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Dr. Joel Beeke Vinte e cinco anos de ministério Entrevista com Rev. Paul Smalley

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O dia 9 de dezembro de 2011 assinala os vinte e cinco anos que o Dr. Joel R. Beeke tem servido como pastor em Grand Rapids, Michigan. Ele começou o ministério pastoral em 1978 na Congregação Reformada da Holanda, de Sioux Center, Iowa. Também serviu como pastor da Igreja Holandesa Reformada Ebenezer, em Franklin Lakes, Nova Jersey, de 1981 a 1986, antes de aceitar o chamado pastoral de Grand Rapids em 1986. Nesta entrevista, o professor assistente do Dr. Beeke no Seminário Teológico Puritano Reformado, Rev. Paul Smalley, pediu que ele falasse sobre o último quarto de século do seu ministério.

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Dr. Joel BeekeVinte e cinco anos de ministério

Entrevista com Rev. Paul Smalley

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Vinte e cinco anos de ministério em Grand Rapids, Michigan (EUA)

Entrevista com Joel R. Beeke

O dia 9 de dezembro de 2011 assinala os vinte e cinco anos que o Dr.

Joel R. Beeke tem servido como pastor em Grand Rapids, Michigan. Ele começou o ministério pastoral em 1978 na Congregação Reformada da Holanda, de Sioux Center, Iowa. Também serviu como pastor da Igreja Holandesa Reformada Ebenezer, em Franklin Lakes, Nova Jersey, de 1981 a 1986, antes de aceitar o chamado pastoral de Grand Rapids em 1986.

Nesta entrevista, o professor assistente do Dr. Beeke no Seminário Teológico Puritano Reformado, Rev. Paul Smalley, pediu que ele falasse sobre o último quarto de século do seu ministério.

Como Deus o trouxe a Grand Rapids, em 1986? Antes de mais nada, por meio de uma poderosa aplicação à mi-nha alma, de Atos 20.22-24: “Agora eis que, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo me testifica de cidade em cidade que me esperam cadeias e tribulações. Porém não tenho a minha vida como coisa preciosa a mim mesmo, contanto que complete a mi-nha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do Evangelho da graça de Deus”. Esse texto foi con-firmado por inconfundíveis providências que me levaram a acei-tar o chamado pastoral para esta igreja. Eu vim plenamente con-vencido de que essa era a vontade de Deus.

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Há muitos pastores, hoje, que não permanecem numa só igreja mais do que quatro ou cinco anos. O que torna possível um minis-tério de longa duração? Um ministério se denomina de longa duração, hoje, quando perdura dez anos ou mais. Eu creio que esse tipo de ministério deveria ser a norma, ou pelo menos bem mais comum do que é. Há várias coisas que contribuem para tornar possível um ministério de longa dura-ção. A primeira é obediência ao chamado de Deus. Creio firmemente que um ministro é chamado por toda a vida para o ministério, e que ele não pode abandonar o rebanho enquanto perdurar o chamado de Deus para aquele rebanho particular.

Em segundo lugar, está o amor e a oração pelo seu povo. Toda vez que considerei aceitar um chamado para outro lugar nesses últimos vinte e cinco anos, ou mesmo a possibilidade de dedicar-me integralmente ao trabalho do seminário, como alguns colegas me encorajavam a fazer, eu não podia conceber a ideia de deixar o querido povo desta congregação. À medida que os anos pas-sam, os laços se tornam mais fortes, não mais fracos. Às vezes, quando contemplo a congregação no domingo, olho de banco em banco, e não posso deixar de lembrar aquilo que sei a respeito de cada família — seus fardos que ninguém conhece, as tribulações, os triunfos espirituais, as orações respondidas e as não respondi-das. Quando você realiza o casamento de um casal que você bati-zou quando eram crianças, como não considerá-lo uma extensão da sua família, de forma que mesmo o simples pensamento de deixá-los faz seus olhos encherem d’água?

