dpa em bovinos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA PODOLOGIA BOVINA Gustavo Roberto Plautz PORTO ALEGRE 2013/1

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE VETERINRIA

    PODOLOGIA BOVINA

    Gustavo Roberto Plautz

    PORTO ALEGRE

    2013/1

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE VETERINRIA

    PODOLOGIA BOVINA

    Autor: Gustavo Roberto Plautz

    Orientador: Jorge Jos Bangel Jr.

    Monografia apresentada Faculdade de

    Veterinria como requisito parcial para a

    obteno da Graduao em Medicina

    Veterinria

    PORTO ALEGRE

    2013/1

  • DEDICATRIA

    Agradeo primeiramente meus pais, Alberto e Ira, pela oportunidade de fazer este curso.

    Pelo apoio nos momentos de dificuldade e por todos os sacrifcios que fizeram por mim.

    Agradeo aos grandes amigos que fiz na faculdade e aos felizes momentos que aqui vivi

    com eles.

    Ao professor Jorge Jos Bangel Jnior, orientador e revisor deste trabalho. Obrigado pelos

    quase cinco anos de aprendizado e por toda a dedicao em formar futuros bons veterinrios.

    Cabe tambm agradecer aos demais veterinrios e aos meus colegas que auxiliaram em

    minha formao profissional, por meio de estgios e por compartilhamento de vivncias

    prticas.

    Agradeo tambm aos autores das referncias bibliogrficas, que j na dcada de 60 e 70

    buscavam melhorias na produo leiteira e foram pioneiros na pesquisa de solues para os

    problemas podais na criao de rebanhos bovinos.

  • RESUMO

    Este trabalho tem o objetivo de demonstrar a importncia dos problemas podais em

    rebanhos bovinos, classificar clinicamente estas afeces e estimar suas perdas econmicas.

    As afeces podais so consideradas como um dos maiores problemas de sade em gado

    leiteiro (Faye & Lescourret, 1989). De acordo com a FAO (1967), o total de perdas

    provocadas pelas afeces podais em vacas atinge 15% da produo em pases desenvolvidos

    e 30 a 40% nos pases em desenvolvimento. As perdas econmicas referem-se reduo da

    vida til dos animais, diminuio da produo leiteira, diminuio da fertilidade e custo do

    tratamento (Greenough et al., 1983).

    O cenrio mundial estabelece o Brasil como um promissor produtor de leite mundial

    nos prximos anos devido sua rea, produo crescente de gros e investimentos no setor de

    laticnios. Diante desse desafio busca-se uma melhoria na sanidade, instalaes, nutrio e

    gentica que so pontos cruciais para diminuio das enfermidades podais. No

    desenvolvimento desse trabalho sero abordados as principais enfermidades, suas

    caractersticas, fatores predisponentes e a importncia econmica na produo de leite.

    Palavras-chaves: enfermidades podais, fatores predisponentes, importncia econmica

  • ABSTRACT

    This work has the objective to demonstrate the importance of foot problems in cattle,

    clinically classify foot affections and estimate the economic losses caused in dairy cows. Foot

    affections are regarded as one of the biggest health problems in dairy cattle (Faye &

    Lescourret, 1989). According to FAO (1967), the total losses caused by feet diseases in cows

    reaches 15% of production in developed countries and 30-40% in developing countries.

    Economic losses relate to the reduction in the life of animals, decreased milk production,

    decreased fertility and cost of treatment (Greenough et al., 1983).

    The global scenario establishes Brazil as a promising global milk producer in the coming

    years due to its area, increasing grain production and investment in the dairy sector. Faced

    with this challenge, looking for an improvement in health, facilities, nutrition and genetics

    that are crucial points for reduction of foot diseases. In the development of this work will be

    discussed major foot diseases, their characteristics, predisposing factors and economic

    importance in milk production.

    Key-words: foot diseases, predisposing factors, economic importance

  • LISTAS DE FIGURAS

    Figura 1- Anatomia e histologia do dgito ................................................................................ 14

    Figura 2- Anatomia do casco bovino ........................................................................................ 15

    Figura 3- Escore de locomoo ................................................................................................ 25

    Figura 4- Dermatite digital ....................................................................................................... 29

    Figura 5- Dermatite interdigital ................................................................................................ 30

    Figura 6- Eroso do talo.......................................................................................................... 33

    Figura 7- Flegmo interdigital .................................................................................................. 36

    Figura 8- Gabarro ..................................................................................................................... 39

    Figura 9- Doena da linha branca ............................................................................................. 40

    Figura 10- Abcesso da banda coronria ................................................................................... 41

    Figura 11- lcera de sola.......................................................................................................... 43

    Figura 12- lcera de sola.......................................................................................................... 44

    Figura 13- Pdiluvio ................................................................................................................. 45

    Figura 14- Ferramenta para fazer casco ................................................................................... 47

    Figura 15- Limpeza e desinfeco ............................................................................................ 47

    Figura 16- Lixao do casco ..................................................................................................... 48

    Figura 17- Retirada de material necrosado com rineta ............................................................. 48

    Figura 18- Colocao do taco de madeira no dgito com resina .............................................. 49

    Figura 19- Colocao de bandagem ......................................................................................... 49

    Figura 20- Bandagem ............................................................................................................... 50

    Figura 21- Bandagem com material impermevel ................................................................... 50

    Figura 22- Cama em confinamento .......................................................................................... 51

    Figura 23- Alojamento em cama de palha ................................................................................ 52

    Figura 24- Tronco hidrulico .................................................................................................... 53

    Figura 25- Tronco manual ........................................................................................................ 53

    Figura 26- Tronco de conteno tombador hidrulico ............................................................. 54

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    C = Graus celsius

    cm = Centmetro

    cm2

    = Centmetro quadrado

    ECC = Escore da condio corporal

    FAO = Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e Agricultura

    FDN = Fibra em detergente neutro

    kg = Quilograma

    m = Metro

    pH = Potencial de hidrognio

    PVPI = Polivinil pirrolidona iodo

    US$ = Dlar

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............. ........................................................................................................9

    2 IMPORTNCIA .............. ....................................................................................................11

    3 ANATOMIA DO CASCO BOVINO ................................................................................. 14

    4 FATORES PREDISPONENTES ........... ...........................................................................18

    4.1 Genticos ............................................................................................................................ 18

    4.2 Ambientais .......................................................................................................................... 19

    4.3 Nutricionais ........................................................................................................................ 20

    4.4 Individual ............................................................................................................................ 23

    5 DIAGNSTICO ............. .....................................................................................................24

    6 DOENAS DO CASCO ............. .........................................................................................26

    6.1 Leses infecciosas ........... ...................................................................................................26

    6.1.1 Dermatite digital ........ ......................................................................................................26

    6.1.2 Dermatite interdigital ........ ...............................................................................................29

    6.1.3 Eroso de talo......... ........................................................................................................31

    6.1.4 Flegmo interdigital ......................................................................................................... 33

    6.1.5 Hiperplasia da pele interdigital (Gabarro) ....................................................................... 37

    6.1.6 Doena da linha branca.................................................................................................... 39

    6.1.7 lcera de sola .................................................................................................................. 41

    7 PREVENO DAS DOENAS PODAIS ........................................................................ 45

    7.1 Pedilvio ............................................................................................................................. 45

    7.2 Casqueamento e tratamento do casco ................................................................................. 45

    7.3 Alojamento ......................................................................................................................... 51

    7.4 Troncos de conteno ......................................................................................................... 52

    8 CONCLUSO ...................................................................................................................... 55

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 56

  • 9

    1 INTRODUO

    A partir de meados do sculo XX, geneticistas e criadores intensificaram os trabalhos

    de melhoramento de bovinos leiteiros. Progressos extraordinrios comearam a surgir no que

    se refere a algumas caractersticas desses animais como, por exemplo, maior capacidade

    digestiva e respiratria, melhor desenvolvimento da glndula mamria, diminuio do

    tamanho de teto, facilidade de parto e aumento da capacidade de produo de leite. Entretanto

    esses resultados no foram acompanhados, na mesma velocidade, pelo melhoramento de

    pernas e ps, que alm de no terem sido uma preocupao inicial so de baixa herdabilidade,

    necessitando muitos anos de seleo para se obter resultados satisfatrios.

    Paralelamente, atendendo a uma demanda do mercado, foram realizadas modificaes

    das instalaes visando adequ-las s necessidades de intensificao dos sistemas de produo

    dos rebanhos e torn-los mais produtivos, o que acabou levando a uma maior concentrao de

    animais por rea, resultando em maior volume de dejetos, maior umidade, menor higiene e

    grandes dificuldades de manejo.

    Na busca de solues para estes problemas iniciou-se um processo de

    impermeabilizao dos pisos dessas construes objetivando a diminuio da umidade e

    maior facilidade de limpeza. Este processo culminou nas construes dos sistemas de

    confinamento como loose-housing, tie-stall e free-stall, em cujas instalaes, as vacas

    frequentemente passam a maioria do tempo em p sobre piso de concreto, em situaes de

    desconforto por falta de camas adequadas que as estimulem ao descanso.

    Sabe-se que, anatomicamente que os ps e membros dos bovinos so adaptados s

    superfcies mais macias como terra e pastagens onde o solo, na maioria das vezes,

    proporciona uma condio mais suave para caminhadas. Os bovinos possuem reduzida

    capacidade de absoro de impactos causados por pisos duros, principalmente considerando-

    se a pequena rea de apoio no solo, a pouca capacidade de amortecimento especialmente dos

    membros plvicos e o peso excessivo de muitos desses animais. Alm disso, deve-se

    considerar tambm o desgaste excessivo que o tecido crneo sofre em pisos abrasivos,

    principalmente quando midos, onde a taxa de desgaste pode superar a de crescimento do

    tecido crneo que , de aproximadamente 5mm mensais.

