, que dialogam com a poesia de Drummond.

Eu passava na Avenida quase meia-noite.

Foi no Rio

Foi no Rio

Havia a promessa do mar

Foi no RioFoi no R

io

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

Foi no Rio

voluptuosidade errante do calo

mil presentes da vida aos hom

ens indiferentes,

Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.

abafando o calor

e bondes tilintavam,

que soprava no vento

A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu

autos abertos correndo caminho do mar

autos abertos correndo caminho do m

ar

meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

que meu coração bateu forte, m

eus olhos inúteis choraram.

O grande pão de mel suspenso entre mar e céu

insinua os prazeres da cidade.

A boca, o paladar,

a trama dos sentidos serpenteia lá em

baixo. O sol nascente

serpenteia lá embaixo. O

sol nascente

serpenteia lá embaixo. O

sol nascente

e o sol cadente vestem de púrpura

a forma rígida. N

uvens ciganas

a forma rígida. N

uvens ciganas

brincam de subtraí-la.

ITABIRA

BELOHORIZONTE

RIO DEJANEIRO

ao descer,

ao descer,

volto de mãos vazias para casa.

Consciência mais leve do que asa

faz-se, desfaz-se, faz-se

uma incorpórea face

de hiatos e de vácuos

de elipses, psius

ei, pessoal: furtar jabuticaba.

Jabuticaba chupa-se no pé.

A�nal,

A�nal,

A�nal,

que é andrade? Andrade é árvore

hermafroditas

Mas que dizer do poeta

igarapé ribeirão rio corredeira

andrade é morro

povoado

povoado

povoado

ilha

numa prova escolar?

Que ele é meio pateta

e não sabe rimar?

autos abertos correndo caminho do mar

uma pedra e, estacando,

uma pedra e, estacando,

uma pedra e, estacando,

Muito riso escarninho

Muito riso escarninho

o foi logo cercando?

Atrás do grupo-escolar �cam

as jabuticabeiras.

Atrás do grupo-escolar �cam

as jabuticabeiras.

Atrás do grupo-escolar �cam as jabuticabeiras.

Estudar, a gente estuda. Mas depois,

Estudar, a gente estuda. Mas depois,

Na cidade toda de ferro

Na cidade toda de ferro

De cacos, de buracos

resumo de existido.

O furto exaure-se no ato de furtar.

Cada um de nós tem seu pedaço

As ferraduras batem

como sinos.

As ferraduras batem como sinos.

no pico do Cauê.

Mas as coisas �ndas,

Consciência mais leve do que asa

Mas as coisas �ndas,

Mas as coisas �ndas,

muito mais que lindas,

muito mais que lindas,tornam

-se insensíveis

à palma da m

ão.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

abafando o calor

apelo do não.

apelo do não.

apelo do não.

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

de folhas alternas �ores pálidas

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

deixa confundido

este coração

este coraçãoeste coração

este coração

este coração

este coração

Tem as cores da vida e o sigilo da sombra. A

mar o perdido

A cada hora, desintegra-se, recom

põe-se,

assume formas inéditas de transparência.

meu amor.

meu am

or.

deixa confundido

deixa confundido

meu amor.

meu amor.

meu amor.

meu amor.

a cidade sou eu

sou eu a cidade

sou eu a cidade

sou eu a cidade

O grande pão de mel suspenso entre mar e céu

É montanha ou aparição crepuscular.

essas �carão.

essas �carão.

As coisas tangíveis

As coisas tangíveis

essas �carão.

hermafroditas28 29

PALAVrAs FiNAis

Uma concepção interdisciplinar orientadora das atividades pedagógicas e, claro, dos processos de ensino-aprendizagem escolar fundamenta-se na compreensão de que o conhecimento sobre o mundo fica limitado quando pensado, exclusivamente, pela ótica disciplinar. Ocorre que, na realidade objetiva, eventos e fenômenos, fatos e processos naturais e sociais são compostos por intricados elementos e fatores, quase sempre interdependentes e complementares, que não são propriedade exclusiva de nenhum campo da ciência. Portanto, o esforço de compreensão integrada, globalizada dessa totalidade-mundo precisa ser experienciado numa leitura interdisciplinar. A educação escolar contemporânea encontra-se desafiada a contemplar essa condição, superando uma longa tradição de exclusividade disciplinar, a romper barreiras e hábitos a fim de permitir a abertura desses horizontes para os estudantes e, claro, também para os seus professores.

As atividades desse Guia compõem, então, um investimento da equipe nessa perspectiva e resultam num esforço de leitura e investigação da experiência humana, construtora do mundo, inspirada pelo verso e pela crônica drummondiana. A curiosidade presente no texto de Drummond, suas indagações, a perspicácia de suas ironias e espantos apontam para uma atitude alerta sobre a história e ações do homem, sobre o ambiente e sobre a linguagem que permite a expressão do pensamento humano — uma visão não fragmentária da realidade foi um exercício constante do poeta-cronista. Atividades integradas por diferentes disciplinas escolares — possíveis somente quando uma atitude nova dos docentes se torna prática — são fundamentais para que se promovam encontros, descobertas e aprendizagem num contexto educativo que precisa ler, interpretar e explicar um mundo novo. É esse o convite presente no Guia.

