Programa de Pós Graduação em Ciências de Florestas Tropicais Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
USO E MANEJO DE PAUFABACEAE) NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ, RR
ROBERT MILLER, co
Programa de Pós Graduação em Ciências de Florestas Tropicais Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Projeto Wazaka’ye
USO E MANEJO DE PAU-RAINHA (CENTROLOBIUM PARAENSE
FABACEAE) NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ, RR
RESUMO DOS RESUTADOS Dissertação de mestrado
JESSICA LIVIO PEDREIRA SONIA ALFAIA, orientadora
ROBERT MILLER, co-orientador
Roraima, agosto de 2011
Programa de Pós Graduação em Ciências de Florestas Tropicais - CFT INPA
CENTROLOBIUM PARAENSE TUL. – FABACEAE) NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ, RR
FINANCIAMENTO
Este documento foi realizado com recursos do Projeto “FLORELOS - Elos
Ecossociais entre as Florestas Brasileiras: Modos de vida sustentáveis em paisagens
produtivas”, desenvolvido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e
possui o apoio financeiro da União Européia. Este documento é de responsabilidade
do autor não podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posição de seus
doadores.
Jessica Livio Pedreira
“Bolsista do Programa Universidades e Comunidades no Cerrado – UNICOM”
FLORELOS/ISPN – Brasília/DF
AUTORIZAÇÕES
Termo de Anuência Prévia
Entregue as lideranças indígenas
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN/MMA):
Deliberação n.265 de 8 de dezembro de 2010 DOU; Autorização n. 58/2010. Disponível em: <www.in.gov.br/autenticidade.html> pelo código 00012011012600057
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS):
Parecer 320/2011 referente ao protocolo de pesquisa registro CONEP 16.135
Fundação Nacional do Índio (FUNAI):
Autorização n. 63/2011 processo n. 1434/2010
Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO/ICMBIO):
Autorização n. 21314-3
OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi levantar informações sobre o Pau-rainha (Centrolobium paraense) no que diz respeito ao conhecimento popular indígena, o crescimento das rebrotas e a germinação. Os objetivos específicos foram:
(1) Registrar as informações sobre uso e manejo dessa espécie e gerar recomendações para aumentar a disponibilidade dos produtos explorados.
(2) Caracterizar o ritmo de desenvolvimento em altura, circunferência e número de rebrotas por toco após o corte raso ao longo do tempo, acompanhar a reocupação da área usando como indicador a área basal das rebrotas e analisar o sistema de cultivo em que a espécie se insere.
(3) Descrever características dos frutos e o sucesso da germinação da espécie em condições de viveiro.
O Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae)
O gênero Centrolobium Mart. ex Benth. integra a família botânica Fabaceae e compreende seis espécies de árvores tropicais com dispersão limitada as Américas Central e do Sul. É caracterizado principalmente pela presença de glândulas peltadas alaranjadas que cobrem as folhas e inflorescências e vagens aladas com o núcleo seminífero recoberto por espinhos. O termo Centrolobium deriva do grego, Kreton: esporão e Lobium: vagens; lóbulo revestido de espinhos semelhantes a esporas; o termo espora relaciona-se ao espinho presente na base da ala da sâmara (Figura 1).
Figura 1 – Sâmara: fruto alado de Pau-rainha (C. paraense) recoberto de espinhos.
Entre os indígenas da Amazônia, o Pau-rainha (Figura 2), é conhecido por Myrá
kuatiar (Haverroth, 2005). Expressão que significa pau manchado – provavelmente referindo-se à resina avermelhada produzida quando a casca é cortada (Kaminski, 2004). No idioma Macuxi é denominado Katan’ye, de acordo com o professor deste idioma da comunidade Guariba da T.I. Araçá (Professor César Wapixana, comunicação oral, 2009).
Apresenta os seguintes nomes populares: Pau-rainha (Brasil); Tejeyeque, Tarara Amarilla (Bolívia); Arariba, Guayacan Hobo (Colômbia); Amarillo, Amarillo de Guayaquil (Equador e Panamá); Balaústre (Venezuela); Redwood ou Kartang (Guiana); e Canary wood, Porucupine wood ou Zebra wood (EUA) (Kaminski, 2004).
