UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI - CAMPUS DE ERECHIM
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE MATEMÁTICA
IVANIR TERESINHA AULER
DIFICULDADES DOS PROFESSORES INTÉRPRETES DE LIBRAS
NA INTERPRETAÇÃO DE AULAS DE MATEMÁTICA NO
MUNICÍPIO DE ERECHIM/RS.
ERECHIM 2009
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IVANIR TERESINHA AULER
DIFICULDADES DOS PROFESSORES INTÉRPRETES DE LIBRAS
NA INTERPRETAÇÃO DE AULAS DE MATEMÁTICA NO
MUNICÍPIO DE ERECHIM/RS.
Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Licenciada em Matemática no Curso de Matemática, Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI – Campus de Erechim. Orientadora: Prof.ª Dra. Neila Tonin Agranionih
ERECHIM
2009
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Dedico o presente trabalho acadêmico à minha
querida mãe DIVA AULER , bem como
ao meu querido pai ERNO CARLOS AULER ,
pessoas maravilhosas e encantadoras que me
ensinaram viver a vida seguindo os preceitos da
humildade, moralidade, dignidade e honestidade.
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AGRADECIMENTOS
A DEUS, força soberana e suprema que existe e em quem acredito muito, por ter me dado o
dom da vida, bem como coragem e perseverança para que eu concluísse o Curso de
Matemática.
AO PAI ERNO E À MÃE DIVA, pessoas que me geraram, que me ensinaram a caminhar,
falar, ouvir, sentir, que iluminaram meu caminho com afeto e dedicação, e que se doaram e
renunciaram seus sonhos para que eu primeiro realizasse os meus.
AO MEU QUERIDO NAMORADO ODAIR JOSÉ BALDISSERA, pessoa que soube
compreender minhas ausências, quando de meus estudos e que sempre me deu muita força e
apoio para que eu seguisse em frente.
À MINHA PROFESSORA/ORIENTADORA NEILA TONIN AGRANIONH, pessoa
brilhante pelo conhecimento que me repassou, bem como pela amizade e confiança que me
dedicou.
AOS DEMAIS PROFESSORES DA URI – CAMPUS DE ERECHIM – também pessoas
brilhantes, as quais estiveram ao meu lado durante esta caminhada acadêmica, repassando-me
conhecimentos a fim de viabilizar meu crescimento pessoal, intelectual e profissional.
E a todos , amigos e familiares, que de uma certa forma contribuíram em minha caminhada no
Curso de Matemática e para o desenvolvimento deste projeto.
ÀS INTÉRPRETES E À ESCOLA SANTO AGOSTINHO pela contribuição com esse
trabalho.
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RESUMO O presente trabalho: “Dificuldades dos professores intérpretes de LIBRAS na interpretação de aulas de matemática no município de Erechim/RS”, tem como objetivo verificar dificuldades encontradas pelos professores intérpretes de LIBRAS ao interpretar aulas de matemática, identificar metodologias utilizadas no ensino da matemática na interpretação dos conteúdos matemáticos; verificar dificuldades encontradas pelos alunos surdos durante as aulas de matemática na concepção dos professores intérpretes e identificar a relação existente entre a professora da turma e a professora intérprete no planejamento e na execução das aulas de matemática. O trabalho apresenta um breve histórico sobre a educação dos surdos e a aquisição de sua linguagem. A aborda as metodologias utilizadas na educação dos surdos no decorrer dos anos: oralismo, comunicação total e bilinguismo, bem como as a situação atual da educação dos surdos. Neste trabalho conclui-se que os intérpretes são para os surdos uma ponte de ligação de duas línguas distintas. A função do intérprete é interpretar, enquanto o professor tem a função de planejar a aula. Uma das principais dificuldades desses profissionais é a metodologia que o professor adota, pois as aulas devem-se realizar atividades com materiais visuais, o que nem sempre acontece. Além disso, as famílias dos surdos também devem participar da educação dos mesmos para tentar supri as lacunas de aprendizagem que muitos surdos apresentam durante as aulas. O sucesso do trabalho dos professores e dos intérpretes que trabalham com o surdos, resultará em muitos benefícios, não só para os surdos, que se sentirão incluídos na sociedade, mas também para todas as pessoas envolvidas. Palavras-chave: Educação Matemática. Surdez. Intérpretes
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................06
2 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SURDO .................................................................07
2.1 AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM PESSOAS SURDAS............................................ 09
3 METODOLOGIAS DE ENSINO PARA OS SURDOS...................................................11
3.1 ORALISMO........................................................................................................................11
3.2 COMUNICAÇÃO TOTAL................................................................................................12
3.3 BILINGUISMO..................................................................................................................13
4 INTEGRAÇÃO/INCLUSÃO DOS SURDOS...................................................................17
5 A PESQUISA........................................................................................................................21
5.1 DESCRIÇÃO E ANALISE DOS DADOS.........................................................................21
5.1.1 Formação profissional...................................................................................................22
5.1.2 Planejamento..................................................................................................................25
5.1.3 Relação entre os professores das disciplinas e a professora intérprete....................26
5.1.4 Estratégias......................................................................................................................30
5.1.5 Dificuldades de interpretar conteúdos matemáticos..................................................33
5.1.6 Dificuldades dos alunos ...............................................................................................36
5.1.7 Sugestões. .......................................................................................................................39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................................46
APÊNDICES............................................................................................................................49
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste numa pesquisa sobre as dificuldades dos intérpretes de LIBRAS na
interpretação de aulas de matemática no município de Erechim/RS. Tem como objetivo
verificar dificuldades encontradas pelos professores intérpretes de LIBRAS ao interpretar
aulas de matemática; identificar as metodologias utilizadas no ensino da matemática na
interpretação dos conteúdos matemáticos; constatar as dificuldades encontradas pelos alunos
surdos durante as aulas de matemática na concepção dos professores intérpretes e reconhecer
a relação existente entre a professora da turma e a professora intérprete no planejamento e na
execução das aulas de matemática.
Nele, busca-se compreender toda a mudança que a inclusão dos surdos causou na rotina da
sala de aula, tanto para o professor, para a escola e também a um novo profissional que está
inserido nela: o interprete. Busca-se também, conhecer um pouco mais sobre esse
profissional, suas funções e habilidades.
Discutir estas questões é relevante, pois trata-se de um assunto atual, que vem sendo fonte
de muitos debates científicos e populares.
Esse trabalho está dividido em quatro sessões, na primeira será tratado sobre história da
educação do surdo, no decorrer dos anos. Na segunda seção serão abordadas as metodologias
de ensino para os surdos, que surgiram ao longo da história, dando ênfase a atual metodologia
utilizada pelos professores. Na terceira seção tratará da integração/inclusão dos surdos nas
escolas de ensino regular, de nosso país. Na quarta sessão do trabalho, será tratado da
pesquisa feita com intérpretes de LIBRAS, analisando suas principais dificuldades na sua
função de interpretar.
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2 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SURDO
Ao longo dos anos percebemos que os surdos enfrentaram muitas dificuldades de
integração na sociedade e em sua educação. “Os surdos sempre foram, historicamente,
estigmatizados, considerados de menor valor social. Afinal, faltava-lhes a característica
eminentemente humana: a linguagem (oral, bem entendido) e suas virtudes cognitivas”
(SANTANA; BERGAMO, 2005, p.568). Excluídos da sociedade ouvinte, por serem vistos
como pessoas inferiores durante muito tempo, permanecem até hoje enfrentando muito
preconceito, sendo vistos como deficientes que não possuem capacidade de aprender.
O primeiro registro sobre surdos aconteceu 100 anos depois de Cristo, quando o
Imperador César Augusto colocou e proclamou os primeiros direitos dos surdos, isto porque
possuía um neto surdo, dessa forma os surdos passaram a ter direito de pintar, desenhar, mas
não podiam estudar. Segundo Lacerda (2008), no século XIX o padre Abad de L”Epée fundou
a primeira escola pública para os surdos em Paris. Ao observar que os surdos se
comunicavam, L”Epée teve a idéia de oficializar e divulgar esta prática, porém a comunidade
surda não gostou dessa atitude considerando-o um traidor, pois ele se apresentou como o
inventor da língua de sinais. Apesar do mal entendido a língua de sinais deu a oportunidade
aos surdos de conhecerem a língua e a cultura francesa
Ainda no século XIX, Gallaudett, nos Estados Unidos, defendeu a língua de sinais e
fundou a única universidade para surdos até hoje. O médico francês Ittard, concluiu em seus
estudos que a língua que deveria ser usada na educação dos surdos, é a língua de sinais, pois
com a oralização os surdos não atribuíam significado as palavras pronunciadas.1
Em 1880, em Milão, na Itália, houve um congresso onde os participantes eram ouvintes, e
esses decidiram que na educação dos surdos seria permitido somente o uso da fala (linguagem
oral) e os professores dos surdos deveriam ser ouvintes. Como diz Lacerda (1998, p. 4), “As
decisões tomadas no Congresso de Milão levaram a que a linguagem gestual fosse
praticamente banida como forma de comunicação a ser utilizada por pessoas surdas no
trabalho educacional”. A partir desse congresso os surdos não poderiam mais utilizar a língua
de sinais para se comunicar e nem para construir seu conhecimento.
1Informações obtida na apostila referente ao Curso de Libras, Nível básico, elaborado por Jaqueline Boldo e
Karina Ferrasso e disponibilizada no Curso oferecido pela APADA ( Associação de Pais e Amigos dos
Deficientes Auditivos) de Erechim 2002.
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Com a decisão desse congresso, a educação dos surdos retrocedeu em muitos aspectos.
Eles perderam o direito de utilizar sua língua natural para assim participarem da vida em
sociedade, de forma supostamente igualitária com os ouvintes, no entanto os surdos
continuaram usando a língua de sinais, escondidos ou em associações, afinal era a sua
maneira de comunicação. Eles não desistiram de seus ideais, seus sonhos e seus direitos como
seres humanos. Porém, nem todas as famílias acreditavam no potencial de seus filhos, a
maioria não lhes dava nem o direito de adquirir conhecimento.
Apenas as famílias economicamente privilegiadas contratavam profissionais para educar
seus filhos e, a primeira forma de educação era o oralismo, ou seja, era uma tentativa de
tornar o surdo um “ouvinte”. Com o oralismo os surdos eram submetidos a rigorosos treinos
fonéticos, onde o esforço por parte do surdo era enorme e os resultados em curto prazo eram
insignificantes. Na maioria das vezes, os surdos só conseguiam oralizar pequenas palavras,
depois de meses, e até anos, dependendo da palavra. Mesmo conseguindo pronunciar as
palavras, muitas vezes elas não possuíam significado algum para o surdo, ele simplesmente
repetia o movimento da boca que lhe era ensinado.2
Somente puderam voltar a usar a língua de sinais publicamente, a partir 1960, apesar da
metodologia dominante na época ser a oralista. Em 1984, a UNESCO declarou que a língua
de sinais deveria ser reconhecida como um sistema lingüístico e deveria merecer o mesmo
status que os outros sistemas lingüísticos. No Brasil, as comunidades surdas se uniram e
fundaram a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), que ajudou
a oficializar a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), na lei federal 10.436 de 24 de abril de
2002.3
Anos depois começaram a ser realizadas várias pesquisas e estudos sobre a língua de
sinais, o que permitiu que ela passasse a ser a primeira língua dos surdos, no entanto nem
todos os surdos têm acesso à língua de sinais nos primeiros anos de vida, o que acarreta
problemas de aprendizagem. O surdo, de modo geral, afirma Godfeld (1997) não possui
nenhum problema de aprendizagem genético, porém muitas vezes apresenta dificuldades para
compreender os conteúdos transmitidos na sala de aula. Isso acontece porque enquanto um
bebê ouvinte está em constante aprendizagem através da língua oral, o surdo que não tem
2 Informações obtida na apostila referente ao Curso de Libras, Nível básico, elaborado por Jaqueline Boldo e Karina Ferrasso e disponibilizada no Curso oferecido pela APADA ( Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos) de Erechim 2002. 3 Informações obtidas em <http:/www.feneis.com.br>. Acesso em 03/03/2009
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acesso à língua de sinais, e dessa forma bloqueia sua aprendizagem, nesse período tão
importante para o desenvolvimento da criança.