Em terceiro lugar, constante esforço para conservar-se renovado na pregação da Palavra de Deus. Quando se prega para a mesma congregação por muitos anos, não se consegue sobreviver sem re-novar-se pelo estudo de novas passagens e pregar livros inteiros da Bíblia com os quais nunca se tratou antes. Posso afirmar que, embo-ra eu esteja pregando há trinta e cinco anos, sob vários aspectos eu me sinto como quem está só começando. Por exemplo, espero co-meçar em breve uma nova série de sermões sobre o Apocalipse. Embora eu trema diante da tarefa, também estou bastante motivado e pronto a realizá-la com a ajuda de Deus.

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Em quarto lugar, o encorajamento vindo do próprio rebanho. Es-se encorajamento vem de diferentes formas, e a mais importante é o ministério salvador do Espírito Santo operando conversões e levando as ovelhas a crescer por meio das pregações e do ministé-rio pastoral. Quando isso ocorre regularmente através dos anos (embora sempre haja algum fluxo e refluxo dessas bênçãos), é difícil largar um rebanho desses. Quando o pregador vê novos crentes unirem-se ao rebanho por meio de conversão sólida e os vê crescer na graça, isso o capacita a lidar periodicamente com de-sencorajamentos e críticas sem desgastar-se em demasia. O se-gundo encorajamento mais importante para mim é a forma que a congregação ouve enquanto você está pregando. A pregação é uma via de mão dupla: não só o pregador está falando com a congrega-ção, mas também o rebanho está respondendo ao pregador com atenção, anelo, e fé. A congregação de Grand Rapids sempre me escutou bem desde o início. Eu sempre senti que aqui eu estava pregando a pessoas famintas. Isso não tem preço. Mas também há um pequeno encorajamento que anima qualquer ministro, como quando os presbíteros e diáconos apertam sua mão firmemente no domingo à noite, olham nos seus olhos, e dizem de coração: “Mui-to obrigado, pastor, por nos trazer outra vez a Palavra de Deus hoje”. Ou o querido irmão que aperta minha mão no vestíbulo uma ou duas vezes por mês, e sempre me diz a mesma coisa, em-bora eu saiba que ele o faz com sinceridade: “Muito obrigado por levantar Cristo diante de nós outra vez hoje, pastor”. Ou o amigo que me envia um e-mail quase a cada mês, dizendo-me especifi-camente o que ele aprendeu no sermão do último domingo.

Além da Bíblia, quais são os três livros 1 que mais o ajudaram como cristão? E como ministro2? O primeiro livro que me vem à mente é Letters of Samuel Ruther-ford, que eu conservei na minha mesa de cabeceira por décadas.

1 Dos livros de edificação pessoal citados pelo Pr. Beeke, o único traduzido em português é O Peregrino, pelas

seguintes editoras: CPAD, Fiel e Mundo Cristão. Os demais, na ordem em que aparecem, teriam possivelmente o seguinte título em português: Cartas de Samuel Rutherford, Cristo, nosso Mediador, O Salvador sofredor. — N. do T. 2 Dos livros referentes ao ministério, já estão traduzidos os seguintes: As Institutas (Editora Cultura Cristã), e

diversos comentários bíblicos de João Calvino (Editora Fiel). Os demais, na ordem em que aparecem, possivelmente seriam assim traduzidos: O sábio trabalho do cristão, O ministério cristão. — N. do T.

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Sempre que me sentia desencorajado, eu tranquilizava a mente com um bocado de Rutherford antes de dormir. A maneira dele de levar suas aflições a Cristo e deixá-las com Ele é um remédio que tenho tomado milhares de vezes. O segundo livro, O Pere-grino, tem exercido profunda influência em mim desde a minha infância, quando meu pai costumava ler um trecho cada domin-go à tarde, depois do culto. Depois que me converti, quando adolescente, pedi que ele me explicasse várias coisas a respeito das diferentes personagens dessa maravilhosa alegoria. As muitas lições espirituais que aprendi das respostas de meu pai, e mais tarde dos meus próprios estudos desse famoso livro, eu simples-mente não consigo descrever. O terceiro lugar vêm dois livros: Christ Our Mediator, de Thomas Goodwin, livro que me levou, quando eu tinha dezessete anos, a experimentar mais da beleza e da plenitude de Cristo do que jamais havia experimentado antes; e The Suffering Savior, de Friedrich W. Krummacher, que eu li pela primeira vez aos dezoito anos, como soldado em serviço em Fayetteville, na Carolina do Norte, durante um acampamento de duas semanas no verão. Esses dois livros ampliaram meu conhe-cimento experimental daquilo que meu Salvador fez por mim ao morrer em meu lugar pelos meus pecados.

