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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA:

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS

DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS

DA EDUCAÇÃO

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos Históricos, Filosóficos e Sociológicos da Educação – Professor: Tibério

INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Os fundamentos históricos e filosóficos da educação podem nos oferecer a compreensão do fenômeno educacional na sociedade moderna capitalista, mas precisamente a escola como espaço formal. No entanto, isso não significa que a educação esteja restrita ao espaço escolar tradicional. Do contrário, este fenômeno se manifesta em quase todos os ambientes sociais existentes, desde a família até as instituições. Mas, como professores e futuros professores, é importante compreender o papel que o mesmo tem na sociedade moderna capitalista.

Na sociedade moderna capitalista, a educação tornou-se ferramenta de apropriação da realidade, dando à escola o caráter oficial e moldador do ideal humano estabelecido pela ordem social, econômica e política do sistema. Entretanto, as ideias pedagógicas que permeiam este processo partem de como os seres humanos pensam sobre si e sobre tudo, teorizando a sua própria existência.

Espera-se que a partir dessas bases teóricas, algumas reflexões importantes sejam compreendidas, como:

Entender que a educação não é neutra, ao contrário, possui uma intencionalidade;

Identificar que existem diferentes conceitos de educação;

Compreender que a educação não é uma prerrogativa apenas da escola, que ela

ocorre em diferentes espaços sociais.

A Filosofia

É natural do homem questionar tudo e todos. Alguns chegam mesmo a serem chatos de tanto que questionam as coisas. A reflexão, porém, sempre esteve presente na trajetória humana. Até o final do século VIII a.C., a mitologia era a principal explicação para a realidade existente sobre a terra. A partir do momento em que o homem começou a meditar sobre o funcionamento do universo, da vida e a buscar explicações racionais para o mundo, damos os primeiros passos para o surgimento da filosofia.

A filosofia se constituiu quando alguns gregos, insatisfeitos com as explicações sobre a realidade dadas pela tradição por meio dos mitos começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos naturais e as coisas da natureza, os acontecimentos humanos e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em suma, esses pensadores gregos se deram conta de que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, revelado por divindades a apenas alguns escolhidos.

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Se antes a mitologia podia explicar o que acontecia no mundo, agora as explicações da razão, a busca por caminhos e respostas lógicas e a indagação permanente com a cultura e a sociedade em que vivem passa a fazer parte dos questionamentos humanos.

Podemos dizer que a filos se constitui quando os seres humanos começam a exigir provas e justificações racionais que validem ou invalidem as crenças cotidianas.

Por que racionais? Por três motivos:

porque racional significa argumentado, debatido e compreendido;

porque racional significa que, ao argumentar e debater, queremos conhecer as condições e os pressupostos de nossos pensamentos e dos outros;

porque racional significar respeitar certas regras de coerência do pensamento para que um argumento ou um debate tenha sentido. Desse modo, é possível chegar a conclusões que podem ser compreendidas, discutidas, aceitas e respeitadas por outros.

A Filosofia é um estudo relacionado à existência, ao conhecimento, a verdade, aos

valores morais e estéticos, a mente e a linguagem. Seus métodos estão caracterizados pela argumentação.

Sua importância para a compreensão da sociedade e do mundo é para quebrar barreiras para que o indivíduo através de seu esforço obtenha um estado pleno de satisfação, ocasionando um momento de felicidade.

Através da argumentação podemos quebrar as barreiras dos nossos preconceitos, ideias erradas, de nossa realidade que não queremos mudar. Melhoramos nossas ideias, decisões e agimos melhor, já que nossas ações se baseiam naquilo que pensamos.

Já os problemas que a filosofia apresenta ajudam-nos a compreender melhor o mundo, fazendo-nos ter uma atitude crítica em relação às respostas e soluções apresentadas para os problemas da sociedade, com o objetivo de termos um mundo cada vez melhor para todos.

Você já questionou o significado da palavra Filosofia? A palavra Filosofia provém do grego e é resultado da junção de duas outras palavras: a “philia”, “philos” ou “philiaque”, que significam amor fraterno ou amizade, respeito entre os iguais; e a palavra “sophia”, quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Portanto, a filosofia seria, em sentido literal, a amizade, o amor pelo saber ou o respeito pelo saber. Logo, um filósofo não passa de alguém que busca sempre mais a sabedoria e que possui amor pelo conhecimento e assim deseja saber.

O termo “Filosofia”, consequentemente, lembra um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, procura e respeita. Assim, com o auxílio da etimologia, podemos ver que a Filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade.

