Web - Revista SOCIODIALETO Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos - NUPESDD
Laboratório Sociolinguístico de Línguas Não-Indo-europeias e Multilinguismo - LALIMU
ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 18 • Maio 2016
Edição Especial • Homenageada MARIA CECÍLIA MOLLICA
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EFEITOS DISCURSIVOS NA EXPRESSÃO VARIÁVEL DO
SUJEITO DE PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR EM BLOGS DE
VIAGEM1
Vera Lúcia Paredes Silva (UFRJ)2
Yalis Duarte Rodrigues Lima (UFRJ)3
RESUMO: Tomando como base a Sociolinguística Laboviana (cf. Labov, 2008[1972]) e o
Funcionalismo, este trabalho tem como objetivo investigar o fenômeno variável de primeira pessoa do
singular sob a perspectiva da função discursiva das variantes. A fim de cumprir o objetivo proposto, será
discutido o efeito da variável conexão discursiva (cf. Paredes Silva, 1988) em dados de escrita digital. A
associação dos pressupostos teóricos da Teoria Variacionista, às hipóteses de natureza discursiva com
bases funcionalistas, mostra-se proveitosa, conforme demonstram trabalhos já realizados (cf. Paredes
Silva, 1988, 2003, 2007).
PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística Laboviana; Variação Pronominal; Variável discursiva.
ABSTRACT: Based on Sociolinguistics (cf. Labov, 2008 [1972]) and the functionalist perspective,
this study aims to investigate the variable phenomenon of the first person singular from the perspective of
the discursive function of the variants. In order to achieve the proposed objective, the effect of conexão
discursiva (cf. Paredes Silva, 1988) in digital writing data, will be discussed. The combination of the
theoretical assumptions of Variationist Theory, and the hypotheses of discursive nature with functionalists
bases, shows itself to be profitable, as shown by previous works (cf. Paredes Silva, 1988, 2003, 2007).
KEYWORDS: Sociolinguistics; Pronominal Variation; Discursive Variable.
1. Introdução
A expressão variável dos sujeitos pronominais no português brasileiro
(doravante PB) tem sido foco de diversas investigações ao longo dos últimos 30 anos, a
partir de diferentes orientações teóricas, seja na modalidade oral (cf. Lira, 1982; Duarte,
1Apresentamos aqui um recorte do trabalho de Lima (2014), em que foi analisada a influência de diversas
variáveis baseadas em hipóteses de natureza discursiva. 2 Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Docente da Graduação e do
Programa de Pós-Graduação em Linguística da mesma Universidade. 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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1995; Paredes Silva 2003) seja na escrita(cf. Paredes Silva, 1988, 2003a, 2003b; Duarte,
1993).O fato de os estudos de variação focalizarem, principalmente, a modalidade oral
em estilos menos monitorados, tem trazido à tona a alta frequência com que os
pronomes sujeito vem sendo empregados. Tais fatos têm levado alguns pesquisadores,
inclusive, a pensar numa eventual mudança de parâmetro do português, que deixaria de
ser uma língua de sujeito nulo para tornar-se língua de sujeito obrigatório (cf.
Duarte,1993; 1995).
Ao apresentarmos uma análise de natureza empírica, como a
variacionistalaboviana aqui adotada, é preciso que se observem atentamente as
circunstâncias de uso desses sujeitos, levando em conta, além dos fatores sociais
convencionais, outros aspectos, tais como modalidade (oral versus escrita), gênero
discursivo-textual, e, embutido nos anteriores, mas vetor da análise, a questão da pessoa
gramatical em foco. Como destaca Benveniste (1973), apenas a primeira e a segunda
pessoa são as verdadeiras “pessoas do discurso”. A terceira pessoa é a não-pessoa, o
não-participante do jogo dialogal .Assim, em termos de variação, se no caso das duas
primeiras temos uma alternância presença-ausência de pronome, no caso da terceira a
escolha pode-se dar entre nome, pronome e anáfora zero,configurando uma variação
ternária. Tal distinção em si já seria motivo para o tratamento separado da terceira
pessoa.