Como ministro, os quatro volumes de The Christian’s Reaso-nable Service, de Wilhelmus à Brakel têm sido de grande ajuda no ministério pastoral. As aplicações no final de cada capítulo são de valor inestimável. Fiquei triste quando se acabaram os seis anos que demoramos para editar essa série de livros de valor incalcu-lável. Em segundo lugar, As Institutas de João Calvino e os seus comentários bíblicos têm sido uma constante fonte de instrução e edificação para mim. Por fim, The Christian Ministry, de Char-les Bridge tem me ensinado e me tocado mais do que qualquer outro livro de homilética e ministério. Creio que esse livro é a melhor obra de um só volume jamais escrito sobre a todo-abrangente tarefa do ministério da Palavra.

Como o irmão tem visto a obra de Deus na vida da igreja? Pela graça de Deus, tenho tido o privilégio de testemunhar, tanto quanto posso perceber, muita gente convertida na congregação, e

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outros que chegaram à certeza da fé e da libertação espiritual em Cristo. Sem dúvida, isso não é a bênção de Deus apenas sobre o meu ministério, mas também sobre o ministério dos meus compa-nheiros de trabalho, o Rev. Foppe VanderZwaag, que está conosco há dez anos, e o Rev. Maarten Kuivenhoven, que está conosco há quase dois anos. Algumas dessas conversões se deram por meio de estudo bíblico, leitura de livros cristãos, e, especialmente, entre os jovens, por meio de acampamentos de verão, que Deus tem aben-çoado de forma especial. Embora estejamos cientes que o munda-nismo também tem invadido a vida de alguns da congregação, no geral a congregação tem crescido significativamente na consciên-cia prática do pecado e do sofrimento, da graça, da libertação e gratidão no passar desses vinte e cinco anos. A Deus somente seja a glória, pois todo ministro verdadeiro sabe que ele jamais poderia converter uma simples alma. Cada conversão é um milagre da soberana graça de Deus; consequentemente, como é humilhante quando Deus usa você como instrumento em Sua todo-poderosa mão para a conversão de um pecador! Com exceção da minha própria conversão, não conheço nada mais humilhante do que isso. Sempre me impressiona o fato que Deus usa um ministro pecador para a conversão de outros pecadores.

A obra de Deus na vida da igreja também é evidente no gran-de aumento do compromisso da congregação em evangelizar em diferentes ministérios e ambientes. Tenho grande alegria, pois percebo o zelo do rebanho em repartir o evangelho em nossa vizinhança local por meio da escola de missões dominical e do trabalho social de ajuda, como também nas prisões, e casas de repouso aqui na cidade, e a sua dedicação para alcançar o mundo com o evangelho por meio da palavra impressa, do treinamento em seminários, das conferências ministeriais, e pelos diversos canais de comunicação.

O que foi que sustentou o irmão pessoalmente, durante os tem-pos mais difíceis do seu ministério? Diversas coisas:

A absoluta, soberana e unilateral graça de Deus. As disciplinas espirituais, como a oração, a leitura da Bíblia, a

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preparação de sermões, a leitura de livros espiritualmente edifi-cantes, e uma estreita comunhão com outros crentes.

Escrever sobre assuntos espirituais. Com frequência tenho me sentido mais perto de Deus quando escrevo artigos e livros. Eu es-crevo tanto para meu próprio proveito como para ajudar os outros.

O apoio do conselho da igreja e da congregação. A alegria e a força derivadas de contar com minha querida es-

posa como minha melhor amiga tanto espiritual como natural-mente, e os filhos preciosos que me ajudam a não afundar, e os irmãos chegados com os quais posso contar para receber conse-lhos e oração.

