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8/3/2019 Vladimir Safatle-O Mito Coreano
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Folha de S.Paulo - Vladimir Safatle: O mito coreano
- 28/12/2010: "Virou lugar-comum usar a Coreiado Sul como modelo de desenvolvimento educacional. Quando o assunto educao, sempre h algum
a louvar o pretenso sucesso das polticas coreanas e a se perguntar, indignado, por que o Brasil
incapaz de seguir os passos daquele pas.
No fundo, a comparao serve para mostrar o que certos setores da sociedade civil entendem por
'educao'.
Longe de terem viso inovadora, como propagam, tais setores apenas buscam fornecer nova roupagem avelhos dogmas da educao nacional.
No comeo da formao efetiva do Estado nacional brasileiro, nos anos 30, um dos eixos das discusses
educacionais girava em torno da necessidade de polticas macias de 'formao para o trabalho'.
Partia-se da ideia de que o pas deveria ter uma grande base de formao tcnica especializada para
fornecer mo de obra qualificada e prometer slida empregabilidade a classes desfavorecidas. Por outro
lado, bolses de formao 'humanista' seriam criados para uma elite que teria como funo a reproduo
de si mesma. Este sistema de duas velocidades era abertamente defendido pela intelectualidade que
ocupava a imprensa, como Monteiro Lobato e Ansio Teixeira, entre outros.
Mas tais bolses acabaram por produzir o pensamento crtico que iria, em larga medida, desconstruir a
viso que as elites tinham do pas, assim como mostrar sua incapacidade de construir um projeto nacional
inclusivo. Esta formao no servia para os propsitos iniciais. Melhor seria mandar os filhos abastados
estudarem economia financeira no exterior.
Sobrou martelar a ideia de que o Brasil deve reconstruir seu modelo privilegiando a antiga 'formao para
o trabalho', proliferando escolas tcnicas e reduzindo o espectro de suas pesquisas universitrias aos
interesses imediatos dos grupos econmicos hegemnicos. Neste contexto, aparece o mito coreano como
promessa redentora.
De fato, para alguns, seria timo imitar o modelo de um pas que, no fundo, nem sequer conhece o que
pesquisa em cincias humanas e no tem sequer uma universidade como polo real de influncia em
vrias reas do saber. Pois tais pessoas no acreditam que 'educao' seja o nome que damos para um
processo de formao do pensamento crtico, de desenvolvimento da criatividade e da fora de mudana,
de consolidao da capacidade de se indignar moralmente, de refletir sobre a vida social e de
compreender reflexivamente as mltiplas tradies que nos geraram.
Para elas, 'educao' s o nome que damos ao processo de formao de mo de obra para empregos
precrios e mal pagos. Mesmo do ponto de vista do desenvolvimento social, tal escolha catastrfica.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2812201006.htmhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2812201006.htmhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2812201006.htm