Os surdos muitas vezes não têm acesso a comunidades surdas, alguns convivem somente
na comunidade de ouvintes que não conhecem sua língua, dificultando a comunicação e a
troca de conhecimento. O contato com a comunidade surda, contribui para o conhecimento
formal e informal dos surdos. É nas comunidades que os surdos sentem-se a vontade para tirar
dúvidas, ampliar seu conhecimento ou simplesmente sentir-se igual a alguém. Como afirma
Goldfeld (1997, p.50), “[...] indivíduos que são privados de compartilhar informações mais
obvias de uma comunidade e, sem um instrumento lingüístico acessível, sofrem enormes
dificuldades na constituição de sua própria consciência”.
Ao analisar a história, percebemos que os surdos foram muito descriminados e privados
em vários aspectos, entre eles, o de ir à escola. Atualmente existem novas propostas
pedagógicas para a educação de surdos, com o objetivo de incluí-los na sociedade. Estão
tendo acesso à escolas e ao mercado de trabalho, porém ainda existe muita discriminação por
parte dos ouvintes, fazendo-se necessário aceitar o diferente e eliminar o preconceito.
2.1 AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM PESSOAS SURDAS
Nossa cultura é baseada na normalização, Klein (2005), ou seja, a sociedade
inconscientemente determina um modelo a ser seguido, nesse caso, de um ser humano. Ao se
deparar com uma criança surda busca-se torná-la ouvinte, normalizá-la, algo que muitas vezes
é impossível. Na busca de soluções para um filho surdo por este caminho, muitos pais perdem
um tempo precioso da aprendizagem dos mesmos.
A partir do nascimento as crianças estão em constante aprendizado, é nessa fase que elas
começam a adquirir a linguagem. Segundo Quadros (1997), até os 14 meses o bebê ouvinte e
o surdo balbuciam do mesmo modo, a partir dessa idade, o bebê ouvinte começa aprender a
língua oral e o bebê surdo pode aprender a língua de sinais, desde que estimulado.
Muitas famílias de surdos não se interessam pela língua de sinais, a comunicação entre
eles se restringe a leitura labial, a oralização e a gestos próprios, o que gera muitas falhas de
comunicação. As crianças surdas têm tido acesso a língua de sinais brasileira tardiamente,
pois as famílias, como referimos, e as escolas, não oportunizam o acesso à língua de sinais e
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nem o encontro da criança surda com o adulto surdo. Essa perda de tempo pode deixar sequê-
las graves em sua formação.
A preocupação maior, segundo Quadros (1997), está com as crianças surdas filhas de pais
ouvintes, pois a língua de sinais não é natural nessas famílias. As crianças surdas, filhas de
pais surdos, já nascem em um ambiente em que a língua de sinais é natural, dessa forma a
aquisição da linguagem de sinais ocorre normalmente. Os estudos comprovam que nessas
condições o desenvolvimento da criança surda se aproxima de desenvolvimento de uma
criança ouvinte.
Ciccone (1990), demonstra preocupação com as crianças surdas que não terão a língua de
sinais como primeira língua. Refere a existência de propostas em que defendem a ideia de
tirar os filhos surdos de seu ambiente familiar colocando-os em abrigos onde possam conviver
com adultos surdos. Neste caso, seria negado à criança o direito de conviver com seus pais,
prejudicando sua formação como pessoa.
É necessário que a criança surda, filha de pais ouvintes, seja criada por sua família, porém
esta criança deve estar em contato permanente com adultos surdos para que possa ter
referências e principalmente, adquirir a língua de sinais.
É muito importante para a criança surda adquirir a língua de sinais como a língua materna,
pois dessa forma estará tendo a oportunidade de desenvolver seus potenciais da mesma forma
que as crianças ouvintes.
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3 METODOLOGIAS DE ENSINO PARA OS SURDOS
A maioria dos surdos chegam a escola com diversas lacunas em sua aprendizagem. O fato
de as famílias e a comunidade em geral, não usarem a mesma linguagem para se comunicar,
contribui significativamente para isto. Os profissionais envolvidos com a educação de surdos
devem, não somente educá-los e ensiná-los, mas também inseri-los na comunidade escolar.
Para tanto muitos professores pesquisam, debatem sobre qual a melhor metodologia a ser
utilizada na educação dos surdos. Dentre as metodologias específicas de educação dos surdos,
destacam-se três correntes: o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo.
3.1 ORALISMO
O oralismo é defendido por muitos ouvintes que entendem que a melhor maneira do
surdo ser incluído na sociedade é utilizando a mesma língua dos ouvintes. Esta metodologia
de ensino teve origem no congresso de Milão em 1880, se estendendo até hoje em alguns
países, (LACERDA, 2008).
Dentro desse método são aplicadas algumas técnicas, dentre elas o treinamento auditivo,
que consiste em estimular o surdo para reconhecer e discriminar ruídos, sons ambientais e de
fala (DORZIAT, 2008). Outra técnica é o desenvolvimento da fala, onde os surdos praticam
exercícios fonodiólogos, para aprenderem a pronunciar as palavras. Existe também a técnica
de leitura labial, onde os surdos treinam para identificar palavras faladas através da
decodificação dos movimentos orais do emissor. O oralismo defende o implante de próteses
individuais, que ampliam os sons e que aproveitariam todos os resquícios de audição dos
surdos, até mesmo dos surdos profundo. No entanto o uso de próteses não garante que o surdo
voltará ou passará a ouvir, pois nem todos os surdos se adaptam a ela, pois as próteses trazem
desconforto e poucos resultados.
O oralismo é defendido por Vygotsky (1982, apud DORZIAT, 2008) como meta central
para o ensino dos surdos, embora admita o uso da mímica fora de escola. Ele acreditava que a
linguagem gestual seria descartada pelos surdos. Apesar de ser favorável ao oralismo, ele
critica alguns métodos de aquisição da fala, por serem mecânicos e penosos para as crianças.
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Essa corrente de ensino não é defendida pelos professores que trabalham com os surdos,
pois é um trabalho lento, que exige um grande esforço e gera poucos resultados. Muitas vezes
o surdo sabe pronunciar a palavra, mas não sabe seu significado, (DORZIAT, 2008).
3.2 COMUNICAÇÃO TOTAL
Com o passar dos anos, a língua de sinais passa a ser mais divulgada e surgem novos
estudos sobre a educação dos surdos. Com isso surge uma nova metodologia para a educação
dos surdos: a comunicação total. Os defensores dessa metodologia acreditam que ela é útil por
utilizar concomitantemente a língua de sinais, própria das comunidades surdas, com língua
oral, própria da comunidade ouvinte. Dessa forma, o surdo teria contato com as duas línguas
podendo se comunicar com ambas comunidades. Facilitaria principalmente a comunicação
entre os surdos e ouvintes tanto no dia-a-dia, como na escola, pois a maioria dos professores
de surdos é ouvinte (DORZIAT, 2008).
A comunicação total é uma metodologia que possui uma maneira própria de entender o
surdo, não o considera um deficiente que precisa de cuidados médicos, mas sim entende o
surdo como uma pessoa e a surdez como uma marca. Essa filosofia não foi muito esclarecida
e alguns professores, em diferentes lugares, começaram a pô-la em prática de modo
equivocado, sendo aceitas todas as formas de comunicação. Conforme Quadros (1996), nessa
modalidade, o importante é se comunicar, não importando o modo como se dá essa
comunicação.
Os adeptos dessa corrente de ensino, a consideravam uma forma de promover a
socialização do surdo, mesmo percebendo a dificuldade de adquirir a língua oral. Nessa
proposta eram utilizados aparelhos de amplificação sonora e trabalho de fala. As experiências
mais recentes sobre a comunicação total, no Brasil, têm sido chamadas de português
sinalizado, onde se pensa na língua portuguesa para transpassá-la para a LIBRAS (DORZIAT,
2008)
Nessa sistemática o surdo não se sente familiarizado, pois a sua língua é considerada
secundária e não tem a possibilidade de se comunicar unicamente com a sua linguagem, desse
modo essa metodologia foi aos poucos sendo extinta das escolas por não trazer benefícios aos
surdos.
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3.3 BILINGUISMO
O bilinguismo surge como uma tentativa de romper o paradigma de que o surdo é uma
pessoa doente que precisa de cuidados médicos permanentemente. A partir do bilinguismo os
surdos passam a serem considerados pessoas comuns, que se diferenciam dos ouvintes por
usarem uma língua diferente. Quadros (2005), afirma que o bilinguismo proporciona uma
visão social, cultural e política, pois os surdos bilíngues tem maior facilidade de se exporem
na comunidade surda e também na ouvinte.
O bilinguismo, segundo Quadros (2005), é o direito de uma pessoa utilizar a sua língua
materna e a língua oficial de seu país. No caso dos surdos, o bilinguismo propõe o uso da
língua de sinais e da língua oral. A língua de sinais como a primeira língua (L1), e a oral
como a segunda língua (L2), em sua modalidade escrita e, quando possível, falada. Eles têm o
direito de se comunicar facilmente, não há a necessidade de se submeterem a humilhantes
exercícios fonodiólogos, que só darão resultados a longo prazo, enquanto que a língua de
sinais flui facilmente e gera resultados de comunicação imediatos.
Apesar de o bilinguismo representar às comunidades surdas uma nova forma de educação
e de acesso a informações, existem diferentes experiências de educação bilíngue. Algumas se
desviam da proposta original, e utilizam-se da língua de sinais para unicamente ensinar a
língua oral.
De acordo com Quadros (1997), hoje existem duas formas de bilinguismo na educação
dos surdos. Numa delas o ensino da segunda língua (oral), é feito quase que
concomitantemente com a primeira língua; já na outra, o ensino da segunda língua é feito
após o aluno dominar a primeira língua (língua de sinais). O processo em que a L2 e a L1 são
ensinadas quase que concomitantemente, é muito questionado por estudiosos da área, afinal, a
família dos surdos deveria então utilizar as duas linguagens paralelamente. Sendo assim, esse
tipo de bilinguismo para as crianças surdas deve atender à origem das duas línguas. Ao se
tratar de bilinguismo deve-se conhecer o seu real significado para evitar equívocos:
Quanto às diferenciações dos tipos de bilinguismo, deve-se citar algumas observações por Felipe (1989). Ele salienta a diferença entre bilinguismo e diglossia. O bilinguismo envolve a competência e o desempenho em duas línguas, podendo ser individual ou grupal. Diglossia envolve uma situação linguística em que as duas línguas estão em situação de complementaridade, isto é, uma língua é usada em determinada ocasiões em que a outra não é usada (QUADROS, 1997, p.31)
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Dessa forma, a língua de sinais e a língua oral não estão em situação de
complementaridade, pois são duas línguas distintas. A língua de sinais é a língua materna dos
surdos, assim como a oral é dos ouvintes. Quando se discute propostas bilíngues, não se está
negando, em nenhum momento, a língua oral. Ela, sem dúvida, é muito importante para
qualquer pessoa. No caso dos surdos, ela é utilizada, pela maioria somente na modalidade
escrita, pois a oralização requer muitos sacrifícios e resultados a longo prazo (QUADROS,
1997).