    Outro aspecto a ser observado a grande presso exercida pelo peso dos bovinos por

    cm2

    do p que, quando comparada ao do homem, por exemplo, aproximadamente 10 vezes

    maior. Considera-se tambm que animais selecionados para maior produo de leite passam a

    exigir dietas mais ricas em nutrientes de alta fermentao, com menores teores de fibras

  • 10

    efetivas extremamente importantes para estimular a ruminao, a maior produo de saliva

    com sua ao tamponante no rmen auxiliando no controle da acidose. Essas dietas, com

    frequncia podem provocar quadros de acidose subclnica, especialmente devido

    necessidade de alcanarem grandes consumos de matria seca, muitas vezes em animais

    pouco adaptados s mesmas.

    Nas ltimas dcadas os problemas relacionados s patologias dos cascos dos bovinos

    adquiriram importncia crescente na bovinocultura sendo em muitos casos, um dos principais

    entraves econmicos ao seu desenvolvimento. A maioria dos autores considera hoje que os

    problemas relativos sade dos cascos se constituem nas trs principais causas de perdas

    econmicas, juntamente com os problemas da glndula mamria e os reprodutivos. As

    claudicaes levam a perdas considerveis na produo de leite situando-se em mdia, nos

    casos graves, em 20% da lactao, alm de perdas reprodutivas que podem reduzir a

    ocorrncia e observao do cio e a taxa de concepo. Desencadeiam custos com tratamento

    de animais doentes, maior incidncia de mamites, perda de valor gentico por acometer

    frequentemente os melhores animais; nos casos de descarte, pequeno valor comercial e, nos

    casos graves, causar a morte. Considerando-se a alta incidncia anual de claudicaes em

    rebanhos leiteiros em todo o mundo, pode-se entender porque nos dias atuais tanto valor tem

    sido dado ao estudo das mesmas em diversos pases.

  • 11

    2 IMPORTNCIA

    As afeces podais em vacas tm aumentado muito nos ltimos anos em funo da

    intensificao dos sistemas com a implantao de novas tcnicas, muitas vezes utilizadas de

    forma incorreta, com o objetivo de aumentar a produo e expandir mercados (SILVA, 2006).

    Nicoletti et al.(2003) cita que as afeces podais so responsveis por 90 % dos casos

    de claudicao em bovinos. Junto com a mastite e os problemas reprodutivos, so as

    responsveis pelas maiores perdas dentro de um rebanho leiteiro e elas esto relacionadas a

    diversos fatores como diminuio da ingesta, perda de peso, diminuio da produo leiteria,

    custos com tratamentos, problemas reprodutivos, descarte entre outros (DIAS, 2003;

    NICOLETTI, 2003; CRUZ, 2005). As perdas, relacionadas queda da produo leiteira, so

    estimadas entre cinco e 20% por lactao (MARTINS, 2002).

    Os animais que apresentam problemas de casco tendem a no realizar suas atividades

    de maneira normal. Tm tendncia a ficarem mais tempo deitados, relutar em receber monta e

    montar. Alm disso, com problemas nos cascos as vacas tendem a se alimentar menos e beber

    menos gua, principalmente quando so criados pasto. J vacas confinadas tendem a ficar

    nas camas no apenas deitadas, mas em estao tambm, aproveitando a proteo do local e

    dessa forma evitando disputas e confrontos sociais (DIAS, 2003).

    Silva et al. (2006) encontrou que problemas relacionados ao sistema locomotor so a

    segunda maior causa o descarte dentro de um rebanho bovino (18,5%), ficando apenas atrs

    dos problemas reprodutivos (27,7%).

    Dias et al. (2004) cita que vacas acometidas por afeces podais tm aumento de

    dezessete dias no intervalo entre o parto e o primeiro servio, e de trinta dias no intervalo

    parto concepo. Souza (2006) encontrou um aumento de sessenta e cinco dias no perodo de

    servio por concepo quando comparou vacas normais a vacas com manqueira. Alm disso,

    tambm relatou aumento de casos de mastite e de metrite, seguindo o mesmo comparativo, de

    29% para 60% e de 12,5% para 25% respectivamente. Resultados que confirmam dados

    obtidos por outros autores. Em outro estudo sobre o efeito dos problemas de casco na

    atividade ovariana, vacas com claudicao tiveram 3,5 vezes mais chance de ter atraso na

    ciclicidade ovariana (GARBARINO, 2004).

    Os dados sobre a prevalncia so bastante variveis, porm Martins (2002) indica que

    rebanhos com mais de 15% de animais acometidos necessitam estudo e interveno para

    controle do problema. Nicoletti considera de 7 a 10 % como um valor aceitvel, e refere ainda

    que esse nmero muitas vezes superado, pelas caractersticas brasileiras, e varivel de

  • 12

    regio para regio. Molina (1998) encontrou na bacia leiteira de Belo Horizonte 33,3% de

    animais acometidos. Cruz et al. (2005) afirma que a variao da prevalncia de animais

    afetados pode variar de 7% a 55%. Embora existam alguns dados sobre prevalncia, ainda h

    poucos estudos sobre esse assunto nas diversas regies do pas (SILVA, 2006; MOLINA,

    1998).

    A distribuio da prevalncia tambm bastante varivel. Cruz et al. 2005 encontrou

    em primeiro lugar dermatite digital (29,9%), seguida por lcera de sola (18,3%), dermatite

    interdigital (17,8%) corte de sola e abscesso (10,7%), hiperplasia interdigital (10,4%), e outras

    (somando 12,9%); Molina (1998) encontrou de forma mais frequente eroso de talo (48,5%),

    seguida por dermatite interdigital (13,48%), pododermatite sptica, (9,55%) e lcera de sola

    (4,87%). Souza (2006) encontrou em seu estudo como a leso mais frequente, eroso de talo

    (59,8%), seguidas da dermatite digital (30,3%) e casco em tesoura (24,1%). Silva, (2001) em

    um estudo de 234 leses encontrou 87,66% nos membros plvicos e 12,34% nos torcicos, j

    Molina (1998) em seu estudo sobre a prevalncia e classificao das afeces podais em

    vacas lactantes na bacia leiteira de Belo Horizonte, encontrou 66,7% das leses nos membros

    plvicos e 33,3% nos torcicos. A maioria das leses de casco ocorre nas unhas laterais dos

    membros plvicos, enquanto que nos membros torcicos elas ocorrem com maior frequncia

    nas unhas mediais (SILVA, 2001).

    A prevalncia das leses est relacionada diretamente com a exposio a fatores

    predisponentes, ou mesmo podem ser causados por trauma direto (CRUZ, 2001). Alm disso,

    o sistema de produo tambm influencia no tipo de leso encontrada no casco dos bovinos

    (BORGES, 2002).

    Dias (2004) cita ainda que um estudo realizado na Universidade de Cornell nos USA,

    estimou os custos com o tratamento em US$ 34, 00 (tratamento e mo-de-obra), enquanto que

    Ferreira (2004) encontrou um valor muito maior, de US$ 44,68. Nesse valor foram includos

    os custos com tratamento, mo-de-obra, honorrios e deslocamento do veterinrio, e se

    somado ao valor de descarte de animais esse valor pode atingir US$ 74,60, desconsiderando

    ainda as perdas por queda na produo leiteria.

    Para que seja feito o clculo dos custos o primeiro passo fazer um levantamento

    epidemiolgico das leses em todos os animais do rebanho (DIAS, 2004). A partir da

    possvel traar estratgias para controle das enfermidades dentro de cada rebanho.

    Ainda h poucos estudos para o desenvolvimento de novos tratamentos e

    aprimoramento dos j existentes; para a aplicao das medidas profilticas adequadas e

  • 13

    aplicveis realidade brasileira, faz-se necessrio o conhecimento da fisiologia do casco dos

    animais criados nas condies nacionais.

    Manuais modernos escritos por mdicos veterinrios, orientando a correo e

    realando a importncia de uma arquitetura biomecnica correta dos mesmos (SCHNELLER,

    1984; RAVEN, 1989). Para isto, deve-se em primeira instncia, conhecer o que um casco

    sadio e seus parmetros. As medidas dos cascos sadios podem ser aferidas com custos

    moderados e alta acurcia, (DISTL et al., 1990). Medidas de tamanho e forma dos cascos tm

    sido feitas e usadas para determinar a qualidade do casco bovino, bem como para avaliar o

    impacto de fatores como o manejo, o sistema de criao e a nutrio tm sobre a conformao

    do casco (VERMUNT, GREENOUGH, 1995).

  • 14

    3 ANATOMIA BSICA DO CASCO BOVINO

    Figura 1 - Anatomia e histologia do dgito bovino

    Fonte: Ferreira (2005)

  • 15

    Figura 2 - Anatomia do casco bovino

    Fonte: Ferreira (2005)

    Para entender melhor as afeces e suas implicaes necessrio relembrar alguns

    conceitos bsicos sobre a anatomia do casco bovino.

    O casco bovino constitudo por um estojo crneo (cpsula do casco), formado por

    tecido epidrmico queratinizado e dividido em partes de acordo com sua localizao, funo

    e constituio. So elas: muralha, talo, sola, bulbo do talo, linha branca e pina (RAVEN,

    1989).

  • 16

    O estojo crneo rgido e atua como um protetor das camadas internas e tambm

    como dissipador da fora exercida pelo peso da vaca, do corpo para o cho. O tecido crneo

    do caco tem diferentes graus de dureza, variando com o tipo em ordem crescente de dureza

    temos a linha branca, talo, sola e muralha (RAVEN, 1989).

    Est includa na terminologia casco bovino as estruturas sseas (sesamides, falange

    distal e parte da falange mdia), tecido conjuntivo (gordura, ligamentos, vasos sanguneos

    entre outros), alm da bolsa podotroclear e a parte terminal dos tendes flexores e extensores

    (RAVEN, 1989; TLIO, 2006).

    O estojo crneo tambm abrange a derme vascular, como a sub-ctis (subconjuntivo),

    que existe somente na forma modificada em locais especficos para formar o coxim digital e

    coronariano. A falange distal se encontra ligada ao estojo crneo pelo aparelho suspensrio

    que alivia o peso da mesma sobre a sola (RAVEN, 1989).