A B
Figura 2 – A) árvore de Pau-rainha aos 4 anos de idade na capoeira e B) madeira de Pau-rainha para uso em construção na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR.
Miller, R. P. Pedreira, J.L.
O Pau-rainha ocorre naturalmente desde o Panamá, Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura somente nos Estados do Pará e Roraima. Em Roraima, ocorre em regiões de baixas elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de mata da savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski, 2004).
Figura 3 – Distribuição geográfica de
As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de 30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de brancoamarela (Kaminski, 2004). É possível perceber em campo que a coloração da madeira pode chegar ao vermelho. Alguns indígenas relatam que a cor da madeira varia do amarelo ao vermelho de acordo com a variedade de Pauque existe mais de um tipo de Pmole (menos denso) e o de madeira vermelha o mais duro (mais denso) e resistente (à ataque de insetos e patógenos).
Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as plantas exibem uma arquitetura característica, com troncos retos e cilíndricos com copa pequena e arredondada. Em áreas de floresta desmatada, em processo de regeneração, o Pau-rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se estabelecer, sugerindo ser uma espécie piopara a re-colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida (Kaminski, 2004).
re naturalmente desde o Panamá, Equador, Venezuela, Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura
s Estados do Pará e Roraima. Em Roraima, ocorre em regiões de baixas elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de
a savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski,
tribuição geográfica de Centrolobium paraense. (Imagem: Google Earth, 2010).
As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de 30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de branco
i, 2004). É possível perceber em campo que a coloração da madeira pode chegar ao vermelho. Alguns indígenas relatam que a cor da madeira varia do amarelo ao vermelho de acordo com a variedade de Pau-rainha. Assim, consideram que existe mais de um tipo de Pau-rainha, sendo o de madeira clara/amarela mais mole (menos denso) e o de madeira vermelha o mais duro (mais denso) e resistente (à ataque de insetos e patógenos).
Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as arquitetura característica, com troncos retos e cilíndricos com
copa pequena e arredondada. Em áreas de floresta desmatada, em processo de rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se
estabelecer, sugerindo ser uma espécie pioneira ou secundária inicial, fundamental colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida
Equador, Venezuela, Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura 3), onde ocorre
s Estados do Pará e Roraima. Em Roraima, ocorre em regiões de baixas elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de
a savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski,
. (Imagem: Google Earth, 2010).
As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de 30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de branco-creme a
i, 2004). É possível perceber em campo que a coloração da madeira pode chegar ao vermelho. Alguns indígenas relatam que a cor da madeira varia do
rainha. Assim, consideram rainha, sendo o de madeira clara/amarela mais
mole (menos denso) e o de madeira vermelha o mais duro (mais denso) e resistente (à
Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as arquitetura característica, com troncos retos e cilíndricos com
copa pequena e arredondada. Em áreas de floresta desmatada, em processo de rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se
neira ou secundária inicial, fundamental colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida
É uma espécie heliófita, que necessita de exposição à luz solar para realizar os eventos do ciclo reprodutivo, sendo as plântulas e os indivíduos jovens encontrados somente na borda da mata ou em áreas desmatadas (Kaminski, 2004). O florescimento (Figura 4) ocorre durante o período das chuvas; o amadurecimento dos frutos se dá no período da seca (Kaminski, 2004).
Figura 4 – Inflorescência de Pau-rainha (C. paraense) em área de capoeira na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Julho/2008.
A polinização das espécies do gênero Centrolobium é feita por insetos (entomofilia), realizada por abelhas, e a dispersão dos frutos é pelo vento (anemocoria). A madeira de Pau-rainha não é resistente ao fogo; entretanto, a casca lenhosa que recobre as sementes pode funcionar como uma forma de resistência ao fogo e ser responsável pelo surgimento de plântulas de Pau-rainha em grande número após a queima de uma área (Kaminski, 2004).
O Pau-rainha é um recurso madeireiro de uso tradicional das populações indígenas da região (PPTAL, 2007). Na T.I. Araçá, as ilhas de floresta representam 20% da superfície e ocorrem em um relevo relativamente plano e de fácil acesso por estradas na T.I. Em contraste, em muitas T.I.s da região do Lavrado, o Pau-rainha ocorre em serras pedregosas e de difícil acesso (Pinho, 2008a). Assim, além do uso local, o Pau-rainha da T.I. Araçá é solicitado por outras comunidades menos favorecidas com recursos florestais, aumentando ainda mais a pressão sobre esta espécie (Pinho, 2008a).
