Download - Water Drop
Enquanto a maioria de seus amigos fincava raízes, Brito corria o mundo atrás
de ondas perfeitas e liberdade.
Enquanto a maioria de seus amigos fincava raízes, Brito corria o mundo atrás
de ondas perfeitas e liberdade.
Direção: Bárbara Gurgel
Comercial: Mariana Saraiva
Diretor de arte: Bárbara Gurgel
Redação: João Weingartner
Planejamento: Bárbara Gurgel
Edição: Pedro Noronha
Revista: Bárbara Gurgel
Fotografia: Mariana Saraiva
4 - Quem procura Sasha
10 - Rasta Surfers
16 - Bicho Solto
23 - Ilustração do leitor
O ano passou e, musical que foi este 2009,
deixou boas lembranças nos ouvidos
do povo. Sim, do povo, afinal o povão
está todo equipado com mp3 players
e celulares modernos. A música está mais
independente que nunca, e a música
do maintream está cada vez mais
dependente do independente: mesmo
as bandas mais forjadas do mundo precisam
estar antenadas ao que acontece no indie
se quiserem fugir do enfadonho. Não que
o indie tenha livrado-se de chatices
e redundâncias em 2009. Pelo contrário,
de cada 10 bandas novas que surgem, 8
continuam sendo cópias. Mas foi bom ouvir
a música que surgiu nos últimos 12 meses.
Outubro 2009
2
ão é metáfora. Era noite, e eu
vagava perdido pelo deserto em
um hemisfério longe de casa
quando achei o profeta. Não é tão
dramático tampouco: era o deserto de Black
Rock, Nevada, na primeira madrugada do
festival Burning Man. E o profeta, no caso,
é um homem sem religião ou doutrina. Mas
que, e aqui vai todo o drama, é o papa do
meu rebanho: dr. Alexander Shulgin,
ou Sasha, para amigos e fãs.
Quando, no meio de 2008, arrumava
as malas para vir aos EUA, coloquei muitas
expectativas, mas pouquíssimos planos.
Um deles era conhecer Sasha Shulgin. Por
trás da empreitada de correspondente nos
EUA estava a ideia de seguir uma intuição
que se confundia com certeza: a de que
nos estudos dos estados alterados da
consciência eu acharia minha estrada
espiritual. Por isso, encontrá-lo era como
uma peregrinação sem liturgia. De um
monge nada asceta atrás de um mestre que
vive. sabe-se lá onde. Não havia templo,
montanha ou um mísero e-mail para achá-
lo. Estranha, ou adequadamente, a vida
o colocou na minha frente.
Eu não tinha a menor ideia do que me
esperava no Burning Man. Só sabia que eu
tinha que estar lá e ponto. Se meus planos
nos EUA envolviam me conectar com
a comunidade psicodélica e aprofundar
minhas pesquisas, o festival era obrigação.
Resumindo o que não é sintetizável: 50 mil
pessoas vão a um deserto extremamente
seco e hostil para “celebrar a autoexpressão
radical” e uma recente, difusa e ainda
em gestação espiritualidade americana.
Drogas psicodélicas são sacramentos nesse
ramadã de freaks absurdos e viajantes.
Eu acabara de deixar o automóvel no meio
de uma multidão. Cheguei com uma
companheira de trips e viagens, tão
deslocada quanto eu, e uma onda
de ansiedade nos dominou. Não tínhamos
um conhecido por ali nem onde dormir
ou comer. Renata, a cara amiga, aponta
longe: “Vamos perguntar para aquele ali”.
Era um senhor em trajes budistas, dançando
em cima de um tablado. Simpático
ao extremo, nos levou ao seu acampamento
para ver o que podia fazer por nós. Sentado
a uma mesa, hospedado no trailer ao lado
de nosso guia budista, estava o dr. Shulgin.
Sasha com os cactus de seu jardim, que fornecem
matéria-prima para boa parte das pesquisas
que desenvolve no laboratório dos fundos de sua casa.