O Brasil, assim como outros países, se identifica como um país monolíngue. Existe em
nosso país a política de subtração lingüística, ou seja, busca-se uma única língua que possa ser
falada por todos. Esquecem que há uma diversidade cultural muito grande, e que cada cultura
tem o direito de se comunicar com uma linguagem própria. Com os surdos acontece o mesmo
processo, como a maioria não sabe falar o português, em se tratando de surdos brasileiros, são
excluídos da sociedade. Muitas famílias de surdos não se interessam pela língua de sinais, a
comunicação entre eles é restrita a leitura labiais, a oralização e gestos próprios, o que gera
muitas falhas de comunicação, (QUADROS, 2005).
As propostas bilíngües brasileiras estão estruturadas com o objetivo de garantir o
português como língua de acesso ao conhecimento. Conforme Quadros (2005), o português
ainda se mantém predominante sobre a língua de sinais, na educação dos surdos. Estruturadas
dessa forma o bilingüismo defendido pelos ouvintes não é o mesmo defendido pelos surdos,
muitos ouvintes acreditam que a língua de sinais serve apenas para ensinar o português aos
surdos. Os surdos, por sua vez, defendem o bilingüismo, sendo a língua de sinais a L1 e o
português como a L2, e sendo assim a educação dos surdos deve ser pensada dessa forma. Os
conteúdos devem ser transmitidos sempre utilizando a L1 (língua de sinais), para depois
serem comparados/ensinados na L2. Deve se levar em consideração que os surdos possuem
memória visual-espacial, o que facilita seu aprendizado.
De acordo com Karnopp (2005), o surdo está exposto à língua oral, como a maioria deles
não consegue se comunicar através da língua oral, então utilizam a língua de sinais que é a
sua língua materna e a escrita da língua oral. Dessa forma se torna imprescindível que o surdo
domine a língua oral na modalidade escrita, pois assim poderá se comunicar tanto na
comunidade dos ouvintes, quanto na comunidade surda.
Sem o uso da língua de sinais os surdos ficam impossibilitados de interagir na sociedade,
na comunidade em que vivem. O bilingüismo pensado para o surdo precisa levar em
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consideração o social, a cultura e a política, já que o surdo precisa saber dessas questões para
que assim, possa entender a cultura surda e assumir sua identidade surda.
Os surdos buscam através da língua a constituição de subjetividade com identidade surda em que o reconhecimento da própria imagem acontece através das relações sociais entre surdos, determinando a significação do próprio eu. (QUADROS, 2005, p. 31)
Os ouvintes, por serem usuários da língua portuguesa, esquecem que, para os surdos,
essa não é sua linguagem natural. A língua dos surdos deve ser visual-espacial e não oral-
auditiva, como é o caso dos ouvintes. Para os surdos a LIBRAS flui naturalmente, não requer
sacrifícios, é essa clareza que se deve ter ao trabalhar em escolas regulares com os surdos.
Eles têm o direito de usar a sua língua e serem respeitados por esse ato. Como já
mencionamos, os surdos têm uma cultura diferente dos ouvintes, que deve ser respeitada e
compreendida pelos mesmos.
Alguns países permitem que o surdo utilize a língua de sinais, após terem alcançado
sucesso na oralização (FERNANDES; CORREIA, 2005). No Brasil, não é diferente, muitas
escolas possuem uma proposta de educação bilíngue para os surdos, porém ao analisar as
atividades desenvolvidas em sala de aula, percebemos que há uma certa confusão sobre o
bilinguismo. Existe um certo preconceito sobre a língua de sinais por parte de alguns
professores ouvintes, pois a formação desses profissionais foi baseada em uma língua oral,
que podia ser escrita. Ao se deparar com outra realidade em sala de aula, busca-se mudar o
aluno e não o método de ensino. O professor muitas vezes acredita ser mais fácil ensinar
através do português (escrito e falado) do que utilizando a LIBRAS.
Percebe-se que nas escolas inclusivas, não basta ensinar conteúdos didáticos para o surdo,
deve-se também conhecer sua cultura e suas necessidades educacionais, buscando para isso a
língua de sinais sempre como L1, além de metodologias de ensino adequadas. O bilingüismo
é a única maneira de disponibilizar aos surdos instrumentos para que possam interagir no
meio em que vivem. “Uma proposta educacional, além de ser bilíngue, deve ser bicultural
para permitir o acesso rápido da criança surda à comunidade ouvinte e para fazer com que ela
se reconheça como parte de uma comunidade surda. (QUADROS, 1997, p.28)”.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a língua de sinais é uma língua completa
que possui estrutura gramatical própria em seus níveis fonológicos, morfológicos, sintático ou
semântico, além de seus aspectos pragmáticos. O ensino de português para os surdos, deve ser
ensinado do mesmo modo do ensino de uma língua estrangeira, ou seja, em primeiro lugar
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deve ser proporcionadas experiências linguísticas na língua de sinais e depois passá-las para o
português.
Vygotski (1991, apud DORZIAT, 2008), acreditava que se uma criança com alguma
necessidade especial atingesse o mesmo nível de desenvolvimento de uma criança “normal”,
então essa criança atingiu por um caminho diferente e os educadores devem estar cientes dos
caminhos que devem seguir para que a criança surda realize sua aprendizagem. O bilinguismo
é, atualmente, o melhor caminho que os educadores podem seguir na educação de seus alunos
surdos.
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4 INTEGRAÇÃO/INCLUSÃO DOS SURDOS
A atual legislação sobre a educação brasileira LDB 9394/96, prevê a integração/inclusão
dos alunos com alguma necessidade especial nas escolas de ensino regular, sendo assim o
surdo também deve ser incluído nas escolas de ouvintes. (BRASIL, 2001). O grande problema
dessa legislação é que as escolas não possuem estrutura física e nem profissional para incluir
esses alunos.
Devido à falta de professores capacitados para trabalhar com os surdos, esses muitas vezes
saem das escolas com grandes lacunas de aprendizagem. “Pode-se dizer que, nesses casos,
tem-se a escola como criadora das dificuldades de aprendizagem dos alunos surdos e do
consequente fracasso escolar.” (MACHADO, 2006, p.61). Nesta confusão sobre legislação e
aplicabilidade da lei, os alunos acabam sendo prejudicados.
O quadro educacional brasileiro mostra que muitos são os excluídos, mas, dentre estes, os
portadores de necessidades especiais são duplamente excluídos, por muitas vezes não
conseguirem atingir os níveis de aprendizagens exigidos na série escolar e por possuírem
características distintas dos demais alunos, considerados “normais”. Diante dessa situação,
muitos profissionais da educação, tentam normalizar a educação e quando algum aluno não
segue as regras de normalização existe a tentativa de excluí-lo do processo. Essa atitude anti-
ética traz resultados negativos para a educação e também para a vida pessoal do aluno.
Os professores devem ter consciência que o fracasso do aluno não esta somente no aluno,
mas também no processo educacional em que está incluído. O sistema educacional não tem
como único objetivo transmitir conhecimento, mas sim preparar os alunos para viverem em
uma sociedade que exige deles diversos tipos de habilidades. A forma como se dá o processo
educativo de um aluno, ouvinte ou surdo, é decisivo para sua inserção na sociedade. Ao
acabar os estudos, os alunos, além do conhecimento acadêmico, devem ter autoconfiança,
espírito crítico dentro de seu grupo social e se sobressair no mesmo. Atividades em grupos,
onde haja a interação entre os alunos, ajudam na aquisição dessas habilidades.
Os professores devem estar em constante aprendizado para que assim possam ensinar
conteúdos de modo claro, despertando o interesse dos alunos pelas aulas. Muitos dizem
aplicar uma proposta bilíngüe, mas o que acontece na verdade não é bilinguismo, mas sim
uma mistura de teorias criadas ao longo dos anos.
No processo de integração/inclusão nossas escolas ainda estão no primeiro passo, o de
integrar os alunos. Para que haja uma real inclusão um longo caminho ainda deve ser
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percorrido, pois atualmente a integração dos surdos em escolas de ensino regular está longe de
ser reconhecida como inclusão. Existem muitas falhas no ensino voltado para os surdos,
principalmente sobre sua língua: a língua de sinais.
A especificidade lingüística do surdo faz de sua inserção nos meios comuns de ensino, nos quais ele irá partilhar da língua utilizada, uma situação muito complexa e diferente daquela que poderá ser vivenciada pelos alunos com outras “necessidades especiais”, como os cegos, os deficientes mentais, os deficientes físicos, etc (MACHADO, 2006, p.46 )
Dessa forma, o primeiro passo para a integração/inclusão dos surdos é reconhecer a
língua de sinais como L1. Como já referimos é imprescindível também, conhecer a cultura
surda e respeitá-la. O respeito às diferenças existentes na sociedade é um grande obstáculo
que deve ser superado. Quando a diferença do surdo, ou seja, a falta de audição, for
compreendida pela sociedade, o surdo será incluído na escola e na sociedade.
Na inclusão os surdos devem se sentir livres para utilizarem sua língua materna, e os
profissionais que trabalham com eles também devem abraçar essa causa. Embora a língua de
sinais devesse estar presente no currículo escolar, no Brasil ainda não se conseguiu adaptar o
currículo escolar de acordo com as necessidades dos surdos. A Suécia é um país que tem
língua de sinais no currículo, e mostra bons resultados com essa iniciativa.
Numa escola onde os surdos estão integrados, percebe-se o interesse dos colegas ouvintes
em conhecer a língua de sinais, para assim se comunicar com os colegas. No entanto não
possuem a oportunidade de conhecer essa língua, e ao tentarem fazê-lo durante a aula, são
reprimidos pela professora por não participarem e/ou não se concentrarem na explicação. Se a
língua de sinais for divulgada, transmitida no espaço escolar e também fora dele, maior será o
número de pessoas com que os surdos poderão se comunicar.
Outra questão muito debatida na educação dos surdos, é a contratação de professores
surdos para trabalharem com eles, uma vez que o profissional surdo contribui para seu
aprendizado. Segundo Lopes (2007), esse profissional não deve ser tratado como um modelo,
mas sim como uma referência linguística, com o qual o aluno pode tirar suas dúvidas sobre a
língua de sinais (LS). Tendo contato com o professor surdo, os alunos surdos podem sentir
uma relação de igualdade com seu professor e assim se dedicar mais aos estudos. Infelizmente
existe escassez desses profissionais, pois muitos surdos não prosseguem seus estudos devido a
falta de estrutura adequada. A falta de intérpretes nas escolas, principalmente em municípios
pequenos, é um dos motivos do abandono escolar do aluno surdo.
19
Ao incluir os alunos surdos em escolas regulares, a comunidade escolar deve estar ciente
dessas diferenças e se adaptar, para realmente incluí-los. Aos professores cabe buscar
metodologias que facilitem a inclusão e a aprendizagem dos alunos surdos, pois como já
dissemos, não lhes basta estar integrados no sistema escolar regular, devem também usufruir
os mesmos direitos e deveres dos ouvintes.
É função da escola promover atividades que visem integrar o surdo na escola e também na
comunidade escolar, pois muitas pessoas não se aproximam dos surdos por não conhecerem
sua língua. Estas atividades devem se estender à família, pois em muitas é uma pessoa que
conhece a LS e se comunica com o surdo, as outras pessoas da família somente se comunicam
com gestos.
Ao se deparar com alunos surdos, muitos professores reduzem os conteúdos a serem
dados com a justificativa de que eles não conseguirão aprender. Para Santos (2005), esse
equívoco de alguns professores causa danos à aprendizagem do aluno, afinal a diferença entre
surdo e ouvinte, é o uso de uma língua diferente. Se o surdo está na escola é para aprender e
se desenvolver como os demais alunos, para tanto, ressaltamos que é dever da escola oferecer
condições para que isso ocorra.
No Brasil existe uma tribo de índios Urubus-kaapor, que utilizam a Língua de Sinais
Brasileiras Kaapor (LSKB). Essa língua é reconhecida nacionalmente, segundo Silva (2005).
Todos os membros da tribo conhecem e utilizam essa língua. Os ouvintes são bilíngues, pois
utilizam a LSKB e a língua indígena, e os surdos utilizam somente a língua de sinais.