NúCleo De AtiviDADeS ÁReAS De CoNheCiMeNto eNvolviDAS

1 “Retrato de uma cidade”

Antropologia cultural, Arquitetura,

Geografia, História, Língua Portuguesa,

Linguística

2 “Paisagem como se faz”

Antropologia cultural, Folclore, História,

Literatura Popular, Língua Portuguesa,

Geografia

3 “Paisagens, país” História, Música, Literatura

4 “Circulação do poeta” Geografia urbana, Língua Portuguesa

5 “A palavra mágica” Língua Portuguesa, Literatura, Tecnologias

6 “Hoje tem filme de Carlito!” Cinema, Física, Literatura, Teatro

7 “A linguagem na ponta da língua” Educação Física, Física, Literatura, Teatro

8 Fala, cidade! A era do rádio

Artes, Física, Geografia, História, Língua

Portuguesa

9 “Se a gente tivesse um elefante, que alegria, hein?

Artes, Biologia, Língua Portuguesa,

Literatura

10 “A noite dissolve os homens”

Artes, Geografia, História, Língua

Portuguesa, Literatura

11 “Delícias menineiras”

Folclore, Língua Portuguesa, Literatura,

Música

12 “A alegria de con-viver”

Geografia, Filosofia, História, Língua

Portuguesa, Literatura

13 “A poluição sob controle”

Ciências, História, Língua portuguesa,

Literatura, Geografia

14 “A Terra e os cometas devem ter medo de nós” Astronomia, Geografia, História, Literatura

15 Quanto vale? História, Finanças, Matemática

16 “Notícias humanas” História, Filosofia, Tecnologia

17 O som do poema Cultura popular, Literatura, Música

18 Poema-oculto ou poema-presente Literatura

19 “À procura de uma besta” História, Língua Portuguesa, Literatura

20 “Idade madura”

Estatística, Geografia da População,

História, Matemática

21 Dois Andrades e uma conversa entre bruxos História, Literatura

22 Drummondianos História, Literatura

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rEFErÊNCiAs BiBLiográFiCAs

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DrummonD

GUIA DO PROFESSOR

DA EXPERIÊNCIA HUMANA

TESTEMUNHO

[...] Os passos ecoavam ainda nos mesmos imensos corredores, nas mesmas salas infinitas. E nela existiam desvãos que nós nunca havíamos explorado. Por baixo da escada, por cima da copa, aqui, ali, o mistério abria-nos os seus lares. Mas nós crescíamos depressa e não púnhamos reparos na casa grande.Sabíamos que a casa tinha muitos anos, que ali morreram avós, tios e primos; em tal quarto nasceu meu pai, naquele outro meu avô estendeu, até à morte, uma perna baleada nas últimas eleições sangrentas do município; mas nós circuláva-mos livremente através do ar coalhado de lembranças e eflúvios familiares, de pesadas e obscuras memórias dos coronéis e das damas antigas, dos vestidos de dona Joana e das festas do comendador Paula Andrade.Com a mesma inconsciência natural crescemos e nos dispersamos; um dia a casa foi vendida, e então o amargor sem aviso prévio, uma angústia nos subiram à boca, aos olhos; verificamos como aquela casa fazia parte da nossa vida, e como essa vida ficava sem explicação, despregada das enormes paredes azuis que o Andrade dominador salvara da ruína para compor com elas o nosso quadro infantil e humano.

Sempre gostei de ver o sujeito às voltas com o fato, tendo de captá-lo e expô-lo no calor da hora. Transformar o fato em notícia, produzir essa notícia do modo mais objetivo, claro, marcante, só palavras essenciais. [...] E renovado todo dia! Não há pausa. Não há dorzinha pessoal que possa impedi-lo. O fato não espera. Então você adquire o hábito de viver pelo fato, amigado com o fato. Você se sente infeliz se o fato escapou à sua percepção. A mel-hor emoção, a mais cheia de pudor e a mais profunda, é para certas formas de beleza que o homem e o tempo criaram e vão destruindo de parceria; certas igrejas que envelhece-ram caladas e orgulhosas no seu incomparável silêncio; certos becos; certas ruas tristes e tortas por onde ninguém passa, nem a saudade; este chafariz, com uma cruz e uma data, como um túmulo; a sucessão dos Passos; muros em ruína mesmo, sem literatura, inteiramente acabados; tudo que no passado não é nem epopeia nem romance nem anedota; o

que é arte. Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. [...] Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu ir-mão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. [...] Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? [...]

É verdade, ainda, que não tenho posição à esquerda, senão apenas sinto por ela uma viva inclinação intelectual, de par com o desencanto que me inspira o espetácu-lo do meu país. Isso não impede, antes justifica que eu me considere absolutamente fora da direita e alheio aos seus interesses, crenças e definições. E aí está a razão por que me julguei impossibilitado de ouvir o meu amigo pessoal Alceu. Não tendo jamais escondido o que fica dito aí atrás, eu me vexaria de ocultá-lo agora que o art. 113 da Constituição é letra morta. Ora, a minha presença na conferência de hoje se-ria mais, talvez, do que silenciar inclinações e sentimentos. Poderia ser tida como repúdio a esses sentimentos e inclinações. Por isto não fui ao Instituto.6