No que se refere à primeira e à segunda pessoa, sua alternância vai depender,
naturalmente, do gênero discursivo-textual envolvido. Em muitos gêneros presentes no
nosso cotidiano4, nota-se, de um modo geral, forte predomínio da primeira pessoa: o
discurso humano tende a ser egocêntrico (cf. Givón, 1995). Assim, são orações em
primeira pessoa que predominam em entrevistas sociolinguísticas, em cartas pessoais e
em blogs. Ultimamente, o meio eletrônico (ou o suporte web) tem propiciado o
4Excluímos desse rol os gêneros de domínios como o acadêmico, o jurídico, o religioso e outros
associados a campos mais específicos da atividade humana.
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surgimento de uma série de novos gêneros, tais como chats, blogs, whatsapp, twitter5.
Pode-se dizer que as chamadas redes sociais são uma forma de comunicação bastante
eficiente no mundo contemporâneo. Os novos gêneros põem-nos diante de uma série de
questionamentos quanto ao próprio meio: a expressão é escrita, mas a concepção é oral
(cf. Marcuschi, 2008). Nesse sentido, o relato no blog, fonte de nossa análise de
sujeitos, se aproxima da carta pessoal.
Este artigo foi concebido do seguinte modo: depois desta introdução, em que
apresentamos algumas questões gerais que subjazem à discussão, segue-se a descrição
do corpus aqui investigado. Na terceira seção, apresentamos a variável que mais se
destacou entre as postuladas nesta análise e justificamos sua pertinência. Em seguida
apresentamos os resultados da análise e tecemos algumas considerações finais.
2. O corpus investigado
O corpus é formado por relatos de blogs de viagem, em que os autores
compartilham suas experiências pessoais, fato que contribui para o uso da 1ª pessoa do
singular (cf. Lima, 2014). A constituição do corpus foi motivada pelo caráter subjetivo
de tais relatos, já que, de uma maneira geral, os textos são centralizados na primeira
pessoa do singular. Foram reunidos 37 relatos publicados em 10 blogs de viagem, no
período entre 2009 e 20146.Os textos não têm limite previamente estabelecido e, por
isso, alguns possuem maior extensão que outros. Para que não houvesse desequilíbrio
dos dados, estabelecemos um número limite de 1000 palavras para cada texto.
5 Observe-se que a maioria das designações se faz em inglês.
6Os textos foram retirados dos seguintes blogs: Aprendiz de Viajante, Cadernos de Viagem, Ensaios de
Viagem, Gaby pelo mundo, Idas e Vindas, Mikix, Preciso Viajar, Saia pelo Mundo, Viaje na Viagem,
Vou contigo. Na seção Anexo, disponibilizamos os links dos textos investigados em Lima (2014).
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Seguindo Bakhtin (2003)7 e reconhecendo o caráter dialógico do discurso,
consideramos os relatos de viagens analisados um subgênero do gênero blog8, uma vez
que estão relacionados a um campo de utilização da língua, servindo a um propósito
comunicativo. Para o autor, “aprender a falar significa aprender a construir enunciados
(porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por
palavras isoladas). ” (Bakhtin, 2003, p. 283). Os enunciados irão, por sua vez,
apresentar não só um conteúdo temático e um estilo de linguagem, mas também uma
estrutura composicional. Esses três elementos constituem os enunciados que pertencem
aos diversos campos de utilização da língua_ os gêneros do discurso. Estes são
apresentados como “relativamente estáveis”: sua estabilidade é relativa pois, ao mesmo
tempo em que são reconhecidos pelos membros da sociedade, eles se modificam com o
passar do tempo, atendendo às necessidades comunicativas dos usuários, inseridos numa
sociedade que sofre mudanças constantes.
Relacionada ao conceito de gêneros está a noção de sequência textual, entendida
como constituinte do aspecto composicional dos vários gêneros. As sequências textuais
podem ser identificadas a partir de marcas formais (cf. Paredes Silva, 1997) e, ao
contrário dos gêneros discursivo-textuais, que são incontáveis, constituem uma lista
fechada, tendo em vista a possibilidade de descrevê-las a partir de um conjunto de
propriedades estruturais.