Segundo Brito (1993 apud LOPES, 2007) não existe relação entre a LIBRAS e a LSKB,
porém é interessante o respeito que essa comunidade tem por seus integrantes surdos. Nossa
comunidade ouvinte branca, se julga muito mais culta do que os Urubus-kaapor, porém neste
aspecto percebemos que estamos longe de ser uma comunidade que respeite a diferença, que
entenda que ela não é o contrário de igualdade, mas sim sinônimo de diversidade. As
diferenças existem e devem ser respeitadas.
Não se pode deixar de comentar que existem muitos obstáculos que já foram vencidos.
A língua de sinais contribuiu muito para a melhoria de condições de vida dos surdos que hoje
têm acesso às escolas, à áreas de lazer e também ao mercado de trabalho. Podem exigir seus
direitos por escolas que, realmente o incluam e por vagas de trabalho que anteriormente só
eram dadas para os ouvintes. Têm direito de exigir intérpretes em todos os ambientes que
frequentarem.
20
De acordo com Lopes (2007), os intérpretes devem ter um conhecimento muito grande
tanto de língua de sinais, como a língua oral, pois ela deverá interpretar a conversa ou
discurso de uma língua para outra. Eles recebem as informações da língua fonte e devem fazer
escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo, sempre tendo o
cuidado de não fugir do contexto da língua fonte.
Pires e Nobre (2005) comentam que como o intérprete é ouvinte surge uma questão
polêmica, que o mesmo poderia estar transmitindo as informações de modo imperialista,
como ocorreu ao longo da história. Segundo Quadros (2005), o intérprete está encarregado
pela veracidade e fidelidade das informações. Para tanto foi criado o código de ética o qual os
intérpretes devem seguir, correndo o risco de punições caso não o sigam.
Conforme Quadros (2005), o trabalho do intérprete surgiu por voluntários, na medida em
que os surdos foram atingindo sua cidadania, foram, também qualificando os intérpretes. No
Brasil, eles surgiram na década de 80, mas só em 2002 foi criada uma lei que reconhece a
língua de sinais como língua oficial das comunidades surdas, a partir de então passa-se a
pensar nos intérpretes e em sua formação.
Como a grande maioria das pessoas não conhece a língua de sinais, o intérprete se torna
indispensável para a comunicação dos surdos com pessoas ouvintes. Os surdos têm direito a
intérprete em salas de aula, assim como na realização de provas de concursos, onde o
intérprete lhe traduz a prova do português para a LIBRAS. No entanto, muitos não buscam
seus direitos por não serem estimulados pela família. Quando a família e comunidade surda se
unirem para lutar por direitos iguais, teremos maior qualidade para a vida dos surdos.
21
5 A PESQUISA
A pesquisa tem como objetivo verificar dificuldades encontradas pelos intérpretes de
LIBRAS ao interpretar aulas de matemática, no município de Erechim/RS. Além disso, busca
identificar as metodologias utilizadas no ensino da matemática na interpretação dos conteúdos
matemáticos, as dificuldades encontradas pelos alunos surdos durante as aulas de matemática
na concepção dos professores intérpretes e identificar a relação existente entre a professora da
turma e a intérprete no planejamento e na execução das aulas de matemática.
Foram realizadas entrevistas com quatro intérpretes do município de Erechim/RS. O
critério de seleção utilizado foi entrevistar todas as intérpretes de LIBRAS da referida cidade,
pois seu número é reduzido. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada utilizando um
gravador. Para a coleta de dados, primeiramente foi agendado um horário com as professoras
para lhes entregar o Termo Consentimento Livre e Esclarecido. Após foi agendada no mês de
março de 2009, a entrevista com as intérpretes, num horário que elas estavam disponíveis,
para a realização da mesma. Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas para
análise.
5.1 DESCRIÇÃO E ANALISE DOS DADOS
Nesta seção descrevemos os dados obtidos nas entrevistas realizadas com as intérpretes no
município de Erechim/RS.
Três das entrevistadas atuam nas quatro séries finais do Ensino Fundamental e, dentre
estas, uma também atua no 1ºano do Ensino Médio. Uma não está atuando nesse ano, porém
já trabalhou, alguns anos, como intérprete em Erechim e em algumas escolas fora da cidade;
neste ano atua como professora dos surdos da 2º série do Ensino Fundamental, nesta série
estudam somente alunos surdos.
Devido à escassez de profissionais nessa área, uma das intérpretes atua em duas séries
concomitantemente, 7º e 8º. Em cada série há um aluno surdo e a intérprete se reveza entre as
duas turmas de acordo com a disciplina a ser trabalhada. Enquanto isso, o professor, e o aluno
surdo, que estão sem intérpretes precisam, se entender sozinhos. Os professores que trabalham
com os surdos nessa escola, não têm conhecimento suficiente de LIBRAS, o que dificulta a
22
comunicação e consequentemente, a aprendizagem dos alunos. A maioria conhece algumas
palavras e conseguem se comunicar com os surdos, porém esse conhecimento não é suficiente
para a explicação de um conteúdo. A explicação fica ao encargo da intérprete e na ausência
dessa, a interpretação se restringe a gestos e leituras feitas pelos próprios surdos, no quadro ou
no livro didático.
Conforme Quadros (2004), quando os surdos não possuem intérpretes, ficam excluídos de
vários tipos de atividades: sociais, educacionais, culturais e políticas, não conseguem avançar
na educação e ficam desmotivados. Sem intérpretes os surdos não se fazem ouvir e ficam
excluídos da comunidade ouvinte.
Para tentar amenizar essa situação, o governo, a pedido da comunidade surda, criou alguns
cursos de capacitação para intérpretes em LIBRAS, além de criar uma lei que torna
obrigatória a disciplina de LIBRAS no currículo dos cursos de formação de professores, que
além de conhecer a língua, conhecerão também a cultura surda e sua história. Dessa forma,
segundo Lopes (2007) se ampliará o debate sobre surdez, surdos e educação. O ideal seria que
essa disciplina estivesse presente em todos os cursos de formação, não somente na área da
educação, afinal os surdos têm o direito de frequentar todos os lugares que os ouvintes
frequentam. Apesar dessa disciplina não estar em todos os cursos é o primeiro passo a ser
dado, pois dessa forma serão esperadas melhoras significativas na sua educação.
As professoras intérpretes entrevistadas trabalham com todas as disciplinas da série que
atuam. Elas precisam ter um conhecimento geral as disciplinas, para facilitar a interpretação,
porém o planejamento e explicação da aula é feito pelo professor da turma e não pela
intérprete. A intérprete só irá transmitir ao aluno o que a professora falou na língua oral.
5.1.1 Formação profissional
Atualmente, o intérprete que atua em sala de aula precisa ter, além do pleno domínio das
duas línguas envolvidas, formação específica para atuar como intérprete. De acordo com
Quadros (2004), ele deve ter formação na área da educação e também formação específica de
intérprete.
Das quatro intérpretes entrevistadas, duas têm formação em Pedagogia, duas têm
formação em Educação Especial com habilitação em Educação de Surdos. Todas têm
formação específica de intérprete de LIBRAS, o que é o exigido por lei. Dessa forma
23
podemos concluir que todas as intérpretes que atuam no município de Erechim possuem
qualificação para atuarem como tal, apesar de cursos específicos de formação de intérpretes,
não existirem no município de Erechim. Esses cursos normalmente são realizados em cidades
maiores ou nas capitais, pela concentração de surdos ser maior, além de existirem grupos de
pessoas surdas que se organizam e buscam seus direitos.
Em 1995, os surdos encaminharam à Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos (FENEIS), um pedido para serem criados cursos de capacitação para intérpretes de
Língua de Sinais (LS), além de promover serviços de interpretação, o que facilita a
convivência dos surdos em sociedade. Isso mostra que a união dos surdos por melhoras em
sua escolarização e sua convivência é fundamental, afinal, através de grupos, associações ou
federações, os surdos podem se fazer ouvir. A qualificação das intérpretes que irão trabalhar
com os surdos é um fator imprescindível para o seu desenvolvimento.
É importante ressaltar, de acordo com Pires e Nobre (2005), que a função do intérprete
muitas vezes, é confundida, até pelos próprios intérpretes, com a de tradutor. Eles sustentam
que existe uma diferença entre interpretar e traduzir. Tradutor traduz textos escritos de uma
língua para outra e o intérprete traduz informações na língua oral. Sendo assim, o trabalho do
intérprete é muito maior que o do tradutor, pois o intérprete deve ter um conhecimento amplo
da língua fonte, para em instantes transmiti-la para a língua meta. Algumas expressões têm
mais do que uma interpretação, dependendo do contexto, dessa forma o intérprete deve
conhecer bem a cultura, história e costumes dos surdos que está prestando o serviço. Além
disso, o intérprete deve ter muito treino e conhecimento das duas línguas envolvidas e do
assunto a ser interpretado (CATFORD,1980 apud PIRES; NOBRE, 2005).
Segundo Pires e Nobre (2005), no passado os intérpretes eram pessoas que trabalhavam
com surdos ou então familiares, hoje se requer muito mais de um intérprete, é necessário
muito estudo e preparo metodológico. A experiência de um intérprete é muito importante,
pois tem um maior conhecimento da LS, sendo mais fácil de interpretar informações. Porém a
experiência deve ser conciliada com o constante aprofundamento nos estudos sobre os surdos,
além de estar atento as variações que a língua de sinais pode vir a apresentar.
A partir do comentário da intérprete I.3 percebemos que a educação dos surdos requer
uma boa formação dos profissionais que irão atuar com os mesmos. Ter conhecimento sobre
as metodologias que facilitam a compreensão dos surdos é um ponto fundamental,
principalmente para os professores, pois são eles os responsáveis pelo ensino e pela
24
aprendizagem destes sujeitos. O intérprete pode lhe dar dicas, sugestões, porém a aula será
planejada e desenvolvida pelo professor.
I.3 [...] Então eu tive que fazer um trabalho com a coordenação lá, com os
professores explicando que não é esse o objetivo, que eles podem dar aula do jeito
que ele quiser, como quiser, que eu só vou passar de uma forma que os surdos
podem entender. Mas existe uma resistência por falta de conhecimento. E também
a forma de avaliar o aluno, a gente percebeu que... eu expliquei como seria o
Português para a LIBRAS, que seria avaliado, em todas as disciplinas, que existe
uma diferença de estrutura gramatical da LIBRAS para o Português. Então o
desconhecimento deles, dessa forma avaliativa, deixa eles meio receosos, meio
ansiosos, porque eles não sabem como vão avaliar, não sabem se está certo ou
errado.
A I.3 também comenta sobre a preocupação dos professores em avaliar o aluno surdo.
Mesmo em uma proposta bilíngue os alunos surdos não têm total domínio sobre a língua
portuguesa, pois esta possui uma estrutura diferenciada da língua de sinais. Sendo assim, as
intérpretes precisam interpretar aos alunos o que está escrito no enunciado de algumas
questões, inclusive em provas ou trabalhos avaliativos. É fundamental que o professor tenha
conhecimento dessa necessidade do aluno surdo, e elabore questões de fácil entendimento, ou
seja, questões objetivas em seu enunciado.
A escrita do aluno surdo também é diferenciada, pois na LS não existe preposições, e por
esta razão ao escrever na língua portuguesa os surdos não utilizam preposições. Dessa forma o
professor deve estar ciente do modo de avaliar e elaborar atividades para o aluno surdo, e em
caso de dúvidas, deve ser orientado pelo intérprete.
Vale ressaltar que a intérprete pode ter diversos cursos, ser bem capacitada, mas ela por si
só não garante o sucesso da aula. A intérprete só irá transmitir ao aluno o que o professor está
falando, expondo. Sendo assim o professor também deve estar bem preparado para trabalhar
com alunos surdos, deve desenvolver suas aulas numa pedagogia de diversidade e respeito a
identidade e cultura surda.