Os usos mais comuns são: combustível, devido ao alto poder calorífico de sua madeira; construção de casas; como planta medicinal; fabricação de móveis e artesanato (como pontas de flechas utilizadas na Parixara); cavacos (utilizados como cobertura para casa), estacas, cabos para ferramentas e extração de corante avermelhado ideal para tingir e produzir tintas (Kaminski, 2004).
É uma espécie ameaçada pela exploração madeireira na Amazônia e, por isso, é necessária a adoção de medidas que protejam e promovam a espécie como a incorporação em sistemas agroflorestais (tal o cultivo de rebrotas nas roças já realizado pelos indígenas), a utilização da espécie em programas de recuperação de áreas degradadas e reposição em áreas de ocorrência natural. Estas ações são importantes para a preservação e conservação da diversidade da espécie.
CAPÍTULO 1
O conhecimento popular sobre PauFabaceae) e as implicações para o seu manejo nas “ilhas de matas” na Terra Indígena Araçá, Roraima
As informações para este estudo foram obtidas pela vivência nas comunidades, entrevistas aos moradores e pesquisa em material b
Entrevistei 26 pessoas em três comunidades: Mutamba, 11 pessoas; Guariba, 8 pessoas e Araçá, 7 pessoas.Dessas pessoas, a maioria sabe fazer roças e deixa o pau-rainha rebrotar nos roçados, ou porque percebe que tem pouco nas matas ou porque já é um costume.
Tabela 1 - Pessoas que tem o conhecimento prático sobre roças e que deixam rebrotas nos
roçados da Terra Indígena Araçá, Roraima.
Sim Não TOTAL
Os usos mais citados de cercados e uso de lenha.para o pau-rainha que não estava relacionado a madeira, que foi o uso medicinal. meio da pesquisa, descobri outros
• consumo das vagens verdes, cruas ou assadas; realizado por indígenas do sul do
Equador (Van den Eynden
• uso como corante de cor vermelha;
• uso como cavacos (Kaminski, 2004)
• uso como purificador d
O conhecimento popular sobre Pau-rainha (Centrolobium paraense
Fabaceae) e as implicações para o seu manejo nas “ilhas de matas” na Terra
As informações para este estudo foram obtidas pela vivência nas comunidades, entrevistas aos moradores e pesquisa em material bibliográfico.
pessoas em três Mutamba, 11 pessoas;
Guariba, 8 pessoas e Araçá, 7 pessoas. Dessas pessoas, a maioria sabe fazer roças
rainha rebrotar nos roçados, ou porque percebe que tem pouco nas
ue já é um costume.
Pessoas que tem o conhecimento prático sobre roças e que deixam rebrotas nos
roçados da Terra Indígena Araçá, Roraima.
Sabe fazer roça Cultiva rebrotas 22 18 4 8
TOTAL 26 26
citados para o Pau-rainha foram a construção de casas, construção de cercados e uso de lenha. Foi interessante que apenas uma pessoa citou um uso
rainha que não estava relacionado a madeira, que foi o uso medicinal. meio da pesquisa, descobri outros usos que não foram citados nas entrevistas:
consumo das vagens verdes, cruas ou assadas; realizado por indígenas do sul do
Equador (Van den Eynden et al., 2003);
uso como corante de cor vermelha;
uso como cavacos (Kaminski, 2004);
uso como purificador da água ; realizado por indígenas na Colômbia (Sánchez, 2004).
Centrolobium paraense Tul. - Fabaceae) e as implicações para o seu manejo nas “ilhas de matas” na Terra
As informações para este estudo foram obtidas pela vivência nas comunidades,
Pessoas que tem o conhecimento prático sobre roças e que deixam rebrotas nos
foram a construção de casas, construção Foi interessante que apenas uma pessoa citou um uso
rainha que não estava relacionado a madeira, que foi o uso medicinal. Por usos que não foram citados nas entrevistas:
consumo das vagens verdes, cruas ou assadas; realizado por indígenas do sul do
a água ; realizado por indígenas na Colômbia (Sánchez, 2004).