5
Quem procura Sasha
Sasha testava os compostos que criava no
laboratório dos fundos de sua casa primeiro
em si, depois com sua mulher e com alguns
amigos Para mim, a esbórnia no deserto estava
abortada. Queria aproveitar ao máximo a sorte
de conhecer o homem. Meu fascínio por Sasha
não é, de longe, devido ao ecstasy. Veio da
leitura de Pihkal, uma química história de
amor, seu livro de 1991, escrito com Ann
Shulgin, sua esposa. Nessa obra, crucial para
qualquer um que quer entender drogas como
algo mais sutil do que o sempre alucinado
senso comum, é descrito como Ann e Sasha
percorreram sua vida até se encontrarem.
E de como a história de amor dos dois se
confunde com a maior exploração macológica
da história. Como Sasha, Ann e uma seleta
turma percorreram décadas investigando
compostos que Sasha criava no laboratório dos
fundos de sua casa. Testava primeiro
em si, depois com sua mulher, depois com
alguns seus amigos. E de como esse trabalho
foi expandindo, em salas de psicoterapia pela
Califórnia, as possibilidades dos exóticos
e recém-nascidos compostos. Esse é o enredo
que ocupa a primeira parte do livro e introduz
a segunda, em que a síntese, a molécula, a dose
e os comentários sobre os efeitos de cada uma
das substâcias são descritos com humor
e elegância. Mescalina e MDMA fazem parte
dela. LSD, Psilocibina e DMT pertencem
às triptaminas, família descrita da mesma forma.
Sua jornada me fez virar seu fã. Além de
químico, Sasha era um devotado à causa do
prazer, da exploração das possibilidades da
mente como forma de desobstruir qualquer
barreira à vazão do amor. Nunca as patenteou,
nunca as traficou, nunca achou boa ideia dar
6
Quem procura Sasha
para moleques em raves ou tomá-las sem
cuidadosa informação. É um artista
transcendental, cuja obra ganha sentido
e desdobramentos literalmente na cabeça
do “espectador”. Também é um excelente
escritor, lúcido e com uma habilidade fora
do comum para escrever sem clichês sobre
o indizível: o universo de uma viagem délica.
Nunca caiu na falta de critério da nova era.
Nunca se colocou como guru. Nunca perdia a
chance de ser engraçado. Obama discursava
por uma América justa. e Sasha, totalmente
alheio, fazia questão de não ouvir. Ele
estava com 83 anos no Burning Man.
Sasha Shulgin, em seu laboratório.
“NÃO GOSTO. PREFIRO QUE ELES FIQUEM LÁ E EU AQUI.
PARA MIM É UM BOM ACORDO.”
7
Quem procura Sasha
Water Drop vai à Jamaica
e encontra uma cena singular
no surf mundial, dominada por rastafáris.
10
Rasta Surfers
Segurando entre os dedos um baseado já
queimado pela metade, mas ainda num
tamanho considerável, Antony Wilmot,
conhecido como Billy Mystic, aproxima-se
de mim. Estávamos a poucos metros do mar
jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de
longos dreadlocks – grisalhos devido às
cinco décadas de vida – mora e mantém
o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca
o isqueiro, acende seu baseado e dá uma
tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito
estufado, vira e diz: “E então, o que você
quer saber sobre os surfistas rastafáris?”.
Na pequena mas crescente cena local, Billy é
ícone de um grupo de surfistas que se
destaca por mesclar dois estilos de vida,
o dos rastafáris, quase religioso, e o dos
surfistas, esse velho conhecido.
A reportagem da Trip foi até lá acompanhar
três profissionais brasileiros que viajaram
dispostos a descobrir como são as ondas
da ilha. Acabou deparando com uma cena
única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf
ser algo ligado à natureza faz com que ele se
assemelhe à cultura rasta”, diz Billy.
E completa: “Uma pequena parte dos
rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte
dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo
disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks
e exploram os picos que a Jamaica oferece.
Tudo sem atropelo, já que o surf no país não
é popular, apesar das ondas quebrando no
sudeste da ilha. Pelos cálculos de Billy, hoje
na Jamaica há menos de 200 surfistas,
profissionais ou não. Mulheres, não chega
Segurando entre os dedos um baseado já
queimado pela metade, mas ainda num
tamanho considerável, Antony Wilmot,
conhecido como Billy Mystic, aproxima-se
de mim. Estávamos a poucos metros do mar
jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de
longos dreadlocks – grisalhos devido às
cinco décadas de vida – mora e mantém
o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca
o isqueiro, acende seu baseado e dá uma
tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito
estufado, vira e diz: “E então, o que você
quer saber sobre os surfistas rastafáris?”.
