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VITIVINICULTURA Abril 201 7 AVINDIMA

Cuidados pós-colheita em vinhedos .. . FOTOS L. GARRIDO/DIVULGAÇAO

Embrapa Uva e Vinho

Pesquisadores'Samar Velho da Silveira,Henrique Pessoa dos Santose Fábio Rossi Cavalcanti.

Logo após a colheita, nos vinhedos doSul do Brasil, as plantas de videira iniciamuma etapa de transição entre o período ve-getativo/produtivo e o período de repouso,conhecido como dormência. Neste períodode transição, ao longo do outono, as plantassão estimuladas à dormência pela redução nocomprimento do dia e principalmente pelasprimeiras massas de ar polar (frente friacausa chuva) com temperaturas próximas ouabaixo de 7°C. Quando a planta recebe essesestímulos, as folhas começam a senescer atécair, perdendo-aos poucos a função de fixa-ção de carbono (fotossíntese). Entretanto,enquanto a videira não receber os primeirosfrios, as folhas sadias estão funcionais e sãocapazes deproduzir reservas, que fitamestocadas nos ramos, troncos e, principal-mente, nas raizes; e que são extremamenteimportantes para a sobrevivência da plantadurante o inverno e para seu crescimentoinicial na primavera.O processo de senescência das folhas

no outono se deve a ação de hormôniosvegetais, tais como ácido abscísico e etile-no. Estes hormônios são acumulados pelaplanta em condições de estresses físico/

e variações físicas (ex.: profundidade) ouquímicas do solo. Se parte significante doparreiral está amarelado ou avermelhado, ese observam plantas com folhas de coloraçãomais escura que aquela característica dasenescência, destoando do restante do vinhe-do, estas plantas podem estar afetadas porviroses ou situadas em solo com excesso denitrogênio, resultante da presença excessivade matéria orgânica ou adubação mineraldesequilibrada.Em qualquer caso, é importante marcar

as plantas com coloração diferenciadaa fim de monitorá-las no ciclo seguinte.Este monitoramento consiste em observarseu vigor e produtividade na safra, assimcomo realizar exames do tecido vegetal emlaboratório para detectar possíveis doençasou deficiências nutricionais. Outro sintomaque o produtor deve estar atento é a quedaprecoce de folhas. Nesse caso, a causa maisprovável é a incidência de doenças da parteaérea, como a mancha-das-folhas, causadapelo fungo Pseudocercospora vitis (anamor-fo de Mycosphaerella personata) (figura 1)e o míldio, causado pelo fungo Plasmoparaviticola (figura 2). Em termos da fase desenescência dos órgãos de parte aérea davideira; a mancha-das-folhas, causada pelofungo Pseudocercospora vitis (anamorfo deMycosphaerella personata) seria a principaldoença a ser controlada no vinhedo. A razãodeste controle reside no fato de que, se acopa não estiver protegida, o processo de

atividade que consiste em retirar os ramosque produziram no ano, eventualmente des-pontar algum galho e proceder a seleção eamarrio dos sarmentos que vão produzir napróxima safra (figura 3). Essas operaçõessão realizadas visando a possibilidade defacilitar, ao final do inverno, a poda seca, quepode ser curta, longa ou mista (ou seja, poresporão, vara ou ambas) (figura 4), depen-dendo da variedade e do vigor das plantas.Contudo, cabe destacar que o vi ti cultornão pode antecipar a pré-poda e a despontados ramos no outono antes que ocorra aqueda natural das folhas. Caso não espereo processo de senescência se concretizar,ele estará propiciando uma supressão denutrientes da planta, podendo gerar desequi-líbrios fisiológicos que impactam no vigorde crescimento, na perda de produtividadee na vida útil do parreiral.Nesse sentido, o ideal é o produtor esperar

a queda natural das folhas da videira parainiciar as práticas de pré-poda, momentoque varia de acordo com a variedade oucom o histórico da safra. Geralmente, nascondições sul-brasileiras, já é possíveliniciar essas práticas a partir da segundaquinzena de maio para a maior parte dasvariedades de videira. Nesta etapa, após aqueda natural das folhas, o produtor tambémpode efetuar a poda antecipada ao invés dapré-poda. A poda antecipada corresponde àexecução da poda definitiva das plantas nooutono. iá deixando a carza de zemas do

Figura 1 - Sintomas de doenças nasfolhas de videira: mancha das folhascausada por Pseudocercospora vitls.