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Pitágoras de Samos (um dos filósofos pré-socráticos que viveu no séc.VI a.C.) foi a primeira pessoa a fazer uso da palavra Filosofia (philos-sophia). Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

A Filosofia exige que nós retiremos de nossas relações mais ordinárias uma reflexão criteriosa sobre as mesmas; é um modo de pensar que persegue o ser humano em seu exercício de compreensão do mundo onde ocorrem essas relações, possibilitando ação crítica, criativa e transformadora sobre a realidade.

A Filosofia compreende uma abordagem fundamentalmente teórica, isso não significa que ela esteja à margem do mundo, nem que constitua um corpo de ensinamentos ou saberes acabados, com o conteúdo determinado, onde não haja flexibilidade e seja avesso a qualquer tipo de mudança. A Filosofia supõe uma constante disponibilidade para a indagação. Por isso, segundo Platão, a primeira virtude do filósofo é encontrar-se suscetível para surpreender-se diante do que é comum à vida. Essa é a condição para problematizar; o que marca a Filosofia não como aquela que detém a verdade, mas como aquela que subsiste em sua contínua busca. Ou seja, se o filósofo é capaz de admirar-se com o óbvio e questionar as verdades dadas, ele recebe a dúvida como despertadora desse processo abstracional.

Ante o exposto, podemos presumir que é atitude filosófica o refletir sobre a realidade, na busca de desvelar os significados mais profundos e assim descobrir o que está por trás daquilo que se mostra à primeira vista. Contudo, é imprescindível distinguirmos entre o rigor da reflexão filosófica e a reflexão que expressamos comumente, de maneira desorganizada e não sistemática.

Não se pode pensar em nenhum ser humano que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do ser humano como tal.

Portanto, a Filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência, a pessoa surge como ser de projeto, capaz de ser livre e de construir o seu destino. O distanciamento é justamente o que provoca a nossa aproximação maior com a vida. A Filosofia recupera o processo perdido na aversão ao progresso das coisas feitas, impedindo assim a estagnação.

A Filosofia possibilita a constante avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência moderna e reconstrói na sua unidade; retoma a ação completa no tempo e procura compreendê-la. Neste sentido, qual a importância da Filosofia para você?

A filosofia grega está dividida em três períodos: Período Pré-socrático ou cosmológico (séculos VII a V a.C.): corresponde ao

período dos primeiros filósofos gregos que viveram antes de Sócrates. A filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza, do qual se destaca o filósofo grego Tales de Mileto.

Período Socrático (século V a IV a.C.): também chamado de período clássico, nesse momento surge a democracia na Grécia Antiga. Seu maior representante foi o filósofo

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grego Sócrates que começa a pensar sobre o ser humano. Além dele, merecem destaque: Aristóteles e Platão.

Período Helenístico (século IV a.C. a VI d.C.): Além de temas relacionados com a natureza e o homem, nessa fase os estudos estão voltados para a realização humana por meio das virtudes e da busca da felicidade. A atitude crítica A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não aos “pré-conceitos’, aos pré-juízos”, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que "todo mundo diz e pensa", ao estabelecido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.

A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico.

A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: "Sei que nada sei". Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto.

Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e como somos. Filosofia e Mito

Considerados há muito tempo como antagônicos, mito e filosofia protagonizam atualmente uma (re)conciliação. Desde os primórdios, a Filosofia, busca do saber, é entendida como um discurso racional que surgiu para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu como base de sua Paideia (educação). A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito.

Assim, Homero (Ilíada e Odisseia) e Hesíodo (Teogonia e Dos trabalhos e dos Dias) são considerados os educadores da Hélade (como se chamava a Grécia) por excelência,

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bem como os rapsodos (uma espécie de ator, cantor, recitador) eram tidos como portadores de uma verdade fundamental sobre a origem do universo, das leis etc., por reproduzirem as narrativas contidas nas obras daqueles autores.

Foi somente a partir de determinadas condições (navegações, uso e invenção do calendário e da moeda, a criação da democracia que preconizava o uso da palavra, bem como a publicidade das leis etc.) que o modelo mítico foi sendo questionado e substituído por uma forma de pensar que exigia outros critérios para a confecção de argumentos. Surge a Filosofia como busca de um conhecimento racional, sistemático e com validade universal.

De Aristóteles a Descartes, a Filosofia ganhou uma conotação de ciência, de conhecimento seguro, infalível e essa noção perdurou até o século XIX, quando as bases do que chamamos Razão sofreu duras críticas com o desenvolvimento da técnica e do sistema capitalista de produção. A crença no domínio da natureza, da exploração do trabalho, bem como a descoberta do inconsciente como o grande motivador das ações humanas, evidenciaram o declínio de uma sociedade armamentista, excludente e sugadora desenfreada dos recursos naturais. A tendência racionalista fica, então, abalada e uma nova abordagem do mundo faz-se necessária.