Ensinar no seminário e publicar livros relevantes com fre-quência tem me proporcionado muita alegria e tem me guardado de ficar desencorajado.

A intercessão de Cristo e as orações do querido povo de Deus.

Que mudanças o irmão sofreu como ministro nesse período? Essa é uma pergunta incômoda para responder. Com toda certe-za posso dizer o seguinte:

Estou menos confiante em mim mesmo, e mais incomodado com minhas próprias falhas, e com meu lento progresso na santi-ficação do que eu estava vinte e cinco anos atrás.

Com o passar dos anos, tenho me tornado mais consciente da minha própria dispensabilidade. Deus não precisa de mim para levar a cabo a Sua obra, ou para edificar a Sua igreja. É um privi-légio servi-lO como arauto e embaixador, pois a igreja não é mi-nha, mas dEle, e Ele é digno de ser servido.

Com toda certeza estou mais otimista quanto ao fato de Deus operar salvificamente nas pessoas. Tenho mais expectativa em Deus do que vinte e cinco anos atrás.

Cada vez mais sinto que apenas comecei a pregar, e estou mais comprometido com a pregação do que nunca antes. Na verdade, amo quase todos os aspectos do ministério (pregar, ensinar, pastorear e aconselhar) mais e mais à medida que os anos passam.

Cada vez mais estou me concentrando nos assuntos principais do evangelho, como o arrependimento e a fé, investindo menos

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tempo e prestando menos atenção em assuntos de menor centra-lidade para o evangelho, como o supralapsarianismo e o infralap-sarianismo.

Cada vez mais percebo o tremendo desafio do aconselhamen-to. A vida de algumas pessoas é extremamente complicada e está falida, e sua restauração é difícil. Um pastor precisa de treina-mento específico na resolução de problemas e na administração de crises, o que exige grande sabedoria para dar conselho apro-priado com a devida compaixão e com muita oração.

Tenho menos tendência de julgar as pessoas do que anteri-ormente. Muitas vezes, meu primeiro pensamento, quando as pessoas agem irresponsavelmente, é: Qual será a tribulação ou o problema por trás dessa atitude?

Embora eu ame as congregações da nossa denominação e agradeça a Deus cada semana pela grande paz entre nós e a bên-ção do Espírito sobre a denominação, hoje estou menos “casado” com uma denominação do que vinte e cinco anos atrás. Penso cada vez mais em termos da igreja universal, e a unidade em Cristo desfrutada por todos os crentes.

Talvez a maior mudança de todas é que estou gastando a maior parte do meu tempo e energia em coisas que têm valor permanen-te. Quer seja ministério na igreja local, ministério no seminário, ministério de conferências, ou ministério escrito, eu consagrei a Deus a minha vida para sempre, desde que tive a difícil e perigosa experiência quando fui assaltado em Latvia. Propus-me a devotar o restante da vida para promover o cristianismo bíblico, reformado, puritano e experimental por toda a terra.

Finalmente, certas doutrinas se tornaram mais preciosas para mim com o passar dos anos – especialmente a adoção na família de Deus, a constante intercessão de Cristo, e, talvez acima de tudo, as glórias do céu.

Com base na sua experiência, quais serão os maiores desafios para as igrejas reformadas da América do Norte para a próxima década? Acho melhor formular minha resposta a essa questão em termos dos mandamentos permanentes do evangelho e da aliança da graça, que se encontram sob ataque em cada geração, em vez de

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me ater às tendências e modas dos tempos. Em outras palavras, a igreja será mais bem sucedida se apegar-se aos fundamentos e obedecer às ordens permanentes do Seu Senhor e Soberano. Conservando isso em mente, quero mencionar três coisas.