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químicos, como falta ou excesso de água(alagamento), toxidez por algum compostopresente no solo (por exemplo: excesso decobre, resíduo de herbicida, etc.), mas tam-bém por estresses bióticos, como excesso deprodução por planta, presença de vírus oude fungos causadores de doenças de raiz, detronco ou foliares, como o míldio. Portanto,se as plantas no vinhedo estiverem sujeitasa condições de estresse ao longo do ciclo,certamente a vida útil das folhas diminuirádrasticamente na fase de pós-colheita eserão prejudicadas em acúmulo de reser-vas, vigor e em potencial produtivo nosciclos seguintes. Diante destas colocações,é imprescindível o cuidado sanitário dasplantas durante todo período vegetativo efinal de ciclo, principalmente em anos comalta pluviosidade, como ocorreu nos últimosmeses desta safra 2016/2017.A mudança da cor nas folhas (de verde

para amarelada) pode ser explicada prin-cipalmente em virtude da degradação dosc1oroplastos das folhas. Essa tonalidadeamarelada é típica para variedades queproduzem uvas brancas, enquanto nas varie-dades de uvas tintas, pelo fato de possuíremuma elevada concentração de antocianinasnos tecidos, as folhas senescentes apresen-tam colorações que variam do vermelho aoroxo ou violáceo, dependendo do pH domeio. É importante destacar que o processode senescência geralmente se distribui demodo uniforme entre as plantas do vinhedo,porém, quando ocorre variação ou anteci-pação na senescência ou queda foliar emmanchas ou reboleiras, é importante que oviticultor verifique as causas.Certamente estes sintomas estão asso-

ciados a algum fator de estresse, como aincidência de doenças fúngicas (figuras 1 e2), pragas, viroses, deficiências nutricionais,problemas na região de enxertia da planta

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senescência pode ser bastante acelerado, e,por essa aceleração, a planta pode deixar demanter folhas ativas em termos de fotossín-tese e mobilização de reservas de carboidra-to para as raízes. Assim, manter o vinhedosem proteção para mancha-das-folhas, noperíodo de pós-colheita, em sucessivassafras, pode acarretar no enfraquecimentodas plantas e aumento de susceptibilidadedas mesmas para outras doenças. Em termosgerais, o controle da mancha-das-folhaspode ser feito pela aplicação de fungicidasusados para o controle do míldio, exceto oscúprícos.Além da coloração foliar, nesta etapa

de transição entre colheita e dormência, oviticultor deve estar atento aos sintomasde murchamento nas folhas (também noscachos antes da colheita) e brotações. Estessão, geralmente, sintomas de infecção porfungos de raízes, como Fusarium oxyspo-rum, Phaeoacremonium sp. e Cylindrocar-pon destructans.sendo este último o fungocausador da doença 'pé-preto' da videira.Estes fungos atacam os vasos do xilemada planta, por onde são transportados osnutrientes e a água do solo para a parte aéreae interrompem esse fluxo, que leva ao defi-nhamento da parte aérea, antecipação da se-nescência e até à morte precoce das plantas.Estar atento a estes sintomas (cujas doençassão confirmadas por exames laboratoriais)contribui para evitar a disseminação dopatógeno para as plantas sadias adjacentes epara o solo, ao retirar as plantas doentes dovinhedo. É importante salientar que, no casodestas doenças, não se recomenda o plantioimediato de nova muda no local, que podeestar contaminado com o patógeno e deveser tratado antes de um novo plantio.Para evitar o acúmulo de trabalho no mo-

mento da poda de inverno, os viticultorescostumam' efetuar a pré-poda no outono,

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ciclo seguinte. Esta prática tem sido testadaem vinhedos das regiões da Serra Gaúcha eCampanha e tem se apresentado como umaalternativa para distribuir melhor a mão deobra na execução da poda.As plantas com poda antecipada apresen-

tam um comportamento de brotação muitosimilar às plantas podadas na época conven-cional (final de julho/agosto), inclusive comcerto atraso na data de brotação. Contudo,cabe destacar que essa prática ainda não estávalidada para todas as variedades e locaisde cultivo. Recomenda-se que o viticultorefetue testes em algumas plantas no vinhe-do, observando os impactos na produção,antes de executá-Ia em toda área. Outrofator importante são os ferimentos de podanesta época de outono, que permanecemmais tempo abertos: o produtor deve termaior cuidado sanitário com esses cortes dapoda, sendo para isto, necessária a aplicaçãode produtos específicos, como Score nadosagem de 1 g/L, para evitar a entrada defungos de madeira. Não menos importante, éa prática de desinfecção das tesouras de podaentre plantas, principalmente. entre aquelasmarcadas que apresentaram variações decor e murchamento de folhas no períodode senescência, conforme destacado an-teriormente.Alguns produtos de ação desinfetante

para as tesouras de poda, com suas respec-tivas concentrações de uso: produto comer-cial à base de dióxido de cloro estabilizadoa 5%, diluído em água na proporção de 1ml do produto para 1litro de água; Álcool70%; Hipoclorito de sódio (água sanitária),diluído em água na proporção de 1:1 (v:v).O acompanhamento da senescência,

além de interessante no aspecto paisagís-tico, é uma etapa importantíssima paraa garantia da sanidade e longevidade dovinhedo.

Figura 2 - Sintomas de doenças riasfolhas de videira: míldio, causada por

Plasmopara viticola.

Figura 3 - Amarrio dos ramos com alceador.SV SILVEIRNDIVULGAÇÃO

Figura 4 - Poda mista: ramo longo,'também denominado de vara, à

esquerda e à direita; ramo curto aocentro, também denominado de esporão.


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