    A epiderme da cpsula dividida em peroplo, partes tubulares e lamelares. Na parte

    mais proximal do casco h a coroa do casco, que constituda por uma derme especializada,

    que faz a juno da pele com a muralha do casco. Essa regio chamada de limbo ou

    peroplo. Abaixo dela h o coxim coronariano. A banda coronria a estrutura que separa a

    derme da muralha do casco e se localiza abaixo da coroa. Na parte caudal, h a modificao

    da coroa, dando origem ao bulbo do talo (RAVEN, 1989).

    A linha branca o tecido mais mole do casco e faz a ligao da muralha com a sola.

    Leses na linha branca podem favorecer o estabelecimento de doenas infecciosas, uma vez

    que essa regio facilmente danificada. A sola a regio que fica em contato com o solo na

    parte distal da muralha (DIAS, 2003).

    A banda coronariana responsvel pelo crescimento da muralha do casco na ordem de

    5 mm (variando de 3 a 7 mm) por ms na parte abaxial em vacas leiteiras. A taxa de

    crescimento varia em funo do ambiente, da idade e nvel de nutrio (DIAS, 2003).

    Devido s caractersticas de crescimento do casco possvel fazer correlao com

    distrbios na produo ao qual o animal foi submetido. A muralha formada por tecido

    queratognico e sua taxa de crescimento de 5 mm por ms. Logo, um distrbio ocorrido a

    quatro meses por exemplo estar representado por uma ruga em sentido horizontal ao longo

    de todo o permetro da muralha. Da mesma forma possvel determinar problemas ocorridos

    a partir de leses de hematoma na sola, uma vez que o tecido produzido na sola e no talo

    alcana a extremidade distal do casco dois a trs meses aps o incio do crescimento. Com

  • 17

    isso possvel afirmar que um hematoma de sola resultado de um problema ocorrido a cerca

    de um a dois meses antes (DIAS, 2003).

    O comprimento mdio de um casco em uma vaca holandesa de 7,5 cm, sendo assim

    possvel determinar, a partir da taxa de crescimento do casco, o tempo transcorrido entra a

    gerao do tecido crneo e o momento em que atinge a pina do casco em quinze meses. A

    taxa de crescimento do tecido da sola de 3 mm/ms, sendo que a sola tem cerca 7 mm de

    espessura (DIAS, 2003).

    O coxim coronariano formado pela sub-ctis, um tecido denso, fibroelstico

    composto tambm por uma rede esponjosa de veias. Durante a locomoo, a falange pressiona

    essas estruturas, forando o sangue presente na regio se dirigir circulao sistmica. Dessa

    forma, a locomoo assume um importante papel no suprimento sanguneo da regio

    (RAVEN, 1989).

    O coxim digital um tecido mole e flexvel do tecido crneo em torno do bulbo. O

    bulbo envolve o coxim digital que se funde dorsalmente com o tendo flexor profundo e

    axialmente com fibras do ligamento interdigital distal. O bulbo a estrutura responsvel pela

    absoro do impacto da locomoo. Ele ao ser pressionado se expande para os axial e

    abaxialmente, distribuindo as foras verticais do impacto para a muralha (RAVEN, 1989).

  • 18

    4 FATORES PREDISPONENTES

    Diversos fatores tm sido relatados como fatores de risco para desenvolvimento de

    afeces dos cascos, muitos autores se referem como sendo de causa multifatorial (SILVA,

    2001).

    4.1 Genticos

    As manqueiras acometem principalmente animais confinados, principalmente bovinos

    leiteiros de alta produo (DIAS, 2003). A seleo gentica para a alta produo leiteira no

    foi acompanhada no mesmo ritmo para a melhoria da qualidade dos membros e cascos

    (Nicoletti et al., 2003). A conformao dos cascos e pernas, alm do tamanho corporal, pode

    determinar maior ou menor carga sobre uma ou mais unhas, e por consequncia acentuando

    os problemas advindos de leses mecnicas internas, como a laminite (NICOLETTI, 2003;

    CRUZ, 2001; TLIO, 2006).

    Defeitos de formao, das unhas, do bulbo e das demais estruturas, bem como tecido

    de m qualidade influem no aparecimento dos problemas nos membros (NICOLETTI et al.,

    2003). A questo racial tambm considerada como fator, sendo que as raas taurinas,

    especialmente a holandesa, so mais sensveis que as raas zebunas (BORGES, 2002).

    De maneira geral os agentes causadores de manqueira esto associados manejos

    inadequados, seja na parte de higiene, como acmulo de sujeira, seja na parte sanitria, como

    ausncia de quarentena ou pedilvio de animais introduzidos no rebanho. H tambm um

    consenso de que animais estabulados, confinados tm maior incidncia.

    Silva et al. (2009) relacionaram as alteraes bruscas na alimentao, higiene

    deficiente dentro das instalaes, alojamento em pisos irregulares e abrasivos, a no utilizao

    ou uso incorreto de pedilvio fatores de risco de maior ocorrncia, a falta de casqueamento

    preventivo, a ausncia de quarentena, e a aquisio de animais sem a preocupao com o

    aspecto sanitrio foram considerados .

    Apesar da grande importncia econmica, alguns problemas relativamente simples

    dificultam a adoo de medidas efetivas de controle e tratamento como, por exemplo, a

    ausncia de padronizao quanto nomenclatura das leses podais (NICOLETTI, 2003;

    DIAS, 2004).

  • 19

    4.2 Ambientais

    H consenso que ms condies de higiene, acmulo de fezes e urina, umidade, tipo

    de piso, clima, sistema onde os animais se encontram, entre outros so apontados como os

    principais fatores ambientais determinantes no aparecimento das doenas (NICOLETTI,

    2003; DIAS, 2004).

    O que ocorre que esses fatores comprometem a barreira fsica do casco, favorecendo

    o estabelecimento e desenvolvimento dos agentes envolvidos nas patologias (NICOLETTI et

    al. 2003).

    Nos confinamento e em criaes semi-intensivas onde os animais permanecem muito

    tempo de p especialmente em piso duro, s leses normalmente so de pododermatite

    circunscrita, doena da linha branca e eroso de talo. Quando os animais permanecem mais

    tempo a pasto, a tendncia de desenvolver leses de origem infecciosa da pele do dgito,

    como dermatite interdigital e flegmo interdigital, nos membros posteriores, devido ao

    contato mais intenso e constante com umidade das fezes e urina, alm do barro (BORGES,

    2002)

    Em propriedades onde a pastagem mida e a regio mais plana ocorre um desgaste

    mais uniforme da sola deixando-a lisa, fina e plana, o que predispes ao aparecimento de

    leses por contuso e perfurao, e tambm com alta incidncia de pododermatite sptica. Em

    contrapartida quando h declividades mais acentuadas nos terrenos existe a tendncia de

    menor acmulo de umidade e as leses predispostas por ela diminuem, aumentando a

    incidncia de casos de hiperplasia interdigital (BORGES, 2002).

    Embora exista umidade em pastagens de muitas regies, de maneira geral nos

    confinamentos h uma tendncia de maior exposio umidade. Nicoletti et al. (2003) afirma

    que h uma correlao inversa entre a dureza ou resistncia do casco e seu teor de gua, ou

    seja, quanto maior for a umidade do ambiente, menor ser sua resistncia, favorecendo a

    penetrao de agentes e maior ser seu desgaste.

    Pisos de concreto so duros, speros e favorecem o crescimento excessivo das unhas,

    criando assim um desequilbrio na distribuio do peso sobre os dedos, favorecendo doena

    de linha branca e lceras de sola. Alm disso, quando o piso tambm abrasivo, h o desgaste

    excessivo da sola, deixando-a mais fina. O concreto mido cerca de 83% mais abrasivo que

    o concreto seco. Soma-se a isso o fato de que em pisos abrasivos a taxa de desgaste pode ser

    superior a taxa de crescimento do casco nos dois primeiros meses. Com isso, os animais

  • 20

    alojados em pisos de concreto mido acabam sofrendo duplamente: a) pelo aumento do

    desgaste do casco, e b) pelo amolecimento do estojo crneo do casco, provocado pela

    umidade (SHEARER; VAN AMSTEL, 2007).

    4.3 Nutricionais

    Distrbios nutricionais ou metablicos que causem uma diminuio do aporte de

    nutrientes ao casco, seja por alterao circulatria ou alimentar, provocam uma diminuio da

    qualidade do estojo crneo, favorecendo o aparecimento de doenas (TLIO, 2006).

    Entre as causas mais comuns de afeces de casco por distrbio nutricional esta a

    laminite que causada pela acidose ruminal (RADOSTITS, 2007), que um distrbio da

    fermentao ruminal em bovinos de leite originada pela ingesto de grandes quantidades de

    concentrados e quantidades inadequadas de fibras. A acidose ruminal caracterizada por

    decrscimo do pH do rmen para nveis abaixo de 5,0 geralmente por raes que contenham

    quantidades excessivas de hidratos de carbono rapidamente fermentveis e uma deficincia na

    quantidade de fibra disponvel na dieta dos bovinos (RADOSTITS, 2007) .

    Segundo Radostits et al. (2007) a ingesto de quantidades excessivas de alimentos

    altamente fermentveis por um ruminante em duas a seis horas provoca uma alterao na

    populao da flora ruminal, onde h um aumento do numero de Streptococcus bovis que

    utilizam a alta concentrao de hidratos de carbono para produzir acido ltico, diminuindo o

    pH e resultando na destruio das bactrias celulolticas e protozorios. A um aumento na

    osmolalidade ruminal resultando na retirada da gua a partir da circulao sistmica e

    provocando hemoconcentrao e desidratao.

    A laminite esta associada a diferentes graus de severidade com a concentrao da

    acidose ruminal provocando uma alterao na hemodinmica dos vasos capilares perifricos,

    ocasionando a liberao de substncias vasoativas como a histamina, lactato e endotoxinas

    resultando em vasocontrio e dilatao que ferem os vasos capilares do crio gerando uma

    isquemia, diminuindo as concentraes de oxignio e nutrientes nas extremidades das junes

    do crio comprometendo a estrutura dos tecidos e causando degradao fsica no casco,

    favorecendo a instalao de patgenos causadores das doenas podais (RADOSTITS, 2007).