O que era tido antes como pré-científico, primitivo, assistemático, ganha especial papel na formação das culturas. As noções de civilização, progresso e desenvolvimento vão sendo substituídas lentamente pela diversidade cultural, já que aquelas não mais se justificam. A releitura de um dos pensadores tidos como fundadores do idealismo racionalista preconiza que já na Grécia o mito não foi meramente substituído nem de forma radical, nem gradual pelo pensamento filosófico. Os textos de Platão, analisados não somente pela ótica conceitual, mas também dramática, nos proporciona compreender que um certo uso do mito é necessário onde o logos (discurso, razão, palavra) não consegue atingir ainda seu objeto, ou seja, aquilo que era apenas fantasioso, imaginário, ganha destaque por seu valor prático na formação do homem.

Dito de outro modo, embora o homem deseje conhecer a fundo o mundo em que vive, ele sempre dependerá do aperfeiçoamento de métodos e técnicas de interpretação. A ciência é realmente um saber, mas que também é histórico e sua validade prática depende de como foi construído argumentativamente. Interessa perceber que Filosofia é amor ao saber, busca do conhecimento e nunca posse, como define Platão. Então, nunca devemos confundi-la com ciência, que é a posse de um saber construído historicamente, isto é, determinado pelas condições do seu tempo. Portanto, Mito, Filosofia e Ciência possuem entre si não uma relação de exclusão ou gradação, mas sim de intercomplementaridade, haja vista que um sempre sucede ao outro de forma cíclica no decorrer do tempo.

E hoje, os mitos são diferentes de antigamente? Eles estão presentes em nossa vida, em pleno século XXI? Sim, ele existe, por meio das crenças, temores e desejos, mas o mito não tem tanto poder quanto tinha antigamente, pois com o pensamento crítico racional o indivíduo é capaz de encontrar explicações mais lógicas para os

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acontecimentos. Os mitos de hoje podem ser divididos em mitos autênticos e em mitos fabricados pelos meios de comunicação de massa e pela mídia.

Atualmente persistem os mitos autênticos que são derivados das mesmas necessidades de propiciar o bem e afastar o mal e são exemplares, fazem parte da vida e podem ser vividos por todos os indivíduos de uma comunidade. Os exemplos mais comuns em nossa sociedade são: Ano-novo, Baile de 15 anos, Casamento, entre outros.

Hoje na sociedade são criados mitos de maneira que possam ser entendidos por todos sem maiores esforços reflexivos, pois assim não há necessidade de criticar ou questioná-los. Para se chegar a estes resultados, são utilizados alguns mecanismos na fabricação dos mitos:

Omissão da História: Este mecanismo consiste em esconder partes da história do mito, seja ele uma pessoa ou objeto. Como exemplo, podemos citar a vida de um ator ou atriz, de modo que este nos é apresentado como um ser referencial e único. Com a omissão da história, acabam também sendo eliminadas causas e consequências, como acontece frequentemente nas propagandas de bebida alcoólica, onde não são relatadas as consequências deste produto.

Identificação: É um processo que nos leva a identificação com o mito e a anulação das características não desejadas pela maior parte das pessoas, o outro lado do mito. Assim nos afastamos de pessoas portadoras das características não desejadas.

Quantificação da qualidade: Este é um mecanismo muito presente na mitificação de filmes e estrelas da música, e consiste na transformação da qualidade em quantidade. Isto é, o que importa para que um filme ou os personagens que o compõem, por exemplo, sejam mitificados é a quantidade de lucros e investimentos que gerou.

Constatação: Este mecanismo influencia na fabricação dos mitos contemporâneos, não admitindo questionamentos ou críticas. Podemos citar como exemplo as histórias em quadrinhos nas quais estão explícitas o posicionamento do bem e do mal, não há o que questionar apenas constata-se. Dentro disso também podemos citar a moda, que por sua vez é um mito consumado, o qual aceitamos sem ao menos saber o porquê de termos de seguir tais padrões.

As principais diferenças entre Mito e Filosofia: • Mito: narra os acontecimentos passados, buscando um entendimento sobre a origem, as causas sobre tudo até o momento presente; • Filosofia: ocupa-se em explicar não somente os acontecimentos passados, mas tudo como é no presente e como será no futuro; • Mito: narra a origem do mundo baseando-se em genealogias e ação de forças sobrenaturais;

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• Filosofia: explica a origem do mundo pela combinação de elementos naturais; • Mito: não se preocupa com as contradições nem com as coisas incompreensíveis; • Filosofia: exige um pensamento coerente, racional, lógico. A autoridade sobre o conhecimento não está no filósofo, mas fundada na razão, que todas as pessoas possuem.