Na pequena mas crescente cena local, Billy é
ícone de um grupo de surfistas que se
destaca por mesclar dois estilos de vida,
o dos rastafáris, quase religioso, e o dos
surfistas, esse velho conhecido.
A reportagem da Trip foi até lá acompanhar
três profissionais brasileiros que viajaram
dispostos a descobrir como são as ondas
da ilha. Acabou deparando com uma cena
única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf
ser algo ligado à natureza faz com que ele se
assemelhe à cultura rasta”, diz Billy.
E completa: “Uma pequena parte dos
rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte
dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo
disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks
e exploram os picos que a Jamaica oferece.
Tudo sem atropelo, já que o surf no país não
é popular, apesar das ondas quebrando no
sudeste da ilha. Pelos cálculos de Billy, hoje
na Jamaica há menos de 200 surfistas,
profissionais ou não. Mulheres, não chega
Segurando entre os dedos um baseado já
queimado pela metade, mas ainda num
tamanho considerável, Antony Wilmot,
conhecido como Billy Mystic, aproxima-se
de mim. Estávamos a poucos metros do mar
jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de
longos dreadlocks – grisalhos devido às
cinco décadas de vida – mora e mantém
o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca
o isqueiro, acende seu baseado e dá uma
tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito
estufado, vira e diz: “E então, o que você
quer saber sobre os surfistas rastafáris?”.
Na pequena mas crescente cena local, Billy é
ícone de um grupo de surfistas que se
destaca por mesclar dois estilos de vida,
o dos rastafáris, quase religioso, e o dos
surfistas, esse velho conhecido.
A reportagem da Trip foi até lá acompanhar
três profissionais brasileiros que viajaram
dispostos a descobrir como são as ondas
da ilha. Acabou deparando com uma cena
única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf
ser algo ligado à natureza faz com que ele se
assemelhe à cultura rasta”, diz Billy.
E completa: “Uma pequena parte dos
rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte
dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo
disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks
e exploram os picos que a Jamaica oferece.
Tudo sem atropelo, já que o surf no país não
é popular, apesar das ondas quebrando no
sudeste da ilha. Pelos cálculos de Billy, hoje
na Jamaica há menos de 200 surfistas,
profissionais ou não. Mulheres, não chega
Segurando entre os dedos um baseado já
queimado pela metade, mas ainda num
tamanho considerável, Antony Wilmot,
conhecido como Billy Mystic, aproxima-se
de mim. Estávamos a poucos metros do mar
jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de
longos dreadlocks – grisalhos devido às
cinco décadas de vida – mora e mantém
o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca
o isqueiro, acende seu baseado e dá uma
tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito
estufado, vira e diz: “E então, o que você
quer saber sobre os surfistas rastafáris?”.
Na pequena mas crescente cena local, Billy é
ícone de um grupo de surfistas que se
destaca por mesclar dois estilos de vida,
o dos rastafáris, quase religioso, e o dos
surfistas, esse velho conhecido.
A reportagem da Trip foi até lá acompanhar
três profissionais brasileiros que viajaram
dispostos a descobrir como são as ondas
da ilha. Acabou deparando com uma cena
única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf
ser algo ligado à natureza faz com que ele se
assemelhe à cultura rasta”, diz Billy.
E completa: “Uma pequena parte dos
rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte
dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo
disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks
e exploram os picos que a Jamaica oferece.
Tudo sem atropelo, já que o surf no país não
é popular, apesar das ondas quebrando no
sudeste da ilha. Pelos cálculos de Billy, hoje
na Jamaica há menos de 200 surfistas,
profissionais ou não. Mulheres, não chega
Pelos cálculos de billy, hoje na Jamaica há menos
de 200 surfistas, profissionais ou não.