25
5.1.2 Planejamento
As professoras intérpretes entrevistadas relatam não planejar as aulas de matemática
juntamente com os professores das disciplinas. Afirmam que uma das grandes dificuldades
encontradas no trabalho é saber, com antecedência, quais conteúdos irão ser trabalhados.
I.2: Não. Não, raramente os professores perguntam, ou dão para a gente aquilo que
vai ser trabalhado em aula. A tradução é feita na hora.
A falta de planejamento conjunto ou de comunicação entre professores e intérprete
prejudica o trabalho, uma vez que existem algumas situações onde não há interpretações
idênticas entre a língua portuguesa e a língua de sinais. Pires & Nobre (2005) chamam a
atenção para o fato de que o intérprete, nesses casos, deve recorrer ao alfabeto datilológico4
para substituir a palavra que ainda não possui um sinal definido. É importante que o intérprete
mantenha as particularidades linguísticas das duas línguas. Conhecer o texto a ser
interpretado, aliado ao conhecimento das línguas a serem interpretadas, se torna
imprescindível na interpretação, pois esta deve seguir a estrutura de cada língua. Não se pode,
por exemplo, usar o português sinalizado, pois a LS possui uma estrutura linguística diferente
do Português, (RONAI, 1980 apud PIRES; NOBRE, 2005).
Daí a importância de além do conhecimento abrangente das duas línguas, o intérprete ter
conhecimento geral sobre todos os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula, para que
possa, em caso de dúvida, fazer previamente um estudo de vocabulário. A intérprete I.1 refere
este aspecto.
I.1: [...] O intérprete tem que ter um conhecimento geral de todos os conteúdos. É
importante ele sabe todos os conteúdos. Mas a grande dificuldade nas escolas de
inclusão é o intérprete saber antes, que conteúdo vai ser trabalhado. Se você tem
uma visão dos conteúdos daquela série, você sabe mais ou menos. Mas essa é uma
dificuldade que nós como intérpretes, enfrentamos nas escolas, de saber antes [...]
que tipo de conteúdo vai ser trabalhado naquela aula, para a gente ter uma visão do
que vai interpretar para eles. Mas planejar não é nossa função, planejamento é
4 Alfabeto datilológico é o uso das mãos para soletrar uma palavra
26
função do professor, nós somos somente intérpretes, na sala de aula eu atuo como
intérprete, eu não sou professora, eu sou a ponte que une o surdo e o professor,
somente.
Algumas professoras referem a dificuldade de obterem os conteúdos antecipadamente,
embora, através do diálogo se torne possível em alguns momentos.
I. 3: É a minha primeira experiência como intérprete em sala de aula, assim pro
ano inteiro. Então, assim os professores ainda não têm o hábito de repassar o
conteúdo antecipadamente para que a gente saiba. Mas como eu já tinha a
experiência das colegas, elas me avisaram que o ideal seria conversar com os
professores. Então alguns eu estou conseguindo que me tragam antecipadamente o
conteúdo, ou através do livro didático, eles me avisam qual capítulo vão trabalhar,
aí eu tenho tempo de preparar, dar uma lida, estudo de vocabulário em casa.
O livro didático dessa forma serve de referencial para o intérprete, já que é difícil o
contato anterior com o planejamento do professor. Através dele, o intérprete terá como prever,
embora de forma limitada, o conteúdo que será trabalhado em sala de aula.
I. 4: É muito difícil a gente obter dos colegas, o conteúdo antecipadamente. O que
a gente faz é seguir uma sequência, quando segue o livro didático, que eu também
ganho um livro didático, então eu vou acompanhando os conteúdos. O correto
seria a cada texto, a cada atividade, a cada conteúdo receber anteriormente pra
podermos ver as dificuldades para depois então traduzir.
Percebemos que o planejamento conjunto, facilitaria o trabalho dos professores e dos
interpretes e também traria benefícios aos alunos.
5.1.3 Relação entre os professores das disciplinas e a professora intérprete
Independente da profissão que se atua, nem todas as pessoas gostam de serem observadas.
Apesar dos intérpretes deixarem claro que a função deles é interpretar o que o professor fala
para o aluno surdo, muitas professoras apresentam certa resistência.
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I. 3: Aqui na escola até que não há, assim, muita resistência porque eles já estão
acostumados, porque os surdos já estão incluídos aqui há bastante tempo. Mas na
outra escola que eu comecei a trabalhar, no primeiro dia a diretora falou... que teria
intérprete em sala de aula, um professor disse assim: “ Bah! Surdo em sala de
aula...impossível, eu não sei trabalhar com eles”. Daí a diretora falou “Não se
preocupe, vai ter uma intérprete.” Prof. “O que? Uma pessoa comigo na sala...”
Então assim, existe uma resistência, porque a ideia que eles tem é que o intérprete
vai lá para fiscalizar o trabalho deles, pra ver como é que ele está dando aula. E
também muitas vezes que o intérprete vai dar cola, vai passar os conteúdos, as
respostas pro surdos.[...]
Apesar de o professor ser o responsável pelo planejamento, o ato de interpretar é muito
complexo, o que requer muito preparo do profissional que buscar essa área, assim como, das
instituições que oferecerem esses cursos. Além do domínio de LIBRAS e conhecimentos
sobre a cultura surda, este preparo profissional inclui princípios éticos a serem seguidos. Estes
são:
a) confiabilidade (sigilo profissional);
b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias);
c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação);
d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a
informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). (QUADROS, 2004, p.28)
Ao respeitar os preceitos éticos, o intérprete estará respeitando o desenvolvimento dos
seus alunos e fortalecendo laços de confiança com os professores, que poderão sentir-se mais
seguros em sala de aula, pois terão a certeza de que o que estão falando na língua portuguesa
o intérprete estará repassando para os surdos, na língua de sinais.
O professor, muitas vezes, deve retomar o conteúdo para que o intérprete consiga passar
para o aluno surdo. A relação de coleguismo é fundamental, pois o objetivo do intérprete e do
professor deve ser o mesmo: fazer com que seus alunos entendam da melhor forma possível.
28
I. 4: Nós somos colegas, a nossa relação é de coleguismo como qualquer outro
professor. A gente está ai, na sala de aula, acompanha todos os professores. Tem
professores que são nossos amigos, têm outros que são apenas colegas, mas dentro
da tabela profissional, eu não posso interferir na aula do meu colega. O que eu
posso... Eu posso pedir que ele repita uma explicação, que ele retome o conteúdo
mas eu jamais posso interferir na aula dele.
Como referido pela I.3, as intérpretes que trabalham em uma única escola, em que a
inclusão dos surdos já acontece há mais tempo, também relatam que a sua convivência com os
professores dentro da sala de aula é normal, como realmente deve ser a relação entre
profissionais de educação.
I. 2: Eu nunca tive problema com professor nenhum, eu sempre me coloco a
disposição dos professores... pra dar orientações...de como eles deviam... colaborar
se a aula fosse de tal ou tal maneira. Me coloco a disposição no sentido de dar
esclarecimentos, de dar livros para eles, conhecerem a realidade dos alunos. A
relação que eu tenho com os professores é muito boa, eu penso dessa forma. Me
coloco a disposição, não me intrometo no trabalho deles, porque esse não é o meu
papel. Então tu da abertura para que os professores possam contar contigo, mas
assim, não existe nenhuma relação de conflito, nem nada... Os professores na sua
grande maioria, colaboram e compreendem a diferença, ou na metodologia ou na
avaliação das aulas. Da minha parte eu não vejo problema nenhum, de relação...
É através do diálogo e da convivência, entre intérprete e professor, que as dificuldades
são superadas e estratégias de ensino são estabelecidas para a melhor aprendizagem dos
surdos.
I. 1: Olha a relação é de amizade, a gente se relaciona muito bem. Eles conversam,
eles buscam saber se realmente ele está entendo, daquilo que está sendo explicado,
se o surdo está entendendo ou não, e se não estiver, a gente chama o professor, ele
explica... Eu nunca vi uma resistência de um professor de não explicar novamente
para eles. Nesse sentido a gente se dá muito bem.
29
Ao intérprete em sala de aula cabe desempenhar a sua função e respeitar a função do
professor e vice-versa. Como diz Quadros (2004), em sala de aula o professor é a autoridade
absoluta, é ele quem conduz o desenvolvimento da aula, o intérprete deve se manter neutro.
Os intérpretes e os professores devem ter um bom relacionamento para que assim facilite o
trabalho de ambos.
As delimitações das funções de professor e intérprete estão claras nas palavras da I.1 e I.2
I.1 [...] Então você tem que criar naquele momento, porque algumas palavras não
tem sinais, cria os sinais junto com eles, tem explica... Então às vezes se torna
difícil. Porque a explicação...não é que eu do a explicação pra eles, eu interpreto o
professor, quem dá explicação é o professor. O intérprete é só aquele que vai
passar aquilo que o professor está falando para a LIBRAS, para que se torne mais
fácil para os alunos. A explicação do mesmo conteúdo é do direito de professor. E
nós somos aquelas que vão facilita, ajuda para que ele compreenda através da
estrutura da LIBRAS esses conteúdos, mas seria muito bom se tivesse o visual. A
gente sabe que é uma dificuldade que enfrentamos com nossos colegas
professores[...]
I.2 [...] Mas o papel do intérprete é interpretar. Ele não é responsável pelo
andamento da aula, ele não é responsável pela metodologia da aula, isso é
responsabilidade do professor ou deveria ser responsabilidade do professor. O
papel do intérprete na sala de aula é fazer a tradução de uma língua pra outra,
mesmo que muitas vezes a gente percebe a dificuldade do aluno e tu colabora...
mas o papel do intérprete em sala de aula não é esse.
O professor precisa ter conhecimento de como pode conduzir a sua aula para que o
intérprete e aluno surdo tenham tempo de assimilar o que foi transmitido em aula. Afinal os
alunos surdos visualizam a aula da professora, olham para a intérprete, olham para as
anotações no quadro e analisam os materiais que a professora utilizou. Nesse processo eles
precisam mais tempo que os alunos ouvintes.
30
5.1.4 Estratégias metodológicas
Durante a entrevista as intérpretes foram questionadas sobre as estratégias que utilizam
para interpretar os conteúdos da Língua Portuguesa para LIBRAS. Em todas as respostas
percebemos a importância do professor da disciplina e o intérprete terem o mesmo objetivo.
Referem que a utilização de recursos visuais é muito importante para o aluno, mas que este
recurso nem sempre está acessível.
I. 1: A gente se aproveita muito do recurso visual que vem, que o professor traz.
Tem momento que não vem o recurso visual, [...] é umas das dificuldades que nós
encontramos, é complicado você explica, por exemplo, como você vai mostra o
caminho do alimento, o caminho que o alimento faz até o estômago se você não
tem um corpo humano para mostrar para ele.[...] Na matemática, eles aprendem
com mais facilidade, por exemplo, cálculos e expressão numéricas não têm muito
material visual, mas eles aprendem com facilidade. Mas tem outros conteúdos
como ângulos ou outros conteúdos que requerem um maior conhecimento, se
tivessem o visual seria melhor. Quanto mais visual para o aluno surdo melhor para
a aprendizagem dele, em qualquer disciplina.
I.3 E outra coisa é que os professores de todas as disciplinas, eles não usam muitos
recursos visuais, o que é muito importante para o surdo. As aulas tem que ser
preparadas com bastante recursos, pra que eles possam visualizar e entender o que
esta acontecendo. Às vezes não basta uma explicação em LIBRAS, tem que ter o
visual.
O material visual facilita aprendizagem dos alunos ouvintes e de forma especial aos
alunos surdos, pois possuem esse sentido mais desenvolvido. Os alunos surdos apresentam
facilidade na matemática, justamente por ser mais visual, porém, se o professor dispuser de
material visual durante as explicações dos demais conteúdos, o aluno surdo compreenderá
melhor.