No Mito da Caverna, escrito por Platão, a caverna representa o mundo em que vivemos, marcado por aparências. As sombras são as coisas do mundo que conseguimos perceber. Correntes e grilhões são as nossas opiniões e preconceitos, nossas crenças sobre a realidade. O prisioneiro que consegue sair dessa caverna é o filósofo, que busca a verdade. O mundo iluminado é a verdade. O meio para se conquistar a libertação é a Filosofia. O ser humano e o processo histórico de sua formação

Quando pensamos na nossa própria realidade, muitas vezes somos permeados por ideais pré-concebidas na esfera do senso comum. Na maioria dos casos não buscamos refletir profundamente e abusamos do pragmatismo para estabelecer certas concepções que buscam explicar o que somos e como somos. Acreditamos que essas ideias são as únicas e que nos resta apenas segui-las.

Dermeval Saviani, em seu livro Educação: do senso comum a consciência filosófica, aponta a necessidade da superação desta forma de compreensão da realidade. Ele propõe que o ser humano vá além da simples absorção das ideias dominantes e alicerçadas pelo senso comum, e que busque por meio da reflexão filosófica a apreensão de sua realidade, participando inclusive da construção do conhecimento que alicerce esta reflexão. Isto é, que o mesmo torne-se sujeito de sua própria existência. No entanto, para que isso aconteça, precisamos entender que o ser humano se constrói a partir de sua própria existência ao longo da história. E essa história humana não é apenas um amontoado de fatos de um passado distante, mas se configura enquanto um processo em constante transformação, no qual o passado, o presente e o porvir constituem-se como um contínuo infinito.

O ser humano é antes de tudo um ser social. Não vive e sobrevive no mundo sozinho e isolado, sobrevivendo apenas em sua individualidade. Sob diversas formas, é um ser que se interage com outros seres, de forma direta ou indireta, na busca por sua sobrevivência. Desde as primeiras comunidades (de forma simples) até a atualidade (de forma complexa) os homens se relacionam entre si na formação das condições que garantam a sua existência material, mesmo que essa busca seja motivada por interesses individuais. Estabelecem-se então relações econômico-sociais entre as partes, no qual o trabalho é a principal – e única – fonte dos recursos materiais necessários para a sobrevivência humana.

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Ao falar em educação é inevitável discutir seu papel socializador e seu aspecto representativo da cultura. O que implica em analisar os fundamentos históricos e filosóficos, já que a educação, em si, só é possível através da transmissão do conhecimento ao longo do tempo, por meio do diálogo, do contato entre as pessoas. Sem socialização, contextualizada no âmbito escolar, não existe educação. Sendo necessário, portanto, discutir como e se a educação realmente sociabiliza e se este deve ser o seu principal objetivo. Uma questão amplamente debatida e ainda não esgotada que originou várias tendências pedagógicas, além de inúmeras propostas de direcionamento educacional.

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida.

O conceito de educação engloba o nível de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada por um indivíduo e a sua capacidade de socialização.

De acordo com o filósofo teórico da área da pedagogia René Hubert, a educação é um conjunto de ações e influências exercidas voluntariamente por um ser humano em outro, normalmente de um adulto em um jovem. Essas ações pretendem alcançar um determinado propósito no indivíduo para que ele possa desempenhar alguma função nos contextos sociais, econômicos, culturais e políticos de uma sociedade.

No sentido técnico, a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou no seu próprio grupo.

Educação (do latim educations) no sentido formal é todo o processo contínuo de formação e ensino aprendizagem que faz parte do currículo dos estabelecimentos oficializados de ensino, sejam eles públicos ou privados.

No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, a Educação divide-se em dois níveis, a educação básica e o ensino superior. A educação básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A educação nacional remete para o grupo de órgãos que fazem a gestão do ensino público e fiscalização do ensino particular.

No processo educativo em estabelecimentos de ensino, os conhecimentos e habilidades são transferidos para as crianças, jovens e adultos sempre com o objetivo desenvolver o raciocínio dos alunos, ensinar a pensar sobre diferentes problemas, auxiliar no crescimento intelectual e na formação de cidadãos capazes de gerar transformações positivas na sociedade.

Antes de entrar nesta esfera, no entanto, é necessário debater o âmago do que torna a educação possível, a socialização e sua relação com a educação.

A socialização pressupõe a interação social, a capacidade de integrar-se a um grupo, assimilando padrões sociais. O que interfere na maneira como o sujeito percebe o mundo, o outro e a si mesmo. O processo de interação e a socialização, inicia-se no nascimento do sujeito e só se encerra com a sua morte, fazendo uso da linguagem para interagir e integrar os indivíduos.

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Em sentido amplo, a linguagem, através da cultura, constrói significados, embora a equação inversa também seja verdadeira. Podemos afirmar que o ser humano, neste sentido, só se humaniza a partir da socialização e da assimilação da cultura.