11
Rasta Surfers
páginas internas, retratos antigos ilustram
como os amantes de Jah começaram
a encarar as ondas. Em parceria com a marca
de surf australiana Insight, que patrocina
a família Wilmot, Billy pretende lançar o livro
no ano que vem. “A ideia é ilustrar o surf
jamaicano, mostrando o que acontecia
ao mesmo tempo na música e na cultura
rasta. Nos anos 70 e 80 o país ganhou nome
por conta do reggae e dos rastafáris, mas
ninguém sabe que, paralelamente, o surf
também se desenvolvia.” Para os filhos
de Billy, o reggae, a vida rasta e o surf
caminham juntos, numa combinação que,
quem tem o privilégio de usufruir diz ser
a mais prazerosa possível. Inilek Wilmot,
24 anos, por exemplo, pegou as primeiras
ondas aos 7, já identificado com o lifestyle
rastafári – o que, em seu caso, não inclui
o baseado, por causa da asma. Aqui vale
uma breve explicação: na cultura rasta, uma
a ganja é uma espécie de ritual religioso,
uma oferenda a Jah. A maioria dos rastas
que ouvimos classifica sua cultura não como
uma religião, mas como um estilo de vida,
marcado por uma ligação estreita com
a natureza (ponto que o aproxima do surf)
e pela crença de que as relações humanas
são mais importantes que qualquer bem
material. O discurso sobre viver da forma
mais natural possível está na ponta da língua
de todos que ostentam dreadlocks.
12
Rasta Surfers
O cabelo, por sinal, também tem explicação
religiosa. “Eles crescem de acordo com
um voto, um agradecimeto a Deus por algo.
Pode ser um voto de três anos ou uma semana.”
Dos nove campeonatos nacionais realizados
no país, Inilek venceu quatro. Outros liares
levaram mais alguns, consolidando uma
hegemonia dos rasta surfers. Seu irmão Icah
planeja inclusive entrar para o circuito
do WQS (World Qualifing Series) em 2010.
Tudo isso sem ganhar um centavo
em premiações. “Não tem dinheiro. É só pra
dizer: ‘Eu fiz, sou o campeão nacional’.”,
explica Inilek. A maior recompensa é mesmo
a participação no ISA World Surfing Games –
competição mundial da respeitada
International Surfing Association. Desde
2002, os melhores surfistas da temporada
vão ao torneio. Bons resultados.
13
A rica história do surf local passa pelo
Jamnesia Surf Club. O terreno do clube,
à beira-mar, está sempre de portas abertas.
Aliás, nem tem portão, ao contrário das
construções vizinhas, todas gradeadas.
Dezenas de pranchas ficam enfileiradas,
para as aulas de surf. Ali também funciona
a Associação de Surf da Jamaica. E, como
não existe surf shop na ilha, os surfistas
dependem da parafina que a associação
recebe do patrocinador. Quem não consegue
usa vela. Por fim, ali é também a casa da
família de Billy, o que agrega ao lugar traços
rasta, como o som constante do reggae.
Uma cena que vimos em um dia de semana
qualquer ilustra bem essa paixão musical.
Eram 11 da noite, e os instrumentos estavam
só começando a ser ligados no quintal
do Jamnesia. A banda de Inilek ia passar
algumas músicas. Horas antes, o reggae
ecoara em um estúdio de gravação
improvisado por ali. Billy e sua banda,
a Mystic Revealers, já lançaram cinco CDs,
com direito a turnê pela Europa, e os filhos
seguem o mesmo caminho do surf rastafará
de sempre e para sempre.
“A VIBE NO MAR É MUITO BOA. NO
HAVAÍ, POR EXEMPLO, TEM UM
LOCALISMO PESADO. AQUI ELES
TÊM PRAZER DE SURFAR COM
VOCÊ. E NÃO EXISTE CROWD”
14
Rasta Surfers
Enquanto a maioria de seus amigos fincava
raízes, Brito corria o mundo atrás
de ondas perfeitas e liberdade.
17
stava me achando o máximo por
ter conseguido viajar por 40 dias,
25 deles surfando as esquerdas de
Ala Moana Bowls, no costa sul da
ilha de Oahu, no Havaí. Eis que me liga
o Brito, do Panamá: “Estou na estrada há
um ano e um mês: Indonésia, Costa Rica,
Filipinas, Havaí.”. “Você é meu ídolo!”,
respondi, num misto de admiração e inveja.
Começou assim o desafio de tentar separar
o personagem desta matéria do amigo de 40
anos. Bem-vindo à saga desse cara que
desliza entre a música, o surf, as viagens,
o plantio, as amizades e a convicção
inabalável de que a liberdade é o maior
patrimônio. Antonio Mendes Brito. Nascido
em 30 de abril de 1954, em São Paulo, Brasil.