    A qualidade e quantidade da fibra da dieta so sugeridas como importantes fatores na

    etiopatogenia das laminites. Dietas ricas em alimentos concentrados devem manter nveis

    adequados de fibra efetiva para favorecer o processo de ruminao e o tamponamento do

  • 21

    rmen, devendo conter no mnimo, (40-45%) de forragem e (30%) de fibra em detergente

    neutro (FDN). Problemas nutricionais podem afetar a qualidade do tecido crneo dos cascos,

    como a deficincia de biotina que pode ocorrer nos casos de acidose ruminal e em condies

    de Stress e tambm a deficincia de alguns minerais na dieta como zinco, cobre, iodo e

    selnio (FERREIRA, 2005).

    A laminite se manifesta de trs formas:

    A aguda, menos frequente em bovinos, ocorrendo esporadicamente em vacas em

    incio de lactao, manifestando-se por manqueira, aumento de temperatura do casco,

    relutncia de movimentos, dificuldade de permanecer em p, congesto, edema e

    sensibilidade da banda coronria (FERREIRA, 2005).

    A subaguda (subclnica) a principal forma observada em bovinos. Os sinais

    dificilmente so observados durante a fase de evoluo das leses. Posteriormente podem

    aparecer hemorragias de sola, talo e linha branca, alteraes de colorao e da resistncia do

    tecido crneo, doena da linha branca, aparecimento de lcera de sola ou de pina, abscessos

    de sola, pina ou talo, sola dupla, eroso de talo e fissuras de muralha. A descolorao da

    sola associada ao escoamento de material intracelular da derme com formao de sola

    amarela e macia sendo esta alterao altamente indicativa da presena de laminite. As

    hemorragias e lceras de sola so consideradas parte do mesmo processo patolgico que vai

    desde leses discretas at a formao de lceras severas com exposio da derme

    (FERREIRA, 2005).

    O ponto mais frequente de aparecimento dessas leses o chamado ponto tpico,

    situado prximo a unio sola-talo, abaixo do n flexor da falange distal. A rotao da falange

    distal pode ser causada por laminite devido a leses da lmina drmica, levando separao

    derme/epiderme, afundamento em direo sola e aumento de presso sobre a mesma,

    hemorragia e necrose. Isto pode resultar em penetrao de bactrias e formao de abscessos.

    Recentemente, este processo vem sendo relacionado a alteraes do aparelho suspensrio

    responsvel pela estabilidade da falange distal no interior do casco. Este aparelho quando

    lesado, permite deslocamentos da falange com leses da sola e da pina (FERREIRA, 2005).

    A sola dupla consequncia da interrupo da formao do tecido crneo seguida de

    restaurao e est associada s hemorragias que podem ocorrer em forma de camadas,

    levando ao aparecimento de cavidades. As hemorragias podem causar ainda mudanas na

    linha branca, seguida de rupturas com aparecimento de pequenas rachaduras oblquas na

    direo muralha/sola, levando separao da mesma e permitindo a penetrao de corpos

  • 22

    estranhos e germes com formao de abscessos. As leses da derme periplica resultam na

    formao de tecido crneo de baixa qualidade no talo que pode ser responsvel por torn-lo

    mais susceptvel a eroses (eroso do talo) e ao aparecimento de dermatites interdigitais e

    digitais (FERREIRA, 2005).

    Na manifestao crnica da laminite, os sinais clnicos esto associados,

    principalmente, a modificaes anatmicas dos cascos, levando ocorrncia de linhas de

    ondas de crescimento e irregularidades da muralha, aumento do comprimento da face dorsal,

    diminuio do ngulo da pina e convexidade da sola (FERREIRA, 2005).

    Na conduta e tratamento dos episdios agudos de laminite tm sido utilizados anti-

    inflamatrios no esteroidal, colocando o animal sobre piso macio e confortvel.

    Nos casos associados acidose ruminal a correo desta situao sintomtica.

    Nos casos subagudos/crnicos deve-se fazer a correo cirrgica com remoo das

    leses na(s) unha(s) envolvida(s), mais comumente as unhas laterais dos membros

    posteriores. Esta conduta realizada nas lceras (pina e sola), nas doenas de linha branca,

    nos abscessos, sola dupla, etc, (FERREIRA, 2005).

    Protocolo mais utilizado nestes tratamentos segundo Ferreira et al. (2005).

    1- limpeza e identificao das leses;

    2- preparao e colocao de taco ( 11x 6 x 2,5cm) na unha preservada

    atravs do uso de resina acrlica autopolimerizante;

    3- anestesia venosa aps garroteamento da veia digital do membro acometido

    e aplicao de 5-10 ml de lidocana a 2% sem vasoconstrictor;

    4- limpeza e remoo de tecidos necrticos com rineta;

    5- desinfeco com soluo de iodo 2% ou PVPI;

    6- colocao de bandagem com antibitico para proteo da ferida;

    7- impermeabilizao da bandagem com frio asfltico;

    8- troca de curativo a cada 72 horas at a formao de tecido crneo na rea

    removida;

    9- permanncia do taco no digito no envolvido por 30-40 dias para o

    crescimento do tecido crneo;

  • 23

    A profilaxia baseia-se no balanceamento adequado da dieta, garantindo no mnimo 40-

    50% de fibra com 30-35% FDN (FERREIRA, 2005).

    Uso de pedilvio (formalina 3% ou sulfato de cobre 5%) trs a cinco vezes p/semana

    (SILVA, 2006).

    Diluir 3 litros de soluo de formalina a 40% em 97 litros de gua ou utilizar sulfato

    de cobre e realizao de casqueamento corretivo de animais estabulados uma a duas vezes/ano

    para correo de cascos e identificao prematura dos problemas (SILVA, 2006).

    4.4 Individuais

    Muitos so os fatores individuais que atuam no favorecimento das afeces podais.

    A idade e o estgio de lactao so de grande influncia. Quanto mais velho for o

    animal maior a chance de desenvolver problemas de casco. dito tambm que vacas com dez

    anos de idade tm quatro vezes mais chance de desenvolver leses que vacas com trs anos.

    Contudo novilhas com pouca idade ao parto fazem parte do grupo de risco conforme Nicoletti

    et al. (2003). Vacas e novilhas em estgios iniciais de lactao, durante os trs a quatro

    primeiros meses, so mais suscetveis por estarem em um momento de maior aporte

    energtico e tambm do balano energtico negativo (NICOLETTI, 2003).

    Tratamentos prvios para problemas de casco so um fator de risco para o

    desenvolvimento de hemorragia de sola.

    O peso corporal e o escore de condio corporal (ECC) tm associao com

    claudicao em alguns rebanhos. estimado que para cada 100 kg de aumento no peso

    corporal, h o aumento de 1,9 vezes a chance de problemas clnicos de manqueira. H uma

    correlao positiva entre a incidncia de claudicao e o alto peso corporal, baixa ECC e

    inclinao lateral do casco (NICOLETTI, 2003).

  • 24

    5 DIAGNSTICO

    O diagnstico varia conforme a leso, mas deve sempre ser feito o mais breve

    possvel, aos primeiros sinais de claudicao.

    Uma ferramenta bastante importante na determinao das leses a verificao do

    escore de claudicao. Seu uso auxilia na deteco precoce de desordens no casco, alm de

    auxiliar no monitoramento da prevalncia e incidncia, bem como do grau de

    comprometimento das estruturas (OLIVEIRA, 2007).

    A tcnica empregada na avaliao foi desenvolvida na Inglaterra e tem sido utilizada

    em muitos pases. Para realizar o procedimento preciso observar os animais em locomoo e

    parados. O piso deve ser duro e plano, e de preferncia deve ser realizado aps a ordenha, ou

    em um local onde os animais caminhem com naturalidade (DIAS, 2003).

    A tabela 1 define os parmetros avaliados e atribui o valor obtido na avaliao

    configurando assim o escore.

    Tabela 1 - Escore de locomoo

    Escore Caracterstica estao Caracterstica locomoo

    1 Linha de dorso retilnea Passos firmes, com distribuio

    correta de peso e apoio

    2 Linha dorsal retilnea Ligeiramente arqueada com

    apoios normais

    3 Arqueada Arqueada e com ligeira

    alterao dos passos

    4 Arqueada Arqueada com apoio reduzido

    no membro afetado

    5 Arqueada, com retirada do No apoia o membro e apresenta

    apoio sobre o membro relutncia e recusa na locomoo

    Fonte: Oliveira (2007)

  • 25

    Figura 3 - Escore de locomoo

    Fonte: Oliveira (2007)

  • 26

    6 DOENAS DO CASCO

    Segundo um estudo realizado pela Universidade da Florida em um rebanho de 346

    vacas computadas no primeiro

    ano, encontrou-se um custo anual de 168,00 dlares por animal

    ano, relativos a problemas do locomotor (Custo rebanho de 58.266.00 dlares).

    Ferreira et al. (2004), estudando rebanho leiteiro em Pedro Leopoldo (Minas

    Gerais), encontraram um custo relacionado a leses laminticas no rebanho (117 animais), de

    US$ 8732,50 representando um custo individual ano por animal alojado de US$ 74,60 e um

    custo mdio de tratamento por caso de US$ 44,68, no se computando as perdas relacionadas

    a diminuio na produo de leite.

    COLLICK et al. (1989) encontrou os seguintes valores: em animais acometidos por

    lcera de sola as perdas estimadas foram de 657,00 dlares, nos animais acometidos pela

    doena da linha branca e abscesso de sola o custo pelo tratamento foi de 257,00 dlares, j

    nos animais acometidos pela dermatite digital e flegmo o custo chegou a 128,00 dlares.

    6.1 Leses infecciosas

    6.1.1 Dermatite digital

    uma doena comum dentro dos rebanhos leiteiros e foi descrita pela primeira vez em

    1974, por Cheli e Mortellaro, na Itlia. Tem distribuio mundial, sendo relatada em diversos

    pases, incluindo toda a Europa, Canad, Mxico, Estados Unidos e Brasil (NICOLETTI,

    2003; CHELI, 1974).