Poderíamos definir a cultura como um conjunto de valores que une e dá identidade a um grupo, espelhando o conhecimento acumulado por gerações.

Assim, sendo a educação a transmissão e assimilação de conhecimentos, cabe perguntar qual é o papel da educação para que a integração entre as pessoas se efetive?

Responder esta questão conduz a outro tema correlato: o papel da educação em sentido amplo e sua distinção dentro e fora do processo de escolarização institucionalizado. Educação formal e informal

Analisando-a de forma abstrata, deslocada das contradições e dos antagonismos de classes, atribuem a ela um caráter redentor. Entretanto, existem "n" formas de educação; não é possível para falar de educação abstratamente, nem desconsiderando a história. Além disso, as finalidades com que se educa também não são as mesmas em todas as épocas, em todos os lugares e em todas as sociedades.

Ora, se a educação é a forma como a sociedade educa seus membros para viverem nela mesma, então, para compreender a educação precisamos compreender a sociedade. Assim, na medida em que a compreendermos, também entenderemos aquela.

Para entender o papel da educação na socialização é necessário discutir a transmissão da cultura dentro e fora da escola.

A educação, a transmissão do saber acumulado pela humanidade, não se concretiza somente na escola, acontece também de maneira informal (sem norma ou forma), não possuindo critérios, horários, hierarquia ou sistema de avaliação.

Neste sentido, a educação informal é produzida a partir das necessidades imediatas da vida, configurando o conhecimento conforme as exigências requeridas para a sobrevivência.

Pensando nesta concepção, o saber escolar muitas vezes se distancia da realidade, impedindo a assimilação democrática do conhecimento e excluindo várias categorias sociais, portanto, limitando o acesso ao saber que confere poder.

A escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos por aqueles que controlam o sistema educacional, visando organizar seu funcionamento. Diferente da educação informal, o conhecimento escolar é sistematizado, transmitido a partir de critérios e métodos, composto por um saber científico, dogmático. Embora a ideia, teoricamente, seria a escola criar uma proximidade com a realidade concreta, possibilitando uma flexibilidade de conteúdos.

O grande problema é que a educação formal, sendo hierarquizada, é fruto e reflexo do fordismo, dividindo tarefas e limitando o processo de socialização.

O fordismo educacional transforma os professores em tarefeiros, semelhante ao que ocorreu com operários em linhas de montagem, fazendo, por outro lado, o educando

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perder a noção do conjunto. No entanto, de certo modo, a educação formal contém em si a informal, já que o educador não se limita a transmitir conteúdos.

Enquanto o professor exerce uma profissão eminentemente técnica, o educador deveria ensinar e praticar a tolerância com o outro, a convivência pacífica, instigando a curiosidade para conhecer as diferenças, ou seja, incentivando a socialização.

A socialização é o centro de duas visões distintas do que se entende como função da escola, configurando duas abordagens clássicas: o paradigma do consenso e do conflito.

A noção de paradigma envolve um modelo que serve de base a construção da ciência. Ambos os paradigmas balizam a construção de teorias e tendências pedagógicas e representam pontos de referência e lógicas de pensamento. História da Educação

A história da educação é parte da história da cultura, que por sua vez faz parte da história geral. Em cada tempo/espaço histórico, a educação atendeu a determinados objetivos, que correspondiam a visões de homem e de mundo. Para compreender a história da educação, é essencial situá-la na história geral.

Desde que o ensino e a aprendizagem passaram a ser planejados e formalizados, eles sofreram muitas transformações. Para começar a nossa conversa, não há nada melhor do que mergulhar no mar da história.

Dentre as principais fases da história da educação estão as seguintes: Educação primitiva

Embora não existam provas, historiadores inferem que a educação entre os grupos primitivos ocorria de forma espontânea, ou seja, as crianças ou jovens aprendiam por imitação, ao observarem os maiores em suas atividades elementares, que eram a pesca, a caça, a agricultura, etc. A observação de fenômenos meteorológicos, alguns rituais sagrados e a preparação para a guerra, com o passar dos séculos, passaram a fazer parte da educação dos jovens, que para isso precisavam ser treinados. Depois desta fase, entra-se (cerca de 8 ou 10 mil anos) na época do Neolítico, na qual se assiste a uma verdadeira e própria revolução cultural. Nascem, as primeiras civilizações agrícolas: os grupos humanos se tornam sedentários, cultivam os campos e criam animais, aperfeiçoam e enriquecem as técnicas (para fabricar vasos, para tecer, para arar), cria-se uma divisão do trabalho cada vez mais nítida entre homem e mulher e um domínio sobre a mulher por parte do homem, depois de uma fase que exalta a feminilidade no culto da Grande Mãe (findo com o advento do treinamento, visto como “conquista masculina”).