No que diz respeito a sua composicionalidade, os relatos se apresentam de
maneira heterogênea, no sentido de que podem ser constituídos por mais de uma
sequência. Apesar dessa heterogeneidade tipológica, observa-se a predominância das
sequências narrativa e descritiva nos relatos analisados (cf. Lima, 2014).
7Faz-se referência à data de publicação da edição brasileira.
8 Alguns autores (cf. Miller, 2012; Oliveira, 2014) consideram o blog um gênero. No entanto, dentro dos
blogs existem subgêneros como, por exemplo, os relatos de viagem.
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3. A proposta escalar da conexão discursiva
Seguindo a linha de pesquisas anteriores, relacionamos o fenômeno em questão
à variável conexão discursiva, que consiste em uma escala que avalia a maior ou menor
previsibilidade dos referentes levando em consideração a organização do discurso.
Ao aplicar a variável mudança de referência a um corpus de cartas pessoais,
Paredes Silva (1988) observou que, por se restringir ao âmbito oracional e à mera
identificação ou não do referente de uma oração com o da oração anterior, esta variável
não permitia que se levassem em conta aspectos da organização discursiva que pareciam
relevantes para a escolha pronominal. A fim de apreender tais aspectos e relacioná-los
ao uso dos pronomes, a autora propôs uma variável escalar que verifica a interferência
de fatores contextuais e como esses fatores podem influenciar a escolha entre sujeito
expresso ou não expresso.
Um dos pontos de partida para essa proposta foi o trabalho de Li & Thompson
(1979), que se dedica à ocorrência de sujeitos de 3ª pessoa do singular em narrativas
chinesas. Os autores demonstram que, no chinês, não existem marcas formais que
possam indicar ou prever a interpretação do referente da anáfora zero. Torna-se
necessária, portanto, a busca por evidências discursivas e pragmáticas, para que haja
uma compreensão efetiva das categorias vazias na língua chinesa.
A distribuição escalar da conexão se faz em graus, que vão do mais contínuo
(grau 1, considerado ótimo) até o menos contínuo (grau 6), levando em conta a relação
de um elemento com sua menção anterior no discurso: se há ou não elementos
intervenientes, e de que natureza, entre o referente em análise e a sua última menção.
A figura a seguir ilustra a tendência observada de que quanto mais forte for a
conexão, maior é a proximidade entre os sujeitos e, portanto, menor é a necessidade de
expressão. Por outro lado, a medida em que são inseridos outros elementos entre o
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sujeito analisado e a menção precedente, a conexão se enfraquece e a expressão do
sujeito tende a tornar-se necessária.
Nos exemplos apresentados os sujeitos em análise estão em negrito e suas
menções anteriores encontram-se sublinhadas.
O grau 1 diz respeito ao grau mais forte de conexão e a tendência é que a
omissão do sujeito seja quase categórica, tendo em vista que há uma sequência de ações
em torno do mesmo participante. Dessa forma, o referente/tópico/sujeito da primeira
oração se mantém como tópico das orações subsequentes. Além da manutenção do
sujeito, há também manutenção de tempo, aspecto e modo verbal, conforme mostra o
exemplo (1):
(1) 244GM3 - A segurança que deixou a desejar né, gente. Vocês viram...
Eu cheguei, Ø SUBI o elevador, Ø ENTREI, Ø VOLTEI, Ø DORMI e ainda Ø
TOMEI café da manhã.
O grau 2 difere do grau 1 por haver mudança no tempo, modo ou aspecto verbal.
Tal mudança é ocasionada pela passagem de figura a fundo, de um fato real para irreal
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ou de um fato para um comentário avaliativo. Entretanto, mantém-se alguns aspectos do
grau 1, como a manutenção do sujeito e do tópico discursivo. Vejamos o exemplo:
(2) 322IV3 - Ø Tenho consciência de que a minha decepção foi bem mais
intensa porque EU ESTAVA CHEGANDO de uma estada absolutamente
perfeita no Renaissance Phuket em Mai Khao.
No exemplo (2), embora haja a manutenção do sujeito, há mudança de tempo e
aspecto verbal, critério suficiente para representar certo enfraquecimento na escala.