    A dermatite digital tem grande importncia no s pela sua distribuio mundial, mas

    por sua rpida disseminao e dificuldade no tratamento e tambm por ter alta prevalncia

    dentro dos rebanhos. Dados indicam que mais de 70% dos rebanhos nos EUA estejam

    infectados (CRUZ, 2005).

    uma doena de carter inflamatrio, cujas leses afetam a pele da regio interdigital

    palmar/plantar ou dorsal dos cascos, prxima margem coronria na comissura entre os

    bulbos dos tales, atingindo a camada epidrmica e menos frequentemente a derme (SILVA,

    1997; NICOLETTI, 2003). uma das mais frequentes causas de claudicao em bovinos

    leiteiros, provoca dor intensa, principalmente em manifestao aguda, levando a diminuio

    da produo leiteira (MAUCHLE, 2008), perda de condio corporal, atrasos reprodutivos,

    descartes prematuros (SILVA, 2001).

  • 27

    considerada por muitos autores como uma afeco de carter multifatorial (LEO,

    2005), associada comumente a sistemas intensivos de criao, embora ocorra tambm em

    animais criados a campo (MAUCHLE, 2008). Como apresenta uma rpida disseminao

    dentro dos rebanhos, h indicao de um agente infeccioso, com bastante capacidade de

    contgio. O agente mais frequentemente isolado uma bactria, do gnero Treponema sp., do

    grupo das Espiroquetas. As bactrias desse grupo apresentam forma de bastonetes espiralados,

    negativos colorao de gram, e so encontradas em vida livre no solo mido, em gua doce

    ou salgada, esgotos. So produtoras de uma toxina queratoltica, responsvel pelas leses nas

    regies queratinizadas da pele. Alm dela, Dichelobacter nodosus (agente da dermatite

    interdigital), Borrelia burgdorferi (Inglaterra), Vrus (papilomavrus, porm nunca isolado)

    tm sido sugeridos como associados doena. Alguns autores ainda sugerem outros agentes

    inespecficos oportunistas envolvidos no desenvolvimento da doena (NICOLETTI, 2003;

    MAUCHLE, 2008).

    So apontados como fatores de risco (NICOLETTI, 2003):

    Alta concentrao de animais;

    Introduo de animais novos no rebanho, portadores do agente;

    Ambiente mido, com condies higinicas deficientes;

    Iatrogenia, pela manipulao de material infectado e posteriormente utilizados em

    animais livres;

    Estresse e estado imunolgico;

    Idade: animais jovens, especialmente novilhas em primeira lactao;

    Embora todos os autores apontem para a presena de solo mido, umidade nas

    instalaes como um dos fatores de risco, (MAUCHLE, 2008) no encontraram diferena

    estatstica significativa quanto sazonalidade, em perodos de secas e de chuvas. Porm,

    consenso que locais midos, com higiene inadequada, acmulo de matria orgnica podem

    favorecer a penetrao do agente no casco dos animais confinados, ou mesmo em animais em

    sistemas de explorao menos intensiva.

    Possui trs formas de apresentao: (1) leso erosiva ou ulcerativa, plana, variando de

    1 a 4 cm de dimetro, e apresenta odor desagradvel. A leso bastante dolorosa,

    principalmente em sua fase inicial, podendo sangrar com facilidade quando manipulada.

    medida que se desenvolve, forma um tecido de granulao e fica circunscrita por um bordo

    esbranquiado e fundo avermelhado e com pontos claros, formados por inmeras papilas

  • 28

    crneas de colorao clara, dando, dessa forma, um aspecto semelhante a um morango. Nessa

    fase conhecida como dermatite proliferativa (2). Em casos mais graves pode se estender

    para todos os lados, atingindo toda a quartela ou mesmo os tales, produzindo eroses

    profundas e dor intensa. medida que se torna crnica, h formao da terceira forma de

    apresentao, a dermatite hiperplsica (3), onde h o crescimento de tecido cicatricial fibroso

    (tiloma), com comprimento varivel, insensveis ao toque, e apresentando uma fenda central

    bastante profunda (NICOLETTI, 2003).

    Nos casos com claudicao severa os animais pisam com as pinas, perdem peso e tem

    queda na produo de leite, podendo afetar a fertilidade tambm. As complicaes da

    dermatite digital so semelhantes s da dermatite interdigital, com eroso de talo,

    crescimento excessivo das unhas e lcera de sola. importante destacar que em suas fases

    iniciais a leso da Dermatite Digital pode ter um aspecto semelhante da Dermatite

    Interdigital (Grau 1) caracterizada por ligeira hiperemia da pele ao redor de pequena eroso,

    acompanhada de dor intensa; leso proliferativa (BLOWEY, 2011).

    6.1.1.1 Tratamento

    Os quatro cascos devem ser examinados e as leses devem ser limpas com gua e

    sabo e em seguidas secas, pode ser usado sulfato de cobre e oxitetraciclina de uso tpico, o

    local deve ser protegido com gaze e bandagem adesiva a prova da gua, antibitico terapia

    parenteral com oxitetraciclina ou cefalosporina( ceftiofur) e lincomisina pode ser usado mas

    geralmente o tratamento tpico suficiente. Como rotina da propriedade essencial que se

    tenha um casqueamento preventivo em todos animais evitando essas leses extensivas, outro

    fator determinante a utilizao regular de pedilvios com formalina a 5%, sulfato de zinco a

    10% ou sulfato de cobre a 5% que tornam o casco bovino mais resistente a patgenos e a

    umidade (SCOTT, 2011).

  • 29

    Figura 4 - Dermatite digital

    Fonte: Ferreira (2005)

    6.1.2 Dermatite interdigital

    A dermatite interdigital definida como uma inflamao de origem bacteriana na

    regio interdigital do casco dos bovinos que pode afetar tanto a face dorsal quanto a plantar e

    palmar, entre o bulbo dos tales (NICOLETTI, 2003).

    6.1.2.1 Etiologia e fatores predisponentes

    causada pelo agente Dichelobacter nodosus, uma bactria anaerbica, gram-

    negativa, alm do Fusobacterium necrophorum, que possui sinergismo com o primeiro, sendo

    encontrado em grande parte dos isolamentos (RISCO, 2011).

    A umidade, a sujeira, calor excessivo, fezes e urina favorecem a penetrao do agente

    na pele da regio interdigital, desenvolvendo a leso. A alta concentrao de animais tambm

    atua como fator importante na disperso dos agentes (RISCO, 2011).

    Em locais onde h grande favorecimento do agente pelas ms condies, ocorre uma

    prevalncia alta dentro do rebanho. Em vacas primparas, est bastante associada lcera de

    talo (RISCO, 2011).

  • 30

    Os sinais clnicos normalmente nas leses so pouco significativos na determinao de

    manqueiras, causando pouca claudicao. Porm, em alguns casos pode ocorrer um

    aprofundamento da inflamao, e as lceras presentes na epiderme (estgio I) aumentam,

    invadindo regies adjacentes e provocando eroses e fissuras, caracterizando o estgio II.

    Nesses casos a hiperqueratose pode se tornar semelhante s leses decorrentes da Dermatite

    Digital e o espessamento de pele pode levar a uma hiperplasia da regio, caracterizando um

    Tiloma, estgio III com formao de leso papilomatosa (RISCO, 2011).

    6.1.2.2 Tratamento

    Deve ser seguido o mesmo tratamento da dermatite digital. (GREENOUGH, 2007).

    O uso regular de pedilvio tambm ajuda no tratamento, bem como o casqueamento

    regular com a limpeza dos locais comprometidos, favorecendo a oxigenao do local e

    reduzindo o acmulo de sujeira (GREENOUGH, 2007).

    A profilaxia da dermatite interdigital consiste em pedilvio regular, casqueamento

    preventivo e boas condies de higiene nas instalaes.

    Figura 5 - Dermatite interdigital

    Fonte: Blowey (2011)

  • 31

    6.1.3 Eroso de talo

    A eroso do talo, tambm conhecida como podridro do talo em portugus e heel

    horn erosion ou erosion of the hoof em ingls definida como a perda do tecido epidrmico

    da regio dos tales, de forma irregular, provocando sulcos e fissuras, com presena de

    exsudato ftido e de colorao escura. Foi descrito internacionalmente em 1976 e pode afetar

    em casos crnicos 50% do rebanho segundo Greenough (2007).

    6.1.3.1 Etiologia e fatores predisponentes

    considerada por muitos autores como um estgio avanado da dermatite interdigital.

    Sendo assim, esto envolvidos o Dichelobacter nodosus, principal agente da Dermatite

    Interdigital, alm de bactrias secundrias, como o Fusobacterium necrophorum

    (GREENOUGH, 2007).

    Como fatores predisponentes esto todos os fatores que predispe a enfraquecimento

    dos cascos, como sujidades, umidade, alm de agentes infecciosos causando leses crnicas

    da pele digital e interdigital e laminite assptica difusa crnica. A alta concentrao de

    animais pode tambm ser um fator determinante no surgimento da doena. M formao de

    cascos, ou alterao no crescimento (tales baixos, cascos achinelados, etc.) (BLOWEY,

    2011).

    A doena afeta principalmente as unhas laterais dos membros posteriores, em suas

    faces axiais de animais mais velhos (GREENOUGH, 2007).

    O talo tem a funo de amortecedor do impacto do casco com o solo, e com a

    destruio do tecido crneo, ele deixa de exercer tal funo. Com o avanar da eroso os

    tecidos mais internos so afetados, provocando dor e claudicao. A profundidade das leses

    varivel. Entre os principais sinais clnicos da eroso de talo est relutncia em

    locomover-se devido dor gerando uma sobrecarga nas demais partes do casco e em outros

    membros, favorecendo o surgimento de outras leses (DIVERS, 2008).

    O diagnstico feito pela visualizao das leses caractersticas e anamnese.