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Educação egípcia Vamos voltar ao passado e, pela precisão, ao antigo Egito. Como toda sociedade

que produz riquezas a partir da exploração da maioria dos seus habitantes, percebemos logo que o saber não é democratizado e que cada setor só tem acesso a um determinado tipo de educação.

Em grandes linhas, podemos dizer que no antigo Egito existem quatro grupos de pessoas que recebem um ensino diferenciado: o faraó e os senhores da corte, os escribas e todos aqueles que se dedicam às funções administrativas, os artesãos e, por último, os escravos. Cerca de 2.600 anos antes de Cristo, os filhos do faraó, seus futuros conselheiros e os nobres do Egito são educados para dominar a arte da palavra.

Para comandar e pôr ordem na sociedade é imprescindível dominar a arte da palavra. Não é pra menos. É indispensável saber falar em público tanto para intervir nos conselhos restritos do poder, como para passar uma lábia na multidão, acalmar seus ânimos, justificar a repressão dos descontentes e reafirmar os valores dominantes como os únicos capazes de organizar a sociedade.

Mas a sociedade muda e força o ensino destinado aos faraós a adaptar-se às mudanças. Lá pelo ano 2.000 antes de Cristo os nobres do Egito conquistam a possibilidade de governar suas regiões num regime de maior autonomia em relação ao poder do faraó. O país é dividido em feudos e começa um período de desordem e agitação social. É neste contexto que o ensino destinado às elites incorpora uma formação mais aprimorada do homem político e a educação física como parte da preparação necessária para eventuais enfrentamentos nos campos de batalha.

É interessante reparar que o círculo dos nobres e da família do faraó não se preocupa em ensinar a seus filhos a escrever. Acontece que, nesta época, a escrita é apenas um instrumento que permite registrar os atos oficiais e administrativos. Por isso, a tarefa de escrever é deixada aos escribas que, em geral, aprendem esta arte com os pais. Além da escrita, as relações que se desenvolvem no interior dos círculos do poder impõem que o ensino destinado a estas pessoas incorpore o aprendizado de um profundo sentimento de obediência e submissão.

Você já deve ter percebido que no antigo Egito, como em toda sociedade dividida em classes, os grupos dominantes usam o processo educativo como um meio para moldar as várias camadas da população. Assim como o oleiro dá forma ao barro para que ele se transforme num determinado objeto, as elites se preocupam em formar cada setor da sociedade de acordo com a necessidade de garantir a exploração e a ordem que proporciona a concretização de seus interesses. Em outras palavras, na civilização egípcia já podemos visualizar uma característica que vai se manter constante ao longo da história: há sempre uma relação direta entre o tipo de educação e a posição que o indivíduo ocupa na pirâmide social.

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Educação clássica

Em Roma antiga, as coisas não são muito diferentes. Lá, o primeiro educador é o “pater familiae”. Desde a fundação da cidade, a autonomia da educação paterna é uma lei do Estado pela qual o pai é dono e artífice de seus filhos. A antiga monarquia romana, de fato, é uma república constituída pelos proprietários das terras e dos núcleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os escravos, os animais e qualquer outro bem. O pai-proprietário (pater) exerce sobre eles um poder soberano que, entre outras coisas, lhe permite matar os filhos anormais, prender, flagelar, condenar aos trabalhos agrícolas forçados, vender ou matar os filhos rebeldes, mesmo quando, já adultos, estes ocupam cargos públicos.

A educação no seio dessa família visa, basicamente, o ensino das letras, do direito, o domínio da retórica e das condições para desempenhar as atividades políticas, típicas das classes dominantes.

Ainda que o desenvolvimento histórico imponha mudanças nos costumes e nas instituições que se dedicam à educação dos jovens, a organização do Estado romano impede o livre acesso do povo simples à arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a capacitação de um grupo restrito de indivíduos, como burocratas, no poder do Estado.

Neste contexto, feita exceção pela agricultura que é um aspecto e uma fonte de domínio do pai-proprietário, todas as atividades produtivas são consideradas indignas de um homem livre. Exercidas pelos escravos ou pelos estrangeiros que migram para Roma, seu ensino é reservado aos membros dessas classes sociais. À diferença da situação que encontramos no Egito, em Roma nos deparamos com a necessidade de fazer com que os conhecimentos e as habilidades de algumas profissões sejam ensinados em escolas. Trata-se de um costume que os patrões “mais empreendedores” praticam para melhor explorar o trabalho servil. Além de formarem escravos mais qualificados para serem empregados em suas propriedades, as “escolas profissionalizantes” da época permitiam utilizar o ensino como investimento “de capital” na medida em que possibilitava vender ou alugar os mesmos escravos a um preço bem mais alto.