A lista com os 34 usos citados durante as entrevistas segue na Tabela 2.
Tabela 2 - Itens produzidos a partir do Pau-rainha (Centrolobium paraense) na Terra Indígena Araçá, Roraima.
ITEM
Artefato de arte
Brincos
Cerca
Curral
Estaca de cerca
Haste de cerca
Canteiro
Lenha
Casa
Caibro
Estaca de casa
Telhado
Travessa
Esteio
Linha
Jiral
Móvel
Mesa
Banco
Poste
Prancha
Madeira roliça
Madeira fina
Cabo de machado
Tábua
Talheres
Palheta
Remo para farinha
Caixa
Prensa de mandioca
Remo para canoa
Tabuleta de linha de pescado
O tempo médio que uma casa construída com a estrutura de Pau-rainha dura é mais ou menos 20 anos. A maioria das pessoas acredita que a madeira de pau-rainha pode ser tirada do mato em qualquer época, de acordo com a sua necessidade. Mas existem pessoas que acreditam que dependendo da época, a madeira do pau-rainha pode ser melhor ou pior. Muita gente também não faz tratamentos na madeira para
ela durar mais, uma vez que o pau-rainha é considerado uma madeira que dura muito naturalmente. Quem trata a madeira apenas descasca e seca após o corte
Muitas pessoas deixam o pau-rainha se criar sozinho no mato, mas algumas pessoas tomam alguns cuidados, praticando algumas atividades que tem como finalidade melhorar os cultivos, sejam as plantas da roça ou o pau-rainha.Veja a Tabela 3.
Tabela 3. Práticas silviculturais e suas finalidades relatadas pelos indígenas que manejam Pau-rainha nas roças e capoeiras na Terra Indígena Araçá, RR.
ENTREVISTADO
FINALIDADE PRÁTICAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total
Fogo Aceirar 2
Desenvolver Amarrar rebrotas caídas
1
Fogo, desenvolver
Capinar
4
Proteger do gado Cercar 1
Desenvolver Cortar cipós 3
Desenvolver Desbastar 1
Adubar Juntar folhas 1
Fiscalização, fogo
Observar
2
Desenvolver Selecionar rebrotas 6
Total 2 2 2 2 1 3 2 1 1 2 2 1
As atividades de coletar sementes e retirar madeira às vezes acontecem nas mesmas ilhas de mata. Isso significa que essas ilhas tem uma pressão de uso muito grande e que o pau-rainha ali pode acabar com rapidez se não forem tomadas algumas atitudes. No mapa a seguir, nas ilhas de mata circuladas ocorre a coleta de sementes e onde tem duas barras ocorre a extração de madeira. Os números próximos as ilhas de mata se referem ao número de pessoas que coleta sementes e ao número de pessoas que retiram madeira dessas ilhas.
Etnomapa – Representação das ilhas extração de madeira (riscada) e o número de coletores de sementes e extrativistas da madeira.
O gráfico a seguir, mostra o que as pessoas pensam sobre a quantidade de paurainha que existe em suas comunidades.
A Tabela 4 mostra as variedades de pauidentificar nas matas.
Representação das ilhas de mata onde ocorre a coleta de sementes (circulada) e a extração de madeira (riscada) e o número de coletores de sementes e extrativistas da
O gráfico a seguir, mostra o que as pessoas pensam sobre a quantidade de paucomunidades.
A Tabela 4 mostra as variedades de pau-rainha que as pessoas conseguem
de mata onde ocorre a coleta de sementes (circulada) e a extração de madeira (riscada) e o número de coletores de sementes e extrativistas da
O gráfico a seguir, mostra o que as pessoas pensam sobre a quantidade de pau-
rainha que as pessoas conseguem
VARIEDADE
CARACTERÍSTICAS
Madeira Casca Flor Folha
Rachador Racha bem (fibras na mesma direção)
Casca inteira (lisa)
Esbranquiçada -
Entremeado Quebra ao rachar (fibras em várias direções)
Casca com canal (estriada)
Amarelada e com cacho menor
-
Amarela Leve - - -
Amarelo a vermelho
Mediana - - -
Vermelha Dura - - -
Matizada Dura - -
Quase cinza
Conclusões
Embora a maioria das pessoas entrevistadas trabalhe em serviços que não estão diretamente ligados ao manejo das matas, ou agricultura, a proximidade delas com estes serviços nos permitiu chegar a algumas conclusões básicas sobre o uso e manejo do Pau-rainha na TI Araçá:
• Embora tenham sido apontadas diversas formas de utilizar a espécie, o principal uso da madeira de Pau-rainha é nas construções de casas e o uso da lenha.