Primeira, manter e defender toda a fé cristã uma vez por to-das entregue aos santos, como revelada nas Escrituras, promovi-da na pregação e na experiência reformada, e resumida nos gran-des credos ecumênicos e nas confissões reformadas. Segunda, manter padrões bíblicos para a adoração e a obra da igreja e para a vida e conduta dos seus membros — submetendo-se à Palavra; conservando a guarda do domingo; resistindo a indiferença dou-trinal e do erro, e a conformidade ao mundo; exercendo a nega-ção de si mesmo; e promovendo o temor de Deus e a renovação da mente, do coração, e da vida pelo poder do evangelho. Tercei-ra, trazer os corações e mentes da nova geração cativos à obedi-ência de Cristo, de forma que a herança da teologia reformada, com os seus privilégios e responsabilidades da aliança sejam es-timados, preservados, e desfrutados pelos seus legítimos herdei-ros, tanto os que nascerem nessa comunidade da aliança como aqueles a quem o Senhor acrescentar, vindos de fora. Que conselhos o irmão daria aos pastores que estão come-çando o ministério? Aqui estão onze rápidos conselhos:

1. Ore, ore, ore. Jamais tome sobre si mesmo nenhuma res-ponsabilidade da igreja sem temperá-la com oração. Lembre-se do conselho de John Bunyan: “Você pode fazer mais do que orar depois de ter orado, mas você não pode fazer nada mais do que orar até ter orado”.

2. Estude, estude, estude. Mantenha-se nos pastos verdejantes da verdade em seus estudos. Conserve o seu hebraico e o seu grego. Prepare os seus sermões com muito cuidado. Escreva al-guns artigos ou alguns livros para aprimoramento pessoal. Parti-cipe de algumas das conferências e seminários de que vale a pena participar, tão comuns em vários locais hoje. Volte ao seminário para estudar um pouco mais. Faça questão de trabalhar de forma que sua mente seja expandida.

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3. Pregue, pregue, pregue. Empregue o melhor da sua energia e vida, como Paulo, pregando Jesus Cristo (1 Co 2.2). Pregue com fre-quência. E quando o fizer, pregue de forma bíblica, doutrinária, experimental e prática. Pregue com paixão, apresentando a Palavra da vida “como um moribundo falando com outros moribundos”.

4. Seja um modelo, seja um modelo, seja um modelo. Seja um modelo da verdade bíblica para com sua esposa, sua família, para com os que trabalham com você na igreja, sua congregação, e para com seus vizinhos. Decida-se, como Thomas Boston, a espa-lhar o perfume de Cristo onde quer que você vá. Como Robert Murray M’Cheyne, ore que o Espírito Santo possa torná-lo tão santo na terra quanto é possível que um pecador perdoado seja santo. Ore para que sua vida seja uma “carta viva”, seus sermões sejam escritos em sua vida prática.

5. Delegue, delegue, delegue. Não dê aulas a todas as classes na sua igreja. Não seja o responsável pelo boletim dominical. Não tente regular e supervisionar todas as atividades dos seus colegas de trabalho. Delegue tudo o que for possível, de forma que você possa concentrar-se na oração, na pregação, no ensino, e no cui-dado espiritual do rebanho.

6. Treine, treine, treine. Treine o seu povo para as funções de li-derança nos diversos ministérios da igreja. Gaste tempo extra com os jovens que podem servir como futuros presbíteros e diáconos, ou como líderes de diferentes atividades. Pela graça do Espírito, “de-senvolva” futuros líderes. À medida que você os treina, dê-lhes li-berdade para usar os dons e oriente a visão deles tanto quanto pos-sível. Todo o tempo empregado nisso será muito bem gasto.

7. Visite, visite, visite. Visite o seu rebanho fielmente – no hospital, em casa, e em toda hora de necessidade. Esteja presente quando precisarem de você. Sempre leia a Palavra e fale algumas poucas palavras edificantes sobre o texto, e ore em cada visita. Se você falhar nesse assunto, falhará em tudo mais.