Se é verdade que, ao longo dos séculos, as descobertas da ciência e da técnica impõem mudanças aos processos de aprendizagem, é também verdade que cada passo do desenvolvimento histórico impõe a necessidade de resolver o velho problema de como e quanto instruir quem é destinado não aos círculos do poder e sim à produção. Educação medieval

Se desenvolve na época em que o cristianismo alcança toda a Europa (V – XV d. C.). O caráter é essencialmente religioso, dogmático, predominando matérias abstratas, literárias, com prejuízo a educação intelectual e científica. É empregado o uso do latim como língua única. Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação.

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Na era medieval, como havia um monopólio da cultura e do pensamento por parte da Igreja Católica, a educação teve grande influência religiosa. Eram os integrantes da Igreja que estabeleciam o que deveria ser estudado, os conteúdos e os objetivos da educação. As escolas eram, portanto, associadas às instituições religiosas católicas. Embora controlada pela Igreja, a educação não ficou apenas no campo religioso, abrindo também espaço para o estudo das ciências, técnicas e habilidades.

Existiam nesse período medieval escolas que funcionavam anexas às catedrais ou a escolas monásticas que funcionavam nos mosteiros, nesse contexto, a Igreja assumiu a tarefa de disseminar a educação e a cultura no medievo e o seu papel foi preponderante para o nosso legado educacional contemporâneo.

A escola no período medieval era dirigida por um cônego, ao qual se dava o nome de scholarius ou scholasticus. Os professores eram clérigos de ordens menores e lecionavam as chamadas sete artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música, que mais tarde constituíram o curriculum de muitas universidades.

Para acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas limitações, professores e alunos organizaram-se em associações denominadas universitas, que mais tarde originou a palavra universidades. As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculdades. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade.

Grande parte dos estudantes da Idade Média vinha da nobreza, pois esta camada social possuía recursos financeiros para manter os filhos nas escolas. Os nobres decidiam quais filhos iriam para a área militar (formação de cavaleiros), para a formação técnica (escolas formais) ou formação religiosa (escolas monásticas).

Já os camponeses e seus filhos, sem recursos financeiros e presos às obrigações servis, não tinham acesso à educação escolar, ficando sem saber ler e escrever por toda vida.

Nos séculos XIV e XV (final da Idade Média), com o surgimento da burguesia, as escolas e universidades passaram a ter muitos estudantes oriundos desta nova camada social. Os filhos dos burgueses iam para escolas e universidades que davam formação mais ampla ou de caráter técnico. Os burgueses buscavam formar seus filhos em áreas como Medicina, Artes, Direito, Filosofia e Arquitetura. Claro que muitos burgueses também direcionavam os estudos dos filhos para que estes continuassem o negócio da família nas áreas de comércio ou finanças.

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Educação humanista

No século XIV e XV abrem-se novos horizontes geográficos que permitem uma grande transformação cultural, social, política, religiosa e econômica, desencadeada pelas relações comerciais da Europa com os povos do Oriente, de África, da Ásia e da América.

Este contexto proporcionou, não só uma entrada em larga escala de bens alimentares e de consumo, mas também de outras formas de pensar, outros costumes e valores, trazidos por outros povos.

Após o século XV, período da Renascença, é criada a educação humanista, uma nova versão do conhecimento greco-romano. A disciplina e autoridade até então predominantes deixam espaço ao desenvolvimento do pensamento livre e crítico. As matérias científicas retornam ao currículo, embora ainda em segundo plano. Surge o colégio humanista (escola secundária), onde são estudados o latim e o grego. Os exercícios físicos são valorizados.

Toda esta abundância, característica de uma nova sociedade baseada nos princípios da civilização urbana e cosmopolita, veio precisamente originar uma forma de pensar assente na valorização da “dignidade do homem”, colocando-o no centro do universo, dando ênfase à sua forma de agir e de pensar, abrindo-lhe novos horizontes para desenvolver a sua personalidade, conduzindo o seu pensamento a uma nova perspectiva da vida.

Podemos então afirmar que a educação humanista surge no sentido de organizar a sociedade em vários níveis. Educação cristã reformada

Resultado da Renascença, no século XVI surge a reforma religiosa, e como

resultado, uma educação cristã reformada, tanto católica, como protestante. A educação católica pós renascença, foi marcada por um movimento conhecido por Contrarreforma. A Companhia de Jesus, organização criada por Inácio de Loyola, foi a mais poderosa arma contra os protestantes. As ordens religiosas, das quais se destaca a dos jesuítas, foram as responsáveis por disseminar o cristianismo por meio da educação durante séculos. O Ratio Studiorum era o “currículo” dos jesuítas, que ministravam uma educação inspirada nas escolas humanistas. Educação realista

Com base na filosofia e nas ciências de Galileu, Copérnico, Newton e Descartes, as chamadas ciências novas, a educação realista dá início aos métodos da educação moderno.