• O manejo das rebrotas nas roças é praticado pela maioria dos entrevistados, constituindo uma prática em desenvolvimento; pois, mesmo que haja um costume passado entre as gerações, o principal motivo para fazê-la é a atual falta de recurso.
• O manejo realizado de rebrotas é intencional e relacionado às idas a roça para trato das demais plantas agrícolas.
• Entre as práticas silviculturais citadas pelos entrevistados estão: aceirar, amarrar rebrotas caídas, capinar, cercar a área, cortar cipós, desbastar ou selecionar rebrotas, juntar folhas e observar a área e as plantas. A seleção de rebrota é a atividade mais frequente.
• A maioria das pessoas realiza o corte da árvore ou rebrota conforme estes atingem o tamanho da peça de madeira que necessitam.
• As ilhas de mata da comunidade Guariba são locais importantes para a conservação do Pau-rainha na Terra Indígena Araçá, pois é nessa comunidade que se concentram o maior número de coletores; a maior quantidade de recursos, madeira e sementes e é uma comunidade procurada por pessoas de fora (da comunidade e da Terra Indígena).
• Pode haver pressão seletiva sobre a diversidade da espécie, pois é possível identificar variedades de Pau-rainha na mata mais fáceis de abater a partir de características do seu tronco e das suas flores.
CAPÍTULO 2
Talhadia de Centrolobium paraense Tul. (Fabacea: Faboideae) em sistema agroflorestal indígena, Terra Indígena Araçá, Roraima: avaliação de crescimento de rebrotas
As informações para este estudo foram obtidas pela convivência nas comunidades, pela atividade de acompanhamento do crescimento das rebrotas em duas áreas de roçados (abertos em anos diferentes) na Ilha do Porco, Comunidade Mutamba durante julho de 2008 a novembro de 2010. E outras pesquisas.
A seguir tem uma tabela (Tabela 1) que resume informações sobre o cultivo e o manejo de rebrotas para ter madeira a partir de outras plantas (diferentes de pau-rainha) e em outras regiões.
Tabela 1 - Informações resumidas sobre a diversidade de sistemas silviculturais baseados no manejo de rebrotas (talhadia).
PAÍS/REGIÃO SISTEMA/ESPÉCIES PRODUTOS OBSERVAÇÕES
Brasil/Roraima Sistema indígena com enfoque no Centrolobium
paraense (Pau-rainha)
Estacas, caibros, esteios, lenha
Produção consorciada com plantas agrícolas. Manejo da regeneração natural e enriquecimento de capoeira
Brasil/Caatinga Várias espécies Lenha para cerâmicas e indústria de gesso; forragem (rebrota) para animais
Plantios e manejo da regeneração de espécies nativas.
Brasil/Ceará Mimosa caesalpinifolia (Sabiá)
Estacas (moirões)
Nordeste do Ceará produz 2,4 milhões de estacas/ano
Brasil/várias regiões
Silvicultura industrial com Eucalyptus spp.
Madeira para celulose e carvão vegetal (para siderúrgicas)
Plantios homogêneos, regeneração por replantio com mudas ou reforma por talhadia.
Japão/Kitayama Silvicultura tradicional com
Cryptomeria japonica (Sugi)
Esteios e caibros
Plantios; regeneração por semente ou estacas;
capina, incluindo cipós, continuamente para facilitar a poda. Quase não se faz desbastes.
Europa medieval Talhadia com estandartes Quercus spp. (Carvalhos) e outras espécies folhosas
Madeira roliça para construções, cercas
Área natural manejada; Madeira colhida no tamanho apropriado; mosaico de habitats
Brasil/Sudeste Talhadia de caixeta (Tabebuia cassinoides)
Madeira leve para lápis, tamancos, etc.
Ocorre em formações monodominantes.