54 anos. Cavalo no horóscopo chinês.
“Os cavalos se mantêm“.
ENão é difícil adivinhar qual é o pasto preferido
dele. Brito, como é conhecido pelos amigos,
foi ulado pelo vírus do surf aos 13 anos.
Considera o dia 6 de janeiro de 1968 um
marco fundamental. Foi quando pegou onda pela
primeira vez. O fato determinou quem ele seria
e o que faria para o resto da vida. Entendeu
e aceitou o destino do mar. A partir daí foi um dos
brasileiros desbravadores do Havaí, em 1975; de
Bali, em 1978; desvendou a praia da Pipa, no Rio
Grande do Norte, em 1980; e, finalmente,
a cidade de Itacaré, no sul da Bahia, em 1988.
Essa pacífica inquietude parece não se satisfazer
enquanto houver fronteiras e sentimentos
inexplorados. Dentro da índole própria do
surfista, de procurar sempre os picos mais
remotos, estava contida a fórmula de
viabilizar financeiramente esse tipo de vida:
chegando antes aos lugares.
18
Bicho Solto
BRITO VIABILIZOU
FINANCEIRAMENTE
SEU ESTILO
DE VIDA DESCOBRINDO
PICOS REMOTOS
E COMPRANDO
PAISAGENS PARADISÍACAS
A PREÇOS MÓDICOS.
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Bicho Solto
Não é difícil adivinhar qual é o pasto preferido
dele. Brito, como é conhecido pelos amigos,
foi ulado pelo vírus do surf aos 13 anos.
Considera o dia 6 de janeiro de 1968 um
marco fundamental. Foi quando pegou onda pela
primeira vez. O fato determinou quem ele seria
e o que faria para o resto da vida. Entendeu
e aceitou o destino do mar. A partir daí foi um dos
brasileiros desbravadores do Havaí, em 1975;
de Bali, em 1978; desvendou a praia da Pipa, no
Rio Grande do Norte, em 1980; e, finalmente,
a cidade de Itacaré, no sul da Bahia, em 1988.
Essa pacífica inquietude parece não se satisfazer Itacaré, Bahia
20
Bicho Solto
“POSSO IR AONDE EU QUISER,
A HORA QUE EU QUISER, E FICAR
COM QUEM EU QUISER. ACORDAR
VIVO E COM SAÚDE É UMA
BÊNÇÃO MONSTRUOSA”
1953. As primeiras notas musicais entraram
na sua vida quando ainda respirava pelo
cordão umbilical. Família de músicos. A mãe
tocava piano para o bebê ainda na barriga.
O pai dedilhava o banjo. O casal de irmãos
gêmeos, 13 anos mais velhos, tocava piano
e violão. Inescapável. Já nascido, Brito parava
de chorar “no mesmo segundo” que ouvia
música. Surfar, claro. Em 89, participou do
Free Jazz Festival com a banda Aquilo Del
Nisso. “Considero a minha missão fazer as
pessoas se sentirem felizes e bem através da
música”, diz, olhando para o mar do Guarujá,
local desta entrevista, onde ele tem um
apartamento. Toda essa trajetória musical –
incluindo o repertório materno intra-uterino
de standards, Hendrix e Steve Wonder – iria
se materializar em 2006, no CD Taken by the
breeze, nome da canção que ele compôs para
o disco, no qual canta, toca diversas
percussões e é acompanhado de músicos de
primeira linha. Gilberto Gil e Tom Jobim
continuam sendo seus músicos prediletos
e rolaram soltos na jam que gravamos urante
a entrevista. Como nos tempos do Haleiwa
Road Group, nossa banda no Havaí, em 75. Brito
no djambé , eu no violão, Roberto Teixeira na
gaita e AD na lata de Coca-Cola com areia.
Os bons novos tempos, com o ritmo controlado
num metrônomo amadurecido. O histórico
escolar de Brito não é dos mais brilhantes,
no sentido tradicional, já que não via otivos
razoáveis para “ficar parado em sala
de aula”. Estudou no Vila Brandão, no Dante
Alighieri (de onde foi expulso por “formação
de gangue”), no São Luís e no Bandeiras.
Com 17 anos foi parar na Faculdade
de Arquitetura de Mogi das Cruzes.
Northen beachs, Austrália.
Bicho Solto