O século XVII marca o surgimento da educação realista que estabelece um momento de transição entre a pedagogia do renascimento e a pedagogia iluminista do século XVIII.

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A educação realista é fortemente influenciada pelo empirismo de Francis Bacon e pelo racionalismo de Descartes. Também sofre a influência do movimento científico da época, liderado por Galileu e Kepler, sem mencionar a profunda revolução causada pela teoria heliocêntrica elaborada por Nicolau Copérnico, ainda no século XVI.

Ela busca substituir o conhecimento verbalista anterior pelo conhecimento das coisas. Para tanto, procura criar uma nova didática. Segue reafirmando com mais ênfase ainda a individualidade do educando e, na ordem social e moral, advoga o princípio da tolerância, do respeito à personalidade e de fraternidade entre os homens.

Educação Naturalista

Com base nas ideias de Jean-Jacques Rousseau, a educação naturalista teve influência decisiva a educação moderna. Para Rousseau, são pressupostos para a educação: a liberdade, a atividade pela experiência, a diferença entre a mente da criança e do adulto (a criança deixou de ser vista como um adulto em miniatura, e passou a ser vista como um ser em desenvolvimento), enfim, uma educação integral, que atenda aos aspectos físicos, intelectuais e morais. No entanto, para Rousseau, para cada aluno deveria haver apenas um educador. Suas ideias inspiraram pensadores e educadores, dos quais se destacou Pestalozzi.

Ela está relaciona os métodos científicos (hipótese, observação, descrição, previsão, controle...) afirmando que todos os seres do nosso universo são naturais e que todo o conhecimento que se tem sobre o universo só é possível com investigações científicas.

Essa educação naturalista, não significa retornar a uma vida selvagem, primitiva, isolada, mas sim, afastada dos costumes da aristocracia da época, da vida artificial que girava em torno das convenções sociais. A educação deveria levar homem a agir por interesses naturais e não por imposição de regras exteriores e artificiais, pois só assim, o homem poderia ser o dono de si próprio.

Rousseau trouxe novas ideias para combater aquelas que prevaleciam há muito tempo em sua época, principalmente a de que a educação da criança deveria ser voltada aos interesses do adulto e da vida adulta. Introduziu a concepção de que a criança era um ser com características próprias em suas ideias e interesses, e desse modo não mais podia ser vista como um adulto em miniatura.

Com suas ideias, ele derrubou as concepções vigentes que pregavam ser a educação o processo pelo qual a criança passa a adquirir conhecimentos, atitudes e hábitos armazenados pela civilização, sem transformações.

Considerava cada fase da vida como tendo características próprias. Tanto o homem como a sociedade se modificam, e a educação é elemento fundamental para a necessária adaptação a essas modificações. Se cada fase da vida tem suas características próprias, a educação inicial, não poderia mais ser considerada uma preparação para a vida, da maneira que era concebida pelos educadores à época.

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Rousseau afirmou que a educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza. Ao contrário da rígida disciplina e excessivo uso da memória vigentes então, propôs serem trabalhadas com a criança: o brinquedo, o esporte, a agricultura e uso de instrumentos de variados ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria.

Através dessas atividades a criança estaria medindo, contando, pesando; portanto, estariam sendo desenvolvidas atividades relacionadas à vida e aos seus interesses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, Maria L. de A.; MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Moderna, 2016. CHAUÍ, Marilene de Souza. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. ____________. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2017. COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Educação na Idade Média. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/historiag/educacao-na-idade-media.htm> Acesso em 20 mar. 2017. Educação na Idade Média. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/idademedia/educacao_idade_media.htm> Acesso em 20 mar. 2017. Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação: problematizações sobre a ação educativa. Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/03/fundamentos-historicos-e-filosoficos-da.html> Acesso em 20 mar. 2017. Introdução à Filosofia: Origem e definição. Disponível em: <http://www.passeiweb.com/estudos/sala_de_aula/filosofia/definicao> Acesso em 20 mar. 2017. LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 13 ed. São Paulo: Nacional, 1981. RIBEIRO, Vivian Paula; ARAÚJO, Adriano; MELO, Naurelice Maia. Filosofia, ética e o mundo do trabalho. Salvador: Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância, 2007. 74 f. Apostila.

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SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 5ª ed. São Paulo-SP: Cortez, 2009.

________________. Educação: do senso comum a consciência filosófica. 14ª ed. São

Paulo-SP: Ver Curiosidade, 2002. 247p.


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