A Figura a seguir apresenta em destaque uma reflexão sobre como funciona o ciclo das roças quando existem as rebrotas na roça e em azul o ciclo das roças de corte-e-queima (coivara).
Essa iniciativa de manejar as rebrotas depode ser entendido como uma ação de gestão ambiental local, em desenvolvimento e com possibilidade de replicação em outr
Na T.I. Araçá, em alguns casos, as rebrotas do Pauas roças são abertas para serem de madeira de rebrotas se inicia no momento da roça e faz parte e continua ao longo do tempo, quando a área vira capoeira nova e depois uma mata mais antiga (capoeirão). As rebrotas seriam um produto da roça, plantas agrícolas. O desenvolvimento da regeneração outras plantas, como o milho, mamão, mandioca; rebrotas ficam na área.
A partir disso, essas plantam fazem parte da criar níveis de alturas de plantas na área (estratificar) produção de frutos (regeneração, atração de fauna) e folhagens (cobertura do solo e adubação verde), até que se realize a colheita. A extração pode ser realizada em diferentes momentos do desenvolvimento da rebrota, ocorrendo geralmente em função do tamanho adequado ao uso que será dado a madeira.
Os tratos silviculturais são poucos (cipós e capina) e ocorrem tratos dados as plantas agrícolas.
A Figura a seguir apresenta em destaque uma reflexão sobre como funciona o ciclo das roças quando existem as rebrotas na roça e em azul o ciclo das roças de
Essa iniciativa de manejar as rebrotas de Pau-rainha na Terra Indígenpode ser entendido como uma ação de gestão ambiental local, em desenvolvimento e com possibilidade de replicação em outras Terras Indígenas do Lavrado.
Na T.I. Araçá, em alguns casos, as rebrotas do Pau-rainha são poupadas quando abertas para serem aproveitadas no futuro. Nesta situação, a
se inicia no momento da roça e faz parte da produção e continua ao longo do tempo, quando a área vira capoeira nova e depois uma mata
As rebrotas seriam um produto da roça, agrícolas. O desenvolvimento da regeneração (brotos) ocorre
outras plantas, como o milho, mamão, mandioca; até que a roça é abandonada e as
so, essas plantam fazem parte da capoeira em formação,criar níveis de alturas de plantas na área (estratificar) e enriqueceprodução de frutos (regeneração, atração de fauna) e folhagens (cobertura do solo e
e se realize a colheita. A extração pode ser realizada em diferentes momentos do desenvolvimento da rebrota, ocorrendo geralmente em função do tamanho adequado ao uso que será dado a madeira.
Os tratos silviculturais são poucos (cipós e capina) e ocorrem tratos dados as plantas agrícolas.
A Figura a seguir apresenta em destaque uma reflexão sobre como funciona o ciclo das roças quando existem as rebrotas na roça e em azul o ciclo das roças de
rainha na Terra Indígena Araçá pode ser entendido como uma ação de gestão ambiental local, em desenvolvimento e
as Terras Indígenas do Lavrado.
rainha são poupadas quando Nesta situação, a produção
produção da roça, e continua ao longo do tempo, quando a área vira capoeira nova e depois uma mata
As rebrotas seriam um produto da roça, assim como as ocorre junto ao das
até que a roça é abandonada e as
capoeira em formação, ajudando a e enriquecer a área pela
produção de frutos (regeneração, atração de fauna) e folhagens (cobertura do solo e e se realize a colheita. A extração pode ser realizada em
diferentes momentos do desenvolvimento da rebrota, ocorrendo geralmente em
Os tratos silviculturais são poucos (cipós e capina) e ocorrem em função dos
Crescimento das rebrotas
É esperado que a maioria do paumês as rebrotas nascem, em média 4 por toco, mas até 12 podem aparecer no mesmo toco. Na área aberta há dois anos, o número de rebrotas em um toco não interfere no tamanho dessas rebrotas. Mas depois de 2 anos, se existirem mtoco, o crescimento dessas rebrotas vai ser menor.
As plantas cresceram de maneiras diferentes nas duas áreas estudadas. Na área mais nova, o número de plantas na área aumentou em duas vezes e cresceram mais que o suficiente para repor a quantidade de madeira que foi cortada quando a roça foi aberta. Após os dois anos de manejo de rebotas, foi observado um aumento de 10% no estoque de madeira dessa área. As árvores como as da capoeira (de 4 anos)do estoque de madeira da capoeira.