8. Ame, ame, ame. Muitos ministros falham porque negligen-ciam o amor às ovelhas. Ame e continue amando o seu povo por aquilo que são, e não pelo que você pensa que deveriam ser. Aceite-os como são e onde estão, e trabalhe com eles a partir desse ponto, sempre com paciência, lembrando que, se você não

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pode associar-se de forma amorosa com as pessoas onde elas estão, com o passar do tempo elas o rejeitarão. Considere-se como o tutor espiritual e o cuidador de uma grande família. Seja bondoso com cada um deles. Leve-os a sentir a sua preocupação por eles e por suas famílias. Faça perguntas que mostram o seu cuidado por eles. Regue-os com compaixão, quando estiverem em necessidade. À medida que o seu relacionamento cresce, sempre que for apropriado, não se acanhe de dizer-lhes que você os ama. E se você tiver inimigos na igreja, faça de tudo para amá-los também, como Jesus ordenou.

9. Desfrute, desfrute, desfrute. Considere como inacreditável honra e alegria o fato de ser embaixador de Deus. Edward Payson (1783-1827) disse que com frequência batia palmas de alegria durante seu estudo particular porque Deus o tinha chamado para o ministério sagrado da Sua Palavra. A obra do ministério é uma tarefa pesada, mas também é cheia de alegria. Aprenda a consi-derar como sua força a alegria do Senhor, em Cristo (Ne 8.10).

10. Renove, renove, renove. Preste atenção à sua saúde. Viva em intimidade com Deus, alimente-se de Cristo, beba intensa-mente do Espírito. Tire tempo para descansar, para deixar de lado todos os fardos, e para abrir-se à luz da Palavra e à direção do Espírito Santo. Lembre-se de que você é um mero receptáculo ou vaso, e não a fonte das águas vivas. Você não consegue dar aos outros aquilo que não apanhou primeiro para si mesmo.

11. Persevere, persevere, persevere. Quando chegarem as tribu-lações e os inimigos perseguirem, não seja um mercenário que abandona as ovelhas. Persevere no cuidado por elas. Fique firme. Confie em Eclesiastes 11.1: “Lança o teu pão sobre as águas, por-que depois de muitos dias o acharás”.

Como a sua família tem recebido os rigores e desafios do ministério? Muito bem. Deus tem-nos abençoado imensamente nessa área. Minha querida esposa é uma incrível dádiva de Deus para mim. Alguém me disse certa vez: “Ela ama o ministério tanto quanto você”. Certa vez, quando perguntei a ela qual era a parte mais difí-cil de ser esposa de pastor, ela pensou um pouco, e depois disse:

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“Às vezes, como esposa de pastor, fico indecisa como devo saudar as pessoas, se devo só falar, ou apertar a mão, ou dar um abraço, ou um abraço e um beijo — essa é, provavelmente, a parte mais difícil”. Se essa é a maior dificuldade da minha esposa como esposa de pastor, eu acho que ela está se saindo muito bem!

Nossos filhos, também, não tiveram nenhum problema por serem filhos de pastor. Na verdade, eu perguntei várias vezes a eles durante esses anos: “Vocês alguma vez quiseram que seu pai não fosse pastor?” Repetidamente, todos eles responderam com firmeza: “É claro que não!” Nós estamos muito gratos a Deus e a eles por esse tipo de convicção.

Minha esposa e eu também estamos gratos que nossa igreja e escola comunitária não os trataram de forma diferenciada como filhos de pastor. Em nossa própria família, temos tentado criá-los antes de qualquer outra coisa como crianças cristãs, não espe-rando certo comportamento simplesmente porque são filhos de pastor. E com muito cuidado temos evitado fazer críticas à igreja ou a qualquer outra pessoa na frente de nossos filhos.

Nossos filhos têm sido uma grande bênção para nós! Estou plenamente certo e consciente de que isso é unicamente por causa da graça de Deus.

Qual texto bíblico melhor resume os últimos vinte e cinco anos da sua vida? Filipenses 4.19: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades”.

____________ Dr. Joel Beeke é diretor e professor de teologia Sistemática e Homilética no Puritan Reformed Theological Seminary e pastor da Heritage Netherlands Reformed Con-gregation of Grand Rapids, Michigan, USA

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É proibida a reprodução de parte ou do todo

desta publicação sem a permissão formal do

editor.

Edição: Manoel Canuto

Edição gráfica e capa: Heraldo Almeida