31
Outros intérpretes relatam que muitas vezes retomam conteúdos anteriores, para facilitar o
entendimento do aluno, que possui lacunas em seu aprendizado.
I. 2: Bom, quando ele não compreende, ou falta pré-requisitos para esses alunos,
tem que fazer uma retomada, daquilo que a gente percebe que está faltando, ou
seja da tabuada ou algum processo anterior aquele conteúdo, que ele não tenha
entendido. Então tem que fazer um retrocesso, uma retomada pra pode dar
condições de ele compreende aquele conteúdo que está sendo trabalhado. Mas isso
é complicado porque eu não posso deixa de trabalha o que a professora está
trabalhando. Meu trabalho não é paralelo, eu simplesmente tenho que traduzi
aquilo que a professora está falando, então quando há momentos de uma certo
tempo, ou é solicitado pra professora algum tempo pra pode re-explica ou explica
os conteúdos anteriores pra pode dar condições de ele pode compreende o
conteúdo atual [...].
Como se percebe, o intérprete tem clareza de sua função, mas também sente falta de
recursos metodológicos. Silva (2005), comenta que muitos surdos ao concluírem a escola
básica, não dominam completamente a leitura e a escrita fluentemente e nem possuem
domínio dos conteúdos que deveriam ser pertinentes à sua escolarização. As escolas onde os
alunos estão incluídos, nem sempre estão preparadas para atender as necessidades dos surdos,
e acabam trabalhando de uma forma equivocada. O intérprete também deve ter uma boa
preparação acadêmica e estar ciente de seu papel na educação do surdo.
Questionados sobre as dificuldades que sentem ao interpretar do Português para a
LIBRAS e sobre quais estratégias utilizam os professores relatam:
I. 4:[...] É preciso ter um conhecimento bem profundo do conteúdo, sabe
bem...bastante certeza do que tu vai interpretar, a questão de verbos, ortografia,
gramática, então o professor tem que conhecer também os conteúdos de língua
portuguesa, o texto uma interpretação. Porque geralmente a gente conversa muito
com o professor de língua portuguesa, o que ele está pedindo em determinado
texto, pra poder colocar bem claro pro aluno, sermos bem objetivos pra eles
entenderem. Então acompanha o texto, primeiro se faz uma pré-leitura daquele
texto, porque quando ele pega o texto o que ele está vendo no texto, o que chama a
32
atenção dele, sobre o que pode ser aquele texto, o que leva uma referência daquele
texto e depois fazer a leitura. Geralmente se lê o texto, o aluno lê também, e depois
a intérprete traduz pro aluno o texto.
É de fundamental importância que o intérprete tenha um conhecimento amplo da Língua
Portuguesa e da língua de sinais, pois dessa forma terá mais segurança na interpretação,
conhecendo várias estratégias para melhorar a compreensão dos alunos surdos. Um problema
que a educação brasileira apresenta tanto com alunos ouvintes como surdos, é a falta do
habito da leitura.
O estudante brasileiro, assim como o povo brasileiro, lê muito pouco comparado com
outros países. Na maioria das vezes, os estudantes só lêem o que é pedido em sala de aula,
textos ou algum livro sobre o qual o aluno terá que realizar um trabalho. Em se tratando de
alunos surdos existe um empecilho maior, afinal eles devem fazer a leitura na sua segunda
língua, pois a língua de sinais apresenta poucos registros. Dessa forma, os alunos surdos
poderão apresentar dificuldades na escola por falta de um conhecimento mais amplo,
conforme relata a I.3:
I. 3: Português para LIBRAS... a maior dificuldade é a falta de conhecimento de
vocabulário dos alunos, tanto lá na 5ª série como no ensino médio, eles sabem o
que eles querem escrever, eles tem noção do conteúdo, eles entenderam. Mas na
hora da escrita do Português é difícil para eles, porque eles não tem a visualização
da palavra a todo instante, o ouvinte ele escuta a palavra, a todo momento, e o
surdo não, se ele não enxerga a palavra ele não memoriza. Então essa é a maior
dificuldade pra trabalhar, é a falta de vocabulário e a falta de leitura por parte dos
surdos. [...].
A I.3 comenta sobre as aulas de reforço fator muito importante para a aprendizagem
dos surdos. A educação dos surdos apresenta uma série de falhas, algumas já mencionadas
neste trabalho, sendo assim, há a necessidade do aluno participar de aulas de reforço fora do
horário da aula, seria um espaço em que ele poderia tirar suas dúvidas e ampliar seus
conhecimentos. No entanto, isso ainda não é possível pela falta de profissionais nessa área.
Para amenizar esses problemas, os professores devem rever suas metodologias para que assim
possam facilitar a aprendizagem dos alunos.
33
I.3 Então essa parte eu me programei esse ano pra trabalhar na APADA, no
reforço pedagógico, tanto no ensino médio quanto na 5ª série, atividade de química
a gente faz experiência, converso com a professora aqui, ela me dá a orientação de
coma fazer a prática da química lá. A matemática também eu vejo o conteúdo que
ela trabalha, a dificuldade que elas tiveram, e faço reforço lá também. E assim vai
indo, mas a falta de recursos visuais impede muito a compreensão dos conteúdos
pelos surdos.
O surdo, em sala de aula, deve ter os mesmos espaços de um aluno ouvinte, tem o direito
de expor suas ideias, onde a intérprete pode ajudá-lo. Dessa forma pode melhorar sua auto-
confiança e auto-estima.
Segundo Quadros (2004), tão importante quanto possibilitar que o aluno surdo interaja em
sala de aula, são importantes as questões de estrutura da escola. A sala de aula deve ser bem
iluminada, se o professor expuser um vídeo, os alunos surdos devem ter plena visualização. O
mesmo acontece com retroprojetor, pois são recursos que os professores podem utilizar como
estratégias, desde que aplicados de forma coerente com as necessidades dos alunos.
Existe uma vasta linha de possibilidades que o professor pode utilizar para realizar uma
aula de forma que facilite a compreensão dos alunos, mas para isso, o professor deve conhecer
as necessidades dos surdos e se dispor a ajudá-los. Tanto o intérprete, como o professor,
devem conhecer a sua clientela, pois podem atuar desde a educação infantil até ensino
superior. Eles devem conhecer as necessidades de cada faixa etária, para assim realizar um
bom trabalho.
5.1.5 Dificuldades de interpretar conteúdos matemáticos
Como já foi mencionado, nem todas as palavras da língua portuguesa tem um sinal
específico na Língua de Sinais, o que pode tornar confuso o entendimento e a compreensão do
aluno surdo. As intérpretes entrevistadas afirmaram criar sinais com os alunos e que a
matemática é uma das disciplinas mais fáceis de ser interpretada por ser mais “visual”.
34
I. 1: A gente sabe que a LIBRAS tem uma infinidade de sinais, mas nem todos os
conteúdos têm determinados sinais, então a gente cria alguns sinais com os surdos,
combinando com os surdos, e nesses sinais são convencionados só em sala de aula.
Mas com matemática já é mais fácil, porque a é matemática é totalmente visual,
você mostra os números no quadro e eles tão vendo, eles estão enxergando as
quantidades, eles estão vendo... Se a professora trás algum objeto, eles estão
enxergando. Então a matemática eles não encontram muita dificuldade porque é
muito visual. Até isso facilita muito pra intérprete, às vezes não precisa nem
interpreta, porque eles olham pro quadro e eles já entendem, às vezes somos mais
como o auxílio, naquele momento... Digamos, se é mais a questão do jogo de sinal,
e ai você tem que fazer o sinal do jogo, mas eles imediatamente já compreendem o
que o professor que transmiti só visualizando no quadro.
Referem que a dificuldade não é na interpretação, mas é do próprio aluno, que não domina
alguns conteúdos e tem dificuldades de raciocínio.
I. 2: A princípio acho que é uma das disciplinas mais fáceis de interpretar, porque
a matemática é exata, 2+2 são 4 em qualquer lugar. Então assim não vejo muita
dificuldade, a dificuldade que pode ocorrer não é da tradução, é do próprio aluno,
uma dificuldade de não sabe a tabuada, de não ter o raciocínio muito apurado, mas
a dificuldade na interpretação...não vejo nenhuma dificuldade.
Quando os surdos estão incluídos, os professores devem preparar suas aulas pensando
numa turma bilíngue, pois os ouvintes e principalmente os surdos, necessitam visualizar o que
a professora está falando. Outra questão que a professora deve levar em consideração, é a falta
de base dos alunos, afinal a matemática envolve relações com os diferentes conteúdos
trabalhados. Se o aluno não entendeu um conteúdo, é provável que ele terá dificuldade em
estabelecer relações com os demais.
O professor de matemática, assim como os de outras disciplinas, deve registrar tudo no
quadro, para que o aluno possa visualizar. Dessa forma, além de contribuir para a
compreensão do aluno surdo, o professor também facilita o trabalho da intérprete. O hábito de
35
expor um conteúdo somente falando, sem usar representações, pode dificultar o trabalho do
intérprete e a aprendizagem do aluno surdo.
I. 3: É que a matemática é muito raciocínio lógico, não tem muito o que explicar,
eles tem que olhar a explicação no quadro e entender. Só que a maioria dos
professores tem o hábito só de falar, e não fazer a expressão, o cálculo que eles
estão explicando no quadro. Então essa é uma dificuldade que a gente encontra,
então eu tenho solicitado junto a eles, para que eles passem tudo que eles
explicaram, no quadro, escrevam a explicação ao lado, porque fica mais fácil pra
LIBRAS. Mas o importante é que tenha a explicação no quadro, também pra que
eles possam copiar, ler e estudar em casa. Essa é a maior dificuldade.
A I.3 aborda outra questão fundamental para a aprendizagem dos surdos, o conhecimento
dos professores sobre as suas necessidades. Mesmo que a intérprete esteja presente, não tem
como ela passar uma expressão numérica de uma língua para outra, e os surdos
compreenderem se o professor não escrever no quadro. Escrever tudo no quadro facilita o
trabalho da intérprete e também a compreensão do aluno surdo.
É importante que a professora esteja aberta a sugestões para assim melhorar sua aula. Ela
deve conhecer a realidade da maioria dos surdos que chegam à escola sem total domínio de
uma língua. Os professores, primeiramente ensinam uma língua para depois começar a
ensinar os conteúdos referentes à série, o que gera atraso na aprendizagem de conteúdos.
Muitos alunos surdos reprovam várias vezes, por existirem muitas lacunas em sua
aprendizagem.
A falta de base dos alunos em alguns conteúdos também é uma das dificuldades
encontradas pelos intérpretes.
I. 4: A maior dificuldade para interpretar conteúdos matemáticos, é quando os
surdos não têm compreensão dos conteúdos, não tem base, pra poder acompanhar
uma linha de raciocínio. Daí fica bem difícil, às vezes eles não sabem a tabuada ou
não conseguem entender o que está pedindo no problema ou o problema é muito
extenso e eles se perdem acompanhado o Português. Fica difícil de interpretar,
teria que ser bem curto, o mais objetivo possível, aí eles conseguem desenvolver
bem as atividades.
36
Ser objetivo na ordem dos exercícios é fundamental para a compreensão dos alunos
surdos. Os ouvintes na maioria das vezes também apresentam dificuldades para compreender
extensos enunciados de exercícios, dificuldade que aumenta para os surdos, pois o português
não é sua primeira língua.
A maioria dos alunos ouvintes não gostam da matemática, pois a consideram difícil de ser
compreendida, porém com os alunos surdos acorre justamente o contrário. A matemática
segundo as intérpretes entrevistadas é uma disciplina fácil de ser compreendida pelos alunos
surdos, por ser uma disciplina que não se fundamenta em uma única língua, ela é universal,
como a I. 2 comenta, 2+2= 4 em qualquer lugar. Dessa forma os alunos surdos, na maioria
dos casos, gostam da matemática.
