Download - Vidas secas
Autorretrato aos 56 anosNasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.Casado duas vezes, tem sete filhos.Altura 1,75.Sapato n.º 41.Colarinho n.º 39.Prefere não andar.Não gosta de vizinhos.Detesta rádio, telefone e campainhas.Tem horror às pessoas que falam alto.Usa óculos. Meio calvo.Não tem preferência por nenhuma comida.Não gosta de frutas nem de doces.Indiferente à música.Sua leitura predileta: a Bíblia.Escreveu "Caetés" com 34 anos de idade.Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.Gosta de beber aguardente.É ateu. Indiferente à Academia.Odeia a burguesia. Adora crianças.
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam:Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.Gosta de palavrões escritos e falados.Deseja a morte do capitalismo.Escreveu seus livros pela manhã.Fuma cigarros "Selma" (três maços por dia).É inspetor de ensino, trabalha no "Correio da Manhã".Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.Só tem cinco ternos de roupa, estragados.Refaz seus romances várias vezes.Esteve preso duas vezes.É-Ihe indiferente estar preso ou solto.Escreve à mão.Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.Tem poucas dívidas.Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.Espera morrer com 57 anos.
Personagens principais: os membros da família
Fabiano – é um vaqueiro, pai de uma família de retirantes nordestinos. Homem bruto, de barba ruiva, mãos peludas, queimado de sol. É um personagem que tem dificuldade de se relacionar com as palavras, por isso fala pouco, e admira homens que sabem “falar bem”, como seu Tomás da Bolandeira. Vive em um mundo de idealização e pensamentos; Idealiza e planeja muito mais do que age. É recorrentemente enganado pelos patrões por não saber fazer contas, além de ser submisso aos homens poderosos ou que representem o poder.
Sinhá Vitória – esposa de Fabiano e mãe da família. Mulher inteligente e esperta, que sabe fazer contas e se relaciona muito melhor com a linguagem do que seu marido. Seu maior sonho é ter uma cama de couro cru, como a de seu Tomás da Bolandeira. Ela consegue ter mais consciência sobre a realidade em que vive e sobre as situações em que a família se encontra.
Personagens principais: os membros da família
Menino Mais Novo – tinha grande admiração pelo pai e sonhava ser como Fabiano quando crescesse.
Menino Mais Velho – era bastante curioso, esperto, apesar de, assim como os demais membros da família, ter um vocabulário minguado. Tinha uma grande amizade com a cachorra Baleia.
Baleia – era a cachorra da família. Apesar de ser um animal, Baleia é apresentada pelo narrador como um ser completamente humanizado, dotada de sentimentos e pensamentos. Ela era muito mais do que um animal, era mesmo um membro daquela família. Amava e cuidava da família e era amada por eles. Vale ressaltar que os meninos não têm um nome designado, mas a cachorra tem. Em função disso, acredita-se que ela seja tão ou até mais querida do que as crianças. Há também uma grande ironia no nome deste animal: ela é uma “Baleia” que vive no sertão, magra, sofrendo com a seca.
A LINGUAGEMDeve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
(Trecho de entrevista concedida por Graciliano Ramos a um jornal, em Palmeira dos Índios, publicada no ano de 1948.)
NARRADORTerceira pessoa;
Onisciente;
Utiliza, principalmente, o discurso indireto e o discurso indireto livre para narrar.
Transição de discursos
“A água tinha subido, alcançado a ladeira, estava com vontade de chegar aos juazeiros do fim do pátio. Sinhá Vitória andava amedrontada. Seria possível que a água topasse os juazeiros? Se isto acontecesse, a casa seria invadida, os moradores teriam de subir o morro, viver uns dias no morro, como preás”.
Vidas Secas, 65.
Transição de discursosBaleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
Vidas secas, 91.
Transição de discursos
Na mudança do discurso indireto para o indireto livre há a alteração no tempo verbal;
O narrador, que antes falava utilizando os verbos no pretérito imperfeito (encostava, estava), passa a utilizar os verbos no futuro do pretérito (acordaria, lamberia)