Ao contrário dos graus anteriores, no grau 3 o sujeito em questão é diferente do
sujeito da oração anterior. Os sujeitos voltam, portanto, depois de uma breve
interferência que pode se dar por orações curtas e com sujeito impessoal. No entanto,
não há um corte na sequência do discurso e não entra em cena nenhum concorrente à
mesma função.
(3) 63CV1 - No Castelo de Buda, funcionam alguns museus de belas
artes e de história, mas eu decidinão visitá-los. Estava um dia bonito, e Ø PREFERI
passear por fora, aproveitando a vista da cidade, especialmente bonita a partir
do Bastião dos Pescadores.
No exemplo (3) há manutenção do tema e não há nenhum concorrente à função
de sujeito. Além disso, a interferência é representada pela oração impessoal9 entre o
sujeito em análise e sua menção anterior.
No grau 4, temos os casos em que o referente teve sua última menção em outra
função sintática. Nesses casos, o referente já foi introduzido através dos pronomes
oblíquo ou possessivo. Como o foco do relato costuma ser a 1ª pessoa, a introdução do
referente em outra função sintática que não a de sujeito costuma ser pouco frequente.
(4) 553VV 1 - Conforme prometido, este é o fidibeque da minha viagem
à Escócia. Ø COMPREI a passagem British Airways, Rio de Janeiro – Londres,
Londres – Edimburgo e Edimburgo – Rio de Janeiro (escala em Londres).
9A oração impessoal está destacada em itálico.
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No grau 5, a volta do discurso ao âmbito da pessoa analisada é tida como uma
retomada e outros participantes que podem concorrer à função de sujeito entram em
cena. É o caso do exemplo a seguir:
(5) 77CV1 - Ø Fui a uma na Vaciutca, a Présház, onde o vendedor
explicou vários detalhes sobre a escala de doçura dos vinhos, seu processo de fabricação
e ainda Ø PROVEI algumas variedades – infelizmente, era de manhã cedo, e nem pude
aproveitar muito! Também anotei a referência da Bortársaság, mas não cheguei a visitar
a loja.
No exemplo (5) a entrada do referente de terceira pessoa expresso por um
sintagma nominal (o vendedor) representa um afrouxamento na conexão, sendo a volta
do discurso ao âmbito da primeira pessoa uma retomada.
As ocorrências incluídas no grau 6, dizem respeito aos casos em que há uma
quebra na sequência discursiva representada pela mudança de tópico discursivo
(assunto) ou digressões. No exemplo (6), há uma digressão entre o sujeito em análise e
sua última menção.
(6) 108CV2 - Ø Escolhi fazer essa viagem usando o trem de alta
velocidade – SAPSAN – o que evita ter de se deslocar para um dos aeroportos de
Moscou. A viagem foi ótima, num trem confortável, com direito a wi-fi durante todo o
trajeto. A parte de venda de bilhetes no site das ferrovias russas não está traduzida
para o inglês, mas isso não é problema na hora de fazer a compra, pois algumas almas
caridosas que frequentam o fórum da Rússia no TripAdvisor fizeram tutoriais que
permitem entender todos os passos da transação (e o Google Chrome também ajuda
nessa hora). Mas EU NÃO CONSEGUI comprar a passagem com o meu cartão de
crédito brasileiro, provavelmente por ele não ter a tecnologia Verified by Visa.
Na seção seguinte apresentamos os resultados estatísticos obtidos através do
programa Goldvarb.
4. Análise dos resultados
O primeiro aspecto a ser observado na distribuição geral dos dados é o alto
índice de ausência pronominal, ilustrado no gráfico a seguir:
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Além do conservadorismo inerente à modalidade, a alta incidência de pronomes
zero pode ser explicada pelo fato de os textos terem um caráter subjetivo, havendo
pouca necessidade de explicitar o sujeito. A porcentagem de sujeitos nulos neste
trabalho é exatamente a mesma encontrada por Paredes Silva (1988), em análise
também de escrita informal em cartas pessoais. Isso demonstra, portanto, que a escrita,
mesmo que digital e informal se mantém conservadora no que diz respeito ao fenômeno
da presença e ausência do pronome sujeito de primeira pessoa do singular.