Se o professor tem consciência de seu trabalho, busca constante aperfeiçoamento,
buscando metodologias que contribuem para que o intérprete também não tenha dificuldade
de fazer a interpretação de uma língua para outra. As dificuldades sempre existirão, mas deve-
se buscar alternativas para a superá-las no decorrer do processo de ensino-aprendizagem.
5.1.6 Dificuldades dos alunos
As dificuldades que os alunos apresentam em sala de aula são desafios que o professor
deve superar a cada dia. Quando o aluno apresenta dificuldades que não são superadas, ele
começa a sentir-se desmotivado e incapacitado de aprender. O professor deve estar ciente de
que existem diversos modos de aprender, e em uma sala de aula existem diversos alunos,
sendo assim um único método de ensino, muitas vezes não permite aos alunos compreensão
dos conteúdos. Buscar novas atividades, novas metodologias e também referênciais teóricos
sobre o assunto, são caminhos seguros para superar essas dificuldades.
As progressivas dificuldades de aprendizagem que se refletem no decorrer das séries,
comprometem cada vez mais a compreensão dos alunos, o que exige providências por parte
do sistema escolar. O que não se pode fazer é rotular o aluno como incapacitado de aprender e
desistir de buscar alternativas que facilitem sua aprendizagem.
37
As intérpretes entrevistadas consideram que as dificuldade dos alunos são decorrentes de
“falta de base”, ou seja, do fato de não terem aprendido conteúdos anteriores à série em que
estão:
I. 2: É justamente o que eu estava te falando, muitas vezes os alunos não têm os
pré-requisitos pra desenvolver aquele conteúdo, naquele momento, então a
dificuldade é muitas vezes anterior ao momento. Acho que a grande dificuldade é
essa, principalmente a tabuada, que é o bicho de 7 cabeças. Então a maior
dificuldade é essa, é aquilo que o aluno não conseguiu concretiza como
aprendizagem, e aí tu tem que retoma tudo pra dar condições de ele se desenvolve,
naquilo que está sendo trabalhado no momento, acho que é essa a grande
dificuldade. Eu nunca tive dificuldade, os meus alunos sempre foram bons, então
eu não sei...
I. 1: Isso varia. Nós temos alunos surdos que são excelentes em matemática. Eles
são mais das exatas do que da própria língua escrita, que é o português. Porém isso
vai depende muito da base que eles tiveram, nós temos alunos que tinham uma
certa dificuldade... é como os ouvintes, quando a base não é sólida, mais adiante
ele vai apresentar dificuldades, o mesmo acontece com o surdo, quando a base não
sólida, mais adiante na sétima, na sexta ele vai apresentar dificuldades na adição,
na multiplicação, na divisão. Nós temos surdos que às vezes eles não sabem
multiplicar. Ou às vezes não sabem somar...Então, às vezes acontece. Então é essa
dificuldade que às vezes apresenta...
Ao analisar esses comentários, percebe-se que as séries iniciais são fundamentais para a
aprendizagem da criança na concepção dos professores intérpretes. Acreditam que é nessa
etapa que são desenvolvidos os conteúdos que são a base da matemática, as quatro operações
básicas: adição, subtração, multiplicação e divisão, e que o domínio desses conteúdos
contribuirá para que o aluno não tenha dificuldades para compreender os conteúdos das séries
posteriores.
Sabe-se que muitos dos alunos surdos não foram e nem são estimulados em casa por sua
família, o que dificulta ainda mais o seu desempenho em sala de aula. Quadros (1996),
comenta que muitos pais nem sabem se comunicar fluentemente com seus filhos, então
38
explicar algum conteúdo é uma tarefa quase impossível. A escola também não apresenta
profissionais e nem horário em que se pudesse estimular a aprendizagem dessas crianças, fora
do horário de aula. Essas dificuldades estruturais, tanto da família, como da escola,
prejudicam a aprendizagem da criança, conforme dizem as intérpretes.
I. 4: Principalmente, a dificuldade seria o reforço em casa, o acompanhamento em
casa, que eles não tem. O reforço na escola que não tem como oferece porque
faltam professores. Então eles não conseguem recapitula aqueles conteúdos,
retomar aquele conteúdo que foi explicado pelo professor. É a falta de base, muitos
não estudam, as famílias não apóiam, não cobram os estudos dos alunos, até
porque muitos pais nem fizeram até a 4ª série, então não tem como explica pros
alunos, e muitas vezes quem acaba fazendo essa parte é o intérprete. E aí eu
pergunto: “e essa questão, como é que eu trabalho, o que que vai multiplica, como
é que é uma multiplicação, 3x9 vale o que? É 9+9+9...muitas vezes tem que
retoma um aprendizado anterior para que eles consigam ir além. Pra continua
progredindo.
Os alunos ao saírem da 4ª série do ensino fundamental, e ingressarem na 5ª série, se
deparam com uma realidade totalmente diferente, tanto para os ouvintes como para os surdos.
Os índices de reprovação de alunos nessa série são bem maiores do que nas demais. As
mudanças curriculares apresentadas na 5ª série são muitas: diversos professores, muitos livros
e cadernos diferentes, várias aulas no mesmo dia, grau de exigência maior... Todas essas
mudanças podem gerar dificuldades aos alunos.
I. 3: Agora na 5ª série eu percebo assim, eles vinham de um processo de classe
especial, em que eles tinham mais tempo pra fazer tudo. Tudo era mais explicado
mais detalhado minuciosamente, a tabuada se eles não lembravam, eu não dava a
resposta, mas aí eles fazem aquilo: “3x1...3x2...3x3...” até eles encontrarem a
resposta, então eles tinham mais tempo pra fazer. E agora na 5ª série é tudo mais
corrido, até pelo número de alunos que tem em sala de aula, por período, então as
vezes quando eu tinha uma atividade que precisava de mais tempo, eles ficavam
meia manhã fazendo e aqui é tudo resumido. Então a dificuldade que eles têm é de
ser mais rápido, mais acelerado. Mas claro que não é no geral, têm alguns ali que
39
se destacam na matemática, que não tem problema nenhum, são melhores que na
língua portuguesa.
No decorrer das séries, os alunos devem superar as dificuldades que encontram para
aprender. Muitos alunos conseguirão isso facilmente, outros precisarão de mais tempo e de
maior auxilio dos profissionais que com ele convivem. Isso faz parte da natureza humana, o
que não se pode deixar acontecer é que a dificuldade de um aluno surdo comprometa sua
autoestima ou lhe deixe desmotivado a progredir nos estudos.
O professor, em sala de aula, pode propor jogos e atividades lúdicas, onde alunos surdos
e ouvintes possam participar. Esta é uma alternativa de trabalho com os alunos surdos que
pode contribuir para que isto ocorra. Lacerda (1998), expõe um situação em que o aluno surdo
participa do jogo envolvendo unidades, dezenas e centenas. Ela descreve a motivação do
aluno surdo, que durante a atividade se sente em situação de igualdade. A autora também
comenta o envolvimento da professora e da intérprete, pois as duas participam da atividade,
mostrando o entrosamento entre as duas. As atividades lúdicas facilitam a aprendizagem de
alunos ouvintes e principalmente surdos, pois são visuais e estimulam os alunos.
De acordo com Fernandes (2005), a informática atualmente é uma ferramenta importante
na educação de ouvintes e também de surdos, pois é extremamente visual. As tecnologias são
importantes, mas devem servir para a construção de um novo modelo e não para a reprodução
de metodologias. Independente do recurso a ser utilizado, o que deve-se buscar é o
desenvolvimento do aluno.
Existem diversas alternativas para superar as dificuldades que os alunos possam
apresentar, basta o professor, o intérprete, a escola e a família visarem os mesmos objetivos e
unirem esforços para concretizá-los.
5.1.7 Sugestões
Os profissionais que trabalham com alunos surdos percebem, no decorrer de seu trabalho,
maneiras de como a aprendizagem dos alunos será facilitada. A experiência profissional deve
ser levada em consideração, mas o profissional também deve estar em constante
aperfeiçoamento. A bagagem profissional que as intérpretes entrevistadas possuem lhes
permite apresentar algumas sugestões que favorecem o processo de aprendizagem dos alunos
40
surdos. Comentam que a aprendizagem, não depende somente delas, mas principalmente do
professor que deve utilizar material visual e concreto e metodologias apropriadas.
I. 2: O que eu acho que favoreceria, e aí não é uma questão de interpretação, mas
de metodologia, é os professores utilizarem material concreto quando possível,
acho que isso é fundamental, e não só para os surdos, mas para todos. Mas assim,
na interpretação não vejo dificuldade, nenhuma, sinceramente... Não tem, está ali é
tu compreende o processo, ou tu compreende o processo ou tu não compreende.
Ou você sabe a tabuada e o raciocínio pra faze a conta ou você não sabe. Então,
acho que a matemática é uma das disciplinas mais fáceis que tem, eu nunca tive
problemas, os meus alunos também eram bons em matemática... cada realidade é
uma realidade...
I. 1: É como eu te disse o visual ajuda muito. Tudo que é concreto pra eles é o
essencial. Eles aprendem com mais facilidade, com mais rapidez, com mais
clareza... E fica mais fácil para a interpretação, e até mesmo a própria explicação
do professor porque nós somos essa ligação ponte. Eu diria assim, que o intérprete
é a alma para a pessoa surda. Então pra ser essa pessoa totalmente entregue tem
que vir da outra parte também. Porque sem o professor a gente não tem como...eu
não posso chega e explica um conteúdo pra ele. O professor tem que explicar e eu
passo pra eles. Então a partir do momento que ele entende...então ficaria mais
fácil. E pra isso o recurso visual, é importantíssimo, mesmo na matemática é
importante, mesmo sendo visual mas é importante.
Atualmente os alunos permanecem na maioria das escolas somente 4 horas na sala de
aula. Algumas vezes tem atividades para resolver em casa, porém nem sempre sabem como
resolvê-las sozinhos. Como já ressaltamos, a família, muitas vezes, não sabe ajudar ou não
possui tempo para isso. A escola também não oferece um horário para os alunos tirarem suas
dúvidas, aulas complementares seriam necessárias para a aprendizagem dos surdos, afirmam
as intérpretes.
I. 4: Que houvesse um reforço depois do horário, para que gente não pudesse
perder muito tempo explicando conteúdo. Se o aluno conseguisse todo dia, ou pelo
41
menos duas vezes por semana retoma o conteúdo que o professor de matemática
explicou, ficaria mais fácil, seria contínuo não teria mais dedução, não teria que
retoma. Porque muitas vezes a gente está traduzindo, e eles não entendem, aí eles
cortam a tradução, a gente tem que pedir pro professor parar de explica, ou
explicar novamente o conteúdo anterior para que eles possam fazer uma linha de
raciocínio.
Uma escola é estruturada em trabalhos de equipe, quando todos possuem o mesmo
objetivo fica fácil de alcançá-lo, mas sabe-se que isso nem sempre é possível. As intérpretes
consideram que se deve buscar alternativas para que objetivos comuns se consolidem. Embora
deixem claro que a função do professor é planejar a aula e a do intérprete é interpretá-la aos
alunos surdos. Reconhecem que o planejamento conjunto traria benefícios aos alunos.
I. 3:[...]o intérprete e o professor titular deveriam programar as aulas juntos. E
organizar os conteúdos de forma que o surdo pudesse entender. Porque às vezes a
orientações dos exercícios não estão claras pra eles. Então, isso não permite que
eles façam com autonomia o exercício, porque a matemática, não tem muito que
explica, se entendeu o raciocínio ele vai lá, e faz sozinho. Só que às vezes as
ordens que são dadas nas atividades não ficam claras, então aqui cabe ao intérprete
e o professor organizarem essas aulas juntos, preparar o material juntos, até
material concreto na medida do possível. Facilitaria muito a vida do surdo.
