Volta a Portugal em gargalhada•Roteiro das terras com nomesmais bizarros do país. Descubrapor que foram assim batizadas
•Desde partes anatómicas, aanimais e personagens históricas,há placas para todos os gostos
Ana Carla Rosário
São nomes que não lem-bram ao diabo. Uns evo-cam-no, outros lembramtragédias, personagens eaté partes da anatomia hu-mana. O JNfaz a viagempor terras cujos nomes
provocam o riso e o pasmo.
O presidente da
Junta de Fregue-sia de Anais, Pon-
te de Lima, solta
uma gargalhada. "Claro quebrincam com o nome da nos-sa freguesia, fazem comentá-rios maldosos, mas esta é ter-ra de muito boa gente. Hábons rapazes e boas raparigas,de muitos artistas", gracejaJoaquim Gomes, que acredi-
ta que "são brincadeiras semofensa" e que os analenses"não se chateiam com isso".
Até porque, brincadeira à
parte, Anais nasceu de asnais,local de criação de asnos.
Amedo, em Carrazeda de
Ansiães, freguesia com 299
habitantes, teve origem nes-se sentimento: medo. Contaa lenda que fugitivos das lu-tas com os árabes ali se escon-
deram, armados apenas de
pedras.Mas Cabeça Boa, em Mon-
corvo, narra uma história de
arrepiar. Conta-se que os dois
morros da localidade eramhabitados por dois mouros:um bom e um mau. Certodia, o segundo, a pretexto de
desencantar um ninho de ví-boras no seu morro, convi-dou o outro a visitá-lo e cor-
tou-lhe a cabeça, vencidopela inveja. Foi de tal formaviolento o corte que-a cabeçavoou. Ora, de "cabeça voa" a
Cabeça Boa passaram-se sé-
culos e a pronúncia do Nortenão foi alheia ao nome atual.
Numa fase em que anda-mos cada vez mais como os
de Avis (Monte dos Tesos),uma passagem por Seia tal-vez dê pistas de poupança.
Hiena rhnlano»Conta a história que, encur-ralado pela neve na serra da
Estrela, D. Dinis ficou aloja-do na casa de habitantes lo-cais, que moravam nas lapas(casas) e foi ofertado dos me-lhores manjares. Quis, então,o soberano saber como con-
seguiam tais iguarias, já queviviam tão modestamente,ao que lhe explicaram queeram os "dinheiros" que
guardavam nas lapas. Bati-zou D. Dinis aquele local de
Lapa dos Dinheiros.
Mas, em terras com nomestão estranhos como Trezói,Panchorra ou Espiunca,como se chamam os seus ha-bitantes? Questão nunca pe-rorada por muitos e desco-nhecida por muitos. Outros,substituídos por alcunhas.Como em Monte Perbolço,cujos habitantes são os toqui-nhas lavadas. Os de Eucísiasão feiticeiros e os de CabeçaBoa conhecidos por chula-nos. Os de Aranhas são os ara-
nhenses, mas na terra são co-nhecidos por aranhiços. Já
em Pereiro de Palhacana, os
habitantes são chamados de
pezudos. •
EMARANHAS,OS HABITANTESSÃO OSARANHENSES,CONHECIDOSPOR ARANHIÇOS
Saiba mais sobre estase outras terras em:www.jn.pt/multimedia
Rio Cabrãonão deixou mexercom o nome da terra
ARCOS DE VALDEVEZ
JÁ LÁ VÃO DEZ ANOS desde
que a freguesia arcuense deRio Cabrão fez finca-pé e nãodeixou que se mudasse paraa antiga denominação S. Lou-
renço do Rio. Chegou mes-mo a questionar-se referen-dar o nome da terra porque,dizia-se, havia quem se sen-tisse ofendido.
Na verdade, a gota de águafoi uma rábula televisiva daatriz Marina Mota que terádito que em Rio Cabrão se
chamava "cabrões aos avós".Sentindo-se "achincalha-
do", o deputa-do popularGonçalo Pi-menta de Cas-
tro sugeriu à
AssembleiaMunicipal deArcos de Valdevez que se re-ferendasse o nome.
Mas, feitas bem as contas, e
questionada, boca a boca, a
pouca mais de centena e
meia de moradores, chegou--se à conclusão, em poucosmeses, que Rio Cabrão não é
um nome ofensivo até por-que, houve quem defendes-se na altura, "Cabrão é o rio e
não quem habita na aldeia".Seriam alguns novos habi-
tantes que, recém-chegadosde terras longínquas, se sen-tiriam "ofendidos com onome Cabrão" e o deputadodo CDS-PP entendeu que de-veria ouvir-se a opinião po-pular sobre a manutenção donome da terra.
Porém, o assunto saltou
para a Comunicação Social e,em pouco tempo, a opiniãogeral de quem lá morava pre-valeceu. Afinal, dizia-se,nem todos gostam da mesmacomida e quem não gostapode sempre deixar na beirado prato... Ninguém abando-nou Rio Cabrão e, hoje, os
seus habitantes continuamindiferentes e até orgulhososde viver numa terra comnome único em Portugal.
Em Santo Tirso, por exem-plo, nunca ninguém se sentiuofendido de viver em Ca-brões. E o mesmo se passa no
lugar de Cabrão, na freguesiade Cepões, em Ponte de Lima.
Afinal, segundo o Dicioná-rio da Língua Portuguesa da
Porto Editora, pode alguémsentir-se ofendido quandolhe dirigem cabrão com o
sentido de "indivíduo atrai-
çoado pela mulher" ou "indi-víduo traiçoeiro" ou mesmo"sacana". Mas, quando o
nome se atribui a uma terrapode, simplesmente, signifi-car lugar onde existe "cabra
grande" ou "bodes". a.cr.
POPULAÇÃODE CABRÕES. EMSANTO TIRSO £CABRÃO EM PON-TE DE LIMA NÃOSE MELINDRA
Referendo para mudar nome nunca avançou