    6.1.3.2 Tratamento

    Deve ser feita a remoo dos tecidos lesados, atravs do casqueamento regular, at que

    o casco atinja uma conformao adequada (GREENOUGH, 2007).

    Nos locais onde o tecido retirado deve-se colocar adstringentes (sulfa em p +

    sulfato de cobre, na proporo de 1:1).

  • 32

    Quando a leso se torna muito profunda favorece o desenvolvimento de infeces

    secundrias que podem atingir a sola, provocando uma pododermatite sptica. Nesses casos

    recomenda-se a retirada de todas as partes envolvidas, aplicao de antibitico tpico e

    sistmico (oxitetraciclina ou ceftiofur) e colocao de bandagem. Quando essa retirada for

    muito extensa, necessria a utilizao de tamanco de madeira na unha sadia, retirando o

    apoio do lado que est lesionado, a cura tem a tendncia de ser demorada devido gravidade

    da leso, h a possibilidade de o animal ficar deitado devido a dor local e no apoiar o

    membro no piso, nesses casos deve-se administrar anti-inflamatrios no esteroidal (flunixin)

    (MULLING, 2002).

    A remoo dos animais para locais com pastagem e secos favorecem a recuperao

    dos tales (GREENOUGH, 2007).

    A profilaxia segundo Dias et al. (2003) so todas as medidas que envolvem

    neutralizao dos fatores predisponentes como:

    Casqueamento regular e tratamento tpico;

    Limpeza dos locais de acesso dos animais;

    Retirada de pedras e objetos que possam causar leso nos cascos;

    Pedilvio;

    Reduo da contaminao ambiental com o uso de cal nos currais, etc.

    A literatura tm sugerido que a dermatite digital, a dermatite interdigital e a lcera de

    talo so estgios diferentes de uma mesma doena, uma vez que os agentes isolados so

    comuns nas trs patologias. Um dos autores chega a citar como Sndrome das Doenas da

    Pele Digital (BARGAI, 2000).

  • 33

    Figura 6 - Eroso do talo

    Fonte: Blowey (2011)

    6.1.4 Flegmo interdigital

    Conhecido como panarcio, necrobacilose interdigital, pododermatite infecciosa em

    portugus ou foot root, foul in the foot, foot abscess em ingls uma doena de distribuio

    mundial que foi descrito por De Stefanis em 1854, por Mazzini em 1884, Harms em 1885 e

    nos EUA em 1922 (GREENOUGH, 2007).

    definida como uma leso de carter infeccioso agudo ou subagudo, que afeta a

    regio interdigital. A leso comea com inchao e alargamento interdigital seguida de uma

    fissura na pele interdigital e necrose do tecido subjacente, causando bastante dor e

    claudicao nos animais afetados e, por conseguinte, perdas grandes em produo (SCOTT,

    2011). Apesar de ser encontrada em bovinos, tem maior importncia em ovinos, onde uma

    das principais causas de claudicao (GREENOUGH, 2007).

    6.1.4.1 Etiologia e fatores predisponentes

    O Fusobacterium necrophorum tem sido o agente mais comumente isolado das leses

    de flegmo. uma bactria anaerbica, gram negativa, habitante comum de rmen e intestino

    dos bovinos e ovinos (NICOLETTI, 2003). Essa bactria produtora de uma exotoxina

    hemoltica que provoca celulite necrtica da pele da regio interdigital. Alm desse agente,

    tem sido isolados outras bactrias como o Bacteroides melaninogenicus e Dichelobacter

  • 34

    nodosus que apresentam sinergismo com o Fusobacterium necrophorum e Spirochetas ssp.

    tambm tm sido encontradas em leses (GREENOUGH, 2007).

    Segundo Greenough et al. (2007) entre os fatores predisponentes esto os que

    comumente favorecem o desenvolvimento de enfermidades podais dos bovinos:

    1- ms condies de higiene, que favoream o acmulo de sujidades na regio

    interdigital;

    2- umidade, favorecendo o amolecimento e o enfraquecimento dos cascos e da regio

    interdigital;

    3- leses traumticas, que facilitam o estabelecimento do agente no local;

    4- deficincia de zinco, que afeta a integridade do casco, favorecendo o

    estabelecimento da doena;

    5- conformao dos cascos (unhas muito aberta favorecem os traumas).

    6.1.4.2 Epidemiologia

    A doena ocorre de maneira geral em forma de surtos, embora possa ocorrer de forma

    isolada, no primeiro caso, pode afetar 25% dos animais com acesso ao mesmo local e

    geralmente ocorre em pocas de maior umidade, onde h formao de lama e poas dgua,

    que favorecem a presena dos agentes no ambiente (RADOSTITS, 2007). Com a alta

    contaminao do ambiente e a exposio dos animais predispostos ocorre o rpido

    desenvolvimento da doena.

    Alguns autores acreditam que a incidncia possa ser mais alta, uma vez que comum

    os proprietrios tratarem os animais antes de procurar ajuda especializada do mdico

    veterinrio.

    O sinal clnico mais evidente a claudicao intensa dos animais, com relutncia em

    movimentar-se. Tem carter agudo, o que pode direcionar a suspeita clnica.

    Os sinais presentes nas primeiras 12 horas so dor, eritema calor e tumefao no local,

    podendo provocar edema da pele da regio, levando separao das unhas. Esse edema pode

    atingir bulbos e regio coronria e se estender pelos dois lados da quartela, tanto dorsal

    quanto plantar (RISCO, 2011).

    Num segundo momento, de 24 a 36 horas a infeco atinge os tecidos mais profundos,

    podendo alcanar o tecido subcutneo da regio do boleto, provocando uma assimetria

    acentuada e atingido a articulao causa artrite tenossinovite, bursite do sesamide e lcera de

    talo, nos animais no tratados (RISCO, 2011). Ocorre a intensificao da dor e o animal

  • 35

    mantm o membro suspenso, evitando o apoio com o solo e a movimentao. Pode ocorrer

    hipertermia 390- 40

    0 C e outras alteraes sistmicas (AMSTEL, 2006). Com a relutncia em

    movimentar-se vem a diminuio da ingesto de alimento e a queda da produo, alm do

    favorecimento de desenvolvimento de outras enfermidades que surgem com a anorexia

    (AMSTEL, 2006). Os animais sacodem o membro afetado, como que querendo livrar-se de

    algum corpo estranho entre os dgitos (NICOLETTI, 2003).

    Aps 48 horas surgem fissuras sendo comum a presena de ulcerao, necrose ou

    fenda longitudinal eliminao de um exsudato purulento e de odor desagradvel

    caracterstico. Em caso de aprofundamento das leses, a infeco pode atingir a articulao

    interfalangeana distal, provocando artrite supurativa ou abscesso retroarticular, o sesamide

    distal e a bainha do tendo flexor digital profundo, causando tenossinovite sptica, alm de

    deformao e destruio do estojo crneo, com exposio e necrose da pododerme

    (BLOWEY, 2011). Em regies mais quentes podem se desenvolver miases no local, que

    causam destruio acentuada dos tecidos, caracterizando a pododermatite necrtica crnica

    (NICOLETTI, 2003).

    O diagnstico clnico atravs da anamnese, apresentao e sintomas. H os fatores

    predisponentes, os animais apresentam um quadro agudo de claudicao e as leses no local

    indicam o flegmo.

    O isolamento dos agentes pode ser realizado para confirmar o diagnstico, embora o

    tratamento j tenha sido iniciado com a suspeita clnica.

    6.1.4.3 Tratamento

    O tratamento recomendado antibioticoterapia sistmica, preferencialmente no incio

    do quadro, onde possvel obter os melhores resultados. As bactrias que geralmente esto

    envolvidas nas leses so sensveis maioria dos antibiticos (penicilina G, ceftiofur,

    oxitetraciclina e sulfonamidas. A durao do tratamento varia conforme o princpio ativo e a

    evoluo das leses, ficando entre trs e cinco dias (RADOSTITS, 2007).

    Em leses maiores recomendada a curetagem para limpeza e remoo do tecido

    necrosado. Deve-se colocar nesses casos bandagem com aplicao tpica de adstringentes

    (sulfato de cobre + sulfa em p, em partes iguais). A bandagem do curativo no deve ser

    compressiva, para evitar que a infeco se dissemine e tambm para que ocorra a drenagem

    do flegmo (RADOSTITS, 2007).

  • 36

    Pode-se associar ao tratamento anti-inflamatrios no esteroidal (flunixin, aspirina),

    por at quatro dias, evitando o risco de lceras gstricas. No so recomendados

    corticoesterides, devido ao quadro de leso sptica (AMSTEL, 2006).

    A profilaxia e a preveno deve ser feita evitando que os animais se concentrem em

    locais de umidade excessiva, embora muitas vezes isso possa ser de difcil aplicao,

    principalmente em bovinocultura leiteira. recomendado drenar locais onde h acmulo de

    lama e gua (GREENOUGH, 2007).

    Outra medida importante o fortalecimento dos cascos e eliminao de agentes

    atravs de pedilvios. A frequncia de uso varivel conforme o sistema de produo, sendo

    que em confinamentos recomendada uma maior frequncia (trs a quatro vezes por semana).

    Tambm podem ser usados aditivos nutricionais como biotina e metionina de zinco na

    suplementao nutriconal (GREENOUGH, 2007).

    Como terceira medida, recomenda-se o isolamento dos animais com leses, para

    locais secos e livres do agente, onde a recuperao seja favorecida (RADOSTITS, 2007).

    Figura 7 - Flegmo interdigital

    Fonte: Blowey (2011)

  • 37

    6.1.5 Hiperplasia da pele interdigital (Gabarro)

    conhecido por gabarro em portugus, interdigital skin hiperplasia, corns, warts em

    ingls e zwischenklauenwulst em alemo.

    caracterizado por uma hiperplasia da pele e tecido subcutneo da regio interdigital,

    formando um ndulo volumoso entre os dgitos, esse ndulo firme e pode se estender por

    todo o espao, afeta principalmente os membros posteriores, porm comum ser encontrado

    tambm nos anteriores e pode estar presente em mais de um membro (BLOWEY, 2011). Os

    animais adultos e pesados so os mais acometidos (BLOWEY, 1993).