Com relação ao efeito da conexão discursiva, faz-se necessário explicitar
algumas decisões metodológicas. Conforme dito anteriormente, os casos de grau 4 são
aqueles em que os referentes são introduzidos em outra função sintática, que não a de
sujeito. Portanto, é natural que esses casos sejam em pouca quantidade nos relatos de
viagem, gênero que se caracteriza pelo papel central do “eu”. Dessa forma, a primeira
pessoa é mais frequente na posição de sujeito. Devido ao baixo número de ocorrências,
optamos por amalgamar os graus 3 e 4.
Podemos observar na tabela a seguir uma queda gradativa dos pesos relativos,
confirmando as tendências da escala da conexão discursiva: o grau 1, que representa a
continuidade máxima, favorece altamente o apagamento do sujeito com um peso
relativo de .84. No grau 2, há uma queda no uso dos sujeitos nulos (.55) que se propaga
nos graus 3 e 4 (.47), no grau 5 (.35) e no grau 6 (.31).
77%
22%
0%
50%
100%
%
Sujeitos Zeros Sujeitos Expressos
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Influência da conexão discursiva na ausência do pronome de 1ª pessoa do singular
Portanto, conforme a escala vai avançando, o peso relativo diminui, indicando a
menor possibilidade de ausência do sujeito nos graus onde a descontinuidade é máxima.
A título de confronto, apresentamos os resultados para a mesma variável
encontrados em Paredes Silva (1988) ratificados neste trabalho10
:
Influência da conexão discursiva na ausência do pronome de 1ª pessoa do singular (Cf. Paredes Silva,
1988)
10
Na análise de Paredes Silva (1988) os 6 graus da conexão foram mantidos separados.
Conexão Discursiva Apl/Total % Peso Relativo
Grau 1 90/93 96% .84
Grau 2 172/212 81% .55
Graus 3 e 4 117/147 79% .47
Grau 5 75/115 65% .35
Grau 6 105/153 68% .31
Total 559/720 77%
Conexão Discursiva Apl/Total % Peso Relativo
Grau 1 209/212 99% .94
Grau 2 336/395 85% .59
Grau 3 143/178 80% .47
Grau 4 55/78 70% .34
Grau 5 262/410 64% .25
Grau 6 266/377 70% .23
Total 1271/1650 77%
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Considerações finais
De acordo com as discussões acima, os resultados apresentados refletem a
tendência da proposta escalar de Paredes Silva (1988). A aplicação da conexão
discursiva, que representa uma concepção mais minuciosa da variável mudança de
referência, oferece uma apreensão mais detalhada do comportamento dos sujeitos,
revelando aspectos sutis no uso dos pronomes, já que busca no discurso pistas e
motivações para a ausência ou presença pronominal, motivações essas que não seriam
captadas numa análise estritamente morfossintática. Portanto, a inclusão do contexto
discursivo na análise de um fenômeno variável que aparentemente é apenas do âmbito
da gramática proporciona um ganho teórico significativo nas investigações linguísticas.
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ANEXO
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cidade.html
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nao.html
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andinos/
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Web - Revista SOCIODIALETO Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos - NUPESDD
Laboratório Sociolinguístico de Línguas Não-Indo-europeias e Multilinguismo - LALIMU
ISSN: 2178-1486 • Volume 6 • Número 18 • Maio 2016
Edição Especial • Homenageada MARIA CECÍLIA MOLLICA
Web-Revista SOCIODIALETO – NUPESDD / LALIMU, v. 6, nº 18, mai./2016 425
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www.precisoviajar.com/2013/11/waikiki-beach-marriot-resort-spa-review.html 2/7
http://www.precisoviajar.com/2014/01/bangkok-grand-palace-emerald-buddha.html
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panama-bom-tambem-para-quem-faz-conexao-na-cidade/
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wanessa/
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Recebido Para Publicação em 21 de maio de 2016.
Aprovado Para Publicação em 29 de agosto de 2016.