Muitos professores estão cientes de sua função em sala de aula, e buscam alternativas
para facilitar a compreensão dos alunos surdos. Reconhecem que a língua de sinais é a
primeira língua do surdo, e que deveria estar presente no cotidiano do aluno. Segundo Lopes
(2005) a língua de sinais é reconhecida em nosso país, e dessa forma deveria estar presente
em todos os locais, mas infelizmente não é o que acontece. Muitos surdos têm dificuldade de
ir a uma loja para comprar uma roupa, pois são raras as lojas que têm algum funcionário que
entenda LIBRAS. A situação é mais crítica quando se trata de uma consulta médica, os surdos
precisam ser acompanhados de um intérprete, para que o médico possa dar o diagnóstico
correto, por exemplo.
42
O trabalho das intérpretes e dos professores são fundamentais para o pleno
desenvolvimento do aluno surdo. Se o aluno tiver conhecimentos e recursos cognitivos, assim
como auto-estima elevada, terá maiores chances no mercado de trabalho, mas principalmente
uma maior chance de ser feliz. Os surdos têm o direito de usufruírem das mesmas coisas que
os ouvintes têm acesso. Para que isso aconteça deve haver mudanças no sistema educacional,
mas principalmente na sociedade, uma sociedade sem preconceitos, sem desprezo as
diferenças, que saiba respeitar o seu próximo e contribuir para melhorar a sua vida.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que, no decorrer dos séculos, os surdos sofreram muito, sendo excluídos da
sociedade, porém, nos últimos anos, surgiram possibilidades de melhoras. A inclusão é
extremamente importante para a sociedade e para o surdo, pois sem ela esses alunos
continuariam a ser excluídos e rotulados como incapazes. Os surdos estão tendo um espaço
maior, mas ainda que de forma não totalmente adequada.
Apesar de sua importância, a inclusão dos surdos está em fase inicial em nosso país, ela
deve ser muito bem planejada, para que não acorram problemas para ambos os lados. Ao
incluir um surdo é necessário levar em conta sua origem, dificuldades e possibilidades. Para
que o professor, juntamente com a escola, consiga fazer uma inclusão de sucesso é necessário
o apoio e a compreensão da família, dos colegas e da sociedade. Deve-se antes de tudo ter
muito respeito às diferenças.
A língua de sinais contribuiu muito para a melhoria das condições de vida para os surdos,
pois é através dela que hoje eles podem exigir seus direitos a escolas que realmente o incluam
e por vagas de trabalho que anteriormente só eram dadas para os ouvintes. No entanto, muitos
surdos não buscam seus direitos por não serem estimulados pela família, que não possui
conhecimentos dos direitos cabíveis aos surdos.
A pesquisa realizada permitiu verificar que atualmente os intérpretes são poucos e
indispensáveis na educação dos surdos, dessa forma constata-se que, além do pleno domínio
das duas línguas envolvidas, o intérprete deve ter formação específica na área da educação e
também formação específica de intérprete. Para os surdos, os intérpretes são uma ponte de
ligação de duas línguas distintas, fazendo-se importantíssima a presença dos mesmos em sala
de aula onde há surdos, permitindo que sintam-se capazes, afinal se diferem dos ouvintes por
usarem uma língua diferente. O trabalho dos intérpretes e dos professores dos surdos tem
como objetivo propiciar a aprendizagem dos surdos, mesmo sabendo que a função do
intérprete e do professor são diferentes. Enquanto o professor tem a função de planejar a aula,
realizar atividades com materiais visuais, o intérprete tem a função de interpretar o que o
professor fala para os surdos em LIBRAS. Sendo assim é imprescindível que o intérprete
tenha total domínio sobre as duas línguas envolvidas. Faz-se necessário que o professor e o
intérprete, conheçam a cultura e identidade surda para que possam realizar um bom trabalho.
44
O diálogo entre os dois profissionais também se mostra necessário, pois a falta de
planejamento conjunto ou de comunicação entre professores e intérprete prejudica o trabalho
uma vez que existem algumas situações onde não há interpretações idênticas entre a língua
portuguesa e a língua de sinais, dessa forma os intérpretes, em caso de dúvidas, não possuem
tempo de buscar sinais que mantenham o contexto da aula do professor. Conhecendo o
planejamento, o intérprete poderia fazer, caso necessário, um estudo de vocabulário em
LIBRAS.
A convivência é normal entre os professores e os intérpretes dentro da sala de aula, nas
escolas em que a inclusão já acontece há mais tempo, demonstrando como realmente deve ser
a relação entre profissionais da educação. Porém, nas escolas em que esse processo está
começando agora existe certa resistência por parte dos professores, por não se ter clareza da
função do intérprete e nem como conduzir as suas aulas, com turmas em que os surdos estão
incluídos. É fundamental que o professor tenha conhecimento das necessidades do aluno
surdo, sua cultura e identidade, mas principalmente das metodologias que facilitam a
aprendizagem dos surdos, como recursos visuais, pois eles possuem esse sentido mais
desenvolvido. É importante possibilitar que o aluno surdo interaja em sala de aula, bem como
tratar de questões de estrutura da escola que possibilitem melhores condições físicas aos
alunos
Os intérpretes relatam que a maior dificuldade que encontram é falta de base dos alunos
surdos, como na leitura e nas operações básicas de matemática, muitas vezes retomam
conteúdos anteriores, para facilitar o entendimento do aluno, pois este possui lacunas em seu
aprendizado. As intérpretes entrevistadas afirmaram que a matemática é uma das disciplinas
mais fáceis de ser interpretada por ser mais “visual”. O professor de matemática, assim como
os de outras disciplinas, deve registrar no quadro, suas explicações, para que o aluno surdo
possa visualizar. Dessa forma, além de contribuir para a compreensão do aluno surdo, o
professor também facilita o trabalho da intérprete.
Sabe-se que muitos dos alunos surdos não foram e nem são estimulados em casa por sua
família, o que dificulta ainda mais o seu desempenho em sala de aula. A escola também não
apresenta profissionais e nem horário em que se pudesse estimular a aprendizagem dessas
crianças fora do horário de aula. Essas dificuldades estruturais, tanto da família, como da
escola, prejudicam a aprendizagem da criança.
O sucesso do trabalho dos professores e dos intérpretes que trabalham com o surdos,
resultará em muitos benefícios, não só para os surdos, que se sentirão incluídos na sociedade,
45
mas também para todas as pessoas envolvidas. “Se a inclusão for realmente valorizada, a rede
de ensino regular funciona? É uma pergunta tola... Onde ela não estiver funcionando,
devemos perguntar o que está impedindo de funcionar e o que pode ser feito a respeito”
(STAINBACK; STAINBACK, 1999).
46
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Educação Nacional: Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei Darcy Ribeiro). 2. ed. São
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47
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48
STAINBAK, S.; STAINBACK, W.. Inclusão: um guia para educadores. Tradução:
Magda França Lopes.Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 1999
49
APÊNDICE 1 – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1) Qual a sua formação?
2) Quais os conteúdos que você interpreta?
3) Você sabe previamente qual o conteúdo que deverá interpretar na aula? Planejas
antecipadademente?
4) Ao interpretar os conteúdos matemáticos para a LIBRAS, qual dificuldade que você
encontra?
5) Quais estratégias que utiliza para interpretar os conteúdos da língua portuguesa para a
LIBRAS?
6) Qual a relação entre você e os professores das disciplinas?
7) Ao interpretar os conteúdos matemáticos para a LIBRAS, qual dificuldade que os alunos
apresentam?
50
APÊNDICE 02 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLAR ECIDO.
Pelo presente documento, eu, __________________________________________,
portador (a) do doc. de identidade nº ______________________ , concordo em participar da
pesquisa que fará parte da monografia de conclusão de curso de Graduação de Matemática da
aluna da URI-Campus de Erechim: Ivanir Teresinha Auler: “ Dificuldades dos professores
intérpretes de LIBRAS na tradução de aulas de matemática no município de Erechim/RS”,
orientada pela professora Neila Tonin Agranionih. Estou ciente de que o objetivo da pesquisa
consiste em verificar dificuldades encontradas pelas intérpretes de LIBRAS ao traduzir aulas
de matemática, no município de Erechim/RS do português para LIBRAS.
Fui informado(a) de que serão realizadas entrevistas individuais, e que as mesmas
serão gravadas, ficando o pesquisador responsável por guardar as fitas que serão inutilizadas
após três anos da defesa da monografia. Estou ciente de que em parte alguma do trabalho
impresso, nem na defesa da monografia, o meu nome será revelado. Estou ciente, também, de
que serei informada(o) dos resultados do mesmo se for do meu interesse.
Para contribuir com o avanço do conhecimento matemático na área educacional,
declaro ceder à pesquisa referida, a plena propriedade e os direitos autorais dos registros
elaborados durante as entrevistas da pesquisa. A autora da pesquisa fica, conseqüentemente,
autorizada a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, os dados das entrevistas.
Declaro que recebi uma cópia deste termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e
foi-me oportunizado ler e esclarecer as minhas dúvidas, bem como a possibilidade, de em
qualquer momento, voltar a pedir esclarecimentos, se necessário, junto às pesquisadoras,
pelos contatos relacionados. Sou livre para recusar minha participação ou retirar meu
consentimento se assim desejar a qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa
em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios.
__________________________ Professora intérprete
_________________________
Local e data
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Ivanir Teresinha Auler Fone: (54)9916-2786 ou (54)9936-5771, ou no endereço: Rua Luis
Desordi, 75, Gaurama/RS.
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Neila Tonin Agranionih Fone: (054) 3520 9000. Ramal 9159. Departamento de Ciências
Exatas e da Terra - URI- Campus de Erechim
___________________________________________________________________________
Comitê de ética da Uri –Campus de Erechim. Fone: (54) 3520 – 9000, ramal 9111.
52
APÊNDICE 03 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLAR ECIDO.
O presente documento tem como objetivo autorizar da aluna da URI-Campus de Erechim:
Ivanir Teresinha Auler, a realizar os procedimentos necessários referentes à monografia:
“Dificuldades dos professores intérpretes de LIBRAS na tradução de aulas de matemática no
município de Erechim/RS”, orientada pela professora Neila Tonin Agranionih. Estou ciente
de que o objetivo da pesquisa consiste em verificar dificuldades encontradas pelas intérpretes
de LIBRAS, ao traduzir aulas de matemática, no município de Erechim/RS do português para
LIBRAS. Estou ciente também de que não haverá risco às professoras intérpretes e, de que as
entrevistas realizadas, poderão contribuir para o seu desenvolvimento profissional.
Fui informado (a) de que serão realizadas entrevistas individuais, quando serão gravadas
as respostas, ficando o pesquisador responsável por guardar as fitas que serão inutilizadas
após seis meses da defesa da monografia. Estou ciente, também, de que serei informada (o)
dos resultados do mesmo se assim o desejar e de que a direção da Escola poderá ser
freqüentemente informada quanto ao andamento e as informações contidas nos protocolos,
pelos contatos abaixo relacionados.
Sou livre para recusar minha participação ou retirar meu consentimento se assim desejar a
qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar
qualquer penalidade ou perda de benefícios.
No momento da entrega desta autorização, a Escola recebe uma cópia do Projeto,
aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa da URI-CAMPUS de Erechim.
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P/ Direção da Escola
_________________________
Local e data
___________________________________________________________________________
Ivanir Teresinha Auler Fone: (54)9916-2786 ou (54)9936-5771, ou no endereço: Rua Luis
Desordi, 75, Gaurama/RS.
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Neila Tonin Agranionih Fone: (054) 3520 9000. Ramal 9159. Departamento de Ciências
Exatas e da Terra - URI- Campus de Erechim
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Comitê de ética da Uri –Campus de Erechim. Fone: (54) 3520 – 9000, ramal 9111.