Na área mais antiga, madeira que foi cortada. Foi produzido apenas metade do estoque de madeira que tinha antes da abertura do roçado. aumentou em quatro vezes. A madeira que tem nessa área é de rebrotas muito finas que ainda não servem para c
Crescimento das rebrotas
É esperado que a maioria do pau-rainha rebrote após ser cortado. Já no primeiro mês as rebrotas nascem, em média 4 por toco, mas até 12 podem aparecer no mesmo
a há dois anos, o número de rebrotas em um toco não interfere no tamanho dessas rebrotas. Mas depois de 2 anos, se existirem muitas rebrotas em um
, o crescimento dessas rebrotas vai ser menor.
As plantas cresceram de maneiras diferentes nas duas áreas estudadas. Na área o número de plantas na área aumentou em duas vezes e
cresceram mais que o suficiente para repor a quantidade de madeira que foi cortada quando a roça foi aberta. Após os dois anos de manejo de rebotas, foi observado um aumento de 10% no estoque de madeira dessa área. As árvores ainda não são gros
da capoeira (de 4 anos) e o estoque de madeira das rebrotas é quase metade do estoque de madeira da capoeira. Isso é apresentado na figura a seguir.
Na área mais antiga, o crescimento das rebrotas não foi suficiente para repor a Foi produzido apenas metade do estoque de madeira que
tinha antes da abertura do roçado. E foi observado que o número de plantas na área aumentou em quatro vezes. A madeira que tem nessa área é de rebrotas muito finas que ainda não servem para caibros, por exemplo.
nha rebrote após ser cortado. Já no primeiro mês as rebrotas nascem, em média 4 por toco, mas até 12 podem aparecer no mesmo
a há dois anos, o número de rebrotas em um toco não interfere no uitas rebrotas em um
As plantas cresceram de maneiras diferentes nas duas áreas estudadas. Na área o número de plantas na área aumentou em duas vezes e as rebrotas
cresceram mais que o suficiente para repor a quantidade de madeira que foi cortada quando a roça foi aberta. Após os dois anos de manejo de rebotas, foi observado um
ainda não são grossas e o estoque de madeira das rebrotas é quase metade
Isso é apresentado na figura a seguir.
o crescimento das rebrotas não foi suficiente para repor a Foi produzido apenas metade do estoque de madeira que
E foi observado que o número de plantas na área aumentou em quatro vezes. A madeira que tem nessa área é de rebrotas muito finas
Remedições periódicas
Os dados do crescimento das rebrotas das duas áreas ao longo dos períodos do estudo estão nas duas tabelas a seguir.
Área mais jovem.
ÁREA 1 Circunferência (cm) Altura (m) Número de rebrotas/toco (n)
JUL
2008
OUT
2009
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
JUL
2008
OUT
2009
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
JUL
2008
OUT
2009
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
Mínimo 1,5 3,0 4,3 4,2 4,3 0,08 0,10 0,08 1,70 1,20 1 0 0 0 0
Máximo 9,5 28,0 27,5 26,3 29,0 2,57 9,00 9,00 11,00 10,70 6 8 6 8 7
Média 4,6 15,8 16,8 16,2 17,8 1,25 5,08 5,90 6,07 6,25 2,1 2,5 2,2 2,5 2,3
Número total de rebrotas na área por período
66 93 64 86 68
Área mais antiga.
ÁREA 2 Circunferência (cm) Altura (m) Número de rebrotas (n)
JUL
2008
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
JUL
2008
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
JUL
2008
FEV
2010
JUN
2010
OUT
2010
Mínimo 2,0 3,0 3,4 3,0 0,50 0,60 1,30 1,20 1 1 1 0
Máximo 20,0 40,0 25,4 27,4 5,70 7,50 10,80 9,00 6 10 11 11
Média 9,0 13,1 13,1 13,2 2,64 4,21 5,25 5,05 2.9 3.9 4.3 4.6
Número total de rebrotas no período 66 90 98 101
Conclusões
• O sistema de manejo das rebrotas dos roçados indígenas é diferente dos outros sistemas estudados principalmente porque existe o envolvimento com as plantas da roça.