    A presena de sujidades acumuladas pode levar ao desenvolvimento de problemas

    secundrios ao gabarro, como miases que chegam a destruir a face axial do estrato crneo,

    com a exposio e a granulao da derme ungueal (NICOLETTI, 2003).

    6.1.5.1 Etiologia e fatores predisponentes (NICOLETTI, 2003):

    1- sujidades e umidade podem predispor a uma irritao crnica da regio interdigital

    causando uma reao inflamatria local;

    2- crescimento excessivo da parede axial do dgito;

    3- excesso de gordura no tecido subcutneo do interdgito;

    4- conformao do casco, com unhas abertas (fator hereditrio);

    Quando a leso fica localizada apenas no centro do espao interdigital, porm acomete

    toda a sua extenso, a origem considerada gentica. Quando afeta apenas uma parte da pele

    interdigital e em contato maior com uma das paredes axiais do casco, a origem considerada

    secundria a uma leso crnica local, eventualmente provocada por outra doena, como

    dermatite ou flegmo interdigital por exemplo, (NICOLETTI, 2003).

    A claudicao o sinal clnico mais evidente, embora no esteja sempre presente.

    dependente do tamanho da leso e da presena ou no de leso secundria associada

    compresso dos dgitos (DIAS, 2003).

    Segundo Dias et al. (2003), gabarros grandes podem afetar a movimentao dos

    dgitos e acumular sujidades, que por sua vez predispe a outros problemas. Leses

    infecciosas, ulcerativas ou necrticas produzem exsudato com odor ftido caracterstico.

    O diagnstico visual com a observao da leso caracterstica no espao interdigital

    do casco bovino.

  • 38

    6.1.5.2 Tratamento

    Por ser em muitas vezes um problema apenas esttico, no se recomenda o tratamento,

    entretanto, quando as leses forem acompanhadas de dor e incomodo ao animal, recomenda-

    se a exciso cirrgica e na maioria dos casos os gabarros pequenos podem ser controlados

    com o uso frequente de pedilvio (BLOWEY, 2011).

    6.1.5.3 Tcnica cirrgica

    Para realizao da tcnica recomenda-se a anestesia local, acompanhada por sedao

    do animal (BLOWEY, 2011).

    O posicionamento recomendado pela maioria dos autores em decbito lateral, com o

    membro acometido para cima. Caso seja adotado esse posicionamento a sedao pode auxiliar

    bastante no procedimento, evitando que o animal se debata (SILVA, 2009).

    Pode ainda ser realizado em estao, em um tronco de conteno, est tcnica

    proporciona maior segurana ao animal e ao profissional, pois devido ao tempo da cirurgia, o

    procedimento pode causar inquietao no animal (SILVA, 2002).

    Para o procedimento recomendam-se duas incises laterais ao gabarro, em forma

    elptica, que remova todo o volume, deve-se remover a gordura localizada ao fundo do calo,

    tomando-se o cuidado de no lesionar o ligamento cruzado interdigital (DIVERS, 2008).

    Extensas reas podem ter hemostasia dificultada, e nesses casos recomenda-se a

    cauterizao com ferro quente, embora nesses casos a cicatrizao seja mais lenta (SCOTT,

    2011).

    Depois de suturada a inciso, deve-se colocar um penso compressivo para hemostasia

    e proteo, depois de colocar na regio sulfato de cobre associado sulfa em p na proporo

    de 1:1, alguns autores recomendam unir as unhas do membro afetado com o auxlio de um

    arame colocado nas pontas das pinas, para tal usa-se uma broca fina para fazer pequenos

    furos por onde deve passar o arame (NICOLETTI, 2003). O curativo deve ser trocado no

    terceiro dia e posteriormente a cada semana, at a cicatrizao completa do local

    (NICOLETTI, 2003).

  • 39

    Figura 8 - Gabarro

    Fonte: Blowey (2011)

    6.1.6 Doena da linha branca

    A linha branca produzida pela crio laminar, sua estrutura constituida de trs

    zonas, exterior, intermediria e interior. As zonas exterior e intermediria formam a pina do

    casco e a interior forma uma juno com a pina e os tbulos laminares frouxamente

    dispostos (MULLING, 2002). Estas caracteristicas estruturais tornam a cpsula do casco mais

    suave e menos resistente a danos por processos mecnicos, bactrias, penetrao de corpos

    estranhos e cortes (MULLING, 1993).

    6.1.6.1 Etiologia

    A ara mais afetada geralmente a regiao abaxial na juno da linha branca com a

    parede do casco, as leses da linha branca normalmente comeam com pequenas fissuras ou

    espaos que ficam infiltrados com pedras, terra e outros tipos de matria orgnica e o

    aprisionamento de material dentro desses espaos podem ser visualizados como linhas escuras

    dentro da linha branca em direo obliqua com o casco. Em outros casos, onde j existe um

    processo de infeco avanado a leso se apresenta como uma grande ara necrtica separada

    da linha branca e pode ocorrer associado a formao de abcessos com claudicao grave do

    membro afetado (MULLING, 2002).

    Estes abcessos formam material purulento que se acumula em baixo da sola e em

    muitos casos esse material ir migrar caudalmente em direo do talo ou pode ir para cima

  • 40

    da parede do casco em direo a banda coronaria do casco, no pior cenrio eles podem

    romper formando uma fistula na juno com a pele (MULLING, 2004).

    O sinal clnico mais evidente nos animais geralmente claudicao sem poder tocar o

    membro acometido no cho, uma anamnese no casco revela separao das aparas com

    impactao da linha branca que leva a um abcesso, causando presso, dor e acmulo de pus

    abaixo da sola do casco (SCOTT, 2011).

    6.1.6.2 Tratamento

    Casqueamento do casco e localizao do abcesso, drenar e limpar o abcesso para

    aliviar a presso no casco e diminuir a dor no membro, muitas vezes necessrio a colocao

    de um taco no casco sadio, geralmente o animal se recupera em algumas semanas, mas

    dependendo da gravidade do abcesso recomenda-se uso de antibitico terapia, anti-

    inflamatrio no esteroidal e bandagens para evitar maior contaminao principalmente

    quando o corium da sola estiver exposto pelo abcesso (DIVERS, 2008).

    Remover o animal de ambientes midos e colocar em camas secas e forradas com

    maravalha ou feno, deve-se utilizar pedilvio regularmente na propriedade e acompanhar o

    rebanho com casqueamento preventivo mantendo os animais em pisos menos abrasivos e que

    no contenham pedras ou objetos que possam perfurar e penetrar no casco (SCOTT, 2011).

    Figura 9 - Doena da linha branca com hematoma

    Fonte: Blowey (2011)

  • 41

    Figura 10 - Abcesso da banda coronria

    Fonte: Blowey (2011)

    6.1.7 lcera de sola

    O crio laminar do casco o tecido suspensivo primrio que contm feixes de fibra de

    colgeno que atravs de pregas laminares so ancoradas na superfcie abaxial dorsal e axial da

    terceira falange segundo Lischer et al. (2002),

    Contuses e hematomas no crio, sola e talo causam leso e disfuno do crio, uma

    lcera definida como completo defeito ou quebra na espessura de epiderme, que expe o

    crio (RISCO, 2011). Uma das primeiras indicaes de uma lcera de sola desenvolver

    hemorragia (hematoma) na sola, se o animal apresentar dor quando uma presso exercida a

    essa zona, oferece uma boa evidncia que a lcera est em fase clnica (RISCO, 2011).

    6.1.7.1 Etiologia

    A lcera de sola pode ocorrer em qualquer dgito, porm mais comum nos cascos

    dos membros posteriores, nas unhas laterais, lceras simtricas tambm podem ocorrer em

    ambos os membros e no mesmo perodo (DIVERS, 2008). O local tpico da leso no crio

    que recobre o processo flexor da terceira falange, em bovinos criados a pasto a lcera pode se

    localizar prximo a pina do casco e um terceiro local de ulcerao na juno do talo com

    a sola (DIVERS, 2008).

    No estgio pr-clinico ou no inicio do desenvolvimento, apesar do tamanho de

    algumas hemorragias na sola do casco e mesmo aplicando uma presso com uma pina de

  • 42

    casco muitas vezes essa ao causa pouco ou nenhum desconforto no casco do animal

    (GREENOUGH, 2007).

    As lceras so mais prevalentes em animais alojados em confinamentos free-stall onde

    os animais so mantidos em piso de concreto grelhado e em rebanhos que tem com frequncia

    laminite subclinica como problema, pode afetar 40% do rebanho (WEAVER, 2005). Podem

    estar associada lcera quadros de dermatite digital, doena da linha branca e eroso de talo

    (WEAVER, 2005).

    Clinicamente possvel fazer a distino entre uma lcera aberta e fechada, se a vaca

    no reage presso na regio com hemorragia no casco a leso considerada fechada, mas se

    o animal responder a presso, a leso deve ser considerada aberta e o material deve ser

    removido (GREENOUGH, 2007). A hemorragia o nico sinal precoce da lcera mas apenas

    se torna visvel varias semanas ou meses aps a leso inicial (GREENOUGH, 2007).

    lceras crnicas causam muita claudicao nos animais, muitos mantm o casco

    afetado erguido, param de caminhar, ficam deitados, perdem peso, diminuem a produo de

    leite, observa-se diminuio na taxa de observao de cio e em lceras abertas os animais

    podem apresentar febre devido a infeces bacterianas (RISCO, 2011). Geralmente ocorre

    inchao unilateral do digito acometido at a banda coronria causando tambm avulso na

    insero do tendo flexor profundo (SCOTT, 2011).

    6.1.7.2 Tratamento

    O local deve ser limpo com gua e sabo, muitas vezes necessrio utilizar anestesia

    local devido dor apresentada pelo animal, nesses casos usa-se lidocana 2% sem vaso

    constrictor aplicado intravenoso na veia dorsal do membro acometido (WEAVER, 2005).