• O manejo das rebrotas pode resultar em maior quantidade de madeira nas áreas de roçados.
• As rebrotas crescem muito em altura e em circunferência, e o número de rebrotas no toco após dois anos é semelhante ao inicial.
• Sugere-se sejam feitos desbastes, podas e controle de cipós a partir do segundo ano de desenvolvimento, para as rebrotas manterem o ritmo de crescimento.
CAPÍTULO 3
Características da semente e da germinação de Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae: Faboideae) espécie florestal semidecídua do norte da Amazônia
As informações deste estudo foram obtidas por pesquisa de campo na Estação Ecológica Maracá (ESEC Maracá, Roraima) e por pesquisa bibliográfica. Os frutos de pau-rainha (ouriços) foram coletados na ESEC Maracá e em um trecho de mata na BR-174 (RR).
Fiz medições do tamanho de 50 frutos e os valores médio, mínimo e máximo estão na tabela a seguir.
Tabela 1 - Medidas do núcleo seminífero (parte coberta de espinhos) dos frutos de Pau-rainha
(Centrolobium paraense), coletados na ESEC Maracá, RR, no mês de fevereiro de 2010. (n = 50)
Valores Comprimento Largura Espessura
Peso (g) sementes/fruto ------------------------mm-----------------
Média 41,8 32,3 25,9 16,825 1,3
Mínimo 36,0 25,0 20,0 10,735 1,0
Máximo 49,0 36,0 32,0 25,136 3,0
Em relação ao peso total do ouriço, as sementes de Pau-rainha representam apenas 2,5% do total, ou seja, elas são muito menores que o fruto. As sementes que ficam armazenas mantêm uma pequena quantidade de água em seu interior (10%), suficiente para germinarem (se forem dadas as condições necessárias) mesmo depois de oito meses guardadas.
Tabela 2 - Resultado do teste de pureza, número de sementes por quilo e peso de mil
sementes de pau-rainha (C. paraense).
Média
Pureza (%) 2,5
Número de sementes por quilo (n) 3373
Peso de 1000 sementes (g) 297,3
Fiz um teste de germinação com esses frutos, deixando os ouriços de molho em água por 24 horas (um dia) e 48 horas (dois dias). Esse molho não ajudou as sementes a germinarem mais rapidamente, pelo contrário. As sementes que ficaram mais tempo no
molho demoraram mais para nascer. Deixar os frutos muito tempo de molho pode “afogar” as sementes.
Outra tentativa de fazer o pau-rainha germinar mais rápido foi deixar novamente alguns frutos de molho em água por 24 horas, em outros foi feito um corte lateral no fruto, retirando o espinho (esporão), e outros frutos foram apenas semeados, sem ficar de molho ou sem haver corte. Os frutos que foram semeados sem nenhum tratamento começaram a germinar antes que os outros frutos. Isso mostrou que os tratamentos que eu apliquei nos frutos não foram positivos, porque não fizeram a germinação aumentar e acabaram atrasando o início da germinação.
Conclusões
• As sementes de Pau-rainha podem ser armazenadas e semeadas nos próximos meses.
• O pau-rainha germina pouco (até 40% dos frutos em dois meses) e demora para iniciar a germinação após a semeadura.
• Sementes armazenadas por oito meses em condições de temperatura ambiente e em sacos porosos (tipo ráfia) ao abrigo da chuva podem germinar após este período.
• Os tratamentos aplicados nos frutos apenas foram significativos quanto ao número de dias após a semeadura para a primeira germinação, que foi melhor nas amostras do controle e as que foram abertas lateralmente.
• As sementes coletadas na ESEC Maracá e na BR-174 tem características semelhantes em relação a germinação.
APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
2010 – Uso de rebrotas de pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae: Faboideae): uma via para a conservação local da espécie na Terra Indígena Araçá, Roraima. 61° Congresso Nacional de Botânica. Manaus, AM. (Resumo).
2009 – Manejo do Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – LEGUMINOSAE) nas roças e capoeiras da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, Roraima. VII Congresso Brasileiro de Sistemas agroflorestais. Luziânia, GO. (Resumo expandido).