    Quando o crio se mostrar saliente e tiver exuberante tecido de granulao, deve ser removido

    (WEAVER, 2005).

    Um taco de madeira deve ser colocado no dgito saudvel para diminuir a dor do casco

    afetado, oxitetraciclina em p e sulfato de cobre podem ser aplicados sobre a lcera e uma

    bandagem deve ser colocada para evitar contaminao com matria orgnica (WEAVER,

    2005).

    Terapia parenteral com antibiticos e anti-inflamatrios tambm aconselhvel, em

    casos crnicos e quando a lcera tiver afetado uma grande rea do casco sugere-se a

    amputao do digito com resseco parcial ou total do tendo flexor (WEAVER, 2005). O

    perodo de cicatrizao mdio de quarenta e dois dias, com uma taxa de sucesso de 77% e

  • 43

    uma sobrevivncia com perodo de vinte e nove meses tem sido relatada. Infeco do dgito

    contralateral a complicao mais comum, resultando em um mau prognstico (AMSTEL,

    2006).

    Segundo Weaver (2005) o controle deve ser atravs do casqueamento regular do

    rebanho, balanceamento da dieta para evitar a laminite subclnica, manter os animais em pisos

    de concretos menos abrasivos e traumticos e alojar os animais em camas confortveis e

    secas.

    Figura 11 - lcera de sola

    Fonte: Blowey (2011)

  • 44

    Figura 12 - lcera de sola

    Fonte: Blowey (2011)

  • 45

    7 PREVENO DAS DOENAS PODAIS

    7.1 Pedilvio

    A finalidade do pedilvio de controlar os processos infecciosos podais e aumentar a

    resistncia dos tecidos crneos, recomenda-se utilizar o pedilvio trs a quatro vezes por

    semana. Sua localizao deve ser de preferncia na sada da sala de ordenha, mas os animais

    devem passar antes por um lava p para diminuir a matria orgnica contida no casco

    (FERREIRA, 2005). O pedilvio deve ser protegido do sol e da chuva por um telhado para

    que as concentraes das solues se mantenham integras e possam manter sua eficincia

    (FERREIRA, 2005).

    As dimenses devem ter aproximadamente 80 cm de largura por 3 metros de

    comprimento e 20 cm de altura com uma lmina de soluo de no mnimo 10 cm. Os produtos

    mais utilizados atualmente so formalina 3-5%, sulfato de cobre 5% e sulfato de zinco 10%

    (FERREIRA, 2005).

    Figura 13 - Pedilvio

    Fonte: Milkpoint (2012)

    7.2 Aparo funcional do casco

    O aparo funcional dos cascos tem por objetivo principal eliminar a dor e trazer mais

    conforto ao animal, em seguida, corrigir os problemas subjacentes se possvel. Sabe-se que o

  • 46

    casco bovino cresce em media 5 mm por ms e que conforme o piso e o sistema de criao

    dos animais h um crescimento excessivo dos cascos necessitando aparos para correo dos

    apoios e reestabelecimento da sua morfologia (FERREIRA, 2005).

    A tcnica utilizada normalmente a seguinte:

    7.2.1. Corte da Pina

    Nos posteriores devemos iniciar pelo corte com torqus, da pina da unha lateral por

    ser maior, sendo que muitas vezes encontramos dificuldades para restabelecermos o

    comprimento da face dorsal de 7,5 cm. Nestes casos, s vezes, deixamos ambas as unhas

    ligeiramente maiores. Nas anteriores fazemos o contrrio (FERREIRA, 2005). Esta conduta

    diferente da indicada pela grande maioria dos autores internacionais (FERREIRA, 2005).

    7.2.2 Aparo da muralha

    O aparo da muralha deve se iniciar pelo talo que se preserva totalmente (ponto zero)

    e o corte deve ser dirigido no sentido do realizado na pina, seguindo uma linha reta

    imaginria, para isto procura-se manter a torqus paralela sola cortando-se a muralha

    (FERREIRA, 2005).

    7.2.3 Aparo da Sola

    A sola deve ser aparada com rineta tendo-se o cuidado de no se fazer remoo

    excessiva da mesma, mantendo-a entre 5-7 mm de espessura (FERREIRA, 2005).

    O aparo do casco deve ser feito duas a trs vezes por ano dependendo do seu estado,

    muitos autores recomendam que o momento ideal para realizar o casqueamento no perodo

    de secagem das vacas, entretanto, como muitas vezes os animais estabulados se encontram

    com os cascos demasiadamente desgastados pelos pisos abrasivos dos estbulos e deveriam

    estar com as leses sob controle j que estavam em lactao, sugere-se que se realizem as

    correes logo aps a pario, ao se iniciar a lactao (FERREIRA, 2005)

    As ferramentas mais habituais utilizadas para fazer casco so: faca reta (1), faca em L

    (2), rineta em anel (3), par de rinetas (4), rineta de corte duplo (5), esptula (6), jogo de lima

    para afiao (7), afiador (8), martelo plessimtrico (9), molde de ngulo padro (10), pina de

    casco (11), torqus (12), grossas (13), esmerilhadeira eltrica (14) e a pistola de ar (15)

    conforme mostra a ilustrao de figura 14.

  • 47

    Figura 14 - Ferramentas para fazer casco

    Fonte: Ferreira (2005)

    7.2.4 Tratamento do casco

    As figuras de 15 a 21 demonstram as etapas a serem seguidas para o tratamento de um casco.

    Figura 15 - Limpeza e desinfeco

    Fonte: Ferreira (2005)

  • 48

    Figura 16 - Lixao do casco

    Fonte: Ferreira (2005)

    Figura 17 - Retirada de material necrosado com rineta

    Fonte: Blowey (1993)

  • 49

    Figura 18 - Colocao do taco de madeira no dgito saudvel com resina

    Figura 19 - Colocao da bandagem

    Fonte: Risco (2011)

  • 50

    Figura 20 - Bandagem

    Fonte: Ferreira (2005)

    Figura 21 - Bandagem com material impermevel

    Fonte: Ferreira (2005)

  • 51

    7.3 Alojamento dos animais

    Um fator determinante para preveno das doenas podais o local de alojamento dos

    animais que varia dependendo do modo de produo adotado pelo proprietrio, em pastoreio

    os animais permanecem em piquetes com pastagens, o que favorece o conforto e diminui o

    atrito com o piso de concreto (GREENOUGH, 2007).

    No sistema de confinamento os animais permanecem juntos o que gera uma disputa

    pela dominncia do grupo entre os animais, nesse sistema de produo deve haver camas

    suficientes para todos os animais (GREENOUGH e HULSEN, 2007). As camas devem ter

    tamanho adequado para que as vacas fiquem com os quatro membros em cima da cama

    normalmente as camas medem 2.80 m de comprimento por 1.20 m de largura e essencial

    que as camas sejam forradas com material confortvel, geralmente usado areia, maravalha

    ou colches com material emborrachado (GREENOUGH, 2007). Deve ser um local seco,

    limpo e elevado do restante do piso do confinamento evitando acumulo de dejetos dos

    animais e a umidade, o material deve ser reposto semanalmente para evitar contaminao

    bacteriana. (GREENOUGH, 2007).

    Figura 22 - Cama em confinamento

    Fonte: Bangel (2005)

  • 52

    Figura 23 - Alojamento em cama da palha

    Fonte: Scott (2011)

    7.4 Troncos de conteno

    Na prtica clnica podem-se usar as salas de ordenha ou recorrer-se ao posicionamento

    do animal em decbito lateral a fim de conter o animal. Todavia, estes mtodos mais

    tradicionais e em desuso oferecem pouca segurana ao tcnico que executa o trabalho e

    causam-lhe desconforto devido a ngulos incorretos de viso. Hoje, usam-se troncos de

    conteno dos mais variados modelos e de diversos fabricantes. O uso de troncos de

    conteno transportveis o mtodo mais seguro e cmodo (SILVA, 2009).

    Estes troncos so fabricados com muita qualidade e com uma grande variedade de

    modelos. Podem ter um funcionamento manual ou ter um funcionamento hidrulico, sendo

    estes ltimos mais cmodos e rentveis, porm mais onerosos na sua aquisio. Os troncos

    verticais permitem um ngulo de viso mais correto para o exerccio da correo dos cascos,

    estando o animal em estao. J o tronco tombador hidrulico proporciona ao tcnico o acesso

    a todos os dgitos ao mesmo tempo (SILVA, 2009).

  • 53

    Figura 24 - Tronco hidralico

    Fonte: Wopa (2013)

    Figura 25 - Tronco de conteno manual

    Fonte: Wopa (2013)

  • 54

    Figura 26 - Tronco hidrulico de tombamento lateral

    Fonte: Hertz (2013)

  • 55

    8 CONCLUSO

    As mudanas de manejo e a intensificao da produo nas fazendas brasileiras,

    buscando qualidade e rentabilidade, com a introduo de confinamentos na dcada de 80, cria

    a necessidade de apurar e definir com profissionalismo o diagnstico, tratamento e tambm

    apontar causas e consequncias das afeces podais. No passado todas as doenas de casco

    tinham uma denominao genrica e um tratamento muito semelhante, entretanto, hoje j

    existem dados suficientes para que cada afeco possa ser identificada, recebendo tratamento

    especfico, favorecendo a recuperao e a reduo dos custos no tratamento, especialmente as

    atitudes preventivas com melhores pedilvios, substituio dos desinfetantes mais constantes

    para que no haja saturao das mesmas e a correo dos cascos, diminuindo a interveno

    curativa.

    As afeces de casco causam perdas significativas na produtividade da vaca leiteira e

    sobre tudo no rebanho acometido, espero que este trabalho possa esclarecer e mostrar a

    importncia e amplitude dos problemas podais em vacas leiteiras, auxiliando de maneira

    sistematizada, simples e objetiva todas as pessoas envolvidas com a produo de leite,

    estabelecendo com o surgimento de novas pesquisas e a crescente evoluo tecnolgica

    sistemas mais intensivos, eficientes e racionais na produo leiteira.

  • 56

    REFERNCIAS

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